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JUAN ROBERTO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 O NASCIMENTO DA IGREJA ROMANA E SUAS TRADIÇÕES .......................... 05 
2 JESUS FUNDOU A CATÓLICA ROMANA? PEDRO FOI O PRIMEIRO PAPA? 10 
2.1 PAPADO ........................................................................................................... 14 
3 REFUTANDO A INTERCESSÃO DOS SANTOS ................................................... 41 
4 A IDOLATRIA NA IGREJA CATÓLICA ROMANA ................................................ 48 
4.1 IDOLATRIA....................................................................................................... 49 
4.1.1 OS QUERUBINS DE OURO E SERPENTE DE BRONZE ...................... 55 
5 REFUTANDO O PURGATÓRIO .............................................................................. 58 
6 O CANÔN BÍBLICO.................................................................................................. 72 
6.1 A IGREJA ROMANA PRESERVOU E NOS DEU A BÍBLIA? ........................ 74 
6.2 AS HERESIAS DOS 7 LIVROS A MAIS DA BÍBLIA ROMANA ..................... 80 
7 SOLA SCRIPTURA .................................................................................................. 82 
7.1 SOLA SCRIPTURA NA PATRÍSTICA ............................................................. 91 
8 CATÓLICOS NÃO SABEM O QUE É O VERDADEIRO SOLA FIDE ................. 138 
8.1 SOLA FIDE NA PATRÍSTICA ........................................................................ 138 
09 O SACERDOTE TEM PODER PARA PERDOAR PECADOS? ....................... 147 
10 A SANGRENTA INQUISIÇÃO CATÓLICA ........................................................ 151 
11 MARIA, MÃE DE JESUS .................................................................................... 183 
11.1 REFUTANDO A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA.............................. 183 
11.2 O PECADO DE MARIA .................................................................................. 189 
11.3 PATRÍSTICA CONTRA O DOGMA DA IMACULADA .................................. 192 
11.4 MARIA É A MULHER DE APOCALIPSE 12? ............................................... 211 
11.5 REFUTANDO A ASSUNÇÃO DE MARIA ..................................................... 219 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
CAPÍTULO 1 – 
O NASCIMENTO DA IGREJA ROMANA E SUAS TRADIÇÕES 
 
 
 Antes mesmo do cristianismo chegar em Roma, existiam diversas igrejas 
espalhadas pelo mundo, sendo as primeiras igrejas consolidadas em Israel. Mas até 
hoje a Igreja Católica Apostólica Romana teima em dizer que é a única igreja de Cristo, 
e que ela foi fundada por Cristo, tendo o apóstolo Pedro como o primeiro Papa. Só 
que isso é uma grande mentira que facilmente pode ser refutada. 
 Não existe a menor possibilidade de a igreja Romana ser a primeira, visto que 
já havia muitas outras antes dela. Somente depois dos anos 300 d.C, sob o comando 
do Imperador Constantino, é que o Império Romano, que era o mais poderoso da 
terra, se tornou aberto para receber o cristianismo. 
 No início do século IV, o Império Romano era ainda predominantemente pagão, 
com o Cristianismo sendo apenas uma das muitas religiões praticadas dentro do 
Império. No entanto, Constantino tomou uma série de medidas que tiveram um 
impacto significativo na adoção e ascensão do Cristianismo no Império Romano. 
 Um dos momentos mais conhecidos foi o Édito de Milão, emitido em 313 d.C., 
que estabeleceu a tolerância religiosa no Império, permitindo que os cristãos 
praticassem sua fé sem perseguição. Embora o Édito de Milão tenha sido um passo 
importante para a liberdade religiosa dos cristãos, o Império Romano ainda não se 
tornou oficialmente cristão. 
 Foi apenas no final do século IV que o Império Romano adotou oficialmente o 
Cristianismo como religião estatal. O Imperador Teodósio I, conhecido como 
Teodósio, o Grande, emitiu o Édito de Tessalônica em 380 d.C., tornando o 
Cristianismo a religião oficial do Império Romano. A partir desse momento, o 
Cristianismo começou a se tornar cada vez mais influente e dominante dentro do 
Império. 
 Assim, embora Constantino tenha desempenhado um papel importante ao 
promover a tolerância religiosa e criar um ambiente favorável para o Cristianismo, foi 
somente com Teodósio que o Império Romano se tornou oficialmente cristão. 
 
 
 
 
 
 
6 
 Após isso, a Igreja de Roma passou a ter muito mais poder político, militar e 
religioso acima das demais igrejas que existiam antes dela. Desta feita, o Imperador 
Teodósio emitiu um decreto ditatorial: 
 
Ordenamos aqueles que seguem essa regra que adotem o nome 
de cristãos católicos. Sobre o restante, porém, os que julgamos 
dementes e loucos, pesará a infâmia de dogma heréticos. Seus 
locais de reunião não receberão o nome de igreja, sofrendo 
primeiro a vingança divina e, depois, a retribuição de nossa 
própria iniciativa, a qual adotaremos em conformidade com o 
juízo divino.1 
 
 O decreto de Teodósio foi uma ameaça de morte! Quem não se tornasse parte 
da Igreja Romana, seria morto. Desta forma, a Igreja Romana acoplou para si mesma 
quase todas as igrejas cristãs que existam antes dela. Com isto, finalmente nasce de 
forma oficial a Igreja Católica Apostólica Romana. 
 Porém, nem todas as igrejas Roma conseguiu acoplar, é o exemplo das igrejas 
ortodoxas católicas, que não fazem parte de Roma. 
 As igrejas ortodoxas católicas são um grupo de igrejas cristãs que se 
consideram parte da Igreja Católica, mas que não estão em comunhão com a Igreja 
Católica Romana, liderada pelo Papa. Elas têm suas próprias estruturas de governo 
e liturgias, preservando a sucessão apostólica e a tradição sacramental, mas possuem 
algumas diferenças doutrinárias e práticas em relação à Igreja Católica Romana. 
 Existem várias igrejas ortodoxas católicas ao redor do mundo, algumas das 
mais conhecidas são: Igreja Católica Ortodoxa Ucraniana, que é uma igreja das 
maiores igrejas ortodoxas católicas, com maior peso na Ucrânia, com comunidades 
em vários outros países também; Temos também a Igreja Católica Ortodoxa 
Polonesa, tem seu peso total na Polônia e tem uma história rica e uma presença 
substancial na diáspora polonesa; Temos a Igreja Católica Ortodoxa Bizantina. Que é 
uma igreja com fundamentos nas tradições bizantinas e é composta principalmente 
 
1 SHELLEY, Bruce. História do Cristianismo. Pag 116-117. 
 
 
 
 
 
 
7 
por comunidades de origem grega, ucraniana, romena e outras; temos também a 
Igreja Católica Ortodoxa Antioquina. Essa é a segunda igreja criada da história, depois 
da igreja de Jerusalém, foi lá que os apóstolos receberam o título de “cristãos” pela 
primeira vez (Atos 11.26). É uma igreja com sede em Antioquia, na Síria, mas também 
com comunidades espalhadas por todo o mundo. 
 É importante observar que o termo "católico" nessas igrejas não se refere à 
comunhão com a Igreja Católica Romana, mas ao uso do termo em seu sentido 
original, que significa "universal". Essas igrejas afirmam ser parte da Igreja Universal, 
descendentes das primeiras comunidades cristãs fundadas pelos apóstolos. 
 A Igreja Católica Apostólica Romana diz estar fundamentada em três pilares: 
Bíblia; Tradição e Magistério. Isso significa que eles acreditam em muitas coisas que 
não estão na bíblia, mas que faz parte da tradição. Já o magistério da igreja é o órgão 
que tem o poder de dar a revelação “correta” das escrituras e de difundir os 
ensinamentos da tradição. 
 O problema é que a grande maioria das tradições católicas e dos 
entendimentos do magistério conflitam diretamente com as escrituras. Os judeus 
cometiam o mesmo erro, pois eles tinham as escrituras e também suas tradições 
milenares. Porém, Jesus os repreendeu dizendo: ˜Assim, conseguis anular a eficácia 
daPalavra de Deus, por intermédio da tradição que vós próprias tendes transmitido. 
E, dessa mesma maneira, procedeis em relação a vários outros assuntos”.2 
 Veja que os judeus decidiam muitos assuntos por meio da tradição, assuntos 
que muitas vezes conflitavam com as escrituras. Jesus nunca fez uso da tradição, 
mas sempre respondia de acordo com as escrituras. 
 Quando Jesus foi tentado pelo Diabo, no deserto, Satanás usou as escrituras 
para tentar enganar Jesus, mas Jesus respondeu de volta também usando as 
escrituras. Jesus fez referência das escrituras em todas as perguntas de Satanás, e 
assim, Jesus o venceu. 
 Existe um famoso versículo que os católicos adoram usar para apoiar as suas 
tradições, que é no livro de 2 Tessalonicenses 2.15: “Então, irmãos, estai firmes e 
 
2 Biblia Sagrada. Marcos 7.13. 
 
 
 
 
 
 
8 
retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola 
nossa. 
 Só que essa tradição falada era a leitura da própria carta dos apóstolos para 
todas as igrejas, e quando não, os apóstolos não inovavam em novos ensinamentos 
ou em algo muito discrepante do que eles já ensinaram por meio de suas epistolas. 
 O próprio Apóstolo Paulo, em Colossenses 4.16, reafirma que suas cartas 
devem ser lidas para as igrejas para que o ensinamento se perpetuasse: “E, quando 
esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos 
laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também”. 
 O que não pode acontecer, é uma suposta tradição conflitar diretamente com 
as escrituras. O livro de Atos 17.11 diz que os Bereanos eram mais nobres do que a 
igreja de Tessalonica, pois os Bereanos examinavam a mensagem pregada se estava 
de acordo com as escrituras: “Os bereanos eram mais nobres do que os 
tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando 
todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo”. 
 Os Bereanos eram habitantes de Bereia, uma cidade da antiga Macedônia 
(atualmente parte da Grécia). Paulo e Silas, durante uma de suas viagens 
missionárias, chegaram a Bereia e começaram a pregar o evangelho aos judeus na 
sinagoga local. Os bereanos são elogiados por sua atitude em relação ao ensino de 
Paulo e Silas. Diz-se que eles "eram mais nobres do que os de Tessalônica, pois 
receberam a palavra com toda avidez, examinando as Escrituras todos os dias para 
ver se tudo era assim" (Atos 17:11). 
 Os Bereanos são conhecidos por sua atitude diligente e crítica em relação ao 
ensinamento recebido. Em vez de aceitar cegamente o que lhes foi dito, eles 
examinavam as Escrituras diariamente para verificar se o que Paulo e Silas 
ensinavam estava de acordo com as escrituras judaicas. Essa postura é vista como 
um exemplo positivo de como os cristãos devem abordar o ensino e a pregação, sendo 
diligentes e examinando as Escrituras para garantir que a mensagem esteja em 
consonância com a verdade divina. 
 O termo "bereano" ainda é usado atualmente para descrever pessoas que 
estudam e investigam cuidadosamente as Escrituras ou qualquer ensinamento 
 
 
 
 
 
 
9 
religioso, buscando uma compreensão sólida e fundamentada. A atitude dos bereanos 
é considerada um modelo de discernimento e busca pela verdade. 
 Quando os apóstolos estavam vivos, eles mesmo combatiam inúmeras 
heresias que nasciam no meio da igreja como mencionado em 1 Corintios 11 e 1 
Corintios 11.19, imagine depois que os apóstolos morreram? Será que depois que os 
apóstolos morreram, não surgiu nenhuma doutrina falsa na igreja que tenha até virado 
uma tradição? É por isso que o que é confiável, é somente as escrituras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
CAPÍTULO 2 – 
JESUS FUNDOU A CATÓLICA ROMANA? PEDRO FOI O PRIMEIRO PAPA? 
 
 Não, Jesus nunca fundou a Igreja Católica Romana. No livro de João 2.19, 
Jesus diz “Destrua este templo, e, em três dias, Eu o reconstruirei”. Entretanto, os 
judeus não entenderam o que Jesus estava querendo dizer, e no versículo 20 
replicaram: “Em quarenta e seis anos foi construído este templo, e tu afirmas que em 
três dias o levantarás? E no versículo 21, João reafirma que Jesus estava se referindo 
ao templo do seu corpo. 
 No momento em que Jesus fosse morto e depois ressuscitado, Ele o faria de 
seu próprio corpo o templo do Espírito Santo. Está era a igreja que Cristo iria construir, 
o nosso próprio corpo. Mais tarde, o apostolo Paulo reafirma isso dizendo no livro de 
1 Corintios 3.16: “Não sabeis vós que sois templo de Deus e que o Espiríto Santo 
habita em vós?” Paulo estava se referindo ao nosso corpo. 
 Todas as vezes que os cristãos se reúnem como uma congregação, ali existe 
uma igreja. Está é a igreja de Cristo e não uma instituição feita por homens, como a 
Igreja Católica Romana. 
 Para endossar isso, no livro de Mateus 18.20, Jesus diz: “Porque, onde 
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou EU no meio deles”. No livro 
de Hebreus 10.25 também diz: “Não deixemos de nos reunir COMO igreja...” 
 Para enfatizar mais ainda, no livro de Atos 7.48, diz: “Todavia, o Altíssimo não 
habita em templos feitos por mãos humanas”. Desta feita, como pode a instituição 
Católica Romana ser a única igreja de Cristo? Como é possível ela ser fundada por 
Cristo? Não faz sentido. 
 Os católicos romanos, para enfatizar que Pedro foi o primeiro papa, usam como 
base o livro de Mateus 16.18-19, que diz: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e 
sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão 
contra ela; E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra 
será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. 
 Entretanto, se formos fazer uma análise melhor do contexto bíblico deste 
capítulo, veremos que isso não favorece a crença dos católicos romanos. 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 Primeiro temos que analisar uns versículos antes, em Mateus 16.13-17, que 
diz: 
 
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou 
os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho 
do homem?; E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; 
e outros, Jeremias, ou um dos profetas; Disse-lhes ele: E vós, 
quem dizeis que eu sou?; E Simão Pedro, respondendo, disse: 
Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo; E Jesus, respondendo, 
disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não 
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”. 
 
 Perceba que Jesus se tratou de uma revelação, que não partiu de Pedro, mas 
do Deus Pai. E logo em seguida Jesus afirma: “Pois também eu te digo que tu és 
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não 
prevalecerão contra ela”. 
 A pedra é o próprio Cristo, Jesus estava se referindo a revelação que Pedro 
recebeu, de que Jesus era o Cristo e filho do Deus vivo. É sobre essa pedra (Cristo) 
que a igreja seria edificada. 
 No livro do próprio apostolo Pedro, em 1 Pedro 2.4, Pedro chama Jesus de 
pedra viva e eleita por Deus: “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na 
verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa”. 
 Mais adiante, no versículo 6, Pedro reafirma que Jesus é a pedra em que 
devemos crer, é a pedra que a igreja deve crer: “Por isso também na Escritura se 
contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem 
nela crer não será confundido”. 
 A igreja jamais seria alicerçada em cima de um homem pecador, que é Pedro, 
mas em cima do Messias, que é Jesus, o eleito de Deus. A pedra preciosa. 
 Mas muitos católicos romanos poderão dizer: “Por qual motivo então Jesus 
entregou as chaves dos céus para Pedro em Mateus 16.19?” A resposta é muito 
simples, Jesus não entregou somente para Pedro, mas para todos os cristãosque o 
recebem como o Cristo, filho de Deus vivo, assim como descrito em Mateus 18.18. 
 
 
 
 
 
 
12 
 Vale lembrar que Pedro atuou pouquíssimo em Roma, a maior parte do seu 
ministério foi em outras regiões. 
 Após a ascensão de Jesus, Pedro foi uma figura central na formação da 
comunidade cristã em Jerusalém. Ele pregou o primeiro sermão após o Pentecostes, 
que é descrito no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 2. Pedro desempenhou um 
papel de liderança na igreja primitiva em Jerusalém. 
 Pedro também foi envolvido na evangelização da região da Samaria, conforme 
registrado no livro de Atos. Ele e João foram enviados pelos apóstolos em Jerusalém 
para orar pelos samaritanos e impor as mãos sobre eles para que recebessem o 
Espírito Santo. 
 Pedro visitou várias partes da Ásia Menor durante suas atividades missionárias. 
Estando presente em lugares como Antioquia, Bizâncio (atual Istambul) e outras 
cidades da região. 
 Históricamente, quem atuou mais em Roma foi o apóstolo Paulo. Paulo, ao 
escrever para os cristãos de Roma na década de 50 do século 1, em nenhum 
momento menciona a presença de Pedro na cidade. 
 Mas para não ser injusto, autores como Irineu de Lyon ressalta o trabalho de 
ambos os apóstolos em Roma, não só de Pedro. Em sua obra "Contra as Heresias", 
Irineu menciona que a comunidade cristã em Roma foi fundada e organizada pelos 
apóstolos Pedro e Paulo, atribuindo a ambos um papel significativo na formação e 
estabelecimento da igreja em Roma. 
 Irineu enfatiza que a competência e autoridade da igreja de Roma derivavam 
dessa fundação conjunta pelos dois apóstolos. Ele destaca a importância de Pedro e 
Paulo como pilares da fé cristã e ressalta sua presença e influência na comunidade 
romana. 
 Essa afirmação de Irineu reflete a visão e a tradição da igreja primitiva de que 
Pedro e Paulo desempenharam papéis cruciais na disseminação do cristianismo e no 
estabelecimento de comunidades cristãs em várias regiões, incluindo Roma. Eles 
eram considerados figuras proeminentes e autoridades apostólicas, e sua associação 
com a fundação da igreja em Roma concedia grande prestígio e autoridade à 
comunidade cristã romana. 
 
 
 
 
 
 
13 
 Mas como Pedro se tornou papa da igreja católica romana? Nos primeiros 
séculos do cristianismo, não havia um único líder supremo sobre toda a Igreja Cristã. 
Em vez disso, houve uma diversidade de líderes, como bispos e presbíteros, que 
compartilhavam a responsabilidade pela liderança e governança das comunidades 
cristãs. 
 No entanto, a Igreja de Roma, por sua posição como capital do Império Romano 
e pelo prestígio associado a Pedro e Paulo, gradualmente ganhou destaque e 
influência. Os bispos de Roma, passaram a exercer uma autoridade crescente e a ser 
reconhecidos como líderes proeminentes na Igreja. 
 No século IV, a Igreja de Roma começou a assumir um papel de primazia, 
sendo considerada a "Sede de Pedro" e tendo um papel central na tomada de 
decisões importantes dentro da Igreja. O Concílio de Niceia, em 325 d.C., reconheceu 
a primazia de algumas igrejas, incluindo Roma, Alexandria e Antioquia, com base em 
razões históricas e práticas. 
 Foi apenas no final do século V e início do século VI que o título de "papa" (do 
termo grego "pappas", que significa "pai") começou a ser usado exclusivamente para 
o bispo de Roma. O papa Leão I, conhecido como Leão Magno, exerceu uma 
influência significativa e desempenhou um papel crucial na defesa da autoridade e 
primazia do bispo de Roma. 
 Ao longo dos séculos seguintes, a autoridade e o poder do papado foram se 
consolidando e se fortalecendo. O papado passou a ser reconhecido como a mais alta 
autoridade na Igreja Católica Romana, com o papa sendo considerado o sucessor de 
Pedro e o líder supremo da Igreja. A estrutura e as prerrogativas do papado foram 
mais formalizadas e definidas ao longo da história, culminando no estabelecimento 
das doutrinas e práticas associadas ao papado durante o primeiro milênio do 
cristianismo. 
 O que a igreja católica romana fez para tornar Pedro um papa? Como dito 
anteriormente, por muito tempo a igreja não tinha um líder máximo, mas sim vários 
bispos e presbíteros. Com a chegada do título papal, concedido a uma pessoa, que 
seria a autoridade máxima da igreja, a católica romana traçou uma linha cronológica 
para trás, nomeando diversos líderes como “papa”, até chegar em Pedro. Pedro nunca 
foi papa, e papa não existia naquela época, mas por conta disso, por meio dessa 
 
 
 
 
 
 
14 
nomeação feita com a linha cronológica para o passado, Pedro e muitos outros líderes 
se “tornaram” papas. 
 Se para os católicos, Roma é a principal igreja por conta de Pedro ter morrido 
lá, o que dizer de Jerusalém? Além de Jerusalém ser o lugar da PRIMEIRA IGREJA 
da história, foi lá que o SALVADOR morreu. Efésios 2.20: “Edificados sobre o 
fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal 
PEDRA do alicerce”. 
 O texto não diz “edificados sobre o fundamento de Pedro”, o texto diz que o 
fundamento são TODOS os apóstolos e ainda inclui os profetas do antigo 
testamento, sendo Cristo a principal pedra desse fundamento. 
 Por qual motivo até mesmo os profetas do antigo testamento foram incluídos 
nesse fundamento? Porque todos deram testemunho de Cristo: Lucas 24.44 “Em 
seguida, Jesus lhes explicou: “São estas as palavras que Eu vos ensinei quando ainda 
estava entre vós: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está 
escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos!” 
 
 
2.1 PAPADO 
 
 Uma doutrina que, se cair, derruba a igreja de Roma é com toda a certeza o 
papado. Segundo a Lumen Gentium (em latim, Luz dos Povos), Cristo, após sua 
ressurreição, entregou a missão para Pedro de apascentar a Igreja.3 Esta missão de 
Pedro de apascentar a Igreja é de forma erroneamente interpretada pelos católicos. 
Por qual motivo? Pois a missão de Pedro apascentar a Igreja não significa que ele é 
o cabeça de todos cristãos do mundo, ou que ele manda sobre os demais apóstolos. 
Portanto, dedico este capítulo inteiro para responder os argumentos dos papistas 
sobre o papado nas Escrituras, nos pais da igreja e nos concílios ecumênicos que são 
aceitos pelos católicos romanos, católicos ortodoxos e protestantes. 
 Em Mateus 16:18-19, após Pedro fazer sua confissão de fé, Jesus entrega para 
ele as chaves do Reino dos Céus e diz que tudo o que ele ligar será ligado, e tudo 
 
3 Lumen Gentium, cap.1, o mistério da Igreja; A Igreja, sociedade visível e espiritual 
 
 
 
 
 
 
 
15 
que ele desligar será desligado. Como já abordei no segundo o capítulo, aqui não se 
prova nada pois os demais apóstolos também receberam as chaves (Mt 18:18). A 
visão dos pais da igreja sobre quem é a pedra, em João Crisóstomo, por exemplo, era 
que a pedra era a fé de Pedro, e não o próprio! Veja: 
 
“O que então diz Cristo? "Tu és Simão, filho de Jonas; serás 
chamado Cefas." "Assim, desde que proclamaste meu Pai, eu 
também nomeio aquele que te gerou;" quase dizendo: "Assim 
como você é filho de Jonas, eu também sou de meu Pai". Caso 
contrário, seria supérfluo dizer: "Tu és Filho de Jonas"; mas 
como ele disse: “Filho de Deus”, para salientar que Ele é tão 
Filho de Deus, como o outro filho de Jonas, da mesma 
substância daquele que O gerou, portanto, Ele acrescentou isto: 
“E eu digo a tu, Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a 
minha Igreja;" isto é, na fé da sua confissão. Nisto Ele significa 
que muitos estavam agora a ponto de acreditar, e eleva seu 
espírito e faz dele um pastor. “E as portas do inferno” não 
prevalecerão contra ela.” “E se não forem contra ela, muito mais 
não contra mim. Portanto, não se preocupe porque em breve 
você ouvirá que serei traído e crucificado”.4 
 
 Constantinopla entre os anos de 398-404 d.C, não defendia que Pedroera a 
pedra, mas que A CONFISSÃO DE FÉ de Pedro que era a pedra sobre a qual Cristo 
iria construir a igreja. 
 Embora eu defenda que a pedra seja o próprio Cristo, eu gostaria de questionar: 
o que teria de mais se a pedra fosse Pedro? Esses saltos lógicos dos papistas não 
fazem sentido algum. Pedro ter sido o primeiro dentre os apóstolos naquele momento 
não faz com que ele tenha uma supremacia sobre os demais, ou que ele seja um 
“segundo Cristo”, não, pelo contrário. 
 
4 Saint John Chrysostom, homily 54 on Matthew, New Advent translation 
 
 
 
 
 
 
16 
 Pedro ser o primeiro em afirmar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, naquele 
contexto não o faz ter supremacia. Pois em João 1:41;49 mostra que André, o irmão 
de Pedro, e Natanael já afirmavam que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus. A real 
razão, ao meu ver, para que Jesus tenha falado “sobre esta pedra edificarei a minha 
Igreja” após a fala de Pedro, foi para demonstrar aos demais apóstolos que Ele, Jesus, 
é quem os apóstolos afirmaram Ele ser desde o início de seu ministério, não por si 
mesmos, mas pela graça de Deus Pai que revelou quem é o Filho por intermédio do 
Espírito Santo, assim então demonstrando que Ele que é a Pedra que sustenta a sua 
Igreja. Não são os homens que sustentam, mas a própria Trindade em sua economia 
salvífica: o Pai envia o Filho, o Espírito gera o Filho no seio da virgem Maria, o Filho 
então realiza sua missão segundo a vontade do Pai e, após sua ascensão aos céus, 
o Espírito Santo guia a Igreja a mantendo em unidade e em santidade. 
 Outro texto que os romanos costumam usar é o de Lucas 22:31-32 onde diz: 
“Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar 
como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te 
converteres, confirma teus irmãos”. O argumento deles se baseia em dizer: “Olha isso! 
Jesus disse que Pedro iria confirmar sua fé aos seus irmãos! Portanto, infabilidade 
papal está nas Escrituras. Veja que Pedro é o único a receber essa promessa de 
Cristo!”. Não, meu caro católico. Ao analisarmos o contexto de Lucas 22, vemos que 
alii está sendo narrado a traição de Judas pelo dinheiro dos principais sacerdotes 
judeus e dos escribas (versos 1 ao 6), a preparação para a páscoa judaica (versos 7 
ao 13), a realização da ceia do Senhor (versos 14 ao 20), revelação de Jesus sobre a 
traição de Judas (versos 21 ao 23), discussão acerca de quem era o maior dentre eles 
(versos 24 ao 27), a promessa aos apóstolos sobre sua salvação e o poder de julgar 
as doze tribos de Israel (versos 28 ao 30; perceba que Jesus deu para eles a mesma 
honra e graça, não uma maior que a outra) e, por fim, Jesus revela que Pedro havia 
de O negar três vezes antes do galo cantar. 
 Até aqui temos todo o contexto perfeito sobre os versos que os católicos usam. 
Jesus, ao dizer que rogou para que a fé de Pedro não desfaleça (ἐκλείπω, em grego) 
quis dizer que Pedro não iria apostatar da fé igual Judas! Pois está escrito que a 
apostasia não tem perdão (Hebreus 6:4-6). Judas se tornou um apóstata e acabou 
tirando a própria vida, ao contrário de Pedro, que ao contrário de Judas, se 
 
 
 
 
 
 
17 
arrependeu, pois, ele era um eleito, não por si mesmo, mas porque Cristo rogou por 
ele. A respeito de confirmar a fé aos seus irmãos, Cristo quis dizer que os irmãos na 
fé de Pedro, ou seja, os demais apóstolos e todos os outros homens que iriam vir 
aceitar ao Salvador teriam certeza de que Pedro é um dos eleitos de Deus, e não 
como Judas que não o era, mas ele foi como a semente que caiu entre os espinhos 
(Lucas 8:14). Portanto, nada se prova da infabilidade papal ou supremacia de Pedro 
sobre os demais cristãos. É puramente contexto. 
 Saindo um pouco dos evangelhos e indo para o livro de Atos, temos o episódio 
do primeiro concílio da igreja, o de Jerusalém. O concílio de Jerusalém, em Atos 15, 
registra a discussão que os apóstolos abordaram se era ou não necessário os novos 
convertidos serem circuncidados e seguirem a lei de Moisés. A argumentação papista 
se baseia nas falas de Pedro (versos 7 ao 11), onde ele diz que Deus elegeu ele para 
pregar aos gentios. No entanto, devemos prestar atenção no verso 12, que diz: “Então 
toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes 
sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios”. 
 Ora, todos se calaram para ouvir o testemunho de Barnabé e Paulo, onde eles 
dizem que Deus operou milagres no meio dos gentios. E entre os versos 13 até o 21, 
é mostrado que o apóstolo Tiago, bispo de Jerusalém, disse que o testemunho de 
Pedro era verdadeiro pois concordava com os profetas, ou melhor dizendo, com a 
fé de todos. E após isso, Lucas também relata nos versos 15 ao 29, que foi um 
consenso de todos os participantes na decisão daquela reunião, não só por causa da 
pessoa de Pedro. Pedro falou de acordo com os profetas não por causa de sua 
pessoa, mas porque o discurso dele é aquilo que é consenso de fé desde os profetas 
e até nos apóstolos, pois foi Tiago que deu a palavra final e confirmou as falas de 
Simão Pedro. 
 Antes de voltarmos para os Evangelhos, temos a carta de Paulo aos romanos 
que também é utilizada pelos católicos para defender suas heresias, vejamos os 
versículos utilizados: 
 
“Primeiramente, dou graças a meu Deus, por meio de Jesus 
Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é preconizada a 
vossa fé. Pois Deus, a quem sirvo em meu espírito, anunciando 
 
 
 
 
 
 
18 
o Evangelho de seu Filho, me é testemunha de como vos 
menciono incessantemente em minhas orações. A ele suplico, 
se for de sua vontade, conceder-me finalmente ocasião 
favorável de vos visitar” (Romanos 1:8-10) 
 
 Também se é usado Romanos 16:20, que diz: “O Deus da paz em breve não 
tardará a esmagar Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus 
Cristo esteja convosco!”. 
 Para começarmos, quando Paulo diz que a fé da comunidade em Roma é 
anunciada em todo mundo. Ok, mas qual o problema? É um anacronismo falarmos 
que que fé da atual igreja de Roma é a mesma que a dos primeiros séculos, 
principalmente se for a do primeiro. Como irei mostrar nos pais da igreja (veja a página 
**), a fé da igreja de Roma é a mesma que a de todos pois todas as igrejas que 
preservaram os ensinos dos apóstolos eram igrejas apostólicas. Não é o local que 
fará com que a fé seja verdadeira, mas sim o que esse local professa, ou melhor 
dizendo, a fé que aquela comunidade professa que irá julgá-la ser ou não verdadeira. 
Paulo louvou os cristãos de Roma não por causa de sua localidade, mas sim por sua 
perseverança na fé. E como veremos neste livro, a fé da igreja de Roma dos primeiros 
séculos não é a mesma que a de hoje. Portanto, é anacrônico usar este texto. 
 Sobre Romanos 16:20, o que isso se prova que a igreja em Roma tem uma 
supremacia? Esta promessa não é somente para a igreja de Roma, mas também para 
TODOS OS CRISTÃOS! O próprio Jesus, em Lucas 10:19, vai dizer: “Eu dei a vocês 
autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; 
nada lhes fará dano”. Em Cristo é dado a autoridade para os cristãos poderem vencer 
e ter o poder de pisar em Satanás. Alguém tomar esse título unicamente para si é um 
completo orgulho. Portanto, este versículo também nada prova sobre o papado ou 
autoridade da igreja de Roma sobre as demais igrejas nem no período apostólico, e 
muito menos nos dias atuais. 
 Por fim, o último texto que conheço que os papistas usam para provar o papado 
é o texto de João 21:15-17, onde Pedro recebe a ordem de Jesus de apascentar as 
ovelhas de Cristo. Sendo bem sincero com você leitor, esse é o pior texto que um 
 
 
 
 
 
 
19 
romano pode usar para provar o papado. Cristo não estava falando que Pedro seria o 
único a ter autoridade sobreos seus sucessores e que ele iria comandar todos. 
 O próprio apóstolo Pedro em sua primeira epístola se coloca na mesma posição 
dos demais presbíteros e chama Cristo de Sumo Pastor, veja: “Aos presbíteros, que 
estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha 
das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o 
rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas 
voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como 
tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. 
E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (I 
Pedro 5:1-4). Aqui vemos que o próprio Pedro não se coloca como superior aos 
presbíteros, mas se iguala a eles, e que também exorta os presbíteros para quem está 
sendo dirigida a carta que eles cuidem do rebanho de Cristo. Portanto, a missão de 
pastorear o rebanho de Deus não cabe somente ao apóstolo Pedro, mas para todos 
os ministros ordenados pelos apóstolos. 
 Também quero demonstrar que, novamente, é um salto lógico usar este texto 
para tentar se comprovar que somente Pedro e seus sucessores têm tal autoridade: 
Cristo pediu isto para Pedro, logo só Pedro tem tal. Não faz sentido. Por último, falarei 
o argumento clássico que todos já usaram: É uma questão de contexto. Cristo apenas 
está redimindo Pedro após ele O negar três vezes diante dos homens. Vemos isso 
pois Cristo pergunta para Pedro se ele O ama, e Pedro diz “sim” três vezes. Isto mostra 
que as palavras de nosso Senhor em Lucas 22:31-32 -no qual já expliquei- se 
cumpriram diante dos apóstolos. Pedro confirmou sua fé no Messias diante dos seus 
irmãos, assim os confirmando que ele é um dos eleitos que não teve e nem teria a fé 
apagada. 
 Partindo agora para as fontes extras bíblicas que os católicos romanos usam, 
temos os pais da igreja. Quem eles são? Os pais da igreja são um grupo de cristãos 
que viveram entre o primeiro e sétimo século que durante sua vida foram exemplos 
de cristãos que podemos nos inspirar. Os pais são divididos em quatro grupos: os 
apostólicos, os gregos, os capadócios e os latinos. Entre os pais pais apostólicos, 
temos registro de Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna; 
dos capadócios temos o exemplo de Basílio Magno e Gregório de Nissa; entre os 
 
 
 
 
 
 
20 
gregos temos Atanásio de Alexandria, João Crisóstomo, Eusébio de Cesaréia e etc; e 
entre os latinos temos o famoso Agostinho de Hipona, Jerônimo, Cipriano e muitos 
outros. 
 Embora os pais terem nos proporcionado uma grande série de escritos sobre 
as Sagradas Escrituras, interpretação de textos bíblicos, menções históricas dos 
apóstolos e dos cristãos da época de cada um deles, o que eles acreditavam e 
praticavam, até isso os papistas distorcem para tentar provar os dogmas a respeito 
do bispo de Roma. Portanto, adiante citarei um por um dos pais que normalmente são 
usados pelos católicos a favor dos dogmas do Papa. 
 
 
Clemente de Roma: 
 
 
 Clemente de Roma (35-100 d.C), mais conhecido como São Clemente I ou 
Clemente Romano, foi o terceiro ou quarto bispo da Igreja de Roma que durante a 
década de 90 d.C escreveu uma carta direcionada para a igreja de Corinto, na Grécia, 
devido esta igreja estar tendo confusões dentro de si mesma. Clemente nos conta a 
situação que ela se encontrava, dizendo: 
 
“Toda honra e abundância vos tinham sido concedidas, e 
cumpriu-se aquilo que está escrito: “O amado comeu e bebeu, 
se alargou, engordou e recalcitrou.” Daí surgiram ciúme e inveja, 
rixa e revolta, perseguição e desordem, guerra e cativeiro. Dessa 
forma, os sem honra se rebelaram contra os honrados, os 
obscuros contra os ilustres, os insensatos contra os sensatos, 
os jovens contra os anciãos. Por isso, a justiça e a paz se 
afastaram para longe, porque cada um abandonou o temor de 
Deus e deixou que se obscurecesse sua fé nele. Porque não se 
anda mais segundo as diretrizes dos seus preceitos, nem se 
comporta mais de maneira digna de Cristo. Ao contrário, cada 
um anda segundo as paixões do seu mau coração, tomado pela 
 
 
 
 
 
 
21 
inveja injusta e ímpia, através da qual, também agora, “a morte 
entrou no mundo”.5 
 
Para resumir, a carta de Clemente para os coríntios é uma exortação que usa 
exemplos bíblicos ao ponto de suplicar para a comunidade da cidade grega voltar a 
ser unida e irrepreensível em Cristo Jesus. Até aqui não vemos problema algum, mas 
os católicos romanos pegam este trecho para dizer que “o bispo de Roma que 
mandou. Portanto, supremacia papal”: 
 
 
“Convém que nós, com tantos e tantos exemplos, curvemos a 
fronte e ocupemos o lugar que nos cabe pela obediência. 
Desistamos da vã revolta, para alcançarmos 
irrepreensivelmente o escopo que nos é proposto na verdade. 
Vós nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que 
escrevemos por meio do Espírito Santo, se acabardes com a 
cólera injusta da vossa inveja, segundo o pedido, que vos 
dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a concórdia”.6 
 
 
 Diante desta fala de Clemente, os católicos irão pensar que Clemente estava 
atuando em seu serviço papal, assim exortando e pedindo unidade na comunidade de 
Corinto. No entanto, isso não significa nada. Como assim? Digo isso pois não foi 
somente Clemente que exortou uma comunidade para ela manter-se em unidade, mas 
Inácio de Antioquia -contemporâneo seu- também fez isso em suas epístolas às 
igrejas de Éfeso, Magnésia, Trália, Roma, Filadélfia, Esmirna e em sua carta para 
Policarpo. Pegando um trecho da carta à igreja dos efésios, ele, Inácio, exorta 
dizendo: 
 
 
5 Primeira carta de Clemente aos Coríntios, Conseqüências funestas da discórdia, Cap.3 
6 Primeira carta de Clemente aos Coríntios, Últimos conselhos, Cap.63 
 
 
 
 
 
 
 
22 
“Não vos dou ordens como se fosse uma pessoa qualquer. 
Embora eu esteja acorrentado por causa do Nome, ainda não 
atingi a perfeição em Jesus Cristo. Com efeito, agora estou 
começando a aprender, e vos dirijo a palavra como a 
condiscípulos meus. Sou eu quem teria necessidade de ser 
ungido por vós com a fé, a exortação, a perseverança e a 
paciência. Todavia, o amor não me permite calar a respeito de 
vós. É por isso que desejo exortar-vos a caminhar de acordo 
com o pensamento de Deus. De fato, Jesus Cristo, nossa vida 
inseparável, é o pensamento do Pai, assim como os bispos, 
estabelecidos até os confins da terra, estão no pensamento de 
Jesus Cristo”.7 
 
 O ato de Clemente pedir unidade para os coríntios simplesmente não prova o 
papado devido este motivo. Não é porque o apóstolo Paulo escreveu mais de 14 
epístolas para as igrejas às exortando que então ele seja o “Papa sucessor de São 
Pedro”. Podemos falar também do padre católico Simon Tugwell OP, membro do 
Instituto Histórico Dominicano, que em seu livro sobre os pais apostólicos, diz: 
 
“Seria anacrônico interpretar esta autoridade em termos de 
qualquer noção desenvolvida da primazia da Igreja Romana, e 
muito menos da primazia do Papa, uma vez que é 
provavelmente apenas em retrospectiva que Clemente pode 
ser chamado de “Papa”, mas parece como se a igreja romana 
já estivesse consciente de ter, e fosse aceita como tendo, 
algum tipo de responsabilidade pelo bem-estar das igrejas que 
não a sua própria congregação local”.8 
 
7 Inácio aos efésios, Exortação à unidade, cap.3 
8 Simon Tugwell OP, The Apostolic Fathers, Clemente of Rome, p.90 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 Como podemos ver, embora Simon tenha a visão de que a igreja de Roma 
parecia saber sobre sua responsabilidade de cuidar das demais igrejas -algo que já 
respondi e mostrei que não era somente o bispo de Roma que se preocupava-, ele 
admite que seria anacrônico interpretar tal autoridadecomo conhecemos hoje a 
respeito da igreja de Roma. 
 
Inácio de Antioquia 
 
 Inácio de Antioquia (ca. 30-98 ou 107 d.C) foi o terceiro bispo da cidade de Antioquia 
no primeiro século. A tradição nos conta que após ser preso pelo imperador Trajano, Inácio 
escreveu mais de sete cartas, sendo elas seis destinadas às igrejas de Éfeso, Magnésia, 
Trália, Roma, Filadélfia, Esmirna, e uma para seu colega e irmão em Cristo, Policarpo. 
Após ele escrever estas cartas, ele foi martirizado no Coliseu de Roma sendo devorado 
por leões junto a outros cristãos que estavam consigo. O conteúdo dessas cartas pode se 
resumir em conselhos, pedido para a igreja ficar em unidade, a pessoa de Jesus Cristo, a 
celebração do culto cristão e o pedido de submissão ao bispo daquela igreja. 
 Em sua carta à igreja que reside em Roma, ele faz a seguinte saudação: 
 
“Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a 
misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de 
Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela 
bondade daquele que quis todas as coisas que existem, 
segundo fé e amor dela por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja 
que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de 
honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de 
sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei 
de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de 
Jesus Cristo, o Filho do Pai. Àqueles que física e 
 
 
 
 
 
 
24 
espiritualmente estão unidos a todos os seus mandamentos, 
inabalavelmente repletos da graça de Deus, purificados de toda 
coloração estranha, eu lhes desejo alegria pura em Jesus 
Cristo, nosso Deus.9” 
 
 Diante de honrosa saudação, o católico romano pressupõe que Inácio faz esta longa 
saudação devido a primazia ou maior importância da igreja de Roma sobre as demais. No 
entanto, Inácio apenas fez uma saudação honrosa devido a ela estar seguindo fielmente 
os mandamentos de Cristo. Ele faz o mesmo com a Igreja de Éfeso: 
 
“Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que foi 
grandemente abençoada com a plenitude de Deus Pai, 
predestinada antes dos séculos para existir sempre, para 
uma glória que não passa, inabalavelmente unida, 
escolhida na paixão verdadeira, pela vontade do Pai e de 
Jesus Cristo, nosso Deus. À Igreja digna de ser chamada 
feliz, que está em Éfeso, na Ásia, as melhores saudações 
em Jesus Cristo e numa alegria irrepreensível. 
Amor dos efésios. Acolhi em Deus vosso amadíssimo nome, 
que adquiristes por justo título natural, segundo a fé e o amor 
em Cristo Jesus, nosso Salvador. Imitadores que sois de Deus, 
reanimados pelo sangue de Deus, realizastes até o fim a obra 
que convém à vossa natureza. 
Ao saber que eu vinha da Síria, acorrentado por causa do Nome 
e da esperança, que são comuns a nós, confiante na vossa 
oração para sustentar em Roma a luta com as feras, para poder 
desse modo ser discípulo, vós vos apressastes a vir ao meu 
encontro. Em nome de Deus, recebi a vossa comunidade na 
 
9 Inácio aos romanos, saudação 
 
 
 
 
 
 
25 
pessoa de Onésimo, homem de indizível amor, vosso bispo 
segundo a carne. Eu vos peço que o ameis em Jesus Cristo, e 
que vos torneis semelhantes a ele. Seja bendito aquele que vos 
concedeu a graça e vos considerou dignos de merecer tal 
bispo”.10 
 
 Diante de tal saudação à igreja de Éfeso, Inácio diz que ela foi predestinada para 
existir para sempre, abençoada na PLENITUDE de Deus Pai e de Jesus Cristo e assim 
por diante. A realidade é que Inácio sempre saudou bem as igrejas que cumprem os 
mandamentos de Cristo. Ainda em Inácio, ele saúda a igreja de Esmirna da seguinte 
forma: 
 
“Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e de 
seu Filho amado Jesus Cristo, que obteve por misericórdia 
todos os dons, repleta de fé e amor, à qual não falta 
nenhum dom, caríssima a Deus, portadora dos objetos 
sagrados, que está em Esmirna, na Ásia, as melhores 
saudações, no espírito irrepreensível e na palavra de 
Deus.11 
 
 Novamente nos é mostrado que Inácio deu uma grande honra não somente para a 
igreja de Roma, mas para todas as igrejas que ele direcionou alguma carta. 
 
 
 
 
 
10 Inácio aos efésios, saudação; Amor aos efésios, cap.1 
11 Inácio aos esmirniotas, saudação 
 
 
 
 
 
 
26 
Irineu de Lyon 
 
 Irineu de Lyon (ca. 130 d.C-202 d.C) foi o bispo da cidade de Lugduno na Gália (atual 
cidade de Lyon, na França). Ficou conhecido por seus escritos contra a heresia gnóstica12 
ensinada por Valentino no segundo século. 
 No seu livro “Contra Heresias” (Adversus haereses, em latim) possui um texto que, 
caso você tenha debatido com um católico sobre a supremacia de Roma, você já deve ter 
escutado ou lido a seguinte fala de Irineu: 
 
“Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra 
como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos 
à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada 
e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, 
Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos 
apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós 
pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de 
alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por 
cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de 
qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar 
de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, 
toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela 
sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que 
deriva dos apóstolos”.13 
 
 Agora irei abordar esta fala de Irineu em partes e argumentar sobre cada uma delas: 
“Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões 
de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos”. Para 
começarmos, a igreja de Roma realmente era bem conhecida por todos devido a pregação 
 
12 Heresia gnóstica: o gnosticismo foi uma heresia combatida pelos pais da igreja e especialmente por Irineu. 
13 Irineu de Lião, Contra Heresias: Denúncia e refutação da falsa gnose; Vol.3, cap.3,2 
 
 
 
 
 
 
27 
do evangelho ter sido bem difundida pelos apóstolos em toda a região que eles conheciam. 
Paulo, enquanto estava em Corinto, escreveu sua carta para a comunidade de Roma na 
qual ele elogia ela dizendo que a fé dela era conhecida por todos devido sua obediência 
aos mandamentos de Cristo (Romanos 1:8; 16:17-19). 
 No entanto, como eu já abordei em Inácio, as igrejas que eram verdadeiramente 
seguidoras da doutrina apostólica eram benditas e conhecidas por todos os cristãos, ou 
ao menos sua grande maioria. A igreja de Corinto, por exemplo, era conhecida e bendita 
até na região do Ocidente, como registra Clemente.14 Portanto, não há problema Irineu 
dizer ter dito que a comunidade de Roma era a mais conhecida por todos. No entanto, a 
fala de Irineu sobre a igreja de Roma ser a mais antiga pode ter uma interpretação 
equivocada dependendo do leitor. 
 Pelo que temos registrado até mesmo nas Sagradas Escrituras, a igreja de 
Jerusalém e Antioquia são as mais antigas. Após o discurso de Pedro na festa de 
pentecostes na vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, a Escritura diz: “De sorte que 
foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-
se quase três mil almas, e perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no 
partir do pão, e nas orações” (Atos 2:41-42). Aqui vemos que a primeira comunidade a ser 
fundada e constituída pelos apóstolos foi a de Jerusalém, não a de Roma. 
 A interpretação mais clara para essa afirmação deve se referir enquanto como igreja 
mais antiga na região do Ocidente, e não quanto como igreja mais antiga dentretodas. 
 “à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro 
e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, 
que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma 
forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se 
reúnem prescindindo de qualquer legitimidade”. 
 Aqui Irineu faz nada mais do que um apelo para a autoridade de uma igreja fundada 
pelos dois apóstolos Pedro e Paulo. Como sabemos, a igreja de Roma preservou a 
doutrina apostólica por um longo tempo, mas depois tornou-se apóstata da fé dos 
apóstolos e dos seus discípulos. A autoridade para que Irineu recorre era a mais próxima 
 
14 Primeira carta de Clemente aos Coríntios, cap.1, §2 
 
 
 
 
 
 
28 
-e talvez que tinha domínio jurídico- da sua comunidade na qual era bispo, pois ele sabia 
que a igreja de Roma estava e ensinava o ensino dos apóstolos não por sua própria 
autoridade, mas porque as outras igrejas davam testemunho da fé de Roma. Veja que 
Irineu antes destaca que “seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as 
sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos”, ele coloca um limite e dá apenas um 
exemplo, mas sabia que as demais igrejas fundadas pelos apóstolos tinham esta mesma 
fé de Roma. 
 É importante lembrar que não é uma igreja que faz a fé ser verdadeira, mas sim a fé 
que a igreja professa mostra se ela é ou não verdadeira. Ditas “igrejas” como os mórmons, 
testemunhas de Jeová, adventistas, universal e dentre outras são afirmadas como seita 
não por si mesmas, mas a fé que eles professam. Para sustentar isto que defendo, Irineu 
diz: 
 
“Ora, se surgisse alguma controvérsia sobre questões de 
mínima importância, não se deveria recorrer a Igrejas mais 
antigas, onde viveram os apóstolos, para saber delas, sobre a 
questão em causa, o que é líquido e certo? E se os apóstolos 
não nos tivessem deixado as Escrituras, não se deveria seguir 
a ordem da tradição que transmitiram àqueles aos quais 
confiavam as Igrejas?”.15 
 
 Irineu acreditava que as igrejas mais antigas fundadas pelos apóstolos eram as que 
protegiam a reta fé apostólica, mas deu uma ênfase também nas Escrituras dizendo que 
caso os apóstolos não a tivessem deixado, então se era necessário recorrer para estas 
igrejas. Portanto, posso concluir que Irineu queria dizer que Roma guarda a pura fé pois 
estava de acordo com a fé das demais igrejas de origem apostólica. Creio eu que o bispo 
Irineu, discípulo de Policarpo, não iria apelar para uma autoridade que não tivesse a 
mesma fé dos demais cristãos espalhados por todo o mundo cristão. 
 
15 Irineu de Lião, Contra Heresias: Onde está a verdadeira tradição; Vol.3, cap.4,1 
 
 
 
 
 
 
29 
 “Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua 
origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela 
sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos”. 
 Por fim, não muito menos importante, aqui teremos a mesma resposta que a anterior. 
A fé que mostra a apostolicidade da igreja, não ela por si só. Veja que Irineu diz que toda 
igreja deveria estar de acordo com ela por causa da sua origem excelente e por ela 
conservar a tradição (ensino) apostólico. Sobre a origem da igreja de Roma, Irineu dirá 
que Pedro e Paulo a fundaram. Ok, mas o que isso importa? A igreja de Antioquia também 
foi fundada por Pedro e Paulo16, isso faz com que Antioquia tenha autoridade igual a de 
Roma? Devemos estar de acordo com ela por isso? Ou pela fé que ela professa? 
Novamente, como já falei, a fé que a igreja professa dirá se ela é ou não apostólica, e não 
ela por si mesma. 
 
