Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

ECOLOGIA E GESTÃO DOS 
RECURSOS NATURAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prezado(a) aluno(a)! 
Quando se trata de meio ambiente, é comum usar a extrema fragilidade do 
planeta como argumento contra a intervenção humana. Acredite ou não, é mais 
correto dizer que projetamos nossas próprias vulnerabilidades e limitações na 
Terra. 
Após a Segunda Guerra Mundial, o impacto da presença humana no planeta 
aumentou em decorrência do crescimento populacional e das novas técnicas de 
produção industrial. Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas estão se 
conscientizando das ameaças que enfrentamos e o uso descontrolado dos recursos 
ambientais podem causar sérios problemas, como efeito estufa, destruição da 
camada de ozônio, falta de recursos hídricos, etc. Uma lição importante desse novo 
reconhecimento é que não apenas os governos e a indústria, mas cada um de nós, 
desempenha um papel vital na manutenção da vida na Terra, e que 
pequenos esforços podem ser feitos em prol desse objetivo. 
Diante dessa perspectiva, desde muito cedo na história humana, a Ecologia 
já se mostrava de interesse prático. Para sobreviver na sociedade primitiva, todos 
os indivíduos precisavam conhecer o seu ambiente, ou seja, as forças da natureza 
e os vegetais e animais a sua volta. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
AULA 05 – DINÂMICA DE 
POPULAÇÕES, 
SUCESSÃO ECOLÓGICA 
 
 
6 POPULAÇÃO 
A ação dos fatores ecológicos não se restringe à existência individual dos 
organismos, mas afeta igualmente a estrutura e o funcionamento de um nível de 
organização da vida superior e mais abrangente, com leis e características próprias: 
a população. 
Uma população é um grupo de indivíduos da mesma espécie que vivem na 
mesma área, ao mesmo tempo. Para que esse grupo seja realmente considerado uma 
população, é importante que seus indivíduos sejam capazes de produzir 
descendentes potencialmente férteis. Montanhas, rios, lagos e estradas são barreiras 
que explicam a existência de múltiplas populações de uma mesma espécie (SEDUC, 
documento online). 
Os membros de uma população podem apresentar três formas de distribuição 
no seu habitat: ao acaso, uniforme ou agregada. 
A distribuição ao acaso, é aquela em que a posição de cada indivíduo é 
independente de todos os outros. É comum entre muitas espécies de plantas e 
animais que costumam viver isolados e representa uma proteção relativa contra os 
predadores, uma vez que a posição atual da presa é imprevisível e a captura anterior 
de uma presa não fornece ao predador nenhuma informação sobre onde estarão as 
outras. Menos frequente na natureza é a distribuição uniforme, onde os indivíduos 
estão igualmente espaçados entre si, como as árvores numa plantação. Surge como 
consequência da alopatia e da competição, principalmente entre animais territoriais. 
O espaçamento evita a superpopulação e garante — ao dono do espaço — suficiente 
quantidade de alimentos, material de construção de ninhos e água para a própria 
sobrevivência (SEDUC, documento online). 
O agrupamento tem várias vantagens adaptativas em relação ao espaçamento 
uniforme, pois facilita a defesa coletiva contra predadores e a busca de parceiros. 
Além disso, alguns animais do rebanho capturam mais comida. Por outro lado, tem a 
desvantagem de promover a transmissão de doenças e promover o rápido 
esgotamento dos recursos ambientais quando eles se tornam escassos. 
Espera-se que a proporção de machos para fêmeas seja a mesma em qualquer 
população. Mas nem sempre isso acontece. A população finlandesa de lemingues tem 
apenas 25 machos. Uma ave típica do Texas, a enguia de cauda branca, 50% dos 
 
 
juvenis são machos, mas apenas 29% dos adultos são machos. Essas discrepâncias 
nas relações entre os sexos, evidenciam pressões específicas da seleção natural que 
influenciam o comportamento reprodutivo e até as interações sociais entre muitos 
vertebrados. Uma porcentagem maior de fêmeas pode reduzir a competição entre os 
machos e promover a formação de haréns, como ocorre entre os leões-marinhos. A 
contrapartida negativa dessa situação é a diminuição da variabilidade genética da 
população, já que os genes de um só macho são compartilhados por várias fêmeas. 
Em seu ambiente natural, as populações oscilam de geração a geração. Mas, 
considerando um período maior, sua tendência é manter o tamanho constante 
(SEDUC, documento online). 
6.1 Populações conectadas pela dispersão 
 
