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CENTRO CIRÚRGICO E CME Keyla de Cássia Barros Bitencourt Admissão do paciente na unidade clínica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os critérios para transferência do paciente da sala de recuperação pós-anestésica (SRPA). � Identificar os cuidados de enfermagem necessários para transporte do paciente da SRPA até o setor de destino (clínica ou unidade intensiva). � Analisar as práticas recomendadas de passagem de plantão do pa- ciente ao ser transferido da SRPA para a unidade. Introdução Quando o paciente chega à sala de recuperação pós-anestésica (SRPA), é considerado um paciente crítico, em razão dos traumas físico e emocional causados pelo ato anestésico-cirúrgico. Esse paciente deve permanecer sob cuidados intensivos da equipe de enfermagem, que tem a função de detectar a estabilidade das condições orgânicas, o nível de consciência e o estado clínico. Após alguns instantes, quando a estabilidade do paciente estiver garantida, este poderá ser transferido para a unidade clínica. Neste capítulo, você conhecerá os critérios avaliados para a alta do paciente da SRPA e as práticas recomendadas para a assistência de en- fermagem necessárias para o transporte do paciente. Critérios para transferência do paciente da SRPA A sala de recuperação pós-anestésica (SRPA) é usada para reconhecer sinais de comprometimento, antecipar e prever dificuldades pós-operatórias. O paciente deve permanecer nesse ambiente até que apresente estabilidade dos sinais vitais e condição respiratória, normalização dos reflexos, controle da dor, nível de consciência e orientação no tempo e espaço (NETTINA, 2012). Para a alta, o paciente deve ser submetido a uma avaliação, sendo de responsabilidade do anestesiologista, de acordo com a Resolução CFM nº. 1.363/1993, que, em seu art. VIII, propõe que “os critérios de alta do paciente no período de recuperação pós-anestésica são de responsabilidade intransferível do anestesista [...]”. O Parecer do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (COREN/SC) nº 001/CT/2010 trata de uma consulta referente à responsabilidade do ato da liberação do paciente da SRPA, complementando a afirmativa do texto. No link a seguir, você pode ter acesso à sua conclusão. https://qrgo.page.link/G4eNA O paciente deve permanecer na SRPA até estar plenamente recuperado do agente anestésico, isto é, até que apresente uma pressão arterial estável, adequada função respiratória, saturação de oxigênio satisfatória e se movimente espontaneamente ao comando. O paciente recebe a alta da SRPA assinada pelo anestesista, prosseguindo para a unidade médico-cirúrgica ou para o domicílio, sob responsabilidade de um familiar (SOBECC, 2017). Admissão do paciente na unidade clínica2 Parâmetros avaliados para a alta do paciente da SRPA Para garantir que o paciente apresenta condições adequadas para receber alta da SRPA, alguns parâmetros devem ser avaliados (SOBECC, 2017): � função pulmonar não comprometida e saturação de O2 dentro dos limites da normalidade (maior que 90% em ar ambiente); � sinais vitais estáveis, incluindo normotermia (considerando adequada a temperatura axilar acima de 35,5°C e abaixo de 37,8°C); � orientação correta do paciente no tempo, espaço e procedimento cirúrgico; � paciente facilmente “despertável” e respondendo aos estímulos verbais; � débito urinário superior a 30 mL/hora; � náuseas e vômitos sob controle; � dor mínima ou ausente, de acordo com a escala analógica adotada (Figura 1), e intervenções para o tratamento ideal da dor; Figura 1. Escalas numéricas e visuais analógicas da intensidade da dor. Cada instituição pode pôr uma escala ou até mesmo combiná-las. Fonte: Costa e Eugenio (2014, p. 90). � ausência de sangramento ativo na ferida operatória; � sensibilidade cutânea e movimentação ativa dos membros, após bloqueio anestésico; 3Admissão do paciente na unidade clínica � débitos de sondas e drenos dentro dos valores considerados normal para o procedimento (Quadro 1); Fonte: Adaptado de Nettina (2012). Dispositivo Substância Drenagem Cateter de Foley Conduto ileal Cateter suprapúbico Urina 500 a 700 mL/24 horas nas primeiras 48 horas; a seguir, 1.500 a 2.500 mL/24 horas Tubo de gastrosotomia