Agostinho de Hipona 
 
 Aurélio Agostinho (354-430 d.C) nasceu na cidade de Tagaste (atual Souk Ahras), 
na Argélia. Foi bispo da cidade de Hipona (atual Annaba), filósofo e teólogo do quarto e 
quinto século, no qual suas obras influenciaram a doutrina e filosofia ocidental. Algumas 
de suas maiores obras são “A cidade de Deus”, “Confissões” e “A Trindade”. Também 
ficou famoso por combater a algumas heresias como o arianismo e principalmente o 
pelagianismo17, debatendo contra o próprio Pelágio, criador da heresia. 
 Existe uma frase que você com toda a certeza você já ouviu que é atribuída à pessoa 
de Agostinho, que supostamente ele diz: “Roma falou, causa encerrada” (Roma locuta est, 
causa finita). No entanto, a verdade é que Agostinho nunca falou isso! Essa fala é um 
resumo do que Agostinho quis dizer em um certo contexto. A fala original de Agostinho 
está no seu Sermão contra os pelagianos, que é: 
 
 
16 Church of Antioch - OrthodoxWiki 
17 Pelagianismo: a heresia pelagiana foi criada por Pelágio, onde ensinava que o homem por si só conseguiria 
ser salvo, assim desprezando a graça de Deus, e também vê a vida de Jesus apenas como um exemplo. 
 
 
 
 
 
 
30 
“Meus irmãos, compartilhem comigo minha tristeza. Quando 
você encontrar tais coisas, não as esconda; não haja tal 
misericórdia mal direcionada em você; sem dúvida, quando 
você os encontrar, não os esconda. Convença os oponentes, e 
aqueles que resistem, traga até nós. Pois já foram enviados 
dois concílios sobre esta questão à Sé Apostólica; e rescritos 
também vieram de lá. A questão foi levada a um problema; 
gostaria que o erro deles também pudesse algum dia ser levado 
a um problema!”18 
 
 Para entendermos agora esta fala no seu devido contexto, devemos ler o Sermão 
todo, onde, como eu já disse, Agostinho estava falando contra os pelagianos. Durante o 
seu Sermão, Agostinho aborda sobre o capítulo 6 do Evangelho de João para demonstrar 
que ninguém vai até Cristo sem o Pai chamar. No final do Sermão, Agostinho ele diz para 
convencer os que negam este ensino, pois já tinham feitos dois concílios sobre isso (o 
pelagianismo). E após isso, Agostinho apela dizendo que a Sé Apostólica (a Sé de Roma, 
que na época estava com outras quatro) já condenou Pelágio e seus ensinos, e que, 
portanto, não se deve deixar estes ensinos se espalharem mais e mais. 
 Eu poderia passar mais tempo respondendo os argumentos que os católicos usam 
com base nos pais da Igreja, mas meu objetivo é ser rápido e direto e, portanto, já derrubei 
essas citações dos pais que são mais usadas. 
 Agora usando um pai latino ao meu favor, temos Vicente de Lérins, que em seu único 
escrito sobrevivente ele diz que o próprio apóstolo Pedro poderia ensinar de forma errada 
a doutrina de Cristo! Veja: 
 
A autoridade do Apóstolo se manifestou então com maior 
severidade: "Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado 
do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos 
 
18 Saint Augustine, Sermon 81 on The New Testament; New Advent 
 
 
 
 
 
 
31 
temos anunciado, que ele seja anátema". (Gl 1,8) E por que 
disse São Paulo ainda que alguém nós e não ainda que eu 
mesmo? Porque quis dizer que se INCLUSIVE PEDRO, André, 
João, OU O COLÉGIO INTEIRO DOS APÓSTOLOS 
anunciasse um evangelho diferente do que vos temos 
anunciado, que ele seja anátema. Tremendo rigor, com ele que, 
para afirmar a fidelidade para com a fé primitiva, não se exclui 
nem a si mesmo nem aos outros apóstolos”.19 
 
 Ora, vemos que, para alguém que mesmo usando o Papa Estevão como exemplo 
para nós uns 2 capítulos atrás na sua obra, não acreditava que Pedro não poderia ensinar 
erros. Aqui vemos em Vicente mostrando que se deve haver consenso nos ensinos dos 
apóstolos com aquilo que eles já haviam ensinado desde o princípio. Portanto, vemos que 
Vicente não acreditava numa infalibilidade de Pedro. 
 Portanto, após vermos o que as Sagradas Escriturase alguns pais dizem sobre o 
papado, iremos agora para os Sete Concílios Ecumênicos. Para resumirmos, os sete 
concílios ecumênicos são os concílios universais de bispos de todas as partes do mundo 
cristão, onde foi discutido cada tema específico neles. Os sete concílios foram estes: 
Primeiro Concílio de Nicéia (325 d.C), Primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C), 
Concílio de Éfeso (431 d.C), Concílio de Calcedônia (451 d.C), Segundo Concílio de 
Constantinopla (553), Terceiro Concílio de Constantinopla (680 d.C), e por fim, o Segundo 
Concílio de Nicéia (787). 
 
O Primeiro Concílio de Nicéia 
 
 O concílio de Nicéia é considerado como o primeiro concílio entre os bispos de todas 
as partes do mundo cristão, no qual teve como objetivo discutir a respeito da divindade de 
Jesus Cristo, assim proclamando e reafirmando que Jesus é Deus junto com o Pai. Neste 
 
19 São Vicente de Lérins, Commonitorium, Advertência de São Paulo aos Gálatas 
 
 
 
 
 
 
32 
concílio também foi colocado um limite de jurisdição para as igrejas de Alexandria, 
Antioquia e até mesmo Roma, veja abaixo: 
 
“Que prevaleçam os antigos costumes do Egito, da Líbia e de 
Pentápolis, que o Bispo de Alexandria tenha jurisdição em 
todos estes, visto que o mesmo é costumeiro também para o 
Bispo de Roma. Da mesma forma em Antioquia e nas outras 
províncias, que as Igrejas mantenham os seus privilégios. E isto 
deve ser universalmente entendido: se alguém for nomeado 
bispo sem o consentimento do Metropolita, o grande Sínodo 
declarou que tal homem não deveria ser bispo. Se, porém, dois 
ou três bispos, por amor natural à contradição, se opuserem ao 
sufrágio comum dos demais, sendo razoável e de acordo com 
a lei eclesiástica, então deixe a escolha da maioria 
prevalecer”.20 
 
 Vemos que o concílio definiu que a jurisdição de Roma deve ficar limitada assim 
como a de Alexandria. Leo Donald Davis, diz: “…acima de tudo estavam os superbispos 
de Roma, Alexandria e Antioquia, cujo território e poderes de supervisão eram até então 
especificados apenas pelo costume”.21 
 Portanto vemos que, desde o primeiro concílio da história da Igreja, a igreja de Roma 
já tinha um limite de jurisdição tanto para ambas igrejas de Alexandria, Roma e Antioquia. 
Ou melhor ainda, podemos afirmar que essa jurisdição era até mesmo anterior, como diz 
Donald. 
 
 
 
20 New Advent; CHURCH FATHERS: First Council of Nicaea (A.D. 325); Canon 6 
21 Leo Donald Davis, The First Seven Ecumenical Councils(325-787): History and Theology; cap.2. Council of 
Nicaea I, 325; 3. The Events of the Council of Nicaea 
 
 
 
 
 
 
33 
O Primeiro Concílio de Constantinopla 
 
 O primeiro concílio de Constantinopla é o segundo concílio ecumênico no qual se foi 
discutido, defendido e reafirmado a crença na divindade do Espírito Santo, como tema 
principal. No segundo cânone é afirmado a mesma jurisdição do sexto cânon de Nicéia, 
mas agora de forma mais explicada, veja: 
 
“Os bispos não devem ir além das suas dioceses para igrejas 
situadas fora dos seus limites, nem trazer confusão às igrejas; 
mas deixe o bispo de Alexandria, de acordo com os cânones, 
administrar sozinho os assuntos do Egito; e deixar que os 
bispos do Oriente administrem o Oriente sozinhos, sendo 
preservados os privilégios da Igreja em Antioquia, que são 
mencionados nos cânones de Nicéia; e deixe que os bispos da 
Diocese Asiática administrem apenas os assuntos asiáticos; e 
os bispos pônticos apenas assuntos pônticos; e os bispos 
trácios apenas assuntos trácios. E não deixem os bispos irem 
além das suas dioceses para ordenação ou quaisquer outros 
ministérios eclesiásticos, a menos que sejam convidados. E 
sendo observado o referido cânone relativo às dioceses, é 
evidente que o sínodo de cada província administrará os 
assuntos daquela província em particular, conforme foi 
decretado em Nicéia. Mas as Igrejas de Deus nas nações 
pagãs devem ser governadas de acordo com o costume que 
prevaleceu desde os tempos dos Padres”.22 
 
 É incrível ver como os católicos romanos negam os cânones dos concílios que eles 
mesmos aceitam, ou melhor, que todo cristão sério deve aceitar. Vimos, agora de forma 
 
22 New Advent; CHURCH FATHERS: First Council of Constantinople (A.D. 381); Canon 2 
 
 
 
 
 
 
34 
mais específica, que o bispo da sua Sé deve administrar os problemas dentro dela, não o 
bispo de Roma interferir nos assuntos que acontecem fora de sua jurisdição. Enfim, algo 
dogmático para os papistas sendo quebrado. 
 Também é importante dizer que, embora o concílio de Constantinopla não tendo sido 
realizado com intuito ecumênico, mas regional, o concílio de Calcedônia, em seu cânon 
28, afirmou a decisão deste concílio de Constantinopla.23 Também foi em Calcedônia que 
a reunião de bispos em Constantinopla foi aceito como ecumênico, embora não tenha tido 
a presença do bispo de Roma. Isso só comprova que o bispo da Igreja de Roma não 
precisa estar presente para afirmar algo dogmático e nem mesmo precisa ter participação 
para tal. Os pais reunidos em Constantinopla provam que o Espírito Santo não está sujeito 
e muito menos limitado para a igreja de Roma. 
 
O Concílio de Éfeso 
 
 O concílio de Éfeso, ocorrido em 431 d.C, se deu devido a heresia nestoriana, na 
qual prega que Jesus tinha duas pessoas em si, a humana e a divina. Também envolvendo 
isso, a heresia nestoriana nega o termo dado para Maria, a mãe de Jesus, que é 
“Theotokos”, ou em outras palavras, “Mãe de Deus”. 
 A seguir farei um comentário ao concílio e o que eu posso afirmar sobre tal, visto que 
quero ser rápido e direto com isto. Portanto, as minhas fontes para meu comentário estão 
com base no que li no New Advent23 e no livro do Leo Donald Davis.24 
 Para começarmos, devemos saber o motivo de eu estar citando este concílio, e sim, 
há motivo. Os católicos romanos amam usar este concílio para dizer que todas as igrejas 
se submeteram a igreja de Roma, e que o Papa Celestino I teve o papel de julgamento e 
liderança universal, ou pior ainda, que o papel eclesiástico dele foi o mesmo que o que 
ensina o papismo atual. No entanto, a realidade tende a ser decepcionante para os 
 
23 New Advent; CHURCH FATHERS: Council of Chalcedon (A.D. 451); Session XV, Canon 28 
24 Leo Donald Davis; The First Seven Ecumenical Councils (325-787): History and Theology; cap.4. Council of 
Ephesus, 431 
 
 
 
 
 
 
 
35 
católicos. Celestino I foi usado por Deus para dar um fim na decisão do concílio a respeito 
das duas naturezas e da pessoa de Jesus, isso eu não nego. No entanto, quantas vezes 
outros bispos tiveram o papel de manter a unidade da Santa Igreja? Não foram milhares? 
A realidade é que Celestino I foi um homem de Deus com fé, sabedoria e juízo, isso 
nenhum conscientemente negará. 
 Seu papel foi importante pois mostrou que, mesmo em regiões tão distantes no 
Ocidente, a fé prevalece a mesma na união das duas naturezas de Cristo em uma só 
pessoa. Celestino mostrou que concorda com as decisões do concílio pois o mesmo 
permaneceu na reta fé apostólica, e não nos erros de Nestório. Como eu disse bem 
anteriormente, a fé que julga a igreja, e não o contrário. 
 Se Celestino tivesse saído da fé pura e imaculada que foi pregada pelos apóstolos, 
então sua carta teria sido repudiada, e não motivo de alegria para os bispos reunidos em 
Éfeso. Também se é falado que Pedro é o cabeça dos Apóstolos, pilar da fé e etc. Ok, o 
que tem? As Escrituras dizem que os profetas e os apóstolos (todos os treze) são o 
fundamento da igreja (Efésios 2:20), eu não nego tal. 
 Pedro é o cabeça dos Apóstolos no que que em si? Isso também não negarei. No 
entanto, se estivermos falando de Pedro comocabeça tendo supremacia sobre os demais, 
isso não se encontra nas Escrituras. Creio em Pedro como cabeça dos Apóstolos no 
sentido dele receber alguns privilégios de Cristo, uma honra por talvez ser o mais velho 
dos apóstolos, mas não em jurisdição e em decisão de toda a igreja. Se Pedro tivesse se 
tornado um apóstata, então ele estaria fora do corpo de Cristo. A fé que julga a pessoa, 
não a pessoa que julga a fé. 
 Portanto, admito que não há nada no concílio de Éfeso que prove o papado, a não 
ser que levemos como pressuposto que é o bispo de roma da mesma forma que temos 
hoje em dia. Vários cristãos mantiveram o papel de unidade e exortação na igreja durante 
sua vida e escritos, mas é importante lembrar que, claramente, dependendo da posição 
eclesiástica a força da exortação será maior, e essa força é maior para a antiga pentarquia: 
Antioquia, Roma, Constantinopla, Alexandria e Jerusalém. Enfim, a carta de Celestino I 
apenas é válida pois ele aceitou as decisões do concílio, no qual foi uma posição que 
defendeu a fé pura, santa e imaculada vinda dos apóstolos. 
 
 
 
 
 
 
36 
O Concílio de Calcedônia 
 
 O concílio de Calcedônia ocorreu em 451 d.C., teve como objetivo seu em falar sobre 
as duas naturezas distintas na pessoa de Jesus. Este concílio foi motivo de igrejas como 
a copta e a etíope acabarem cismando, assim saindo da verdadeira fé. Tomado como 
infalível, a reunião dos bispos em Calcedônia afirma dogmaticamente no seu cânon 
XXVIII, dizendo: 
 
“Seguindo em todas as coisas as decisões dos santos Padres, 
e reconhecendo o cânon, que acaba de ser lido, dos Cento e 
Cinquenta Bispos amados de Deus (que se reuniram na cidade 
imperial de Constantinopla, que é Nova Roma, em a época do 
Imperador Teodósio de feliz memória), também promulgamos 
e decretamos as mesmas coisas relativas aos privilégios da 
santíssima Igreja de Constantinopla, que é a Nova Roma. Pois 
os Padres concederam com razão privilégios ao trono da antiga 
Roma, porque era a cidade real. E os Cento e Cinquenta Bispos 
mais religiosos, movidos pela mesma consideração, deram 
privilégios iguais (ἴσα πρεσβεῖα) ao trono santíssimo da Nova 
Roma, julgando justamente que a cidade que é honrada com a 
Soberania e o Senado, e goza de igualdade privilégios com a 
antiga Roma imperial, deveriam também ser ampliados em 
assuntos eclesiásticos como ela é, e ocupar a posição seguinte 
a ela; de modo que, nas dioceses pônticas, asiáticas e trácias, 
apenas os metropolitas e também os bispos das dioceses 
acima mencionadas, como estão entre os bárbaros, sejam 
ordenados pelo mencionado trono santíssimo da santíssima 
Igreja de Constantinopla; cada metropolita das referidas 
dioceses, juntamente com os bispos da sua província, 
ordenando os seus próprios bispos provinciais, como foi 
declarado pelos cânones divinos; mas que, como foi dito acima, 
 
 
 
 
 
 
37 
os metropolitas das referidas Dioceses sejam ordenados pelo 
Arcebispo de Constantinopla, depois que as eleições 
apropriadas tenham sido realizadas de acordo com o costume 
e lhe tenham sido comunicadas”.25 
 
 É visto então que a igreja de Constantinopla recebe o mesmo privilégio que a igreja 
de Roma não por possuir o corpo de um apóstolo, mas por ser capital do império. 
Engraçado que Constantinopla, mesmo com estes privilégios, não gozou de se dizer a Sé 
mãe de todas as outras Sés existentes naquela época. Portanto, a igreja de Roma tomou 
para si mais um peso, que foi o de quebrar mais um cânone dos concílios que eles falam 
que são infalíveis. 
 Como presente extra para vocês, meus caros leitores, venho trazer duas fontes de 
dois bispos que tiveram um papel importante sobre o título “bispo universal”, que são eles: 
Cipriano de Cartago e o Papa Gregório I. 
 
Cipriano de Cartago 
 
 Cipriano de Cartago viveu no terceiro século e foi bispo da cidade de Cartago (atual 
Túnis). Embora não sabermos sobre sua infância e vida antes de sua conversão, ele 
deixou mais de oitenta e duas epístolas que estão disponíveis gratuitamente em inglês no 
site “New advent”. Na vida de Cipriano houve um momento que ele participou do sínodo 
de Cartago (257 d.C), na qual ele disse: 
 
“Vocês ouviram, meus queridos colegas, o que nosso colega 
bispo Jubaiano me escreveu, aconselhando-me sobre minha 
pequenez a respeito dos batismos ilícitos e profanos de 
hereges, e a resposta que eu lhe dei; sendo da mesma opinião 
 
25 New Advent; CHURCH FATHERS: Council of Chalcedon (A.D. 451), Session XV, Canon 28 
 
 
 
 
 
 
 
38 
que temos em ocasiões anteriores, que os hereges que vêm 
para a Igreja devem ser batizados e santificados com o batismo 
da Igreja. Além disso, foi lida para você também a outra carta 
de Jubaiano, na qual, respondendo por sua devoção sincera e 
piedosa à nossa carta, ele não apenas concorda com ela, mas 
também agradece por ter sido assim instruído por ela. Resta, 
portanto, que nós, cada um de nós, um por um, digamos o que 
pensamos sobre este assunto, sem condenar ninguém ou 
retirar do direito de comunhão quem não concorda conosco. 
Pois ninguém [de nós] se propôs [ser] bispo [dos bispos], ou 
tentou com temor tirânico forçar seus colegas a obedecer-lhe, 
uma vez que cada bispo tem, para licença de liberdade e poder, 
o seu próprio vontade, e como ele não pode ser julgado por 
outro, também não pode julgar outro. Mas aguardamos o 
julgamento de nosso Senhor universal, nosso Senhor Jesus 
Cristo, que é o único que tem o poder, tanto de nos fazer 
avançar no governo de sua Igreja, quanto de julgar nossas 
ações [nessa posição]”.26 
 
 Vemos que Cipriano diz que não existe um “bispo dos bispos”, uma vez que isso faz 
com que anule a autoridade dos demais bispos. Mas por qual motivo diz isso? Imagine o 
seguinte cenário: Todos os bispos de todas as igrejas condenam uma heresia, mas não 
por si mesmas, mas pela autoridade das Escrituras e pelo consenso das demais igrejas, 
só que então aparece um único homem e diz ser o bispo que manda em todos, e, portanto, 
anula esta condenação de todas as outras igrejas só por causa que ele quis. 
 É simplesmente um absurdo falar que um só homem tem o poder de comandar todos 
os outros. Todos os apóstolos tiveram a mesma autoridade. Mas caso você discorde, 
então me prove que houve um só apóstolo com autoridade maior que os demais. Como 
diria nosso Senhor: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as 
 
26 New Advent; CHURCH FATHERS: Council of Carthage (A.D. 257) 
 
 
 
 
 
 
39 
governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se 
grande entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se 
faça vosso escravo” (Mateus 20:25-27). 
 Por fim, o segundo bispo, que não é somente um bispo comum para os católicos, 
mas um Papa, é Gregório I. O Papa Gregório I, ou também conhecido como Gregório, o 
Grande, é conhecido por seu incrível papel como bispo de Roma, que viveu no sexto 
século. Em sua carta dirigia ao imperador Maurício Augusto, Gregório diz que João IV de 
Constantinopla foi orgulhoso ao assumir para si mesmo o título de bispo universal, 
dizendo: 
 
“Pois para todos os que conhecem o Evangelho é evidente que 
pela voz do Senhor o cuidado de toda a Igreja foi confiado ao 
santo Apóstolo e Príncipe de todos os Apóstolos, Pedro. Pois a 
ele se diz: Pedro, você me ama? Alimente minhas ovelhas João 
21:17. Para ele é dito: Eis que Satanás desejou peneirar-vos 
como trigo; e eu orei por você, Pedro, para que sua fé não 
desfaleça. E tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos 
Lucas 22:31. A ele foi dito: Tu és Pedro, e sobre esta pedra 
edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não 
prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos 
céus e tudo o que ligares na terraserá ligado também nos céus; 
e tudo o que desligares na terra será desligado também no céu 
Mateus 16:18. 
Eis que ele recebeu as chaves do reino celestial, e foi-lhe dado 
o poder de ligar e desligar, o cuidado e o principado de toda a 
Igreja foram confiados a ele, e ainda assim ele não é chamado 
de apóstolo universal; enquanto o homem santíssimo, meu 
colega sacerdote João, tenta ser chamado de bispo universal, 
sou compelido a gritar e dizer: ó tempos, ó costumes! 
 
 
 
 
 
 
40 
Eis que todas as coisas nas regiões da Europa são entregues 
ao poder dos bárbaros, as cidades são destruídas, os campos 
derrubados, as províncias despovoadas, nenhum cultivador 
habita a terra, os adoradores de ídolos enfurecem-se e 
dominam diariamente para o massacre dos fiéis, e ainda assim 
os sacerdotes, que deveriam chorar no chão e nas cinzas, 
procuram para si nomes de vaidade e gloriam-se em títulos 
novos e profanos”.27 
 
 Como podemos ver, até mesmo um bispo de Roma exortou outro bispo que tentou 
tomar para si um título inovador que nunca tinha sido usado para algum outro bispo. É 
até cômico ver que um bispo de Roma tem a mesma visão minha sobre esse título de 
puro orgulho provindo do mais amargo vômito de Satanás. E, embora Gregório I vendo 
Pedro numa posição até que elevada -que já respondi também-, ele mesmo discorda de 
um título que nem Pedro, que é o primeiro Papa segundo os católicos, recebeu. 
 Como conclusão, venho então afirmar com total certeza que após responder os 
clássicos argumentos dos papistas, vejo que, mesmo que não quebre de vez, o papado 
está com as pernas rachadas ao ponto de não conseguir quase nem se sustentar mais. E 
caso eu não tenha colocado todos os argumentos que os romanos usam, então me 
perdoem por isto. Todavia, as principais argumentações eu trouxe para este capítulo e as 
abordei de forma rápida e simples, não por falta de conhecimento sobre tal, mas sim 
porque a mentira não dura e pode ser derrubada facilmente. Os erros do papismo não 
fazem com que seja apenas uma questão de erro teológico, mas faz com que ele, o bispo 
de Roma, e todos os que acreditam e defendem isto sejam levados ao inferno devido seu 
imenso pecado do orgulho, vaidade, mentira e querer ser “o cabeça substituta” do próprio 
Deus. Por isso, como diria Inácio, eu desejo ter assim como Policarpo teve e tem como 
seu bispo supremo o próprio Deus.28 
 
27 New Advent; CHURCH FATHERS: Gregory the Great, Pope (c. 540-604), Epistles of St. Gregory the Great, Book 
V, Letter 20 
28 New Advent; CHURCH FATHERS: Ignatius of Antioch, Epistle to Polycarp, Greeting 
 
 
 
 
 
 
 
41 
CAPÍTULO 3 – 
REFUTANDO A INTERCESSÃO DOS SANTOS 
 
 Ao acreditar que o “santos” ou Maria possuem a capacidade de interceder lá 
do céu, automaticamente você está afirmando que eles são oniscientes e 
onipresentes. Pois, só é possível ouvir as orações de milhões de pessoas se esses 
tais santos forem oniscientes e onipresentes. Sabemos que só Deus/Jesus possui tais 
atributos, nem mesmo os anjos têm esse poder. 
 Se um católico argumentar que Deus permite que tais santos tenham essa 
capacidade, é a mesma coisa que dizer que Deus está delegando o seu poder único, 
é a mesma coisa de pedir para Deus deixar de ser Deus. É como se Deus não pudesse 
fazer sozinho e precisasse de ajuda. 
 É por isso que em 1 Timóteo 2.5 diz: “Só há um Deus e um só mediador entre 
Deus e os homens, que é Jesus Cristo”. Jesus Cristo é o único que pode fazer 
qualquer tipo de mediação do mundo físico até o mundo espiritual, até o reino celestial, 
onde habita o Deus Todo-Poderoso. 
 O Apóstolo João ainda complementa em sua carta, no livro de 1 João 2.1” Meus 
filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos 
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. O nosso único advogado que 
pode nos defender diante do Pai Celestial, é Jesus Cristo. 
 O Apóstolo Paulo, em Romanos 8.34, deixa claro que Jesus é o nosso único 
intercessor lá no mundo espiritual: “Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, 
ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também 
intercede por nós”. Jesus Cristo é o nosso único mediador e único intercessor lá no 
reino de Deus. 
 No livro de Filipenses 1.23, o apóstolo Paulo afirma que ele desejava partir e 
estar com Cristo, pois isso era muito melhor. Todavia, no versículo 24 do mesmo texto, 
Paulo ressalta a importância de ele ficar vivo no corpo, por causa dos cristãos, pois 
assim Paulo seria mais útil. Fazendo conexão com o referido texto, temos também 2 
Timóteo 4.7, onde Paulo fala a famosa frase “combati o bom combate, encerrei a 
carreira, guardei a fé”. Ora, se Paulo encerrou a carreira com a sua morte, que sentido 
faz a intercessão dos santos lá no céu? Mesmo depois da morte, eles continuam 
 
 
 
 
 
 
42 
trabalhando arduamente? Paulo ressalta que a morte seria um descanso eterno com 
Cristo. Paulo só teria utilidade para a igreja enquanto estivesse vivo aqui na terra, 
como ele bem ressalta em Filipenses 1.23. 
 Para a igreja católica romana, os santos estão no tempo Chronos, no Céu. Se 
admitirmos por um instante que eles estejam conscientes e cientes do que está 
acontecendo na Terra, isso não altera o fato de que somente Deus trabalha no tempo 
Kairos, sem limites de tempo e espaço. 
 Kairos é o “tempo de Deus”, enquanto o Chronos é o “tempo dos homens”. Só 
Deus trabalha no Kairos porque só Ele tem o atributo da Onisciência, um atributo que 
pertence unicamente aquele que não tem início e nem fim, àquele que existe de 
eternidade em eternidade. Mesmo no Paraíso, os mortos (incluindo os tais “santos”) 
continuariam “presos” no tempo Chronos. 
 Isto significa que eles não têm tempo para ficar rezando por todo mundo que 
pede a intercessão deles. Enquanto milhares, talvez milhões de pessoas, pedem 
ajuda divina, eles não podem obter todas as bênçãos de cada um, já que seu tempo 
é limitado, e não ilimitado como o de Deus. 
 É por isso que a Bíblia diz que, no Céu, Jesus Cristo e o Espírito Santo são 
nossos intercessores diante de Deus (Rm.8:36; Jo.17:9; 1Co.14:14,15; Rm.8:34). Mas 
por que a Bíblia diz que o Filho e o Espírito Santo são intercessores nossos, mas 
nunca mostra a intercessão dos tais “santos”? Porque, “coincidentemente”, Jesus 
Cristo e o Espírito Santo, como Deus, trabalham no tempo Kairos. 
 Jesus e o Espírito Santo sim podem interceder por todos, ao contrário dos 
“santos” que, mesmo se soubessem o que se passa na Terra (o que não sabem), 
mesmo se pudessem ouvir a oração de todos simultaneamente (o que não podem), 
mesmo se pudessem estar em vários lugares diferentes para interceder por diferentes 
pessoais em locais opostos no globo (o que também não podem), mesmo se a Bíblia 
desse um único exemplo disso (o que não dá), mesmo se a Bíblia permitisse a 
comunicação com os mortos (o que não permite), mas mesmo se eles conseguissem 
tudo isso ainda assim esbarraria no fato de que eles trabalham no tempo Chronos e, 
por isso, não tem a mínima condição de rogar por todos (na verdade não tem a mínima 
condição de rogar nem sequer por 1% deles...). Não é coincidência que, no Céu, a 
Bíblia relata apenas dois intercessores nossos, e ambos trabalham no tempo Kairos. 
 
 
 
 
 
 
43 
 Tal mediador, sozinho, é o cabeça da igreja e o Sumo Sacerdote perante Deus 
como nosso advogado. Seu nome é Cristo Jesus, e Ele é o nosso Senhor, Salvador e 
irmão. Efésios 2:18 diz que “por ele [Jesus] ambos temos acesso ao Pai por um 
Espírito”. Apenas mediante Jesus nós temos o acesso ao Pai. João 14:6 é bem claro 
em dizer que Jesus é “o caminho, a verdade e a vida; e ninguém vem ao Pai a não 
ser por mim”. Perceba que Jesus disse que ele é O caminho, e não “um” caminho, e 
para reforçar ainda mais a frase ele conclui dizendo que “ninguém vem ao Pai senãopor mim”. Absolutamente não há outro caminho! Não existem outros mediadores! 
 Ora, para um "santo" morto atender às orações de alguém, muitas vezes até 
mesmo em seu inconsciente, ele deve ter a onisciência. Contudo, esta característica 
é um atributo exclusivo do Todo-Poderoso. Só Deus pode atender várias orações ao 
mesmo tempo, pois isto é intrínseco à sua divindade. 
 A menos que os católicos não queiram considerar seus santos como semi-
deuses como faziam os pagãos, eles precisam negar tal atributo aos seus santos. Se 
pudessem ouvir as orações que lhes são dirigidas em todas as partes do do mundo, 
às vezes até em pensamento e no mesmo instante, teriam de ser oniscientes (ter 
ciência de tudo). Mas, como vimos, eles não têm esse poder. 
 Onipresença. Ora, para um “santo” morto ouvir as orações de pessoas que 
rezam a eles simultaneamente no Brasil, na Arábia, no Cazaquistão, no Triangulo das 
Bermudas e na casa do papa eles devem estar cientes do que acontece em todos os 
lugares, tendo assim o atributo da onipresença. Contudo, esse é novamente outro 
atributo exclusivo do Todo-Poderoso. Todavia, recorrer a “santos” é lhes atribuir 
poderes de Deus, considerando-os deuses. De novo, a idolatria. 
 Tentar se comunicar com os mortos é abominação para o Senhor (Is 8.19; Dt 
18.10-12). Na história do rico e Lázaro, Jesus informa que os mortos nada podem 
fazer pelos vivos (Lc 16.19-11). Os católicos alegam que Deus proíbe apenas a 
consulta de mortos como os espíritas fazem. Entretanto, quando você reza a algum 
morto ou pede a ajuda dele, ou pede a intercessão dele com você, isto não é uma 
forma de comunicação? E já não estão mortos os santos e Maria? O texto das 
escrituras é claro, Deus proíbe qualquer tipo de tentativa de invocação ou 
comunicação com os mortos. 
 
 
 
 
 
 
44 
 A doutrina da “intercessão dos santos” mortos é tão demoníaca que não é 
citada em lugar nenhum dos mais de 1100 capítulos das Escrituras. O que temos é o 
incentivo de oração (intercessão) de um vivo em favor de outro vivo. A bíblia diz o 
seguinte: “E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, 
que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus.” (Rm.15:30) 
 Paulo pede que os irmãos da terra “combatam” em oração por ele. E não é só 
nesta passagem que ele pede isso. Em inúmeras partes de suas epístolas Paulo pede 
que os irmãos da terra orassem por ele. Veja o que ele escreve em 1 Timóteo 2:1: 
“Em primeiro lugar peço que sejam feitas orações, pedidos, súplicas e ações de 
graças a Deus em favor de todas as pessoas. 
 Na bíblia temos milhares de exemplos de intercessão de vivos em favor de 
vivos. De irmãos pedindo oração para irmãos vivos na terra. Por que então não existe 
nenhuma situação na bíblia de alguém pedindo a intercessão dos santos que já 
morreram? Paulo nunca pediu a oração para um morto, mas sempre pedia somente 
para as pessoas que estavam vivas que orassem com ele ou por ele. 
 Ora, se o que o catolicismo prega é verdade, então porque Paulo não 
“dispensava” as ajudas dos vivos, já que ele tem tanta ajuda assim dos mortos, 
podendo escolher o morto que ele quiser para interceder por ele? Mas diferente do 
que o catolicismo propaga, Paulo sempre pedia para que os vivos orassem entre os 
vivos. Paulo nunca pediu ajuda de um morto 
 A Bíblia em nenhum lugar descreve qualquer pessoa no Céu orando por quem 
quer que seja na terra. Todas as vezes que a Bíblia menciona orar ou falar com os 
mortos, é em um contexto de magia, bruxaria, necromancia e ocultismo – atividades 
que a Bíblia fortemente condena (Levítico 20:27; Deuteronômio 18:10-13). Orar aos 
santos não tem qualquer base bíblica. Nunca encontraremos uma pessoa piedosa nas 
Escrituras orando a ninguém a não ser a Deus, ou pedindo para que alguém interceda, 
a não ser aqueles ainda vivos nesta terra. 
 As escrituras sempre nos ensinam que nossas orações estejam direcionadas 
para Deus (Lucas 11:1-2; Mateus 6:6-9; Filipenses 4:6; Atos 8:22; Lucas 10:2, etc.). 
Não há absolutamente qualquer base ou necessidade de orar a qualquer um que não 
seja somente Deus. Não há qualquer base para que se peça àqueles que estão nos 
 
 
 
 
 
 
45 
Céus para que orem por nós. Somente Deus pode ouvir nossas orações. Somente 
Deus pode responder nossas orações. 
 A oração é feita somente a Deus (I Coríntios 11:5; Romanos 10:1; Romanos 
15:30; Atos 12:5; Atos 10:2; Atos 8:24; Atos 1:24; Zacarias 8:21-22; Jonas 2:7; 4:2, 
etc.) e os pedidos de oração são feitos somente aos vivos (I Tessalonicenses 5:25; II 
Tessalonicenses 3:1; Hebreus 13:18, etc.). “A ELE orará, e ELE o ouvirá” (Jó 22:27). 
Por que precisamos ir através de um santo, anjo ou Maria, se é contra o que as 
escrituras ensinam? 
 Jesus disse que Ele é o único caminho, mas os católicos colocaram Maria como 
pedágio e os demais santos como barricadas. A bíblia nos ensina que temos livre 
acesso ao Pai, na pessoa de Jesus Cristo: “De acordo com o seu eterno plano que 
ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor, por intermédio de quem temos livre 
acesso a Deus em confiança, pela fé nele.” (Efésios 3:11,12) 
 A intercessão de Cristo, descrita na Bíblia, não se trata de uma oração que ele 
faz, mas de uma OBRA de mediação que ele fez para com a humanidade (ver 
1Timóteo 2:5). É por meio dele que podemos chegar ao Pai, sem tem que passar por 
outros. 
 O “LIVRE acesso ao PAI” exclui qualquer mediação de santo. Jesus nos deixou 
o livre acesso ao Pai por meio de sua morte na cruz, é por isso e nesse sentido que 
ele é o nosso único e definitivo mediador (1Tm.2:5). A “MEDIAÇÃO” dos “santos” é 
uma doutrina totalmente desconhecida à luz das Escrituras Sagradas. 
 De acordo com o catolicismo, os santos mortos da ICAR são intercessores 
nossos. Nós pedimos pra eles, que de toda boa vontade vem pedir pra Jesus (que 
não deve saber nada da sua vida) e este por sua vez pede ao Pai. Os católicos oram 
aos santos. Vamos ver o que a Bíblia tem a dizer sobre isso? 
"O que pedires em MEU nome, EU o farei" (Jo.14:13). Cristo não pediu para pedir que 
o santo tal intercedesse por você, mas que você mesmo peça diretamente para Cristo. 
 Veremos outras passagens: "Eu farei qualquer coisa que vocês pedirem em 
MEU nome" (Jo.14:14). Veja que Jesus disse que faria QUALQUER coisa por nós se 
tão-somente pedíssemos para ele! Mas os católicos seguem na cega ignorância de 
rezar aos mortos! 
 
 
 
 
 
 
46 
 Veja mais estes: "Isso a fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em MEU 
nome" (Jo.15:16); "Até agora vocês não pediram nada em meu nome, peçam e 
receberão, para que a alegria de vocês seja completa" (Jo.16:24); "Eu afirmo a vocês 
que isso é verdade: se vocês pedirem ao Pai alguma coisa em MEU NOME, ele lhes 
dará" (Jo.16:23) 
 Observe que Cristo disse que faria qualquer coisa que pedíssemos para Ele. 
Ora, se Deus nos dará qualquer coisa se pedirmos para Cristo, então para que 
precisamos da “ajudinha” dos santos que já morreram? Logo, a não ser que o Senhor 
Jesus estivesse mentindo, cai a farsa da intercessão dos “santos”, pois Deus não faria 
algo sem utilidade nenhuma que ainda por cima confronta com suas sagradas 
escrituras. 
 Aí pergunto: Se Cristo intercede por nós, então a intercessão SOMENTE DELE 
é insuficiente? Se sim, então porque Cristo diz para pedir em nome DELE, e não de 
algum santo para chegar a Ele? (Jo.14:13; 14:14; 15:16; 16:23; 16:24) Estaria Cristo 
mentindo? 
 Se não necessitamos pedir necessariamente aos santos, então em qual 
situação só a intercessão de Cristo não ajudaria? Em que situação se você pedisse 
direto a Jesus não daria certo, mas se você pedisse aos santos aí sim daria certo? 
Em qual situação que a "simples" intercessão do nosso Senhor e Salvador Jesus 
Cristo é insuficiente? 
 Para encerrarmos o assunto com maestria, vale ressaltar o que o apóstolo 
Paulo disse em Filipenses 1:23,24: “23, Mas de ambos os lados estouem aperto, 
tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. 24 Mas 
julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. 
 Ora, o apóstolo Paulo sabia que fora da carne, ou seja, morto, ele não teria 
nenhuma utilidade para os cristãos que ficariam na terra, pois Paulo estaria em eterno 
descanso com Cristo. 
 Outro versículo chave para complementar o anterior, está em 2 Timóteo 4.7: 
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Ora, se Paulo encerrou a 
carreira, significa que seu trabalho está concluído, e ele não pode fazer mais nada 
pelos cristãos na terra. Agora é partir e estar em eterno descanso com Cristo. 
 
 
 
 
 
 
47 
 Católicos também gostam de usar Apocalipse 5.8 para tentar provar a 
intercessão dos santos. Todavia, ali nada diz sobre algum santo intercedendo. O que 
vemos são vinte e quatro anciãos, que nem sequer sabemos quem são e certamente 
não é nenhum dos apóstolos de Cristo, pois o próprio João, sendo apóstolo, não 
reconheceu nenhum deles. Esses anciãos estavam com salvas de ouro cheias de 
incenso, que são as orações dos santos que chegam da terra. 
 Ora, nenhum ancião tem ciência de cada caso específico em cada oração, eles 
apenas as tinham diante de Deus. Esses anciãos se assentam em tronos em volta do 
trono de Deus, mostrando que são seres importantes, porém, nada sabemos sobre 
eles, não sabemos nem se são personagens do antigo testamento. 
 Um texto interessante para acabar de vez com a crença da intercessão dos 
santos na concepção católica, é o texto de Apocalipse 6.9-11. Ali narra os mártires 
que morreram na grande tribulação e estavam guardados debaixo do altar de Deus. 
Esses mártires clamavam em favor de si mesmos, pedindo justiça a Deus contra os 
seus assassinos. 
 Perceba que os mártires não clamavam em favor de ninguém, mas apenas 
em favor deles mesmos. Nota-se também que eles só tinham ciência das coisas da 
terra só até o momento da morte deles, após isso, eles nada sabem sobre as coisas 
da terra. No momento de suas mortes, eles sabiam que a terra estava passando pela 
tribulação e que eles morreram por causa de Cristo, por isso, clamavam em favor 
deles mesmo, pedindo justiça para Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
CAPÍTULO 4 - A IDOLATRIA NA IGREJA CATÓLICA 
 
 No século IV, com o estabelecimento do cristianismo como religião oficial do 
Império Romano, houve um aumento na veneração dos santos. A construção de 
basílicas sobre os túmulos dos mártires e a celebração das festas litúrgicas em sua 
honra se tornaram comuns. Os cristãos acreditavam que os mártires eram 
intercessores poderosos diante de Deus e buscavam sua ajuda e proteção. 
 Com o tempo, a veneração dos santos se estendeu além dos mártires e passou 
a incluir outros cristãos considerados modelos de santidade. A prática de venerar e 
invocar os santos como intercessores e protetores tornou-se uma parte integral da 
devoção popular na Igreja Católica. 
 Foi no Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563, que a Igreja Católica 
oficialmente definiu e reafirmou a prática da veneração dos santos, esclarecendo que 
a veneração era devida somente a Deus, mas que os santos poderiam ser honrados 
e invocados como modelos e intercessores. 
 Os católicos romanos dizem “venerar” os santos e usam como argumento que 
é apenas uma honra prestada ou admiração, mas na prática, as coisas são totalmente 
diferentes. 
 Primeiramente que a palavra “venerar” é sinônimo de “adorar” ou “prestar 
culto”. Os católicos se ajoelham perante as estátuas dos seus santos, fazem procissão 
para seus santos, oram para os seus santos. Quando o assunto é Maria, a coisa fica 
ainda pior. 
 Em 1 Timóteo 2.5, afirma que: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre 
Deus e os homens, Jesus Cristo homem”. Só isso deveria ser suficiente para acreditar 
que somente Jesus pode ser o mediador entre Deus e os homens. 
 Para que fosse possível que Maria ou outros “santos” ouvissem milhões de 
orações e intercedessem por todos, obrigatoriamente eles teriam que ser oniscientes 
e onipresentes. Mas sabemos que só Deus/Jesus tem esse poder. Logo, a intercessão 
dos santos é uma heresia e é anti bíblico. 
 O apóstolo Paulo, em Romanos 8.34, vai dizer que só Jesus que intercede por 
todos: “Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou 
dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”. 
 
 
 
 
 
 
49 
 A bíblia incentiva que os cristãos que estão vivos na terram orem uns pelos 
outros, ou intercedam uns pelos outros. Isto é válido! Agora, pessoas que já se foram 
da terra e estão no mundo espiritual, jamais pode interceder por alguém, pois nem 
sequer ela é onisciente e nem onipresente. 
 A idolatria aos santos, principalmente á Maria extrapola os limites dentro da 
igreja católica romana, podemos citar alguns exemplos a seguir. 
 
4.1 IDOLATRIA 
 
 Afonso de Ligório, conhecido como Santo Afonso de Ligório, foi um bispo 
católico italiano, teólogo e fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, 
também conhecida como Redentoristas. Ele nasceu em 27 de setembro de 1696, em 
Marianella, perto de Nápoles, na Itália, e faleceu em 1º de agosto de 1787, em Pagani, 
também na Itália. Ligório foi um escritor prolífico e é mais conhecido por suas obras 
morais e devocionais. Seu livro mais famoso, "As Glórias de Maria", reflete sua 
profunda idolatria por Maria e seu papel na fé católica. 
 Afonso de Ligório chama Maria de onipotente, um atributo que é somente de 
Deus. Ele diz também que somente por intercessão de Maria é que obtemos perdão, 
contrariando todo o evangelho de Jesus Cristo. Para finalizar, ele comete a heresia 
de dizer que Maria é a esperança da nossa salvação, sendo que, Jesus Cristo é que 
a nossa verdadeira esperança de salvação. 
 
 Afonso continua: 
 
“Sois onipotente, ó mãe de Deus, para salvar os pecadores; 
não precisais de recomendação alguma junto de Deus, pois sois 
a mãe da verdadeira vida”. (...) ao império de Maria todos estão 
sujeitos, até o próprio Deus. Isto é, Deus lhe atende os rogos 
como se fossem ordens”.29 
 
 
29 Ibid, p 152 
 
 
 
 
 
 
50 
“Corram, pois, a Maria os pecadores que perderam a graça, 
porque em seu poder a acharão certamente...”30 
 
“Pobres pecadores! Que seria de nós, se não tivéramos esta 
grande advogada.”31 
 
“E por isso o meu salvador me fez medianeira da paz entre os 
pecadores e Deus. Realmente é Maria a pacificadora que obtém 
de Deus a paz para os pecadores, a misericórdia para os 
desesperados...”32 
 
“A principal missão de Maria quando veio para a terra era de 
levantar as almas caídas da divina graça e reconciliá-las 
com Deus.”33 
 
“Os pecadores só por intercessão de Maria recebem o 
perdão”.34 
 
“Ó mãe de Deus, vossa proteção traz a imortalidade, vossa 
intercessão, a vida”.35 
 
“Sem maria não alcançamos a graça da perseverança”.36 
 
“Maria não sava todos os pecadores, mas tão somente aqueles 
que a servem e a invocam”. 37 
 
 
30 Ibid, p. 75 
31 Ibid, p. 162 
32 Ibid, p. 168 
33 Ibid, p. 169 
34 Ibid, p. 76 
35 Ibid, p. 77 
36 Ibid, p. 80. 
37 Ibid, p. 153 
 
 
 
 
 
 
51 
“As preces de Maria, como rogos de mãe, têm efeito de uma 
ordem, sendo impossível que fiquem desatendidas”.38 
 
“Senhora, basta-vos querer a nossa salvação e nós não 
podemos perecer”.39 
 
 Afonso de Ligório foi canonizado como santo em 1839 e é amplamente 
venerado como patrono de teólogos morais e confessores. As citações de seu livro 
mariano é só a pontinha do iceberg de heresias, pois o livro é idolatria de capa a capa. 
Vale lembrar que Afonso, sempre faz essa citações em cima de outros santo, 
concordando com eles. Darei mais alguns exemplos: 
 
Santo Anselmo diz que “é impossívelsalvar-se quem não é 
devoto de Maria e não vive sob sua proteção, […] e também é 
impossível que se condene quem se encomenda à Virgem, e por 
ela é olhado com amor.40 
 
 Olha que absurdo o comentário de Afonso e a citação que ele faz de outro santo 
canonizado: 
 
“...tremam aqueles que fazem pouco caso da devoção a mãe de 
Deus, ou que a abandonam por negligência. Estes santos 
afirmam que não há possibilidade de salvação para quem 
não é amparado por Maria. A mesma coisa assevera outros, 
como Santo Alberto Magno: Todos os que não são vossos 
servos hão de se perder-se, ó Maria. ES. Boaventura afirma: 
Aquele que se descuida de servir a santíssima virgem 
 
38 Ibid, p. 156. 
39 Ibid, p. 153. 
40 Ibid, p. 183. 
 
 
 
 
 
 
52 
morrerá em pecado. Em outro lugar: Quem a vós não recorre, 
Senhora, não entrará no paraíso.41 
 
 Vale destacar a obra de um outro santo canonizado pela igreja católica, que é 
o São Luis de Montfort. Em uma de suas obras, ele destaca, também citando dezenas 
de outros santos, assim como Afonso de Ligório faz: 
 
 “...de forma irrefutável, provaram que a devoção a santíssima 
virgem é necessária para a salvação...”42 
 
 Veja que durante os séculos, foi esse tipo de “salvação” que os santos 
canonizados pela igreja romana ensinaram para os católicos. Guiando-os para uma 
idolatria sem freio, que está enraizado na igreja até hoje. Está tão enraizando, que 
muitos católicos leem isso e ainda acham normal. 
 Ora, sabemos muito bem que o único que é capaz de livrar alguém do inferno 
é o próprio Jesus Cristo. Como o próprio Apóstolo Paulo afirma em Romanos 4.25: 
“Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação.” 
Novamente Paulo reafirma em Romanos 8.1: “Portanto, agora nenhuma condenação 
há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo 
o Espírito.” 
 Um grande padre famoso brasileiro, também demonstra sua idolatria por Maria, 
é o Padre Marcelo Rossi. Padre Marcelo Rossi, cujo nome de batismo é Marcelo 
Mendonça Rossi, é um sacerdote católico brasileiro conhecido por seu trabalho como 
evangelizador, cantor e escritor. Ele nasceu em São Paulo, Brasil, em 20 de maio de 
1967. 
 O padre, em sua obra “Aprendendo a dizer sim com Maria”, chega a dizer o 
seguinte: 
 
 
41 Ibid, p. 183. 
42 São Luis de Montfort - Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, p. 34 
 
 
 
 
 
 
53 
“Em sua humildade, fidelidade e capacidade de amar, Maria 
tornou-se divina”. 43 
 
 Padre Marcelo Rossi comete a heresia de chamar Maria de “divina”. Essa 
atitude confronta com toda a escritura bíblica, pois divino é somente Deus. Diversos 
autores e até mesmo “santos” canonizados pela igreja católica demonstra um grande 
grau de idolatria pelos santos, principalmente por Maria. Entretanto, eles teimam em 
dizer que tudo isso é apenas uma “veneração” e não uma adoração. 
 Se acaso alguém questionar algum católico sobre qual a diferença entre 
veneração e idolatria, de certo ele falará sobre os termos: dulia, hiperdul ia e latria. A 
seguir, irei explicar de forma teórica como funciona esses termos. 
 Dulia, hiperdulia e latria são termos utilizados dentro do contexto da veneração 
religiosa, principalmente no catolicismo, para descrever diferentes formas de 
adoração e honra prestadas aos santos, anjos e a Deus. 
 Dulia: É uma forma de veneração ou honra que é atribuída aos santos e anjos. 
No catolicismo, a dulia é uma devoção e respeito especiais direcionados aos santos, 
reconhecendo sua santidade e pedindo sua intercessão junto a Deus. Acredita-se que 
os santos estão próximos de Deus e, portanto, podem interceder em favor dos fiéis. A 
dulia envolve orações, invocações e a celebração de festas em honra aos santos. 
 Hiperdulia: É um termo específico usado para a veneração especial que é 
dirigida à Virgem Maria, mãe de Jesus. No catolicismo, a hiperdulia reconhece o papel 
singular de Maria como a mãe de Deus e a mais exaltada entre todos os santos e 
anjos. Ela recebe uma honra especial e é considerada a intercessora por excelência 
junto a seu filho Jesus. A hiperdulia envolve orações específicas, como a Ave-Maria, 
e a celebração de festas marianas. 
 Latria: É a forma de adoração mais alta e exclusiva que é devida somente a 
Deus. No catolicismo, a latria é a adoração absoluta, reservada somente a Deus em 
sua natureza divina. É a veneração e culto prestados unicamente a Deus Pai, Filho e 
Espírito Santo, reconhecendo sua soberania, poder e divindade. A latria envolve a 
oração direta a Deus, a celebração da Eucaristia e outros ritos sagrados. 
 
