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AULA 1 INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL Prof. Dálcio Roberto dos Reis Júnior 2 TEMA 1 – IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO Empresas que inovam mais geram melhores resultados e são mais competitivas. Certamente já ouvimos essa frase em alguma aula, palestra, em algum podcast ou em algum livro que tenha lido sobre o assunto. E o motivo para ela ser tão reproduzida é muito simples, pois ela é a mais pura verdade. Contudo, a despeito da veracidade da afirmação, ouvir essa frase de forma solta pode nos gerar mais dúvidas do que certezas, e pouco pode nos ajudar a implementar ações de fato. É muito importante compreendermos ao menos um pouco do contexto em que essa frase se aplica, entendendo como a inovação funciona e por que ela é tão importante no mercado competitivo que hoje faz parte do nosso cotidiano. Nesse momento, se faz necessário um breve resgate histórico. Há algumas décadas, a competitividade no mercado se dava de forma diferente em relação aos dias de hoje. A competição entre produtos e serviços de dava, prioritariamente, por disputa de preço. A regra era: quem vendia mais barato, vendia mais. Aos poucos, sem diminuir a importância do preço e o processo de decisão de compra, outro importante fator começou a ganhar destaque, a qualidade. Na prática, os consumidores continuaram pesquisando preços justos, mas muitos já aceitavam pagar um pouco mais por produtos ou serviços que notadamente eram tidos como de maior qualidade em relação aos concorrentes. Esse período coincide com o “boom” da qualidade, com o surgimento de vários ISOs, que são certificadoras de qualidade. Juntamente com o preço e a qualidade, um novo fator começa a se apresentar como um sendo importante para o processo de decisão de compra de muita gente. Já nos anos 2000, muitas pessoas começam a aceitar pagar mais caro por um produto ou serviço novo, diferente, exclusivo, que o surpreenda, com novos atributos ou funcionalidades. Estamos falando da inovação, propriamente dita. 3 Crédito: maxsattana/Shutterstock. Naturalmente, importa esclarecer que, em nenhum momento, o preço ou qualidade deixaram de ser importantes. Apenas são fatores que foram se somando na mente dos consumidores na sua decisão de adquirir ou não determinado bem ou serviço. Importa também ressaltar que os períodos em que isso aconteceu também não são exatos. Não há uma data em que a qualidade ou a inovação começaram a ser importantes. Eram apenas tendências que, aos poucos, foram se concretizando. Conseguimos, portanto, explicar brevemente como a inovação passou a fazer parte do nosso dia a dia, suportando o nosso processo de decisão de compra, em maior ou menor grau. Contudo, atualmente muitos já consideram a inovação não mais um diferencial competitivo, mas uma questão de sobrevivência. Evidentemente essa percepção varia muito de acordo com o ramo que uma empresa atua e o mercado na qual está inserida. Vamos apresentar, a seguir, quatro motivos pelos quais é importante competir por meio da inovação, independentemente de quaisquer outros fatores. 1. Quando há aumento de concorrência: quanto mais empresas diferentes estão brigando pelo mesmo mercado, mais importante a diferenciação entre produtos e serviços se torna. Afinal de contas, o que leva um cliente a comprar determinado produto na empresa A e não na B? https://www.shutterstock.com/pt/g/max+sattana 4 2. Quando há evolução tecnológica constante: empresas que atuam em setores cujas tecnologias centrais evoluem constantemente também devem ter a inovação como parte das suas rotinas. Não seria bem-sucedida uma indústria automobilística que não acompanhasse a evolução das milhares de tecnologias que compõem os seus produtos, no caso, automóveis, por exemplo. 3. Quando há similaridade de produtos: já passamos pela sensação de entrar em uma loja de varejo, por exemplo, para comprar uma televisão e, no primeiro olhar, todas nos parecerem iguais, independentemente da marca, e terem preços semelhantes. Pois então, essa é a similaridade de produtos. Nesse tipo de situação, provavelmente a nossa decisão de baseará na habilidade do vendedor de nos apresentar as tecnologias e as funcionalidade presentes em cada aparelho. 