Conteúdo gástrico Até 1.500 mL/24 horas Dreno torácico Sangue, líquido pleural, ar Varia: 500 a 1.000 mL nas primeiras 24 horas Ileostomia Conteúdo do intestino delgado Até 4.000 ml nas primeiras 24 horas; a seguir, < 500 mL/24 horas Tubo de Miller-Abbott Conteúdo intestinal Até 3.000 mL/24 horas Tubo em T Bile 500 mL/24 horas Quadro 1. Drenagem esperada de drenos e catéteres � índice de Aldrete e Kroulik (Quadro 2) modificado entre 8 e 10 pontos. Atividade Capaz de mover os quatro membros voluntariamente ou sob comando 2 Capaz de mover somente dois membros voluntariamente ou sob comando 1 Incapaz de mover os membros voluntariamente ou sob comando 0 Respiração Capaz de respirar profundamente e tossir livremente 2 Dispneia ou limitação da respiração 1 Apneia 0 Quadro 2. Índice de Aldrete e Kroullik modificado (Continua) Admissão do paciente na unidade clínica4 Fonte: Adaptado de SOBECC (2017). Quadro 2. Índice de Aldrete e Kroullik modificado Circulação Pressão arterial em 20% do nível pré-anestésico 2 Pressão arterial em 20 a 49% do nível pré-anestésico 1 Pressão arterial em 50% do nível pré-anestésico 0 Consciência Lúcido, orientado em tempo e espaço 2 Desperta se solicitado 1 Não responde 0 Saturação Capaz de manter saturação de O2 ˃ 92% respirando ar 2 Necessita de O2 suplementar para manter a saturação de O2 ˃ 92% 1 Saturação de O2 < 92% mesmo com O2 suplementar 0 Essas informações devem servir como orientação geral. A situação de cada paciente representa um conjunto único de fatores clínicos que exigem a avaliação de enfermagem para orientar os cuidados, que podem incluir medidas e condutas adicionais ou alternativa (NETINNA, 2012). Cuidados necessários para transporte do paciente da SRPA até o setor de destino O enfermeiro da SRPA deve avaliar constantemente o paciente quanto aos sinais vitais, ao nível de consciência e do retorno dos reflexos protetores, e aos efeitos residuais dos fármacos administrados. Práticas de enfermagem recomendadas O controle dos sinais vitais do paciente, do balanço hídrico, do nível de cons- ciência e do padrão respiratório e a manutenção de acessos venosos e infu- sões, drenos, cateteres e o curativo da ferida operatória devem ser realizados durante toda a permanência do paciente na SRPA, devidamente registrados (Continuação) 5Admissão do paciente na unidade clínica para serem informados na passagem de plantão para a equipe de enfermagem da unidade de destino. Deve-se realizar o registro completo das ações realizadas em toda a assistên- cia de enfermagem, pois, além de ser obrigatório, permite o acompanhamento da evolução clínica do paciente e auxilia na tomada de decisões clínicas pelo enfermeiro e pela equipe multiprofissional. É imprescindível registrar no pron- tuário os cuidados, as intervenções, as complicações e a resposta do paciente, para a prestação de uma assistência segura aos pacientes e aos profissionais. É preciso confirmar a alta do paciente da SRPA, tornando-se necessárias a assinatura pelo anestesiologista e a validação pelo enfermeiro responsável. Uma vez confirmada a alta pelo anestesiologista, a liberação do paciente da SRPA deve conter horário, destino e assinatura com carimbo. Toda a assistência prestada durante a estadia do paciente na SRPA deve ser registrada de maneira objetiva, clara e completa, com horários, assinatura e carimbo dos responsáveis. Todas as soluções infundidas devem ser identifica- das, com os medicamentos a elas adicionados. As medicações administradas devem ser checadas e estar com os horários legíveis (SOBECC, 2017). As condições de encaminhamento do paciente devem serrelatadas no prontuário, inclusive com o nome do funcionário responsável pelo encaminhamento ao setor de origem. É importante também comunicar ao enfermeiro da unidade de destino que o paciente recebeu alta, podendo ser realizada a passagem de plantão por telefone, informando-o a respeito de todos os aspectos importantes para a continuidade da assistência. Transporte seguro do paciente até a unidade de destino O paciente recém-operado está sujeito às complicações decorrentes da instabi- lidade provocada pelo procedimento anestésico cirúrgico, sendo considerado um paciente crítico quando transferido à SRPA ou diretamente à