43 Pd Marcelo Rossi. Aprendendo a dizer sim com Maria, p. 07. 
 
 
 
 
 
 
54 
 Esses termos ajudam a distinguir as diferentes formas de veneração e honra 
dentro da tradição católica, estabelecendo uma hierarquia de culto, onde a latria é 
reservada exclusivamente a Deus, enquanto a dulia e a hiperdulia são direcionadas 
aos santos, anjos e a Virgem Maria. 
 Entretanto, isso é na teoria, mas na prática não existe diferença nenhuma. Tudo 
que os católicos fazem para os santos, fazem também para Deus. Oram para os 
santos e para Deus, fazem imagens de santos e de Deus, se ajoelham diante das 
imagens dos santos e de Deus, fazem procissão para os santos e para Deus, pagam 
promessas para os santos e para Deus. Aí eu pergunto, onde está a diferença da 
dulia, hiperdulia e latria na prática? Não existe! Até imagem de DEUS PAI eles tem a 
audácia de fazer! 
 Uma vez fiz pedi para um católico me responder qual a diferença entre 
veneração e adoração na prática e não na teoria. Entre muitos gaguejos, ele usou 
como referência 1 Crônicas 29.20, onde diz: “Então disse Davi a toda a congregação: 
Agora louvai ao Senhor vosso Deus. Então toda a congregação louvou ao Senhor 
Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o Senhor, e o rei”. 
 O católico respondeu que esse texto era um claro exemplo de veneração a Davi 
e adoração a Deus. Entretanto, naquela época, era muito comum o povo fazer isso 
com o rei em forma de respeito. Até mesmo quando o rei pecava ou quando o rei fazia 
coisas absurdas, o povo continuava fazendo isso, pois era assim que o rei tinha que 
ser tratado. 
 Podemos lembrar do episódio narrado em 1 Samuel 22.19, onde Saul matou 
todos os sacerdotes levitas de Nobe. Uma atitude totalmente afrontosa contra Deus, 
porém, ninguém desafiou Saul pela atitude reprovável. Todo mundo continuava o 
reverenciando. 
 Quando Salomão adorou outros deuses, trazendo idolatria para Israel, ninguém 
o confrontou. Todo mundo continuava o reverenciando. Pois como Salomão mesmo 
diz em Eclesiastes 8.3-4: “O rei faz tudo o que quer. Porque a palavra do rei tem poder 
e ninguém poderá dizer: que fazes?”. 
 Só que quando os reis morriam, tanto Davi quanto Salomão, ninguém prestou 
veneração para eles. Não tinha estátua, não tinha altares, não faziam procissão para 
eles, não oravam para Davi e nem para Salomão. 
 
 
 
 
 
 
55 
 Até a pouco tempo, a arqueologia duvidava da existência do rei Davi, porque 
não tinha nenhum rastro dele. Até que recentemente acharam uma pedra moabita 
onde estava escrito “casa de Davi”, comprovando a existência de Davi e sua 
descendência. Se o povo venerasse Davi assim como os católicos “veneram” os 
santos, com certeza a arqueologia já teria achado vestígios da existência de Davi á 
muito tempo. 
 Se alguém perguntar para o povo de Israel: qual o judeu mais importante da 
história de Israel? Certamente responderão que é Moisés! Nem por isso os judeus 
prestam veneração para Moisés, não fazem estatuas para ele, não oram para ele, não 
fazem procissão da imagem dele. Logo, a resposta do católico de usar como 
referência 1 Crônicas29.20 para tentar provar a diferença entre veneração e 
adoração, é totalmente equivocada. 
 
4.1.1 QUERUBINS DE OURO E SERPENTE DE BRONZE 
 
 Muitos católicos, para tentar maquiar sua idolatria, usam o argumento de que 
Deus mandou fazer querubins na arca da aliança e uma serpente de bronze. 
 Vamos aos detalhes. O problema não é nem fabricar imagens e sim o que 
fazem com essas imagens. Na arca da aliança tinha dois querubins, mas isso não era 
objeto de adoração/veneração, o povo nem sequer tinha contato com a arca. A arca 
de Deus passava a maior parte do tempo coberta, até mesmo durante os transportes. 
Somente o sumo sacerdote, uma vez por ano, entrava no Santos dos Santos e tinha 
contato com a arca para poder realizar a expiação em favor do povo. 
 Já no caso da serpente de bronze, os israelitas tinham pecado contra Deus, 
por isso sobreveio uma grande praga sobre o povo, então Deus pediu para Moisés 
construir uma serpente de bronze e todo aqueles que olhasse para ela, seria curado. 
 Só que existem dois detalhes que passam despercebidos. A serpente de 
bronze era uma representação do Messias Jesus que iria de vir e todo aquele que 
olhasse para Ele e se arrependesse, seria salvo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
João 3: 
14 Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, 
assim também é necessário que o Filho do homem seja 
levantado, 
15 para que todo o que nele crer tenha a vida eterna. 
 
 O segundo detalhe a gente encontra no livro de 2 Reis capítulo 18, onde 
Ezequias se torna rei de Judá. Sendo rei, ele tomou uma atitude que agradou muito a 
Deus: 
 
2 Reis 18.4 “Foi ele que retirou os altares idólatras das colinas, 
pôs a baixo as colunas sagradas e destruiu os postes de 
adoração pagã. Despedaçou a serpente de bronze que 
Moisés havia construído, pois até aquele tempo os israelitas 
lhe prestavam veneração queimando incenso. Era conhecida 
como Neustã.” 
 
 Perceba que os israelitas começam a venerar e acender incenso para a 
serpente de bronze que Moisés tinha feito e isso acabou se tornando uma maldição. 
Então Ezequias destruiu a idolatria mandando despedaçar a serpente de bronze. 
 Deus se agradou tanto, que exaltou o rei Ezequias: 
 
2 Reis 18.5 “Ezequias confiava no Senhor, o Deus de Israel. 
Nunca houve ninguém como ele entre todos os reis de Judá, 
nem antes nem depois dele.” 
 
2 Reis 18.7 “E o Senhor estava com ele; era bem-sucedido em 
tudo o que fazia...” 
 
 Veja que usar os querubins da arca e a serpente de bronze de Moisés não é 
justificativa para criar imagens de “santos”, se ajoelhar diante de imagens, acender 
 
 
 
 
 
 
57 
incenso diante de imagens, fazer procissão para imagens e tampouco orar para 
imagens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
CAPÍTULO 5 – REFUTANDO O PURGATÓRIO 
 
 O purgatório é um conceito religioso presente no catolicismo. É descrito como 
um estado intermediário de purificação das almas após a morte, para aquelas que 
morreram em estado de graça, mas ainda possuem imperfeições e pecados não 
expiados. 
 De acordo com a crença católica, quando uma pessoa morre, ela pode ir para 
o céu, se estiver livre de pecado mortal, ou para o inferno, se estiver em estado de 
pecado mortal. No entanto, se a pessoa morre em estado de graça, mas com pecados 
veniais (pecados menos graves), ela pode ir para o purgatório. 
 O purgatório é considerado como um lugar ou estado de purificação, no qual 
as almas passam por um processo de expiação para se livrar das manchas de 
pecados veniais. A duração e a natureza dessa purificação não são especificadas e 
são consideradas como um mistério. Acredita-se que as orações, as boas obras e as 
indulgências realizadas pelos vivos possam ajudar na liberação das almas que estão 
no purgatório. 
 A existência do purgatório é baseada em suposições e crenças teológicas 
específicas, em vez de evidências concretas. Não há nenhuma prova objetiva ou 
científica de sua existência, e a ideia foi desenvolvida e sustentada principalmente por 
doutrinas e tradições religiosas específicas. Sem qualquer embasamento factual, 
torna-se difícil justificar a existência de um lugar intermediário onde as almas são 
purificadas. 
 Além disso, a ideia do purgatório entra em conflito com a noção de salvação 
por meio da graça divina. Muitas religiões ensinam que a salvação é alcançada por 
meio da fé e da graça de Deus, e não pelas ações humanas. O purgatório, por sua 
vez, sugere que as almas devem ser purificadas através de sofrimento e penitência 
para alcançar a salvação completa. Essa perspectiva coloca um fardo adicional sobre 
os indivíduos, desviando o foco da misericórdia e do amor divinos. 
 Outra crítica ao purgatório é que ele parece contradizer a ideia de um Deus 
todo-poderoso e compassivo. Se Deus é infinitamente misericordioso, por que ele 
permitiria que as almas dos eleitos passassem por um processo de sofrimento 
adicional após a morte? Se a morte é o fim da vida terrena e o início de uma nova 
 
 
 
 
 
 
59 
jornada espiritual, é razoável esperar que um Deus amoroso acolha as almas dos 
eleitos diretamente em sua presença, sem a necessidade de uma purificação 
adicional. 
 Além disso, a noção de tempo no purgatório é ambígua. A duração do tempo 
que as almas supostamente passam no purgatório varia nas diferentes tradições 
religiosas que acreditam nele. Isso levanta questões sobre a justiça divina e a 
coerência lógica. Se o propósito do purgatório é a purificação, como podemos medir 
ou determinar quando uma alma está "pronta" para entrar no céu? Essa indefinição 
cria mais incertezas em torno do conceito. 
 A existência do purgatório é uma questão de fé e crença pessoal. Sem 
evidências concretas e com argumentos teológicos inconsistentes, é difícil sustentar 
sua existência. A compreensão do pós-vida e o destino das almas após a morte são 
conceitos complexos e abertos a interpretações diversas, mas a ideia do purgatório, 
como concebida pela igreja católica romana, carece de base sólida. 
 O ponto mais grave vem logo em seguida: a ideia de purgatório anula 
totalmente o sacrifício de Jesus na cruz. A seguir, iremos analisar o que diz as 
escrituras sagradas. 
 Em Romanos 8.1, Paulo afirma: “Portanto, agora nenhuma condenação há para 
os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o 
Espírito”. Ora, se não há condenação e nem sofrimento para aqueles que estão em 
Cristo, qual a razão do purgatório? A bíblia é bem clara, ou você está em Cristo ou 
não está, não existe meio termo. Se você não está em Cristo, o que te aguarda no 
pós morte é o inferno. 
 Em Mateus 19.25, os discípulos, ao verem a complexidade da salvação, 
questionam: “Neste caso quem pode ser salvo?”. No versículo 26, Jesus responde: 
“Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis". 
 Jesus mostra claramente que é impossível o homem alcançar o céu por méritos 
próprios ou até mesmo pagar pelos seus pecados. O único que é capaz e digno de 
pagar pelos pecados humanos é o próprio Senhor Jesus Cristo, é por isso que ele diz 
“Para Deus todas as coisas são possíveis”, Mostrando que somente Deus era capaz 
de fazer o homem adentrar na salvação eterna. 
 
 
 
 
 
 
60 
 Em 1 João 2.2 diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente 
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Jesus é o único que pode fazer 
propiciação pelos pecados humanos, e isso é feito através do seu sacrifício na cruz. 
Logo, a ideia de purgatório se torna inútil, visto que somente Cristo pode sofrer e pagar 
pelos pecados humanos, sendo impossível dos seres humanos sofrerem para 
pagarem pelos seus próprios pecados no purgatório. Isto anula totalmente o sacrifício 
de Cristo na cruz. 
 Em Hebreus 9.28, afirma que Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, 
para tirar os pecadosdas pessoas. Ora, se o sacrífico de Cristo nos justifica de toda 
e qualquer mácula do pecado, qual a razão do purgatório? 
 Em Hebreus 6.4-6, afirma que aqueles que foram participantes do Espírito 
Santo, foram iluminados, experimentaram toda a bondade e palavra de Deus, mas 
caíram, é impossível que sejam renovados ao arrependimento. Pois assim, de novo 
crucificam Jesus Cristo e o expõem ao vitupério. Dito isso, qual a razão do purgatório? 
 Mais uma vez eu repito, ou você está com Cristo ou não está, não existe meio 
termo. Se você morrer em Cristo, logo você é justificado por meio do sacrifício de 
Cristo na cruz, podendo assim adentrar direto ao céu. Se você morre sem Cristo, 
manchado pelo pecado pela falta de arrependimento, a cruz de Cristo não lhe serviu 
em nada, logo sua expectativa no pós morte é o inferno e não o purgatório. 
 A doutrina do purgatório, por outro lado, sugere que as almas devem passar 
por um processo de purificação e expiação antes de entrarem no céu. Isso implica que 
a salvação não é alcançada somente pela graça divina, mas também requer uma ação 
humana ou uma forma de pagamento pelos pecados cometidos durante a vida. 
 Essa visão do purgatório levanta questões sobre a própria natureza da graça 
divina e da misericórdia de Deus. Se a salvação é um presente gratuito e incondicional 
oferecido por Deus, por que seria necessário passar por um processo de purificação 
adicional? 
 Além disso, a doutrina do purgatório também pode levar a uma mentalidade de 
"obras" em oposição à "fé". As pessoas podem sentir que precisam realizar boas obras 
ou penitências para garantir sua entrada no céu, em vez de confiar na graça de Deus. 
Isso pode desviar o foco do relacionamento pessoal com Deus e da confiança na sua 
misericórdia. É por isso que a ideia de purgatório, além de anular o sacrifício de Cristo 
 
 
 
 
 
 
61 
na cruz, é totalmente antibiblica. Essa doutrina conflita diretamente com as escrituras, 
com tudo que Jesus ensinou e com tudo que os apóstolos ensinaram. 
 O purgatório contradiz o sacrifício de Cristo na cruz. De acordo com as 
escrituras, Jesus Cristo morreu na cruz para redimir a humanidade, pagando o preço 
pelos pecados e abrindo o caminho para a salvação eterna. 
 A doutrina do purgatório sugere que, após a morte, as almas ainda precisam 
passar por um processo de purificação para alcançar a santidade antes de entrar no 
céu. Isso levanta a questão de como esse processo de purificação se relaciona com 
o sacrifício de Cristo. Se Cristo já pagou o preço pelos pecados da humanidade, por 
que seria necessário passar por uma purificação adicional no purgatório? 
 A existência do purgatório diminui o significado e a eficácia do sacrifício de 
Cristo. Se as almas ainda precisam passar por um processo de purificação, parece 
implicar que o sacrifício de Cristo não foi suficiente para redimir completamente os 
pecados. Isso pode sugerir que a salvação é alcançada não apenas pela fé em Cristo, 
mas também por meio de uma contribuição humana adicional. 
 Claramente, esse ensinamento carece de base bíblica, embora alguns 
apologistas católicos tenham sido habilidosos em reinterpretar textos bíblicos para 
sustentar essa doutrina exclusiva da Igreja Romana (Quando menciono 
'exclusivamente romana', estou me referindo ao fato de que nem a Igreja Católica 
Ortodoxa Oriental nem qualquer igreja protestante adotam essa doutrina, tornando-a 
exclusiva da Igreja Romana). O principal texto distorcido pelos apologistas romanos é 
aquele sugerido no próprio Catecismo Católico: 
 
 
"A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, 
que é completamente distinta do castigo dos condenados. A 
Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo 
no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos 
textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo 
purificador"44 
 
44 §1031 do Catecismo Católico. 
 
 
 
 
 
 
62 
 
 
 E a passagem que os papistas geralmente utilizam a partir de uma distorção 
feita por eles mesmos é a que supostamente falaria de um fogo purificador, eles usam 
a seguinte passagem: “Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém 
passando de alguma maneira através do fogo” (1ª Coríntios 3:15 – Versão Ave-Maria) 
 Primeiramente, a fim de desvelar a essência do "fogo" em questão, é imperativo 
que nos detenhamos com a devida atenção no cenário no qual o trecho em discussão 
se insere. O contexto, no âmbito da versão católica adotada, estabelece: 
 
“Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou 
com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, 
ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do 
julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo 
provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção 
resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, 
arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de 
alguma maneira através do fogo” (1ª Coríntios 3:12-15) 
 
 Observe-se que Paulo não se refere a um dia comum, mas ao dia do 
julgamento. O desafio para os defensores da doutrina católica reside no fato de que, 
conforme a Escritura, esse dia do julgamento apenas se concretizará na segunda 
vinda de Cristo, que ainda não ocorreu e acontecerá quando não houver mais nenhum 
"purgatório" para purificar alguém, pois o estado intermediário já terá cedido lugar ao 
estado eterno. Eis a razão pela qual Paulo declara: 
 
“Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os 
vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o 
exorto solenemente” (2ª Timóteo 4:1). 
 
 Percebe-se que o dia do julgamento está intrinsecamente ligado ao retorno de 
Jesus, quando o Reino será visivelmente manifestado. Nesse dia, de acordo com a 
 
 
 
 
 
 
63 
doutrina católica, não haverá mais lugar para o "purgatório" como meio de purificação. 
Portanto, o texto não pode estar se referindo ao purgatório em si. 
 Para abordar esse dilema, os teólogos católicos elaboraram a doutrina dos 
"dois juízos," uma concepção ausente na igreja oriental. De acordo com essa 
perspectiva católica-romana, existem dois julgamentos: o julgamento individual, que 
ocorre imediatamente após a morte, dando início ao estado intermediário daqueles 
que faleceram, e o julgamento geral, que acontece na segunda vinda de Jesus, no 
final do estado intermediário. Portanto, segundo essa visão, cada pessoa passaria por 
dois julgamentos: o individual e o geral. E assim, eles acreditam ter reconciliado a 
doutrina do purgatório, argumentando que nesta passagem de 1ª Coríntios 3:15, o 
apóstolo se referia ao julgamento individual após a morte, não ao julgamento na 
segunda vinda de Cristo. 
 No entanto, essa abordagem improvisada gera problemas teológicos 
significativos. Em primeiro lugar, o próprio contexto de 1ª Coríntios 3:15 parece se 
referir ao julgamento geral, em vez de um julgamento individual. O versículo 13, por 
exemplo, declara: “...o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a 
qualidade da obra de cada um” (v. 13) 
 Existem dois aspectos que parecem apoiar a perspectiva do julgamento na 
segunda vinda de Cristo. Primeiramente, o texto menciona que este dia "trará à luz" 
os pecados que estiveram ocultos durante toda a vida. Jesus disse que "não há nada 
oculto, senão para ser revelado, e nada escondido senão para ser trazido à luz" 
(Marcos 4:22). Tradicionalmente, esse verso tem sido entendido como uma referência 
ao julgamento geral na segunda vinda de Cristo, quando todos estarão reunidos, e os 
pecados de cada pessoa serão expostos e manifestados a todos - quando nada que 
estiver oculto permanecerá oculto. Portanto, é muito mais provável que 1ª Coríntios 
3:13 esteja se referindo a esse julgamento geral do que a algum julgamento individual 
inventado por Roma. 
 Alémdisso, o verso 13 também menciona que o fogo provará a qualidade da 
obra "de cada um," não de uma pessoa individualmente. O texto transmite a ideia de 
uma reunião geral, onde várias pessoas são "réus" sendo julgadas, em vez de uma 
única pessoa encontrando-se sozinha com Deus após a morte. 
 
 
 
 
 
 
64 
 Em segundo lugar, e o ponto mais problemático para a doutrina católica, a 
Bíblia não menciona em lugar algum um julgamento individual que ocorra em um 
estado intermediário antes da ressurreição, muito menos afirma que cada pessoa 
passa por mais de um julgamento. Essa doutrina simplesmente não tem respaldo 
bíblico, apesar de ser popular. O verso mais frequentemente citado por seus 
defensores é "depois da morte vem o juízo" (Hebreus 9:27), mas em nenhum lugar 
desse verso ou de qualquer outro lugar na Bíblia está declarado que esse julgamento 
ocorre antes da ressurreição. A Bíblia é unânime ao afirmar que Deus ainda não julgou 
os mortos: 
 
“Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de 
julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu 
certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:31) 
 
“Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que 
há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino” 
(2ª Timóteo 4:1) 
 
“Os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar 
os vivos e os mortos” (1ª Pedro 4:5) 
 
“No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por 
Jesus Cristo, segundo o meu evangelho” (Romanos 2:16) 
 
“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, com todos os 
anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Então o 
Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Venham, benditos de 
meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi 
preparado desde a criação do mundo” (Mateus 25:31-32) 
 
 A presente análise enfoca o ensinamento bíblico relativo ao julgamento divino, 
uma temática profundamente enraizada nas escrituras. É imperativo destacar que a 
 
 
 
 
 
 
65 
Escritura, em sua essência, sustenta a perspectiva de que o julgamento de Deus não 
ocorreu, mas se reserva para o futuro, especialmente no contexto da segunda vinda 
de Jesus. 2ª Timóteo 4:1 é especialmente significativa, pois faz menção de que Deus 
"há de julgar" não somente os vivos, mas também os mortos, insinuando que mesmo 
os falecidos ainda não foram submetidos a julgamento. Em consonância, 1ª Pedro 4:5 
também acentua que Deus está preparado para julgar os mortos, implicando que este 
juízo ainda não ocorreu. 
 Notavelmente, não encontramos nas escrituras qualquer indicação contrária a 
esta perspectiva, que sugira que os falecidos já tenham passado por um julgamento 
individual e estejam destinados a outro. 
 Além disso, ao realizar uma análise mais profunda, surge uma consideração 
relevante quanto à viabilidade da existência de múltiplos julgamentos. Neste contexto, 
é importante destacar que um único juízo seria suficiente para determinar 
irrevogavelmente o destino de um indivíduo. Nos arranjos terrenos, observamos a 
ocorrência de múltiplos julgamentos devido à natureza não "final" do primeiro 
julgamento, com espaço para apelação e a possibilidade de revogação. No entanto, o 
juízo divino é inquestionável e isento de equívocos, tornando redundante a existência 
de um segundo julgamento. 
 É inegável que a Bíblia utiliza o singular ao mencionar o juízo individual de cada 
pessoa, reforçando a ideia de que existe um único julgamento para cada indivíduo. 
Os seguintes textos bíblicos exemplificam essa abordagem singular: 
Mt.10:25; Mt.11:22; Mt.11:24; Mt.12:36; Mt.12:41; Mt.12:42; Lc.10:14; Lc.11:31; 
Lc.11:32; Jo.5:29; Jo.9:39; Jo.12:8; Jo.12:11; At.24:25; Hb.6:2; Hb.9:27, Tg.2:23; 
2Pe.2:4; 2Pe.2:9; 2Pe.3:7; 1Jo.14:17. 
 É indiscutível que a Bíblia não faz menção de um segundo julgamento e, 
consistentemente, vincula o julgamento à segunda vinda de Jesus, como evidenciado 
em passagens como Mateus 25:31, Apocalipse 20:12, 2 Timóteo 4:1 e Atos 7:31. 
Nesse contexto, é razoável concluir que o julgamento descrito em Hebreus 9:27, que 
ocorre após a morte, é o mesmo juízo mencionado em toda a Escritura, ocorrendo na 
segunda vinda de Cristo, e não antes. 
 Considerando esse entendimento, é pouco provável que o apóstolo Paulo, em 
1 Coríntios 3:15, estivesse contradizendo o consenso geral das Escrituras e 
 
 
 
 
 
 
66 
introduzindo um "juízo individual" anterior à volta de Jesus para encaixar a ideia de 
um "purgatório" nesse contexto. 
 Quanto à interpretação do "fogo" em 1 Coríntios 3:15, é importante mencionar 
que diferentes traduções podem fornecer nuances diversas. Enquanto a versão 
católica que mencionei traduz o verso como "será salvo, porém passando de alguma 
maneira através do fogo", outras versões evangélicas traduzem: 
 
“Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; 
contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo” 
(Nova Versão Internacional) 
 
“Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal 
será salvo, todavia como pelo fogo” (Almeida Corrigida e 
Revisada Fiel) 
 
 Observe-se nas versões protestantes uma significativa adição do termo "como" 
no texto em análise. Em outras palavras, Paulo não intentava afirmar que o indivíduo 
será resgatado "pelo fogo", mas, ao contrário, "como que pelo fogo". Tal adição 
reveste-se de relevância substancial, haja vista que denota a delineação de uma 
analogia, uma comparação, em oposição à declaração peremptória da realidade. 
Entretanto, antes de prosseguirmos para esta inferência, é de rigor a análise do texto 
original grego, a fim de se estabelecer se ele respalda a tradução protestante ou se 
fornece sustentáculo à versão católica. O texto original em consideração reza assim: 
 
ει τινος το εργον κατακαησεται ζηµιωθησεται αυτος δε σωθησεται ουτως δε ως δια 
πυρος” 
 
 De fato, a presença da pequena partícula "ως" (transliterada como "hos") no 
final do texto é precisamente a que denota o sentido de "como". A versão católica, por 
sua vez, optou por omiti-la do texto, possivelmente devido ao fato de que essa 
partícula pode contrariar a interpretação católica. É importante observar que "ως" 
também é encontrada em outros textos, como Mateus 10:16, onde é empregada para 
 
 
 
 
 
 
67 
transmitir um sentido comparativo, conforme se lê: “Eu os estou enviando como [hos] 
ovelhas entre lobos. Portanto, sejam prudentes como [hos] as serpentes e simples 
como [hos] as pombas” (Mateus 10:16) 
 Certamente, é evidente que quando Jesus empregou metáforas como 
"ovelhas" e "serpentes" em Seus ensinamentos, Ele não estava a sugerir uma 
interpretação literal. Da mesma forma, a analogia utilizada por Paulo em 1 Coríntios 
3:15, referindo-se à salvação como sendo "pelo fogo", não deve ser compreendida de 
maneira literal, mas sim como uma expressão que denota uma salvação que ocorre 
com estreita margem. 
 No contexto linguístico grego, essas figuras de linguagem são usadas para 
enfatizar a ideia de escapar por um fio, assim como alguém que "escapa por um triz" 
no nosso idioma. Esta interpretação é crucial, pois o fogo mencionado não se refere 
a um purgatório, mas sim a uma proximidade crítica à condenação. 
 Ao analisar as passagens bíblicas sob essa perspectiva, é claro que a não-
literalidade das expressões é reforçada pelo uso do grego "hos" e pelo contexto da 
segunda vinda de Cristo, quando o conceito de um purgatório para purificação não é 
mais aplicável. Portanto, é importante evitar a interpretação errônea das Escrituras 
quando se procura fundamentar doutrinas que não têm base sólida nelas, pois isso 
pode distorcer significativamente o sentido original do texto. 
 Ao olharmos para o catecismo da igreja católica romana, vemos que a crença 
no purgatório gira em torno de 2 Macabeus 12.38-46, que diz: 
 
38.Depois disso, reunindo seu exército, Judas alcançou a cidade 
de Odolame, chegando o sétimo dia da semana, purificaram-se 
segundo o costume e celebraram ali o sábado. 
39.No dia seguinte, Judas e seus companheiros foram tirar os 
corpos dos mortos, como era necessário, para depô-los na 
sepultura ao lado de seus pais. 
40.Ora, sob a túnica de cada um encontraram objetos 
consagrados aos ídolos de Jâmnia, proibidos aos judeus pela 
Lei: todos, pois, reconheceram que fora esta a causa de sua 
morte. 
 
 
 
 
 
 
68 
41.Bendisseram, pois, a mão do justo juiz, o Senhor, que faz 
aparecer as coisas ocultas, 
42.e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão 
completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, 
exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos 
olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa 
dos pecados. 
43.Em seguida, organizou uma coleta, enviando a Jerusalém 
cerca de dez mil dracmas para que se oferecesse um sacrifício 
pelos pecados. Belo e santo modo de agir, decorrente de sua 
crença na ressurreição! 
44.Pois, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria 
sido vão e supérfluo rezar por eles. 
45.Mas, se ele acreditava que uma belíssima recompensa 
aguarda os que morrem piedosamente, 
46.era esse um bom e religioso pensamento. Eis por que ele 
pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres 
de suas faltas. 
 
 Veja que os judeus, no verso 46, pediu um sacrifício para que os mortos fossem 
livres de seus pecados. No entanto, repare que no verso 40 esses mortos eram 
idólatras, e a idolatria foi a causa de sua morte. Isso contraria os próprios 
ensinamentos do catecismo romano, pois de acordo com o livro, somente pessoas 
que cometeram pecados veniais é que vão para o inferno, o que não é o caso de 2 
Macabeus 12.40, visto que a idolatria é um pecado mortal. 
 
 
“No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe, 
antes do juízo, um fogo purificador, de fato, aquele que é a 
verdade afirma: ‘a blasfêmia contra o Espírito Santo não será 
perdoada, nem neste mundo, nem no mundo que há de vir ’ (Mt 
12.32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas 
 
 
 
 
 
 
69 
podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, 
no século futuro”.45 
 
 Uma coisa eu não entendi, por que diabos o catecismo disse que existem 
pecados que serão perdoados no futuro? Em nenhuma parte do texto diz isso. A única 
coisa que o texto mostra é que uma pessoa que blasfemou contra o Espírito Santo 
jamais será perdoada, isso significa que nem agora e nem depois, nem neste século 
e nem no futuro. Imagine se eu falasse “Eu jamais vou me tornar católico, nem agora 
e nem nunca”, será que eu irei me tornar católico depois? 
 A palavra “neste século” em Mateus 12.32, no grego, está como “aiṓn” (ahee-
ohn') que significa para sempre, uma idade ininterrupta, tempo perpétuo, eternidade. 
 Perceba que os católicos sempre ligam a “oração pelos mortos” com o 
purgatório. Sendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Um argumento 
bastante usado por eles é o KADISHI, que é basicamente uma oração fúnebre feita 
pelos judeus por seus mortos familiares, mas o que os católicos não contam, é que o 
Kadishi nada se assemelha com a oração ou a crença no purgatório dos católicos. 
 Usando isso como argumento, somado com 2 Macabeus 12, os católicos vão 
dizer que o ato de orar pelos mortos vem desde o judaísmo, portanto, uma doutrina 
incontestável. 
 Só que isso todo pode ser refutado com um simples episodio envolvendo o rei 
Davi, onde ele roubou a mulher de Urias, Batseba, e a engravidou. Esse adultério 
gerou uma gravidez indesejada e quando Batseba estava prestes a dar a luz, o 
SENHOR usou o profeta Natan para repreender o rei Davi. Como todo mundo sabe, 
DEUS perdoou Davi, porém disse que seu filho iria morrer. Com objetivo de mudar o 
coração de Deus, Davi se recolheu em jejum e oração por 7 dias. 
 Passado todo esse tempo, a criança finalmente morreu. Então Davi encerrou 
tudo o que estava fazendo e foi questionado por essa atitudade, então o rei disse: 
 
 
 
 
45 Catecismo da Igreja Católica - 1031 
 
 
 
 
 
 
70 
2 Samuel 12.22-23 
 
22 Ele respondeu: "Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei 
e chorei. Eu pensava: Quem sabe? Talvez o Senhor tenha 
misericórdia de mim e deixe a criança viver. 
23 Mas agora que ela morreu, por que deveria jejuar? Poderia 
eu trazê-la de volta à vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará 
para mim". 
 
 
 Perceba que assim que ficou sabendo que seu filho tinha morrido, Davi 
encerrou seu jejum e suas orações, reconhecendo que era inútil continuar com aquilo, 
visto que seu filho já tinha partido. Davi não continuou a orar pelo seu filho morto, pois 
sabia que isso não teria efeito algum. 
 
 Para encerrar de vez o assunto do purgatório, perceba pela própria bíblia que 
qualquer tipo de pecado, até mesmo os que os católicos consideram como veniais, 
levam para a condenação eterna: 
 
1 Coríntios 6.9-10 
 
9 Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de 
Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem 
adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, 
10 nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem 
caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 Veja o livro de Apocalipse: 
 
Apocalipse 21.8 
 
8 Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os 
assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que 
praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos - o lugar 
deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a 
segunda morte". 
 
 
 Veja o livro de Gálatas: 
 
Gálatas 5:19-21 
 
Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, 
impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, 
desavenças, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, 
embriaguez, orgias e coisas semelhantes a estas. Eu os advirto, 
como antes já os adverti: aqueles que praticam essas coisas não 
herdarão o reino de Deus. 
 
 
 
 Qual foi o intuito em apresentar toda essa lista de pecados? Simples, muitos 
pecados dessa lista a igreja católica consideram como venial e veja que todos levam 
para a condenação eterna. Ou seja, as escrituras nos mostram que só existem dois 
caminhos: céu e inferno (lago de fogo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
CAPÍTULO 6 – O CANÔN BÍBLICO 
 
 Quando os apóstolos morreram, a igreja primitiva, que não era católica 
apostólica romana, como foi bem explicado no primeiro capítulo, reuniu as cartas dos 
apóstolos que já tinham autoridade por si só. Assim como a igreja cristã apenas 
recebeu o velho testamento dos judeus, reconhecendo que as escrituras já tinham 
autoridade própria, a igreja primitiva recebeu as cartas dos apóstolos da mesma 
forma. 
 Mas quando o Império Romano se tornou cristão e a igreja de Roma passou a 
ter mais poder acima das outras, a igreja de Roma começou a querer adulterar o velho 
testamento que pertencia aos judeus. A justificativa era que Jesus e os apóstolos 
usavam a septuaginta, então a igreja também deveria usar, aceitando os livros 
deuterocanônicos como inspirados por Deus. 
 Os livros eram: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 Macabeus 
e 2 Macabeus. Esses livros eram encontrados na septuaginta. Contudo, o que os 
católicos não te contam, é que os livros adicionados não eram a totalidade da 
septuaginta e sim uma parte. Ora, se os apóstolos usaram a septuaginta, por qual 
motivo não a adotaram por completo? 
 Por exemplo, vamos falar de alguns livros que tem na septuaginta, mas que 
não entraram no cânon romano: apócrifo de Esdras (não é o Esdras da bíblia), 
Salmos de Salomão, 3º Macabeus, 4º Macabeus, epístola de Barnabé e Pastor de 
Hermas. 
 Então eu faço a seguinte pergunta, onde a septuaginta representa o canôn 
exato que a igreja católica passa a assumir parasi? 
 Os judeus tinham o seu canôn estabelecido, chamado de Tanah, que é a 
mesma coisa do velho testamento protestante. Todavia, os católicos afirmam que os 
apóstolos seguiam a septuaginta, e por conta disso, a igreja católica também deve 
deve seguir a septuaginta. 
 Só que temos um problema, o canôn do velho testamento foram recebidos dos 
judeus e Jesus era um judeu, sendo Jesus um judeu, seguiu o canôn que eram dos 
judeus, que já era estabelecido na época. Os judeus não aceitam os 7 livros que a 
 
 
 
 
 
 
73 
igreja católica colocou no velho testamento. Porém, os católicos alegam que a ICAR 
tem poder sobre as escrituras, por ser “sustentáculo da verdade”. 
 Considerando a interpretação errônea dos católicos, o que fazemos com 
Romanos 3:1-2, que diz: “Que vantagem, pois tem o judeu? Ou qual é a utilidade da 
circuncisão? Muita, de toda a maneira, principalmente porque, na verdade, aos judeus 
foram confiados os oráculos de Deus”. Ora, Paulo acreditava que os oráculos de Deus, 
que é o velho testamento, foram confiados tão somente aos judeus. Então sim, importa 
muito o que os judeus acreditavam sobre o canôn e a igreja católica não tem poder 
nenhum de mudar isso. 
 Mais adiante, em Romanos 9:4-5, Paulo enfatiza: “Que são israelistas, dos 
quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas: 
dos quais são os PAIS, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, 
Deus bendito eternamente. Amém”. Então dos ISRAELISTA são as alianças, a lei e 
as promessas que estão descritas no texto do antigo testamento. 
 Afirmar “estamos com os apóstolos e não com os judeus” é a mesma coisa que 
não estar com os apóstolos. Pois o apóstolo Paulo estabeleceu que a LEI, as 
ALIANÇAS, as PROMESSAS e os ORÁCULOS DE DEUS, foram confiados aos 
israelitas. 
 É por isso, que nós protestantes, seguimos o canôn dos judeus, que é a Tanah, 
pois os apóstolos acreditavam no canôn dos judeus. Não podemos, de forma 
retroativa, oferecer um novo canôn aos judeus como os católicos fizeram, nós apenas 
RECEBEMOS aquilo que já tinha autoridade por si só, isto é, o testamento deles. 
 A Tanah, que é o testamento dos judeus, é constituída por três partes: Leis, 
Profetas e Escritos. Jesus citou diversas vezes a composição da Tanah nas escrituras, 
um exemplo claro disso está em Lucas 24:44, que diz: “E disse-lhes: São essas as 
palavras que vos disse ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que 
de mim estava escrito na LEI de Moisés, nos PROFETAS e nos SALMOS (escritos). 
 Mas sim, os apóstolos até usaram a septuaginta, mas isso não valida toda a 
septuaginta. Os apóstolos não usavam só a septuaginta, os apóstolos também faziam 
as próprias traduções do hebraico, de todas as citações do novo testamento ao antigo 
testamento, uma grande parte veio de fato da septuaginta. Todavia, o motivo pela qual 
isso aconteceu, era porque a septuaginta era a única tradução da bíblia hebraica para 
 
 
 
 
 
 
74 
o grego, se eles escrevem em grego, usa-se então a tradução do grego. Por exemplo, 
suponhamos que você tenha uma obra de origem estrangeira na versão em 
português, dificilmente você usará a versão original da língua estrangeiro, ficaria mais 
fácil usar a tradução em português já estabelecida. 
 É por esse motivo que muitas vezes os apóstolos usaram a septuaginta, para 
ficar mais fácil, não significa que, somente por usar a septuaginta, eles aprovavam 
todos os livros extras que continham nela. Pois a septuaginta tinha os livros da Tanah 
e mais um monte de livros extras e apócrifos. 
 O que provavelmente os apóstolos faziam, foi usar a septuaginta como padrão, 
mas quando a tradução da septuaginta não parecia agradável para eles, os apóstolos 
faziam a própria tradução direto do hebraico. Achar que só porque os apóstolos 
citaram a septuaginta significa uma aprovação total para a septuaginta, é ir muito além 
daquilo que a evidência fornece. Pois, eles não citaram apenas a septuaginta, também 
fizeram as próprias traduções do hebraico. Ainda se fosse, não existia nenhuma 
versão da septuaginta que corresponda a bíblia católica romana. 
 
6.1 A IGREA ROMANA PRESERVOU E NOS DEU A BÍBLIA? 
 
 O catolicismo alega que seu canôn foi estabelecido no concílio de Roma, sob 
o comando do “papa” Dámaso I, no ano de 382 d.C. Todavia, o concílio de Roma era 
meramente REGIONAL, ao mesmo tempo, vários outros concílios regionais tentaram 
definir uma lista do canôn bíblico. Então tinha-se diversas discordâncias na época, e 
pelo fato do concílio de Roma não ser ecumênico, nem toda a igreja por completo 
concordava com o respectivo concílio. 
 O único concílio ecumênico que a igreja católica invocou para definir seu canôn 
bíblico foi o concílio de Trento, no ano de 1545, conhecido como o concílio da pós 
reforma, para se contrapor contra a reforma protestante. 
 É um erro histórico gigantesco dizer que a igreja católica romana formou, 
preservou e nos deu a bíblia. É isso que o professor Lucas Gesta lenciona: 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
“Em primeiro lugar, devemos entender que a Antiguidade Cristã 
presenciou diversas igrejas/ tradições e ritos cristãos que 
estavam ou não em comunhão entre si. Cada grande tradição 
do Cristianismo preservou os textos bíblicos de acordo com sua 
preferência e cultura, formando uma “bíblia ou lista canônica 
própria. 
 
É por isso que não temos apenas uma “bíblia, mas várias, ou 
melhor, diversos cânones, que conformam igrejas diferentes. 
Por exemplo: a Bíblia ortodoxa (calcedoniana), a Bíblia Etíope 
(miafisita não-calcedoniana), a Bíblia Armênia (não-
calcedoniana), a Bíblia Siríaca (não-calcedoniana), etc. 
 
São nessas igrejas orientais – que, a proposito, não são 
católicas-romanas e não tem comunhão alguma com Roma – é 
que estão preservados os textos mais antigos do Antigo e Novo 
Testamento, como também as bíblias mais antigas (no sentido 
material mesmo). 
 
Um fato óbvio é que a igreja católica romana se baseia na 
VULGATA, e esta é a tradução dos textos bíblicos originiais (em 
hebraico e grego) para o Latim. Ou seja, o que a Igreja Romana 
desenvolveu e protegeu durante os séculos foi sua PRÓPRIA 
TRADUÇÃO da Bíblia, e não a Bíblia em si. 
 
Antes da Vulgata, o que as igrejas ocidentais utilizavam eram 
textos gregos (a septuaginta e os textos do N.T) e diversos 
extratos da Septuaginta e do N.T traduzidos por diversos autores 
para o Latim – que ficou conhecido como VETUS LATINA. Nela, 
TODA a septuaginta foi traduzida sem distinção. Inclusive textos 
que a Igreja Romana não aceita como canônicos. 
 
 
 
 
 
 
 
76 
Ou seja, o cristianismo ocidental IMPORTOU a Bíblia e a 
traduziu para o Latim. É importante lembrar que foi no ORIENTE 
(Palestina e Síria) que São Jerônimo, o autor da VULGATA 
LATINA, buscou as melhores fontes textuais e onde também 
aprendeu hebraico. E o mesmo São Jerônimo, durante a 
tradução da futura Vulgata, rejeitava os deuterocanônicos. 
 
Logo, se queremos saber quem de fato preservou a Bíblia e 
a difundiu pelo mundo, devemos olhar para as igrejas 
orientais, que são as ortodoxas e que nunca se submeteram 
a Roma. Os mais antifos códex bíblicos, as mais antigas listas 
canônicas 
 
As mais antigas bíblias (materialmente) escritas e as mais 
antigas traduções se encontram nas regiões das igrejas 
ortodoxas, siríacas, alexandrinas, armênias, etíopes, etc.46 
 
 
 Outra coisa que não deve passar batido, é que falar que o bispo de Roma, 
Dámaso I era um “papa”, é bastante problemático. Nesse tempo, o termo “papa” era 
um título usado para TODOS os bispos de todas as igrejas do mundo. Muito tempo 
depois, o termo “papa” passou a ser restrito somente ao bispo de Roma, com o papa 
Leão I, mas para a fé católica, Leão I foi 45º papa, Dámaso I foi o 37º papa segundo 
a fé católica, mesmo sendo Leão I a carregar o título papal de forma exclusiva. 
Acontece quea igreja católica traçou uma linha cronológica retroativa, nomeando 
todos os bispos de Roma da história como papas. 
 Voltando ao assunto anterior, se o concílio de Roma definiu, de acordo com a 
igreja católica, o canôn bíblico, porque ainda teve o concílio de Hipona em 393 e o 
concílio de Cártago 397 tentando fazer o mesmo? Se o canôn foi realmente 
estabelecido em Roma, por que ainda existem outros concílios tentando fazer o 
 
46 Professor Lucas Gesta, historiador do cristianismo e mestre em história. Disponível em: 
https://www.instagram.com/p/C7Rc0vfOia1/?img_index=1 
 
 
 
 
 
 
77 
mesmo? Isso parece indicar que não houve um fechamento absoluto e definido do 
canôn católico. 
 Vamos usar a própria teologia católica para provar que somente no concílio 
ecumênico de Trento, em 1545, é que finalmente foi definido o canôn católico. O 
cardeal católico, Yves Congar, disse o seguinte: 
 
“Uma lista oficial e definitiva de escritos inspirados não existia na 
igreja católica até o Concílio de Trento”.47 
 
 A nova enciclopédia católica diz o seguinte: 
 
“De acordo com a doutrina católica, o critério mais próximo do 
cânone bíblico é a decisão infalível da igreja. Esta decisão não 
foi dada até bastante tarde na história da igreja no Concílio de 
Trento [...]48 
 
 A enciclopédia católica continua dizendo: 
 
“O Concílio de Trento definitivamente resolveu a questão do 
cânon do Antigo Testamento. Que isso não havia sido feito 
anteriormente pela incerteza que persistiu até a época de 
Trento.”49 
 
 Até mesmo São Jerônimo, tradutor da vulgata latina (bíblia dos católicos), não 
aceitava muitos desses 7 livros a mais, e ainda fez uma distinção entre eles: 
 
“São Jerônimo fez uma distinção entre livros canônicos e livros 
eclesiásticos. Este último ele julgou CIRCULAR pela igreja como 
uma boa leitura espiritual, mas não foi reconhecido como 
 
47 Yves Congar, Tradition and Traditions (New York: Macmillan, 1966), p. 38. 
48 New Catholic Encyclopedia, Vol II, p. 390. 
49 Idem. 
 
 
 
 
 
 
78 
escritura autorizada. A situação permaneceu obscura nos 
séculos seguintes.”50 
 
 Por mais que ele tenha traduzido os livros da septuaginta, não significa que 
São Jerônimo acreditava que todos eles eram canônicos, pois como dito 
anteriormente, ele mesmo fez distinção entre esses livros. 
 Facilmente se encontra evidências de que São Jerônimo não aceitava os 
deuterocanônicos nas próprias fontes católicas: 
 
"O livro de Jesus, filho de Eclesiástico, a Sabedoria de Salomão, 
Judite, Ester, Tobias e os Macabeus são lidos para edificação, 
mas não têm consagração canônica" (Prefácio aos Provérbios). 
*Ill e IV Esdras não passam de devaneios" (Prefácio a Esdras). 
 
Entretanto, Jerônimo aceita fazer a tradução de Tobias e de 
Judite com grande liberdade: "Magis sensum et sensu quam ex 
verbo verbum transferens" (prefácio a Judite). Contudo, ele não 
suprimiu os capítulos em grego acrescentados aos livros de 
Daniel e Ester.51 
 
 Olha o que o Cardeal Caetano, braço direito do Papa Leão X (papa da reforma 
protestante), diz sobre São Jerônimo: 
 
"Aqui encerramos nossos comentários sobre os livros históricos 
do Antigo Testamento. O restante (ou seja, Judite, Tobias e os 
livros dos Macabeus) são considerados por São Jerônimo como 
livros não canônicos e são colocados entre os Apócrifos, 
juntamente com Sabedoria e Eclesiástico, como é evidente no 
Prólogo Galeatus. Não te perturbes, como um estudante 
inexperiente, se encontrares em algum lugar, seja nos concílios 
 
50 Idem. 
51 Patrologia IV, p. 338 – Centro Dom Bosco 
 
 
 
 
 
 
79 
sagrados ou nos doutores sagrados, esses livros sendo 
considerados canônicos. Pois as palavras tanto dos concílios 
quanto dos doutores devem ser submetidas à correção de 
Jerônimo.”52 
 
 
 O prólogo Galeatus que o Cardeal Cateano cita é o comentário do próprio São 
Jerônimo sobre os deuterocanônicos que irei expor a seguir: 
 
"Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das 
Escrituras, pode ser aplicado a todos os livros que traduzimos 
do hebraico para o latim, de forma que nós podemos garantir 
que o que não é encontrado em nossa lista deve ser colocado 
entre os escritos apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente 
chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque 
[Eclesiástico], e Judite e Tobias e o Pastor [supõe-se que seja o 
Pastor de Hermas], não fazem parte do cânon. O primeiro livro 
dos Macabeus eu não encontrei em hebraico, o segundo é 
grego, como pode ser provado de seu próprio estilo"53 
 
 
 E para fechar com chave de ouro, temos ainda essa outra citação de São 
Jerônimo: 
 
"E assim da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite, Tobias 
e Macabeus (no culto público) mas não os recebe entre as 
Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros 
 
52 Cardeal Caetano, Comentário sobre Todos os Livros Históricos Autênticos do Antigo Testamento, dedicado ao 
Papa Clemente VII. 
53 Prologus Galeatus. 
 
