Prévia do material em texto
ECOLOGIA E GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS Prezado(a) aluno(a)! Vamos abordar a questão das Unidades de Conservação Ambiental no País, o que evidencia a necessidade de uma terminologia precisa e completa, além de diretrizes para serem seguidas na determinação de uma nova política de conservação, controle, proteção e preservação de recursos naturais. Certamente, a criação destes espaços a serem protegidos, é um dos principais instrumentos de que dispõe o Poder Público para executar um planejamento ambiental coerente e para a efetiva implementação da Política Nacional do Meio Ambiente. A lacuna que atualmente se observa, deve ser preenchida com urgência por trabalhos a serem desenvolvidos por técnicos das mais diversas áreas, que compõem a esfera de atuação abrangida pelo assunto em questão, no intuito de buscar o melhor planejamento possível para todas as áreas do nosso território. Bons estudos! AULA 07 – ÁREAS PROTEGIDAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 7 ÁREAS PROTEGIDAS As áreas protegidas não são uma prática inventada recentemente, já existia em 252 a.C, quano o imperador da Índia proibiu a caça, pesca e extração de madeira em grandes áreas de seu império. Existem registros do ano de 684 (MILLER, 1997) e na Inglaterra em 1804, estabelecendo uma área protegida na ilha indonésia de Sumatra. O rei Guilherme I criou o primeiro inventário nacional de terras e recursos naturais produtivos e planejou seu uso (NOGUEIRA, 2018). No entanto, as primeiras preocupações sobre a necessidade de proteger os ecossistemas através da criação de áreas protegidas começaram a surgir durante a Revolução Industrial do século XIX, que provocou padrões de vida mais consumistas e aumentou a pressão sobre os recursos naturais. Um marco histórico para essa iniciativa foi a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, em 1872. O Brasil só criou suas primeiras reservas em 1937, no Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro. As primeiras áreas protegidas foram criadas por beleza cênica, sem a consideração de critérios técnicos e científicos, resultando em criação e gestão ineficientes e sem finalidades ambientais específicas (PÁDUA, 1978). Inicialmente estabeleceu-se o conceito de conservação da natureza, baseado no consumo das paisagens e vivências em espaços naturais, e com o surgimento generalizado de áreas protegidas, surgiu a necessidade de sistematizar científica e tecnicamente essas áreas (NOGUEIRA, 2018). A primeira iniciativa para proteger os recursos naturais e introduzir técnicas de gestão foi a criação do Parque Nacional Krugel na África do Sul em 1899, que foi criado para restaurar as populações de animais ameaçados pela caça esportiva e predatória (NOGUEIRA, 2018). A criação de áreas protegidas tem se firmado como importante estratégia de conservação de biomas, ecossistemas e espécies da fauna e da flora, principalmente por meio da delimitação dessas áreas e da regulamentação de seu uso e ocupação (MILANO, 2001). Como tal, conforme a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) (2008), as áreas protegidas são geograficamente definidas, reconhecidas, designadas e geridas por meios legais, visando conservação a longo prazo da natureza, serviços ecossistêmicos, patrimônio e valores culturais. 7.1 Importância das unidades de conservação Ao longo da história do Brasil, muitas vozes se manifestaram contra a exploração predatória dos recursos naturais. Ao longo do século XIX, a preocupação com os danos ambientais cresceu entre alguns intelectuais, e José Bonifácio de Andrada, desempenhou um papel fundamental na denúncia dessa atitude predatória. Uma grande motivação para proteger o meio ambiente natural foi de suma importância na construção da nação. Os recursos naturais são grandes ativos para o progresso futuro de um país e devem ser usados com sabedoria e cuidado (VILELA, 2014). A criação do Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos em 1872, abriu um novo campo de batalha para os brasileiros interessados em conservação: a criação de parques nacionais no Brasil. Mas os cenários político, econômico, social e cultural para a realização