Os organismos variam muito em sua capacidade de se mover. Por exemplo, nas 
plantas, a dispersão ocorre quando as sementes saem da planta mãe. Embora 
eventos como tempestades consigam transportar sementes por distâncias longas (de 
centenas de metros a muitos quilômetros), as distâncias de dispersão de plantas em 
geral são pequenas (de um a algumas dezenas de metros). Em alguns casos, as 
distâncias de dispersão são tão pequenas que fica difícil interpretar como 
movimentação. Por exemplo, sementes de Viola odorata, típica de ambiente florestal, 
são dispersas por 0,002 a 0,02 m quando as formigas não estão presentes; quando 
estão presentes, as formigas podem transportar essas sementes por alguns metros. 
Quando distâncias de dispersão são pequenas, as populações de indivíduos que 
interagem com frequência são encontradas em áreas pequenas. No outro lado do 
espectro, algumas espécies de baleias viajam dezenas de milhares de quilômetros 
em apenas um ano. Ao todo, a extensão espacial de populações varia 
tremendamente, de muito pequenas em organismos que dispersam pouco, até́ muito 
grandes em espécies que viajam distâncias grandes (ODUM, 2020). 
Finalmente, tenha em mente que uma população pode existir em uma série de 
fragmentos de habitat, espacialmente isolados uns dos outros, mas estão ligados por 
dispersão. Essa estrutura populacional “fragmentada” pode resultar de características 
do ambiente abiótico. Ela também pode resultar de ações humanas que subdividem 
populações outrora contínuas. Por exemplo, as charnecas (urzais) na Inglaterra já 
 
 
cobriram grandes áreas contínuas, mas nos últimos 200 anos o desenvolvimento de 
fazendas e de áreas urbanas reduziu drasticamente a aérea de ocorrência dessas 
plantas. Em alguns casos, a fragmentação gera porções tão isoladas que pouca 
dispersão pode ocorrer entre elas, dividindo, assim, uma grande população em uma 
série de populações menores. 
6.2 O que são indivíduos? 
Uma população pode cobrir uma única região cuja extensão depende da 
capacidade de dispersão da espécie, ou pode conter uma série de manchas 
espacialmente separadas ligadas pela dispersão. Determinar a extensão espacial das 
populações pode ser difícil em muitas espécies com capacidades de dispersão pouco 
conhecidas. Além disso, para muitos organismos pode ser difícil até determinar o que 
constitui um indivíduo (ODUM, 2020). 
Como pode haver confusão sobre o que é um indivíduo? Considere as árvores 
de álamos, como em muitas espécies vegetais, um indivíduo de álamo pode produzir 
cópias geneticamente idênticas, ou clones. O álamo produz clones a partir de gemas 
das raízes, enquanto espécies como o cravo da índia e o morango o fazem formando 
novas plantas a partir de gemas localizadas em caules horizontais ou estolões .Entre 
os animais, muitos corais, anêmonas e hidrozoários podem formar clones de 
indivíduos geneticamente idênticos, assim como algumas rãs, peixes, lagartos e 
muitos insetos. Alguns clones de plantas podem crescer até tamanhos enormes ou 
viver por períodos extremamente longos. 
Para lidar com as complicações decorrentes da clonagem, os biólogos que 
estudam esses organismos definem os indivíduos de diferentes maneiras. Por 
exemplo, um indivíduo pode ser definido como o produto de um único evento de 
fertilização. De acordo com essa definição, um bosque de álamos geneticamente 
idênticos são,na verdade, um único indivíduo ou gene genético. No entanto, os 
membros geneta são fisiologicamente independentes uns dos outros, e muitos podem 
competir por recursos. Esses membros latentes ou verdadeiramente independentes 
são chamados de rametas. Por exemplo, em morangos, as plantas com raízes são 
consideradas rametas, porque podem sobreviver sem estarem conectadas ao 
restante do geneta. Enxergar um canteiro de morangos ou um bosque de álamos 
 
