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1 
 
 
 
 
 
 
Geografia Urbana 
 
 
 
 
 
Aula 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Augusto dos Santos Pereira 
 
2 
 
 
Conversa inicial 
Prezado Aluno, para darmos continuidade aos nossos estudos de 
Geografia Urbana, trataremos hoje das cidades na história. Abordaremos 
brevemente as condições para o surgimento da cidade, da cidade na 
Antiguidade, com os exemplos de Atenas e Roma, da cidade medieval, da 
cidade industrial e da contemporânea. 
Ao falarmos da cidade, assim como entidade espacial, precisamos ter 
cuidado para entender que falamos de algo que apresenta mudanças radicais 
ao longo da história. As cidades, nos diferentes contextos históricos, requerem 
que tenhamos diferentes olhares para sua compreensão, como veremos 
adiante. 
Contextualização 
Sabemos que a Geografia Urbana estuda a cidade e o espaço urbano, 
coisas que são distintas, como será reiterado ao longo desta aula. A cidade, no 
entanto, tem mais de 5.000 anos. Um objeto de estudos como esse, 
provavelmente mudou significativamente ao longo do tempo. Isso nos coloca 
questões sobre como estudá-lo, compreendê-lo e ensiná-lo a nossos alunos. 
Essa é uma questão fundamental para nós professores. Precisamos ter uma 
boa compreensão da mudança da cidade na história para que possamos, com 
base nessa melhor compreensão, ser melhores professores e compartilhar, de 
maneira mais adequada, esse conhecimento com nossos alunos. Vejamos, 
portanto, como surgiu a cidade e, em seguida, alguns exemplos significativos 
de suas manifestações ao longo do tempo. 
Tema 1: Como surgiram as cidades? 
Os grupos humanos anteriores à Antiguidade, marcados pelo 
nomadismo e por um sistema rudimentar de divisão dos papéis sociais, em clãs 
ou tribos, garantiam sua subsistência pela coleta de alimentos e pela caça. 
Nesse contexto, a base física para a reprodução dessas sociedades era todo a 
porção da superfície terrestre alcançável e que desse condições para a coleta, 
a caça e a pesca, conforme as características técnicas de cada grupo. 
 
3 
 
Com a domesticação de animais e de plantas, com início da agricultura e 
da pecuária, houve a condição para a redução da importância do nomadismo 
nos grupos humanos e para a instalação do sedentarismo. Mais ainda, houve a 
possibilidade para excedente de alimentos, fato importante para o surgimento 
da cidade, como aponta Paul Singer: 
A produção do excedente alimentar é uma condição necessária [...] para o surgimento da 
cidade. É preciso ainda que se criem instituições sociais, uma relação de dominação e 
de exploração [...]. Isto significa que a existência da cidade pressupõe uma participação 
diferenciada dos homens no processo de produção e de distribuição, ou seja, uma 
sociedade de classes (Singer, 1973, p. 13). 
Como podemos observar pelo argumento de Paul Singer, essa condição 
de produção de excedente alimentar vem acompanhada de mudanças sociais 
e políticas. Estabelecem-se formas mais complexas de papéis para a 
dominação do excedente. De fato, o excedente produtivo tem efeito sobre 
diversas dimensões da vida: aumento das condições de saúde, aumento da 
longevidade, com implicações sobre o aumento do número de pessoas, 
necessidade de mudança da estrutura social, tendo em vista a urgência em se 
manter o excedente seguro de ataques invasores, conhecimento dos efeitos da 
astronomia sobre o clima e desse sobre a produção agrícola (conhecimento 
calcado em observações e interpretações religiosas, à época). 
Em tal quadro, há, portanto, um aumento de população dos grupos e 
diferenciação de seus papéis. Pode permanecer a existência do caçador, mas 
as habilidades daqueles que sabem manusear armas de caça agora são mais 
necessárias para guardar a produção pertencente ao grupo. Os curandeiros 
podem permanecer nesses grupos, mas são necessários sacerdotes, que 
precisam observar os sinais dos astros para emitirem suas profecias sobre as 
colheitas. A organização mais complexa e numerosa também precisa de uma 
estrutura de comando, capaz de julgar as questões quanto à propriedade do 
gado de diferentes pastores, a criar as estruturas de armazenamento e 
espaços para as trocas de bens produzidos, e a comandar os guerreiros que 
devem proteger todo esse sistema social. 
 
 
 
4 
 
Sobre esse aspecto, vejamos o que afirma Ângela Maria Endlich: 
 