desse ideal, há muito permanecem desfavoráveis. Por mais de meio século, vários indivíduos fizeram campanha por um parque nacional, mas suas reivindicações não foram atendidas até 1937, onde foi criado o Parque Nacional do Itatiaia, e uma geração de conservacionistas tem trabalhado arduamente para consolidar e expandir o setor de conservação dos parques nacionais brasileiros. A geração de hoje deve muita gratidão a esses visionários do passado (LAGO, 1991). Embora muito progresso tenha sido feito, deve-se notar que ainda há muito a ser feito, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento de áreas protegidas, representação de ecossistemas e controle de qualidade de áreas protegidas. O primeiro a propor a criação de um parque nacional no Brasil foi o engenheiro André Rebouças (1838-1898). Com seu irmão Antonio, foi proprietário da Companhia Florestal Paranaense, a primeira madeireira privada autorizada a operar no Brasil. Em 1876, inspirado por uma iniciativa norte-americana, Rebouças propôs dois locais para concretizar as suas ideias, a Ilha do Bananal no Rio Araguaia e Sete Quedas no Rio Paraná. Ele já tinha visto o progresso que o turismo poderia trazer, advindo da criação dos parques para aquelas regiões. A geração atual não tem nada melhor do que manter duas das mais belas ilhas, Araguaia e Paraná, livres do ferro e do fogo. Daqui a centenas de anos, nossos descendentes poderão ver um exemplar do Brasil criado por Deus. No Norte e no Sul encontrar os mais belos representantes da diversidade de flora e fauna, e sobretudo plantas sem igual no mundo (LAGO, 1991). Segundo Lago (1991), as condições políticas, sociais, econômicas e culturais do Império e da Primeira República (1889-1930) não favoreceram a implementação das propostas de André Rebouças. Ao contrário, combinaram-se com a degradação natural em favor da expansão econômica. Um imigrante português no Brasil em busca de riqueza. No entanto, isso pode ser alcançado com audácia, não com trabalho. Da nossa herança lusitana vem o nosso desejo de adquirir riquezas sem custos, com facilidade. Nossos ancestrais buscavam extrair grandes lucros da terra sem fazer grandes sacrifícios e sem se preocupar com o futuro. Como tal, os vários ciclos econômicos que o Brasil experimentou resultaram inevitavelmente na degradação ambiental e no uso excessivo dos recursos naturais (VILELA, 2014). As políticas fundiárias nacionais também contribuíram para a degradação ambiental. O Real Decreto nº 17 de 1822, aboliu o sistema de Sesmaria vigente no período colonial. Desde então, houve um período extrajudicial de terras públicas desreguladas, abrindo a possibilidade de apropriação de terras públicas por cerca de 30 anos. Assim, a avalanche de ocupação de terras se intensificou. Em 1850, a Lei nº 601 da Casa Imperial veio regulamentar a matéria, e após a extinção do sistema de Sesmaria, em 1822, os posseiros passaram a ter a propriedade das terras ocupadas. A Lei 601 estabeleceu as condições básicas para a legalização da posse: as terras deveriam estar cultivadas. Segundo Ometto (1981), nesse período, quando as terras públicas não eram regulamentadas, o café se consolidou como um dos principais produtos agrícolas do Brasil, estimulando ainda mais a grilagem de terras. Do estado do Rio de Janeiro, a cultura se expandiu para a Zona da Mata do Vale do Paraíba e Minas Gerais. O café substituiu a natureza em todos os lugares. Milhares de hectares de terras públicas foram legalizados por expropriadores por meio de vários meios fraudulentos. As plantações decafé proliferaram nesses países, e a especulação imobiliária em grande escala em torno dessas plantações contribuiu significativamente para a remoção da cobertura vegetal no Sudeste do Brasil (VANZOLINI, 1980). Em 1876, Rebouças fez uma proposta de criação de uma força de proteção no Brasil, mas ela não se concretizou durante a Primeira República. No início da era republicana, a economia brasileira era organizada segundo o modelo primário- exportador. Ou seja, o país concentrou sua produção no abastecimento de commodities primárias destinadas ao abastecimento do mercado externo. O poder político e econômico concentrava-se nas mãos de oligarcas