4. Quando há similaridade de serviços: imaginemos que, em um sábado à noite, junto de nossa família, resolvamos comer uma pizza. Existem diversas possibilidades de serviços para saciar o nosso desejo. Podemos ir até o restaurante, pedir por telefone e ir buscar, pedir pelo aplicativo, pelo site, por aplicativos de mensagens, por redes sociais, e por aí vai. É interessante perceber como um simples serviço pode ser feito por meio de inúmeros meios diferentes. É a inovação em serviços, muitas vezes negligenciada por muitas empresas. Além disso, ainda que a pizza seja uma delícia, se o serviço que traz ela até nós for ruim, a nossa percepção sobre a qualidade do produto tende a cair. Esses são os pontos iniciais de nossos estudos. É essencial entendermos a importância da inovação nos dias de hoje e como podemos usá-la como uma arma competitiva. Não a negligenciemos. Ela pode ser o diferencial entre o sucesso de uma empresa e o seu completo fracasso. TEMA 2 – CONCEITOS E TEMAS CORRELATOS “Inovação” é uma palavra muito comum nos dias de hoje e utilizada até de forma meio relapsa em alguns casos. É comumente associada a coisas diferentes, novidades, invenções, mudanças, entre outros. Mas o que, de fato, significa inovação? Existem diversos conceitos para esse termo na literatura. Uma simples busca em qualquer site de busca nos presenteará com dezenas de conceitos de 5 inovação. Todos, naturalmente, têm seu valor e, em conjunto, nos ajudarão a compreender o tema em toda a sua amplitude. Todavia, escolhemos para nossos estudos o conceito de inovação apresentado no Manual de Oslo, em sua terceira edição, de 1997. Caso busquemos sobre o tema na internet, veremos que o Manual de Oslo teve a sua quarta edição publicada em 2018 e pode estranhar porque não utilizamos a versão mais nova do conceito. Isso é porque não houve grandes mudanças conceituais sobre esse tema na última edição e, particularmente, consideramos a definição apresentada na terceira edição mais didática. Segundo o Manual de Oslo (OCDE, 1997), inovação é: A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo novo ou significativamente melhorado, ou um novo método de marketing, ou significativamente melhorado ou um novo método organizacional, nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Agora, convidamos todos para conhecerem o conceito aos poucos. A primeira palavra que nos chama a atenção é “implementação”. Ela significa que uma inovação só pode ser assim entendida após a implementação e o aceite do mercado em relação ao produto, serviço ou processo. Isso significa que um projeto, uma ideia, um protótipo, ou qualquer termo do tipo não pode ser considerado uma inovação nesse estágio. O segundo ponto de atenção para compreendermos o conceito é a separação de produto como “bem” ou “serviço”. Trata-se de um esclarecimento meramente cultural. No Brasil, temos de forma clara a diferença entre produto (algo tangível) e serviço (algo intangível). Contudo, em muitos países, principalmente na Europa, há o costume de chamar tudo de produto, ou produto- bem e produto-serviço. É algo meramente cultural, ok? Outro ponto que merece a nossa atenção é a parte “novo ou significativamente melhorado”. O quanto algo deveria melhorar para essa melhoria ser considerada significativa? Enquanto o novo se caracteriza pelo ineditismo completo, o significativamente melhorado pode ser entendido como sendo o acréscimo de uma nova funcionalidadeou atribuição a produto, serviço ou processo em questão. Por exemplo, imaginemos que somos dono de uma indústria que fabrica copos de plástico na cor branca e passamos a fabricar também copos na cor azul. O acréscimo de um modelo de outra cor, mas com as mesmas finalidades e 6 atribuições do primeiro copo, não caracteriza uma inovação, pois não houve uma melhoria significativa. Agora, imaginemos que passamos a fabricar, além do simples copo branco, um copo com propriedades termais, ou que apresente uma alça ergonômica, por exemplo. Nesses casos, houve o acréscimo de uma