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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE DIREITO
WELINGTON GABRIEL DOS SANTOS DAMASCENO
RESENHA DO LIVRO - A QUESTÃO CRIMINAL
São luís
2024
1. RESENHA
O texto discute a questão criminal e sua abordagem em diferentes contextos, desde o 
acadêmico até o midiático, passando pela perspectiva dos mortos, representados pelos casos 
não resolvidos e vítimas de crimes. O autor critica a tendência de tratar a criminalidade como 
um problema local, quando na verdade é global e complexo, afetando o destino da 
humanidade, ele destaca a importância de transcender as fronteiras acadêmicas e comunicar 
os conhecimentos produzidos sobre o tema de forma acessível ao público em geral, evitando 
a alienação e a centralização do debate em esferas especializadas. 
A linguagem acadêmica, embora rica em conhecimento, muitas vezes se torna 
inacessível para o público em geral, além disso, o autor ressalta a necessidade de prudência 
no uso do poder repressivo, reconhecendo as limitações e falhas tanto da academia quanto 
dos meios de comunicação na compreensão e abordagem do problema criminal, propõe uma 
reflexão sobre a realidade da criminalidade, representada pela presença dos mortos, cujas 
vozes muitas vezes são ignoradas. O texto também aborda as dinâmicas internas do mundo 
acadêmico, destacando as divisões e disputas entre diferentes correntes de pensamento, mas 
ressaltando a importância do debate apaixonado e intenso, menciona ainda a arte como uma 
ferramenta para desfazer estereótipos e comunicações mais eficazes sobre a questão criminal. 
Essencialmente, o autor busca contextualizar a questão criminal em um panorama 
mais amplo, integrando diferentes perspectivas e reconhecendo a complexidade do problema, 
enquanto enfatiza a importância da comunicação eficaz e da prudência no enfrentamento 
desse desafio global. Na primeira discute a distinção entre duas disciplinas relacionadas ao 
estudo do crime: direito penal e criminologia, começando com uma análise sobre o papel do 
penalista, o autor destaca que o estudo do direito penal se concentra na interpretação das leis 
penais, visando garantir uma aplicação consistente e ordenada pelos tribunais. 
O trabalho do penalista envolve a aplicação da dogmática jurídica, um método 
complexo de interpretação legal, que busca garantir uma abordagem racional e previsível na 
resolução de casos criminais, é destacada a influência da tradição jurídica alemã na 
construção da doutrina jurídico-penal em todo o mundo, e como os penalistas alemães 
desenvolveram uma teoria geral do delito, que estabelece critérios conceituais para 
determinar se uma conduta é considerada um crime, essa teoria enfatiza que um ato 
criminoso deve ser típico, antijurídico e culpável. 
Por outro lado, critica a desconexão entre os estudos do direito penal e a realidade 
social do crime, enquanto os penalistas se concentram na interpretação das leis, sua 
compreensão da realidade do crime muitas vezes é limitada ao que é divulgado pelos meios 
de comunicação, essa lacuna entre a teoria legal e a prática social é destacada como uma 
limitação significativa na compreensão do fenômeno criminal. 
Além disso, o texto aborda a ascensão da criminologia como uma disciplina que busca 
entender não apenas as causas do crime, mas também o funcionamento do poder punitivo, a 
criminologia, ao contrário do direito penal, abrange uma variedade de disciplinas, como 
sociologia, psicologia, antropologia e história, para examinar questões mais amplas 
relacionadas à violência, poder punitivo e suas implicações sociais. 
Essa parte do texto fornece uma visão crítica das abordagens tradicionais do direito 
penal, destacando a necessidade de uma análise mais ampla e interdisciplinar do crime e do 
sistema de justiça criminal, onde enfatiza a importância de considerar não apenas as leis, mas 
também os contextos sociais e institucionais que moldam o comportamento criminoso e a 
resposta do Estado ao crime. 
Torna-se evidente uma análise profunda sobre a origem e o papel do poder punitivo 
nas sociedades humanas, comparando-o com outras formas de coerção e explorando sua 
relação com a verticalização hierárquica e a colonização. O poder punitivo é comparado a 
uma instituição que parece sempre ter existido, mas na verdade é uma construção social que 
surgiu muito mais tarde do que outras formas de coerção, enquanto formas de coerção direta 
e reparadora têm como objetivo evitar ou remediar danos imediatos, o poder punitivo entra 
em cena quando alguém que detém autoridade substitui a vítima no processo de aplicação de 
punição, confiscando sua voz e agindo em nome da sociedade. 
