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ECOLOGIA E GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS Prezado(a) aluno(a)! Quando se trata de meio ambiente, é comum usar a extrema fragilidade do planeta como argumento contra a intervenção humana. Acredite ou não, é mais correto dizer que projetamos nossas próprias vulnerabilidades e limitações na Terra. Após a Segunda Guerra Mundial, o impacto da presença humana no planeta aumentou em decorrência do crescimento populacional e das novas técnicas de produção industrial. Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas estão se conscientizando das ameaças que enfrentamos e o uso descontrolado dos recursos ambientais podem causar sérios problemas, como efeito estufa, destruição da camada de ozônio, falta de recursos hídricos, etc. Uma lição importante desse novo reconhecimento é que não apenas os governos e a indústria, mas cada um de nós, desempenha um papel vital na manutenção da vida na Terra, e que pequenos esforços podem ser feitos em prol desse objetivo. Diante dessa perspectiva, desde muito cedo na história humana, a Ecologia já se mostrava de interesse prático. Para sobreviver na sociedade primitiva, todos os indivíduos precisavam conhecer o seu ambiente, ou seja, as forças da natureza e os vegetais e animais a sua volta. Bons estudos! AULA 05 – DINÂMICA DE POPULAÇÕES, SUCESSÃO ECOLÓGICA 6 POPULAÇÃO A ação dos fatores ecológicos não se restringe à existência individual dos organismos, mas afeta igualmente a estrutura e o funcionamento de um nível de organização da vida superior e mais abrangente, com leis e características próprias: a população. Uma população é um grupo de indivíduos da mesma espécie que vivem na mesma área, ao mesmo tempo. Para que esse grupo seja realmente considerado uma população, é importante que seus indivíduos sejam capazes de produzir descendentes potencialmente férteis. Montanhas, rios, lagos e estradas são barreiras que explicam a existência de múltiplas populações de uma mesma espécie (SEDUC, documento online). Os membros de uma população podem apresentar três formas de distribuição no seu habitat: ao acaso, uniforme ou agregada. A distribuição ao acaso, é aquela em que a posição de cada indivíduo é independente de todos os outros. É comum entre muitas espécies de plantas e animais que costumam viver isolados e representa uma proteção relativa contra os predadores, uma vez que a posição atual da presa é imprevisível e a captura anterior de uma presa não fornece ao predador nenhuma informação sobre onde estarão as outras. Menos frequente na natureza é a distribuição uniforme, onde os indivíduos estão igualmente espaçados entre si, como as árvores numa plantação. Surge como consequência da alopatia e da competição, principalmente entre animais territoriais. O espaçamento evita a superpopulação e garante — ao dono do espaço — suficiente quantidade de alimentos, material de construção de ninhos e água para a própria sobrevivência (SEDUC, documento online). O agrupamento tem várias vantagens adaptativas em relação ao espaçamento uniforme, pois facilita a defesa coletiva contra predadores e a busca de parceiros. Além disso, alguns animais do rebanho capturam mais comida. Por outro lado, tem a desvantagem de promover a transmissão de doenças e promover o rápido esgotamento dos recursos ambientais quando eles se tornam escassos. Espera-se que a proporção de machos para fêmeas seja a mesma em qualquer população. Mas nem sempre isso acontece. A população finlandesa de lemingues tem apenas 25 machos. Uma ave típica do Texas, a enguia de cauda branca, 50% dos juvenis são machos, mas apenas 29% dos adultos são machos. Essas discrepâncias nas relações entre os sexos, evidenciam pressões específicas da seleção natural que influenciam o comportamento reprodutivo e até as interações sociais entre muitos vertebrados. Uma porcentagem maior de fêmeas pode reduzir a competição entre os machos e promover a formação de haréns, como ocorre entre os leões-marinhos. A contrapartida negativa dessa situação é a diminuição da variabilidade genética da população, já que os genes de um só macho são compartilhados por várias fêmeas. Em seu ambiente natural, as populações oscilam de geração a geração. Mas, considerando um período maior, sua tendência é manter o tamanho constante (SEDUC, documento online). 