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Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente

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FAMÍLIA, 
SEGMENTOS 
POPULACIONAIS E 
POLÍTICAS SOCIAIS 
Daniella Tech Doreto
Políticas públicas voltadas 
à criança e ao adolescente
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o processo histórico das políticas públicas voltadas à criança 
e ao adolescente no Brasil.
  Reconhecer as leis que asseguram os direitos da criança e do ado-
lescente, movimento histórico, conquistas, avanços e retrocessos.
  Analisar limites e possibilidades da garantia de direitos da criança e 
do adolescente na contemporaneidade.
Introdução
O sistema de garantia de direitos direcionados às crianças e aos adolescen-
tes no Brasil passou por importantes transformações ao longo dos anos. 
Merece destaque a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA), que substitui o antigo Código de Menores e traz a perspectiva de 
rompimento com a visão da infância relacionada à pobreza e à margina-
lidade. O ECA reconhece que essa população é composta por pessoas 
em desenvolvimento e sujeitos de direitos. Para o atendimento de suas 
necessidades e a efetivação de seus direitos, o documento estabelece 
um sistema de garantias que é essencial, apesar dos inúmeros desafios 
e limites vivenciados.
Neste capítulo, você vai ver como a proteção à criança e ao adoles-
cente se desenvolveu ao longo dos anos no Brasil. Você também vai 
conhecer as leis que amparam esse público, seus avanços e retrocessos. 
Além disso, você vai acompanhar uma análise crítica sobre os limites e 
as possibilidades existentes para a efetivação dos direitos das crianças e 
dos adolescentes no País.
A história das políticas públicas para crianças 
e adolescentes no Brasil
A Constituição Federal de 1988 é um marco importante na história dos direitos 
assegurados aos cidadãos brasileiros. No que se refere à proteção à criança e 
ao adolescente, a Constituição Federal reconhece a necessidade de proteção 
integral a essa população. A partir daí, crianças e adolescentes passam a ser 
considerados sujeitos de direitos e pessoas em desenvolvimento, condição que é 
reafi rmada com a aprovação, em 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Antes disso, crianças e adolescentes eram vistos como “adultos em minia-
tura”, não sendo alvos de uma proteção específica. Lima, Poli e José (2017) 
destacam que três períodos podem ser considerados quando se pensa no trata-
mento dado a crianças e adolescentes brasileiros ao longo dos anos: a primeira 
fase ocorre entre os séculos XVI e XIX (1501 a 1900); a segunda fase começa 
aproximadamente a partir da primeira metade do século XX (1901 a 1950); a 
terceira e última fase se inicia em meados do século XX e perdura até hoje.
Entre os séculos XVI e XIX, as crianças e adolescentes não eram con-
siderados relevantes, pois o índice de mortalidade dessa população era alto 
e o desapego afetivo evitava o sofrimento da perda. Nessa fase, crianças e 
adolescentes eram vistos com indiferença não só no Brasil, mas também em 
outros países. A condição econômica era o fator principal que diferenciava 
o tratamento oferecido a esse público. Os filhos de camponeses e artesãos 
viviam a infância com menos oportunidades do que os filhos advindos de 
famílias de classes sociais mais altas, que possuíam acesso maior a tudo o 
que era necessário para a vida em sociedade (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017).
Do ponto de vista do gênero, adolescentes do sexo feminino estavam aptas 
para o casamento aos 15 anos, enquanto os meninos já eram plenamente 
capacitados para o trabalho pesado desde os 9 anos de idade (LIMA; POLI; 
JOSÉ, 2017). A assistência prestada às crianças e adolescentes nesse período 
era realizada quase exclusivamente pela Igreja Católica, o que evidencia a 
omissão do Estado em relação ao atendimento a essa parcela da população.
Na segunda fase, de 1901 a 1950, as crianças e adolescentes eram conside-
rados alvos da tutela do Estado, mas não portadores de direitos. Isso decorre do 
“[...] fato de a menoridade naquela época ser considerada um status do indivíduo 
(semelhante ao estado civil), prevalecendo o aspecto de ‘imperfeição’ destes 
indivíduos em fase de desenvolvimento, e, atrelada a esta ‘imperfeição’, [havia] 
a necessidade de proteção e cuidado [...]” (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017, p. 318).
