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Carol Campos

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1 
 
 
ORIGEM, HISTÓRIA E CULTURA CANNABICA 
NO MUNDO E NO BRASIL 
 
 
 
2 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresá-
rios, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo ser-
viços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de co-
nhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos 
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, 
de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Sumário 
ORIGEM, HISTÓRIA E CULTURA CANNABICA NO MUNDO E NO BRASIL
 ............................................................................................................................... 1 
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................... 2 
Introdução .................................................................................................... 4 
Poder Punitivo no Brasil...................................................................................... 5 
Fim da escravidão e entrada do pensamento lombrosiano ................................ 8 
Proibição da maconha no Brasil ........................................................................11 
Proibição da Maconha no Brasil e no Mundo ....................................................12 
História da planta e seus usos ....................................................................17 
Políticas praticadas e Políticas alternativas .......................................................20 
A ATUAL SITUAÇÃO LEGAL DA MACONHA NO BRASIL E EXEMPLOS 
INTERNACIONAIS ................................................................................................22 
A Lei de Drogas e suas implicações ..................................................................22 
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ...........................................................27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 
 
 
Introdução 
 
Ao apontar a artificialidade inerente à distinção entre as chamadas drogas 
lícitas e ilícitas, a juíza Maria Lucia Karam demonstra o caráter de construção social 
do proibicionismo nesse campo, tema desenvolvido ao longo deste texto, em espe-
cial, sob uma perspectiva histórica. 
De fato, embora tenha sido tornada uma droga ilícita no século passado, 
anteriormente, a maconha era não somente legalizada, como consistia num rele-
vante insumo econômico na Europa, utilizado desde os tempos do paleolítico. Es-
crita com as mesmas sete letras, a palavra maconha é um anagrama de cânhamo, 
matéria-prima de grande importância no Renascimento. Gutenberg utilizou papel 
de cânhamo para produzir as 135 primeiras Bíblias impressas do mundo, locali-
zando-se um desses exemplares no acervo da Biblioteca Nacional, na Cinelândia, 
Rio de Janeiro. 
Na Renascença, a maconha era um dos principais produtos agrícolas da 
Europa. Prova de sua grande influência na mudança de mentalidades é que, além 
das páginas de papel de cânhamo dos primeiros livros impressos, artistas pintavam 
em telas feitas com suas fibras. Tanto que a palavra Canvas, usada em várias lín-
guas para designar “tela”, é uma corruptela holandesa do latim 'cannabis': daí dizer-
se 'oil on canvas' (óleo sobre tela)'. 
Desde a antiguidade, gregos e os romanos usaram velas e cordas de câ-
nhamo nos navios. No século XV, cultivado nas regiões de Bordéus e da Bretanha, 
na França, em Portugal e na África, o cânhamo era destinado à confecção de cor-
das, cabos, velas e material de vedação dos barcos, que inundavam com frequên-
cia em longas navegações. 
O produto obtido de suas fibras, dotado de rigidez e elasticidade, proporcio-
nava às caravelas uma enorme velocidade. Incluindo velame, cordas e outros ma-
teriais, havia 80 toneladas de cânhamo no barco comandado por Cristóvão Co-
lombo, em 1496 (Robinson, 1999). O cultivo de cânhamo em terras lusas tornou-se 
massivo à época das Grandes Descobertas, pois fornecia o material das embarca-
ções portuguesas. Decreto do rei D. João V, de 1656, comprova que o incentivo à 
produção de maconha era uma política de Estado. 
 
 
 
5 
 
Tendo chegado graças às velas de cânhamo de suas embarcações, a histó-
ria oficial diz que foi Pedro Alvares Cabral que descobriu o Brasil. Como já viviam 
milhões de nativos aqui, chamados pelos portugueses de índios, pois imaginavam 
estar chegando às Índias, ninguém descobriu nada! Ou então, podemos 
dizer que a maconha descobriu o Brasil. 
 