6.1 Populações conectadas pela dispersão Os organismos variam muito em sua capacidade de se mover. Por exemplo, nas plantas, a dispersão ocorre quando as sementes saem da planta mãe. Embora eventos como tempestades consigam transportar sementes por distâncias longas (de centenas de metros a muitos quilômetros), as distâncias de dispersão de plantas em geral são pequenas (de um a algumas dezenas de metros). Em alguns casos, as distâncias de dispersão são tão pequenas que fica difícil interpretar como movimentação. Por exemplo, sementes de Viola odorata, típica de ambiente florestal, são dispersas por 0,002 a 0,02 m quando as formigas não estão presentes; quando estão presentes, as formigas podem transportar essas sementes por alguns metros. Quando distâncias de dispersão são pequenas, as populações de indivíduos que interagem com frequência são encontradas em áreas pequenas. No outro lado do espectro, algumas espécies de baleias viajam dezenas de milhares de quilômetros em apenas um ano. Ao todo, a extensão espacial de populações varia tremendamente, de muito pequenas em organismos que dispersam pouco, até́ muito grandes em espécies que viajam distâncias grandes (ODUM, 2020). Finalmente, tenha em mente que uma população pode existir em uma série de fragmentos de habitat, espacialmente isolados uns dos outros, mas estão ligados por dispersão. Essa estrutura populacional “fragmentada” pode resultar de características do ambiente abiótico. Ela também pode resultar de ações humanas que subdividem populações outrora contínuas. Por exemplo, as charnecas (urzais) na Inglaterra já cobriram grandes áreas contínuas, mas nos últimos 200 anos o desenvolvimento de fazendas e de áreas urbanas reduziu drasticamente a aérea de ocorrência dessas plantas. Em alguns casos, a fragmentação gera porções tão isoladas que pouca dispersão pode ocorrer entre elas, dividindo, assim, uma grande população em uma série de populações menores. 6.2 O que são indivíduos? Uma população pode cobrir uma única região cuja extensão depende da capacidade de dispersão da espécie, ou pode conter uma série de manchas espacialmente separadas ligadas pela dispersão. Determinar a extensão espacial das populações pode ser difícil em muitas espécies com capacidades de dispersão pouco conhecidas. Além disso, para muitos organismos pode ser difícil até determinar o que constitui um indivíduo (ODUM, 2020). Como pode haver confusão sobre o que é um indivíduo? Considere as árvores de álamos, como em muitas espécies vegetais, um indivíduo de álamo pode produzir cópias geneticamente idênticas, ou clones. O álamo produz clones a partir de gemas das raízes, enquanto espécies como o cravo da índia e o morango o fazem formando novas plantas a partir de gemas localizadas em caules horizontais ou estolões .Entre os animais, muitos corais, anêmonas e hidrozoários podem formar clones de indivíduos geneticamente idênticos, assim como algumas rãs, peixes, lagartos e muitos insetos. Alguns clones de plantas podem crescer até tamanhos enormes ou viver por períodos extremamente longos. Para lidar com as complicações decorrentes da clonagem, os biólogos que estudam esses organismos definem os indivíduos de diferentes maneiras. Por exemplo, um indivíduo pode ser definido como o produto de um único evento de fertilização. De acordo com essa definição, um bosque de álamos geneticamente idênticos são,na verdade, um único indivíduo ou gene genético. No entanto, os membros geneta são fisiologicamente independentes uns dos outros, e muitos podem competir por recursos. Esses membros latentes ou verdadeiramente independentes são chamados de rametas. Por exemplo, em morangos, as plantas com raízes são consideradas rametas, porque podem sobreviver sem estarem conectadas ao restante do geneta. Enxergar um canteiro de morangos ou um bosque de álamos como um indivíduo, ou um grupo, depende do nosso interesse. Se estivermos interessados em mudanças evolutivas ao longo do tempo, o nível geneta parece ser o mais apropriado. No entanto, se quisermos saber como essas unidades físicas independentes competem, o nível de rameta pode ser o mais adequado. Após definir as populações e considerar algumas peculiaridades que tornam seu estudo mais complexo, estudaremos os fatores que influenciam onde essas populações são encontradas e quantos indivíduos a constituem (ODUM, 2020). 