O primeiro Código de Menores do Brasil data de 1927. Ele versava sobre 
a assistência, a proteção e a vigilância de menores de 18 anos de idade que se 
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente2
encontravam em situação irregular e daqueles entre 18 e 21 anos nos casos 
expressos em lei. Era considerado em situação irregular o menor: privado 
de condições essenciais à sua subsistência, como saúde e instrução obriga-
tória; vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou 
responsáveis; em perigo moral ou privado de assistência legal devido à falta 
de um dos pais ou responsáveis. A situação era considerada irregular ainda 
para aqueles que possuíam desvio de conduta em razão de grave inadequação 
familiar ou comunitária e, por fim, para aqueles que praticavam ato infracional 
(BRASIL, 1979).
Em 10 de outubro de 1979, entra em vigor a Lei nº 6.697, que institui 
um novo Código de Menores. Ele representa outro olhar para a situação da 
criança e do adolescente do ponto de vista legal. O Código de Menores de 1979 
institui a figura do juiz de menores, responsável por “[...] julgar, administrar e 
buscar soluções socioassistenciais. Também aparece a figura do Comissário de 
Menores, que era uma espécie de política para os adolescentes [...]” (MELIM, 
2012, p. 170).
Como você pode observar, embora de forma bastante incipiente, o Código 
de Menores passou a oferecer proteção e assistência por parte do Estado para as 
crianças e adolescentes. No entanto, algumas condições não eram observadas 
como danosas a essa fase de desenvolvimento, como o trabalho infantil, muito 
utilizado especialmente nas fábricas em meados da década de 1930. Afinal, 
com a industrialização do País, buscava-se mão de obra barata.
Autores como Jorge Amado (na obra Capitães de Areia, de 1937) e José Lins do Rego 
(em Menino de Engenho, de 1932) retrataram a realidade vivenciada pelas crianças e 
adolescentes dessa época, bem como o descaso do Estado e da própria família com 
essa fase da vida (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017).
A década de 1940 registra alguns avanços no atendimento às crianças e 
aos adolescentes. Nesse período, são criados órgãos federais responsáveis por 
atuar junto a essa população. Nesse contexto, surge o Serviço de Atendimento 
ao Menor (SAM), órgão responsável pela orientação e pela organização dos 
serviços socioassistenciais prestados nos patronatos agrícolas e instituições 
públicas. Os menores eram encaminhados para internamento por meio 
desse serviço. O SAM foi extinto em meados da década de 1960, sendo 
3Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente
posteriormente proposta a criação da Fundação Nacional de Bem-Estar do 
Menor (FUNABEM) e das Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor 
(FEBEM) (MELIM, 2012). Para Melim (2012, p. 172), “[...] mudavam-se 
os nomes, mas as práticas e as representações continuavam as mesmas: as 
crianças e adolescentes pobres ainda eram os ‘menores’ da sociedade e, 
por isso, a violência praticada contra eles era aceita por muitos segmentos 
sociais [...]”.
Em 1948, ocorre a formalização da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos: “[...] a dignidade passa a ser reconhecida em seu preâmbulo como 
elemento intrínseco a todos os membros da família humana, assegurando 
para todos os integrantes desta direitos iguais e inalienáveis, além de ir-
radiar a liberdade, a justiça e a paz no mundo [...]” (LIMA; POLI; JOSÉ, 
2017, p. 322).
No terceiro e último período, que vai aproximadamente da segunda me-
tade do século XX até a atualidade, a proteção e a assistência à criança e ao 
adolescente evoluíram. Assim, esse importante grupo passou a receber maior 
proteção e amparo prioritário. As criançase os adolescentes “[...] passaram a 
ser reconhecidos como agentes sociais e, consequentemente, a infância passou 
a ser considerada uma fase da vida que merece ser debatida, tornando-se 
objeto de discussão social através de entidades constituídas para este fim [...]” 
(LIMA; POLI; JOSÉ, 2017, p. 323).