ligados à exportação agrícola, relutantes em reservar áreas para a conservação da natureza em detrimento do potencial de aumento da atividade econômica. A Primeira República também foi o ápice do liberalismo brasileiro, nascido da Constituição de 1891. O estado liberal limitava-se essencialmente a manter a ordem pública, a liberdade, a propriedade e a segurança pessoal. A Constituição garante plena autonomia do Estado e poder irrestrito sobre a propriedade dos donos de terras. Coerente com os ideais liberais, o direito de propriedade atingiu sua perfeição, não permitindo que nenhum governo interferisse na forma como os proprietários utilizavam os recursos naturais de suas terras. As leis destinadas a controlar a exploração dos recursos naturais não foram bem recebidas pela oligarquia governante (VILELA, 2014). No entanto, a destruição da natureza começou a despertar o espírito de conservação e a agitação em grandes segmentos da população, que levantou-se para seguir em frente (VANZOLINI, 1980). No início do século XX, o jornalista Euclides da Cunha (1866-1909) publicou os ensaios Fazedores dos Desertos e Entre as Ruínas, nos quais explorou inúmeros estoques armazenados ao longo das servidões da ferrovia e terrenos abandonados de uma plantação de café após promover o esgotamento total do solo. A classe média da cidade, alarmada com essas publicações, acusou proprietários de terras e funcionários da ferrovia de causar tais problemas, e funcionários do governo também os acusaram de permitir que eles o fizessem (VANZOLINI, 1980). No mesmo período, o governo paulista buscava modernizar suas instituições para promover o desenvolvimento econômico do estado. Um fator estratégico nessa visão foi fazer o melhor uso possível dos recursos naturais. Então iniciou-se a contratação de vários cientistas e engenheiros para agências governamentais. Alguns se tornaram líderes importantes na luta para proteger os recursos naturais. Dentre eles, destaca-se Alberto Loefgren, Orville Derby, Herman Von Ihering e Edmundo Navarro de Andrade. A análise do governo concluiu pela necessidade de um órgão único para gerir a política de conservação dos recursos naturais renováveis do país. Posteriormente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi formado a partir da fusão do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), da Agência de Fomento e Fiscalização Pesqueira e da Seringueira Agência de Inspeção. Experiência repetida de criação de IBDF e integração de órgãos sem preparação prévia (VANZOLINI, 1980). A década de 1980 foi mais liberal na conservação do que nas décadas anteriores. Além disso, 14 parques nacionais, 15 florestas nacionais, 3 reservas naturais, 21 ecostações, 16 bioreservas e 6 ecoreservas foram criados sob jurisdição federal (ZENY, 1997). Na década de 1990, houve grande incremento das unidades de conservação no Brasil. A partir de 1991, começou a ser executado o Programa Nacional do Meio Ambiente – PNMA I. Seu planejamento se deu no período de 1987 a 1989 e sua fase I durou de 1991 a 1998, contemplando investimentos da ordem de 170 milhões de dólares em três componentes: Fortalecimento institucional; Unidades de conservação; Proteção de ecossistemas. Segundo Dourojeanni (2001), em 1991, foi criada a primeira Reserva da Biosfera da Mata Atlântica do Brasil. Então, em 1994, foi criada a Reserva da Biosfera do Cerrado, do Pantanal em 2000, Caatinga e Amazônia Central em 2001 e Serra do Espinhaço em 2005. De acordo com Dourojeanni (2001), em 1992, como parte da Eco-92, foi lançado um programa piloto para a proteção das florestas tropicais no Brasil - o PPG7. O programa foi proposto na Cúpula do Grupo dos Sete (G7) de 1990 em Houston, Texas. O chanceler alemão Helmut Kohl pediu a criação de um programa piloto para trabalhar em conjunto para reduzir a taxa de desmatamento nas regiões tropicais do Brasil. Representantes do governo brasileiro, do Banco Mundial e da Comissão Europeia estão trabalhando para criar o programa, a proposta foi aprovada pelo G7 e pela Comissão Europeia em dezembro de 1991 e os primeiros projetos começaram a ser implementados em 1995. O programa consiste em uma série de projetos integrados do Governo