Poder Punitivo no Brasil 
A fim de enfocar a questão do poder punitivo, saltamos alguns séculos, para 
o momento em que a Coroa Portuguesa fugiu das tropas de Napoleão, em novem-
bro de 1807. Ao chegarem ao Brasil, os cerca de 15 mil portugueses assustaram-
se com a ideia de viver numa cidade cuja maioria da população era formada de 
escravos. 
Além do âmbito da segurança pessoal e coletiva, o intendente de polícia, 
figura importada da metrópole, era responsável pelas obras públicas e pela garantia 
de abastecimento de água e iluminação da cidade, atividades economicamente re-
lacionadas. Na qualidade de supervisor de obras, o intendente “tinha nos presos 
um fluxo contínuo de mão-de-obra, que ele podia transferir da cadeia ou pelourinho 
para as obras da estrada” (Idem:53). 
Com a função de manter a tranquilidade da ordem pública e o patrulhamento 
da cidade, em 1809, foi criada a Guarda Real de Polícia. À medida que seus trucu-
lentos membros passavam paulatinamente a substituir os antigos capitães-do-
mato, sua atuação relacionava-se à “polícia de costumes”, ou seja, repressão de 
festas com cachaça, música afro-brasileira e, evidentemente, maconha. 
Ataques a quilombos situados nos morros eram uma das principais ativida-
des repressivas. Consta que o policial Miguel Nunes Vidigal, célebre pelo terror que 
espalhava entre os “vadios e ociosos”, na maioria, escravos que iam aos “batu-
ques”, prendeu certa vez mais de 200 pessoas, dentre homens, mulheres e crian-
ças, num quilombo do Morro de Santa Teresa (Idem Ibidem:46-7). 
Tendo surgido oficialmente em 1808, no contexto da vinda da família real, a 
polícia brasileira foi constituída sem qualquer limite legal, já que uma lei penal pro-
priamente dita somente entrou em vigor em 1830. Nesta época, conviviam elemen-
tos ideológicos contraditórios, à medida que o Brasil, desde o século anterior, 
passava a representar um papel importantíssimo para a economia portuguesa. 
 
 
 
6 
 
Sob um aparente liberalismo da metrópole, aumentava a opressão sobre a 
colônia. De fato, “uma série de reformas inspiradas no despotismo esclarecido tor-
nou o controle português mais penetrante, eficiente e opressivo para o nativismo 
brasileiro emergente” (Holloway, 1997:44). 
Enquanto na metrópole, onde fora criada a Intendência, vigorava o despo-
tismo esclarecidoe já se podia identificar alguma atenção aos Direitos Individuais, 
o mesmo não ocorreu aqui: ao contrário, na colônia, as Reformas Pombalinas tra-
duziam-se num aumento da fiscalização e da repressão. Até a partida de Dom João 
VI em 1821, as leis criminais que vigoravam no Brasil eram as do Livro V das 
Ordenações Filipinas. 
No entanto, as leis eram editadas pela polícia sob um regime totalmente ab-
solutista. Para se ter uma ideia da brutalidade das normas no Brasil, é emblemática 
a comparação com um relatório do estado de Virgínia, Estados Unidos, em 1825, 
onde o maior castigo a um escravo consistia em 39 açoites pelo furto de um par de 
botas: As penas eram brutalmente severas, por menores que fossem as infrações, 
até mesmo pelo padrão das décadas seguintes e em comparação com a escravidão 
urbana em outros lugares. 
Contrastando com a norma de aplicar 100 a 300 açoites por pequenos cri-
mes no Rio de Janeiro, não raro seguidos de vários meses de trabalho forçado em 
grilhões, vem do sul dos Estados Unidos o seguinte relatório de crimes e castigos 
de escravos em Richmond, Virgínia, em 1825: “Furto de três dólares, 20 açoites; 
três cobertores, 15, quatro dólares, 25; vestido de algodão, 15 açoites; par de botas, 
39; leito de pernas, 10”. Se a escravidão no Brasil patrimonial e católico era mais 
branda do que nos Estados Unidos capitalista e protestante, tal diferença dificil-
mente se estenderia aos castigos impostos aos escravos urbanos por pequenos 
crimes. (op. cit.:55) 
Observa-se que, antes do Código Criminal do Império (1830),eram aplicados 
entre 100 a 300 açoites para pequenos crimes, pelo Intendente da Polícia e pela 
Guarda Real. Além disso, no Brasil, os castigos chegavam a assumir o risco de 
matar o escravo. 
Encerradas as guerras napoleônicas, em 1820, intimado a retornar a Lisboa, 
o rei deixou como regente seu primeiro filho, Pedro de Bragança e Bourbon. Logo 
em seguida, Dom Pedro I decretou que “ninguém poderia ser preso senão em fla-
grante ou por ordem judicial”, que “as acusações deveriam ser propostas até 48 
 
 
 
