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1
POR UMA ABORDAGEM SÓCIO -ANTROPOLÓGICA DOS COMPORTAMENTOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DA 
JUVENTUDE NO BRASIL : A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA GRAVAD 
 
Michel Bozon (INED), Maria Luiza Heilborn (IMS/UERJ), 
Estela Aquino (ISC/UFBA), Daniela Knauth (NUPACS/UFRGS) 
 
No Brasil, a gravidez na adolescência não é um fenômeno recente; porém, há aproximadamente 
uma década, adquiriu uma dimensão de “problema social”, cuja gravidade justificaria uma ação efetiva. 
Este artigo tem como objetivo definir as questões sociológicas subjacentes a este “problema”, apresentar 
um protocolo de pesquisa para abordá-las e traçar as bases de um novo enfoque político do fenômeno. O 
projeto GRAVAD (“Gravidez na Adolescência: Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e 
Reprodução no Brasil”) é uma pesquisa multicêntrica realizada em três grandes cidades: Salvador, Rio de 
Janeiro e Porto Alegre, capitais de um estado do Nordeste, do Sudeste e do Sul, respectivamente. 
Um problema social é geralmente representado de maneira “realista”, sendo identificado a uma 
população-alvo (ex.: “o problema indígena”, a “questão da terceira idade”) e para o qual procuram-se 
fatores explicativos que permitirão definir soluções. A maioria dos problemas sociais que preocupam os 
poderes públicos e a sociedade civil já existia mesmo antes de sua “descoberta” (Lenoir, 1979; Lenoir, 
1989). É preciso, inicialmente, examinar porquê e como certas situações e fenômenos, em determinada 
época e em um contexto social preciso, começam a ser vistos como “problemáticos”. A primeira etapa de 
uma pesquisa sobre a gravidez na adolescência consiste, portanto, em analisar o processo de construção 
social do tema, a fim de colocar em evidência os conjuntos de categorias práticas utilizados pelos “atores 
mobilizados” ao delimitá-lo e tratá-lo. Estas categorias, meio-eruditas, meio-populares, que também 
podem ser chamadas de pré-construções sociais (Champagne, 1989), não são utilizadas como conceitos 
de análise numa abordagem sociológica da questão; na verdade, podem ser obstáculos para a análise. Elas 
devem ser identificadas antes de qualquer pesquisa na medida em que impregnam as percepções nativas e 
tendem a funcionar como explicações imediatas. Assim, o objetivo desta primeira etapa não é tanto 
“desconstruir” o problema, mas situar as condições sociais e históricas de sua emergência. 
A segunda etapa deste trabalho consiste em elaborar um quadro sócio-antropológico, destinado a 
contextualizar os processos que conduzem a gestações e nascimentos em idades relativamente precoces, 
analisando-se os desdobramentos na vida dos sujeitos. Os comportamentos a serem observados 
 2
inscrevem-se na juventude, compreendida como um processo biográfico de aquisição progressiva dos 
atributos da idade adulta, no curso do qual o jovem se emancipa progressivamente do controle das duas 
instâncias de socialização  família de origem e escola  para adquirir uma autonomia material e 
residencial, através da obtenção de um emprego e da constituição de uma unidade conjugal e/ou familiar 
própria (Galland, 1992; Cavalli & Galland, 1993). Freqüentemente tratados como um capítulo da saúde 
reprodutiva (em que o planejamento familiar é um sub-capítulo), gravidez, nascimento e contracepção 
devem ser considerados, principalmente no momento da juventude, sob uma perspectiva mais ampla do 
aprendizado da sexualidade, que ganha contornos singulares no contexto da cultura sexual brasileira 
(Parker, 1991). As condutas sexuais e reprodutivas inscrevem-se nas interações, ou antes, nas negociações 
entre homens e mulheres. Desse modo, é necessário situar os comportamentos associados à gravidez e ao 
nascimento precoces no quadro das relações e papéis de gênero que, na adolescência, ainda não estão 
estabilizados, mas se encontram justamente em vias de cristalização acelerada. É impossível negar o fato 
de que os contextos sociais definem universos de possibilidades e de significações diferentes entre os 
jovens de origens distintas: os valores familiares, as condições de existência, a duração da escolaridade e 
as perspectivas de mobilidade social variam tanto em função das classes sociais (Duarte, 1987; Salem, 
1985) como dos contextos regionais. Assim como ocorre em outros países, postula-se a existência de 
vários tipos de juventude para os quais eventuais acontecimentos reprodutivos precoces têm sentidos 
totalmente diferentes. A partir dessa contextualização, cria-se a possibilidade de abordar a gravidez na 
adolescência como um dos acontecimentos da transição juvenil, ao invés de uma patologia social sui 
generis. 
Nessas condições, a elaboração de um protocolo de pesquisa, apresentado na terceira parte deste 
artigo, propõe um alargamento do escopo de análise: o da população e o do campo biográfico visados. Na 
perspectiva de uma análise sócio-antropológica, não é possível limitar a população da pesquisa à 
população-alvo do “problema social”, ou seja, as adolescentes grávidas e seus parceiros. As mulheres que 
não tiveram a experiência da gravidez devem igualmente ser incluídas, assim como os homens, sem os 
quais a questão da gravidez na adolescência não existiria. Paradoxalmente, para abordar os processos que 
se produzem durante a adolescência, é preferível não se limitar a indivíduos tecnicamente adolescentes no 
 3
momento da pesquisa. Ao aumentar em alguns anos a idade dos indivíduos a serem interrogados, pode-se 
adotar o ponto de vista de jovens adultos sobre sua adolescência recente. Numa pesquisa biográfica 
retrospectiva, que aborda, da mesma forma, os antecedentes e as conseqüências da entrada na vida sexual 
e reprodutiva, é preferível que os(as) pesquisados(as) tenham um distanciamento temporal para que os 
desdobramentos decorrentes das experiências vividas possam ser avaliados. Decidiu-se articular as 
abordagens qualitativa e a quantitativa na pesquisa GRAVAD a fim de contemplar o sentido das práticas 
para os atores e os laços concretos dos eventos reprodutivos com outros momentos da transição juvenil. 
Em suma, a pesquisa aqui proposta sobre gravidez na adolescência objetiva apresentar uma 
alternativa à visão dramática e moralizadora que freqüentemente prevalece sobre essa questão, impedindo 
definir estratégias de ações realistas (Arilha & Calazans, 1998). 
A CONSTRUÇÃO DO PROBLEMA SOCIAL DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL 
Na visão “realista” corrente dos problemas sociais, acredita-se muitas vezes que a mobilização em 
torno de um fato provém de uma mudança qualitativa ou de dimensão. Na verdade, as dimensões do 
fenômeno nem sempre variam de maneira importante e o que se altera é sobretudo a estrutura das relações 
entre os atores envolvidos ou o contexto no qual ele se inscreve (Lenoir, 1979; Marpsat & Firdion, 2000). 
