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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS GEOGRÁFICOS Anna Paula Lombardi Paradigmas em geografia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Caracterizar o determinismo geográfico. Explicar a relação entre os seres humanos e o meio. Comparar a geografia determinista e a geografia possibilista. Introdução A geografia percorreu um longo caminho até se constituir como ciência e formar seus paradigmas próprios. Os paradigmas procuram explicitar os elementos do discurso científico que têm importância universal. Para Kuhn (2006), os paradigmas são realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modeladoras do conhecimento científico para a comunidade de praticantes de uma ciência. Por meio deles, é possível eleger o que é importante para a pesquisa. Quando surgem, as novas ciências não têm um paradigma estabelecido, de modo que são chamadas por Kuhn (2006) de ciências imaturas. Para ele, quem faz ciência na ausência de um paradigma unificador se depara com uma coleção arbitrária de conceitos não organizados, sem qualquer estrutura integradora capaz de lhes dar coerência e unidade, ou então com múltiplas propostas de estruturas integradoras incompatíveis entre si. Na geografia, a primeira teoria ou paradigma foi o determinismo geográfico, proposto pelo alemão Friedrich Ratzel. Há ainda outros quatro paradigmas importantes: possibilismo geográfico, método regional, nova geografia e geografia crítica. O determinismo geográfico e as suas características O determinismo geográfi co também é conhecido como determinismo ambiental. Como você sabe, o desenvolvimento das grandes potências da Europa e da Amé- rica foi possível por meio de vantagens relacionadas ao território, à localização e principalmente às questões ambientais. Em meados do século XVI, a geografi a, por meio do senso comum e aliada às explicações religiosas e ao conhecimento fi losófi co, orientou as preocupações do homem em relação ao universo. Somente após o século XVI, com a perda de espaço da religião, é que a ciência seguiu uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado em maiores garantias, ou seja, na procura do real ou das realidades estabelecidas na superfície terrestre. Assim, a geografi a não buscava mais compreender os fenô- menos apenas por meio das descrições da natureza. Ela procurava compreender as relações entre os fenômenos aliando a observação científi ca ao raciocínio. A expressão “determinismo geográfico” foi criada pelo etnógrafo e geó- grafo alemão Friedrich Ratzel (1844–1904), que contribuiu para a história do pensamento geográfico e geopolítico. Segundo Moreira (2014), a modernidade industrial e a geografia fragmentária dos séculos XIX e XX foram construídas a partir do holismo e com as características do século das luzes. Nesse perí- odo, a geografia teve como particularidade a organização do conhecimento científico, e o positivismo aparece como a matriz paradigmática. De acordo com Côrrea (2000), os geógrafos deterministas, junto à geografia tradicional em suas diversas versões, privilegiaram os conceitos de paisagem e região, estabelecendo discussões sobre o objeto da geografia e a sua identidade em relação às demais ciências. Nesse período, a abordagem espacial, associada à localização das atividades dos homens, era secundária. Ratzel também definiu o que chamou de “espaço vital”, compreendido como base indispensável para a vida do homem e determinante para as condições de trabalho, sendo elas naturais ou socialmente produzidas. Portanto, para Ratzel, o espaço vital é o domínio do espaço transformando-se em elemento para a história do homem. Moreira (2014) explica que a geografia, nessa ordem paradigmática, se consolidou com o surgimento das “geografias sistêmicas”, originadas da interface da geografia com outras ciências. Considere, por exemplo, que da união entre a geografia e a geologia surgiu a geomorfologia; da união entre a meteorologia e a geografia, a climatologia; e da união entre a geografia e a biologia, a biogeografia. Essa tendência fragmentária se opôs a uma tendência surgida com a manifestação geral das ciências, o que repercutiu na geografia por meio da criação das conhecidas geografia humana, geografia física e geografia regional. Essa tendência da geografia veio na trilha do positivismo e foi uma expressão do novo paradigma que teve início na Alemanha. As ideias de Friedrich Ratzel contribuíram para a institucionalização cien- tífica da geografia. Compreender o pensamento de Ratzel implica entender o período histórico em que ele viveu e produziu suas obras. Ratzel tem formação geográfica, porém também estudou