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XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. ANÁLISE DO PERFIL DOS ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL ENTRE 2014 E 2021 Daniel Augusto Pereira de Moura (UFCG – CDSA) Danillo Marcus Farias Marinho do Monte (UFCG - CDSA) Marcos dos Santos (IME – Instituto Militar de Engenharia) Antônio Carlos da Silva Batista Vaz (UFCG – CDSA) Este trabalho teve como objetivo analisar o perfil dos Acidentes de Trabalho no Brasil entre os anos de 2014 a 2021. Para tanto, foram usados a base de dados secundários, sobre o tema em questão, do Radar STI, plataforma vinculada ao Governo Federal. Utilizou-se ainda dados do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho. Os resultados indicaram que, para o intervalo analisado, o número total de Acidentes de Trabalho teve uma redução de 40%, que São Paulo é o estado da federação com maior contributo em Acidentes do Trabalho, assim como a Indústria de Transformação e que os acidentes típicos são os predominantes dentre o quantitativo de Acidentes de Trabalho. Palavras-chave: Acidente do Trabalho, Análise, Perfil. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 1 1. Introdução Os acidentes de trabalho implicam em danos ao trabalhador, tais como afastamentos do trabalho, diminuição e/ou perda da capacidade para o trabalho (temporária ou permanente), transtornos cognitivos, problemas familiares e mortes. Para além disso, existem ainda consequências operacionais, financeiras e de tempo dentro dos processos produtivos, o que, naturalmente, implica em maiores custos no âmbito empresarial. De maneira complementar, Pimentel (2021) pontua que é importante destacar que o Acidente de Trabalho (AT) poderá originar a concessão de diversos benefícios previdenciários como auxílio – doença, aposentadoria por invalidez, auxílio acidente e pensão por morte acidentária. Tudo dependerá neste caso, de qual contingência será protegida, incapacidade para as primeiras ou a morte para a última. O estudo “Estimativas conjuntas da OMS e da OIT sobre o ônus de doenças e lesões relacionadas ao trabalho, 2000-2016” indica que lesões e doenças relacionadas ao trabalho provocaram a morte de 1,9 milhão de pessoas em 2016. De maneira complementar o estudo já referido leva em consideração 19 fatores de risco ocupacional, como exposição a longas jornadas de trabalho e exposição no ambiente de trabalho à poluição do ar, substâncias cancerígenas, a riscos ergonômicos e a ruído. O principal risco foi a exposição a longas horas de trabalho, que estava associada a cerca de 750.000 mortes. A exposição no local de trabalho à poluição do ar (partículas, gases e fumos) causou 450.000 mortes. A mesma OIT ainda revelou que o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial de acidentes de trabalho, atrás apenas de países como China, Índia e Indonésia. De acordo com o Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil, portal vinculado a Secretária de Inspeção do Trabalho, com dados dos Auditores Fiscais do Trabalho, nos últimos 12 meses, a Inspeção de Trabalho no Brasil alcançou 31.642.024 trabalhadores e identificou 138.744 irregularidades em Saúde e Segurança no Trabalho (SST). Cumpre lembrar que a maioria dos dados sobre AT no Brasil são, no máximo, referentes aos últimos 20 anos. Adicionalmente, estes dados estão espalhados em diversas bases, como o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Ministério Público do Trabalho (MPT), Auditores do Trabalho, entre outros, o que dificulta a precisão, bem como o real cenário da Saúde e Segurança do Trabalho (SST) no Brasil. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é traçar um panorama dos AT no Brasil entre os anos de 2014 e 2021, considerando variáveis como quantidade de acidentes no intervalo de tempo já mencionado, número de acidentes por região do Brasil, maiores setores com acidentes em XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 2 função do Cadastro Nacional de Atividade Econômica (CNAE), a situação geradora, partes do corpo atingidas, os principais agentes causadores do dano, a taxa de mortalidade e a quantidade de subnotificações. 