Melim (2012) comenta que essa evolução histórica indica que a forma 
como a sociedade lidou com as crianças e adolescentes ao longo dos anos 
impactou as ações para o atendimento das necessidades dessa população. No 
geral, as ações eram direcionadas especialmente para crianças e adolescentes 
pobres, abandonados ou delinquentes, os chamados “menores” (MELIM, 
2012). Portanto, “A ideia de criminalização da pobreza reforçou historicamente 
a implementação dessas ações, na tentativa de evitar que aquelas crianças 
se tornassem potenciais marginais no futuro e ameaçassem a ordem social 
instaurada [...]” (MELIM, 2012, p. 168). A autora ainda pontua:
[...] algumas características que marcaram a história das políticas sociais 
brasileiras relativas à infância e à adolescência, em que predominava como 
produção simbólica a respeito dos indivíduos dessas faixas etárias a concep-
ção segundo a qual se tratavam de delinquentes e abandonados. Destaca-se 
a criminalização da pobreza — a criança pobre era tida como um futuro 
marginal em potencial e, por isso, era preciso reprimi-la e corrigi-la pela 
violência. As práticas de internação eram priorizadas e a força de trabalho era 
tida como único bem que a criança pobre possuía. Logo, nessas instituições 
as crianças e adolescentes eram submetidos ao trabalho forçado. As ações 
foram, historicamente, marcadas pela ênfase na esfera privada e no recuo das 
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente4
funções públicas do Estado. Quando este passa a ter um papel mais marcante 
nessa área, reforça as ações compensatórias e não preventivas, centralizando 
a formulação de políticas na esfera federal de governo. O assistencialismo 
evidenciava a clara segmentação da população e a não cidadania das crianças 
pobres (MELIM, 2012, p. 174).
Como você pode notar, a atenção às crianças e aos adolescentes enquanto 
sujeitos de direitos não foi uma prioridade dos governos nos séculos anteriores. 
A atenção era centrada na situação de pobreza, bem como na tentativa de 
eliminar problemas da sociedade e de obter mão de obra barata. Uma mudança 
começou a ser esboçada a partir da década de 1940; entretanto, foi apenas 
com a Constituição Federal de 1988 que uma mudança de paradigma enfim 
aconteceu, o que foi ratificado por meio da aprovação do Estatuto da Criança 
e do Adolescente em 1990.
Legislações para a garantia de direitos
Na atualidade, o Brasil dispõe de legislações específi cas que asseguram os 
direitos das crianças e dos adolescentes. Os principais avanços aconteceram a 
partir da Constituição Federal de 1988, que inaugurou uma nova perspectiva 
para a proteção social desse segmento populacional. A Constituição foi seguida 
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Juntos, os documentos buscam 
garantir a proteção integral e dar prioridade tanto ao atendimento quanto à 
formulação de políticas públicas para esse público. Em seu artigo 227, a Carta 
Magna afi rma o seguinte:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente 
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, 
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, 
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo 
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão (BRASIL, 1988, documento on-line).
Os avanços citados foram impulsionados pelos movimentos sociais e 
marcaram a área da infância e da adolescência. A Lei nº 8.069, de 13 de 
julho de 1990, que institui o ECA, veio ratificar os preceitos constitucionais 
e aprofundar as garantias e direitos das pessoas na faixa etária dos 0 aos 18 
anos de idade. Nessa perspectiva, o primeiro item detalhado pelo Estatuto 
foi a idade: ficou estabelecido que criança é toda pessoa de 0 a 12 anos de 
idade incompletos; já o adolescente é aquele que possui entre 12 e 18 anos. 
5Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente
Excepcionalmente, o Estatuto assegura os direitos às pessoas com até 21 anos. 
Em seu artigo 3º, o documento determina:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes 
à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, 
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, 
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990, 
documento on-line).
É importante você notar que o Estatuto assegura direitos fundamentais à 
criança e ao adolescente, agora considerados como sujeitos de direitos cuja 
condição de pessoas em desenvolvimento deve ser respeitada. Esse é um dos 
principais avanços introduzidos com a aprovação do Estatuto. Além de assegu-
rar direitos básicos como saúde, alimentação, educação, habitação, segurança, 
lazer e outros, o ECA também aponta que todas as crianças e adolescentes, 
sem distinção de qualquer natureza, são sujeitos de direitos. Veja:
Art 3º. Parágrafo Único — os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas 
as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, 
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal 
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, 
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as 
famílias ou a comunidade em que vivem (BRASIL, 1990, documento on-line).