 
como um indivíduo, ou um grupo, depende do nosso interesse. Se estivermos 
interessados em mudanças evolutivas ao longo do tempo, o nível geneta parece ser 
o mais apropriado. No entanto, se quisermos saber como essas unidades físicas 
independentes competem, o nível de rameta pode ser o mais adequado. Após definir 
as populações e considerar algumas peculiaridades que tornam seu estudo mais 
complexo, estudaremos os fatores que influenciam onde essas populações são 
encontradas e quantos indivíduos a constituem (ODUM, 2020). 
6.3 Amplitude geográfica 
Diversos fatores, incluindo a presença de habitat adequado, a história geológica 
e evolutiva, bem como a dispersão, pode limitar a distribuição das espécies. De fato, 
é de se esperar que, em muitos casos, vários ou mesmo todos esses fatores estejam 
atuando ao mesmo tempo, influenciando a área de ocorrência de uma espécie. Como 
resultado desses fatores, algumas são restritas a uma pequena área geográfica, 
enquanto outras têm ampla distribuição. No entanto, independentemente de as 
espécies viverem em áreas geográficas pequenas ou grandes, nenhuma delas pode 
viver em todos os locais, porque grande parte da Terra não tem habitat suficiente para 
todas elas. 
6.4 As amplitudes geográficas variam entre as espécies 
A amplitude geográfica de uma espécie é a totalidade das regiões geográficas 
nas quais ela é encontrada. Apesar de nenhuma ser encontrada em todos os locais 
do planeta, existe uma considerável variação nos tamanhos das amplitudes 
geográficas delas. Exemplos de espécies com amplitude geográfica pequena 
incluem o pupfish-do-poço do diabo que vive em um único lago natural no deserto. 
Muitas plantas tropicais também tem amplitude geográfica pequena. Esse último 
aspecto foi ilustrado drasticamente em 1978, quando 90 novas espécies de plantas 
tropicais foram descobertas no topo de uma única montanha no Equador, todas com 
amplitude geográfica restrita aquele topo (GASTON, 2003). 
Outras espécies, como os coiotes, vivem em praticamente todo um continente 
(América do Norte), enquanto outras, como os lobos-cinza, em pequenas porções 
 
 
de vários continentes (América do Norte e Eurásia). Relativamente poucas espécies 
são encontradas em todos ou na maioria dos continentes. Algumas espécies 
marinhas, incluindo invertebrados com larvas planctónicas e as baleias, apresentam 
amplitudes geográficas amplas. Contudo, ainda que os tamanhos das amplitudes 
variem bastante, o padrão nos oceanos é semelhante ao que se encontra em terra, 
e a maioria das espécies marinhas tem uma amplitude geográfica relativamente 
pequena (GASTON, 2003). 
A amplitude geográfica de uma espécie inclui as áreas que ela ocupa durante 
todas as fases da vida. É muito importante manter isso em mente para aquelas 
espécies que migram e para as espécies pouco conhecidas. Por exemplo, se 
desejarmos proteger as populações da borboleta-monarca, temos que nos certificar 
de que as condições sejam favoráveis em seu local de reprodução durante o verão, 
assim como no local de hibernação. Em alguns casos, entendemos pouquíssimo 
sobre a distribuição de um organismo, pois ele pode ter muitos estágios de vida difíceis 
de encontrar ou de estudar, o que é verdadeiro para muitos fungos, plantas e insetos 
(ODUM, 2020). 
Embora possamos saber em que condições um organismo adulto vive, ainda 
não sabemos como e onde ele vive em outros estágios da vida. De fato, isso 
aconteceu no caso das borboletas-monarca. Os biólogos sabiam que essas 
borboletas migravam do Sul para o Leste da América do Norte a cada primavera, mas 
levaria quase 120 anos (1857 a 1975) até que descobrissem seus locais de inverno 
nas montanhas a oeste da Cidade do México (ODUM, 2020). 
6.5 Populações possuem distribuições fragmentadas 
Mesmo na amplitude geográfica de uma espécie, muitas regiões não 
apresentam hábitats apropriados para as espécies. Como resultado, as populações 
tendem a ter uma distribuição naturalmente fragmentada. Essa observação serve para 
as escalas espaciais grandes e pequenas. Em terra, por exemplo, em escalas 
espaciais maiores, o clima restringe onde as populações de uma espécie estão 
localizadas. Em escalas espaciais menores, fatores como topografia, tipo de solo, bem 
como a presença ou a ausência de outras espécies, impedem que as populações 
sejam distribuídas de modo uniforme por toda a paisagem (ODUM, 2020). 
 