6.3 Amplitude geográfica Diversos fatores, incluindo a presença de habitat adequado, a história geológica e evolutiva, bem como a dispersão, pode limitar a distribuição das espécies. De fato, é de se esperar que, em muitos casos, vários ou mesmo todos esses fatores estejam atuando ao mesmo tempo, influenciando a área de ocorrência de uma espécie. Como resultado desses fatores, algumas são restritas a uma pequena área geográfica, enquanto outras têm ampla distribuição. No entanto, independentemente de as espécies viverem em áreas geográficas pequenas ou grandes, nenhuma delas pode viver em todos os locais, porque grande parte da Terra não tem habitat suficiente para todas elas. 6.4 As amplitudes geográficas variam entre as espécies A amplitude geográfica de uma espécie é a totalidade das regiões geográficas nas quais ela é encontrada. Apesar de nenhuma ser encontrada em todos os locais do planeta, existe uma considerável variação nos tamanhos das amplitudes geográficas delas. Exemplos de espécies com amplitude geográfica pequena incluem o pupfish-do-poço do diabo que vive em um único lago natural no deserto. Muitas plantas tropicais também tem amplitude geográfica pequena. Esse último aspecto foi ilustrado drasticamente em 1978, quando 90 novas espécies de plantas tropicais foram descobertas no topo de uma única montanha no Equador, todas com amplitude geográfica restrita aquele topo (GASTON, 2003). Outras espécies, como os coiotes, vivem em praticamente todo um continente (América do Norte), enquanto outras, como os lobos-cinza, em pequenas porções de vários continentes (América do Norte e Eurásia). Relativamente poucas espécies são encontradas em todos ou na maioria dos continentes. Algumas espécies marinhas, incluindo invertebrados com larvas planctónicas e as baleias, apresentam amplitudes geográficas amplas. Contudo, ainda que os tamanhos das amplitudes variem bastante, o padrão nos oceanos é semelhante ao que se encontra em terra, e a maioria das espécies marinhas tem uma amplitude geográfica relativamente pequena (GASTON, 2003). A amplitude geográfica de uma espécie inclui as áreas que ela ocupa durante todas as fases da vida. É muito importante manter isso em mente para aquelas espécies que migram e para as espécies pouco conhecidas. Por exemplo, se desejarmos proteger as populações da borboleta-monarca, temos que nos certificar de que as condições sejam favoráveis em seu local de reprodução durante o verão, assim como no local de hibernação. Em alguns casos, entendemos pouquíssimo sobre a distribuição de um organismo, pois ele pode ter muitos estágios de vida difíceis de encontrar ou de estudar, o que é verdadeiro para muitos fungos, plantas e insetos (ODUM, 2020). Embora possamos saber em que condições um organismo adulto vive, ainda não sabemos como e onde ele vive em outros estágios da vida. De fato, isso aconteceu no caso das borboletas-monarca. Os biólogos sabiam que essas borboletas migravam do Sul para o Leste da América do Norte a cada primavera, mas levaria quase 120 anos (1857 a 1975) até que descobrissem seus locais de inverno nas montanhas a oeste da Cidade do México (ODUM, 2020). 