unidade de terapia intensiva (UTI). Quando transferido à SRPA o paciente ainda perma- nece sob avaliação constante da equipe multiprofissional, sendo encaminhado Admissão do paciente na unidade clínica6 à unidade de destino (unidade clínica) somente após a completa estabilização dos parâmetros definidos. O Parecer nº. 05/2019 COFEN/CTLN que realizou a atualização e a nor- matização da atuação da equipe de enfermagem no processo de transporte de paciente em ambiente interno aos serviços de saúde, concluiu que “[...] é fundamental que o transporte seja realizado de modo seguro, consistente e científico, utilizando o conhecimento teórico e prático a fim de se antecipar ao erro, buscando sempre tornar o processo mais eficiente [...]” (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2019). Para tanto, é relevante conhecer sobre as etapas a serem cumpridas antes, durante e depois do transporte, a escolha adequada da equipe, a checagem dos materiais, dos equipamentos e das medicações necessárias e a colaboração da instituição em proporcionar infraestrutura apropriada para a viabilidade do transporte. O parecer ainda cita que, em um ambiente hospitalar e/ou ambulatorial, a segurança do transporte de pacientes é da responsabilidade da enfermagem que assiste o paciente no transporte e de quem está conduzindo a maca/cadeira de rodas ((CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2019).). A Resolução COFEN nº. 0588/2018, descrita a seguir, cita as normas de atuação da equipe de enfermagem no transporte. Acesse o link a seguir e leia a Resolução COFEN nº. 0588/2018, que cita as normas de atuação da equipe de enfermagem no transporte. https://qrgo.page.link/kp44z Alguns cuidados devem ser tomados em relação ao transporte do paciente. O enfermeiro precisa planejá-lo com segurança e conforto, até o leito de destino, avaliando a gravidade e a condição do paciente a fim de promover a melhor estabilização cardiorrespiratória possível (AULER JR et al, 2011). Deve-se verificar a necessidade de dispositivos ou equipamentos especí- ficos. As macas deverão dispor de grades e freios, além de local adequado para acondicionar o prontuário e os exames de imagem, evitando colocá-los sobre o paciente. Ainda, os pacientes deverão ser encaminhados com mantas 7Admissão do paciente na unidade clínica e cobertores, para manter o aquecimento corporal, e acompanhados de pro- fissionais treinados para esse fim (SOBECC, 2017). Assim, é essencial avaliar a necessidade individual do paciente no que se refere a equipamentos necessários para o transporte, a fim de evitar sua ausência ou o seu não funcionamento. Nos casos de pacientes críticos, é necessário verificar: � tubo orotraqueal — fixação adequada do tubo e aspiração previamente ao transporte para garantir a permeabilidade da via respiratória durante o transporte; � dispositivo de ventilação — a bolsa-válvula-máscara (Ambu®) é o equipamento mais utilizado (Figura 2), sendo conectado ao cilindro de O2. Deve-se verificar se o cilindro de oxigênio está carregado e adotar um fluxo necessário para sustentar a SpO2 maior que 94%, registrada na oximetria de pulso; Figura 2. Bolsa-máscara-válvula (Ambu®). Fonte: Ambu (c2019, documento on-line). � medicações — uma caixa de medicações de emergência deve acom- panhar o transporte, principalmente epinefrina, amiodarona, lido- caína, atropina, bicarbonato de sódio, adenosina, cloreto de cálcio, dexametasona, dopamina, furosemida, manitol, magnésio, naloxone, nitroglicerina, nitroprussiato de sódio, fenitoína, cloreto de potássio e Admissão do paciente na unidade clínica8 benzodiazepínicos. A padronização dessa caixa de medicações deverá ser discutida pela equipe multiprofissional da instituição; � monitor de transporte — pode-se utilizar monitores de transporte que permitem monitoramento contínuo de vários parâmetros vitais, como eletrocardiograma (ECG), SpO2, capnografia, pressão arterial não invasiva (PANI) e/ou pressão arterial invasiva (PAI). Na ausência de um monitor multiparamétrico específico para o transporte, obri- gatoriamente, o oxímetro de pulso deve acompanhar o transporte de todo paciente crítico; � bombas de infusão — devem ser levadas no transporte de pacientes que necessitam de controle