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Aspectos psicológicos da gestação e do puerpério Enfermaria de Obstetrícia A Psicologia da Saúde pode ser definida como: […] um conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais, específicas da Psicologia à promoção e à manutenção da saúde, à prevenção e ao tratamento das doenças, à identificação da etiologia e ao diagnóstico relacionado à saúde, à doença e às disfunções relacionadas, e a análise do desenvolvimento do sistema de atenção à saúde e formação de políticas de saúde (Matarazzo, 1980). Uma das áreas de atuação da Psicologia da Saúde é a psicologia hospitalar, estando o profissional presente na atenção secundária e terciária de saúde. Na Enfermaria de Obstetrícia, são vários os profissionais que contribuem para um atendimento à mulher em seu período de gestação, parto e puerpério: obstetras, pediatras, psicólogos, enfermeiras, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos Sabemos que os aspectos emocionais são alterados em decorrência das mudanças hormonais e, consequentemente, influenciam na adaptação da mulher nesse período, modificando sua relação com o meio. O psicólogo pode atuar prevenindo alterações psiquiátricas e auxiliando na percepção e aceitação das mudanças físicas e de papéis sociais no puerpério, além de intervir com toda a equipe depositando um olhar integral à mulher, não somente em seu papel como mãe (Almeida e Malagris 2011). Gravidez A definição de um novo papel, quando primípara, pois deixa de ser só mulher e filha para assumir também um papel de mãe; e quando multípara, de assumir mais de um filho. A adequação de fatores socioeconômicos, já que a mulher é tão responsável pelo orçamento familiar quanto o marido. No casamento, podendo levar a níveis de integração ou rompimento de relacionamentos frágeis. O amadurecimento pessoal, estabelecendo uma relação saudável com seu bebê, percebendo-o como um indivíduo separado e não como a solução de suas dificuldades. Antes a maternidade era como um momento natural e esperado na vida da mulher, passa a ser vista de maneira mais complexa. A mulher tem buscado, primeiro, sua realização profissional, depois, um companheiro adequado, bem como uma liberdade pessoal para pensar sobre querer ou não ser mãe e na possibilidade de adiar a maternidade. A escolha por não ser mãe ainda tem provocado um olhar negativo da sociedade para a mulher, que a julga como inferior por não tem filho, sem mencionar as cobranças vindas da própria família. Pré-embrionário: três primeiras semanas do desenvolvimento. A fase gestacional passa por três períodos distintos: Embrionário: da 3a até a 8a semana ocorre o desenvolvimento dos órgãos principais e sistemas corporais, respiratório, alimentar e nervoso, além da formação dos olhos, orelhas, delimitação dos dedos e início da diferenciação dos genitais. Fetal: da 9a semana ao nascimento. Nesse período, ocorre apenas o crescimento, e não mais a formação de novos órgãos, que se tornam mais complexos. Para o psicólogo, é importante conhecer esses estágios a fim de intervir e orientar adequadamente a gestante em cada fase, já que cada período tem características diferentes e riscos específicos. A avaliação psicológica durante o pré-natal pode auxiliar na detecção de depressão ao longo do período gestacional e na prevenção de depressão pós- parto. Durante o atendimento psicológico, é preciso investigar situações de risco e proteção para a depressão, com base em entrevistas que levantem dados como informações sociodemográficas, história da gestação, histórico de gestações anteriores, presença de rede de apoio. Gestação de alto risco Trabalho de parto prematuro (TPP). Doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) Diabetes melito gestacional (DMG). Amniorrexe prematura (AP)/ruptura prematura de membranas ovulares (RPMO) Óbito fetal (OF) A