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BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Sistema de Repressão a Drogas PERGUNTA CONDUTORA: O Estado deve estabelecer um Sistema de Prevenção e Repressão a Drogas? Segundo a ONU: O abuso de drogas ilícitas é um dos maiores desafios que o mundo enfrenta atualmente. Presente em todos os países, desde os mais ricos aos mais pobres, é um problema que envolve todos os grupos e, cada vez mais, todas as idades, alimentando o crime global, a corrupção e o terrorismo, gerando uma riqueza inimaginável para poucos e danos ilimitados para muitos, custando milhões de vidas e ameaçando a sustentabilidade de comunidades em todo o mundo. BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Logo, a maioria dos países do mundo possuem um sistema mais ou menos rígido de prevenção e repressão ao uso de drogas. Qual a forma mais adequada de se proceder a esta intervenção? Quais deveriam ser os limites desta intervenção estatal? BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Repressão a drogas significa supressão ou promoção da Liberdade Individual? Histórico da repressão estatal às drogas Histórico no Mundo • Há milênios o homem se utiliza de vegetais com fins de entorpecimento e experimentação de sensações diversas, tal como contato com divindades • Uma tribo de pigmeus na África, ao caçar javalis, notou que estes ao comerem certa planta ficavam desnorteados e mais mansos • Estes pigmeus passaram a consumir as folhas da árvore Tabernanthe iboga, conhecida por iboga, usada para fins lisérgicos em cerimônias, com adeptos no Gabão, Angola, Guiné e Camarões até hoje. BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo • No século XIX, especialmente com a evolução da química, várias destas plantas passaram por processos de refino e sintetização, dando início a várias das drogas que hoje são largamente consumidas; • Ao chegarem nos grandes centros urbanos que surgiam, iniciou-se um uso em larga escala, gerando problemas de saúde e de segurança pública; Histórico no Mundo • Convenção Internacional do Ópio em 1912 • Este foi o primeiro tratado internacional de controle de drogas; • Na maioria dos países, o comércio de drogas não havia sido regulado e o abuso de substâncias era generalizado. • Nos Estados Unidos da América, por exemplo, em torno de 90% do consumo de drogas na época destinava-se a propósitos não médicos. Na China, estima-se que a quantidade de opiáceos consumidos cada ano, no início do século XX, correspondesse a mais de 3.000 toneladas em equivalente de morfina Histórico no Mundo •Modelo proibicionista: guerra às drogas •Modelo sanitarista: superação do primeiro BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo Modelo proibicionista Histórico no Mundo • EUA desde o início do séc. XX foram o grande líder do sistema proibicionista mundo afora; • Os EUA após ratificarem a Convenção de Haia de 1912 (ópio), implantaram em 1914 um nova legislação: a Harrison Narcotics Tax Act. Esta lei condicionava o consumo de ópio, morfina e cocaína apenas para fins medicinais, estabelecendo assim uma política de controle das receitas médicas. Histórico no Mundo • Em 1919, o senador republicano Andrew Volstead, aprovou seu projeto de emenda (18ª) à Constituição Norte- americana, visando ao fim do comércio e consumo de bebidas alcóolicas. A Volstead Act, chamada pelos seus defensores de The Noble Experiment, uma atribuição à vitória da “moral pública”, popularmente ficou conhecida como Lei Seca; BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo • 2ª Convenção Internacional do Ópio em 1924 • Convenção Única sobre Narcóticos de 1961 • Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971 • Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Narcóticos e Substâncias Psicotrópicas de 1988 Histórico no Mundo • Na Convenção de 1924, houve a criação do primeiro órgão multilateral responsável pela política mundial de drogas: o Comitê Central Permanente. A principal atribuição do Comitê centrava-se na fiscalização do mercado mundial das substâncias reguladas pela Convenção; • Além disso, dentre as substâncias controladas, foram incluídas a maconha e a heroína; Histórico no Mundo •Com a ascenção dos Estados Unidos após as guerras mundiais, este modelo proibicionista passa a ser incentivado pela recém criada ONU e vem então a ser adotado por dezenas de países, dentre eles o Brasil; BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo •A Convenção Única sobre Narcóticos de 1961 consagrou a adoção do modelo proibicionista. Assim os signatários desta convenção se comprometiam a implementar o combate às drogas ilícitas; Histórico no Mundo • É possível apontar fatores que levaram ao proibicionismo: • radicalização política do puritanismo norte-americano; • interesse da nascente indústria médico-farmacêutica pela monopolização da produção de drogas; • novos conflitos geopolíticos do século XX • clamor das elites assustadas com a desordem urbana Histórico no Mundo • Duas são as premissas do modelo proibicionista: 1ª) uso dessas drogas é prescindível e intrinsecamente danoso, portanto não pode ser permitido; 2ª) a melhor forma do Estado fazer isso é perseguir e punir seus produtores, vendedores