2. Referencial teórico 2.1. Higiene e Segurança do Trabalho A segurança no trabalho objetiva a prevenção de riscos e de acidentes nas atividades de trabalho visando à defesa da integridade do trabalhador. Trata-se de um conjunto de ciências e tecnologias que buscam a proteção do funcionário ou trabalhador em seu local de trabalho, no tocante à questão da segurança e da higiene do trabalho. (SCOPNHO, 2003). Carvalho e Nascimento (1997) e Chiavenato (1994) corroboram que a higiene do trabalho compreende uma série de normas e procedimentos que visam à proteção da saúde física e mental do trabalhador, prevenindo-o dos riscos de saúde relacionados com o exercício de suas funções e com o ambiente físico de trabalho. Seus principais objetivos são: eliminar as causas das doenças profissionais, reduzir os efeitos prejudiciais provocados pelo trabalho, prevenir o agravamento de doenças e de lesões, manter a saúde dos trabalhadores e aumentar a produtividade por meio de controle do ambiente de trabalho. Para esses objetivos serem atingidos, se faz necessário a educação dos funcionários, indicando os perigos existentes e ensinando como evitá-los, além de manter constante estado de alerta contra os riscos existentes, pelos estudos e observações dos novos processos ou materiais a serem utilizados (CARVALHO; NASCIMENTO, 1997). Conforme Marras (2000), esta é a área responsável pela segurança dos trabalhadores e pela Higiene e Medicina do Trabalho, procurando prevenir os empregados de acidentes dentro das empresas e quando for necessário realizar estudos e ações constantes que ajudam a corrigir aspectos que representam riscos à saúde física e mental de todos os empregados. Para Pinto et al. (2016), no Brasil as Normas Regulamentadoras (NR) fornecem parâmetros e instruções sobre procedimentos obrigatórios relativos à saúde e segurança do trabalho. Todas as empresas tanto as privadas como públicas e administração direta e indireta, como também os órgãos públicos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam trabalhadores dirigidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), são obrigados seguir os parâmetros que regem as NR, com o objetivo de assegurar a integridade dos colaboradores e um ambiente seguro. Vale ressaltar que existem agentes agressivos que provocam riscos de acidentes ou doenças ocupacionais, que segundo Zocchio (2002) são divididos em cinco grupos: químicos; físicos; XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 3 mecânicos; biológicos e ergonômicos. Todavia, no presente trabalho serão enfocados apenas os agentes agressivos diretamente relacionados com o ambiente de trabalho estudado, sendo eles os agentes físicos e ergonômicos; visto que não foi constatada a existência de agentes de riscos químicos, mecânicos ou biológicos para a saúde dos funcionários. De acordo com a CLT, capítulo V, seção I, artigo 157, cabe às empresas: cumprir e fazer cumprir as normas de segurançae medicina do trabalho; instruir os empregados sobre os riscos e quanto aos cuidados a serem tomados para evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; e, finalmente, facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente (WACHHOLZ, 2013). 2.2. Acidente de Trabalho Segundo Webster (2005, p. 53) “todo acidente é, geralmente, uma ocorrência violenta e repetitiva... em que todos, trabalhadores, empregadores e a própria nação saem perdendo”. Para Marras (200, p. 208) “acidente de trabalho é um acontecimento involuntário resultante tanto de um ato inseguro quanto de uma situação sui generis que possa causar danos ao trabalhador e a organização que o abriga” Segundo Ministério da Previdência Social (2005), o acidente do trabalho é definido como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho ou a serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho de segurados, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária e cause a morte, ou a perda, ou a redução da capacidade para o trabalho. De acordo com a Legislação Brasileira – Lei 8.213, de 24/07/91 da Previdência Social determinada em seu Capítulo II, Seção I, Art. 19, entende-se por acidente do trabalho como: “aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Também são igualadas, para efeito dessa Lei, no Art. 20, as seguintes entidades mórbidas: Doença Profissional – assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade; Doença do