importância de uma equipe multiprofissional tanto no momento da internação (comum ante as intercorrências) quanto no pré-natal, trabalhando de maneira curativa e preventiva. A mulher precisa ser atendida em seus aspectos físicos, biológicos, emocionais e sociais. PARTO •O momento do parto causa muita angústia, medo e ansiedade durante toda a gestação. O parto pode ser traumatizante para a mulher e para o bebê, tanto do ponto de vista clínico quanto do psicológico. Para evitar complicações nesse momento, é importante que o cuidado e a preparação da mulher sejam iniciados no pré-natal, trabalhando com educação em saúde (Silva, 2013). OS AUTORES AINDA DISCUTEM NÃO VALORIZAR UM ÚNICO TIPO DE PARTO, POIS A PACIENTE PODE SE FRUSTRAR COM A IMPOSSIBILIDADE DO PARTO IDEALIZADO POR QUESTÕES DE RISCOS PARA MÃE E BEBÊ, AVALIADOS PELA EQUIPE MÉDICA. •Normal: ocorre por via vaginal, pela qual o bebê é expulso por movimentos ocasionados pelas contrações e força realizada pela mãe. Nesse tipo de parto, a puérpera apresenta uma recuperação e retomada de suas atividades precocemente (Camano et al., 2007). •Cesáreo: é uma opção cirúrgica em que o feto é retirado por meio de uma incisão nas paredes abdominais e uterina com a utilização de anestesia (Souza et al., 2007). •Natural : é que ocorre sem qualquer intervenção médica, como a aplicação de anestesia, analgésicos ou medicamentos próprios para intensificar as contrações. Durante o parto natural, a mulher tem total controle sobre seu corpo e participa ativamente do nascimento do bebê. A sensação de autonomia e lucidez é uma das grandes vantagens deste tipo de parto, em que a gestante tem mais liberdade para se movimentar e para encontrar a melhor posição para a hora do nascimento. Parto Humanizado É aquele em que o protagonismo é inteiramente da mulher. É ela que toma a maior parte das decisões sobre o que vai acontecer durante o parto. E, isso, envolve alguns aspectos: A mulher no centro das decisões, cabe ao médico obstetra escolhido fornecer todas as informações necessárias para que a mulher decida sobre os detalhes do próprio parto. As decisões envolvem, por exemplo, o uso ou não da analgesia, o local do parto – se é na água, no quarto, na sala de parto ou no centro cirúrgico – e o nome do acompanhante (por lei, a mulher tem direito a um acompanhante durante todo o trabalho de parto, parto e pós-parto). 01 02 PUERPÉRIO •O período do puerpério tem duração de 6 a 8 semanas após o parto, com início a partir da retirada da placenta até o momento em que o organismo da mulher retorna às condições anteriores ao parto. Nesse período, são evidenciadas alterações internas e externas, mudanças biológicas e psíquicas. No puerpério, a mulher precisa continuar recebendo cuidados de maneira humanizada e integral. •A relação inicial entre mãe e bebê é, ainda, pouco estruturada, com o predomínio de uma comunicação não- verbal e, por isso, intensamente emocional e mobilizadora; •A chegada do bebê desperta muitas ansiedades, e os sintomas depressivos são comuns; •O bebê deixa de ser idealizado e passa a ser vivenciado como um ser real e diferente da mãe; As necessidades próprias da mulher são postergadas em função das necessidades do bebê •A mulher continua a precisar de amparo e proteção, assim como ao longo da gravidez; • Amamentação: – medo de ficar eternamente ligada ao bebê; – preocupação com a estética das mamas; – “e se não conseguir atender às suas necessidades? ”; – “o meu leite será bom e suficiente? ”; – dificuldades iniciais sentidas como incapacitação. •Puerpério do companheiro: ele pode se sentir participante ativo ou completamente excluído. A ajuda mútua e a compreensão desses estados podem ser fonte de reintegração e reorganização para o casal; •Se o casal já tem outros filhos: é bem possível que apareça o ciúme, a sensação de traição e o medo do abandono, que se traduz em