 
 
 
 
 
80 
[Sabedoria e Eclesiástico] úteis para a edificação do povo, mas 
não para estabelecer as doutrinas da Igreja"54 
 
 
6.2 AS HERESIAS DOS 7 LIVROS A MAIS DA BÍBLIA ROMANA 
 
 
 Como bem foi salientado anteriormente, a bíblia católica romana tem um 
acréscimo de 7 livros a mais. Sendo eles: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, 
Sabedoria, Eclesiástico, Baruque e alguns acréscimos no livro de Daniel e Ester. 
 Mas o que tem de tão absurdo nesses 7 livros? A seguir mostrarei para vocês 
as heresias contidas nesses deuterocânicos, que para nós protestantes e também 
para os judeus, são apócrifos. 
 Em Tobias 6.5-9, um anjo do SENHOR chamado de Rafael ensina a prática da 
feitiçaria. Este mesmo anjo, em Tobias 5.15-19 conta mentiras para Tobias, dizendo 
que seu nome era Azarias, um judeu, quando na verdade ele é Rafael, um anjo do 
SENHOR. 
 Mas se realmente é um anjo de Deus, ele poderia mentir? Óbvio que não. 
Ainda em Tobias, dessa vez no capítulo 12, versos do 8 ao 0, vemos que o autor 
coloca a esmola como método de salvação. 
 No livro de Sabedoria 8.19, o autor ensina que a sabedoria também é um 
método de salvação. 
 Em II Macabeus 12.43-46, ensina a oração pelos mortos. Inclusive esse é o 
versículo chave que o catolicismo usa para embasar o purgatório. Porém, as pessoas 
que morreram nos versículos são pessoas idólatras e foram mortas por causa da 
idolatria. Embora o catecismo da igreja católica ensine que esses versos são base 
para o purgatório, acaba entrando em contradição em si mesmo. Pois o mesmo 
catecismo diz que somente vão para o purgatório quem cometeu pecados veniais, ou 
seja, leves. Quem comete pecado mortal, como é o caso da idolatria, vai direto para 
o inferno. Então como os textos de II Macabeus pode ser base para um purgatório? 
 
54 Prefácio dos Livros de Salomão. 
 
 
 
 
 
 
81 
 Em Judite 8.5-6 mostra uma mulher que jejuou incrivelmente todos os dias da 
sua vida. 
 Nos acréscimos do livro de Daniel, mais precisamente em Daniel 14.23-28, 
mostra que dragões existem e Daniel matou um deles. Loucura! 
 Em Eclesiástico 12.4-5 diz que não devemos amparar um pecador, 
contrariando toda a Tanah e todo o novo testamento da bíblia. 
 Em Eclesiástico 33.25-30 ensina a tratar de forma cruel os escravos, 
contrariando toda a lei dos escravos da Torah, escrita por Moisés, onde os escravos 
eram tratados com dignidade e respeito. 
 Em Eclesiastico 42.5 ensina a golpear até sangrar as costas de um escravo 
ruim. 
 Em Baruque 3.4 novamente ensina a oração pelos mortos, mesmo a Torah já 
proibindo a invoção de pessoas que já tinham morrido.Pois esse tipo de prática é 
abominação ao Senhor. 
 Em Daniel 14.40-42, nos versículos acrescentados, diz que Daniel foi lançados 
na cova dos leões uma segunda vez. 
 Para finalizar essas bizarrices apresentadas, temos II Macabeus 15.37-38, 
onde o próprio autor do livro reconhece que sua obra é extremamente medíocre e foi 
feita de qualquer jeito. Algo bem inédito, pois nenhum autor inspirado por Deus se 
desculpa daquilo que ele mesmo escreveu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
82 
CAPÍTULO 7 – SOLA SCRIPTURA 
 
 Sola Scriptura é um princípio teológico que se baseia na crença de que a Bíblia 
é a única autoridade final e infalível para a fé e prática cristã. Esse princípio foi uma 
das principais doutrinas da Reforma Protestante do século XVI, liderada por Martinho 
Lutero e outros reformadores. 
 A expressão latina "sola scriptura" significa "somente a Escritura". Ela enfatiza 
a ideia de que a Bíblia é a fonte suprema de autoridade em questões de fé e moral, 
acima de tradições, ensinamentos da igreja ou opiniões humanas. De acordo com 
esse princípio, a Bíblia é considerada suficiente para instruir os crentes e orientá-los 
na sua relação com Deus. 
 A doutrina da sola scriptura surge em contraposição ao ensinamento da Igreja 
Católica Romana, que, na época da Reforma, afirmava que a autoridade da Bíblia 
deveria ser complementada ou até mesmo igualada pela tradição da igreja e pelos 
ensinamentos do magistério, que inclui o Papa e os concílios ecumênicos. 
 Para os defensores da sola scriptura, a Bíblia é entendida como a revelação 
especial de Deus para a humanidade e como a norma pela qual todas as outras 
autoridades devem ser avaliadas. Eles argumentam que a Bíblia contém tudo o que é 
necessário para a salvação e para a vida cristã, e que qualquer ensinamento ou 
tradição que não esteja em conformidade com as Escrituras deve ser rejeitado. 
 No entanto, é importante ressaltar que o princípio da sola scriptura não significa 
que os cristãos devem interpretar a Bíblia de forma individual e isolada. Pelo contrário, 
reconhece-se a importância da comunidade de crentes e dos estudiosos da Bíblia na 
interpretação correta dos textos sagrados. Ainda assim, a autoridade final para a fé e 
prática cristã está na própria Bíblia. Em resumo, o princípio da sola scriptura defende 
a primazia da Bíblia como a autoridade final e infalível para os cristãos. 
 Temos o famoso versículo que os católicos adoram usar para exaltar a tradição, 
que está em 2 Tessalonicenses 2.15: “Então, irmãos, estai firmes e retende as 
tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” Mas 
essa tradição falada era os ensinamentos contidos nas próprias cartas dos apóstolos, 
e quando não, os apóstolos não inovavam em novos ensinamentos. Em Colossenses 
4.16, Paulo afirma que as cartas deveriam ser lidas nas igrejas: “Depois que esta carta 
 
 
 
 
 
 
83 
for lida entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses, e que 
vocês igualmente leiam a carta de Laodicéia.” 
 O que não pode é a tradição conflitar com as escrituras. Os bereanos eram 
tidos como mais “nobres”, justamente por conferir nas escrituras tudo o que os 
apóstolos pregavam. Atos 17.11: “Ora, estes foram mais nobres do que os que 
estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando 
cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” Os bereanos usavam as 
escrituras para julgar os apóstolos e não as tradições. 
 Os judeus também tinham suas tradições milenares e muitas vezes essas 
tradições conflitavam com as escrituras. Tanto que em Marcos 7.13, Jesus repreende 
isso: “Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. 
E muitas coisas fazeis semelhantes a estas.” 
 O ponto central deste livro, não é negar a tradição, pois reconhecemos que no 
período patrístico a tradição teve um peso de autoridade muito grande. A grande 
questão é sobre o que essa tradição se tornou ao longo dos séculos. A tradição pode 
ter um peso grande, mas se for comparado com a bíblia, esse peso se torna nada, 
pois a bíblia se sobressai. A tradição jamais pode conflitar com as sagradas escrituras. 
É muito melhor e mais confiável confiar naquilo que está escrito do que no “eu ouvi 
falar de tal discípulo, do discípulo, do discípulo, do discípulo de João”. 
 Desde o velho testamento vemos Deus preservando sua palavra por meio da 
escrita. É por isso que muitas vezes a bíblia usa a expressão “está escrito”, 31 vezes 
no antigo testamento e 78 vezes no novo testamento. Deus disse isso em Isaías 30.8: 
“Vai, pois, agora, escreve isto numa tábua perante eles e registra-o num livro; para 
que fique até ao último dia, para sempre e perpetuamente.” 
 A forma como Deus utiliza para preservar sua palavra ao longo dos séculos não 
é por meio da boca a boca, é através de escrito. É por isso que os apóstolos 
escreveram, é por isso que Moisés escreveu, é por isso que lá em deuteronômio a lei 
foi repetida várias vezes por meio dos escritos. É por isso também que todo o antigo 
testamento foi guardado em rolos escritos. 
 O próprio Jesus, para provar que era o messias, recorria para as escrituras. Até 
mesmo no embate que teve com o Diabo no deserto, Jesus usou as escrituras 3 
vezes. Jesus venceu satanás pela palavra no deserto. 
 
 
 
 
 
 
84 
 Em Atos 15, no Concílio de Jerusalém, ninguém recorreu a autoridade humana, 
mas somente as escrituras. 
 Robert Jedine, sacerdote católico, sendo um historiador do Concílio de Trento, 
disserta o seguinte: 
 
“No final, o concílio afirmou que tanto a Escritura quanto a 
tradição eram fontes de autoridade, mas rejeitou a ideia de que 
a tradição fosse igualmente inerrante e infalível que a Escritura. 
A tradição era considerada como uma fonte complementar, que 
podia ajudar a interpretar a Escritura, mas que não podia 
contradizê-la.”55 
 
 Deus repetidamente nos advertiu a não acrescentar e nem diminuir sua 
Palavra, mas segui-la fielmente (Dt 4.2; Js 1.7-8; Ap 22.18-19; 2 Ts 3.14). Qualquer 
um que contrarie este decreto divina peca contra o Senhor Nosso Deus e denigre a 
Autoridade das Escrituras. 
 Toda palavra de Deus é pura e não está aberta a acréscimos (Sl 12.6; 119.140; 
Pv 30.5-6). Quem não aceita esse fato, coloca em descrédito a Suficiência da Palavra 
de Deus Escrita, fazendo de Deus mentiroso e maculando a revelação divina. Na 
medida em que o homem imperfeito acrescenta seus entendimentos não-inspirados 
naquilo que Deus perfeitamente inspirou. 
 Toda a Escritura, como única regra infalível de fé, é o padrão concedido por 
Deus à Sua igreja, tanto para que pudéssemos julgar os falsos mestres (1 Pd 3.1ss; 
Mt 7.15; At 20.29-30; Rm 16.17; 1 Tm 4.1; 1 Jo 4.1; Ap 2.2), como também, para 
reconhecermos a autoridade legítima conferida aos pastores do rebanho do Senhor 
na Terra (Ef 4.11; 1 Pd 5.1ss; Hb 13.17). De modo que, caso a revelação da Palavra 
de Deus nos dias atuais ultrapassasse o ensino bíblico, estaria aberto um fortíssimo 
precedente para que os apóstatas dos tempos pós-apostólicos impusessem dogmas 
anti-bíblicos como se fossem verdadeiros ou, até mesmo, formulassem para si novas 
 
55 Manual de História da Igreja, Vol. IV, p. 157 
 
 
 
 
 
 
85 
revelações extra-bíblicas, como se fossem divinas, sem que pudessem sequer ser 
questionados. 
 Esse é um grande exemplo da importância das Escrituras na Igreja, no que se 
refere ao exercício do seu governo. É uma prova cabal de que a Igreja necessita de 
uma regra infalível como padrão da verdade, e que esta regra não pode ser ela 
própria. Pois a escritura é a forma final da verdade divina aos homens (Êx 34.27; Dt 
29.29; 2 Rs 22.10-13; Is 8.20; Ap 1.3). Os apóstolos e profetas lançaram o fundamento 
da Igreja Cristã (Ef 2.20), de modo que, embora ausentes, ainda podemos construiro 
nosso viver nos ensinos registrados infalivelmente nas Escrituras Sagradas. A 
Escritura é, portanto, o único padrão infalível para a verdade espiritual, revelando tudo 
o que devemos crer para nossa salvação, fé e vida cristã, anunciando tudo o que Deus 
requer de nós. 
 Pois assim Cristo nos ensina em João 6.39: “Examinai as Escrituras, porque 
vós cuidais ter nelas a VIDA ETERNA, e são elas que de mim testificam”. Muitos 
católicos vão dizer que Cristo estava se referindo ao Velho Testamento, de fato 
estava, mas como o Novo Testamento também testifica Cristo, esta declaração de 
Cristo se estende também ao Novo Testamento. 
 Todavia, é importante ressaltar que isso não nega a autoridade da igreja, muito 
pelo contrário, isso apenas reflete que a autoridade da igreja só pode ser absoluta 
quando é pronunciada biblicamente (cf. Is 8.20), ou seja, apoiada na infalibilidade das 
Escrituras. É o reconhecimento verdadeiro de que o Juiz Supremo pelo qual todas as 
controvérsias religiosas (Mt 22.29,31) e pelo qual a Igreja deve se orientar (At 15.15), 
e todas as opiniões particulares (Sl 19.7-8; 119.105; 1 Co 4.6; 2 Ts 3.14), e em cuja 
sentença devemos nos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na 
Escritura (At 28.25; cf. Hb 3.7ss; 10.15-16). 
 Todos os apóstolos morreram e partiram para estar com Cristo; mas a palavra 
de Deus escrita está viva na terra e é extremamente eficaz para todas as coisas (Hb 
4.12). Antes, quando os apóstolos ainda estavam vivos, os mesmos foram guiados 
pelo Espírito Santo (Jo 14.26; 16.13) e escreveram tendo em vista a manutenção da 
doutrina (Fp 3.1; 2 Pd 1.15; 3.1-2). 
 Os que são contra o Sola Scriptura perdem muito tempo falando acerca da 
existência da tradição nos tempos apostólicos, algo que não negamos e jamais o 
 
 
 
 
 
 
86 
fizemos (em relação à igreja iniciante, antes do fechamento do cânon), se esquecendo 
de falar daquilo que realmente precisam provar. 
 Os inimigos das escrituras parecem não entender que a grande questão não é 
se os ensinos orais deviam ser obedecidos pelos cristãos, mas é onde estes ensinos 
foram infalivelmente preservados para nós. 
 Dessa forma, eles não precisam nos mostrar que a tradição oral apostólica 
existiu (porque isso nós já sabemos), mas precisam urgentemente provar que os 
apóstolos ensinaram que as suas instruções orais seriam necessárias para 
suplementar as Escrituras para a igreja no decurso dos séculos vindouros, e que esta 
mensagem pregada oralmente é diferente daquela que está presente em todo o 
conjunto das Escrituras (por seus mais diversos autores e não só por um autor ou uma 
epístola), de modo que a bíblia não contenha sequer o suficiente para a fé e a prática 
cristã, ao contrário do ela mesma declara em 2 Tm 3.15-17- e que haja evidências 
bíblicas que estes ensinos pregados pelos inimigos do Sola Scriptura são os mesmos 
que apóstolos fizeram referência. Isto eles realmente não podem nos mostrar, porque, 
de fato, nenhum dos apóstolos ensinou isto, e nem a Bíblia como um todo nos ensina. 
 Toda vez que debato com um católico que rejeita a doutrina do Sola Scriptura, 
me dá vontade de dizer: “Chame aqui o Apóstolo Paulo para que ele nos tire esta 
dúvida". Digo isto porque, não havendo mais apóstolos em nossos dias, as Escrituras 
são a única fonte de fé segura e infalível para que possamos determinar o que é de 
fato apostólico e perseverar na doutrina dos apóstolos (At 2.42), da mesma forma 
como fazia a igreja primitiva. A lógica é: Se não ouvimos atualmente os Apóstolos 
pregando oralmente e temos seus escritos bíblicos, logo, temos contato com a 
doutrina dos apóstolos atualmente Só pela mensagem que a Bíblia nos transmite. 
 A bíblia é bem clara quando diz que ainda que um anjo vindo do céu ou 
qualquer um que reivindicasse ser apóstolo, se nos pregasse uma mensagem 
diferente ou que fosse além do que hoje podemos encontrar na Bíblia (e, com certeza, 
nenhum dos apóstolos o faria, porque há somente um Evangelho, que está contido 
inteiramente nas Escrituras, cf. 1 Co 15.3,4; 2 Tm 3.15), estaríamos autorizados a 
declarar o ensino como maldição, de acordo com por Gálatas 1.8. 
 Então é lícito afirmar que "tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino 
foi escrito" (Rm 15.4). Sendo a Bíblia a única fonte perfeita, fiel, reta e pura (Sl 19.7-
 
 
 
 
 
 
87 
8), devemos aprender "a não ir além do que está escrito" (1 Co 4.6, um princípio muito 
semelhante a Dt 29.29). 
 O apóstolo Pedro, sabendo que sua morte estava muito próxima, conforme lhe 
fora revelado (2 Pd 1.14), fez questão de escrever aos cristãos (2 Pd 1.15; 3.1), 
buscando firmá-los na revelação que já havia sido dada (2 Pd 3.2), orientando-lhes a 
se apegarem à verdade das Escrituras (2 Pd 1.19-21) e se acautelarem com os falsos 
profetas que viriam (2 Pd 2.1). Porém, nada disso Pedro necessitaria fazer, se ele 
sequer imaginasse que haveria sucessores em sua missão apostólica, que iriam se 
deleitar em cima de uma suposta infalibilidade. 
 Tudo isto seria uma perda de tempo, se Pedro houvesse ensinado àquelas 
comunidades cristãs a seguirem incondicionalmente um "sucessor" infalível ou uma 
hierarquia situada em determinada cidade (como Roma, Antioquia, Alexandria, 
Jerusalém, etc). 
 Se Pedro escreveu o seu ensino para que as futuras gerações lembrassem (2 
Pd 1.13-15; 3.1-2), como nós lembramos atualmente do que os apóstolos ensinaram? 
Será escutando a Roma? Será lendo o que dizem os denominados "pais da Igreja"? 
Será lendo bulas e decretos papais? Óbvio que não! Lendo o Novo Testamento, 
escrito pelos próprios apóstolos! 
 Quando os católicos que odeiam a doutrina do Sola Scriptura citam a tradição 
apostólico, todos eles caem em contradição, pois nós protestantes, jamais negamos 
a tradição apostólico, somente negamos aquilo que confronta com as sagradas 
Escrituras. 
 Os católicos, fazendo uso de forma errônea de 2 Ts 2.15, argumentam que 
suas tradições não são tradições meramente humanas (como aquelas que o Senhor 
Jesus condenou em Mt 15.1-3,9 e em Mc 7.5-13), mas são aquelas tradições que o 
apóstolo faz menção positivamente. 
 Todavia, eles se enganam, porque falta-lhes um princípio básico: Como 
poderíamos determinar nos dias atuais se uma tradição é apostólica ou meramente 
humana? A resposta simples a esta questão é por demais óbvia: Só podemos 
determinar pelas Escrituras! Ou, em outras palavras: Sola Scriptura! Esta é uma lógica 
irrefutável da qual os inimigos da bíblia não podem fugir, sob pena de serem 
 
 
 
 
 
 
88 
anatematizados por Paulo, mediante as palavras de Gálatas 1.8, por estarem 
pregando um outro evangelho. 
 Aliás, a própria incapacidade de se estabelecer um elo histórico para estas 
tradições, traçada desde os apóstolos, prova a natureza espúria das reivindicações 
dos opositores do Sola Scriptura. 
 Sabemos muito bem que a bíblia é a "palavra da verdade" (2 Tm 2.15) pela 
qual nós fomos gerados para que fôssemos como que primícias das criaturas de Deus 
(Tg 1.18). Pela pregação dela recebemos a fé (Rm 10.17), como o fim da fé é a 
salvação do crente (1 Pd 1.9; cf. Jo 20.31; Ef 2.8-9) e "as sagradas letras podem nos 
fazer sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (cf. 2 Tm 3.15), logo, ela é 
plenamente suficiente para nos transmitir a verdade salvadora (cf. Jo 20.31). 
 Já ouvi muitos católicos bater em espantalho quando mencionam João 21.25, 
que diz que nem tudo aquilo que Jesus fez está escrito na bíblia. Ora, quem disse que 
negamos isto? Dizer que algo é suficiente não significa dizer que algo contém todas 
as coisas, mas sim que temos tudo aquilo que é necessário para alcançar a salvação. 
No caso em questão, toda a escritura já é suficiente para a fé e a prática cristã (2 Tm 
3.15-17). João, ao dizer que nem tudo o que Jesus fez está na bíblia, de modo algum 
anula o Sola Scriptura. Do contrário os inimigos da bíblia e do Sola Scripturaseriam 
obrigados a nos trazer todos os sermões do Senhor Jesus e de Paulo pelas suas 
"tradições", sob pena de rejeitarmos as tais "tradições" por serem desgraçadamente 
"incompletas"! 
 Digo mais, existem boas razões para crermos na Suficiência da Bíblia. Ora, se 
Deus preservou tudo aquilo que foi de Sua vontade e entendeu ser necessário para o 
nosso conhecimento acerca da revelação veterotestamentária (Rm 15.4; 1 Co 10.11), 
fazendo chegar os ensinos orais à forma escrita, a qual foi citada por Jesus como algo 
completado (cf. Lc 16.16; 24.44; Mt 7.12), o peso de provar que Deus rescindiu desses 
padrões cai sobre os inimigos do Sola Scriptura, e não sobre nós. 
 Perceba também que todas as provas de que Jesus Cristo é o messias está 
baseada nas Escrituras (Lc 24.27; At 13.27-41; At 18.28; Rm 1.2) e a Suprema 
Autoridade das Escrituras foi provada por Jesus (Jo 5.45-47.10.35). Em Atos 17.10-
12, com efeito, os bereanos foram considerados mais nobres porque, após ouvirem a 
pregação, iam conferir nas Escrituras para ver se as coisas eram de fato assim. 
 
 
 
 
 
 
89 
 
 Primeiro, para os bereanos (que foram considerados pelo autor inspirado como 
mais nobres), a Autoridade Final estava nas Escrituras. Eles fizeram muitíssimo bem 
em receber as palavras dos mensageiros de Cristo, mas fizeram ainda melhor em 
verificar se a doutrina [na qual estavam sendo ensinados] era de acordo com a Palavra 
de Deus. Observe que a todo o tempo, os bereanos julgava os próprios apóstolos e 
todo o ensino que os apóstolos ensinavam, com base nas próprias escrituras. Dito 
isto, os apóstolos nomeraram os bereanos como “os mais nobres”. 
 Isso mostra claramente que o ensino oral dos apóstolos podia ser testado pelas 
Escrituras, tornando, assim, inválidos os argumentos dos grupos religiosos que 
advogam em favor de tradições que jamais podem passar pelo crivo das Escrituras. 
 Essa situação também nos mostra que a Palavra de Deus tem autoridade por 
si só, porque eles já tinham as Escrituras (ainda que não na sua totalidade como na 
nossa Bíblia) às quais eles podiam apelar e as reconheciam como Palavra de Deus- 
e isto antes de qualquer concílio as decretar. 
 A mesma coisa acontece com o povo cristão em relação aos escritos neo-
testamentários, conforme Jo 10.14,27, até porque, seria um terrível menosprezo à 
Soberania do Senhor Deus afirmar que a Sua Palavra necessita ser confirmada pelo 
homem para ser verdadeira ou considerada como tal (veja Hb 6.13). 
 Caso a Palavra do Senhor só pudesse ser crida como palavra verdadeiramente 
divina mediante um testemunho humano, como creríamos em Gênesis 1, onde Deus 
relata dias da criação anteriores à criação do homem? Isto é a prova da Auto-
Suficiência da Autoridade divina, devidamente expressa por sua auto autoridade de 
Sua Palavra, garantida por Sua providência e preservação. 
 Uma prova clara desta providência divina é que o Antigo Testamento foi 
preservado, mediante a Soberania Divina, apesar das inúmeras falhas dos líderes 
judeus (Mt 15.1-4; 22.29-32; Lc 11.39-52) e de Israel, como nação. Por que, então, 
seríamos levados a crer que Deus falharia na preservação do Novo Testamento, que 
é o esplendor da revelação divina ao homem (2 Co 3.6-18; Ef 3.1-7; Hb 1.2)? Cremos, 
no entanto, que o Cânon bíblico é resultado da ação soberana de Deus, "que faz todas 
as coisas segundo o conselho de sua vontade"(cf. Ef 1.11). Por analogia, João Batista 
não tornou Jesus o Cristo por ter confessado que Ele o era, mas meramente 
 
 
 
 
 
 
90 
reconheceu sua condição gloriosa de Cristo. Assim também, posteriormente, a Igreja 
Cristã não fez a Bíblia ser inspirada e nem a tornou Palavra de Deus, mas meramente 
reconheceu o cânon, como as ovelhas reconhecem a voz do seu Pastor (João 
10.4,16). 
 Perceba também, que toda vez que existia um conflito doutrinário, o próprio 
Senhor Jesus apelava para a autoridade das Sagradas Escrituras (Mt 22.29, "Errais 
não conhecendo as Escrituras..."; Mc 12.10,24). E Ele mesmo nos deu exemplo ao 
resistir e refutar a todo erro com a Palavra de Deus, exatamente como Jesus fez com 
Satanás (Mt 4.4,7,10, "Está escrito"..."também está escrito"... "porque está escrito"). 
Jesus estava nos ensinando a nunca nos afastarmos daquilo que as Santas Escrituras 
nos ensinam, para que assim não viéssemos a crer no erro, cair nas ciladas de 
Satanás ou aceitar suas mentiras. 
 Com efeito, todos os cristãos devem agir assim (Ef 6.17), pois todos os 
verdadeiros servos de Deus estimam de maneira especial a Palavra (Sl 119.140; Jo 
14.23; Jo 10.27) e, através do conhecimento da Bíblia, evitam pecar contra o seu Deus 
(Sl 119.11; Jo 10.27). 
 A palavra de Deus, sua vontade, sua verdade é toda revelada por meio de sua 
palavra, (v. Jo 17.17; Sl 119.142,167), não se pode comparar às opiniões dos homens 
(Nm 23.19; Rm 3.4; 1 Jo 5.9a) ou tradições humanas que surgem no meio do povo de 
Deus (Mt 15.3ss; Mc 7.7-9; Cl 2.8), visto que todos os homens são passíveis de erro 
(Sl 116.11) e "mais leves que a vaidade" (Sl 62.9). 
 É por esse motivo, nós que somos adeptos ao Sola Scriptura, rejeitamos tudo 
que não está de acordo com esta regra infalível (Is 8.20; Gl 1.8; At 17.11; At 24.14; Sl 
119.105), a saber, a Sagrada Escritura inspirada (2 Tm 3.16), conforme os apóstolos 
nos ensinaram: "Provai os espíritos se procedem de Deus" (l Jo 4.1). E: "Se alguém 
vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa" (2 Jo 10). 
 Por fim, é certo dizer que “o que Deus diz, a Escritura diz"! A Suprema 
Autoridade das Escrituras fica evidente ao analisamos as citações e as fórmulas 
utilizadas pelos escritores neo-testamentários ao mencionarem as Escrituras: "Deus 
diz", "O Espírito Santo diz", e tantas outras (cf.At 3.24, 25; 2 Co 6.16; At 1.16). 
Percebe-se, por tais fórmulas, que "O que Deus diz" e "o que as Escrituras dizem" é 
exatamente [e sempre] a mesma coisa. Daí o porquê de algumas vezes a Escritura 
 
 
 
 
 
 
91 
ser mencionada de forma personificada, tal como Deus falando por si mesmo (Gl 3.8; 
Rm 9.17). E é por isso que a Escritura é autoritativa (2 Pd 1.19-21)! O "Assim diz o 
Senhor", que confirma nossa fé, bem por esse motivo que expomos, só encontramos 
nas Escrituras. 
 
 
7.1 SOLA SCRIPTURA NA PATRÍSTICA 
 
 Para iniciarmos e entendermos o contexto deste capítulo, devemos saber o que 
é a sola scriptura e do motivo dela ser uma consequência lógica para a fé cristã. 
Iniciaremos, portanto, explicando a diferença entre ela e os demais modelos de 
princípio, o motivo pelo qual ela é uma consequência lógica e então mostraremos que 
ela não é uma inovação teológica, mas uma verdade da catolicidade da igreja desde 
seu princípio apostólico. 
 Existe três principais modelos de princípio envolvendo a Escritura: tripé, sola 
scriptura, e a nuda scriptura. Essas três versões estão presentes no catolicismo 
romano e ortodoxo, no protestantismo, e em seitas. Portanto, vejamos o que cada um 
desses princípios são: 
 
● Tripé: o tripé é o modelo que tanto que a igreja católica romana e a igreja ortodoxa 
aderem, na qual é ensinado que existem 3 fontes independentes por si: a Escritura, 
a igreja e a tradição. Os que adotam este modelo dizem que tanto a Escritura, a igreja 
e a tradição tem a mesma autoridade em questões do depósito de fé, ou seja, a 
Escritura, tradição e a igreja são infalíveis por si. Todavia, segundo os católicos 
romanos e os ortodoxos, ambas são dependentes uma da outra para as demais 
funcionarem -o que já demonstra que eles “percebem” que apresenta um problema. 
 
● Sola Scriptura: a sola scriptura é modelo que é aceito mais por parte de igrejas 
históricas (luterana e reformada), na qual ensina que toda questão sobrenatural, ou 
seja, do depósito de fé e doutrina sobre Deus e a salvação do homem estão contidas 
nas Escrituras, tornando-a assim suficiente para a salvação. No entanto, a sola92 
scriptura é um princípio composto, na qual é este: a sua interpretação é com base no 
quesito histórico e cultural da época, e tomar como base a interpretação da tradição 
oral -na qual posteriormente se tornou escrita- dos pais da igreja de todas as épocas, 
ou em outras palavras, o consenso dos pais sobre a interpretação dos textos das 
Escrituras. Mais para frente você me verá elaborando melhor sobre. 
 
● Nuda Scriptura: por fim, temos o modelo da nuda scriptura, onde é infelizmente o 
modelo que várias igrejas evangélicas e até mesmo seitas -como os adventistas e 
TJ's- aderem, na qual diz que tudo, mas literalmente tudo tem que estar na bíblia. 
Estes rejeitam a tradição -e muitas vezes a história-, tendo somente a bíblia como 
regra de fé e até de outras coisas que a Escritura não procura explicar e nem tem por 
objetivo, por exemplo, o formato da terra e questões antropológicas naturais. 
 
 Após vermos que existem estes três modelos de princípio, irei fazer uma breve 
argumentação contra o primeiro e o último modelo, e por fim uma breve defesa do 
segundo, que é a sola scriptura. 
 Vimos que, portanto, o tripé, mesmo tendo três fontes infalíveis por si, é 
dependente das demais para ter por fim o objetivo de ter a verdade sobre Deus. Isso 
demonstra que, pela lógica, uma delas dependerá de uma base principal, e que sem 
essa primeira base, as demais ficam incompletas, ou seja, ela não tem para onde ir. 
Analisando as fontes infalíveis por si do tripé, temos a igreja. 
 No entanto, a igreja depende tanto da tradição (ensinos dos apóstolos que 
foram transmitidos pelos pais) quanto das Escritura (a leitura no culto e o modelo para 
embasar as doutrinas). Pela lógica, ela não pode ser infalível por si por depender da 
tradição e da Escritura para então afirmar verdades de fé. Vale ressaltar que a igreja 
em sua catolicidade (universalidade) é infalível devido ela ser “coluna e sustentáculo 
da verdade” (I Timóteo 3:15). 
 Não é atoa que em Atos 15 há um concílio que todos os apóstolos tiveram que 
entrar em consenso para então ser determinado sobre as questões dos cristãos de 
Antioquia, da Síria e de Cilícia. Também se afirma no modelo do tripé que a tradição 
é infalível por si. No entanto, por qual razão ela é infalível por si, se há divergência 
entre algumas questões nela? Um exemplo é o modelo soteriológico, onde Crisóstomo 
 
 
 
 
 
 
93 
defende um estilo de sinergismo, já Agostinho que é seu contemporâneo defendeu 
um estilo de monergismo, e Irineu, no segundo século, que defendeu o modelo de 
recapitulação. Se ela é infalível por si, não poderia haver divergências sobre questões 
tão essenciais da fé como o modelo soteriológico. Tanto que é por isso que se deve 
tomar o consenso dos pais sobre algo para que então possamos fundamentar algum 
ensino, que aí então ela (a tradição) será infalível. 
 Também é de extrema importância lembrarmos que, se olharmos para o 
consenso dos pais sobre algo, sempre veremos que eles tiraram estes ensinos das 
Escrituras, o que então nos levará até onde queria chegar. Por fim, a Escritura também 
faz parte do tripé e é a única perna deste tripé que se sustenta por si. Pergunto todos 
que negam a sola scriptura: poderia me mostrar onde que, em toda Escritura, não há 
o essencial para a fé cristã? 
 A Escritura terá por consenso entre as igrejas que ela é a Palavra escrita de 
Deus, e que seu objetivo é mostrar a Deus e seu plano redentor para a humanidade. 
Acaso a Palavra do próprio Deus dependerá de outras fontes para ser infalível? Se 
sim, você diz que a Escritura não tem caráter de Palavra de Deus (que é infalível 
devido Deus não mudar), contrariando não somente sua igreja, mas também o caráter 
divino. 
 Portanto, vemos que a Escritura é por si infalível devido ela ser a Palavra de 
Deus por escrito, já a igreja e a tradição são dependentes da Escritura pois elas não 
são de essência infalíveis, mas seu consenso que é. 
 Partiremos agora para a nuda scriptura, na qual nem perderei muito tempo por 
ser a mais fácil de refutar. Eles dizem que tudo, mas literalmente tudo deve estar na 
bíblia. Não é em vão que alguns são negacionistas da ciência e da história. No 
entanto, como você poderá me afirmar que Jesus é Deus? Eles dirão que a bíblia diz. 
Ok, de fato diz. Mas os Testemunhas de Jeová, que negam a divindade de Cristo, irá 
apresentar outra interpretação usando apenas a bíblia e então ficará num círculo de 
vai e vem até alguém se convencer ou se cansar. 
 Agora, se citarmos um argumento histórico e o consenso dos cristãos do 
primeiro século então ficará mais fácil de convencer o TJ, não acha? Veja, de qualquer 
forma você terá que recorrer à tradição transmitida pelos pais, pois de fato ela é o que 
 
 
 
 
 
 
94 
os primeiros cristãos receberam dos apóstolos e também se é mais confiável numa 
questão histórica. 
 Também devemos lembrar que a Escritura não procura explicar o que não é 
sobre Deus e sua interação com a criação. A medicina por meio de pílulas, por 
exemplo, não é uma ordenança bíblica, mas nós aceitamos ela por conta que Deus 
deu o intelecto ao homem para que o homem resolva estas coisas. 
 A razão e o conhecimento, que também são um presente de Deus, devem ser 
usados e nos é dada por meio de fontes exteriores das Escrituras, mas não em forma 
de contrariar nossa fé, mas como explicação do mundo natural. 
 Como eu saberei contar os números sem o uso do intelecto e o auxílio dos 
meus educadores? A Escritura não ensina a contar, e nem por isso poderei condenar 
os números. Por fim, Paulo também diz que devemos guardar as tradições orais e 
escritas (II Tessalonicenses 2:15), claro, como eu disse, as tradições que devem ser 
aceitas são as de consenso entre os pais. 
 Sobre a sola scriptura, é de consenso que as Escrituras são a Palavra escrita 
de Deus, sendo assim, como mostrei sobre a refutação ao tripé, suficiente e a única 
fonte infalível sobre Deus. Tendo isso em mente, devemos pensar: se ela é a Palavra 
escrita de Deus, por qual razão deve-se ter outras fontes infalíveis? 
 Acaso não é o próprio Deus que colocou infabilidade e suficiência na Escritura? 
Não é atoa que Deus deixa claro aos profetas e até para o apóstolo João que os seus 
escritos são a suficiente Palavra de Deus, onde não haverá perigo de perca de ensino: 
 
“Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as 
futuras”. -Apocalipse 1:19 
 
“Eu declaro a todos aqueles que ouvirem as palavras da profecia 
deste livro: se alguém lhes ajuntar alguma coisa, Deus ajuntará 
sobre ele as pragas descritas neste livro; e, se alguém dele tirar 
qualquer coisa, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida e 
da Cidade Santa, descritas neste livro” - Apocalipse 22:18-19. 
 
 
 
 
 
 
 
95 
“Agora, pois, vai escrever estas coisas de uma prancheta, 
inscreve-as num livro, a fim de que isso permaneça para o futuro 
e seja um testemunho 
ETERNO” - Isaías 30:8. 
 
 
 Vemos que Deus sempre quis deixar a sua revelação para a humanidade em 
forma escrita, pois Ele já sabia que os ensinos orais poderiam ser, infelizmente, 
pervertidos: 
 
“Deixando o mandamento de Deus, vos apegais à tradição dos 
homens” -Marcos 7:8 
 
 
 Da mesma forma foi com a doutrina católica romana. Um exemplo é a assunção 
de Maria. A Escritura nada fala sobre tal e essa crença só surgiu no quarto século. 
Antes disso não há sequer resquício dessa “tradição”. Outro exemplo que posso dar 
é o purgatório que só surgiu após o primeiro milênio. Ok, reconheço que antes disso 
havia a oração pelos mortos, mas, como eu sempre digo: oração pelos mortos não é 
sinônimo de purgatório. 
 Portanto, podemos concluir que Deus sempre quis e fez a revelação sobre Si 
mesmo por meio de escritos para que então pudesse ser preservado. Não é atoa que 
a própria igreja de Roma está limitada à Escritura e a “tradição” para proclamar 
“verdades” de fé. 
 Certo, vimosbrevemente o que é a Sola Scriptura, os outros dois modelos de 
princípio e uma breve refutação e defesa desses mesmos modelos. No entanto, será 
que essa crença está presente nos pais da igreja? Pois, querendo ou não, eles são o 
modelo histórico e o testemunho ocular dos apóstolos e de seus discípulos, assim eles 
nos mostram quais são as crenças ortodoxas e dos primeiros cristãos. 
 Portanto, partiremos para citações de pais da igreja que nos falam o conceito -
ou endossam- do que é a sola scriptura. 
 
 
 
 
 
 
 
96 
 No entanto, antes de começar, vale ressaltar que todas as citações dos pais da 
igreja que irei usar pertencem ao site católico gringo “New Advent” (considerado o 
maior site católico do mundo e o mais confiável para ler a patrística). Por qual razão 
não usarei uma tradução brasileira? Pelo simples fato dela ser tendenciosa em muitos 
casos. Um exemplo que posso dar é da Paulus. Veja uma comparação de tradução 
de um trecho da segunda epístola de Policarpo aos Filipenses, entre a Paulus e a New 
Advent que é até mesmo errônea num quesito histórico: 
 
PAULUS: 
“De fato, nem eu, nem qualquer outro como eu pode se 
aproximar da sabedoria do bem-aventurado e glorioso Paulo. 
Ele, estando entre vós, falando pessoalmente aos homens de 
então, ensinou com exatidão e força a palavra da verdade e 
depois de partir, vos escreveu cartas. Se as lerdes atentamente, 
podereis edificar-vos na fé que vos foi dada”.56 
 
NEW ADVENT: 
“Pois nem eu, nem qualquer outro, podemos chegar à sabedoria 
do abençoado e glorificado Paulo. Ele, quando estava entre 
vocês, ensinou com precisão e firmeza a palavra da verdade na 
presença daqueles que 57então estavam vivos. E quando 
ausente de você, ele lhe escreveu uma carta que, se você 
estudar cuidadosamente, descobrirá ser o meio de edificá-lo 
naquela fé que lhe foi dada”. 
 
 A diferença quase passa despercebida, mas veja que a Paulus dá a entender 
que Paulo escreveu mais de uma carta aos filipenses, o que poderá dar a entender 
 
56 ESMIRNA, Policarpo. II carta aos Filipenses, 3,1. 2ª ed. Editora Paulus. 
57 ESMINA, Policarpo. II Carta aos Filipenses, capítulo 3. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm>. Acesso em 23 mai. 2024. 
 
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm
 
 
 
 
 
 
97 
que, visto que não temos essas cartas, nela estava presente a “tradição oral”, ou pior, 
as doutrinas da igreja de Roma. 
 Já a New Advent faz o correto e diz que foi apenas uma só carta. Também 
usarei a New Advent como minha fonte devida ela ser um site de fácil acesso para 
quem quiser checar as fontes das citações que teremos neste capítulo, e também por 
ela ser uma tradutora católica que vejo como mais confiável para falar sobre os pais. 
 De fácil acesso, pois, as pessoas então poderão checar as fontes de forma 
segura -espero eu-, e não por meio de fontes secundárias, como sites apologéticos 
que amam adulterar as citações dos pais para que suas crenças tenham o ar de 
cristianismo primitivo, quando na realidade não se tem. 
 Quem garante que um site não faça uma citação adulterada sobre cânon 
bíblico, por exemplo? Ou até mesmo sobre o papado, na qual hoje em dia sabemos 
que houve durante a idade média? Não só na idade média, mas até mesmo hoje em 
dia os apologistas católicos romanos ficam adulterando os pais da igreja, a fim de 
enganarem o seu público para que sejam louvados e ganhem títulos que não 
merecem. Não quero ser famoso, nem mesmo ser louvado ou ser nomeado de 
“máquina anti-papista”, mas mostrar aos católicos a verdade, a fim de que sejam 
libertos dos dogmas humanos. Portanto, também faço um apelo para que chequem 
as citações que farei, pois não há desonestidade nelas. Portanto, partiremos para as 
citações dos pais. 
 
Clemente de Roma (35-100 d.C): 
 
“Vocês gostam de discórdia, irmãos, e são cheios de zelo por 
coisas que não pertencem à salvação. Examine 
cuidadosamente as Escrituras, que são as verdadeiras 
declarações do Espírito Santo. Observe que nada de caráter 
injusto ou falsificado está escrito neles”.58 
 
58 ROMANO, Clemente. I Carta aos Coríntios, capítulo 45. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm>. 
 
https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm
 
 
 
 
 
 
98 
 Para começarmos, Clemente Romano, que foi discípulo de Pedro e Paulo, diz 
para a igreja de Corinto que as Escrituras59 são as verdadeiras declarações do Espírito 
Santo e, no contexto da citação, dá a se entender que Clemente diz que as Escrituras 
devem ser examinadas, pois nelas estão contidos perfeitamente os exemplos de 
pessoas que devemos seguir. 
 Aqui, portanto, podemos ver uma suficiência das Escrituras Sagradas dita por 
Clemente em respeito a moral e obediência cristã. Ainda em Clemente, temos também 
esta ordem para os coríntios: 
 
“Você entende, amado, você entende bem as Sagradas 
Escrituras e olhou com muita atenção para os oráculos de Deus. 
Chame então essas coisas para sua lembrança[...]”.60 
 
 Novamente vemos que Clemente cita as Escrituras, conforme o contexto, para 
que os cristãos de Corinto a sigam como exemplo de moral, em seguida citando 
Moisés como exemplo. Embora Clemente não dê uma base como os pais que 
veremos a seguir, ele nos fornece duas informações sobre as Escrituras: que elas são 
declarações do Espírito Santo e que ela possui uma suficiência de exemplos morais 
(destacando os profetas) para serem seguidos. 
 
Policarpo de Esmirna (69-155 d.C): 
 
“Estas coisas, irmãos, escrevo-vos a respeito da justiça, não 
porque tomo alguma coisa sobre mim, mas porque me 
convidastes a fazê-lo. Pois nem eu, nem qualquer outro, 
podemos chegar à sabedoria do abençoado e glorificado Paulo. 
Ele, quando estava entre vocês, ensinou com precisão e firmeza 
a palavra da verdade na presença daqueles que então estavam 
 
59 O termo “Escrituras” em Clemente não é o mesmo cânon completo quando se refere ao Novo Testamento. 
Provavelmente era composto por alguns evangelhos canônicos e as cartas de Paulo somente. 
60 ROMANO, Clemente. I Carta aos Coríntios, capítulo 53. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm. 
https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm
 
 
 
 
 
 
99 
vivos. E quando ausente de você, ele lhe escreveu uma carta 
que, se você estudar cuidadosamente, descobrirá ser o meio de 
edificá-lo naquela fé que lhe foi dada e que, sendo seguida de 
esperança e precedida do amor a Deus, a Cristo e ao próximo ‘é 
a mãe de todos nós’[...]”.61 
 
 
 Na segunda carta que o bispo Policarpo escreve aos filipenses, ele menciona 
que Paulo depois de ter pregado para eles, ele escreveu uma carta (a dos filipenses 
que possuímos hoje no cânon) que, se o povo da igreja de Filipos estudá-la com 
cuidado, eles seriam edificados por meio da carta na fé que Paulo lhes pregou. 
 Aqui podemos ver duas coisas: primeiro, que a fé da igreja é edificada por meio 
das Escrituras apostólicas; e a segunda que, conforme Policarpo, a fé que Paulo 
pregou pessoalmente aos filipenses iria ser edificada por algo que ele já pregou. Em 
outras palavras, Paulo não ensinou nada de novo na sua carta do que ensinou quando 
deu o ensino pessoalmente para eles. 
 Como isso favorece a sola scriptura? Isto favorece por mostrar que a Escritura 
é a tradição oral e que nos escritos apostólicos possuem a suficiência para sermos 
edificados a cada dia na fé que nos pregam, pois, a verdadeira tradição apostólica não 
é diferente do que a Escritura ensina, e nem ao contrário. 
 
Ainda em Policarpo também possuímos esta fala dele: 
 
“Pois confio que você é bem versado nas Sagradas Escrituras e 
que nada lhe é escondido; mas para mim esse privilégio ainda 
não foi concedido. É declarado então nestas Escrituras: ’Ira-te enão peques’, e: ’Não deixe o sol se pôr sobre a tua ira’. Feliz é 
aquele que se lembra disso, o que creio ser o seu caso”.62 
 
61 ESMIRNA, Policarpo. II Carta aos Filipenses, capítulo 3. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm 
62 ESMIRNA, Policarpo. II Carta aos Filipenses, capítulo 12. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm 
 
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm
 
 
 
 
 
 
100 
 Vemos aqui algo interessante: Policarpo diz que confia que o leitor de sua carta 
era bem versado, ou seja, tinha um bom conhecimento das Escrituras, e que para ele 
não tinha sido concedido este privilégio. Alguns podem dizer que essas Escrituras são 
o Antigo Testamento, no entanto, não é isso que Policarpo faz, mas ele cita Efésios 
4:26, que é de consenso dentre os cristãos que é uma carta que pertence a Paulo. 
 Veja, então, que Policarpo diz pela segunda vez que as epístolas de Paulo 
fazem parte da Escritura. Por meio de um raciocínio lógico, podemos chegar também 
a conclusão que Policarpo também acreditava que esse escrito de Paulo também 
seria um meio de edificação da fé dos crentes da mesma forma que a epístola aos 
filipenses, visto que ambas possuem o mesmo autor. 
 Por fim, Policarpo faz uma afirmação que nos dá a entender que é essencial 
para um cristão, que feliz é aquele que se lembra do que a Escritura diz. Embora ele 
esteja se referindo ao escrito de Paulo, ele certamente não iria excluir de forma alguma 
o Antigo Testamento, as cartas de Paulo e os demais livros que eram de seu 
conhecimento. 
 
Justino Mártir (100-165 d.C): 
 
"Justino: Se, senhores, não fosse dito pelas Escrituras que já 
citei, que Sua forma era inglória, e Sua geração não declarada, 
e que por Sua morte os ricos sofreriam a morte, e pelas Suas 
pisaduras seríamos curados, e que Ele seria levado como uma 
ovelha; e se eu não tivesse explicado que haveria dois adventos 
Dele -um em que Ele foi traspassado por você; um segundo, 
quando vocês conhecerem Aquele a quem traspassaram, e suas 
tribos lamentarem, cada tribo por si, as mulheres à parte e os 
homens à parte- então devo ter falado coisas duvidosas e 
obscuras[...]".63 
 
 
63 Mártir, Justino. Diálogo com Trifão. Cap 32. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/01283.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/01283.htm
 
 
 
 
 
 
101 
 Partindo agora para Justino, um dos maiores apologistas da Igreja primitiva, 
vemos que ele, em seu diálogo com o judeu Trifão, diz claramente que se não 
estivesse escrito tais profecias sobre a pessoa de Jesus Cristo, que então Trifão 
poderia recusar o que Justino disse, pois seria de se duvidar. 
 Por qual razão? Pois, embora Justino soubesse que Trifão, como judeu, tinha 
uma tradição, Justino possivelmente tinha em mente que se mostrasse pelas 
Escrituras -que tanto ele quanto Trifão acreditavam como inspiradas- que Cristo havia 
de ter passado por estas coisas, então seria o suficiente para convencer ao seu 
oponente. Portanto, Justino tinha em mente que a Escritura era suficiente para provar 
o ponto da fé sobre o Messias. 
 
Trifão: 
 
“Agora, então, dê-nos a prova de que este homem que você diz 
que foi crucificado e ascendeu ao céu é o Cristo de Deus. Pois 
você provou suficientemente, por meio das Escrituras 
anteriormente citadas por você, que está declarado nas 
Escrituras que Cristo deve sofrer, e voltar com glória, e receber 
o reino eterno sobre todas as nações, sendo todo reino sujeito a 
Ele. Agora mostre-nos que este homem é Ele".64 
 
 Embora não sendo uma fala do apologista Justino, temos o testemunho de seu 
adversário, o judeu Trifão, que nos diz que Justino conseguiu provar que o Messias 
deveria sofrer e voltar com glória, isso usando suficientemente as Escrituras, que é o 
que Trifão admite. O que isso prova? Prova que Trifão reconheceu que Justino 
mostrou que a Escritura é suficiente em matéria de fé, pois a nossa fé no Cristo que é 
a essência do cristianismo deve ser provada pelas Escrituras. 
 
 
 
 
64 Mártir, Justino. Diálogo com Trifão. Cap 32. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/01283.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/01283.htm
 
 
 
 
 
 
102 
Irineu de Lyon (130-202 d.C): 
 
“Mas se tivessem conhecido as Escrituras e sido ensinados pela 
verdade, teriam sabido, sem sombra de dúvida, que Deus não é 
como os homens são; e que Seus pensamentos não são como 
os pensamentos dos homens".65 
 
 Aqui podemos ver que Irineu, ao escrever o seu segundo livro, diz que caso os 
gnósticos conhecessem a Escritura saberiam que Deus não é como os homem, como 
de fato a Escritura diz em Isaías 55:8-9. Podemos tirar daqui, portanto, que Irineu 
coloca que, caso eles (os gnósticos) conhecessem o básico da Escritura, saberiam 
que Deus não é como os homens, mostrando assim um desprovido dos gnóstico o 
saber do que a palavra de Deus fala. 
 