funcionalidade, uma atribuição que o copo anterior não tinha. Pois bem, essa é a melhoria significativa descrita no conceito. Agora que já compreendemos o conceito principal, vamos apresentar outro conceito correlato que aparecerá com certa frequência em nossos estudos: tecnologia. Temos um conceito muito próprio e simplista sobre tecnologia, mas que certamente nos ajudará a compreender esse tema. Tecnologia é um termo que quase todos nós usamos, mas poucos sabem definir do que se trata. Entendemos tecnologia como sendo um tripé composto por ciência, técnica e meios. Isso posto de forma organizada, deve gerar algo útil para a sociedade. Entendamos ciência como todo o conhecimento produzido pela humanidade, colocado de forma organizada, documentada e que seja reproduzível. Meios são os insumos para se fazer algo, a matéria-prima necessária, por exemplo. Por fim, técnica é a habilidade pessoal de alguém para fazer algo, o famoso know-how. Vamos para um exemplo. Ao olharmos para o nosso celular, que provavelmente está na nossa mão ou próximo de nós. Tem ciência nele? Claro que sim! Muito conhecimento de diversas áreas está presente aí, engenharia, matemática, física, entre outras. E os meios, quais são? São o metal, o plástico, o vidro, bem como todas as ferramentas necessárias para construir esse aparelho. E a técnica? Concordamos que não é qualquer um que sabe construir esse aparelho? Será que se nos dessem o manual (ciência) e as peças (meios), saberíamos montar esse aparelho? Provavelmente não. Pois bem, essa é a técnica, a habilidade de alguém para fazer isso. Quanto à utilidade de um celular para a sociedade, entendemos não ser necessário investir muitas linhas nisso. Agora, será que a tecnologia está só nessas máquinas modernas? Imaginemos um pão de queijo. Tem ciência aí? Claro que sim, materializado na receita. Tem meios? Queijo, sal, fermento e muitos outros. Exige técnica para 7 fazer? Lógico, se tentarmos fazer um pão de queijo pela primeira vez podemos não acertar de primeira. É útil à sociedade? Evidentemente! Então podemos dizer que há tecnologia em um pão de queijo? Sim, o que mostra que a tecnologia está em praticamente tudo ao nosso redor. Crédito: TheCatEmpire Studio/Shutterstock. TEMA 3 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E INOVAÇÃO Inovação e sustentabilidade são temas em constante evolução. Ambos buscam não somente abordar os desafios socioambientais globais, mas também transformar os problemas da sociedade em negócios, ao mesmo tempo que consegue resolvê-los. Dessa união surgiu o termo “inovação sustentável”. Vamos explorar mais profundamente os conceitos e as dimensões da inovação sustentável delineando os desafios e oportunidades que surgem nessa jornada em direção a um futuro mais sustentável e, ao mesmo tempo, mais tecnológico e inovador. A inovação sustentável transcende a simples mitigação dos impactos ambientais, reconhecendo a interconexão entre sistemas econômicos, sociais e ambientais, o triple bottom line, sobre o qual conversaremos mais à frente. Portanto, a inovação sustentável implica a criação de valor não somente econômico, mas também ambiental e social, de forma integrada. Dessa forma, a inovação sustentável opera em qualquer mercado e em qualquer contexto. A adoção de tecnologias de ponta é uma premissa indispensável para o desenvolvimento sustentável. Isso inclui o desenvolvimento e a implementação de tecnologias limpas e eficientes, como energia renovável, biotecnologia e armazenamento de carbono, por exemplo. Entretanto, mais do que adotar tecnologias de ponta, a sustentabilidade tem se tornado, ao longo do tempo, https://www.shutterstock.com/pt/g/AntonioSolano 8 quase um padrão organizacional. A inovação sustentável requer mudanças significativas nas estruturas organizacionais e institucionais. Isso envolve a adoção de práticas de governança transparentes, a inclusão de stakeholders na tomada de decisão e o desenvolvimento de modelos de negócios que incorporem considerações ambientais e sociais. Além de incentivar a adoção de tecnologias e algumas mudanças organizacionais, a sustentabilidade também tem, ao longo do