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Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional • A Criança e o Adolescente na Constituição Federal; • Instrumentos Internacionais de Proteção; • Estatuto da Criança e do Adolescente; • Disposições Preliminares; • Direitos Fundamentais. · Apresentar os passos iniciais de nossa disciplina, em especial, abor- dando a forma como as crianças e os adolescentes são protegidas pelo Direito Interno de nosso país e pelo Direito Internacional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional A Criança e o Adolescente na Constituição Federal Em nosso sistema jurídico, a Constituição Federal desempenha um destacado papel, em razão do Princípio da Supremacia Constitucional. Segundo esse princípio, todas as normas do sistema jurídico somente podem ser consideradas válidas se guardarem compatibilidade com as disposições constitucio- nais. Assim, é o texto de nossa Carta Magna que estrutura todo o sistema norma- tivo. Isso faz com que todos os seus preceitos tenham uma destacada importância, pois sinalizam como determinados assuntos devem ser tratados pelas demais nor- mas que detalham as suas prescrições. Nesse contexto, podemos verificar que em nossa Constituição Federal, o trata- mento das questões que diretamente afeta a criança e o adolescente está especifi- camente inserido no Capítulo VII (Da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso) de seu Título VIII (Da Ordem Social). Falaremos sobre os diversos pre- ceitos no decorrer de nossas aulas; contudo, precisamos destacar nesse momento algumas normas estabelecidas em nossa Lei Maior. Dever dos pais em relação aos seus filhos Há um complexo de deveres e de direitos que ligam pais e filhos, chamado de poder familiar, sendo que uma de suas faces mais importantes está atrelada ao dever de assistir, criar e educar seus filhos menores (art. 229, “caput”, da Constituição Federal). Constituição Federal Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos me- nores [...]. O exercício desse poder familiar se dá em igualdade de condições pelos pais e mães, não havendo proeminência de um sobre o outro, em nada importando o estado civil deles (se são casado, se vivem em união estável, etc.), sendo assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. Abuso, violência e exploração de criança e de adolescente Como nossos constituintes tiveram uma especial preocupação em reconhecer o frágil papel da criança e do adolescente em nossa sociedade, foi por eles indicada a necessidade de que a nossa legislação tivesse uma maior severidade na apuração de casos de abuso, violência e exploração sexual. 8 9 Constituição Federal Art. 227 [...] § 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. Inimputabilidade penal dos menores de dezoito anos Outro assunto que também foi objeto de expressa estipulação constitucional se refere à inimputabilidade dos menores de dezoito anos, ou seja, crianças e adolescentes não estão sujeitas às normas do Código Penal (ou da legislação penal como um todo), quando da prática de condutas que possam se caracterizar como crimes ou contravenções penais. Constituição Federal Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Nessas situações deve ser aplicada a legislação especial, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Igualdade entre os fi lhos Nossa Constituição Federal trouxe a plena igualdade entre os filhos, não sendo relevante se eles foram havidos ou não da relação do casamento, qual é o estado civil de seus pais (se são casados ou solteiros) ou se o filho é adotivo. Todos eles possuem os mesmos direitos, sendo que qualquer designação dis- criminatória nesse sentido deve ser abandonada em nossa legislação e nas ques- tões cotidianas. Constituição Federal Art. 227 [...] § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Instrumentos Internacionais de Proteção Além de preceitos internos (leis, decretos, etc.), há diversos instrumentos inter- nacionais que, dentre vários assuntos, apresentam disposições que buscam reco- nhecer direitos das crianças e dos adolescentes, dentre eles, pode ser mencionado o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (adotado pela XXI Sessão da 9 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966 e internaliza- do pelo Decreto n.º 592, de 6 de julho de 1992). Essa convenção internacional e outras foram criadas com o objetivo de reconhecer direitos humanos de todas as pessoas, sendo aplicável, inclusive, para crianças e adolescentes. Há nessas nor- mas poucas menções específicas para direitos de criança e de adolescentes, pois elas não buscam a proteção específica de certos grupos sociais. Há, contudo, alguns desses instrumentos que foram especificamente cunhados para tratar somente dos direitos das crianças e dos adolescentes, sendo que podemos destacar os seguintes: a Convenção Sobre os Direitos da Criança, Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional e a Convenção Sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças. Convenção Sobre os Direitos da Criança Essa convenção internacional foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, sendo ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, e internalizada por intermédio do Decreto n.º 99.710, de 21 de novembro de 1990. Por meio do Decreto n.º 5.007, de 8 de março de 2004, foi internalizado o ProtocoloFacultativo à Convenção, que se refere à venda de crianças, à prostituição e à pornografia infantil. Como um dos reflexos da adesão de nosso país a essa convenção foi estabelecida a Lei n.º 13.431/17, que estabelece um sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional Essa convenção foi concluída em Haia, em 29 de maio de 1993, entrando em vigor, no âmbito internacional, em 1º de maio de 1995. Nosso país ratificou esse instrumento em 10 de março de 1999, sendo internalizada pelo Decreto n.º 3.087, de 21 de junho de 1999. Em razão desse instrumento internacional foi realizada uma grande alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente, por intermédio da Lei n.º 12.010/09. Por meio do Decreto n.º 3.174, de 16 de setembro de 1999, foram designadas as Autoridades Centrais encarregadas de dar cumprimento a essa Convenção. O Decreto n.º 5.491, de 18 de julho de 2005, realizou, no âmbito de nosso país, a regulamentação de organismos estrangeiros e nacionais de adoção internacional. 10 11 Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças Esse instrumento foi concluído em 25 de outubro de 1980, em Haia, passando a ter vigência internacional em 1º de dezembro de 1983. Nosso país ratificou essa convenção em 19 de outubro de 1999, sendo interna- lizada pelo Decreto n.º 3.413, de 14 de abril de 2000. Por meio do Decreto n.º 3.951, de 4 de outubro de 2001, foi designada a Autoridade Central para dar cumprimento a essa Convenção. Estatuto da Criança e do Adolescente O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado pela Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, sendo fruto de muitos debates e da estruturação dada pelas diversas normas anteriormente mencionadas, ou seja, de nossa Constituição Federal e de diversas convenções internacionais que nosso país aderiu. Como pode ser observado, algumas dessas convenções são posteriores à elabo- ração da Lei n.º 8.069/90, razão pela qual acabaram por determinar importantes modificação do Estatuto, colocando-o sempre em sintonia com a evolução dos direitos internacionalmente reconhecidos das crianças e dos adolescentes. Considerando todo esse contexto, podemos afirmar que os direitos das crian- ças e dos adolescentes em nosso sistema jurídico podem ser representados da seguinte forma: ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOSLECENTE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CONVENÇÕES INTERNACIONAIS OUTRAS NORMAS LEGAIS NORMAS CONSTITUCIONAIS Figura 1 11 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Ou seja, há uma somatória de normas constitucionais, com normas oriundas de convenções internacionais a que nosso país aderiu (e foram internalizados), com o texto do Estatuto e outras normas legais. Dentre essas outras normas legais podemos destacar, por exemplo, o Código Civil (Lei n.º 10.406/02), que, dentre vários assuntos, regula uma série de questões relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes. É preciso destacar que estamos falando de normas específicas que incidem sobre os direitos da criança e do adolescente, contudo, há normas gerais que são aplicadas para todos, inclusive para esses destinatários. Por fim, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente foi revogado o antigo Código de Menores, Lei n.º 6.697/79, que até então era o principal diploma reitor desse assunto. Disposições Preliminares O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se inicia um título chamado de Disposições Preliminares que apresenta alguns importantes conceitos que são extremamente importantes para a compreensão de suas disposições. Conceito de criança e de adolescente O conceito de criança e de adolescente é apresentado pelo ECA em seu artigo 2º, cuja redação é a seguinte: ECA Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Temos assim que: • Criança: do nascimento até o dia da véspera de completar 12 anos de idade; • Adolescente: do dia do aniversário de 12 anos até a véspera de completar 18 anos. Para aquele que completou 18 anos não haverá a aplicação do ECA, salvo em situações excepcionais, conforme consta do parágrafo único de seu artigo 2º. Nes- ses casos essa aplicação somente poderá ocorrer até que a pessoa atinja 21 anos. Essas hipóteses excepcionais são as seguintes: • O artigo 121, § 5º, do ECA estabelece, no caso de aplicação da internação, a liberação compulsória aos 21 anos de idade, ou seja, esse é um dos limites máximos para a aplicação dessa medida socioeducativa. 12 13 • O artigo 40 do ECA prescreve que o adotado deve ter, no máximo 18 anos, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes antes dessa idade. Nesse caso, entende-se que a efetivação da adoção poderá ocorrer, no máximo, se o adotado possuir 21 anos de idade. • A Lei n.º 13.431/17 criou um sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, que, dessa forma é aplicado para pessoa com até 18 anos, contudo, o parágrafo único do artigo 3º dessa norma firma que esse tratamento diferenciado pode, de forma facultativa, ser aplicado para pessoas com idades entre os 18 e os 21 anos. Um conceito mais recentemente incorporado ao sistema protetivo é o de pri- meira infância, sendo que ele é estabelecido pela Lei n.º 13.257/16, abrangendo os seis anos completos ou os setenta e dois primeiros meses de vida da crian- ça, sendo que essa norma estabelece a necessidade de serem criados planos, políticas, programas e serviços que objetivem atender às especificidades dessa faixa etária. Sistema de Proteção Integral O Estatuto estabeleceu o chamado Sistema de Proteção Integral de proteção de crianças e adolescentes, ou seja, cabe à família, à sociedade e ao Estado zelar pelo pleno respeito dos direitos desses destinatários. Constituição Federal Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] Dessa forma, mesmo que haja, por exemplo, negligência dos pais em relação aos direitos dos filhos (crianças ou adolescentes), a sociedade e o Estado devem possuir instrumentos que sejam aptos para superar essa situação. Seguindo a orientação constitucional, que estabelece o dever de todos no zelo dos direitos de crianças e adolescentes, estabelece o artigo 13 da Lei n.º 13.431/17 o seguinte: Lei 13.431/17 Art. 13. Qualquer pessoa que tenha conhecimento ou presencie ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que constitua violência contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato imediata- mente ao serviço de recebimento e monitoramento de denúncias, ao con- selho tutelar ou à autoridade policial, os quais, por sua vez, cientificarão imediatamente o Ministério Público. [...] 13 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Contudo, não basta que existam normas estabelecendo o dever de proteção des- ses direitos, é necessário que eles, efetivamente, sejam utilizados para fazer cessar esse desrespeito. Além disso, estabelece esse sistema de proteção a priorização de atendimento, dessa forma, as práticas e as políticas públicas devem buscar maior agilidade para o trato de questões diretamente afetas às necessidades das crianças e dos adolescentes. Direitos Fundamentais Direitos fundamentais são aqueles direitoshumanos básicos reconhecidos pelo Estado, sendo seu dever respeitá-los e propiciar condições para que sejam plena- mente gozados. Como foi acima frisado, podemos destacar duas perspectivas desses direitos: • aqueles afetos a todos, inclusive crianças e adolescentes; • aqueles especificamente criados para atender à peculiar situação da criança e do adolescente. Vamos destacar em nosso estudo aqueles direitos fundamentais próprios para a especial situação das crianças e adolescentes. Direito à vida e à saúde O Estatuto em relação a esses dois importantes bens jurídicos, vida e saúde, es- tabelece uma série de diretrizes indicativas de medidas que devem ser desenvolvidas até mesmo antes do nascimento, fazendo com que a legislação se preocupe com a gestante, com os atos que cercam o nascimento, com a prevenção de doenças e males que afligem os primeiros anos de vida da criança, com o aleitamento mater- no, dentre outros assuntos relacionados. ECA Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nas- cimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Sobre a gestante, a parturiente e a nutriz deve ser destacado que o ECA prescreve que: • O Sistema Único de Saúde deve proporcionar um adequado atendimento pré e perinatal. • A parturiente, sempre que possível, deverá ser atendida pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal. 14 15 • O Poder Público deve, sempre que necessário, propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. • O Poder Público deve ser proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, inclusive para aquelas que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção (sendo que estas mães devem ser encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude). • Devem ser asseguradas condições adequadas ao aleitamento materno, inclusi- ve aos filhos de mães submetidas à medida privativa de liberdade. Particularmente em relação ao parto e aos atos que dele se seguem, estabe- lece o Estatuto que os hospitais e os estabelecimentos de saúde: • Devem manter prontuários individuais e registros das atividades desenvolvidas, os quais devem ser preservados por, pelo menos, 18 anos. • Devem identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plan- tar, bem como pela impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas de identificação que possam ser estabelecidas. • Devem realizar exames para o diagnóstico e o tratamento de anormalidades no metabolismo do recém-nascido (“teste do pezinho”). • Devem fornecer a declaração de nascimento, com eventuais intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato. • Devem manter o alojamento conjunto, de forma que o neonato permaneça junto à sua mãe. • Devem permanecer na unidade hospitalar e orientar sobre o processo de ama- mentação, inclusive no que se refere à técnica mais adequada para realizá-la. A criança e o adolescente têm direito a um integral atendimento à sua saúde no Sistema Único de Saúde, devendo ser destacado: • A criança e o adolescente portadores de deficiência devem ter atendimento especializado. Esse atendimento deve abranger, dentre outros aspectos a sua habilitação e reabilitação, conforme estabelece o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146/15). Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito da pessoa com deficiência. Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação tem por ob- jetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos, habilidades e apti- dões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação social em igualdade de condições e de oportunidades com as demais pessoas. 