Zaffaroni argumenta que o poder punitivo não resolve conflitos, mas os suspende, 
deixando a vítima marginalizada e não resolvendo suas necessidades, embora modelos não 
punitivos, como reparação, terapia e conciliação, podem coexistir e resolver conflitos de 
maneira mais eficaz, o poder punitivo é exclusivo e reforça uma estrutura hierárquica na 
sociedade. Essa verticalização hierárquica, segundo o autor, é um fenômeno histórico que 
ocorreu em sociedades como a Roma antiga e a Europa medieval. A ascensão do poder 
punitivo foi um instrumento desse processo, permitindo a conquista e colonização de 
territórios. Na Europa, o poder punitivo ajudou a consolidar a estrutura corporativa da 
sociedade, facilitando a expansão imperial. 
Ainda é debatida a influência do direito romano na formação do sistema jurídico penal 
europeu, destacando como a ciência jurídico-penal se desenvolveu a partir da interpretação 
do Digesto de Justiniano, a importação dessas leis ajudou a legitimar o poder punitivo, 
embora as justificativas fornecidas para as punições fossem muitas vezes baseadas em 
argumentos fáticos e criminológicos. Aponta-se como a história repetiu o processo romano, 
com sociedades como a Espanha perdendo sua hegemonia devido à rigidez de suas estruturas 
verticais. No entanto, o poder punitivo persistiu, embora agora focado principalmente em 
questões internas da sociedade, o texto oferece uma visão detalhada sobre a origem, evolução 
e impacto do poder punitivo nas sociedades humanas, argumentando que sua função principal 
tem sido a de reforçar estruturas de poder verticalizadas e facilitar processos de colonização e 
controle social. 
Em um segundo momento é apresentada uma análise crítica sobre o discurso 
demonológico e inquisitorial ao longo da história, destacando sua persistência e 
adaptabilidade através dos séculos, ele argumenta que esses discursos, embora tenham 
mudado de conteúdo ao longo do tempo, mantiveram uma estrutura fundamental, agindo 
como um programa que pode ser alimentado com diferentes informações, mas que serve 
sempre aos mesmos propósitos de justificar o poder punitivo sem limites. 
A narrativa destaca como ao longo dos séculos, emergências foram fabricadas para 
justificar a expansão do poder punitivo, muitas vezes resultando em massacres e injustiças, 
apesar das mudanças nas crenças e percepções sociais, o poder punitivo nunca eliminou 
efetivamente os perigos que alegava combater, e muitas vezes contribuiu para criar novos 
problemas. O texto menciona especificamente o "Malleus Maleficarum" ou "Martelo das 
Bruxas", de 1484, como uma obra que representa a consagração da criminologia autônoma 
em relação ao direito penal, apresentando uma teoria completa sobre a origem do crime, 
especialmente em relação à bruxaria. 
 
Essa obra, juntamente com outras contribuições dos demonólogos e inquisidores ao 
longo da história, é vista como parte de um legado sombrio que continua a influenciar o 
pensamento e as práticas sociais até os dias atuais. O texto sugere que reconhecer e entender 
esse legado é fundamental para evitar que o poder punitivo continue sendo usado de forma 
injusta e desproporcional. 
A passagem discorre sobre a evolução do poder punitivo ao longo da história,focando 
especialmente na Inquisição e no tratamento dado às chamadas bruxas, destaca a transição do 
controle exercido pela Igreja para o poder dos Estados nacionais, onde juízes estatais 
passaram a executar sentenças, muitas vezes queimando mulheres acusadas de bruxaria. A 
obra "Malleus Maleficarum" é mencionada como um marco nesse contexto, sendo escrita por 
Heinrich Krämer e Jakob Sprenger, essa obra se tornou um best-seller durante duzentos anos, 
abordando temas relacionados à criminologia, direito penal e processo penal. Apesar de sua 
leitura entediante, ela oferece insights sobre a mentalidade da época. 
Os autores do "Malleus Maleficarum" enfatizam a gravidade dos crimes atribuídos às 
bruxas, exaltando a necessidade de combatê-los como uma guerra, aqueles que duvidam da 
emergência são vistos como inimigos do poder punitivo, sujeitos a punições severas. O texto 
aponta vinte núcleos estruturais do poder punitivo ilimitado, destacando a ênfase na 
gravidade do crime, a linguagem bélica utilizada para combatê-lo e a negação de qualquer 
fonte de autoridade que contradiga a narrativa oficial. 
Outrossim, discute-se a misoginia presente na época, onde as mulheres eram 
consideradas biologicamente inferiores e propensas à bruxaria, a manipulação do poder 
punitivo pelos médicos, que propunham medidas de segurança em vez de penas tradicionais, 
ameaçando o controle exercido pelos soberanos, autores como Thomas Hobbes e Jean Bodin 
reagiram contra essa ameaça, defendendo a manutenção do poder punitivo sob controle dos 
soberanos, mesmo o rei Jaime I da Inglaterra escreveu uma "Demonologia" em resposta às 
propostas médicas, evidenciando a preocupação geral com a preservação do poder de punir. 