tempo, alterado alguns comportamentos na sociedade. Isso pressupõe a adoção de alguns valores culturais e éticos que orientam a inovação sustentável. Isso envolve promover a equidade, a diversidade e a inclusão social, bem como respeitar os conhecimentos e as práticas tradicionais das comunidades locais. Em resumo, podemos entender que a inovação a “qualquer preço” já está com os dias contados. Naturalmente, esse processo ainda é lento, mas já temos indícios suficientes para entendermos que ou a inovação passa a ter a sustentabilidade como um de seus pilares centrais ou está fadada ao fracasso. Uma das formas de entendermos isso melhor é o conceito do “Triple Bottom Line”, de Elkington (1997), que enfatiza a importância de avaliar o desempenho das organizações não somente em termos econômicos, mas também em termos ambientais e sociais. Isso levou a uma mudança paradigmática na forma como as empresas medem e relatam seu impacto na sociedade e no meio ambiente. Agora que já aprendemos como a inovação sustentável se apresenta e como ela é importante no mercado atualmente, vamos ver o outro lado da moeda, os desafios de buscar o desenvolvimento e as inovações sustentáveis na nossa organização. O primeiro desafio é a inércia organizacional e as barreiras a mudanças. A resistência à mudança por parte das pessoas e das instituições pode dificultar a adoção de práticas inovadoras e sustentáveis. Nós vamos ver por que isso ocorre mais à frente em nossos estudos, mas saibamos desde já que esse é um dos maiores, se não o maior, desafio. O segundo grande desafio é a complexidade dos problemas socioambientais: apesar do termo “inovação sustentável” ter um foco diferente, muitas dessas inovações buscam solucionar problemas vinculados ao meio ambiente, por exemplo. Contudo, a complexidade desse tipo de problema acaba inibindo muitas iniciativas nesse sentido. Isso ocorre pelo alto risco atrelado ao investimento nesse tipo de solução. 9 O terceiro problema é um paradoxo: a equidade e a justiça. Ao mesmo tempo que a inovação sustentável deve promover ambientes igualitários e justos, muitas soluções inovadoras nem sempre beneficiam igualmente todos os grupos sociais, podendo perpetuar desigualdades e injustiças. Apesar desses desafios, a inovação sustentável também oferece oportunidades significativas para criar um futuro mais equitativo e sustentável. Avanços em áreas como inteligência artificial, biotecnologia e economia circular estão ampliando o leque de possibilidades para abordar os problemas socioambientais de forma inovadora e eficaz. Crédito: Dee Karen/Shutterstock. TEMA 4 – TIPOS DE INOVAÇÃO Agora que já aprendemos o conceito de inovação, os motivos pelos quais ela é importante e após fazermos um breve resgate histórico, vamos começar a nos aprofundar desse tema tão importante para a competitividade das organizações contemporâneas. Nossa proposta é começarmos a entender, a seguir, algumas classificações da inovação, as diferentes formas de intensidade, de tipos, de escala, entre outras. A primeira classificação é em relaçãoà intensidade. Existem três escalas convencionadas para isso, a inovação incremental, a inovação radical e a inovação disruptiva. As duas primeiras foram preconizadas pela Manual de Oslo, já referenciado anteriormente. A terceira escala foi criada pelo Professor Clayton Christensen, Professor da Universidade de Harvard e autor do livro O dilema da inovação (2011), no qual ele apresenta, entre outros conceitos, a definição de inovação disruptiva. https://www.shutterstock.com/pt/g/Dee60141735 10 Vamos, então, partir do início e compreender o que é a inovação incremental. 