7 
 
horas após a prisão” e que “ninguém seria encarcerado senão por decisão do Tri-
bunal”, o que foi considerado um grande avanço. 
Além disso, proibiu o uso de grilhões, correntes e tortura como punição, em-
bora escravos não gozassem de tais direitos. A crise entre os partidos brasileiro e 
português, junto à influência de ideias liberais,desembocou no “Grito do Ipiranga”, 
proclamado por Dom Pedro em 7 de setembro de 1822. Em 1824, D. Pedro I ou-
torgava o primeira Constituição do Brasil, curiosamente denominada “liberal”, po-
rém, outorgada. 
Nela, já estavam insculpidos os Direitos Humanos de Primeira Geração4, 
mas é interessante observar que tenha convivido com o Código Criminal de 1830: 
legislações com princípios antagônicos. Deste, pode ser citada a crueldade das 
penas de galés, em que os réus eram sujeitados a andar de calcete no pé e corrente 
de ferro. O artigo 46 determinava o trabalho forçado dentro das prisões. Deste 
modo, os direitos individuais garantidos pela Constituição de 1824, como o princípio 
da reserva legal, eram apenas fachada, à medida que se mantinham antigas formas 
de punir. Em especial, no que diz respeito às duas condições do escravo, simulta-
neamente considerado coisa e réu. 
Deste modo, identificamos que as raízes da criminalização da maconha no 
Brasil estão indiscutivelmente ligadas à diáspora africana. A violência até hoje nu-
trida contra tal hábito dos negros é compreendida se considerarmos que, no Brasil, 
a escravidão foi tão brutal que, com toda sua crueldade, ainda assim, o Código 
Criminal de 1830, primeira lei penal brasileira, foi considerada um avanço, ao ter 
estabelecido que o escravo que cometesse um pequeno delito deveria receber, por 
dia, no máximo, 50 chicotadas, já que antes, como citado acima, eram entre 200 a 
400: Art. 60 Se o réofôr escravo, e incorrer em pena que não seja a capital ou de 
galés, será condenado na de açoutes, e, depois de os soffrer, será entregue a seu 
senhor, que se obrigará trazêl-o com um ferro pelo tempo e maneira que o juiz o 
designar. 
O número de açoutes será fixado na sentença; e o escravo não poderá levar 
por dia mais de concoenta. 
No mesmo ano em que este código entrou em vigor, o Brasil foi o primeiro 
país do mundo a editar uma lei contra a maconha: em 4 de outubro de 1830, a 
Câmara Municipal do Rio de Janeiro penalizava o `pito de pango`, denominação da 
maconha, no § 7º da postura que regulamentava a venda de gêneros e remédios 
 
 
 
8 
 
pelos boticários: É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a conser-
vação dele em casas públicas. Os contraventores serão multados, a saber: o ven-
dedor em 20$000, e os escravos e mais pessoas, que dele usarem, em três dias 
de cadeia. (Mott in Henman e Pessoa Jr., 1986). 
Fim da escravidão e entrada do pensamento lombrosiano 
Embora tivessem apoiado o movimento da Independência, por se preocupa-
rem com a manutenção da estabilidade e da “paz social”, as elites brasileiras não 
desejavam uma ruptura com os moldes da sociedade colonial. Sem dúvida, temiam 
a ameaça representada pelo grande contingente populacional de negros. Em de-
fesa de uma suposta 'ordem pública', historicamente, as elites colocavam-se como 
“vítimas” da violência urbana. Embates nas ruas da capital culminaram com a cria-
ção da Guarda Municipal e Nacional, em 1831. 
Bastava possuir alguma renda e não ser um ex-escravo para poder se alistar 
em tais instituições paramilitares. Com o fim da figura do capitão-do-mato, seus 
representantes passaram a integrar as novas instituições oficiais ou a fazer parte 
da estrutura informal de repressão enquanto “jagunços”. 
Chamamos atenção aqui para os aspectos ideológicos que embasam a ela-
boração de leis. Segundo Michel Foucault, com a passagem dos regimes monár-
quicos para os republicanos, o centro das preocupações do poder punitivo deixou 
de focalizar na figura do rei e voltou-se para a proteção do “corpo social”. Buscando 
a assepsia da sociedade, modificavam-se as respectivas formas de segregar os 
excluídos, pela adoção de novas medidas de controle social. 
Princípios básicos da República, essas “receitas terapêuticas” para a socie-
dade incluíam a eliminação dos doentes, o controle dos contagiosos, a exclusão 
dos delinquentes (Foucault, 1979:37). 
No Brasil, a implantação dessas medidas fundamentou-se no pensamento 
positivista, que aqui chegou junto a valores que desembocaram na Abolição da 
Escravatura e na Proclamação da República. Tanto é que se faz presente no lema 
da bandeira: “Ordem e Progresso”. Enfraquecia-se a oligarquia escravocrata, en-
quanto aliavam-se militares com ideais positivistas e setores economicamente 
emergentes ainda excluídos de participação política no Brasil Imperial da segunda 
metade do século XIX. 
 
