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79 ANATOMIA Unidade II 5 APARELHO LOCOMOTOR Embora o corpo humano seja o resultado da interpretação de todos os sistemas, existem alguns que, devido a relações mais íntimas no desenvolvimento (embriologia), na situação (topografia) e na função (fisiologia) e a fatores didáticos, podem ser considerados ou concentrados, caso em que recebem o nome de aparelho. Como vimos anteriormente, podemos listar vários sistemas do ponto de vista da Anatomia Sistêmica. Portanto, temos o aparelho osteoarticular, formado pelos sistemas esquelético e articular, e o aparelho locomotor, composto de três sistemas: o esquelético, o articular e o muscular. No aparelho locomotor, o sistema esquelético inclui os ossos, os quais dão fixação aos músculos, delimitam cavidades para a proteção dos órgãos nelas contidas, formam alavancas e servem como órgãos passivos de movimento e como hematocitopoieticos. O sistema articular é composto de conexões ou articulações que se estabelecem entre os ossos, ao nível das quais se observam movimentos, lembrando o que acontece nos artrópodes, o que significa “com as patas e todos os outros apêndices articulados”. O sistema muscular compreende o conjunto dos músculos voluntários ou esqueléticos, assim chamados por estarem sujeitos ao controle da vontade e por estarem ligados ao esqueleto. Envolvidos por fáscias musculares, os músculos esqueléticos se originam ou se inserem por meio dos seus tendões e das suas aponeuroses, além de outras estruturas anatômicas que formam esse sistema, como o retináculo, as bainhas tendíneas e as bolsas sinoviais. Os músculos esqueléticos são os órgãos ativos do movimento. Assim, com a integração desses três sistemas, temos os ossos como as estruturas anatômicas simples e rígidas que amparam os músculos esqueléticos; eles sustentam a massa corpórea e trabalham com os músculos esqueléticos para gerar os movimentos controlados e precisos. Sem a estrutura de sustentação dos ossos, a contração muscular apenas tornaria os músculos esqueléticos mais curtos e espessos. Os músculos esqueléticos devem tracionar o esqueleto para fazer-nos sentar, levantar, andar ou correr. Entenderemos que as articulações existem sempre que dois ou mais ossos se encontram, podendo estar em contato direto ou separadas por tecido fibroso, cartilagíneo ou sinóvia, sendo que cada tipo de articulação executa um movimento específico. Veremos que quase todos os 700 músculos esqueléticos individuais que formam o sistema muscular, como o músculo bíceps braquial, contêm tanto tecido muscular quanto tecido conjuntivo. De tal forma, a ação principal de alguns músculos esqueléticos é estabilizar os ossos para que outros músculos esqueléticos possam realizar movimentos de forma mais eficaz. Esta unidade apresentará muitos dos principais músculos esqueléticos do corpo humano, sendo a maioria encontrada em ambos os lados. Além disso, identificaremos os locais de origem e inserção Gilberto Realce 80 Unidade II de cada músculo esquelético citado, assim como as suas principais ações. Detalharemos também a musculatura apendicular, músculos esqueléticos que são responsáveis pela estabilização das cinturas dos membros superiores e inferiores e pela motilidade dos membros superiores e inferiores. Os músculos apendiculares correspondem a cerca de 40% dos músculos esqueléticos do corpo. Os papéis e a amplitude dos movimentos requeridos diferem altamente entre esses grupos. As conexões musculares entre a cintura do membro superior e o esqueleto axial elevam a motilidade do membro superior porque a posição dos elementos esqueléticos não fica atravancada em relação ao esqueleto axial. As conexões musculares agem também como amortecedores de impactos. Por exemplo, os indivíduos podem correr e apesar disso realizar movimentos suaves com as mãos porque os músculos apendiculares absorvem e atenuam os impactos da corrida. Diferencialmente dessa situação, a cintura do membro inferior ampliou uma forte conexão com o esqueleto para transmitir o peso do esqueleto axial para o apendicular. A evidência é centralizada mais na força do que na multifuncionalidade, e as mesmas características que reforçam as articulações limitam a amplitude do movimento. A aquisição desses conhecimentos é especial e primordial para os profissionais da Educação Física e do esporte, pois influenciam de maneira definitiva na elaboração e na implementação de programas voltados à promoção de saúde e de programas de treinamento desportivo. Essa reflexão pode ser conceituada como imprescindível, principalmente para aqueles que iniciam os seus estudos sobre o movimento humano. Como vimos anteriormente, durante o Renascimento, Leonardo da Vinci despontou como um dos maiores artistas de todos os tempos, muito conhecido, ainda hoje, por suas descrições artísticas do corpo humano. Ele dissecou centenas de corpos para que pudesse adquirir uma compreensão da musculatura e da forma do corpo humano, e podem-se notar o conhecimento e a valorização expressos em seu trabalho artístico. A figura a seguir mostra que desde os tempos antigos até os dias de hoje, a apreciação da beleza da forma humana em movimento sempre seduziu a atenção de artistas, cientistas, profissionais da saúde e atletas: Figura 74 – A plástica na ginástica artística 81 ANATOMIA Essa investigação sobre o movimento humano evoluiu de pura arte para um conjunto de arte e ciência que combinava teorias e princípios procedentes da Anatomia, da Fisiologia, da Antropologia, da Física, da Mecânica e da Biomecânica. No estudo da anatomia do aparelho locomotor, o foco central está nos músculos e nos ossos aos quais eles se prendem. Os ossos também se conectam uns aos outros formando as articulações. Assim, as três principais estruturas nas quais devemos nos ater na anatomia do aparelho locomotor são os ossos, as articulações e os músculos. Observação O esqueleto é o arcabouço resistente no qual o organismo humano está construído. Muito parecido à armação de um edifício, o esqueleto deve ser forte o suficiente para sustentar e proteger todas as estruturas anatômicas do corpo humano. A estrutura esquelética ordena nossa forma e tamanho. Ela pode também ser imensamente influenciada pela nutrição, nível de exercícios físicos e hábitos posturais. A B Figura 75 – Esqueleto humano em vistas anterior (A) e posterior (B) No esqueleto imaturo em desenvolvimento ou imaturo, conforme ilustra a figura a seguir, a interferência do apoio de peso e forças musculares terá uma ação mais considerável na constituição do tamanho e no formato dos ossos do que as mesmas forças aplicadas sobre um esqueleto maduro. Por esse motivo, é relevante dar valor extremo aos tipos de exercícios físicos e hábitos posturais de um pré-adolescente. 82 Unidade II Figura 76 – Esqueleto imaturo Observação Um exemplo clássico de alteração no esqueleto imaturo é a presença de escoliose idiopática, uma curvatura lateral da coluna vertebral, existente em aproximadamente 15 a 20% das meninas entre 10 e 12 anos de idade. Essa modificação seria por que as mulheres mais novas passam muito tempo mantendo a massa corporal sobre os saltos finos? Tem a ver com uma postura que compreende joelhos hiperestendidos e lordose? É simples supor sobre prováveis causas, porém ainda não há temas científicos cruciais. É sabido que o sistema esquelético é flexível, podendo ser modelado e formado por meio da atividade. Agora você já sabe que os hábitos posturais ou aspectos sociais podem levar a modificações no esqueleto imaturo. Quando as meninas forem utilizar saltos finos, observe as consequências e faça a sua escolha. 5.1 Osteologia O esqueleto humano representa 20% da massa corpórea, ou seja, 14 quilogramas em um indivíduo de 70 quilogramas. O sistema esquelético desempenha um papel principal e vários papéis secundários para cooperar com outros sistemas em papéis substanciais. Lembre-se que os ossos são formados por diversos tecidos que agemem conjunto, como o tecido ósseo, a cartilagem, o tecido conjuntivo denso, o epitélio, o tecido adiposo e o tecido nervoso. Por essa razão, cada osso do corpo é considerado um órgão. Portanto, o tecido ósseo é um tecido vivo, complexo e dinâmico, participando assim de forma contínua em um processo 83 ANATOMIA chamado remodelação, ou seja, a formação de novo tecido ósseo e a degeneração do tecido ósseo antigo. Toda a estrutura dos ossos e suas cartilagens, juntamente com os ligamentos e os tendões, compõem o sistema esquelético. Também iremos examinar os vários elementos dos ossos a fim de auxiliá-lo a compreender como os ossos se constituem e envelhecem; além disso, entenderemos como o exercício físico afeta a densidade e a resistência óssea. Observação O estudo da estrutura óssea e o tratamento dos distúrbios ósseos são chamados osteologia. 5.1.1 Os principais papéis do esqueleto e dos ossos Como vimos anteriormente, o esqueleto fornece as alavancas e os eixos de rotação sobre os quais o sistema muscular realiza os movimentos. Assim, uma alavanca consiste em uma máquina simples que eleva a força ou a velocidade de movimento. Podemos dizer que as alavancas são inicialmente os ossos longos do corpo humano e os eixos são as articulações nas quais os ossos se deparam, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 77 – Sistema de alavancas Um segundo papel relevante do esqueleto é servir de arcabouço e suporte para as partes moles do corpo humano. Os ossos dos membros inferiores, da pelve e da coluna vertebral suportam o corpo humano e são utilizados para a manutenção da postura ereta. Quase todos os ossos proveem suporte para os músculos e apoio para os dentes. Encontram-se ainda outros papéis adicionais não associados exclusivamente com o movimento humano. Tecidos e órgãos vulneráveis são comumente protegidos por elementos do esqueleto. As 84 Unidade II costelas, por exemplo, protegem o coração e os pulmões, conforme ilustram as figuras a seguir. Por sua vez, o crânio aloja o encéfalo, as vértebras fornecem abrigo para a medula espinal e a pelve óssea acomoda órgãos digestórios e genitais. A B Figura 78 – As costelas protegendo o coração e os pulmões. Vistas anterior (A) e posterior (B) Descreveremos, agora, o osso como um depósito para minerais, especialmente, cálcio e fósforo. O cálcio é o mineral mais farto no corpo humano. Um indivíduo apresenta aproximadamente 1 a 2 quilogramas de cálcio, dos quais mais de 98% estão armazenados nos ossos e nos dentes. Os minerais armazenados são liberados na circulação sanguínea quando há necessidade de distribuição a todas as partes do corpo humano. Ele é essencial para a contração muscular, para a coagulação do sangue e para a movimentação de íons através da membrana celular. Já o fósforo é essencial para as funções dos ácidos nucleicos DNA e RNA. Na hipótese de os minerais não se encontrarem na alimentação em quantidades satisfatórias, eles podem ser retirados dos ossos até serem compensados pela própria alimentação. Na realidade, “depósitos” e “retiradas” de minerais para os ossos e a partir deles acontecem quase incessantemente. Observação DNA (ácido desoxirribonucleico) é uma molécula presente no núcleo das células de quase todos os seres vivos e que carrega toda a informação genética de um organismo. RNA (ácido ribonucleico) é o responsável por sintetizar as proteínas. Se todo o mineral é extraído de um osso longo, o colágeno se torna o principal constituinte, e o osso fica excessivamente flexível. Contudo, se o colágeno é retirado do osso, os componentes minerais se tornam o constituinte principal, e o osso fica muito quebradiço, conforme ilustra a figura a seguir: 85 ANATOMIA (a) (b) sem minerais (c) sem colágeno Figura 79 – A) Osso normal; B) Osso desmineralizado, no qual o colágeno é o principal componente, pode ser dobrado sem quebrar; C) Quando o colágeno é extraído, os minerais são o principal componente restante, tornando o osso tão quebradiço que é facilmente destruído Observação O colágeno é uma proteína de relevância essencial na composição da matriz extracelular do tecido conjuntivo, sendo responsável por grande parte de suas propriedades físicas. Podemos descrever os ossos como órgãos hematocitopoieticos, ou seja, eles realizam a produção de células sanguíneas por meio da medula óssea vermelha, conforme ilustram as figuras a seguir: Pontos ósseos palpados facilmente através da pele Distribuição da medula óssea vermelha Figura 80 – Vista anterior 86 Unidade II Pontos ósseos palpados facilmente através da pele Distribuição da medula óssea vermelha Figura 81 – Vista posterior Estima-se que uma média de 2,5 milhões de células sanguíneas vermelhas é produzida a cada segundo pela medula óssea vermelha para suprir aquelas que são excluídas e degradadas pelo fígado. Em uma criança, o baço e o fígado também produzem células sanguíneas. Com o passar da idade, a maior parte da medula óssea vermelha transforma-se em medula óssea amarela, de maneira que no adulto encontra-se medula óssea vermelha apenas em alguns ossos, como no esterno. Já a medula óssea amarela é formada basicamente de células adiposas, que armazenam triglicerídeos. Os triglicerídeos armazenados são reservas potenciais de energia química. Por fim, citaremos os osteoblastos, as células responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos da matriz óssea, como colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas. Essas células ósseas também estão envolvidas no metabolismo, pois secretam osteocalcina, um hormônio que influencia na regulação de glicemia. 5.1.2 Arquitetura óssea Como descrito anteriormente, os ossos são peças duras e calcificadas, em número, coloração e formas variáveis. Apresentam matéria orgânica (1/3) e matéria inorgânica (2/3). A matéria orgânica atribui elasticidade aos ossos, enquanto a matéria inorgânica atribui rigidez e força. Observação Quão fortes são os ossos? Calcula-se que, se for empregada carga vagarosamente sobre um crânio humano, ele é capaz de suportar três toneladas antes de se quebrar! As extremidades de um osso longo são Gilberto Realce Gilberto Realce 87 ANATOMIA chamadas de epífises, enquanto a parte média é chamada de diáfise. Durante o crescimento ósseo, as epífises são compostas de um material cartilagíneo chamado de placa de crescimento. Macroscopicamente, os ossos têm dois tipos diferenciados de substâncias ósseas, a esponjosa e a compacta. Os dois tipos podem aparecer de maneira simultânea, porém em quantidades variadas, num mesmo osso, conforme ilustram as figuras a seguir: A B Substância esponjosa Cavidade medular Substância compacta Figura 82 – Um corte longitudinal da extremidade proximal de uma tíbia (A) e da diáfise de um fêmur (B), mostrando as substâncias ósseas e a cavidade medular Como visto na imagem anterior, a substância óssea esponjosa é mais leve, o que diminui a massa total de um osso, de modo que ele se mova com maior simplicidade quando tracionado pelo músculo esquelético. Ela é porosa e se situa na parte interna dos ossos, constituindo as trabéculas ósseas (do latim pequenos feixes). As trabéculas ósseas suportam e protegem a medula óssea vermelha. Além disso, a presença da substância óssea esponjosa diminui a massa do esqueleto e colabora na mobilidade dos ossos pelos músculos esqueléticos. A substância óssea esponjosa é encontrada em grandes quantidades nas epífises dos ossos longos e nos ossos curtos, sendo recobertas por fina camada de substância óssea compacta. Observem que a substância óssea compacta se caracteriza por um revestimento externo denso e rijo. Ela sempre reveste completamente todo osso e tende a variar de espessura. Assim, a substância óssea compacta predomina na diáfise dos ossos longos. Além disso, ela envolve uma cavidade chamada de cavidade medular, que contém a medula óssea, vermelha ou rubra e amarela ou flava, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce GilbertoRealce 88 Unidade II Medula óssea vermelha Medula óssea vermelha Medula óssea amarela Figura 83 – Medula óssea Saiba mais Indicamos o filme: UMA Prova de amor. Dir. Nick Cassavetes. EUA: Playarte, 2009. 109 minutos. Neste filme, Sara e Brian Fitzgerald são comunicados que Kate, sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico recomenda aos pais que tentem um método médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aprovam a ideia. Assim nasce Anna, que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, os médicos decidem realizar um transplante de medula de Anna para Kate. Lembrete O osso esponjoso localiza-se profundamente ao periósteo, compondo uma fina substância compacta, o córtex, que prossegue para o interior do osso, como substância esponjosa, composta de trabéculas ósseas. Entre as trabéculas ósseas e nas cavidades medulares situa-se a medula óssea. 89 ANATOMIA Saiba mais A estrutura de um osso pode ser analisada considerando-se as partes de um osso longo. Como outros tecidos conjuntivos, o osso ou o tecido ósseo contém uma matriz abundante de materiais intercelulares, circundando as células amplamente separadas. Complemente os seus conhecimentos com a leitura das páginas 117-125 da obra a seguir. Você explorará mais sobre a estrutura dos ossos nos níveis macroscópicos e microscópicos e entenderá a importância da formação óssea durante as diferentes fases da vida de uma pessoa. TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 5.1.3 O periósteo e o endósteo A superfície externa de um osso é comumente revestida pelo periósteo, exceto as superfícies articulares que são recobertas por cartilagem do tipo hialina. Ele isola e protege o osso dos tecidos vizinhos, provê uma via e um local de união para o suprimento cardiovascular e nervoso, e participa ativamente no crescimento ósseo em diâmetro e na reparação de fraturas. Entretanto, o periósteo não reveste os ossos sesamoides. No interior do osso, o endósteo celular reveste a cavidade medular, conforme ilustra a figura a seguir. O endósteo está em atividade durante o crescimento e sempre que a reparação e o remodelamento da arquitetura óssea estiverem acontecendo. Diáfise Epífise proximal Osso esponjoso Osso compacto Periósteo Cavidade medular Linha epifisial Epífise distal Cartilagem articular Endósteo Fibras perfurantes Forame nutricio Vasos nutrientes Figura 84 – Osso longo com periósteo rebatido Gilberto Realce Gilberto Realce 90 Unidade II Lembrete O periósteo, o endósteo e a medula óssea são relevantes estruturas anatômicas pertinentes aos ossos. Saiba mais Leia o capítulo 5 da obra a seguir: MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009. A página 118 apresenta a nota clínica Formação Óssea Heterotrópica e a página 123 apresenta a nota clínica Doenças Congênitas do Esqueleto. 