15 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional • Os medicamentos, as próteses e os outros recursos relativos ao tratamento, à habilitação ou à reabilitação devem ser fornecidos gratuitamente àqueles que necessitarem. • Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar con- dições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou do responsá- vel, nos casos de internação de criança ou adolescente. • A vacinação das crianças é obrigatória nos casos recomendados pelas autori- dades sanitárias. Os casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente devem, obrigatoriamente, ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, o que não exclui outras providências cabíveis ao caso. Por fim, deve ser destacado que o Artigo nº. 227 da Constituição Federal esta- belece a necessidade de que sejam criadas políticas públicas específicas para pro- mover a saúde de crianças e adolescentes, devendo ser destinadas verbas orça- mentárias para o seu desenvolvimento. Essa determinação abrange uma especial preocupação com aqueles que possuem necessidades especiais, bem como para o tratamento daqueles que estejam sob a dependência de drogas. Constituição Federal Art. 227 [...] § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e de atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e todas as formas de discriminação. [...] § 3º - O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: [...] VII - programas de prevenção e de atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 16 17 Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, sendo necessário sempre considerar sua especial situação, ou seja, que são pessoas em processo de desenvolvimento. Essa liberdade abrange, em especial, os seguintes aspectos: • Direito de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais. • Direito de expressão e de opinião. • Direito de ter respeitada a sua crença e seus cultos religiosos. • Direito de brincar, praticar esportes e divertir-se. Esses direitos, como não poderia deixar de ser, abrangem o respeito à invio- labilidade da integridade física, psíquica e moral, especialmente no que se refere à preservação de sua imagem e identidade, sendo obrigação de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, para que não estejam sujeitos a qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Essa preservação da dignidade de criança e adolescente abrange o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degra- dante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto. Assim, não podem os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encar- regada de prestar-lhes cuidado, utilizar-se desses meios. Objetivando dar menor subjetividade, o Estatuto apresenta a conceituação de: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 18 – A [...] Parágrafo único: [...] I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulteem: a) sofrimento físico; ou b) lesão; II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize. 17 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional A utilização desses meios, além de poderem caracterizar a prática de crimes, faz com que os responsáveis por essas práticas estejam sujeitos a medidas que são aplicadas pelo Conselho Tutelar, sendo as seguintes: • encaminhamento à programa oficial ou comunitário de proteção à família; • encaminhamento à tratamento psicológico ou psiquiátrico; • encaminhamento a cursos ou programas de orientação; • obrigação de encaminhar a criança à tratamento especializado; • advertência. Buscando aumentar os níveis de proteção de crianças e adolescentes contra atos de violência, a Lei n.º 13.431/17 estabeleceu um sistema de garantia de seus direitos. Dentre várias medidas, essa norma apresentou uma detalhada defi- nição das mais variadas formas de violência a que crianças e adolescentes podem estar submetidos. Lei n.º 13.431/17 Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de violência: I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico; II - violência psicológica: a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em re- lação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, ridi- cularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional; b) ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou in- duzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha; III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou a presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou em vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda: a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para a estimulação sexual do agente ou de terceiro; 18 19 b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patro- cínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico; c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adoles- cente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação; IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização. Dentre as diversas formas de violência apresentadas por essa norma devem ser destacadas duas delas, as quais têm sido alvo de muitas discussões em nossa sociedade: o “bullying” e a alienação parental. Direito à convivência familiar e comunitária A criança e o adolescente têm direito de ser criada em sua família natural e, excepcionalmente, em uma família substituta, além disso, tem direito de participar da vida na comunidade onde reside. Os pais, em razão do poder familiar, exercem em igualdade de condições os deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores (crianças ou adolescentes), sendo que eventual descumprimento pode acarretar medidas judiciais aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude. Em casos mais extremos pode ocorrer a suspensão ou a perda desse poder, o que possibilita a colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta. Deve ser frisado que todas essas situações somente podem ocorrer em processo judicial em que se possibilite aos pais o pleno exercício do contraditório. Se o descumprimento desses deveres decorrer, exclusivamente, da falta ou da carência de recursos materiais não é possível a decretação da suspensão ou a perda do poder familiar, sendo que essa família deverá ser inscrita em programa oficial de auxílio. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1.º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e em programas oficiais de proteção, apoio e promoção. [...] 19 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Outra questão relevante que deve ser analisada com muito cuidado se relaciona às situações em que o pai ou a mãe sofrem uma condenação criminal. Nesse caso, não há uma presunção de que se faz necessária a suspensão ou a destituição do poder familiar. Contudo, se algum deles praticar crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha, essa medida se fará necessária. Família Natural O § 4º do artigo 226 da Constituição Federal apresenta um conceito de entidade familiar, cuja redação é a seguinte: Constituição Federal Art. 226 [...] § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Esse conceito influenciou na formulação do conceito de família natural, cons- tante do “caput” do artigo 25 do ECA. ECA Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. O ECA também estabelece um conceito relacionado ao da família natural, a que ele denomina de família extensa ou ampliada, englobando outros parentes próximos com quem a criança ou o adolescente mantém convivência e vínculos de afinidade e de afetividade. ECA Art. 25 [...] Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e de afetividade. Reconhecimento do estado de filiação O reconhecimento do estado de filiação é um dos direitos de personalidade mais importantes de nossa legislação, pois desse reconhecimento decorrem importantes efeitos para a pessoa natural. Em razão dessas características, esse direito: • não pode ser transmitido; • é irrenunciável; 20 21 • não pode sofrer qualquer limitação voluntária; e • não está sujeito à prescrição. Ele pode ser exercido a qualquer tempo, contra os pais ou outros herdeiros, sendo que o processo corre em segredo de Justiça. Essas características estão expressamente indicadas no artigo 11 do Código Civil e no artigo 27 do ECA. Código Civil Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da persona- lidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. ECA Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. O reconhecimento de filhos havidos fora do casamento pode ocorrer de forma conjunta ou separadamente pelos pais, sendo que ele pode ser formalizado de várias formas, conforme estabelece o Artigo no. 1.609 do Código Civil e o Artigo 26 do ECA: • no registro do nascimento; • por escritura pública ou escrito particular, que deve ser arquivado no cartório onde se procedeu ao registro; • por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; • por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. O reconhecimento, em qualquer dessas formas, não está sujeito a qualquer forma de revogação. Ele pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, contudo, neste último caso, somente poderá ocorrer se ele deixar descendentes – isso impossibilita que os pais reconheçam os filhos já falecidos somente com a intenção de participarem da sucessão de seus bens. Família Substituta Não havendo a possibilidade de manutenção da criança ou do adolescente em sua família natural, ou mesmo na extensa, ele poderá ser inserido em uma família substituta. Essa é uma medida excepcional, pois todos os esforços devem ser realizados para que ela não ocorra. 21 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional No ECA as três formas de colocação em família substituta decorrem: • da guarda; • da tutela; • da adoção. Essas três possibilidades serão detidamente estudadas em outra unidade. Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer O direito à educação é também tratado pelo ECA, devendo ser destacados os seguintes preceitos: • Deve ser garantido o acesso à escola pública e gratuita nas proximidades da residência da criança e do adolescente. Esse é um direito público subjetivo, ou seja, pode ser exigido judicialmente em caso de descumprimento por parte do Poder Público, além de poder acarretar a responsabilização da autoridade pública que não ofertou vagas suficientes. • Deve ser obrigatório o ensino fundamental, inclusive para aqueles que não tiveram acesso a ele na idade própria. • Têm direito ao atendimento em creche e pré-escola, crianças de zero a cinco anos de idade. • Deve ocorrer o atendimento educacional especializado aos portadores de ne- cessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. Para isso, se faz necessário que haja um aprimoramento do sistema educacional para que se estabeleçam condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, imple- mentar, incentivar, acompanhar e avaliar: I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condi- ções de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barrei- ras e promovam a inclusão plena; [...] • Deve haver a oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador. 22 23 • Devem ser criados programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde, para o ensino fundamental. O Estatuto, ao se referir ao ensino médio, estabelece que deveria haver uma gra- dual e progressiva extensão da sua obrigatoriedade, contudo, a Lei n.º 12.796/13, ao modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n.º 9.394/96), estabele- ceu que o ensino médio é parte integrantes do ensino básico obrigatório (Art. 4º, inciso I da LDB), assim os preceitos do ECA, nesse particular, se encontram superados pela nova forma como a nossa legislação trata do assunto. Os pais ou o responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino, sendo que a falta de observância desse preceito pode, inclusive, acarretar a caracterização da infração penal prevista no Artigo 246 do Código Penal – “Abandono intelectual”. Estabelece o Artigo 56 do ECA o dever dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino fundamental de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de: ECA Art. 56 [...] I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. Direito à profi ssionalização e à proteção ao trabalho O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, sempre se observando o respeito à sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, devendo haver esforços do Poder Público e da sociedade para que haja a sua capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. Uma questão que deve ser observada com atenção se refere à idade em que o adolescente pode ingressar no mercado de trabalho, pois, na redação original da Constituição Federal de 1988 havia a indicação de uma idade mínima em dois lugares (inciso XXXIII do artigo 7º e inciso I do §3º do Artigo 227). Essa indicação foi repetida pelo ECA (Artigo 60). Ocorre, contudo, que o inciso XXXIII do Artigo 7º do texto constitucional foi alterado pela Emenda Constitucional n.º 20/98, mas essa mudança não ocorreu nem no outro dispositivo de nossa Carta Magna, nem no ECA, o que pode gerar alguma confusão para um leitor mais desavisado dessas normas. 23 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Observe o esquema abaixo que indica essa situação: Situação Anterior Art. 7º, XXXIII, CF Art. 227, §3º, I, CF Art. 60 ECA PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 14 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 20/98 Art. 7º, XXXIII, CF Art. 227, §3º, I, CF Art. 60 ECA PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 16 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 14 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ REVOGAÇÃO TÁCITA DAS DISPOSIÇÕES ANTERIORES Figura 2 Portanto, hoje a disposição que possui vigência é a seguinte: Constituição Federal Art. 7º [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; 24 25 O ECA estabelece alguns padrões sobre a formação técnico-profissional e a aprendizagem, as quais são detalhadas na legislação trabalhista. ECA Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional minis- trada segundo as diretrizes e as bases da legislação de educação em vigor. Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios: I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III - horário especial para o exercício das atividades. Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem. [...] Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido. Muito embora o adolescente maior de 16 anos possa trabalhar, o Artigo 67 do ECA estipula uma série de restrições, as quais são estabelecidas em razão de sua peculiar situação de pessoa em formação. ECA Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; II - perigoso, insalubre ou penoso; III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvi- mento físico, psíquico, moral e social; IV - realizado em horários e em locais que não permitam a frequência à escola. 25 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento JurídicoNacional e Internacional Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/1NtGKk Convenção sobre os Direitos da Criança https://goo.gl/LPU4JW Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional https://goo.gl/qcGTBt Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças https://goo.gl/RFJgKY 26 27 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 27 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento A Colocação em Família Substituta • Direito à Convivência Familiar; • Família Substituta. · Compreender de que forma o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao disciplinar as relações familiares, estabelece a priorização de manutenção da criança e do adolescente em sua família natural, ou de que forma este propõe uma família substituta. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Colocação em Família Substituta Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Colocação em Família Substituta Direito à Convivência Familiar Considerações Iniciais Como vimos em nossa aula anterior, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu em seu Título II os diversos Direitos Fundamentais reconhecidos pelo Estado brasileiro para as crianças e adolescente, sendo que, dentre eles está o Di- reito à Convivência Familiar e Comunitária (Capítulo III). Mais do que apreciar meramente questões formais ou de conveniências, o legis- lador apontou uma clara direção que deve ser seguida, ou seja, a criança e o adoles- cente, como pessoas em formação, necessitam estar inseridos na vida comunitária dela participando ativamente, contudo, isso não se compara à importância que a família representa. ECA Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Para que haja uma maior clareza de linguagem, o legislador buscou definir as várias formas que a família pode apresentar. Na Constituição Federal está a definição de entidade familiar. Constituição Federal Art. 226 [...] § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Essa definição, como vimos na aula passada, em muito influenciou os conceitos apresentados no ECA, sobretudo o conceito de família natural. Antes de retornarmos a esses conceitos, vamos falar sobre poder familiar. Poder familiar O poder familiar é um complexo de direitos e deveres que liga os pais, em igual- dade de condições, aos seus filhos. ECA Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. O poder familiar anteriormente recebia o nome do “pátrio poder”, contudo, essa denominação foi abandonada pelo Código Civil (Lei n.º 10.406/02) e, 8 9 posteriormente, todas as menções a essa nomenclatura foram alteradas no ECA pela Lei n.º 12.010/09. Como está claramente disposto no ECA, o poder familiar é exercido de forma conjunta pelos pais, em igualdade de condições, sendo que eventuais divergências devem ser objeto de decisão judicial. Em decorrência desse poder, aos pais incumbe o sustento, guarda e educação dos filhos, além da obrigação de cumprir decisões judiciais eventualmente prolatadas para regular alguma questão que, direta ou indiretamente, possa influenciar nos direitos da criança ou do adolescente. ECA Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. Quando os pais não cumprem com os deveres inerentes ao poder familiar ou, de qualquer outra forma, colocam os filhos menores em condições que afetem seus di- reitos básicos, ocorre uma conduta irregular que poderá acarretar a suspensão ou a perda desse poder. Contudo, se a família está sujeita a condições de miserabilidade e não há outra razão para o descumprimento desses deveres, não poderá o juiz de- terminar essa medida tão drástica, devendo determinar que o Poder Público a insira em um programa assistencial para que os direitos das crianças sejam respeitados. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. [...] O ECA estabelece que essa drástica medida de suspensão ou perda do poder familiar somente pode ocorrer em razão de decisão judicial, em processo em que se permita aos pais exercer o contraditório. ECA Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimentoinjustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. 9 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Família natural O conceito de família natural é bastante restrito, abrangendo somente os pais, ou qualquer um deles (ante a falta do outro) e seus descendentes. ECA Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Quando o filho nasce (ou é concebido) na constância do casamento, a legislação presume o estado de filiação, ou seja, presume que as pessoas casadas são o pai e a mãe da criança. Nesse sentido, podemos observar que o artigo 1.597 do Código Civil estabelece uma série de situações em que essa presunção encontra arrimo. Código Civil Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. Observe que essa presunção abrange situações decorrentes da relação conjugal – incisos I e II – que se ligam ao provável período de convivência dos pais, bem como situações que envolvem de concepção artificial homóloga (com material genético do pai e da mãe) ou heteróloga (com material genético somente da mãe ou do pai), contudo, neste último caso, com clara autorização do marido. Há, contudo, situações outras em que se faz necessário o reconhecimento desse estado de filiação. Isso ocorre, normalmente, pela realização de declaração dos pais quando da lavratura do termo de nascimento (também conhecido como “registro de nascimento”). Além disso, também é admitido esse reconhecimento por outras formas não contenciosas (como vimos em nossa aula anterior). ECA Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. 10 11 Também devemos acrescentar que esse reconhecimento também pode decorrer de processo judicial contencioso, promovido contra os pais (ou qualquer um deles), ou ainda contra seus herdeiros. ECA Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. Família extensa ou ampliada Outro importante conceito é o de família extensa ou ampliada, que, sem excluir o conceito de família natural, o aumenta ao inserir outros parentes ligados à criança ou ao adolescente com os quais há convivência e laços de afinidade e afetividade. ECA Art. 25 [...] Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Acolhimento familiar ou institucional Em razão de diversas situações, tais como abandono e suspensão do poder familiar, que podem colocar a criança ou o adolescente em uma situação pessoal e jurídica de risco, deve ocorrer a sua colocação em um programa de acolhimento. A colocação em acolhimento se dá por decisão do Juiz da Infância e Juventude, contudo, em caráter excepcional e de urgência, essas entidades podem acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação do magistrado, havendo, contudo, a obrigação de comunicar o ocorrido ao juiz da infância e da juventude no prazo de 24 horas. Esse programa pode ser familiar ou institucional, sendo que nele se objetivará, sempre que isso for possível, a sua reinserção em sua família natural ou extensa. O ECA parte do pressuposto que é a família (natural ou extensa) o melhor lugar para que a criança ou o adolescente se desenvolva e alcance a maior idade. Durante o período de acolhimento, deve o Poder Público acompanhar, por in- termédio de uma equipe interprofissional ou multidisciplinar, as medidas que são realizadas para se buscar atingir essa reinserção, sendo que, pelo menos a cada três meses, deve o juiz reavaliar a situação da criança ou do adolescente. Nessa reavaliação, poderá o juiz, em razão das provas existentes e do parecer da equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta, em quaisquer de suas modalidades – guarda, tutela ou adoção. 11 UNIDADE A Colocação em Família Substituta O acolhimento institucional da criança ou adolescente não pode se prolongar por mais de dezoito meses, exceto se houver comprovada necessidade que atenda ao seu interesse, devendo essa situação ser sempre decidida de forma fundamentada pelo Juiz da Infância e Juventude. Apadrinhamento O apadrinhamento foi criado pela Lei n.º 13.509/17 e busca estabelecer e proporcionar à criança e ao adolescente que se encontram em acolhimento vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. Para viabilizar a aplicação desse instituto, devem ser criados programas de apa- drinhamento, onde devem ser estabelecidos, dentre outros elementos, os seguintes: • Requisitos e perfis das pessoas que podem participar do programa; • Perfil das crianças e adolescentes que serão beneficiados pelo programa, de- vendo ter preferência aquelas que possuem remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva. Os padrinhos e madrinhas devem ser pessoas maiores de dezoito anos, que não estejam inscritas nos cadastros de adoção, desde que cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento de que fazem parte. As pessoas jurídicas podem fazer parte desses programas realizando o apadri- nhamento de crianças e adolescentes. Os programas ou serviços de apadrinhamento devem ser apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude e podem ser executados por órgãos públicos ou por or- ganizações da sociedade civil. Família Substituta Características da medida O ECA somente admite três formas de colocação da criança e do adolescente em uma família substituta, ou seja, a guarda, a tutela e a adoção. ECA Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. 12 13 Em razão da severidade dessa medida, sempre se faz necessária que essa colo- cação ocorra por decisão judicial, devendo ser observado que: • A criança ou o adolescente será sempre ouvido por uma equipe multiprofissional e considerada a sua opinião. Naturalmente, deve ser levado em conta o seu grau de desenvolvimento e de compreensão sobre essa medida. • No caso de adolescente, será necessário seu consentimento, que será colhido em audiência. • Em sua decisão o juiz deve levar em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, buscando evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. • Quando essa medida recair sobre grupos de irmãos, deve haver o cuidado de que todos eles sejam colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, salvo se comprovada a possibilidade de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa. Nessas situações extremas, deve-se procurar evitar o rompimento definitivodos vínculos fraternais. • A colocação em família substituta deve ser precedida de preparação gradativa e acompanhamento posterior. Quem recebe a criança ou o adolescente em família substituta, não pode transferi-lo a qualquer outra pessoa ou entidade, salvo se houver expressa determinação judicial. O ECA é expresso em determinar que não deferirá colocação em família subs- tituta a pessoa que revele: • incompatibilidade com a natureza da medida; • não ofereça ambiente familiar adequado. Por fim, estabelece o ECA que estrangeiros não podem receber a guarda ou a tutela de crianças e adolescentes, sendo somente admissível a adoção, contudo, essa medida deve sempre ser considerada excepcional (artigo 31 do ECA). Guarda A guarda é a forma mais simples de colocação em família substituta, podendo ser usada: • Para a regularização de situações de fato; • Como forma inicial ou incidental durante o processo de adoção ou tutela, salvo se os adotantes forem estrangeiros; • Para suprir a falta eventual dos pais; • Em outras situações peculiares. 13 UNIDADE A Colocação em Família Substituta O guardião deve prestar assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, tendo o direito de se opor a terceiros, inclusive aos pais, sendo que estes continuam com o dever de prestar alimentos. Ao estabelecer a guarda, o juiz regulará o direito de visita dos pais, porém esse direito não será reconhecido quando: • houver fato grave que justifique a medida, situação em que o juiz deverá ex- pressamente proibir as visitas; • a colocação em guarda ocorrer como uma medida preparatória em um pro- cesso de adoção. Entre o guardião e a criança ou adolescente submetido à medida não se estabelece uma relação de parentesco, mas de dependência, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários. A guarda pode ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamen- tado, ouvido o Ministério Público. Tutela A tutela é uma forma de colocação em família substituta que tem como carac- terística a atual ausência do poder familiar, seja em razão do falecimento dos pais ou a prévia perda ou suspensão desse poder, sendo que o tutor passa a cuidar da pessoa do tutelado (criança ou adolescente implicado com essa medida), bem como de seus bens. Como vimos, essa forma de colocação em família substituta somente pode ser deferida por decisão judicial, contudo, há uma segunda possibilidade, ou seja, os pais podem nomear o tutor em testamento ou outro documento autêntico, contudo, neste último caso, é necessário que esse tutor, no prazo de trinta dias após a abertura da sucessão, ingresse com pedido destinado ao controle judicial do ato. Nesse controle da tutela testamentária, o juiz somente irá deferir a medida se restar comprovado que ela é vantajosa ao tutelado e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la. Da mesma forma que a guarda, a tutela poderá ser revogada por decisão judicial, ouvido o Ministério Público. Adoção Das formas de colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta, a adoção é a mais complexa e a que causa maiores implicações legais e pessoais a todas as pessoas envolvidas – adotante e adotado. Como vimos, o ECA tem como pressuposto básico que a criança ou o adolescente deve permanecer junto à sua família natural, sendo que todos os esforços da família, da sociedade e do Estado devem estar voltados para esse objetivo. 14 15 Dessa forma, a adoção constitui uma medida excepcional, que somente pode ser utilizada quando não houver condições de manutenção da criança ou do ado- lescente em sua família natural ou extensa. Outra característica da adoção é que ela é irrevogável, pois com ela se estabelece o parentesco entre o adotado e o adotante, bem como entre adotado e os demais parentes do adotante, sem a possibilidade de, pela vontade de quem quer que seja, se retornar à situação anterior. Requisitos • O adotando (criança ou adolescente submetida a essa medida) deve possuir, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Neste caso, a efetivação da adoção deverá ocorrer, no máximo, aos vinte e um anos de idade do adotado. • O adotante deve ser maior de dezoito anos e ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. • O estado civil do adotante não é causa de impedimento para a adoção, sendo que: » Os adotantes, quando forem casados ou viverem em união estável, poderão adotar em conjunto, desde que comprovada a estabilidade da família. » Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, porém: » Precisam estabelecer um acordo sobre a guarda e o regime de visitas. » O estágio de convivência deve ter sido iniciado na constância do período de convivência. » Deve ser comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. • É possível que um dos cônjuges adote o filho do outro. • É vedada a adoção por ascendentes e por irmãos do adotando. A adoção pode ocorrer mesmo após a morte do adotante (adoção póstuma), desde que: • Ele ingresse com o processo de adoção. • O falecimento ocorra durante a tramitação do processo (antes de prolatada a sentença). • Antes do seu falecimento, o adotante tenha, de forma inequívoca, manifestado a sua vontade de adotar. Na adoção póstuma, os efeitos retroagem à data da morte do adotante. A adoção somente pode ser deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. 15 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Características Com a adoção, diferentemente das outras formas de colocação de família subs- tituta, o adotado passa ser filho do adotante, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios. Outra consequência é que há o rompimento do vínculo entre o adotado e sua famí- lia natural e demais parentes, salvo no que se refere aos impedimentos matrimoniais. Nem a morte dos adotantes pode restabelecer o poder familiar dos pais naturais. Consentimento para a adoção Para que ocorra a adoção é necessário que haja o consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, contudo, esse consentimento é dispensado se os pais forem desconhecidos (tais como ocorre, com certa frequência, nos casos de abandono de crianças recém-nascidas) ou se eles forem destituídos do poder familiar. Quando o adotando for maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento. Registro civil do adotado O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial que será inscrita no regis- tro civil mediante mandado. A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, sendo que também constatará o nome dos seus ascendentes. Não se admite qualquer observação sobre a origem desse registro, ou seja, não há qualquer men- ção sobre a adoção. Com essa inscrição ocorrerá o cancelamento do registro original do adotado. Na sentença, o juiz especificará que o adotado passa a ter o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome. A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença consti- tutiva, exceto na adoção póstuma, pois, como foi acima mencionado, seus efeitos retroagem à data do óbito do adotante. Conservação do processo de adoção O processo relativo à adoção, bem como outros a ele relacionados, deve ser mantido em arquivo, devendo ser garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo. Isso é particularmente importante, em razão do ECA garantir ao adotado o di- reito de conhecer sua origem biológica. Para tanto, após completar dezoito anos, o adotado pode obter acesso irrestrito ao seu processo de adoção. Há também a possibilidade de que esse acesso seja deferido ao adotado menor de dezoito anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. 