farmácia e zoologia. Seus estudos tiveram Paradigmas em geografia2 a influência de Ernst Haeckel (1834–1919). O mentor de Ratzel foi o criador da ecologia, a disciplina que examina a interação entre o homem e o meio. Portanto, Ratzel desde a juventude tinha uma visão orgânica e evolucionista do mundo (ARCASSA; MOURÃO, 2011). Haeckel foi um biólogo, naturalista, filósofo, médico, professor e artista alemão que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin. Ele foi um dos grandes expoentes do cientificismo positivista. Na escola alemã, contudo, Ratzel defendia um império colonial alemão. Ele trabalhou na África e confeccionou um mapa do continente, que não era muito conhecido no final do século XIX. A África, apesar de pouco conhecida, já era disputada pelas potências europeias. Ao mesmo tempo, Ratzel escreveu as obras teóricas Estudo sobre o espaço político, em 1895, Estado e Solo, em 1896, e Geografia política: uma geografia dos estados, do comércio e da guerra, em 1897. Ratzel também publicou Alemanha: introdução a uma ciência do país natal, em 1898. Nessa obra, ele expõe seu ponto de vista ambicioso a respeito da cientificidade, identificando as leis objetivas do desenvolvimento geográfico (ARCASSA; MOURÃO, 2011). Por fim, em 1902, Ratzel elaborou mais uma obra de caráter filosófico, A Terra e a vida: uma geografia comparada. Nessa obra, ele esclarece a questão do misticismo e a comparação entre a biogeografia e a geografia humana. Para Ratzel, todas as dinâmicas das atividades humanas estão tomadas pelas perspec- tivas vitais, biológicas, políticas e orgânicas, com a influência direta da geografia ou da superfície terrestre e com as particularidades desse ramo de estudo. São essas características que marcam a teoria do determinismo geográfico. Durante seus estudos no ensino superior, Ratzel conheceu a obra A Origem das Espécies, de Charles Darwin, que influenciou grande parte de seus estudos futuros, tanto os de cunho naturalista quanto os de teor político. Após concluir seus estudos na Universidade 3Paradigmas em geografia A relação entre os seres humanos e o meio na perspectiva geográfica A relação entre a sociedade e a natureza ou entre os seres humanos e o meio faz parte das particularidades que cercam a ciência geográfi ca moderna. Tal ciência tem como aspecto fundante a expansão do conhecimento da superfí- cie terrestre por parte dos homens. No período moderno, a Terra passa a ser encarada como um objeto de estudo da geografi a. Para entender melhor a relação entre a sociedade e a natureza, é necessário conhecer as obras dos grandes pioneiros da modernidade. Immanuel Kant (1724–1804) foi um deles. Ele contribuiu para a geografia moderna conciliando a matemática para a esfera do tratamento científico da natureza com a mate- mática institucional para a esfera do tratamento científico do homem. Desse modo, nasceram as ciências naturais e as ciências humanas (MOREIRA, 2010). A ciência moderna geográfica começou a se institucionalizar em meados do século XIX. Três acontecimentos importantes levaram à institucionalização. Os dois primeiros estão relacionados às funções sociais: as guerras inglesa e francesa, que eclodiram na Europa entre os séculosXVI e XVII. O terceiro foi a Revolução Industrial. Tudo isso levou ao surgimento de um novo modo de produção, vigente até os dias de hoje, que substituiu o sistema feudal. Tal modo de produção foi essencial para que a ciência geográfica moderna definisse novos objetos de estudo, que serviriam para formular as primeiras teorias e métodos para a modificação das paisagens naturais. Nesse contexto, surgiu também uma sociedade marcada pela hierarquia de classes sociais, o que foi tema de diversos estudos (BERGAMO, 2014). Na virada do século XIX para o XX, nasceram a geografia física e a geografia humana. As subáreas da geografia física são a geomorfologia, a climatologia e a biogeografia. Assim, a geografia física estuda os aspectos físicos e naturais. de Jena, na Alemanha, Ratzel realizou pesquisas e publicou alguns estudos com base no darwinismo e outros com base no naturalismo. Em 1870, Ratzel se alistou nas tropas alemães, pois objetivava combater a França de Napoleão III. Depois, ele viajou pela Itália (1872) e pelos Estados Unidos (1873). Foi na observação do espaço americano que se tornou um geógrafo. Em 1876, Ratzel ocupou a cadeira de geografia da Universidade Técnica de Munique. A sua tese intitula-se A emigração chinesa. Nesse trabalho, ele dedica sua atenção à geografia, aos movimentos da população sobre o Planeta e às diferentes formas de invasão. Em 1886, Ratzel foi nomeado para a cadeira de geografia da Universidade de Leipzig. Essa