 
Um exemplo nítido da fragmentação em diferentes escalas espaciais é 
fornecido pelo trabalho de Ralph Erickson, realizado com a herbácea perene Clematis 
fremontii. Essa espécie é encontrada em regiões do Kansas, de Nebraska e do 
Missouri. Erickson estudou a distribuição delas no Missouri, onde ela é encontrada em 
uma área restrita na parte leste do Estado, ocorrendo apenas em solo seco e rochoso, 
que sustenta poucas árvores em áreas arborizadas, que são chamadas de clareiras, 
onde ocorrem em afloramentos de calcário, localizados nas encostas, voltadas para o 
Sul ou o Oeste. Essas clareiras estão agrupadas em aglomerados, quando vistas pela 
perspectiva da amplitude de espécies, no leste do Missouri. 
A distribuição delas se mantém agrupada, mesmo com a diminuição da escala 
espacial. Plantas individuais também são encontradas em agrupamentos, na forma 
de grupos de indivíduos e como um conjunto de indivíduos em um desses grupos. 
Clematis fremontii requer um hábitat muito particular, encontrado apenas em partes 
de sua amplitude geográfica, portanto, suas populações têm uma distribuição 
altamente fragmentada (ODUM, 2020). 
Outras espécies toleram maior amplitude de ambiente, mas suas abundâncias 
ainda variam dentro de sua amplitude geográfica. A distribuição dos cangurus 
vermelhos (Macropus rufus) em regiões áridas da Austrália ilustra esse ponto. A 
abundância deles varia ao longo de sua amplitude geográfica, que inclui diversas 
regiões de alta densidade e diversas áreas onde cangurus-vermelhos não são 
encontrados. 
 
6.6 Distribuição dentro de populações 
Os agregados de indivíduos de Clematis fremontii, encontrados em clareiras 
fornecem um exemplo da distribuição, ou arranjo espacial, de indivíduos numa 
população. Podem-se reconhecer três padrões básicos de como os indivíduos de uma 
população são posicionados em relação mutualmente. Em alguns casos, membros de 
uma população possuem distribuição regular, na qual os indivíduos estão espaçados 
relativamente uniforme por todo seu habitat. Em outros casos, mostram distribuição 
aleatória, semelhante ao que ocorreria se eles fossem posicionados em locais 
selecionados ao acaso. Por fim, os indivíduos podem ser reunidos em grupos, 
 
 
formando distribuição agrupada. Nas populações naturais, as dispersões agrupadas 
são mais comuns do que as distribuições regulares ou aleatórias (ODUM, 2020). 
Uma diversidade de processos pode levar indivíduos a ter uma distribuição 
regular, aleatória ou agrupada. Considere que uma planta cresça deficientemente, 
exceto se determinado conjunto de recursos e condições ambientais esteja presente 
(p. ex., a combinação certa de nutrientes do solo, luz e temperatura). Em um caso 
desses, o arranjo espacial dos indivíduos de uma população estaria propenso a se 
adequar ao arranjo espacial das condições propícias ao crescimento. Como as 
condições ambientais muitas vezes variam aleatoriamente ou estão agrupadas no 
espaço, espera-seque nossa planta hipotética tenha dispersão aleatória ou agrupada. 
Distribuições aleatórias ou agrupadas também podem ocorrer como resultado 
da dispersão, por exemplo, curtas distâncias de distribuição podem causar o 
agrupamento de indivíduos. Em alguns casos, a competição pelos recursos ou pelo 
espaço parece ter resultado em uma distribuição quase regular. 
As interações entre organismos também influenciam os padrões de 
distribuição. Os indivíduos podem repelir reciprocamente (para produzir distribuições 
quase regulares) ou atrair uns aos outros (para gerar distribuições agrupadas). Essas 
duas tendências podem ser verificadas no pássaro canoro de Seychelles 
(Acrocephalus sechellensis), ameaçado de extinção. Nos anos de 1950, essa ave 
quase foi extinta: sua população total no mundo foi reduzida a 26 indivíduos 
localizados na Ilha Cousin em Seychelles, arquipélago próximo à costa leste africana. 
Depois que essa espécie foi legalmente protegida em 1968, a população na Ilha 
Cousin subiu para cerca de 300 indivíduos, e ela foi, então, introduzida com sucesso 
em outras duas ilhas (ODUM, 2020). 
O pássaro canoro de Seychelles é territorial: parceiros de reprodução 
defendem seu território contra outras aves da mesma espécie. Esse comportamento 
faz a distribuição dos indivíduos na população ser um tanto regular. No entanto, nem 
todos os territórios são iguais. Alguns são de maior qualidade do que outros porque 
têm mais recursos alimentares. As aves que ocupam um local de qualidade, vivem 
mais e produzem mais descendentes. Além disso, casais reprodutores que vivem 
nestes locais, geralmente recebem ajuda de filhotes nascidos nos primeiros anos. Em 
um padrão comportamental conhecido como criação cooperativa, esses juvenis 
atrasam sua época reprodutiva e ajudam os progenitores a criar a nova prole, atuando 
 