16 17 Estágio de convivênciaO estágio de convivência é uma etapa importante do processo de adoção, sendo que realizado antes da decisão final, por prazo máximo de 90 dias, fixado pelo juiz, observada idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso. Esse prazo poderá ser prorrogado por igual período pela autoridade judiciária, se houver razões que demonstrem a sua necessidade. Pode, contudo, esse estágio ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. Deve, contudo, ser observado que a simples guarda de fato (aquela sem decisão judicial que a determine ou a regularize) não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência. No caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do território nacional (adoção internacional), o estágio de convivência será de, no mínimo trinta dias e no máximo de quarenta e cinco dias (prorrogável somente uma vez por igual período). Nesse caso, seu cumprimento deve ocorrer, integralmente. ECA Art. 46 [...] § 5o O estágio de convivência será cumprido no território nacional, pre- ferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de residência da criança. O estágio de convivência é um período de extrema importância para que o juiz possa verificar se a adoção, realmente, irá trazer verdadeiros benefícios para a criança ou o adolescente, sendo que haverá o acompanhamento por uma equipe interprofissional, que irá apresentar um relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida. Cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas e de interessados Em cada comarca ou foro regional devem ser organizados dois tipos de registros: • das crianças e adolescentes em condições de serem adotados; • de pessoas interessadas na adoção. Esse registro é realizado após consulta aos órgãos técnicos do juízo, bem como da manifestação do Ministério Público. No caso das pessoas que postulam a adoção, o registro deve ser precedido de um período de preparação psicossocial e jurídica, onde o interessado receberá orientações da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude. Sempre que presentes condições para que isso ocorra, essa preparação incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados. 17 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Esses cadastros locais devem estar interligados a cadastros estaduais e nacional, sendo que, em regra, não se defere a adoção a pessoa que não faça parte deles. Também deve ser criado um cadastro para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros estaduais e nacional. O Ministério Público é incumbido de realizar a fiscalização desses cadastros. Adoção internacional O regramento da adoção internacional no ECA sofreu uma grande modificação com a Lei n.º 12.010/09, que incorporou os preceitos da Convenção de Haia - Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, de 29 de maio de 1993 (aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto n.º 3.087, de 21 de junho de 1999). Em razão das disposições da mencionada Convenção, a definição de adoção internacional é a seguinte: ECA Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Maté- ria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 ju- nho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção. [...] Sobre essa diferenciada forma de adoção, precisamos destacar os seguintes elementos: • A adoção internacional somente poderá ocorrer se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como nos cadastros estaduais e nacional não forem encontrados interessados com residência permanente no Brasil. • Excepcionalmente, somente poderá ser deferida a adoção para pessoa não domiciliada em nosso país e que não esteja no cadastro de interessados. • Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro. • A pessoa ou casal estrangeiro interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no seu país de acolhida, ou seja, naquele de sua residência habitual. 18 19 • Se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que será por aquela Autoridade remetido para a Autoridade Central Estadual Brasileira, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira. • Os documentos em língua estrangeira devem ser devidamente autenticados pela autoridade consular, bem como devem estar acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado. • Verificada a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento dos requisitos por parte dos postulantes, a Autoridade Central Estadual expedirá um laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, um ano. • Com o laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente. Como foi anteriormente mencionado, o estágio de convivência deve ser realiza- do, obrigatoriamente, em nosso território. Durante a tramitação do processo de adoção, a criança ou adolescente não po- derá sair do território nacional, sendo que, com a decisão transitada em julgado, o juiz expedirá alvará autorizando a expedição de passaporte para o adotando e, em seguida, autoriza a sua saída para o país de acolhida. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados. Prazo do processo de adoção O processo de adoção deve ser encerrado no prazo de cento e vinte dias, somente se admitindo que haja uma prorrogação que não poderá ultrapassar esse período. ECA Art. 47 [...] § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. 19 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Civil https://goo.gl/1k18iF Convenção de Haia Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional https://goo.gl/qcGTBt 20 21 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 21 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Conselho Tutelar e Acesso à Justiça • Conselho Tutelar; • Acesso à Justiça. · Estudar as estruturas utilizadas pelo Estatuto da Criança edo Ado- lescente para tornar realidade os seus diversos preceitos. Não basta que a norma crie direitos e obrigações, é necessário que ela esta- beleça quais são as pessoas e os Órgãos Públicos que devem atuar para que os comandos da Lei façam parte de nosso dia a dia. Nesse contexto, o Estatuto da Criança e do Adolescente criou os Conselhos Tutelares e os Juizados da Infância e da Juventude, que são impor- tantes estruturas que atuam em várias situações em que os direitos das crianças e dos adolescentes estão em risco ou que, efetivamente, estão sendo lesados. Dentro do Sistema de Proteção Integral, tam- bém criado pelo Estatuto, faz-se necessário que a sociedade conheça essas estruturas e saiba qual é a missão delas, pois, assim, estaremos contribuindo para que a Lei se torne uma verdadeira realidade. OBJETIVO DE APRENDIZADO Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Conselho Tutelar Considerações Iniciais O Conselho Tutelar é um importante órgão criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pois participa ativamente do sistema de proteção integral criado por essa norma. O Estatuto apresenta esse Órgão em seu Artigo 131, cuja redação é a seguinte: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Dessa definição, precisamos destacar os seguintes elementos: • Órgão permanente: significa que ele deve ser constituído formalmente e deve atuar de forma contínua; • Órgão autônomo: apesar de possuir ligações com o Poder Público Municipal e com a Vara da Infância e Juventude da Comarca, não está subordinado a eles; • Órgão não jurisdicional: significa que ele não está na estrutura do Poder Judiciário e que suas decisões não possuem características de decisões judiciais. A sociedade incumbiu os Conselhos Tutelares de zelar pelo efetivo respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes. Lei municipal ou distrital deve dispor sobre o local, o dia e o horário de funcio- namento do Conselho Tutelar, bem como sobre a remuneração dos respectivos membros (Artigo 134 do ECA). Constituição dos Conselhos Tutelares Cada município e cada região administrativa do Distrito Federal devem ter, pelo menos, um Conselho Tutelar. Características desses Conselhos: • São formados por 5 membros; • Seus membros são escolhidos pela população local; • O mandato dos membros dos Conselhos é de 4 anos, sendo permitida uma única recondução, mediante novo processo de escolha: 8 9 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. Para que alguém concorra a uma das vagas no Conselho Tutelar, deve atender aos seguintes requisitos: • Possuir reconhecida idoneidade moral; • Ter idade superior a 21 anos; • Residir no município em que pretende atuar: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: I - reconhecida idoneidade moral; II - idade superior a vinte e um anos; III - residir no município. Além dos requisitos mencionados no Artigo 133, o pretendente a uma vaga do Conselho Tutelar não pode incidir em nenhum dos impedimentos apontados no Artigo 140 do Estatuto. Esses impedimentos são os seguintes: Não podem servir no mesmo Conselho: • Marido e mulher; • Ascendentes e descendentes; • Sogro e genro ou nora; • Irmãos; • Cunhados, durante o cunhadio; • Tio e sobrinho; • Padrasto ou madrasta e enteado. Também não pode o integrante do Conselho Tutelar possuir os tipos de parentesco citados, ou relação conjugal, com: • O juiz que atua na Vara da Infância e Juventude; • O promotor de justiça que atua junto à Vara da Infância e Juventude: 9 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste Artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital. Processo de escolha – Artigo 139 O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar: • É estabelecido em Lei Municipal; • É realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, sendo fiscalizado pelo Ministério Público; • Esse processo de escolha ocorre a cada 4 anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial1; • O dia em que se desencadeia esse processo de escolha é unificado nacionalmente. No processo de escolha, o pretendente a uma vaga no Conselho Tutelar não pode doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. Os conselheiros tomam posse no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao do processo de escolha. Atribuições As principais atribuições do Conselho Tutelar estão descritas no Artigo 136 do ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; 1 Como as eleições para Presidente da República ocorrem a cadaquatro anos, temos que elas se darão em 2018, 2022, 2026, e assim por diante. Dessa forma, o processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá no primeiro domingo de outubro dos anos subsequentes a esses, ou seja, em 2019, 2023, 2017, e assim por diante. 10 11 b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificações; VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adoles- cente quando necessário; IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará in- continenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orienta- ção, o apoio e a promoção social da família. Aquele que demonstrar legítimo interesse poderá solicitar ao Juiz da Infância e da Juventude que revise qualquer decisão do Conselho Tutelar: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse. Acesso à Justiça Dentro do seu foco de proteger as crianças e os adolescentes de práticas que possam afetar o exercício de seus direitos, estabelece o Estatuto a garantia de pleno acesso desses destinatários aos seguintes órgãos: 11 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça • Defensoria Pública; • Ministério Público; • Poder Judiciário: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. [...] Além desses Órgãos Públicos, o acesso à Justiça é garantido pela participação dos advogados. Outra forma encontrada pela Estatuto para facilitar esse acesso à Justiça foi a de isentar de custas e emolumentos as Ações Judiciais de competência da Justiça da Infância e da Juventude, exceto quando ficar caracterizada a chamada litigância de má-fé2: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 141 [...] § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. O grau de desenvolvimento da criança e do adolescente faz com que seja neces- sária a participação de outras pessoas (determinados adultos) para que esse acesso à Justiça seja realizado. Para tanto, o Estatuto estabeleceu que: • Menores de 16 anos devem ser representados por seus pais, tutor ou curador; • Maiores de 16 anos e menores de 18 anos devem ser assistidos por essas mesmas pessoas. A diferença básica é que, na representação, o menor de 16 anos não participa do ato, assim, por exemplo, na constituição de um advogado, somente os pais é que, em nome do filho, irão assinar a procuração. Já na assistência, esse mesmo ato somente é válido se houver a participação do adolescente, ou seja, no mesmo exemplo, a procuração deve ser assinada por ele e pelos pais. 2 As situações em que está caracterizada a litigância de má-fé estão descritas no Artigo 80 do Código de Processo Civil. São diversas hipóteses que buscam identificar situações em que as partes utilizam o processo para tentar alcançar objetivos ilícitos ou buscam indevidamente turbar o exercício de um direito por meio do processo, particularmente, postergando-o sem qualquer fundamento. 12 13 Curador especial Em uma ação judicial, o Juiz da Infância e da Juventude pode nomear um curador especial para a criança ou o adolescente sempre que: • Seus interesses colidirem com os de seus pais ou responsáveis; • Ele necessitar de representação ou assistência, ainda que de forma eventual: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 142 [...] Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que eventual. Vedação de divulgação Uma medida que com frequência observamos em nosso dia a dia, particularmente, ao assistirmos o noticiário, refere-se à total impossibilidade de se divulgar a autoria de atos infracionais praticados por crianças ou adolescentes. É possível divulgar o ocorrido, contudo, a criança ou o adolescente envolvidos não podem ser identificados, sendo que, para tanto: • Não pode ser exibida a sua fotografia; • Não pode ser divulgado seu nome, apelido, filiação, parentesco e residência; • Não podem ser divulgadas as iniciais de seu nome e sobrenome: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. Como parte dessa vedação de divulgação, encontramos a prescrição do Artigo 144 do Estatuto sobre as certidões ou cópia de documentos que registram a prática de atos infracionais. Nesse caso, essa expedição somente poderá ocorrer por decisão judicial, desde que demonstrado o interesse e justificada a finalidade: 13 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o Artigo anterior somente será deferida pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a finalidade. Justiça da Infância e Juventude Com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente foi necessária a cria- ção de Órgãos Judiciais na chamada Justiça Comum, no âmbito estadual e distrital: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 145. Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. As principais competências da Justiça da Infância e Juventude estão dispostas no Artigo 148 do Estatuto, sendo que, dentre elas, podemos destacar as seguintes: • Conhecer causas em que está sendo discutida alguma questão que diretamente esteja afetando os direitos de certa criança ou adolescente, tal como ocorre na colocação em família substituta; • Conhecer causas em que estejam sendo discutidas questões que afetem todas as crianças ou adolescentes ou um grupo específico delas - são as chamadas ações civis públicas fundadas em interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos; • Conhecer causas relacionadas à prática de atos infracionais praticados por adolescentes; • Disciplinar, pormeio de Portaria, a entrada ou a participação de crianças e de adolescentes em certos eventos – Artigo 149 do Estatuto; • Apurar irregularidades em entidades de atendimento; • Apreciar os casos encaminhados pelos Conselhos Tutelares; • Aplicar sanções administrativas nos casos de infrações contra norma de prote- ção à criança ou ao adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apu- ração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis; II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209; 14 15 V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda; c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais; f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; g) conhecer de ações de alimentos; h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito. Uma diferenciada competência do Juiz da Infância e Juventude é descrita no Artigo 149 do Estatuto. Segundo esse dispositivo, o juiz deve disciplinar e autorizar: • A entrada e a permanência de crianças e adolescentes desacompanhadas de seus pais e responsáveis em diversos locais, tais como, estádios, ginásios, campos desportivos, bailes, boates etc.; • A participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos e seus ensaios, bem como em concursos de beleza: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em: a) estádio, ginásio e campo desportivo; b) bailes ou promoções dançantes; c) boate ou congêneres; 15 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; b) certames de beleza. § 1º Para os fins do disposto neste Artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores: a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas d) o tipo de frequência habitual ao local; e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes; f) a natureza do espetáculo. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste Artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral. Juiz Na estrutura das Varas da Infância e Juventude, o juiz é uma das mais desta- cadas figuras: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização judiciária local. Na Justiça Estadual, a atuação territorial dos Juízes é circunscrita a uma deter- minada área territorial, em geral denominada Comarca. Em cada Comarca há, ao menos, um juiz competente para decidir as questões afetas aos direitos de crianças e adolescentes, exercendo as competências fixadas, em especial, nos Artigos 148 e 149 do Estatuto. A Comarca em que deve ser proposto o processo obedece a critérios estipulados no Artigo 147 do Estatuto. Assim: • O processo deve ser proposto na Comarca de domicílio dos pais ou responsáveis; • Se não se souber o local em que estão os pais ou os responsáveis, o processo deve ser proposto na Comarca em que se encontra a criança ou o adolescente; 16 17 • Contudo, no caso da prática de atos infracionais3, o processo deve ser proposto onde ocorreu a conduta a ser apurada. Há, também, na Legislação, uma regra específica para casos em que uma infra- ção à Legislação protetiva tenha sido praticada por meio de transmissão simultânea de Rádio ou Televisão que tenha atingido mais de uma Comarca. Nesse caso, o processo deve ser proposto na sede estadual da Emissora ou Rede, sendo que a decisão tem eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras situadas no Estado em que o processo tramitou – §3º do Artigo 147 do Estatuto. Serviços auxiliares O trato das questões jurídicas afeta às crianças e aos adolescentes e, na maioria dos casos, necessita de um importante apoio de profissionais de outras áreas, pois eles podem contribuir de maneira substancial para que haja uma melhor decisão do juiz. Com esse foco, prevê o Estatuto nos seus Artigos 150 e 151 a necessidade de que sejam criadas Equipes Interprofissionais para assessorar a Justiça da Infância e da Juventude. Essas equipes são compostas, em geral, por psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e outros profissionais que irão, por meio de laudos e pareceres, apresentar elementos nesses processos. Ministério Público O Estatuto da Criança e do Adolescente reservou ao Ministério Público (repre- sentado pelos Promotores de Justiça, em primeira instância) importantes atribui- ções, sendo que as principais estão descritas em seu Artigo 201. Dentre elas, devem ser destacadas as seguintes: • Tem o Ministério Público legitimidade para propor uma série de ações que bus- quem garantir direitos de criança ou adolescente individualmente considerados; • Pode acompanhar ações que digam respeito a direitos de todas as crianças e adolescentes ou um grupo específico delas; • Propõe ações para apurar atos infracionais praticados por adolescentes, sendo que, nesses casos, o Ministério Público pode conceder remissão para a exclu- são do processo; 3 Atos infracionais são condutas, praticadas por adolescentes, previstas na legislação penal como crimes ou contravenções penais. É o caso de um adolescente que pratica, mediante violência ou grave ameaça, a subtração de coisa alheia móvel (por exemplo, um relógio) - essa conduta é descrita no Código Penal (art. 157) como sendo o crime de roubo. Como foi praticada por um adolescente, será a questão tratada no Estatuto da Criança e do Adolescente como sendo um ato infracional. Iremos estudar esse assunto nas próximas unidades. 17 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça • Promover Inquérito Civil e Ações Civis Públicas para a defesa de interesses difusos, coletivos e individuais de crianças e adolescentes; • Instaurar e presidir procedimentos administrativos para apurar condutas que possam causar, de alguma forma, prejuízo ao pleno respeito dos direitos de crianças e adolescentes. O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a todo local em que se encontre criança ou adolescente – § 3º do Artigo 201. A falta de participação do Ministério Público nos processos em que deva atuar acarreta nulidade do feito no qual essa omissão se deu: Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidadedo feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. Advocacia e Defensoria Pública Estabelece o Estatuto que a criança, adolescente, seus pais ou responsáveis, bem como qualquer pessoa que tenha legítimo interesse, poderão intervir nos processos disciplinados por essa Lei, contudo, isso sempre deverá ocorrer por intermédio de um advogado – Artigo 206: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem. Para aqueles que necessitarem (criança, o adolescente ou suas famílias) deverá o Estado propiciar assistência jurídica gratuita, conforme determina o inciso LXXIV do Artigo 5º da Constituição Federal, cuja redação é a seguinte: Constituição Federal Artigo 5º [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; Essa assistência é realizada por meio de defensores públicos ou advogados no- meados pelo juiz (os chamados advogados dativos) que, em razão do desempenho dessas funções, serão remunerados pelo Estado. 18 19 A assistência do advogado (ou defensor público) é particularmente importante nos casos em que o adolescente é acusado da prática de atos infracionais, razão pela qual o Estatuto estabelece, especificamente, a impossibilidade de que esse tipo de processo ocorra sem que haja essa representação, mesmo que o adolescente esteja foragido: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor. § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência. [...] 19 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Civil https://goo.gl/1k18iF Código de Processo Civil https://goo.gl/6b0EbE 20 21 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12.ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15.ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 21 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção • Da prevenção; • Da política de atendimento; • Medidas de proteção. · O Sistema de Proteção Integral, criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, possui uma inegável preocupação com a prevenção de ações que possam lesar ou colocar em risco direitos das crianças e dos adolescentes. · Nesta unidade, iremos conhecer essas medidas preventivas, as quais possuem grande relevância para o trato de muitas questões que envolvem as crianças e os adolescentes. · Por outro lado, quando os direitos são efetivamente lesados ou há um inegável risco de que isso ocorra devem ser aplicadas as medi- das protetivas. · Nesta unidade iremos conhecer esses importantes assuntos! OBJETIVO DE APRENDIZADO Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Da prevenção Disposições gerais Dentro do Sistema de Proteção Total, previsto no Estatuto, a todos cabe preve- nir a ocorrência de ameaça ou de violação aos direitos da criança e do adolescente, que têm direito à informação, à cultura, ao lazer, aos esportes, às diversões, aos es- petáculos e aos produtos e serviços; contudo, sempre deve ser observada a neces- sidade de pleno respeito à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A pessoa física ou jurídica, que não respeita as normas de prevenção a serem estudas a seguir, receberá as sanções estabelecidas pelo Estatuto em razão de sua ação ou omissão. Prevenção especial Da informação, da cultura, do lazer, dos esportes, das diversões e dos espetáculos O poder público deve regular as diversões e os espetáculos públicos, sendo obrigatório informar a natureza deles, as faixas etárias a que se recomendem, os locais e os horários em que sua apresentação se mostre inadequada – é o que a lei chama de certificado de classificação. Seguindo as prescrições do certificado de classificação, os responsáveis pelas diversões e pelos espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, essas informações, sendo que devem ser destacadas: • a natureza do espetáculo; • a faixa etária recomendada. A criança ou o adolescente deve ter acesso às diversões e aos espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária, sendo que as crianças menores de dez anos somente podem ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou em exibição, quando acompanhadas dos pais ou do responsável. Nas emissoras de rádio e de televisão, nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição. As empresas que se dedicam à venda ou ao aluguel de fitas (ou qualquer outro tipo de mídia, tais como DVD, streaming, locadoras on line, etc.) de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo com o certificado de classificação. Essas fitas (ou mídias) devem exibir, na embalagemou em qualquer outra forma de apresentação utilizada, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária a que se destinam. 8 9 Já as revistas e as publicações que possuem material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes devem ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo. Se as capas possuírem mensagens pornográficas ou obscenas devem ser protegidas com uma embalagem opaca. As revistas e as publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de: • bebidas alcoólicas; • tabaco; • armas e munições. Além disso, devem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Desse modo, não podem, por exemplo, possuir conteúdo que enalteça condutas racistas e preconceituosas. Estabelecimentos, que exploram comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, ou seja, aquelas onde são realizadas apostas, não podem permitir a entrada e a permanência de crianças e de adolescentes no local, devendo ainda afixar aviso para orientação ao público. Dos produtos e dos serviços Em razão de sua particular situação de pessoa em desenvolvimento, o Estatuto vetou a venda de certos produtos a crianças e adolescentes que, de alguma forma, podem colocá-los em risco físico ou moral. Aqui, também, devemos enquadrar a proibição de venda a crianças e adolescentes de uma série de produtos que podem causar dependência física ou psíquica, mas que são de corriqueira utilização nas residências e em atividades empresariais. É o caso de colas (“cola de sapateiro”), solventes, tintas e esmaltes que, quando usados de forma indevida, podem causar essa consequência. ECA Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: I - armas, munições e explosivos; II - bebidas alcoolicas; III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida; IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; V - revistas e publicações a que alude o art. 78; VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. 9 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Deve ser destacada a proibição de venda de fogos de estampido ou de artifício para crianças e adolescentes, exceção feita para materiais desse tipo que que não possuem capacidade de provocar danos físicos, mesmo em caso de utilização indevida, em razão do seu reduzido potencial. Outra importante restrição se refere à hospedagem em hotel, motel, pensão ou estabelecimentos congêneres. ECA Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou de adolescente em ho- tel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. Da autorização para viajar Por causar importante risco, estabelece o Estatuto uma série de regras para a viagem de crianças e adolescentes para locais fora da comarca onde residem. A regra geral é a seguinte: “Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou do responsável, sem expressa autorização judicial” – artigo 83, caput. Essa autorização judicial não será exigida nas seguintes situações: • Quando se tratar de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; • Se a criança estiver acompanhada; • de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documen- talmente o parentesco; • de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, pela mãe ou pelo responsável. Essa autorização expedida pelo juiz poderá, a pedido dos pais ou do responsável, ser expedida com validade de até dois anos. No caso de viagem para o exterior a autorização judicial é dispensável, se a criança ou adolescente: • estiver acompanhado de ambos os pais ou o responsável; • viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Por fim, estabelece o Estatuto que, sem expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do país em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. 10 11 Da política de atendimento Disposições gerais A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente se faz por um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Entidades de atendimento As entidades de atendimento são responsáveis pelo planejamento e pela exe- cução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adoles- centes, em regime de: • orientação e apoio sócio familiar; • apoio socioeducativo em meio aberto; • colocação familiar; • acolhimento institucional; • prestação de serviços à comunidade; • liberdade assistida; • semiliberdade; e • internação. Elas podem ser governamentais ou não governamentais sendo que estas últimas somente podem funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esse registro tem prazo de validade máximo de quatro anos. Tanto as entidades governamentais como as não governamentais devem ins- crever seus programas (especificando os regimes de atendimento) no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, tendo esse órgão a incum- bência de comunicar essas informações ao Conselho Tutelar e à Vara da Infância e da Juventude. Os programas em execução devem ser reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada dois anos, particularmente, para que sejam verificadas questões como o pleno respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes e a qualidade do serviço prestado. Havendo irregularidades não poderá ocorrer a renovação da autorização de manutenção do programa. 