"Se, no entanto, não podemos descobrir explicações de todas as 
coisas nas Escrituras que são objeto de investigação, ainda 
assim não procuremos por qualquer outro Deus além daquele 
que realmente existe. Pois esta é a maior impiedade. 
Deveríamos deixar coisas dessa natureza para Deus que nos 
criou, tendo a certeza de que as Escrituras são realmente 
perfeitas, uma vez que foram faladas pela Palavra de Deus e 
pelo Seu Espírito; mas nós, na medida em que somos inferiores 
e temos existência posterior à Palavra de Deus e ao Seu 
Espírito, somos, por isso mesmo, destituídos do conhecimento 
dos Seus mistérios".66 
 
 Aqui achamos algo interessante. Irineu diz que mesmo se nós não achamos 
toda explicação na Escritura, não devemos nos apostatar. Mas no meio disso, ele 
também nos diz que a Escritura é um objeto de investigação, ou em outras palavras, 
que ela é o nosso pilar sobre a nossa fé, pois, como mostrado na rápida refutação ao 
 
65 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro II, 3,3. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/0103213.htm 
66 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro II, 28,2. Disponível em: https://newadvent.org/fathers/0103228.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/0103213.htm
https://newadvent.org/fathers/0103228.htm
 
 
 
 
 
 
103 
tripé, o objetivo das Sagradas Escrituras para o homem é explicar a salvação e a 
comunhão que Deus quer ter com o homem, e não sobre demais coisas, e Irineu 
confirma o que eu digo nesta última citação que fiz acima. 
 Ainda nestas falas de Irineu, vemos que as Escritura são descritas como sendo 
as perfeitas falas do Verbo (Jesus) e do Espírito Santo. Assim vemos que Irineu pode 
nos dar uma base para a suficiência das Escrituras, mas este texto não nos é 
conclusivo. 
 
 
"Se, portanto, de acordo com a regra que afirmei, deixaremos 
algumas questões nas mãos de Deus, preservaremos nossa fé 
ilesa e continuaremos sem perigo; e toda a Escritura, que nos foi 
dada por Deus, será considerada por nós perfeitamente 
consistente; e as parábolas se harmonizarão com as passagens 
que são perfeitamente claras; e aquelas declarações cujo 
significado é claro servirão para explicar as parábolas; e através 
das muitas e diversificadas declarações [das Escrituras] será 
ouvida em nós uma melodia harmoniosa, louvando em hinos 
aquele Deus que criou todas as coisas. Se, por exemplo, alguém 
perguntar: 'O que Deus estava fazendo antes de criar o mundo?' 
respondemos que a resposta a tal pergunta está no próprio 
Deus. Para que este mundo foi formado perfeito por Deus, tendo 
um começo no tempo, as Escrituras nos ensinam; mas nenhuma 
Escritura nos revela o que Deus estava fazendo antes desse 
evento. A resposta, portanto, a essa pergunta permanece com 
Deus, e não é apropriadoque tenhamos como objetivo 
apresentar atitudes tolas, precipitadas e blasfemas".67 
 
 
 
67 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro II, 28,3. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/0103228.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/0103228.htm
 
 
 
 
 
 
104 
 Irineu, agora sim, nos diz que a Escritura é suficiente. Veja que ele diz que toda 
a Escritura dada por Deus é consistente e que as parábolas são harmoniosas com 
passagens que são claras. Nós aqui vemos, portanto, que Irineu lia as Escrituras de 
forma que as parábolas, as passagens claras e as demais partes do que Irineu tinha 
acesso dos escritos apostólicos eram, para ele, consistentes e harmoniosas entre si; 
e, sendo as Escrituras claras, podemos, novamente, mas não de forma conclusiva, 
supor que nelas estão contidas todo o testemunho apostólico e dos profetas. 
 E, por fim, Irineu supõe uma possibilidade de alguém perguntar o que Deus 
fazia antes de criar o mundo, e ele responde que a resposta disso deveria ficar como 
mistério de fé nas mãos de Deus, pois nenhuma Escritura fala sobre tal coisa. Assim 
vemos que Irineu prefere entregar a resposta para Deus devido a Escritura não dizer 
sobre, ou, em outras palavras, podemos resumir a frase de Irineu: “Se as Escrituras 
não afirmam, não confiarei em meu entendimento”, visto que ele diz que quem busca 
responder algo que nem mesmo a Escritura afirma está cometendo uma blasfêmia. 
 
"Mas não estaremos errados se afirmarmos a mesma coisa 
também a respeito da substância da matéria, que Deus a 
produziu. Pois aprendemos nas Escrituras que Deus detém a 
supremacia sobre todas as coisas. Mas de onde ou de que 
maneira Ele o produziu, nem as Escrituras declararam em parte 
alguma; nem nos cabe conjecturar, de modo a, de acordo com 
nossas próprias opiniões, formar conjecturas intermináveis a 
respeito de Deus, mas deveríamos deixar tal conhecimento nas 
mãos do próprio Deus[...]".68 
 
 Aqui, novamente, lemos que, segundo Irineu, não podemos tirar conclusões 
que estejam fora da Escritura, pois a igreja está presa nelas de tal forma, como 
mostrado na citação anterior, que pode resultar em blasfêmia. 
 
 
 
68 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro II, 28,7. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/0103228 
https://www.newadvent.org/fathers/0103228
 
 
 
 
 
 
105 
"Se, no entanto, eles trabalharem para sustentar que, embora 
todas as coisas materiais, como o céu e todo o mundo que existe 
abaixo dele, tenham sido de fato formadas pelo Demiurgo, ainda 
assim todas as coisas de natureza mais espiritual do que estas, 
-aqueles, nomeadamente, que estão acima dos céus, como 
Principados, Potestades, Anjos, Arcanjos, Dominações, 
Virtudes-, foram produzidos por um processo espiritual de 
nascimento (que eles declaram ser), então, em primeiro lugar, 
nós provamos pelas Escrituras autorizadas que todas as coisas 
que foram mencionadas, visíveis e invisíveis, foram feitas por um 
só Deus. Pois não se pode confiar mais nesses homens do que 
nas Escrituras; nem devemos desistir das declarações do 
Senhor, de Moisés e do resto dos profetas, que proclamaram a 
verdade, e dar crédito a eles, que de fato não proferem nada de 
natureza sensata, mas elogiam opiniões insustentáveis[...]".69 
 
 Podemos agora ler primeiro que Irineu destaca que a heresia gnóstica foi, por 
meio da autoridade das Escrituras, refutada. Também vemos que, logo em seguida, 
Irineu destaca que não se deve confiar nos homens (aqui se referindo aos líderes 
gnósticos), mas nas declarações que o Senhor e os profetas fizeram a respeito de 
Deus. Ora, como poderemos saber quais foram as declarações, senão por meio da 
Escritura? Podemos, portanto, dizer que Irineu disse que todo ensino das Sagradas 
Letras tem a maior autoridade sobre os hereges, pois ela é suficientemente a base de 
fé e doutrina contra todos erros humanos, como ele está -e estará- a nos mostrar. 
 
"Não aprendemos de ninguém o plano da nossa salvação, a não 
ser daqueles por meio de quem o Evangelho chegou até nós, o 
qual eles proclamaram em um momento em público e, num 
período posterior, pela vontade de Deus, que nos foi transmitido 
 
69 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro II, 30,6. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0103230.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/0103230.htm
 
 
 
 
 
 
106 
nas Escrituras, para ser a base e o pilar da nossa fé".70 
 
 Conforme Irineu, aquilo que os apóstolos ensinaram por via oral, mais tarde foi 
registrado por meio de seus escritos, ou seja, nas Escrituras. Portanto, todo ensino 
apostólico, primariamente oral, em sua totalidade, foi transmitido na Escritura, de 
modo que, todos os seus ensinos foram escritos, assim para termos certeza do real 
ensino divino. 
 
"O verdadeiro conhecimento é [aquele que consiste] na doutrina 
dos apóstolos, e na antiga constituição da Igreja em todo o 
mundo, e na manifestação distintiva do corpo de Cristo de 
acordo com as sucessões dos bispos, pelas quais eles têm 
transmitiu aquela Igreja que existe em todos os lugares, e que 
chegou até nós, sendo guardada e preservada sem qualquer 
falsificação das Escrituras, por um sistema muito completo de 
doutrina, e sem receber acréscimos nem [sofrimento] redução 
[nas verdades que ela acredita]; e [consiste em] ler [a palavra de 
Deus] sem falsificação, e uma exposição legal e diligente em 
harmonia com as Escrituras, tanto sem perigo como sem 
blasfêmia; e [acima de tudo, consiste] no dom preeminente do 
amor, que é mais precioso que o conhecimento, mais glorioso 
que a profecia, e que excede todos os outros dons [de Deus]".71 
 
 Quão grandes e poderosas são estas palavras provindas do bem-aventurado 
Irineu sobre as Escrituras! Vemos então que Irineu diz que a doutrina dos apóstolos 
foi fielmente preservada na Escritura, estando, portanto, em consenso entre si 
mesmas ao ponto de ser um sistema completo da doutrina dos santos apóstolos. 
 
70 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro III, 1,1. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0103301.htm>. 
71 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro IV, 33.8. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/0103433.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/0103301.htm
https://www.newadvent.org/fathers/0103433.htm
 
 
 
 
 
 
107 
 Vemos, então, que Irineu diz que a Escritura é a inspirada palavra de Deus que 
plenamente descreve toda a doutrina sobre a nossa salvação e comunhão com Deus. 
 
 
 
"[...]Quaisquer que fossem as coisas que ele tivesse ouvido 
deles a respeito do Senhor, tanto no que diz respeito aos Seus 
milagres quanto aos Seus ensinamentos, Policarpo tendo assim 
recebido [informações] das testemunhas oculares da Palavra da 
vida, as contaria todas em harmonia com as Escrituras[...]".72 
 
 Por fim, para encerrarmos o grande testemunho de Irineu, vemos que em um 
de seus fragmentos nos é dito que Policarpo pregava o que estava de acordo com as 
Escrituras. O que isso quer dizer? Isso nos mostra duas coisas: primeiro, Irineu tinha 
por julgamento o que a Escritura dizia; e a segunda coisa é que todo o ensino de 
Policarpo não era nada novo, mas sim o que a Escritura já ensinava. 
 Podemos ver isso em sua carta aos Filipenses, onde nos é ensinado o que a 
Sagrada Escritura diz, não contendo nada de novo. Alguns poderão argumentar que 
então Policarpo acreditava que Tobias era inspirado, já que ele cita ele dizendo que a 
esmola livra da morte. Todavia, isso parte de uma má compreensão do que Policarpo 
quis dizer, e até mesmo um desconhecimento das Escrituras canônicas. Em primeiro 
lugar, o contexto que Policarpo diz que a esmola livra da morte é sobre fazer as boas 
obras, coisa que nós protestantesnão negamos. Em segundo lugar, de fato, a esmola 
livra da morte em certo sentido. Veja o que Tiago nos diz: 
 
"Do mesmo modo Raab, a meretriz, não foi ela justificada pelas obras, por ter recebido 
os mensageiros e os ter feito sair por outro caminho? Assim como o corpo sem a alma 
é morto, assim também a fé sem obras é morta". Tiago 2:25-26 
 
Veja que Tiago diz que a fé sem obras é morta. 
 
72 LYON, Irineu. Fragmento dois. Disponível em <https://www.newadvent.org/fathers/.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/.htm
 
 
 
 
 
 
108 
 Sendo a fé o motivo pelo qual o homem vive e permanece na comunhão com 
Deus, mas essa fé deve ser alimentada, ou seja, por meio das obras realizadas na 
graça, a esmola (boa obra) livra da morte. Ela não nos livra da morte condenatória, ou 
seja, do inferno; mas sim a morte da fé, que é a apostasia, ou melhor dizendo, a fé de 
um demônio que é morta. E se quiserem que eu resuma mais, a fé morta é o famoso 
cristão que vive no pecado, não alimentando a fé no fazer das boas obras para com o 
próximo, assim não cumprindo ao mandamento divino de amar o próximo como a ti 
mesmo. 
 Portanto, veja que Irineu dizer que Policarpo ensinava o que estava de acordo 
com a Escritura, e Policarpo citar Tobias não nos diz que ele acreditava que Tobias 
era inspirado, pois o ensino de Tobias existe na Escritura canônica. Assim, portanto, 
provando que todo ensino de Policarpo é provado por meio das Escrituras canônicas. 
 
 
Tertuliano (160-240 d.C): 
 
"Eu reverencio a plenitude de Suas Escrituras, nas quais Ele me 
manifesta tanto o Criador quanto a criação. Além disso, no 
evangelho descubro um Ministro e Testemunha do Criador, da 
Sua Palavra (João 1:3), mas ainda não consegui descobrir se 
todas as coisas foram feitas de alguma matéria subjacente. 
Onde tal declaração for escrita, a loja de Hermógenes deverá 
nos informar. Se não estiver escrito em parte alguma, então 
deixe-o temer a desgraça que impende sobre todos os que 
acrescentam ou retiram palavra escrita (Apocalipse 22:18-19)”.73 
 
 Tertuliano, em sua obra contra Hermógenes, nos diz a mesma coisa que Irineu 
nos disse, que, se algo não estiver nas Escrituras, não é para acreditar. Também 
podemos ver que Tertuliano foi mais ousado e então proclamou que todos que 
 
73 CARTAGO, Tertuliano. Contra Hermógenes, cap. 22. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0313.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/0313.htm
 
 
 
 
 
 
109 
retirarem ou acrescentarem algo nas Escrituras (como um todo) sofrerá a pena do que 
está em Apocalipse 22:18-19, que diz: 
 
“Eu declaro a todos aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste livro: se 
alguém lhes ajuntar alguma coisa, Deus ajuntará sobre ele as pragas descritas neste 
livro; e, se alguém dele tirar qualquer coisa, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da 
vida e da Cidade Santa, descritas neste livro”. 
 
 Assim, também já estamos apresentando que este verso da Revelação dada 
ao apóstolo João não se aplica unicamente para o seu livro, mas para toda a Escritura 
devido ela ser verdadeiramente também a Palavra de Deus da mesma forma que 
Apocalipse se é. E isto não sou eu que afirmo como inovação, mas o próprio 
Tertuliano, no final do segundo século, já acreditava e afirmava minhas declarações, 
mostrando que não é uma crença nova, mas já existia no meio cristão primitivo. 
 
“[...]E se Ele fosse Aquele que foi coroado com glória e honra, e 
Aquele Outro por quem Ele foi coroado -o Filho, de fato, pelo 
Pai? Além disso, como acontece que o Deus Todo-Poderoso 
Invisível, a quem nenhum homem viu nem pode ver; Aquele que 
habita na luz inacessível (1 Timóteo 6:16); Aquele que não 
habita em templos feitos por mãos (Atos 17:24); diante de cuja 
vista a terra estremece, e os montes derretem como cera; que 
segura o mundo inteiro em suas mãos como um ninho (Isaías 
10:14); cujo trono é o céu, e a terra o escabelo de seus pés 
(Isaías 66:1) em quem está em todo lugar, mas ele mesmo não 
está em lugar algum; quem é o limite máximo do universo – 
como acontece, eu digo, que Ele (que, embora) o Altíssimo, 
ainda deveria ter caminhado no paraíso em direção ao frescor 
da noite, em busca de Adão; e deveria ter fechado a arca depois 
que Noé entrou nela; e na casa de Abraão a tenda deveria ter se 
refrescado sob um carvalho; e da sarça ardente clamaram a 
Moisés ; e ter aparecido como o quarto na fornalha do monarca 
 
 
 
 
 
 
110 
babilônico (embora Ele seja ali chamado de Filho do homem)— 
a menos que todos esses eventos tivessem acontecido como 
uma imagem, como um espelho, como um enigma (da futura 
encarnação)? Certamente mesmo estas coisas não poderiam ter 
sido cridas nem mesmo pelo Filho de Deus, a menos que nos 
tivessem sido dadas nas Escrituras; possivelmente também eles 
não poderiam ter sido acreditados pelo Pai, mesmo que 
tivessem sido dados nas Escrituras, uma vez que esses homens 
O levaram ao ventre de Maria, e O colocaram diante do tribunal 
de Pilatos, e O enterraram no sepulcro de José”.74 
 
 Aqui vemos que Tertuliano é mais ousado ainda, e afirma que se nada destas 
coisas sobre o Pai e sobre o Filho estivessem escritas nas Escrituras, ele não creria. 
Ou seja, se as histórias do Antigo Testamento, caso não estivessem escritas, não 
seriam de confiança nenhuma para nós, conforme diz o autor. 
 
Orígenes (185-232 d.C): 
 
“Mas como não basta, na discussão de assuntos de tamanha 
importância, confiar a decisão aos sentidos humanos e ao 
entendimento humano, e pronunciar-se sobre as coisas 
invisíveis como se fossem vistas por nós, devemos, em para 
estabelecer as posições que estabelecemos, apresente o 
testemunho da Sagrada Escritura. E para que este testemunho 
possa produzir uma crença segura e inabalável, seja no que 
ainda temos a avançar, seja no que já foi afirmado, parece 
necessário mostrar, em primeiro lugar, que as próprias 
Escrituras são divinas, isto é, foram inspirados pelo 
Espírito de Deus. Devemos, portanto, com toda a brevidade 
possível extrair das próprias Sagradas Escrituras, evidências 
 
74 CARTAGO, Tertuliano. Contra Práxeas, cap. 16. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/0317.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/0317.htm
 
 
 
 
 
 
111 
sobre este ponto que possam produzir em nós uma impressão 
adequada (fazendo nossas citações) de Moisés, o primeiro 
legislador da nação hebraica, e das palavras de Jesus Cristo, o 
Autor e Chefe do sistema religioso cristão".75 
 
 Partiremos, então, para Orígenes, um grande teólogo de Alexandria do terceiro 
século. Em sua obra “De Principiis”, ele nos diz que não devemos confiar no 
entendimento dos homens, mas sim no que a Escritura diz, para que então possamos 
ter uma crença inabalável. Veja que Orígenes não coloca a tradição ou a igreja como 
infalíveis por si, mas sim a Escritura. Podemos então tirar de proveito que Orígenes, 
ao que vemos, tinha a Escritura como a única base de fé infalível por si. 
 
Cipriano de Cartago (?-258 d.C): 
 
"[...]Pois, tomando o cálice na véspera de Sua paixão, Ele o 
abençoou e o deu a Seus discípulos, dizendo: 'Bebam todos 
disto; porque este é o meu sangue do Novo Testamento, que 
será derramado por muitos, para a remissão dos pecados. Eu 
vos digo que não beberei mais deste fruto da videira, até aquele 
dia em que beberei vinho novo convosco no reino de meu Pai' 
(Mateus 26:28-29). Em que porção encontramos 
que o cálice que o Senhor ofereceu foi misturado, e que era 
vinho que Ele chamou de Seu sangue. Donde parece que o 
sangue de Cristo não é oferecido se não houver vinho no cálice, 
nem o sacrifício do Senhor celebrado com uma consagração 
legítima, a menos que nossa oblação e sacrifício respondam à 
Sua paixão. Mascomo beberemos o vinho novo do fruto da 
videira com Cristo no reino de Seu Pai, se no sacrifício de Deus 
Pai e de Cristo não oferecemos vinho, nem misturamos o cálice 
do Senhor pela própria tradição do Senhor?".76 
 
75 ORÍGENES. De Principiis, Livro IV, 1. Disponível em: https://newadvent.org/fathers/04124.htm 
76 CARTAGO, Cipriano. Epistola 62,9. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/050662 
https://newadvent.org/fathers/04124.htm
https://www.newadvent.org/fathers/050662
 
 
 
 
 
 
112 
 Partindo para Cipriano de Cartago, veja que ele diz que a Ceia do Senhor é 
uma tradição. No entanto, quando partimos para Escrituras, vemos que ela está 
registrada em Mateus, Marcos e Lucas. O que isso nos prova? Isso nos prova que 
Cipriano tinha por tradição o que já estava escrito e que nenhuma tradição é algo 
diferente do que está escrito. Tome Paulo como exemplo disso (I Coríntios 11:23-25). 
 
 
"Nem propomos isso, querido irmão, sem a autoridade das 
Escrituras divinas, quando dizemos que todas as coisas são 
organizadas pela direção divina, por uma certa lei e por 
ordenança especial, e que ninguém pode usurpar para si 
mesmo, em oposição ao bispos e padres, tudo o que não seja 
de seu direito e poder[...]".77 
 
 Cipriano, embora a posição dele não seja correta78, não entrarei no mérito de 
discutir isso, mas sim que ele tomou as Escrituras por sua autoridade de fala sobre 
uma questão importante da fé que nesse caso era o batismo. Antes que haja uma 
desqualificação dessa citação, o ponto que eu procuro defender é que ele cria na 
Escritura como autoridade de fé infalível, não sobre o que ele defendeu. 
 
“[...]Assim, nas Sagradas Escrituras, pelas quais o Senhor 
desejava que fôssemos instruídos e admoestados, a cidade 
prostituta é descrita mais lindamente vestida e adornada, e com 
seus ornamentos; e antes por causa desses mesmos 
ornamentos prestes a perecer[...]”.79 
 
 Para contextualizar, Cipriano está falando que não devemos seguir o amor a 
riqueza e que as mulheres vaidosas são como a prostituta de Apocalipse 17, mas que 
 
77 CARTAGO, Cipriano. Epístola 72,8. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/050672.htm>. 
78 A posição de Cipriano, em resumo, era que o batismo feito por hereges não era válido. 
 
79 CARTAGO, Cipriano. Tratado II, 12. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/050702.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/050672.htm
https://www.newadvent.org/fathers/050702.htm
 
 
 
 
 
 
113 
as moças modestas eram o contrário disso. Nesta citação podemos tirar de proveito 
que Cipriano nos diz que Deus quis que fôssemos instruídos pelas Escrituras. Ora, 
conforme o contexto, Cipriano nos diz que a Escritura é a nossa fonte de instrução de 
modéstia e, pelo visto, também moral. Se assim for, Cipriano, embora de forma 
indireta, nos diz que as Escrituras são as instruções para não sermos imorais, ou seja, 
pecadores em ato, assim então, se nós tivermos uma boa conduta para alimentar 
nossa fé salvífica e também o nosso galardão, iremos ter a vida eterna. Portanto, 
Cipriano, de forma indireta, diz que a Escritura é a nossa instrução para a salvação. 
 
"Cipriano a seu filho Quirino, saudações. Era necessário, meu 
amado filho, que eu obedecesse ao seu desejo espiritual, que 
pedia com a mais urgente petição aqueles ensinamentos divinos 
com os quais o Senhor condescendeu em nos ensinar e instruir 
pelas Sagradas Escrituras, para que, sendo levados para longe 
das trevas do erro e iluminados por Sua luz pura e brilhante, 
possamos manter o caminho da vida através dos sacramentos 
salvadores[...]".80 
 
 Veja, agora, que Cipriano afirma que Deus quis e consentiu em que nós 
fossemos instruídos pelas Escrituras. Isso pode endossar para nós a suficiência dela, 
mostrando que há todo material necessário para a nossa salvação. 
 
"O segundo livro também contém o sacramento de Cristo, que 
Ele veio, que foi anunciado de acordo com as Escrituras, e fez e 
aperfeiçoou todas aquelas coisas pelas quais Ele foi predito 
como sendo capaz de ser percebido e conhecido. E essas coisas 
podem ser de vantagem para você enquanto isso, enquanto 
você lê, para formar os primeiros lineamentos de sua fé. Mais 
força lhe será dada, e a inteligência do coração será efetuada 
mais e mais, à medida que você examinar mais completamente 
 
80 CARTAGO, Cipriano. Tratado XII, Livro I. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/050712a.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/050712a.htm
 
 
 
 
 
 
114 
as Escrituras, antigas e novas, e ler os volumes completos dos 
livros espirituais. Pois agora enchemos uma pequena medida 
das fontes divinas, que, enquanto isso, enviaríamos a você. 
Você poderá beber mais abundantemente e ficar mais 
abundantemente satisfeito, se também se aproximar para beber 
junto conosco nas mesmas fontes da plenitude divina[...]".81 
 
 
 Ainda na mesma parte da citação anterior, Cipriano diz que, caso Quirino fosse 
ler as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, ele seria abundantemente satisfeito 
se beber nas mesmas fontes da plenitude divina. Perceba, portanto, que Cipriano nos 
diz que Querino ficará satisfeito. 
 O que isso significa? Significa que Cipriano deixa brecha para falar que a 
Escritura é suficiente. Perceba também que ele diz que Querino não deve ler as 
Escrituras só no início de sua fé, mas sempre. Portanto, Cipriano nos diz as seguintes 
coisas: 1) A tradição foi escrita; 2) A Escritura deve estar sempre na vida do cristão; 
3) A Escritura possui suficiência; 4) A Escritura são as fontes da plenitude divina. 
 
Cirilo de Jerusalém (315-386 d.C): 
 
 Cirilo de Jerusalém possui uma grande quantidade de escritos em suas 
palestras catequéticas, e, dentre todas elas, citarei 5 falas do bem-aventurado Cirilo. 
 
"[...]Nem aquele que é batizado com água, mas não é 
considerado digno do Espírito, recebe a graça em perfeição; 
nem se um homem for virtuoso em suas ações, mas não receber 
o selo pela água, ele entrará no reino dos céus. Uma afirmação 
ousada, mas não minha, pois foi Jesus quem a declarou: e aqui 
está a prova da afirmação da Sagrada Escritura[...]".82 
 
81 CARTAGO, Cipriano. Tratado XII, Livro I. Disponível em: https://newadvent.org/fathers/050712a.htm 
82 JERUSALÉM, Cirilo. Palestras catequéticas, Aula Catequética III, 4. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/310103 
https://newadvent.org/fathers/050712a.htm
https://www.newadvent.org/fathers/310103
 
 
 
 
 
 
115 
 Neste trecho, Cirilo está falando sobre a regeneração batismal, e ele afirma 
com total certeza de que quem faz boas ações, mas não é batizado, não entrará no 
reino dos céus. Perceba que ele, já prevendo que o questionaram sobre esta ousada 
afirmação, ele se previne e recorre às Escrituras que registram as falas do Senhor que 
confirma esta afirmação: quem não for batizado, não será salvo. 
 
"Mas se alguém quiser saber por que a graça é dada pela água 
e não por um elemento diferente, tome as Escrituras Divinas e 
aprenderá[...]".83 
 
 Ainda no contexto de regeneração batismal, vemos que, novamente, Cirilo 
prevendo que haveria questionamentos sobre as suas afirmações, ele diz para os 
seus leitores e ouvintes irem para as Escrituras, pois elas dão testemunho destas 
coisas. Imagino eu que se ele diz para fazermos isso, então é provável que isso esteja 
explícito, assim como as demais doutrinas principais da fé cristã em sua catolicidade. 
 
"Você já tem em mente este selo, que no momento foi tocado 
levemente em meu discurso, a título de resumo, mas será 
declarado, se o Senhor permitir, com o melhor de meu poder, 
com a prova das Escrituras. Pois no que diz respeito aos divinose santos mistérios da Fé, nem mesmo uma declaração casual 
deve ser feita sem as 
Sagradas Escrituras; nem devemos ser desviados pela mera 
plausibilidade e artifícios de discurso. Mesmo a mim, que te digo 
estas coisas, não dês crédito absoluto, a menos que recebas a 
prova das coisas que anuncio nas Escrituras Divinas. Pois esta 
salvação em que acreditamos não depende de raciocínios 
engenhosos, mas da demonstração das Sagradas Escrituras”.84 
 
83 JERUSALÉM, Cirilo. Palestras catequéticas, Aula Catequética III, 5. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/310103.htm>. 
84 JERUSALÉM, Cirilo. Palestras Catequéticas, Aula Catequética III, 5. Disponível em: 
https://www.new.advent.org/fathers/310104 
https://www.newadvent.org/fathers/310103.htm
https://www.new.advent.org/fathers/310104
 
 
 
 
 
 
116 
 Imagino eu que nem devo falar muito, pois as falas de Cirilo são explícitas ao 
dizer que tudo a respeito da nossa fé deve estar nas Escrituras e, caso queiram afirmar 
algo, necessitamos da demonstração pelas Escrituras. 
 
"[...]Portanto, por enquanto, ouça enquanto eu simplesmente 
digo o Credo e guarde-o na memória; mas no momento 
apropriado espere a confirmação da Sagrada Escritura de cada 
parte do conteúdo. Pois os artigos da Fé não foram compostos 
como parecia bom aos homens; mas os pontos mais importantes 
coletados de todas as Escrituras constituem um ensino completo 
da Fé. E assim como a semente de mostarda em um pequeno 
grão contém muitos ramos, também esta Fé abraçou em poucas 
palavras todo o conhecimento da piedade no Antigo e no Novo 
Testamento. Prestem atenção então, irmãos, e mantenham 
firmes as tradições que vocês agora recebem, e escrevam-nas 
na mesa do seu coração".85 
 
 Novamente, Cirilo manda-nos verificar as Escrituras quando o assunto é sobre 
as verdades de fé, pois, como mostrado na última citação, as Escrituras Divinas são 
a nossa única base dogmática e, juntando a esta citação que acabamos de fazer, 
todas as verdades importantes de fé foram retiradas das Escrituras. 
 
"[...]Diga-me primeiro, ó homem mais ousado, em que o Trono 
difere do Domínio, e então examine o que pertence a Cristo. 
Diga-me o que é um Principado, e o que é um Poder, e o que é 
uma Virtude, e o que é um Anjo: e então procure o seu Criador, 
pois todas as coisas foram feitas por Ele (João 1:3). Mas você 
não vai, ou você não pode pedir Tronos ou Domínios. O que 
mais existe que conhece as coisas profundas de Deus (1 
Coríntios 2:10-11), exceto apenas o Espírito Santo, que falou as 
 
85 JERUSALÉM, Cirilo. Palestras Catequéticas, Aula Catequética V, 12. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/310105.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/310105.htm
 
 
 
 
 
 
117 
Escrituras Divinas? Mas nem mesmo o próprio Espírito Santo 
falou nas Escrituras a respeito da geração do Filho a partir do 
Pai. Por que então você se ocupa com coisas que nem mesmo 
o Espírito Santo escreveu nas Escrituras? Tu, que não conheces 
as coisas que estão escritas, estás ocupado com as coisas que 
não estão escritas? Há muitas questões nas Escrituras Divinas; 
o que está escrito não compreendemos, por que nos ocupamos 
com o que não está escrito? É suficiente para nós sabermos que 
Deus gerou um único Filho".86 
 
 Pela terceira vez, não há muito o que falar. Cirilo mostra que se não estiver na 
Escritura, ele não ousará falar a respeito. Ele deixa isso explícito. Basta ler com 
atenção. 
 Portanto, em Cirilo, podemos ver que ele prova a suficiência dogmática da 
Escritura, que não devemos confiar no que não está escrito nela, e que a tradição oral 
é a interpretação das Escrituras, e não uma fonte de doutrinas, como afirmam os 
adeptos do tripé. 
 
Atanásio de Alexandria (296-373 d.C): 
 
"[...] Mas como a Sagrada Escritura é, de todas as coisas, a mais 
suficiente para nós, recomendando, portanto, àqueles que 
desejam saber mais sobre esses assuntos, que leiam a Palavra 
Divina, apresso-me agora em colocar diante de vocês aquilo que 
mais chama a atenção, e por causa de que principalmente 
escrevi estas coisas".87 
 
 
86 JERUSALÉM, Cirilo. Palestras Catequéticas, Aula XI, 12. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/310111.htm 
87 ALEXANDRIA, Atanásio. Ad Episcopus Aegypti et Libyae, cap. 1,4. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/2812.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/310111.htm
https://www.newadvent.org/fathers/2812.htm
 
 
 
 
 
 
118 
 Chegando no ilustre bispo de Alexandria, em uma de suas obras contra os 
arianos, ele nos diz que a Escritura é suficiente para nós. Portanto, vemos que 
Atanásio também cria que existia uma suficiência nas Escrituras. 
 
 
"O conhecimento de nossa religião e da verdade das coisas é 
manifestado de forma independente, e não necessita de 
professores humanos, pois quase dia após dia ele se afirma por 
meio de fatos e se manifesta mais brilhante que o sol pela 
doutrina de Cristo. 2. Mesmo assim, como você deseja ouvir 
sobre isso, Macário, venha, deixe-nos expor alguns pontos da fé 
de Cristo: embora você seja capaz de descobri-lo nos oráculos 
divinos, mas ainda assim generosamente desejando ouvir os 
outros também. 3. Pois embora as Escrituras sagradas e 
inspiradas sejam suficientes para declarar a verdade -embora 
existam outras obras de nossos abençoados professores 
compiladas para este propósito, se ele encontrar com o qual um 
homem ganhará algum conhecimento da interpretação das 
Escrituras, e será capaz de aprender o que deseja saber- ainda 
assim, como não temos atualmente em mãos as redações de 
nossos professores, devemos comunicar-vos por escrito o que 
aprendemos deles a fé, a saber, de Cristo Salvador; para que 
ninguém menospreze a doutrina ensinada entre nós, ou pense 
na fé em Cristo [seja] irracional [...]".88 
 
 Agora em “Contra os Pagãos”, Atanásio reconhece que os seus antecessores 
também possuem a autoridade de ensinar sobre a fé cristã. No entanto, veja que ele 
diz que esse ensino é a interpretação da Escritura (o que colabora para a sola 
scriptura), e que, pela lógica, estes mesmos antecessores necessitavam das 
Escrituras para ensinar. Mas o mais interessante é que Atanásio diz de forma rápida 
 
88 ALEXANDRIA, Atanásio. Contra os Pagãos, Parte 1,1-3. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/2801.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/2801.htm
 
 
 
 
 
 
119 
e clara que as Escrituras são suficientes para declarar a verdade. Ora, o que mais 
seriam estas verdades, senão as verdades de fé? Podemos, portanto, ver que 
Atanásio, novamente, acreditava numa suficiência das Escrituras, e se elas são 
suficientes para declarar a verdade, conforme ele o diz, então vemos que a sola 
scriptura só se torna mais e mais evidente nos pais. 
 
 
Jerônimo (340-420 d.C): 
 
 Admito que não estava pensando em colocar Jerônimo. No entanto, vi que ele 
também é de grande proveito para nossa demonstração. Portanto, a data de acesso 
a ele esta posterior ao dia 23 de junho. 
 
"[...]Se os Montanistas responderem que as quatro filhas de 
Filipe profetizaram (Atos 21:9) em uma data posterior, e que um 
profeta é mencionado chamado Ágabo, e que na divisão do 
espírito, os profetas são mencionados, bem como os apóstolos, 
professores e outros, e que o próprio Paulo profetizou muitas 
coisas a respeito de heresias ainda futuras e do fim do mundo; 
dizemos-lhes que não rejeitamos tanto a profecia -pois isso é 
atestado pela paixão do Senhor- mas recusamos receber 
profetas cujas declarações não estão de acordo com as 
Escrituras antigas e novas".89 
 
 Veja que Jerônimo diz que não nega a profecia, mas nega toda profecia que 
não está de acordo com asEscrituras do Antigo e Novo Testamento, o que nos mostra 
que Jerônimo nos dá a entender que as Escrituras são a base pela qual devemos usar 
para julgar as profecias. Normalmente, se há uma profecia, tem doutrina no meio. Digo 
isso pois toda profecia pode ser base para uma heresia, como a teologia da 
prosperidade na qual ensina que Deus profetiza somente bênçãos por meio das 
 
89 Jerônimo. Carta 41, 2. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/3001041.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/3001041.htm
 
 
 
 
 
 
120 
pessoas. Portanto, por uma consequência lógica, podemos dizer que Jerônimo nos 
diz que a Escritura é o que julga as doutrinas que poderão vir, mas em especial por 
ditas “profecias” que os ímpios fazem, assim tomando em vão o nome de Deus. 
 
“[...]Falo como cristão aos cristãos: acredite naquele que o 
provou. Suas doutrinas são venenosas, são desconhecidas das 
Sagradas Escrituras e, mais ainda, violentam-nas[...]”90 
 
 Para contextualizar, Jerônimo está falando que ele não apoia as doutrinas 
heréticas de Orígenes, pois elas são contra a Escritura. Podemos tirar proveito disso 
mostrando que Jerônimo tinha a Escritura como quem julga as doutrinas. Se a citação 
antes dessa não foi convincente ou clara, essa citação agora sim mostra de forma 
clara. 
 Antes de continuarmos, sei que eu disse que usaria citações da New Advent, 
mas, devido essas obras não estarem na New Advent, deixarei apenas a citação sem 
um link como fiz nas demais. E foram exatamente essas citações que me 
convenceram a colocar Jerônimo neste nosso livro. 
 
"Mas também todas aquelas coisas que inventam e fabricam 
espontaneamente, como se fossem tradição apostólica, sem a 
autoridade e os testemunhos das Escrituras, são feridas pela 
espada de Deus[...]”.91 
 
 Aqui vemos uma coisa clara sobre as tradições e a Escritura. Jerônimo 
argumenta que se alguém inventa uma tradição e a introduz como apostólica, mas 
não possuem o testemunho das Escrituras a favor delas, elas são feridas pela espada 
de Deus. Jerônimo que era um grande apreciador da sua Sé romana, de fato, estaria 
decepcionado ao ver que ela se perverteu e criou tais tradições conflitantes que não 
possuem o testemunho da Escritura, mas parte de uma deturpação dela. Que 
tradições? Algumas delas que eu poderei falar -nas quais também abordei neste livro- 
 
90 Jerônimo. Carta 84, 3. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/3001084.htm 
91 Jerônimo. Comentário sobre o livro de Ageu 1:42 
https://www.newadvent.org/fathers/3001084.htm
 
 
 
 
 
 
121 
é a assunção de Maria, transubstanciação, imaculada conceição, purgatório, papado 
e etc. 
 
"Esta narrativa é de enorme benefício para os Gálatas porque 
relata como Paulo, outrora um flagelo da igreja e um defensor 
apaixonado do Judaísmo, de repente veio a acreditar em Cristo 
em um momento em que o crucificado estava sendo pregado 
pela primeira vez e o novo ensinamento era contestado tanto por 
judeus quanto por gentios em muitos setores ao redor do mundo. 
Paulo havia sido doutrinado pelos fariseus desde jovem e havia 
superado todos os seus contemporâneos na tradição judaica, 
mas agora defende a mesma igreja que costumava perseguir 
com fúria, e prefere a graça e a novidade oferecidas por Cristo 
(mesmo que isso signifique ser odiado por todos) à velha Lei e 
ao louvor popular. Quando confrontados com alguém assim, os 
gálatas poderiam perguntar: O que devemos fazer nós, 
convertidos gentios ao cristianismo? Paulo estrategicamente 
insere a frase "Eu persegui a igreja de Deus além da medida" 
para inspirar admiração por sua experiência de conversão, 
enfatizando que ele não havia sido um perseguidor casual da 
igreja, mas que havia superado todos os outros em seus 
esforços. E, no meio de relatar outras coisas, ele astutamente 
sugere que havia observado não tanto a Lei de Deus, mas as 
tradições de seus antepassados, os fariseus, que ensinam as 
doutrinas e mandamentos dos homens e rejeitam a Lei de Deus 
em favor de estabelecer suas próprias tradições”.92 
 
 Por fim, esta citação, embora seja se referindo às tradições dos fariseus, ela 
também nos mostra que entre uma tradição ou a Lei de Deus (que é a Escritura), a 
Lei de Deus prevalece sobre a tradição. Por qual motivo? Pelo simples fato de que 
 
92 Jerônimo. Comentário sobre Gálatas 1.13-14 
 
 
 
 
 
 
122 
temos consenso que as Escrituras são a Palavra de Deus escrita, e, se assim elas 
são, devemos depositar toda nossa confiança nela para que então caso apareça uma 
tradição estranha possamos respondê-la à luz da revelação divina. 
 
Agostinho de Hipona (354-430 d.C): 
 
"[...]Agora, quem é que se submete às Escrituras divinas, exceto 
aquele que as lê ou ouve piedosamente, submetendo-se a elas 
como autoridade suprema[...]".93 
 
 Partindo para o ilustre Agostinho, veja que ele diz que a Escritura é a autoridade 
suprema. Ora, se Agostinho pensa assim, ele poderia estar ao menos com uma prima 
scriptura na cabeça, mas não é isso que ele nos dirá na sua próxima fala: 
 
“[...]Crê também nas Sagradas Escrituras, antigas e novas, que 
chamamos de canônicas, e que são a fonte da fé pela qual vive 
o justo (Habacuque 2:4) e pela qual caminhamos sem duvidar 
enquanto estamos ausentes do Senhor (2 Coríntios 5:6)[...]”.94 
 
 
 Agora, em uma de suas maiores obras, Agostinho nos diz que as Escrituras 
são a fonte da fé pela qual o justo vive e que confiamos e caminhamos sem duvidar. 
Embora não pareça tão explícito, o bem-aventurado Agostinho diz que as Escrituras 
são a fonte da fé, e, portanto, pela razão simples, podemos chegar até a conclusão 
que ele está dizendo que as Escrituras possuem tudo o suficiente para crermos na 
nossa fé salvífica. 
 
 
93 HIPONA, Agostinho. No Sermão da Montanha, Livro I, cap. 11,32. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/16011.htm>. 
94 HIPONA, Agostinho. No Sermão da Montanha, Livro I, cap. 11,32. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/16011.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/16011.htm
https://www.newadvent.org/fathers/16011.htm
 
 
 
 
 
 
123 
"[...]Quem sabe que nasceu, ouça que é criança; deixe-o 
agarrar-se ansiosamente aos seios de sua mãe, e ele crescerá 
rapidamente. Agora a sua mãe é a Igreja; e os seus seios são 
os dois Testamentos das Escrituras Divinas. Portanto, que ele 
chupe o leite de todas as coisas que, como sinais de verdades 
espirituais, foram feitas a tempo para nossa salvação eterna, 
para que, sendo nutrido e fortalecido, ele possa alcançar o 
consumo de carne sólida, que é: 'No princípio era o Verbo, e a 
Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus' (João 1:1). 
Nosso leite é Cristo em Sua humildade; nossa comida, o mesmo 
Cristo igual ao Pai. Com leite Ele te nutre, para que te alimente 
com pão: pois com o coração tocar espiritualmente em Cristo é 
saber que Ele é igual ao Pai".95 
 
 
 Agora em sua homilia sobre a primeira epístola de João, veja que ele diz que 
temos a igreja por mãe e que somos como crianças que recebem o leite materno dela, 
que são o Antigo e Novo Testamento, na qual que então foram feitos a tempo para 
nossa salvação que contém todas as coisas para nossa salvação eterna, como sinais 
de verdades espirituais. Portanto, veja, novamente Agostinho diz que as Escrituras 
são suficientes para nossa salvação. 
 Para finalizarmos em Agostinho, veja, novamente, que Agostinho diz que a 
Escritura é suficiente para afirmar as verdades centrais de fé: 
 
"[...]Estas palavras que você ouviu estão espalhadas nas 
Escrituras Divinas: mas daí reunidas e reduzidas em uma, para 
que a memória das pessoas lentas não seja perturbada; para95 HIPONA, Agostinho. Homilia 3 sobre a Primeira Epístola de João, 1. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/170203.htm 
 
https://www.newadvent.org/fathers/170203.htm
 
 
 
 
 
 
124 
que cada pessoa seja capaz de dizer, capaz de sustentar aquilo 
em que acredita[...]".96 
 
 Agora, em um sermão aos catecúmenos sobre o Credo, o bispo diz que toda a 
estrutura do Credo está nas Escrituras, mostrando assim que ela (a Escritura) é 
suficiente para as verdades de fé. E para provarmos que Agostinho está certo sobre, 
aqui está a prova viva: 
 
● Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra (I Cor 8:6; Dt 32:6; Gn 
1:1; Cl 1:16). 
● E em Jesus Cristo seu Único Filho, nosso Senhor (Jo 3:16; Jo 1:18; I Cor 8:6). 
● Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria (Mt 1:18; Lc 
1:26-35; Is 7:14) 
● Padeceu sob pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado (Jo 19:16; Mt 27:35; 
Lc 23:33; Jo 19:32-33; Mt 27:59-60). 
● Desceu a mansão dos mortos (I Pe 3:18-20). 
● Ressuscitou ao terceiro dia (Mt 12:39-40; At 1:3; Lc 24:5-8). 
● Subiu aos céus e está sentado a direita de Deus Pai Todo-Poderoso (Mc 16:19; Lc 
24:50-53; Rm 8:34). 
● Donde há de vir e julgar os vivos e os mortos (Mt 25:31-33; At 17:31; Dn 12:2-3; Ap 
20:11-15). 
● Creio no Espírito santo (Jo 14:16-26; Ef 4:30; At 2:1-5). 
● Na Santa igreja Católica (Rm 12:4-5; At 2:46-47; Ef 2:19-20). 
● Na comunhão dos santos (Jo 17:21; Hb 12:1). 
● Na remissão dos pecados (At 2:38; Ef 4:5; Ef 1:7). 
● Na ressurreição da carne e na vida eterna (I Cor 6:14; Jo 5:28-29; Ap 20:6). 
 
96 HIPONA, Agostinho. Um Sermão aos Catecúmenos Sobre o Credo, parágrafo 1. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/1307.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/1307.htm
 
 
 
 
 
 
125 
 Mostramos, portanto, que nem Agostinho e nem nós nos enganamos em 
afirmar que toda a Escritura é suficiente para os pontos centrais da fé, que é o que o 
Credo Niceno diz. Partiremos, portanto, para a última fala de Agostinho, na qual é uma 
das minhas favoritas dentre todas que ele já falou: 
 
"[...]Em suma, Abraão não enviou Lázaro, e também respondeu 
que eles têm aqui Moisés e os Profetas, a quem deveriam ouvir 
para que não chegassem a esses tormentos. Onde novamente 
ocorre perguntar, como foi que o que estava acontecendo aqui, 
o próprio pai Abraão não sabia, embora soubesse que Moisés e 
os Profetas estão aqui, isto é, seus livros, obedecendo a quais 
homens deveriam escapar dos tormentos do inferno: e sabia, em 
suma, que aquele homem rico viveu em delícias, mas o pobre 
Lázaro viveu em trabalhos e tristezas? Por isso também ele lhe 
diz: 'Filho, lembre-se de que você em sua vida recebeu coisas 
boas, mas Lázaro recebeu coisas más'. Ele sabia então essas 
coisas que aconteceram, é claro, entre os vivos, não entre os 
mortos. É verdade, mas pode ser que, não enquanto as coisas 
estavam acontecendo durante sua vida, mas após sua morte, 
ele aprendeu estas coisas, por informação de Lázaro: que não é 
falso o que o Profeta diz: 'Abraão não nos conheceu'". 
 
 Veja que Agostinho diz que Abraão não conhecia o que ocorria no mundo dos 
vivos, mas recebeu tal informação de Lázaro. Também nos é dito que Abraão disse 
ao rico que os vivos (se referindo aos irmãos do rico) possuíam Moisés e os profetas, 
mas que isso se referia aos livros escritos por eles, e não suas pessoas. Após isso, 
ele também diz que deveria ser seguido estes livros para serem livrados do inferno. 
Portanto, por uma consequência lógica, Abraão diz que as Escrituras são o suficiente 
para a salvação eterna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
126 
João Crisóstomo (347-407 d.C); 
 
“Grande é o lucro das Escrituras divinas, e todo suficiente é a 
ajuda que delas provém[...]”.97 
 
 Voltando aos pais orientais, citei João Crisóstomo que, em uma de suas 
homilias sobre o evangelho de João, ele diz que a Escritura é suficiente para nos 
ajudar. Que suficiência é essa? É a suficiência moral que combate os nossos pecados, 
conforme o contexto. No entanto, se possuímos uma boa moral, ou seja, seguimos os 
mandamentos divinos e rejeitamos o pecado, chegaremos até a vida eterna. Ou seja, 
de certa forma, Crisóstomo diz que a Escritura é suficiente no que diz respeito à vida 
cristã para santificação. 
 
"'Para doutrina'. Pois dali saberemos se devemos aprender ou 
ser ignorantes de alguma coisa. E dali podemos refutar o que é 
falso, dali podemos ser corrigidos e trazidos a uma mente 
correta, podemos ser confortados e consolados, e se alguma 
coisa estiver deficiente, podemos tê-la acrescentada a nós. 'Que 
o homem de Deus seja perfeito'. Pois esta é a exortação da 
Escritura dada, que o homem de Deus seja tornado perfeito por 
ela; sem isto, portanto, ele não pode ser perfeito. Você tem as 
Escrituras, ele diz, no lugar de mim. Se você quiser aprender 
alguma coisa, você pode aprender com elas. E se ele assim 
escreveu a Timóteo, que estava cheio do Espírito, quanto mais 
a nós!".98 
 
 Agora em sua homilia sobre II Timóteo, veja que Crisóstomo, comentando 
sobre II Timóteo 3:16, nos diz que é das Escrituras, ou seja, pelo seu julgamento, que 
 
97 CRISÓSTOMO, João. Homília 37 sobre o Evangelho de João, João 5:6-7. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/240137.htm 
98 CRISÓSTOMO, João. Homília 9 Sobre Segunda Timóteo. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/230709.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/240137.htm
https://www.newadvent.org/fathers/230709.htm
 
 
 
 
 
 
127 
deveríamos saber se algo é ou não herético, e ele acrescenta que a Escritura 
consegue refutar as heresias. Ora, se ela consegue refutar as heresias, então, 
portanto, Crisóstomo, de maneira implícita, nos diz que a Escritura é suficiente 
materialmente. E ele ainda continua nos dizendo que não há como o homem de Deus 
ser perfeito sem as Escrituras. E ele acrescenta dizendo que devemos aprender com 
elas. Portanto, Crisóstomo nos dá não só uma suficiência das Escrituras, mas também 
que ela é a nossa juíza na doutrina. 
 
João Damasceno (675-749 d.C): 
 
"[...]E a Sagrada Escritura é testemunha disso e de todo o coro 
dos Santos".99 
 
 Para encerrarmos a lista dos pais da Igreja, citei João Damasceno, no qual diz 
que a Sagrada Escritura é testemunha de todas estas coisas. Mas do que 
especificamente? Em resumo, basicamente Damasceno nos cita todo o Credo e mais 
algumas coisas envolvendo a cristologia ortodoxa e diz que a Escritura nos mostra 
todas estas coisas. Portanto, veja que João nos diz de forma explícita que todo o 
ensino necessário para a salvação do homem está contido nas Escrituras. 
 