No século XVI, a atenção dos inquisidores eclesiásticos em relação às bruxas 
diminuiu drasticamente devido a uma mudança na dinâmica do poder eclesiástico. Um 
cardeal, enviado pelo Papa à Espanha, testemunhou a eficácia da Inquisição espanhola como 
um instrumento de controle a serviço do rei, principalmente contra os dissidentes perigosos 
para a Coroa, como os hereges das Igrejas reformadas, quando esse cardeal eventualmente se 
tornou Papa, ele reformulou a Inquisição romana, transferindo sua condução para os jesuítas 
e adaptando suas práticas à perseguição dos reformados. 
Friedrich Spee, um jesuíta, rebelou-se contra as práticas inquisitoriais e publicou 
anonimamente "Cautio criminalis" em 1631, criticando a injustiça da perseguição às bruxas. 
Spee testemunhou os horrores infligidos às mulheres acusadas de bruxaria e defendeu que 
qualquer pessoa poderia ser condenada injustamente sob o sistema inquisitorial. Ele 
argumentou que o poder punitivo deveria ser questionado por sua ineficácia e pelas injustiças 
que perpetrava. Spee atribuiu a responsabilidade pela perseguição às bruxas à ignorância da 
população, à manipulação da Igreja e à cumplicidade dos príncipes, que se beneficiavam 
politicamente da caça às bruxas. Ele denunciou a prática de cobrar por cada execução de 
bruxa como uma forma de lucro para os inquisidores, destacando a corrupção dentro do 
sistema. 
O livro de Spee, embora tenha incomodado as autoridades eclesiásticas e políticas da 
época, não teve um impacto imediato significativo, mas estabeleceu um discurso crítico que 
ressoa até os dias atuais. Sua obra abordou temas como a manipulação dos meios de 
comunicação, a legitimação teórica das práticas punitivas e a corrupção institucional. Setenta 
anos depois, o filósofo Christian Thomasius retomou os argumentos de Spee, desacreditando 
o Malleus e defendendo uma distinção entre moral e direito. Sua tese marcou o início do 
Iluminismo e contribuiu para o declínio do Malleus como autoridade na justiça penal. 
Embora as obras de Spee e Thomasius tenham sido pouco conhecidas por séculos, 
recentemente têm sido reconhecidas como importantes marcos na história do direito penal e 
da criminologia, destacando a necessidade de questionar o poder punitivo e combater a 
injustiça institucionalizada.Entre os séculos XVII e XVIII, ocorreu um fenômeno 
significativo: o surgimento do sujeito público. Enquanto no Estado absoluto o poder se 
concentrava na capacidade de punir, principalmente através da pena de morte, uma mudança 
ocorreu com a ascensão do sujeito público, levando o Estado a regular não apenas a vida 
individual, mas a vida pública como um todo. 
Isso resultou na formação de corporações especializadas, cada uma com seu próprio 
saber e linguagem, que monopolizavam o discurso e competiam entre si pelo domínio do 
conhecimento. O discurso penal e criminológico não escapou dessa dinâmica, com diferentes 
correntes de pensamento surgindo, como o utilitarismo disciplinador de Bentham. Bentham 
propôs um sistema onde o delito era visto como resultado da desordem pessoal do infrator, 
buscando corrigi-lo através do disciplinamento, simbolizado pelo panóptico, uma estrutura 
prisional onde os presos seriam constantemente observados. Sua abordagem buscava 
maximizar a felicidade coletiva, considerando que a punição deveria ser proporcional ao dano 
causado pelo delito. 
 Mesmo que Bentham tenha rejeitado a ideia de direitos naturais pré-sociais, sua 
abordagem influenciou o desenvolvimento do pensamento criminológico e foi reconhecida 
pelos revolucionários franceses como um avanço na mitigação do poder punitivo excessivo 
de sua época. 
 O texto ainda discute diferentes concepções contratualistas, focando na relação entre 
poder, criminologia e Estado ao longo da história. Começa destacando como os 
contratualistas se preocupavam em projetar o Estado, centrando-se na questão criminal como 
central para sua concepção de poder. Aponta que, no século XIX, a criminologia se 
distanciou do poder e do Estado, tornando-se uma disciplina científica separada. Destaca 
também a variedade de contratualistas, exemplificados pelo contraste entre Hobbes e Locke. 
Hobbes via a sociedade originando-se de um contrato para escapar do caos, onde o poder 
absoluto era entregue a um soberano para evitar a guerra de todos contra todos. Em 
contrapartida, Locke via o contrato como garantia dos direitos naturais pré-existentes, 
defendendo o direito de resistência contra o opressor.