11 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Essas entidades (governamentais ou não) devem receber recursos públicos destinados à implementação e à manutenção desses programas, sem prejuízo do recebimento de recursos privados. Entidades que desenvolvem programas de acolhimento O programa de acolhimento tem grande importância na estrutura do Estatuto, pois pode representar um passo para a colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta ou, por outro lado, pode representar o retorno para a convivência com sua família natural – resolvendo uma série de situações ligadas ao abandono. Em razão de sua importância, a lei dedica especial atenção às entidades que de- senvolvem esse programa, seja na modalidade familiar ou institucional. O importante é que elas busquem preservar ou reatar os vínculos familiares (na família natural ou extensa) e, na impossibilidade, devem buscar a colocação em uma família substituta. O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião para todos os efeitos de direito. Esses dirigentes dessas entidades devem remeter à Vara da Infância e da Juven- tude, no máximo a cada seis meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família. As entidades que desenvolvem programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação do Juiz da Infância e da Juventude, contudo, devem, no prazo de 24 horas, comunicar essa ocorrência à Vara da Infância e da Juventude. Entidades que desenvolvem programa de internação A internação é a medida socioeducativa mais gravosa (aplicada no caso de atos infracionais mais graves praticados por adolescentes), razão pela qual o Estatuto estipulou que as entidades que realizam esse programa devem: ECA Art. 94 [...] I - observar os direitos e as garantias de que são titulares os adolescentes; II - não restringir nenhum direito quenão tenha sido objeto de restrição na decisão de internação; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e de dignidade ao adolescente; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares; 12 13 VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares; VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; X - propiciar escolarização e profissionalização; XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente; XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual; XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infectocontagiosas; XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; XVIII - manter programas destinados ao apoio e ao acompanhamento de egressos; XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem; XX - manter arquivo de anotações no qual constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. Fiscalização das entidades A fiscalização das entidades que desenvolvem programas voltados para as crianças e os adolescentes é realizada: • pelo Poder Judiciário (sobretudo pelos Juízes da Infância e da Juventude); • pelo Ministério Público; e • pelo Conselho Tutelar. No caso das entidades que desenvolvem programa de internação, o descumpri- mento de suas obrigações estipuladas no artigo 94 acarreta as seguintes medidas: 13 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção • No caso de entidades governamentais: » advertência; » afastamento provisório de seus dirigentes; » afastamento definitivo de seus dirigentes; » fechamento de unidade ou interdição de programa. • No caso das entidades não governamentais: » advertência; » suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas; » interdição de unidades ou suspensão de programa; » cassação do registro. Medidas de proteção Disposições gerais As chamadas medidas de proteção são uma série de providências criadas pelo Estatuto para situações em que os direitos da criança ou do adolescente estejam sendo ameaçados ou violados: ECA Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou por omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, por omissão ou por abuso dos pais ou do responsável; III - em razão de sua conduta. No antigo Código de Menores (revogado quando entrou em vigor o ECA), essas situações eram nominadas como sendo aquelas em que a criança ou o adolescente encontrava-se em situação de risco. Muito embora essa legislação não mais esteja em vigor, é perfeitamente possível continuar a utilizar essa denominação. Em cada caso concreto devem ser verificadas qual ou quais dessas medidas devem ser aplicadas, visto que elas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Contudo, sempre deve ser dada preferência para aquelas medidas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 14 15 As medidas de proteção, sempre que necessário, devem acarretar a regulariza- ção do registro civil da criança ou do adolescente. É o caso, por exemplo, de uma criança de poucos meses que é inserida em um programa de acolhimento sem que haja qualquer notícia de seus pais ou de sua origem. Assim, nessa situação se pro- videnciará seu registro de nascimento com os elementos que estiverem disponíveis. Medidas específi cas O ECA estabelece no artigo 101 as medidas específicas de proteção, contudo, há possibilidade de aplicação de outras, sempre que se verificar a sua necessidade e desde que sejam respeitados os princípios firmados por essa norma. Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade Essa medida, apesar de ser a mais simples, pode resolver uma série de situações, tais como aquelas em que uma criança de pouca idade é encontrada perdida de seus pais. Não podemos esquecer que essa medida de proteção, tal como as demais, pode ser aplicada de forma cumulativa com outras. Orientação, apoio e acompanhamento temporários Em alguns casos, particularmente quando a família natural se mostra mal estruturada, pode ser importante essa medida, sobretudo para se evitar que haja uma agravação na situação da criança ou do adolescente. Ela, apesar de ser temporária, não comporta prazo certo, devendo subsistir até que seja verificada a cessação das causas que lesem ou ameacem os direitos da criança ou do adolescente. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental Como vimos anteriormente, o Estado deve proporcionar o acesso das crianças e dos adolescentes ao ensino fundamental. ECA Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; [...] 15 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Por outro lado, decorre do poder familiar o dever dos pais de criar condições para que seus filhos frequentem o ensino fundamental. ECA Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, de guarda e de educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. Caso essa frequência não ocorra, seja em razão do Estado não proporcionar o seu acesso, seja em razão da omissão dos pais em matricular seus filhos ou garantir-lhes condições para que frequentem a escola, poderá ser aplicada essa medida protetiva. É o caso, por exemplo, da inexistência de vagas no ensino fundamental público disponibilizado próximo da residência da criança. Nesse caso, poderá o Juiz da Infância e da Juventude determinar que os dirigentes públicos resolvam esse pro- blema, pois isso afeta, de forma contundente, os direitos dessa criança. Inclusão em serviços e em programas oficiais ou comunitários de proteção, de apoio e de promoção da família, da criança e do adolescente Essa medida protetiva é especialmente importante naquelas situações em que a família natural se encontra em situação de miséria. Como vimos anteriormente, decorre do poder familiar uma série de deveres, os quais, quando não cumpridos, podem acarretar a suspensão ou a perda desse poder. Contudo, no caso de miserabilidade, essa consequência não pode ocorrer, devendo a família ser inserida em um programa oficial de auxílio. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida,a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e em programas oficiais de proteção, de apoio e de promoção. [...] Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial O direito da criança e do adolescente a um atendimento integral à sua saúde está assegurado no artigo 11 do Estatuto, sendo que, diante de um obstáculo a esse pleno pode ser resolvido, em situações concretas, pela aplicação dessa medida protetiva. 16 17 ECA Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. [...] Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, de orientação e de tratamento a alcoolatras e toxicômanos Esta medida protetiva decorre da anterior havendo, na verdade, uma verdadeira demonstração do legislador da sua preocupação com o alcoolismo e outras toxicomanias e as consequências que elas têm em crianças e em adolescentes. Acolhimento institucional O acolhimento institucional ou familiar é normalmente uma medida protetiva aplicada para resolver diversas situações, tais como: • Em casos emergenciais que o Poder Público ou a sociedade se depara, tal como naqueles casos em que adolescentes ou crianças (muitas vezes com poucos dias de vida) são encontradas em situação de completo abandono. • Dar atendimento para crianças e para adolescentes que, em razão de maus tratos ou mesmo crimes contra eles praticados por seus pais ou responsável, não podem continuar a conviver (pelo menos nesse primeiro momento) com os autores dessas condutas. • Dar atendimento para criança ou para adolescente que, por qualquer razão, esteja afastado de sua família natural ou extensa, enquanto essa situação não é resolvida. • Dar atendimento para criança ou para adolescente que se encontra em proces- so de colocação em família substituta. Assim, o acolhimento se destina sempre a ser uma medida provisória e excep- cional, não podendo ser confundido com qualquer forma de privação de liberdade. O encaminhamento de criança ou de adolescente para o acolhimento institucional (exceto em situações emergenciais) somente pode se dar por atuação do Juiz da Infância e da Juventude. Imediatamente, após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar deve elaborar um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, salvo em situações excepcionais determinadas pelo Juiz da Infância e da Juventude. O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em 17 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. Sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, a entidade que desenvolve o programa deve enviar relatório ao Ministério Público, propondo a destituição do poder familiar, ou a destituição de tutela ou de guarda. Após o recebimento desse relatório, o Ministério Público deve ingressar com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. Ao final dessa ação, as crianças ou os adolescentes deverão ser incluídas no ca- dastro de crianças e de adolescente que podem ser colocadas em famílias substitutas. Inclusão em programa de acolhimento familiar O acolhimento familiar é sempre preferível ao institucional, pois possibilita uma maior atenção à criança ou ao adolescente, razão pela qual essa modalidade deve ser empregada, sempre que for possível e houver famílias dispostas a participar dessa medida. Colocação em família substituta É uma medida de proteção para as diversas situações que foram tratadas em nossa aula específica sobre esse tema. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Civil https://goo.gl/1k18iF Código de Processo Civil https://goo.gl/6b0EbE 19 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 20 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas • Atos Infracionais; • Medidas socioeducativas; • Remissão; • Medidas Pertinentes aos Pais ou ao Responsável. · Estudar o que são os atos infracionais e quais são as medidas aplicadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em razão dessas condutas. Esse é um dos temas mais polêmicos da legislação protetiva das crianças e dos adolescentes, sendo constante palco de grandes debates públicos, particularmente, naquelas situações em que os adolescentes praticam condutas mais graves. · Em toda a discussão sobre esses assuntos, não podemos perder o foco sobre a particular situação do adolescente como pessoas em desenvolvimento, o que impede, de forma peremptória qualquer tipo de comparações entre condutas criminosas praticadas por adultos e atos infracionais praticados por adolescentes. OBJETIVO DE APRENDIZADO Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados.Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas Atos Infracionais Nosso sistema legal considera que os menores de 18 anos não possuem desen- volvimento e maturidade suficientes para responderem pela prática de crimes, sen- do, dessa forma, denominados inimputáveis. Trata-se de uma presunção absoluta, razão pela qual não se admite prova em contrário. Dessa forma, se um adolescente, de forma deliberada, resolve matar outra pessoa não responderá pelo crime de homicídio (Artigo 121 do Código Penal), ou seja, não pode ser inserido no sistema penal. Isso não quer dizer que sua conduta seja “um nada jurídico”, bem ao contrário, essa conduta não deixa de se caracterizar como antijurídica, contudo, será objeto de apuração em outro sistema, no caso, na esfera do Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa situação, além de previsão no ECA, também se encontra em nossa Constituição Federal e no Código Penal. Constituição Federal Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Código Penal Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. ECA Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. [...] Conceito de ato infracional O conceito de ato infracional é dado pelo artigo 103 do ECA, cuja redação é a seguinte: ECA Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Desse conceito, precisamos destacar alguns aspectos: • A conduta, que se caracteriza como ato infracional, encontra-se descrita em normas penais, porém não se trata de uma infração penal, em razão das características do seu autor. Dessa forma, é incorreto falar que um adolescente praticou um crime de homicídio. Nessa situação, o correto é simplesmente falar que o adolescente praticou um ato infracional. 8 9 • Infrações penais referem-se a um gênero que abrange crimes e contravenções penais. Embora os crimes de maior recorrência estejam no Código Penal (Decreto-Lei n.º 2.848/40), há outros previstos em diversas leis penais, tais como a Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/06) e a Lei de Tortura (Lei n.º 9.455/97). • Da mesma forma, em grande parte, as contravenções penais estão previstas na Lei das Contravenções Penais (Decreto-lei n.º 3.688/41), contudo, há outras normas penais que veiculam esse tipo de infração. Tempo da conduta Esse limite entre crime e ato infracional pode gerar algumas situações curiosas, tais como a seguinte: “A”, com 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade, de forma intencional, atira em “B”. A vítima é socorrida, contudo, cinco dias depois morre em razão do ferimento. Nesse caso, estamos falando de crime (homicídio – Artigo 121 do Código Penal) ou de ato infracional? No ECA, essa situação é regida pelo seu Artigo 104. ECA Art. 104 Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato. Medidas aplicadas em razão da prática do ato infracional A prática de um ato infracional irá gerar para a criança ou para o adolescente a aplicação de uma medida prevista no ECA, sendo essas medidas as seguintes: ATO INFRACIONAL PRATICADO POR CRIANÇA ADOLESCENTE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA (ART. 112) MEDIDA PROTETIVA (ART. 101) Figura 1 Especificamente, em relação às crianças que praticam atos infracionais, a previsão da aplicação de medidas protetivas encontra-se no Artigo 105 do Estatuto. 9 UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas ECA Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101. Direitos dos adolescentes que praticam atos infracionais Não é correto se falar que o “adolescente foi preso”, sendo que o Estatuto fala em “apreensão”. Essa privação da liberdade de ir e vir somente pode ocorrer em duas circunstâncias: • Apreensão em flagrante em razão da prática de ato infracional; • Apreensão determinada por autoridade judiciária. A realização da apreensão do adolescente irá implicar uma série de providências pelas autoridades responsáveis pela execução dessa medida, sendo que podemos destacar as seguintes: • O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos. • Essa apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra devem ser comunicados imediatamente: à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. A apreensão em flagrante delito se realiza somente nos atos infracionais praticados com violência ou grave ameaça à pessoa. Nesse caso, a internação provisória (ou seja, antes do final do processo judicial) somente poderá perdurar essa medida por, no máximo, quarenta e cinco dias. Outra questão importante na apreensão de adolescente é que, desde logo, deve ser analisada a possibilidade de liberação imediata. O Artigo 111 do ECA estabelece para esses adolescentes uma série de garantias que devem ser respeitadas. ECA Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias: I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; III - defesa técnica por advogado; IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. 