Prévia do material em texto
PROJETO E CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS E FERROVIAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Relacionar os estudos para escolha do traçado. > Identificar os serviços iniciais e projetos de engenharia. > Definir o traçado inicial da diretriz. Introdução O projeto de uma via de transporte terrestre, quer estrada ou ferrovia, é feito com o intuito de ligar dois pontos de interesse. Após a definição desses pontos, começa-se a pensar nas alternativas de traçados que melhor atendam às neces- sidades de ligação. Essas alternativas devem satisfazer requisitos fundamentais de atração de desenvolvimento à região contemplada pela obra e desviar de elementos problemáticos que possam onerar sua execução. Muito embora os modais de rodovias e ferrovias apresentem diferenças significativas de projeto geométrico, a escolha da melhor alternativa de traçado para qualquer via de transporte toma como base o conhecimento técnico da caracterização geomorfológica, geotécnica e hidrológica de toda a extensão por onde a obra passará. Tais caraterizações e reconhecimentos da região são possíveis mediante estudos preliminares de topografia, geologia, geotecnia, hidrologia e viabilidade técnica, econômica e social das alternativas traçadas. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias Caroline Silva Sena O conhecimento desses elementos definirá o projeto geométrico de ligação entre os dois pontos em questão. Neste capítulo, você verá os principais estudos preliminares que ajudam a escolher traçados e também seus aspectos técnicos. Além disso, conhecerá os serviços iniciais e projetos de engenharia que fazem parte do projeto de uma via de transporte terrestre e, por fim, verá como definir o traçado inicial da diretriz. Estudos básicos para escolha de traçado As infraestruturas de vias de transporte de grande porte apresentam carac- terísticas próprias que as definem como obras lineares de infraestrutura, pois apresentam uma das dimensões significativamente superior às demais, ou simplesmente podem ser chamadas de obras lineares (FREIRE, 2014). A exemplo disso, temos as rodovias e ferrovias, que se caracterizam por apresentar grande extensão, sendo a unidade de comprimento linear muito maior que as demais dimensões de sua estrutura. A técnica de traçar estradas deve combinar os elementos geométricos da rodovia com o meio em que será implantada. Os elementos geométricos (tangente, curvas horizontais, rampas e curvas verticais) devem estar em harmonia com a paisagem, de modo a servir eficientemente ao tráfego, levando em conta os fatores dinâmicos, sociais, psicológicos e os custos razoáveis de construção (DNIT IPR 706), o que não é diferente para o traçado de ferrovias. Porém, embora esses sistemas de transporte exigiam os mesmos estudos investigativos para a caracterização da região a ser implantada e, de certa forma, os mesmos projetos complementares para a sua implantação, há diferenças significativas que devem ser conhecidas e levadas em conta na definição do melhor traçado. O sistema de transporte ferroviário, por exemplo, lida com veículos pesados que imprimem uma velocidade reduzida, e necessita de um sistema estrutural menos flexível quando comparado com o sistema estrutural de uma rodovia. Seu traçado deve apresentar trechos longos em forma de tangentes (retas) e curvas circulares horizontais com raio mínimo estabelecido por norma, para que se permita a fixação e segurança da roda e trilho do veículo (DNIT ISF 207). Para os sistemas de transporte rodoviário, recomenda-se que os traçados apresentem trechos em tangente não tão longos, porque esse tipo de traçado pode causar cansaço e monotonia ao condutor do veículo, ocasionando sono e prováveis acidentes na pista. Nas rodovias, é necessário dimensionar curvas horizontais e verticais e distância de visibilidade que forneçam segurança e distância adequada para as possíveis ultrapassagens, uma vez que requerem Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias2 mais pistas para o deslocamento de veículos de um sentido ao outro (DNIT IPR 706). Os estudos iniciais para construção dessas obras iniciam-se com a escolha do traçado, que tem por objetivo a ligação de dois pontos. O traçado de uma obra linear é o conjunto de segmentos que