As condições políticas e sociais que permitiram a divisão socioespacial do trabalho, 
originando a contraposição entre o rural e o urbano, existem há mais de 5.500 anos, ou 
seja, desde a Antiguidade. O que estava na essência dessa separação? A capacidade 
de produção de excedente dos produtos básicos para a sobrevivência, por parte de 
alguns homens, liberou outros desta atividade. Portanto, a história da divisão do 
trabalho, segundo sua natureza e pelo espaço onde eram exercidos diferentes papéis, 
conduziu a um contínuo desenvolvimento das formas de produção da existência do 
homem. (Endlich, 2006, p.11). 
Anteriormente havíamos falado de divisão do trabalho (caçador, coletor, 
cultivador, pastor, guerreiro, líder, curandeiro, sacerdote, etc.). Notemos, no 
entanto, que Ângela Endlich (2006) fala em divisão socioespacial do trabalho. 
Está aqui a questão do surgimento da cidade. A essa divisão social, que Singer 
(1973) aponta como surgimento de sociedade de classes, corresponde uma 
divisão espacial. O caçador, o pescador, o cultivador e o pastor estão nas 
áreas dispersas, onde há a produção. O sacerdote, o líder e os guerreiros, por 
sua vez, onde há concentração de pessoas, de recursos, de conhecimento e 
de poder, no espaço recentemente edificado, o espaço de comando da 
produção, que chamamos de cidade. 
De fato, a evolução das cidades parte de pequenos vilarejos permitidos 
nesse processo, mas que já demonstravam para a época essa divisão clara de 
conteúdo social (campesinos com seus papéis diferente dos aldeões ou 
citadinos e seus papéis) e forma (área edificada e concentrada diferente da 
área dispersa). 
A separação entre a cidade e o campo toma lugar entre as primeiras e fundamentais 
divisões do trabalho (a biológica e a técnica). Ela corresponde à separação entre o 
trabalho material e o trabalho intelectual, pois à cidade cabe funções de organização, 
direção, atividades políticas, militares e elaboração do conhecimento. Assim (...) a 
filosofia nasce da cidade. Portanto, só é possível o reconhecimento da diferença e o 
exercício de reflexão sobre o rural e o urbano, sobre a cidade e o campo em decorrência 
da mencionada divisão do trabalho. (Endlich, 2006, p.11). 
 
 
 
5 
 
Neste momento, portanto, observamos que a cidade é o espaço 
construído para a concentração de poder político e militar, de população, de 
edificações diversas, de conhecimento, de infraestruturas de armazenamento e 
de espaços de troca. Muitas dessas cidades, com o tempo, passaram a ser 
bem delimitadas por muros. 
Nelas havia um conteúdo social específico, o urbano, com sua cultura, modos 
de vida, economia, política e instituições próprias. 
Próprias, porque distintos do outro par, campo e rural. Se a cidade era a 
concentração de poder, o campo era o espaço da produção dos alimentos, dos 
insumos para as vestimentas e para o artesanato. Nesse campo, o rural é o 
seu conteúdo social claro, com seus modos de vida, dominado politicamente 
pelo comando advindo da cidade, com a produção econômica voltada para o 
atendimento das demandas da cidade e com papéis sociais voltados para essa 
produção. 
Tema 2: Como eram as cidades na Antiguidade? 
Poderíamos falar de diversas cidades da Antiguidade, as cidades 
hebréias, as cidades egípcias, as cidades mesopotâmicas, entre outras. Vamos 
nos ater, no entanto, à polis grega de Atenas e à cidade de Roma, dado o 
exemplo claro que elas prestam para a nossa compreensão da 
correspondência entre um tipo de formação sócio-histórica e suas cidades. 
Willian Ribeiro da Silva demonstracomo a cidade sempre esteve sintonizada 
com a sociedade que a produzia: 
O processo histórico de urbanização revela que as cidades, que surgiram há mais de 
5.000 anos, seguem a orientação do modo de produção ao qual estão vinculadas [...]. As 
cidades da Antiguidade, tanto orientais quanto as clássicas, possuíam lógicas que eram 
oriundas das sociedades escravistas com uma considerável concentração de poder, 
socialmente e espacialmente. Desta maneira, as cidades eram produzidas para melhor 
reprodução desta sociedade (Silva, 2006, p. 74). 
 
 
 
 
 
6 
 
As cidades da Antiguidade, portanto, concentravam poder e estavam 
intimamente atreladas aos regimes escravistas. Da leitura de Henri Lefebvre 
(1985), depreendemos que a cidade era uma obra. O poder expansionista 
grego e, posteriormente, o romano da Antiguidade estavam presentes nas suas 
cidades. Era marcante, portanto, a opulência. As marcas do poder, da grande 
riqueza e do domínio econômico, político, militar e cultural, são evidentes na 
cidade antiga, como mostra Munford: 
Começando como uma concentração de força de trabalho sob uma chefia firme, 
unificada e autoconfiante, a cidade ancestral foi, antes de tudo, um instrumento para a 
arregimentação de homens e para o domínio da natureza, dirigindo a própria 
comunidade para o serviço dos deuses. (Munford, 2004, p. 109). 
Nesse sentido, podemos observar a antiga cidade grega de Atenas. Na 
chamada Era de Ouro grega, entre os séculos VI e IV a.C., Atenas chegou ao 
seu apogeu na Antiguidade, constituindo-se a partir da Acrópole, que, de modo 
geral, significa “a cidade alta”, “a porção elevada da cidade”, como aponta 
Munford: 
Com sua Acrópole dominando toda a planície, e, contudo, a segura distância do mar, 
Atenas é a cidade grega arquetípica. A própria Acrópole é uma pedra de fortaleza, uma 
verdadeira cidadela, mas também um têmenos, um recinto sagrado destinado aos 
deuses, com suas antigas covas sepulcrais e cavernas do lado da colina, e muitos 
santuários sagrados e monumentos, agora obliterados, cuja existência explica, em parte, 
a colocação irregular das edificações (Munford, 2004, p. 109). 
Sobre a Acrópole, os gregos antigos erigiram o Parthenon, o grande 
templo para a deusa Atena, cercado por outros espaços sagrados. O conjunto 
da estética suave e grandiosa dos templos, em especial do Parthenon, 
associado à elevação da Acrópole, enfatizavam o papel religioso central de 
Atenas (Munford, 2004, p. 142). 
O comércio e os debates públicos ocorriam na Ágora, porção baixa, 
adjacente à Acrópole, com praças, mercado e diversos edifícios públicos. Das 
bases filosóficas clássicas e das atividades daqueles reconhecidos como 
cidadãos atenienses (não todos os habitantes) nos debates públicos ocorridos 
na Ágora, o Ocidente retirou muitos de seus fundamentos para a democracia. 
 