Federal e da sociedade civil. Seu objetivo é programar um modelo de desenvolvimento sustentável nas florestas tropicais brasileiras, ou seja, melhorar os benefícios ecológicos dos ecossistemas conforme as metas de desenvolvimento do Brasil. Representa uma tentativa de implementar um modelo de desenvolvimento endógeno na Amazônia legítima. (ZENY, 1997). No Brasil, até meados da década de 1970, a criação das UC's obedeciam a critérios estéticos preponderantes ou respondia a circunstâncias políticas favoráveis. Nunca houve uma forma mais abrangente de planejamento. Pádua e Quintão (1984) relatam que as unidades de conservação brasileiras criadas entre 1937 e meados da década de 1970 não seguiam padrões técnicos e científicos, muito menos a ideia do sistema. Isso é chamado de planejamento ad hoc, e é definido como o planejamento de áreas protegidas com base apenas em questões de uso da terra, com igual prioridade, sem considerar a conservação da biodiversidade em todos os níveis (SHIGUNOV, 2009). Essa realidade começou a mudar a partir de 1976 com a elaboração do documento Análise de Prioridades para a Conservação da Amazônia (Wetterberg et al., 1976) e a proposta de um sistema de unidades de conservação do Brasil. No entanto, esses planos não foram traduzidos em legislação abrangente sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Em meados da década de 1980, o Brasil era um dos três países sul-americanos que ainda não havia iniciado a elaboração de legislação para um sistema nacional de áreas protegidas. Foi em 1988 que começaram as discussões sobre a legislação para estabelecer tal sistema. Como resultado, a Lei n.º 9.985 foi promulgada em 2000, instituindo o Sistema Nacional de Unidades Protegidas (SNUC). Esta lei estabelece padrões e normas para a criação, implantação e gestão de unidades de conservação. O SNUC é formado por vários grupos conservacionistas federais, estaduais e locais que cumprem a lei. Os objetivos nacionais de conservação estabelecidos no SNUC, que devem nortear as ações das entidades envolvidas na gestão ambiental, são os seguintes: Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; Proteger as espécies ameaçadas de extinção em âmbito regional e nacional; Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; Proteger as paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, recreação ao ar livre e ecoturismo; Proteger os recursos naturais necessários à sobrevivência das populações tradicionais, respeitando e valorizando seus conhecimentos e cultura e promovendo-os social e economicamente. Com base em características específicas, foram criados pelo SNUC dois grupos de Unidades de Conservação distintos: as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável. Cada grupo reúne diversas categorias de manejo para as UCs. No final da década de 1980, a legislação sobre Unidades de Conservação encontrava-se bastante dispersa. Em 1988, no âmbito do Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA), o IBDF tomou uma iniciativa para estabelecer uma legislação abrangente sobre essa temática. Encomendou a elaboração de um anteprojeto de lei para instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a Fundação Pró- Natureza (Funatura). Essa organização não governamental era dirigida por Maria Tereza Jorge Pádua, uma das principais autoras das duas etapas do Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil, elaboradas em 1979 e 1982, respectivamente (SHIGUNOV, 2009). As unidades de conservação no Brasil estiveram subordinadas ao Serviço Florestal (1938 a 1962), ao Departamento de Recursos Naturais Renováveis – DRNR (1962 a 1967), ao Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal – IBDF (1967 a 1989) e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (1989 até o presente). As áreas de proteção ambiental e as estações ecológicas estiveram subordinadas à Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) de 1981 a 1989, quando passaram à subordinação do IBAMA. Desde a década de 1940, existe uma luta para a criação de um Instituto Brasileiro de Unidades de Conservação (ZENY, 1997). A história das instituições responsáveis pela gestão das unidades de proteção mostra que desaparecer e