representam o eixo da constru- ção, relacionando sua posição espacial. A decisão de escolha desse traçado deve ser estratégica, ou seja, é preciso levar em consideração os fatores que nortearam o melhor caminho para o desenvolvimento do projeto. O estudo de um traçado de uma obra linear é uma investigação das soluções possíveis, em que se desenvolverá a via em estudo, sendo representado pelo conjunto de formas geométricas (tangente, curvas) interligadas que caracterizam a obra (FREIRE, 2014). A Figura 1 exibe uma representação gráfica de um traçado que liga um ponto A a um ponto B. Figura 1. Exemplo de traçado. Fonte: Adaptada de Brasil ([2018]). No dia a dia, são solicitadas algumas alternativas de traçado com suas respectivas justificativas, com quadros resumidos que possam ilustrar as vantagens e as desvantagens de cada opção. A utilização de software facilitou a análise das informações. Isso é vantajoso, pois esses dados possi- bilitam aos analistas de projeto sugerir mais opções para um mesmo traçado (FREIRE, 2014). Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 3 Os estudos usados para a escolha do traçado de uma rodovia devem ser realizados conforme as Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e Projetos Rodoviários, recomendadas na IS-207 pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) que tem o intuito de instruir os estudos preliminares do traçado. Em relação às ferrovias, encontramos as especificações da Valec e da DIF/DNIT para o estudo de traçados, além de conceitos que podem ser encon- trados com pequenas adaptações na IS-207 (DNIT). A Valec orienta esse estudo por meio da Especificação de Projeto nº 80-EG-000A-26-0000, e existe, além disso, a ISF-205 da DIF/DNIT (NABAIS, 2014). A Figura 2 ilustra tarefas do estudo de traçado baseadas nas diretrizes básicas para elaboração recomendadas na IS-207 DNIT (BRASIL, 2010a). Figura 2. Tarefas para elaboração de estudos e projetos rodoviários. Fonte: Adaptada de Brasil (2010a). Fase preliminar Coleta e compilação de dados Identificação e estudo das alternativas de traçado Estabelecimento de critérios Planos funcionais preliminares Avaliação preliminar comparativa Fase definitiva Geologia e geotecnia Terraplenagem Hidrologia e drenagem Obras de arte especiais Faixa de domínio Pavimentação Estudos ambientais Plano funcional definitivo Estimativa preliminar de custos Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias4 Para a construção de uma estrada de transporte terrestre, é imprescin- dível que haja um conjunto de projetos com memorial descritivo, memorial de cálculo e orçamento, atendendo aos requisitos de segurança, economia e sociais. De forma geral, os estudos e projetos que norteiam um projeto incluem (BRASIL, 2010a): � Estudos de tráfego — compreendem a coleta de dados de tráfego, fazendo uma análise de toda a conjuntura de tráfego de veículos na região, com o propósito de ajudar a definir o traçado e também a classificação da rodovia. � Estudo de viabilidade técnica-econômica — é um estudo inicial de re- conhecimento da região/ área, utilizado para garantir a melhor escolha do traçado, com objetivo de definir a viabilidade técnica e econômica do projeto de construção de uma rodovia. � Estudos hidrológicos — analisam os dados coletados acerca dos re- cursos hídricos, bacias hidrográficas e outros alvos de estudo para o projeto da estrada. Esses dados são bastantes importante para projetos de drenagem de estradas. � Estudos topográficos — consistem na busca do pleno conhecimento do terreno por meio de levantamento topográfico convencional ou por processo aerofotogramétrico, com formas de trabalho, precisão e tolerânciaem consonância à fase de projeto que se desenvolve. � Estudos geológicos e geotécnicos — buscam o conhecimento da cons- tituição do terreno e do subsolo por meio de sondagens e coleta de materiais, que são levados para análises com objetivo de determinar sua utilização na obra. Além disso, devem ser feitos estudos de em- préstimos e jazidas, que nortearão uma pré-seleção de áreas que tenham materiais para utilização na terraplenagem e pavimentação. Conforme Nabais (2014), as diferenças entre o estudo de traçado para ferrovias e para rodovias está relacionado às curvas horizontais, pois o raio mínimo ferroviário não deve ser inferior a 341,823 m, um valor que é maior que o valor mínimo rodoviário. Outro ponto é a limitação da inclinação das rampas, que apresentam em ferrovias valores sempre muito inferiores aos limites adotados em rodovias. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 5 Para o estudo de traçado, o DNIT estabelece normas que orientam seu desenvolvimento. Cabe salientar que compete ao projetista sempre consultar normas atualizadas. A seguir, são listadas as principais normas que devem ser observadas para o estudo de traçado: � Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais (1999) — Publicação IPR 706; � Manual de Acesso de Propriedades Marginais a Rodovias Federais (2006) — Publicação IPR 728; � Manual de Análise, Diagnóstico, Proposição de Melhorias e Avaliações Econômicas dos Segmentos Críticos (1988); � Manual de Ordenamento do Uso do Solo nas Faixas de Domínio e Lin- deiras das Rodovias Federais (2005) — Publicação IPR 712; � Manual de Projeto de interseções (2005) — Publicação IPR 718; � EB 108 — Estudos para Adequação da Capacidade e Segurança de Ro- dovias Existentes; � IS 204 — Estudos Topográficos para Projetos Básicos de Engenharia; � IS 207 — Estudos Preliminares de Engenharia para Rodovias - Estudos de Traçado; � IS 229 — Estudos de Viabilidade Econômica de Rodovias (em áreas rurais); � IS 231 — Estudos de Plano Funcional para Projetos de Melhoramentos em Rodovias para Adequação da Capacidade e Segurança (2018); � IS 232 — Estudos de Definição de Programa para Adequação da Capa- cidade segurança; � IS 237 — Estudos de Traçado do Projeto Executivo de Engenharia para Construção de Rodovias Vicinais; � ISF 205 — Instrução de Serviço Ferroviário: Estudos de Traçado; � ISF 209 — Instrução de Serviço Ferroviário — Projeto Geométrico. É importante salientar que os projetistas de estradas convivem com inú- meras solicitações por parte de proprietários de projetos para apresentar argumentos que justifiquem a escolha de áreas para exploração e determi- nação dos traçados durante a fase de estudos para projetos de infraestrutura de transporte. Tais solicitações são mais frequentes em projetos ferroviários de carga, em que existe a necessidade de evitar núcleos urbanos e áreas de interesse especial, além das maiores exigências geométricas em virtude das características do transporte ferroviário (FREIRE, 2014). Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias6 Projetos iniciais de engenharia Os serviços de engenharia são divididos em projeto, execução e operação. A fase de projeto é composta por estudos e levantamentos de dados sobre a região. Já a fase de construção de uma obra de engenharia é a parte prática, que se baseia no projeto, sendo formada por subetapas: implantação básica, obras de arte especiais, túneis e superestrutura. O projeto de engenharia para a construção de rodovias é dado por um conjunto de estudos e documentos técnicos que visam a viabilidade técnica e econômica e o conforto e segurança dos usuários, além da durabilidade da obra a ser construída. O projeto é dividido em duas fases: anteprojeto de engenharia iniciada e projeto básico. O anteprojeto de engenharia deve conter um conjunto de estudos e/ou análises que instruirão na realização das obras. Além disso, apresenta informações técnicas que respaldam o desenvolvimento da obra/e ou serviço em questão. É nessa fase que são analisadas as principais condicionantes, incluindo aspectos topográficos, geológicos, hidrológicos, e também é a fase em que é estabelecida a diretriz geral (uma reta que liga o ponto inicial ao final). Nabais (2014) destaca que na fase de projeto básico, a definição do traçado de uma ferrovia é muito importante, pois são incluídas as restrições de rampa máxima e de raio mínimo indicadas nos estudos operacionais, o que pode tornar a construção inviável devido, aos custos de gerados pelos volumes de terraplenagem e pela eventual necessidade de túneis e viadutos extensos. Cabe ressaltar que tais características também se aplicam a rodovias. O projeto básico tem a finalidade de detalhar a solução selecionada, fornecendo plantas, desenhos e notas de serviço que permitam a construção da rodovia (BRASIL, 1999). A seguir, temos os principais projetos encontrados em obras lineares: � projeto geométrico; � projeto de terraplenagem; � projeto de