trajetória contribuiu para o avanço do pensamento geográfico (ARCASSA; MOURÃO, 2011). Paradigmas em geografia4 Já as subáreas da geografia humana são a geografia agrária, a geografia ur- bana e a geografia econômica. Nesse período, a geografia física e a geografia humana eram simples nomenclaturas que não ofereciam referências teóricas e metodológicas, embora o neokantismo tenha oferecido tais referências para o plano geral das ciências, reafirmando o modelo matemático para as ciências naturais e introduzindo o modelo das regras e normas culturais para as ciências humanas. Logo, seguiu-se uma direção epistemológica (MOREIRA, 2010). A ciência geográfica moderna teve sua origem na dicotomia referida an- teriormente. Tal dicotomia ocorreu porque os estudos das ciências exatas, da astronomia, da matemática e da física acabaram por originar novos instrumentos, como as locomotivas e as máquinas a vapor. Além disso, os aspectos econômicos estabeleceram uma nova ordem social. Isso levou diversos pensadores e geógrafos a pesquisar e escrever obras com viés teórico e com um método estabelecido. A questão do método é importante pois diz respeito à construção de um sistema intelectual que possibilita abordar analiticamente uma realidade a partir de um ponto de vista, e não de dados estabelecidos a priori (BERGAMO, 2014). A seguir, veja alguns autores e obras que contribuíram para a compreensão da relação entre sociedade e natureza e possibilitaram a evolução do pensamento geográfico (MOREIRA, 2010). Eliseé Reclus (1830–1905): sua obra A Terra: descrição dos fenômenos, de 1869, inspirou estudos do quadro físico do Planeta até o surgimento do Tratado da Geografia Física, de Emmanuel de Martonne (1873–1955). Além disso, sua obra A nova geografia universal, de 1875, publicada em Paris, trouxe um olhar libertador sobre a natureza e o homem. O autor a escreveu com a ideia de tratar da organização espacial das ações humanas. Vidal de La Blache (1845–1918): sua obra Quadro da Geografia da França, de 1903, aborda os aspectos da regionalização. Já sua obra Princípios da geografia humana, de 1922, é relacionada à geografia da civilização e ao gênero de vida. Como você pode notar, os estudos do período foram importantes para a compre- ensão da relação dos homens com a natureza, relação esta que passou a incorporar a cultura industrial. A partir da técnica, foi possível, por exemplo, estudar as distâncias, o que facilitou o deslocamento de pessoas e mercadorias por meio de trens, navios e automóveis. Nesse período, a natureza já era compreendida como recurso, mas, para se chegar nessa perspectiva, foi necessário incorporar a natureza à vida social, o que ocorreu por meio das técnicas desenvolvidas e aperfeiçoadas 5Paradigmas em geografia que começaram a fazer parte da cultura vigente, mesmo que ainda em escala local e regional. Além disso, as mudanças radicais na relação entre o homem e a natureza foram incorporadas ao território ocupado. Assim, surgiram as imagens de satélites, que permitiram conhecer toda a superfície terrestre (WENDEL, 2005). Hoje, como você sabe, os homens se encontram cada vez mais na condição de produtores da natureza. Desde 1970, vem se acentuando a globalização, por meio do processo internacional de integração econômica entre as diferentes sociedades. Logo, o homem passa a dominar a natureza utilizando tecnologias com o objetivo de acumular capital. Isso tudo acaba aprofundando ainda mais a crise mundial e as desigualdades. As relações entre a geografia determinista e a geografia possibilista A geografi a determinista e a geografi a possibilista foram importantes para a consolidação dos primeiros paradigmas da geografi a moderna. Tais paradig- mas estão relacionados com o método tradicional da geografi a, do período de 1870 até 1950. A história do pensamento geográfi co enfatiza a falsa dualidade entre o determinismo e o possibilismo. No período mencionado, estavam em cena a escola determinista alemã e a escola possibilista francesa, considerada banal por alguns autores. Ao se comparar a obra de Ratzel com a de Vidal de la Blache, costuma-se opor o pensamento determinista do primeiro ao pen- samento possibilista do segundo. Porém, essas particularidades e o dualismo não condizem com o propósito das teorias. Ratzel foi muito importante para a sistematização da geografia moderna. Ele desenvolveu estudos geográficos pioneiros especialmente direcionados à discussão dos problemas humanos, integrados à área que Ratzel chamou de antropogeografia. Esses estudos, com caráter interdisciplinar, tiveram como objetivo principal compreender as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais e a distribuição