 
 
9 
 
A primeira Constituição republicana teve como modelo a Constituição dos 
Estados Unidos da América, introduzindo o presidencialismo e o federalismo, con-
sagrando o regime representativo de eleições diretas, embora excluísse analfabe-
tos, mulheres, soldados, integrantes de ordens religiosas e menores. 
Fortemente relacionado ao pensamento de Lombroso (1835-1909), o positi-
vismo influenciou o Direito Penal. Imediatamente após a Abolição da Escravatura 
(1888)7, essas ideias caíram como uma luva no Brasil. Com suas bases suposta-
mente científicas, o etnocentrismo se vestia com uma nova forma de dominação, 
mais sutil, porém muito violenta. Se os castigos aplicados no tempo da escravidão 
não seriam mais oficialmente admitidos, no alvorecer do século XX, cresceu a pre-
ocupação com as leis e sua cientificidade. 
Assim, desde a Proclamação da República (1889) ao início da “Era Vargas” 
(1930), a criminologia sustentava origens etiológicas para o crime. Em outras pala-
vras, referia-se à existência de razões biológicas,atávicas e até climáticas (calor, 
no caso) para que determinados tipos de pessoas não respeitassem a ordem. 
Características tais como o tamanho da mandíbula forneciam dados à psi-
copatologia criminal. Apesar de inconsistentes, suas teorias influenciaram crimino-
logistas, juristas e médicos, brasileiros e europeus. O positivismo apresenta diag-
nósticos e soluções para casos isolados, culpabilizando o indivíduo e não o sistema 
social, gerando um pensamento racista e sensacionalista que muito agrada às clas-
ses privilegiadas. 
Ao explicar a origem dos revolucionários, bandidos, alcoólatras, desempre-
gados, mendigos, prostitutas e maconheiros por meio de características atávicas, 
o discurso lombrosiano visava a assepsia da sociedade que deveria ser protegida 
desses (maus) “elementos”. 
Além disso, naquele momento, o país tinha que se adaptar, ainda que na 
condição de periferia, ao Sistema Capitalista Industrial. O discurso liberal e racional 
veio junto com novas relações de produção e com a busca de mercados, pois es-
cravos não poderiam consumir como os assalariados. Contudo, prova de que as 
condições escravocratas permaneceram, é que, até mais tarde, no Código Penal 
de 1940, ainda era necessário criminalizar a escravidão. 
De um lado, parecia que uma moderna República não admitia conviver com 
tal “selvageria” e brutalidade. Entretanto, esta realidade não se extinguiu totalmente 
com a República, como ainda se faz presente 
 
 
 
10 
 
até hoje. 
Apesar da pressão inglesa, também contribuiu para o fim da escravidão a 
ameaça da sociedade pela continuidade da vinda de escravos e pelas rebeliões da 
senzala. O medo da africanização por parte das elites consistia num risco para a 
segurança pública e afastava o Brasil das “rotas da civilização”8. O desequilíbrio 
entre a população brasileira livre e cativa era enorme, já que, entre 1500 e 1822, 
enquanto vieram cerca de um milhão de portugueses, vieram três milhões de afri-
canos. Apesar da historiografia oficial ter procurado camuflar a maioria de africanos 
como “povoadores forçados” do território brasileiro, o fato é que os líderes e as 
elites percebiam esse predomínio e alertavam para o risco das rebeliões 
escravas. 
Medidas abolicionistas começaram a ser adotadas pelo governo brasileiro 
por volta de 1850, quando subia o preço dos escravos, de modo que tornava-se 
menos oneroso importar mão-de-obra excedente da Europa. Parte do dinheiro dos 
fazendeiros empregado anteriormente no tráfico negreiro passou a ser investido na 
imigração9. 
O medo da sociedade brasileira desses “inimigos domésticos” somado à ne-
cessidade de trabalhadores para a agricultura, estimulou a vinda dos imigrantes 
europeus (Del Priore e Venâncio, 2001:225-9). No final do século XIX, o desem-
prego e as más-condições de vida no campo consistiam em problemas seríssimos 
na Europa, de modo que governo brasileiro e fazendeiros paulistas aproveitaram 
para promover uma política de estímulo à imigração, no intuito de “embranquecer” 
o Brasil. Defensores da imigração européia achavam que, assim, “aprimorariam” a 
sociedade. 
O desejo de liberdade dos ex-escravos era considerado “falta de vontade de 
trabalhar”: chamados de vagabundos, por meio da convivência como os estrangei-
ros europeus, os negros aprenderiam o espírito do homem livre e trabalhador. 
Recordamos que a política criminal implantada pelo Estado até meados do 
século XIX era de extermínio dos indígenas e escravidão para os negros. Transfor-
mações de um país até então eminentemente rural, o processo de ‘embranqueci-
mento’ e o início da industrialização trouxeram necessidades diferentes ao novo 
sistema, que precisava mascarar a política punitiva e de fortes raízes escravocratas 
com novas roupagens. 
 