5.1.4 Vascularização óssea Os ossos são muito vascularizados, sendo que eles recebem amplo suprimento de sangue. De particular relevância são os vasos metafisários e os vasos epifisários. As artérias adentram nos ossos a partir do periósteo. As artérias periosteais acompanhadas por nervos adentram na diáfise e irrigam o periósteo e a parte externa da substância compacta. Próximo ao centro da diáfise, uma grande artéria nutrícia adentra no osso compacto por meio do forame nutrício, conforme ilustra a figura anterior. Ao adentrar na cavidade medular, a artéria nutrícia se ramifica em ramos proximal e distal, que irrigam a parte interna da substância óssea compacta da diáfise, substância óssea esponjosa, e a medula óssea. Na tíbia há uma artéria nutrícia, enquanto no fêmur existem diversas. As extremidades dos ossos são irrigadas pelas artérias metafisárias e epifisárias. Ambas irrigam a medula óssea vermelha e as substâncias ósseas da metáfise. As artérias epifisárias irrigam a medula óssea e as substâncias ósseas das epífises. Uma ou duas veias nutrícias seguem a artéria nutrícia na diáfise. Abundantes veias epifisárias e metafisárias saem das epífises com as suas relativas artérias. As veias periosteais saem do periósteo com as suas relativas artérias. Os vasos linfáticos dos ossos estão no periósteo, porém alguns podem adentrar no tecido ósseo. 5.1.5 Inervação óssea Os nervos seguem as artérias que irrigam os ossos. O periósteo, conforme ilustra a figura anterior, é rico em nervos sensitivos, responsáveis pela sensação de dor. São exemplos as dores consequentes de uma fratura, de tumores ósseos ou de uma biópsia da medula óssea vermelha por meio de uma agulha. Microscopicamente a medula óssea vermelha é avaliada em situações, por exemplo, em leucemias, Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 91 ANATOMIA linfomas e anemias aplásicas. Apresentam-se dores à medida que a agulha adentra no periósteo; assim que a agulha adentra e ultrapassa o periósteo há poucas dores. Saiba mais Leia o conteúdo Fatores de regulação do crescimento ósseo (páginas 123-124) da obra a seguir: MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009. Lembrete Na maior parte dos casos, os ossos são abundantemente vascularizados. Cada tipo recebe suprimento de sangue e nervoso de forma característica. 5.1.6 Morfologia óssea Os ossos podem apresentar diversos tamanhos e formatos. Por exemplo, o osso pisiforme da mão possui o tamanho e a forma de uma ervilha, enquanto o fêmur pode ter até 60 centímetros de comprimento em alguns indivíduos e uma cabeça arredondada em formato de bola. Desse modo, o fêmur suporta a grande massa corporal e pressão, sendo que a sua arquitetura de cilindro oco provê força máxima com peso mínimo. Na maioria dos casos, os ossos são classificados conforme sua forma geométrica aproximada em: longos, alongados, curtos, planos e irregulares. Existem, ainda, os ossos pneumáticos, sesamoides e acessórios. Os ossos longos são formados por uma diáfise e duas epífises. Apresentam o comprimento maior em relação à largura e à espessura que são equivalentes. Os ossos longos são encontrados apenas no esqueleto apendicular, por exemplo, o osso úmero, conforme ilustram as figuras a seguir, em vista anterior e posterior. Eles proporcionam suporte ao organismo e oferecem uma série de alavancas e elos que nos possibilitam criar movimentos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 92 Unidade II A B Figura 85 – Úmero em vista anterior (A) e posterior (B) Os ossos alongados são achatados, sendo eles um subgrupo dos ossos longos. Eles não apresentam epífises bem definidas e não têm cavidade medular. A clavícula e as costelas são exemplos típicos de ossos alongados, conforme ilustra a figura a seguir: A B Figura 86 – Vista anterior da clavícula direita (A) e vista interna da costela (B) Os ossos curtos apresentam as três dimensões – comprimento, largura e espessura – equivalentes, as quais lhes conferem uma forma cúbica. Exemplos clássicos desse grupo são os ossos do carpo e os do tarso, exceto o pisiforme, que é um osso sesamoide, e o osso calcâneo, que é um osso irregular, conforme ilustram as figuras a seguir. Esses ossos apresentam um papel relevante na absorção de choque e transmissão de forças. Gilberto Realce Gilberto Realce 93 ANATOMIA Osso do carpo Osso pisiforme Figura 87 – Ossos do carpo Figura 88 – Ossos calcâneo Nos ossos planos, a largura e o comprimento predominam sobre a espessura. Alguns exemplos de ossos planos são os que formam a calvária. Eles possuem duas lâminas compactas, onde temos um tecido ósseo mais denso e, entre essas camadas, uma camada esponjosa composta de osso menos denso, chamada díploe, conforme ilustram as figuras a seguir, respectivamente. Os ossos planos proporcionam proteçãopara o conteúdo interno e ampla superfície para a fixação muscular. Parietal Frontal Lâmina externa Lâmina interna Diploe A B Figura 89 – Parietal em vista interna (A) e díploe (B) Gilberto Realce 94 Unidade II Os ossos irregulares não possuem formas geométricas bem definidas. As vértebras, os ossos da base do crânio e os ossos da face são exemplos desse grupo (veja as figuras a seguir). Eles oferecem suporte de massa corporal, dissipação de cargas, proteção da medula espinal e contribuição com os movimentos e locais de inserção muscular. Figura 90 – Vértebra lombar, vista superior Figura 91 – Temporal, vista lateral Os tipos morfológicos que acabamos de ver podem ainda apresentar características adicionais que nos possibilitam classificá-los também como se segue. Os ossos pneumáticos apresentam uma ou mais cavidades de volumes variáveis, chamados seios, que se apresentam revestidas de mucosa e preenchidas por ar. Os ossos pneumáticos estão localizados no crânio, sendo eles o frontal, a maxila, o etmoide e o esfenoide, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce 95 ANATOMIA Células etmoidais Seio maxilar Seio esfenoidal Seio frontal Figura 92 – Cavidades do crânio Observação O osso temporal é considerado pneumatizado, pois apresenta cavidades que se comunicam com a cavidade da orelha, enquanto os ossos pneumáticos se comunicam com a cavidade nasal. Os ossos sesamoides se assemelham a sementes de gergelim e estão localizados em regiões em que alguns tendões cruzam epífises de ossos longos. Eles se desenvolvem dentro dos tendões e os protegem de desgaste exorbitante junto ao osso. Também alteram o ângulo de inserção de um tendão. Os ossos sesamoides estão presentes no desenvolvimento fetal, mas não são considerados partes do esqueleto axial ou apendicular, exceto pelas patelas, que são os maiores ossos sesamoides, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 93 – Patela, vista anterior Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 96 Unidade II Os outros ossos sesamoides mais frequentes estão situados nas plantas dos pés e na base do primeiro metatarso. Nos membros superiores, os ossos sesamoides são frequentemente encontrados nos tendões próximos à superfície palmar e na base dos metacarpos. Outro exemplo clássico é o hioide, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 94 – Hioide, vista anterior Lembrete Embora apresentem o comprimento maior que a largura, as costelas e a clavícula não têm canal medular, muito menos metáfises; por esse motivo, são classificadas como ossos alongados. Os ossos acessórios são raros e sua sede, as suas dimensões e o seu número podem ser muito variáveis. Acontecem mais comumente na superfície externa do que na superfície interna. Do ponto de vista da Anatomia Comparativa, alguns desses ossos correspondem aos que se deparam normalmente em outros vertebrados e outros não apresentam essa correspondência. A estes ossos acidentais dá-se o nome de ossos suturais ou wormianos, os quais acontecem muitas vezes na sutura lambdoide, em crânios hidrocefálicos. Como exemplos de ossos acessórios podemos mencionar os ossos bregmático, o osso ptérico e o osso astérico, conforme ilustra a figura a seguir: eu ms ast Figura 95 – Ossos acessórios: ast = Asterion, eu = Eurion, i = Inion, l = Lambda, mas = Mastoidale e o = Opisthion Gilberto Realce Gilberto Realce 97 ANATOMIA Observação As lâminas das epífises dos ossos longos específicos ossificam em prazos previstos. Os médicos radiologistas comumente podem especificar a idade de um indivíduo jovem analisando as lâminas das epífises para observar se elas ossificaram. Uma diferença entre a idade dos ossos e a cronológica pode sugerir alguma disfunção metabólica. 5.1.7 Características anatômicas de superfície dos ossos Os ossos apresentam acidentes ósseos ou detalhes ósseos, como as proeminências, as fossas, as depressões, os tubérculos, as eminências, os orifícios, os canais, as cavidades e os seios, para referir apenas as características mais frequentes, que compõem relevantes pontos de referência em Anatomia, Radiologia, Ortopedia e Antropologia Física. As seguir há exemplos de características anatômicas da superfície dos ossos: • O forame (do latim foramine = orifício) é uma abertura por meio da qual passam artérias ou nervos, como o forame magno do osso occipital. • A fossa (do latim fossa = fenda, trincheira) é uma depressão rasa sobre um osso, como a fossa cerebelar do osso occipital. • O côndilo (do grego Kondylo = elevação arredondada) é uma proeminência grande e arredondada que constitui uma união, como os côndilos medial e lateral do fêmur. • A cabeça é uma projeção arredondada que compõe uma união e é sustentada na constrição (colo) do osso, como a cabeça do úmero). • A tuberosidade é uma projeção grande e arredondada, frequentemente com uma superfície áspera, como a tuberosidade da tíbia. • A espinha é uma projeção aguda e delgada, oriunda da face de um osso, como a espinha da escápula. • A crista é uma margem ou borda proeminente, comumente rugosa, como a crista ilíaca do quadril. • A incisura é uma chanfradura ou entalhe em uma margem óssea, como a incisura da mandíbula. Gilberto Realce 98 Unidade II Forame magno Fossa cerebelar Figura 96 – Forame magno Figura 97 – Fossa cerebelar Côndilo Cabeça Figura 98 – Côndilo do fêmur Figura 99 – Cabeça do úmero Tuberosidade Figura 100 – Tuberosidade da tíbia Espinha Crista Figura 101 – Espinha da escápula Figura 102 – Crista ilíaca 99 ANATOMIA Incisura Figura 103 – Incisura da mandíbula Exemplo de aplicação Vamos conhecer mais sobre os detalhes ósseos? Leia a obra a seguir: ALVES, N.; CÂNDIDO, P. L. Anatomia para o curso de Odontologia Geral e Específica. 4. ed. São Paulo: Grupo Gen, 2016. Veja, nas páginas 17 até 39, os ossos que formam as cinturas (escapular e pélvica) e os ossos dos esqueletos apendicular e axial. Utilize o livro indicado, papel vegetal, lápis Hb2, lápis para colorir e caneta Stabilo e elabore pranchas de Anatomia, apontando os detalhes anatômicos de cada osso. Certamente tal tarefa irá enriquecer os seus conhecimentos e facilitará o entendimento dos demais conteúdos relacionados ao aparelho locomotor. 5.1.8 Fatores de variação anatômica no número de ossos Existem 206 ossos no indivíduo adulto médio e normal, excluindo-se os ossos sesamoides e os ossículos da audição, na orelha média, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 104 – Ossículos da audição: martelo, bigorna e estribo (da esquerda para a direita) O número de peças ósseas varia com a idade, havendo maior número no recém-nascido do que na idade avançada. Por exemplo, no crânio de uma criança permanecem duas peças ósseas paramedianas ou hemifrontais que, com a sinostose da sutura metópica, conforme ilustra a figura a seguir, comporão o osso frontal, enquanto na idade avançada, com a sinostose de todas as suturas, tornam o crânio uma esfera óssea. Gilberto Realce 100 Unidade II Figura 105 – Norma anterior do osso frontal: sutura metópica e parte anterior da fontanela anterior Saiba mais Leia o tópico “Crescimento ósseo” nas páginas 176-178 da obra a seguir: VANPUTTE, C. L. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. São Paulo: AMGH, 2016. Após esse estudo você estará apto a compreender o crescimento ósseo em comprimento e largura, assim como a cartilagem articular. Além disso, entenderá os fatores que afetam o crescimento ósseo, como a nutrição e os hormônios. Leia também, na página 191 da obra a seguir, a respeito de como o exercício e o estresse mecânico afetam o tecido ósseo: TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 5.1.9 Divisão do esqueleto Como visto anteriormente, o esqueleto humano adulto consiste em 206 ossos, a maioria deles pares, com um membro de cada par nos lados direito e esquerdo do corpo. Vimos que há fatoresde variação no número de ossos. Assim, os esqueletos de recém-nascidos, lactentes e crianças apresentam mais de 206 ossos porque alguns deles se unem mais tarde na vida. Como exemplos, podemos citar os ossos do quadril e alguns da parte final da coluna vertebral, o sacro e o cóccix. 101 ANATOMIA Os ossos do esqueleto adulto estão agrupados em três divisões principais: o esqueleto axial, o esqueleto apendicular e as cinturas escapular e pélvica. O esqueleto axial apresenta 80 ossos; o esqueleto apendicular, 126 ossos. A figura a seguir mostra como as duas divisões se unem para compor o esqueleto completo. O esqueleto axial consiste em ossos em torno do eixo longitudinal do corpo humano, descrevendo uma linha vertical imaginária que atravessa o centro de gravidade do corpo, indo da cabeça até o espaço entre os pés. Portanto, o esqueleto axial é composto de ossos do crânio, o hioide, as costelas, o esterno e os ossos da coluna vertebral. Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos dos membros superiores e inferiores. Os ossos que compõem as cinturas unem os membros ao esqueleto axial. Portanto, a cintura escapular une os membros superiores ao esqueleto axial, enquanto a cintura pélvica liga os membros inferiores ao esqueleto axial. Figura 106 – Visão geral do esqueleto humano Observação Funcionalmente, os ossículos da audição na orelha média, que vibram em resposta às ondas sonoras, atingindo ao tímpano, não integram o esqueleto axial nem o apendicular, porém são agrupados com o esqueleto axial por conveniência. Lembrete O esqueleto humano adulto consiste em 206 ossos, podendo ser dividido em esqueletos axial e apendicular, além das cinturas escapular e pélvica. Gilberto Realce Gilberto Realce 102 Unidade II 5.1.10 O esqueleto da cabeça O esqueleto da cabeça ou esqueleto cefálico abrange os ossos do crânio e os ossos da face ou viscerocrânio. Consiste, portanto, em uma sequência de ossos que na sua maioria estão unidos entre si por articulações imóveis, com exceção realizada apenas para a mandíbula, que se articula com o osso temporal pela articulação sinovial, a articulação temporomandibular. Lembrete O esqueleto da cabeça ou esqueleto cefálico é composto de 22 ossos divididos em duas partes: o neurocrânio e os ossos da face. O neurocrânio envolve os ossos relacionados com a proteção dos órgãos do sistema nervoso central. Ele é formado pelos seguintes ossos: frontal, temporal, etmoide, esfenoide, parietal e occipital. Os ossos da face estão relacionados com os órgãos dos sentidos: o paladar, a visão e o olfato. Além disso, eles ancoram os músculos da expressão facial e são formados pelos seguintes ossos: maxilas, mandíbula, palatinos, vômer, nasais, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores. Com exceção à mandíbula, os demais ossos da face se articulam com as maxilas, que servem de implantação dos dentes superiores. É relevante examinar a “geografia” básica do esqueleto da cabeça antes de descrever os seus ossos individualmente. Com a mandíbula retirada, o esqueleto da cabeça equipara-se a uma esfera óssea desigual e vazia. Portanto, veremos que os ossos da face compõem sua norma anterior e o neurocrânio constitui o resto do esqueleto da cabeça. O neurocrânio pode ser dividido em calota craniana e base do crânio. A calota craniana, também chamada de calvária, compõe as normas superior, lateral e posterior do esqueleto da cabeça, assim como a região da fronte. A base do crânio, ou soalho, constitui a norma inferior do esqueleto da cabeça. Internamente, detalhes ósseos proeminentes dividem a base do crânio em três “andares” ou fossas: as fossas anterior, média e posterior do esqueleto da cabeça. O encéfalo aloja-se plenamente nessas fossas, sendo envolvido pela calota craniana. Dessa maneira, o encéfalo preenche a cavidade craniana. Além da grande cavidade craniana, o esqueleto da cabeça apresenta diversas outras. Entre elas estão as cavidades da orelha média e da orelha interna, entalhadas na norma lateral da base do crânio e, anteriormente, a cavidade nasal e as órbitas. As órbitas abrigam os globos oculares. Exemplo de aplicação Enquanto você lê sobre os ossos do esqueleto da cabeça, identifique, com o auxílio de um atlas de Anatomia, cada um deles nas diferentes normas, conforme ilustram as figuras a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 103 ANATOMIA A B Figura 107 – Esqueleto da cabeça: normas anterior (A) e lateral (B) A B Figura 108 – Esqueleto da cabeça: normas posterior (A) e inferior (B) A B Figura 109 – Esqueleto da cabeça: norma superior da base do crânio (A) e da calvária (B) 104 Unidade II 5.1.10.1 Os ossos do neurocrânio Veremos agora algumas informações sobre os ossos do neurocrânio: • O osso frontal é plano, anterior, ímpar e mediano da calvária. • O osso occipital é plano, inferior, posterior, mediano, pertencente à base do crânio, perfurado por uma abertura ampla e oval, o forame magno, por meio do qual a cavidade craniana comunica-se com o canal vertebral. • O osso esfenoide é irregular, ímpar, mediano e situa-se na base do crânio anteriormente aos temporais e à parte basilar do osso occipital. • O osso etmoide é leve, esponjoso, irregular, ímpar, inferior e situa-se na base do crânio. • O osso parietal é plano, par e compõe o teto do crânio. • O osso temporal é irregular, par e muito complexo. Possui três partes: a escamosa, a petrosa e a timpânica. A parte petrosa abrange o órgão vestibulococlear e a cavidade timpânica que contém os três ossículos da audição. 5.1.10.2 Os ossos da face Veremos agora algumas informações sobre os ossos da face: • O osso zigomático, frequentemente referido como “maçã do rosto”, forma parte da parede lateral e assoalho da órbita. É par e irregular. • O osso nasal é um pequeno osso retangular que forma, com o nasal do lado oposto, o dorso do nariz. • A maxila é um osso plano, anterior e irregular. Forma quatro cavidades: o teto da cavidade oral, o soalho e a parede lateral do nariz, o soalho da órbita e o seio maxilar. Possui os alvéolos dentários para abrigar os dentes superiores. • O osso lacrimal é pequeno, aproximadamente, retangular, situado na parte medial da órbita. É o menor e mais frágil osso da face. • O osso palatino é irregular, localizado posteriormente à maxila. Forma a parte posterior do palato duro, parte do soalho e parede lateral da cavidade nasal e o soalho da órbita. • O vômer é ímpar, plano, de formato trapezoidal. Forma as partes posteriores e inferiores do septo nasal. Gilberto Realce Gilberto Realce 105 ANATOMIA • A concha nasal inferior é um pequeno osso com o formato de uma placa delgada e alongada e com margens curvas. Situa-se ao longo da parede lateral da cavidade nasal, separando os meatos nasais médio e inferior. É a única concha nasal independente, pois as outras conchas, a superior e a média, pertencem ao etmoide. • A mandíbula, conforme ilustra a figura a seguir, é um osso ímpar, móvel da cabeça, o maior e mais forte da face, onde tem situação anteroinferior. Apresenta o formato de uma ferradura e contém os alvéolos dentários para abrigar os dentes inferiores. Figura 110 – A mandíbula 5.1.10.3 Os ossos do esqueleto da cabeça em conjunto 5.1.10.3.1 A cefalometria Por meio da cefalometria, ou mensuração da cabeça permite-nos reconhecer crânios microcéfalos, mesocéfalos e macrocéfalos, ou seja, pequenos, médios e grandes. Quando as dimensões são extrapoladas, esses tipos são ditos patológicos, como o crânio hidrocéfalo, que possui descomunal hidrocefalia. Observação Hidrocefalia é o acúmulo do líquor nas cavidades encefálicas, causando aumento na pressão intracraniana sobre o cérebro, o que pode levar a lesões no tecido cerebral, bem como ao aumento do crânio. 