 
em atividades como construção do ninho, alimentação dos recém nascidos, defesa do 
território e ataque a predadores em grupo. Desse modo, territórios de alta qualidade 
permitem atrair outras aves (prole de anos anteriores). 
Os locais com maior disponibilidade de recursos atraem mais aves e estão 
reunidos em um ponto da ilha; por isso, diferenças na qualidade do local geram uma 
distribuição mais agrupada de indivíduos na população do que se os recursos 
estivessem uniformemente distribuídos. Os tamanhos populacionais com frequência 
estão sujeitos a uma grande variação no espaço e no tempo. Assim, um desafio 
fundamental no estudo de uma população é estimar sua abundância. 
6.7 Sucessão Ecológica 
O uso dos grupos sucessionais para ordenar a alta diversidade de espécies da 
floresta tropical e organizá-las nos plantios, da mesma forma em que elas ocorrem na 
floresta natural, foi sem dúvida não só o grande salto no desenvolvimento da 
tecnologia de plantio de nativas, como também o conceito mais discutido e polemizado 
nos eventos pertinentes (KAGEYAMA e GANDARA, 2005). 
Odum (2004), define o desenvolvimento do ecossistema ou sucessão ecológica 
em parâmetros básicos e fundamentais: processo ordenado de desenvolvimento da 
comunidade que envolve alterações na estrutura específica e nos processos da 
comunidade com o tempo, razoavelmente dirigido e previsível; modificação controlada 
pela comunidade do ambiente físico culmina num ecossistema estabilizado, no qual 
são mantidas por unidade de espaço energia disponível, máxima biomassa e a 
simbiose entre os organismos. O autor também verifica que existe uma sequência 
inteira de comunidades que se substituem umas às outras, numa dada área, existindo 
comunidades inteiras transitórias em etapas de exploração, sendo que o sistema se 
estabiliza no chamado Clímax. A substituição de espécies ocorre porque as 
populações tendem a modificar o ambiente físico, criando condições favoráveis para 
outras populações. 
Diversos autores dividem em dois os processos naturais de sucessão, sendo 
que Odum (2004) fala de sucessão primária que ocorre numa área que não tenha sido 
ocupada previamente por uma comunidade, como, por exemplo, uma rocha ou uma 
superfície de areia de exposição recente e sucessão secundária, quando o processo 
 
 
se desenvolve numa determinada área da qual haja sido removida uma comunidade 
anterior, como exemplo uma floresta abatida. Esta se processa de uma maneira mais 
rápida, uma vez que alguns organismos ou seus respectivos propágulos se encontram 
presentes e o território ocupado é mais receptivo ao desenvolvimento da comunidade 
do que as áreas estéreis da primeira sucessão. 
Nas recuperações florestais então se trabalha com a sucessão secundária que 
se embasou muito em estudos de diversos autores feitos em clareiras naturais abertas 
no dossel de florestas naturais. O entendimento da dinâmica de clareiras em florestas 
tropicais é de extrema importância na restauração florestal, no manejo sustentável e 
na conservação de remanescentes florestais. Os conhecimentos ecológicos sobre 
dinâmica de clareiras aplicam-se na seleção de espécies mais adequadas para o 
plantio em diferentes situações de perturbação ou de degradação ambiental (ROSA, 
2014). 
O problema é que a classificação tem forte componente subjetivo e, apesar dos 
esforços dos pesquisadores, muitas espécies insistem em não se enquadrar 
justamente nos modelos dos chamados grupos ecológicos, grupos sucessionais ou 
até mesmo grupos funcionais. A classificação sucessional das espécies, ainda que 
imprecisa, pode, porém, esclarecer da estrutura e dinâmica de comunidades 
florestais, desde que utilizada com preocupações, nunca como se fosse um atributo 
categórico intrínseco das espécies (DURIGAN, 2009). 
A partir dos conceitos da sucessão ecológica e dos denominados grupos 
ecológicos ou funcionais, os autores dividiram a grande diversidade de espécies 
arbóreas, grupos de espécies com comportamento semelhante, quanto ao processo 
de regeneração natural (KAGEYAMA, 2009). 
Hoje existem três divisões sucessionais que se utilizam nos projetos de 
recuperação de florestas, quais sejam: 
 Espécie pioneira, secundárias iniciais, secundária, tardias e clímax; 
 Espécies pioneiras e não pioneiras; 
 Espécies de preenchimento e de diversidade. 
 