É importante destacar ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente 
dispõe também sobre o trabalho infantil, buscando proteger crianças e ado-
lescentes de situações que coloquem em risco a sua integridade, a sua saúde 
e o seu desenvolvimento. O ECA reitera, portanto, recomendações interna-
cionais como as apresentadas pela Organização Internacional do Trabalho 
(OIT), órgão ligado às Nações Unidas que visa a proibir e eliminar as piores 
formas encontradas de trabalho infantil. Além disso, o País dispõe de uma 
rede articulada que atua na defesa dos direitos e contra a exploração infantil, 
mediante o trabalho com Ministério Público, Ministério Público do Trabalho, 
Conselho Tutelar, entre outros órgãos.
Assim, em linhas gerais, o Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe 
sobre a proteção integral a esse grupo populacional e busca contribuir com 
a proposta de uma nova perspectiva para a atenção. Busca também romper 
com paradigmas trazidos especialmente do Código de Menores, em que 
crianças e adolescentes eram estigmatizados e a atenção era dirigida espe-
cialmente para aqueles que viviam em condições de pobreza e estavam em 
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente6
“situação irregular”. Além disso, a atuação do Estado era apenas coercitiva, 
no sentido de aplicar medidas tutelares e judiciais para corrigir as situações 
consideradas problemáticas.
Alguns anos após a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente 
e transcorridos 10 anos de mobilização popular, foi sancionada, em 5 de 
agosto de 2013, a Lei nº 12.852, que institui o Estatuto da Juventude. Tal 
estatuto dispõe sobre os direitos dos jovens e sobre os princípios e diretrizes 
das políticas públicas de juventude (BRASIL, 2013). De acordo com essa 
lei, jovens são as pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade. Para evitar 
conflitos com a idade estipulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, 
o Estatuto da Juventude prevê que, para jovens na faixa etária entre 15 e 18 
anos de idade, aplica-se a Lei nº 8.069/90 e excepcionalmente o Estatuto 
da Juventude, quando não conflitar com as normas de proteção integral ao 
adolescente (BRASIL, 2013).
Em linhas gerais, oEstatuto da Juventude assegura os direitos relativos 
à educação, à saúde, à profissionalização, ao trabalho, à renda, à cultura, ao 
desporto e ao lazer. Estabelece ainda o direito à diversidade e à igualdade, 
bem como os direitos à cidadania, à participação social e política, à comuni-
cação, à liberdade de expressão e à representação juvenil. Outro avanço nessa 
legislação é a responsabilidade atribuída ao Estado no sentido de assegurar 
programas ligados ao ensino superior mediante a oferta de bolsas de estudo 
em instituições privadas e financiamento estudantil. A aprovação de uma 
legislação específica para o atendimento às necessidades dos jovens pode ser 
justificada pela relevância dessa fase da vida. Veja:
O conceito de juventude refere-se à fase de vida situada entre a infância e a 
idade adulta. Trata-se, portanto, de uma etapa de aquisição das habilidades 
sociais, atribuições de deveres e responsabilidades e afirmação da identida-
de. As escolhas realizadas nessa fase de vida têm forte influência no futuro, 
como fator de ampliação ou limitação da vida adulta. Apesar de ter por base 
marcos etários e biológicos, a definição da população jovem é indissociável 
do contexto sociocultural, político e econômico. Pode-se falar na existência 
de adolescências e juventudes, para expressar a multiplicidade de compor-
tamentos, hábitos e condutas característicos dessa etapa de vida (UNFPA, 
2010, documento on-line).
Embora haja diversidade envolvida no termo “juventude”, vários fatores 
justificam a proteção específica e a promoção de direitos por meio de políticas 
públicas (UNFPA, 2010). Nesse contexto, o Estatuto da Juventude, apesar de 
ser mais um avanço em termos legais, ainda apresenta pontos deficitários. 
7Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente
Entre eles, você pode considerar a não intervenção do Estado em situações 
de vulnerabilidade, de modo a evitar que a violação dos direitos humanos 
aconteça (SEVERO, 2014).