Sobre a questão da gravidez na adolescência, Charlotte Le Van demonstrou que, na França, um discurso 
de mobilização bastante alarmista coincidia com uma incidência estável e baixa (Le Van, 1998). Nos 
Estados Unidos, foi constatado um forte aumento da preocupação social sobre a questão da gravidez na 
adolescência nos anos 1960 e 1970 (por exemplo, com o emprego recorrente da palavra epidemia) 
simultaneamente a uma queda tendencial da incidência do fenômeno (Reis, 1993 e 1998 ; Luker, 1996). 
Tal fato também foi constatado para a sociedade mexicana (Stern, 1997). No Brasil, observa-se nas 
gerações recentes um aumento da proporção de mulheres que tiveram filhos antes dos 20 anos: em 1996, 
contava-se 26% de mulheres no grupo de 45 a 49 anos que tiveram, no mínimo, uma criança na 
adolescência (até 19 anos), e 32% no grupo de 20 a 24 anos (Bemfam, 1997). O fenômeno torna-se 
consideravelmente mais visível por causa da redefinição de dois elementos principais do contexto. As três 
décadas compreendidas entre 1965 e 1995 correspondem no Brasil a uma transição demográfica rápida, 
que reduziu a fecundidade de quase 6 filhos por mulhera um pouco mais de 2 (Berquó, 1998a; Bozon & 
 4
Enoch, 1999). A gravidez precoce sobressai muito mais no contexto de redução da fecundidade na 
medida em que se verifica, como na maior parte dos países que atingem essa fase de transição 
demográfica, um adiamento da idade de entrada na vida reprodutiva (Chesnais, 1986), seja pelo 
retardamento do casamento ou pela difusão de formas modernas de contracepção. 
Um segundo elemento que renova o contexto desta gravidez e realça sua visibilidade é o aumento, 
ao longo das duas ou três últimas décadas, da proporção de gravidez e de nascimento na juventude que 
ocorre fora de uma união (Longo & Rios-Neto, 1998). São necessários dados mais precisos para 
interpretar o fenômeno: fracasso das estratégias femininas para estabelecer uniões, pressão das famílias de 
origem opostas a uniões demasiadamente precoces, novas atitudes das mulheres. A “novidade” da 
gravidez na adolescência, no Brasil como em outros países, dá-se em parte por sua “ilegitimidade”, que 
não pode ser interpretada de uma única maneira, mas que contribui para transformá-la em um problema 
social. Um terceiro elemento, não independente dos precedentes, é o aparecimento de novas expectativas 
sociais em relação à juventude, em particular nas classes médias, associadas ao forte aumento das taxas e 
da duração de escolaridade (Sabóia, 1998). Resulta por exemplo que, para uma fração da geração dos 
pais, não é mais considerado normal o fato de que uma mulher se case muito jovem e que uma gravidez 
precoce apareça como um acontecimento perturbador do bom desenvolvimento da juventude, sobretudo 
dos estudos, num país onde as mulheres são tão escolarizadas quanto os homens. 
No Brasil, onde a gravidez e o parto são muito medicalizados (90% dos partos acontecem no meio 
hospitalar), não é surpreendente que os primeiros atores mobilizados sobre o “problema” da gravidez na 
adolescência tenham sido os médicos. Mencionam-se riscos de aborto espontâneo e de prematuridade, 
problemas para a saúde da mãe (hipertensão, anemia), riscos no parto (bacia demasiadamente estreita), 
mortalidade materna e, enfim, riscos para a criança (baixo peso no nascimento, mortalidade infantil). Em 
diversos países, foi demonstrado que os riscos estão mais relacionados com características sociais das 
mulheres do que à idade e que, em suma, as mulheres de 15-19 anos e suas crianças não correm mais 
riscos de saúde que as mais idosas. Em compensação, estes são mais elevados para aquelas que têm idade 
de 10 a 14 anos; porém a proporção da gravidez que ocorre nessa faixa etária é muito baixa. Apesar de 
seu caráter parcialmente inexato, o argumento biomédico continua a ser utilizado correntemente por 
 5
diversos atores, jornalistas, políticos, e demógrafos (Camarano, 1998), muitas vezes relacionado com 
outros discursos. Os médicos rapidamente associaram-se a psicólogos (incluindo psiquiatras e 
psicanalistas), tradicionais especialistas da adolescência, que definiram a gravidez na adolescência como 
um risco psicossocial, dando como diagnóstico: a imaturidade psicológica dos jovens. Em decorrência 
dessa imaturidade, a gravidez traria graves conseqüências psíquicas e sociais para as jovens e suas 
crianças. Ao ser psicologisado, o discurso inclina-se muitas vezes em direção à moral, oscilando entre a 
condenação e o apoio aos adolescentes. O famoso artigo do ministro da saúde José Serra, publicado no 
jornal O Globo e intitulado “Mães-crianças” (1999), situa-se amplamente nesse registro de indignação 
moral. Os discursos freqüentemente se referem a uma evolução negativa dos costumes e salientam um 
clima de erotização precoce indesejável (muitas vezes atribuído à mídia), irresponsabilidade dos jovens, 
ignorância, falta de autoridade dos pais e ausência de diálogo entre gerações. Outros discursos, ainda que 
severos, fazem apelos de apoio aos jovens. Se a gravidez não é uma doença, ela aparece aqui como um 
sintoma psicológico e social. Existe, enfim, um terceiro discurso que considera, antes de tudo, a gravidez 
na adolescência como um problema social (Souza, 1998; Schor, 1998). Ela seria decorrente da pobreza, 
da precariedade, da ausência de instrução, da falta de informação em matéria contraceptiva e do parco 
acesso aos serviços de saúde (Gupta, 2000). De maneira recíproca, a gravidez precoce é considerada 
como fator que reforça a pobreza e a marginalidade na medida em que as jovens mães interrompem ou 
são impedidas de retomar os estudos, dificilmente encontrando um emprego e podendo somente contar 
com uma ajuda familiar limitada. Muitas vezes, o discurso das agências de pesquisa e dos organismos 
internacionais apresentam a gravidez na adolescência como um problema social universal, ligado à 
pobreza, ao analfabetismo e à falta de informação, constituindo um fator de perpetuação e de feminização 
da pobreza. A gravidez precoce é sistematicamente percebida como não desejada. 
A mobilização sobre a gravidez na adolescência desemboca em diversas formas de 
institucionalização do problema, isto é, de homogeneização de seu modo de tratamento. As diretivas do 
Ministério da Saúde a respeito da atenção integral da saúde dos adolescentes é um bom exemplo (Katz, 
1998). Justifica-se ter uma ação específica em relação às adolescentes, pois estas “engravidam sem 
planejamento, entre outras causas, por falta de informações, difícil acesso a serviços especializados, 
 6
desconhecimento de métodos anticoncepcionais e, muitas vezes, à procura de uma relação afetiva, de um 
objeto de amor ou somente devido à experimentação sexual. É preciso entender que a adolescente não 
pode assumir sozinha o risco de uma gravidez não planejada” (PROSAD, 1996, p. 22, citado por Katz, 
1998). A adolescente grávida é apresentada como uma vítima da sociedade. As diretivas insistem menos 
sobre o risco biológico da gravidez precoce do que sobre suas conseqüências psicossociais, abandono dos 
estudos, dificuldades de inserção, conflitos familiares e incapacidade de cuidar de maneira adequada de 
uma criança. A função da assistência médica à adolescente grávida é assim definida: “A assistência pré-
natal à adolescente deverá ser organizada na Unidade de saúde, em nível ambulatorial. Através de um 
programa de atenção integral, suas necessidades biopsicossociais serão atendidas por uma equipe de 
saúde disponível para realização de ações preventivas, educativas e curativas durante a gestação e 
estendidas até o primeiro ano de vida” (NASIA, 1993, p. 7 citado por Katz, 1998). Constitui-se, assim, 
numa representação bem homogênea da adolescente grávida. A primeira entrevista pré-natal toma a 
forma de um interrogatório, destinado a identificar os fatores de risco adicionais, como, por exemplo, 
baixo salário, inexistência de um companheiro ou marido, pais separados, tentativa de aborto, problemas 
psiquiátricos, trabalho cansativo, consumo de tabaco, álcool, droga, etc. Aquelas que são portadoras de 
fatores de risco devem ser vistas mais freqüentemente que as outras. Paralelamente, um perfil familiar é 
traçado, construindo a noção de família de risco ou de família disfuncional. Assim, são consideradas 
como pertencentes a famílias de risco as adolescentes que vivem somente com o pai ou a mãe, as que 
dividem o quarto com seus pais, aquelas cujos pais têm um nível de instrução inferior ao nível primário 
ou empregos instáveis ou, ainda, as que percebem as relações no interior da família como sendo ruins 
(SIA, 1995 citado por Katz, 1998). A leitura da imprensa brasileira faz aparecer outras formas de 
institucionalização da gravidez precoce: foi assinalada uma experiência pioneira de criação de uma creche 
destinada aos filhos das alunas num colégio público da zona oeste do Rio de Janeiro, a fim de lutar contra 
o abandono escolar. Regularmente, a questão é abordada por revistas em matérias especiais, nas quais 
psicólogos se tornam porta-voz de novos discursosdirigidos a pais de classe média: a necessidade de 
manter a solidariedade familiar é afirmada com força, sobretudo para que as jovens possam completar 
seus estudos, sendo indicado aos pais que o casamento dos adolescentes não é não é imprescindível. 
 7
O imperativo de uma investigação soció-antropológica da gravidez na adolescência decorre do 
caráter simplificador e miserabilista das pré-construções sociais acima discutidas. Numerosas 
contradições aparecem nas explicações dadas do fenômeno. Assim, a mídia é acusada de desempenhar 
um papel negativo propagando modelos de comportamento sexual demasiado precoce, mesmo que de fato 
sejam as adolescentes pouco expostas à mídia as que ficam mais freqüentemente grávidas (Brandão, 
2001). A falta de informações sobre a contracepção é reiteradamente colocada em questão, mas todos os 
autores concordam em dizer que um bom nível de informação não é forçosamente preditivo de 
comportamentos de precaução. É raro que a heterogeneidade das experiências vividas seja sublinhada e 
excepcional que as representações das adolescentes e dos adolescentes ou ainda, de seus pais, sejam 
levadas em conta (Brandão, 2001). 
CONTEXTO SÓCIO -ANTROPOLÓGICO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E QUADRO DE HIPÓTESES 
Juventude e trajetórias juvenis 
Se é incontestável que a gravidez na adolescência ocorre em pessoas cuja situação social não está 
estabilizada, não é porque elas seriam psicologicamente imaturas ou socialmente marginais mas, antes de 
tudo, porque este evento se produz em um momento de transição biográfica (a adolescência ou a 
juventude), durante o qual a situação dos indivíduos, em todos os casos, se modifica rapidamente. Estas 
alterações se produzem em todos os campos da vida individual: mudanças residenciais, aquisição 
progressiva de um estatuto profissional, evolução da situação escolar, trajetória afetiva etc. Não seria 
apropriado esperar que a juventude fosse uma população com características estáveis, pois se trata, por 
excelência, de uma passagem da vida, cuja duração é variável e que pode se decompor em duas transições 
distintas: a familiar-residencial, que faz passar do meio familiar de origem a uma residência autônoma e a 
constituição de uma nova unidade familiar; e a escolar-profissional, que faz passar do meio escolar a uma 
atividade profissional geradora de autonomia material. Em lugar de descrever de maneira estática o perfil 
dos jovens (Berquó, 1998b), é importante caracterizar trajetórias de juventude, indicando, por exemplo, a 
idade na qual se produzem os eventos significativos (Bozon, 1997): a saída da casa dos pais, a ordem do 
desenrolar dos eventos (começar a trabalhar, mesmo se a escolaridade não foi completada, ou o primeiro 
emprego depois de terminar os estudos), o tempo que decorre entre dois eventos importantes (por 
 8
exemplo, entre a iniciação sexual e o nascimento de uma primeira criança). Nos países desenvolvidos, 
assistiu-se a um fenômeno de prolongação da juventude a partir dos anos 70, que pode ser caracterizado 
como um alongamento das transições entre adolescência e idade adulta, um atraso da estabilização 
familiar e profissional ou como o aparecimento de uma nova idade da vida. Assim, no final do século 
vinte na França, o intervalo de tempo entre a primeira relação sexual e a primeira criança para as 
mulheres atinge, aproximadamente, uma média de 10 anos, e o intervalo de tempo entre o término dos 
estudos e o primeiro emprego estável também teve tendência a se prolongar. Este prolongamento da 
juventude é acompanhado por um alongamento da dependência material em relação aos pais, decorrendo, 
ao mesmo tempo, do aumento geral da duração da escolaridade e da precariedade no momento da 
inserção profissional. 
No Brasil, as trajetórias juvenis apresentam uma heterogeneidade muito maior do que nos países 
desenvolvidos e comportam aspectos específicos. Entre os grupos sociais favorecidos (a alta classe 
média), observa-se um prolongamento da juventude com aumento do tempo de estudo, manutenção da 
coabitação com os pais e aquisição tardia da autonomia material. Nas classes populares encontram-se 
juventudes mais breves: há a passagem precoce de certos limiares sem que seja atingida uma autonomia 
total, em razão da precariedade das condições de vida e da árdua aquisição da autonomia residencial. Um 
traço peculiar das trajetórias juvenis no Brasil é o lugar particular que ocupam a gravidez ou o nascimento 
de um filho, que infletem as trajetórias mas não são necessariamente a primeira etapa da constituição de 
uma unidade residencial ou de um grupo familiar autônomo. Ainda que atualmente três quartos dos 
jovens brasileiros de 15 a 17 anos sejam escolarizados, os percursos escolares são muito heterogêneos 
tanto de uma classe social à outra quanto de uma região à outra do país; aliás, pode-se dizer que a 
passagem pelo universo escolar não tem um papel tão estruturador nas biografias juvenis no Brasil como 
nos países desenvolvidos. Muitas vezes postulado a priori, o efeito de uma gravidez na adolescência 
numa trajetória escolar ulterior deve ser empiricamente demonstrado. 
O aprendizado da sexualidade e do gênero 
Na adolescência, uma das principais transições que se opera é a passagem à sexualidade com 
parceiro, sendo menos precoce e mais gradual do que supõem os estereótipos sobre a sexualidade dos 
 9
jovens no Brasil (Bemfam, 1997). O aprendizado da sexualidade não se limita àquele da genitalidade, 
tampouco ao acontecimento da primeira relação sexual. Trata-se de um processo de experimentação e de 
impregnação pela cultura sexual do grupo, que apresenta uma aceleração na adolescência e na juventude. 
A cultura sexual é constituída por representações, valores, papéis de gênero, rituais de interação e de 
relacionamento e práticas. 
No Brasil, existe uma forte codificação das relações sócio-sexuais entre jovens e uma estrita divisão 
dos papéis dos homens e das mulheres na sexualidade. Os atores dão uma grande importância à definição 
do quadro social no qual as relações amorosas se produzem (Bozon & Heilborn, 2001). Assim, o namoro 
juvenil é uma relação de exclusividade entre dois parceiros que se intitulam namorados e que, sob sua 
forma tradicional, pode permanecer casta por bastante tempo. A relação tem um caráter oficial para a 
família e para o círculo de amigos. Em sua forma tradicional, o namoro é um tipo de coreografia: o 
homem estabelece a relação para depois solicitar favores que a mulher somente pode concordar 
progressivamente. A insistência do homem e a resistência da mulher são comportamentos 
tradicionalmente esperados. Os contatos corporais tornam-se com o tempo mais íntimos, mais variados e 
mais aprofundados, na medida em que é necessário manter o interesse do homem para prosseguir a 
relação. Entretanto, na versão tradicional do namoro, a penetração vaginal permanece proibida, a fim de 
preservar a virgindade. Para as novas gerações, o namoro ainda constitui o quadro esperado das relações 
sérias e exclusivas entre pessoas apaixonadas, sob o olhar vigilante da rede social. Porém, todas as 
mulheres mencionam a pressão exercida pelos homens com vistas a atingir, o mais rápido possível, o 
estado das relações vaginais, o que se traduz por uma queda da idade das mulheres na primeira relação 
(em torno de dois anos em duas décadas): mesmo continuando a controlar o ritmo da aproximação sexual 
quando o namoro se sexualiza, as mulheres perdem uma parte do poder que retiraram de sua resistência. 
Recentemente, uma forma de não-compromisso codificado foi agregada a esta codificação de 
engajamento e de exclusividade. Nos anos 80, um novo modo de encontro ou de entrada na relação, 
intitulado ficar, difundiu-se na juventude: neste tipo de conhecimento que se estabelece geralmente em 
um lugar público (festa, noites, boate, bar), a atração dos indivíduos suscita um contato corporal imediato 
(beijos,carícias, até mesmo relação sexual), sem o mínimo engajamento entre os parceiros que, em geral, 
 10
se separam sem a perspectiva de se reverem. Nos dois modelos de namoro e de ficar, os comportamentos 
prescritos são rigorosamente opostos. 
A estrita divisão de gênero na cultura sexual brasileira é marcada pela existência de um sistema de 
categorias  macho e fêmea, masculinidade e feminilidade, atividade e passividade  constituindo para 
os atores um quadro de leitura dos comportamentos. Sendo um sistema estritamente dicotômico, os 
homens não podem se permitir ter comportamentos que façam nascer a menor dúvida sobre sua 
masculinidade (Parker, 1991). Na adolescência, é comum temer que um homem se dê mal do ponto de 
vista sexual (que ele se torne homossexual); havia, por exemplo, antiga tradição dos pais levarem, logo 
que possível, os filhos para conhecerem prostitutas. O masculino se compõe assim de imagens fortemente 
valorizadas, como o pai ou o verdadeiro macho, o machão, e de imagens desvalorizadas, como o 
homossexual passivo, o veado. Da mesma forma, as mulheres devem evitar os avanços masculinos com 
atitudes firmes se quiserem conservar uma reputação de moça de boa família ou de mulher honesta. Além 
da própria virgindade física, espera-se que as jovens tenham um tipo de virgindade moral, sob a forma de 
um jeito passivo e “ingênuo” em matéria sexual, o que torna, por exemplo, difícil abordar questões de 
sexualidade ou de contracepção com um homem. Complementarmente, desde a adolescência, a 
maternidade é um componente muito valorizado da feminilidade, o que se traduz por um ideal de ter o 
primeiro filho bastante jovem. Nesse cenário de atitudes e de papéis claramente designados a cada um dos 
gêneros, as relações sexuais entre homens e mulheres são (paradoxalmente) vividas como fruto da 
espontaneidade, funcionando como valor central: é culturalmente pouco provável que uma primeira 
relação sexual seja discutida ou preparada. A dinâmica do namoro tradicional continua a estruturar o 
script das relações sexuais, sobretudo para os jovens: os homens pedem, as mulheres respondem, 
cedendo, recusando ou temporizando. Conforme as normas da cultura e em função das atitudes que lhe 
são prescritas, é portanto mais fácil para as mulheres terem uma primeira relação sexual não protegida 
(porque “cederam” a seu parceiro, o que está na ordem das coisas) ou só conceder aos homens práticas 
sexuais sem penetração (o que é uma forma de resistência), em vez de se preparar para (ou pedir) uma 
primeira relação protegida: isto implicaria uma forma de previsão e, portanto, de postura ativa, deixando 
entender que elas são “experientes”, o que induz dúvidas sobre sua moralidade. Quando a aceitação social 
 11
da sexualidade juvenil feminina é frágil, a aceitação social da contracepção é necessariamente ainda mais 
fraca. 
Pode-se questionar em que condições a utilização da contracepção pelas jovens torna-se possível. 
Formula-se a hipótese de que um planejamento precoce da vida sexual e a recusa em aceitar o risco de 
gravidez certamente acontecem juntos para as jovens com possibilidade de planejamento individual da 
vida em geral, significando, por exemplo, um domínio das condições de vida e a existência de projetos a 
médio prazo que seriam prejudicados pela gravidez. O prolongamento da duração dos estudos, que no 
Brasil (como na França) diz respeito particularmente às mulheres, pode ter um papel importante nesse 
sentido. Inversamente, a ausência de qualquer perspectiva escolar ou profissional, ligada a uma 
escolaridade bastante irregular (Saboia, 1998)  um quinto das mulheres de 20 a 24 anos tiveram 
menos de 4 anos de duração de estudo  não leva a considerar uma eventual gravidez como uma 
perturbação maior e, portanto, ao comportamento de tentar evitá-la. Quando a entrada na vida sexual 
efetua-se sem proteção, a passagem para a utilização de uma contracepção é geralmente consecutiva em 
duas condições: se ocorre uma gravidez ou um nascimento e se existe um casal estável. O objetivo é 
evitar ficar grávida de novo muito rapidamente. Portanto, estudar o uso da contracepção implica 
reconstituir trajetórias contraceptivas  que têm um início e podem ser descontínuas - bem mais do 
que descrever conhecimentos e atitudes consideradas estáveis, segundo a abordagem psicossocial 
clássica. As trajetórias contraceptivas são construções que devem ser relacionadas com as trajetórias 
afetivo-conjugais e com os fatores determinantes da trajetória juvenil. 
A gravidez e suas conseqüências: um risco social aceito 
A existência de um alto índice de gravidez antes dos 20 anos é espontaneamente interpretada pelos 
atores de duas maneiras contraditórias. Na interpretação miserabilista dominante já apresentada, as 
mulheres que têm gravidez precoce são vítimas da ignorância, da violência e da pobreza. Há ainda uma 
outra perspectiva, que pode ser qualificada de maquiavélica e que coexiste, paradoxalmente, com a 
primeira, segundo a qual as mulheres que ficam grávidas sabem muito bem o que fazem: elas tentam 
“prender” o homem pela esperteza. A ambigüidade dos comportamentos leva-nos a formular hipóteses 
menos categóricas. A idéia de que a gravidez poderia representar um tipo de teste de fertilidade não é 
 12
aceitável em seu sentido estrito, pois implicaria uma decisão racional da parte das mulheres de verificar 
sua capacidade reprodutiva. A hipótese central é que, para os jovens brasileiros, a gravidez é um risco 
socialmente aceito da sexualidade. Por um lado, é um acontecimento freqüente, todas as pessoas 
questionadas conhecem amigas ou parentes que ficaram grávidas muito jovens. Por outro lado, é um 
acontecimento percebido como normal: na adolescência, não existe uma vontade marcada de separar 
sexualidade e procriação, o que conduziria os (as) interessados (as) em fazer tudo para adiar a entrada na 
vida reprodutiva, tendo uma vida sexual não reprodutiva. As jovens não são nem vítimas nem 
estrategistas da gravidez precoce. Elas tiveram relações sexuais sabendo que o risco de gravidez existe, 
como também sabem que se pode bater ou ter um acidente quando se anda de carro. 
Quando uma gravidez ocorre, ela não é em princípio reconhecida pela jovem imediatamente (sendo, 
muitas vezes, interpretada como um atraso de regras, no quadro de ciclos irregulares); por outro lado, ela 
nem sempre informa, direta ou imediatamente, as pessoas envolvidas. A ordem das pessoas que a jovem 
decide informar merece destaque. Freqüentemente, os pares (colegas) são informados antes do parceiro 
(que pode assim sabê-lo indiretamente); ele mesmo é informado antes da família de origem e o pai da 
jovem é informado por último em todos os casos. No caso da gravidez na adolescência fora de uma vida 
conjugal, três questões essenciais devem ser resolvidas pela moça em primeiro lugar, mesmo que 
envolvam outros protagonistas. Trata-se de saber se ela vai manter a gravidez até o fim (questão de aborto 
eventual); se for o caso, é preciso saber se a criança será “assumida” pelo parceiro e, finalmente, se a 
família da mulher aceitará fornecer uma ajuda significativa. Mesmo estando logicamente ligadas, estas 
questões podem ser contempladas separadamente. 
A questão do aborto não é simples de ser abordada em um país onde ele é proibido: em todos os 
casos, trata-se de uma opção difícil de ser concretizada pelos interessados, ao mesmo tempo em que é um 
tema delicado de ser tratado numa investigação. Na fase qualitativa da pesquisa, a questão é vista sob três 
ângulos diferentes: as atitudes de princípio em relação ao aborto, as atitudes em situação, as práticas 
efetivas das pessoas confrontadas ao problema. Entre os jovens entrevistados, as atitudes de princípio são 
bastante categóricas no sentido de uma oposição sem nuança. Pronunciar-se pelo aborto é interpretado 
como uma recusa em tornar-se pai ou mãe, o que equivale a umarecusa em ser plenamente homem ou 
 13
mulher. A valorização da figura social, masculina ou feminina, do chefe de família torna dificilmente 
imaginável o que aparece como sendo uma covardia, uma fuga diante da responsabilidade. Entretanto, 
quando os entrevistados são questionados menos sobre os princípios e mais sobre as situações nas quais o 
aborto pode ser aceito, uma tolerância bem maior se revela, em particular, em relação àquelas que não 
têm condições materiais para criar uma criança. Finalmente, os(as) entrevistados(as) têm uma atitude 
bastante pragmática, muito diferente da posição de princípio, quando devem enfrentar pessoalmente a 
ocorrência de uma gravidez mal aceita. A palavra aborto é freqüentemente menos utilizada neste caso, 
dando-se preferência à palavra “tirar”, sobretudo na fase inicial da gravidez na qual as mulheres tentam 
“fazer descer as regras". Métodos tradicionais (chás e remédios abortivos, aborto artesanal) coexistem 
com modernos métodos medicalizados. A pesquisa aborda os circuitos de informação, o modo de tomada 
de decisão e os apoios ou reticências da família ou do parceiro. Em todos os casos, a realização é 
problemática, principalmente quando as negociações com as pessoas envolvidas tomam tempo. 
