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PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO
Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais de São Paulo
Alameda Jau, 389 - Jardim Paulista - CEP 01420-001
São Paulo/SP Fone: (11) 2766-8911
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TERMO Nr: 9301111835/2018
PROCESSO Nr: 0017258-88.2015.4.03.6301 AUTUADO EM 01/04/2015
ASSUNTO: 010801 - FGTS/FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO - ENTIDADES
ADMINISTRATIVAS/ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CLASSE: 16 - RECURSO INOMINADO
RECTE: VELANY BATISTA DA SILVA
ADVOGADO(A)/DEFENSOR(A) PÚBLICO(A): SP206870 - ALESSANDRA DA COSTA SANTANA
RECDO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL
ADVOGADO(A): SP999999 - SEM ADVOGADO
DISTRIBUIÇÃO POR SORTEIO EM 11/05/2018 12:33:17
[# I – RELATÓRIO
Trata-se de demanda ajuizada em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF,
objetivando provimento jurisdicional que determine a substituição da Taxa Referencial (TR)
como índice de remuneração dos depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
O MM. Juízo Federal a quo proferiu sentença, julgando improcedente o pedido.
Inconformada, a parte autora interpôs recurso, postulando a reforma integral da r.
sentença.
É o relatório.
II – VOTO
Quanto à tramitação do processo
Friso que a questão controvertida é estritamente jurídica e, com o julgamento do
Recurso Especial nº 1.614.874/SC (in DJe de 15/05/2018) pelo Colendo Superior Tribunal de
Justiça, o processo não comporta mais suspensão, de acordo com a norma do inciso III do
artigo 1.040 do Código de Processo Civil (Lei federal nº 13.105/2015), aplicada subsidiariamente
no âmbito dos Juizados Especiais Federais.
Ademais, não foi proferida, até o presente momento, outra decisão de suspensão
de processos com a mesma matéria no âmbito do Colendo Supremo Tribunal Federal, inclusive
nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5090/DF, razão pela qual deve ser
analisado o recurso interposto.
Quanto ao mérito
Observo que a Taxa Referencial (TR), como índice de remuneração dos depósitos
fundiários, está expressamente prevista no artigo 7º da Lei federal nº 8.660/1993, com
remissão à Lei federal nº 8.177/1991.
Com efeito, a lei obriga a todos, nos termos do artigo 5º, inciso II, da Constituição
Federal e seus efeitos somente podem ser afastados se for revogada, sobrevier nova lei com
teor incompatível ou for declarada inconstitucional.
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A revogação ou edição de nova lei compete exclusivamente ao Poder Legislativo,
por expressa imposição constitucional.
Já a declaração de inconstitucionalidade decorre de decisão do Poder Judiciário,
diretamente pelo Colendo Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, alínea “a”, da Carta
Magna) ou por órgãos jurisdicionais de graus inferiores (difusamente), porém não pode ser
levada a efeito por qualquer órgão fracionário de segundo grau de jurisdição, tal como
a presente Turma Recursal Federal, em razão da restrição contida no artigo 97 da Constituição
da República. Aplicável, nesse sentido, o entendimento sedimentado pelo Colendo STF na
Súmula Vinculante nº 10: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de
órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”.
Diante dessas normas, constato que a alteração pretendida pela parte autora está
no campo legislativo, cuja competência é exclusiva do Poder Legislativo, não podendo o Poder
Judiciário exercer substitutivamente tal papel constitucional, em respeito ao primado da
tripartição dos Poderes da República (artigo 2º da Constituição Federal).
Essa foi exatamente a tese jurídica firmada pela 1ª Seção do Colendo Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do citado Recurso Especial nº 1.614.874/SC, de forma
unânime:
“A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei,
que estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao
Poder Judiciário substituir o mencionado índice”.
(STJ – 1ª Seção – Relator Min. Benedito Gonçalves – j. em 11/04/2018 – in DJe de
15/05/2018)
Ressalto que o acórdão do C. STJ, em julgamento de recurso especial de caráter
repetitivo, deve ser observado pelas instâncias inferiores, nos termos expressos do artigo 927,
inciso III, do Código de Processo Civil, a fim de ser aplicado em todos os processos que versam
sobre a mesma matéria.
