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DIREITO PENAL ESPECIAL Professor: Fabrício Lima CRIMES CONTRA A PESSOA Crimes contra a vida; Lesões Corporais; Crimes contra a honra. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio é a eliminação da vida de alguém levada a efeito por outrem. Simples Homicídio simples é a figura básica, elementar, original na espécie. Privilegiado Causa de diminuição de pena, também conhecida como minorante, que não interferem na estrutura da descrição típica, Qualificado As circunstâncias que qualificam o homicídio são mais complexas e variadas e dividem-se em: a) motivos; b) modo; c) meios, e d) fins. As qualificadoras do crime de homicídio são circunstâncias acidentais e não se confundem com a circunstância elementar que o compõe o caput do art. 121 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio é a eliminação da vida humana alheia extrauterina praticada, executada por outra pessoa. Início e fim da vida para os fins do delito de homicídio Início Para a tutela penal de homicídio, a vida começa com o nascimento de pessoa viva. Analisava-se a existência de vida pelo sinal de respiração, partia-se do axioma “viver é respirar”. Esse método não é mais utilizado. Fim Ocorre com a parada da atividade electro-encefálica (artigo 3º da Lei n. 9.434/97). 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Classificação do HOMICÍDIO: 1- Crime de ação livre: porque pode ser cometido de variadas maneiras (arma, veneno, palavra etc.) 2- De dano: De dano porque apresenta resultado naturalístico. 3- Comissivo ou comissivo por omissão: Comissivo porque pode ser cometido mediante ação. Comissivo por omissão porque pode decorrer de uma conduta omissiva imprópria (posição de garantidor) 4- Material: Material porque se consuma com o resultado naturalístico 5- Monossubjetivo: Monossubjetivo, ou de concurso eventual, em razão da possibilidade de ser cometido por uma só pessoa e, também, da possibilidade de ser cometido por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. 6- Plurissubsistente: Plurissubsistente porque admite o fracionamento da sua fase executória, de modo que é compatível com tentativa. 7- Comum: Comum porque pode ser cometido por qualquer pessoa, não exige uma qualidade especial do sujeito ativo. 8- Instantâneo de efeitos permanentes: Instantâneo de efeitos permanentes porque se consuma em dado instante e seu resultado permanece irreversível 9- Não transeunte: Não transeunte porque deixa vestígios de modo a exigir o exame de corpo de delito. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Classificação do HOMICÍDIO: 6- Plurissubsistente: Plurissubsistente porque admite o fracionamento da sua fase executória, de modo que é compatível com tentativa. 7- Comum: Comum porque pode ser cometido por qualquer pessoa, não exige uma qualidade especial do sujeito ativo. 8- Instantâneo de efeitos permanentes: Instantâneo de efeitos permanentes porque se consuma em dado instante e seu resultado permanece irreversível 9- Não transeunte: Não transeunte porque deixa vestígios de modo a exigir o exame de corpo de delito. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Qual o momento divisor entre o aborto e o homicídio? É o início do trabalho de parto, que se dá com o rompimento do saco amniótico. É indiferente ter havido ou não o corte do cordão umbilical. Sujeitos do crime Sujeito ativo: Qualquer pessoa Sujeito passivo: É o ser vivo nascido de mulher (Basileu Garcia), ainda que seja um monstrengo e não tenha forma humana. Elemento subjetivo: É o chamado “animus necandi”. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio . Homicídio Simples O homicídio simples está tipificado no caput do art. 121 do CP: “ Matar alguém” Pena – reclusão, de seis a vinte anos”. O homicídio simples não é considerado crime hediondo, salvo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio . Homicídio Simples QUESTÃO: O homicídio sem motivo é simples ou qualificado? O homicídio simples se configura, inclusive, quando o crime é cometido sem motivo. Conquanto exista divergência doutrinária, o STJ já decidiu que o homicídio sem motivo é simples, sob o fundamento de não existir expressamente essa forma qualificada. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio minorado (art. 121, §1º do CP) É causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3, conforme consta no CP. Não se trata, portanto, de privilégio. A lei diz que o juiz “pode” reduzir a pena: isto é faculdade ou dever do juiz? Entende-se que é obrigatória e a expressão traduz um poder-dever do juiz. Por ser subjetivo, o privilégio não se comunica aos demais autores do crime. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Hipóteses Relevante valor moral: Diz respeito ao interesse do sujeito do crime (ex: eutanásia, matar o sujeito que há meses estuprou sua filha). Relevante valor social: Tido como nobre pelo interesse da coletividade (ex: matar o traidor da pátria, o chefe do morro que escraviza a população ou o traficante do colégio); Nota-se que não é qualquer valor moral ou social que justifica o privilégio; deve ele ser relevante, haver efetivo interesse. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Hipóteses Homicídio emocional: Age sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a uma injusta provocação da vítima. Domínio Traduz estado emocional absolutamente instável, estado de choque Logo em seguida Traduz, a princípio, relação de imediatidade. Contudo, na prática, seu alcance é ampliado para abranger todo o período de descontrole emocional. Contudo, o requisito temporal não deve ser ampliado de tal forma que permita a vingança privada ou a premeditação. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Cuidado para não confundir com a atenuante disposta no artigo 65, III, alínea “c” do Código Penal em que há influência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima. A eutanásia pode configurar homicídio privilegiado. Provocação putativa: Não impede que seja configurado o privilégio. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio qualificado (artigo 121, § 2º) Motivos (I e II): Subjetivas Meios (III): Objetivas Modos ou formas (IV): Objetiva Finalidade (V): Subjetiva Contra mulher em razão do gênero (VI): Diz respeito a um motivo também, qual seja, homicídio por razões da condição de sexo feminino: Objetiva (STJ HC 433.898; j. 24/04/18) 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio qualificado (artigo 121, § 2º) Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Subjetiva Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: Objetiva Meio x Modo: Meio é o instrumento de que o agente se serve para praticar o homicídio, já modo é a forma de empregar os meios escolhidos. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Motivos (incisos I e II): Interpretação analógica: No inciso I, o legislador utilizou a técnica da interpretação analógica, pois há um rol exemplificativo, seguido de uma cláusula geral que com este guarda relação. Interpretação analógica: Forma de interpretação da norma. Admitida sem ressalvas Analogia Forma de integração da norma. Admitida somente em benefício do réu. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Inciso I, primeira parte: Homicídio sicário ou mercenário: “Mediante paga ou promessa de recompensa”: A diferença está no âmbito temporal: a paga se dá com a entrega da vantagem ou bem antes da prática do delito, já na promessa a recompensa é entregue depois. Amera promessa é apta a qualificar o crime. Não é necessário que a recompensa seja em dinheiro, bastando que represente qualquer vantagem (exemplo: prometer emprego). 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificadora do homicídio mercenário e aplicação ao mandante A jurisprudência ainda diverge: Sim (STF e Sexta Turma do STJ). O STF tem julgado antigo no sentido de que a paga se comunica ao mandante (STF; HC n. 71.582/MG; Rel. Min. Sepulveda Pertence; Primeira Turma; 23/03/1995). Da mesma forma, há julgado de 2018 da Sexta Turma do STJ no mesmo sentido, sob o argumento de que se trata de elementar (STJ; AgInt no REsp 1681816 / GO; Rel. Min, Nefi Cordeiro; DJe 15/05/2018) 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificadora do homicídio mercenário e aplicação ao mandante A jurisprudência ainda diverge: Não (Quinta Turma do STJ): O STJ por sua Quinta Turma entende que não se comunica por ser circunstância de caráter pessoal (STJ; Quinta Turma; AgRg no REsp 1879682 / PR; Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; Dje 25/08/2020). 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Inciso I, segunda parte: Motivo torpe é aquele vil, abjeto, repulsivo, que choca a sociedade, que enseja especial aversão ou repugnância desta (ex: matar por dívida de tráfico de drogas). Segundo o STF, se o crime se der por homofobia ou transfobia, também haverá motivo torpe - ADO 26/DF. Vingança caracteriza motivo torpe? Não necessariamente. Deve-se avaliar sua causa. O sentimento de vingança pode ser alimentado por motivações nobres ou especialmente abjetas (nesse sentido STF, HC 83.309/MS, Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 06/02/2004). Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Motivo fútil (inciso II): É o motivo pífio, desproporcional, insignificante. É a ninharia, a pequenez. O desconhecimento do motivo do crime não implica em futilidade dele: Para que haja motivo fútil, deve ele ser conhecido e ser mínimo. O critério para se aferir a futilidade é meramente objetivo (ex: matar por conta do futebol, ainda que a pessoa seja fanática por este esporte, não impede a futilidade, justamente pelo caráter objetivo da análise; marido que matou a mulher porque esta serviu a janta fria; matar por briga de trânsito). 1. Crimes contra a Pessoa Ausência de motivo se confunde com motivo fútil? Prevalece que não, de modo que não incide esta qualificadora. Ainda que pareça absurdo logicamente, não se pode prejudicar a legalidade se não houver motivo efetivamente. Ciúme qualifica o homicídio? Por si só não, mas deve ser analisado no caso concreto, podendo caracterizar motivo fútil ou torpe ou até homicídio privilegiado (STJ; AgRg no AREsp 363919 / PR; Rel. Min. Jorge Mussi; Quinta Turma; DJe 21/05/2014). 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio O motivo fútil é compatível com o dolo eventual? Há divergência: 1ª Corrente (majoritária): Sim. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si. É o entendimento do STJ por suas duas Turmas. 5ª Turma no AgRg no Resp 1831164/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/03/2020 e 6ª Turma no Resp 1779570/RS; Rel. Min. Laurita Vaz; Dje 27/08/2019. Neste sentido também STF; RHC 92571/DF; Rel. Min. Celso de Mello; Segunda Turma; j. 30/06/2009. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio O motivo fútil é compatível com o dolo eventual? Há divergência: 2ª corrente (minoritária) : Não. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a ausência do elemento volitivo. Meios (III) Também se valeu o legislador da interpretação analógica. Meio insidioso é o meio dissimulado na sua eficiência maléfica. Há ocultação do emprego do meio (ex: veneno). Apenas qualifica se for de maneira insidiosa, sorrateira, dissimulada. Meio cruel é aquele que impõe à vítima um sofrimento além do necessário à morte. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio A qualificadora de meio cruel é compatível com o dolo eventual? O STJ entendeu que sim, há compatibilidade. (STJ; Sexta Turma; Resp 1.829.601/PR; Rel. Min. Nefi Cordeiro; j. 04/02/2020 - Info 665). Veneno (venefício): Toda e qualquer substância de origem animal, vegetal ou mineral que, introduzida no organismo humano, pode provocar a morte. Fogo: Deve gerar perigo comum. Asfixia: constrição da função respiratória de alguém – pode ser por meio de enforcamento, estrangulamento, esganadura, afogamento. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Homicídio qualificado-privilegiado não é crime hediondo A coexistência com o privilégio afasta o caráter hediondo do homicídio qualificado. A Lei 8.072/90, alterada pela Lei 8.930/94, em seu art. 1º, considerou hediondo, entre outros,o homicídio qualificado, consumado ou tentado. Não faz nenhuma referência à hipótese do homicídio qualificado-privilegiado. A extensão, aqui, viola o princípio da reserva legal, previsto entre nós tanto na CF como em regra infraconstitucional. E, por óbvio que tal regra basilar se aplica, também, à fase da execução da pena, visto que sem execução seria algo meramente teórico, sem sentido. STJ, HC 153.728, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j. 13.04.2010 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Modo de execução (IV) Traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulta ou torna impossível a defesa do ofendido. Outra vez foi feito uso da interpretação analógica. Traição (proditório): A traição pode ser material ou física e moral. Aquela consiste no ataque à pessoa do sujeito passivo de forma abrupta e, normalmente, pelas costas. O fato de uma pessoa apresentar ferimento nas costas não implica o fato de ela ter sido atacada pelas costas. A traição moral significa quebra de confiança que o sujeito passivo depositava no sujeito ativo. É mister a previa confiança para que se caracterize a qualificadora da traição moral. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Modo de execução (IV) Emboscada: Significa tocaia (ex insidiis): esperar ocultamente a pessoa do sujeito passivo para matar (ex: armadilha). Dissimulação: Sujeito não se esconde, mas camufla sua intenção para alcançar a vítima desprotegida. Surpresa: Qualifica o crime? Apenas será qualificadora do homicídio quando ela constituir ou for recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Superioridade de armas ou pessoas? Por si só não gera a qualificadora automaticamente, sendo possível reconhecê-la em casos pontuais de muitos agentes com compleição física muito superior. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Finalidade (Inciso V) Para garantir a: Execução - conexão teleológica. Ocultação: Impedir que terceiros venham a saber que houve crime; Impunidade: Visa impedir a punição do autor, ainda que todos venham a saber que houve o crime; Vantagem de outro crime: Ex: comparsa que mata outro para ficar com o produto do crime. Nestas três últimas hipóteses, temos a conexão consequencial. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Finalidade (Inciso V) Contra mulher por razões da condição de sexo feminino (inciso VI) A Lei n. 13.104/15 trata do feminicídio e incluiu este inciso; assim, há uma nova forma qualificada de homicídio. Embora existam entendimentos doutrinários no sentido de que a qualificadora é subjetiva, o STJ tem entendido que é objetiva (HC 433.898, j. 24/04/18),o que fez com que fosse reconhecida a compatibilidade entre tal qualificadora e o motivo torpe. Femicídio x Feminicídio: O primeiro significa a prática de homicídio contra a mulher. O segundo significa a prática de homicídio contra mulher por razões de gênero (constava esse termo na redação originária do projeto, mas tal foi substituído pela redação atual, muito pior). 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Sujeitos do feminicídio Sujeito ativo desta modalidade: Normalmente é homem, mas pode ser também mulher. Sujeito passivo: Necessariamente deve ser mulher. Mulher que mata sua companheira homoafetiva? Pode haver feminicídio, desde que por razões da condição de sexo feminino (artigo 5º, parágrafo único da Lei n. 11.340/06).Finalidade (Inciso V) 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio O que são razões de condição de sexo feminino (art. 121, §2º-A)? Violência doméstica e familiar: Aqui se usa o conceito do artigo 5º, caput, da Lei n. 11.340/06, que inclui os três incisos do referido artigo. Segundo Rogério Greco, os três incisos podem ensejar hipótese de feminicídio Ex: Há feminicídio quando o marido mata a mulher porque acredita que ela não tem o direito de se separar dele. Ex: Irmãs que vivem na mesma casa e uma mata a outra para ficar com a totalidade da herança – não há feminicídio, pois não ocorreu violência de gênero. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio O que são razões de condição de sexo feminino (art. 121, §2º-A)? Menosprezo ou discriminação à condição de mulher: O crime aqui deve ter sido motivado ou estar relacionado com a condição de mulher e decorrer de menosprezo ou discriminação desta condição. Ex: Funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter conseguido uma promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não poderia exercer tal função. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Contra agentes que atuam na defesa da pátria, segurança pública, integrantes do sistema prisional, Força Nacional de Segurança Pública, bem como seus cônjuges, companheiros ou parentes até terceiro grau, desde que haja nexo funcional (inciso VII - Lei 13.142/15) Objetivo da modificação: Tentar prevenir ou diminuir crimes contra pessoas que atuam na área de segurança pública, pessoas que atuam no “front” no combate à criminalidade. Sujeitos passivos: Integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), policiais civis, policiais federais, militares, corpo de bombeiros militares. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Abrange também guardas municipais por força do artigo 144, § 8º da CF e artigo 5º, § único da Lei 13.022/14 (Estatuto dos Guardas Municipais). Sujeitos que trabalham na unidade prisional no dia-a-dia (diretor de penitenciária, agente penitenciário). Um psicólogo que atua na elaboração do exame criminológico estaria neste rol? Parece-me que não, mas creio que haverá divergência. Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau: Abrange também a união homoafetiva. Não estão abrangidos os parentescos por afinidade. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Aplica-se ao filho adotivo? Pode-se entender que não, pois o artigo fala apenas em “consanguíneo”; contudo, como a CF proíbe diferenciação entre filhos biológicos e adotivos (artigo 227, § 6º), não é absurdo o entendimento pela admissibilidade. Em qualquer destas modalidades, o homicídio deve ser praticado quando o agente estiver no cargo ou em razão do cargo. Assim, exige-se nexo funcional, mesmo na última hipótese. Na hipótese de a vítima ser cônjuge, companheiro ou parente, também deve o homicídio ter relação com a função. . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido (inciso VIII - Lei n. 13.964/19) Hipótese que havia sido vetada e entrou em vigor depois, com a derrubada do veto. Importante observar que, por conta da pandemia COVID-19, a sessão de derrubada do veto não se deu conjuntamente, como exige a CF, mas com cada casa se manifestando em um dia diverso. Tal expediente pode vir a ser questionado na Suprema Corte. Se a posse se esgotar no homicídio haverá consunção e só se pune por este. . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Comunicabilidade das qualificadoras: As de natureza subjetiva (I, II, V e VII) não se comunicam, salvo se os participantes tiverem a mesma motivação. O mero concurso de agentes não permite a comunicabilidade delas. As de natureza objetiva se comunicam, desde que o partícipe tenha conhecimento. Observação geral: Premeditação e qualificadora: A premeditação não torna o homicídio qualificado, não há previsão legal. No entanto, pode ter consequências na fase das circunstâncias judiciais (artigo 59) e impede a caracterização do homicídio privilegiado pela violenta emoção porque o ato de premeditar é incompatível com o estado de emoção violenta. . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Comunicabilidade das qualificadoras: As de natureza subjetiva (I, II, V e VII) não se comunicam, salvo se os participantes tiverem a mesma motivação. O mero concurso de agentes não permite a comunicabilidade delas. As de natureza objetiva se comunicam, desde que o partícipe tenha conhecimento. Observação geral: Premeditação e qualificadora: A premeditação não torna o homicídio qualificado, não há previsão legal. No entanto, pode ter consequências na fase das circunstâncias judiciais (artigo 59) e impede a caracterização do homicídio privilegiado pela violenta emoção porque o ato de premeditar é incompatível com o estado de emoção violenta. . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio É possível o homicídio qualificado-minorado (híbrido)? Sim, desde que a qualificadora seja objetiva (III, IV, VI e VIII). Não é hedionda esta modalidade. Homicídio e Hediondez: O homicídio simples apenas é hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Igualmente é hediondo o homicídio qualificado. Homicídio Culposo (art. 121, § 3º) Divide-se em simples (§3º) e majorado (primeira parte do § 4º). Circunstâncias que majoram a pena do homicídio culposo (§ 4º) . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Aumenta-se a pena em um terço. 1. Se o fato resulta de inobservância de regra técnica: não se confunde aqui com a imperícia: nesta, o agente desconhece a regra que deveria conhecer; na situação em análise, ele conhece a regra, mas deixa de observá-la. 2. Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: Aumenta-se a pena pela não observância do dever de solidariedade humana. Esse aumento não se aplica quando se deixa de prestar socorro para preservar a própria integridade física ou vida. . 