criar novas unidades não resolve o problema. O IBDF foi estabelecido como uma organização independente como parte das reformas administrativas de 1967. A independência foi o compromisso do governo federal em implementar controles modernos e ágeis. No entanto, os resultados obtidos ficaram aquém das expectativas. Como será relatado posteriormente, o ambiente institucional em que as instituições públicas operam no Brasil não é propício para alcançar bons resultados. Uma nova diretoria será criada, mas as velhas práticas de gestão serão reproduzidas. Nenhum esforço é feito para construir uma cultura organizacional voltada para resultados (SHIGUNOV, 2009). Um grande desafio no início do século XXI é modernizar a gestão das organizações responsáveis pelo setor da conservação e avançar para uma gestão de qualidade. Só assim podemos realmente garantir a conservação efetiva da biodiversidade (ZENY, 1997). 7.2 AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ORGANIZAÇÕES Segundo Zeny (1997), no Brasil, as unidades de conservação – UC’s, são definidas como um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Lei nº 9.985/2000). No entanto, é preciso ampliar essa visão, levando-se em conta que as unidades de conservação são organizações (Lei n.º 9.985 de 2000). No entanto, essa visão precisa ser ampliada, tendo em vista que as unidades de conservação são organizações. Uma organização pode ser entendida como um grupo planejado de pessoas que visam atingir um ou mais objetivos, geralmente refletidos no fornecimento de bens ou serviços. Cada organização existe para oferecer uma combinação de bens e serviços a seus usuários (clientes). Os produtos e serviços oferecidos pelas organizações conservacionistas variam conforme a divisão administrativa a que pertencem. Em geral, são ambientes adequados para recursos naturais conservados, recursos naturais usados de forma sustentável, remediação ambiental, pesquisa científica e aplicações ecológicas como regulação do clima, proteção de recursos hídricos, ciclagem de nutrientes, polinização e controle de pragas (SHIGUNOV, 2009). Os usuários das unidades de armazenamento se beneficiam dos bens e serviços oferecidos, público, governos reguladores, comunidades locais, pesquisadores, governos locais, turistas, grupos interessados em manter os serviços ecossistêmicos. A visão das unidades de proteção como uma organização abre caminhos promissores, pois permite o uso de modernas técnicas de gestão para gerenciá-las (BARBIERI, 2007). De acordo com uma abordagem sistemática, qualquer organização - escola, posto de saúde, de proteção - é vista como um sistema aberto e dinâmico que interage constantemente com seu ambiente. É concebida como um sistema sociotécnico estruturado sobre dois subsistemas: Subsistema social: composto por todas as pessoas que trabalham na organização – gerentes, trabalhadores – com suas habilidades e atitudes, com todos os seus relacionamentos, necessidades, valores, crenças, compreensões a respeito do trabalho e da organização. Subsistema técnico: compreende as tarefas a serem desempenhadas, as instalações físicas, os equipamentos e instrumentos utilizados, as utilidades e técnicas operacionais, o ambiente físico e a maneira como está disposto, bem como a duração da operação das tarefas. Segundo Ometto (1981), o subsistema técnico é responsável pela eficiência potencial da organização, cabendo ao subsistema social transformar a eficiência potencial em real. Os dois subsistemas se inter-relacionam, influenciam-se mutuamente e são interdependentes. Daí não é possível definir uma organização apenas como um sistema técnico ou como um sistema social, ou seja, eles não podem ser considerados separadamente. Qualquer mudança em um subsistema trará, inevitavelmente, consequências para o outro. A gestão das áreas protegidas no Brasil continua focada nos aspectos técnicos dos subsistemas. Praticamente nada foi relatado sobre subsistemas sociais e cultura organizacional. Uma análise dos registros de quatro Conferências da Sociedade Conservacionista Brasileira realizadas entre 1997 e 2004, constatou que dos 490 trabalhos apresentados, apenas 1 estava superficialmente preocupado com a unidade