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Música e religiosidade
 
 Os africanos de diversas etnias e de diferentes regiões do continente que foram trazidos para o Brasil no período da escravidão, contribuíram muito na formação cultural do país nos seus mais diversos aspectos, como língua, culinária, música e religião. A música e a religião, de maneira geral, tem relação bastante estreita, porém nas religiões de matriz africana, como o candomblé e umbanda, são praticamente indissociáveis. As cerimônias, que ocorrem nos barracões ou terreiros, são marcadas principalmente pelos cânticos e pelo toque dos três atabaques, que são tambores de madeira com couro animal e de diferentes tamanhos, às vezes também pelo agogô, instrumento composto por dois sinos e pelo xequerê, chocalho feito de cabaça revestido com uma teia de contas. E como a música nos terreiros é basicamente canto e ritmo, logo também há muita dança. 
Em todas as religiões a música tem uma função dentro da liturgia, mas nas religiões de matriz africana ela está presente em praticamente tudo como nos ritos de iniciação, de oferenda, festivos, fúnebres, etc. Porém, a função principal da música nestas religiões é a invocação das divindades, os orixás e dos caboclos para que se façam presentes nas cerimônias. Existem vários ritmos e cânticos específicos para cada orixá e caboclo, tudo aprendido de cor pelos músicos, chamados de ogãs. 
A música do candomblé foi matriz de muitos outros ritmos como o batuque, o samba de roda, maracatu, afoxé e o samba. Figuras importantes no surgimento do samba no Rio de Janeiro foram as “tias baianas”, com destaque para Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. Vinda da Bahia para o Rio de janeiro no movimento migratório que ficou conhecido como diáspora baiana. Cozinheira, doceira, costureira e iaquequerê (mãe de santo menor), promovia após as cerimônias religiosas, encontros e saraus em sua casa na Praça Onze, frequentados pela comunidade local, membros e músicos do terreiro e por aqueles que se tornariam grandes nomes na história do samba, como Donga, Mauro de Almeida (ambos compositores de “Pelo telefone”, primeiro samba gravado em 1917), João da Baiana, Pixinguinha, entre outros. Além disso, todo ano durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, onde eram lançadas as marchinhas que ficariam famosas no Carnaval da cidade. Tia Ciata era considerada uma autoridade no meio do samba carioca.
 O ensino da música no meio religioso é muito comum, porém muito importante, pois para muitos, é o primeiro contato com o fazer musical e muitas vezes o único. Muitas crianças e jovens e até adultos se interessam por um instrumento ou canto durante as celebrações religiosas. Nos terreiros e igrejas que muitos aprendem as primeiras notas, os primeiros ritmos e dali alguns se aprofundam e até se profissionalizam. É bastante recorrente projetos em igrejas que ensinam música, alguns mais rígidos, seguindo uma metodologia, outros mais livres, mas achei muito interessante um trabalho que acontece em São Bento, Duque de Caxias – RJ, onde instrumentos das culturas africana e europeia se misturam. Uma ideia do professor Victor Bruno Barbosa dos Santos que criou o Curso Livre de Educação Musical Criativa e Coletiva que acontece no terreiro de candomblé de sua avó. A proposta da escola encantou a ialorixá (mãe de santo) Gilda Correia Vieira, avó de Victor, e foi por isso que ela não mediu esforços para que a ideia saísse do papel.
 Por estarem num terreiro de candomblé, a mistura de ritmos aconteceu naturalmente. Victor quis unir a cultura e os ritmos africanos à realidade cultural dos jovens e os ritmos que estão acostumados, como o pop, o funk, o reggae, o rock, por exemplo. A escola oferece aulas regulares de instrumentos de sopro, percussão, cordas, canto e teoria musical.
Achei interessante este projeto por mostrar a “não iniciados” a riqueza do universo da cultura afro-brasileira através da música e ajudar os jovens a quebrar os velhos preconceitos e a valorizar as nossas raízes.

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