 
 
11 
 
Proibição da maconha no Brasil 
Conforme mencionado, a psiquiatria lombrosiana chegou ao Brasil em mea-
dos do século XIX. Ao defender que determinadas raças carregavam característi-
cas naturais dos criminosos, seu discurso pseudo científico criminalizou os negros, 
sua religião, sua cultura e, obviamente, o hábito de fumar maconha. Prova de que 
esse hábito foi trazido da África pelos escravos é que uma das mais conhecidas 
denominações da maconha era “fumo de Angola”. Deste modo, seu consumo era 
considerado um impulsionador da prática de condutas penais e seus consumidores, 
tidos como criminosos de antemão. Com a Abolição da Escravatura, esse pensa-
mento viria auxiliar a controlar e reprimir a liberdade, de maneira que antigos es-
cravos e seus descendentes foram criminalizados. 
Observem que a escravidão foi abolida em 1888, a República foi procla-
mada em 1889 e a sua Constituição entrou em vigor em 1891. Um ano antes 
mesmo de ser promulgada sua lei maior, a República tratou de instaurar dois ins-
trumentos de controle dos negros em 1890: o Código Penal e a "Seção de Entor-
pecentes Tóxicos e Mistificação", a fim de combater cultos de origem africana e ao 
uso da cannabis, utilizada em rituais do Candomblé, considerado “baixo espiri-
tismo”. 
Alguns anos depois, o psiquiatra Rodrigues Dória (1857-1958) teve grande 
influência na criminalização da maconha, chegando a associá-la a uma espécie de 
vingança de negros “selvagens” contra brancos “civilizados” que os haviam escra-
vizado. Vejamos um fragmento de seu texto etnocêntrico, discriminando a cultura, 
a religião e o maravilhoso diálogo rimado da diversidade cultural brasileira dos ne-
gros, nativos e pobres: ...é possível que um individuo já propenso ao crime, pelo 
efeito exercido pela droga, privado de inibições e de controle normal, com o juízo 
deformado, leve a prática seus projetos criminosos . (…) 
Entre nós a planta é usada, como fumo ou em infusão, e entra na composi-
ção de certas beberragens, empregadas pelos “feiticeiros”, em geral pretos africa-
nos ou velhos caboclos. Nos “candomblés” - festas religiosas dos africanos, ou dos 
pretos crioulos, deles descendentes, e que lhes herdaram os costumes e a fé – é 
empregada para produzir alucinações e excitar os movimentos nas danças selva-
gens dessas reuniões barulhentas. 
Em Pernambuco a erva é fumada nos “atimbós” - lugares onde se fazem os 
feitiços, e são frequentados pelos que vão aí procurar a sorte e a feliciadade. Em 
 
 
 