5.1.10.3.2 O esqueleto da cabeça do RN: espaços suturais e fontanelas As principais variações do esqueleto da cabeça do recém-nascido (RN) em relação ao adultoresidem na falta dos seios paranasais, por exemplo, dos ossos esfenoide e frontal. As margens dos ossos da calvária no feto de termo estão espaçadas, mas unidas por suturas membranáceas, que possibilitam a diminuição de volume da cabeça fetal, muito relevante para a passagem pela vagina e vulva, durante o parto normal. 106 Unidade II Ao nível dos ângulos dos ossos, sem ter ocorrido ainda a ossificação, deparam-se as fontanelas do esqueleto da cabeça, a saber: as fontanelas medianas (anterior e a posterior) e as fontanelas laterais (anterolateral ou esfenoidal e a posterolateral ou mastóidea). À medida que a ossificação toma as áreas membranáceas, as reduzem de dimensões até sumir. A última fontanela a realizá-la é a fontanela anterior, que desaparece entre o 2º e o 3º anos de vida, conforme ilustram as figuras a seguir: Figura 111 – Diferentes vistas das fontanelas em crânio desarticulado e reconstruído Figura 112 – Norma superior: fontanela anterior Figura 113 – Norma lateral: fontanela anterolateral e posterolateral 107 ANATOMIA Figura 114 – Norma posterior: fontanela posterior 5.1.10.3.3 O esqueleto da cabeça nos indivíduos senis Nos indivíduos senis, a elasticidade do esqueleto da cabeça reduz e as suturas somem, por sinostoses, após os 40 anos de idade, conforme ilustra a figura a seguir. Segue uma relação de algumas suturas e do início de sua calcificação: por volta dos 22 anos de idade, a sutura sagital e a sutura esfenofrontal; dos 24 anos de idade, a sutura coronal; dos 26 anos de idade, a sutura lambdoide e a sutura occipitomastóidea; dos 30 anos de idade, a sutura parietomastóidea; e dos 37 anos de idade, a sutura temporoparietal. O fechamento começa a acontecer vagarosamente, e vai sofrer um surto na idade avançada. Tende a completar-se após os 80 anos de idade. Figura 115 – Sinostose da sutura coronal. Vista lateral do crânio 5.1.10.3.4 O esqueleto da cabeça e o dimorfismo sexual Os caracteres mais dimórficos e usuais do crânio são o tamanho geral do crânio (maior nos homens do que nas mulheres), os processos mastoides (maiores e mais desenvolvidos nos homens do que nas mulheres), os arcos superciliares (muito marcados nos homens e pouco nas mulheres), o túber frontal (bem marcado nas mulheres e pouco nos homens), a protuberância occipital externa (relevo muito marcado nos homens e pouco nas mulheres) e a mandíbula (maior e mais quadrangular nos homens do que nas mulheres). Veja as figuras: Gilberto Realce Gilberto Realce 108 Unidade II A B Arco superciliar Forma quadrangular Túber frontal Margem supraorbital Forma arredondada Protuberância occipital externa Processo mastóideo Protuberância occipital externa Crista supramastóideo Arco superciliar Figura 116 – A) Comparação genérica de algumas características anatômicas cranianas entre indivíduos do sexo masculino e feminino, norma anterior; B) Comparação genérica de algumas características anatômicas cranianas entre indivíduos do sexo masculino e feminino, norma lateral Saiba mais O processo de identificação, a partir de exames periciais, do segmento cefálico ou de partes dele tem sido de significante relevância para o esclarecimento de fatos de interesse jurídico-social. Uma tentativa de observar o dimorfismo sexual e estimar a idade consiste em examinar os crânios secos. Faça uma leitura do artigo científico a seguir: ALMEIDA JUNIOR, E. de. et al. Estimativa do sexo e idade por meio de mensurações cranianas. Revista Bahiana de Odontologia, v. 6, n. 2, 2015. Disponível em: <https://www5.bahiana.edu.br/index.php/odontologia/ article/view/672>. Acesso em: 29 abr. 2018. Exemplo de aplicação Para conhecer mais sobre os ossos do crânio, leia: LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Leia as páginas 34 até 41, sobre os ossos do crânio. Utilize o livro indicado, papel vegetal, lápis Hb2, lápis para colorir e caneta Stabilo para elaborar pranchas de Anatomia, apontando os detalhes 109 ANATOMIA anatômicos de cada osso. Com esse exercício você memorizará com maior facilidade os detalhes anatômicos dos ossos do neurocrânio e da face. Lembrete Os ossos do neurocrânio são: o frontal, o etmoide, o esfenoide, os parietais, os temporais e o occipital. Os ossos da face são: as maxilas, a mandíbula, os palatinos, os nasais, os lacrimais, as conchas nasais inferiores, os zigomáticos e o vômer. 5.1.11 O esqueleto do pescoço Partiremos agora para os ossos do esqueleto do pescoço. Ele é composto das vértebras cervicais (ver coluna vertebral) e, do ponto de vista topográfico, do hioide. O hioide é um osso ímpar, mediano e sesamoide que faz parte de um conjunto de estruturas anatômicas e une a base do crânio ao esqueleto do pescoço. Está localizado na parte anterossuperior do pescoço, superiormente à laringe e posteroinferiormente à mandíbula. Apresenta como papel oferecer suporte para a língua, fornecendo locais de fixação para os músculos da língua, do pescoço e da faringe, fazendo dele um elemento relevante nas ações de mastigação e no ato de engolir. O hioide é um osso móvel e não se articula com mais nenhum outro. 5.1.12 O esqueleto do tronco Veremos agora o esqueleto do tronco. Ele, conforme ilustra a figura a seguir, abrange o tórax, as vértebras lombares, as vértebras sacrais, as vértebras coccígeas e a pelve óssea. O tórax é a parte do organismo localizada no tronco, entre o pescoço e o abdome, exatamente entre a abertura superior do tórax e o diafragma. Seu formato abobadado possibilita grande rigidez, tendo em vista o pouco peso de seus constituintes, e propicia: • proteger os órgãos internos torácicos e abdominais, sendo que a maioria deles é cheia de ar ou líquido contra as forças externas; • resistir às pressões internas negativas produzidas pela retração elástica dos pulmões e pelos movimentos inspiratórios; • oferecer fixação para os membros superiores e sustentar a sua massa; • proporcionar a fixação de diversos músculos que movem e sustentam a posição dos membros superiores em relação ao tronco, além de possibilitar fixação para os músculos do abdome, do pescoço, do dorso e da respiração. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 110 Unidade II O formato do tórax depende da idade, do sexo e do biótipo. O tórax do feto é mais desenvolvido sagital do que transversalmente, em virtude ao maior desenvolvimento do coração, do timo e dos órgãos abdominais do que dos pulmões. Aos 18 anos de idade, o tórax assume seu formato definitivo, prosseguindo a crescer até 35 anos de idade no sexo masculino e 25 anos de idade no sexo feminino. No indivíduo senil, as costelas e as cartilagens costais perdem a flexibilidade e as articulações sofrem anquilose, conduzindo o tórax a perder a elasticidade e a mobilidade. Com a ampliação da coluna vertebral, as costelas ficam mais próximas umas das outras. O tórax masculino é mais largo do que o feminino, com a máxima largura ao nível da VIII costela, com pequeno aperto inferior. O tórax feminino é mais curto e arredondado, com maior aperto inferior do que o masculino. No indivíduo longilíneo, cujo crescimento é mais dinâmico e leva a um maior desenvolvimento em altura, o tórax é longo e estreito, enquanto no indivíduo brevilíneo, cujo desenvolvimento transversal prevalece sobre o vertical, o tórax é mais curto e largo. Crânio Sacro Cóccix Costelas Esterno Vértebras lombares Figura 117 – Esqueleto do tórax 5.1.12.1 O esterno O esterno, conforme ilustra a figura a seguir, é um osso plano com aproximadamente 15 centímetros de extensão, mediano, ímpar, localizado medianamente na parede anterior do tórax. É um relevante osso hematocitopoietico. O esterno articula-se com as clavículas e as cartilagens das sete primeiras costelas. Possui três partes: o manúbrio do esterno, o corpo do esterno e o processo xifoide. Gilberto Realce Gilberto Realce 111 ANATOMIA Figura 118 – O esterno 5.1.12.2 As costelas Entãoo Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão (Gênesis 2: 21,22). Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada (Gênesis 2: 23). A mulher foi tirada do lado de Adão, isto é, da sua costela, ela não foi tirada da cabeça, pois não é sua função dominá-la; nem de seus pés, pois não foi criada para ser pisada por ele (Gênesis 2: 21,22). A Bíblia nos relata o momento em que Deus criou a primeira mulher: Eva. Na realidade essa passagem bíblica é apenas uma metáfora, pois tanto os homens como as mulheres possuem 12 pares de costelas que protegem o coração, os pulmões, o fígado e o baço. Entretanto, na Medicina, diversas são as indicações cirúrgicas que retiram costelas com objetivos terapêuticos e reparadores. Em cirurgia torácica, deformidades relevantes do tórax, como o pectus excavatum e o pectus carinatum, são reparados com a retirada parcial das cartilagens costais e o reposicionamento do esterno. Também não é incomum a necessidade de retirada de costelas após traumatismos torácicos ou em toracotomias muito extensas. De natureza igual, a retirada de costelas tem sido uma indicação frequente em cirurgia plástica para usá-las como enxerto em processos reparadores de orelhas, nariz e outras cirurgias craniomaxilofaciais. Parece existir uma bruma em torno desse processo, pois, ao que parece, diversas celebridades sujeitam-se a essa cirurgia, sem, conquanto, assumirem tal fato. Isso já é considerável para que exista uma agitação nos meios de difusão de informação e a existência de diversas candidatas a sua realização, procurando conquistar um corpo visto como “perfeito” pela sociedade, pondo em risco sua plenitude física e emocional. 112 Unidade II Sabemos agora que as costelas são em número de 12 pares, tanto em indivíduos do sexo masculino como do sexo feminino. Elas têm formato de semiarcos, conforme ilustra a figura a seguir, unindo as vértebras torácicas ao esterno. As costelas são classificadas em: costelas verdadeiras, I-VII (articulam-se diretamente ao esterno por intermédio das cartilagens costais); costelas falsas, VIII-X (articulam-se indiretamente com o esterno, unindo-se suas cartilagens costais umas às outras); e por fim as costelas flutuantes, costelas XI e XII (são curtas e livres e protegem o fígado e o estômago). Figura 119 – As costelas Logo abaixo do arco costal direito é possível palpar o fígado, durante a inspiração. Abaixo do arco costal esquerdo situa-se o estômago, não palpável, e o baço, que pode ser palpado no lado esquerdo, especialmente quando possui um aumento patológico. Uma costela típica apresenta a cabeça, o colo e o corpo. Com exceção das costelas I, XI, e XII, as outras podem ser consideradas costelas típicas, embora a VIII, a IX e a X sejam mais curtas e cooperem para constituir a margem costal. A primeira costela é a mais curta entre as costelas verdadeiras. Além disso, ela é mais larga e plana do que as outras, localizando-se sob a clavícula anteriormente, o que dificulta sua palpação. A artéria subclávia e a veia subclávia sulcam na face posterior. Observação Excepcionalmente, pode existir uma costela cervical e uma costela lombar, as quais são consideradas costelas supranumerárias, geralmente conectadas com a C7 e a L1, concomitantemente. 5.1.13 A coluna vertebral Estudaremos agora a coluna vertebral, ilustrada na figura a seguir. Ela oferece um suporte axial para o tronco. A coluna vertebral estende-se desde o crânio até a pelve, onde o peso do tronco é transmitido aos membros inferiores. Outra função dela consiste em proteger a medula espinal, provendo ainda pontos de fixação para as costelas e para os músculos do dorso e do pescoço. No feto e na criança, a coluna vertebral consiste de 33 ossos separados, ou vértebras. Inferiormente, nove vértebras se fundem Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 113 ANATOMIA para compor dois ossos, o sacro e o cóccix. Os 24 ossos restantes permanecem como vértebras individuais separadas por discos intervertebrais. Figura 120 – Arranjo anatômico geral da coluna vertebral em vistas anterior, lateral e posterior, respectivamente Observação Herófilo, e depois Vesalius, chamaram assim o cóccix por sua semelhança, em conjunto, com o formato do bico do pássaro cuco. Jean Riolan dá outra explicação: declara que na emissão de gases pelo ânus, o som “ecoa” no cóccix, o osso do “apito”. Curiosamente, devido do costume do cuco fêmea em se apoderar dos ovos de outros pássaros e chocá-los como seus, os gregos antigos utilizavam a palavra Kókkys como termo grosseiro às mulheres adúlteras. 5.1.13.1 Regiões e curvaturas A coluna vertebral mede aproximadamente 70 centímetros em um adulto, sendo responsável por dois quintos da massa corporal total e possui cinco regiões principais. São sete vértebras cervicais, 12 vértebras torácicas, cinco vértebras lombares, cinco sacrais e três a cinco vértebras coccígeas. Quando a coluna vertebral é vista lateralmente, se observam as quatro curvaturas, conforme ilustra a figura a seguir, responsáveis por seu formato sinuoso. As curvaturas cervical e lombar são côncavas posteriormente; as curvaturas torácica e sacral são convexas posteriormente. Essas Gilberto Realce Gilberto Realce 114 Unidade II curvaturas aumentam a elasticidade e a flexibilidade da coluna, possibilitando que ela trabalhe de maneira mais semelhante a uma mola do que a uma haste rija. Lembrete Curvaturas convexas na vista posterior são chamadas cifoses, e na vista anterior, lordoses. Normal NormalHipercitose Hiperlordose Escoliose Figura 121 – Curvaturas da coluna vertebral A cifose é uma curvatura normal da coluna vertebral localizada na região torácica, presente em todos os indivíduos. A hipercifose é uma modificação nessa região da coluna vertebral que leva a um aumento da cifose normal, deixando os ombros projetados para frente e o dorso arredondado. A curvatura normal da região lombar é uma curvatura anterior chamada de lordose. Em caso de uma curvatura excessiva dessa região, dizemos então que se trata de uma hiperlordose. A escoliose é uma condição em que a coluna vertebral do indivíduo apresenta uma deformação lateral em forma de curva. A curva, em geral, tem um formato em “S” ou “C”. 5.1.13.2 Elementos das vértebras As estruturas anatômicas encontradas em quase todas as vértebras, exceto em C1 e C2, servem como meio de diferenciação destas com os demais ossos do esqueleto. Todas as vértebras têm sete elementos fundamentais: o corpo vertebral, o processo espinhoso, o processo transverso, os processos articulares, as lâminas, os pedículos e o forame vertebral. A C7 possui um processo espinhoso longo e proeminente, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 115 ANATOMIA Processo articular superior Processo articular inferior Processo transverso Processo espinhosoLâmina Arco vertebral Corpo vertebral Pedículo Figura 122 – Vista posterossuperior esquerda. Com exceção de C1 e C2, todas as vértebras são formadas pelos mesmos elementos estruturais Na idade avançada acontece especialmente em mulheres uma redução de massa óssea chamada de osteoporose. A desmineralização e a diminuição do número de trabéculas ósseas reduzem a resistência dos corpos vertebrais que podem de tal modo sofrer fraturas, mesmo na falta de traumas. Algumas das causas da osteoporose são a falta de estrógenos, dependente da idade, e uma alimentação pobre em vitamina D e cálcio. As características regionais possibilitam a diferenciação das vértebras pertencentes a cada região, conforme ilustra a figura a seguir. Diversos são os elementos de distinção. As vértebras cervicais apresentam um corpo pequeno. Geralmente possuem o processo espinhoso bífidoe horizontalizado, e os seus processos transversos têm os forames transversários que permitem a passagem da artéria vertebral. Nas vértebras torácicas o processo espinhoso não é bifurcado, se apresenta descendente e pontiagudo. As vértebras torácicas se articulam com as costelas, sendo que as superfícies articulares dessas vértebras são chamadas de fóveas e hemifóveas. As fóveas podem estar situadas no corpo vertebral, no pedículo ou nos processos transversos. O forame vertebral tem o formato circular. Nas vértebras lombares os corpos vertebrais são maiores, pois suportam a massa corporal. O processo espinhoso é quadrilátero, além de estar disposto em posição horizontal. Apresenta o forame vertebral em formato triangular e os processos mamilares. Possui o processo transverso bem desenvolvido, chamado de apêndice costiforme. Pode ser distinguido também por não possuir forame no processo transverso e nem a fóvea costal. As vértebras consideradas atípicas são C1, ou atlas, e C2, ou áxis, ou ainda epistrofeu. C1 C2 Cervical Torácica Lombar Figura 123 – Características regionais das vértebras Gilberto Realce 116 Unidade II Lembrete C1 não possui corpo vertebral, nem processo espinhoso. Atlas, representado na figura a seguir, foi um gigante mitológico de força cavalar, filho de Iápeto e Clímene, que após a derrota dos Titãs para os Deuses foi condenado por Júpiter a amparar o mundo nos ombros. É essa imagem do Titã que é relizada por vários escultores. Chama-se atlas a vértebra C1, por analogia, já que ela sustenta a cabeça. Figura 124 – Atlas, em Viena, Áustria A C1 apresenta como a principal distinção dela para as outras vértebras o fato de não ter corpo vertebral. Além disso, essa vértebra possui outras estruturas: o arco anterior do atlas, que constitui aproximadamente 1/5 do anel; o tubérculo anterior; a fóvea do dente, que se articula com o processo odontoide; o arco posterior do atlas, que constitui aproximadamente 2/5 do anel; e o tubérculo posterior. A C2 apresenta um processo ósseo forte chamado de processo odontoide. O sacro tem o formato de uma pirâmide quadrangular com a base voltada para cima e o ápice para baixo. Articula-se superiormente com L5 e inferiormente com o cóccix. Ele é diferente conforme o sexo. Nas mulheres o sacro é mais largo e curto do que nos homens e tem uma curva mais pronunciada, possivelmente relacionada com a forma do restante da pelve óssea feminina, adequada para a gestação. 