6.5 Populações possuem distribuições fragmentadas Mesmo na amplitude geográfica de uma espécie, muitas regiões não apresentam hábitats apropriados para as espécies. Como resultado, as populações tendem a ter uma distribuição naturalmente fragmentada. Essa observação serve para as escalas espaciais grandes e pequenas. Em terra, por exemplo, em escalas espaciais maiores, o clima restringe onde as populações de uma espécie estão localizadas. Em escalas espaciais menores, fatores como topografia, tipo de solo, bem como a presença ou a ausência de outras espécies, impedem que as populações sejam distribuídas de modo uniforme por toda a paisagem (ODUM, 2020). Um exemplo nítido da fragmentação em diferentes escalas espaciais é fornecido pelo trabalho de Ralph Erickson, realizado com a herbácea perene Clematis fremontii. Essa espécie é encontrada em regiões do Kansas, de Nebraska e do Missouri. Erickson estudou a distribuição delas no Missouri, onde ela é encontrada em uma área restrita na parte leste do Estado, ocorrendo apenas em solo seco e rochoso, que sustenta poucas árvores em áreas arborizadas, que são chamadas de clareiras, onde ocorrem em afloramentos de calcário, localizados nas encostas, voltadas para o Sul ou o Oeste. Essas clareiras estão agrupadas em aglomerados, quando vistas pela perspectiva da amplitude de espécies, no leste do Missouri. A distribuição delas se mantém agrupada, mesmo com a diminuição da escala espacial. Plantas individuais também são encontradas em agrupamentos, na forma de grupos de indivíduos e como um conjunto de indivíduos em um desses grupos. Clematis fremontii requer um hábitat muito particular, encontrado apenas em partes de sua amplitude geográfica, portanto, suas populações têm uma distribuição altamente fragmentada (ODUM, 2020). Outras espécies toleram maior amplitude de ambiente, mas suas abundâncias ainda variam dentro de sua amplitude geográfica. A distribuição dos cangurus vermelhos (Macropus rufus) em regiões áridas da Austrália ilustra esse ponto. A abundância deles varia ao longo de sua amplitude geográfica, que inclui diversas regiões de alta densidade e diversas áreas onde cangurus-vermelhos não são encontrados. 6.6 Distribuição dentro de populações Os agregados de indivíduos de Clematis fremontii, encontrados em clareiras fornecem um exemplo da distribuição, ou arranjo espacial, de indivíduos numa população. Podem-se reconhecer três padrões básicos de como os indivíduos de uma população são posicionados em relação mutualmente. Em alguns casos, membros de uma população possuem distribuição regular, na qual os indivíduos estão espaçados relativamente uniforme por todo seu habitat. Em outros casos, mostram distribuição aleatória, semelhante ao que ocorreria se eles fossem posicionados em locais selecionados ao acaso. Por fim, os indivíduos podem ser reunidos em grupos, formando distribuição agrupada. Nas populações naturais, as dispersões agrupadas são mais comuns do que as distribuições regulares ou aleatórias (ODUM, 2020). Uma diversidade de processos pode levar indivíduos a ter uma distribuição regular, aleatória ou agrupada. Considere que uma planta cresça deficientemente, exceto se determinado conjunto de recursos e condições ambientais esteja presente (p. ex., a combinação certa de nutrientes do solo, luz e temperatura). Em um caso desses, o arranjo espacial dos indivíduos de uma população estaria propenso a se adequar ao arranjo espacial das condições propícias ao crescimento. Como as condições ambientais muitas vezes variam aleatoriamente ou estão agrupadas no espaço, espera-seque nossa planta hipotética tenha dispersão aleatória ou agrupada. Distribuições aleatórias ou agrupadas também podem ocorrer como resultado da dispersão, por exemplo, curtas distâncias de distribuição podem causar o agrupamento de indivíduos. Em alguns casos, a competição pelos recursos ou pelo espaço parece ter resultado em uma distribuição quase regular. As interações entre organismos também influenciam os padrões de distribuição. Os indivíduos podem repelir reciprocamente (para produzir distribuições quase regulares) ou atrair uns aos outros (para gerar distribuições agrupadas). Essas duas tendências podem ser verificadas no pássaro canoro de Seychelles (Acrocephalus sechellensis), ameaçado de extinção. Nos anos de 1950, essa ave quase foi extinta: sua população total no mundo foi reduzida a 26 indivíduos localizados na Ilha Cousin em Seychelles, arquipélago próximo à costa leste africana. Depois que essa espécie foi legalmente protegida em 1968, a população na Ilha Cousin subiu para cerca de 300 indivíduos, e ela foi, então, introduzida com sucesso em outras duas ilhas (ODUM, 2020). O pássaro canoro de Seychelles é territorial: parceiros de reprodução defendem seu