dos povos sobre a superfície terrestre. Desse modo, Ratzel considerava a influência das condições naturais sobre o com- portamento humano, o que culminaria no determinismo. Ele também levava em conta as formações do território e, intimamente ligada a elas, a dimensão política da relação entre o homem e a natureza (SOUZA et al., 2016). Vidal de la Blache teve a iniciativa de inserir e institucionalizar a geografia na França. Por mais conflitante que isso pareça, ele tomou como referência as obras e os pensamentos de geógrafos alemães (Humboldt, Ritter e, inclu- sive, Ratzel). Vidal de La Blache realizou estudos bastante inovadores na Paradigmas em geografia6 geografia e deu sustentação à criação da escola francesa de geografia, que influenciou o desenvolvimento dessa ciência em diversas partes do mundo. Seu pensamento geográfico teve como características fundantes as ideias de totalidade, possibilismo, mapeamento das densidades e do gênero de vida. Contudo, as obras dos dois geógrafos jamais podem ser consideradas algo simples e acabado. Ambas suscitam muitas indagações e acirram os ânimos de diversos estudiosos da geografia e de outras ciências (SOUZA et al., 2016). No Quadro 1, a seguir, você pode ver alguns outros paradigmas da geografia. Fonte: Adaptado de Morais e Diniz (2008). Método regional É o terceiro paradigma e ganha expressão apenas em 1940, nos Estados Unidos, tendo como incentivador o geógrafo ameri- cano Richard Hartshorne. Esse paradigma se caracteriza por utilizar modelos matemáticos e estatísticos, desenvolver diagra- mas e matrizes e utilizar a análise fatorial e a cadeia de Markov na geografia. Esse método também é marcado pela neutrali- dade científica que se associa à difusão do sistema capitalista. Nova geografia O quartoparadigma é o da geografia teórico-quantitativa ou nova geografia. O momento histórico foi determinante e consolidou essa corrente marcada pela situação socioeco- nômica em que vivia o mundo no pós-Segunda Guerra. O panorama de destruição fez com que os geógrafos procu- rassem novas formulações para superar a crise econômica capitalista. Essa corrente efetua uma crítica à geografia tradicional pela insuficiência da sua análise. Geografia crítica O quinto paradigma é o da geografia crítica, que coloca sob severas críticas a nova geografia (método regional) e as ou- tras correntes de tendência tradicional (a geografia determi- nista e a geografia possibilista). Esse paradigma está pautado no materialismo histórico e na dialética marxista. Geografia humanista e cultural O método da geografia humanista e cultural foi criado pra- ticamente junto ao método crítico e é considerado o sexto paradigma. Ele defende que, no entendimento das questões humanas, a cultura é primordial. Ela é mediadora entre o ser humano e a natureza e é o resultado da comunicação no grupo, na sociedade. Esse paradigma permite compreender como os homens se estabelecem na sociedade, como se organizam e como se identificam no espaço em que vivem. Quadro 1. Paradigmas da geografia 7Paradigmas em geografia Apesar da organização científica de Vidal de La Blache e Ratzel, segundo Santos (1978), eles vulgarizaram a noção de unidade terrestre, que Carl Rit- ter já havia estabelecido anteriormente. A noção filosófica de natureza está relacionada com “[...] o conjunto de todas as coisas, conjunto coerente, onde ordem e desordem se confundem nesse processo de totalização permanente pelo qual uma totalidade evolui para tornar-se outra” (SANTOS, 1978, p. 4). Portanto, o princípio da totalidade é básico para a elaboração de uma filosofia do espaço do homem. Contudo, tanto Ratzel quanto Vidal de La Blache pouco usaram o princípio da totalidade, mas foram imprescindíveis na elaboração dos primeiros paradigmas que utilizaram a razão e os acontecimentos da época relacionados à dinâmica entre a sociedade e a natureza. A teoria ratzeliana, com a perspectiva da geografia humana, vê o homem do ponto de vista biológico, e não social. Desse modo, o homem não pode ser visto fora das relações de causa e efeito que determinam as condições de vida no meio ambiente, já que o homem e a sociedade seriam um fruto do ambiente em que se encontram. Nesse sentido, o homem é subordinado ao ambiente, que influencia fortemente a fisiologia e a psicologia humanas. Além disso, Ratzel compreendia que a história dos povos estava relacionada à interação entre o homem e a natureza, de modo que algumas sociedades seriam melhor adaptadas para sobreviver ao meio (SOUZA et al., 2016). Souza et al. (2016) explicam que Vidal de La Blache é considerado um dos principais nomes da história do pensamento geográfico. Em 1875, ele foi no- meado