5.1.13.3 Os discos intervertebrais Os 23 discos intervertebrais conectam os corpos vertebrais vizinhos. A defasagem entre o número de vértebras e o número de discos intervertebrais deriva do fato de que os ossos das regiões sacral e coccígea não possuem disco intervertebral entre si e que C1 e C2 são conectadas através de articulações sinoviais. Gilberto Realce 117 ANATOMIA Lembrete As articulações da cabeça não apresentam discos intervertebrais. A falta dos discos entre o osso occipital, a C1 e a C2 possibilita a grande movimentação dessa região. Os discos intervertebrais consistem em um anel fibroso externo que envolve um núcleo pulposo interno. A pressão sobre o disco intervertebral gera uma expansão do núcleo pulposo, em todas as direções, uma vez que é abundante a presença de água e o disco não pode ser comprimido. Essa expansão determina uma força de tração no anel fibroso. Portanto, o disco intervertebral desempenha um papel de “almofada aquosa”. O esforço de compressão diário motiva uma diminuição reversível de água do núcleo pulposo, que implica a redução da altura dos discos intervertebrais e da estatura do corpo. Com a descompressão acontece uma reidratação, induzindo nutrientes ao disco intervertebral. Entretanto, os vasos de sangue estão presentes apenas nas camadas mais externas do anel fibroso. A figura a seguir mostra que diversas atividades esportivas, como pular corda, saltos de trampolim ou jogging, levam a um aumento considerável da carga que age sobre a coluna vertebral. Saltos leves sobre um trampolim provocam uma pressão máxima de 240%; saltos altos, uma carga de 380%. Pular corda sem grande esforço resulta em uma carga de 240%. Jogging realizado com sapatos apropriados eleva a carga para valores de 170%, um dos motivos pelos quais indivíduos com artrose avançada de joelho deveriam evitar esse tipo de carga. Citamos também que valores consideravelmente mais altos com cargas dinâmicas estão presentes. Por esse motivo, durante cargas esportivas, como no levantamento de peso, deve-se prestar atenção para que a realização do movimento seja efetuada com a técnica apropriada, uma vez que ela leva a uma melhor distribuição de cargas na região dos discos intervertebrais. Em pé Deslizando sobre bolas suíças Praticando jogging Saltando do trampolim Pulando corda Apoiando sobre quatro apoios Com as costas arqueadas Com acentuação da lordose lombar 0% 50% 100% 150% 200% 250% Momento de curvatura Pressão intradiscal Figura 125 – Pressão intradiscal e momentos de curvatura nos fixadores vertebrais para diferentes atividades esportivas relacionados aos valores na posição em pé Gilberto Realce Gilberto Realce 118 Unidade II Lembrete Os discos intervertebrais representam um tecido com redução do metabolismo e mínima aptidão regenerativa. A herniação do núcleo pulposo para dentro do anel fibroso ou através dele é uma causa comum de lombalgia e, muitas vezes, é chamada de ruptura ou deslizamento do disco intervertebral. Atividade física, como os alongamentos, descomprime os discos e aumenta a circulação de sangue geral, o que acelera a captação de O2 e de nutrientes pelos discos e a retirada de metabólitos. Observação Uma musculatura abdominal e lombar forte protege a coluna vertebral e é capaz de fazer com que o disco intervertebral seja predominantemente submetido à pressão. 5.1.13.4 Variações no número das vértebras A maioria dos indivíduos apresenta 33 vértebras, porém alguns podem ter 32 ou 34 vértebras em razão de erros no desenvolvimento. As estimativas da frequência de números anormais das vértebras acima do sacro alteram entre 5% e 12%. As variações das vértebras são afetadas por diversos fatores de variação anatômica, como a raça e o sexo, e ambientais. O aumento do número de vértebras é mais comum em homens e a diminuição do número é mais habitual em mulheres. Algumas raças expõem maior variação do número de vértebras. As variações do número de vértebras podem ser clinicamente relevantes. 5.1.14 A cintura escapular Veremos agora a cintura escapular, composta de escápula e clavícula, conforme ilustram as figuras a seguir. A clavícula é um osso par que compõe parte da cintura escapular. Ela é um osso alongado, ou seja, que embora comprido, nem sempre apresenta cavidade medular, conforme estudamos na classificação da morfologia óssea. Portanto, não é um osso longo típico por não possuir todos os atributos indispensáveis para assim ser contemplada. A clavícula tem o formato curvado como um “S” itálico e se localiza quase que horizontalmente logo acima da I costela. A escápula é um osso par, plano e triangular, que articula-se com dois ossos: o úmero e a clavícula. Observação O nome escápula provém de uma palavra que significa “pá”, pois em culturas antepassadas as escápulas de animais eram usadas como pás. Gilberto Realce 119 ANATOMIA Figura 126 – A escápula Figura 127 – A clavícula 5.1.15 O membro superior Estudaremos agora os ossos dos membros superiores. Os membros superiores dos seres humanos, ao passar da posição quadrúpede para a bípede, reduziu sua função de locomoção, porém ganhou mobilidade e preensão. Os ossos dos membros superiores podem ser divididos em três segmentos: o braço, o antebraço e as mãos. O úmero, localizado no braço, é o maior e mais longo osso do membro superior. Dois ossos longos paralelos, o rádio e a ulna, compõem o esqueleto do antebraço. Na posição anatômica, o rádio situa-se lateralmente e a ulna medialmente.Veja as figuras a seguir: Figura 128 – O úmero Figura 129 – O rádio 120 Unidade II Figura 130 – A ulna Observação Algumas vezes é pertinente utilizar algum recurso que auxilie a lembrar de um novo dado. Tal ajuda é chamada de dispositivo mnemônico, ou, mais facilmente, “ativador da memória”. Para auxiliá-lo a lembrar da localização da ulna em relação à mão, um mnemônico pode ser m.u. (o “mindinho” está no lado da ulna), ou, ainda, o polegar é a “antena” do rádio. A mão preênsil representa, em companhia com o encéfalo e a laringe, o seu comprometimento na capacidade da fala, um “órgão cultural” imprescindível para a evolução dos homens. É consenso que a evolução da mão, até atingir a aptidão de produção de ferramentas, aconteceu anteriormente ao avanço da fala. De qualquer maneira, a mão apresenta um papel relevante na comunicação não verbal, ou guiando a palavra proferida ou, ainda, como parte da linguagem corporal. As funções preênsil e tátil da mão são fundamentais e carecem das articulações dos dedos, com o polegar exibindo uma movimentação extraordinária e podendo ostentar uma posição de oposição em relação aos quatro outros dedos. Os papéis das articulações das mãos são inerentes no uso e no posicionamento adequado das mãos em relação ao antebraço. Para que os dedos ajam em afazeres mais concisos, manuseando artefatos pequenos, na escala de milímetros, os dedos têm que ser finos: não apresentam músculos e são movidos por longos tendões dos músculos do antebraço e, ainda, dos músculos intrínsecos da mão. Coligado à visão, os humanos podem utilizar o sentido tátil da mão para o reconhecimento de um espaço tridimensional e de seus artefatos. A relevância da mão procedeu no uso da expressão “palpar” também para o entendimento de processos abstratos. A mão se divide em carpo, metacarpo e ossos dos dedos, conforme ilustra a figura a seguir. O carpo é formado por oito ossos dispostos em duas fileiras: proximal e distal. A fileira proximal de lateral para medial inclui o escafoide, o semilunar, o piramidal e o pisiforme. A fileira distal de lateral para medial inclui o trapézio, o trapezoide, o capitato e o hamato. O metacarpo é composto de cinco ossos, que são numerados de lateral para medial em I, II, III, IV e V metacarpos e obedecem aos dedos da mão. Eles são classificados como ossos longos. Entre os ossos do metacarpo há os espaços interósseos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 121 ANATOMIA Os cinco dedos da mão de lateral para medial são: o polegar (I), o dedo indicador (II), o dedo médio (III), o dedo anular (IV) e o dedo mínimo (V). Apresentam 14 falanges, cada uma com uma base, um corpo e uma cabeça. Elas são classificadas como ossos longos. Os dedos de II a V apresentam três falanges: proximal, média e distal. O dedo I possui duas falanges: proximal e distal. Rádio UlnaUlna Escafoide Trapézio Tubérculo do escafoide Tubérculo do rapezoide Trapezoide Processo estiloide do rádio Processo estiloide da ulna Semilunar Piramidal Pisiforme Hamato Hâmulo do osso hamato Osso do metacarpo Capitato Figura 131 – A mão Observação Para memorizar os ossos do carpo (de proximal para distal e de lateral para medial): “Um barco (escafoide) viajou a luz do luar (semilunar) em torno da pirâmide (piramidal) e pela plantação de ervilhas (pisiforme). O grande trapézio (trapézio), o trapézio pequeno (trapezoide) e a grande cabeça (capitato) têm que permanecer junto ao gancho (hamato)”. 5.1.16 A cintura pélvica Abordaremos agora a cintura escapular. Ao assumir a marcha ereta, e em similaridade à coluna vertebral, a pelve humana possui grandes desigualdades funcionais, em comparação à dos quadrúpedes. Ela é extraordinariamente maciça, em comparação à pelve de quadrúpedes, uma vez que ampara grande parte da massa corporal, exceto dos membros inferiores. Na posição ereta, o peso das vísceras abdominais e das vísceras pélvicas é empregado especialmente sobre a pelve. A cintura pélvica, do latim pelvis (bacia), é formada pelos ossos do quadril, que se articulam entre si, pelas vértebras coccígeas e pelo sacro. O osso do quadril, conforme ilustra a figura a seguir, é classificado morfologicamente em plano ou irregular. A sua constituição inclui três ossos isolados: o ílio, o ísquio e o púbis. Nos seres humanos, até à puberdade, as três peças ósseas que compõem o osso do quadril continuam conectadas umas às outras por cartilagem; a partir desse período acontece a ossificação da cartilagem, e o osso do quadril passa a ser único, apesar de permanecerem as nomeações das peças ósseas que o formam originalmente. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 122 Unidade II Figura 132 – O osso do quadril O estreito superior da pelve, ao nível das linhas arqueadas, a divide numa parte superior, a pelve maior ou falsa, e outra parte inferior, a pelve menor ou verdadeira. A pelve maior aloja os órgãos abdominais, enquanto a menor acomoda os órgãos do sistema genital e o final do sistema digestório. Observação O conhecimento da pelve feminina apresenta relevância durante a gestação e o parto. As dimensões da pelve menor aumentam e a sínfise púbica se torna mais flexível nas gestantes à medida que os hormônios – no caso, a relaxina, produzida pelo corpo lúteo e pela placenta – promovem o relaxamento dos ligamentos pélvicos. A sínfise púbica é uma articulação semimóvel que une os ossos do quadril. Lembrete A pelve representa um conjunto ósseo, em formato de anel, que transmite o peso da cabeça, do pescoço, dos membros superiores e do tronco, através de suas articulações até os membros inferiores. Conforme ilustram as figuras a seguir, a pelve feminina e a pelve masculina possuem peculiaridades distintas. Comparada com a pelve masculina, a feminina possui os ossos mais suaves e delgados, com as saliências e as depressões menos pronunciadas; o promontório é mais saliente; a sínfise púbica e o sacro são mais curtos; a concavidade sacral é mais funda; as fossas ilíacas são maiores, mais rasas, achatadas e horizontais; a inclinação pélvica apresenta 4° a mais; o arco púbico é mais ampliado; os acetábulos são mais separados; o forame obturado é mais oval, com predomínio transverso nos homens, e mais circular nas mulheres; e os ossos fêmures são mais oblíquos. Gilberto Realce Gilberto Realce 123 ANATOMIA Articulação sacroilíaca Promontório sacral Diâmetro anatômico ≅ 11 cm da abertura superior da pelve Diâmetro transverso ≅ 13 cm da abertura superior da pelve Diâmetro oblíquo ≅ 12,5 cm da abertura superior da pelve Eminência iliopúbica Espinha isquiática Túber isquiático Arco púbico Sínfise púbica Figura 133 – A pelve feminina As asas do ílio são mais alargadas Diâmetro transverso da pelve Diâmetro oblíquo da pelve Todas as medidas são ligeiramente menores que no sexo feminino, no que diz respeito ao tamanho do corpo A sínfise púbica é mais profunda (mais lata) O arco púbico e o ângulo subpúbico são mais estreitos A abertura superior da pelve está orientada mais anteroposteriomente que no sexo feminino, onde ela tende a ser transversalmente oval Diâmetro anatômico da pelve Os túberes isquiáticos estão mais afastados Figura 134 – A pelve masculina 5.1.17 O membro inferior Veremos agora os membros inferiores. Os membros inferiores dos seres humanos desenvolveram-se, sobretudo, para a manutenção da massa corporal e a locomoção. Portanto, eles têm a capacidade de movimentar-se de um lugar para outro e sustentar o equilíbrio. Os ossos dos membros inferiores podem ser divididos em três segmentos: a coxa, a perna e os pés. Os membros inferiores são unidos ao tronco pela cintura pélvica. A marcha ereta dos humanos solicita adaptações morfológicas, não apenas na pelve, mas também na parte livre do membro inferior, responsáveis por muitas diferenças entre os membros inferiores e os Gilberto Realce 124 UnidadeII membros superiores. Em virtude da sustentação de massa corporal, o fêmur é um osso muito mais vigoroso do que o úmero. O acetábulo da articulação do quadril é expressivamente mais profundo do que a cavidade glenoide da articulação do ombro, ocasionando em uma resistência maior contra luxações, contudo, possuindo uma movimentação mais restringida. Ao mesmo objetivo desempenham os ligamentos que são muito fortes, cujo arranjo possibilita a postura ereta, com um mínimo de empenho, em uma articulação do quadril em extensão. Os prestigiosos ligamentos do joelho não apenas resistem a luxações como se exibem estendidos, transformando os membros inferiores em “colunas estáveis”, adequados para sustentar a massa corporal sem grande vigor muscular. A disposição assimétrica dos ligamentos da articulação do quadril e da articulação do joelho, por exemplo, possibilita uma flexão máxima sincrônica durante a corrida. O fêmur, representado na figura a seguir, é o mais longo e pesado osso do organismo humano. Influencia, de maneira significativa, a estatura de um indivíduo, em vida, que pode ser medida a partir do comprimento do fêmur, por exemplo, na Arqueologia. O fêmur transmite o peso do tronco e da pelve para a tíbia. Figura 135 – O fêmur Observação Em caso de fratura do fêmur acontece a perda de aproximadamente um a dois litros de sangue, isto é, há o risco de choque por hipovolemia. Hipovolemia é o estado de diminuição do volume de sangue. A patela é um osso pequeno e triangular, situada anteriormente à articulação do joelho. É o maior osso sesamoide do corpo humano e se divide em base, ápice, face anterior e face articular. A face anterior é convexa, enquanto a posterior possui uma área articular lisa e oval, conforme vimos anteriormente. Afora pelo fêmur, a tíbia, conforme ilustra a figura a seguir, é o maior osso no corpo humano que aguenta a massa corporal. Está situada medialmente na perna. A tíbia tem o papel de transferir o peso do fêmur para o tálus. Figura 136 – A tíbia Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 125 ANATOMIA Observação O termo tíbia quer dizer flauta, pois os ossos tibiais de pássaros eram utilizados antigamente para fazer instrumentos musicais. A fíbula, conforme ilustra a figura a seguir, localiza-se lateralmente e um pouco posterior à tíbia. Não possui a função de manutenção da massa corporal. Ela não contribui com a articulação do joelho e tão-só auxilia a estabilizar a articulação do tornozelo. Figura 137 – A fíbula Observação A fíbula, do latim fíbula (espeto, agulha, prego) é reconhecida como termo anatômico em virtude à similaridade com a agulha. O termo estaria relacionado à “infibulação”, processo usado pelos romanos no qual uma agulha de prata era inserida no prepúcio de adolescentes a fim de evitar relações sexuais prematuras. Lembrete A fíbula não transfere, de maneira significativa, o peso do fêmur para o pé. Vamos estudar o último segmento dos membros inferiores? O pé se divide em: tarso, metatarso e falanges, que compõem o esqueleto dos dedos (veja a figura a seguir). Os pés são responsáveis pela sustentação e pela locomoção. O pequeno desenvolvimento dos ossos dos dedos dos pés recorre-se pelo fato de que, com a aquisição da postura ereta, os dedos dos pés humanos abandonaram o papel de órgãos de preensão, diversamente de outros primatas. O tarso apresenta sete ossos, divididos em duas fileiras: a proximal e a distal. Os dois ossos da fileira proximal são o calcâneo e o tálus. Já a fileira distal abrange o osso navicular, o osso cuboide, o osso cuneiforme medial, o osso cuneiforme intermédio e o osso cuneiforme lateral. Ele transmite a massa corpórea em dois sentidos: inferior e posterior, para o calcâneo; e inferior e anterior, para o calcâneo e o osso navicular, os quais, por sua vez, a transmitem para os ossos da fileira distal e para os metatarsos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 126 Unidade II O calcâneo é um osso quadrangular que compõe o calcanhar, transferindo a massa corporal transmitida pelo tálus ao solo. É o mais volumoso dos ossos do tarso. O osso navicular está localizado medialmente no pé. O osso cuneiforme medial apresenta o formato de “cunha”. O osso cuboide é o maior da fileira distal do tarso. O metatarso é composto de cinco ossos, que são numerados de medial para lateral em I, II, III, IV e V. Esses ossos são longos e determinam a ligação entre o tarso e as falanges. Diferentemente das mãos, em que o polegar possui enorme independência de movimentação, no metatarso todos os ossos são paralelos e no mesmo plano. Os dedos dos pés de medial para lateral são: o hálux, ou I dedo, o II dedo, o III dedo, o IV dedo e o dedo mínimo ou V dedo. As falanges são ossos longos. Há três falanges – proximal, média e distal – em cada dedo, exceto o hálux e, às vezes, o dedo mínimo possuem tão-só duas falanges. Falange proximal Falange média Falange distal Falange distal hálux Falange proximal do hálux Falanges Articulações interfalangeanas Metatarsos Cuneiformes Cuboide Calcâneo Fíbula Tíbia TarsoNavicular Tálus Figura 138 – O pé Observação Na clínica médica usa-se, comumente, outra divisão, que define a região do antepé, na divisão anatômica supracitada. O tálus e o calcâneo compõem o retropé. Os demais ossos do tarso e do metatarso formam o mediopé. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 127 ANATOMIA 6 ARTROLOGIA E MIOLOGIA 6.1 Artrologia Note uma manobra de um esquiador estilo livre em uma montanha ou um jogador driblando e deixando os defensores para trás e você estará observando as articulações em ação, conforme ilustram as figuras a seguir. Os músculos puxam os ossos para movê-los, entretanto, o movimento não seria possível sem as articulações entre os ossos. Figura 139 – Esquiador Figura 140 – Drible no futebol Agora estudaremos as articulações. O local onde dois ou mais ossos se encontram, existindo ou não movimento entre eles, é chamado de articulações ou junturas. Ainda que sempre reflitamos em articulações como móveis, esse nem sempre é o caso. Muitas possibilitam apenas movimentos limitados e outras não consentem nenhum tipo de movimento aparente. A estrutura de uma determinada articulação está diretamente relacionada com o seu grau de movimento. As articulações móveis são locais do corpo onde os ossos se movimentam em contato próximo um com o outro. Ao trabalhar com máquinas, compreendemos que as peças que fazem contato entre si demandam maior conservação. Contudo, em nossos corpos, destinamos a dar pouca importância às articulações móveis até que patologias ou danos tornem a mobilidade muito precária. Se a mobilidade for limitada, mesmo em uma articulação altamente móvel, a qualquer instante durante a vida de um indivíduo uma articulação móvel pode ser transformada em uma articulação imóvel. 