 
 
7 
 
A suntuosidade desses elementos, aos quais podemos ainda adicionar 
os anfiteatros gregos e dos templos a outros deuses, bem como as diversas 
obras, fontes e esculturas espalhadas pela polis, guarda íntima relação com as 
lógicas daquela sociedade, associada à sua cultura dedicada aos seus deuses, 
à sua filosofia, e à sua riqueza, oriunda do escravismo e de seu poder bélico, 
expansionista e colonizador. 
Esteticamente, os gregos utilizavam significativamente as colunas, as 
estátuas de dimensões humanas – diferentemente dos Egípcios, por exemplo, 
que faziam os seus deuses muito maiores –, preferindo os ângulos retos, as 
linhas retas e proporções matemáticas constantes, que reforçavam a sua 
noção de equilíbrio e harmonia. 
A cidade de Roma, por sua vez, teve suas bases fundadas no período 
da República, entre 509 a.C. e 27 a.C., e seu apogeu no Império, entre 27 a.C. 
e 476 d.C. 
Apresenta sua lógica também ligada ao expansionismo, agora romano, à 
dominação escravista, à valorização dos soldados, da conquista, ao culto aos 
deuses e à participação pública dos cidadãos, também um grupo seleto à 
época. 
Em seu apogeu, Roma chegou a ter por volta de um milhão de 
habitantes, elemento significativo, se pensarmos na necessidade de 
abastecimento de alimentos, fornecimento de água e retirada de resíduos. 
Roma se destacou, assim, por sua engenharia, com a construção de ruas 
pavimentadas, estradas, grandes aquedutos e sistemas de esgotos. De fato, 
essas obras eram de tal forma engenhadas que, ainda hoje, parte do sistema 
de esgoto da cidade de Roma passa pelas suas antigas fossas (Munford, 
2004). 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Roma é também conhecida como exemplo central da cidade da festa. 
Centenas eram seus dias de celebração e feriados em um ano. Estruturas 
tinham que ser feitas para esse ritmo de celebração, de uma cidade opulenta 
pela expansão de seu exército, domínio de áreas produtoras e pelo 
escravismo. Por conta disso, destaca Munford: 
Os anfiteatros eram suficientemente grandes e suficientemente numerosos para conter, 
juntamente com as arenas, teatros e banhos, a maior parte da população da cidade: 
mais do que se pode dizer mesmo do mais extravagante conjunto de tais edifícios hoje 
em dia. (Munford, 2004, p. 230, grifo nosso) 
Os banhos romanos, espaços fechados, com diversos anexos, em que o 
cidadão romano buscava banhos quentes, frios, massagens e salas para o 
convívio, usualmente associados a bibliotecas e ginásios (Munford, 2004). 
A riqueza dos grupos dominantes da cidade, abastecida pelo escravismo 
imperial, era tamanha que edifícios contavam com os chamados vomitórios, 
espaços dedicados a expelir rapidamente o alimento em noites de glutonaria, 
para que se pudesse voltar aos banquetes para mais comidas e bebidas. 
O grande marco do entretenimento romano, no entanto, é o Coliseu, 
estrutura que servia a apresentações diversas, entre elas as batalhas entre 
gladiadores. 
Ainda sobre a cidade romana, é importante destacarmos a muralha, que 
se não era um elemento preferencial das polis gregas, era algo marcante de 
Roma, bem como de diversas outras cidades erigidas pelo império (Munford, 
2004). Usualmente, o traçado da muralha era retangular. 
A cidade tinha uma estrutural axial, com duas ruas principais que se 
cruzavam em ângulo reto nas proximidades do centro. Nesse centro se 
encontrava o fórum romano, “equivalente romano da acrópole e da ágora, 
concebidos como uma só coisa” (Munford, 2004, p. 229). 
Segundo a tradição, era Roma constituída pela união de várias tribos estrangeiras nas 
colinas próximas, sob a liderança dos próprios romanos [...]. O símbolo dessa união [...] 
foi a fundação de um mercado comum (o Fórum), com um lugar de assembleia ou de 
comitium, que era também usado nos primeiros tempos para disputas atléticas e 
gladiatórias. Sem dúvida, um templo era parte essencial e original do Fórum, pois a “paz 
de mercado”, tão necessária à libre troca, era conservada tornando-se sagrada a própria 
área. 
 