Ademais, cumpre salientar que o C. STJ tem competência constitucional de
interpretar, em última instância, as leis federais brasileiras e os tratados, bem como de
assegurar a uniformidade de jurisprudência em todo território nacional (artigo 105, inciso III, da
Carta da República).
E a referida Colenda Corte Superior, nos termos do artigo 14, § 4º, da Lei federal
nº 10.259/2001, tem a competência também de reanalisar acórdão de Turma de Uniformização,
quando contrariar alguma de suas súmulas ou a sua jurisprudência dominante, o que revela,
mais uma vez, a necessidade de observância da tese jurídica firmada por aquele elevado
colegiado.
Por tais motivos, a r. sentença proferida nos autos deve ser mantida.
Pondero que os artigos 46 e 82, § 5°, da Lei federal nº 9.099/1995, aplicáveis no
âmbito dos Juizados Especiais Federais (por força do disposto no artigo 1º da Lei federal nº
10.259/2001), dispõem:
“Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação
suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for
confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão”.
“Art. 82. (...)
§ 5º. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do
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julgamento servirá de acórdão.” (grifei)
Portanto, como forma de prestigiar os princípios da economia processual e da
celeridade, que norteiam os Juizados Especiais (artigo 2º da Lei federal nº 9.099/1995), tais
normas facultam à Turma Recursal a remissão aos fundamentos adotados na sentença, para a
sua manutenção.
O Colendo Supremo Tribunal Federal já reconheceu que este procedimento não
afronta o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, consoante indica a ementa do seguinte
julgado:
“O § 5° do artigo 82 da Lei n° 9.099/95 dispõe que ‘se a sentença for confirmada pelos
próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão’. O preceito legal
prevê a possibilidade de o órgão revisor adotar como razão de decidir os fundamentos
do ato impugnado, o que não implica violação do artigo 93, IX da Constituição do
Brasil.
É fora de dúvida que o acórdão da apelação, ao reportar-se aos fundamentos do ato
impugnado, não é carente de fundamentação, como sustentado pela impetrante”.
(STF - HC n° 86553-0/SP – Relator Min. Eros Grau – in DJ de 02/12/2005)
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso da parte autora, mantendo a r.
sentença, por seus próprios e jurídicos fundamentos, nos termos dos artigos 46 e 82, § 5º, da
Lei federal nº 9.099/1995.
Condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios, que arbitro em
10% (dez por cento) do valor da causa, nos termos do artigo 55 da Lei federal nº 9.099/1995
(aplicado subsidiariamente), cujo montante deverá ser corrigido monetariamente desde a data
do presente julgamento colegiado (artigo 1º, § 1º, da Lei federal nº 6.899/1981), de acordo
com os índices da Justiça Federal (“Manual de Orientação de Procedimentos para Cálculos na
Justiça Federal”, aprovado pela Resolução nº 134/2010, com as alterações da Resolução nº
267/2013, ambas do Conselho da Justiça Federal – CJF).
Entretanto, o pagamento da verba acima permanecerá suspenso até que se
configurem ascondições do artigo 98, §3º, do CPC, por força do benefício de assistência
judiciária gratuita em prol da parte autora.
Ressalto que a eventual oposição de embargos de declaração com o propósito
protelatório e manifesto prejuízo aos princípios da celeridade e eficiência do processo e da
prestação jurisdicional, autorizará a aplicação da multa, nos termos do parágrafo único do artigo
único do artigo 1.026, §2º, do Código de Processo Civil (aplicado subsidiariamente aos Juizados
Especiais Federais).
Dispensada a elaboração de ementa, conforme o disposto no artigo 46 da Lei
federal nº 9.099/1995.
Eis o meu voto.
<# III – ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em epígrafe, decide a 9ª Turma
Recursal da Seção Judiciária de São Paulo, por unanimidade, negar provimento ao recurso
da parte autora, nos termos do voto do Juiz Federal Relator. Participaram do julgamento os
Juízes Federais Danilo Almasi Vieira Santos, Alessandra de Medeiros Nogueira Reis e Luiz Renato
Pacheco Chaves de Oliveira.
São Paulo, 26 de julho de 2018 (data de julgamento). #>#]#}
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