comportamentos agressivos por parte das outras crianças. Há a necessidade de rearranjos na relação familiar; •No campo da sexualidade, as alterações são significativas, pois há necessidade de reorganização e redirecionamentodo desejo sexual, levando-se em conta as exigências do bebê, as mudanças físicas decorrentes do parto e da amamentação. CARACTERÍSTICAS EMOCIONAIS DO PUERPÉRIO •Kitzinger (apud Maldonado) considera o puerpério como o "quarto trimestre" da gravidez, considerando-o um período de transição que dura aproximadamente três meses após o parto, particularmente acentuado no primeiro filho. Nesse período, a mulher torna-se especialmente sensível, muitas vezes confusa, quando a ansiedade normal e a depressão reativa são extremamente comuns. •Observamos, neste período estados de confusão por parte da mãe, com sentimentos de ansiedades de esvaziamento e de castração, ou seja, a ambivalência entre o perdido (a gravidez) e o adquirido (o filho). •atuação de fatores como frustração e monotonia do período de internação e a passagem da situação de espera ansiosa típica do fim da gravidez para a consonantização da nova realidade que ao lado da satisfação da maternidade, significa também a responsabilidade de assumir novas tarefas e a limitação de algumas atividades anteriores •O autor comenta que, na gravidez, o filho é muitas vezes sentido como parte do corpo da mãe e, por essa razão, o nascimento pode ser vivido como uma amputação. Após o parto, a mulher se dá conta de que o bebê é outra pessoa: torna -se necessário elaborar a perda do bebê da fantasia para entrar em contato com o bebe real. Essa tarefa se torna particularmente penosa no caso de crianças que nascem com problemas graves ou com malformações extensas. Consequências de um Mau Puerpério Psicose puerperal: Tal estado caracteriza-se pelo repúdio total ao bebê: a paciente não quer vê-lo, aterroriza-se com ele, permanece triste, afastada, ausente, sofre insônia, inapetência, descuida-se da própria aparência, não se veste, não se banha nem se penteia. Muitas vezes faz referência a alucinações geralmente auditivas ou exprime ideias delirantes. Tal estado pode remitir por si mesmo, ao cabo de alguns dias, semanas ou meses. Na remissão, é muito importante a capacidade dos familiares para tolerar, absorver e modificar a ansiedade que determina o quadro: ansiedade de esvaziamento ou de castração. •Maníaca: A puérpera age como se nada tivesse acontecido, mostra-se alegre e não se ocupa do bebê. A partir da segunda ou terceira semana, procura permanecer o mais afastada possível do filho, deixando-o aos cuidados de outra pessoa. A anormalidade se exprime por um estado de tensão permanente, irritabilidade e hiperatividade. 01 02 Estrutura da enfermaria * A FALTA DE CONHECIMENTO REFERENTE AO FUNCIONAMENTO: MUDANÇAS DE SEU PRÓPRIO CORPO, DO DESENVOLVIMENTO FETAL, DAS CONDIÇÕES ADEQUADAS PARA UM BOM PARTO, E DA IMPORTÂNCIA DA AMAMENTAÇÃO PARA A MÃE E PARA O BEBÊ. Equipe multidisciplinar na enfermaria de obstetrícia existe um momento estruturado para a discussão dos casos, denominado de visita multiprofissional. o psicólogo com um conhecimento abrangente das questões orgânicas e psicossociais pode contribuir com a equipe multiprofissional na melhor adaptação da mulher desde a gestação até a chegada do bebê. (SANTOS; OLIVEIRA, 2018) Modelo de assistência psicológica da gestação ao puerpério propiciar um espaço facilitador para favorecer uma reorganização e adaptação da gestante à gravidez de alto risco, parto e puerpério. ·Trabalham-se questões emocionais da gestação ·Avaliação do conhecimento sobre seu diagnóstico e condutas médicas ·Mudanças de comportamentos a partir do risco de sua patologia para a gestação ·Avaliação do processo de adaptação das mulheres à gestação, ao papel da maternidade e mudanças de rotina NO AMBULATÓRIO: Modelo de assistência psicológica