território contra outras aves da mesma espécie. Esse comportamento faz a distribuição dos indivíduos na população ser um tanto regular. No entanto, nem todos os territórios são iguais. Alguns são de maior qualidade do que outros porque têm mais recursos alimentares. As aves que ocupam um local de qualidade, vivem mais e produzem mais descendentes. Além disso, casais reprodutores que vivem nestes locais, geralmente recebem ajuda de filhotes nascidos nos primeiros anos. Em um padrão comportamental conhecido como criação cooperativa, esses juvenis atrasam sua época reprodutiva e ajudam os progenitores a criar a nova prole, atuando em atividades como construção do ninho, alimentação dos recém nascidos, defesa do território e ataque a predadores em grupo. Desse modo, territórios de alta qualidade permitem atrair outras aves (prole de anos anteriores). Os locais com maior disponibilidade de recursos atraem mais aves e estão reunidos em um ponto da ilha; por isso, diferenças na qualidade do local geram uma distribuição mais agrupada de indivíduos na população do que se os recursos estivessem uniformemente distribuídos. Os tamanhos populacionais com frequência estão sujeitos a uma grande variação no espaço e no tempo. Assim, um desafio fundamental no estudo de uma população é estimar sua abundância. 6.7 Sucessão Ecológica O uso dos grupos sucessionais para ordenar a alta diversidade de espécies da floresta tropical e organizá-las nos plantios, da mesma forma em que elas ocorrem na floresta natural, foi sem dúvida não só o grande salto no desenvolvimento da tecnologia de plantio de nativas, como também o conceito mais discutido e polemizado nos eventos pertinentes (KAGEYAMA e GANDARA, 2005). Odum (2004), define o desenvolvimento do ecossistema ou sucessão ecológica em parâmetros básicos e fundamentais: processo ordenado de desenvolvimento da comunidade que envolve alterações na estrutura específica e nos processos da comunidade com o tempo, razoavelmente dirigido e previsível; modificação controlada pela comunidade do ambiente físico culmina num ecossistema estabilizado, no qual são mantidas por unidade de espaço energia disponível, máxima biomassa e a simbiose entre os organismos. O autor também verifica que existe uma sequência inteira de comunidades que se substituem umas às outras, numa dada área, existindo comunidades inteiras transitórias em etapas de exploração, sendo que o sistema se estabiliza no chamado Clímax. A substituição de espécies ocorre porque as populações tendem a modificar o ambiente físico, criando condições favoráveis para outras populações. Diversos autores dividem em dois os processos naturais de sucessão, sendo que Odum (2004) fala de sucessão primária que ocorre numa área que não tenha sido ocupada previamente por uma comunidade, como, por exemplo, uma rocha ou uma superfície de areia de exposição recente e sucessão secundária, quando o processo se desenvolve numa determinada área da qual haja sido removida uma comunidade anterior, como exemplo uma floresta abatida. Esta se processa de uma maneira mais rápida, uma vez que alguns organismos ou seus respectivos propágulos se encontram presentes e o território ocupado é mais receptivo ao desenvolvimento da comunidade do que as áreas estéreis da primeira sucessão. Nas recuperações florestais então se trabalha com a sucessão secundária que se embasou muito em estudos de diversos autores feitos em clareiras naturais abertas no dossel de florestas naturais. O entendimento da dinâmica de clareiras em florestas tropicais é de extrema importância na restauração florestal, no manejo sustentável e na conservação de remanescentes florestais. Os conhecimentos ecológicos sobre dinâmica de clareiras aplicam-se na seleção de espécies mais adequadas para o plantio em diferentes situações de perturbação ou de degradação ambiental (ROSA, 2014). O problema é que a classificação tem forte componente subjetivo e, apesar dos esforços dos pesquisadores, muitas espécies insistem em não se enquadrar justamente nos modelos dos chamados grupos ecológicos, grupos sucessionais ou até mesmo grupos funcionais. A classificação sucessional das espécies, ainda