10 11 Medidas Socioeducativas Disposições gerais As medidas socioeducativas são aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude após a realização de processo judicial em que sejam respeitadas as garantias processuais do adolescente envolvido nos fatos em apuração. Na sua aplicação, o juiz deve considerar: • a capacidade do adolescente em cumpri-la; • as circunstâncias; e • a gravidade da infração. Essas medidas são aplicadas isolada ou cumulativamente, sendo que durante a sua execução, sempre que for justificável, poderão ser substituídas por outras. Em sua aplicação deverá ainda o juiz levar em considerações as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; assim, aquelas que implicam cerceamento da liberdade de ir e vir sempre devem ser consideradas excepcionais. Vamos ver as características de cada uma dessas medidas. Advertência A advertência é a medida socioeducativa menos gravosa, consistindo em uma admoestação verbal que será reduzida a termo e assinada. Obrigação de reparar o dano Essa medida pode ser aplicada nos atos infracionais que possuem reflexos patrimoniais, sendo que o juiz poderá determinar: • a restituição da coisa; • o ressarcimento do dano, ou • alguma outra forma de compensação do prejuízo da vítima. Se ficar demonstrada a impossibilidade dessa reparação, a medida poderá ser substituída por outra adequada. Prestação de serviços à comunidade Essa medida consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral em entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. 11 UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas Na atribuição de tarefas ao adolescente são consideradas as suas aptidões, devendo ser destacado que essa medida: • não pode durar mais de seis meses; • tem jornada máxima de oito horas semanais; e • as atividades devem ser realizadas aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. Liberdade assistida Na liberdadeassistida, como o próprio nome menciona, o adolescente irá per- manecer em liberdade, contudo, o juiz irá nomear um orientador, que terá como principais atribuições, acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Cabe a esse orientador as tarefas definidas no Artigo 119 do Estatuto. ECA Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo- lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; IV - apresentar relatório do caso. Essa medida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. Inserção em regime de semiliberdade A medida de inserção em regime de semiliberdade é a primeira que implica restrição da liberdade de ir e vir. Nela, o adolescente irá permanecer em uma entidade que desenvolva esse programa, contudo, poderá sair para realizar atividades externas, em especial, para frequência escolar e em cursos de profissionalização, que é obrigatória nesse caso. 12 13 Essa medida não comporta prazo determinado, devendo ser acompanhada e reavaliada periodicamente. Ela pode ser aplicada: • inicialmente, ou seja, na decisão judicial que apreciou a conduta do adolescente; e • como transição entre a internação e o meio aberto. Internação em estabelecimento educacional A internação é a medida socioeducativa mais gravosa, pois implica em cerceamen- to da liberdade de ir e vir do adolescente. Considerando a particular situação do ado- lescente, estabelece o ECA que essa medida deve ser sujeita aos princípios de brevida- de, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Essa medida não possui prazo determinado, sendo que o Juiz deverá, a cada seis meses, decidir sobre a sua manutenção, encerramento ou substituição por outra medida socioeducativa. Não pode essa medida durar mais que três anos, sendo que, atingido esse limite o adolescente deve ser: • liberado; • colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. Vale destacar que deverá ocorrer a liberação compulsória quando a pessoa submetida a essa medida atingir os vinte e um anos de idade. Pode a internação ser aplicada para maiores de 18 anos? Conforme aprendemos em outra aula, o ECA pode ser excepcionalmente aplicado para pessoas maiores de dezoito e menores de 21 anos (parágrafo único do Artigo 2º). É essa uma dessas situações. É o que ocorre, por exemplo, com um adolescente de 17 anos que provoca a morte de outra pessoa. Ao final do processo que analisa a sua conduta, o Juiz da Infância e da Juventude pode aplicar a internação. Não é incomum que nesses casos, a decisão judicial somente ocorra quando o autor da conduta já possui mais de 18 anos. Iniciado o cumprimento da medida a sua continuidade deve ser revista a cada seis meses, sendo que, aos 21 anos deverá ocorrer a liberação compulsória (nesse caso, não pode ocorrer a transferência para a liberdade assistida ou para a semiliberdade). A internação, em razão da sua gravidade, não pode ser aplicada em todos os atos infracionais, sendo que o legislador restringiu seu cabimento às hipóteses previstas no artigo 122 do Estatuto. 13 UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas ECA Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. [...] Deve ser destacado que no caso do descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (inciso III) a internação somente poderá perdurar por até três meses. Adolescentes que estão cumprindo essa medida: • não podem permanecer em entidades que desenvolvem o acolhimento institucional; • devem ser separados conforme critérios de idade, compleição física e gravidade da infração; • devem frequentar, obrigatoriamente, atividades pedagógicas. Em razão da severidade dessa medida, o Estatuto estipula específicos direitos aos adolescentes internados. ECA Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes: I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público; II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; III - avistar-se reservadamente com seu defensor; IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada; V - ser tratado com respeito e dignidade; VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e ao asseio pessoal; X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; 14 15 XI - receber escolarização e profissionalização; XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje; XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade; XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. § 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. Infelizmente, não são incomuns casos em que adolescentes submetidos à internação tenham suas integridades física e mental comprometidas nas instituições em que se encontrem, tais como em situações de brigas entre internos, conflitos com funcionários, etc. Porém, o Estatuto deixa claro que é dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e de segurança – Artigo 125. Medidas protetivas Por fim, o Juiz da Infância e da Juventude, considerando as circunstâncias da conduta do adolescente que praticou o ato infracional, poderá decidir aplicar uma medida protetiva (Artigo 101, I a VI). Com isso, podemos verificar que as medidas protetivas podem ser aplicadas nas seguintes situações indicadas na seguinte ilustração: MEDIDAS PROTETIVAS (ART. 101) PODEM SER APLICADAS PARA CRIANÇAS OU ADOLESCENTES QUE PRATICARAM ATOS INFRACIONAIS EM SITUAÇÃO DE RISCO Figura 2 15 UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas Remissão Mesmo caracterizada a ocorrência do ato infracional, poderá não ser aplicada qualquer medida socioeducativa ao adolescente se for concedida a remissão. Ela é uma forma de perdão que deve ser aplicada considerando, em especial, os seguintes elementos: • as circunstâncias e as consequências do fato; • o contexto social; • a personalidade do adolescente; • sua maior ou menor participação no ato infracional. Ela eventualmente poderá, contudo, incluir a aplicação de medidas socioeduca- tivas, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação. Há duas possibilidades na sua aplicação, ou seja, ela pode ser aplicada pelo Ministério Público ou pelo Juiz. Remissão aplicada pelo Ministério Público O Ministério Público poderá conceder a remissão antes de iniciado o processo que irá apurar a conduta do adolescente suspeito da prática do ato infracional. Nesse caso,a remissão é considerada uma causa de exclusão do processo. Remissão aplicada pelo Juiz Iniciado o processo, a remissão somente poderá ser aplicada pelo Juiz da Infância e da Juventude. Nesse caso, a remissão será uma causa de suspensão ou de extinção do processo. Medidas Pertinentes aos Pais ou ao Responsável Aos pais, aos tutores e aos guardiães estabelece o ECA a possibilidade de aplicação de uma série de medidas previstas no Artigo 129, sempre que ficar caracterizado que eles, em razão de suas ações ou omissões, ameaçaram ou lesaram direitos da criança ou adolescente. 16 17 ECA Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou a programas de orientação; V - obrigação de matricular o filho ou o pupilo e de acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou o adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do poder familiar. Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos Arts. 23 e 24. É importante lembrar que as medidas previstas nos incisos IX e X somente podem ser aplicadas em processo judicial, em que seja garantida a ampla defesa e o contraditório. Outra importante medida se aplica para os casos de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou por responsável (tutor, guardião ou qualquer outra situação fática). Nesse caso, o Juiz poderá determinar, de forma cautelar, ou seja, por ato motivado durante ou logo no início de um processo, o afastamento do agressor da moradia comum. Essa providência não afasta a incidência de outras medidas que podem ser aplicadas ao agressor, tais como sanções penais. Além disso, em sua decisão de afastar o agressor, poderá o juiz fixar, ainda que de forma provisória, alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor. 17 UNIDADE Atos Infracionais e Medidas Socioeducativas Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Penal https://goo.gl/t0Tjp Código de Processo Penal https://goo.gl/YQWRv 18 19 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 19 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Crimes e Infrações Administrativas • Infrações Penais Previstas no ECA; • Infrações Administrativas Previstas no ECA; • Disposições Finais e Transitórias. · Conhecer as disposições finais do Estatuto da Criança e do Adoles- cente, em especial, as infrações penais e as administrativas criadas por essa norma. Essas infrações foram criadas para dar maior efetividade aos direitos das crianças e dos adolescentes, estabelecendo sanções para uma série de condutas ilegais e que não se compatibilizam com os preceitos dessa norma. Tudo isso faz com que o Estatuto se firme como uma norma de grande importância dentro do cenário social de nosso país, pois apresenta farta regulação sobre as relações entre a família, a sociedade e o Estado, sempre com o objetivo de buscar dar maior proteção a uma parcela tão importante de nossa população. OBJETIVO DE APRENDIZADO Crimes e Infrações Administrativas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas Infrações Penais Previstas no ECA Considerações Iniciais Além de criar uma série de normas protetivas no texto do ECA, também foram construídos alguns tipos penais especificamente voltados para tipificar condutas praticadas contra crianças e adolescentes: ECA Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal. É certo que há infrações penais que somente estão previstas no Estatuto, contudo, elas não afastam a incidência de outras normas penais, nas quais crianças e adolescentes possam ser sujeitos passivos, bem como circunstâncias em que essa situação especial acaba por gerar agravantes ou causas de aumento, tal como ocorre, por exemplo, nas seguintes situações: • O crime de homicídio (Artigo 121 do Código Penal) pode ter como sujeito passivo qualquer pessoa, sendo que, em alguns casos, essa conduta pode vitimar crianças e adolescentes; • Nesse mesmo crime, se o ofendido é menor de 14 anos, haverá a incidência de uma causa de aumento de pena em um terço – Artigo 121, §4º, do Código Penal; • Em qualquer caso, o crime praticado contra criança tem uma agravação genérica prevista na alínea “h” do Inciso II do Artigo 61 do Código Penal: Código Penal Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: (...) II - ter o agente cometido o crime: (...) h) contra criança, [...] Dessa forma, podemos afirmar que o ECA aumentou, sob o enfoque penal, a pro- teção às crianças e aos adolescentes, sem excluir a aplicação de outras normas penais. Apuração O ECA não criou qualquer procedimento de apuração próprio para essas infra- ções penais, razão pela qual devem ser utilizados aqueles previstos na Legislação Processual Penal: 8 9 • Termo Circunstanciado: se o crime puder ser enquadrado na categoria de InfraçãoPenal de menor potencial ofensivo, ou seja, aqueles cuja pena máxima é de até dois anos; • Inquérito Policial: para os demais crimes. O Estatuto autoriza que o Poder Público crie Delegacias de Polícia especializadas no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência, contudo, essa criação não é obrigatória. Há, contudo, duas importantes particularidades criadas pela Lei n.º 13.431/17, ou seja, a escuta especializada e o depoimento especial. Escuta especializada A escuta especializada é um procedimento de entrevista da criança ou ado- lescente sobre situações de violência que tenha presenciado ou tenha sido vítima, sendo realizada perante órgão da rede de proteção. Tanto a escuta especializada como o depoimento especial devem ser realiza- dos em local apropriado e ambiente acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade da criança ou do adolescente. Nesses procedimentos, não será permitido qualquer tipo de contato, ainda que visual, com o suposto autor ou acusado, ou, ainda, com qualquer pessoa que repre- sente ameaça, coação ou constrangimento. Depoimento especial Já o depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária. Esse depoimento deve ser regido por protocolos que busquem resguardar os direitos da criança ou do adolescente e, sempre que possível, deve ser feito em uma única vez, sem prejuízo de se garantir ao acusado ou ao investigado o respeito a seus direitos. Somente pode ser realizado novo depoimento especial se ficar demonstrada a sua imprescindibilidade e houver a concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal. O depoimento especial seguirá o Rito Cautelar de antecipação de prova: • Quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos; • Em caso de violência sexual. Na realização do depoimento especial, deve ser adotado o seguinte procedimento: • Profissionais especializados devem esclarecer a criança ou o adolescente sobre a tomada do depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os procedimentos a serem adotados e planejando sua participação, sendo vedada a leitura da denúncia ou de outras peças processuais; 9 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas • É assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de violência, podendo o profissional especializado intervir quando necessário, utilizando técnicas que permitam a elucidação dos fatos; • No curso do Processo Judicial, o depoimento especial será transmitido em tempo real para a sala de audiência, preservado o sigilo; • Após a narrativa, o juiz, depois de consultar o Ministério Público, o Defensor e os Assistentes Técnicos, avaliará a pertinência de perguntas complementares, as quais serão organizadas em bloco; • O profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de melhor compreensão da criança ou do adolescente; • O depoimento especial será gravado em áudio e vídeo. Pode, contudo, a vítima ou testemunha de violência prestar depoimento direta- mente ao juiz, se assim este o entender. Durante a realização do depoimento, o profissional especializado deve comunicar ao juiz o fundado receio, se for o caso, de que a presença, na sala de audiência, do autor da violência pode prejudicar o depoimento especial ou colocar o depoente em situação de risco, situação em que poderá o magistrado determinar o afastamento do acusado desse ato processual. Competência para julgamento Os crimes praticados contra as crianças e adolescentes não são julgados pelas Varas da Infância e da Juventude, mas por Varas Criminais Comuns. Contudo, podem ser criados órgãos judiciais especializados em crimes contra crianças e adolescentes: Lei n.