9 
 
[...] 
O fórum romano não era simplesmente uma praça abeta. Tal como se desenvolveu em 
Roma, era antes todo um recinto, complexo no traçado, no qual santuários e templos, os 
prédios da justiça e as casas do conselho, e espaços abertos circundados por 
majestosas colunatas, desempenhavam um papel. Dentro desses espaços abertos, os 
oradores podiam dirigir-se a grandes multidões, ao passo que, para o tempo inclemente, 
grandes auditórios, as basílicas serviam para muitas finalidades (Munford, 2004, p. 244) 
Como podemos ver, o fórum era destinado a ser o centro da vida 
pública, não somente da cidade, mas do império. Além dele, outra marca da 
Roma antiga é o Panteon, conforme é definido por Munford. 
O Panteon [...], o mais belo monumento individual que Roma deixou, simboliza o poder e 
a aspiração de Roma nos seus melhores momentos. O interior, com sua cúpula aberta 
para o céu, traz uma profundeza de sentimento religioso [...]. No Panteon, os deuses dos 
países e cidades que Roma conquistava eram postos à vista:em seu tempo, uma 
espécie de museu vivo de religiões comparadas, algumas das quais, como o culto de Ísis 
e Serápis, ou a religião mitraica da salvação, se revelaram mais atraentes que os deuses 
de Roma, antes que o cristianismo as varresse para longe. (Munford, 2004, p. 230). 
Arquitetonicamente, destacam-se as colunas, a incorporação de 
algumas noções estéticas do helenismo, ou seja, da cultura grega antiga, 
adicionando-se os arcos, os obeliscos e as basílicas, com o teto em formato de 
abóboda, em que se buscava replicar um modelo de curvatura celeste sob o 
ponto de vista da observação humana. 
Atenas e Roma antigas 
Forma: Com obras suntuosas, opulentas, que marcam a grandiosidade 
política, militar e religiosa da cidade. 
Processo de urbanização: Os romanos fundavam várias cidades e 
incorporavam diversas cidades de povos dominados, para utilizarem como 
seus pontos de organização do território e arregimentação de militares, o que 
dava grande impulso à urbanização. 
No período das expansões de Alexandre Magno, inúmeras cidades 
foram fundadas, as chamadas Alexandrias, para as quais o império tinha a 
intenção de que se conformassem em centros comerciais e culturais, com base 
na cultura helênica. 
 
10 
 
Função: Militar, política, religiosa, de celebração. Não eram versadas na 
produção, que era estritamente campesina. 
Contexto: Dominação imperial escravista 
Elementos marcantes da paisagem urbana romana: Ginásios, 
teatros, anfiteatros, fórum, templos, panteão, obeliscos, basílicas, coliseu, 
banhos romanos, etc. 
Elementos marcantes da paisagem urbana ateniense: Ágora, 
acrópole, Parthenon, templos, teatros, anfiteatros, fontes, etc. 
Tema 3: Como eram as cidades medievais? 
Sabemos que, com a queda do Império Romano, em 476 d.C, houve um 
processo de desmantelamento das relações entre as diferentes cidades em 
que o espaço de antigo domínio romano, especialmente na Europa, passou 
pela instituição de um sistema que não era mais baseado no domínio de áreas 
distantes e do escravismo. Tratava-se do processo de instituição do 
feudalismo, período com crescimento da influência da igreja católica, certo 
rompimento, ainda que não linear, com parte das tradições estéticas e 
filosóficas da Antiguidade Clássica grega e romana. Neste vasto período, 
chamado de medieval, houve a ascensão das relações de suserania e 
vassalagem. 
Em vez da escravidão, foi marcante, no período, a servidão, em que o 
trabalhador da terra tinha status de servo, não podendo ser vendido como 
escravo, mas não tinha direito à terra em que trabalha, servindo-se dela, por 
permissão do senhor, que demandava obediência, cobrava-lhe taxas e serviços 
diversos, além de parte da produção. 
Trata-se de um período muito longo, que atravessa inúmeros séculos, 
com grandes diferenças geográficas e históricas. Esse quadro apresentado, no 
entanto, serve para que possamos ter um ponto de partida para avaliarmos as 
cidades da Idade Média. 
Na Alta Idade Média (476 d.C. a 1000 d.C.), com a queda do Império 
Romano, os anfiteatros são abandonados, por influência da Igreja. A retomada 
da arte circense e do teatro ocorreu com os artistas errantes somente a partir 
do século XII. Da mesma forma, o estádio não tinha mais razão de ser no início 
 
11 
 
da Idade Média, dado que o esporte passou a ser uma atividade da nobreza, 
eminentemente militar, como a “justa”, duelos de cavaleiros com lanças. Os 
fóruns não existiam mais; as discussões públicas, se aconteciam, ocorriam na 
igreja (Le Goff, 1998). 
Disso decorreu a centralidade das igrejas, dos monastérios, dos 
conventos e dos campanários, com o sino, nas cidades medievais. Somente 
com o desenvolvimento da burguesia, da monetarização da economia, da 
ascensão dos ofícios de artesanato e a generalização das feiras, é que a praça 
central tomou maior destaque nas trocas comerciais, bem como nas 
discussões políticas. 
A função de recrutamento militar diminuiu na cidade. Em parte, pela 
segurança conferida pelos castelos fortificados com muralhas e fossos, por 
outro lado, porque o sistema de suserania, vassalagem e servidão criava 
condições para que fossem arregimentadas forças militares conforme 
surgissem as demandas por proteção. Muitos exércitos medievais eram 
temporários. A capacidade administrativa e política das cidades também 
diminuiu significativamente, uma vez que os diferentes feudos se organizavam 
quase que isoladamente, comparados às grades redes do Império Romano, de 
maneira que a organização da produção nos feudos ligados às cidades 
fortificadas era muito mais simples (Le Goff, 1998). 
As cidades tinham um caráter marcadamente religioso, com predomínio 
dos mosteiros, conventos e igrejas católicas romanas. Culturalmente, as 
cidades medievais eram dominadas pela arte sacra, sobretudo na Alta Idade 
Média. 
Na chamada Baixa Idade Média, após o ano 1000 até 1473, no entanto, 
ocorreram mudanças significativas nas cidades europeias. 
Em um primeiro momento, houve uma maior articulação entre essas cidades, 
dados os avanços de integração sob o comando político dos reis e o 
crescimento das relações comerciais entre os diferentes burgos. Nesse 
contexto, ocorreu ainda um fenômeno muito marcante: a atração da produção 
para a cidade. Inúmeros artesãos passaram fazer itens diversos de consumo 
na cidade (instrumentos musicais, roupas, mobiliário, sapatos, etc.), utensílios 
 