que imprecisa, pode, porém, esclarecer da estrutura e dinâmica de comunidades florestais, desde que utilizada com preocupações, nunca como se fosse um atributo categórico intrínseco das espécies (DURIGAN, 2009). A partir dos conceitos da sucessão ecológica e dos denominados grupos ecológicos ou funcionais, os autores dividiram a grande diversidade de espécies arbóreas, grupos de espécies com comportamento semelhante, quanto ao processo de regeneração natural (KAGEYAMA, 2009). Hoje existem três divisões sucessionais que se utilizam nos projetos de recuperação de florestas, quais sejam: Espécie pioneira, secundárias iniciais, secundária, tardias e clímax; Espécies pioneiras e não pioneiras; Espécies de preenchimento e de diversidade. Na Figura 1, estão representados os tipos de clareiras e como se comporta o processo de sucessão em função da abertura do dossel. Figura 1: Diagrama representando tipos de clareiras e métodos como a sucessão e proposta conforme o tamanho da abertura do dossel. Fonte: Martins et al (2009) 6.8 Restaurações de ecossistemas degradados e recuperação de áreas degradadas: conceitos e diferenças. De acordo com Durigan (2009), muitos projetos de recuperação não apresentam êxito primeiramente por confundir os conceitos primordiais da ciência hoje chamada de ecologia de restauração e existem diversos termos mal empregados como as Restaurações de Ecossistemas Degradados (RED) e Recuperação de Áreas Degradadas (RAD), bem como a diferença entre recuperação e restauração. Este tópico irá tratar destas diferenças, conceituá-las e introduzir as bases dos reflorestamentos e onde este se enquadra nas REDs e RADs. A visão científica e o espírito das leis concebem a recuperação ambiental como a reaproximação, o quanto possível, das condições originais da flora, fauna, solo, clima e recursos hídricos que existam originalmente no local. Segundo Durigan (2009), recuperação ambiental boa é recuperação de ecossistema. Resiliência é definida como a capacidade de um ecossistema de se recuperar de flutuações internas provocadas por distúrbios naturais ou antrópicos. Os ecossistemas passam a ter sua estabilidade comprometida a partir do momento em que ocorrem mudanças drásticas no seu regime de distúrbios característicos, e que as flutuações ambientais ultrapassam o seu limite homeostático. Define-se como ecossistema degradado, aquele que sofreu perturbações antrópicas,levando-o a diminuição de sua resiliência e com perda de espécies e interações importantes, mas mantendo meios de regeneração biótica (CARPANEZZI, 2005). O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC - Lei nº 9985 de 2000) os conceitua assim: Recuperação: Restituição de ecossistema ou de uma população silvestre degradada, a uma condição não degradada que pode ser diferente de sua condição original. Restauração: Reconstituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada, o mais próximo possível de sua condição original. A restauração não consiste apenas na recriação de habitats favoráveis às espécies arbóreas. Para Gandolfi e Rodrigues (2007), faz-se necessário também que durante o processo de restauração ocorra tanto à desconstrução quanto a reconstrução de populações de espécies vegetais, animais e de microrganismos, e a desconstrução e a construção de interações intra e interespecíficas. Dentro dessa filosofia de restauração, dois aspectos devem ser considerados ao analisarmos os motivos que levam vários projetos a não atingir seus objetivos: o primeiro é que a restauração no sentido restrito raramente é possível, pois as condições ambientais após a degradação não permitem mais o retorno para uma condição idêntica à original, o segundo aspecto é que determina a área a ser restaurada, considerada uma unidade relativamente isolada de fatores externos (MARTINS et al., 2009). Logo, para Gandolfi (2013), espera se que não apenas se possa mostrar o estado da arte da restauração de florestas estacionais, mas também reforçar a importância de que ações de restauração sejam feitas sempre com princípios ecológicos bens fundamentados, de modo que projetos e programas de restauração não fiquem apenas como propostas bem intencionadas, mas que levem à real recuperação de parte das florestas nativas e da biodiversidade perdida. Segundo Carpanezzi (2005), a expressão RAD, originalmente se referia a “reclamation” de áreas com solos degradados fisicamente, especialmente pela mineração, seguida ou completada por revegetação com qualquer finalidade, mas de modo geral sem preocupação com a estrutura do ecossistema, ao longo dos anos com a crescente preocupação em se restaurar biomas ameaçados os conceitos foram se aproximando e tornando confusos e mal usados. Uma análise mais apressada poderia então sugerir que a manutenção e evolução das comunidades seriam um fenômeno simples baseado apenas no ingresso, saída ou reposição de juízos e espécies; o que tornaria a restauração florestal de áreas degradadas uma atividade bastante previsível. No entanto, o surgimento, o desaparecimento ou a manutenção de populações depende de muitos fatores, processos e interações que não são totalmente previsíveis e são, portanto, difíceis de reproduzir (GANDOLFI e RODRIGUES, 2007). Figura 2: As dimensões Ecológicas do desenvolvimento dos ecossistemas nas suas dimensões, estrutura e função Fonte: Engel e Parrota (2003) Métodos de recuperação De acordo com Goldemberg (2004b), os projetos têm a liberdade de serem planejados de formas distintas, mas sempre devem iniciar com a avaliação das condições da área a ser recuperada, identificando daí às principais dificuldades a serem enfrentadas e então estabelecendo as estratégias a serem adotadas. Além disso, deve-se então estudar os aspectos que serão enfrentados e diagnosticá-los. Dentre estes aspectos os mais importantes são: Verificar se há plântulas de espécies pioneiras e banco de sementes no local; Estado físico do solo, compactação e nutrição deste; Proximidade de fragmentos florestais; Tipo de mato competição a ser combatido, infestação da área por gramíneas; Bioma em que a área está inserida. Verificado estes aspectos, então se escolhe a melhor metodologia a ser utilizada, com suas principais características e vantagens: Condução da regeneração natural e plantio com sementes: Indicada para as áreas com menor grau de perturbações, na qual os processos ecológicos ainda estão atuantes e pode manter as condições de autoperpetuação. Neste método é fundamental que se identifiquem os processos causadores da degradação como vegetação predominante (invasões biológicas), pastoreio, fogo, etc. A grande vantagem deste método é o baixo preço de implantação e seu resultado (ROSA, 2014). Enriquecimento: O método consiste em reintroduzir nos remanescentes degradado da floresta, sob a copa das árvores, espécies extintas do local. Mas, só será possível esta reintrodução em áreas que já possuam um estágio no mínimo pioneiro ou secundário inicial de regeneração e nas florestas secundárias em declínio, a baixa diversidade é fator que limita a sustentabilidade. A introdução de espécies de grupos sucessionais distintos pode garantir diversidade genética. Adensamento: Prática usada nas situações em que se constata a ocorrência de espécies nativas que não conseguem recobrir o solo e nem garantir o processo de regeneração natural, quer de indivíduos remanescentes ou banco de sementes, ou de plântulas aproveitadas na recuperação. No primeiro caso devem-se preencher os espaços entre indivíduos remanescentes com plantio de espécies iniciais. Plantio em ilhas: Também conhecido como nucleação, defendido arduamente por Reis (2009), que basicamente diz que é possível baratear a revegetação com o plantio de “ilhas”: árvores isoladas ou em grupos de espécies que atraem animais, em especial, frutívoros. O baixo custo e a pouca intervenção antrópica são as grandes virtudes deste método. Porém, talvez o grande problema deste seja parecer não se preocupar com outros fatores perturbadores, que impedem a formação e desenvolvimento da floresta. Vale salientar que é uma metodologia interessantíssima para acompanhar outra. Implantação florestal ou reflorestamento heterogêneo com essências nativas. Método mais utilizado hoje e que mais se enquadra na normativa SMA, procura dar origem as condições que permitam uma área