conferencista de geografia da Universidade de Nancy e, em 1880, se tornou subdiretor da Escola Normal Superior. Já em 1898, foi para a famosa e reconhecida Universidade Sorbonne, de Paris. Seus estudos específicos na área da geografia foram realizados quando ele foi à Turquia para desenvolver o seu trabalho e tomou como guia uma obra que o famoso geógrafo Carl Ritter havia escrito sobre o país. Além disso, ele percorreu toda a Europa e boa parte do norte da África e da América do Norte. Vidal de La Blache desenvolveu o pensamento geográfico possibilista e foi considerado o fundador da escola regional francesa. Leia o artigo de Lúcia Cony Faria Cidade “Visões de mundo, visões da natureza e a formação de paradigmas geográficos”, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/hrkSo Paradigmas em geografia8 Você ainda deve considerar que La Blache não concordava com a carac- terização da escola alemã como geografia determinista, o que havia sido postulado por Ratzel. Para este, as condições naturais do meio ambiente influenciavam e originavam as atividades humanas e sociais. Por outro lado, La Blache compreendia que o homem era quem transformava o meio onde vivia com suas ações (SOUZA et al., 2016). Ratzel via como fundante a relação entre causa e efeito, acreditando que o homem era passivo e submisso às condições locais e que tinha como prin- cípio de sobrevivência a necessidade de se adaptar ao meio. Já Vidal de La Blache defendia que as relações entre homem e natureza aconteciam pela sua complexidade, atentando às iniciativas humanas transformadoras do meio ambiente. A teoria do determinismo geográfico de Ratzel foi refutada pela teoria do possibilismo geográfico de Vidal de La Blache. Os alemães Immanuel Kant, Alexander Von Humboldt e Carl Ritter cons- truíram conhecimentos importantes para que Friedrich Ratzel e Vidal de La Blache criassem as teorias que os consagraram como figuras importantes da história do pensamento geográfico, partindo dos paradigmas para a compre- ensão da relação entre a sociedade e a natureza. A partir daí, surgiram outros paradigmas importantes, ajudando a ciência geográfica a se consolidar e os estudiosos a pensar a respeito da complexa interação entre sociedade e natureza. A seguir, você pode conhecer outros geógrafos importantes para o desenvolvimento da geografia nos séculos XIX e XX. Maximilien Sorre (1880–1962): nasceu na França e suas obras são reconhecidas mundialmente até os dias de hoje. Porém, ainda é pouco estudado no Brasil. Sorre pesquisou os aspectos da geografia humana junto à sociologia e à biologia. O seu livro O homem na Terra é uma das obras mais lidas desde a sua publicação até os dias de hoje. Delgado de Carvalho (1884–1980): nasceu na França e, no Brasil, contribuiu com a publicação do livro A geografia do Brasil, em 1913. Carl Sauer (1889–1975): geógrafo americano da Universidade de Berkeley, na Califór- nia, foi uma referência na geografia cultural. A sua obra A morfologia da paisagem, publicada em 1925, encarava a fenomenologia de uma perspectiva científica. Yves Lacoste (1929): é um geógrafo geopolítico francês. Publicou uma das obras da geografia mais lidas no mundo, A geografia: isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra. A obra enfatiza as diferentes sociedades atingidas pela organização de seus espaços a partir dos interesses das estatais e das grandes corporações privadas. 9Paradigmas em geografia ARCASSA, W. S. de.; MOURÃO, P. F. S. Ratzel: para além do determinismo geográfico. [S.l.: s.n.], 2011. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/semanas/geografia/2011/2011- -ensino%20e%20epistemologia/Wesley%20e%20Paulo.pdf. Acesso em: 7 maio 2019. BERGAMO, M. S. As matrizes geográficas na modernidade e o desenvolvimento da ciência sob vista de Gaston Bachelard. In: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 14., 2014. Anais [...]. Lima. 2014. Disponível: http://observatoriogeograficoa- mericalatina.org.mx/egal14/Teoriaymetodo/Teoricos/01.pdf. Acesso em: 7 maio 2019. CÔRREA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000. DANTAS, E. M.; MORAIS, I. R. D. Região no contexto da renovação da geografia. Natal: UFRN, 2008. Disponível em: http://www.ead.uepb.edu.br/ava/arquivos/cursos/geografia/orga- nizacao_do_espaco/Org_Esp_A11_M_WEB_SF_190808.pdf. Acesso em: 10 maio 2019. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções cientificas. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. MOREIRA, R. Para onde vai o pensamento geográfico? Epistemologia crítica. São Paulo: Contexto, 2014. MOREIRA, R. 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Acesso em: 7 maio 2019. Paradigmas em geografia10