rigoroso da infusão de medicamentos, como aminas vasoativas, sedativos, bloqueadores neuromusculares, heparinas, entre outros. Deve-se fixá-las adequadamente e garantir que as baterias estejam carregadas; � dreno de tórax — é preciso garantir que sua fixação esteja apropriada. Não podem ser fechados, a não ser apenas para o posicionamento do paciente na maca e transporte aberto, com o frasco de drenagem em um nível abaixo do ponto de inserção do dreno na parede torácica. Deve estar identificado, com o nome do responsável pelo procedimento, data da inserção, calibre do dispositivo e volume de líquidos em selo d’água; � cateteres venosos — assegurar-se de que a fixação esteja adequada. Não devem ser deixados tracionados, evitando a retirada acidental; é preciso se certificar quanto à compatibilidade do volume a ser infundido em relação ao tempo gasto no trajeto a ser percorrido. Devem estar identificados com o nome do responsável pelo procedimento, a data da inserção e o calibre do dispositivo; � sondas nasogástrica e vesical — é necessário se certificar de que a fixação está adequada. Devem estar identificadas com o nome do res- ponsável pelo procedimento, a data da inserção, o calibre do dispositivo e, no caso da sonda vesical, o volume de água utilizado na insuflação do balonete. Todos esses cuidados devem ser redobrados quando da transferência do paciente para outro leito, pois isso aumenta o risco de intercorrências e eventos como a perda de dispositivos no momento da passagem do paciente para outra maca, cama ou mesa cirúrgica (AULER JR et al., 2011). 9Admissão do paciente na unidade clínica Após as alterações hemodinâmicas durante o transporte, a estabilização do paciente crítico é lenta. Portanto, deve-se considerar um período de 30 minutos a 1 hora após o transporte como uma fase de extensão. Encaminhamento do paciente para a unidade clínica ou a unidade intensiva Após o fim do procedimento cirúrgico, o paciente pode ser encaminhado para a SRPA e, em seguida, para a unidade clínica, ou diretamente à UTI, para onde é indicada a transferência caso o paciente cirúrgico tenha na avaliação pré-operatória condições clínicas que lhe confiram elevado risco perioperatório ou que no intraoperatório haja condições que confiram instabilidade ao seu quadro clínico. Os critérios de indicação de monitoramento em UTI para pacientes cirúr- gicos são descritos a seguir. Critérios cirúrgicos Devem ser avaliados na avaliação pré-operatória, sendo programados no mo- mento do agendamento cirúrgico ou imediatamente após o término da cirurgia. Cirurgias de grande porte (p. ex., laparotomia exploradora, cirurgia de aorta, cirurgia cardíaca, cirurgia vascular, esofagectomia, ressecção abdo- minoperineal, hepatectomia, cirurgias torácicas): � perda estimada de sangue > 1.000 mL; � cirurgia de emergência (< 2 horas da admissão); � fezes, pus ou sangue na cavidade. Alterações laboratoriais mais comuns que justifiquem o monitoramento em UTI: � sódio < 120 mEq/L, potássio < 2 mEq/L; � PaO2 < 150 mmHg; � pH < 7,1 ou > 7,7; � glicemia> 400. Admissão do paciente na unidade clínica10 Critérios clínicos: Devem ser avaliados no pré e intraoperatório, estando em concordância com o porte cirúrgico: � idade > 70 anos em associação à presença de doenças descompensadas (ASA III); � insuficiência cardíaca congestiva/insuficiência cardíaca obstrutiva; � doença pulmonar obstrutiva crônica; � apneia obstrutiva do sono grave e obesidade; � rebaixamento do nível de consciência; � insuficiência renal crônica/insuficiência renal aguda; � cirrose; � diabetes descompensado/cetoacidose. � alterações eletrolíticas; � instabilidade hemodinâmica; � alteração do ritmo cardíaco ou da frequência cardíaca com repercussão hemodinâmica; � eletrocardiograma (ECG) com arritmia ou alterações isquêmicas; � exames de imagem: tomografia computadorizada de crânio com he- morragia, contusão, etc.; � ocorrência de pneumotórax no intraoperatório. A ocorrência de algumas complicações intraoperatórias ou na SRPA podem indicar a necessidade do encaminhamento do paciente à UTI: � sangramento/alteração de coagulação; � lesão inesperadas de alça, ureter, vasos ou órgãos; � insuficiência respiratória (SaO2 < 90%, frequência respiratória > 