Na Figura 1, estão representados os tipos de clareiras e como se comporta o 
processo de sucessão em função da abertura do dossel. 
 
 
 
Figura 1: Diagrama representando tipos de clareiras e métodos como a sucessão e 
proposta conforme o tamanho da abertura do dossel. 
Fonte: Martins et al (2009) 
6.8 Restaurações de ecossistemas degradados e recuperação de áreas 
degradadas: conceitos e diferenças. 
De acordo com Durigan (2009), muitos projetos de recuperação não 
apresentam êxito primeiramente por confundir os conceitos primordiais da ciência hoje 
chamada de ecologia de restauração e existem diversos termos mal empregados 
como as Restaurações de Ecossistemas Degradados (RED) e Recuperação de Áreas 
Degradadas (RAD), bem como a diferença entre recuperação e restauração. Este 
tópico irá tratar destas diferenças, conceituá-las e introduzir as bases dos 
reflorestamentos e onde este se enquadra nas REDs e RADs. 
A visão científica e o espírito das leis concebem a recuperação ambiental como 
a reaproximação, o quanto possível, das condições originais da flora, fauna, solo, 
 
 
clima e recursos hídricos que existam originalmente no local. Segundo Durigan (2009), 
recuperação ambiental boa é recuperação de ecossistema. 
Resiliência é definida como a capacidade de um ecossistema de se recuperar 
de flutuações internas provocadas por distúrbios naturais ou antrópicos. 
Os ecossistemas passam a ter sua estabilidade comprometida a partir do 
momento em que ocorrem mudanças drásticas no seu regime de distúrbios 
característicos, e que as flutuações ambientais ultrapassam o seu limite homeostático. 
Define-se como ecossistema degradado, aquele que sofreu perturbações antrópicas,levando-o a diminuição de sua resiliência e com perda de espécies e interações 
importantes, mas mantendo meios de regeneração biótica (CARPANEZZI, 2005). 
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC - Lei nº 9985 de 
2000) os conceitua assim: 
 Recuperação: Restituição de ecossistema ou de uma população silvestre 
degradada, a uma condição não degradada que pode ser diferente de sua 
condição original. 
 Restauração: Reconstituição de um ecossistema ou de uma população 
silvestre degradada, o mais próximo possível de sua condição original. A 
restauração não consiste apenas na recriação de habitats favoráveis às 
espécies arbóreas. Para Gandolfi e Rodrigues (2007), faz-se necessário 
também que durante o processo de restauração ocorra tanto à desconstrução 
quanto a reconstrução de populações de espécies vegetais, animais e de 
microrganismos, e a desconstrução e a construção de interações intra e 
interespecíficas. 
Dentro dessa filosofia de restauração, dois aspectos devem ser considerados ao 
analisarmos os motivos que levam vários projetos a não atingir seus objetivos: o 
primeiro é que a restauração no sentido restrito raramente é possível, pois as 
condições ambientais após a degradação não permitem mais o retorno para uma 
condição idêntica à original, o segundo aspecto é que determina a área a ser 
restaurada, considerada uma unidade relativamente isolada de fatores externos 
(MARTINS et al., 2009). 
Logo, para Gandolfi (2013), espera se que não apenas se possa mostrar o 
estado da arte da restauração de florestas estacionais, mas também reforçar a 
importância de que ações de restauração sejam feitas sempre com princípios 
 