pavimentação estradal ou ferroviária; � projeto de drenagem; � projeto de obra de arte especial (OEA); � projeto de obras de artes complementares (OAC); � projeto de interseções; � projeto de sinalização; � projeto de paisagismo; � projeto de desapropriações; Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 7 � projeto de instalações; � projeto orçamentário; � projeto de impacto ambiental; � projeto de canteiro de obras para obras lineares a céu aberto. A seguir, veja os principais conceitos de alguns desses documentos (BRASIL, 2005). � Projeto geométrico: estipula os parâmetros técnicos e geométricos de uma estrada relacionados aos raios de curvatura, rampas e plataforma, com objetivo de tornar um projeto viável e seguro para os usuários. � Projeto de terraplenagem: tem o objetivo de determinar os volumes de terraplenagem, movimento de terra e locais de armazenagem de materiais. � Projeto de drenagem: tem o intuito de promover que a água escoe para locais seguros, evitando, em caso de rodovias, acidentes aos usuários, e, de forma geral (obra linear), garantindo a durabilidade da via. � Projeto de pavimentação: visa detalhar o pavimento que será utili- zado, apresentando em seu escopo os materiais a serem indicados, o dimensionamento e a definição dos trechos homogêneos, além de cálculos dos volumes e distâncias de transporte desses materiais. � Projeto de sinalização: é constituído por detalhes de sinalização hori- zontal e vertical das vias, que promovem a segurança aos seus usuários. � Projeto de desapropriação: objetiva fazer um levantamento topográfico da região estudada para determinar os custos de desapropriação dos imóveis. Conforme Nabais (2014, p. 107–108), o estudo de traçado de ferrovias diferencia-se do rodoviário nos seguintes aspectos: A decisão sobre a implantação de uma rodovia passa por critérios econômicos, sociais, políticos e estratégicos, que definem, após uma estimativa de volume e composição de tráfego, qual classe de rodovia será adequada a essa demanda de obras de arte correntes e especiais, [sendo] possível melhorar o traçado e o greide e, com isso, concretizar um projeto geométrico (básico) em escala de 1:5.000 (H) e 1:500 (V), com precisão suficiente para essa segunda fase. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias8 Um bom projeto de rodovia deve buscar a harmonia entre os elementos físicos, as características de operação das vias e as capacidades dos veículos circulantes. Esse conceito também é destinado às ferrovias, uma vez que esse tipo modal de transporte necessita que em seu projeto haja embasamento em geometria, física e nas características operacionais dos trens, metrôs e outros. Escolha do traçado inicial da diretriz Como foi visto anteriormente, o estudo de traçado de um corpo estradal ou ferroviário engloba projetos que têm como objetivo garantir a viabilidade técnica, econômica, ambiental e social de uma obra linear. Para cumprir osprocessos de dimensionamento e disposição das carac- terísticas geométricas de uma estrada, o projeto de traçado passa pelas fases de reconhecimento, exploração e locação. A seguir, detalharemos cada uma delas. Reconhecimento O reconhecimento é a fase inicial de escolha do traçado. Seu objetivo principal é fazer um levantamento e uma análise de dados dos possíveis locais onde a obra linear pode ser construída. Nessa fase, são definidas as principais influências na escolha do traçado, incluindo aspectos topográficos, geológi- cos, hidrológicos e desapropriação (PONTES FILHO, 1998). Esses levamentos e análises podem ser feitos por meio de: � mapas rodoviários; � fotografias aéreas (aerofotogrametria); � cartas geográficas; � planos e estudos anteriores; � explorações topográficas em campo. De acordo com o DNIT (BRASIL, 1999), as principais etapas compreendidas na fase de reconhecimento são: � coleta de dados sobre a região (mapas, cartas, fotos aéreas, topografia, dados socioeconômicos, tráfego, estudos geológicos e hidrológicos já existentes); Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 9 � observação do terreno dentro do qual se situam os pontos obrigatórios de passagem de condição no campo, em cartas ou em fotografias aéreas; � determinação das diretrizes geral e parciais, considerando-se apenas os pontos obrigatórios de condição; � determinação