de consevação como uma organização. Apenas um, e apenas um desses trabalhos tratou de questões sociais como um subsistema. Conforme Ometto (1981), no Brasil, isso representa um grande paradoxo, pois a baixa eficácia da gestão é explicada principalmente por problemas do subsistema social. Uma cultura organizacional não orientada para resultados, baixo reconhecimento e reconhecimento dos funcionários leva a alta motivação, conflito entre os membros da equipe, baixa iniciativa e capacidade de inovar. Por esse motivo, mesmo as UC’s estabelecidas, com corpo técnico e instalações adequadas, não apresentam os resultados esperados. Compreender a cultura organizacional é uma parte essencial para melhorar a gestão de áreas protegidas. Cultura organizacional é o conjunto de costumes, crenças, valores e tradições, interações e relações sociais inerentes a qualquer organização. Representa a forma tradicional e costumeira de pensar e fazer as coisas compartilhada por todos os membros da organização. Também representa um código informal e não escrito que orienta as ações cotidianas dos membros da organização e direciona suas ações para o alcance dos objetivos da organização. A cultura organizacionalinfluencia o comportamento de todos os indivíduos e grupos dentro da organização, podendo afetar o dia a dia. Suas decisões, atributos dos funcionários, formas de recompensa e punição, estilos de liderança utilizados, processos de comunicação, etc. Nesse sentido, acaba por reforçar o comportamento de seus membros, decidindo o que seguir e o que deve ser evitado (BARBIERI, 2007). A atual cultura organizacional dos grupos conservacionistas e das administrações públicas, reflete a cultura burocrática patrimonial do setor público brasileiro. Você não precisa se preocupar em atender adequadamente seus usuários, aumentar a produtividade e reduzir custos para a sociedade. Grande parte da mudança nas práticas de gestão dos grupos conservacionistas no Brasil, dependem de mudanças na cultura dessas instituições. Portanto, para que os atores conservacionistas alcancem plenamente seus objetivos de manejo, eles precisam criar uma nova cultura com fundamentos profundamente enraizados para um bom manejo (VILELA, 2014). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBIERI, J. C.; SIMANTOB, M. (org.). Organizações inovadoras sustentáveis: uma reflexão para o futuro das organizações, São Paulo: Atlas, 2007. DOUROJEANNI, M. J.; PÁDUA, M. T. J. Biodiversidade: a hora decisiva. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001. p. 41-69. INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). Speaking a commom language. 2004. Disponível em: Acesso em: 11 abr 2023. MILANO, M.S. Unidades de Conservação, Conceitos Básicos e princípios Gerais de Planejamento, Manejo e Administração. In Curso de Manejo de Áreas Naturais Protegidas. Unilivre. Curitiba, Paraná, 1997. 129 p. MILLER, K. R. Evolução do conceito de áreas de proteção: oportunidades para o século XXI. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1, 1997, Curitiba. Anais... Curitiba, Paraná: 1997. v.1, p. 3 – 21. NOGUEIRA Barbara Gabriele de. et al. Introdução às unidades de conservação.2018. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018. OMETTO, J. C. Bioclimatologia vegetal. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1981, 440 p. PÁDUA, M. T. J. Categorias de unidades de conservação – objetivos de manejo. Boletim FBCN, 1978. SHIGUNOV Neto, A.; CAMPOS, L. M. S.; SHIGUNOV, T. Fundamentos da gestão ambiental. Rio de Janeiro: Moderna, 2009. VANZOLINI, P.E. 1980. Questões ecológicas ligadas à conservação da natureza no Brasil. São Paulo: Instituto de Geografia – USP. VILELA, Frederico Macedo. BOMFIM, Tuliane Machado. Gestão de unidades de conservação: princípios e ações para um meio ambiente equilibrado. V Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Belo Horizonte. 2014. ZENY, A.S. et alii. Curso de Gestão Ambiental. Goiânia: CNI/SENAI, 01-05 dez. 1997. Barbara Gabriele de Souza Nogueira 7 Áreas protegidas 7.1 Importância das unidades de conservação 7.2 AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ORGANIZAÇÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS