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WJUR0211_v3.0 APRENDIZAGEM EM FOCO TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 2 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Autoria: Emerson Ademir Borges de Oliveira Leitura crítica: Lais Giovanetti Na disciplina de Teoria Geral dos Direitos Fundamentais, você será inserido no estudo das temáticas mais amplas e genéricas acerca dos direitos fundamentais, permitindo-lhe, posteriormente, um estudo mais detido sobre os direitos fundamentais em espécie. Nesse sentido, enquanto disciplina autônoma, o debate de uma teoria geral é essencial para uma compreensão mais fidedigna do panorama, aplicação e efetividade dos direitos fundamentais no direito brasileiro. Esta disciplina é dividida em quatro grandes blocos de discussão. No primeiro, são desenvolvidas temáticas introdutórias, como a diferenciação entre os direitos fundamentais e os direitos humanos, a conceituação dos direitos fundamentais, a norma de direitos fundamentais, algumas características mais importantes e a evolução dos direitos fundamentais no constitucionalismo brasileiro, desde a primeira Constituição, em 1824, até a Carta Cidadã, de 1988. O segundo bloco apresenta a evolução histórica dos direitos fundamentais, desde antes da Revolução Francesa, perpassando pelas três grandes dimensões pensadas por Karel Vasak, isto é, uma primeira voltada aos direitos civis e políticos, já a segunda para direitos econômicos, sociais e culturais, e uma terceira pensada quanto aos direitos transindividuais. Não obstante, o estudo pretenderá, também, apontar certos aspectos críticos do estudo e, ainda, a discussão mais recente sobre novas gerações de direitos. O terceiro conteúdo se volta à eficácia dos direitos fundamentais. Para tanto, introduz uma discussão mais alongada acerca da eficácia dos direitos constitucionais como um todo, para então 3 avançar sobre o estudo da eficácia fundamental, com ênfase no constitucionalismo brasileiro e na discussão acerca da eficácia imediata dos direitos fundamentais na Constituição brasileira, assim como as diferenças entre o conteúdo e efetividade dos direitos e a inserção do Judiciário nesse processo de efetivação de direitos. Por fim, o quarto conteúdo abarca a restrição dos direitos fundamentais sob um aspecto amplo, desde as restrições previstas ou autorizadas pela própria Constituição, como aquelas decorrentes da efetivação dos direitos, sobretudo os programáticos ou que ocorram diante da colisão de direitos fundamentais. Assim, a disciplina Teoria Geral dos Direitos Fundamentais engloba todo o conteúdo sistemático de relevo para compreender a existência de pontos comuns e básicos para o estudo posterior dos direitos em espécie. INTRODUÇÃO Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática profissional. Vem conosco! Teoria Geral dos Direitos Fundamentais I: o constitucionalismo brasileiro e os direitos humanos e direitos fundamentais ______________________________________________________________ Autoria: Emerson Ademir Borges de Oliveira Leitura crítica: Lais Giovanetti TEMA 1 5 DIRETO AO PONTO Historicamente, os direitos fundamentais se edificaram a partir da Revolução Francesa, enquanto uma nítida tentativa de estabelecer aos cidadãos garantias mínimas contra eventuais abusos por parte do Estado. Contudo, esse não é o momento fundante da valoração ética que os torna tão essenciais, mas um primeiro momento em que esses direitos, vistos como fundamentais, foram inseridos em uma Constituição: a Francesa de 1791, ao englobar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, a qual propugnava que a garantia de direitos era uma das bases do constitucionalismo, ao lado da separação de poderes. Assim, os direitos fundamentais representam um momento derradeiro em que a influência ética acerca dos valores humanos preponderou a ponto de ser considerada como elemento das Constituições. Com o tempo, esses valores foram se aprimorando e a própria conformação dos direitos fundamentais que, em um primeiro momento, assemelhavam-se mais a regras, contemporaneamente, aproximam-se de princípios, mais robustecidos e abertos, de forma a conformar todo o restante do ordenamento jurídico. Esse denodo com os direitos fundamentais enquanto uma diretriz constitucional, especialmente a partir da segunda metade do século XX, retrata o homem enquanto um fim do Estado, não mais como objeto, diante da retomada de uma concepção filosófica alcunhada “giro kantiano”. Por estarem ligados à aspectos valorativos, é natural associar a configuração de direitos fundamentais de um país à prevalência de uma ou mais ideologias estatizantes, como ocorre com a lógica 6 de Estado Social, isto é, um Estado maximizado que garante um número elevado de direitos fundamentais e, assim, obriga-se em buscar sua implementação. No tocante às características comumente demarcadas quanto aos direitos fundamentais, deve-se salientar: a. Os direitos fundamentais possuem um status constitucional, o que lhes confere primazia normativa, isto é, supremacia sobre o restante do ordenamento jurídico. Até porque, bem se sabe, os direitos fundamentais atuam como elemento-base das Constituições. b. Em algumas Constituições, os direitos fundamentais recebem um tipo de proteção especial, impedindo ou dificultando quaisquer tentativas de abolição ou restrição. Segundo Marmelstein (2018), no Brasil, são considerados cláusulas pétreas, inclusive aqueles não previstos no artigo 5º e aqueles que não sejam a princípio individuais. c. Não podem ser tidos como universais, como geralmente se indicam serem os direitos humanos, pois dependem da manifestação interna de cada país quanto aos direitos que serão inseridos ou não em suas Constituições. Nesses casos é possível, inclusive, que, para o mesmo país, um direito que reconheça como humano não esteja presente em sua Constituição e, portanto, não seja fundamental. d. Da mesma forma, não são absolutos, pois os direitos fundamentais podem aceitar limitações, desde que razoáveis e proporcionais e estão sujeitos a conflitos com outros direitos, ocasião em que, por ponderação, podem sucumbir em um caso prático. e. Por fim, embora existam alguns direitos fundamentais inalienáveis e indisponíveis, esta não é uma regra que valha para todos, havendo aqueles que, em determinadas 7 circunstâncias, possam ser relativizados pelo próprio titular (MENDES; BRANCO, 2018). É certo que, entre nós, não há Constituição que se equipare à atual em termos de proteção e amplitude dos direitos fundamentais. Além do amplo rol e da aceitação de que existam direitos fundamentais espalhados pelo restante do texto constitucional, conforme diversas decisões do Supremo Tribunal Federal, os §§2º e 3º do art. 5º conferem uma tonalidade ainda maior a essa proteção ao aceitarem a incidência de outros direitos decorrentes de tratados do qual o Brasil seja parte e, no segundo caso, ao permitir que um tratado internacional de direitos humanos do qual o Brasil seja signatário venha a ser inserido na Constituição Federal. Quadro 1 - Compreender a evolução do tratamento dos direitos fundamentais por todas as Constituições brasileiras Constituição Artigos Principais características 1824 178 Apresenta um único artigo, composto de 35 incisos sobre o tema. Apenas direitos civis e políticos. Possibilidade ampla de suspensão de garantias. 8 1891 72 a 78 Uma seção específica inserta no Título IV, posteriormente alterada – dilatada – pela Emenda 3/1926. Alocados no final do texto. Prevalência de direitos civis e políticos. 1934 106 a 114 Ampliação do rol de direitos, com dois grandes capítulos, abarcando, basicamente, direitos civis e políticos. Deslocamento para meados do texto constitucional, antecipando a análisesobre a ordem econômica e social. 1937 122 e 123 Inspiração na Constituição ditatorial polonesa, ficando conhecida como “Polaca”. Diminuição do rol de direitos, basicamente civis e políticos. Dilatação de possibilidades de restrição dos direitos fundamentais. 9 1946 129 a 144 Reabertura democrática, reinserindo um Título de Declaração de Direitos composto por dois capítulos, como na Constituição de 1934. Ampliação do rol e diminuição de possibilidades de restrição. Reposicionamento no meio do texto. 1967 145 a 159 O rol é ampliado, compondo um Título com cinco capítulos: nacionalidade, direitos políticos, partidos políticos, direitos e garantias individuais e Estado de Sítio. Esse último, contudo, permitia amplas possibilidades de restrição dos direitos, o que lhes conferia aspecto apenas figurativo. 10 1969 145 a 159 Mantém o formato e a organização da Constituição de 1967. No entanto, são dilatadas as possibilidades de restrição, tornando muitos direitos “letra morta”. 1988 5º a 17 Reorganiza completamente os direitos fundamentais, gerando sensível expansão. Agora, no Título II, reposicionado no início do texto, subdivide-se em cinco capítulos: Direitos e garantias individuais, direitos sociais, nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos. Os direitos de segunda dimensão ganham corpo e posição no rol fundamental. Direitos coletivos são previstos dentro e fora do rol. Possibilidades de restrição tornam-se poucas e raras. Fonte: elaborado pelo autor. 11 Referências MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. PARA SABER MAIS Direitos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais – comumente, utiliza-se essas três terminologias, sem ressalvas, como se fossem sinônimas. Contudo, há diferenças sensíveis entre elas, as quais devem ser compreendidas de maneira que o estudante possa valer-se da assertiva mais correta a depender do contexto em que inserida. Os direitos do homem possuem um sentido essencialmente ético, conectado ao direito natural. Eles são pré-positivos, isto é, embora reconhecidos como válidos e inerentes à condição humana, o são assim caracterizados antes mesmo de serem inseridos em qualquer instrumento normativo. Evidentemente, nos dias atuais, tal compreensão perdeu muito de seu sentido, sendo muito difícil imaginar um direito do homem, sob o sentido valorativo, que já não tenha sido convertido em direitos humanos ou direitos fundamentais. Contudo, conforme lhe assevera Marmelstein (2018, p. 24), constituem a “matéria-prima dos direitos fundamentais”. Os direitos humanos, por outro lado, derivam do direito internacional, enquanto uma vertente específica em relação a qual são criados e geridos tratados internacionais que digam respeito aos direitos inerentes à natureza humana. Em outras palavras, são direitos inerentes ao homem, reconhecidos como válidos por dois ou mais países. Apesar de preceder-lhe, o direito internacional dos 12 direitos humanos fora alavancado com a criação da Organização das Nações Unidas em 1945. Por fim, os direitos fundamentais identificam direitos inerentes à natureza humana que foram inscritos em Constituições internas dos países. Portanto, trata-se de direitos positivados por cada um dos Estados, razão pela qual o rol de direitos fundamentais varia de país para país. Segundo Marmelstein (2018, p. 18), contemporaneamente, eles estão intimamente conectados com a dignidade da pessoa humana e, por estarem inseridos nas Constituições, “fundamentam e legitimam todo o ordenamento jurídico”. Dimensão subjetiva x dimensão objetiva dos direitos fundamentais – enquanto categoria jurídica, os direitos fundamentais podem ser visualizados sob dois aspectos: objetivo e subjetivo, sendo o primeiro conectado a dimensão valorativa e o segundo com o olhar individual (ANDRADE, 1998). Sob o prisma objetivo, analisam-se os direitos fundamentais no todo social. A partir de um viés solidário, é preciso compreender que deve haver harmonia e estabilidade quanto à previsão dos direitos e as ações estatais para sua efetivação. Nessa perspectiva, os direitos perfazem um conjunto de valores básicos daquela sociedade, a obrigarem, precipuamente, o Estado e, eventualmente, os demais cidadãos. Quanto ao aspecto subjetivo, tem-se a análise do indivíduo sujeito ativo de um direito fundamental, a exigi-lo, em regra, do Estado, mas, em alguns casos, dos demais membros da sociedade (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). A exigência perante o Estado poderá ser quanto a uma proteção ou quanto a uma prestação, jurídica ou material. 13 Direitos fundamentais “fora do rol” ou “fora do catálogo” – a Constituição brasileira dedica um extenso Título para a abordagem dos direitos fundamentais, subdividido em cinco capítulos. Contudo, é remansoso o entendimento de que existam direitos fundamentais fora do Título II e, mais especificamente, fora do art. 5º, isto é, espalhados pela Constituição, como a imunidade tributária (BRASIL, 1988, art. 150) e o meio ambiente (BRASIL, 1988, art. 225). Esses direitos são “fora do catálogo”. Referências ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. Coimbra: Livraria Almedina, 1998. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 8 jul. 2021. TEORIA EM PRÁTICA O Estado da Guanabara deseja cobrar imposto de templos religiosos. Contudo, sabe-se da impossibilidade de fazê-lo em razão do art. 150, VI, “b”, da Constituição (BRASIL, 1988), segundo o qual é vedado a quaisquer dos entes federativos instituir impostos sobre templos de qualquer natureza. Diante disso, possuindo um amplo bloco de apoio no Congresso Nacional, conseguiu com que fosse apresentada, por um terço dos Deputados, emenda constitucional com o objetivo de colocar fim à referida imunidade tributária prevista no texto original da Constituição. Reflita e responda: a imunidade tributária é apenas um dispositivo inerente à ordem tributária brasileira ou pode ser classificada como integrante do corpo de direitos fundamentais mesmo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 14 estando fora do Título II? Assim sendo, é possível que uma emenda constitucional venha a extinguir referida imunidade? Isto é, há algum impeditivo constitucional quanto à deliberação de propostas de emenda à Constituição que digam respeito à extinção de direitos fundamentais? Qual? O que pode ser alegado em defesa dos tempos e a respectiva imunidade contra tal alteração? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicações de leitura 15 Indicação 1 No primeiro capítulo da clássica obra DE Manoel Gonçalves FerreiraFilho, você será introduzido ao estudo dos direitos fundamentais a partir da compreensão do papel do Estado de Direito e a importância da declaração de direitos nas Constituições modernas. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. cap. 1. p. 17-22. Indicação 2 Na obra indicada dos professores alemães Lothar Michael e Martin Morlok, a mais importante sobre direitos fundamentais disponibilizada ao público brasileiro, há um esforço na análise transversal do estudo dos direitos fundamentais. A título introdutório, recomenda-se a leitura do primeiro capítulo: Vigência dos direitos fundamentais e interpretação. MICHAEL, Lothar; MORLOK, Martin. Direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2016. cap. 1. p. 47-98. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de 16 questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Em se tratando da contextualização de direitos inerentes à condição humana, os direitos fundamentais podem ser compreendidos como: a. Conjunto de direitos aceitos pelos povos como imperativos éticos. b. Conjunto de direitos derivados da positivação internacional por meio de tratados e similares que digam respeito à condição humana. c. Conjunto de direitos inerentes à condição humana positivados na Constituição de um determinado país. d. Pressupostos éticos, sem positivação, aceitos como válidos. e. Conjunto de direitos positivados na legislação infraconstitucional de um país que digam respeito à condição humana. 2. Quanto às características dos direitos fundamentais, é correto afirmar que: a. Os direitos fundamentais são absolutos. b. Os direitos fundamentais são sempre indisponíveis. c. Os direitos fundamentais possuem status constitucional. d. Os direitos fundamentais não costumam ser especialmente protegidos nas Constituições dos países. e. Os direitos fundamentais são universais. 17 GABARITO Questão 1 - Resposta C Resolução: É preciso atentar-se, basicamente, às diferenciações entre as terminologias direito do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. A primeira diz respeito aos imperativos éticos não positivados, próprios do direito natural. A segunda abarca os direitos inerentes à condição humana previstos em instrumentos internacionais celebrados entre dois ou mais países. Os direitos fundamentais, por sua vez, abarcam os direitos inerentes à condição humana que estejam positivados – inscritos – em uma determinada Constituição, jamais na norma infraconstitucional. Questão 2 - Resposta C Resolução: É preciso atentar-se às características típicas dos direitos fundamentais que lhes diferem daquelas que costumam ser indicadas aos direitos humanos. Primeiramente, não há direito fundamental absoluto, pois há possibilidades de restrição, em alguns casos por lei, bem como de conflito de princípios, ocasião em que um irá preponderar sobre o outro. Em segundo lugar, há direitos fundamentais que, em determinadas circunstâncias, podem ser disponíveis, como a imagem e a privacidade diante de um contrato para participar de um reality show. Em terceiro lugar, também não são universais, pois inerentes à realidade constitucional de cada país. Os direitos fundamentais possuem status constitucional e costumam ser especialmente protegidos, como, no caso do Brasil, através das cláusulas pétreas. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais II: as dimensões de direitos fundamentais ______________________________________________________________ Autoria: Emerson Ademir Borges de Oliveira Leitura crítica: Lais Giovanetti TEMA 2 19 DIRETO AO PONTO A ideia de dimensionamento dos direitos fundamentais é relativamente nova, embora sua história de edificação não seja. Na realidade, o jurista tcheco Karel Vasak, em palestra ministrada em 1979, apresentou uma teoria que conectava a ascensão considerável de direitos em determinados períodos, em razão de quebras de paradigma histórico, com os lemas da Revolução Francesa, liberdade, igualdade e fraternidade, momento em que a conquista histórica dos direitos fundamentais possui nítido relevo (MARMELSTEIN, 2018). No contexto das revoluções liberais, capitaneada pela Independência norte-americana e Declaração da Virgínia, de 1776, e a Revolução Francesa e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, nasce aquilo que constituiria o primeiro agrupamento de direitos fundamentais, com a proposta de contraposição ao arbítrio estatal, estabelecendo um nítido afastamento entre o Estado e o cidadão, protegendo daquele. Os fatos históricos encontram a justificativa para tal postura, precipuamente em razão dos abusos cometidos pelo Estado Absolutista, em que a concentração dos Poderes nas mãos do soberano se unia à falta de garantias e de direitos previstos em lei. Quando existente, a lei não submetia o próprio soberano, sendo livre para cometer quaisquer atitudes arbitrárias. Diante da ascensão da classe burguesa e da revolta popular, o Antigo Regime é colocado abaixo, nascendo o Estado Liberal, que trazia a liberdade como sua pedra fundamental. Para tanto, frise-se a necessidade de estabelecer uma barreira a proteger o cidadão, isto é, direitos mínimos. 20 Em tal contexto, sobrelevavam-se direitos como propriedade, liberdade econômica, vida, legalidade e participação – ainda que restrita – na tomada de decisões públicas, sendo os típicos direitos civis e políticos. Essa primeira dimensão revela direitos de cunho negativo ou de abstenção (MENDES; BRANCO, 2018). No desenvolvimento histórico, no entanto, o afastamento do Estado e a revelação apenas de direitos negativos veio a desencadear uma série de efeitos colaterais sobre as camadas mais baixas, desde o abuso praticado pelas classes mais altas, como a falta de oportunidades gerada pelas condições de vida. A revolução industrial, enquanto parte deste contexto, viria a revelar o que havia de pior na omissão estatal, com ajustes desumanos. Mesmo com a igualdade estampando as declarações de direitos, ela poderia ser considerada meramente formal (MARMELSTEIN, 2018). Então, o Estado é chamado a intervir A realidade fática, alinhada a novas compreensões políticas, chamam ao desenvolvimento o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State), que, a despeito de capitalista, pressupõe a necessidade de que o Estado promova um mínimo de dignidade mediante prestações, bem como estabeleça direitos mínimos que visem impedir a dominação de uns sobre os outros e promover a justiça social (MENDES; BRANCO, 2018). Os direitos econômicos, sociais e culturais, ou simplesmente sociais, despontam nesse novo modelo, perfazendo a segunda dimensão e atingindo o ideário da igualdade. Nesse sentido, as primeiras Constituições a apresentá-los como fundamentais, especialmente na seara trabalhista, foram a Mexicana de 1917 e a de Weimar de 1919. Além dos direitos trabalhistas, pode-se mencionar a previdência social, a educação, a saúde e o acesso aos meios culturais. 21 Assim como nas dimensões anteriores, um novo evento histórico marca o surgimento de uma nova era. Com o final das duas grandes guerras mundiais, e um saldo incalculável de mortes e violações da dignidade humana, o mundo transcende para uma tentativa de encontrar relações pacíficas mais duradouras, repensando aqueles direitos que não seriam individuais, mas frutos da humanidade ou, ao menos, de uma considerável coletividade. Em 1945, com esse propósito, firmando o direito internacional dos direitos humanos, é criada a Organização das Nações Unidas (ONU). Já em 1948, ela cria sua famosa Declaração Universal dos DireitosHumanos. As novas preocupações normativas transindividuais trazem ao lume direitos como meio ambiente, proteção de grupos minoritários, paz, democracia e patrimônio humano, por vezes, simplesmente, alcunhados de direitos difusos e coletivos (MENDES; BRANCO, 2018). Em outras palavras, revela-se o núcleo da fraternidade. Diante da dinamicidade dos direitos fundamentais, seja pelo surgimento de novas vertentes ou pelo repensar de direitos já existentes, nunca deixam de surgir propostas teóricas de novas dimensões de direitos. Contudo, elas não devem ser comumente aceitas, pelo menos não atualmente. 22 Quadro 1 - Três dimensões dos direitos e suas principais propostas de novas dimensões Dimensão Ideal Principais direitos e características 1ª Liberdade Direitos civis e políticos: vida, liberdade, propriedade, participação política. Afastamento do Estado. Direitos negativos ou de abstenção. 2ª Igualdade Direitos econômicos, sociais e culturais: saúde, educação, previdência, trabalhistas, acesso à cultura. Aproximação do Estado. Direitos positivos ou prestacionais. 3ª Fraternidade Direitos difusos e coletivos: meio ambiente, paz, democracia, grupos minoritários. Transcendência dos direitos. Aproximação do direito internacional dos direitos humanos. 23 4ª -- Democracia substancial, acesso à informação, pluralismo político, globalização, direitos digitais, uso compartilhado de informações, padrão de vida sanitário e de bem-estar, direitos das mulheres, proteção contra abusos do progresso tecnológico, proteção a grupos vulneráveis; proteção contra manipulação do patrimônio genético. 5ª -- Paz universal, direitos sentimentais, identidade individual, patrimônio genético, proteção contra técnicas de clonagem e direito eletrônico. 6ª -- Democracia, acesso à informação e globalização. 7ª -- Impunidade em razão da ineficiência estatal, probidade administrativa e combate à corrupção. Fonte: elaborado pelo autor. 24 Referências MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. PARA SABER MAIS Gerações de direitos x dimensões de direitos – a utilização da terminologia “gerações de direitos fundamentais” ficou famosa na pena de Karel Vasak, em palestra ministrada em 1979 no Instituto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasburgo, passando a ser mundialmente adotada. Em sua teoria, Vasak vincula três gerações às três terminologias do lema revolucionário francês. Não obstante, como destacam Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2018, p. 316), a terminologia “geração” é alvo de críticas pela condução de uma falsa impressão de “substituição gradativa de uma geração por outra”, ao passo que o correto é compreendê-las como “um processo cumulativo, de complementariedade, não de alternância”. Dessa forma, temos a preferência pela terminologia “dimensões de direitos fundamentais”, a qual revela uma dinâmica de continuidade dos direitos fundamentais, de maneira que novos direitos fundamentais, quando perfazem uma nova dimensão, somam-se às existentes e, por vezes, podem auxiliar em uma nova compreensão de um direito anterior. Assim, por exemplo, o direito coletivo do trabalho (terceira dimensão) certamente trouxe efeitos na caracterização dos direitos individuais do trabalho (segunda dimensão). Novas dimensões de direitos fundamentais – o trabalho doutrinário incessante, diante da dinamicidade da vida e dos 25 direitos, faz corresponder a criação de teorias sobre novas dimensões de direitos fundamentais, as quais, um tanto esparsas, encontram algumas vozes ressoantes. Dentre elas, destacam-se as compreensões de Paulo Bonavides, o qual indica uma quarta e quinta dimensões e Norberto Bobbio faz menção a uma quarta. Contudo, se o dimensionamento tríplice, embora mais aceito, já não é imune às críticas, com muito mais razão as críticas que recaem sobre a quarta geração e seguintes. Primeiramente, não há nenhuma uniformidade metodológica na escolha do grupo de direitos que comporia uma nova dimensão. Em segundo lugar, o desenho dos direitos fundamentais demonstra que as três primeiras gerações comumente aceitas lidaram com quebras de paradigmas históricos relevantes, em que foram perpetradas graves violações da dignidade humana. Assim, a primeira dimensão decorreu dos abusos do Estado Absolutista e adveio com a Revolução Francesa. A segunda dimensão envolveu as atrocidades da Revolução Industrial e o nascimento do Welfare State. Por fim, a terceira dimensão teve de lidar com as barbáries das guerras mundiais, tendo como nascente a conjunção de esforços em prol da paz mundial e de objetivos comuns. Perceba-se que, as propostas que apresentam novas dimensões não possuem correlação com fatos históricos de graves violações a direitos fundamentais. Por fim, uma terceira crítica diz respeito à dinamicidade dos direitos fundamentais, o que faz com que os mesmos sejam repensados e ganhem novos contornos, significados ou variantes. Como afirmam Mendes e Branco (2018, p. 138), pode ocorrer que “novos direitos sejam apenas os antigos adaptados às novas exigências do momento”, como acontece com o direito à vida e os desafios da biotecnologia. Isso não transmudaria o direito à vida em uma 26 nova dimensão, mas apenas uma releitura típica da evolução da sociedade. Referências MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. TEORIA EM PRÁTICA Conforme entrevista concedida por deputado constituinte, atuante na área ambiental, os avanços da Constituição na proteção do meio ambiente foram consideráveis e dificilmente seriam atingidos se a Assembleia Constituinte ocorresse nos anos 1990. Pela primeira vez na história, houve a dedicação de um capítulo para a temática, com a inclusão do extenso art. 225, notadamente influenciado pela Declaração de Estocolmo, de 1972, e pelo Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, no âmbito do direito internacional. Reflita e responda: a proteção do meio ambiente corresponde a que dimensão da proteção de direitos fundamentais? Qual a conexão existente entre essa dimensão de direitos e o direito internacional? No tocante aos sujeitos que se pretende proteger, quais poderiam ser identificados, de uma maneira geral, na referida geração? E qual o contexto histórico em que ela ascende? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. 27 LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 Neste capítulo da obra indicado, o autor Ingo Wolfgang Sarlet, um dos maiores especialistas do país na seara dos direitos fundamentais, discorre sobre a teoria de Karel Vasak e respectivas críticas ao modelo apresentado. Além disso, com foco no trabalho de Paulo Bonavides, ele discute a existência de novas gerações de direitos. SARLET, Ingo Wolfgang. As assim chamadas dimensões dos direitos fundamentaise a contribuição de Paulo Bonavides. In: LINHARES, Emanuel Andrade; MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito (org.). Democracia e direitos fundamentais: uma homenagem aos 90 anos do professor Paulo Bonavides. São Paulo: Atlas, 2016. p. 379-402. Indicações de leitura 28 Indicação 2 No capítulo indicado, o autor apresenta o conceito e o conteúdo dos direitos de terceira dimensão enquanto direitos emergentes, embora ainda enfraquecidos nos ordenamentos jurídicos e carentes de maior dedicação em prol do alcance de suas respectivas efetividades. LAMY, Marcelo. Direitos fundamentais de terceira geração. In: BRANDÃO, Cláudio (coord.). Direitos humanos e fundamentais em perspectiva. São Paulo: Atlas, 2014. p. 288-320. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Como decorrência dos abusos perpetrados durante as guerras mundiais, nasce uma nova perspectiva de direitos, revelando, na concepção de Karel Vasak, o ideário revolucionário do(a): a. Liberdade. b. Igualdade. c. Fraternidade. d. Amizade. e. Respeitabilidade. 29 2. As dimensões de direitos fundamentais se conectam às realidades históricas distintas e relevantes. Normalmente, são produtos de uma contraposição a violações perpetradas em face da dignidade humana. Os direitos de segunda geração vinculam-se a qual contexto histórico? a. I Guerra Mundial. b. II Guerra Mundial. c. Revolução industrial. d. Revolução Francesa. e. Independência dos Estados Unidos da América. GABARITO Questão 1 - Resposta C Resolução: Na teoria de gerações de Vasak, os direitos de terceira dimensão, isto é, aqueles provenientes dos efeitos e impactos das guerras mundiais, diante de uma preocupação internacional com direitos transindividuais, revelariam o ideal francês da fraternidade. Questão 2 - Resposta C Resolução: Os direitos de segunda dimensão/geração possuem caráter eminentemente social. Eles nascem no contexto do estado do bem-estar social, com um reposicionamento do papel do Estado, antes de abstenção, para uma vertente de prestação, buscando possibilitar a igualdade material. Essa nova acepção é uma consequência das atrocidades, principalmente trabalhistas, perpetradas durante a revolução industrial. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais III: a eficácia dos direitos fundamentais ______________________________________________________________ Autoria: Emerson Ademir Borges de Oliveira Leitura crítica: Lais Giovanetti TEMA 3 31 DIRETO AO PONTO Uma das mais profundas questões no que diz respeito ao direito constitucional trata da eficácia de suas normas. Se, por um lado, é certo que a Constituição não deve possuir meras simbologias, dotadas de sabida ineficácia, por outro lado, deve-se ter em mente que a efetividade das normas constitucionais pode perpassar por questões muito mais complexas do que a mera previsão normativa. Há diversas concepções acerca classificações a respeito, dentre elas se destacam: a. a) Thomas Cooley – concepção conectada ao constitucionalismo norte-americano, permeado, em grande parte, pelos direitos de defesa (Quadro 1). Quadro 1 – Concepção de Thomas Cooley Normas autoexecutáveis (self executing) Dotadas de qualidades que permitem a produção imediata de efeitos. Normas não autoexecutáveis (non self executing) Normas que dependem de intermediação legislativa ou executiva para produzirem efeitos. Fonte: elaborado pelo autor. b. Gustavo Zagrebelsky (TAVARES, 2013, p. 193-194). Quadro 2 – Concepção de Gustavo Zagrebelsky Eficácia direta Norma completa, permite a geração de direitos subjetivos 32 Eficácia indireta Incompletas, dependendo de intermediação. a) Diferidas – normas de organização que dependem de complementação posterior. b) Princípio – estabelecem orientações gerais. c) Programáticas – criar ou qualificar direito. Fonte: elaborado pelo autor. c. José Afonso da Silva (1998, p. 89). Quadro 3 – Concepção de José Afonso da Silva Eficácia plena Aplicabilidade direta, imediata e integral. Produz efeitos imediatos e seu âmbito de alcance não pode ser diminuído. Eficácia contida Aplicabilidade direta, imediata e, talvez, não integral. Produz efeitos imediatos, que serão integrais enquanto não existir a norma intermediadora. Com a edição, ela poderá ter seu alcance restringido. 33 Eficácia limitada Aplicabilidade indireta, mediata e, possivelmente, não integral. Apenas produzirão efeitos a partir da intermediação legislativa ou executiva. a) de princípio institutivo: criam instituições ou órgãos. b) de princípio programático: objetivos a serem alcançados no tempo. Fonte: elaborado pelo autor. d. Maria Helena Diniz. Quadro 4 – Concepções de Maria Helena Diniz Eficácia absoluta ou supereficazes Produzem efeitos imediata e integralmente e não admitem quaisquer restrições, nem mesmo por emenda constitucional. Eficácia plena Produzem efeitos imediatos e diretos, mas podem ter seu âmbito diminuído por norma constitucional. 34 Eficácia restringível Possuem aplicabilidade direta e imediata, mas podem sofrer restrição por norma intermediadora. Enquanto não houver intermediação, serão integrais. Eficácia complementável Dependem de complementação legislativa para produzirem efeitos. São de princípio institutivo e de princípio programático. Fonte: elaborado pelo autor. A partir dessas nuances, estabelece-se uma base mais sólida para discussão da efetivação dos direitos fundamentais, normas eminentemente constitucionais. A primeira grande problemática que surge diz respeito ao alcance do art. 5º, §1º, CF (BRASIL, 1988), segundo o qual as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais possuem aplicação imediata. De forma geral, percebe-se que a leitura do dispositivo simplifica um problema muito mais complexo. Com isso, soma-se o fato de que a atual Constituição (BRASIL, 1988) não estabelece expressamente distinções, em termos de efetividade, entre as categorias de direitos conforme as suas dimensões e características, gerando a impressão de que todos os direitos possuem o mesmo grau de eficácia. De um lado, é evidente que a classificação de um elevado número de normas poderia gerar uma ineficácia grave em termos de direitos 35 fundamentais, absolvendo o Estado de suas funções na consecução da efetivação dos direitos. Por outro lado, não se deve ignorar que existem direitos de eficácia mais difícil e complexa do que outros, como ocorre com o direito à saúde e à educação, por exemplo. Em uma posição costumeiramente utilizada, dividem-se os direitos quanto à eficácia, entre os de defesa e os prestacionais. Não obstante, como bem ensina Sarlet (2001), a divisão, embora regra a indicar que os primeiros possuem uma eficácia mais “fácil” não é suficiente. Primeiramente, pois existem direitos de defesa que envolvem prestações estatais de alta monta, como o direito ao voto. Em segundo lugar, porque há direitos sociais de efetivação simples e imediata, como as liberdades sociais. Assim nascerem, basicamente, dois grandes direcionamentos: a) apesar da consideração inicial da característica comum do direito, a necessidade de análise da complexidade e custo de sua implementação, a justificar maior ou menor eficácia; b) a busca da maior eficácia possível, tendo a efetividade como um mandamento de otimização, a gerar a obrigação estatal de se esforçar para atingir tal eficácia (SARLET, 2001). Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 8 jul. 2021. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3.e d. São Paulo: Malheiros, 1998. TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 36 PARA SABER MAIS Eficácia social e eficácia jurídica – a eficácia social está conectada à impressão que a sociedade possui do direito, reconhecendo-o como válido e conferindo-lhe efetividade. Dessa forma, mais do que a vigência, a eficácia social representa o sentimento social acerca da norma. Por sua vez, a eficácia jurídica é a possibilidade de produção de efeitos jurídicos, a qual se inicia com a sua existência, pois, ao entrar em vigência, automaticamente revogará normas em sentido contrário, mesmo que tacitamente (TEMER, 1998). Normas de eficácia exaurida – a classificação é utilizada por Uadi Lammêgo Bulos para descrever normas constitucionais que, apesar de eficazes de início, já esgotaram seus efeitos, como é comum no rol do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias. Por exemplo, o art. 3º da CF (BRASIL, 1988), o qual determinou a revisão constitucional no prazo de cinco anos da promulgação da Constituição. Tendo ocorrido a referida revisão, a norma, apesar de ainda encontrar-se no texto, não possui mais qualquer eficácia. Ativismo judicial e efetivação de direitos – o ativismo judicial compreende terminologia constantemente utilizada para fins de descrição do avanço do Poder Judiciário sobre as políticas públicas. Aos favoráveis, o Judiciário apenas estaria conferindo efetividade ao texto constitucional, especialmente aos direitos fundamentais, a partir do art. 5º, §1º, CF (BRASIL, 1988). Aos críticos, a conduta equivaleria a uma invasão de esferas de Poder, assumindo o Judiciário funções eminentemente legislativas e executivas, criando e gerenciando políticas públicas. Conforme leciona o Barroso (2013, p. 307), o ativismo ocorre quando a Constituição (BRASIL, 1988) é aplicada a situações que 37 não estejam expressamente contempladas, quando se declara a inconstitucionalidade de atos normativos sem que exista uma patente violação constitucional e quando se proíbe ou impõe condutas ao Poder Público. O ativismo judicial ganha corpo nas normas que não são dotadas de suficientemente normatividade ou nas normas programáticas, abrindo espaço para uma atuação mais específica. É o caso, por exemplo, de uma decisão judicial que determine a matrícula de aluno em ensino superior além das vagas disponibilizadas ou o fornecimento de um medicamento não abrangido na lista do sistema único de saúde. Referências BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 8 jul. 2021. TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. TEORIA EM PRÁTICA Determinada cliente o procurou, enquanto advogado, no intuito de buscar resposta a um questionamento. Ela afirma possuir doença rara e não ter condições financeiras para um tratamento particular. Junto ao Sistema Único de Saúde, ela vem recebendo medicamento contemplado no Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional, o qual, no entanto, não lhe gera grandes efeitos. Após conseguir realizar uma consulta particular, o médico afirmou que o medicamento fornecido pelo SUS não servia ao seu http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 38 caso, tendo lhe receitado e justificado por laudo medicamento distinto. De volta à farmácia do Sistema, apesar da receita médica, fora-lhe negado o fornecimento do novo medicamento, afirmando não constar da lista do SUS. Reflita e responda: o direito à saúde constitui que modalidade de direito fundamental? Qual o grau de efetividade comumente atribuído a esse direito? É possível pleitear questão específica dentro do direito à saúde quanto a um direito subjetivo de forma a alcançar o fornecimento de medicamento não constante da lista do SUS? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Indicações de leitura 39 Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 Neste trecho da obra de Barroso, há uma dedicação para o estudo da eficácia das normas constitucionais, discorrendo sobre as classificações de Thomas Cooley, Vezio Crisafulli, José Afonso da Silva, Luís Virgílio da Silva, Gomes Canotilho e a sua própria posição. BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 212-216. Indicação 2 No item indicado, o autor apresenta diversas classificações acerca da eficácia da norma constitucional baseadas na quantidade de categorias presentes em cada (bipartida, tripartida e quadripartida), além de um tópico sobre o desenvolvimento e a efetivação das normas constitucionais. MORAES, Guilherme Peña. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 104-108. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. 40 Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. De acordo com José Afonso da Silva, trata-se de categoria de normas constitucionais que, embora possuam aplicabilidade direta e imediata, podem não ser integrais em vista da diminuição de seu alcance por norma intermediadora: a. Normas autoexecutáveis. b. Normas de eficácia plena. c. Normas de eficácia contida. d. Normas de eficácia limitada. e. Normas programáticas. 2. Tal categoria de normas constitucionais diz respeito àquelas que, embora ainda estejam presentes no texto constitucional, não mais possuem qualquer eficácia: a. Normas não autoexecutáveis. b. Normas de eficácia restringível. c. Normas de eficácia exaurida. d. Normas de princípio institutivo. e. Normas de eficácia plena. GABARITO Questão 1 - Resposta C Resolução: Nos termos da famosa classificação do professor José Afonso da Silva, as normas de eficácia contida – também 41 chamadas de restringível por Maria Helena Diniz – possuem aplicabilidade direta, imediata e, talvez, não integral. Ela será integral enquanto não houver norma de intermediação, mas, uma vez existente, ela poderá ter seu âmbito reduzido. Questão 2 - Resposta CResolução: A classificação do professor Uadi Bulos abarca as chamadas normas de eficácia exaurida. Embora ainda se façam presentes no texto constitucional, já tiveram esgotados seus efeitos, como ocorre com o art. 3º do ADCT e a realização da revisão constitucional no prazo de cinco anos após a promulgação da Constituição (BRASIL, 1988). Já tendo ocorrida a revisão constitucional, o dispositivo não produz mais qualquer efeito. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais IV: restrições, colisão e limites dos limites ______________________________________________________________ Autoria: Emerson Ademir Borges de Oliveira Leitura crítica: Lais Giovanetti TEMA 4 43 DIRETO AO PONTO Em diversos momentos, o Supremo Tribunal Federal destaca a inexistência de direitos fundamentais absolutos. A despeito de posições em sentido contrário, é certo que, ao menos, a esmagadora maioria de tais direitos realmente não o são. Em face disso, existem previsões restritivas de direitos fundamentais expressas e previsões não expressas. As primeiras decorrem de previsão no próprio texto constitucional ou de permissão da Constituição (BRASIL, 1988) para uma reserva legal. As segundas decorrem da natureza de certos direitos, em especial os programáticos, e da ocorrência de conflitos. Nesse contexto, é interessante notar que a norma fundamental estabelece o direito e, ao mesmo tempo, a sua restrição ou autorização restritiva. Primeiramente, quanto às restrições textuais, isto é, que decorrem direta ou indiretamente do texto constitucional, tem-se situações em que a restrição é expressa no texto constitucional ou por ele é permitida. No tocante ao primeiro, por exemplo, pode-se citar o art. 5º, XI (BRASIL, 1988), o qual estabelece a inviolabilidade do domicílio e, ao mesmo tempo, as exceções ao direito: desastre, socorro e ordem judicial durante o dia. No tocante ao segundo, a restrição costuma ocorrer a partir de certas fórmulas que remetem à necessidade de conformação legislativa da matéria, como “nos termos da lei”, disposta no art. 5º, VII, CF (BRASIL, 1988). Assim, frisa-se que, em determinadas situações, a intermediação legislativa, em vez de restringir, servirá para completar ou concretizar o direito, como na proteção ao consumidor disposta no art. 5º, XXXII, CF(BRASIL, 1988) (MENDES; COELHO, 2018). 44 Não se olvide, ainda, a utilização, pelo constituinte, de conceitos jurídicos indeterminados ou plurissêmicos, a exemplo do que ocorre com a “função social”, disposta no art. 5º, XXIII, CF (BRASIL, 1988). No tocante às limitações não expressas, aludimos inicialmente à reserva do possível. A teoria, de origem alemã, cunhada pelo Tribunal Constitucional Federal, em 1972, decorrera do julgado numerus clausus, em que os autores pleiteavam ingressar na faculdade de medicina pública, mesmo sem aprovação no processo seletivo, com base no art. 12 da Lei Fundamental (BRASIL, 1988). Desse modo, é importante frisar que a negativa do Tribunal não se deu pela impossibilidade financeira de atender aquele pedido em específico, mas pela ausência de razoabilidade da pretensão sob o prisma da sociedade. Assim, imagine-se que todos os moradores da Alemanha resolvessem pleitear do Estado uma determinada formação, de opção pessoal. O Estado certamente não poderia atender. No Brasil, ela fora analisada sob o viés meramente econômico, a princípio. Diante disso, Sarlet (2001) estabeleceu três critérios para justificar a utilização da teoria enquanto fonte argumentativa: a) impossibilidade fática, enquanto inexistência de recursos, para atender a pretensão sob o ponto de vista coletivo; b) impossibilidade jurídica, no tocante à inexistência de autorização da lei orçamentária e incompetência do ente federativo para a despesa; c) irrazoabilidade e desproporcionalidade da exigência em face de outras políticas públicas. Há duas teorias no tocante às restrições: a externa e a interna. Para a teoria externa, não há uma relação de simbiose entre direito e restrição, constituindo-se dois institutos apartados. As restrições se operam em um segundo momento, durante a concretização do direito (NOVELINO, 2011). 45 De outro lado, para a teoria interna, a restrição é parte do direito, sendo imanente ao direito. Vale dizer que, na própria definição do direito, em abstrato, já se considera a restrição. Além disso, é possível afirmar que as restrições podem ocorrer por reserva legal simples ou qualificada, bem como a possibilidade de direitos fundamentais sem reserva legal. Quadro 1 – Direitos fundamentais e reserva leal Reserva legal simples O texto constitucional apenas prevê a regulamentação legal do direito, sem nenhuma condição específica. Ex.: art. 5º, XVIII, CF (BRASIL, 1988): “a criação de associações e, na forma da lei, de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”. Reserva legal qualificada O texto constitucional não apenas prevê a regulamentação legal, como também alguma condição ou circunstância especial. Ex.: art. 5º, XLIII, CF (BRASIL, 1988): “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. Perceba- se que o constituinte já previamente vinculou a vontade da lei. 46 Sem reserva legal O texto constitucional não faz qualquer menção a reservas legais, o que não significa que não possa ocorrer restrição. Ex.: art. 5º, IV, CF (BRASIL, 1988): “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Fonte: elaborada pelo autor. Evidentemente, as restrições também devem ser controladas, sob pena de esvaziarem o conteúdo do direito constitucional. Com isso, temos a teoria dos “limites dos limites” (Schranken-Schranken), de origem alemã, com vistas a preservar o núcleo essencial do direito. Embora no Brasil não exista um dispositivo constitucional que trate de tais limites, é corriqueiro emprestarmos, doutrinariamente, a previsão do art. 19 da Lei Fundamental de Bonn. De uma forma geral, percebe-se que a melhor baliza para averiguação da lei restritiva acaba sendo o princípio da proporcionalidade. Quadro 2 – Parâmetros da lei restritiva Requisitos formais Reserva legal Somente atos normativos primários são aptos para estabelecer restrições. Irretroatividade A lei restritiva não pode operar efeitos para atos consolidados. 47 Requisitos materiais Proporcionalidade Subprincípios: a) Adequação – a medida é apta para atingir a finalidade pretendida? b) Necessidade – a restrição é a menos onerosa dentre as possíveis? c) Proporcionalidade em sentido estrito – existe equilíbrio entre a medida e o objetivo a ser atingido? Abstração e generalidade A medida não pode se voltar para atingir pessoas específicas ou casos concretos. Salvaguarda do núcleo essencial A restrição não pode inviabilizar o exercício do direito. Fonte: adaptado de Novelino (2011). Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 8 jul. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 48 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. NOVELINO, Marcelo. Direito constitucional. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. PARA SABER MAIS Teoria objetiva x teoria subjetiva da proteção do núcleo essencial – para a teoria objetiva, a proteção do núcleo essencial se opera sobreo direito fundamental, enquanto uma instituição objetiva, ignorando-se a proteção específica de cada indivíduo, sob argumento de que as situações individuais são drasticamente afetadas. Nesse caso, o que se pretende impedir é a restrição que torne o direito inoperante para a comunidade de uma maneira geral. A teoria subjetiva, por sua vez, busca proibir a supressão de um direito subjetivo, voltando os olhos para o indivíduo e não para a comunidade como um todo. Vale dizer, a análise sobre a possibilidade da restrição deve ser feita sobre cada indivíduo de maneira casuística (MENDES; BRANCO, 2018). Teoria absoluta x teoria relativa x teoria conciliadora do núcleo essencial – para a teoria absoluta, todo direito fundamental traz em si um núcleo rígido, imune à atuação legislativa em quaisquer situações. A crítica se opera sobre a dificuldade em definir, em abstrato, o conteúdo desse núcleo. Para a teoria relativa, por sua vez, o núcleo essencial é definido de forma casuística, em um processo de análise entre meios e fins, isto é, no caso concreto. A crítica ao modelo decorre da flexibilidade que oferece ao núcleo essencial, prejudicando a segurança do direito. Por fim, Konrad Hesse propõe a teoria conciliadora, segundo a qual a identificação do núcleo essencial deve ser guiada pelo princípio 49 da proporcionalidade visto sob seus três subprincípios: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Mínimo existencial – teoria criada pelo Tribunal Administrativo Federal alemão, em 1953, que tem o propósito de estabelecer um conjunto de direitos básicos, imprescindíveis para o exercício de uma vida digna. Ela foi importada por Ricardo Lobo Torres, o qual entendeu por sua relatividade, isto é, impossibilidade de definir um conjunto de direitos mínimos de forma geral, sendo necessária a análise temporal e geográfica. Segundo Masson (2017), já para Ana Paula de Barcellos, o mínimo existencial incluiria a educação fundamental, saúde, assistência aos desamparados e acesso à Justiça. O principal ponto do mínimo existencial, contudo, diz respeito à sua oponibilidade em face da alegação de reserva do possível. Vale dizer que, há aqueles que advogam a impossibilidade de alegação da reserva do possível quando se tratar de direitos do núcleo mínimo existencial; mas há os que alegam ser possível, desde que com carga argumentativa maior. Lei de colisão x ponderação – Robert Alexy (2002) divide em duas categorias o conflito de princípios: lei de colisão e ponderação. Na lei de colisão, opera-se uma situação de precedência condicionada, isto é, determinado direito, sob certas condições, terá precedência sobre outro, sempre em que estiverem presentes estas mesmas condições. Essa regra cria uma lei não escrita, que regerá o conflito sempre que vier a ocorrer. Na ponderação, não é possível estabelecer qualquer hipótese de precedência condicionada. Isto é, a análise do conflito será sempre realizada no caso concreto e diante das situações do caso concreto. Nesse caso, um dos direitos preponderará sobre o outro a partir das circunstâncias fáticas e jurídicas específicas, mas que não podem 50 ser utilizadas como parâmetros para outras hipóteses em que os mesmos direitos entrarem em conflito. Referências ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estúdios Políticos y Constitucionales, 2002. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. TEORIA EM PRÁTICA Um cliente lhe procura, alegando ser bacharel em Direito e, por sucessivas vezes, não logrou êxito na aprovação do Exame de Ordem. Com base no art. 5º, XIII, CF (BRASIL, 1988), alega que a Constituição lhe garante o livre exercício de qualquer profissão e que, por isso, o Exame seria inconstitucional. Reflita e responda: art. 5º, XIII, CF (BRASIL, 1988) é norma restritiva de direitos fundamentais? Qual sua modalidade, reserva simples ou qualificada? No exercício da restrição, quais os critérios que devem ser observados pelo legislador? De acordo com a jurisprudência do STF, os critérios utilizados neste caso em específico atendem aos requisitos limitadores? Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de aprendizagem. 51 LEITURA FUNDAMENTAL Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Indicação 1 Neste artigo, o Ministro Gilmar Mendes discorre sobre os aspectos teóricos e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no tocante ao conflito entre a liberdade de expressão e de comunicação e o direito à honra e à imagem. MENDES, Gilmar Ferreira. Colisão de direitos fundamentais: liberdade de expressão e de comunicação e direito à honra e à imagem. Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional, [s. l.], v. 8, p. 479-486, ago. 2015. Indicações de leitura 52 Indicação 2 Neste artigo, o professor Luís Afonso Heck, a partir de palestra proferida, estabelece, em uma ordem de desenvolvimento, os direitos fundamentais na Constituição, a vinculatividade de tais direitos, a diferenciação entre regras e princípios e, por fim, os critérios para lidar com a colisão de direitos fundamentais. HECK, Luís Afonso. O modelo das regras e o modelo dos princípios na colisão de direitos fundamentais. Revista dos Tribunais, [s. l.], v. 781, p. 71-78, nov. 2000. QUIZ Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste Aprendizagem em Foco. Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de questões de interpretação com embasamento no cabeçalho da questão. 1. Teoria segundo a qual o Estado pode alegar a impossibilidade de efetivação de determinados direitos fundamentais em sua amplitude máxima, em razão da falta de razoabilidade coletiva da pretensão: a. Reserva do impossível. b. Mínimo existencial. 53 c. Reserva do possível. d. Máxima eficácia. e. Eficácia relativa 2. A partir das construções teóricas, ergueu-se a teoria segundo a qual os direitos fundamentais, embora possam sofrer limitações, não podem ter seu núcleo esvaziado, o que acabaria por tornar letra morta o dispositivo. Diante disso, estamos tratando da: a. Teoria do Mínimo Existencial. b. Teoria da Restrição Absoluta. c. Teoria dos Limites dos Limites. d. Teoria da Reserva Simples. e. Teoria da Lei de Colisão. GABARITO Questão 1 - Resposta C Resolução: A teoria da reserva do possível é de origem alemã, fruto de julgado de 1972 do Tribunal Constitucional Federal, no famoso julgado numerus clausus, segundo o qual a inexistência de maior oferta de vagas no curso de medicina em faculdades públicas não violaria a Constituição (BRASIL, 1988), tendo em vista a impossibilidade de atendimento coletivo do direito para todas as demandas semelhantes e com base no mesmo dispositivo constitucional (art. 12 (1) da Lei Fundamental de Bonn). Questão 2 - Resposta C Resolução: A Teoria dos Limitesdos Limites (Schranken- Schranken) é de origem alemã. Na Lei Fundamental de Bonn, o art. 19, ao permitir a restrição de direitos fundamentais, 54 estabelece certos limites, como a proteção do núcleo essencial. Embora não tenhamos dispositivo semelhante na Constituição brasileira, a teoria é aceita como uma forma de proteção da eficácia constitucional. BONS ESTUDOS! Apresentação da disciplina Introdução TEMA 1 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 2 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 3 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Leitura fundamental Quiz Gabarito TEMA 4 Direto ao ponto Para saber mais Teoria em prática Quiz Gabarito Inicio 2: Botão TEMA 4: Botão TEMA 1: Botão TEMA 2: Botão TEMA 3: Botão TEMA 9: Inicio :