Conclusão: 
 
Portanto, podemos concluir que desde o princípio apostólico, do Oriente ao Ocidente, 
não em uma só época, mas ao longo de oito séculos a sola scriptura -ou ao menos 
seu conceito- foi ensinada pelos santos padres. Afirmo isso pois nós vimos que os 
pais acreditam a suficiência material e formal das Escrituras, não só em vida moral 
cristã, mas também em doutrina. Portanto, sejamos honestos e vamos admitir que 
esta doutrina é consenso nos pais. 
 
 
 
99 DAMASCENO, João. Exposição da Fé Ortodoxa, Livro I, cap 2. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/33041.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/33041.htm
 
 
 
 
 
 
128 
Respondendo 10 objeções: 
 
 Agora iremos responder 10 objeções sobre a sola scriptura feitas por um site 
apologético brasileiro, no qual propôs um artigo com 10 objeções sobre.100 
 
Introdução: 
 
 Com a introdução nem perderei meu tempo, pois ele afirma que a sola scriptura 
nega que a igreja foi estabelecida por Cristo como intérprete da Escritura e que não 
há nenhuma interpretação oficial da Escritura, senão a própria Escritura. Contudo,como falamos no início deste capítulo, a sola scriptura (ao menos que é adotada pelos 
luteranos e alguns reformados) ensina que a igreja e o consenso dela é o que 
interpreta de forma infalível as Escrituras. Se alguém que se diz sola scriptura, mas 
nega que as Escrituras são interpretadas pelo consenso da igreja e pelo consenso 
dos pais, seja, portanto, anátema. 
 
Objeção um: 
 
 A primeira objeção é que os apóstolos apenas queriam pregar verbalmente o 
evangelho, e que, portanto, o ensino oral se torna superior ao que está escrito ou até 
mesmo se torna uma fonte distinta. Eles até mesmo dizem que Cristo nunca mandou 
os apóstolos escreverem ou apenas ler algo. No entanto, eles se enganam a partir do 
momento que Jesus mandou João escrever a visão do Apocalipse (Apocalipse 1:19), 
por exemplo. Em seguida, eles citam alguns textos para dizer que a tradição como 
norma de autoridade e até como palavra de Deus. Imagino eu que nem precisarei 
comentar, visto que eu usei a tradição como intérprete da Escritura para afirmar sua 
epistemologia para que, por consequência, provar a sola scriptura. Isso fora as 
interpretações da Escritura que temos hoje que são aceitas por grande parte dos 
protestantes. Como os anjos de Gênesis 18-19 ser a Trindade, uma interpretação que 
provém da tradição. 
 
100 Link do artigo com as 10 objeções: 
https://www.veritatis.com.br/10-objecoes-obvias-contra-a-sola-scriptura/. 
https://www.veritatis.com.br/10-objecoes-obvias-contra-a-sola-scriptura/
 
 
 
 
 
 
129 
 Por fim, ele cita dois textos (Colossenses 1:23; Romanos 10:17-18) para provar 
que existe o ensino oral. No entanto, eu tenho dois questionamentos a fazer: esse 
ensino oral é contrário ao que eles escreveram? Se sim, você está fora da ortodoxia 
cristã, pois chama os apóstolos de contraditórios. E a segunda pergunta é, eles 
ensinaram algo que não escreveram? Se sim, como teremos que lidar com o 
testemunho de Irineu e de Cipriano, os quais disseram que o que foi transmitido 
oralmente foi escrito posteriormente. Além disso, o próprio Paulo chama a ceia do 
Senhor de tradição (I Coríntios 11:23-25), mas sabemos que ela foi escrita 
posteriormente (Lucas 22:19-20; Mateus 26:26-30). Portanto, fica o questionamento. 
 
Objeção dois: 
 
 Para resumir, o autor diz que se existe uma tradição oral na qual deve ser 
seguida, então o que está escrito não é suficiente. Além dessa afirmação ser um non 
sequitur, eu mostrei pelos pais que eles entendiam que a Escritura é suficiente para 
mostrar os ensinos principais da fé em Cristo, onde até mesmo João Damasceno diz 
que que união hipostática (a de Calcedônia, 451 d.C) existe na Escritura. Também, 
como eu disse ao longo deste capítulo, o protestantismo não nega a tradição em seu 
consenso, mas sim pensamentos isolados. 
 
Objeção três: 
 
A partir daqui o autor faz uma série de 9 objeções (o que torna ilógico o artigo dizer 
que eles fariam apenas 10 objeções). Responderei de forma rápida, mas simples. 
 
3.1 : “Onde [na Bíblia] Jesus instrui os cristãos de que a fé deveria ser 
exclusivamente baseada em um livro?” 
 
Resposta: Se bem entendi, o questionamento é onde Jesus diz que toda a doutrina 
de fé deve ser baseada nas Escrituras. Simplesmente em Josué 1:7-8. Veja: 
 
 
 
 
 
 
 
130 
“Tem ânimo, pois, e sê corajoso para cuidadosamente observares toda a lei que 
Moisés, meu servo, te prescreveu. Não te afastes dela nem para a direita nem para a 
esquerda, para que sejas feliz em todas as tuas empresas. Traze sempre na boca as 
palavras deste livro da lei; medita-o dia e noite, cuidando de fazer tudo o que nele está 
escrito; assim prosperarás em teus caminhos e serás bem-sucedido”. 
 
 Veja que Deus manda Josué observar e seguir tudo o que Moisés escreveu 
para que então ele seja próspero. Acaso, então, para Deus afirmar isso, a Escritura 
total daquele tempo era insuficiente? Se sim, por qual razão Deus aprovou a 
suficiência do pentateuco? Se não, tu afirmas que a Escritura disponível para aquele 
povo era suficiente, embora não tenha sido terminada a revelação. E Cristo, no Novo 
Testamento, diz: 
 
“Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acuse: Moisés, no 
qual colocais a vossa esperança. Pois, se crêsseis em Moisés, certamente creríeis 
em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Mas, se não acreditais nos seus 
escritos, como acreditareis nas minhas palavras?” (João 5:45-47). 
 
 Veja, portanto, que Jesus diz que devemos obrigatoriamente crer nas palavras 
de Moisés, pois ele deu testemunho de Cristo. Como os judeus julgavam quem era o 
Messias, senão pelas Escrituras? Vistes que Cristo apoiava usar as Escrituras para 
saber quem é o Messias, pois Ele queria que pelas Escrituras o povo acreditasse que 
Ele é o ungido de Deus. Ainda sobre os outros livros da bíblia hebraica, Ele diz: 
 
“Jesus lhes disse: ‘Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para 
crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que 
Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?’. E começando por 
Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em 
todas as Escrituras”. (Lucas 24:25-27). 
 
 Veja, portanto, que Cristo disse aos discípulos de Emaús que era necessário 
que o Messias sofresse e entrasse em sua glória, e que isso foi proclamado por 
 
 
 
 
 
 
131 
Moisés, por todos os profetas e todas as Escrituras. Se Cristo disse para crer que 
Moisés escreveu a seu respeito, acaso ele não mandou também crer no que foi dito 
pelo resto das Escrituras? Veja, portanto, que Cristo mandou termos fé no que as 
Escrituras dizem, pois elas dizem sobre o centro da nossa fé: Jesus Cristo. 
 
3.2: “Onde Jesus manda seus apóstolos escreverem evangelhos ou 
ensinarem [apenas] por cartas?” 
 
Resposta: Como eu mostrei na primeira objeção, os testemunhos dos pais mostram 
que o que está escrito é o que foi primeiramente pregado. Não há motivo de retornar 
essa questão. 
 
3.3: “Onde, no Novo Testamento, os apóstolos falam para as 
gerações futuras que a fé cristã deverá se basear em um livro? 
 
Resposta: Os apóstolos sabiam que o que eles escreveram era palavra de Deus. E, 
se assim eles sabiam, creio eu que eles queriam que não se esquecessem destas 
cartas. Basta ler João 20:20-21; I Coríntios 7:10; II Pedro 3:15-16 e por aí vai. 
 
3.4: “Se acreditamos que os apóstolos tinham a intenção de fazer 
com que a igreja cristã se baseasse em um livro, como seu guia 
espiritual, por que dos catorze apóstolos (incluindo aqui também 
Paulo e Matia) apenas dois nos deixaram evangelhos [escritos]? E 
por que sete deles não nos deixaram absolutamente nenhuma obra 
escrita?” 
 
Resposta: Primeiramente, sola scriptura não são somente os evangelhos. Isso é um 
erro do argumento. Paulo nos deixou quatorze cartas, Pedro deixou duas cartas, João 
deixou cinco escritos, Mateus um evangelho, Judas Tadeu uma carta e Tiago (o que 
escreveu) uma carta. Isso nos dá no total 24 escritos direto dos apóstolos. Há também 
 
 
 
 
 
 
132 
a questão que simplesmente os apóstolos, por inspiração divina, julgaram que eles 
escreveram o que é suficiente para a salvação (João 20:20-21). 
 
3.5: “Como o apóstolo Tomé poderia ter estabelecido a igreja na 
índia, que sobrevive até hoje (estando atualmente em comunhão 
com a igreja católica) sem ter deixado para eles uma única palavra 
das escrituras do novo testamento?”. 
 
Resposta: Uma igreja se preservar não tem por consequência o fim da sola scriptura. 
Isso irá para a pergunta que fiz desde a primeira questão: o que os apóstolos 
escreveram é o mesmo que transmitiram oralmente? Conforme o testemunho dos 
pais, sim. Agora, eu questiono se o que Tomé ensinou aos indianos é o mesmo que 
os demais apóstolos ensinaram. Se sim, então a sola scriptura continua de pé. Se 
não,você chama o apóstolo Tomé de herege. 
 
3.6: “Se Deus queria que o cristianismo fosse exclusivamente uma 
“religião do livro”, por que Ele aguardou 1.400 anos para suscitar 
alguém que inventasse a imprensa?” 
 
Resposta: Copista existe para isso. De que forma isso é contra a Sola Scriptura? A 
imprensa não existir não tira a sola scriptura de jogo. Esse é o questionamento mais 
boçal que eu já vi. 
 
3.7: “Se a bíblia é tão clara como Martinho Lutero afirmou, por que 
ele foi o primeiro a interpretar assim e por que ele ficou frustado ao 
fim da sua vida, afirmando que ‘existem agora tantas doutrinas 
quantas são as cabeças’?”. 
 
Resposta: Em defesa do Dr. Lutero, digo que os pais já testemunharam o que Lutero 
ensinou. E também é engraçado que ao longo da história da Igreja antes da reforma 
 
 
 
 
 
 
133 
sempre houve heresias e doutrinas novas. Veja os ramos do gnosticismo, os 
maniqueistas, nestorianos, arianos, miafisistas e assim por diante. Saiba também que 
esta frase de Lutero é justamente condenando a interpretação privada. 
 
3.8: “Como a igreja primitiva evangelizou e conquistou o Império 
Romano, sobrevivendo e prosperando por quase 350 anos, sem 
saber ao certo quais livros pertenciam ao cânon das escrituras?”. 
 
Resposta: Basta ver que dentre os 66 livros do cânon grande maioria era de consenso 
(o cânon do AT era consenso dentre os 39) dentre eles. Fora o fator que a sola 
scriptura pressupõe um cânon já formado. O que acontece é que os pais antes de um 
cânon já tinham noção que as Escrituras são suficientes para o depósito de fé e moral, 
e também já havia a compreensão de um cânon, como Irineu nos diz: 
 
"Não é possível que os Evangelhos sejam mais ou menos 
numerosos do que são. Pois, uma vez que há quatro zonas do 
mundo em que vivemos, e quatro ventos principais, enquanto a 
Igreja está espalhada por todo o mundo, e o pilar e fundamento 
(1 Timóteo 3:15) da Igreja é o Evangelho e o espírito da vida; é 
apropriado que ela tenha quatro pilares, respirando imortalidade 
por todos os lados, e vivificando os homens de novo[...]”.101 
 
 Veja que Irineu nos diz que há apenas quatro evangelhos e que esses mesmos 
evangelhos são os de Mateus, Marcos, Lucas e João (leia o capítulo todo da citação). 
Isso, portanto, já demonstra a noção de um cânone que a igreja primitiva estava 
montando já no segundo século -ou até mesmo antes. Perceba também que Irineu diz 
que os evangelhos são os 4 pilares da igreja. Mostrando assim uma suficiência e 
dependência dos escritos apostólicos para que ela seja viva. 
 
 
101 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro III, 11,8. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0103311.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/0103311.htm
 
 
 
 
 
 
134 
3.9: “Se o cristianismo é uma ‘religião do livro’, como foi que ele 
floresceu durante os primeiros 1.500 anos de história da igreja, 
quando a imensa maioria do povo era analfabeta?”. 
 
Resposta: Por meio de alfabetizados? É sério mesmo que existe esse 
questionamento? 
 
Objeção quatro: 
 
 Aqui o autor mostra sua desonestidade e diz que Escritura não contém todo 
conteúdo de fé e cita João 20:30; 21:25. Pela terceira vez, cito João 20:20-21, onde 
João diz que ele escreveu o suficiente para que seus leitores acreditassem que Jesus 
é o Messias. Talvez ele não tenha estes dois versículos na bíblia dele. 
 Após isso, ele diz que há ensinos de Jesus que se encontram na tradição oral 
que não foram escritos. Ele cita Atos 20:25, onde Cristo diz que é melhor dar do que 
receber. No entanto, isso entra num looping infinito, pois esse ensino então foi escrito 
por Lucas. Fora que este ensino de Jesus não é nada novo. Veja Salmos 37:21 e 
Provérbios 28:9. Ele também cita I Coríntios 11:24-25, onde é Paulo repetindo as 
palavras de Cristo na última ceia. Nem comentarei sobre, pois aquele que sabe o 
básico de bíblia sabe que estes textos são citados em Mateus, Marcos e Lucas. 
 Ele também nos diz que há falta de livros nas Escrituras, livros quais se 
perderam. Ele então cita duas cartas de Paulo e uma profecia de Enoque. Sobre as 
cartas de Paulo, elas se perderam. Simples assim. Se elas não entraram no cânon é 
porque o Espírito Santo achou que as Escrituras que temos hoje era o suficiente para 
nossa fé. Sobre a citação de Enoque que Judas faz (Judas 1:14-15), ela é do apócrifo 
de I Enoque 2:1. 
Veja: 
 
“Olhem que Ele vem com uma multidão de seus Santos, para executar o julgamento 
sobre todos e aniquilará aos ímpios e castigará a toda carne por todas suas obras 
 
 
 
 
 
 
135 
ímpias, as quais eles hão perversamente cometido e de todas as palavras altivas e 
duras que os malvados pecadores falaram contra Ele”. 
 
Vale lembrar que citação não é sinônimo de inspiração. 
 
Objeção cinco: 
 
 Ele diz que a melhor objeção contra a Sola Scriptura é perguntar onde na bíblia 
diz que só pode a bíblia (???). Como mostrado neste capítulo todo, a sola scriptura 
não nega a tradição em seu consenso. O que se nega é as doutrinas que as 
contrariam. E, como ainda apelarei aos pais, como uma tradição que não há de forma 
explícita ou implícita na Escritura pode ser julgada, senão pela própria Escritura? Se 
não existe nas Escrituras ou a contradiz, veremos os pais; e se o consenso dos pais 
for contra eles, a Escritura foi a primeira a testemunhar contra as tradições de homens. 
 
Objeção seis: 
 
 Como eu disse, a sola scriptura já pressupõe um cânon. Todavia, como 
também mostrei, os pais e os santos de Deus recorriam às Escrituras já reveladas 
para ser fonte de doutrinas e julgar novas revelações. 
 
Objeção sete: 
 
 Não cabe a mim julgar as denominações que surgiram. Todas elas surgiram de 
interpretação privada. Somente os luteranos, presbiterianos e alguns cristãos sérios 
aceitam o consenso dos pais. 
 
Objeção oito: 
 
 Novamente, a sola scriptura aceita a autoridade da igreja e tem o consenso 
dela como infalível. Sobre a fala de Agostinho, eu não discordo dele. Por qual razão? 
Pois é a igreja que é a causa instrumental para que o homem conheça a verdade e o 
 
 
 
 
 
 
136 
relacionamento que Deus quer ter com o homem, pelo qual é descrito nas Escrituras. 
Portanto, se a igreja em seu consenso soube por direção divina quais livros são 
inspirados, ela apenas fez seu serviço instrumental para proteger a sua fonte base. 
Leia os pais e veja que eles sempre recorreram às Escrituras para defender a 
ortodoxia. 
 
Objeção nove: 
 
 Não perderei meu tempo explicando cânon novamente. Basta ler o que eu disse 
anteriormente. Sobre inspiração dos livros do cânon, basta vermos a epistemologia 
da Escritura. Sua origem é divina? Sim. Isso é consenso entre cristãos. Se sua origem 
é divina, a história da humanidade e a igreja em seu consenso afirma quais livros são 
inspirados, então está decidido. Pois Deus usou a igreja para afirmar o cânon. Não é 
a Igreja por si que decide, mas ela é instrumento de Deus para que o Seu povo saiba 
o que Ele quer ter com os homens. 
 
Por fim, ele cita dois motivos para ser adepto da doutrina católica: 
 
1ª) A inspiração é realmente provada e não apenas “sentida”. 
 
2ª) O principal fato por trás da prova – o fato de que há uma Igreja mestre e 
infalível – permite que qualquer um naturalmente responda ao problema 
proposto pelo eunuco etíope (Atos 8,31): como saber qual interpretação é a 
correta? 
 
Se ele realmente tivesse estudado o protestantismo, então ele saberia que a igreja 
tem autoridade em seu consenso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
137 
Objeção dez: 
 
 Nem perderei meu tempo aqui. Onde que más traduções da bíblia é uma 
objeção contra a Sola Scriptura? Se você sabe que é uma má tradução, procure uma 
melhor. 
 
Conclusão do capítulo 
 
 Portanto, vimos o que de fato é a sola scriptura e por qual razão ela é o único 
modelo lógico, que elanão é uma crença nova, mas esta presente nos pais; e também 
respondemos 10 objeções sobre a sola scriptura. Se ainda há dúvidas sobre a sola 
scriptura, pesquise sobre ela e a estude, e então, queira Deus, você verá que ela é 
uma doutrina apostólica que infelizmente foi perdida pela igreja de Roma, mas 
ressurgiu por meio da reforma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
138 
CAPÍTULO 8 – CATÓLICOS NÃO SABEM O QUE É O VERDADEIRO SOLA FIDE 
 
 Os católicos romanos, toda vez que ouvem falar do SOLA FIDE, acham que 
significa que apenas temos que crer e continuar pecando, que já estaremos salvos. 
Não é assim que essa doutrina funciona. 
 A doutrina disserta que a salvação é resultado por meio da fé em Cristo, e não 
através de obras, rituais ou méritos humanos. Acredita-se que a fé em Cristo é 
suficiente para perdoar os pecados e garantir a vida eterna. Sendo justificado por 
Cristo, por meio da fé, ocorre novidade de vida, para que então possamos andar em 
santidade dia após dia. 
 De maneira nenhuma eu posso comprar a minha salvação ou garantir ela pelo 
tanto de obras que eu faço. Nós fazemos boas obras porque já somos salvos e não 
para nos salvar. Essa é a essência dessa doutrina. 
 Pois como o próprio apóstolo Paulo diz em Efésios 2.8-9 “Pois é pela graça que 
sois salvos, por meio da fé e isto não vem de vocês, é dom de Deus. Não vem das 
obras, para que ninguém se glorie. Novamente Paulo disserta sobre isso em Romanos 
3.28 “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das 
obras da lei.”. 
 O Sola Fide foi organizado na Reforma Protestante, mas seu conceito está vivo 
desde os primórdios da igreja. A seguir, irei apresentar o SOLA FIDE já nos pais da 
igreja. 
 
8.1 SOLA FIDE NA PATRÍSTICA 
 
Clemente de Roma: 
 
“[...]E nós, também, sendo chamados por Sua vontade em Cristo 
Jesus, não somos justificados por nós mesmos, nem por nossa 
própria sabedoria, ou entendimento, ou piedade, ou obras que 
praticamos em santidade de coração; mas por aquela fé pela 
 
 
 
 
 
 
139 
qual, desde o princípio, Deus Todo-Poderoso justificou todos os 
homens; a quem seja a glória para todo o sempre. Amém”.102 
 
 Agora em Inácio, vemos que ele diz que devemos viver de acordo com Cristo, 
pois crendo em Sua morte, possamos escapar da morte. Veja que Inácio não coloca 
nenhum mérito humano para escapar da condenação, mas coloca unicamente a fé 
em Jesus e no seu sacrifício como a única maneira com que o homem possa escapar 
da morte. 
 
Policarpo de Esmirna: 
 
"Regozijei-me muito convosco em nosso Senhor Jesus Cristo, 
porque seguiste o exemplo do verdadeiro amor [como 
demonstrado por Deus], e acompanhastes, como vos convinha, 
aqueles que estavam acorrentados, os ornamentos adequados 
dos santos, e que são de fato as diademas dos verdadeiros 
eleitos de Deus e de nosso Senhor; e porque a forte raiz da 
vossa fé, falada nos tempos passados (Filipenses 1:5), perdura 
até agora, e produz frutos para nosso Senhor Jesus Cristo, que 
pelos nossos pecados sofreu até a morte, [mas] a quem Deus 
ressuscitou dos mortos, tendo desatado as cadeias do túmulo. 
Em quem, embora agora não O vejais, acreditais, e acreditando, 
regozijai-vos com alegria indizível e cheia de glória (1 Pedro 1:8), 
na qual muitos desejam entrar, sabendo que pela graça sois 
salvos, não por obras (Efésios 2:8-9), mas pela vontade de Deus 
através de Jesus Cristo".103 
 
 
102 ROMANO, Clemente. Carta aos Coríntios, capítulo 32. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm>. 
103 ESMIRNA, Policarpo. Carta aos Filipenses, capítulo 1. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm
https://www.newadvent.org/fathers/0136.htm
 
 
 
 
 
 
140 
 Para terminarmos com os pais apostólicos, vemos também Policarpo dizendo 
que os filipenses produzem frutos da fé (da qual se refere como as obras) e que eles 
são salvos não pelas obras, mas pela vontade de Deus por meio de Jesus Cristo. Mais 
uma vez vemos que os pais não aceitavam uma justificação dupla (fé e obras), mas 
uma justificação unicamente pela fé. Claro, devemos nos lembrar que isto se refere à 
primeira justificação, que é o que a sola fide ensina. Pois como vimos no capítulo 
anterior sobre sola scriptura, Policarpo acreditava que a esmola livra da morte, 
todavia, isso numa segunda justificação, como frutos da fé. 
 
Justino Mártir: 
 
"[...]Pois quando o próprio Abraão estava na incircuncisão, ele 
foi justificado e abençoado em razão da fé que ele depositou em 
Deus, como a Escritura diz. Além disso, as Escrituras e os 
próprios fatos nos obrigam a admitir que Ele recebeu a 
circuncisão como um sinal, e não por justiça. De modo que foi 
justamente registrado a respeito do povo, que a alma que não 
for circuncidada no oitavo dia será cortada de sua família[...]".104 
 
Justino, em seu diálogo com Trifão, nos diz que a circuncisão que Abraão realizou não 
foi aplicado como justiça (justificação) para ele, mas sim a fé que ele teve em Deus. 
Portanto, vemos que Justino acreditava que a Escritura dizia que Abraão não teve 
uma justificação pelas obras, mas somente pela fé que ele teve em Deus, o qual 
aplicou como justiça a fé. 
 
Irineu de Lyon: 
 
"[...]Não atribuam, portanto, à lei a incredulidade de alguns [entre 
eles]. Pois a lei nunca os impediu de crer no Filho de Deus; não, 
mas até mesmo os exortou (Números 21:8) a fazerem isso, 
 
104 MÁRTIR, Justino. Diálogo com Trifão, cap. 23. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/01282.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/01282.htm
 
 
 
 
 
 
141 
dizendo que os homens não podem ser salvos de nenhuma 
outra maneira da velha ferida da serpente, a não ser crendo 
naquele que, em semelhança de carne pecaminosa, é levantado 
da terra sobre a árvore do martírio, e atrai todas as coisas para 
si mesmo (João 12:32; João 3:14) e vivifica os mortos".105 
 
 Aqui não tem muito o que elaborar, pois as palavras de Irineu são simples, 
rápidas e diretas: todos são justificados e salvos unicamente, repito, unicamente pela 
fé em Jesus Cristo e em seu sacrifício. Perceba que Irineu até mesmo faz um 
paralelismo da serpente de bronze com Cristo. 
 
Tertuliano de Cartago: 
 
"[...]Mas em todos os casos são as coisas posteriores que têm 
uma força conclusiva, e as subsequentes que prevalecem sobre 
as antecedentes. Admita que, em dias passados, houve 
salvação por meio da fé nua, antes da paixão e ressurreição do 
Senhor. Mas agora que a fé foi ampliada e se tornou uma fé que 
crê em Sua natividade, paixão e ressurreição, houve uma 
amplificação adicionada ao sacramento, a saber, o ato de 
selamento do batismo; a vestimenta, em certo sentido, da fé que 
antes era nua e que não pode existir agora sem sua lei 
adequada[...]".106 
 
 Tertuliano também diz que na antiga aliança somente a fé salva os homens, 
mas na nova aliança não há uma mudança, mas agora esta fé deve receber os 
sacramentos (como o batismo, no qual ele está falando). 
 
 
105 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro IV, cap. 2, 8. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0103402.htm>. 
106 CARTAGO, Tertuliano. Sobre o Batismo, cap. 13. Disponível em: 
https://www,newadvent.org/fathers/0321.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/0103402.htm
https://www,newadvent.org/fathers/0321.htm
 
 
 
 
 
 
142 
Metódio: 
 
"[...]Nenhum embaixador, nem anjo, mas o próprio Senhor os 
salvou; porque ele os amou, e os poupou, e os tomou e os 
exaltou. E tudo isso não foi por obras de justiça (Tito 3:5) que 
fizemos, nem porque te amávamos —pois nosso primeiro 
antepassado terrestre, que foi honrosamente entretido, na 
encantadora morada do Paraíso,desprezou Teu mandamento 
divino e salvador, e foi julgado indigno daquele lugar que dá vida, 
e misturando sua semente com os rebentos bastardos do 
pecado, ele a tornou muito fraca—[...]".107 
 
 Metódio é claro sobre o assunto. Deus nos salvou não por conta de nossos 
méritos, mas porque Ele nos amou primeiro. 
 
Agostinho de Hipona: 
 
"'Confissão e feitos gloriosos são Sua obra' (Salmo 110:3). O que 
é um feito mais glorioso do que justificar o ímpio? Mas talvez a 
obra do homem impeça aquela obra gloriosa de Deus, de modo 
que quando ele confessou seus pecados, ele merece ser 
justificado... Esta é a obra gloriosa do Senhor: pois ele ama mais 
a quem mais é perdoado (Lucas 7:42-48). Esta é a obra gloriosa 
do Senhor: porque 'onde o pecado abundou, superabundou a 
graça' (Romanos 5:20). Mas talvez o homem mereça a 
justificação pelas obras. 'Não', diz ele, 'pelas obras, para que 
ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo 
Jesus para boas obras' (Efésios 2:9-10). Porque o homem não 
pratica a justiça sem ser justificado; mas 'crê naquele que 
justifica o ímpio' (Romanos 4:5), começa pela fé; que o bem não 
 
107 Metódio. Oração sobre Simeão e Ana. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0627.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/0627.htm
 
 
 
 
 
 
143 
pode mostrar, precedendo, o que mereceu, mas seguindo o que 
recebeu".108 
 
 A fala de Agostinho também é clara. O homem não é justificado pelas obras, 
mas pela graça de Deus mediante a fé. O homem não pratica a justiça, mas antes é 
justificado para assim praticá-la. Portanto, Agostinho nos diz que até mesmo as obras 
boas só são feitas caso o homem esteja justificado, isso para o aperfeiçoamento da 
fé, e não como salvação. 
 
"[...]Isso ele nos ensina muito expressamente quando diz: 
'Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem 
de vós; é dom de Deus' (Efésios 2:8). Eles poderiam 
possivelmente dizer: 'Recebemos graça porque cremos'; como 
se eles atribuíssem a fé a si mesmos, e a graça a Deus. Portanto, 
o apóstolo tendo dito: 'Vocês são salvos pela fé', acrescentou: 'E 
isso não vem de vós, mas é dom de Deus'. E novamente, para 
que não dissessem que mereciam tão grande dom por suas 
obras, ele imediatamente acrescentou: 'Não vem das obras, 
para que ninguém se glorie' (Efésios 2:9). Não que ele negasse 
as boas obras, ou as esvaziasse de seu valor, quando ele diz 
que Deus retribui a cada um segundo suas obras (Romanos 2:6); 
mas porque as obras procedem da fé, e não a fé das obras. 
Portanto, é dele que temos as obras de justiça, de quem vem 
também a própria fé , a respeito da qual está escrito: 'O justo 
viverá pela fé' (Habacuque 2:4)".109 
 
 Agora comentando sobre a graça e o livre arbítrio, Agostinho diz que tanto a 
graça, a fé e as boas obras provêm de Deus, e não por alguma obra humana. Também 
 
108 HIPONA, Agostinho. Exposição sobre o Salmo 111, 3. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/1801111.htm 
109 HIPONA, Agostinho. Sobre a graça e o livre arbítrio, capítulo 17. Disponível em: 
https://www.newadvent.org/fathers/1510.htm 
https://www.newadvent.org/fathers/1801111.htm
https://www.newadvent.org/fathers/1510.htm
 
 
 
 
 
 
144 
é dito que as obras procedem da fé, e não o contrário. Assim, Agostinho proclama 
novamente a doutrina da sola fide. 
 
João Crisóstomo: 
 
"[...]Veja, ele chama a fé também de uma lei que se deleita em 
manter os nomes, e assim amenizar a aparente novidade. Mas 
o que é a lei da fé? É ser salvo pela graça. Aqui ele mostra o 
poder de Deus, em que Ele não apenas salvou, mas até mesmo 
justificou, e os levou a se vangloriar, e isso também sem precisar 
de obras, mas buscando apenas a fé[...]".110 
 
 Aqui nem preciso comentar muito também. João Crisóstomo é explícito sobre: 
que os homens foram salvos por Deus mediante a fé somente, sem a necessidade de 
obras. 
 
Leão Magno: 
 
"[...]E ainda assim, certamente, a menos que seja dada 
livremente, não é um presente, mas um preço e compensação 
por méritos: pois o abençoado Apóstolo diz, 'pela graça vocês 
foram salvos por meio da fé, e isso não vem de vocês, mas é 
dom de Deus; não de obras para que ninguém por acaso seja 
exaltado. Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus em 
boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos 
nelas' (Efésios 2:8-10). Assim, toda concessão de boas obras é 
de preparação de Deus: porque um homem é justificado pela 
graça e não por sua própria excelência: pois a graça é para cada 
um a fonte da justiça, a fonte do bem e a fonte do mérito. Mas 
esses hereges dizem que isso é antecipado pela bondade 
 
110 CRISÓSTOMO, João. Homilia VII sobre Romano, verso 27. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/210207.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/210207.htm
 
 
 
 
 
 
145 
natural dos homens por esta razão: que a natureza que (na visão 
deles) é antes da graça notável por seus próprios bons desejos, 
não pareça manchada por nenhuma mancha do pecado original, 
e que o que a Verdade diz pode ser falsificado: 'Porque o Filho 
do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido'".111 
 
 Leão Magno, ao falar sobre os pelagianos, diz que as obras procedem da graça 
mediante a fé, e não que a justificação vem pela própria excelência do homem, mas 
de Deus. Portanto, veja que o bispo de Roma que é considerado papa pelos católicos 
tem uma visão onde os próprios católicos de hoje chamariam de heresia. Que 
contraditório. 
 
João Damasceno: 
 
"[...]Cabe a nós, então, com todas as nossas forças, manter-nos 
firmemente puros de obras imundas, para que não nos 
tornemos, como o cão que retorna ao seu vômito (2 Pedro 2:22), 
novamente escravos do pecado. Pois a fé sem obras é morta, e 
assim também as obras sem fé (Tiago 2:26). Porque a 
verdadeira fé é atestada pelas obras[...]".112 
 Em João Damasceno temos justamente o modelo protestante sobre as boas 
obras. As obras mostram a fé que a pessoa tem. Se é uma fé genuína (salvadora), 
então ela dá bons frutos. Se é uma fé demoníaca, como Lutero chamará, então ela 
não terá bons frutos. Este modelo só funciona na sola fide. 
 
Bernardo de Claraval: 
 
 Para finalizarmos, temos Bernardo de Claraval, no qual diz isso em seu 
comentário sobre Cântico dos Cânticos: 
 
111 MAGNO, Leão. Carta I, III. Disponível em <https://www.newadvent.org/fathers/3604001.htm>. 
112 DAMASCENO, João. Exposição da Fé Ortodoxa, Livro IV, Cap. 9. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/33044.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/3604001.htm
https://www.newadvent.org/fathers/33044.htm
 
 
 
 
 
 
146 
 
"[...]Portanto, o homem que, pela dor do pecado, tem fome e 
sede de justiça, confie Naquele que transforma o pecador em 
homem justo, e, julgado justo apenas em termos de fé, terá paz 
com Deus[...]".113 
 
 Veja que um dos maiores escolásticos da idade média afirma que o homem só 
é julgado justo EM TERMOS DE FÉ APENAS, não por suas obras, mas pela fé que, 
como vimos nos pais, é um dom de Deus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
113 Kilian Walsh, O.C.S.O., Bernard of Clairvaux On the Song of Songs II (Kalamazoo: Cistercian Publications, Inc, 
1983), Sermon 22.8, p. 20. 
 
 
 
 
 
 
147 
CAPÍTULO 9 – O SACERDOTE TEM PODER PARA PERDOAR PECADOS? 
 
 
 A confissão auricular é vista como um meio de receber o perdão divino e a 
reconciliação com Deus e a comunidade cristã. Muitos católicos praticam a confissão 
regularmente, especialmente durante a Quaresma e outros momentos importantes do 
calendário litúrgico. 
 Existem inúmeros problemas com a confissãoauricular, pois as escrituras são 
claras em dizer que devemos nos confessar, buscando perdão dos nossos pecados, 
somente para Deus. 
 
“Agora confessem ao Senhor, o Deus dos seus antepassados, 
e façam a vontade dele” (Esdras 10:11) 
 
“Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. 
Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu 
perdoaste a maldade do meu pecado" (Salmos 32:5) 
 
 
 Agora João diz: 
 
Se confessarmos os nossos pecados diante de Deus, “ele é fiel 
e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a 
injustiça” (1Jo.1:1:9). 
 
 Na esperança de validar a confissão auricular, os católicos costumam usar o 
texto de Tiago 5:16 que diz: 
 
“Portanto, confessem os seus pecados uns aos outrose orem 
uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é 
poderosa e eficaz” (Tiago 5:16) 
 
 
 
 
 
 
 
148 
 O texto diz claramente para “confessarmos uns aos outros” e não para um 
sacerdote em específico. Todavia, o ato de confessar no texto, refere-se a ajuda 
espiritual que cada um pode proporcionar para o seu próximo, visando ajuda-lo a 
vencer o pecado, não que o confessionário dá poder para os irmãos perdoar pecados 
cometidos contra Deus. 
 
“Se vocês perdoam a alguém, eu também perdôo; e aquilo que 
perdoei, se é que havia alguma coisa para perdoar, perdoei na 
presença de Cristo, por amor a vocês, a fim de que Satanás não 
tivesse vantagem sobre nós; pois não ignoramos as suas 
intenções” (2ª Coríntios 2:10-11) 
 
 Ele não disse: “se o sacerdote perdoou, eu também perdôo”, mas sim: 
“se vocês perdoaram, eu também perdôo”. Há uma diferença enorme entre uma coisa 
em outra. 
 Jesus nunca pediu indulgências a alguém quando perdoou pecados. O que ele 
sempre dizia era: “vá, e não peques mais” (Jo.8:11), e não: “vá, reze 25 Ave-Marias e 
o rosário, e então estará perdoada”! 
 
“E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; 
e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tiago 
5:15) 
 
 Aqui claramente quem cura e perdoa é Deus, e a única condição exposta para 
isso é a oração de fé. Jesus também disse: 
 
“E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê 
curada deste teu mal"(Marcos 5:34) 
 
 Ora, o que “salvou” a mulher não foi o pagamento de penitência após a 
confissão, mas sim a sua fé. 
 
 
 
 
 
 
149 
 Pois como diz o autor de Hebreus “não temos um sumo sacerdote que não 
possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi 
tentado, mas sem pecado” (Hb.4:15). 
 O único pecado que um irmão cristão tem o poder de perdoar, são os pecados 
cometidos contra a pessoa dele. Exemplo: suponhamos que um irmão ofendeu a 
dignidade de um outro irmão cristão, este pecou contra esse irmão ofendido. Acerca 
disso, a bíblia diz o seguinte: 
 
Mateus 5:23-24: 
Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de 
que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar 
a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois 
vem, e apresenta a tua oferta. 
 
 A mesma coisa observamos na parábola do credor incompassivo, em Mateus 
18: 
 
23 Por isso, o Reino dos céus pode comparar-se a um certo rei 
que quis fazer contas com os seus servos; 
 
 24 e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe 
devia dez mil talentos. 
 
25 E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que 
ele, e sua mulher, e seus filhos fossem vendidos, com tudo 
quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse. 
 
26 Então, aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: 
Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. 27 Então, o 
senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e 
perdoou-lhe a dívida. 
 
 
 
 
 
 
 
150 
28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus 
conservos que lhe devia cem dinheiros e, lançando mão dele, 
sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. 
 
29 Então, o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-
lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. 
30 Ele, porém, não quis; antes, foi encerrá-lo na prisão, até que 
pagasse a dívida. 
 
31 Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-
se muito e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. 
 
32 Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: 
Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me 
suplicaste. 
 
33 Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, 
como eu também tive misericórdia de ti? 
 
34 E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, 
até que pagasse tudo o que devia. 35 Assim vos fará também 
meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu 
irmão, as suas ofensas. 
 
 
 A conclusão que temos é que somente o pecado que cometemos contra o 
próximo, o próximo pode perdoar, e nisso, Deus também perdoa. Os pecados que 
cometemos contra Deus, só Deus pode perdoar, como por exemplo os pecados 
sexuais, a bruxaria, a idolatria e etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
151 
CAPÍTULO 10 – A SANGRENTA INQUISIÇÃO CATÓLICA 
 
 Um dos mitos sobre a Inquisição mais propagados pela apologética católica é 
o do “tribunal de misericórdia” – uma Inquisição que não torturava ninguém, ou se 
torturava era uma coisa tão leve que chegava quase a ser agradável. O primeiro papa 
a aprovar a tortura na Inquisição foi Inocêncio IV (1243-1254), que em sua bula Ad 
extirpanda (1252) autorizava a tortura “até o limite da diminuição de membro e 
perigo de morte”114. A tortura era tão usual no Santo Ofício que o Manual dos 
Inquisidores, escrito pelo inquisidor medieval Nicolau Eymerich e comentado pelo 
doutor em direito canônico Francisco Peña, dedica longos capítulos a este respeito. 
 Peña diz que “é legítimo torturar esses suspeitos para fazê-los confessar 
e, depois, abjurar”115. Eymerich já alertava que «toda precaução é pouca» em se 
tratando de heresiarcas, porque “sua conversão é apenas um artifício para fugir da 
tortura. Se voltam ao seio da Igreja, ser-lher-ão aplicados os castigos mais duros e 
mais longos”116. Ao acusado restavam duas opções: podia se confessar e aceitar a 
pena que lhe fosse imposta, ou seria “levado à tortura e, deste modo, arrancar-lhe-ão 
a confissão”117. De um jeito ou de outro, ninguém escapava de sofrer nas mãos do 
Santo Ofício (mesmo os que eram absolvidos). 
 Peña afirma que “seria bom despir completamente a pessoa que é levada para 
a tortura”118, como se não bastasse a tortura por si só. Ele não só aprovava a tortura 
da vítima desnuda, como louvava abertamente esse hábito: “Louvo o hábito de torturar 
os acusados, principalmente nos dias atuais, em que os infiéis se mostram mais 
cínicos que nunca”119. Michael Baigent e Richard Leigh comentam que “como nenhum 
inquisidor gostava de ser visto como tendo cometido um erro, usava-se todo 
subterfúgio possível para extrair ou extorquir uma confissão”120. 
 
 
114 INOCÊNCIO IV. Ad extirpanda, 26. 
115 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 72. 
116 ibid, p. 47. 
117 ibid, p. 125. 
118 ibid, p. 156. 
119 ibid, p. 211. 
120 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 51. 
 
 
 
 
 
 
152 
 Três tipos de tortura eram as mais regularmente aplicadas pela Inquisição: a 
da garrucha, a do cavalete e a do fogo121. A garrucha funcionava da seguinte maneira: 
 
 
Para o suplício da garrucha, ou roldana, pendurava-se no teto 
justamente uma roldana, passando por ela uma corda grossa de 
cânhamo ou esparto. Tomavam do réu e deixando-o em trajes 
menores, punham-lhe grilhões, atavam-lhe nos tornozelos cem 
libras (cinquenta quilos) de ferro e, amarrando-lhe os braços às 
costas com cordel, prendiam-no à corda pelos pulsos. 
Mantendo-o nessa posição, punham-no ereto,enquanto os 
juízes o admoestavam secamente para que dissesse a verdade. 
De acordo com a gravidade do delito, davam-lhe até doze 
arrancões, deixando-o cair de chofre, mas de tal modo que nem 
os pés nem os pesos tocassem o solo, para que o corpo 
recebesse maior sacudida.122 
 
 
 Já a tortura do cavalete assim funcionava: 
 
Na tortura do cavalete, também chamado de água e cordéis, 
ficando o réu despido da forma já mencionada, estendiam-no de 
rosto para cima sobre um cavalete ou banco de madeira, onde 
lhe prendiam os pés, as mãos e a cabeça, a fim de que se não 
pudesse mover. Em seguida, forçavam-no a beber alguns litros 
de água, deitando-a aos poucos por uma cinta que lhe 
introduziam na boca a fim de que, atingindo a água a garganta, 
lhe provocasse ânsias e desespero de um afogado.123 
 
121 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 46. 
122 ibid. 
123 ibid. 
 
 
 
 
 
 
153 
 Com o passar do tempo, os métodos de tortura evoluíram e com ele o cavalete 
ganhou contornos de ainda mais dramaticidade: 
 
Com o tempo, os métodos de tortura evoluíram. No começo do 
século XVII, o cavalete recebeu um complemento refinado, 
conhecido como cepo, no qual as pernas do prisioneiro pendiam 
por um buraco na tábua à qual estava amarrado; outra barra de 
madeira com as bordas afiladas era colocada sob o buraco, e as 
pernas eram esticadas através dessa abertura reduzida por 
meio de uma corda amarrada nos tornozelos e nos dedos. Cada 
vez que a corda dava uma volta nos tornozelos, o pris ioneiro 
descia mais pela abertura. Cinco voltas eram consideradas uma 
tortura severa, mas na América Latina davam-se sete ou oito 
voltas, e alguns mouros foram submetidos a dez ou mais.124 
 
 
 Finalmente, na tortura do fogo, tida como a mais cruel de todas, o réu era 
colocado de pés nus no tronco, e “untando-lhe as plantas com banha de porco, 
aproximavam delas um braseiro ardente. Quando se queixava demasiadamente de 
dor, interpunham entre os pés e o braseiro uma tábua, ordenando-lhe que 
confessasse”125. As torturas não se limitavam a essas, no entanto. O próprio Peña fala 
de «cinco tipos de torturas» (pau, cordas, cavalete, polé e brasas126), mas acrescenta 
que o inquisidor podia acrescentar outras à sua vontade, dado que “a lei não diz que 
tipo de tortura deve-se aplicar”127. 
 Uma das torturas que ele diz ser praticada «com muita frequência» é a das 
cordas, que ele afirma ser aplicada “em toda parte, não sendo preciso abandoná-
 
124 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
125 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 46-47. 
126 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 210. 
127 ibid. 
 
 
 
 
 
 
154 
la”128. O Regimento do Santo Ofício do Rio de Janeiro aponta que a tortura era 
aplicada até mesmo em meninas de 13 anos e em senhoras com mais de 60 – todas 
elas nuas, enquanto eram submetidas ao potro129. O potro se tratava de uma mesa 
de madeira em que o réu era “preso pelos pulsos e calcanhares, apertados cada vez 
com mais força de acordo com a sua insistência em não confessar as culpas, 
impedindo a circulação sanguínea e, em casos extremos, cortando-lhe a pele e as 
carnes, chegando mesmo ao esmagamento dos ossos”130. 
 Vale ressaltar que o fato de alguém ser torturado em um determinado 
instrumento de tortura não significava que estivesse livre de ser torturado em outro. 
Muitos passavam por várias torturas diferentes, como Eymerich expressamente afirma 
no Manual: “Quando o réu, submetido a todo tipo de tortura, continua sem confessar, 
param de brutalizá-lo e o soltam”131. Em outro momento, ele afirma: 
 
Se não conseguir nada através desses meios, e se as 
promessas se revelarem ineficazes, executa-se a sentença e 
tortura-se o réu da forma tradicional, sem buscar novos artifícios 
nem inventar os mais rebuscados: mais fracos ou mais violentos; 
de acordo com a gravidade do crime. Durante a tortura, 
primeiramente, interroga-se o réu sobre os pontos menos 
graves, depois, sobre os mais graves, porque vai confessar mais 
facilmente as faltas pequenas do que as graves. O escrivão, 
enquanto isso, tomará nota das torturas, das perguntas e 
respostas. Se, depois de ter sido convenientemente torturado, 
não confessar, vão lhe mostrar os instrumentos de um outro tipo 
de tortura, dizendo-lhe que vai passar por todos eles, se não 
 
128 ibid. 
129 GORENSTEIN, Lina; CALAÇA, Carlos Eduardo. “Na Cidade e Nos Estaus: Cristãos-novos do Rio de Janeiro 
(Séculos XVII-XVIII)”. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. 
GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 
124. 
130 ASSIS, Angelo Adriano Faria de. Intolerância em nome da Fé. São Paulo: 2006, p. 21-22. 
131 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 155. 
 
 
 
 
 
 
155 
confessar. Se mesmo assim não conseguir nada, continua-se 
com a tortura no dia seguinte, e no outro, se for preciso.132 
 
 Como fica claro, a tortura podia durar vários dias. Só no final de quinze dias de 
tortura é que o réu que resistiu bravamente sem confessar podia ser considerado 
«suficientemente torturado» e era liberado133. A vítima era torturada por um 
instrumento diferente por dia em duas séries completas de tortura por duas 
semanas134. Como se não bastasse, em alguns casos a tortura podia durar mais 
tempo, especialmente quando um réu confessava o “crime” para não ser mais 
torturado, mas depois voltava atrás e dizia que confessou apenas por não aguentar a 
tortura. Nestes casos, os inquisidores resolviam o problema torturando o cidadão 
novamente, até que ele confirmasse “livremente”. 
 
 Assim escreve Eymerich: 
 
A pessoa que confessa sob tortura tem as suas palavras 
registradas pelo escrivão. Depois da sessão, será conduzido 
para um local onde não exista nenhum sinal de tortura. Lerão a 
confissão feita sob tortura e continuarão o interrogatório até 
obterem de sua boca toda a verdade. Se o réu não confirmar a 
confissão ou se negar ter confessado sob tortura, e se ainda 
não passou por todas as sessões previstas, continua-se a 
torturá-lo.135 
 
 Como Baigent e Leigh comentam, “podia-se dizer que uma vítima só fora 
torturada na verdade uma vez, mesmo que essa ‘única’ tortura incluísse muitas 
sessões e suspensões que se estendiam por um considerável período de tempo”136. 
 
132 ibid. 
133 ibid, p. 158. 
134 NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 
2005, p. 80. 
135 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 155. 
136 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 89. 
 
 
 
 
 
 
156 
 Isso responde a uma clássica artimanha da apologética católica, que consiste 
em dizer que “a Inquisição só torturava uma vez”, sem explicar que essa “única vez” 
podia durar 15 dias e ser repetida caso a confissão não fosse reiterada após a tortura, 
recomeçando o processo todo outra vez. Como escreve Jean Duché, 
 
certo que o tribunal, em sua sabedoria, sabia que as confissões 
assim tiradas não tinham valor; e esta dificuldade se remediava 
fazendo com que o acusado as confirmasse três horas depois, 
bem entendido que, se se retratasse, poderia voltar a recomeçar 
a coisa. Esses entravam em um ciclo perpétuo.137 
 
 Peña tambémé bastante claro quando escreve sobre esse caso específico: “O 
réu confessa sob tortura. Depois, levado a confirmar a confissão, desdiz tudo. Em tais 
situações, recomeça-se toda a série de torturas, porque a confissão obtida durante a 
série anterior constitui, justamente, o novo indício que se precisa”138. Assim, a vítima 
era quem mais se prejudicava se confessasse apenas por não suportar mais a tortura, 
se não estivesse disposta a manter a confissão e aguentar as consequências ainda 
mais graves. 
 E se você pensa que o suplício acabava quando a vítima confessava sob tortura 
apenas para evitar o prolongamento da tortura, está muito enganado. Uma vez 
confessado o “crime” de heresia, ela era obrigada a delatar todos os outros envolvidos 
na heresia, já que ninguém é herege sozinho, e caso se recusasse a apresentar 
nomes (ou não tivesse nenhum para apresentar), a tortura recomeçava até que os 
nomes fossem dados: 
 
A tortura era então infligida com frequência aos que já haviam 
confessado a própria culpa, mas eram suspeitos de omitir os 
nomes de seus cúmplices. Uma vez obtido um nome, isso 
 
137 DUCHÉ, Jean. Historia de la Humanidad II – El Fuego de Dios. Madrid: Ediciones Guadarrama, 1964, p. 527. 
138 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 158. 
 