4.1 Inovação incremental O termo “incremental”, por si só, é autoexplicativo, mas mesmo assim carece de alguns cuidados. Trata-se da adição de um novo atributo ou uma nova funcionalidade a um produto, processo ou serviço já existente, sem alterar a tecnologia principal e sem, necessariamente, tirar a tecnologia anterior do mercado. Vejamos o seguinte exemplo. Fonte: Reis Júnior, 2021. Percebamos o primeiro produto. É uma cafeteira simples e que provavelmente temos, ou tivemos, em casa. Coloca-se água no pó de café e o café sai pronto, como todos nós conhecemos. Agora, vamos observar a imagem seguinte. Nota-se claramente a adição de algumas funcionalidades novas no produto, como uma medida na lateral, um compartimento de metal para manter a bebida quente, entre outros. Todavia, a tecnologia central principal permanece a mesma, sem alteração. Observemos o terceiro objeto, novamente se acrescentam a ele diversos atributos novos, mas sem a mudança da tecnologia. No quarto, a mesma coisa. Essa é a inovação incremental. Há a adição de novas funcionalidades, mas sem alterar a tecnologia principal (em todas, a água continua passando pelo pó do café) e, principalmente, sem retirar nenhum desses produtos do mercado. Todas essas cafeteiras têm seu público e são amplamente aceitas por diversos tipos de consumidores. Notemos, então, que são três as principais características da inovação incremental: (1) a adição de novas funcionalidades, a manutenção da tecnologia principal e permanência no mercado de todos os modelos daquele tipo de produto. 11 4.2 Inovação radical A inovação radical, como o nome diz, é a mudança total da tecnologia utilizada para determinado fim. O exemplo a seguir vai deixar tudo mais claro. Fonte: Reis Júnior, 2021. Vamos falar de uma tecnologia amplamente utilizada por todos nós, quase que diariamente: o transporte e armazenagem de arquivos. Na década de 1980 e no início dos anos 1990, a melhor tecnologia para o transporte de arquivos era o disquete. Muitos de nós vão se lembrar dele, outros nem vão saber do que se trata. Os famosos disquetes foram utilizados por muitos anos, mas eram extremamente frágeis, com pouca capacidade de armazenagem e de difícil transporte. Só para ter uma ideia, uma simples música, dessas que temos em quantidade em nosso celular, necessitava de três disquetes para ser armazenada. Nada prático, não? Movido por essas limitações, a indústria logo apresentou o CD como forma de transportar arquivos. Com mais capacidade, logo ganhou o gosto popular e, acabou, em pouco tempo, tornando o disquete completamente obsoleto, tanto que sumiu do mercado. Percebamos aqui uma grande diferença entre a inovação incremental e a radical. Na segunda, houve uma ruptura tecnológica abrupta, que fez o antecessor sumir (ou reduzir muito) o seu mercado. O CD também não durou muito e logo foi substituído pelo DVD. Com mais capacidade e com possibilidade de inserir e remover os arquivos gravados (visto que o CD, após gravado, não possibilitava que arquivos pudessem ser removidos), rapidamente tomou o lugar do CD. Após o DVD, veio o pen-drive, depois a nuvem e, quem sabe o que virá pela frente. Em todos esses exemplos, a tecnologia mudou completamente entre um produto e outro, tornando-os obsoletos em um curto espaço de tempo. 12 4.3 Inovação disruptiva Vamos observar a figura a seguir. Fonte: Reis Júnior. A inovação disruptiva serve para adicionar uma terceira situação, para representar casos que não se enquadravam em nenhuma dos dois anteriores, por mais que seja difícil imaginar que isso seja possível. Quando anteriormente falamos da inovação radical, mesmo com a ruptura tecnológica de um produto para outro, percebemos claramente a sequência temporal com que as coisas foram se desenvolvendo, substituindo um ao outro ao longo do tempo. A inovação disruptiva ocorre quando há o surgimento de um novo produto, serviço ou processo (principalmente os dois primeiros) tão revolucionário que não é possível associá-lo a nada anterior a ele. Se enquadram nesses casos, por exemplo, a internet, os computadores, os satélites, a telefonia. Percebamos que são inovações tão impactantes que mudaram até a forma como a sociedade vive, propiciando avanço no desenvolvimento mundial, afetando todos nós. 13 TEMA 5 – ABRANGÊNCIA DA INOVAÇÃO Assim como os tipos ou o grau de impacto, a inovação também pode ser classificada pela abrangência, sendo para a empresa, para o mercado e para o mundo. Compreender essa classificação é importante para simplificarmos o nosso entendimento sobre o tema e percebermos que a inovação, por vezes, está na implementação de tecnologias “simples”, mas