Prévia do material em texto
0 1 Conheça a Conteudista Dra. Monique Aparecida Voltarelli Professora Adjunta da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação Modalidade Profissional (PPGEMP) da Universidade de Brasília. Doutora em Educação pela USP. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa Sociologia da Infância e Educação Infantil (GEPSI/ FEUSP) e líder do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre os Estudos Sociais da Infância (GEPESI/UnB). 2 Ementa: Criança, adolescente, juventude, família, comunidade, sociedade. História da proteção jurídica e social da criança e do adolescente no Brasil. Menoridade e Categoria Social do Menor. Direito da Criança e do Adolescente: formação e desenvolvimento. Marco normativo internacional. Marcos Legais do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990). Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (SINASE, 2012). Socioeducação. A Justiça da Infância e da Juventude: teoria e prática. Tópicos Processuais. Políticas Públicas sobre Infância e Juventude. Temas Especiais. Apresentação geral da disciplina: Prezadas(os) Cursistas, sejam bem-vindas(os)! Vamos dar início a nossa disciplina “Políticas públicas e direitos da criança e do adolescente”. Nesta disciplina, teremos como objetivo principal refletir acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes de forma a considerar o impacto e a importância das políticas públicas desde a perspectiva socioeducacional. Enquanto objetivos específicos apresentaremos brevemente o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase, 2012), que regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas aos adolescentes que praticam algum tipo de ato infracional; compreender alguns princípios organizacionais do sistema socioeducativo em diálogo com a intersetorialidade e políticas da socioeducação a partir da legislação vigente; e refletir acerca do sistema de garantia dos direitos desde as políticas sociais que visam garantir a proteção social e a cidadania das crianças e dos adolescentes. 3 Compreender as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos ainda se coloca como um desafio social, uma vez que essa compreensão traz impactos na maneira em que tem se articulado a legislação vigente com as políticas públicas que visam promover ações protetivas destinadas às crianças e aos adolescentes. O que convoca os profissionais que trabalham com esse público a se engajarem no entendimento e no impacto das políticas socioeducativas de maneira a pensar na proteção integral e considerar as crianças e os adolescentes como absoluta prioridade social, conforme previsto na Constituição Federal de 1988. Reconhecendo essa importância e necessidade, as unidades da disciplina serão apresentadas na sequência para dar seguimento aos nossos estudos. Desejos de um bom curso são dados a todos(as)! Composição esperada para a disciplina: ➢ Unidade I: Questões Introdutórias ao SINASE ➢ Unidade II: Princípios Organizacionais da Política de Socioeducação ➢ Unidade III: Sistema de Garantia de Direitos, Políticas Sociais e Socioeducação 4 Objetivos de aprendizagem da disciplina ▪ Refletir acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes de forma a considerar o impacto e a importância das políticas públicas desde a perspectiva socioeducacional; ▪ Apresentar o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e sua importância para garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes; ▪ Compreender alguns princípios organizacionais do sistema socioeducativo em diálogo com a intersetorialidade e políticas da socioeducação a partir da legislação vigente; ▪ Refletir acerca do sistema de garantia dos direitos a partir das políticas sociais que visam garantir a proteção social e a cidadania das crianças e dos adolescentes. 5 UNIDADE I Questões Introdutórias ao SINASE 6 Questões Introdutórias ao SINASE Reconhecer as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos demanda considerar os direitos dessa categoria geracional no campo dos direitos humanos, de forma a compreender a cidadania de sujeitos sociais que estão em condição particular de desenvolvimento, assim como a maneira como essa temática tem sido central no campo dos estudos da infância, no intuito de reconstruir o papel social das crianças e dos adolescentes e trazer visibilidade para suas ações nos diversos contextos em que estão inseridos. Tradicionalmente, as crianças e os adolescentes foram compreendidos por sua imaturidade, incompetência, incompletude, devendo ser preparados para exercer a cidadania no futuro, quando adultas. Nesta perspectiva, observa-se que o entendimento acerca do papel dessa categoria geracional esteve associado à socialização e à escolarização, para que assim fosse possível introduzi-las ao mundo social e à cultura adulta. Entretanto, no final da década de 1980, estas compreensões começaram a ser questionadas, principalmente em decorrência da Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças (CDC) em 1989, a qual instituiu três direitos 7 essenciais, sendo reconhecido, atualmente, como o documento sobre os direitos humanos mais aceito em nível mundial por ter sido ratificado por 196 países. Esses direitos essenciais ficaram conhecidos como os “3 Ps”: provisão, proteção e participação, os quais vêm modificando e valorizando a competência social das crianças, retirando-as da margem historicamente instituída entre as gerações. No Brasil, avanços são identificados em âmbito dos direitos, principalmente, pelo artigo 227 da Constituição Federal, que dispõe: [...] é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. De acordo com o § 3º, inciso IV e V do artigo 227, ainda, está previsto que o direito à proteção deverá garantir o “pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica” (Brasil, 1988) assim como a “obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade” (Brasil, 1988). Desse modo, assegura-se não apenas os direitos fundamentais para as crianças e os adolescentes, mas também, aqueles que são destinados às especificidades da infância e da adolescência, colocando-os na condição de prioridade 8 absoluta em relação à efetivação de seus direitos, bem como prevendo que se encontre maneiras de assegurar que o melhor interesse da criança e do adolescente sejam postos como centrais nas situações diversas que atravessam suas vidas. Outro documento importante a ser mencionado é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), pois reúne leis específicas que asseguram os direitos e também os deveres das crianças e dos adolescentes no Brasil, visando modificar a compreensão do “menor”, termo aplicado para se referir às crianças e aos adolescentes que cometiam algum tipo de ato infracional. Com o ECA (1990), passa-se a prever aplicação de medidas de proteção à criança e ao adolescente sempre que os direitos reconhecidos forem ameaçados ou violados (ler artigos 98 e 101) e medidas socioeducativas aos adolescentes autores de atos infracionais, as quais podem ser aplicadas de forma gradativa, prevendo desde a advertência até a privaçãoda liberdade, conforme disposto no artigo 112 deste documento. Desse modo, observa-se que a família, a sociedade e o Estado são compreendidos como responsáveis, e que devem atuar em conjunto para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. Assim sendo, o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), criado em 2006, visa articular a integração de instituições e instâncias do poder 9 público para promover, defender e efetivar os direitos das crianças e dos adolescentes nos âmbitos federal, estadual, distrital e municipal, contemplando assim, as normativas dispostas pelo ECA (1990). Cabe mencionar que o SGDCA se consolidou por meio da Resolução nº 113, de 19/04/2006, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), dispondo por meio dos artigos 19 e 20 sobre os programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas, os quais se estruturam e organizam por meio de um Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE, 2012), considerando dez princípios norteadores e prevendo programas socioeducativos em meio aberto e com privação de liberdade. Entretanto, apesar de ter sido lançado em 2006, apenas foi aprovado em 2012 por meio da Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. O SINASE estabelece “competências e responsabilidades dos conselhos de direitos da criança e do adolescente, que devem sempre fundamentar suas decisões em diagnósticos e em diálogo direto com os demais integrantes do Sistema de Garantia dos Direitos, tais como o Poder Judiciário e o Ministério Público” (Brasil, 2006), buscando, assim, desenvolver ações socioeducativas pautadas nos princípios dos direitos humanos com bases éticas e pedagógicas. Cabe mencionar que o SINASE (2012) filia-se ao grande esforço mundial de construção de uma cultura da paz. É um sistema composto por diversos atores de políticas públicas que são os promotores responsáveis pela sua concretização na perspectiva de que este sistema faça parte de um conjunto de ações estruturantes, que buscam a efetivação dos direitos humanos de adolescentes que está em atendimento socioeducativo. Este atendimento deve pautar-se por estes princípios e regras acordadas pelo país e a sua centralidade é da ação socioeducativa, que tem como missão a concretização desses direitos humanos na dinâmica do cumprimento da medida socioeducativa. 10 A filiação do SINASE impõe a todos(as) os seus trabalhadores um compromisso inarredável com esta perspectiva. Não poderá haver lugar para outra atitude que não seja esta. O fato do(a) adolescente estar cumprindo uma medida socioeducativa na política de atendimento socioeducativo não o torna um sujeito que não deve ser alcançado por ações garantistas e promotoras da emancipação humana. Não se justifica em tempo algum, muito menos nos dias atuais, a permanência de ações que primam pelo cárcere associado a condições sub-humanas, com maus tratos e violências de toda ordem. Os operadores do SINASE são antes de tudo, operadores dos direitos humanos para os(as) adolescentes em atendimento socioeducativo. Essa introdução juntamente com os elementos da nossa primeira unidade sobre as “Questões introdutórias ao SINASE”, nos mostra avanços na legislação e nas políticas sociais brasileiras destinadas à infância e à adolescência, de forma a considerar a cidadania e articular por meio de um sistema integrado, que considere a intersetorialidade e a corresponsabilidade entre família, comunidade e Estado. Sendo assim, a leitura dos textos de nossas unidades nos proporcionará a ampliação do entendimento dessas discussões, assim como o aprofundamento da temática juntamente como o estudo do artigo. O artigo sugerido como leitura obrigatória contempla acerca das contradições na prática de efetivação dos direitos das crianças, por meio de uma pesquisa que traz como análise crítica as contradições entre o sistema socioeducativo e o punitivo. Ainda que se reconheçam avanços na garantia de direitos, estudos como este têm demonstrado alguns desafios na efetivação e na consideração das crianças e dos adolescentes enquanto sujeitos de direitos e cidadãos no presente, uma vez que a lógica do vir-a-ser adulto e a preparação para cidadania futura ainda seguem perpetuando as concepções de infância e juventude nas instituições e instâncias que atendem a esse público. Portanto, torna-se importante reconhecer as fragilidades, 11 os dilemas e as contradições que perpassam o sistema de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, principalmente no âmbito socioeducativo, para que eles não sejam expostos a mais cenários de violência, e tenham oportunidades efetivas de serem atendidas com respeito e dignidade conforme as políticas públicas e à legislação destinadas à efetivação e à promoção de seus direitos, enquanto cidadãos brasileiros. Desejamos um ótimo momento de estudos, aprendizagens e que cada texto lido possa contribuir com a formação e atuação profissional de cada um de vocês na luta pela garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Boas leituras!! 12 13 BONATTO, Vanessa Petermann; FONSECA, Débora Cristina. Socioeducação: Entre a sanção e a proteção. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 36, e228986, 2020. Epub 22-Set 2020. https://doi.org/10.1590/0102-4698228986. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/edur/a/N7cDkdvNNnhpNJdGZ7MbS3K/abstract/?lang=pt Acesso em: 7 set. 2023. ARTIGO (LEITURA OBRIGATÓRIA) https://www.scielo.br/j/edur/a/N7cDkdvNNnhpNJdGZ7MbS3K/abstract/?lang=pt 14 BRASIL. Resolução nº 119, de 11 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e dá outras providências. Disponível em: https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/68-sinase-1 Acesso em: 7 set. 2023. MIRANDA, A. A. B.; AGUINSKY, B.G.; COSTA, C.; AVILA, L. F.; SILVA, M. J. C. J.; MARQUES, S. M. M. Adolescentes em conflito com a lei e direitos humanos: desafios para implementação do Sinase. Revista de Políticas Públicas da UFMA, v. 18, p. 369–378, 2014. DOI: 10.18764/2178-2865.v18nEp369-378. Disponível em: http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/2728 Acesso em: 7 set. 2023. SCISLESKI, Andrea Cristina Coelho et. al. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: Estratégia punitiva ou protetiva? Psicologia & Sociedade [online]. 2015, v. 27, n. 03, pp. 505-515. Epub Sept-Dec 2015. ISSN 1807-0310. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p505>. Acesso em: 7 set. 2023. LEITURA COMPLEMENTAR https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/68-sinase-1 http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/2728 https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p505 15 BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 7 set. 2023. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sistema Nacional De Atendimento Socioeducativo -SINASE/ Secretaria Especial dos Direitos Humanos – Brasília-DF: CONANDA, 2006. Disponível em: <https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/conanda/sinase_integra.pdf>. Acesso em: 7 set. 2023. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13 de julho de 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em 7 set. 2023. BRASIL. Resolução nº 46, de 29 de outubro de 1996. Regulamenta a execução da medida sócio-educativa de internação prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90. Disponível em: https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/218--95 Acesso em: 7 set. 2023. BRASIL. Resolução nº 113, de 19 de abril de 2006. Dispõe sobre os parâmetros paraa institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em: https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/219--97 Acesso em 18 set 2023. BRASIL. Resolução nº 119, de 11 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e dá outras providências. Disponível em: https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/download/resolucao_119_conanda_sinase.pdf Acesso em: 7 set. 2023. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/conanda/sinase_integra.pdf%3e https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/218--95 https://www.dease.sc.gov.br/documentos/leis-federais/219--97 https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/download/resolucao_119_conanda_sinase.pdf 16 BONATTO, Vanessa Petermann; FONSECA, Débora Cristina. Socioeducação: Entre a sanção e a proteção. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 36, e228986, 2020. Epub 22-Set 2020. https://doi.org/10.1590/0102-4698228986. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/N7cDkdvNNnhpNJdGZ7MbS3K/ Acesso em: 7 set. 2023. MIRANDA, A. A. B.; AGUINSKY, B. G.; COSTA, C.; AVILA, L. F.; SILVA, M. J. C. J.; MARQUES, S. M. M. Adolescentes em conflito com a lei e direitos humanos: desafios para implementação do Sinase. Revista de Políticas Públicas da UFMA, v. 18, p. 369–378, 2014. DOI: 10.18764/2178-2865.v18nEp369-378. Disponível em: <http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/2728>. Acesso em: 7 set. 2023. SCISLESKI, Andrea Cristina Coelho et. al. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: Estratégia punitiva ou protetiva? Psicologia & Sociedade [online]. 2015, v. 27, n. 03, pp. 505-515. Epub Sept-Dec 2015. ISSN 1807-0310. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p505>. Acesso em: 7 set. 2023. UNICEF. Convenção Internacional Das Nações Unidas Sobre Os Direitos Das Crianças. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/cdc-versao-crianca Acesso em: 7 set. 2023. https://www.scielo.br/j/edur/a/N7cDkdvNNnhpNJdGZ7MbS3K/ https://www.unicef.org/brazil/cdc-versao-crianca 17 Freepik IMAGENS