12 
 
esses que buscavam atender às demandas mais exigentes que se 
estabeleceram entre os europeus após as cruzadas e o contato com os 
produtos de outras regiões, sobretudo da Ásia. 
O emprego de máquinas, como os moinhos, na Baixa Idade Média, 
permitiu a moedura de grãos e uvas, garantindo novos produtos como 
diferentes tipos de pães e vinhos para o comércio na cidade (Le Goff, 1998). 
Na Baixa Idade Média, vemos, assim, o surgimento da burguesia, essa 
classe livre, habitante das cidades, e voltada para diversas profissões, como o 
artesanato, a medicina, a engenharia, a advocacia, as operações financeiras, 
as artes, etc. (Le Goff, 1998). 
Também na Baixa Idade Média, notamos a instituição da escola em 
diversas cidades, em algumas voltadas inclusive para meninas, com a 
transformação das escolas monásticas e episcopais. Notamos, ainda, a 
formação das primeiras universidades, a partir do século XII, com aumento a 
partir do século XV (Le Goff, 1998). 
Por aspectos diversos, como esse desenvolvimento econômico burguês 
na Baixa Idade Média, com base nas trocas mediadas pela moeda (economia 
monetária), Le Goff (1988) considera que a cidade medieval tem mais relação 
com as cidades contemporâneas do que com as cidades da Antiguidade 
Clássica. 
A cidade medieval 
Forma: Cidades fortificadas, com infraestrutura menos gigantesca do 
que as apresentadas no Império Romano, ainda que com grandes 
desenvolvimentos arquitetônicos nas basílicas, nas praças e nas pontes. Ruas 
sinuosas crescentes, por vezes conectadas com malhas regulares restantes do 
império romano, ou projetadas por novos arquitetos para o centro das cidades. 
Cidades fortificadas, muradas, com a centralidade do castelo e da igreja. 
Processo de urbanização: Na Alta Idade Média, inflexão do tamanho 
das cidades, agora desconectadas do centro organizador que era Roma. Na 
Baixa Idade Média, houve o florescimento das cidades, com crescimento das 
atividades produtivas artesanais, das corporações de ofício, da economia de 
base monetária e da burguesia. 
 
13 
 
Função: Religiosa, centro organizador da produção agropecuária feudal 
(Baixa Idade Média), agregando a função de centro comercial e produtivo na 
Alta Idade Média, além de centro do conhecimento, com a instituição das 
universidades. 
Contexto: Feudalismo e subsequente ascensão da economia 
monetarizada, mercantil e artesanal do final da Idade Média. 
Elementos marcantes da paisagem urbana: Igrejas, campanários, 
com sinos, praçado mercado, muro, castelo. 
Tema 4: Quais são as características da cidade industrial 
moderna? 
A nossa análise sobre a cidade industrial não se baseia, de maneira tão 
sólida em um período histórico classicamente delimitado, no esquema Idade 
Antiga, Idade Média, Idade Moderna (1453-1789) e Idade Contemporânea (de 
1789 e ainda corrente). De fato, tratamos de eventos que começam no fim da 
Modernidade e se estendem por parte significativa da Contemporaneidade, 
geralmente ligadas à Primeira e à Segunda Revoluções Industriais e à Ordem 
do Imperialismo. 
Vimos na Antiguidade que a cidade não era definida especialmente 
como o lugar da produção. Não se trata de negar que, em algum lugar da 
cidade, um artesão poderia ou não fazer seus artigos de ferraria, por exemplo. 
Trata-se de destacar que isso não era uma de suas características definidoras. 
Na Antiguidade, com o escravismo, a produção era fundamentalmente algo do 
campo, enquanto restava à cidade o comando, a organização militar e poder 
religioso. Vimos que uma das novidades da Baixa Idade Média foi a 
incorporação da produção como uma das funções principais da cidade. As 
corporações de ofício, que ligavam artesão de diversas cidades, garantiam 
padrões elevados de produtos diversos. 
As oficinas urbanas desses artesãos contavam com seus aprendizes para 
reproduzir uma quantidade elevada de produtos para uma burguesia 
ascendente em uma economia recém monetarizada. 
 
 
 
14 
 
A indústria continua essa atribuição produtiva da cidade. No entanto, o 
princípio da indústria não foi eminentemente urbano. As primeiras indústrias se 
instalaram próximas a algumas fontes de energia, como o carvão, por vezes 
fora da cidade. Em seguida, ainda nos momentos iniciais da Primeira 
Revolução Industrial, as populações pobres, desterradas pelos cerceamentos 
das propriedades na Inglaterra, fizeram com que os entornos das indústrias 
fossem rapidamente tomados por aglomerações urbanas. Da mesma forma, 
muitas indústrias, precisando de mão-de-obra intensiva, instalaram-se dentro 
das cidades logo nas décadas subsequentes às primeiras experiências 
industriais (Lefebvre, 1985). 
Como vimos, a uma formação social, política, econômica e cultural 
grega, correspondia uma cidade grega, a polis. Da mesma forma, ocorria com 
Roma e com as cidades da Idade Média. A cidade capitalista industrial também 
apresenta, assim, as suas marcas e lógicas próprias. 
O capitalismo industrial foi, por um tempo considerável, o grande 
propulsor das mudanças políticas, sociais e econômicas, bem como 
geográficas de diversos países. Mudanças que afetaram a relação do homem 
com o ambiente, as questões de saúde, a longevidade, a dinâmica da 
acumulação de riquezas, a cultura, etc. 
No plano socioespacial, a industrialização também deixou claras as suas 
marcas. Lefebvre demonstra que a racionalidade industrial “toma de assalto” a 
cidade (LEFEBVRE, 1985). Para o filósofo, a cidade é reorganizada pelos 
arranjos político-econômicos dominantes para dar fluidez ao capital industrial, a 
exemplo das reformas de Hausmann em Paris, na segunda metade do século 
XIX. 
A reforma tratou, com lógica produtiva industrial, a cidade, separando as 
classes sociais no espaço da cidade e criando áreas distintas conforme a 
funcionalidade. Essa lógica produtiva industrial também operou uma mudança 
no padrão de arruamentos sinuosos de muitas cidades europeias, no momento 
do advento ruas mais amplas e retilíneas, como os bulevares. São as lógicas 
que permitiram ainda os centros de negócios, os primeiros arranha-céus, as 
infraestruturas para trens e automóveis. 
 
15 
 
Os limites da cidade, com o advento da Segunda Revolução Industrial, 
eram significativamente mais difusos. Na Idade Média, os limites dos muros 
marcavam a cidade, ou mesmo em cidades não muradas, a cidade era 
bastante compacta, dada sua delimitação relacionada a deslocamentos 
realizados a pé ou a cavalo. Nas cidades industriais, no entanto, com a 
chegada do automóvel e das redes técnicas de telecomunicação, no final do 
século XIX e início do Século XX, os limites urbanos se difundiram com 
pequenos fragmentos da cidade se estendendo a grandes distâncias do core 
urbano, entremeados por paisagens de campo (Endlich, 2006). 
O processo de crescimento da cidade é notável a partir da 
industrialização. A migração campo-cidade se torna cada vez mais acentuada, 
variando conforme diversos fatores, mas, entre eles, o processo de 
industrialização da cada país. Dessa forma, a migração campo-cidade foi 
acentuada nos países europeus que passaram pelas primeiras ondas de 
industrialização, seguindo-se dos Estados Unidos e do Japão, na segunda 
onda, e, em seguida, de diversos países do mundo, inclusive o Brasil, no 
século XX. Essa forte migração esteve tanto ligada a condições de repulsão no 
campo, como, por exemplo, o cerceamento das propriedades na Inglaterra, no 
século XVIII, como pela atração que a cidade fez com a possibilidade de 
emprego nas indústrias. 
Para entendermos o processo de transformação das cidades, podemos 
lançar mão da concepção de implosão/explosão da cidade de Henri Lefebvre. 
Para Lefebvre (1985), a implosão da cidade se refere ao fato de que a função, 
a forma e o conteúdo da cidade que prevaleceram em tempos pretéritos 
sucumbem sob a lógica industrial. A cidade foi rearranjada para refletir a lógica 
do capitalismo industrial. 
Da mesma forma, houve uma explosão da cidade, que não era mais compacta, 
pois seus fragmentos se lançaram a grandes distâncias dos centros, junto com 
uma difusão de valores urbanos para além dos limites da cidade. 
 
 
 
16 
 
Para Lefebvre (1985), ocorreu aqui uma distinção entre o urbano e a 
cidade. A cidade como elemento distintivo no espaço, delimitável em oposição 
ao campo, é a forma, enquanto o urbano é o modo de vida da cidade, o seu 
conteúdo social. 
Ocorreu, no entanto, que a explosão da cidade, provocada pela lógica do 
capital industrial, criou um cenário em que há tendência de virtual urbanização 
global. O urbano, portanto, passou a ter influência global, para além dos limites 
das cidades, deixando marcas até mesmo nos hábitos das comunidades rurais, 
ao mesmo tempo que os próprios limites das cidades se tornaram cada vez 
mais indistintos. 
A cidade industrial 
Estrutura e forma: Cidades que passam por um processo de 
reestruturação, com separação de funções e processo de separação das 
diferentes classes na cidade. A racionalização industrial toma a forma da 
cidade, com a abertura de vias amplas para o escoamento da produção. Os 
limites são mais difusos, não tão claros quanto no período medieval. 
Processo de urbanização: Crescimento da cidade dirigido pelo 
crescimento econômico industrial e pela migração, com a busca de novas 
condições de vida pela população vinda do campo. Altas taxas de crescimento 
urbano. A urbanização passa a ser também considerada como elemento 
difundido a partir da cidade, modos de vida racionalizados a partir da cidade 
levados para fora dela, em um mundo com tendência virtual de urbanização. 
Função: A cidade adiciona o papel da produção industrial, perdendo 
significativamente a sua capacidade de mediação das questões de diferentes 
classes, dado o aumento da segregação urbana. 
Contexto: Primeira e Segunda Revoluções Industriais; Imperialismo. 
Elementos marcantes da paisagem urbana: A indústria, os centros de 
negócios, os primeiros arranha-céus, as infraestruturas para trens e 
automóveis, ruas amplas. 
 