Em síntese, o Estatuto apresenta questões mais amplas sem aprofundar 
temas importantes para o cotidiano juvenil. No entanto, a sua aprovação 
constitui um importante avanço, especialmente no sentido de que os jovens 
passem a ser reconhecidos na sociedade e a ser titulares de direitos no País. 
A existência de uma legislação específica favorece a construção de uma 
sociedade mais justa e democrática, com avanços sociais, culturais e políticos 
(SEVERO, 2014).
Limites e possibilidades para a garantia 
de direitos
O Estatuto da Criança e do Adolescente, enquanto instrumento legal para 
proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes brasileiros, é 
bastante abrangente. Isso vale tanto para as suas garantias quanto para 
a forma como os direitos devem ser aplicados na prática. Trazendo um 
importante avanço na legislação, o ECA considera crianças e adolescentes 
como sujeitos de direitos e como pessoas em uma condição peculiar de 
desenvolvimento. Portanto, eles “demandam a proteção do Estado, da 
família e da sociedade em geral”. Assim, o Estatuto coloca “[...] a proteção 
e a garantia dos direitos desses grupos, independentemente de suas origens 
socioeconômicas, como prioridade das políticas públicas [...]” (FABIANO, 
2016, p. 255).
Além disso, o ECA traz muitos outros avanços, incluindo
[...] a denominada Doutrina da Proteção Integral, que consiste em considerar 
a proteção dos direitos da infância e adolescência como prioridade absoluta 
das políticas públicas em todos os seus níveis, como, por exemplo, na Edu-
cação, na Saúde, na Assistência Social e no Sistema de Justiça. Por sua vez, 
foi instituído o denominado Sistema de Garantia de Direitos, uma rede de 
instituições públicas que, em nível municipal, deve se responsabilizar pela 
proteção e garantia dos direitos dos indivíduos que estão na menoridade 
(FABIANO, 2016, p. 251).
Nessa perspectiva, o Estatuto estabelece que a política de atendimento 
deve ser realizada mediante um “[...] um conjunto articulado de ações gover-
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente8
namentais e não governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal 
e dos municípios [...]” (BRASIL, 1990, documento on-line). Por meio dessas 
definições, o Estatuto legitima a política nacional de atendimento, o que 
constitui um importante avanço, bem como uma possibilidade para o desen-
volvimento de ações com vistas a garantir direitos desse público específico. 
Fabiano (2016) comenta que a gestão autônoma proposta pela legislação em 
questão favorece o desenvolvimento de práticas com base na realidade social 
local. Com uma atuação articulada e complementar (instituições governa-
mentais e não governamentais), é possível combater as diversas formas de 
violação de direitos.
Dessa forma, o Estatuto estabelece um sistema de redes de proteção, pro-
moção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tal sistema é 
composto por diversas “[...] instituições com a responsabilidade pela política, 
como Ministério Público, delegacias e varas especializadas, conselhos de 
direitos (como instâncias de controle social), conselhos tutelares (como ins-
tâncias de execução da política) e toda a rede de atendimento [...]” (CFESS, 
2010 documento on-line). Contudo, você deve considerar que esse sistema
[...] sofre, além do distanciamento e ausência do diálogo interinstitucional 
e intersetorial, da carência de infraestrutura, de condições e qualidade de 
atendimento, de pessoal capacitado (na óptica e na concepção dos direitos). 
Não são poucas as situações em que crianças e adolescentes são tratados 
como problema, reeditando a velha máxima da periculosidade, em vez de 
serem considerados sujeitos de direitos, conforme a doutrina da proteção 
integral pressuposta no ECA e em todas as normativas que dele derivaram. 
E esta forma de tratamento, que contraria o Estatuto, tem resultado em maus 
tratos, negligência e processo intenso de encarceramento juvenil (CFESS, 
2010, documento on-line).
A dificuldade de diálogo entre os serviços ofertados pela rede, a carência 
de infraestrutura, os recursos escassos e até mesmo a qualidade com que são 
oferecidos os atendimentos constituem entraves para a plena execução da 
política. Como você pode observar, mesmo com todos os avanços consolidados 
e com todas as modificações ocorridas após a aprovação do Estatuto, muitos 
desafios e limites persistem na atualidade. Ainda hoje existem políticas ou 
programas que atuam de maneira fragmentada e até mesmo pontual, pouco 
contribuindo para a efetivação dos direitos das crianças e adolescentes. Isso 
acontece porque a prática ainda mantém características conservadoras e não 
é desenvolvida a partir da perspectiva do direito.
9Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente
A legislação brasileira prevê a constituição de conselhos de direitos em diversas áreas, 
inclusive na área de políticas públicas para crianças e adolescentes. O Conselho Nacional 
dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), órgão colegiado, paritário e 
deliberativo integrante da Secretaria de Direitos Humanos, tem entre as suas pautas 
principais o combate à violência contra crianças e adolescentes, a erradicação do 
trabalho infantil e a defesa de direitos. Além do CONANDA, existem Conselhos Es-
taduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, espaços em que são 
apresentadas e manifestadas as demandas e interesses para a atenção às crianças e 
aos adolescentes. A partir desses espaços, tais demandas passam a ser negociadas 
em outras instâncias.
Como você sabe, o Brasil é um país extremamente desigual, ou seja, a 
desigualdade social é uma de suas principais marcas. Assim, embora crian-
ças e adolescentes possuam direito à educação, considerando as diferenças 
regionais e as dificuldades de acesso, questiona-se se todos eles estão tendo 
esse direito assegurado. O mesmo questionamento pode ser feito em relação 
à saúde pública, à alimentação e à proteção contra a violação de direitos, por 
exemplo.Não se pode relativizar tudo, acreditando que todas as crianças e 
adolescentes, por terem sua proteção e seus direitos assegurados, têm acesso 
a eles. Entretanto, a existência da lei e a perspectiva de acesso aos direitos na 
totalidade são um caminho para a sua efetivação.
A conjuntura brasileira atual não favorece os grupos minoritários e o exercício 
de direitos, uma vez que o movimento da política nacional caminha no sentido 
contrário e impõe um processo de reversões graves nos direitos já conquistados 
(CFESS, 2010). Como exemplos, um documento elaborado pelo Conselho Fe-
deral de Serviço Social aponta “[...] algumas matérias legislativas que tramitam 
no Congresso, como a redução da maioridade penal e o aumento do tempo de 
internação de adolescentes em cumprimento de medida privativa de liberdade 
[...]” (CFESS, 2010, documento on-line). O mesmo documento aponta que “[...] 
o cenário é adverso, ainda que as fontes oficiais insistam em mostrar, por meio 
das estatísticas (que quase sempre escondem violações), os avanços nas políticas 
públicas para esse segmento [...]” (CFESS, 2010, documento on-line).
Embora com muitos desafios e limites para a sua efetiva implementação, o 
Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma que essa população é portadora 
de direitos. Afinal, crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento 
e por isso necessitam de atenção diferenciada e integral (CFESS, 2010). É 
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente10
necessário, portanto, que todos aqueles que direta ou indiretamente atuam no 
sistema de garantia dos direitos desse público assumam o compromisso de 
“[...] insistir na defesa de todas estas condições relevantes que ainda não foram 
efetivamente aplicadas ao cotidiano de milhões de crianças e adolescentes [...]” 
(CFESS, 2010, documento on-line). Esse compromisso é um importante passo 
para a efetivação dos direitos e a devida proteção a crianças e adolescentes. 
Além disso, ele favorece o rompimento com as práticas conservadoras e 
tradicionalistas, o que é um desafio diário.
Nesse contexto, a luta pela efetivação de políticas públicas também é 
essencial, uma vez que é por meio dessas políticas que os direitos assegu-
rados às crianças e aos adolescentes se materializam. Assim, como afirma 
o CFESS (2010, documento on-line), “[...] o ECA não pode ser apenas uma 
carta de princípios ou um documento, mas um instrumento estratégico para 
a garantia dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, instrumento 
este que fornece, inclusive, ferramentas para promovê-los ou defendê-los, 
quando forem violados [...]”.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 06 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6697impressao.htm. Acesso 
em: 06 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 06 jun. 2019.
BRASIL. Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe 
sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude 
e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm. Acesso em: 06 jun. 2019.
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Leitura recomendada
DEL PRIORI, M. et al. História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991.
Políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente12

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