 
 
 
 
 
157 
tornava-se prova de que outros mais haviam sido omitidos e, 
nesse caso, a tortura prosseguia ininterruptamente.139 
 
 Isso não só prolongava a tortura de uma pobre alma que confessou apenas 
para evitar a tortura, como incluía muitos outros inocentes no jogo por terem sido 
delatados por alguém que confessou sob tortura e só ratificou mais tarde para não 
voltar a ser torturado. Assim, além de ser torturado, o indivíduo era frequentemente 
obrigado a delatar toda a família para que passasse pelo mesmo suplício. Diante 
disso, Toby Green escreve: 
 
Confrontadas com a dor física inimaginável que os inquisidores 
podiam infligir, muitas pessoas inventavam provas. Diante da 
extraordinária coincidência de que aqueles submetidos à tortura 
subitamente começassem a confessar e a denunciar outras 
pessoas, os inquisidores não chegaram à conclusão de que 
frequentemente o terror levava suas vítimas a mentir e 
apresentar provas falsas e enganosas. Pelo contrário, eram 
vistas como pessoas que até aquele momento haviam ocultado 
a verdade – um conceito um tanto abrangente, que tinha uma 
estranha relação com as predileções do interrogador.140 
 
 Desesperados em se livrar de uma vez dos suplícios, Gorenstein diz que eles 
“denunciavam todos que conheciam, começando pela própria família, marido, filhos, 
pais, depois tios e primos, a seguir os vizinhos e conhecidos; eram confissões 
repetitivas e metódicas; às vezes, denunciavam tantas pessoas, que o inquisidor 
interrompia o depoimento para continuar alguns dias mais tarde”141. Um dos exemplos 
que ela cita é o de Catarina da Silva Pereira, a quem os inquisidores não deram 
 
139 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
140 ibid. 
141 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 143. 
 
 
 
 
 
 
158 
sossego enquanto não denunciasse cada membro de sua família, que depois passaria 
pelos mesmos tormentos: 
 
Após ter passado por um exame médico, foi despida e lançada 
ao potro, onde os inquisidores “julgaram o tormento conforme o 
merecimento de sua causa e sendo atada e sendo-lhe dado 
meia volta, gritando a ré por Jesus que lhe acuda e por Nossa 
Senhora do Rosário e do Amparo, pedia audiência para 
confessar suas culpas”. Denunciou então o pai e os irmãos. 
Continuou a sessão de tortura e a ré denunciou um tio e primos, 
inclusive algumas primas cristãs-velhas e um tio padre; o 
tormento continuou, denunciou sua mãe, Catarina de Azeredo, 
que já estava morta, e “por não satisfazerem se continuou o 
tormento e se executou um trato e aperto que estava julgada em 
cuja execução se gastou três quartos de hora em que... tem 
gritado e mandaram os ditos senhores desatar e levar a seu 
cárcere”. Após ficar presa durante três anos, Catarina da Silva 
Pereira foi reconciliada no auto da fé de 10 de outubro de 1723, 
condenada a cárcere e hábito penitencial perpétuo.142 
 
 Em outros casos, mesmo a denúncia por si só não era suficiente, se os 
inquisidores não conseguissem arrancar da pessoa da pessoa tudo o que eles 
queriam ouvir. Foi isso o que aconteceu com Guimar de Paredes, presa em outubro 
de 1712, que não disse «bastantemente» nem de seu pai nem de sua mãe, e por isso 
continuou a ser torturada até que dissesse tudo o que precisava: 
 
Em 19 de maio de 1713 começou a sessão de tormento, Guimar 
de Paredes denunciou João Correa Ximenes, seu sobrinho 
Rodrigo Mendes, Pedro Mendes Henriques, sua sobrinha Ana 
Gertrudes de Bragança; no dia 25 de maio continuou o tormento, 
 
142 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 147. 
 
 
 
 
 
 
159 
quando denunciou mais de dez pessoas, mas não aquelas que 
os inquisidores consideravam necessárias delatar. Em 26 de 
maio, nova sessão de tortura de Guimar continuou a confissão, 
agora sim, satisfazendo a prova de justiça, denunciando seus 
pais e tios. Em julho do mesmo ano saiu no auto da fé, 
condenada a cárcere e hábito penitencial perpétuo.143 
 
 Alguém poderia perguntar por que ela não denunciou logo os seus pais 
“suficientemente”, já que era isso o que precisava para ela parar de ser torturada. O 
motivo é que os inquisidores não revelavam quem “precisava” ser delatado, 
justamente para que a vítima denunciasse o máximo de gente possível, atirando para 
todos os lados até que acertasse o alvo. Enquanto isso, a pobre criatura continuava 
sendo torturada, num processo que podia se estender por longos dias até que 
conseguissem extrair dela tudo o que queriam. 
 Baigent diz que “há copiosos registros de indivíduos torturados duas vezes por 
dia durante uma semana ou mais”144, e que, “na prática, o acusado era torturado até 
se dispor a confessar o que, mais cedo ou mais tarde, quase inevitavelmente fazia” 145. 
É curioso observar que uma das mentiras mais frequentemente contadas pelos 
apologistas católicos para suavizar as torturas da Inquisição é que “a Inquisição 
torturava pouca gente”, algo que lemos por exemplo na defesa de João Bernardino 
Gonzaga, que diz que “insignificante foi o número de réus efetivamente torturados 
pelo Santo Oficio espanhol”146. 
 Até Leonardo Boff reconhece que “praticamente todos os suspeitos e acusados 
passavam por vários tipos de tortura”147. O próprio Eymerich diz com todas as letras 
que até mesmo o suspeito que tivesse uma única testemunha contra ele era torturado: 
“O suspeito que só tem uma testemunha contra ele é torturado. Realmente, um boato 
e um depoimento constituem, juntos, uma semiprova, o que não causará espanto a 
 
143 ibid, p. 149. 
144 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 51. 
145 ibid, p. 52. 
146 GONZAGA, João Bernardino Garcia. A inquisição em seu mundo. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 204. 
147 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 18. 
 
 
 
 
 
 
160 
quem sabe que um único depoimento já vale como um indício”148. Séculos depois, 
Peña comentava esse trecho nas seguintes palavras: 
 
Os inquisidores observam, à luz da obra de Eymerich e do 
exemplo citado, que um único depoimentobasta para aplicar a 
tortura, como demonstra claramente o meu comentário a 
respeito do sétimo princípio.149 
 
 Ele acrescenta que “um só testemunho basta para justificar a tortura, sem 
precisar de indícios fortes ou graves. O conteúdo dos depoimentos basta”150. E faz 
questão de acentuar que esse réu que tem contra si uma única testemunha deve ser 
bastante torturado: “O acusado que só tiver uma testemunha contra si – íntegra, maior 
de idade e digna de fé – não será condenado, mas torturado. Se não confessar nada, 
depois de ser bastante torturado, será, então, absolvido”151. 
 Até mesmo “não denunciar um herege, inclinar-se à passagem de um herege, 
guardar as cinzas de um herege que foi queimado, tudo isso são graves indícios que 
justificam a tortura”152. Numa linguagem tão clara quanto possível, Peña assinala que 
“na maioria das vezes, não se levam esses casos até o fim sem recorrer à tortura” 153. 
Se na teoria já era assim, na prática era muito pior, pois o próprio Peña denuncia que 
os inquisidores recorriam facilmente à tortura antes de recorrer a qualquer outro 
método investigativo: 
 
Se é possível provar o fato de outra maneira, sem torturar, não 
se tortura, pois justamente a tortura serve apenas como 
paliativo, na falta de provas. Deste modo, pode-se qualificar de 
sanguinários todos esses juízes inquisidores de hoje, que 
 
148 ibid, p. 208. 
149 ibid, p. 212. 
150 ibid, p. 213. 
151 ibid, p. 221. 
152 ibid, p. 213. 
153 ibid, p. 210. 
 
 
 
 
 
 
161 
recorrem tão facilmente à tortura, sem tentar, através de outros 
meios, completar a investigação.154 
 
 Só em pleno ano de 1774, no último regimento da Inquisição portuguesa, é que 
a tortura em si é criticada – isso já na fase final da Inquisição, após torturar centenas 
de milhares de pessoas por séculos (para não dizer milhões)155. Só nos Estados 
Papais, entre os anos de 1823 e 1846, cerca de 200 mil pessoas “foram mandadas 
para as galés, banidas para o exílio, sentenciadas à prisão perpétua ou à morte. A 
tortura, pelos Inquisidores do Santo Ofício, era rotineiramente praticada”156. 
 Escamilla-Colin calculou que três em cada quatro judaizantes passavam pela 
tortura na Inquisição espanhola do século XVII157, e Green observa que “quase 85% 
dos mouros investigados pela Inquisição em Valência foram torturados entre 1580 e 
1610, e o mesmo aconteceu em Saragoça com 79% deles”158. Desse monte de gente 
torturada, se encontrava até deficientes mentais, que eram torturados para “provar” 
que eram deficientes mesmo. Assim escreve Peña: 
 
A questão de se fingir de louco merece uma atenção especial. E 
se se tratasse, por acaso, de um louco de verdade? Para ficar 
com a consciência tranquila, tortura-se o louco, tanto o 
verdadeiro como o falso. Se não for louco, dificilmente poderá 
continuar a sua comédia sentindo dor. Se houver dúvidas, e se 
não se puder saber se se trata mesmo de um louco, de toda 
maneira, deve-se torturar, pois não há por que temer que o 
acusado morra durante a tortura.159 
 
 
154 ibid. 
155 BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália – Séculos XV-XIX. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2000, p. 48. 
156 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 211. 
157 ESCAMILLA-COLIN, M. Crimes et Châtiments dans l’Espagne Inquisitoriale. Paris: Berg International, 1992. v. 
1, p. 599. 
158 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
159 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 122. 
 
 
 
 
 
 
162 
 Não há por que temer que o acusado morra durante a tortura» mostra o quão 
pouco caso eles faziam das mortes na tortura, porque para eles a vida humana (e 
ainda mais a vida de um “herege”) não tinha valor algum. É por isso que a 
«consciência tranquila» não é a de não ter matado um inocente, mas justamente o 
contrário: o risco de ter deixado um “herege” escapar sem ter sido torturado (mesmo 
que até a morte). 
 Em Évora, a Inquisição chegou a torturar um menino de 12 anos violentado 
pelo cunhado pelo crime de sodomia160 (quer dizer, não bastava ter sido abusado, 
ainda era torturado pela Inquisição pra provar que não tinha feito por querer!). E ele 
não foi a única criança a ser torturada pela Inquisição. Um dos trechos mais 
repugnantes do Manual dos Inquisidores é aquele em que Peña autoriza a tortura de 
crianças e idosos: 
 
Uma questão que merece particular atenção é quanto à 
existência ou não de categorias de pessoas não torturáveis, em 
decorrência de algum privilégio. Efetivamente, funciona, do 
ponto de vista jurídico, e com uma certa frequência, a ideia de 
que certas pessoas não podem ser torturadas – soldados, 
cavaleiros, pessoas importantes – devendo se limitar a 
aterrorizá-los – mostrando-lhes os instrumentos de tortura e 
ameaçando-os de utilizá-los. Mas este é um direito que não se 
conta nas questões de heresia: nenhuma das pessoas 
isentas de tortura a propósito de qualquer delito não o será, 
tratando-se de heresia. É o caso de se perguntar, em 
contrapartida, se se podem torturar as crianças e os velhos por 
causa da sua fragilidade. Pode-se torturá-los, mas com uma 
certa moderação; devem apanhar com pauladas ou, então, 
com chicotadas. E o que fazer se o réu em questão é uma 
mulher grávida? Esta não é torturada nem aterrorizada, para 
evitar que dê à luz ou aborte. Deve-se tentar arrancar-lhe a 
 
160 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
 
 
 
 
 
 
163 
confissão através de outros meios, antes de dar à luz. Depois do 
parto, não haverá mais nenhum obstáculo á tortura.161 
 
 Note que Peña não só diz que crianças e velhos podiam apanhar com pauladas 
e chicotadas, mas também que a Inquisição torturava classes de pessoas que não 
eram “torturáveis” pelo Estado, o que ele volta a afirmar mais adiante: 
 
Se, por outros crimes e diante dos tribunais, a regra é nunca 
torturar certas categorias de pessoas (por exemplo, letrados, 
soldados, autoridades e seus filhos, crianças e velhos), para o 
terrível crime de heresia não existe privilégio de exceção, não 
existe exceção: todos podem ser torturados. O motivo? O 
interesse da fé: é preciso banir a heresia dos povos, é preciso 
desenraizá-la, impedir que cresça.162 
 
 Isso quebra ao meio uma das alegações mais rotineiras da apologética católica, 
a de que a tortura da Inquisição era mais “clemente” que a do poder civil. Como Green 
argumenta, “o fato é que a tortura inquisitorial – como demonstram as provas de 
Valência – perdurou por muito tempo após 1500, e foi realmente mais severa do que 
nas cortes civis”163. Ele cita como exemplo o fato de que muitos na época 
testemunhavam que a tortura da Inquisição era pior que a tortura das cortes seculares, 
uma vez que a heresia era considerada o pior de todos os crimes: 
 
Ainda assim, muitos observadores da época achavam que o uso 
da tortura pela Inquisição era pior do que nas cortes seculares, 
como demonstram o caso de Lucero e os protestos populares 
em Córdoba. O cronista Hernando de Pulgar, secretário dos Reis 
Católicos, observou que a tortura praticada pela Inquisição era 
 
161 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 156-157. 
162 ibid, p. 211. 
163 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
 
 
 
 
 
 
164 
considerada particularmente cruel. Conselheiro da Inquisição, o 
teólogo e bispo de Zamora Diego de Simancas (morto em 1564) 
argumentou que os inquisidores deviam praticarmais a tortura 
do que os demais juízes, pois o crime da heresia era secreto e 
difícil de provar.164 
 
 Baigent comenta que “pela lei civil, os médicos, soldados, cavaleiros e nobres 
não estavam sujeitos a tortura e gozavam de imunidade. A Inquisição decidiu 
democratizar a dor e pô-la facilmente à disposição de todos, independente de idade, 
sexo e posição social”165. O próprio Peña observava que “há países em que a prática 
da tortura é totalmente proibida. É o caso do reino supercatólico de Catalunha-Aragão, 
de onde eu sou – mas, às vezes, neste reino, autorizam torturar os acusados no 
Tribunal da Inquisição”166. 
 Até mesmo Gonzaga, um apologista da Inquisição, lembra que as leis da 
Inglaterra proibiam a tortura167, embora a Inquisição a empregasse. E isso até em 
crianças, como havia destacado Peña e como confirma Lina Gorenstein, que diz que 
meninas de 13 anos foram torturadas pela Inquisição do Rio de Janeiro168 e 
submetidas ao potro169, assim como uma mulher de noventa170. 
 Palma afirma que “a Inquisição tornou seus os vícios dos demais tribunais, 
levando-lhes quase sempre vantagem, nas leis das torturas destacou sobremaneira 
seu rigor”171, e também que as leis humanas seculares “pouparam sempre as 
mulheres da tortura, levando em conta sua delicadeza física e em respeito ao pudor. 
 
164 ibid. 
165 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 51. 
166 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 212. 
167 GONZAGA, João Bernardino Garcia. A inquisição em seu mundo. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 26. 
168 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 123. 
169 GORENSTEIN, Lina; CALAÇA, Carlos Eduardo. “Na Cidade e Nos Estaus: Cristãos-novos do Rio de Janeiro 
(Séculos XVII-XVIII)”. In: Ensaios sobre a intolerância: inquisição, marranismo e anti-semitismo (ed. 
GORENSTEIN, Lina; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci), 2ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 
124. 
170 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 123. 
171 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 47. 
 
 
 
 
 
 
165 
 O Santo Ofício, porém, tripudiava sobre estas ponderações. Se as mulheres 
presas desrespeitassem o silêncio absoluto que devia reinar nos cárceres da 
Inquisição, eram despidas e açoitadas”172. 
 Como já é de se esperar, muita gente morria durante as torturas, embora essas 
mortes fossem tratadas como “acidentes de trabalho”, já que a intenção era que 
morressem queimadas em praça pública diante de todo mundo, a fim de que 
servissem de exemplo aos demais (e não em um calabouço qualquer). O mesmo 
autor, que teve acesso a todos os arquivos da Inquisição de Lima, no Peru, diz que 
“frequentemente morriam réus na prisão, em decorrência da tortura, melancolia e 
maus-tratos – quando não se suicidavam. Induzia-os a esse ato de desespero a 
circunstância de a Inquisição adiar por longo tempo a execução da sentença”173. 
 O próprio Peña admitia que “muitos réus ficam, depois das primeiras sessões 
de tortura, num tal estado de fragilidade e enfermidade, que devemos nos perguntar, 
sinceramente, se seriam capazes de suportar o restante”174. Eymerich chega até a 
apelar para a bruxaria para justificar os que morriam na tortura sem confessar a 
“heresia”: “Outras pessoas saem enfraquecidas das torturas anteriores e ficam 
incapazes de suportar outras. Existem os enfeitiçados que, sob o efeito de bruxarias 
utilizadas durante a tortura, ficam quase insensíveis: preferem morrer a confessar”175. 
 Há registros tão cruéis quanto o de Margarida, cortada em pedaços diante dos 
olhos de seu marido, o qual foi também cortado em pedaços. “Os ossos e os membros 
dos torturados foram atirados à fogueira, juntamente com alguns de seus 
seguidores”176. O Regimento do Santo Ofício de 1640 chegava a dizer que “se no 
tormento ela [a vítima] morrer, quebrar algum membro ou perder algum sentido, a 
culpa será sua, pois voluntariamente se expõe àquele perigo, que pode evitar 
confessando suas culpas”177. Ou seja, a culpa por ter morrido torturada não recaía 
 
172 ibid. 
173 ibid, p. 48. 
174 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 157. 
175 ibid, p. 154. 
176 ibid, p. 45. 
177 NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 
2005, p. 80. 
 
 
 
 
 
 
166 
nos torturadores, mas na vítima, que se recusou a “confessar sua culpa” e por isso foi 
torturada até a morte! 
 Foi exatamente isso o que aconteceu com Manuel Álvarez Prieto, como nos 
conta Toby Green: 
 
Em um dia de verão, examinei o julgamento de Manuel Álvarez 
Prieto, convertido acusado de judaizar que foi encarcerado em 
Cartagena em 1636. Álvarez Prieto a princípio confessou o 
crime, mas depois voltou atrás, alegando que estava fora de si 
quando fez a confissão. Ele foi levado para o cavalete, onde 
passou três horas e aguentou sete voltas da corda sem 
confessar. Nesse ponto, os torturadores suspenderam seu 
sofrimento e constataram que ele estava em péssimas 
condições de saúde: seus braços estavam quebrados e tão 
torcidos que o cirurgião disse que corria perigo de vida. Álvarez 
Prieto morreu dois dias depois. Os inquisidores declararam que 
a culpa fora dele.178 
 
 Como se isso não bastasse, os inquisidores “ordenaram que seus ossos 
fossem queimados, seus bens, confiscados, e os nomes de seus descendentes 
maculados para sempre”179. Ainda no século XIII, o papa Alexandre IV (1254-1261) já 
tinha autorizado os inquisidores a “absolver uns aos outros por quaisquer chamadas 
‘irregularidades’ – a morte prematura de uma vítima, por exemplo”180. 
 Nazario diz que “alguns réus, após as torturas e os padecimentos do cárcere, 
achavam-se em tal estado que nem em padiola podiam comparecer ao auto ‘pelo 
perigo da sua vida’”181. Palma concorda quando destaca que mesmo se a vítima 
tivesse a sorte de sobreviver às torturas, não raro ficava “incapaz de qualquer 
 
178 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
179 ibid. 
180 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 45. 
181 NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 
2005, p. 141-142. 
 
 
 
 
 
 
167 
movimento, devido ao deslocamento dos ossos na roldana, à opressão do peito e 
outros agravamentos no cavalete e à contração dos nervos no castigo do fogo”182. 
 Em 1591, um místico dominicano chamado Tommaso Campanella publicou um 
livro defendendo que o empirismo era válido assim como a fé, o que bastou para ele 
ser condenado pelo Santo Ofício, torturado e sentenciado à prisão perpétua. Um 
amigo que o visitou em sua cela tempos depois “informou que ele tinha as pernas 
todas feridas e as nádegas quase sem carne, arrancada pedaço a pedaço para 
extorquir-lhe uma confissão dos crimes de que fora acusado”183. 
 Outra diferença é que, diferente dos juízes seculares, um inquisidor não tinha 
que prestar contas por alguém que morria torturado por suas mãos, o que os tornava 
mais ávidos e destemidos a levarem adiante a prática: 
 
Um juiz civil era punido se o torturado perdesse um membro ou 
morresse, mas isso não ocorria com os inquisidores; o fato pode 
explicar por que, às vezes, os juízes civis preferiam não aplicar 
as penas mais severas aos acusados. O método foi usadoprimeiro nos julgamentos inquisitoriais e depois nos civis, e havia 
muitas formas de tortura à disposição dos inquisidores; ela foi, 
em todos os sentidos, uma das principais armas do arsenal 
inquisitorial pelo menos até o início do século XVII.184 
 
 Na própria sentença da tortura os inquisidores deixavam claro a possibilidade 
de que a vítima morresse ou ficasse mutilada, e que a responsabilidade era 
inteiramente dela: 
 
Decidimos, observados os autos e métodos do processo e 
suspeitos que dele resultam contra o réu, que devemos 
condená-lo e condenamos e que seja submetido à tortura, na 
 
182 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 47. 
183 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 155. 
184 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
 
 
 
 
 
 
168 
qual determinamos que fique e permaneça tanto tempo quanto 
nos parecer conveniente, para que nela diga a verdade do que 
está testemunhado e acusado, com a afirmação pública que lhe 
fazemos de que, se durante referida tortura, morra ou seja 
estropiado ou resulte mutilação de membro ou perda de sangue 
– será por sua culpa e responsabilidade e não nossa, e em razão 
de não ter querido dizer a verdade.185 
 
 E ainda: “Ordenamos que a referida tortura seja aplicada de forma e pelo tempo 
que julgamos conveniente, depois de ter protestado, como protestamos, que em caso 
de lesão, morte ou fratura, a ocorrência só poderá ser imputada ao acusado”186. 
 Mas imaginemos que a vítima sobrevivesse às torturas, confessando ou não o 
seu “crime” de heresia. Após ser cruelmente torturado, ele estava livre, certo? Longe 
disso. Para começo de conversa, antes mesmo do seu caso ser apurado, os réus 
(mesmo os que seriam posteriormente absolvidos) passavam anos na prisão apenas 
aguardando o processo, porque a lógica da Inquisição era que todo mundo é culpado 
até que provasse o contrário. 
 Mesmo após ser absolvido, o réu permanecia preso até a cerimônia oficial 
conhecida como “auto de fé”, onde os “hereges” reincidentes ou que se recusavam a 
abandonar a “heresia” eram queimados até a morte, e os demais sofriam algum tipo 
de penitência. Gorenstein menciona o caso de uma mulher que ficou mais de cinco 
anos presa até ser penitenciada187. 
 Você pode pensar: “Pelo menos a prisão era confortável, tipo a prisão do Lula”. 
Embora você provavelmente não pense isso, é assim que pensa o professor Felipe 
Aquino, um apologista da Inquisição que chegou a dizer que a prisão da Inquisição 
era «bonita e bem iluminada», tentando enganar algum tapado que o segue. Quando 
vamos às fontes primárias, no entanto, notamos que a regra era precisamente a 
contrária: a prisão inquisitorial tinha que ser ainda pior que as prisões civis, da mesma 
 
185 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 46. 
186 ibid, p. 119. 
187 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 140. 
 
 
 
 
 
 
169 
forma que o inferno é pior que qualquer prisão terrena, visto que os que lá agonizavam 
haviam cometido o pior de todos os crimes – o da heresia. 
 É por isso que o Manual dos Inquisidores expressamente afirma que o réu seria 
enviado “à prisão perpétua, para ser atormentado, para todo o sempre, pelo pão do 
sofrimento e a água da amargura”188, o que não me parece muito com uma prisão 
bonita e bem iluminada. Eymerich diz ainda que “é uma prisão horrorosa, porque foi 
concebida muito mais para o suplício dos condenados do que para sua simples 
detenção”189. Mesmo aqueles que já tinham sido condenados eram deliberadamente 
“trancafiados durante seis meses ou um ano, numa prisão horrível e escura, pois o 
flagelo da cadeia e as humilhações constantes costumam acordar a inteligência”190. 
 Henry Lea comenta que eles eram “mantidos numa masmorra, em 
confinamento solitário, por pelo menos seis meses, muitas vezes por um ano ou 
mais”191. Peña, o co-autor do Manual, disse que os réus da Inquisição eram 
aprisionados numa “masmorra particularmente sombria, bem vigiada e lúgubre”192, 
apoiando-se no que é prescrito pelo Concílio de Béziers (1246), que diz exatamente 
o oposto ao que é alegado pelo professor Felipe Aquino: 
 
Que se construam, próximo a cada sede episcopal – e, se for 
possível, em cada cidade – celas individuais sem luz, nas 
quais os hereges condenados ficarão trancados, de tal modo 
que não possam contaminar-se mutuamente nem perverter 
outras pessoas.193 
 
 Como se a cela sem luz não fosse o bastante, eles ainda faziam questão de 
isolar os prisioneiros do contato com outros seres humanos, o que era ainda mais 
 
188 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 169. 
189 ibid, p. 203. 
190 ibid, p. 173. 
191 LEA, Henry Charles. A History of the Inquisition of the Middle Ages. Cambridge: Cambridge University Press, 
2010. v. 1, p. 541. 
192 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 203. 
193 ibid, p. 204. 
 
 
 
 
 
 
170 
devastador para o aspecto psicológico dos mesmos. Peña afirma que “deve-se evitar, 
em geral, prender numa mesma cela duas ou mais pessoas”194. Nem o poder civil era 
tão tirânico, bastando lembrar que Paulo e Silas foram aprisionados juntos e assim 
puderam louvar a Deus em conjunto (At 16:25), algo que nenhum inquisidor admitiria. 
 Para piorar, os inquisidores proibiam também que os prisioneiros lessem livros 
na prisão195, enquanto Paulo de sua prisão em Roma não apenas escreveu uma carta 
a Timóteo como pediu que “quando você vier, traga a capa que deixei na casa de 
Carpo, em Trôade, e os meus livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4:13). Isso 
tudo mostra que a Inquisição não representou nenhum “avanço moral” em relação ao 
antigo sistema vigente, como argumentam os apologistas desonestos à serviço de 
Roma. Ao contrário: tudo era feito na intenção de que o prisioneiro tivesse a pior 
experiência possível, já que ele era culpado de cometer o pior dos pecados. 
 Até mesmo o famoso padre jesuíta Antônio Vieira (1608-1697), que chegou a 
ser preso por defender os direitos dos judeus conversos e por criticar a própria 
Inquisição, descreveu as celas do Santo Ofício de uma maneira que não se parece 
nem um pouco com a dos apologistas católicos: 
 
A cada prisioneiro se lhes dá seu cântaro de água para oito dias 
(se se acaba antes, têm paciência) e outro mais para a urina, e 
um para as necessidades que também aos oito dias se 
despejam e... são tantos os bichos que andam os cárceres 
cheios e os fedores tão excessivos que é benefício de Deus sair 
dali homem vivo.196 
 
 Agora, resta-nos escolher que lado tem mais chances de estar dizendo a 
verdade: um padre que foi pessoalmente preso pela Inquisição e colocado no lugar 
que ele descreve, ou os apologistas revisionistas do século XXI que tentam romancear 
 
194 ibid, p. 205. 
195 TAVARES, Célia Cristina da Silva. Jesuítas e Inquisidores em Goa: A cristandade insular (1540-1682). Lisboa: 
Roma Editora, 2004, p. 186. 
196 SOUZA, Laura de Mello E. O diabo e a terra de Santa Cruz: Feitiçaria e religiosidade popular no Brasil 
colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 327. 
 
 
 
 
 
 
171 
a história escrevendo séculos após os acontecimentos e tendo por base o que tiram 
do nariz deles. 
 Baigent chega a comentar que 
 
em geral, mantinham-se os presos acorrentados em 
confinamentosolitário, e não lhes permitiam qualquer contato 
com o mundo lá fora. Se fossem libertados, exigia-se que 
“fizessem um juramento de não revelar nada do que haviam visto 
ou passado nas celas”. Não surpreende que muitas vítimas 
enlouquecessem, morressem ou se suicidassem quando 
podiam.197 
 
 Também é valioso o depoimento de Pyrard de Laval (1578-1623), que 
escreveu: 
 
O que é mais cruel e iníquo é que um homem que quiser mal a 
outro, por se vingar o acusará deste crime; e sendo preso não 
há amigo que ouse falar por ele, nem visitá-lo, ou procurar por 
suas coisas, como em semelhante caso acontece aos 
criminosos de lesa-majestade.198 
 
 Note que ele compara a Inquisição apenas aos casos de lesa-majestade, que 
é quando alguém é acusado de trair o monarca ou conspirar contra o mesmo, o que 
era tido como o pior crime de todos por atentar contra a pessoa mais importante de 
todas: o rei. A heresia entrava num patamar ainda acima, não só porque o “ofendido” 
era Deus, mas também porque atentava contra a Igreja (que estava acima do Estado) 
e contra o papa (que estava acima do rei). Por isso os inquisidores se esforçavam em 
tornar tudo pior para os envolvidos, uma vez que cada crime era punido de acordo 
com sua gravidade. 
 
197 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 88. 
198 PYRARD DE LAVAL. Viagem de Francisco Pyrard de Laval contendo a notícia de sua navegação às Índias 
Orientais. Porto: Livraria Civilização, 1944. v. 2, p. 73. 
 
 
 
 
 
 
172 
 Isso também explica por que o Estado costumava executar pela forca – uma 
morte relativamente rápida e indolor –, enquanto a Inquisição condenava à morte na 
fogueira, o tipo mais doloroso de morte que alguém poderia experimentar. E ainda 
faziam isso a fogo lento para prolongar o sofrimento das vítimas, muitas das quais 
chegavam a queimar por horas e horas agonizando até a morte. Claro que isso tinha 
que ser feito em praça pública, à vista de todos, numa solenidade conhecida como 
“auto-de-fé”, onde famílias inteiras (com crianças e tudo) eram convocadas a 
contemplar este espetáculo grotesco. 
 O “crime” de heresia era de uma gravidade tão grande que a pena mais comum 
para aqueles que confessavam a heresia (sob tortura) e se diziam arrependidos e 
dispostos a serem recebidos de volta no seio da Igreja era justamente a prisão 
perpétua – naquele mesmo tipo de cela que não tinha nada de “bonita e bem 
iluminada”. Eymerich explica como funcionava a coisa: 
 
O herege abjura seus erros e aceita expiá-los de acordo com a 
decisão do bispo e do inquisidor; ou não abjura. Se abjura, é 
condenado à prisão perpétua, e esta será a sua expiação. Se 
não abjura, é entregue como impenitente ao braço secular para 
ser executado. A mesma coisa para quem foi excomungado há 
um ano, independentemente do motivo que o levou à 
excomunhão: se se retrata, fica livre da excomunhão e é 
condenado à prisão perpétua; em caso de não se retratar, é 
entregue ao braço secular para ser castigado até a morte como 
herege.199 
 
E ainda: 
 
Quem foi preso por heresia, confessa os fatos ou não os 
confessa. Se confessar, mas não se considerar culpado, é 
impenitente, e, como tal, deve ser entregue ao braço secular 
 
199 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 67. 
 
 
 
 
 
 
173 
para ser executado. Se se confessar culpado, é um herege 
penitente, sendo assim condenado à prisão perpétua: portanto, 
não se pode libertá-lo sob fiança. Se não confessar, deve ser 
entregue ao braço secular como impenitente para ser 
executado.200 
 
 Levando em consideração o tipo de prisão na qual os hereges arrependidos 
ficariam para o resto da vida, é de se pensar se não era melhor a morte mesmo. 
Justamente para que ninguém pensasse nisso eles preparavam o pior tipo de morte 
possível, para afastar qualquer pensamento de que seria melhor o pior tipo de prisão 
(perpétua) possível. 
 E não pense que o prisioneiro não sofria ainda mais antes de ser condenado a 
esse horrível destino. Muitas vezes o condenado era castigado com centenas de 
açoites (você não leu errado) antes de ir para a prisão perpétua, como ocorreu em 
1749 com Barnabé Morillo, acusado do crime de idolatria (veja só que ironia), que 
antes de ficar preso para o resto da vida levou duzentas chibatadas em praça pública. 
E como isso ainda parecia pouca humilhação para os sádicos inquisidores, eles 
exigiram que o pobre Morillo estivesse seminu enquanto andava pelas ruas de Lima 
e levava as chibatadas201. 
 Para se ter uma ideia do tanto de gente que era condenada a esse destino, 
Lina Gorenstein, que analisou todos os arquivos da Inquisição do Rio de Janeiro, 
constatou que 64% das cristãs-novas fluminenses foram condenadas a «cárcere e 
hábito penitencial perpétuo»202. Houve quem fosse açoitado ainda mais vezes que o 
pobre Morillo, como é o caso do cirurgião Damián Acen Dobber, que em 1587 foi 
castigado com nada a menos que 400 açoites (dez vezes mais do que os romanos 
castigaram Jesus e Paulo) por ter supostamente feito uma oração muçulmana203. 
 
 
200 ibid, p. 229. 
201 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 90. 
202 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005, p. 151. 
203 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
 
 
 
 
 
 
174 
 Para mostrar que a Inquisição não brincava em serviço, um simples alfaiate 
chamado Pedro Bermejo foi condenado a duzentos açoites por contestar um trecho 
da Bíblia, como nos conta Ricardo Palma: 
 
Pedro Bermejo, alfaiate, afirmava que a caridade era menor do 
que a fé, e que São Paulo podia ter errado porque foi homem. 
Como castigo por essas afirmações, e em lugar de lhe ser dito: 
“Alfaiate, volta à tua agulha e aos teus pontos”, foi condenado a 
duzentos açoites, abjuração de vehementi e a ter a cidade por 
cárcere durante seus anos, como castigo de ser impenitente 
relapso.204 
 
 Por ter servido como testemunha no segundo casamento de um amigo seu, 
José Rivera foi condenado pela Inquisição de Lima aos mesmos duzentos açoites 205, 
e pela suspeita de feitiçaria Antônia Osório recebeu duzentos açoites no auto-de-fé 
de 23 de dezembro de 1736, a qual foi obrigada ainda a percorrer a cidade em lombo-
de-burro, despida da cintura para cima, enquanto suportava os duzentos açoites 206. 
Às vezes, nem com isso os inquisidores sedentos de sangue estavam satisfeitos. 
Eymerich diz que o herege que não abjurasse podia ser “será surrado até a morte 
como um herege impenitente”207, sendo brutalizado até o último suspiro (o que talvez 
fosse até melhor que torrar a fogo lento). 
 Nos poucos casos em que alguém tinha a sorte de não ser nem torrado vivo, 
nem condenado às centenas de açoites seguida ou não da prisão perpétua, teria o 
infortúnio de ter os bens confiscados em benefício da própria Inquisição. Quem 
inaugurou essa moda foi Inocêncio IV na bula Ad extirpanda (1252), onde diz que os 
inquisidores “podem e devem capturar os heréticos e as heréticas, e retirar os bens 
 
204 PALMA, Ricardo. Anais da Inquisição de Lima. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Giordano, 
1992, p. 22. 
205 ibid, p. 50. 
206 ibid, p. 66. 
207 ibid, p. 56. 
 
 
 
 
 
 
175 
deles”208. E Eymerich não vê mal nenhum no fato de que isso condenaria os filhos do 
“herege” à miséria, já que eles tinham mesmo que pagar pelos erros dos pais: 
 
Os bens de um herege deixam de lhe pertencer e são 
confiscadospelo simples fato de ele ser um herege. A 
comiseração pelos filhos do culpado, que ficam assim reduzidos 
à miséria, não deve nunca ser razão para se abrandar a 
severidade, já que, segundo todas as leis divinas e humanas, os 
filhos pagam pelas faltas dos pais.209 
 
 Peña também não via mal nenhum nisso, porque, afinal, um “herege” não 
merece ficar nem com a vida, quanto menos com seus bens: “O quê! Um homem 
desses, culpado de uma tal infâmia, ganharia duas graças – a vida e a posse de seus 
bens? Um herege desses não seria digno de tanta bondade”210. Como se não fosse o 
bastante a vítima perder todos os seus bens, seus filhos também perdiam, mesmo se 
não tivessem qualquer relação com o “crime” do pai. E isso não é tudo: até os filhos 
que fossem concebidos antes do delito da heresia seriam castigados da mesma forma 
que o pai! 
 
A não-habilitação atingiria todos os filhos do herege ou apenas 
os que fossem concebidos depois do delito da heresia? Os 
estudiosos defendem que as crianças concebidas antes do 
delito do pai escapariam à não-habilitação, mas a maioria acha 
que todos os descendentes são inaptos. Esta última opinião 
parece-me mais correta, razoável e conforme as considerações 
avocadas anteriormente a respeito do amor paterno e do papel 
desse sentimento na manutenção dos pais na verdade católica. 
Os pais amam igualmente todos os filhos, sendo, portanto, justo 
 
208 Parágrafo 5 da bula Ad extirpanda. 
209 EYMERICH, Nicolau. O manual dos inquisidores. Lisboa: Edições Afrodite, 1972, p. 84. 
210 ibid, p. 241. 
 
 
 
 
 
 
176 
que o seu pecado tenha sobre todos eles as mesmas 
consequências.211 
 
 Como em todo sistema corrupto, também na Inquisição era frequente 
condenações que visavam exclusivamente roubar do condenado os seus bens, 
tornando a Inquisição um negócio bastante lucrativo. Baigent diz que “não raro, [a 
Inquisição] fabricava acusações contra indivíduos com o único objetivo de obter seus 
bens e propriedades que jamais eram devolvidos, mesmo sendo o acusado 
inocentado”212, e conclui que “entre 1646 e 1649, a Inquisição obteve renda suficiente 
com seus confiscos para se manter por 327 anos”213. Bethencourt acrescenta que 
“existiam ordens explícitas dos organismos de controle para aumentar os confiscos 
de bens nas conjunturas mais difíceis”214. 
 Não bastasse ter os bens confiscados, o “herege” reduzido à miséria (numa 
época que, lembremos bem, já era caracterizada pela extrema pobreza de boa parte 
do povo) era muitas vezes sentenciado à escravidão pelo resto da vida. Mas, como 
você já deve imaginar, os inquisidores não condenavam a uma escravidão comum, 
mas ao pior tipo de escravidão conhecido na época: a escravidão nas galés. Os 
condenados aos trabalhos forçados nas galés eram enviados para “um ambiente sujo, 
sem ventilação, com um calor insuportável. Neste lugar, os homens conviviam com 
alimentos estragados e corriam o risco constante de contrair doenças”215. 
 Souza afirma que a escravidão nas galés era “muito mais rigorosa do que o 
desterro para o Brasil ou para regiões da África”216, e que na maioria dos casos “eles 
contraíam doenças, como úlcera, ficavam aleijados, perdiam a consciência ou 
morriam nas galés”217. Para piorar, Green afirma que era comum que um escravo nas 
 
211 ibid, p. 246. 
212 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 105. 
213 ibid, p. 106. 
214 BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália – Séculos XV-XIX. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2000, p. 340. 
215 SOUZA E SILVA, Emanuel Luiz. Condenados às galés. Revista de história. fev. 2011. 
216 ibid. 
217 ibid. 
 
 
 
 
 
 
177 
galés fosse acorrentado aos pés de outro prisioneiro, e que isso “muitas vezes 
equivalia a uma sentença de morte”218. 
 Finalmente, a fogueira. Apologistas católicos são rápidos em argumentar que 
“a Inquisição matou pouca gente”, e alguns chegam até a dizer que não mais que 3 a 
5 mil pessoas foram condenadas à fogueira pela Inquisição espanhola (a mais famosa 
das inquisições). Isso porque eles se baseiam apenas nos registros sobreviventes, 
que é apenas uma pequena fração do total de mortes. Ninguém melhor para provar 
isso do que Juan António Llorente, o último secretário-geral da Inquisição espanhola 
e primeiro historiador importante do tribunal, que apresentou os seguintes números 
baseados nos documentos sobreviventes até sua época: 31.912 queimados vivos, 
17.659 em efígie e 291.450 condenados a penas diversas219. 
 Embora alguns tentem diminuir a gravidade desses queimados em efígie, 
argumentando que eram apenas bonecos, devemos lembrar que eles obviamente não 
queimavam bonecos no auto-de-fé por diversão, mas porque cada boneco 
representava alguém que morreu antes de ter tido tempo de comparecer à cerimônia 
para ser queimado vivo. Na maior parte dos casos, dizia respeito àqueles que 
morreram durante as torturas ou na prisão insalubre e sem iluminação, onde eram 
tratados como animais sendo deixados para apodrecer por anos antes mesmo de sair 
a sentença. Em outras palavras, são pessoas que morreram por causa da Inquisição, 
mesmo que não propriamente queimadas. 
 Mesmo se considerarmos apenas aqueles queimados vivos, o número 
apresentado por Llorente é dez vezes maior que aquele dado pelos apologistas 
católicos – e ele, como um bom católico que era, não teria razão nenhuma para 
exagerar nos números. Para piorar, o inquisidor Luís de Geram, que escreveu uma 
história da Inquisição espanhola em 1589, “assevera que mais de cem mil hereges 
foram entregues às chamas”220. Mas como pode a Inquisição espanhola ter matado 
100 mil até o final do século XVI e este número ter diminuído para 32 mil dois séculos 
mais tarde? 
 
 
218 GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007. 
219 LOPEZ, Luiz Roberto. História da Inquisição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993, p. 102. 
220 CANTÚ, Cesare. História Universal – Volume Décimo Sexto. São Paulo: Editora das Américas, 1954, p. 473. 
 
 
 
 
 
 
178 
 O motivo é o mesmo já expresso anteriormente: assim como Llorente possuía 
em mãos mais documentos do que os que sobreviveram aos dias de hoje, Geran tinha 
em mãos mais documentos do que os que tinham sobrevivido até a época de Llorente. 
É por isso que é tão tolo se basear apenas nos documentos sobreviventes para 
concluir quantas pessoas morreram, um erro que até os historiadores mais amadores 
passam longe – exceto os mal-intencionados. 
 Um exemplo de como documentos muito mais importantes que a papelada da 
Inquisição podiam se perder com o tempo são os escritos de Orígenes (185-253 d.C), 
tido em tão alta estima por Eusébio (265-339) que ocupa praticamente um livro inteiro 
de sua História Eclesiástica (enquanto os outros Pais da Igreja antiga recebem apenas 
alguns parágrafos de atenção), que escreveu segundo Epifânio nada a menos que 
6.000 obras, das quais apenas um punhado disso (menos de cem) sobreviveu integral 
ou parcialmente até os nossos dias. 
 Se até mesmo obras consideradas de grande riqueza para a Igreja se perderam 
aos milhares, imagine os documentos da Inquisição, que alguns ainda por cima tinham 
até mesmo a intenção de destruir. Quando o papa Paulo IV morreu, em 1559, ele era 
“tão detestado pelos romanos que eles atacaram as instalações do Santo Ofício, 
demoliram os prédios, saquearam e queimaram todos os documentos”221. Outros 
foram roubados, como os documentos de Barcelona e Valência, saqueados em 1820 
pelo povo que invadiu as instalações do Santo Ofício222. O próprio Napoleão confiscou 
milhares de documentos, e outros milhares ainda não foram sequer lidos, como os da 
Torre do Tombo: 
 
Os processos inquisitoriaisdevidamente instaurados, 
registrados e arquivados, só nos Arquivos da Torre do Tombo – 
pois existem inúmeros outros espalhados pelas diversas 
bibliotecas de Lisboa, Évora e Coimbra, além dos de Goa e do 
Brasil – rondam os 40.000, com poucas dezenas estudados.223 
 
221 BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001, p. 148. 
222 ibid, p. 99-100. 
223 OLIVEIRA, Rui A. Costa. Resquicios históricos da presença da Reforma no espaço lusófono, durante o século 
XVI. Portugal: Revista Lusófona de Ciência das Religiões, n. 9/10, 2006, p. 8. 
 
 
 
 
 
 
179 
 Devido a tudo isso, é impossível estimar ao certo a quantidade de mortes na 
fogueira da Inquisição. Rudolph Rummel estimou em 350 mil224, enquanto Duduch 
estimou em 690 mil225, o que mostra a dificuldade em se chegar a um número com 
precisão. Se nos basearmos nas estimativas da época, os números parecem 
realmente assustadores, pois numa época em que a população total da Europa era 
incomparavelmente inferior à atual, nada a menos que dez mil vítimas foram 
executadas apenas durante os 18 anos do inquisidor-geral Tomás de Torquemada 
(1481-1498), e isso só na Espanha226 (além de 6.500 em efígie e mais 90 mil com os 
bens confiscados ou em prisão perpétua227). 
 Outro período particularmente sombrio ocorreu durante o governo de Carlos V 
(1516-1556), quando a Inquisição “mandou queimar, afogar e sepultar vivas cinquenta 
mil pessoas até o ano 1560”228. O próprio inquisidor Eymerich dizia que o Santo Ofício 
necessitava do sangue de mil pessoas por ano para se sustentar229. Se considerarmos 
apenas o período em que a Inquisição estava realmente na ativa (entre 1184 e 1834) 
e seguirmos a média que Eymerich estipulou em seu Manual, chegaríamos a um total 
de 650 mil, número que se aproxima da estimativa de Duduch. Mesmo assim, seria 
precipitado bater o martelo baseado apenas em estimativas, uma vez que o número 
real pode ter sido maior ou menor. 
 Por fim, a última carta na manga dos apologistas católicos é dizer que “a Igreja 
não matava ninguém, quem matava era o Estado”. Segundo eles, a Igreja apenas 
declarava o réu culpado e o entregava ao “braço secular”, que decidia pela execução. 
O que eles não contam é que a própria Igreja ao entregar o “herege” ao braço secular 
exigia a execução do mesmo, e ainda por cima na fogueira, quando o Estado matava 
pela forca. O Quarto Concílio de Latrão (1123), por exemplo, exige que os hereges 
fossem entregues às autoridades seculares «para a devida punição» estipulada pela 
 
224 RUMMEL, Rudolph J. Death by Government: Genocide and Mass Murder Since 1900. New Brunswick, NJ: 
Transaction (in press), 1994, p. 70. 
225 DUDUCH, João. História da Igreja. São Paulo: Novas edições líderes evangélicos, 1974, p. 97. 
226 CAIRNS, Earle Edwin. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 3ª ed. São Paulo: Vida 
Nova, 2008, p. 319. 
227 CANTÚ, Cesare. História Universal – Volume Décimo Sexto. São Paulo: Editora das Américas, 1954, p. 473. 
228 ibid, p. 12-13. 
229 NAZARIO, Luiz. Autos-de-fé como espetáculos de massa. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 
2005, p. 49. 
 
 
 
 
 
 
180 
Igreja230, e tais autoridades eram obrigadas a prestar um juramento de fidelidade onde 
se comprometiam a exterminar os hereges: 
 
Que as autoridades seculares tenham isso em conta e, se for 
necessário, que sejam obrigados pela censura eclesiástica, 
se desejam ser reputados por fieis, que façam um juramento 
público pela defesa da fé no sentido de que vão buscar, na 
medida do possível, exterminar (exterminare) das terras 
sujeitas a sua jurisdição a todos os hereges designados 
pela Igreja. Portanto, cada vez que alguém é promovido a 
autoridade espiritual ou temporal, está obrigado a confirmar este 
artigo com um juramento.231 
 
 O mesmo concílio ameaça aqueles que se recusassem a cumprir seu dever 
com a perda de seus vassalos e de sua terra, que seria por sua vez entregue a outras 
autoridades que fossem obedientes às ordens da Igreja: 
 
Se, contudo, um senhor temporal, que recebeu as instruções 
exigidas pela Igreja, se esquecer de limpar o seu território desta 
porcaria herética, ele deve ser vinculado com o vínculo de 
excomunhão dos bispos metropolitanos e outros da província. 
Se ele se recusa a dar satisfação dentro de um ano, a mesma 
será comunicada ao Sumo Pontífice para que ele possa, em 
seguida, declarar seus vassalos absolvidos de sua fidelidade 
para com ele e tornar a terra disponível para ocupação dos 
católicos para que estes possam, depois de ter expulsado os 
hereges, não fazer oposição e preservar a pureza da fé.232 
 
 
230 Decretos do Quarto Concílio de Latrão, 1215. 
231 Decretos do Quarto Concílio de Latrão, 1215, Cânon 3. 
232 ibid. 
 
 
 
 
 
 
181 
 No Manual dos Inquisidores há uma seção de perguntas e respostas que trata 
precisamente deste assunto, onde eles fazem questão de reforçar que a Igreja 
também tem o direito de caçar e matar os hereges e que deve perseguir os príncipes 
que tivessem a “audácia” de protegê-los: 
 
Alegação – Ressalta-se que este ou aquele príncipe condena 
judeus à morte: portanto, isso não é uma tarefa da Igreja, mas 
do poder civil. 
 
Refutação – O fato de serem condenados à morte pelos 
príncipes não exclui a Igreja de fazer o mesmo, se achar válido, 
depois do processo. Por outro lado, a Igreja deve intervir para 
condenar onde, justamente, reis e príncipes tenham a audácia 
de proteger os judeus. Sem a Igreja, sob o pretexto de que cabe 
ao poder civil condenar, esses hereges seriam, na verdade, 
protegidos.233 
 
E ainda: 
 
Alegação – Finalmente, os especialistas em Direito Civil dizem 
que, a rigor, cabe ao poder civil e ao bispo, juntos, e não ao 
inquisidor, julgar o delito canônico. Se é cometido por judeus ou 
por cristãos, continua a ser um delito: a questão é, portanto, da 
competência do poder civil também, e não exclusivamente do 
bispo. 
 