128 Unidade II Veremos, então que os três tipos principais de articulações podem ser subdivididos em sinartroses, anfiartroses e diartroses. As partes ósseas das sinartroses são conectadas por um “tecido de preenchimento”. Nas sinartroses encontram-se as articulações fibrosas, cuja conexão óssea é constituída por tecido conjuntivo, enquanto nas anfiartroses encontram-se as articulações cartilagíneas, cuja conexão óssea é composta de cartilagem. As diartroses se caracterizam pela presença de uma cavidade articular entre os ossos articulados, preenchida por líquido, o líquido sinovial ou sinóvia. As articulações fibrosas e cartilagíneas são estabelecidas pela continuidade dos ossos articulantes por meio do tecido interposto. As articulações sinoviais se fazem por contiguidade. 6.1.1 Articulações fibrosas Estudaremos a seguir as articulações fibrosas. Nelas, os ossos são conectados, entre si, por fibras de tecido conjuntivo, e desse modo é possível muito pouco movimento. Consideram-se os seguintes tipos de articulações fibrosas: as suturas, as sindesmoses, as gonfosese as esquindileses. 6.1.1.1 Suturas Nas suturas, existe pequeno afastamento entre os ossos e, consequentemente, pequena quantidade de tecido conjuntivo interposto. As suturas da calota craniana são exemplos deste tipo de articulação. A morfologia dessas suturas difere. Distinguimos: a sutura serrátil, a sutura escamosa e a sutura plana, conforme as figuras a seguir: Sutura sagital Figura 141 – Vista superior do crânio Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 129 ANATOMIA Sutura escamosa Figura 142 – Vista lateral do crânio Sutura palatina mediana Figura 143 – Palato duro, vista inferior Na sutura serrátil as margens apresentam dentículos que se engrenam, sendo simples, inicialmente, e podendo, mais tarde, exibir a extremidade mais dilatada que a base, o que impede o afastamento dos ossos. A sutura escamosa possui as margens ósseas cortadas em bisel, à custa das faces opostas dos ossos. Na sutura plana as margens ósseas são planas e lisas. 6.1.1.2 Sindesmoses Nessas articulações fibrosas, as sindesmoses ocorrem quando o afastamento entre os ossos é grande e há consequentemente grande quantidade de tecido conjuntivo interposto. Os dois ossos vizinhos são conectados por fibras colágenas de tecido conjuntivo, como a membrana interóssea Gilberto Realce Gilberto Realce 130 Unidade II do antebraço, entre os ossos rádio e ulna, ou a sindesmose tibiofibular, conforme ilustram as figuras a seguir, a membrana interóssea da perna, entre os ossos: tíbia e fíbula; ou ainda por fibras elásticas de tecido conjuntivo, como, por exemplo, nos ligamentos amarelos entre os arcos de vértebras vizinhas. Membrana interóssea Sindesmose tibiofibular Figura 144 – Sindesmoses 6.1.1.3 Gonfoses Nas gonfoses temos a união das raízes de um dente com as paredes dos alvéolos dentários. As fibras colágenas de tecido conjuntivo conectam o periósteo do osso alveolar ao periodonto, conforme ilustra a figura a seguir: Articulação dentoalveolar (gonfose) Figura 145 – Corte vestibulolingual do primeiro molar inferior e da mandíbula 6.1.1.4 Esquindilese As esquindileses acontecem quando a margem óssea aguda é inserida em uma fenda, por exemplo, do corpo do esfenoide, que se aloja em uma superfície em forma de fenda entre as asas do osso vômer, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce 131 ANATOMIA Esquindilese esfenovomeral Figura 146 – Vista inferior do crânio Lembrete Há quatro tipos de articulações fibrosas: as suturas, as sindesmoses, as gonfoses e as esquindileses. Nas articulações fibrosas, o movimento entre os ossos é reduzido. 6.1.2 Articulações cartilagíneas Abordaremos agora as articulações cartilagíneas. Elas conectam dois ossos, por meio de cartilagem hialina ou fibrosa. Podem ser divididas em dois tipos: primária e secundária. Uma articulação primária, como acontece nas sincondroses, é aquela na qual os ossos são unidos por uma lâmina ou barra de cartilagem hialina. Desse modo, a união entre a epífise e a diáfise de um osso em crescimento e a que ocorre entre a I costela e o manúbrio do esterno são exemplos de tal articulação. Na região da base do crânio localiza-se a sincondrose esfenoccipital, conforme ilustra a figura a seguir. Nenhum movimento é possível. Gilberto Realce Gilberto Realce 132 Unidade II Sincondrose esfenoccipital Sutura incisiva Figura 147 –Vista inferior de um crânio infantil Uma articulação cartilagínea secundária é aquela na qual os ossos são unidos por uma lâmina de fibrocartilagem e as faces articulares dos ossos são cobertas por uma fina lâmina de cartilagem hialina. Encontramos esse tipo na sínfise púbica, entre os ossos do quadril, e nos discos intervertebrais, entre os corpos das vértebras (veja as figuras a seguir). Uma pequena quantidade de movimento é possível. Sínfise púbica (a cartilagem foi removida) Figura 148 – Vista anterior da pelve óssea Gilberto Realce 133 ANATOMIA Sínfise intervertebral Figura 149 – Corte sagital paramediano da cabeça e do pescoço. Vista medial Lembrete Algumas articulações cartilagíneas possibilitam pequenos movimentos entre os ossos. Elas são de dois tipos: as sincondroses e as sínfises. 6.1.3 Articulações sinoviais Estudaremos agora as articulações sinoviais, também chamadas de diartroses, como vimos anteriormente. Com grande mobilidade, elas possuem diversas estruturas anatômicas essenciais, as quais serão comentadas a seguir. Nas articulações sinoviais, as terminações ósseas articulares são recobertas por cartilagem hialina, de maneira a compor uma superfície lisa, o que leva a uma diminuição máxima do atrito. São chamadas de superfícies articulares e serão as primeiras estruturas anatômicas que veremos. As superfícies articulares são convexas (esse formato de corpo articular é chamado de cabeça articular) ou côncavas (nesse caso, diz-se de um acetábulo). O acetábulo pode estar elevado em tamanho em virtude de uma protuberância de suas margens, por meio do lábio glenoidal – são exemplos as articulações do ombro e do quadril. A incongruência de algumas superfícies articulares é contrabalançada por discos ou meniscos, estruturas anatômicas que descreveremos em breve. Gilberto Realce Gilberto Realce 134 Unidade II Lembrete A cartilagem articular, formada de tecido conjuntivo, consiste em uma camada protetora de 1 a 5 milímetros de espessura desse material que reveste as extremidades dos ossos que se articulam nas articulações sinoviais. Observação Durante o crescimento normal, a cartilagem articular em uma articulação sinovial (por exemplo, o joelho) aumenta em volume conforme a criança vai ficando mais alta. A segunda estrutura anatômica que encontraremos nas articulações sinoviais é a cápsula articular. Ela forma um “folheto” de tecido conjuntivo em torno da articulação, isolando-a de modo hermético. A cápsula articular encontra-se presa aos dois ossos articulares, em geral, na margem das superfícies articulares recobertas por cartilagem. Ela é formada por uma camada interna e outra externa. A camada interna de uma cápsula interna é a terceira característica anatômica, que define a articulação sinovial, pois é constituída de uma membrana sinovial que produz e aprisiona o líquido sinovial dentro da cavidade articular. Observação A membrana sinovial é altamente vascularizada, e transporta muitas das trocas fisiológicas necessárias para manter as superfícies articulares em funcionamento. Assim, a quarta estrutura anatômica que encontraremos nas articulações sinoviais é a cavidade articular. Ela, na realidade, não existe como uma “cavidade”, uma vez que entre as duas partes articuladas há tão-só uma fenda capilar em razão da pressão negativa existente ou da tração dos músculos que passam sobre a articulação. A quinta estrutura anatômica que compõe as articulações sinoviais é o líquido sinovial ou sinóvia. Ele é um líquido viscoso, claro ou amarelo-claro, assim chamado por sua semelhança em aspecto e consistência com a clara do ovo. Como vimos anteriormente, o líquido sinovial é secretado por células sinoviais na membrana sinovial e líquido intersticial filtrado do plasma sanguíneo. Ele tem três papéis principais: • Fornecer lubrificação: a fina camada de líquido sinovial que reveste a face interna da cápsula articular e as faces expostas das cartilagens articulares oferecem lubrificação e diminuem o atrito. Isso é alcançado pelo ácido hialurônico e pela lubricina do líquido sinovial, que diminuem o Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 135 ANATOMIA atrito entre as superfícies das cartilagens articulares em uma articulação sinovial até cerca de um quinto daquele visto entre dois pedaços de gelo. • Nutrir os condrócitos: a quantidade total de líquido sinovial em uma articulação é normalmente inferior a 3 mL, mesmo em uma articulação grande como a do joelho. Esse volume relativamente pequeno de líquido deve circular para oferecernutrientes e uma via de rejeite de resíduos para os condrócitos das cartilagens articulares. A circulação do líquido sinovial é estimulada pelo movimento articular, que também traz ciclos de compressão e expansão nas cartilagens articulares contrárias. À compressão, o líquido sinovial é forçado para fora das cartilagens articulares; à reexpansão, ele é trazido de volta para as mesmas cartilagens. Esse fluxo de líquido sinovial para fora e para dentro das cartilagens articulares provê nutrição para seus condrócitos. • Agir como amortecedor de impactos: o líquido sinovial amortece os impactos nas articulações sujeitas à compressão. Por exemplo, as articulações de quadril, joelho e tornozelo são contidas durante a deambulação e intensamente contidas durante a deambulação acelerada ou a corrida. Quando a pressão eleva abruptamente, o líquido sinovial concentra o impacto e o dissemina de maneira invariável sobre as faces articulares. Observação O líquido sinovial também contém células fagocíticas que retiram micróbios e resíduos resultantes do uso e desgaste da articulação. Quando uma articulação sinovial fica imobilizada por algum período, o líquido se torna bastante viscoso, “como se fosse um gel”, contudo, conforme o movimento articular se intensifica, o líquido se torna menos viscoso. Uma das benfeitorias do aquecimento antes da execução de atividades, conforme ilustra a figura a seguir, é a estimulação da produção e secreção de líquido sinovial; mais líquido quer dizer menos estresse nas articulações durante a prática de exercícios. Figura 150 – Aquecimento antes de uma partida de futebol Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 136 Unidade II Saiba mais Toda atividade física exige preparo para um desempenho máximo. O aquecimento é habitualmente praticado antes de uma atividade esportiva e parece ser eficaz para a prevenção de lesões e melhorias no desempenho esportivo. Para isso recomendamos o link abaixo. Nesse artigo você verá qual o tipo de aquecimento, segundo os autores, é mais eficiente para o desempenho da força máxima. SANTIAGO, E. L. et al. Efeitos de diferentes formas de aquecimento no desempenho da avaliação de força. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 10, n. 58, p. 273-281, 2016. Disponível em: <http://www. rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/933>. Acesso em: 30 abr. 2018. As articulações sinoviais podem apresentar uma diversidade de estruturas anatômicas acessórias, como o disco de fibrocartilagem e os corpos adiposos, os ligamentos, os tendões, as bolsas sinoviais e as bainhas tendíneas sinoviais. Nas articulações complexas, como a do joelho, estruturas anatômicas acessórias podem localizar-se entre as faces articulares opostas e alterar as formas dessas faces. Isso inclui o seguinte: • Meniscos e discos articulares são estruturas fibrocartilagíneas. Os papéis dos meniscos e discos articulares não são totalmente entendidos, contudo os conhecidos incluem: — absorção de impacto; — melhor encaixe entre as superfícies ósseas da articulação; — oferecimento de superfícies amoldáveis para movimentos combinados; — distribuição de peso sobre uma superfície de contato maior; — propagação do líquido sinovial pelas faces articulares da articulação. • Corpos adiposos, geralmente, estão localizados próximo à periferia da articulação, delicadamente revestidos pela membrana sinovial. Os coxins de corpos adiposos oferecem proteção para as cartilagens articulares e servem como material de arranjo para a articulação como um todo. Eles ocupam os espaços produzidos quando os ossos se movimentam e a cavidade articular altera de formato. • A cápsula articular que circunda toda a articulação é contínua com o periósteo dos ossos que se articulam. Os ligamentos são estruturas anatômicas acessórias que amparam, fortalecem Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 137 ANATOMIA e reforçam as articulações sinoviais. Os ligamentos intrínsecos, ou ligamentos capsulares, são adensamentos da própria cápsula articular. Os ligamentos extrínsecos são separados da cápsula articular. Esses ligamentos podem ser encontrados externa ou internamente à cápsula articular e são chamados ligamentos extracapsulares e intracapsulares, respectivamente. • Os tendões, ainda que caracteristicamente não componham parte da articulação como uma estrutura anatômica essencial ou acessória, geralmente atravessam-na ou em sua proximidade. A tonicidade muscular normal mantém os tendões tensos, e a tensão pode restringir a amplitude de movimento. Em algumas articulações, os tendões são partes complementares da cápsula articular e oferecem resistência significativa à cápsula. • As bolsas sinoviais são pequenas estruturas anatômicas preenchidas por líquido sinovial no tecido conectivo. As bolsas sinoviais são recobertas pela membrana sinovial e podem comunicar-se ou não com a cavidade articular. Elas constituem-se onde o tendão ou os ligamentos atritam contra outros tecidos. Seu papel é diminuir o atrito e atuar como amortecedores de choque. As bolsas sinoviais são localizadas ao redor da maioria das articulações sinoviais, por exemplo, a do ombro. • As bainhas tendíneas sinoviais são bolsas tubulares que rodeiam os tendões onde eles atravessam as superfícies ósseas. As bolsas também podem surgir embaixo da pele que recobre um osso ou no interior de outros tecidos conectivos sujeitados a atrito ou pressão. As bolsas que se desenvolvem em situação anormal ou devido a pressões anormais são chamadas de bolsas adventícias. Observação As inflamações dos tendões são chamadas de tendinites. A inflamação da bolsa sinovial é chamada de bursite. Na presença de cargas elevadas, pode acontecer uma inflamação da bainha tendínea, chamada de tendovaginite. Saiba mais Selecionamos alguns artigos científicos que abordam temas relacionados com as lesões esportivas. Certamente a leitura trará grandes benefícios para a sua formação acadêmica. DE CARVALHO, B. T. S. et al. Lesões esportivas em atletas de basquete masculino veterano de Maringá. Revista Uningá, n. 26, p. 21-32, 2010. Disponível em: <http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/908/579>. Acesso em: 30 abr. 2018. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 138 Unidade II CRUZ, R. S. et al. Compreendendo as lesões das raízes posteriores dos meniscos: da ciência básica ao tratamento. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 52, n. 4, p. 463-472, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbort/ v52n4/pt_1982-4378-rbort-52-04-00463.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018. BALDON, R. M. et al. Diferenças biomecânicas entre os gêneros e sua importância nas lesões do joelho. Fisioterapia em Movimento, v. 24, n. 1, p. 157-166, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/fm/v24n1/ v24n1a18>. Acesso em: 12 jun. 2018. ALMEIDA NETO, A. F.; TONIN, J. P.; NAVEGA, M. T. Caracterização de lesões desportivas no basquetebol. Fisioterapia em Movimento, v. 26, n. 2, p. 361-368, 2013. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/ fisio/article/view/21567/20673>. Acesso em: 12 jun. 2018. Lembrete Os meniscos articulares apresentam forma de meia-lua e estão localizados no joelho. É interessante notar que não há relação entre o aumento da cartilagem no joelho e mudanças na massa corporal. As crianças que realizam atividades esportivas vigorosas acumulam cartilagem articular de forma mais rápida que aquelas que não realizam as mesmas práticas, e os meninos tendem a adquirir cartilagem articular no joelho mais rapidamente que as meninas. Lembrete Os ligamentos conectam os ossos uns aos outros. Todas as articulações sinoviais são reforçadas, contudo, não muito, por ligamentos de tecido conectivo elástico. As articulações mais numerosas no organismo são as articulações sinoviais. Elas apresentam a superfície articular, a cápsula articular, a cavidade articular, a membrana sinovial, o líquidosinovial, os ligamentos, os meniscos e os discos articulares. Exemplo de aplicação Agora é com você! Estude as figuras a seguir. Faça ilustrações em papel vegetal, utilizando lápis Hb2, lápis para colorir e caneta Stabilo e elabore pranchas de Anatomia, apontando os detalhes anatômicos das articulações sinoviais. Gilberto Realce Gilberto Realce 139 ANATOMIA Cápsula articular Ligamento extracapsular Ligamento intracapsular Menisco Cartilagem articular Figura 151 – Articulações sinoviais Cápsula articular Faces articulares Cavidade articular Figura 152 – Articulações sinoviais Disco articular Figura 153 – Articulações sinoviais 140 Unidade II 6.1.3.1 Classificação das articulações sinoviais Iremos, em um primeiro momento, classificar as articulações sinoviais, de acordo com a sua função em uniaxiais, biaxiais, triaxiais e não axiais: • Uniaxiais: executam movimento em torno de um só eixo de movimento. Exemplos: a articulação umeroulnar e as articulações interfalângicas, que possibilitam apenas movimentos de flexão e extensão. • Biaxiais: executam movimento em torno de dois eixos de movimento. Exemplo: a articulação radiocarpal, que possibilita movimentos de flexão, extensão, adução e abdução. • Triaxiais: executam movimento em torno de três eixos de movimento. Exemplos: as articulações do ombro e do quadril, que possibilitam extensão, flexão, adução, abdução e rotação. • Não axiais: não executam movimentos em torno de eixos, apresentando apenas um pequeno movimento de deslizamento entre os ossos. Exemplo: as articulações intercarpais. Agora vamos classificar as articulações sinoviais, de acordo com o formato das faces articulares. Elas serão classificadas em plana, gínglimo ou dobradiça, trocoide, condilar, elipsoide, selar e esferoide. Veja: • Plana: as faces articulares são planas ou ligeiramente curvas. O movimento que acontece nessas articulações é o deslizamento de uma face sobre a outra. Exemplos: as articulações intercarpais e intertarsais. • Gínglimo ou dobradiça: essas articulações contêm uma superfície óssea convexa e outra côncava. Os ligamentos colaterais resistentes da região restringem o movimento a um deslocamento planar, como o de uma dobradiça. Exemplos incluem as articulações umeroulnar e interfalangeanas. • Trocoide: nesse tipo de articulação uma das faces articulares tem o aspecto semelhante a uma roda ou pivô. Exemplo: a articulação radioulnar proximal. • Condilar: nesse tipo, pelo menos uma das faces tem o formato elíptico. Exemplos: a articulação temporomandibular e a articulação atlantoccipital. • Elipsoide: uma estrutura elipsoidal possui um formato tipo fuso na qual uma superfície convexa um tanto plana se articula com uma superfície côncava profunda. Exemplo: a articulação radiocarpal no punho. • Selar: a face articular apresenta o formato de sela, ou seja, cada um dos ossos tem uma superfície côncavo-convexa. Exemplo: a articulação carpometacarpo do polegar. • Esferoide: uma das faces articulares apresenta formato de segmento de esfera, que se encaixa um receptáculo oco. Exemplos: as articulações do ombro e do quadril. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 141 ANATOMIA A figura a seguir ilustra os diversos tipos de estruturas articulares das articulações sinoviais: gínglimo ou dobradiça, condilar, elipsoide, selar, trocoide e esferoide. Articulações uniaxiais Articulações biaxiais Articulação triaxial Articulação elipsoide Articulação em sela Articulação em dobradiça Articulação trocoide Articulação esferoide Articulação condilar Figura 154 – Classificação das articulações sinoviais Lembrete Funcionalmente, as articulações são classificadas como: • Sinartrose: uma articulação imóvel, como as suturas. • Anfiartrose: uma articulação discretamente móvel, como a sínfise púbica. • Diartrose: uma articulação livremente móvel. Todas as diartroses são articulações sinoviais. Elas possuem diversos formatos e permitem vários tipos diferentes de movimentos, como o joelho. 6.1.3.2 Denominação dos movimentos em articulações Como as articulações são junções entre partes ósseas ou segmentos, sua denominação segue uma convenção muito simples. Elas são chamadas usando-se os nomes dos dois ossos que compõem essa junção, normalmente com o osso proximal primeiro. Por exemplo, a articulação do punho está entre o rádio distal e a linha proximal dos ossos do carpo; portanto, ela é a radiocarpal. A terminologia descritiva direcional é usada para descrever os tipos de movimentos vistos entre os dois segmentos articulares, como descreveremos a seguir: • Flexão e extensão: são considerados movimentos angulares. Na flexão, há diminuição do ângulo existente entre o segmento que permanece fixo e aquele que se desloca. Na extensão, há aumento do ângulo entre o segmento fixo e o que se desloca. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 142 Unidade II Lembrete Os movimentos de extensão e flexão acontecem no plano sagital e, segundo a regra, o eixo é laterolateral ou transversal. • Adução e abdução: adução é o movimento no qual um segmento se aproxima do plano sagital e abdução é o movimento no qual um segmento se afasta dele. Lembrete Os movimentos de adução e abdução são efetuados no plano frontal e seu eixo de movimento é anteroposterior ou sagital. • Rotação: é o movimento em que um segmento gira em torno de um eixo longitudinal. O plano em que isso acontece é o horizontal, portanto, perpendicular ao eixo de movimento. Nos membros, podemos ter uma rotação medial quando a face anterior do membro gira em direção ao plano mediano do corpo. Esse movimento, de maneira especial para o antebraço, é chamado pronação, e a rotação lateral, que é o movimento contrário à rotação medial, é chamada supinação. • Circundução: é o movimento combinatório que inclui adução, extensão, abdução e flexão. Ele acontece nos planos sagital e frontal e nos eixos transversal e sagital. Veremos agora que as articulações sinoviais realizam movimentos especiais, os quais acontecem apenas em certas articulações. Eles são a elevação, depressão, protração, retração, inversão, eversão, dorsiflexão, flexão plantar e oposição, conforme se verá a seguir: • Elevação: é o movimento para cima de uma parte do corpo, como fechar a boca na articulação temporomandibular, elevando a mandíbula ou encolher os ombros na articulação acromioclavicular elevando a escápula e a clavícula. A depressão é seu movimento contrário. O hioide e as costelas são outros ossos que podem ser elevados ou deprimidos. • Depressão: é o movimento para baixo de uma parte do corpo, como na abertura da boca, que deprime a mandíbula ou no retorno dos ombros para a posição anatômica, deprimindo a escápula e a clavícula. • Protração: é o movimento anterior de uma parte do corpo no plano transverso. A retração é o movimento contrário. É possível protrair a mandíbula na articulação temporomandibular empurrando-a para frente ou as clavículas nas articulações acromioclavicular e esternoclavicular cruzando os braços. • Retração: é o movimento de retorno à posição anatômica de uma parte corporal protraída. Gilberto Realce 143 ANATOMIA • Inversão: é o movimento medial da planta do pé nas articulações intertarsais. Seu movimento contrário é a eversão. Também podemos chamar a inversão combinada com a flexão plantar dos pés de supinação. • Eversão: é o movimento lateral da planta do pé nas articulações intertarsais. Também podemos chamar a eversão combinada com a dorsiflexão dos pés de pronação. • Dorsiflexão: é a flexão do pé na articulação do tornozelo ou articulação talocrural, ou seja, entre a tíbia, a fíbula e o tálus, na direção do dorso. A dorsiflexão acontece quando ficamos de pé sobre os calcanhares. Seu movimento contrário é a flexão plantar. • Flexão plantar: é a flexão do pé na articulação do tornozelo na direção da face inferior ou plantar do pé, comoquando elevamos o corpo ao ficarmos na ponta dos pés. • Oposição: é o movimento do polegar na articulação carpometacarpo, no qual o polegar se move de um lado a outro pela palma da mão para tocar as pontas dos dedos da mesma mão. Lembrete Esses “polegares que realizam oposição” permitem o movimento diferencial que confere aos humanos e outros primatas a capacidade de segurar e manipular objetos de maneira muito precisa. Exemplo de aplicação Realize as seguintes atividades: 1 – Para treinar os diversos tipos de movimentos articulares, coloque uma vestimenta adequada e se dirija a um local arejado. Leia o capítulo 1 da obra a seguir: HOUGLUM, P. A. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 6. ed. Barueri: Manole, 2014. Na sequência, realize todos os movimentos demonstrados nas imagens. Você fixará bem os conceitos. Vamos lá! 2 – Leia também o capítulo 7 (p. 68-69) da obra: LAROSA, P. R. R. Anatomia Humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Elabore uma tabela em seu caderno com as importantes articulações sinoviais do corpo humano e a sua classificação. Bom trabalho! 144 Unidade II 3 – Você está lembrado dos detalhes ósseos estudados? Vamos associá-los com as articulações? Solicitamos que notassem os principais detalhes ósseos dos esqueletos axial e apendicular e das cinturas escapular e pélvica. Assim, por exemplo, encontramos na escápula a cavidade glenoide, a qual se une com o úmero, ou seja, pela sua cabeça, formando a articulação do ombro ou glenoumeral. Sabemos que a articulação do ombro é classificada morfologicamente como esferoide e funcionalmente realiza movimentos nos três eixos, ou seja, flexão, extensão, adução, abdução e rotação. Esportes de alto rendimento levam a lesões nas articulações, como as luxações e os entorses. Partindo desse exemplo, desejamos que você faça uma descrição de algumas articulações sinoviais: quadril, joelho, tornozelo, ombro, cotovelo, punho e mão, contendo os principais componentes anatômicos, os movimentos que podem ocorrer e a significância clínica. Para tal atividade, recomendamos os capítulos dos seguintes livros (observação: utilize pelo menos três dos livros indicados): MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia Humana. Porto Alegre: Artmed, 2009. TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. VANPUTTE, C. L. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. São Paulo: AMGH, 2016. VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia Humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003. Boa atividade! 6.2 Miologia Veremos agora os músculos, cujo estudo é chamado miologia. Quimicamente, eles consistem em água e sólidos; esses sólidos são as proteínas, os carboidratos e os sais inorgânicos (abrangendo o cloreto de cálcio, o ferro, o magnésio, o fósforo, o potássio e o sódio), além das enzimas, dos glóbulos de gordura, dos extrativos nitrogenados (como o ácido úrico e a creatina) e dos extrativos não nitrogenados (como o ácido láctico e o glicogênio). Sem os músculos, nós, seres humanos, seríamos pouco mais do que “bonecos” de lojas de shopping, impossibilitados de deambular, articular as palavras, piscar os olhos ou até mesmo segurar uma bola de futebol. Todavia, nenhuma dessas inconveniências nos importunaria, porque também permaneceríamos inábeis de respirar. Uma das principais qualidades dos seres humanos é a nossa competência de se mover, mas também utilizamos os nossos músculos esqueléticos quando não estamos em movimento. Os músculos chamados posturais estão constantemente contraindo para nos manter nas posturas sentado ou em pé. Os músculos chamados respiratórios estão constantemente trabalhando para nos manter respirando, mesmo durante o adormecer. A nossa comunicação depende dos músculos esqueléticos, seja para escrever, digitar ou conversar. Mesmo a comunicação silenciosa, utilizando sinais manuais ou expressões faciais, carece do trabalho dos músculos esqueléticos. 145 ANATOMIA A quantidade de músculos em nosso corpo depende de uma série de fatores. Nem todos os indivíduos apresentam exatamente a mesma quantidade. Alguns podem surgir em um lado do corpo, mas não no lado oposto, como o músculo psoas menor. Outros estão totalmente ausentes em certos indivíduos, como o músculo palmar longo. Essas características, como vimos anteriormente, são chamadas variações anatômicas. Assim, em conjunto, encontraremos aproximadamente 700 músculos no corpo humano, sendo eles controlados voluntariamente com variações de tamanho e formato. Observação Manter bons estoques de glicogênio muscular é essencial para o desempenho esportivo e a recuperação muscular pós-treino. Saiba mais A fim de ter um melhor desempenho diversos atletas e desportistas, estão buscando a utilização dos recursos ergogênicos. São tratamentos ou substâncias usadas para melhorar a performance. Estas são classificadas em diferentes tipos sendo recursos mecânicos, fisiológicos, farmacológicos, psicológicos ou nutricionais. Dentre os diversos recursos está a creatina. O artigo recomendado faz uma revisão sobre os uso desse recursos ergogênico. OLIVEIRA, L. M. et al. Efeitos da suplementação de creatina sobre a composição corporal de praticantes de exercícios físicos: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 11, n. 61, p. 10-15, 2017. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/ articulo?codigo=5771924>. Acesso em: 30 abr. 2018. 6.2.1 Tipos de músculos Quando a contração de um músculo resulta de uma ação de vontade, dizemos que esse é um músculo voluntário, mas quando a contração muscular escapa ao controle consciente do indivíduo, chamamos o músculo de involuntário. Os músculos voluntários diferenciam-se histologicamente dos involuntários por possuirem estriações transversais, sendo, por isso, chamados de estriados. Já́ os músculos involuntários não possuem estriações, sendo por esse motivo ditos lisos. Possuímos ainda outro tipo de músculo, o músculo cardíaco, que se semelha histologicamente ao músculo esquelético, ainda que apresente uma ação involuntária, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce 146 Unidade II Estriação Estriação Fibra muscular Fibra muscular Fibra de músculo liso Disco muscular Núcleo Núcleo Núcleo Figura 155 – Tipos de músculos Podemos também distinguir os músculos estriados dos lisos pela topografia, já que os músculos estriados, na maioria das vezes, estão fixados ao menos por uma de suas extremidades ao esqueleto. Já os músculos lisos são viscerais, isto é, são localizados na parede das vísceras de vários sistemas do organismo. O principal papel do tecido muscular estriado esquelético é movimentar o organismo ao executar tração sobre os ossos do esqueleto, permitindo-nos diversas atividades, como andar, dançar ou tocar um instrumento musical. O músculo estriado cardíaco impulsiona o sangue para os vasos do sistema cardiovascular; já o tecido muscular liso conduz líquidos e sólidos ao longo do canal alimentar e exerce papéis variados em outros sistemas, portanto não serão neste momento foco dos nossos estudos. Observação Anatomicamente, os músculos são classificados como esqueléticos, quando possuem pelo menos uma extremidade ligada a osso, ou viscerais, quando formam a parede de órgãos moles e cavitários. 6.2.2 Papéis dos músculos Desses três tipos de músculos, aquele que nos interessa diretamente é o estriado ou voluntário. A lista a seguir resume os principais papéis de todos os três tipos de músculos: Gilberto Realce 147 ANATOMIA • Manutenção da postura e posicionamento do organismo: as contrações de músculos específicos sustentam a postura corporal. Por exemplo, conservar a cabeça em posição durante a leitura de um livro ou equilibrar a massa corporal sobre os pés ao caminhar compreende à contração de músculos que estabilizam as articulações. Sem a constante contração muscular, não seria possível sentar em postura eretasem cair nem levantar sem tombar para frente. • Sustentação de tecidos moles: a parede abdominal e o soalho da cavidade pélvica consistem em camadas de músculos estriados esqueléticos. Esses músculos suportam o peso das vísceras e protegem os tecidos internos contra lesões. • Regulação da entrada e saída de materiais: as aberturas ou os orifícios do canal alimentar e das vias urinárias são circundados por músculos estriados esqueléticos. Esses músculos possibilitam o controle voluntário da deglutição, defecação e micção. • Manutenção da temperatura corporal: a contração muscular necessita de energia, e sempre que o organismo usa energia, transforma parte dela em calor. A perda de calor pela contração muscular conserva nossa temperatura corporal dentro do intervalo indispensável para o seu funcionamento normal. • Reserva de nutrientes: os lipídios são armazenados nos músculos estriados esqueléticos como elementos de reserva e usados nas reações energéticas; já as substâncias minerais influenciam as alterações químicas musculares e a sua contração. Além disso, o glicogênio é armazenado em grande quantidade nas fibras musculares, transformando-se em glicose quando há necessidade de energia para as células. 6.2.3 Componentes macroscópicos dos músculos estriados esqueléticos O músculo estriado esquelético possui uma porção carnosa, vermelha no vivente, chamada de ventre muscular, em que prevalecem as fibras musculares, sendo, portanto, a parte contrátil do músculo. Apresenta também extremidades que, quando são cilíndricas ou possuem formato de fita, chamamos de tendões, e quando têm formato de lâminas, denominamos aponeuroses, conforme ilustram as figuras a seguir: Tendões Ventre muscular Figura 156 – Vista anterolateral do braço Gilberto Realce Gilberto Realce 148 Unidade II Fáscia muscular (rebatida) Aponeuroses Ventre muscular Figura 157 – Vista lateral da cabeça Os tendões e as aponeuroses são esbranquiçados e brilhantes, muito resistentes, formados por tecido conectivo denso rico em fibras colágenas, sendo responsáveis pela fixação dos músculos ao esqueleto. Contudo, podem estar fixados também em cartilagens, em cápsulas articulares, em tendões de outros músculos e na derme. Os tendões possuem um ponto de fixação. Já as aponeuroses apresentam diversos deles. Frequentemente, a fixação de um tendão muscular ao osso estacionário é chamada de origem e a fixação do outro tendão muscular ao osso móvel é chamada de inserção. Uma boa associação de ideias é a mola de uma porta. Nesse exemplo, observamos que a parte da mola fixada à estrutura é a origem e que a parte presa à porta representa a inserção. Geralmente, a origem é proximal e a inserção é distal. A inserção normalmente é tracionada em direção à origem. Lembrete A porção carnosa do músculo entre os tendões é chamada ventre muscular. Ele representa a porção espiral do meio da mola do nosso exemplo. É importante lembrarmos também que existem alguns poucos músculos em que temos tendões interpostos a seus ventres; todavia, esses tendões não servem para fixação no esqueleto. Envolvendo o músculo, existe uma lâmina de tecido conectivo com espessura variável, às vezes muito espessa, outras não: a fáscia muscular. Ela desempenha os papéis de: • Bainha elástica de contenção: esse papel desempenhado pela fáscia, de conter ou manter próximas as fibras musculares entre si, é relevante para possibilitar que o músculo possa executar um trabalho competente de tração ao se contrair. Gilberto Realce Gilberto Realce 149 ANATOMIA • Facilitação do deslizamento dos músculos entre si: relevante para impedir o atrito entre os músculos durante a contração. Outro componente macroscópico que encontraremos são os retináculos. Eles são alças de sustentação compostas de tecido conjuntivo que sustentam os tendões em seu lugar e, em parte, agem como apoio. Trata-se de locais de desvio de músculos em seu caminho de origem até a inserção, como o retináculo extensor dos músculos extensores longos da mão e dos dedos que, durante uma extensão dorsal, evita o afastamento do tendão em sentido dorsal. Lembrete Os músculos estriados esqueléticos fixam-se normalmente aos ossos por meio de suas extremidades. O ponto fixo (origem) do músculo não se desloca durante a ação muscular, enquanto a extremidade contrária, que se desloca, é o ponto móvel (inserção). Durante a realização de muitos movimentos, acontecem mudanças da posição de ambos os pontos fixos do músculo, podendo acontecer até mesmo uma “inversão do movimento”, quando o local de inserção muscular chamado de ponto móvel é fixado e, então, o “ponto fixo” se aproxima do “ponto móvel”. Podemos exemplificar tal fato durante a realização de uma suspensão na barra fixa: como os braços não podem alterar de posição devido à barra fixa, o tronco se aproxima dos braços, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 158 – Flexão na barra fixa Gilberto Realce 150 Unidade II Saiba mais Leia, no capítulo 9 da obra destacada, os seguintes tópicos: tecido muscular estriado esquelético e organização muscular, anatomia macroscópica, anatomia microscópica das fibras musculares estriadas esqueléticas, contração muscular, unidades motoras e controle muscular, nota clínica – rigor mortis, tono muscular e tipos de fibras musculares estriadas esqueléticas. Você certamente apreciará a leitura. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia Humana. Porto Alegre: Artmed, 2009. Lembrete Qualquer músculo apresenta sempre duas partes principais: o ventre muscular e os tendões e/ou as aponeuroses. 