Um tema importante para ser estudado é a maneira pela qual os homens envolvidos reagem à 
gravidez na adolescência. Mesmo se a ocorrência não é, na maior parte das vezes, nem voluntária ou 
involuntária, as mulheres podem apresentar a gravidez como uma dádiva que oferecem aos homens: elas 
pensam que eles terão dificuldades em recusar, pois sabem que têm orgulho tanto ao engravidar uma 
mulher quanto de alcançar o mais valorizado status masculino que é o de ser pai. Se existe uma tática 
feminina, ela se concretiza sem dúvida neste momento, na tentativa de utilizar a gravidez para acelerar 
um processo que, sem isto, se desenrolaria de maneira mais lenta: a gravidez da parceira obriga o homem 
a se determinar, a decidir se toma as responsabilidades (assume) em relação à criança e à mulher. Muitas 
vezes, o jovem discute a questão com seus pares, o que pode favorecer a aceitação da paternidade: na 
ótica masculina, “assumir” ou, pelo menos, não aceitar que se “tire” a criança, são efetivamente 
comportamentos valorizados, correspondendo a uma posição viril e adulta. A única situação 
verdadeiramente problemática é quando a gravidez ocorre durante uma relação ocasional: o homem é, 
neste caso, mais inclinado a recusar em assumir, porque não quer se ligar à mulher (“não gosta dela”), e 
justifica sua recusa colocando dúvidas sobre sua paternidade. A reação do homem é um dos parâmetros 
do qual se prevalecerá a mulher em sua decisão de “manter” a gravidez (não tentar “tirar"). A etapa 
 14
qualitativa da pesquisa mostrou que assumir as responsabilidades não era necessariamente uma decisão 
tão difícil de ser tomada pelos “pais adolescentes”, na medida em que, a princípio, isto se constituía mais 
num compromisso verbal do que numa obrigação constrangedora. 
É tão difícil de se abordar o tema da gravidez com a mãe e o pai da jovem, sempre comunicados 
separadamente, mesmo vivendo juntos, que a notícia é muitas vezes protelada. A reação do pai é receada 
em diferentes graus segundo os grupos sociais: nos meios populares, por exemplo, pelo menos no 
primeiro instante, a jovem teme ser expulsa do domicílio familiar. A mãe pode ter um papel decisivo em 
matéria de decisões práticas e negociações. Assim, sua oposição declarada, sua neutralidade ou, 
inversamente, seu consentimento no aborto da filha ou, até mesmo, a obrigação de que ela o faça, é um 
elemento fundamental para o desfecho. É ela quem indica à filha se ela será simplesmente hospedada pela 
família ou se será ajudada a criar seu filho, a fim de ter a possibilidade de continuar os estudos ou 
trabalhar. É ela quem muitas vezes dá a notícia ao pai. E é ela quem vai negociar com os pais do jovem a 
quantia da pensão e os arranjos para depois do nascimento. A princípio, uma gravidez e um nascimento 
eventuais não aceleram a progressão da jovem na ordem das gerações (fazendo passar do estatuto de filha 
ao de mãe/chefe de família), porém têm tendência a reforçar mais sua dependência em relação à família. 
Com efeito, é raro que as jovens que não viviam com o parceiro no momento em que ficaram grávidas 
adquiram uma autonomia residencial no decorrer da gravidez. E, ainda que o jovem prometa que “eles 
terão uma casa”, isto não se constitui numa realização a curto prazo. 
A pesquisa focaliza a reorganização e as inflexões biográficas que acompanham o nascimento, 
evitando o tom dramático do discurso social sobre a gravidez na adolescência. Após um nascimento, 
quando a jovem continua a viver na casa dos pais, uma gestão familiar da criança é organizada com 
formas diferentes, segundo o meio social. Em todos os casos, a mãe da jovem tem um papel importante. 
Na classe média superior, a empregada doméstica é mobilizada. Nas classes populares, a fratria da mulher 
é chamada a contribuir. Quando os pais da criança não vivem juntos, isto não significa que eles não se 
relacionem mais ou que não mantenham alguma forma de coabitação. As trajetórias escolar e profissional 
dos homens não são prejudicadas: tendo uma escolaridade breve ou prolongada, estes últimos assinalam 
os efeitos positivos de um nascimento em termos de maturação e de estruturação pessoal ou, até mesmo, 
 15
para dar início a projetos. Para as jovens, as trajetórias escolares são temporariamente interrompidas em 
caso de gravidez. Na classe média, em particular, a ajuda familiar para criar a criança está subordinada ao 
prosseguimento dos estudos pela jovem. A alteração mais freqüentemente mencionada pelos interessados 
é o que se pode chamar de perda da adolescência, ligada à redução precoce da sociabilidade, das saídas e 
dos lazeres juvenis. Esta mudança concerne mais as mulheres do que os homens. 
A heterogeneidade social e regional 
No Brasil, os principais fatores de heterogeneidade social e regional são as desigualdades escolares 
e culturais e as enormes disparidades de renda. Jovens de diferentes contextos sociais distinguem-se assim 
pelas consideráveis diferenças de capital cultural e econômico, que definem universos de recursos e 
possibilidades, sistemas de significações e trajetórias de juventude extremamente heterogêneas. 
Tradicionalmente, a antropologia e a sociologia brasileiras insistem na diversidade social de culturas 
familiares e na inscrição destas nas condições de existência. Uma contribuição à análise da 
heterogeneidade social brasileira seria uma descrição da maneira pela qual as diferenças sociais se 
traduzem nas trajetórias biográficas da juventude, estruturando não somente as trajetórias escolar e 
profissional, mas também as afetivo-sexuais. 
 Ao acompanhar uma iniciação sexual precoce, a gravidez na adolescência é claramente mais 
freqüente nas classes populares que conhecem, da mesma forma, uma entrada apressada no mercado de 
trabalho, informal ou não, antes ou depois de uma saída rápida do sistema escolar. Jovens de meios 
populares conhecem, portanto, uma breve juventude e desconhecem o diletantismo da juventude 
prolongada conhecida por outros jovens. Para uma notável proporção destes jovens, existe uma espécie de 
coincidência nos limiares de saída da adolescência, relativamente conectados e concentrados em curtas 
durações, segundo o modelo tradicional da juventude operária (Galland, 1995): o nascimento de uma 
criança, eventualmente inscrito em um casal, pode aparecer como um evento estabilizador. Existem 
outras trajetórias populares nas quais o nascimento precoce de uma criança de mãe solteira é, ao 
contrário, um indicador de marginalização; porém, a interpretação não deve ser generalizada. 
A entrada na sexualidade é mais tardia nas classes favorecidas ou nas classes intermediárias (baixa 
classe média) do que nasclasses populares, em particular, para as mulheres, cuja proporção de gravidez 
 16
na adolescência é também menor. Entretanto, a proporção do fenômeno não é negligenciável nessas 
camadas sociais, donde resulta a decisão de analisar com especial atenção esse segmento social tão pouco 
estudado para compreender os processos implicados e descrever a gestão familiar dos nascimentos 
precoces neste contexto social. Tratar-se-ia de compreender porque o modelo da juventude prolongada 
não se instalou de forma completa e sistemática: a autonomia material, profissional e residencial é adiada, 
mas não a entrada na vida reprodutiva. 