40 irpm); � broncoespasmo não revertido; � edema agudo de pulmão; � hipotensão não revertida; � sinais de hipoperfusão tecidual (cianose, extremidades frias); � reações alérgicas moderada ou grave; � diurese diminuída (< 0,5 mL/hora); � parada cardiorrespiratória; � padrão ventilatório inadequado após extubação ou após observação na SRPA; 11Admissão do paciente na unidade clínica � sinais de sepse (conforme protocolo institucional); � agitação psicomotora na SRPA, com necessidade de sedação contínua; � ocorrência de arritmias novas e persistentes; � alteração eletrocardiográfica indicativa de isquemia miocárdica; � politransfusão; � instabilidade hemodinâmica no intraoperatório; � necessidade de manutenção de intubação orotraqueal no pós-operatório imediato por razões cirúrgicas ou anestésicas; � impressão subjetiva de má evolução; � crise hipertensiva no intraoperatório ou na SRPA. Nos casos em que há conhecimento prévio da necessidade do encaminha- mento do paciente à UTI, é necessário proceder à reserva do leito previamente e confirmar sua disponibilidade antes do início do procedimento. Porém, o leito pode e deve ser solicitado a qualquer momento, no caso da ocorrência de complicações. Práticas recomendadas de passagem de plantão do paciente ao ser transferido da SRPA para a unidade A comunicação com o enfermeiro da unidade de destino do paciente possibilita que ele programe as demais atividades e disponibilize um membro de sua equipe para auxiliá-lo na recepção do paciente vindo da SRPA, assim como preparar a unidade para recebê-lo. O conhecimento prévio do planejamento perioperatório realizado pelos enfermeiros do bloco cirúrgico e as intervenções realizadas durante esse período permitem ao enfermeiro clínico retomar o planejamento assistencial e orientar sua equipe para a recepção do paciente em sua unidade. É importante ressaltar que as informações devem ser passadas de acordo com as alterações do estado geral do paciente em relação a alguns sistemas e complementar, ainda, informando antecedentes pessoais e cirúrgicos. Admissão do paciente na unidade clínica12 A passagem de plantão, seja para a unidade clínica, seja para a terapia intensiva, deve contemplar, quando aplicável: � o histórico do paciente (alergias, doenças crônicas preexistentes, como hipertensão arterial sistêmica e diabetes) e riscos assistenciais presentes; � procedimento cirúrgico realizado e técnica anestésica empregada; � drenos e tipos de curativos; � sondas, acessos venosos e demais dispositivos; � tipo de suporte ventilatório aplicado; � complicações ocorridas na sala cirúrgica e/ou na SRPA, medidas to- madas e resposta do paciente ao tratamento proposto (uso de aminas vasoativas, hemotransfusões, alterações nos sinais vitais e demais possíveis complicações); � encaminhamento de espécimes cirúrgicas para anatomia patológica e/ou cultura; � medidas recomendadas para a prevenção de tromboembolismo venoso; � antibioticoprofilaxia cirúrgica adotada; � recomendações para o pós-operatório; � demais informações pertinentes a cada paciente e procedimento cirúr- gico, respeitando a individualidade. A comunicação com o enfermeiro da unidade de destino poderá ser rea- lizada por telefone ou rádio, caso o enfermeiro não faça parte do transporte, dependendo dos recursos disponíveis na instituição. O mais imprescindível é a realização do contato. Passagem de plantão: uso da ferramenta SBAR Falhas de comunicação são frequentes no hospital e trazem risco à saúde dos pacientes. As situações mais comuns compreendem: � uma informação não transmitida; � uma informação recebida de modo impreciso, deixou dúvidas; ou � uma informação transmitida, mas não recebida. A meta é que a comunicação seja clara, concisa, completa e uniforme. 