Menciona Kant, que defendia a pena talional para manter o contrato social e evitar o 
retorno ao estado de natureza. Anselm von Feuerbach, influenciado por Kant e Locke, 
defendia o direito de resistência à opressão e promoveu a separação entre moral e direito, 
influenciando o direito penal na Baviera e indiretamente na Argentina. Feuerbach é lembrado 
pelo seu código penal para a Baviera, adotado por Carlos Tejedor na elaboração do código 
argentino. O texto destaca aspectos curiosos da vida de Feuerbach, como seu interesse por 
Kaspar Hauser, um adolescente que cresceu isolado, refletindo seu interesse no estado de 
natureza pré-contratual.
Além disso, o texto menciona o contexto midiático contemporâneo e sua influência na 
percepção pública sobre o direito e a criminologia, sugerindo um distanciamento da 
complexidade filosófica inicial em prol de narrativas simplificadas. Em síntese, o texto 
aborda a evolução das teorias contratualistas, desde Hobbes até Feuerbach, explorando suas 
contribuições para a compreensão do poder, da lei e da criminologia, contextualizando essas 
ideias dentro de mudanças históricas e sociais significativas.
Ademais, aborda a evolução e aplicação das teorias contratualistas na política e 
criminologia, destacando figuras como Hobbes, Locke e Marat. Ele discute como essas 
teorias foram adaptadas e reinterpretadas ao longo da história, desde o despotismo ilustrado 
até o socialismo. O contratualismo, inicialmente funcional para o despotismo ilustrado e o 
liberalismo político, eventualmente enfrentou críticas e desafios, especialmente ao ser usado 
para legitimar programas socialistas. Jean-Paul Marat é mencionado por suas contribuiçõespolíticas e criminológicas, como seu Plano de legislação criminal, que reflete suas ideias 
sobre justiça penal e desigualdades sociais. Marat, apesar de sua influência, não obteve 
reconhecimento durante sua vida e seu trabalho foi reeditado posteriormente sem que ele 
pudesse usufruir dos direitos autorais. O texto explora também a transição do contratualismo 
para novas abordagens na criminologia, como o hegelianismo penal e criminológico e o 
positivismo racista. O hegelianismo enfatizava a liberdade como critério central para a 
aplicação do direito penal, diferenciando os indivíduos entre "livres" e "não livres", sendo 
estes últimos submetidos a medidas de segurança.
Além disso, Hegel é criticado por seu etnocentrismo, que influenciou visões 
colonialistas e discriminatórias em relação a povos não europeus. Sua concepção de história 
universal favorecia a Europa como portadora do espírito livre, em detrimento de culturas 
consideradas inferiores ou atrasadas, como as latino-americanas. O texto conclui observando 
que, apesar de suas contribuições teóricas, tanto o contratualismo quanto o hegelianismo 
enfrentaram críticas crescentes à medida que o mundo passava por transformações sociais e 
políticas rápidas no século XIX. Em resumo, o texto analisa como teorias filosóficas 
influenciaram a legislação penal e a criminologia ao longo da história, mostrando suas 
limitações e consequências em um contexto de mudança social e política.
No início do século XX, os penalistas europeus começaram a se opor ao estilo 
inquisitorial da criminologia, que ditava como eles deveriam decidir. Embora não 
questionassem o potencial genocida do positivismo biológico, não gostavam de estar 
subordinados aos médicos. Como resultado, os penalistas isolaram os criminólogos, 
definindo que o delito era de competência dos penalistas, enquanto os criminólogos deviam 
explicar as causas das condutas identificadas como delitos pelos penalistas. Os criminólogos 
não foram expulsos das Faculdades de Direito, mas foram relegados a um canto, mantendo 
seus estudos sobre crânios e restos humanos em formol. A principal justificativa para essa 
segregação foi baseada no neokantismo, que distinguia entre ciências naturais e culturais, 
afirmando que o direito, sendo uma ciência cultural, não deveria se misturar com as ciências 
naturais. Embora houvesse dificuldades, como a criminalização ser uma decisão política que 
estabelecia limites para uma ciência natural, os penalistas resolveram afirmando que não 
existia uma ciência natural chamada criminologia. Esta era vista como um conjunto de 
conhecimentos auxiliares do direito penal, convocados conforme necessário. Assim, a 
criminologia positivista e biologista passou a ser uma ordem de conhecimentos servis ao 
direito penal.