A CONSTRUÇÃO DO PROTOCOLO DA PESQUISA GRAVAD 
A população da pesquisa 
Na medida em que a pesquisa toma por objeto um processo social (a juventude, ou mais 
precisamente suas trajetórias sexuais, afetivas e reprodutivas) e não um grupo social (os adolescentes ou 
os jovens), não é necessário escolher a população-alvo do problema social como os sujeitos da pesquisa. 
Ao se deslocar em direção a uma população com mais idade, tem-se a possibilidade de tomar um ponto de 
vista mais homogêneo e mais apartado sobre os processos em questão: o distanciamento possibilita 
descrever as conseqüências biográficas concretas e ainda próximas de um nascimento precoce. A 
especificidade da lógica da pesquisa, em relação àquela da intervenção social, nem sempre é bem 
compreendida. 
Além disso, o deslocamento do objeto de pesquisa do evento gravidez em direção à trajetória 
afetiva e sexual, tomada como um todo, implica considerar a população geral, incluindo as mulheres que 
nunca ficaram grávidas. Sabe-se que numa amostragem aleatória no Brasil, aproximadamente uma em 
cada duas mulheres de 20 anos terá tido, pelo menos, uma gravidez, seja qual for o desfecho. A influência 
das relações de gênero nas interações entre parceiros incita-nos a incluir os homens na população a ser 
questionada, dada a importância que eles desempenham nos processos que conduzem ou não ao uso de 
uma contracepção, à aceitação ou à rejeição de uma gravidez, à formação ou não de um casal. A inclusão 
dos homens nas amostras populacionais tornou-se sistemática na terceira leva das pesquisas DHS, quando 
era opcional nos dois primeiros desenhos. Apesar de não resolver todos os problemas, esta decisão 
possibilita abordar a questão das relações de gênero de maneira muito mais dinâmica e, em relação ao 
tema da gravidez na adolescência, possibilita também desconstruir a invisibilidade social tenaz (Lyra, 
 17
1998) do “pai adolescente” (mesmo sendo verdade que todos os parceiros das adolescentes grávidas não 
são eles mesmos adolescentes). 
A pesquisa não visou a população brasileira em seu conjunto, se limitando a três grandes cidades: 
Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre, situadas em regiões com características muito diferentes 
(Nordeste, Sudeste e Sul). Assim, no estado da Bahia, em torno da metade das pessoas de 20 a 24 anos 
têm menos de 4 anos de escolaridade, o que é somente o caso de 20% de jovens do estado do Rio de 
Janeiro ou do Rio Grande do Sul. Este último é o único estado no qual a proporção de mulheres que 
utilizam a pílula é mais elevada do que a proporção de mulheres esterilizadas, ao contrário do que 
acontece nos dois outros. As rendas per capita são mais elevadas no estado do Rio de Janeiro. Em termos 
étnicos, o estado do Rio Grande do Sul caracteriza-se por um povoamento muito mais europeu. Poder-se-
á, segundo os casos, reunir as três amostragens ou distingui-las para efetuar comparações: é possível dar 
ênfase ao trabalho de análise e comparações entre localidades, na medida em que existem centros 
universitários de pesquisa com numerosos estudos qualitativos sobre comportamentos sexuais e 
reprodutivos nessas três cidades. 
Um dispositivo qualitativo-quantitativo articulado 
O dispositivo da investigação articula duas pesquisas, uma baseada em entrevistas (N=123, 41 
entrevistas por cidade), efetuada em 1999-2000, e um inquérito por questionários (N=4500), 1500 
questionários por município, que ocorreu no segundo semestre de2001. A pesquisa qualitativa baseou-se 
numa amostragem construída segundo quotas de idade (18-20 anos vs. 21-24 anos), sexo, categoria social 
(classe média vs. popular) e experiência reprodutiva (com filho antes de 20 anos vs. sem filho antes de 20 
anos). Assim, foi possível entrevistar homens de classe média, cuja parceira teve uma gravidez na 
adolescência e mulheres de meio popular que não tiveram nenhuma. Havia um duplo objetivo nessa 
campanha de entrevistas. Em primeiro lugar, tratava-se de aperfeiçoar as hipóteses iniciais do estudo, 
amplamente construídas sobre experiências ou trabalhos de pesquisas anteriores, quase sempre 
antropológicos. As hipóteses que formulamos neste artigo inspiram-se parcialmente nas entrevistas 
coletadas. O corpus de entrevistas será analisado tanto de forma autônoma quanto em relação à pesquisa 
quantitativa. Em segundo lugar, a pesquisa por entrevistas foi utilizada a titulo exploratório para construir 
 18
o questionário quantitativo. Objetivando abordar a temática dos comportamentos sexuais e reprodutivos 
dos jovens numa perspectiva biográfica, foi necessário verificar se era possível construir um 
questionamento sistemático sobre as trajetórias escolares, profissionais, afetivo-conjugais dos jovens no 
Brasil. 
Em razão da complexidade e do caráter pouco linear das trajetórias escolares e profissionais tais 
como aparecem nas entrevistas, a estruturação dos questionário foi baseada na trajetória afetivo-conjugal 
(incluindo a sexualidade), relacionando os principais eventos com as situações escolares, profissionais e 
residenciais dos jovens. O procedimento de entrevistas possibilitou igualmente abordar de maneira aberta 
os significados e as representações dos eventos e dos comportamentos. Significações particularmente 
ricas aparecem na descrição da primeira relação sexual; interações e negociações muito complexas foram 
descritas pelos que passaram por um episódio de gravidez. Constatou-se que as experiências de gravidez e 
de nascimento precoces eram avaliadas de maneira bastante positiva pelos interessados(as), homens e 
mulheres. Práticas e representações da sexualidade eram abordadas abertamente e revelavam uma certa 
diversidade de atitudes. Em oposição, as questões sobre a imagem do pai ou da mãe fizeram aparecer uma 
homogeneidade de valores, que nos incitou a não retomar as questões no questionário quantitativo. A 
respeito do aborto, as atitudes práticas pareciam mais interessantes a serem exploradas, por serem mais 
diversificadas do que as atitudes de princípio. 
Foi, portanto, decidido que o questionário quantitativo seria baseado na reconstituição da seqüência 
das relações sexuais, afetivas e conjugais dos entrevistados, privilegiando os primeiros eventos, bem 
como os recentes. Perguntou-se, assim, sobre a primeira relação sexual, a primeira relação amorosa de 
mais de três meses, a primeira vida de casal, a primeira separação de casal, a primeira gravidez, o 
primeiro filho, o primeiro ano depois do nascimento, o primeiro aborto. Contemplou-se a relação amorosa 
atual, a última gravidez, a última relação sexual, a última relação com um parceiro ocasional. As questões 
sobre a prática da contracepção ou o uso de preservativos foram colocadas sempre em referência a 
relacionamentos ou a relações sexuais precisas, das quais pode-se descrever o contexto e os protagonistas. 
O sorteio da amostra foi efetuado da seguinte maneira: os setores censitários das três cidades foram 
estratificados em quatro grupos, em função de sua composição social. O sorteio aleatório de setores foi 
 19
efetuado sobre-representando o setor mais favorecido, que é também o menos numeroso. Foi realizada 
uma contagem/varredura das moradias compreendendo jovens de 18 a 24 anos em todos os setores, 
seguida de um novo procedimentoaleatório dessas moradias. 
CONCLUSÃO 
O fio condutor desta pesquisa sobre comportamentos sexuais e reprodutivos dos jovens é a 
concepção da juventude enquanto grupo social heterogêneo, não podendo ser abordada como uma 
população com características estáveis, tampouco contentando-se em utilizar os indicadores de estatística 
descritiva. A juventude é um período de transição durante a qual a situação dos indivíduos e suas 
características se alteram rapidamente. Sendo a mudança o estado normal da juventude, é necessário 
integrar esta mobilidade e esta dinâmica na própria construção da pesquisa, tomando por objeto trajetórias 
mais do que status estáveis, eventos biográficos mais do que estados, utilizando indicadores longitudinais 
e levando em conta o tempo de vida dos indivíduos (Courgeau et Lelièvre, 1990). 
Assim, um primeiro objetivo é construir uma tipologia das trajetórias de juventude, em função da 
ordem e do calendário dos eventos, da duração das transições e dos modos de passagem à idade adulta. A 
construção de gênero das condutas sexuais será em seguida abordada ao se pesquisar as relações entre os 
tipos de trajetória, os comportamentos sexuais e contraceptivos e os valores em matéria de sexualidade: 
no Brasil, um elemento característico da interação sexual é a dificuldade dos parceiros em falar entre eles 
sobre sexualidade ou contracepção. Quatro eventos serão particularmente examinados: a entrada na 
sexualidade com parceiro (iniciação sexual, primeiro relacionamento sexual), as vias de entrada na 
contracepção, o recurso ao aborto (aborto tradicional e aborto moderno) e, sobretudo, o lugar que uma 
gravidez ocupa nas trajetórias juvenis. Trata-se de estabelecer a natureza dos laços objetivos/subjetivos 
que se constituem entre a trajetória amorosa/sexual/reprodutiva dos jovens e os outros eventos da 
transição juvenil (estudos, profissão), levando em conta os recursos materiais e sociais dos jovens, seus 
valores, o apoio e o controle familiares. Será necessário procurar explicações múltiplas que 
recontextualizem estes comportamentos e evitem a imagem miserabilista da gravidez na adolescência. O 
objetivo de longo termo desta investigação é sugerir explicações sobre o paradoxo desta transição 
demográfica “inacabada”, que reduziu tão fortemente as expectativas de fecundidade (das quais é 
 20
testemunha o recurso massivo e precoce à esterilização), mas que não criou uma aspiração para adiar o 
momento de entrada na vida reprodutiva. 
A preocupação social que provoca a gravidez na adolescência na sociedade brasileira na virada do 
século XXI é, sem dúvida, mais o resultado das mudanças macro-sociais do que o efeito do 
desenvolvimento de um fenômeno novo e específico. Ela sinaliza a ilegitimidade repentina de um antigo 
modo de transição para a idade adulta, caracterizado por uma escolaridade breve das meninas, que se 
casavam precocemente com homens mais velhos e que tinham um primeiro filho pouco depois do 
casamento. Um novo ideal de desenrolar da juventude emergiu, valorizando uma sucessão ordenada e 
progressiva das etapas. Seja para uma moça como para um rapaz, é importante concluir os estudos. É 
possível manter uma vida sexual na adolescência, contanto que não seja reprodutiva. A vida de casal deve 
ocorrer mais tarde, após o momento da obtenção de um primeiro emprego. Neste novo ideal “moderno” 
das classes médias, ainda muito minoritário na prática, a gravidez na adolescência aparece como 
desviante e socialmente perigosa na medida em que perturba o desenrolar esperado da juventude. Dois 
elementos contribuem para alimentar o caráter problemático da gravidez na adolescência: a perda do 
valor do casamento (formal) precoce e a dificuldade persistente em efetuar abortos no Brasil, o que 
dramatiza as decisões a serem tomadas. 
A pesquisa sobre os comportamentos sexuais e reprodutivos na adolescência deve suspender os 
julgamentos de valor em relação à gravidez precoce, que não é em si um evento positivo nem negativo. 
Assim, todas as trajetórias nas quais aparece um nascimento precoce não implicam uma alteração 
profunda da vida dos interessados, nem de suas famílias. Certos jovens desejam e efetuam transições 
rápidas para a idade adulta, enquanto outros, ainda minoritários, sonham com uma transição ampliada e 
progressiva, na qual o nascimento precoce de uma criança não tem lugar. Entre estes dois tipos extremos, 
encontra-se toda uma gama de aspirações mais vagas, marcadas contraditoriamente pelo desejo de 
autonomia material e pessoal e a pretensão a uma vida adolescente sem compromissos e plena de lazeres: 
quer seja previsto ou não, o aparecimento de um filho provoca sentimentos ambíguos. No Brasil, o fato 
do nascimento de um primeiro filho ser, muitas vezes, um limiar precoce da passagem à idade adulta 
 21
assinala uma sociedade na qual o lugar de cada um na ordem familiar continua sendo uma das principais 
referências de construção de identidade social para os indivíduos. 
NOTA : 
O projeto “Gravidez na Adolescência: Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e 
Reprodução no Brasil” (Pesquisa GRAVAD) foi elaborado originalmente por Maria Luiza Heilborn 
(IMS/UERJ), Michel Bozon (INED, Paris), Estela Aquino (MUSA/UFBA), Daniela Knauth 
(NUPACS/UFRGS) e Ondina Fachel Leal (NUPACS/UFRGS). A pesquisa está sendo realizada por três 
centros de pesquisa: Programa em Gênero, Sexualidade e Saúde do IMS/UERJ, Programa de Estudos em 
Gênero e Saúde do ISC/UFBA e Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde da UFRGS. 
O grupo de pesquisadores compreende Maria Luiza Heilborn (coordenadora), Estela Aquino, Daniela 
Knauth, Michel Bozon, Ceres G. Victora, Fabíola Rohden, Cecília McCalum, Tania Salem e Elaine Reis 
Brandão. O consultor estatístico é Antonio José Ribeiro Dias (IBGE). A pesquisa é financiada pela 
Fundação Ford e conta com o apoio do CNPq. 
 
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