12 
 
Alagoas, nos sambas e batuques, que são danças aprendidas dos pretos africanos, 
usam a planta, e também entre os que “porfiam na colcheia”, o que entre o povo 
rústico consistem em diálogo rimado e cantado em que cada réplica, quase sempre 
em quadras, começa pela deixa ou pelas últimas palavras de contendor (Henman 
e Pessoa Jr, 1986). 
Como podemos ver, psiquiatras brasileiros elaboraram uma série de teses 
criminalizando negros, nativos, mulheres, capoeiristas, sambistas, maconheiros, 
prostitutas, macumbeiros, cachaceiros, explorando certo tipo de discurso que es-
tigmatizava todos que não fossem supostamente brancos “puros”, próximo daquele 
que viria a originar também ideias fascista e nazista da superioridade de raças. 
Já nos anos 1940, embora Filinto Muller, influente chefe da polícia política 
de Getúlio Vargas, declarasse que a Umbanda não fazia mal a ninguém, invadia e 
quebrava todos os terreiros que insistiam no uso da maconha. Como havia o desejo 
da Umbanda, que estava se estruturando, ser reconhecida como religião, subtraiu-
se o uso da maconha de suas práticas para obter esse reconhecimento. Identifica-
se aí um traço de embranquecimento, ainda que forçado, da Umbanda. 
Ao mesmo tempo em que eram descriminalizadas as religiões de origem 
africana, a capoeira e o samba, a maconha foi criminalizada pelo artigo 281 do 
Código Penal de 1940. 
Proibição da Maconha no Brasil e no Mundo 
(…) vale acrescentar (à conceituação de proibicionismo) a mais bem humo-
rada tradução dada pelo Professor Charles Whitebread à ideia de proibição, defi-
nindo-a como a utilização da lei penal para criminalizarcondutas que grande parte 
de nós parece querer praticar... (Karam, 2009 ;2) 
A primeira ação internacional no sentido de promover uma proibição coorde-
nada à produção, distribuição e ao consumo de determinadas substâncias psicoa-
tivas e suas matérias primas foi sistematizada na Convenção Internacional sobre o 
Ópio, organizada pela Liga das Nações, em Haia, no ano de 1912 (Karam, 2009 : 
3). A referida convenção recomendava aos Estados signatários que examinassem 
a possibilidade de criminalização da posse de ópio, morfina, cocaína e seus deri-
vados. Inspirada nela, em 1921, entrou em vigor, no Brasil, o Decreto número 4294, 
que punia tão somente o comércio de “substância de qualidade entorpecente”. 
 
 
 
13 
 
Na II Conferência Internacional do Ópio, em Genebra, 1925, vale destacar a 
afirmação de Dr. Pernambuco, para delegações de 45 outros países: “a maconha 
é mais perigosa que o ópio”. Cabe destacar que, apesar da cocaína e da morfina 
já haverem sido incluídas desde a anterior, ambas as convenções tinham como 
objetivo o combate ao ópio. Considerando que esta erva não constava da recomen-
dação de 1912, esse médico, indiscutivelmente, influenciou a criminalização da ma-
conha em todo o mundo. 
Em outras palavras, foi baseada nas ideias racistas e escravocratas presen-
tes no discurso de um psiquiatra brasileiro, que a criminalização da maconha viria 
a ser internacionacionalizada. Em 1931, foi realizada a Convenção de Genebra, 
que regulamentaria as duas convenções internacionais anteriores. Nela, a crimina-
lização não chegou a ser imposta, mas já avançava no sentido de uma ideologia 
proibicionista. 
Em 1932, entrou em vigor, no Brasil, o decreto 2930 que passava a penalizar 
também o usuário, porém, diferenciando-o do traficante. Merece destaque o De-
creto-Lei 891/38 que estabeleceu a toxicomania como doença compulsória, tra-
tando de internação civil e interdição dos toxicômanos. Em 1940, entrou em vigor 
um novo Código Penal, que apenava a conduta de traficar, em seu famoso artigo 
281, inclusive mencionado em canção do saudoso Bezerra da Silva. 
Três convenções da ONU dirigidas contra as drogas tornadas ilícitas expres-
saram-se acerca da matéria: a Convenção Única sobre entorpecentes (1961), o 
Convênio sobre substâncias psicotrópicas (1971) e a Convenção das Nações Uni-
das contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas (Viena, 
1988). 
Em 1968, em plena ditadura militar, por meio do Decreto-Lei 385 e alteração 
do artigo 281 do Código Penal, o usuário foi equiparado ao traficante, sendo-lhes 
atribuídas penas idênticas. Em 29/10/1971, foi editada a lei 5726, que mantinha 
esta equiparação e trazia medidas ainda mais profundamente repressivas, tais 
como o oferecimento de denúncia mesmo sem qualquer substância, ou seja, sem 
existência de prova material. Esta situação de exceção era análoga ao que o regime 
militar também fazia por meio da Lei de Segurança Nacional, pela qual qualquer 
policial, sem ordem judicial, podia prender uma pessoa e deixá-la incomunicável 
com sua família ou advogado por trinta dias, renováveis através apenas de uma 
comunicação ao juiz, por mais trinta. 
 