 
ecológicos bens fundamentados, de modo que projetos e programas de restauração 
não fiquem apenas como propostas bem intencionadas, mas que levem à real 
recuperação de parte das florestas nativas e da biodiversidade perdida. 
Segundo Carpanezzi (2005), a expressão RAD, originalmente se referia a 
“reclamation” de áreas com solos degradados fisicamente, especialmente pela 
mineração, seguida ou completada por revegetação com qualquer finalidade, mas de 
modo geral sem preocupação com a estrutura do ecossistema, ao longo dos anos 
com a crescente preocupação em se restaurar biomas ameaçados os conceitos foram 
se aproximando e tornando confusos e mal usados. 
Uma análise mais apressada poderia então sugerir que a manutenção e 
evolução das comunidades seriam um fenômeno simples baseado apenas no 
ingresso, saída ou reposição de juízos e espécies; o que tornaria a restauração 
florestal de áreas degradadas uma atividade bastante previsível. No entanto, o 
surgimento, o desaparecimento ou a manutenção de populações depende de muitos 
fatores, processos e interações que não são totalmente previsíveis e são, portanto, 
difíceis de reproduzir (GANDOLFI e RODRIGUES, 2007). 
Figura 2: As dimensões Ecológicas do desenvolvimento dos ecossistemas 
nas suas dimensões, estrutura e função 
 
Fonte: Engel e Parrota (2003) 
 
 
 
 
Métodos de recuperação 
De acordo com Goldemberg (2004b), os projetos têm a liberdade de serem 
planejados de formas distintas, mas sempre devem iniciar com a avaliação das 
condições da área a ser recuperada, identificando daí às principais dificuldades a 
serem enfrentadas e então estabelecendo as estratégias a serem adotadas. Além 
disso, deve-se então estudar os aspectos que serão enfrentados e diagnosticá-los. 
Dentre estes aspectos os mais importantes são: 
 Verificar se há plântulas de espécies pioneiras e banco de sementes no local; 
 Estado físico do solo, compactação e nutrição deste; 
 Proximidade de fragmentos florestais; 
 Tipo de mato competição a ser combatido, infestação da área por gramíneas; 
 Bioma em que a área está inserida. 
Verificado estes aspectos, então se escolhe a melhor metodologia a ser utilizada, 
com suas principais características e vantagens: 
 Condução da regeneração natural e plantio com sementes: Indicada para 
as áreas com menor grau de perturbações, na qual os processos ecológicos 
ainda estão atuantes e pode manter as condições de autoperpetuação. Neste 
método é fundamental que se identifiquem os processos causadores da 
degradação como vegetação predominante (invasões biológicas), pastoreio, 
fogo, etc. A grande vantagem deste método é o baixo preço de implantação e 
seu resultado (ROSA, 2014). 
 Enriquecimento: O método consiste em reintroduzir nos remanescentes 
degradado da floresta, sob a copa das árvores, espécies extintas do local. Mas, 
só será possível esta reintrodução em áreas que já possuam um estágio no 
mínimo pioneiro ou secundário inicial de regeneração e nas florestas 
secundárias em declínio, a baixa diversidade é fator que limita a 
sustentabilidade. A introdução de espécies de grupos sucessionais distintos 
pode garantir diversidade genética. 
 Adensamento: Prática usada nas situações em que se constata a ocorrência 
 