Com a Inquisição e o positivismo, a criminologia comandava o direito penal; com o 
neokantismo, o direito penal subordinava-se à criminologia. Contudo, a criminologia isolada 
continuou sendo a mesma do reducionismo biologicista e tão racista como antes, sem 
alteração no conteúdo. Isso ficou evidente em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, 
quando houve um debate entre os professores de Munique e Milão para legitimar as leis 
penais do nazismo. O grupo de Milão, que seguia o estilo de Ferri, prevaleceu sobre 
Munique, que tinha um discurso mais incompreensível. Ambos os grupos continuaram suas 
atividades acadêmicas após a guerra, sendo citados normalmente. Os criminólogos do canto 
continuaram propondo medidas drásticas, como esterilização e segregação, e investigando 
gêmeos univitelinos. Franz Exner, em colaboração com o penalista neokantiano Edmund 
Mezger, elaborou em 1944 um projeto para enviar todos os de "vida ruim" aos campos de 
concentração. Exner, influenciado por suas experiências nos EUA, onde encontrou racistas 
americanos, justificou o alto número de afro-americanos nas prisões como resultado das 
exigências da sociedade americana, que superavam as capacidades biológicas desses 
indivíduos. Esta criminologia se enriquecia com novidades médicas, principalmente 
endocrinologia, e tentava curar desvios de conduta com injeções hormonais.
A classificação segundo biotipos também impactou a criminologia, correlacionando 
características físicas com psicológicas, semelhante à frenologia. A classificação mais 
difundida foi a de Ernst Kretschmer, que estabeleceu cinco biotipos: leptossômico, atlético, 
pícnico, displásico e misto, correlacionando-os com tendências criminosas. Por exemplo, 
magros seriam ladrões, atléticos homicidas e gordos farsantes. A endocrinologia também 
forneceu uma nova base para o racismo, sugerindo que nórdicos, sendo magros, eram 
pensadores, enquanto alpinos, sendo gordinhos, eram artistas. No período pré-guerra, houve 
uma variante na tese biologista: a posição genética, assumida pelo nazismo, defendia a 
eliminação dos inferiores; enquanto a tese lamarckista, aplicada na ditadura franquista por 
Antonio Vallejo Nágera, defendia que crianças retiradas das famílias republicanas fossem 
colocadas sob cuidados de famílias saudáveis. Curiosamente, o lamarckismo também foi a 
ideologia oficial da biologia na URSS, através da escola de Lyssenko.
Após a Segunda Guerra Mundial, a criminologia tradicional, que se baseava 
fortemente em conceitos biológicos e racistas, entrou em crise. O Primeiro Congresso 
Mundial de Criminologia em Paris, 1950, presidido por Donnedieu de Vabres, sinalizou um 
afastamento do racismo. Durante o congresso, o racismo foi amplamente rejeitado, pois 
ninguém queria arcar com as consequências devastadoras que ele havia causado durante a 
guerra. Antes mesmo da guerra, a ideia do criminoso nato, proposta por Lombroso, já era 
desacreditada. No entanto, a criminologia tradicional ainda mantinha um interesse pela 
biologia, explorando temas como debilidades, taras e conformação física. Com o fim da 
guerra e a rejeição do racismo e do reducionismo biológico, a criminologia começou a perder 
seu foco na biologia como fator determinante do comportamento criminoso. Assim, a 
criminologia etiológica (que buscava causas para o crime) perdeu seu objeto de estudo 
diferenciado e natural.
Essa mudança levou ao esvanecimento da criminologia tradicional, que se dissolveu 
em suas próprias contradições plurifatoriais. Sem os elementos necessários para analisar o 
poder punitivo e a seletividade do sistema penal, seus praticantes perderam a capacidade de 
oferecer uma análise eficaz. Contudo, não seria justo rotular todos esses criminologistas 
como racistas ou biologistas fanáticos. Como em qualquer época, havia vozes mais sensatas e 
críticas ao paradigma dominante, embora muitas vezes marginalizadas academicamente. 
Desde o final do século XIX, algumas figuras proeminentes se opuseram ao biologismo, 
como a criminóloga feminista espanhola Concepción Arenal e os contemporâneos de 
Lombroso, Turatti e Vaccaro, que rejeitavam o reducionismo biológico. Alfredo Niceforo 
reconheceu que os supostos signos biológicos eram, na verdade, indicativos de miséria. 
Willen Bonger, um criminologista marxista holandês, escreveu um ensaio influente sobre 
criminologia marxista e continuou nessa linha até seu suicídio durante a ocupação nazista da 
Holanda.