da gestação ao puerpério o atendimento psicológico pode ser oferecido de forma individual ou em grupo avaliação inicia-se com a análise do prontuário, no qual são levantados dados gerais Tem como objetivo verificar as situações conflitivas ante a gravidez, o parto e a maternidade em geral, bem como a relação gravidez e alto risco, juntamente com reações desadaptavas diante da hospitalização; NA ENFERMARIA: Modelo de assistência psicológica da gestação ao puerpério atua fortemente na avaliação e no acolhimento de pacientes com dificuldade de adaptação dificuldade de amamentação ou desmotivação para amamentar, sofrendo preconceitos e pressões familiares e da equipe para que amamentem O psicólogo atua para que se faça compreender a função e o significado do amamentar à paciente e auxilia na ressignificação deste ato e na adaptação ao amamentar ou não. atendimentos com as puérperas: IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO CONJUNTA DA PSICOLOGIA E DO SERVIÇO SOCIAL casos de óbito fetal (OF) acolhimento no período de luto organização psíquica e à reestruturação emocional facilitação da comunicação com a equipe de saúde quanto à possibilidade de alta da paciente para participação em rituais de despedida, quando possível. Atuação é voltada ao período do pré- parto, para controle de ansiedade, apoio emocional diante das demandas de medo, oferta de técnicas de relaxamento e mediação da relação entre paciente e equipe psicólogo pode ser chamado para atender dentro do centro obstétrico: intervenções do psicólogo pode contar com uma gama de técnicas para diminuir a ansiedade relacionada aos procedimentos médicos, à própria gestação de alto risco e puerpério, bem como tornar possível à mulher lidar adequadamente com esses procedimentos e refletir sobre a condição de ser mãe (SANTOS; OLIVEIRA, 2018) Dessensibilização sistemática Work of worrying Apoio emocional e/ou expressivo Fornecimento de informações. Técnicas de relaxamento Orientação psicológica. ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA À FAMÍLIA DAS GESTANTES E ÀS PUÉRPERAS a grande maioria das queixas psicossociais trazidas pelas gestantes estão associadas à falta da presença da família verificar a compreensão da família com relação ao diagnóstico (gestação de alto risco), à hospitalização, ao parto e ao puerpério; e orientar a família quanto à necessidade do apoio psicossocial. ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA À EQUIPE DE SAÚDE Orientação quanto aos fatores de riscos psicológicos presentes no contexto, facilitando as inter-relações Planejamento de estratégias terapêuticas conjuntas, para melhor alcançar os objetivos de assistência às pacientes A oferta de suporte psicológico aos membros da equipe quando estes necessitarem Para trabalhar em equipe é preciso ter escuta, comunicação e decisões compartilhadas. O psicólogo, além de fazer parte dessa equipe, pode mediar as relações interpessoais entre os profissionais VÍDEOS INTERATIVOS https://www.youtube.com/w atch?v=zRQuXzT7B4Q https://www.youtube.com/wat ch?v=Xw51XM6plu8 https://www.youtube.com/wat ch?v=bbJTA6mxPfU REFERÊNCIAS SANTOS, Valéria Batista Menezes Agostinho dos; OLIVEIRA, Luana Maria de. Enfermaria da Obstetrícia. In: SANTOS, Valéria Batista Menezes Agostinho dos. Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clinícos. 3. ed. Rio de Janeiro: Gen, 2018. Cap. 9. p. 113-134. TRUCHARTE, F. A. R.; KNIJINIK, R.B. Estudos psicológicos do puerpério. In: ANGERAMI- CAMON, V. A. (org.). Psicologia Hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2010. p. 65-90. CONSELHO TÉCNICO DA UNIMED CAMPINAS (Campinas). O que é parto humanizado e quais são os benefícios?: veja neste post. Veja neste post. Disponível em: https://www.unimedcampinas.com.br/blog/viver-com-saude/o-que-e-parto- humanizado-e-quais-sao-os-beneficios-veja-neste-post. Acesso em: 01 nov. 2022.