 
 
14 
 
Em 1976, entrou em vigor a histórica lei 6368, que distinguia o traficante - 
tipificado no artigo 12 - do usuário, tipificado no artigo 16 – tendo vigorado em parte 
até 2002, quando FHC sancionou a lei 10409/2002, a qual sofreu tantos vetos que 
se tornou absolutamente sem sentido. Embora tenha se reunido recentemente às 
trincheiras dos ativistas pró-legalização, durante seu mandato na Presidência do 
Brasil, Fernando Henrique Cardoso nada mudou sobre a legislação de drogas, à 
medida que afirmou-se da Lei 10.409/2002 estar apenas trocando ‘seis por meia 
dúzia’. Seu sucessor, Lula, embora não tenha se posicionado publicamente sobre 
o tema, em meio ao processo de sua reeleição, em agosto de 2006, sancionou a 
Lei 11343, que acabou com a pena de prisão para os usuários de substâncias ile-
gais e para quem plantar pequena quantidade de maconha para uso próprio. 
Na realidade, os artigos 12 e 16 da Lei 6368/76 vigoraram até 2006 quando 
foram finalmente revogados pelo Lei 11343/2006. Pois FHC fez tantos vetos a sua 
própria Lei 10409/2002, que tais artigos criminalizadores continuaram em vigor. 
Hoje Em 2009, foi encaminhada uma representação à Procuradoria-Geral 
da República, noticiando decisões judiciais que proibiam as Marchas da Maconha 
em cidades brasileiras. Impulsionada pela mesma, a Procuradora Debora Macedo 
Duprat de Britto Pereira propôs a Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental nº 187, que o Supremo Tribunal Federal julgou procedente, por unanimi-
dade, no dia 15 de junho de 2011, baseado no relatório e voto memorável do Mi-
nistro Celso de Mello. 
Até então, passaram-se anos de luta, tendo mais de 100 pessoas sido pre-
sas dentre os que convocavam e participavam das Marchas. Após a histórica Mar-
cha de São Paulo, o Supremo julgou procedente a ação, de modo que o protesto 
de ativistas na rua acarretou o reconhecimento da legalidade democrática do mo-
vimento e a ilegalidade das recentes medidas judiciais repressivas. 
Em maio de 2012, por decisão da maioria do seu Plenário, o Supremo Tri-
bunal Federal, no Habeas Corpus nº 104339, declarou incidentalmente inconstitu-
cional parte do artigo 44 da Lei 11343/2006, que proibia a concessão de liberdade 
provisória em caso de tráfico de entorpecentes. A regra é o direito de responder a 
uma acusação criminal em liberdade. Para decretar a provisória prisão preventiva, 
o Juiz precisa apresentar fatos e elementos que demonstrem a presença de seus 
requisitos, que são: de ordem pública, quando há provas de que em liberdade o 
indiciado poderá praticar outros crimes; para garantia da instrução criminal, quando 
 
 
 
15 
 
o acusado estiver coagindo alguma testemunha; ou para assegurar a aplicação da 
lei penal, pois o denunciado pode fugir da cidade. Tratam-se de alguns exemplos 
para se tirar, excepcionalmente, a liberdade de alguém. O STF assegurou, assim, 
a necessidade da análise dos requisitos da prisão preventiva para a medida excep-
cional. 
O Juiz não pode mais decretar a prisão de uma pessoa argumentando a 
vedação da lei à liberdade provisória, pois a Suprema Corte declarou sua inconsti-
tucionalidade. 
Tal medida é importantíssima, pois bem mais da metade dos presos no Bra-
sil - constituída de primários, de bons antecedentes, com residência fixa, desarma-
dos no momento do crime, sem pertencer à qualquer organização criminosa, e, 
pior, sem obrigar ninguém a comprar dele a droga tornada ilícita - está na cadeia 
por tráfico. 
O senso comum leva a crer que os presos são poderosos traficantes, mas 
esses são franca minoria. Os verdadeiros traficantes são milionários e bilionários 
que agem no sistema bancário em aplicações financeiras, compras de imóveis, mas 
esses nunca serão presos, porque a cadeia serve, com raríssimas exceções, para 
punir e controlar os pobres. Mas não se deve pensar que não existe tipificação de 
crime para os financiadores. Apesar de não podermos dar a conhecimento um caso 
concreto, cabe destacar o artigo 36 da Lei 11343/2006, que, por incrível que pareça, 
está em vigor: 
“Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos 
arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, 
e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.” 
A pena real para os verdadeiros traficantes e corruptos seria a perda dos 
bens, que está na Constituição, mas não está regulamentada em lei infraconstitu-
cional, mesmo vigorando o inciso XLVI do seu artigo 5º da Carta Política: 
“Art. 5º....XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, 
as seguintes: 
a) privação ou restrição da liberdade; 
b) perda de bens; 
c) multa; 
d) prestação socialalternativa; 
e) suspensão ou interdição de direitos;” 
 