º 13.431/17 Art. 23. Os órgãos responsáveis pela organização judiciária poderão criar juizados ou varas especializadas em crimes contra a criança e o adolescente. Parágrafo único. Até a implementação do disposto no caput deste Artigo, o julgamento e a execução das causas decorrentes das práticas de violência ficarão, preferencialmente, a cargo dos juizados ou varas especializadas em violência doméstica e temas afins. Mudanças no Código Penal provocadas pelo ECA Quando o Estatuto entrou em vigor, ocorreram algumas mudanças no Código Penal, sendo elas estabelecidas no Artigo 263 do ECA, que buscou trazer maior harmonização dessas normas, bem como ressaltar a importância da proteção penal dos direitos das crianças e dos adolescentes. 10 11 Aplicação do Código Penal e do Código de Processo Penal Nos crimes previstos no ECA, deve ser aplicada a Parte Geral do Código Penal e as normas do Código de Processo Penal: ECA Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal. Ação penal Todas as infrações penais previstas no ECA são de Ação Penal Pública Incondicionada: ECA Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada Isso faz com que o início da apuração dos crimes se faça sem que haja a vontade de quem quer que seja. Assim, havendo a notícia de que essas condutas ilícitas ocorreram, o Poder Público deve apurá-las, mesmo que não haja a concordância dos pais, responsáveis ou qualquer outra pessoa. Dos crimes em espécie Para facilitar a nossa análise, vamos agrupar as infrações previstas no Estatuto levando em considerações alguns elementos comuns. Crimes ligados aos cuidados com o neonato Nos crimes contra neonatos, o que se observa, em especial, é que o Legislador teve destacada preocupação com a falta de adequado registro sobre ele e sua mãe nos estabelecimentos de saúde, bem como com a entrega dos documentos necessários para o Registro Civil da criança: ECA Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. 11 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas Também é considerada infração penal a conduta de não identificar corretamente o neonato (para evitar a sua troca), bem como, a falta de realização dos exames obrigatórios – tais como o conhecido “exame do pezinho” (Inciso III do Artigo 10): ECA Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. Crimes ligados à liberdade de ir e vir de crianças e adolescentes Nos Artigos 230, 231, 234 e 235 do Estatuto, vamos encontrar infrações penais voltadas à proteção da liberdade de ir e vir de crianças e adolescentes, sendo que, nesse particular, há preocupações de duas ordens: • Realização de apreensões sem que haja flagrante ou ordem judicial; • Falta de obediência às formalidades para que as apreensões ocorram, bem como o pleno respeito aos direitos das crianças e adolescentes privados da liberdade de ir e vir: ECA Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais. ECA Art. 231. Deixar a autoridade policial responsávelpela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judici- ária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Pena - detenção de seis meses a dois anos. ECA Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: Pena - detenção de seis meses a dois anos. 12 13 ECA Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Crime ligado ao respeito moral de crianças e adolescentes No Artigo 232, vamos encontrar uma infração penal criada para punir condutas que acarretem desrespeito moral à criança ou adolescente. O que se veda é a submissão deles a vexames e constrangimentos: ECA Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Crime ligado à atuação dos órgãos protetivos No Artigo 236, vamos encontrar uma infração penal que se refere à conduta de quem impede ou embaraça a atuação dos órgãos protetivos, ou seja, da autoridade judiciária, dos membros de Conselho Tutelar ou do Representante do Ministério Público, quando eles estejam exercendo as competências definidas no ECA: ECA Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Crimes ligados ao exercício do poder familiar Nos Artigos 237, 238 e 239, encontramos a descrição de graves condutas que afrontam os deveres inerentes ao exercício da guarda, tutela ou poder familiar sendo que, dentre outras formas, essas infrações penais buscam reprimir a ação daqueles que: • “Vendem” ou “prometem vender” filho ou pupilo; • Subtraem criança ou adolescente para colocá-los em lar substituto; • Enviam criança ou adolescente ao exterior sem o pleno respeito às prescrições do ECA: ECA Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 13 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas ECA Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa. ECA Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. Crimes com conteúdo sexual e relativos à pedofilia No Estatuto, foram criados diversos crimes que buscam reprimir condutas voltadas para a exploração sexual de crianças e adolescentes, sendo que podemos destacar as seguintes: • A posse de fotografias (e imagens em geral – ainda que na forma de arquivos magnéticos ou eletrônicos) de cenas de sexo envolvendo crianças e adolescentes; • Uma série de condutas paralelas à anterior, tais como a venda, a exposição dessas imagens etc.; • A realização de cenas ou simulações de conteúdo sexual envolvendo crianças e adolescentes – mesmo sob a forma de montagens; • Aliciamento com o fim de praticar atos libidinosos; • Submeter crianças ou adolescente à prostituição ou qualquer outra forma de exploração sexual: ECA Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo crian- ça ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste Artigo, ou ainda quem com esses contracena. § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: 14 15 I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. ECA Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. ECA Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste Artigo; II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste Artigo. § 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste Artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste Artigo. ECA Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste Artigo. [...] 15 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas O Artigo 241-B tipifica a conduta daquele que possui fotografias, vídeos ou qualquer outra forma de registro (tais como arquivos de vídeos ou fotos digitais) de cenas de sexo explícito ou pornográfica que envolvam crianças ou adolescentes. Ocorre, contudo, que há organizações (públicas e privadas) criadas com o específico objetivo de reprimir essas práticas, sobretudo na Internet e nas Redes Sociais, sendo que a conduta dos integrantes delas (ou qualquer outra pessoa) de gravar esse tipo de material para entregá-los à autoridade competente poderia gerar a discussão de que eles também estariam praticando essas infrações penais. Para afastar essa discussão, o §2º do Artigo 241-B deixa claro que esse tipo de proceder não caracteriza a prática dessa infração penal: Art. 241 B (...) § 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: I – agente público no exercício de suas funções; II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. § 3º As pessoas referidas no § 2o deste Artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. Reforçando o combate aesses crimes, a Lei nº 13.441/17, criou a possibilidade da infiltração de agentes de polícia na Internet com o fim de investigá-los. Nessas situações, esses agentes, igualmente, não estarão praticando crimes: ECA Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste Artigo. 16 17 ECA Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; II – pratica as condutas descritas no caput deste Artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. O Artigo 241-E é o que se chama de norma penal explicativa, pois busca esclarecer, para aplicação da Lei Penal, o conteúdo de determinada expressão, no caso “cena de sexo explícito ou pornográfica”. ECA Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. ECA Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. § 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste Artigo. § 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. A questão da prostituição de crianças e adolescentes também é objeto de outra norma penal específica, nesse caso o Artigo 218-B do Código Penal, cuja redação é a seguinte: Código Penal Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável. 17 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2º Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste Artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste Artigo. § 3º Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. É importante destacar que essa norma prevista no Código Penal é considerada um crime hediondo: Lei dos Crimes Hediondos – Lei n.º 8.072/90 Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (...) VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). Crimes ligados às normas de prevenção O Título III do ECA estabelece diversas formas de prevenção especial para que sejam evitadas condutas que possam causar lesão ou ameaça de lesão aos direitos de crianças e adolescentes. Nos Artigos 242 a 244, encontramos a caracterização de crimes ligados ao desrespeito dessas normas de prevenção em casos mais graves, tais como a venda de armas, munições e explosivos, bem como qualquer forma de fornecimento de substâncias que possam causar dependência em crianças e adolescentes: ECA Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 18 19 ECA Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratui- tamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. ECA Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida: Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. Crime de corrupção de crianças e adolescentes No Artigo 244-B, encontramos a descrição do crime daquele que corrompe ou facilita a corrupção de criança ou do adolescente, sendo que essa conduta se caracteriza: • Quando o adulto pratica crime junto com a criança e o adolescente. • Quando o adulto induz criança ou adolescente para a prática de crimes: ECA Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste Artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. § 2º As penas previstas no caput deste Artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990. Infrações Administrativas Previstas no ECA Considerações iniciais Outra forma específica de repressão a condutas graves que ameaçam ou causam efetivo prejuízo para os direitos das crianças e dos adolescentes foi criada pelo ECA ao estabelecer diversas infrações administrativas. 19 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas O Estatuto prevê algumas formas de sanção, sendo a mais comum a de multa. Apuração A apuração dessas condutas se dá, em especial, pelo Ministério Público (Artigo 201, incisos VI e VII), sendo que, muitas vezes, o início da apuração ocorre em razão da atuação dos Conselhos Tutelares (Art. 136, IV). Competência A competência para a aplicação das sanções administrativas pertence ao Juiz da Infância e da Juventude – inciso V do Artigo 148. Infrações em espécie Infração ligada à prevenção de maus tratos A infração administrativa do Art. 245 está voltada à prevenção de maus tratos contra crianças e adolescentes e busca sancionar aquele que tem o dever de comunicar a suspeita de sua ocorrência para autoridades competentes mas que, de forma omissiva, deixa de fazê-lo: ECA Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendosuspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Infração ligada ao respeito aos direitos de adolescente privado de liberdade Esta infração administrativa está voltada a proteger direitos de adolescentes privados de liberdade. Não pode haver exasperação das medidas aplicadas contra eles, pois eles conservam, nessa situação, todos os demais direitos não afetados pela medida a que estão submetidos: ECA Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 20 21 Infração ligada à vedação de divulgação de informações de criança ou adolescente envolvido em ato infracional Nesse caso, veda-se a indevida divulgação de dados de crianças e adolescentes envolvidos na prática de infrações penais: ECA Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste Artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação. (Expressão declara incons- titucional pela ADIN 869-2). Infração ligada à proteção de adolescente empregado doméstico No Artigo 248, está prevista uma infração administrativa voltada à proteção de adolescente que realiza o trabalho de empregado doméstico – historicamente, eles sempre foram alvo de muito desrespeito; assim, o legislador buscou criar um mecanismo de ampliação do controle de seus direitos: ECA Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos pais ou responsável: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência, independentemente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso. Infração ligada ao descumprimento de deveres inerentes ao poder familiar, guarda e tutela No Artigo 249, encontramos a previsão da infração administrativa daquele que, de forma dolosa ou culposa, descumpre com seus deveres inerentes ao poder familiar, guarda ou tutela: 21 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas ECA Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Infrações ligadas ao respeito às normas de prevenção O desrespeito às normas de prevenção acarretam a caracterização de uma série de infrações administrativas – Artigos 250 a 258: ECA Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere: Pena – multa. § 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. § 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá sua licença cassada. ECA Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. ECA Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. ECA Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não se recomendem: Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade. 22 23 ECA Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias. ECA Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. ECA Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. ECA Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 desta Lei: Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da revista ou publicação. ECA Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação no espetáculo: Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. Infrações ligadas ao descumprimento de criação e manutenção de cadastros para a adoção O desrespeito do dever de criar e manter o cadastro de crianças e adolescente que estão em condições para serem adotados, bem como das pessoas interessadas na adoção, também gerou a criação de infração administrativa específica: 23 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas ECA Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais). Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar. Infração ligada ao encaminhamento de gestante ou mãe interessada em entregar filho para adoção Por fim, no Artigo 258-B, temos a descrição da infração administrativa praticada por aqueles que não efetuam o encaminhamento para a autoridade competente de gestante ou mãe interessada em entregar o seu filho para adoção: ECA Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediatoencaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais). Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste Artigo. Disposições Finais e Transitórias Já no seu final, o Estatuto revogou a Lei n.º 4.513/64 e o antigo Código de Menores (Lei n.º 6.697/79): ECA Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de ou- tubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições em contrário. 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Penal https://goo.gl/t0Tjp Código de Processo Penal https://goo.gl/YQWRv 25 UNIDADE Crimes e Infrações Administrativas Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 12.ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente. 15.ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 26