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Blocos de fundação João Crisóstomo dos Santos Neto Estruturas de Fundações Capítulo 5 Introdução Os blocos podem ser caracterizados como um elemento de fundação que apresenta uma base geralmente quadrada ou retangular eque têm a função de distribuir as cargas proveniente dos pilares aos elementos de fundações profundas, tais como as estacas e os tubulões. O dimensionamento dos blocos de fundação é semelhante ao das sapatas, diferenciando-se pelo fato de se ter cargas concentradas no bloco devido à reação das estacas. O comportamento estrutural e o dimensionamento dos blocos dependerãoda sua classificação quanto à rigidez, tendo como base os mesmos critérios das sapatas. Dessa forma, os blocos são classificados como flexíveis ou rígidos. Objetivos Após os estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • verificar a importância dos blocos de fundação; • observar o comportamento estrutural dos blocos de fundação; • dimensionar um bloco de fundação sobre duas estacas. Esquema 5.1 Blocos de fundação 5.1.1 Comportamento estrutural dos blocos 5.2 Método das bielas 5.2.1 Inclinação das bielas 5.3 Bloco de fundação sobre duas estacas 5.4 Considerações finais 88 Uniube Blocos de fundação 5.1 De acordo com a NBR 6118 (2014), os blocos de fundação podem ser caracterizados como estruturas de volume, responsável por transmitirem às estacas e aos tubulões as cargas neles resultantes. Os blocos podem ser classificados como rígidos ou flexíveis, conforme critério idêntico ao das sapatas. Veja Figura 1 a seguir: Figura 1 – Blocos de fundação Fonte: Elaborado pelo autor. Os blocos de fundação podem ser dimensionados para n estacas. A capacidade de carga desse elemento de fundação e a característica do solo influenciarão o número de estacas necessárias. No caso de pequenas edificações, onde a carga proveniente do pilar é pequena, geralmente se utiliza uma ou duas estacas. Já para as grandes obras, é comum que se utilizem mais de duas estacas. Uniube 89 Método das bielas 5.2 O método das bielas é caracterizado por admitir no interior do bloco uma treliça espacial que é constituída de: • barras tracionadas (tirantes), situadas no plano médio das armaduras. Esse plano é horizontal e se localiza acima do plano de arrasamento das estacas; • barras comprimidas e inclinadas (bielas). As bielas têm suas extremidades de um lado na intersecção com as estacas do outro na interseção com opilar. Nos casos de blocos de fundação, submetidos a cargas não centradas, o método das bielas também poderá ser utilizado com Comportamento estrutural dos blocos5.1.1 Ainda de acordo com a NBR 6118 (2014), os blocos de fundação rígidos são caracterizados pelo: • trabalho à flexão nas duas direções, mas com trações essencialmente concentradas nas linhas sobre as estacas; • forças transmitidas do pilar para as estacas, essencialmente por bielas de compressão, de forma e dimensões complexas; • trabalho ao cisalhamento também em duas direções, não apresentando ruínas por tração diagonal, e sim por compressão das bielas, analogamente às sapatas. A NBR 6118 (2014) estabelece que para os blocos de fundação flexíveis deve ser realizada uma análise mais completa, que vai desde a distribuição dos esforços junto às estacas, dos tirantes de tração, até a verificação da punção. 90 Uniube a estaca mais carregada desde que se trabalhe com as formulações de equilíbrio de forças. Inclinação das bielas5.2.1 O bloco de fundação deve permitir a ancoragem das barras longitudinais dos pilares, bem como ter altura necessária para que seja possível a transmissão direta do carregamento, que vai desde a base do pilar até o topo das estacas, através das bielas comprimidas. Dessa forma, é recomendado que o ângulo de inclinação das bielas obedeça ao seguinte critério: Bloco de fundação sobre duas estacas 5.3 Primeiramente, deve ser verificada a força atuante nas estacas conforme Figura 2 a seguir: Figura 2 – Força atuante nas estacas Fonte: Elaborado pelo autor. Uniube 91 Para determinar a força máxima que atua nas estacas, é necessário utilizar a seguinte expressão: em que: 1,02 = coeficiente relacionado ao peso próprio do bloco e do solo sobre o bloco. Após, calcula-se a força atuante sobre o bloco. Para isso, deve-se multiplicar a força máxima pela quantidade de estacas utilizada e pelo coeficiente de majoração de segurança (1,4). Em seguida, deve-se calcular a altura do bloco. Para que as bielas comprimidas não apresentem risco de ruptura por punção, deve-se obedecer à condição de que 40º ≤ α ≤ 55º, conforme já explicado anteriormente. Pode-se determinar o ângulo α através da seguinte expressão: em que: ap = dimensão do pilar e = distância entre os centros das estacas. 