e consumidores. BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo • Críticas às premissas do modelo proibicionista: 1ª) Os potenciais danos individuais e sociais do consumo de drogas não justificam a sua proibição. Outras atividades também são potencialmente danosas e nem por isso são proibidas 2ª) Ao proibir a produção, o comércio e o consumo de drogas, o Estado potencializa um mercado clandestino e cria novos problemas. Histórico no Mundo •Modelo sanitarista: superando o proibicionismo Histórico no Mundo • O modelo sanitarista surge como alternativa ao proibicionismo e sua baixa efetividade demonstrada ao longo do século XX; • Logo, há um fortalecimento das críticas ao proibicionismo e um novo standard: "Guerra contra o tráfico, tratamento para o viciado" BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Mundo • No modelo sanitarista, não se quer retirar o Estado da discussão, mas sim rediscutir qual seria seu real papel na questão das drogas, sobremaneira em Estados Democráticos; • Estado punitivo para um Estado protetor; Histórico no Mundo • Premissas do modelo sanitarista: • Redução dos danos causados pelo uso de drogas; • Ampliação dos fatores de proteção (família, sociedade, educação, atendimento); • Desencarceramento do usuário. Histórico no Brasil • Desde 1603, as Ordenações Filipinas já estabelecia já previam penas de confisco de bens e degredo para a África para os que portassem, usassem ou vendessem substâncias tóxicas; BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Brasil • Em 1912, o Brasil aderiu à Convenção Internacional do Ópio; • Código Penal, em sua redação original de 1940, tipificava a conduta de traficar: art. 281, CP. • Este artigo 281, CP foi modificado em 1964, 1968 e 1971, com aumento da multa e da pena de reclusão. • Inicialmente a pena de reclusão era de 01 a 05 anos. Depois, passou para 01 a 06 anos. Histórico no Brasil • Código Penal (1940) não criminalizou o consumo de drogas em sua redação original.Art. 281 nada previa sobre o trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente; • A opção foi por um modelo sanitarista e não criminal; • Contudo, o usuário poderia vir a ser internado, mesmo contra sua vontade (art. 92, IV, redação original do CP 1940); BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Brasil • Com o advento da ditadura militar em 1964, houve uma mudança na qualificação do usuário; • Assim, o uso se tornou um delito, equiparado ao tráfico, apenas em 1968 (Decreto-lei 385/1968); • Talvez por isso a juventude da época associava o uso de drogas à liberdade, um ato contra o regime; Histórico no Brasil • Em 1973, o Brasil aderiu ao Acordo Sul-Americano sobre Estupefacientes e Psicotrópicos e, com base nele, aprovou em 1976 a Lei 6.368; • Esta lei de tóxicos separou as figuras criminais do traficante e usuário, sem no entanto estabelecer critérios rígidos para tal distinção; • Usuário podia ser preso: detenção de 06 meses a 02 anos; Histórico no Brasil • A Constituição de 1988 estabeleceu que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Art. 5º, LXIII); • Em 1990, a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) tratou o tráfico como um crime equiparado a hediondo; BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Histórico no Brasil • Em 2006, a Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) revogou expressamente a Lei 6.368/76, trazendo um tratamento mais severo em termos de penas aos traficantes e procurando despenalizar a conduta do usuário; • Usuário não pode ser preso, em que pese ter a previsão de outras sanções criminais distintas da pena de prisão (prestação de serviços a comunidade, advertência verbal, frequência a cursos...) PERGUNTA: o modelo brasileiro atual é proibicionista ou sanitarista? Estado como controlador de mercado BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Prevenção e Repressão às Drogas Atribuição da Polícia Federal CRFB 88 Art. 144, 1º, II, primeira parte Estados podem reprimir o tráfico de drogas ou apenas a União? Convênios: transformam esta atribuição em concorrente! Competência para julgamento Tráfico de drogas Uso de drogas BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 E o que tem sido feito em termos de PREVENÇÃO? Norma Penal em Branco Portaria nº 344/98 – ANVISA Lista das Substâncias Entorpecentes Novas drogas (450 novas drogas identificadas na Europa em 2015) STF Recurso Extraordinário 635.659 Tema 506 – repercussão geral Relator: Gilmar Mendes Tipicidade do porte de droga para consumo pessoal BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 STF Votação em suspenso Teori havia pedido vista em 2017. Placar: 3x0 em favor da atipicidade (Gilmar, Fachin, Barroso) Previsão de retomada do julgamento: 05 de junho de 2019 STF Argumentos: - não criminalização do uso; - fracasso do proibicionismo; - sanitarismo; - esfera de não imputação no direito penal - princípio da lesividade e proporcionalidade - vida privada e intimidade Colômbia em 2004 Argentina em 2009 As Cortes Constitucionais destes países entenderam ser inconstitucionais normas que criminalizam ou proíbem o uso de drogas BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Pesquisa 2018 População brasileira e liberação da