degradada recuperar características da floresta original, criando uma nova floresta com características estruturais e funcionais, próxima as das florestas naturais. Consiste em plantar espécies segundo suas áreas de ocorrência natural e plantá-las respeitando os processos naturais de sucessão secundária, ou seja, com uma combinação de grande número de árvores pioneiras e não pioneiras. As primeiras formarão rapidamente a estrutura e as últimas restituirão a riqueza florística. É o sistema usado em áreas cuja formação vegetal original foi substituída por alguma atividade produtiva, sem evidências de potencial de regeneração natural. Nesse sistema, todas as espécies florestais são introduzidas de forma simultânea, mas em proporções diferentes em ordem decrescente. Existem várias concepções no sistema de implantação (GOLDEMBERG, 2004). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARPANEZZI, A.A. Fundamentos para a Reabilitação de Ecossistemas Florestais. In: GALVÃO, A. P. M.; PORFÍRIO, S.V. Restauração Florestal: fundamentos e estudos de caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005. p.13-26. DURIGAN, G. Estrutura e Diversidade de Comunidades Florestais, A Classificação em Grupos Ecológicos. In: MARTINS, S. V. (Org.). Ecologia De Florestas Tropicais Do Brasil. Viçosa: UFV, 2009. p. 194-207. GANDOLFI, S.; RODRIGUES, R. R. Restauração de Matas Ciliares- “Alguns Aspectos Ecológicos Importantes que devem ser considerados na Restauração de Matas Ciliares”. In: A BOTÂNICA NO BRASIL, PESQUISAS, ENSINO E POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS, 2007, São Paulo, Anais... São Paulo, [S.l.], 2007. p.640-644. GANDOLFI, S.; RODRIGUES, R.R.; BARBOSA, L. M.; VIANI,R. Restauração Ecológica de Florestas Estacionais: Desafios Conceituais Metodológicos e Políticas Públicas. In: SIMPÓSIO DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA, V., 2013, São Paulo, Anais... São Paulo, Institutode Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2013. GOLDEMBERG, J. A. Recuperação Florestal Planejada, Implantação Florestal ou Reflorestamento Heterogêneo com Essências Nativas. In: HAHN, C. M. (Org.). Recuperação Florestal: da Muda à Floresta. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 2004. p.17-18. KAGEYAMA, P. Y.; GANDARA, F. B. Resultados do Programa de Restauração com Espécies Arbóreas Nativas do Convênio ESALQ/ USP e CESP. In: GALVÃO, A. P. M.; PORFÍRIO, S. V. (Org.). Restauração Florestal: Fundamentos e Estudos de caso. Colombo: Embrapa Florestas, 2005. p. 47-58. MARTINS, S. V.; RODRIGUES, R. R.; GANDOLFI, S.; CALEGARI, L. Sucessão Ecológica: Fundamentos e Aplicações na Restauração de Ecossistemas Florestais, O Papel das Clareiras na Sucessão e na Restauração Florestal. In: MARTINS, S. V. (Org.). Ecologia De Florestas Tropicais Do Brasil. Viçosa: UFV, 2009. ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. ODUM, E. P. BARRET, G.W. Fundamentos de ecologia.5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2020. ROSA, Claudiney Teles. Gestão de projetos de recuperação de áreas degradadas: comparação de custos e eficiência de diferentes metodologias. 2014.Trabalho de Conclusão de Curso ( Especialista em Gestão Florestal) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014. SEDUC - Secretaria do Estado do Ceará. Ecologia Geral. Disponível em: https://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br.Acesso em: 28 mar. 2023. https://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br.acesso/ file:///C:/Users/sidneia.xavier/Downloads/Secretaria%20do%20Esseduc.ce.gov.brhttps:/educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br › file:///C:/Users/sidneia.xavier/Downloads/Secretaria%20do%20Esseduc.ce.gov.brhttps:/educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br › 6 POPULAÇÃO 6.1 Populações conectadas pela dispersão 6.2 O que são indivíduos? 6.3 Amplitude geográfica 6.4 As amplitudes geográficas variam entre as espécies 6.5 Populações possuem distribuições fragmentadas 6.6 Distribuição dentro de populações 6.7 Sucessão Ecológica 6.8 Restaurações de ecossistemas degradados e recuperação de áreas degradadas: conceitos e diferenças.