6.2.4 Nomenclatura dos músculos estriados esqueléticos Os músculos estriados esqueléticos são classificados de acordo com diversas características, incluindo a sua localização, o tamanho, a forma, a disposição das fibras musculares, a origem, a inserção, o número de cabeças, a embriologia e a função. Dedicando atenção a essas dicas, a tarefa de estudar os nomes dos músculos estriados esqueléticos ficará mais fácil: • Localização do músculo: alguns nomes de músculos lembram o osso ou a região do organismo com a qual o músculo está integrado. Por exemplo, o músculo temporal localiza-se sobre o osso temporal; o músculo peitoral está localizado no tórax; ou, ainda, o músculo glúteo está nas nádegas, conforme ilustra a figura a seguir; e um músculo braquial está no braço. • Tamanho relativo do músculo: termos como máximo, mínimo, longo e curto são comumente usados em nomes de músculos. Um músculo longo é mais comprido do que um curto. Além disso, uma segunda parte do nome imediatamente nos fala se existe mais de um músculo relacionado. Se existe um músculo curto, muito possivelmente um músculo longo está presente na mesma região, como o músculo palmar longo. Ainda podemos dar como exemplos o músculo glúteo máximo, grande, que é o maior músculo das nádegas, e o músculo glúteo mínimo, pequeno, que é o menor (veja a figura a seguir). • Forma do músculo: alguns músculos são chamados conforme a sua forma, como o músculo pronador quadrado, que apresenta um formato que lembra essa figura geométrica. Gilberto Realce Gilberto Realce 151 ANATOMIA Observação A letra grega delta maiúscula se escreve Δ (em formato de triângulo isósceles). Inicialmente, o termo era utilizado apenas em sentido geográfico, representando a foz do rio Nilo, em forma triangular. Foi Jean Riolan quem deu esse nome ao músculo deltoide. Músculo glúteo máximo Músculo deltoide Figura 159 – Região glútea Figura 160 – Vista lateral de membro superior • Disposição das fibras musculares: de um modo geral, os músculos apresentam as fibras dispostas paralela ou obliquamente à direção de tração exercida por eles. Há, ainda, os músculos dispostos de forma circular. Assim, os músculos estriados esqueléticos podem ser classificados quanto à disposição paralela, à disposição oblíqua e à disposição circular. Entre os músculos que apresentam a disposição paralela, citamosos músculos longos, nos quais o comprimento é predominante (por exemplo, o músculo sartório); os músculos largos, nos quais o comprimento e a largura são equivalentes (por exemplo, o músculo glúteo máximo); os músculos fusiformes, predominantemente nos membros e que são longos, contudo, nota-se uma convergência das fibras em direção aos tendões de origem e inserção (por exemplo, o músculo braquial); e os músculos em formato de leque, que são largos, em que as fibras convergem para um tendão em uma das extremidades, dando-lhes a aparência de um leque (por exemplo, o músculo temporal). O músculo que possui fibras dirigidas obliquamente e inseridas apenas em um lado do tendão, à semelhança da metade de uma pena de ave é classificado como peniforme, cujo exemplo clássico é o músculo extensor longo do hálux. Músculos bipeniformes são os que mostram o formato de uma pena inteira, como o músculo reto femoral. Gilberto Realce 152 Unidade II Músculo sartório Músculo bíceps braquial Músculo braquial Figura 161 – Vista anterior da coxa Figura 162 – Vista anterolateral do braço Músculo extensor longo do hálux Músculo reto femoral Figura 163 – Vista anterior da perna Figura 164 – Vista anterior da coxa e do dorso do pé Como exemplos da disposição das fibras musculares, citamos os músculos orbiculares da boca e dos olhos, conforme ilustram as linhas azul-claro da figura a seguir, que têm os seus fascículos dispostos em círculo em torno de uma abertura, atuando como esfíncteres para fechar a abertura. 153 ANATOMIA Músculo orbicular dos olhos Músculo orbicular da boca Figura 165 – Peças de cadáver fresco com compartimento de gordura superficial (CGS) e músculos zigomático maior (MZM) expostos • Número de origens: quando bíceps, tríceps ou quadríceps compõem parte do nome de um músculo, pode-se adotar que o músculo tem duas, três ou quatro origens, respectivamente. São exemplos o músculo bíceps femoral, a tríceps da perna e o quadríceps femoral. — O músculo bíceps femoral é formado por duas cabeças de origem: o músculo bíceps femoral cabeça longa e o músculo bíceps femoral cabeça curta. — O músculo tríceps da perna é formado por três cabeças de origem: os músculos gastrocnêmios (medial e lateral) e o músculo sóleo. — O músculo quadríceps femoral é formado por quatro cabeças de origem: o músculo reto femoral e os músculos vastos (medial, intermédio e lateral), conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 154 Unidade II Músculo quadríceps femoral: A B M. sartório M. reto femoral M. vasto intermédio M. vasto lateral M. vasto medial Figura 166 – A) Vista anterior da coxa; B) Vista anterior da coxa com o músculo reto femoral rebatido Observação A expressão calcanhar de Aquiles (veja a figura a seguir), em sentido geral, significa qualquer ponto desprotegido. Em Anatomia, chamamos de tendão do calcâneo. Na mitologia grega, o herói Aquiles foi tornado inatingível pela mãe ao ser banhado nas águas do rio Estige. Porém, como foi seguro pelos calcanhares para não afundar, essa parte ficou desprotegida, pois não entrou em contato com a água. Mais tarde, na guerra de Troia, foi mortalmente golpeado por Páris com uma flechada no calcanhar. Figura 167 – O calcanhar de Aquiles 155 ANATOMIA Lembrete O calcanhar de Aquiles é o ponto de inserção do músculo tríceps da perna. • Número de inserções: os músculos também podem se inserir por mais de um tendão, sendo eles classificados como bicaudados, quando existir dois tendões de inserção (um exemplo é o músculo flexor curto do hálux), ou policaudados, quando existirem três ou mais tendões de inserção (como no músculo extensor dos dedos). Veja as figuras: Músculo flexor curto do hálux Figura 168 – Músculos da planta do pé Músculo extensor dos dedos Figura 169 – Vista posterior do antebraço Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 156 Unidade II • Localização de suas fixações: alguns músculos são nomeados conforme os seus pontos de origem e inserção. A origem é sempre o primeiro nome. Por exemplo, o músculo esternocleidomastóideo tem duas origens, no esterno e na clavícula, e sua inserção é no processo mastoide do osso temporal. Veja a figura: Músculo esternocleidomastóideo Figura 170 – Vista anterolateral da cabeça e do pescoço • Número de ventres: existem músculos que apresentam mais de um ventre muscular, com tendões intermediários entre eles. Podem ser digástricos, quando possuem dois ventres musculares (como o músculo digástrico), ou poligástricos, quando apresentam três ou mais ventres musculares (um exemplo é o músculo reto do abdome). Veja as figuras: Músculo temporal Músculo digástrico Músculo reto do abdome Figura 171 – Vista lateral da cabeça Figura 172 – Vista anterior do tronco • Embriologia: os músculos podem ser divididos em tipo miomérico, ou seja, derivados de miótomos, que são a grande maioria, e tipo branquiomérico, ou seja, derivados dos arcos branquais (faríngeos), como os músculos da mastigação, da face, da faringe e da laringe e os músculos trapézio e esternocleidomastóideo. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 157 ANATOMIA • Ação: quando os músculos são chamados pelas suas ações, são utilizadas palavras como flexor, extensor ou adutor no nome. Um exemplo é o músculo extensor longo do hálux. Lembrete Os nomes dos músculos são dados conforme certos critérios, como a sua localização, o tamanho, a forma, a disposição das fibras musculares, a origem, a inserção, o número de cabeças, a embriologia e a função. A figura a seguir ilustra e resume algumas das classificações estudadas: Tendão de origem Tendão de inserção Tendão intermediário Tendão intermediário Intersecções musculares Ventre Ventre Bíceps Tríceps Quadríceps Superfície de corte do músculo esfincter Secção transversal fisiológica do músculo Secção anatômica do músculo Ângulo de inclinação das fibras Origens musculares Aponeurose (inserção) A B D E C Figura 173 – Tipos de músculos estriados esqueléticos: A) Número de origens (pontos fixos); B) Direção das fibras; C) Músculo poligástrico; D) Fibras horizontais; E) Origem e inserção de um músculo largo Gilberto Realce 158 Unidade II 6.2.5 Agonistas, sinergistas e antagonistas Vamos compreender alguns conceitos novos? O que serão os músculos agonistas, sinergistas e antagonistas? O músculo que se contrai durante um movimento é chamado de agonista. Durante um movimento, sempre acontece a ação conjugada ou na sequência de diversos músculos. Um músculo dificilmente se contrai só. Músculos que trabalham em conjunto durante certo movimento são chamados de sinergistas. Músculos que durante a realização de um movimento trabalham na direção oposta ao movimento, mesmo que apenas em seu alongamento passivo, são chamados de antagonistas. Portanto, a realização de qualquer movimento é motivada pela ação conjunta dos sinergistas e antagonistas. Um músculo que antes de sua contração é alongado pelos antagonistas alcança uma contração máxima maior. Por esse motivo é realizado um movimento de regresso, por exemplo, no arremesso de peso. Contudo, quando um músculo é conduzido a uma posição que lhe possibilite somente um pequeno alongamento, sua força de contração diminui-se imensamente, por exemplo, na “chave de braço”. Veja as figuras a seguir: Figura 174 – Arremesso de peso Figura 175 – “Chave de braço” Gilberto Realce 159 ANATOMIA 6.2.6 Anatomia dos músculos Estudaremos agora os principais grupos musculares. Os músculos serão considerados na seguinte ordem: cabeça e pescoço, dorso, tórax, abdome, períneo, membro superior e membro inferior. Os músculos situados na região da cabeça são do tipo estriado esquelético, de contração voluntária. Nem sempre a inserção do músculo está em ossos; os músculos da expressão facial, por exemplo, se inserem na pele da face, conformeilustra a figura a seguir: Figura 176 – Músculos da expressão facial: 1) Músculo nasal (parte alar); 2) Músculo levantador do lábio superior e da asa do nariz; 3) Músculo levantador do lábio superior; 4) Músculo levantador do ângulo da boca; 5) Músculo zigomático menor; 6) Músculo zigomático maior (seccionado); 7) Músculo bucinador; 8) Músculo orbicular da boca Nessas situações, os músculos movem as estruturas anatômicas nas quais se inserem. Os músculos da expressão facial ou da mímica facial se distribuem ao redor dos orifícios orbitais, nasais, oral e nas bochechas e se continuam com o platisma, no pescoço. São, desse modo, músculos superficiais, sem revestimento de fáscia muscular, que se inserem na pele da face, movimentando-a. Os papéis dos músculos da expressão facial, conforme a sua localização, estão relacionados com a preensão e a mastigação dos alimentos, a respiração, o olfato, a visão, a participação na comunicação e, em muitos indivíduos, a música, o canto e os instrumentos de sopro. A maioria desses músculos serve para a expressão dos sentimentos. A contração dos músculos da expressão facial determina a formação de pregas na pele perpendiculares ao sentido das fibras do músculo. Com o avanço da idade, as pregas formadas na pele pela contração dos músculos da expressão facial vão se tornando permanentes, em razão da redução de elasticidade da pele. Os músculos da mastigação atuam sobre a mandíbula, movendo-a em diferentes direções e planos. Podemos considerá-los como os músculos da mandíbula: o músculo masseter, o músculo temporal e os músculos pterigóideos medial e lateral, conforme ilustram as figuras a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce 160 Unidade II Figura 177 – Músculos da mastigação: 1) Músculo temporal, fibras anteriores; 2) Músculo temporal, fibras médias; 3) Músculo temporal, fibras posteriores; 4) Músculo masseter, feixe superficial; 5) Músculo masseter, feixe profundo Figura 178 – Músculos da mastigação: 1) Músculo pterigóideo medial; 2) Músculo pterigóideo lateral Os músculos do pescoço incluem vários grupos de músculos estriados esqueléticos, alguns relacionados com a cabeça e outros com o tórax, como o músculo esternocleidomastóideo, os músculos supra-hióideos, os músculos infra-hióideos, os músculos suboccipitais e os músculos escalenos. Apenas os músculos supra e infra-hióideos serão descritos neste momento. Os músculos supra-hióideos constituem-se de quatro pares de músculos: o digástrico, o estilo-hióideo, o milo-hióideo e o genio- hióideo, que se ligam ao crânio e ao hioide. Surgem na face anterior do pescoço, acima do osso hioide, onde se inserem. Movem o hioide durante a deglutição e quase todos eles movimentam a mandíbula, abaixando-a. Por isso, apesar de não serem classificados como músculos da mastigação, participam também dos movimentos mandibulares e podem ser chamados de músculos abaixadores da mandíbula. As figuras a seguir ilustram os músculos supra-hióideos: Gilberto Realce 161 ANATOMIA Figura 179 – Músculos supra-hióideos: 1) Músculo digástrico, ventre posterior; 2) Músculo digástrico, ventre anterior; 3) Músculo estilo-hióideo, dividido em dois feixes que envolvem o tendão intermediário do digástrico; 4) Músculo milo-hióideo Figura 180 – Músculos supra-hióideos: 1) Músculos genio-hióideos; 2) Músculo milo-hióideo; 3) Osso hioide Saiba mais No capítulo 8 da obra a seguir (páginas 76 a 80), os músculos da cabeça estão ilustrados nas figuras 8.5 a 8.8. Os quadros 8.1 e 8.2 descrevem os músculos da mastigação e da expressão facial. Leia: LAROSA, P. R. R. Anatomia Humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Todos os músculos infra-hióideos são pares (direito e esquerdo). São eles: músculo esterno-hióideo, omo-hióideo, tireo-hióideo e esternotireóideo, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce 162 Unidade II M. tireo-hióideo M. omo-hióideo (superior e inferior) M. esternocleidomastóideo M. esterno-hióideo M. esternotireóideo Figura 181 – Vista anterolateral do pescoço Saiba mais No capítulo 15 (páginas 141 a 147) da obra a seguir você obterá maiores detalhes sobre esses músculos: ROSSI, M. A. Anatomia craniofacial aplicada à Odontologia: abordagem fundamental e clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Concentraremos agora os nossos estudos nos músculos do dorso e da coluna vertebral. Se você buscar no livro Gray Anatomia, de Henry Gray (1988), observará que não existe nada menos do que cinco camadas de músculos do dorso. A mais superficial é formada por dois músculos grandes e potentes com os quais os educadores físicos estão acostumados: os músculos latíssimo do dorso e trapézio. Alguns músculos nas camadas médias tendem a estender-se horizontalmente e apresentam como papel escorar a escápula e as costelas. Têm ainda camadas longitudinais mais profundas organizadas ao longo da coluna. As superficiais tendem a ser relacionadas aos movimentos mais amplos e potentes, à medida que as mais profundas apresentam especialmente papel postural. Começaremos de forma oposta, inicialmente com os músculos mais profundos e, a partir daí, examinaremos os mais superficiais que estão sobre eles. Existem duas camadas de músculos profundos do dorso que apresentam papel postural e compõem o sistema extensor da coluna e do tronco; portanto, são os músculos que nos mantêm na postura ereta. A primeira camada é composta de uma sequência de músculos pequenos que adéquam sustentação à coluna ao longo de toda sua extensão; alguns deles agem como pequenos ligamentos que prendem cada vértebra com as outras localizadas sucesivamente superior e inferior a ela. Assim, a primeira camada mais profunda do dorso é formada Gilberto Realce 163 ANATOMIA pelos músculos transversoespinais, que contêm três grupos: os multífidos, os semiespinais do tórax, do pescoço e da cabeça e os rotadores. A segunda camada muscular mais profunda do dorso é composta de três outros músculos relacionados que estão relacionados com a coluna vertebral. São os músculos intertransversário, interespinal e levantadores das costelas. As figuras a seguir ilustram as duas camadas profundas de músculos do dorso: M. semiespinal da cabeça M. rotadores M. multífidos M. semiespinal do tórax M. semiespinal do pescoço Figura 182 – Camada profunda dos músculos do dorso M. interespinal M. levantadores das costelas M. rotadores M. intertransversário M. levantadores das costelas M. interespinal Figura 183 – Camada profunda dos músculos do dorso Existe ainda um grupo de músculos muito relevante que devemos notar para concluirmos a camada profunda dos músculos extensores da coluna. Esses são os músculos suboccipitais, assim chamados porque estão situados sob o occipital. Os músculos suboccipitais incluem os retos (maior e menor) e os oblíquos (superior e inferior) da cabeça, que auxiliam no equilíbrio da cabeça, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 164 Unidade II M. oblíquo inferior da cabeça M. oblíquo superior da cabeçaM. reto posterior menor da cabeça M. reto posterior maior da cabeça Figura 184 – Músculos suboccipitais Lembrete A camada mais profunda de músculos do dorso é formada pelos multífidos, semiespinal do tórax, semiespinal do pescoço, semiespinal da cabeça e rotadores, compondo o grupo transversoespinal. Os músculos levantadores das costelas, intertransversários e interespinais formam a segunda camada de músculos profundos do dorso. A segunda camada de músculos do dorso é chamada de eretor da espinha e é incubida de sustentar a postura ereta. Resumindo esse grupo de músculos, pense nele como se fosse composto de “três colunas de músculos”, ou seja, a coluna lateral, com o músculo iliocostal, a coluna média, com o músculo longuíssimo, e a coluna mais medial, com o músculo espinal. Cada um dos músculos apresenta diferentes segmentos, cada qual chamado conforme o território que ocupa. Assim,o músculo iliocostal tem dois segmentos: o iliocostal do lombo (parte lombar e torácica) e o iliocostal do pescoço. O músculo longuíssimo também apresenta três segmentos: o longuíssimo do tórax, o longuíssimo do pescoço e o longuíssimo da cabeça. E por fim, os músculos espinais possuem dois segmentos: o espinal do tórax e o espinal do pescoço, conforme ilustra a figura a seguir: Coluna lateral M. iliocostal do pescoço Coluna lateral M. iliocostal do tórax Coluna medial M. espinal do tórax Coluna lateral M. iliocostal do lombo Coluna intermédia M. longuíssimo da cabeça Coluna intermédia M. longuíssimo do pescoço Coluna intermédia M. longuíssimo do tórax Coluna medial M. espinal do pescoço Figura 185 – Músculos eretores da espinha Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 165 ANATOMIA Lembrete Existem três feixes de músculos: o iliocostal, o longuíssimo e o espinal, que formam o eretor da espinha. Observação Os músculos suboccipitais e o eretor da espinha constituem os extensores do tronco, músculos posturais que auxiliam a manter a postura ereta e são projetados para não sofrer cansaço. Seguiremos agora com as camadas médias, ou seja, a terceira e a quarta camadas dos músculos do dorso, as quais, desigualmente da primeira e da segunda, estão relacionadas, não tanto na postura ereta, mas na sustentação das costelas e da escápula. A terceira camada é formada pelos quatro músculos que se prosseguem: o serrátil posterior superior, o serrátil posterior inferior, o esplênio da cabeça e o esplênio do pescoço, conforme ilustra a figura a seguir: M. esplênio da cabeça M. serrátil posterior superior M. serrátil posterior inferior M. esplênio da pescoço Figura 186 – Terceira camada dos músculos do dorso A quarta camada é formada pelo levantador da escápula e pelos romboides menor e maior, conforme ilustra a figura a seguir: M. levantador da escápula M. romboide menor M. romboide maior Figura 187 – Quarta camada dos músculos do dorso Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 166 Unidade II A quinta camada muscular ou superficial do dorso é formada por