13Admissão do paciente na unidade clínica A metodologia SBAR consiste em uma adaptação da indústria utilizada para facilitar a troca de plantão, a transferência de pacientes entre as unidades de um hospital e a comunicação entre a equipe multiprofissional. Essa ferra- menta pode ser adaptada para cada situação tornando a troca de informações mais eficaz, melhorando a passagem do plantão e reduzindo a perda de tempo. A SBAR é um dos instrumentos de comunicação estruturada mais reco- nhecidos em virtude de sua simplicidade. SBAR diz respeito à situação, breve histórico, avaliação e recomendação. Isso significa que toda a comunicação durante a transição de cuidado deve ser estruturada seguindo suas categorias. O quê Como Exemplo S (Situação) Frase concisa sobre o problema Liberamos a paciente M.A.S. da SRPA após a realização de colecistectomia com raquianestesia B (Breve histórico) Detalhes e contexto pertinentes A paciente foi internada hoje, é hipertensa, nega diabetes, outras patologias e alergias A (Avaliação) Análise e opções consideradas A paciente apresentou queixa álgica moderada na incisão cirúrgica, na SRPA, sendo medicada. Apresentou melhora total após 30 minutos R (Recomendação) Ação recomendada Manter cuidados pós-operatórios conforme o protocolo para raquianestesia Avaliar a presença de dor Manter as demais rotinas para pacientes cirúrgicos O uso da SBAR melhora a comunicação porque exige uma preparação e, portanto, organização do emissor da mensagem antes da transferência das informações. Somente esse fato já ajudaria a tornar a mensagem mais clara. Mas, além disso, como o profissional que receberá a informação também está treinado para se comunicar dessa maneira, consegue absorver e entender melhor os dados. Admissão do paciente na unidade clínica14 Outro benefício da SBAR consiste na redução do tempo gasto na passagem de plantão, um dos momentos mais delicados da rotina, em razão de a infor- mação estar organizada e preparada para ser repassada (GISMONDI, 2017; INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE, 2019). AMBU. [Site]. c2019. Disponível em: https://www.ambu.com/. Acesso em: 11 jun. 2019. AULER JR., J. O. C. et al. Anestesiologia básica: manual de anestesiologia, dor e terapia intensiva. Barueri: Manole, 2011. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Parecer n° 05/2019/COFEN/CTLN. Atualização e Normatização da atuação da equipe de enfermagem no processo de transporte de paciente em ambiente interno aos serviços de saúde. Este parecer aponta que em ambiente hospitalar e/ou ambulatorial, a segurança do transporte de pacientes é da responsabilidade da Enfermagem que assiste ao paciente no transporte e de quem está conduzindo a maca/cadeira de rodas. 2019. Disponível em: http://www.cofen.gov. br/parecer-n-05-2019-cofen-ctln_69220.html. Acesso em: 11 jun. 2019. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN nº 588/2018. Atualiza e nor- matizaa atuação da equipe de Enfermagem no processo de transporte de pacientes em ambiente interno aos serviços de saúde. 2018. Disponível em: http://www.cofen. gov.br/resolucao-cofen-no-588-2018_66039.html. Acesso em: 11 jun. 2019. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 1.363/93. Brasília: CFM, 1993. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA. Parecer COREN/SC nº 001/CT/2010. 2010. Disponível em: http://www.corensc.gov.br/wp-content/uplo- ads/2015/07/PARECER-001-2010-CT-Sala-Recupera%C3%A7%C3%A3o-P%C3%B3s- -Anest%C3%A9sica.pdf. Acesso em: 11 jun. 2019. COSTA, A. L. J.; EUGENIO, S. C. F. Cuidados de enfermagem. Porto Alegre: Artmed, 2014. (Série Tekne). GISMONDI, R. Como responder um parecer pela técnica SBAR e ganhar tempo e eficácia. 2017. Disponível em: https://pebmed.com.br/como-responder-um-parecer-pela-tecnica- -sbar-e-ganhar-tempo-e-eficacia/. Acesso em: 11 jun. 2019. INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE. Como usar o método SBAR na transição do cuidado. 2019. Disponível em: https://www.segurancadopaciente.com. br/qualidade-assist/como-usar-o-metodo-sbar-na-transicao-do-cuidado/. Acesso em: 11 jun. 2019. NETTINA, S. M. Prática de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. SOBECC. Diretrizes de práticas em enfermagem cirúrgico e processamento de produtos para a saúde. 7. ed. São Paulo: SOBECC, 2017. 15Admissão do paciente na unidade clínica Leituras recomendadas BERNARDINO, A. (coord.). Manual de cuidados pós-anestésicos II. 2. ed. Coimbra: Centro Hospitalar do Baixo Vouga, 2017. Disponível em: http://rihuc.huc.min-saude.pt/han- dle/10400.4/2038. Acesso em: 11 jun. 2019. POSSARI J. F. Centro cirúrgico: planejamento organização e gestão. 5. ed. São Paulo: Iátria, 2011. . Admissão do paciente na unidade clínica16