17 
 
Tema 5: O que há de novo nas cidades contemporâneas? 
A cidade contemporânea é desses elementos mais difíceis de serem 
tratados, sobretudo porque é mais complexo falar de algo no qual estamos 
vivendo hoje. 
Alguns apontamentos podem ser feitos: o papel do terciário na economia 
da cidade; o papel da cidade na organização da produção em escala local, 
regional e nacionale global; as novas escalas de grandeza da cidade; o 
espraiamento e a verticalização; o papel dos agentes imobiliários altamente 
capitalizados na produção da cidade; e a fragmentação social. Alguns desses 
pontos não são necessariamente exclusivos da cidade contemporânea, mas 
tomam novos contornos e proporções, conforme as características das 
sociedades hodiernas. 
Há algumas décadas, observamos que a indústria perdeu o seu papel de 
grande matriz econômica das cidades. Não podemos dizer que seja irrelevante, 
pelo contrário. No entanto, os serviços têm apresentado maior participação na 
formação econômica das cidades. Esses serviços variam significativamente em 
complexidade conforme a posição de cada cidade na rede global de cidades. 
Assim, Nova Iorque, Londres e Tóquio, por exemplo, contam com serviços 
avançados de comando do capital financeiro, não encontrados em cidades 
médias e mesmo em grandes cidades de países periféricos (Sassen, 1991). 
Isso coloca em evidência a globalização, a interconexão global de capitais, 
informação, bens de produção e pessoas, no contexto da nova divisão 
internacional do trabalho, em que os países ricos mantêm a produção do 
conhecimento, de patentes, artigos industriais de última geração, enquanto os 
países periféricos se industrializam, mas com fornecimento dos produtos das 
indústrias tradicionais ou, ainda, o fornecimento de commodities, com 
processos marcados pela fragmentação das etapas produtivas com a 
terceirização. 
Nessa escala internacional, com a globalização, notamos que diversas 
partes do mundo fazem hoje parte de um sistema produtivo altamente 
interconectado, com a manutenção das cadeias de comando superiores 
mantidas em pólos de países ricos. 
 
18 
 
Nesse contexto, ganha destaque a elevada taxa de urbanização de 
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento da África e da Ásia. 
Somadas as suas contribuições ao quadro urbano dos demais países, 
encontramos uma situação com número significativo de cidades milionárias, a 
partir de um milhão até o patamar de 10 milhões de habitantes, e de 
megacidades, com mais de 10 milhões de habitantes. 
Nesse ínterim, há os processos de conturbação, ou seja, a aglutinação 
de cidades vizinhas, que passam a criar uma unidade morfológica e funcional, 
como Juazeiro e Petrolina. Entre eles, há a formação de metrópoles, grandes 
centros conurbados de elevada hierarquia na rede de cidades e altamente 
conectados ao capitalismo globalizado e à organização regional da produção 
em diversos países, como Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, 
entre outras cidades brasileiras. Além disso, há as megalópoles, regiões 
altamente adensadas e amplas, com diversos centros metropolitanos com 
paisagem e função urbanas contíguas, sem relevantes interstícios rurais, como 
San-San, Boshwash e Chippits, nos Estados Unidos. Esses processos fazem 
com que dimensão da urbanização tome uma escala jamais vista 
anteriormente. 
O espraiamento da cidade, possível com a economia industrial e a 
popularização do automóvel, ganhou novos contornos com as novas redes 
técnicas, sobretudo as informacionais, que afetam significativamente a 
localização de diversos empreendimentos. Em cidades europeias, por exemplo, 
a localização de grandes empresas de tecnologia da informação e de grandes 
condomínios da classe média tem ocorrido fora da mancha urbana principal, 
dada a maior autonomia locacional desses núcleos empresarias por conta das 
redes de comunicação (Piorr et al., 2011). 
Entre os diversos atores de produção do espaço urbano, têm destaque 
atualmente os agentes imobiliários. Em diversas cidades de porte médio e 
grande, os agentes imobiliários bastante capitalizados, com ações em bolsas 
de valores e influência sobre as gestões das cidades, ditam os ritmos e as 
formas de crescimento do espaço urbano. 
 