Na América Latina, a tradição criminológica pós-guerra também afastou-se das ideias 
racistas. Criminologistas como o colombiano Luis Carlos Pérez, o brasileiro Roberto Lyra 
Filho e o mexicano Alfonso Quiroz Cuarón se destacaram por suas críticas ao racismo e ao 
sistema penal. Na Argentina, Oscar Blarduni foi um importante crítico do reducionismo 
biológico. Embora esses criminologistas latino-americanos não tivessem o treinamento 
sociológico para explorar novos horizontes metodológicos, suas contribuições políticas os 
diferenciavam dos reducionistas biológicos que os precederam. Eles viveram em uma época 
com limitações científicas e produziram contradições irredutíveisentre suas atitudes políticas 
e o agonizante marco etiológico. No entanto, essas contradições foram necessárias para a 
transição para uma nova etapa superadora da criminologia. Com o declínio da criminologia 
tradicional nas Faculdades de Direito, a hegemonia do discurso criminológico passou dos 
médicos e advogados para os sociólogos. Nos Estados Unidos, essa transição já estava em 
andamento, com os sociólogos investigando o crime de uma perspectiva diferente, abrindo 
caminho para as abordagens criminológicas atuais.
A criminologia liberal começou a se destacar nos anos 1950, especialmente com os 
trabalhos de Edwin Lemert. Lemert introduziu os conceitos de desvio primário e desvio 
secundário, onde o primeiro é o comportamento que leva à punição, e o segundo é um 
comportamento mais grave que surge em resposta à intervenção punitiva inicial. Ele 
argumentou que as reações negativas da sociedade ao desvio primário causam o desvio 
secundário, influenciando as carreiras criminosas. Essa criminologia está intimamente ligada 
à sociologia geral, especialmente a duas influências principais: a psicologia social, com o 
interacionismo simbólico, e a filosofia, com a fenomenologia de Husserl. O interacionismo 
simbólico, baseado nas ideias de George Mead, propõe que todos possuem um "mim", 
formado pelas expectativas dos outros, e um "eu", que é a parte pessoal de cada um. Erving 
Goffman, um importante sociólogo dessa corrente, explicou a sociedade como uma 
dramaturgia social, onde todos desempenham papéis específicos, e as disrupções ocorrem 
quando essas expectativas não são atendidas, gerando irritação e desconforto.
Goffman também analisou as instituições totais, como prisões e manicômios, onde 
todos os aspectos da vida dos indivíduos são controlados e unificados. Nessas instituições, os 
internos perdem a autonomia e sofrem ataques ao "eu", sendo submetidos a uma vigilância 
constante e a humilhações. Goffman destacou que essas instituições não promovem a 
ressocialização, mas sim a degradação do indivíduo. Outro sociólogo importante do 
interacionismo simbólico, Howard Becker, consolidou a teoria do etiquetamento em seu livro 
"Outsiders" (1963). Becker estudou músicos de jazz usuários de maconha e desenvolveu a 
teoria de que o desvio é provocado por uma "empresa moral" que cria regras e etiqueta 
indivíduos como desviantes, impedindo-os de continuar suas vidas normais. Ele argumentou 
que a rotulação é arbitrária e que as etiquetas são aplicadas de maneira seletiva, não 
necessariamente refletindo o comportamento real dos indivíduos.
Denis Chapman, na Grã-Bretanha, complementou essa abordagem com seu livro 
"Sociologia e o estereótipo do criminoso" (1968), onde explicou como a criminalização é 
influenciada por estereótipos que refletem os piores preconceitos da sociedade. Ele destacou 
que esses estereótipos não se baseiam apenas em questões de classe ou capacidade 
econômica, mas também em outros preconceitos sociais. Esses estudos e teorias representam 
uma crítica significativa ao poder punitivo, evidenciando a arbitrariedade e a irracionalidade 
na aplicação das etiquetas criminais. A criminologia liberal revelou que o sistema punitivo é 
altamente seletivo e preconceituoso, não respeitando a igualdade e perpetuando estereótipos 
que condicionam as carreiras criminosas. A crítica ao etiquetamento e à seleção 
criminalizadora desafia a legitimidade do poder punitivo e expõe as falhas e injustiças do 
sistema penal.
A partir da filosofia de Husserl, a questão da intersubjetividade influenciou a 
sociologia, especialmente através do sociólogo austríaco Alfred Schutz, que afirmou que a 
intersubjetividade é uma realidade, não um problema. Essa ideia foi expandida na sociologia 
do conhecimento por Peter Berger e Thomas Luckmann em "A construção social da 
realidade" (1966). Embora não se foque diretamente na criminologia, essa obra se tornou 
fundamental para a compreensão da criminologia midiática. Berger e Luckmann argumentam 
que a realidade social é uma construção coletiva baseada em conhecimentos de senso comum, 
que são interpretações compartilhadas. Esses conhecimentos sedimentam-se com o tempo, 
tornando-se hábitos tipificados e anonimizados, controlados socialmente e legitimados pela 
linguagem. Quando alguém se desvia desse mundo reificado, é sancionado, como ilustrado 
pela internação em instituições totais.