92 Uniube Dessa forma, tendo como base a variação do ângulo α, dMÍN e dMÁX podem ser determinados utilizando as seguintes expressões: Segundo a NBR 6118 (2014), é necessário que o bloco de fundação tenha uma altura que seja capaz de permitir a ancoragem da armadura de arranque dos pilares. Para isso, devemos considerar a Tabela 1 a seguir: CONCRETO SEM GANCHO COM GANCHO C15 53Ø 37Ø C20 44Ø 31Ø C25 38Ø 26Ø C30 33Ø 23Ø C35 30Ø 21Ø C40 28Ø 19Ø C45 25Ø 18Ø C50 24Ø 17Ø Tabela 1 – Comprimento de ancoragem Fonte: Adaptado de ABNT – NBR 6118 (2014). É importante ressaltar que a armadura longitudinal vertical do pilar estará ancorada no interior do pilar desde que: em que: lb = comprimento de ancoragem do pilar. Uniube 93 Quando d <lb, podemos fazer um “colarinho”, que consiste no alargamento da seção do pilar sobre o bloco, no intuito de aumentar a altura para a ancoragem da armadura do pilar. Figura 3 – Colarinho Fonte: Elaborado pelo autor. A altura total do bloco será determinada por: Sendo que é igual a: ou em que: 94 Uniube Após a determinação da altura do bloco de fundação, deve-se fazer a verificação das tensões atuantes. Para isso, inicia-se com o cálculo da tensão limite: em que: Kr = coeficiente que considera a perda de resistência do concreto ao longo da sua vida útil em função das cargas permanentes. Esse coeficiente varia de 0,9 a 0,95. Para eliminar a chance de esmagamento do concreto, as tensões atuantes nas estacas e no pilar devem ser inferiores à tensão limite. Após o cálculo da tensão limite, deve-se calcular a tensão de compressão na biela relativa à estaca: em que: Após o cálculo da tensão atuante no pilar, deve-se calcular a tensão de compressão na biela relativa ao pilar: em que: Uniube 95 Após a verificação das tensões atuantes, inicia-se o cálculo da armação necessária para o bloco de fundação. A armadura principal, que fica disposta sobre o topo das estacas, pode ser encontrada através da seguinte equação: Segundo a NBR 6118 (2014), as armaduras de laterais (pele) e as superiores são obrigatórias em blocos de fundação com duas ou mais estacas dispostas em uma única linha. Em casos de blocos com grande volume, é necessária uma análise da necessidade de armaduras complementares. A armadura superior pode ser determinada como uma parcela de 20% da armadura principal: Já a armadura de pele pode ser obtida através da expressão a seguir: em que: B = largura do bloco. 96 Uniube Exemplificando Dimensione as armaduras de um bloco para um pilar de 25 x 35 cm, com carga igual a 750 kN, sobre duas estacas com capacidade de carga de 400kN e diâmetro de 35 cm. Considere ainda: Mx = 430kN My = 460kN Classe de Concreto:C25 Diâmetro das barras do pilar: 20mm - Kr: 0,95 → Determinar as dimensões do bloco: → Determinaçãoda força máxima que atua nas estacas: → Determinação da força sobre o bloco Uniube 97 → Determinação da altura do bloco (Não OK) Como d <lb, deve-se fazer um “colarinho”, que consiste no alargamento da seção do pilar sobre o bloco, no intuito de aumentar a altura para a ancoragem da armadura do pilar 98 Uniube → Verificação das tensões: • Tensão limite• Tensão atuante na estaca • Tensão atuante no pilar → Determinação da armadura do bloco: • Armadura principal Uniube 99 • Armadura superior • Armadura de pele Considerações finais 5.4 Neste capítulo, foram apresentados os critérios que devem ser considerados no momento do dimensionamento dos blocos de fundação. Os blocos de fundação podem ser dimensionados para n estacas. A capacidade de carga desse elemento de fundação e a característica do solo influenciarão o número de estacas necessárias. 100 Uniube Resumo Neste capítulo, finalizamos o nosso estudo referente ao blocos de fundação dando destaque: • à conceituação dos blocos de fundação; • ao comportamento estrutural dos blocos de fundação; • ao estudos do método das bielas; • ao dimensionamento de um bloco de fundação sobre duas estacas. Uniube 101 Referências ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2014 – Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. Referências