duas lâminas musculares “enérgicas” que revestem quase todo o dorso: os músculos trapézio e latíssimo do dorso, conforme ilustra a figura a seguir: M. latíssimo do dorso M. trapézio Figura 188 – Quinta camada dos músculos do dorso Antes de continuarmos com os músculos do tórax e do abdome, notaremos rapidamente um grupo de músculos que se insere anteriormente na coluna, na região do pescoço: os três músculos escalenos (anterior, médio e posterior, conforme ilustra a figura a seguir). Eles sustentam as costelas e estão associados à respiração. M. esternocleidomastóideo M. esternocleidomastóideo (rebatido)(rebatido) M. escaleno M. escaleno posteriorposterior M. escaleno médioM. escaleno médio M. escaleno M. escaleno anterioranterior M. omo-hióideo (cortado)M. omo-hióideo (cortado) Plexo Plexo braquialbraquial Figura 189 – Vista anterolateral do pescoço após remoção do platisma, rebatimento do músculo Gilberto Realce Gilberto Realce 167 ANATOMIA esternocleidomastóideo e secção do músculo omo-hióideo Abordaremos agora os músculos do tórax. Eles podem ser divididos nos seguintes grupos: • Os músculos tóraco-apendiculares, ou seja, os músculos torácicos dos membros superiores. Eles conectam o tórax ao esqueleto do membro superior, mais exatamente à cintura escapular e ao úmero. Eles são considerados “músculos do peito”, pois revestem a parte anterolateral do tórax e se distribuem em três camadas: (I) músculo peitoral maior e músculo esternal; (II) músculo peitoral menor e músculo subclávio; (III) músculo serrátil anterior. • Os músculos intrínsecos do tórax, ou seja, os músculos próprios do tórax. Eles vão da coluna vertebral ao tórax e estendem-se entre as costelas ou entre o esterno e as costelas. São eles: os levantadores das costelas, os levantadores longos das costelas, os levantadores curtos das costelas, os subcostais, os intercostais e o transverso do tórax. Temos duas camadas de músculos entre as costelas, os intercostais internos e externos, conforme ilustra a figura a seguir, que são responsáveis pela respiração. O músculo transverso do tórax que auxilia na expiração forçada é aquele que, às vezes, podemos sentir contrair no interior do tórax; ele colabora para a rijeza do tórax naqueles indivíduos que o elevam e o fixam durante a fala e a respiração. Músculos intercostais internos Músculos intercostais externos Músculos transversais do torax Figura 190 – Os músculos do tórax Definiremos o diafragma, representado na figura a seguir, como um septo muscular tóraco-abdominal, que separa o tórax do abdome, sendo a base do tórax e a cúpula do abdome. Poderia ser incluído entre os músculos do abdome, contudo, motivos fisiológicos, relacionados com a respiração, o levam a ser compreendido entre os músculos torácicos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 168 Unidade II Inspiração Expiração Figura 191 – O diafragma Vamos agora fixar-nos aos músculos do abdome. Se você notar os músculos intercostais ou da parte superior do tronco e checá-los aos músculos do abdome, observará que assim como no tórax, os músculos da região abdominal expandem-se de maneira oblíqua e são apenas extensões dos músculos do tórax. Os músculos do abdome são formados por três camadas correspondentes aos músculos intercostais externos e internos e o transverso do tórax, o músculo posterior ao esterno. Existem quatro músculos principais no região do abdome. São eles: os músculos oblíquos (externo e interno) do abdome, o músculo transverso do abdome e o músculo reto do abdome, conforme ilustra a figura a seguir: Músculo oblíquo interno abdome Músculo oblíquo externo abdome Músculo transverso do abdome Músculo reto do abdome Figura 192 – Os músculos do abdome Partiremos agora para a pelve e o períneo. A pelve é um anel de osso, como vimos anteriormente ao estudarmos os ossos. Ela possui uma abertura inferior fechada por uma parede de músculos, pelos Gilberto Realce 169 ANATOMIA quais o ânus e as aberturas urogenitais adentram. A maior parte do assoalho pélvico é composta de músculo coccígeo e de músculo levantador do ânus, que chamados em conjunto de diafragma pélvico. A área inferior do assoalho pélvico é o períneo, semelhante com a forma de diamante. A metade anterior do diamante é o triângulo urogenital, e a metade posterior é o triângulo anal. Durante a gestação, os músculos do diafragma pélvico e do triângulo urogenital podem ser alongados pelo peso extra do feto, e exercícios físicos especiais são elaborados para tonificá-los. Saiba mais Leia o capítulo 11 (páginas 360-363) da obra a seguir e veja as características específicas dos músculos do assoalho pélvico que suportam as vísceras pélvicas e agem como esfíncteres: TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Vamos estudar os músculos dos membros superiores? Eles são desenhados para fixar o braço no corpo e prover potência e perfeição aos movimentos dos dedos e do polegar. Para uma melhor compreensão, dividiremos os músculos do ombro e do braço em três grupos: • os músculos ligados do tronco ou crânio à cintura escapular; • os músculos ligados da cintura escapular ao úmero; • os músculos ligados do tronco ao úmero. No primeiro grupo encontramos os seguintes músculos: o esternocleidomastóideo, o trapézio, os romboides e o levantador da escápula, já vistos na musculatura do dorso. No segundo grupo temos os seguintes músculos: deltoide, redondos (maior e menor), coracobraquial, bíceps braquial, tríceps braquial, supraespinal, infraespinal e subescapular. No terceiro grupo nos deparamos com os seguintes músculos: latíssimo do dorso (visto na musculatura do dorso) e peitoral maior. ObservaçãoA ação muscular reversa do músculo latíssimo do dorso permite que a coluna vertebral e o tronco sejam elevados, como nos exercícios na barra. É frequentemente chamado de músculo do nadador porque suas muitas ações são utilizadas na natação; consequentemente, muitos nadadores possuem esses músculos bem desenvolvidos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 170 Unidade II As figuras a seguir ilustram esses músculos citados: M. deltoide M. serrátil anterior M. oblíquo externo M. peitoral maior M. peitoral menor M. bíceps braquial M. latíssimo do dorso Figura 193 – Vista lateral Figura 194 – Vista posterior Figura 195 – Vista anterior 171 ANATOMIA Observação Os músculos supraespinal, infraespinal, subescapular e redondo menor formam o manguito rotador. Observação Jogadores de beisebol, por arremessarem muito forte, podem romper seus manguitos rotadores. Esses rompimentos procedem em dor na parte anterossuperior do ombro. Indivíduos senis também podem desenvolver essa dor, em virtude de tendinite degenerativa do manguito rotador. O tendão do supraespinal é a parte mais frequentemente atingida do manguito rotador, seja em trauma ou degeneração, possivelmente porque ele tem um suprimento sanguíneo relativamente pobre. Se a lesão é grave, cirurgia é imprescindível para restaurar a região. Passaremos agora para os músculos do cotovelo e do antebraço. Nessa região encontraremos o bíceps braquial e o tríceps braquial, estudados anteriormente; além dos músculos braquial, ancôneo, braquiorradial, pronadores (redondo e quadrado) e supinador, conforme ilustra a figura a seguir: M. deltoide M. latíssimo do dorso M. bíceps braquial M. braquial M. tríceps braquial M. braquiorradial M. braquiorradial Nervo mediano M. oblíquo externo M. serrátil anterior M. peitoral maior Clavícula Figura 196 – Vista anterior superficial Entre os músculos que atuam no punho temos dois compartimentos: o anterior e o posterior. A maioria dos músculos do antebraço do compartimento anterior é responsável pela flexão do punho e dos dedos, enquanto a maioria dos músculos do antebraço do compartimento posterior realiza a extensão do Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 172 Unidade II punho e dos dedos. Assim, encontraremos os seguintes músculos, respectivamente, nos compartimentos anterior e posterior: flexor ulnar do carpo, flexor radial do carpo, palmar longo, extensores radiais (longo e curto do carpo) e extensor ulnar do carpo, como ilustram as figuras a seguir: Artéria radial M. flexor radial do carpo M. pronador redondo M. braquiorradial M. palmar longo M. flexor ulnar do carpo M. flexor superficial dos dedos Figura 197 – Vista anterior M. ancôneo M. extensor ulnar do carpo M. extensor do dedo mínimo M. extensor curto dos dedos M. abdutor longo do polegar M. extensor dos dedos M. extensor radial curto do carpo M. braquiorradial M. extensor radial longo do carpo Retináculo dos músculos extensores Tendões dos músculos extensores do dedo mínimo Tendões dos músculos extensores dos dedos Figura 198 – Vista posterior superficial Gilberto Realce Gilberto Realce 173 ANATOMIA Por fim, nos membros superiores, estudaremos os músculos das mãos. Há dois grupos: os músculos extrínsecos e os intrínsecos. Os músculos extrínsecos da mão estão no antebraço, contudo apresentam tendões que se estendem para dentro da mão. Entre eles, citamos o flexor radial do carpo, o flexor ulnar do carpo, o extensor radial longo do carpo, o extensor radial curto do carpo e o extensor ulnar do carpo, vistos anteriormente. Os músculos intrínsecos da mão estão inteiramente dentro da mão. Os músculos intrínsecos da mão encontrados na eminência tenar são o abdutor do polegar, o adutor curto do polegar, o flexor curto do polegar e o oponente do polegar, enquanto os músculos intrínsecos da mão encontrados na eminência hipotênar são o abdutor curto do dedo mínimo, o flexor curto do dedo mínimo e o oponente do dedo mínimo, conforme ilustram as figuras a seguir: Tendões do m. flexor superficial dos dedos M. flexor curto do dedo mínimo M. abdutor curto do dedo mínimo Retináculo dos músculos flexores M. abdutor curto do polegar M. flexor curto do polegar M. adutor curto do polegar Tendão do m. flexor longo do polegar Mm. lumbricais Figura 199 – Vista superficial anterior Tendões do mm. flexores (cortados) Mm. Interósseos palmares M. oponente do dedo mínimo M. flexor curto do dedo mínimo M. abdutor curto do dedo mínimo M. oponente do polegar M. adutor curto do polegar Mm. Interósseos dorsais Figura 200 – Vista profunda anterior Gilberto Realce Gilberto Realce 174 Unidade II Observação Os tendões dos músculos abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar formam as laterais de uma depressão na parte posterolateral do punho chamada de tabaqueira anatômica. Quando cheirar rapé estava em moda, uma pequena pitada poderia ser posta na tabaqueira anatômica e inalada pelo nariz. Estudaremos agora os músculos dos membros inferiores. Eles suportam a massa corporal em uma postura ereta e mobilizam o peso em movimento. Em muitos enfoques, a arquitetura anatômica do membro inferior é idêntica à do membro superior; contudo, em áreas funcionais-chave, as mudanças que o membro inferior deve adotar para suportar peso são evidentes. Primeiro veremos os músculos localizados no quadril e na coxa. Para facilitar o entendimento, dividiremos a coxa em quatro compartimentos: anterior, medial, posterior e lateral. Nos compartimentos anterior e medial da coxa encontraremos os seguintes músculos: sartório, íliopsoas, reto femoral, pectíneo, adutores (longo, curto e magno) e grácil, conforme ilustra a figura a seguir: Figura 201 – Vista anterior No compartimento posterior da coxa encontraremos os seguintes músculos: bíceps femoral (cabeça longa e curta), semitendíneo e semimembranáceo, conforme ilustra a figura a seguir: Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 175 ANATOMIA Figura 202 – Vista posterior Observação Os músculos bíceps femoral cabeça longa, semitendíneo e semimembranáceo formam os isquiotibiais. Agora abordaremos os músculos encontrados no compartimento lateral da coxa e os da região glútea. Entre eles temos os seguintes: tensor da fáscia lata, glúteos (máximo, médio e mínimo), piriforme, obturatório (interno e externo), quadrado da coxa e gêmeos (superior e inferior), conforme ilustram as figuras a seguir: Figura 203 – Vista lateral Gilberto Realce Gilberto Realce 176 Unidade II Figura 204 – Vista posterior: 1) Músculo piriforme; 2) Músculo obturatório interno; 3) Músculo gêmeo superior; 4) Músculo gêmeo inferior; 5) Músculo quadrado da coxa Observação O trato iliotibial é uma fáscia longa que se encontra na face lateral da coxa. Observação Você já ouviu sobre a síndrome do trato iliotibial ou joelho de corredor? Ela é uma lesão inflamatória aguda vista em ciclistas, corredores e esportistas de longa distância, especialmente quando o mecanismo do esporte envolve flexões repetidas dos joelhos. Por fim, estudaremos os músculos encontrados na perna e no pé. Vamos dividi-los em dois grupos: os músculos extrínsecos do pé e os músculos intrínsecos do pé. No primeiro grupo faremos uma subdivisão em compartimentos: anterior, posterior e lateral. Encontraremos os seguintes músculos em cada um dos compartimentos: • Anterior: músculo tibial anterior, músculo extensor longo do hálux, músculo extensor longo dos dedos e músculo fibular terceiro. • Posterior: músculo tibial posterior, músculo flexor longo dos dedos, músculo flexor longo do hálux e músculo tríceps da perna. • Lateral: músculos fibulares (longo e curto). Por fim, relacionaremos os músculos intrínsecos do pé. Na região dorsal encontraremos o músculo extensor curto dos dedos. Já na região plantar teremos três grupos: mediano, medial e lateral. Identificaremosos seguintes músculos em cada um dos grupos: • Mediano: músculos interósseos (plantares e dorsais), músculos lumbricais, músculo quadrado da planta e músculo flexor curto dos dedos. Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce Gilberto Realce 177 ANATOMIA • Medial: músculo flexor curto do hálux, músculo abdutor do hálux e músculo adutor do hálux. • Lateral: músculo abdutor do dedo mínimo e músculo flexor curto do dedo mínimo. As figuras a seguir ilustram músculos encontrados nos membros inferiores: Tendão e músculos fibulares longo e curto Músculo extensor longo do hálux Tendão do músculo extensor longo dos dedos Tendão do músculo fibular terceiro Figura 205 – Vista lateral dos músculos da perna e dorso Músculo tibial anterior Músculo extensor longo dos dedos Figura 206 – Vista anterior dos músculos da perna e dorso 178 Unidade II Músculo sóleo Músculos gastrocnêmios Músculos gastrocnêmios Tendão do calcâneo Figura 207 – Vista posterior da camada superficial dos músculos Músculo tibial posterior Figura 208 – Vista posterior da camada profunda dos músculos da perna direita 179 ANATOMIA Músculos extensor curto dos dedos e do hálux Músculo flexor curto dos dedos A B Figura 209 – Vista plantar dos músculos da planta do pé direito: A) Camada profunda após remoção parcial da aponeurose plantar e do músculo flexor curto dos dedos; B) Camada mais profunda após extensa remoção dos músculos das camadas superficial e profunda Exemplo de aplicação Vamos aplicar todo o nosso aprendizado? Pesquise as origens e as inserções dos músculos apresentados ao longo desta unidade. Elabore uma tabela contendo o nome do músculo e as suas ações. Aproveite e veja quais são os nervos responsáveis pela inervação de cada um deles. Bons estudos! Resumo O aparelho locomotor é composto de esqueleto, de articulações e de músculos. O esqueleto é dividido em esqueleto axial, que consiste no crânio, hioide, coluna vertebral e tórax. O esqueleto apendicular consiste em ossos dos membros superior e inferior. Há duas cinturas, a escapular e a pélvica. As funções do esqueleto abrangem a sustentação, a proteção, a produção de células de sangue e o armazenamento de gordura e minerais. 180 Unidade II Os ossos podem ser classificados de acordo com a sua forma em: longos, curtos, planos e irregulares. As superfícies externas dos ossos apresentam detalhes anatômicos, como tuberosidades, fossas, forames e incisuras. Um típico osso longo possui diáfise, com um canal medular preenchido por medula óssea, epífises, periósteo e endósteo. O osso compacto é a parte densa externa; o osso esponjoso é a parte interna porosa e vascular. As articulações são formadas quando os ossos vizinhos se articulam. Elas são classificadas de acordo com o tecido interposto em fibrosas, cartilagíneas e sinoviais. As articulações fibrosas são de quatro tipos: suturas, sindesmoses, gonfoses e esquindileses. Os dois tipos de articulações cartilagíneas são as sincondroses e as sínfises. As articulações sinoviais com liberdade de movimentos apresentam estruturas anatômicas, como a cápsula articular, a membrana sinovial, o líquido sinovial, a cartilagem articular, os ligamentos, os meniscos e os discos articulares. Os músculos estriados esqueléticos possuem características macroscópicas, como o ventre muscular, os tendões, as aponeuroses e as fáscias musculares. Os nomes que os músculos estriados esqueléticos receberam foram baseados na forma, no tamanho, na direção das fibras, no número de origens, na localização de suas fixações e nas ações. Os músculos do esqueleto axial incluem aqueles responsáveis pela expressão facial, mastigação, parede abdominal e coluna vertebral. Os músculos do esqueleto apendicular incluem os músculos dos membros superiores e inferiores. Exercícios Questão 1. As articulações fibrosas, que apresentam uma pequena porção de tecido conjuntivo fibroso entre os ossos, podem ser classificadas em suturas e sindesmoses. Denominam-se de suturas as articulações encontradas: A) entre a tíbia e a fíbula. B) entre os ossos da costela e o esterno. C) entre os ossos do crânio. D) entre os ossos da mão. E) entre os ossos dos pés. Resposta correta: alternativa C. Gilberto Realce Gilberto Realce 181 ANATOMIA Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: é uma articulação sinovial plana entre a face articular da cabeça da fíbula e a face articular fibular da tíbia. B) Alternativa incorreta. Justificativa: as articulações das cartilagens costais com o esterno são sinoviais (diartroses) planas, apresentando todas as características de uma articulação sinovial com uma exceção: a cartilagem da primeira costela está diretamente unida ao esterno e se trata de uma sincondrose. C) Alternativa correta. Justificativa: as suturas são as articulações fibrosas encontradas entre os ossos do crânio. D) Alternativa incorreta. Justificativa: entre os ossos da mão temos as articulações metafalângicas ou metacarpais. E) Alternativa incorreta. Justificativa: entre os ossos dos pés temos as articulações metatarsais. Questão 2. (Fuvest 2007). A arte de Leonardo da Vinci se beneficiou de seus estudos pioneiros de anatomia, que revelam como músculos, tendões e ossos constituem sistemas mecânicos de trações, alavancas e torques, como é possível ver em alguns dos seus desenhos. Para que Leonardo da Vinci pudesse representar ações de abraçar-se ou abrirem-se os braços, foi importante saber que entre os principais músculos contraídos em cada situação estão, respectivamente, 182 Unidade II Dorsais Bíceps Tríceps Peitorais Figura Músculos contraídos (abraçar-se) Músculos contraídos (abrirem-se os braços) A) Os peitorais e os tríceps Os dorsais e os bíceps B) Os peitorais e os bíceps Os dorsais e os tríceps C) Os dorsais e os tríceps Os peitorais e os bíceps D) Os dorsais e os bíceps Os peitorais e os tríceps E) Os peitorais e os dorsais Os bíceps e os tríceps Resolução desta questão plataforma.