Esses autores explicam que as interações sociais são baseadas em tipificações e 
modelos de comportamento estabelecidos, e que a sociedade é a soma total dessas 
tipificações. A estrutura social, portanto, é essencial para a realidade da vida cotidiana. O 
pensamento científico, embora transcenda o senso comum, depende dele. Berger e Luckmann 
observam que os intelectuais geralmente ocupam uma posição marginal na sociedade, 
questionando o conhecimento verificado e propondo visões alternativas. Essa marginalidade 
é resultado de uma insatisfação pessoal com a socialização primária e a busca por novas 
definições através de alternativas e ressocialização, como o processo forçado de 
etiquetamento. A influência de Heidegger é clara na obra de Berger e Luckmann, onde o ser 
humano é visto como produto do mundo, não como seu produtor. Isso ajuda a explicar a 
percepção de fenômenos históricos como a escravidão e o colonialismo. Essas ideias são 
essenciais para entender a criminologia midiática e desenvolver uma criminologia cautelar.
O texto discute a importância e o impacto do feminismo, destacando-o como um 
movimento teórico e ativista essencial para a transformação social. O feminismo enfrenta o 
desafio de não ser neutralizado por um pensamento machista e atua nas bases do poder 
mundial, questionando a hierarquização social construída sobre a subordinação das mulheres. 
Dois conceitos fundamentais trazidos pelo feminismo são o patriarcado e o gênero. O 
patriarcado refere-se ao domínio machista e suas implicações, enquanto o conceito de gênero 
distingue o sexo biológico dos papéis sociais culturalmente atribuídos. A criminologia 
tradicionalmente focou nos homens, ignorando a vitimização das mulheres, que sofrem não 
só na delinquência de rua, mas também na violência doméstica e no tráfico de pessoas.
O texto também menciona a falta de uma crítica criminológica desenvolvida sobre a 
questão gay, apesar de algumas contribuições importantes. A vitimologia trouxe à luz os 
danos ignorados, mas o feminismo enfatizou a metade da população negligenciada pela 
criminologia. Adicionalmente, o texto destaca a indiferença moral da sociedade em face de 
danos sociais massivos, como a fome e a miséria, sugerindo que a criminologia deve expandir 
seu campo para incluir esses danos sociais. Por fim, critica a criminologia por ignorar crimes 
de massa cometidos por agências estatais, como genocídios e massacres, argumentando que 
esses crimes devem ser estudados com seriedade dentro da criminologia.
O texto aborda a omissão significativa da criminologia acadêmica em relação aos 
assassinatos estatais em massa, com poucas exceções como os trabalhos de Leo Alexander 
(1948) e Sheldon Glueck (1944). Recentemente, houve um aumento na produção de estudos 
sobre o tema, com destaque para o livro de Wayne Morrison, "Criminologia, civilização e a 
nova ordem mundial" (2006). Morrison critica a separação hobbesiana entre o espaço 
civilizado e o não civilizado, destacando como o ataque de 11 de setembro de 2001 desfez 
essa distinção ao atingir o World Trade Center, símbolo da tecnologia e segurança 
globalizadas. O evento fez os Estados Unidos perceberem o mundo externo de forma abrupta, 
reforçando um nacionalismo exacerbado pela administração Bush, que usou a retórica da 
guerra contra o crime para justificar ações militares, apagando as fronteiras entre controle 
interno e externo.
Morrison destaca a emergência de um novo populismo emocional, politização e uma 
normalização das altas taxasde criminalidade, além de uma nova relação entre crime e mídia 
de massa. Ele argumenta que a criminologia é um produto de Estados-nação construídos pela 
violência e genocídio, onde a história é escrita pelos vencedores. Os índices de criminalidade 
reportados nos países onde houve genocídios não incluem as mortes resultantes desses 
crimes, criando uma "estatística criminal apartheid". A criminologia, portanto, só coleta 
dados condicionados pelo poder dos Estados-nação, ignorando crimes de massa cometidos 
por agências estatais. Morrison apresenta uma lista impressionante de crimes de massa entre 
1885 e 1994, questionando se é possível globalizar a estatística criminal e como se poderia 
criar uma imagem estatística de uma sociedade mundial de risco. Ele também critica a 
criminologia neocolonialista por não dar atenção aos julgamentos de Nuremberg e Tóquio, 
argumentando que, se Hitler tivesse cometido seus crimes apenas dentro da Alemanha, os 
campos de concentração teriam ficado impunes.
Morrison rejeita a ideia de que os grandes crimes do século passado são exceções, 
afirmando que os participantes desses crimes eram pessoas normais. Ele compara execuções 
públicas exemplares com a secreta fabricação de cadáveres nos campos de extermínio, 
apontando objetivos diferentes entre reafirmação do poder e a eliminação secreta. Ao final, 
Morrison observa a relação entre Bush e Bin Laden, onde o terrorismo é tratado como ato de 
guerra, excluindo os terroristas das garantias penais e das Convenções de Genebra. Ele 
relaciona essa prática ao equivalente moderno da lei marcial nos regimes coloniais e ao 
Führerprinzip nazista. A tese central é a constatação de Carl Schmitt sobre a planetarização 
trágica da doutrina da segurança nacional dos anos 1970 na América do Sul, propondo que 
esse caminho teórico deve ser reelaborado e aprofundado.