que podem trazer resultados muito significativos. Vamos iniciar pela inovação para a empresa. Vamos visualizar uma padaria localizada no nosso bairro. Aquela bem tradicional e sem nada que chame muito a atenção em termos de inovação. Em um determinado momento, o padeiro percebe que precisa aumentar a sua produtividade diante da crescente demanda por pãezinhos pela manhã. Ele faz uma breve pesquisa e descobre que pode adquirir um novo forno para isso, melhor e mais potente. Contudo, esse forno já tem muitos anos de mercado e já foi adotado por quase todas as padarias da cidade. Será que esse padeiro, ao adquirir esse forno e implementar na sua padaria, está inovando, de fato? A resposta é sim. O fato de o forno já ser uma tecnologia muito conhecida não altera o fato de que, para a empresa, é uma nova tecnologia e agregará muito na produtividade, na competitividade e, consequentemente, no faturamento dessa padaria. Esse é a inovação para a própria empresa. Lembre-se de que o conceito de inovação do Manual de Oslo, apresentado anteriormente, em nenhum momento salienta a obrigação do ineditismo no seu conceito. Já a inovação para o mercado representa algo mais amplo. Voltemos para a mesma padaria do exemplo anterior. Só que, agora, essa padaria é claramente a melhor do bairro. Tudo do melhor em termos de produtos e serviços encontramos lá. Um dia, o dono dessa padaria, sentindo a necessidade de manter a sua liderança no mercado, visita uma feira internacional na China e conhece uma determinada tecnologia inédita por aqui, uma máquina de fazer pães capaz de produzir 50% a mais do que qualquer máquina existente por aqui. Ele, então, resolve trazê-la e implementar na sua padaria, alavancando seus resultados. Percebamos que, nesse segundo exemplo, a tecnologia é inédita no mercado de atuação da padaria. Isso é a inovação para o mercado, quando uma tecnologia já 14 existia em um mercado distinto àquele de atuação da empresa, mas é considerado inédito no mercado atendido por ela. Por último, temos a inovação para o mundo. A termo de certa forma já é autoexplicativo. Trata-se de uma inovação inédita para o mundo todo. Nesse caso, pressupõe-se o ineditismo. Entretanto, é importante percebermos que o entendimento não é tão óbvio quanto parece, pois o ineditismo tecnológico não pressupõe que o produto ou serviço que o detém seja vendido ou ofertado no mundo todo. Vamos ver um exemplo para melhorar o nosso entendimento. Há alguns anos, em Roraima, no norte do país, em um breve curso de inovaçãopara pequenos empreendedores locais, uma senhora, dona de uma barraca de venda de açaí na praça central da cidade, fez um breve relato espontâneo. Ela contou que, apesar de vender muito açaí para os adultos, o mesmo não era muito aceito pelas crianças, mesmo com a insistência dos pais em tentar implementar esse alimento em razão de suas qualidades nutritivas. Testemunhando o desespero das mães nesse processo, essa senhora acabou desenvolvendo o açaí em pó, que poderia ser colocado no preparo de outros alimentos, como o feijão, por exemplo, sendo consumido pelas crianças sem ao menos elas terem conta disso. Após uma breve pesquisa, descobrimos que essa tecnologia não existia em nenhum lugar do mundo, era inédita. Muito provavelmente, essa senhora vai vender isso apenas para o seu pequeno público local, na praça, e não distribuir no mundo todo. Mesmo assim, estamos diante de uma inovação em nível mundial. Logo, a inovação para o mundo baseia-se no caráter inédito da tecnologia, e não no mercado em que é ofertado ou vendido. Crédito: KOTOIMAGES/Shutterstock. https://www.shutterstock.com/pt/g/KOTOIMAGES 15 Resumindo, a inovação pode ser entendida em diferentes níveis de abrangência, mas o ponto central é o mesmo, a implementação de determinada tecnologia, que pode ser em forma de produtos, serviços ou processos e, por meio disso, aumentar os nossos resultados. No fim, pouco importa a abrangência; o resultado é o mesmo, o aumento do lucro. 16 REFERÊNCIAS ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – OCDE. Manual de Oslo: diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3. ed. Paris, 2005.