Refutação – Voltemos aos textos conciliares e pontifícios: cabe 
aos bispos e inquisidores, juntos, convocar, julgar e condenar. E 
aos civis, executar as sentenças da inquisição, principalmente, 
 
233 EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 
1993, p. 64-65. 
 
 
 
 
 
 
182 
quando a punição implica derramamento de sangue. Não existe 
nada pior do que esse tipo de argumento.234 
 
 Ou seja, a Igreja condenava o “herege” à morte, o entregava ao braço secular 
e exigia (sob ameaças severas) que ele cumprisse as determinações do Santo Ofício 
e o matasse mesmo, e depois lavava as mãos dizendo que quem matou foi o Estado 
e não ela mesma. Em vez disso realmente limpar a barra da Igreja, só prova que além 
de assassina também era hipócrita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
234 ibid, p. 65-66. 
 
 
 
 
 
 
183 
CAPÍTULO 11 – MARIA, MÃE DE JESUS 
 
11.1 REFUTANDO A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA 
 
 É possível provar que Maria não permaneceu virgem e teve outros filhos com 
simples exegeses de textos bíblicos. Em primeiro lugar, de acordo com Mateus 1.25, 
o anjo deu ordem para que José não tocasse em Maria só até Jesus nascer. “Mateus 
1:25 (Almeida Corrigida e Revisada Fiel): "e não a conheceu enquanto ela não deu à 
luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus." 
 
Análise Sintática e morfológica: 
1. Enquanto: Conjunção subordinativa temporal. 
Análise no grego: ἕως οὗ (heōs hou): “até que” ou “enquanto”. 
 
 O “até que” ou “enquanto”, apontando uma condição subordinada ao tempo, ou 
seja, José não poderia tocar sexualmente em Maria somentedurante a gestação de 
Jesus. Após isso, José poderia seguir um casamento normal com Maria. 
 Muitos católicos usam outros textos que possuem o “até que” para tentar 
derrubar a tese de que Maria não perdeu a virgindade. Darei alguns exemplos a 
seguir: 
 
1 Coríntios 15:25: “Porque convém que ele reine, até que tenha posto todos os 
inimigos debaixo de seus pés.” 
 
Resposta apologética: 
 
 O texto fala que o “até” está indicando que não haverá mais necessidade de 
seu reino mediador, tendo seu objetivo realizado. O xeque-mate vem no versículo 28 
que diz: “Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho 
também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitaram, para que Deus seja 
tudo em todos.” O reino mediador terminará, e agora, Deus será tudo em todos, não 
 
 
 
 
 
 
184 
haverá mais separação entre mundo espiritual e mundo físico quando Cristo voltar e 
restaurar todas as coisas. 
 
Mateus 28.20: 
 
Outro versículo que os católicos usam é o de Mateus 28.20: “Eis que estou convosco 
todos os dias, até (heos) o fim do mundo”. A pergunta que eles fazem é, Jesus nos 
abandonaria depois disso? Pois, segundo eles, Cristo usou o “heos” 
de forma diferente. 
 
Resposta apologética: 
 
 Os católicos falham em uma coisa, no contexto. Temos que analisar o “heos” 
em cada contexto em que é colocado. Neste caso, o texto diz que Jesus estaria 
espiritualmente com a igreja até o dia de sua volta, que é a consumação dos séculos. 
Toda vez que Jesus fala sobre o termo “Consumação dos séculos”, ele está tratando 
de sua vinda. 
A seguir, irei mostrar diversos exemplos onde o termo “consumação dos séculos” se 
refere ao retorno de Cristo: 
 
MATEUS 13.49: “Assim será na consumação do século: sairão os anjos, 
esepararão os maus dentre os justos..” 
 
MATEUS 24.3: “No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se 
aproximaram dele os discípulos , em particular , e lhe pediram : Dize-
nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da 
consumação do século”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
185 
2 Samuel 6.23 
 
Outro texto que um católico pode usar é sobre Mical, filha de Saul. 2 Samuel 6.23: 
“Mical, filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte”. A pergunta que eles 
fariam é, Mical poderia ter filhos depois da morte? 
 
Reposta apologética: 
 
A palavra até no texto em hebraico é yôwm (yome), que significa “período de vida”. 
Então, durante seu período de vida, Mical não poderia ter filhos. 
 
Irmãos: 
 
 De acordo com Mateus 13.55, as escrituras narram que Maria teve filhos e 
filhas, mas cita apenas o nome dos homens: Simão, José, Tiago e Judas. O 
interessante desse texto, que isso é apontado pelo povo, demonstrando que ali era 
um núcleo familiar. Pois, nem sequer existia um conceito de “irmãos de igreja”, como 
alguns defendem. 
 Os católicos afirmam que tais irmãos, na verdade, são primos de Jesus. 
Todavia, a palavra “irmão” empregada no texto, em grego é adelphos. Adelphos 
significa irmão, filho da mesma mãe e mesmo pai. 
 De sorte, ainda podemos cruzar dois textos de um mesmo autor para rebater a 
ideia católica de aqueles irmãos são primos. Em Colossenses 4.10, Paulo cita o primo 
de Barnabé. A palavra grega usada para primo é anepsios. Já em 1 Coríntios 9.5, 
Paulo cita os irmãos de Jesus. Paulo, para citar esses irmãos, ele usa a palavra grega 
adelphos. 
 Ora, se são “primos” de Jesus, por qual motivo Paulo não usou a palavra grega 
“anepsios”? 
 De acordo com Lucas 2.7, Jesus é chamado de primogênito de Maria. Se era 
primogênito, certamente indica que Maria teve mais filhos. Se Jesus fosse o único, ele 
seria chamado de unigênito. Basta fazer uma conexão com João 3.16, onde Jesus é 
chamado de unigênito de Deus, ou seja, único filho. 
 
 
 
 
 
 
186 
 Outro ponto a se observar é que os irmãos de Jesus não são os apóstolos 
citados nos textos. Naquela época era comum ter nomes iguais. Temos por exemplo 
uns três Judas diferentes mencionados nos evangelhos. Tratando dos irmãos de 
Jesus, eles estavam a todo momento ao lado de José e Maria, demonstrando para o 
povo que eram filhos do casal, assim como mostra o texto de Mateus 13.55. 
 Um texto que um católico poderia usar em seu favor, é o de 1 Coríntios 15.6, 
onde mostra que Jesus, na sua ressureição, apareceu para mais de quinhentos 
irmãos. E a palavra grega usada para irmãos nesse texto é “adelphos”. Todavia, é 
importante analisar os contextos. Em Mateus 13.55, quando fala dos irmãos de Jesus, 
ali está dentro de um conceito de núcleo familiar. Já em 1 Coríntios 15.6, o conceito é 
de núcleo de igreja. Não seria normal ali chamar as pessoas de “anepsios”, ou seja, 
primos. 
 Por fim, é importante ressalvar que não existe castidade dentro de um 
casamento. O próprio apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 7.5, vai dizer que o casal que 
deixa de fazer sexo, comete pecado, pois será tentado pelo diabo. 
 Até hoje eu não entendo por qual motivo os católicos não medem esforços para 
propagar que Maria foi perpetuamente virgem, pois o sexo dentro do casamento é 
algo santo, e isso, nada prejudicaria a santidade de Maria. 
 Vale ressaltar que existem mais de 318 ocorrências do termo “adelphos” no 
grego do novo testamento, e em nenhum momento esse termo é aplicado para primos. 
Em qualquer léxico grego é possível observar que jamais a palavra “adelphos” se 
aplica para primos no novo testamento bíblico. 
Paulo conhecia muito bem o idioma grego, e ele preferiu usar “anepsios” para se referir 
a primos. Existem ainda dois outros nomes gregos que poderiam ser usados para 
parentes próximos: panoikí (pan-oy-kee') e Συγγενής (sinɣɛˈnis), mas adelphos está 
estritamente ligado em irmãos sanguíneos e irmãos na fé em todo o novo testamento, 
sendo impossível desviar o significado dessa palavra para outra coisa. 
 Em João 7.5 diz que os irmão de Jesus não acreditavam nele: “Pois nem 
mesmo seus irmãos acreditavam nele”. Ora, se não acreditavam, não poderiam ser 
irmãos na fé, só restaria ser irmãos sanguíneos. 
 
 
 
 
 
 
187 
 Vale lembrar de uma profecia messiânica do velho testamento que mostra que 
o messia teria irmãos, que é o Salmos 69.8: “Tornei-me estranho זוּר a meus 
irmãos אָח e desconhecido נָכרִי aos filhos ן ם de minha mãe בֵּ .”אֵּ
 Para não restar dúvidas, irei provar que os Salmos 69 é messiânico fazendo 
um espelho entre novo e velho testamento: 
 
 JOÃO 2.16-17: “E disse aos que vendiam as pombas: “tirai daqui estas coisas; 
não façais da casa de meu Pai casa de negócios. Lembraram-se então o seus 
discípulos do que está escrito: “O zelo da tua casa me devorará”. 
 O termo: “O zelo da tua casa me devorará” está cont ido no verso 9 do salmos 
69: “Pois o zelo קִנאָה da tua casa יִת ל me consumiu בַּ dos חֶרפָה e as injúrias , אָכַּ
que te ultrajam ף ל caem חָרַּ .”sobre mimנָפַּ
 
 João 15.25: “Mas isto é para que se cumpra a palavra escrita na lei: “odiaram-
me sem causa” 
 
 O termo “odiaram me sem causa” está contido no verso 4 do Salmos 69: “São 
mais ב עֲרָה que os cabelos רָבַּ me ,חִנָם os que, sem razão ראֹשde minha cabeçaׁ שַּ
odeiam שָנֵּא ; são poderosos ם ת os meus destruidores עָצַּ os que com falsos , צָמַּ
motivos שֶׁקֶר são meus inimigos אֹיֵּב ; por isso, tenho de restituir שׁוּב o que não 
furtei ל .”גָזַּ
 
 Dessa forma, está mais do que provado que além do Salmos 69 ser messiânico, 
o verso 8 do mesmo salmo deixa claro que o messias teve irmãos sanguíneos. 
 Um católico pode argumentar usando a septuaginta, que é uma tradução do 
hebraico para o grego, do século III antes de Cristo. Normalmente eles usam uma 
passagem de gênesis que diz: Gênesis 13.8 “Então Abrão propõe a Ló: “Que não haja 
discórdia entre mim e ti, nem desavenças entre meus pastores e os teus pastores; 
afinal somos irmãos!” 
 Como a septuaginta é uma tradução do hebraico para o grego, quando foramtraduzir Gênesis 13.8, no lugar de irmãos colocaram “adelphos”, sabemos bem que 
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=8#strongH2114
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=8#strongH251
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=8#strongH5237
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=8#strongH1121
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=8#strongH517
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH7068
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH1004
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH398
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH2781
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH2778
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=9#strongH5307
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH7231
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH8185
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH7218
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH2600
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH8130
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH6105
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH6789
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH8267
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH341
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH7725
https://search.nepebrasil.org/interlinear/?livro=19&chapter=69&verse=4#strongH1497
 
 
 
 
 
 
188 
Abraão é tio de Ló, com base nisso, os católicos argumentam que “adelphos” pode 
ser usado em outros graus de parentesco. 
 Mas essa ideia católica é completamente errônea, vejamos o que diz o léxico 
grego: 
 
ἀδελφός adelphós: uma pessoa do sexo masculino que tem o 
mesmo pai e a mesma mãe da pessoa de referência - "irmão"... 
A interpretação de ἀδελφός adelphós como significando "primos" 
com base num termo hebraico correspondente, que é usado, em 
certos casos, para designar parentes em vários graus do sexo 
masculino, não tem REGISTRO na língua grega nem é afirmada 
ou confirmada no léxico grego-inglês editado por Arndt, 
Gingrinch e Danker. Tal interpretação se baseia acima de tudo 
em tradição eclesiástica.235 
 
 
 Ou seja, no novo testamento a palavra “adelphos”, em hipótese nenhuma, pode 
significar outra coisa que não seja “irmãos de sangue” ou “irmãos na fé”. Atribuir a 
palavra “adelphos” para outros graus de parentesco como “primos” ou “sobrinhos” 
usando o velho testamento da septuaginta para fazer um espelho com o novo 
testamento, é totalmente inadequado. Pois como o autor disse: “A interpretação de 
ἀδελφός adelphós como significando "primos" com base num termo hebraico 
correspondente, que é usado, em certos casos, para designar parentes em vários 
graus do sexo masculino, não tem REGISTRO na língua grega nem é afirmada ou 
confirmada no léxico grego-inglês”. 
 Mesmo que os católicos insistissem na septuaginta, eles ainda teriam 
problemas com outros textos. Vou citar um exemplo, observe esses dois versículos: 
 
 
235 Johannes Louw e Eugene Nida - Livro: Léxico Grego-Português do Novo Testamento, p. 108 
 
 
 
 
 
 
189 
Gênesis 4: 1. E CONHECEU (yâdaʻ (yaw-dah') Adão a Eva, sua 
mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do 
SENHOR um homem. 
 
 Mateus 1: 25. E não a conheceu (ginṓskō ghin-oce'-ko) até que 
(Heos) deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome 
Jesus. 
 
 A palavra conheceu em Gênesis, no hebraico, é (yâdaʻ (yaw-dah'), e está 
relacionada com relações sexuais. Já a palavra conhecer em Mateus, no grego, é 
(ginṓskō ghin-oce'-ko), que também se refere a relações sexuais. 
 
 Se eu for aplicar a septuaginda no caso de Adão, ficaria assim: 
 
Gênesis 4: 1. E CONHECEU (ginṓskō ghin-oce'-ko) Adão a Eva, 
sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei 
do SENHOR um homem. 
 
 Isso iria se confirmar mais ainda que o texto de Mateus 1.25 está se referindo 
a relações sexuais. A palavra conheceu ali vem acompanhado com o termo em grego 
“Heos”, que é uma condição subordinada ao tempo. Ou seja, José só não poderia ter 
relações sexuais com Maria durante a gestação de Jesus, que foi a condição temporal 
que o anjo determinou. Depois que Jesus nascesse, José e Maria poderiam ter um 
casamento normal, com relações sexuais e até mesmo tendo mais filhos. 
 
 
11.2 PECADO DE MARIA 
 
 Ora, é inconcebível a ideia de que Maria foi preservada do pecado original, uma 
vez que as escrituras dizem em Romanos 3.23-24: Todos pecaram e destituídos estão 
da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção 
que há em Cristo Jesus. 
 
 
 
 
 
 
190 
 O texto diz claramente que todos pecarem e todos carecem de justificação por 
meio de Jesus Cristo. Paulo continua em Romanos 5.12: “Portanto, como por um 
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte 
passou a todos os homens por isso que todos pecaram”. 
 A doutrina católica afirma que Maria foi preservada do pecado original no ventre 
de sua mãe para poder gerar Jesus. Aí eu faço a pergunta, se Maria conseguiu a 
proeza de ser preservada do pecado original mesmo nascendo de uma mãe pecadora, 
por que Jesus não conseguiria o mesmo feito? Não poderia Deus ter feito o mesmo 
com Jesus? 
 Se levarmos essa doutrina a sério, a mãe de Maria teria que ser preservada do 
pecado, a mãe da mãe de Maria também, isso até chegar em Adão e Eva. O que não 
faz o total sentido. Na genealogia de Jesus o que mais temos são pecadores. Temos 
adúlteros (Davi) e até mesmo prostitutas (Raabe). 
Jesus não foi concebido pelos meios naturais, ou seja, pela relação sexual, mas por 
meio de um milagre. Por esse motivo Jesus foi preservado do pecado original, sendo 
o único, em toda a história da humanidade, sem pecar. 
 O único homem em toda a escritura, onde é dito claramente que nele não teve 
pecado algum, foi Jesus Cristo. Como diz em Hebreus 4.15: “Pois não temos um sumo 
sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas fraquezas, mas temos 
o Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi tentado de todas as formas, 
porém sem pecado algum”. 
 Uma outra coisa que as vezes os católicos parecem esquecer, é que Maria não 
foi escolhida por ser “sem pecado”. Existia uma profecia no antigo testamento onde 
dizia que o Messias teria que vir da descendência do rei Davi (Isaías 9.7). Tanto Maria 
(Lucas 3.23-38) quando José (Mateus 1) eram descendentes de Davi, e foi por esse 
motivo, que eles foram escolhidos. Se Maria não fosse da descendência de Davi, 
jamais ela seria escolhida para gerar o Messias, pois a profecia nunca iria se cumprir. 
 Até mesmo São Tomas de Aquino, um santo hiper respeitado na igreja católica, 
entendia que Maria herdou o pecado original, isso nós podemos ver em sua Suma 
Teologica e no seu Compêndio de Teologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
191 
 Suma Teológica: 
 
 "... Pois, Cristo de nenhum modo contraiu o pecado original, 
mas foi santo desde a sua conceição, segundo aquilo do 
Evangelho: 0 santo que há de nascer de ti será chamado 
Filho de Deus. Mas, a Santa Virgem contraiu por certo o pecado 
original, sendo, contudo, dele purificada, antes de nascida do 
ventre materno. E é o que significa a Escritura quando diz, 
referindo-se à noite do pecado original. Espere a luz, isto é, 
Cristo, e não a veja - porque nada mais manchado cai nela; nem 
o nascimento da auroraquando raia, isto é, da Santa Virgem, 
que, no seu nascimento, foi imune do pecado original".236 
 
 
 Compêndio de Teologia: 
 
"Convinha, contudo, ser Ela concebida com pecado original, 
porque foi concebida de união de dois sexos. Só a Ela, com 
efeito, foi reservado o privilégio de, sendo Virgem, conceber o 
Filho de Deus. A união dos sexos, que após o pecado do 
primeiro pai, não se pode realizar sem libidinagem, transmite à 
prole o pecado original. 
 
Além disso, SE ELA NÃO tivesse sido concebida com PECADO 
ORIGINAL, não teria necessidade de ser remida por Cristo, e, 
assim, Cristo NÃO SERIA o Redentor universal de todos os 
homens, o que também DEGRADARIA A DIGNIDADE de Cristo. 
Deve-se, pois, ter que ela foi concebida com pecado original, 
mas dele purificada de algum modo especial."237 
 
 
236 Suma teológica, parte Ill, Questão 27, art. 2 
237 Compêndio de Teologia, p. 246 
 
 
 
 
 
 
192 
 Muitos católicos afirmam que São Tomas de Aquino mudou de opinião antes 
de morrer, mas não existe nenhum documento oficial que comprove isso. O que existe 
são citações falsificadas de blogs católicos tentando fazer com que Aquino defenda a 
crença da igreja católica. 
 
11.3 PATRÍSTICA CONTRA O DOGMA DA IMACULADA 
 
 Como vemos no meio católico, há uma grande devoção ao dogma da 
imaculada conceição de Maria. Muitos afirmam que esta crença existe nas Escrituras 
(de forma implícita) e nos pais da igreja. Contudo, iremos verificar se estas afirmações 
e mostrar que elas estão incorretas ao longo deste capítulo, analisando de forma 
detalhada o que de fato é o dogma e o que ele não é, o que a Escritura diz sobre o 
testemunho dos pais e, por fim, responderemos os argumentos que são a favor da 
imaculada conceição. 
 
O que é a imaculada conceição? 
 
 Conforme nos diz a bula papal Ineffabilis Deus: 
 
"[...]Deus, portanto, desde o princípio e antes dos séculos, 
escolheu e preordenou uma mãe para seu Filho, na qual ele 
encarnaria e de quem nasceria então, na feliz plenitude dos 
tempos; e, de preferência a qualquer outra criatura, mostrou-lhe 
tanto amor que se deliciou só com ela com uma benevolência 
muito singular. Por isso ele a encheu maravilhosamente, mais 
do que todos os anjos e todos os santos, com a abundância de 
todos os dons celestiais, tirados do tesouro da sua divindade. 
Assim, ela, sempre absolutamente livre de toda mancha de 
pecado, completamente bela e perfeita, possui tal plenitude de 
inocência e santidade, que, depois de Deus, nada maior pode 
ser concebido, e que, fora de Deus, nenhuma mente pode 
compreender. a profundeza. E certamente era inteiramente 
 
 
 
 
 
 
193 
apropriado que uma Mãe tão venerável brilhasse sempre 
adornada com os esplendores da mais perfeita santidade e, 
inteiramente imune à mancha do pecado original, realizasse o 
mais completo triunfo sobre a antiga serpente; pois a ela Deus 
Pai se dispôs a dar o seu Filho unigênito - gerado desde o seio 
dela, igual a si mesmo e amado como ele mesmo - de tal maneira 
que ele era, por natureza, o Filho único e comum de Deus Pai e 
de a Virgem; visto que o próprio Filho havia decidido torná-la sua 
mãe de maneira substancial; visto que o Espírito Santo quis e 
fez com que dela fosse concebido e nascesse aquele de quem 
ele mesmo procede".238 
 
 Ainda na mesma bula nos é dito: 
 
“[...]a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, em antecipação 
aos méritos do redentor Cristo Jesus, nunca esteve sujeita ao 
pecado original e foi, portanto, redimida de uma forma muito 
sublime[...]".239 
 
 
 Portanto, podemos resumir a imaculada conceição da seguinte forma: Maria, 
pelos méritos de Jesus Cristo de forma antecipada, foi preservada da mancha 
(pecado) original no momento de sua concepção de forma que, então, não herdou o 
pecado de Adão e nem cometeu pecados pessoais. Todavia, ela apenas teve os 
efeitos da queda: fome, sede, cansaço, e até mesmo a morte. 
 
 
 
238 Ineffabilis Deus. Disponível em 
<https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deu 
s.html>. 
239 Ineffabilis Deus. Disponível em 
<https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deu 
s.html>. 
https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deus.html
https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deus.html
https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deus.html
https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deus.html
 
 
 
 
 
 
194 
O que não é a imaculada conceição 
 
 Conforme vimos acima, vimos o que é a imaculada conceição de Maria. 
Todavia, para continuarmos este capítulo, devemos entender o que não é a imaculada 
conceição para que então não haja espantalhos sendo atacados. 
 
1- Necessidade de um salvador: Maria de fato necessitou de um Salvador. Como a 
própria bula diz, os méritos de Cristo que se aplicaram a ela, e não um mérito próprio. 
Logo, é errôneo falarmos que a imaculada conceição anula Cristo como Salvador de 
Maria. 
 
2- Efeitos do pecado: Conforme eu também disse, Maria herdou os efeitos do pecado. 
Todavia, isso não refuta a imaculada conceição devido Cristo também ter sofrido os 
efeitos: fome (Mateus 21:18), sede João 19:28), tristeza (Lucas 19:41) e etc. Ora, se 
Cristo sofreu tais efeitos, isso faz com que ele tenha tido também o pecado original? 
Claro que não. Portanto, Maria ter tido os efeitos não faz com que, por consequência, 
ela tenha tido o pecado original. 
 
As Escrituras não apoiam 
 
 Agora que sabemos o que é e o que não é o dogma da imaculada conceição, 
irei mostrar que há três passagens das Escrituras nas quais são totalmente contra a 
imaculada conceição. Portanto, já aviso também que, antes que haja julgamento sobre 
os textos, leia a minha elaboração para que então haja entendimento do texto e do 
porquê eu usei contra este dogma. 
 
1- Lucas 18:19: Jesus respondeu-lhe: “Por que me chamas bom? 
Ninguém é bom senão só Deus”. 
 
 Alguns poderão achar estranho eu usar este verso. Todavia, Jesus, ao afirmar 
isto ao jovem rico, afirmou algo interessante: que a bondade per si é exclusivamente 
 
 
 
 
 
 
195 
de Deus. Ora, alguns podem dizer que Jesus é uma exceção devido ele ser Deus. De 
fato é verdade. No entanto, eles então dirão que Maria também pode ser, pois Jesus 
foi. No entanto, o que Jesus fez foi uma pergunta retórica que teve dois intuitos: 
primeiro, ele afirmar ser Deus; segundo, dizer ao homem rico que não há nenhum 
homem comum que esteja são dentre eles. Se Maria é uma exceção também, então 
ela torna-se uma deusa. 
 O que quero dizer, portanto, é que Cristo aplica uma regra universal de que só 
Deus é bom per si. Se Cristo fez esta afirmação, logo, Maria não é boa no sentido de 
que ela possui pecado. 
 
2- Romanos 3:23: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória 
de Deus. 
 
 Aqui temos um verso que sempre é citado quando o assunto é imaculada 
conceição. Alguns poderão dizer que Paulo está falando de alguns judeus e alguns 
gentios que pecaram, assim dizendo que tanto o judeu quanto o gentio pecaram. No 
entanto, no verso anterior nos é dito que não há distinção entre judeu e gentio perante 
Deus; e, portanto, se não há distinção de grupos, logo, o “todos pecaram” leva todas 
as pessoas do gênero humano que foram concebidos de maneira sexual (veremos 
isso melhor a seguir). Outros poderão questionar se Cristo está nesse meio. Pois eu 
digo: é claro que não. Então como ele pode ser a única exceção, mas Maria não pode? 
Pois as Escrituras sempre afirmam que Cristo é sem pecado e Paulo estava falando 
da humanidade decaída.Acaso, portanto, Cristo estava no meio decaído? Pela razão 
simples podemos saber que não, e que, por consequência, este verso não aplica a 
Cristo devido ele não ter nascido no estado de pecado original, mas sim no estado de 
Adão antes da queda. E também, se Maria não estivesse no meio dos decaído quando 
Deus (na eternidade) olhou para a humanidade, então Maria sempre foi justa, assim 
não necessitando de uma justificação pois ela sempre foi vista por Deus como justa. 
 
 
 
 
 
 
 
196 
3 – Romanos 5:12: Portanto, como por um homem entrou o pecado 
no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a 
todos os homens por isso todos pecaram. 
 
 Partindo para Romanos 5:12, podemos ver que Paulo diz que a morte passou 
para todos os homens, pois todos pecaram. Por qual razão todos pecaram? Embora 
alguém possa não ter cometido pecados pessoais, ela certamente herdou o original 
devido Adão ser o arquétipo da humanidade. Se Adão pecou, a humanidade pecou 
em Adão. Sobre a morte ser uma consequência do pecado, devemos entender que a 
morte é uma consequência que está ligada com o pecado de maneira que todos que 
possuem a natureza decaída, morrem. Onde quero chegar com isso? Quero chegar 
na assunção de Maria, onde há duas suposições do que houve antes de Maria ser 
assunta: ela morreu ou foi assunta sem passar pela morte. Se ela morreu, então ela 
herdou o pecado original; mas se foi assunta direta, não fica conclusivo se ela herdou 
ou não tal. Todavia, conforme o pai da igreja, João Damasceno, e o próprio papa João 
Paulo II dão testemunho e apoiam a ideia que Maria morreu antes de ser assunta: 
 
“Mas então? Morreu a fonte da vida, a Mãe de meu Senhor? Sim, 
era preciso que o ser formado da terra à terra voltasse, para dali 
subir ao céu, recebendo o dom da vida perfeita e pura a partir da 
terra, após ter-lhe entregue seu corpo. Era preciso que, como o 
ouro no crisol, a carne rejeitasse o peso da mortalidade e se 
tornasse, pela morte, incorruptível, pura, e assim ressuscitasse 
do túmulo”.240 
 
 
 
 
 
240 DAMASCO, João. Homilia sobre a Dormição da Santíssima Mãe de Deus, a Bem Aventurada Virgem Maria. 
Disponível em 
<https://www.ecclesia.org.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_joao_damasceno_homilia_sobre_a_dormica 
o_da_santissima_mae_de_deus.html>. 
https://www.ecclesia.org.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_joao_damasceno_homilia_sobre_a_dormicao_da_santissima_mae_de_deus.html
https://www.ecclesia.org.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_joao_damasceno_homilia_sobre_a_dormicao_da_santissima_mae_de_deus.html
 
 
 
 
 
 
197 
E mais: 
 
“[...]A experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem: 
passando pela comum sorte dos homens, ela pode exercer com 
mais eficácia a sua maternidade espiritual em relação àqueles 
que chegam à hora suprema da vida”.241 
 
 Veja que, portanto, o pai que mais elabora sobre a assunção de Maria, e um 
dos papas de mais importância dos últimos tempos apoiam a ideia de que Maria de 
fato morreu. Recomendo a leitura inteira da audiência, pois João Paulo II mostra mais 
exemplos que apoiam que Maria faleceu. 
 Alguns podem argumentar que Maria, caso tenha morrido, tenha “morrido de 
amor”. Todavia, mesmo se ela houvesse morrido de amor, ela também participou da 
morte que só é possível caso tenha a natureza pecaminosa. De qualquer forma, Maria 
não consegue “fuguir” desta linha da morte. Outros podem questionar então sobre 
Jesus. 
 Todavia, Jesus morreu, pois, Ele se fez pecado por nós (II Cor. 5:12), pois 
Cristo nasceu e herdou a natureza de Adão antes da queda devido Ele ter sido 
concebido sem relações sexuais, e caso Ele tenha herdado a nossa natureza pós-
queda, então Ele herdou o pecado original, o que é um absurdo. 
 Portanto, Cristo não tendo herdado o pecado de Adão, Ele, de qualquer forma, 
não morreria caso não tenha se tornado pecado por nós. Se afirmamos que Maria 
morreu de amor, mas não porque ela herdou o pecado original, damos a ela a mesma 
capacidade redentora de Cristo, o que implicaria, portanto, que ela seja uma deusa. 
Portanto, se Maria passou pela morte (o que é praticamente consenso nos teólogos), 
então, por consequência, ela herdou o pecado original. Pois não há como acusar ela 
de ter pecados pessoais sem ela ter o pecado original que ela herdou de nosso pai 
Adão. 
 
 
 
241 PAULO II, João. Audiência. A Dormida da Mãe de Deus (25/06/1997). Disponível em 
<https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1997/documents/hf_jp-ii_aud_25061997.ht ml>. 
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1997/documents/hf_jp-ii_aud_25061997.html
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1997/documents/hf_jp-ii_aud_25061997.html
 
 
 
 
 
 
198 
Testemunho dos pais da igreja 
 
 Portanto, veremos agora com base nas falas mais importantes dos pais da 
igreja que a imaculada conceição não existia, e nem se quer o conceito dela. Pelo 
contrário do que afirmam os papistas que existe tal crença nos pais, veremos que eles 
foram, na verdade, contra tal dogma que fora aceito pela igreja de Roma. 
 
Justino de Roma (100-165 d.C) 
 
“[...]Agora, sabemos que Ele não foi ao rio porque Ele precisava 
do batismo, ou da descida do Espírito como uma pomba; assim 
como Ele se submeteu a nascer e ser crucificado, não porque 
Ele precisava de tais coisas, mas por causa da raça humana, 
que desde Adão havia caído sob o poder da morte e da astúcia 
da serpente, e cada um dos quais havia cometido transgressão 
pessoal[...]”.242 
 
 
 Citando o grande apologista Justino, veja que ele diz que Jesus não precisava 
passar por tais coisas por conta dele devido Ele ser sem pecado, e que, portanto, o 
poder da morte e a astúcia da serpente não estavam sobre Ele. Todavia, Cristo fez 
tudo isso para toda a raça humana, na qual caiu sobre o poder da morte, e que cada 
um destes mesmos cometeram uma transgressão pessoal (pecado pessoal). Ora, 
vemos, portanto, que Tertuliano coloca Cristo como o único não necessitando destas 
coisas devido Ele ser sem pecado, mas ele não cita uma exclusão a Maria. Pelo 
contrário, ele afirma que toda a raça humana estava sob o poder da morte e que estes 
mesmos cometeram transgressões pessoais. Ora, se eles estavam sob o poder da 
morte e cometeram pecados pessoais, então eles tinham o pecado original. 
 
 
242 ROMA, Justino. Diálogo com Trifão, cap. 88. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/01286.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/01286.htm
 
 
 
 
 
 
199 
 Inclusive Maria, na qual ele, Justino, não faz nenhuma exclusão neste contexto 
ou em sua obra. 
 
Clemente de Alexandria (150-215 d.C) 
 
“[...]Ele é totalmente livre de paixões humanas; portanto, Ele 
sozinho é o juiz, porque Ele sozinho é sem pecado[...] É melhor, 
portanto, não pecar de forma alguma, o que afirmamos ser 
prerrogativa somente de Deus[...]”.243 
 
 Agora com Clemente de Alexandria, vemos que ele diz a mesma coisa que 
Justino disse em seu diálogo com Trifão: Jesus é o único sem pecado, e todos 
cometem pecados pessoais. No entanto, há algo mais interessante ainda em 
Clemente, que é ele afirmar que não cometer pecados é uma prerrogativa somente 
de Deus. Veja, então, que se Maria fosse exclusão, ele também diria isso, mas assim 
não o faz. Pelo contrário, ele afirma que não cometer pecados é um atributo que é 
unicamente divino. Na visão de Clemente, portanto, a imaculada conceição não seria 
só uma heresia qualquer, mas uma idolatria a mãe do Salvador. 
 
Orígenes de Alexandria (185-253 d.C) 
 
"[...]Então Simeão diz: 'uma espada traspassará a tua própria 
alma'. Que espada é esta que trespassou não apenas o coração 
dos outros, mas até mesmo o de Maria? A Escritura registra 
claramente que, no momento daPaixão, todos os apóstolos 
ficaram escandalizados. O próprio Senhor disse: 'Esta noite 
todos vocês ficarão escandalizados'. Assim, todos ficaram tão 
escandalizados que também Pedro, o líder dos apóstolos, o 
negou três vezes. Por que pensamos que a mãe do Senhor 
estava imune ao escândalo quando os apóstolos ficaram 
 
243 ALEXANDRIA, Clemente. O Pedagogo, Livro I, cap. 2. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/02091.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/02091.htm
 
 
 
 
 
 
200 
escandalizados? Se ela não sofreu escândalo na Paixão do 
Senhor, então Jesus não morreu pelos seus pecados. Mas, se 
'todos pecaram e carecem da glória de Deus, mas são 
justificados pela sua graça e redimidos', então Maria também 
ficou escandalizada naquele momento. 
 
E é isso que Simeão profetiza agora quando diz: 'E a tua própria 
alma'. Você sabe, Maria, que você deu à luz virgem, sem 
homem. Você ouviu de Gabriel: 'O Espírito Santo virá sobre 
você, e o poder do Altíssimo o cobrirá com sua sombra'. A 
'espada' da infidelidade 'perfurará você', e você será atingido 
pela lâmina da incerteza, e seus pensamentos o despedaçarão 
quando você o vir. Você o ouviu ser chamado de Filho de Deus. 
Você sabia que ele foi gerado sem a semente de um homem. 
Você sabia que ele foi crucificado, e morreu, e sujeito ao castigo 
humano. Você sabia que no final ele lamentou e disse: 'Pai, se 
for possível, deixe este cálice passar de mim'. Assim diz a 
Escritura, 'e uma espada traspassará a tua própria alma'".244 
 
 
 
 Tenho a certeza que este é o testemunho dentre os pais que é o 
segundo mais explícito sobre o assunto. Orígenes nos conta que se Maria não ficou 
escandalizada com a paixão de Cristo, então Ele não morreu por ela! Veja, então, que 
Orígenes também aponta o pecado de Maria que seria sua infidelidade (no sentido de 
ser incrédula) na cruz. Perceba, portanto, que ele diz que se nem mesmo os apóstolos 
ficaram isentos do escândalo, muito menos ficaria Maria. Orígenes, portanto, embora 
tenha referido títulos honrosos à Maria, ele não isentou-se de dizer que ela cometeu 
pecados pessoais e, por consequência lógica, também tenha herdado o pecado 
original. 
 
 
 
244 Orígenes. Homilies on Luke, homily 17, pág. 73. JOSEPH T. LIENHARD, S.J. Acesso em 07 de Jul. 2024. 
 
 
 
 
 
 
201 
Cipriano de Cartago (?-258 d.C) 
 
 
“Em Jó: ’Pois quem é puro da imundície? Ninguém; mesmo que 
sua vida seja de um dia na terra’. Também no Salmo 
quinquagésimo: ’Eis que fui concebido em iniquidades, e em 
pecados me concebeu minha mãe’. Também na Epístola de 
João: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a 
nós mesmos, e a verdade não está em nós”.245 
 
 Indo para Cipriano, veja que ele diz que ninguém, repito, ninguém é isento do 
pecado mesmo que tenha vivido apenas um dia de sua vida nesta terra. Perceba, 
portanto, que Cipriano também aplica o Salmo 51 e a epístola de I João como 
universais a todas as pessoas. A única exceção que ele faz, ao lermos suas cartas e 
tratados, é para a pessoa de Jesus Cristo. 
 
Hilário de Poitiers (300-368) 
 
“[...]isto é, em que Ele tomou a forma de servo, Ele nasceu na 
forma de homem: em que Ele foi feito à semelhança de homem, 
e formado à maneira de homem, a aparência e a realidade do 
Seu corpo testificam a Sua humanidade, ainda que Ele fosse 
formado à maneira de homem, Ele não sabia o que era o 
pecado. Pois a Sua concepção foi à semelhança da nossa 
natureza, não na posse das nossas faltas[...]”.246 
 
 Hilário nos diz algo também interessante: Jesus não teve pecado pois Ele teve 
um nascimento virginal. O que isso significa? Isso significa que, tendo em vista que 
Jesus era isento de pecado por ter sido concebido virginalmente, então Maria por ter 
sido concebido por meio de relações sexuais, então ela teve pecado. 
 
245 CARTAGO, Cipriano. Tratado XII, Livro III, cap. 54. Disponível em < 
https://www.newadvent.org/fathers/050712c.htm>. 
246 POITIERS, Hilário. D Trindade, Livro X,25. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/330210.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/050712c.htm
https://www.newadvent.org/fathers/330210.htm
 
 
 
 
 
 
202 
Ambrósio de Milão (339-397 d.C) 
 
“[...]Ele era homem na carne, de acordo com sua natureza 
humana , para que pudesse ser reconhecido, mas em poder 
estava acima do homem, para que não pudesse ser 
reconhecido, então Ele tem nossa carne, mas não tem as falhas 
desta carne. Pois Ele não foi gerado, como todo homem, por 
intercurso entre homem e mulher, mas nasceu do Espírito Santo 
e da Virgem; Ele recebeu um corpo imaculado, que não apenas 
nenhum pecado poluiu, mas que nem a geração nem a 
concepção foram manchadas por qualquer mistura de 
contaminação. Pois todos nós, homens, nascemos sob o 
pecado, e nossa própria origem está no mal[...]”.247 
 
 Novamente vemos algo que já vimos anteriormente em Hilário: o pecado é 
transmitido através da concepção por meio de uma união sexual entre um homem e 
uma mulher. Se Ambrósio tinha a ideia de que o pecado de Adão era transmitido aos 
filhos pela relação sexual entre um homem e uma mulher, então Cristo é a única 
exceção de pecado devido este motivo. 
 
Jerônimo (347-420 d.C) 
 
 Temos também o testemunho de Jerônimo contra os pelagianos: 
 
“[...]Você não diria tanto (pois você não é louco o suficiente para 
lutar abertamente contra Deus), mas este é o seu significado em 
outras palavras, quando você dá ao homem um atributo de Deus 
e o faz ser sem pecado como o próprio Deus[...]”.248 
 
247 MILÃO, Ambrósio. Sobre o arrependimento, Livro I, cap. 3,12-13. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/34061.htm>. 
248 Jerônimo. Contra os Pelagianos, Livro I,19. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/30111.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/34061.htm
https://www.newadvent.org/fathers/30111.htm
 
 
 
 
 
 
203 
 Veja que Jerônimo diz o mesmo que Clemente de Alexandria disse: o não pecar 
é um atributo unicamente de Deus. Portanto, para Jerônimo, o pensamento de que 
um homem não peca é impossível devido isso ser um atributo de Deus somente. 
 
João Crisóstomo (347-407) 
 
"[...]Pois de fato o que ela tinha tentado fazer, era de vaidade 
supérflua; em que ela queria mostrar ao povo que ela tem poder 
e autoridade sobre seu Filho, não imaginando ainda nada grande 
a respeito Dele; de onde também sua abordagem 
inoportuna[...]”.249 
 
 Para finalizarmos, temos o testemunho de João Crisóstomo, conhecido 
também como o intérprete de Paulo para alguns, no qual diz que Maria ao procurar 
Jesus em meio a multidão foi vaidosa por achar que ela tinha poder e autoridade sobre 
Jesus a qualquer hora. Até achei engraçado ao ver esta citação, pois é algo que os 
católicos ainda fazem hoje em dia: colocam Maria num nível que faz ela parecer ter 
poder, autoridade e “acesso livre” a Jesus a qualquer hora e momento. Sinceramente, 
João Crisóstomo, caso estivesse vivo, iria denunciar este tipo de idolatria ao ponto de 
ser tido como “herege e anticatólico”. 
 
Respondendo argumentos sobre a imaculada conceição 
 
 Partiremos então para as respostas aos cinco argumentos mais usados a favor 
da imaculada conceição: Maria ser a nova Eva, Maria Arca da Aliança, Lucas 1:28 
(Kecharitomene), Agostinho dizer que Maria é isenta de pecados, e, por fim, o puro 
sair do impuro. Portanto, vamos para a argumentação: 
 
 
 
 
249 CRISÓSTOMO, João. Homilia XLIV sobre Mateus. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/200144.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/200144.htm
 
 
 
 
 
 
204 
Maria nova Eva: 
 
 Conforme alguns católicos afirmam,Irineu ao dizer que Maria é a nova Eva 
implica que Maria teve uma concepção de forma imaculada devido Eva também ter 
tido. No entanto, Irineu diz que Maria é a nova Eva no sentido de obediência a Deus, 
assim contrastando Eva: enquanto Eva foi uma virgem desobediente, Maria foi uma 
virgem obediente.250 Há também uma questão de extrema importância nesta 
comparação que é que, na realidade, este título reprova a imaculada conceição. Por 
qual motivo? Pois é muito mais lógico Maria ser a nova Eva neste sentido: 
 Eva foi gerada na bondade e trouxe o mau ao mundo. Todavia, Maria foi gerada 
na maldade e trouxe aquele que tira o pecado. 
Enquanto o primeiro Adão veio da terra pura e trouxe o mau para a raça humana, o 
segundo Adão (Cristo) veio de uma terra que era impura e trouxe o bem para a raça 
humana. 
 Portanto, é mais lógico e até mais piedoso dizermos que Maria é a nova Eva 
neste sentido que foi apresentado anteriormente: gerada no pecado, mas trouxe 
aquele que tira o pecado do mundo. 
 
Maria como Arca da Aliança: 
 
 Este título normalmente é dado devido a seguinte comparação feita entre Maria 
e a Arca da Aliança: Davi e Isabel (II Samuel 6:9-14 e Lucas 1:39-45). Esta 
comparação, no entanto, é problemática esta comparação devido a própria Escritura 
falar que Cristo ser a nova Arca da Aliança. É de mais fácil interpretação falarmos que 
a reação de Isabel foi não por causa que Maria foi até lá, mas porque o fruto que Maria 
carregava era a verdadeira Arca. Vejamos, portanto, que a Arca da Aliança era uma 
prefiguração de Cristo: 
 
 
250 LYON, Irineu. Contra Heresias, Livro III, cap. 22,4. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/0103322.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/0103322.htm
 
 
 
 
 
 
205 
1- A Arca era feita de madeira e era revestida de ouro (Êxodo 25:10-1). Da mesma 
forma, Cristo teve sua origem (da essência humana) como um homem humilde em 
meio ao deserto deste mundo (Isaías 53:2): embora o mundo seja vazio e seco 
devido o pecado, ainda há um broto que surgiu do tronco de Jessé (Isaías 11:1). Mas 
e o ouro? Ora, o ouro é a divindade de Cristo que se tornou evidente após a 
ressurreição. 
 
 Embora Cristo não pareça ninguém além de um homem comum, a sua 
ressurreição mostrou que Ele é divino, e não meramente um homem comum. Ou 
melhor ainda, o ouro uniu-se a madeira da Arca ao mesmo tempo, assim como as 
duas naturezas de Cristo também se uniram na encarnação. 
 
2- A Arca também era sinal da presença de Deus, conforme Êxodo 25:22; Êxodo 30:36 
e Levítico 16:2. Ora, quem é o sinal visível da presença de Deus, senão Emanuel 
(Isaías 7:14)? Portanto, Jesus é a verdadeira presença mais próxima de Deus 
conosco. Ele é a realidade do que era sombra. 
 
3- A Arca também prefigurava o sacrifício de Jesus na cruz, conforme Levítico 16:14 
(onde diz que era feito um sacrifício com sangue para Deus) e também conforme o 
autor de Hebreus no capítulo 9. 
 
 Por fim, se Maria é a Arca por carregar Cristo que tinha por prefiguração 
o maná, o cajado de Aarão e as duas tábuas da Lei, por qual razão eu não posso ser 
chamado de nova Arca? Ou ainda, por qual razão todos os crentes não podem? Pois 
Cristo disse que Ele e seu Pai iriam fazer morada nos crentes (João 14:23). A razão 
para isso é simples: a Arca era a prefiguração do Redentor, nosso Senhor Jesus 
Cristo. Se falarmos que Maria é a nova Arca, falamos que ela é nossa redentora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
206 
Lucas 1:28 (Kecharitomene): 
 
 Para falarmos sobre esta palavra e mostrar que ela não prova a imaculada 
conceição, pegarei o testemunho da própria enciclopédia católica: 
 
"A saudação do anjo Gabriel -chaire kecharitomene, Ave, cheia 
de graça (Lucas 1:28) indica uma abundância única de graça, 
um estado de alma sobrenatural e divino, que encontra sua 
explicação apenas na Imaculada Conceição de Maria. Mas o 
termo kecharitomene (cheia de graça) serve apenas como uma 
ilustração, não como uma prova do dogma".251 
 
 Veja que a própria enciclopédia católica coloca que está palavra não prova a 
imaculada conceição, mas apenas mostra como uma ilustração. Eles também dizem 
que esta palavra só de entende no dogma da imaculada conceição. No entanto, isso 
não é verdade. Citarei o reformador Martinho Lutero que interpretava Lucas 1:28 como 
uma purificação de Maria para gerar Cristo: 
 
"[...] (A) Mãe Maria, como nós, nasceu em pecado de pais 
pecadores, mas o Espírito Santo a cobriu, santificou e purificou 
para que esta criança nascesse de carne e sangue, mas não 
com carne e sangue pecaminosos. O Espírito Santo permitiu que 
a Virgem Maria permanecesse um ser humano verdadeiro e 
natural de carne e sangue, assim como nós. No entanto, Ele 
afastou o pecado de sua carne e sangue para que ela se 
tornasse a mãe de uma criança pura, não envenenada pelo 
pecado como nós somos".252 
 
 
251 ENCICLOPÉDIA Católica. Imaculada Conceição. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/cathen/07674d.htm>. 
252 O Dia da Anunciação a Maria pelo Dr. Martinho Lutero, 1532. Disponível em 
<https://www.stjohnsfc.org/news/from-the-pastor/1714-he-became-like-us>. 
https://www.newadvent.org/cathen/07674d.htm
https://www.stjohnsfc.org/news/from-the-pastor/1714-he-became-like-us
 
 
 
 
 
 
207 
 Veja que Lutero, o qual era um mestre em teologia253, interpretava a 
anunciação não apenas como uma anunciação comum à Maria, mas também uma 
purificação de Maria para que ela pudesse gerar Cristo. Portanto, esta abundância 
única de graça pode ser explicada também com a teoria da purificação de Maria: Deus 
purificou Maria de uma forma que ela ficou isenta de todo pecado enquanto gerava 
Jesus Cristo no seu ventre. Quem mais teve tal honra que gerar o próprio Deus em 
seu ventre? Absolutamente ninguém. 
 Portanto, estas palavras proferidas à Maria podem ser interpretadas 
como a graça de ser purificada para receber Jesus em seu ventre. Assim, a imaculada 
conceição não se torna a única explicação para tal. 
 
Agostinho e a impecabilidade de Maria: 
 
 Muito se é usado Agostinho para falar sobre a imaculada conceição, mas de 
forma especial é usada a seguinte fala de Agostinho em sua obra respondendo a 
Pelágio: 
 
"[...]Devemos excluir a santa Virgem Maria, a respeito da qual 
não desejo levantar nenhuma questão quando se trata do 
assunto dos pecados, em honra ao Senhor; pois Dele sabemos 
que abundância de graça para vencer o pecado em todos os 
aspectos foi conferida àquela que teve o mérito de conceber e 
dar à luz Aquele que, sem dúvida, não tinha pecado".254 
 
 Todavia, os apologistas católicos escondem o real contexto desta citação. Para 
resumir, Agostinho cita a lista de pessoas que Pelágio disse que não cometeram 
pecados em sua vida, ou melhor dizendo, que não cometeram pecados pessoais. A 
 
253 MADUREIRA, Jonas. Clássicos da Reforma: Martinho Lutero, uma coletânea de escritos. Introdução ao 
pensamento de Martinho Lutero. 
254 HIPONA, Agostinho. Sobre a Natureza e a Graça, cap. 42. Disponível em 
<https://www.newadvent.org/fathers/1503.htm>. 
https://www.newadvent.org/fathers/1503.htm
 
 
 
 
 
 
208 
prova disso se toma com o que ele continua a dizer após falar que Maria é isenta de 
pecados em vida: 
 
"[...]Bem, então, se, com esta exceção da Virgem, pudéssemos 
apenas reunir todos os homens e mulheres santos acima 
mencionados e perguntar-lhes se viveram sem pecado enquanto 
estavam nesta vida, qual podemos supor que seria sua 
resposta? Seria na linguagem de nosso autor ou nas palavras 
do apóstolo João? Eu pergunto a você se, ao ter tal pergunta 
submetida a eles, por mais excelente que tenha sido sua 
santidade neste corpo, eles não teriam exclamado a uma só voz: 
'Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos

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