Trabalho – assim entendida a adquirida ou desencadeada em função das condições especiais em que o trabalho é realizado. Também são considerados acidentes de trabalho, conforme o Art. 21 da mesma Lei: Acidentes Típicos - aqueles que ocorrem no local de trabalho; Acidentes de Trajeto - aqueles que ocorrem no percurso da residência para o local de trabalho ou vice-versa, qualquer que seja o meio de XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 4 locomoção. No entanto, qualquer que seja o acidente do trabalho, com exceção dos acidentes caracterizados por acidentes de trajeto, os fatores responsáveis por estes são devido a falhas ocorridas durante o processo de produção, sejam por fatores do trabalho ou fatores pessoais (VERAS, 2003). 2.2.1 Tipos de Acidentes de Trabalho Diniz (2007) classifica o acidente de trabalho em típico e atípico. O primeiro se refere aos acidentes de trabalho que advém de um acontecimento súbito, violento e involuntário na prática do trabalho, que atinge a integridade física ou psíquica do empregado. A segunda classificação considera atípico o acidente de trabalho oriundo de doença profissional, peculiar a certo ramo de atividade, ou seja, a moléstia é uma deficiência sofrida pelo operário, em razão de sua profissão, que o obriga a estar em contato com substâncias que debilitam seu organismo ou ao exercer sua tarefa, que envolve fato insalubre. Com relação aos acidentes atípicos tem-se o art. 21 da Lei 8.213 o qual equipara a acidente de trabalho àqueles que contribuem para agravar o estado de saúde do empregado e que ocorrem de forma paulatina. Quando a Lei se refere ao acidente sofrido no percurso da residência para o local de trabalho ou vice-versa, tem-se caracterizado o acidente in itinere - Dispõe o §2° do art. 58 da CLT que in itinere se refere ao tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para seu retorno (MARTINS, 2004). E, ainda, traz as hipóteses de acidente que ocorre no trajeto, ou seja, que se referem ao sofrido fora do local e horário de trabalho, mas no exercício do trabalho. 3. Metodologia Trata-se de uma pesquisa quantitativa e exploratória. Os dados foram coletados a partir das bases de dados secundárias do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho, vinculado ao Ministério Público do Trabalho, e do Portal da Inspeção do Trabalho, através da ferramenta Radar SIT, vinculado à Secretaria de Inspeção do Trabalho. Portanto, este trabalho seguiu o seguinte diagrama de fluxo de processos de acordo com a Figura 1: XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 5 Figura 1 – Mapa mental do processo Fonte: Autores (2022) A recorrência dos fatos (AT) culminou no desenvolvimento deste trabalho, que por sua vez mostrou a necessidade de um desenvolvimento metodológico tendo em vista a dispersão dos dados a serem coletados. Mesmo os dados estando disponíveis para consulta, eles se encontravam desconexos não entregando os dados necessários para pesquisa. Em primeiro plano foi elaborado um mapa mental o qual teve por objetivo traçar as camadas de análise a serem feitas, de forma visual e intuitiva. Tendo como cerne os acidentes de trabalho, foram criadas as suas ramificações, os fluxos das tarefas e então seguiu-se para as camadas subjacentes interligadas entre si. Ato contínuo, foram definidos os parâmetros para coleta de dados, dados estes coletados em fontes de referência na área de Saúde e Segurança do Trabalho, e posteriormente foi definido a periodicidade dos dados a serem colhidos. Ainda dentro da coleta de dados, se fez necessária a definição de algumas varáveis de análises para o incremento dos resultados a serem obtidos e analisados. Logo após a definição do setup foram realizados os processamentos dos dados através do software MINITAB, software destinado a análises estatísticas de dados, possibilitando a XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 6 transformação de números em representações visuais gráficas, tonando, desta forma, a interpretação dos dados mais fáceis e sendo também um colaborador nas tomadas de decisão. Conseguinte, após o processamento dos dados e a obtenção dos gráficos foi possível a realização das análises dos resultados de forma cognitiva levando em consideração os incrementos das variáveis utilizadas na coleta, bem como a sua série temporal o que, indubitavelmente, foi de suma importância para obtenção dos resultados discorridos neste trabalho. 