Nos Estados Unidos, as características do Estado mudaram radicalmente com a 
adoção do que é conhecido como New Punitiveness (neopunitivismo). Esta mudança 
transformou o sistema penal americano, resultando em uma série de práticas e políticas 
repressivas. Atualmente, um em cada três homens negros entre 20 e 29 anos está 
criminalizado, um em cada cem americanos está preso, e muitos outros estão sob vigilância 
com liberdade condicional ou vigiada. Além disso, pessoas condenadas por qualquer delito 
enfrentam inabilitações permanentes, como a perda do direito ao voto.
A política do "three strikes and you're out" impõe penas de confinamento perpétuo 
para reincidentes, independentemente da gravidade dos crimes, e famílias de condenados são 
excluídas da convivência social e privadas de benefícios sociais. Trabalhos forçados foram 
restabelecidos e, desde o fim da moratória da pena de morte nos anos 1970, cerca de 1.300 
execuções foram realizadas, incluindo de doentes mentais e menores de idade. Governadores 
usam execuções como ferramenta de campanha, condenações são frequentemente obtidas 
sem julgamento justo, e métodos imorais de investigação são utilizados, incentivando 
denúncias dentro da família.
Esta "nova" face do sistema penal americano tem sido descrita como um renascimento 
do "nazismo penal", oferecido como modelo global. Entre os principais estudiosos deste 
fenômeno estão David Garland, Loïc Wacquant e Jonathan Simon. David Garland, autor de 
"A Cultura do Controle" (2001), descreve uma sociedade pós-moderna esquizofrênica, que 
combina uma criminologia da vida cotidiana, focada em prevenção mecânica e eletrônica do 
crime, com uma criminologia do "outro", que ressurge com um caráter vingativo, herdeira 
das versões mais sombrias do positivismo antigo. Garland destaca a contradição de se tratar o 
crime como algo normal e, ao mesmo tempo, dramatizá-lo ao extremo.
Loïc Wacquant, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, aborda o 
sistema pós-fordista que, segundo ele, precariza o trabalho, intensifica discriminações e 
segregações raciais e de classe, e relega os mais afetados pelo neoliberalismo a bairros pobres 
e marginais. Wacquant chama este aparato de Estado penal, que ele também considera um 
Estado racial devido à continuidade do racismo institucional. Para ele, a criminalização da 
pobreza e a precarização do trabalho fragmentaram a solidariedade comunitária, 
substituindo-a por um "supergueto" sem sentimento de comunidade. Jonathan Simon, 
também professor em Berkeley, publicou "Governing through Crime" (2007), onde analisa 
como a transformação institucional e social levou ao autoritarismo penal atual. Simon atribui 
essa mudança à deslegitimação gradual do Estado de bem-estar, iniciada com a campanha de 
Barry Goldwater em 1964, e intensificada pelas guerras contra o crime e o terrorismo 
promovidas por presidentes subsequentes. Para Simon, governar tendo o crime como 
referência transforma o modelo punitivo em uma técnica geral de governo, que permeia todas 
as esferas sociais, ameaçando a democracia.
Simon destaca que a figura da vítima-herói pode representar uma ameaça à 
democracia, uma vez que a administração dos medos se torna uma forma de governo. Ele 
observa que, desde a década de 1960, houve uma transição no imaginário coletivo do 
trabalhador manual para a vítima do crime como modelo do cidadão comum. Esta mudança 
foi acelerada pelos presidentes que transferiram a política punitiva de suas experiências como 
governadores para o governo federal, promovendo campanhas vingativas e reformas 
legislativas que reduziram a autonomia judicial.
Essas campanhas políticas usaram o medo para consolidar o poder, justificando 
medidas autoritárias e punitivas. Simon argumenta que o governo por meio do medo fabrica 
inimigos para neutralizar qualquer oposição ao poder punitivo ilimitado. Ele ressalta a 
necessidade de investigações similares à sua em outros países para entender a globalização 
dessa técnica de governo. Em resumo, a transformação do sistema penal nos Estados Unidos, 
caracterizada pelo neopunitivismo, reflete uma combinação de mudanças culturais, 
estruturais e institucionais que resultaram em um modelo de governança autoritário e 
punitivo, com profundas implicações sociais e democráticas.
REFERÊNCIAS
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. A questão criminal. 1. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2013.

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