dos pontos obrigatórios de passagem de circunstância; � determinação das diversas diretrizes parciais possíveis; � seleção das diretrizes parciais que forneçam o traçado mais próximo da diretriz geral; � levantamento de quantitativos e custos preliminares das alternativas; � avaliação dos traçados. Na Figura 3, temos a representação gráfica do traçado de uma diretriz geral (reta AB) e os pontos obrigatórios de condição e circunstância. Figura 3. Exemplo de traçado de uma diretriz geral. Fonte: Adaptada de Pontes Filho (1998). Para construção do traçado, é necessário determinar dois pontos: o ponto inicial e o ponto final. Esses pontos extremos determinados no projeto são denominados pontos obrigatórios de condições (pontos C e D na Figura 3). Entre esses pontos extremos, existem os pontos intermediários, que podem advir de fatores não técnicos, como fatores políticos, econômicos, sociais, históricos e até mesmo pelo contratante do empreendimento, ou por fatores de ordem técnica, como travessia de rios, acidentes geográficos, entre outros Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias10 — nesse caso, são chamados de pontos obrigatórios de passagem (pontos G e E na Figura 3). Na fase de pontos obrigatórios, conforme Nabais (2014), são escolhidos os principais pontos de travessia dos rios mais relevantes da área de estudo e são evitados os pontos de problemas de ordem ambiental, geológica, arqueológica e social, tais como: reservas ecológicas, áreas de instabilidade ou regiões alagadiças, terras indígenas, áreas de quilombolas, entre outros. Exploração Após a definição dos pontos extremos e da diretriz para o desenvolvimento do projeto da rodovia, inicia-se a segunda etapa, a exploração, que tem como objetivo detalhar a diretriz (PONTES FILHO, 1998). Também são realizadas as tarefas de levantamento planimétrico, levantamento altimétrico longitudinal e transversal, desenho e, por fim, projeto. Na fase de exploração, há um detalhamento maior do projeto de terraple- nagem, avaliando os custos e as soluções proposta, servindo de base para o projeto da estrada pretendida. Após o levamento dos dados de exploração, é executado o projeto de exploração para a futura estrada. Para a construção das plantas, o projetista se baseia nas características técnicas que norteiam todo o projeto e que estão definidas de acordo com cada classe de rodovia ou via urbana. Essas orientações levam em consideração a conformação do terreno (plano, ondulado, montanhoso), tráfego, velocidade diretriz e características geométricas (BRASIL, 2010b). Alguns dos principais elementos comuns à classe da via são: raio mínimo das curvas de concordância horizontal, raio mínimo das curvas de concor- dância vertical, taxa de declividade máxima, extensão máxima de rampa com declividade máxima, distâncias de visibilidade, abaulamento, largura da pista, acostamentos, refúgios, estacionamentos e calçadas. Locação O projeto de locação, ou projeto definitivo, é uma fase de detalhamento e eventual alteração do anteprojeto escolhido. Nesta etapa, são escolhidos todos parâmetros e definidos todos os cálculos necessários para melhor definição do projeto em planta, perfil longitudinal e seções transversais. O conjunto desses desenhos finais, acompanhados das tabelas necessárias Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 11 à locação do projeto no campo, forma o projeto geométrico final (PONTES FILHO, 1998). O projeto definitivo é composto por todos os projetos complementares por memórias de cálculo, justificativa de solução e processos adotados, quantificação de serviços, especificações de materiais, métodos de execução e orçamento. De acordo com Pontes Filho (1998), as regras básicas para uma estrada bem projetada são: � as curvas devem ter o maior raio possível; � a rampa máxima somente deve ser empregada em casos particulares e com a menor extensão possível; � a visibilidade deve ser assegurada em todo o traçado, principalmente nos cruzamentos e nas curvas horizontais e verticais; � devem ser minimizados ou evitados os cortes em rocha; � devem ser compensados os cortes e os aterros; � as distâncias de transporte devem ser as menores possíveis; � o eixo da estrada deve ter a indicação do estaqueamento e a represen- tação do relevo do terreno, com curvas de nível a