 
de espécies nativas que não conseguem recobrir o solo e nem garantir o 
processo de regeneração natural, quer de indivíduos remanescentes ou banco 
de sementes, ou de plântulas aproveitadas na recuperação. No primeiro caso 
devem-se preencher os espaços entre indivíduos remanescentes com plantio 
de espécies iniciais. 
 Plantio em ilhas: Também conhecido como nucleação, defendido arduamente 
por Reis (2009), que basicamente diz que é possível baratear a revegetação 
com o plantio de “ilhas”: árvores isoladas ou em grupos de espécies que atraem 
animais, em especial, frutívoros. O baixo custo e a pouca intervenção antrópica 
são as grandes virtudes deste método. Porém, talvez o grande problema deste 
seja parecer não se preocupar com outros fatores perturbadores, que impedem 
a formação e desenvolvimento da floresta. Vale salientar que é uma 
metodologia interessantíssima para acompanhar outra. 
 Implantação florestal ou reflorestamento heterogêneo com essências 
nativas. Método mais utilizado hoje e que mais se enquadra na normativa SMA, 
procura dar origem as condições que permitam uma área degradada recuperar 
características da floresta original, criando uma nova floresta com 
características estruturais e funcionais, próxima as das florestas naturais. 
Consiste em plantar espécies segundo suas áreas de ocorrência natural e 
plantá-las respeitando os processos naturais de sucessão secundária, ou seja, 
com uma combinação de grande número de árvores pioneiras e não pioneiras. 
As primeiras formarão rapidamente a estrutura e as últimas restituirão a riqueza 
florística. É o sistema usado em áreas cuja formação vegetal original foi 
substituída por alguma atividade produtiva, sem evidências de potencial de 
regeneração natural. Nesse sistema, todas as espécies florestais são 
introduzidas de forma simultânea, mas em proporções diferentes em ordem 
decrescente. Existem várias concepções no sistema de implantação 
(GOLDEMBERG, 2004). 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CARPANEZZI, A.A. Fundamentos para a Reabilitação de Ecossistemas 
Florestais. In: GALVÃO, A. P. M.; PORFÍRIO, S.V. Restauração Florestal: 
fundamentos e estudos de caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005. p.13-26. 
DURIGAN, G. Estrutura e Diversidade de Comunidades Florestais, A 
Classificação em Grupos Ecológicos. In: MARTINS, S. V. (Org.). Ecologia De 
Florestas Tropicais Do Brasil. Viçosa: UFV, 2009. p. 194-207. 
GANDOLFI, S.; RODRIGUES, R. R. Restauração de Matas Ciliares- “Alguns 
Aspectos Ecológicos Importantes que devem ser considerados na Restauração 
de Matas Ciliares”. In: A BOTÂNICA NO BRASIL, PESQUISAS, ENSINO E 
POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS, 2007, São Paulo, Anais... São Paulo, [S.l.], 
2007. p.640-644. 
GANDOLFI, S.; RODRIGUES, R.R.; BARBOSA, L. M.; VIANI,R. Restauração 
Ecológica de Florestas Estacionais: Desafios Conceituais Metodológicos e 
Políticas Públicas. In: SIMPÓSIO DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA, V., 2013, São 
Paulo, Anais... São Paulo, Institutode Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do 
Estado de São Paulo, 2013. 
GOLDEMBERG, J. A. Recuperação Florestal Planejada, Implantação Florestal ou 
Reflorestamento Heterogêneo com Essências Nativas. In: HAHN, C. M. (Org.). 
Recuperação Florestal: da Muda à Floresta. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 
2004. p.17-18. 
KAGEYAMA, P. Y.; GANDARA, F. B. Resultados do Programa de Restauração 
com Espécies Arbóreas Nativas do Convênio ESALQ/ USP e CESP. In: GALVÃO, 
A. P. M.; PORFÍRIO, S. V. (Org.). Restauração Florestal: Fundamentos e Estudos de 
caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005. p. 47-58. 
MARTINS, S. V.; RODRIGUES, R. R.; GANDOLFI, S.; CALEGARI, L. Sucessão 
Ecológica: Fundamentos e Aplicações na Restauração de Ecossistemas 
Florestais, O Papel das Clareiras na Sucessão e na Restauração Florestal. In: 
MARTINS, S. V. (Org.). Ecologia De Florestas Tropicais Do Brasil. Viçosa: UFV, 2009. 
ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 2004. 
ODUM, E. P. BARRET, G.W. Fundamentos de ecologia.5. ed. São Paulo: Cengage 
Learning, 2020. 
ROSA, Claudiney Teles. Gestão de projetos de recuperação de áreas degradadas: 
comparação de custos e eficiência de diferentes metodologias. 2014.Trabalho de 
Conclusão de Curso ( Especialista em Gestão Florestal) - Universidade Federal do 
Paraná, Curitiba, 2014. 
 
 
SEDUC - Secretaria do Estado do Ceará. Ecologia Geral. Disponível em: 
https://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br.Acesso em: 28 mar. 2023. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br.acesso/
file:///C:/Users/sidneia.xavier/Downloads/Secretaria%20do%20Esseduc.ce.gov.brhttps:/educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br › 
file:///C:/Users/sidneia.xavier/Downloads/Secretaria%20do%20Esseduc.ce.gov.brhttps:/educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br › 
	6 POPULAÇÃO
	6.1 Populações conectadas pela dispersão
	6.2 O que são indivíduos?
	6.3 Amplitude geográfica
	6.4 As amplitudes geográficas variam entre as espécies
	6.5 Populações possuem distribuições fragmentadas
	6.6 Distribuição dentro de populações
	6.7 Sucessão Ecológica
	6.8 Restaurações de ecossistemas degradados e recuperação de áreas degradadas: conceitos e diferenças.