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Morte instantânea. Incide a causa de aumento? Há duas posições: 1. Sim. No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. O aumento imposto à pena decorre do total desinteresse pela sorte da vítima. O fundamento da norma incriminadora do § 4º do art. 121 é resguardar o dever de solidariedade humana que deve reger as relações na sociedade brasileira (art. 3º, I, da CF/88). O que pretende a regra em destaque é realçar a importância da alteridade (preocupação com o outro) (STJ. 5ª Turma. HC 269.038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014). 2. Não. Não há mais bem jurídico “vida” a ser tutelado. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Morte instantânea. Incide a causa de aumento? Há duas posições: 1.Sim. No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. O aumento imposto à pena decorre do total desinteresse pela sorte da vítima. O fundamento da norma incriminadora do § 4º do art. 121 é resguardar o dever de solidariedade humana que deve reger as relações na sociedade brasileira (art. 3º, I, da CF/88). O que pretende a regra em destaque é realçar a importância da alteridade (preocupação com o outro) (STJ. 5ª Turma. HC 269.038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014). 2. Não. Não há mais bem jurídico “vida” a ser tutelado. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Circunstâncias que majoram a pena do homicídio doloso (§ 4º) Aumenta-se a pena em um terço. Pessoa menor de 14 anos Sem prejuízo desta majorante pode a tenra idade da vítima ser usada como circunstância judicial negativa na dosimetria? Segundo o STJ, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18 anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, § 4º (parte final), do Código Penal. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Circunstâncias que majoram a pena do homicídio doloso (§ 4º) Aumenta-se a pena em um terço. Pessoa menor de 14 anos Sem prejuízo desta majorante pode a tenra idade da vítima ser usada como circunstância judicial negativa na dosimetria? Segundo o STJ, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18 anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, § 4º (parte final), do Código Penal. Pessoa maior de 60 anos 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Perdão Judicial (artigo 121, § 5º). Permite o perdão judicial no homicídio culposo. A sentença que reconhece o perdão judicial tem natureza declaratória (Súmula 18 do STJ) de extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Homicídio e Extermínio de Pessoas (artigo 121, § 6º) Aumento em um terço até a metade se praticado por milícia privada ou grupo de extermínio. Milícia é a corporação com estrutura e disciplina militar. Milícia privada é aquela que cumpre tais requisitos, sendo regida pela cultura militar, ainda que privada. 1. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio Grupo de extermínio é a associação de indivíduos com o escopo de matar pessoas entre si vinculadas por determinada característica, como passado criminal, cultura, origem. No genocídio o objetivo é destruir o grupo, enquanto que o grupo de extermínio tem por objetivo eliminar integrantes do grupo. O grupo de extermínio deve ser formado por quantas pessoas? Há divergência se três ou quatro. Prevalece que bastam três pessoas. Feminicídio Majorado (artigo 121, § 7º) Aumenta-se a pena de um terço até a metade. 1. Durante gestação ou nos 03 primeiros meses após o parto. 2. Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - Homicídio 3. Na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima. Portanto, não incide se o crime for praticado na presença de colaterais (irmão, tio, sobrinho-neto), cônjuges ou conviventes. Discutia-se aqui se era exigida a presença física do descendente ou ascendente Contudo, a Lei n. 13.771/18 encerrou a discussão e acrescentou expressamente a presença física ou virtual. 4. em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Incidindo esta majorante afasta-se o delito do art. 24-A da Lei Maria da Penha sob pena de bis in idem. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 3. Na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima. Portanto, não incide se o crime for praticado na presença de colaterais (irmão, tio, sobrinho-neto), cônjuges ou conviventes. Discutia-se aqui se era exigida a presença física do descendente ou ascendente Contudo, a Lei n. 13.771/18 encerrou a discussão e acrescentou expressamente a presença física ou virtual. 4. em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Incidindo esta majorante afasta-se o delito do art. 24-A da Lei Maria da Penha sob pena de bis in idem. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 2. Induzimento, Instigação ou auxílio a Suicídio ou a automutilação. O crime de participação em suicídio recebeu alteração para a inclusão da participação em automutilação. Induzimento é a participação moral que consiste em criar ou fazer brotar a ideia na cabeça da vítima. Instigação é a participação moral que consiste em reforçar uma ideia criminosa já existente na mente do autor; Auxílio ocorre com a prestação de auxílios materiais, como o exemplo de um empréstimo de veneno ou de uma arma de fogo ao suicida. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 2. Induzimento, Instigação ou auxílio a Suicídio ou a automutilação. Observa-se que o novo caput do art. 122, após as alterações advindas da Lei 13.968/2019, não exige um resultado para punir o agente que induz, instiga ou auxilia alguém a cometer suicídio. Antes, a referida conduta somente era punida se o suicida ficasse com lesão grave ou se morresse. Acrescentou-se, ainda, a participação na automutilação. QUESTÃO que surge é se o crime do art. 122, agora, com a nova redação dada pela Lei n. 13.968/2019 admite a tentativa? QUESTÃO: “E se a vítima é de resistência nula? QUESTÃO: “E se a vítima é forçada, por meio de violência ou grave ameaça, a ingerir veneno, ou a desfechar um tiro contra o próprio peito, vindo a morrer? Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 2. Induzimento, Instigação ou auxílio a Suicídio ou a automutilação. QUESTÃO: considerando a idade da vítima, em relação ao crime do art. 122, como fica a tipificação da conduta do agente se a vítima possui menos de 14 anos, ou entre 14 e 17 anos, ou 18 anos ou mais? [...] considerando a idade da vítima, poderemos ter as seguintes hipóteses: o sujeito ativo responderá por homicídio quando a vítima não for maior de quatorze anos; por participação em suicídio, com pena duplicada, quando a vítima tiver entre quatorze e dezoito anos (§ 3º); e por participação em suicídio ou automutilação com a pena normal, quando a vítima tiver dezoito anos completados (BITENCOURT, 2020, v. 2, p. 518-519). Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 2. Induzimento, Instigação ou auxílio a Suicídio ou a automutilação. QUESTÃO: na greve de fome, qual é o papel do médico sob o aspecto do Direito Penal? Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 3. InfantIcídIo Trata-se de um crime contra a vida humana extrauterina. Sobre o início da vida humana extrauterina, o tema foi tratado quando da análise do crime de homicídio. Histórico– O Código Criminal do Império (1830) adotou o critério psicológico, ou seja, considerava a prática do delito para ocultar desonra própria (critério psicológico). Idêntico raciocínio no Código Penal de 1890. De outro lado, o CP de 1940 adotou o critério fisiopsíquico que “leva em consideração não uma gravidez ilegítima ou coisado gênero, mas, sim, a ação perturbadora decorrente do parto e seus reflexos no organismo da mulher” (GUEIROS; JAPIASSÚ, 2020, p. 566). Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 3. InfantIcídIo Nosso Código Penal, que adota o critério fisiológico O estado puerperal, elementar do crime, consiste em uma perturbação psíquica que acomete a gestante durante o parto ou logo após. O estado puerperal pode apresentar quatro hipóteses, a saber: a) o puerpério não produz nenhuma alteração na mulher; b) acarreta-lhe perturbações psicossomáticas que são a causa da violência contra o próprio filho; c) provoca-lhe doença mental; d) produz-lhe perturbação da saúde mental diminuindo-lhe a capacidade de entendimento ou de determinação. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 3. InfantIcídIo Concurso de pessoas no infanticídio (GRECO, 2018): a) mãe e terceiro executa a morte do recém-nascido= coautoria no infanticídio, conforme art. 30 do CP b) somente a mãe executa a conduta com a participação de terceiro: ambos respondem por infanticídio, o terceiro é partícipe; c) somente o terceiro executa a conduta de matar o recém-nascido contando com o auxílio da parturiente: ambos respondem por infanticídio. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto O aborto consiste em um crime contra a vida humana intrauterina. A vida humana intrauterina se inicia a partir da nidação. Desse modo, somente será possível existir o crime de aborto a partir da nidação, que consiste na implantação do óvulo fecundado nas paredes do útero materno (endométrio: membrana que reveste a parede interna do útero). Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) Pena - detenção, de um a três anos. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Interrupção de gravidez de feto anencéfalo É inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo seria conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II, do Código Penal. STF, ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, j. 11 e 12.04.2012 Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Exame de corpo de delito indireto A jurisprudência do STF é firme no sentido da possibilidade de exame de corpo de delito indireto no crime de aborto. STF, HC 94.479, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, j. 26.05.2009 Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Admissibilidade simultânea do crime de provocação do aborto e do feminicídio majorado Caso que o Tribunal de origem afastou da pronúncia o crime de provocação ao aborto (art. 125 do CP) ao entendimento de que a admissibilidade simultânea da majorante do feminicídio perpetrado durante a gestação da vítima (art. 121, § 7º, I, do CP) acarretaria indevido bis in idem. A jurisprudência desta Corte vem sufragando o entendimento de que, enquanto o art. 125 do CP tutela o feto enquanto bem jurídico, o crime de homicídio praticado contra gestante, agravado pelo art. 61, II, h, do Código Penal protege a pessoa em maior grau de vulnerabilidade, raciocínio aplicável ao caso dos autos, em que se imputou ao acusado o art. 121, § 7º, I, do CP, tendo em vista a identidade de bens jurídicos protegidos pela agravante genérica e pela qualificadora em referência. STJ, REsp 1.860.829, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, j. 15.09.2020 Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto O artigo 128, por sua vez, cuida das hipóteses legais nas quais o aborto é permitido pela legislação penal brasileira, descritas da seguinte forma: Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I. – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II. – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto O artigo 128, por sua vez, cuida das hipóteses legais nas quais o aborto é permitido pela legislação penal brasileira, descritas da seguinte forma: Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) Aborto necessário I. – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II. – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto O inciso I do art. 128 trata do aborto necessário ou terapêutico ou profilático, o qual é realizado pelo médico para salvar a vida da gestante. Portanto, o legislador escolheu a vida da gestante em detrimento da vida do feto, quando houver risco de vida para a gestante em razão do desenvolvimento da gestação. Não poderá o médico, diante do pedido da gestante, optar pela vida do feto em detrimento da vida da gestante. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Quanto ao inciso II do art. 128, observa-se que o legislador autoriza o aborto no caso de gravidez decorrente de estupro, desde que exista o prévio do consentimento da gestante ou, no caso de incapacidade da gestante, de seu representante legal. “Pelo nosso Código Penal não há limitação temporal para a estuprada-grávida decidir-se pelo abortamento” (BITENCOURT, 2020, p. 607-608). Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Quanto ao inciso II do art. 128, observa-se que o legislador autoriza o aborto no caso de gravidez decorrente de estupro, desde que exista o prévio do consentimento da gestante ou, no caso de incapacidade da gestante, de seu representante legal. “Pelo nosso Código Penal não há limitação temporal para a estuprada-grávida decidir-se pelo abortamento” (BITENCOURT, 2020, p. 607-608). É possível ainda, no atual modelo jurídico brasileiro, o aborto de feto anencéfalo. O Supremo Tribunal Federal (ADPF 54) Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Vale registrar que o Código Penal só permite o aborto, conforme visto anteriormente, em caso de gestação com risco de vida para a gestante e diante de gravidez resultante de estupro, ou seja, somente em duas hipóteses (arts.128, I e II). A outra possibilidade de abortamento, por atipicidade penal, ocorre na gestação de feto anencéfalo, conforme decisão proferida na ADPF 54, examinada no tópico anterior. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto De outro lado, a lei penal brasileira não permite o aborto de feto até a terceira semana da gestação, como ocorre em alguns outros países. Uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental foi protocolada no STF, distribuída à Ministra Rosa Weber, com pedido de permissão do aborto em tal situação, mas ainda não houve um posicionamento da Corte. No aborto de feto anencéfalo, há exclusão da tipicidade, uma vez que não há se falar em vida humana intrauterina por ausência de desenvolvimento cerebral. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto O aborto eugênico ou eugenésico, em razão de alguma patologia do feto, não é permitido. A única hipótese de aborto permitido em razão de patologia é o caso de anencefalia, mas por essa afastar a vida do feto, uma vez que o conceito legal de vida pressupõe atividade cerebral. No caso de aborto por redução embrionária no caso, por exemplo, de gestação de 5 fetos com necessidade de reduzir para 3, visando salvar os três, fala-se em estado de necessidade.Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto Se o feto já estiver morto durante a manobra abortiva da mãe, haverá crime impossível de autoaborto. Se, por outro lado, a gravidez for imaginária (não existe feto ou embrião), haverá um aborto putativo, espécie de crime impossível, chamado de delito putativo por erro de tipo. Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto QUESTÃO: Maria, grávida, sentiu dor de cabeça à noite e buscou na sua casa um remédio (paracetamol) indicado pelo seu médico. Todavia, por descuido, Maria pegou, na caixinha de remédios da família, um medicamento trocado. Após ingestão do medicamento que não era seu, Maria teve complicações que geraram o abortamento do feto. Nesse caso, Maria praticou crime de aborto? Crimes contra a Pessoa - Crimes contra a vida - 4. aborto QUESTÃO: Joana, enfermeira, praticou o aborto previsto no inciso II do art. 128, diante do consentimento da gestante e da prova do estupro. Nesse caso, qual é a solução penal? Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL A lesão corporal, sob o aspecto objetivo, consiste em um dano físico ou psicológico contra uma pessoa. Do ponto de vista subjetivo, o agente atua sem o dolo de matar quando comete o crime de lesão corporal, não quer e nem assume o risco de matar. No crime de lesão corporal, não há animus necandi, mas sim animus nocendi ou laedend. O crime de lesão corporal é punido na forma dolosa e na forma culposa. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Segundo Nelson Hungria: o crime de lesão corporal consiste em qualquer dano ocasionado por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou saúde (fisiológica ou mental) de outrem. Não se trata, como o nomen juris poderia sugerir prima facie, apenas do mal infligido à inteireza anatômica da pessoa. Lesão corporal compreende toda e qualquer ofensa ocasionada à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico. [...] Quer como alteração da integridade física, quer como perturbação do equilíbrio funcional do organismo (saúde), a lesão corporal resulta sempre de uma violência exercida sobre a pessoa. (HUNGRIA, v.5, 1942, p.223). Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL No que concerne à classificação, a lesão corporal configura um crime de: forma livre (pode ser cometido por qualquer meio), comum (pode ser cometido por qualquer pessoa, não exige nenhuma qualidade especial do agente, não podendo claro figurar como sujeito ativo o próprio ofendido, de modo que não se pune a autolesão), consuntivo (pode integrar crime de maior gravidade em um mesmo contexto fático, que o absorverá, ex. homicídio), material (consuma-se com o resultado naturalístico, ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da vítima), Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL dano (exige efetiva lesão ao bem jurídico), comissivo e omissivo impróprio (pode ser cometido por ação e também por omissão), plurissubsistente (admite o fracionamento da fase executória, de forma que admite a tentativa), monossubjetivo ou de concurso eventual (pode ser cometido por uma ou mais de uma pessoa ao mesmo tempo), não transeunte (costuma deixar vestígios, o que leva à incidência do art. 158 do CPP), instantâneo (se consuma em determinado momento, de forma que a permanência da lesão não importa para a sua consumação, mas pode interferir em forma qualificada do delito, a exemplo do § 1º, I, III; § 2º III e IV). Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL dano (exige efetiva lesão ao bem jurídico), comissivo e omissivo impróprio (pode ser cometido por ação e também por omissão), plurissubsistente (admite o fracionamento da fase executória, de forma que admite a tentativa), monossubjetivo ou de concurso eventual (pode ser cometido por uma ou mais de uma pessoa ao mesmo tempo), não transeunte (costuma deixar vestígios, o que leva à incidência do art. 158 do CPP), instantâneo (se consuma em determinado momento, de forma que a permanência da lesão não importa para a sua consumação, mas pode interferir em forma qualificada do delito, a exemplo do § 1º, I, III; § 2º III e IV). Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL O sujeito ativo do crime, conforme dito, é qualquer pessoa, não se exige uma qualidade especial do sujeito ativo, nem uma execução de mão-própria. Por sua vez, o sujeito passivo, do mesmo modo, em regra, é qualquer pessoa. O agente que pratica autolesão com a finalidade de, mediante fraude, obter indenização de seguradora, comete o crime de estelionato, definido no artigo 171 §2º, V, do Código Penal. Importa acrescentar que há previsão típica no artigo 184 do Código Penal Militar para a conduta do agente que lesiona o próprio corpo com o objetivo de tornar-se inabilitado para o serviço militar. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL É possível dividir o crime de lesão corporal nas seguintes formas: (i) Simples ou leve: art. 129, caput (ii) Qualificadas: §§1º e 2º, rubricadas como formas de lesão grave, mas a doutrina classifica o §2º como lesão gravíssima; §3º cuida da lesão corporal seguida de morte; o §9º trata da lesão denominada de violência doméstica; e §13º, por fim, qualifica a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 do CP; (iii) Privilegiada: §4º; (iv) Culposa: § 6º; (v) Majoradas (causas de aumento de pena): §§§§ 7º, 10, 11 e 12. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL AÇÃO PENAL A ação penal na lesão leve é pública condicionada à representação da vítima. Todavia, quando se tratar de lesão corporal no contexto de violência doméstica contra a mulher, a ação penal do crime de lesão leve será pública incondicionada. Nesse sentido já decidiu o STJ: JURISPRUDÊNCIA [...] 2. Por outro lado, “seja caso de lesão corporal leve, seja de vias de fato, se praticado em contexto de violência doméstica ou familiar, não há falar em necessidade de representação da vítima para a persecução penal.” (AgRg no AREsp 703.829/MG, Relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 27/10/2015, DJe 16/11/2015). 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC n. 713.415/SC, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 22/2/2022, DJe de 25/2/2022.)”. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL A lesão corporal qualificada do §1º, chamada de grave na rubrica do CP, possui pena de reclusão de 1 a 5 anos e se caracteriza com um ou mais dos seguintes resultados: I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II – perigo de vida; III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; e IV – aceleração de parto. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL A doutrina trata como LESÃO GRAVÍSSIMA § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE § 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Cuida-se de uma modalidade preterdolosa ou preterintencional do crime de lesão corporal, com dolo no antecedente e culpa no consequente. O resultado morte é culposo, enquanto o a conduta de provocar lesão é dolosa. A forma preterdolosa não convive (não admite) a tentativa. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE Vale dizer que o agente somente responderá pela lesãocorporal seguida de morte se, além do dolo de lesionar, tiver, ao menos, previsibilidade quanto ao resultado morte. Isso porque, dentre os elementos do crime culposo comum, a previsibilidade é indispensável. Nesse sentido, já decidiu o STJ: JURISPRUDÊNCIA PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE. CRIME PRETERDOLOSO OU PRETERINTENCIONAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA CULPA QUANTO AO RESULTADO MORTE. ILEGALIDADE RECONHECIDA. RECURSO PROVIDO 1. Em crimes preterdolosos ou preterintencionais, imprescindível é que a denúncia impute a previsibilidade e culpa no crime consequente, sob pena de indevida responsabilização objetiva em direito penal, com atribuição de responsabilidade apenas pelo nexo causal. 2. Tendo a denúncia apenas narrado as agressões e o nexo causal com o resultado morte, expressamente não desejado pelos recorrentes, mas deixando de descrever o elemento subjetivo culposo no resultado morte, tem-se como inepta a peça acusatória para persecução por este crime. 3. Recurso em habeas corpus provido, a fim de declarar a inépcia da denúncia quanto ao crime preterdoloso (art. 129,§ 3º do CP), sem prejuízo do oferecimento de nova peça acusatória, inclusive por aditamento, desde que preenchidas as exigências legais do art. 41 do Código de Processo Penal. (RHC n. 59.551/SP, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 9/8/2016, DJe de 23/8/2016.)”. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA “§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de dois meses a um ano. Aumento de pena § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. (Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Narra o legislador no § 9º do artigo 129: § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 10 Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 11 Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 12 Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) § 13 Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) Crimes contra a Pessoa - 5 - LESÃO CORPORAL JURISPRUDÊNCIA Súmula 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. (TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/09/2017, DJe 18/09/2017)”. JURISPRUDÊNCIA Súmula 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. (SÚMULA 588, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/09/2017, DJe 18/09/2017)”. Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA São três tipos de crimes contra a honra, segundo a classificação do legislador, quais sejam: calúnia, difamação e injúria. Os crimes contra a honra, previstos no Código Penal, só se perfazem com o animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, ou seja, um elemento subjetivo específico no sentido de ofender a honra da vítima. Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA CALÚNIA Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º É punível a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141; – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA DIFAMAÇÃO Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Exceção da verdade Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. INJÚRIA Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência:(Redação dada pela Lei n. 14.532, de 2023) Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n. 14.532, de 2023) Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA Vale destacar que o § 3º do art. 140 do Código Penal foi alterado pela LeI 14.532/2023, que transportou a injúria racial para a Lei de Racismo, conforme art. 2º-A da Lei 7.716/89: Art.2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas. A injúria racial é imprescritível e possui persecução penal mediante ação penal pública incondicionada. Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA Exclusão do crime Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível: I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA Retratação Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei n. 13.188, de 2015) Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 12.033. de 2009) Crimes contra a Pessoa - 6. CRIMES CONTRA A HONRA A explicação não convincente pode redundar na propositura de uma ação penal, mas não significa condenação automática O crime de injúria não admite a exceção da verdade. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Os crimes contra a dignidade sexual foram narrados do artigo 213 ao artigo 234- B, no Título VI do Código Penal, que cuida dos crimes contra a dignidade sexual. O novo título, dignidade sexual, que representa melhor o bem jurídico protegido, surgiu com a Lei 12015/2009, que alterou substituiu o nome anterior, qual seja, crimes contra os costumes. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Duas, entre as principais mudanças da Lei 12015/2009, consistiram em transportar a conduta do atentado violento ao pudor para dentro do tipo de estupro (princípio da continuidade normativo-típica) e, ainda, substituir a presunção de violência do antigo artigo 224 por um novo dispositivo, artigo 217-A, com a elementar vítima vulnerável. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Não se pode esquecer de que o início do prazo prescricional nos crimes contra a dignidade sexual foi alterado, conforme inciso V do artigo 111 do Código Pena: Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: [...] I – nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança e o adolescente, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O artigo 213 trata da figura do estupro comum no caput, qual seja, “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. Observa-se que o crime se perfaz não somente com conjunção carnal, mas também com outro ato libidinoso, em qualquer caso, mediante o emprego de violência ou grave ameaça. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - QUESTÃO: o beijo lascivo contra a vontade da vítima (mediante violência ou grave ameaça) caracteriza estupro do artigo 213 do Código penal? 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Classificação: O estupro é um crime comum (pode ser cometido por qualquer pessoa), plurissubsistente (admite o fracionamento da execução em atos de modo a admitir a tentativa), material (se consuma com o resultado naturalístico), de dano (provoca alteração naturalística), monossubjetivo (pode ser cometido por uma ou mais pessoas ao mesmo tempo), não transeunte (deixa vestígios de modo a possibilitar o exame de corpo de delito na forma dos artigos 158 e 167 do CPP). 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O §1º do artigo 213 traz uma forma qualificada do delito: “se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos. Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos”. Por sua vez, o §2º do artigo 213 traz uma outra forma qualificada do delito: “se da conduta resulta morte. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O artigo 215 do Código Penal tipifica o crime de violação sexual mediante fraude com os seguintes preceitos primário (fato, hipótese) e preceito secundário (pena, consequência, apódose): “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa”. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Cuida-se de crime comum que pode ser cometido por qualquer pessoa. Vale ressaltar que homem ou mulher pode ser vítima ou sujeito ativo do crime. No entanto, se a vítima for vulnerável, o crime será de estupro de vulnerável na forma do art. 217-A do Código Penal. Trata-se de crime plurissubsistente que, portanto, admite o fracionamento da fase executória e, desse modo, convive com a tentativa. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - A fraude constitui uma elementar do crime descrito no artigo 215 pode ser cometida mediante artifício (palavras, gestos ou atos) ou ardil (astúcia, manha, sutileza). O agente usa um argumento fraudulento que leva a vítima ao engano e, desse modo, a aceitar a relação sexual, praticando conjunção carnal ou outro ato libidinoso. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O artigo 215-A do Código Penal, por sua vez, tipifica o crime de importunação sexual com os seguintes preceitos primário (fato, hipótese) e preceito secundário (pena, consequência, apódose): Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. No preceito secundário, o Legislador,mediante o uso da subsidiariedade expressa, ressalvou que não restará caracterizado o crime de importunação sexual quando houver um crime mais grave (ex. estupro). 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Quando se trata de vítima vulnerável, o entendimento do STF (HC 134591 / SP) e do STJ é que o ato libidinoso caracteriza o crime de estupro e, por conseguinte, não há falar em crime de importunação sexual. Registra-se, ainda, que o STJ tem decidido que, no caso de crimes estupro praticado durante longo período de tempo contra vítima vulnerável, não sendo possível precisar a quantidade exata dos crimes, a exasperação deverá incidir em seu percentual máximo de 2/3, previsto no parágrafo único do artigo 71 do Código Penal. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O artigo 216-A, por sua vez, tipifica o crime de assédio sexual, que fora inserido no Código Penal no ano de 2001 pela Lei 10.224. A conduta e a pena estão escritas da seguinte forma: “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.§2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos”. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - Vale ressaltar que no crime de assédio sexual não estão presentes as elementares violência ou grave ameaça, presentes no crime de estupro. Registra-se, ainda, que o legislador não tipificou a conduta de assédio moral e nem a conduta de assédio ambiental, mas somente a conduta de assédio sexual. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O assédio sexual, como ensina Guilherme de Souza Nucci, pode ser compreendido da seguinte maneira: Em síntese: qualquer conduta opressora, tendo por fim obrigar a parte subalterna, na relação laborativa, à prestação de qualquer favor sexual, configura o assédio sexual. Aliás, melhor teria sido descrever o crime em comento com os significados verdadeiramente pertinentes ao contexto para o qual o delito foi idealizado. Assediar significa “perseguir com propostas; sugerir com insistência; ser importuno ao tentar obter algo; molestar”. (NUCCI, v.3, 3ª ed., 2019. p.148). 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - QUESTÃO: é possível a existência de crime de assédio sexual entre professor e aluno? 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O crime de assédio sexual é formal e se consuma com um único ato (não se trata de crime habitual). Não há necessidade de que o agente obtenha a vantagem ou o favorecimento sexual. Se conseguir, cuidará de mero exaurimento que não interfere na consumação do crime, que ocorreu anteriormente com o constrangimento da vítima, presente a finalidade específica contida no tipo penal. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O crime do artigo 217-A, estupro de vulnerável, inserido pela Lei 12.015: Estupro de vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. §3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. § 4º Se da conduta resulta morte: Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - JURISPRUDÊNCIA STJ [...] “16. Tese: presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP). 17. Solução do caso concreto: recurso especial provido para condenar o réu como incurso nas sanções do art. 217-A do CP, determinando a remessa dos autos ao Tribunal de origem para que, na instância ordinária, seja realizada a dosimetria da pena. (REsp n. 1.954.997/SC, relator Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção, julgado em 8/6/2022, DJe de 1/7/2022.)”. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - JURISPRUDÊNCIA STJ [...] “16. Tese: presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com menor de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente da ligeireza ou da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de importunação sexual (art. 215-A do CP). 17. Solução do caso concreto: recurso especial provido para condenar o réu como incurso nas sanções do art. 217-A do CP, determinando a remessa dos autos ao Tribunal de origem para que, na instância ordinária, seja realizada a dosimetria da pena. (REsp n. 1.954.997/SC, relator Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção, julgado em 8/6/2022, DJe de 1/7/2022.)”. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - QUESTÃO: As qualificadoras, em razão do resultado lesão grave ou morte dos §§ 1º e 2º, do artigo 213, e §§ 3º e 4º, do artigo 217-A, são formas preterdolosas ou formas qualificadas pelo resultado? 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O § 5º, por sua vez, traz uma norma explicativa do legislador, com caráter autêntico e restritivo, o que equivale a dizer que o crime descrito no caput ou nas formas dos respectivos parágrafos ocorre independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. A advertência legal evita interpretações judiciais disformes sobre a matéria. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O § 5º, por sua vez, traz uma norma explicativa do legislador, com caráter autêntico e restritivo, o que equivale a dizer que o crime descrito no caput ou nas formas dos respectivos parágrafos ocorre independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. A advertência legal evita interpretações judiciais disformes sobre a matéria. A vítima que possui 14 anos completos, inclusive no dia do seu aniversário de 14 anos, não é vulnerável em razão da idade. Dessa forma, para o legislador penal, ela pode consentir com o ato sexual e configurar uma conduta atípica. 2. Crimes contra a Dignidade Sexual - O crime de estupro constitui uma modalidade de crime hediondo, seja na forma do caput do art. 213 e dos seus parágrafos, seja na forma do artigo 217-A e dos seus parágrafos, conforme artigo 1º incisos V e VI da Lei 8082/90. image1.png image2.png