maconha contra a favor não sabem 64,6% 30,7% 4,7% Qual sistema hoje seria possível no Brasil? Tentativa Uruguaia • Em dezembro de 2013, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar a produção, a distribuição e venda de maconha sob controle do Estado. • O Estado assume o controle e a regulação das atividades de importação, produção, aquisição, a qualquer título, armazenamento, comercialização e distribuição de maconha ou de seus derivados. • Uma agência estatal, o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), ligado ao Ministério da Saúde Pública, é o responsável, por sua vez, por emitir licenças e controlar a produção, distribuição e compra e venda da droga. BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Tentativa Uruguaia • Todos os uruguaios ou residentes no país, maiores de 18 anos, que tenham se registrado como consumidores para o uso recreativo ou medicinal da maconha poderão comprar a erva em farmácias autorizadas. • Não é permitida a venda a estrangeiros. • Os usuários poderão ter acesso à droga de outras duas maneiras: • Autocultivo pessoal (até seis pés de maconha e até 480 gramas por colheita por ano) . • Clubes de culturas (com um mínimo de 15 membros e um máximo de 45 e um número proporcional de pés de maconha com um máximo de 99). • A lei limita a quantidade máxima que um usuário pode portar: 40 gramas. A legislação também determina o máximo que uma pessoa pode gastar por mês com o consumo do produto. Tentativa Uruguaia • Governo estimava 120.000 usuários no país, à época da apresentação do projeto; • Até o momento há cerca de 25 mil cadastrados junto ao IRCCA • Estimativa de um mercado de 40 milhões de dólares • Cerca de 10 milhões de dólares já assimilados pela economia legal Tentativa Uruguaia • Uruguai tem queda nos crimes do narcotráfico após lei da maconha. Governo comemora diminuição de 18% dos crimes relacionados ao narcotráfico (Folha de São Paulo, 12/01/2018) • Legalização da maconha não diminuiu tráfico no Uruguai. Diretor Nacional de Polícia do Uruguai, Mario Layera, disse que a legalização da maconha, aprovada em 2013, não implicou diretamente na queda do tráfico desta droga e que o narcotráfico aumentou o número de assassinatos (Portal G1, 11/03/2017) BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Modelo Português • Em 01 de julho de 2001 Portugal aprovou seu modelo sanitarista, através do qual nenhuma pessoa seria presa por portar qualquer tipo de droga (não só maconha). Mas o consumo continua a ser ilegal; • O usuário que for pego pela polícia portando qualquer tipo de droga em Portugal é encaminhado a Comissão de Dissuasão da Toxicodependência (IDT), geralmente formada por três pessoas: um advogado, um médico e um trabalhador social. Modelo Português • Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que 40 mil toxicodependentes estão em tratamento neste momento em Portugal e estima que o sistema já tenha atendido a mais de 400 mil pessoas em catorze anos de existência. Modelo Português • A segurança pública melhorou num tríplice aspecto: A) Foco da polícia passou totalmente aos traficantes B) Redução dos crimes praticados para financiar o consumo de drogas C) Diminuição da população carcerária. BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Modelo Português Modelo Português • Em termos estatísticos, o consumo não variou muito entre 2001 e 2015. O que mudou foram os seus efeitos colaterais, como a infecção pelo HIV e as mortes por overdose (Fonte: Serviço de Intervenção em Comportamentos de Vício e Dependências – SICAD PORTUGAL). • O Direitor do SICAD, alertou que “a complacência social” diante da maconha deve ser objeto de atenção. Nos últimos anos, teve a sua potência aumentada, o que tem gerado mais idas a pronto-socorros com quadros de psicose aguda e esquizofrenia. 49% dos pacientes atendidos são dependentes da maconha, pois se firmou na sociedade a ideia de que se trata da droga ilegal que traria menos riscos para a saúde. Modelo PortuguêsBR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Modelo Finlandês • Na Finlândia, o governo passou a atuar na base, especialmente com adolescentes, desde a década de 90; • Ideia central: “Senso comum forçado”; • Disponibilização intensa de atividades saudáveis aos jovens; • Atividades preferencialmente coletivas; Modelo Finlandês • Jovens desejam experiências divertidas e que geram alteração de consciência; • Quando elas não estão à disposição, o caminho das drogas gera encantamento; • Esporte, dança, atividades em contato com a natureza, arte, teatro, música. Produção de uma embriaguez natural. • Aumento de horas com os pais e familiares; Modelo Finlandês • Resultado desta política de quase 30 anos: • A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. • A taxa de meninos de 15 e 16 anos que consumiram grande quantidade de álcool no último mês caiu de 42% em 1998 para 5% em 2016. Já o índice dos que haviam consumido cannabis alguma vez passou de 17% para 7%, e o de fumantes despencou de 23% para apenas 3%. https://brasil.elpais.com/tag/marihuana/a BR UNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 - B RUNO D E LI M A SO UZA - 11 64 15 16 73 9 Qual sistema hoje seria possível no Brasil? Obrigado. Fim.