4. Resultados Entre 2014 e 2021, foram registrados 4.618.816 AT no Brasil. A divisão de AT por ano pode ser visualizada conforme mostra a Figura 2. Da Figura 2 percebe-se, através da linha de tendência calculada, que os AT, ano a ano deveriam diminuir. De 2014 para 2015, a redução do número de AT foi de 12%; de 2015 para 2016 a redução foi de 5%, de 2016 para 2017 a redução foi de 2%; de 2017 para 2018 houve um aumento de 9%; de 2018 para 2019 outro aumento de 2%; de 2019 para 2020 uma redução de 30% e de 2020 para 2021 mais uma redução de 5%. Vale destacar a redução de 2019 para 2020, ano que a pandemia pelo novo COVID-19 começou e, portanto, boa parte das atividades produtivas ficaram paradas. No ponto de vista global, a redução entre o primeiro ano da série histórica analisada, e o último, o percentual de redução no número de AT foi de 40%. Figura 2 – Acidentes do Trabalho entre 2014 e 2021 Fonte: Autores (2022) 705836 619744 585976 574051 623786 639321 446885 423217 0 100000 200000 300000 400000500000 600000 700000 800000 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 7 Do total de AT do período analisado, 1.583.163 (34%) foram com afastamento superior a 15 dias, portanto, causando impacto diretamente aos cofres públicos, ao segurado e a economia como um tudo. Além disso, 16.932 (0,37%) daqueles acidentes foram fatais. Quando comparado com o total de acidentes, estes percentuais indicam que mais de 1/3 dos acidentes teve afastamento superior a 15 dias e que menos de 0,5% dos AT levaram a óbito. A Figura 3 mostra a distribuição de AT por Estado da Federação, bem como o percentual de sua contribuição simples e acumulada nos AT. Figura 3 – Gráfico de Pareto da distribuição de AT por Estado da Federação Fonte: Autores (2022) Da Figura 3 é possível perceber que o Estado de São Paulo foi responsável por 35% dos AT de todo o Brasil durante o período de 2014 a 2021. Seguido por Minas Gerais (11%). Rio Grande do Sul (9%), Santa Catarina (9%) e Rio de Janeiro (8%). Portanto, as regiões Sudeste e Sul, as mais industrializadas do país, somam 77% do total de AT. As demais regiões do país ficam com os outros 23%. No que tange a divisão de AT por Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), o segundo setor, ou seja, a Indústria da Transformação dá a maior contribuição em termos de acidentados no período de 2014 a 2021, com 906534 AT. Em seguida, vem o terceiro setor (Serviços) e, finalmente, o primeiro setor, a agricultura. A Figura 5 mostra a distribuição dos maiores setores com acidentes em função do CNAE. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 8 Figura 4 – Acidentes de Trabalho por CNAE Fonte: Autores (2022) Quanto a situação geradora do AT, 17,2% dos acidentes em ocorrem por impacto de pessoa contra objeto; 16,1% por impacto sofrido por pessoa; 15,2% por reação do corpo ao movimento; 10,6% por esforço excessivo; 10,4% por ataque de ser vivo ou contato com infecto-contagioso; 9,9% por atrito ou abrasão e 9,3% por queda de pessoa em mesmo nível. A Figura 5 detalha o percentual de cada situação geradora de AT. Figura 5 – Gráfico de situação geradora de AT Fonte: Autores (2022) XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 9 Sob a perspectiva de quais partes do corpo foram atingidas no AT, é possível constatar, a partir da Figura 6, que predominantemente, as partes do corpo mais atingidas estão ligadas aos membros inferiores e superiores. O grande destaque vai para o atingimento dos dedos, com 36,1% do total, seguido de pé (12,2%) e mão (10,8%). Figura 6 – Gráfico por parte do corpo do trabalhador mais atingida no AT Fonte: Autores (2022) Aprofundando a análise das Figuras 5 e 6, vê-se, a partir da Figura 7 que ferramentas, máquinas, equipamentos e veículos respondem por 45% dos agentes causadores dos AT; superfície e estrutura vêm em segundo lugar com 18,3%; e substância química, material e produto, em terceiro lugar, com 17,3%. Esses percentuais podem indicar problemas relacionados a condição de trabalho a que os trabalhadores estão expostos. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 10 Figura 7 – Principais agentes causadores dos AT Fonte: Autores (2022) Quando divididos por tipo, os AT do período 2014 a 2021 tem a seguinte série temporal, conforme mostra a Figura 7. Dela, é possível perceber que a predominância se dá nos acidentes típicos, seguidos dos acidentes de trajeto e, finalmente, das doenças do trabalho. Importante destacar que o tracejado roxo, que indica os ignorados, representam o quantitativo de acidentes sem comunicação. Um outro ponto interessante é que, durante os anos de 2020 e 2021, em que fora deflagrada a pandemia do COVID-19, uma diminuição do número de AT típicos e de trajeto e um aumento no número de doenças do trabalho. Falando em subnotificação, os dados disponíveis para livre consulta, sobre a questão em tela, geralmente, datam dos últimos 15 anos, prejudicando, portanto, uma maior precisão no computo de AT, e suas respectivas consequências, dentro de uma série histórica robusta. A Figura 8 mostra a evolução das subnotificações de AT no intervalo analisado. Nela, assim como acontece com o comportamento da quantidade de AT da Figura 2, o comportamento se dá da mesma maneira. O destaque, uma vez mais, se dá para a queda das subnotificações no período da pandemia, pelas mesmas razões da queda do número de AT: a parada da maioria dos processos produtivos no período. O percentual global de redução de subnotificação de AT no período avaliado foi de 49%. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 11 Figura 8 – Quantidade de AT por tipo e subnotifcados Fonte: Autores (2022) Figura 9 – Gráfico de Subnotificações de AT entre 2014 e 2021 Fonte: Autores (2022) No que tange o quantitativo de óbitos, a Figura 10 mostra a série histórica para esta situação dividida por tipo de AT. De maneira análoga ao comportamento da Figura 9, o maior índice de óbitos se dá nos acidentes típicos, seguidos dos acidentes de trajeto e, por fim, as doenças. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da Indústria Brasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 12 Salienta-se que o mesmo padrão de diminuição de mortes nos AT típicos e de trajeto durante a pandemia pode ser verificado, assim como o aumento dos óbitos pelas doenças. Figura 10 – Série temporal por tipo d Fonte: Autores (2022) Quando comparadas as taxas de mortalidade por AT do Brasil com países em desenvolvidos, fica claro que ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de Gestão de SST. Em 2019, segundo o Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho no Brasil, a taxa de mortalidade foi de 6/100 mil habitantes, enquanto na Alemanha era de 2/100 mil e na Suíça, de 1,1/100 mil (ILO, 2019). 5. Considerações Finais Este trabalho teve como objetivo analisar o perfil dos Acidentes de Trabalho no Brasil entre 2014 e 2021. Para tanto, foram utilizadas as bases de dados secundárias sobre o assunto em tela do Governo Federal, através do RADAR STI e do Ministério Público do Trabalho, através do Observatório de Saúde e Segurança no Trabalho. Os resultados indicaram que parar o intervalo de dados analisado, anos de 2014 a 2021, o número de Acidentes no Trabalho reduziu em 40%. Complementarmente, mostraram que São Paulo é o estado com maior contributo em termos de Acidente de trabalho, seguido de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. XLII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO "Contribuição da Engenharia de Produção para a Transformação Digital da IndústriaBrasileira" Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2022. 13 Quando se olha mais profundamente, a Indústria de transformação no país é onde se acontece mais Acidentes de Trabalho, o agente causador é o impacto de objeto contra pessoas e a parte do corpo do trabalhador mais afetada é o dedo, caracterizando, portanto, acidente típico, que também são responsáveis pelo maior número de óbitos no intervalo analisado. No que tange as subnotificações, o Brasil ainda tem muitos AT não registrados, embora, de 2014 a 2021, tenha tido uma redução de 49% em seu valor. Por fim, as altas taxas de AT no Brasil nos mostram um longo caminho a percorrer em termos de gestão de Saúde e Segurança no Trabalho, principalmente quando comparadas aos números dos países de primeiro mundo. REFERÊNCIAS BRASIL, L.A.D. 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