cada metro; � é preciso indicar bordas da pista, pontos notáveis do alinhamento horizontal e elementos das curvas (raios, comprimentos, ângulos centrais, etc.); � devem ser explicitadas as linhas indicativas dos offsets de terraplena- gem (pés de aterro, cristas de corte), dos limites da faixa de domínio, das divisas entre propriedades, nomes dos proprietários, tipos de cultura e indicações de acessos às propriedades; � serviços públicos existentes devem ser listados. Neste capítulo, vimos que as rodovias e ferrovias são módulos de trans- porte terrestre que apresentam a mesma sistemática em termos de conjunto de projetos necessários ao seu dimensionamento, assim como os estudos preliminares, projetos e escolha de traçado; porém, cabe ressaltar que di- ferem em alguns projetos, como em seus respectivos projetos estruturais e projetos de sinalização. Referências BRASIL. Departamento Autônomo de Estradas de rodagem. [Mapa rodoviário RS]. [Brasil]: DAER, [2018]. Disponível em: https://www.daer.rs.gov.br/upload/ arquivos/201811/09183345-mapa-rs-verso-2018-rgb.pdf. Acesso em: 5 maio 2021. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias12 BRASIL. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Diretrizes básicas para elaboração de estudos e projetos rodoviários (escopos básicos / instruções de serviço). Rio de Janeiro: DNER, 1999. (IPR, 707). BRASIL. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Manual de projeto geométrico de rodovias rurais. Rio de Janeiro: DNER, 1999. (IPR, 706). BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria de Pla- nejamento e Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Diretrizes básicas para elaboração de estudos e projetos rodoviários: escopo básico/ instruções de serviço. 2. ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2005. Disponível em: http://www1.dnit.gov.br/arquivos_in- ternet/ipr/ipr_new/manuais/Diretrizes%20B%E1sicas%20para%20Elabora%E7%E3o%20 de%20de%20Estudos%20e%20Projetos.pdf. Acesso em: 5 maio 2021. BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria Exe- cutiva. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Diretrizes básicas para elaboração de estudos e projetos rodoviários: instruções para acompanhamento e análise.Rio de Janeiro: DNIT, 2010a. (IPR, 739). Disponível em: https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/ planejamento-e-pesquisa/ipr/coletanea-de-manuais/vigentes/739_diretrizes_basicas- -instrucoes_para_acompanhamento.pdf. Acesso em: 5 maio 2021. BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria Executiva. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Manual de projeto geométrico de travessias urbanas. Rio de Janeiro: DNIT, 2010b. (IPR, 740). Disponível em: https://www.gov.br/dnit/pt-br/ assuntos/planejamento-e-pesquisa/ipr/coletanea-de-manuais/vigentes/740_ma- nual_projetos_geometricos_travessias_urbanas.pdf. Acesso em: 5 maio 2021. FREIRE, P. A. da C. Método de seleção de faixa para estudo de traçado de obras lineares. 2014. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes, Fortaleza, 2014. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/13950. Acesso em: 5 maio 2021. NABAIS, R. J. da S. Manual básico de engenharia ferroviária. São Paulo: Oficina de Textos, 2014. PONTES FILHO, G. Estradas de rodagem: projeto geométrico. São Carlos: G. Pontes Filho, 1998. Leituras recomendadas BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria de Infra- estrutura Ferroviária. Instrução de serviço ferroviário – ISF 205: estudos de traçado. Rio de Janeiro: DNIT, 2015a. Disponível em: https://www.gov.br/dnit/pt-br/ferrovias/ instrucoes-e-procedimentos/instrucoes-de-servicos-ferroviarios/isf-205-estudos- -de-tracado.pdf/@@download/file/isf-205-estudos-de-tracado.pdf. Acesso em: 5 maio 2021. BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria de Infra- estrutura Ferroviária. Instrução de serviço ferroviário – ISF 209: projeto geométrico. Rio de Janeiro: DNIT, 2015b. Disponível em: https://www.gov.br/dnit/pt-br/ferrovias/ instrucoes-e-procedimentos/instrucoes-de-servicos-ferroviarios/isf-209-projeto- -geometrico.pdf/view. Acesso em: 5 maio 2021. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias 13 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Conceitos básicos em projeto de rodovias e ferrovias14