19 
 
Quanto à fragmentação social, precisamos deixar claro que essa esteve 
presente de uma ou de outra maneira nas diferentes formas de cidade ao longo 
do tempo. 
Desde a racionalização industrial da cidade, a exemplo das reformas de 
Hausmann, essa fragmentação tem tomado novas proporções. De fato, em 
Paris, por exemplo, durante parte do Século XIX, antes dessas reformas, 
pobres, classe média e alguns ricos dividiam muitos dos mesmos bairros. Os 
edifícios franceses geralmente tinham os mais ricos morando na sua parte 
baixa e os mais pobres, no mesmo prédio, nos andares mais elevados. 
Os estudos atuais apontam para novas proporções dos fenômenos de 
segregação urbana. Tratam-se, assim, dos shoppings, dos espaços exclusivos 
para classes alta e média alta, das ruas particulares, dos grandes condomínios, 
do esvaziamento dos espaços públicos, da formação de guetos, da 
gentrificação – substituição gradual das populações pobres por outras 
solváveis, em que a chegada das novas classes contribui para o encarecimento 
das condições de vida e exige que os pobres mudem para mais longe –, da 
periferização e da favelização. Esse contexto é abordado por David Harvey, 
como podemos observar: 
As cidades sempre foram lugares de desenvolvimentos geográficos desiguais (às vezes 
de um tipo totalmente benevolente e entusiasmante), mas as diferenças agora proliferam 
e se intensificam de maneiras negativas, até mesmo patológicas, que inevitavelmente 
semeiam a tensão civil. A luta contemporânea de abserver o mais-valor durante a fase 
frenética de construção da cidade (basta observar o horizonte das cidades de Xangai, 
Mumbai, São Paulo, Cidade do México) contrasta dramaticamente com o 
desenvolvimento de um planeta onde favelas proliferam. (Harvey, 2013, versão Kindle, 
posição 514 de 2403). 
Alguns desses pontos, como a segregação social, não são 
necessariamente exclusivos da cidade contemporânea. As dinâmicas de 
urbanização em meio à globalização, no entanto, implicam naturezas 
específicas do atual momento e dimensões superiores às evidenciadas 
anteriormente, dada maior participação da população urbana no mundo 
atualmente. 
 
 
20 
 
A cidade contemporânea 
Estrutura e forma: Cidades com o core urbano altamente densificado, 
com participação significativa da verticalização no centro de negócios, aliado 
ao espraiamento das manchas urbanas. 
Processo de urbanização: A urbanização aliada aos investimentos do 
capital globalizado em diversas frentes, com destaque para os serviços. 
Crescimento das cidades em ritmo acelerado em países pobres, e menos 
acelerado em países ricos. Maior ritmo de crescimento urbano na África e na 
Ásia. Crescimento significativo das cidades milionárias e das megacidades. 
Crescimento do processo de favelização, periferização e segregação social 
urbana. 
Função: Organização da produção e dos fluxos de capitais em nível 
local, regional, nacional ou global, conforme a posição na rede global de 
cidades. Perda do poder de sua função de mediação social com a 
fragmentação social urbana. 
Contexto: Globalização e nova divisão internacional do trabalho. 
Elementos marcantes da paisagem urbana: Os shoppings, os 
arranha-céus, os megacondomínios, etc. 
Síntese 
Ao longo desta aula, vimos o surgimento da cidade, atrelado à produção 
de excedentes agrícolas, à sedentarização, à formação de uma sociedade de 
classes e à divisão social e espacial do trabalho. Vimos elementos importantes 
da cidade de Atenas (Acrópole, Ágora e Parthenon) e de Roma (Panteão, 
fórum, muros, sistemas de engenharia, etc.) na Antiguidade, ligados ao seu 
sistema sócio-histórico escravista e expansionista. 
Observamos, ainda, a cidade na Idade Média, cercada por suas 
muralhas, com seu castelo e participação central da igreja, seguida por um 
período de ascensão dos negócios, de surgimento da burguesia e incorporação 
da função produtiva com os artesãos. Em seguida, observamos alguns efeitos 
da lógica industrial sobre a cidade, dando destaque para as reformas de 
Hausmann, esseprocesso que serviu de modelo para experiências de 
urbanização em todo o mundo. 
 
21 
 
Por fim, observamos a cidade contemporânea, com a emergência das 
megacidades, o crescimento vertiginoso de cidades na África e na Ásia, o 
poder dos agentes imobiliários, a economia urbana mais ligada ao terciário, a 
fragmentação urbana, com os processos de segregação das classes, a 
presença de significativas densidades nas áreas verticalizadas em contraste 
com o espraiamento cada vez mais difuso das cidades. 
 
Referências 
 
ENDLICH, A. M. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: SPOSITO; M. E. B.; 
WHITACKER, A. M. Cidade e campo: relações e contradições entre o 
urbano e o rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 
 
HARVEY, D. A liberdade da cidade. In: Harvey et al. Cidades rebeldes. 
Versão Kindle. São Paulo: Boitempo, 2013. 
 
LE GOFF, J. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São 
Paulo: Ed. Unesp, 1998. 
 
LEFEBVRE, Henry, O direito à cidade. São Paulo: Ed. Moraes, 1985. 
 
MUNFORD, L. A cidade na história. 4ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2004. 
 
PIORR, A. et al. Peri-urbanisation in Europe: towards European policies to 
sustain urban-rural futures. Copenhagen: University of Copenhagen. 2011. 
Disponível em: <http://www.plurel.net/Synthesis_report_Peri-urbani_-
sation_in_Europe-115.aspx>. Acesso em: 20 fev. 2016. 
 
SASSEN, S. The Global City: New York, London, Tokyo. Princeton: Princeton 
University Press, 1991. 
 
 
22 
 
SILVA, W. R. Reflexões em torno do urbano no Brasil. In: SPOSITO; M. E. B.; 
WHITACKER, A. M. Cidade e campo: relações e contradições entre 
o urbano e o rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 
 
SINGER, P. Economia política da urbanização. São Paulo: Brasiliense, 1973.

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