 
 
16 
 
No final de 2011, o Supremo Tribunal Federal já havia decidido, através de 
seu Plenário Virtual, que um caso de porte de maconha na cadeia tinha repercus-
são geral. Isto significa que o STF pode decidir, nesse caso, que a criminalização 
do consumo de drogas tornadas ilícitas é inconstitucional, por diversos motivos: 
primeiro, porque fere o princípio da igualdade, ao criminalizar consumidores de dro-
gas ilícitas, enquanto é descriminalizado o consumo de drogas lícitas; segundo, 
porque viola o princípio da lesividade, quando criminaliza uma conduta que não 
atinge terceira pessoa, mas apenas o próprio usuário, que atinge somente sua sa-
úde e jamais a saúde pública; terceiro, pois a criminalização ataca a racionalidade 
do discurso iluminista do “Império da Lei”, ao desrespeitar as garantias republicanas 
da intimidade e vida privada. 
Leis não podem violar essas garantias individuais, pois o Estado não pode 
intervir na escolha individual do que é consumido nem controlar o direito de cada 
um dispor de sua própria vida. A auto-lesão, assim como o suicídio, não é crime. 
De fato, ninguém pode ser processado por “tentativa de suicídio” e muito menos 
por suicídio! 
Este ano foi apresentado ao Senado, por uma Comissão de Juristas, projeto 
do novo Código Penal, que exclui o crime para quem estiver portando quantidade 
equivalente a cinco dias de consumo. 
Além disso, um anteprojeto de lei, apresentado e divulgado na mídia pela 
OnG Viva Rio, propõe a descriminalização do porte de uma quantidade equivalente 
a dez dias de consumo. Outro fato que vem sendo debatido é o Plano Nacional de 
Segurança Pública proposto pelo presidente Mujica do Uruguai, a fim de combater 
a violência e o consumo de crack. Neste projeto, o Estado venderia quarenta base-
ados - cigarros de maconha – a um usuário por mês. 
Aqui, no Brasil, ao levarmos em consideração as mudanças nos níveis judi-
cial e legal, é fundamental ressaltar que as Marchas da Maconha influenciaram es-
tes avanços. A rua é um importantíssimo palco da política, garantido pelo artigo 5º, 
inciso XVI, da Constituição Federal/1988: “todos podem reunir-se pacificamente, 
sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, 
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo lo-
cal, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”. Deste modo, 
adeptos e simpatizantes participam das Marchas da Maconha, mostrando sua força 
para legalizar a maconha no Brasil e no mundo. 
 
 
 
17 
 
Estamos caminhando para a legalização, mas a reação dos punitivos proibi-
cionistas é notória. Delegados, Promotores e Juízes não aplicam a lei e condenam 
milhares de jovens consumidores como traficantes, numa espécie de vingança pe-
los avanços de dispositivos libertários, como o fim da pena de prisão para consu-
midores e plantadores de pequena quantidade previstos no artigo 28 da Lei 
11343/2006. Um fato que exemplifica esta reação é que, mesmo garantida pelo 
Supremo Tribunal Federal, a Marcha da Maconha de 2012 foi brutalmente reprimida 
em Ipanema. 
Em breve, provavelmente, a Suprema Corte julgará a inconstitucionalidade 
da criminalização do consumo e do porte para uso próprio, pois, por todas as razões 
apresentadas, trata-se de grave violação às garantias republicanas dos Direitos 
Humanos de Primeira Geração. 
 
História da planta e seus usos 
 
Popularmente conhecida no Brasil como maconha (termo que é um ana-
grama da palavra cânhamo), a planta de origem asiática, Cannabis sativa, teve sua 
nomenclatura proposta pelo botânico sueco Carolus Linnaeus em 1753. Esta é a 
taxonomia mais utilizada pela comunidade científica e frequentemente citada nos 
textos relacionados ao tema. 
No entanto, a herbácea da família Cannabaceae, possui três espécies prin-
cipais: Cannabis sativa, Cannabis indica – identificada pelo naturalista francês 
Jean-Baptiste Lamarck em 1785 – e Cannabis ruderalis – classificada em 1924 pelo 
botânico russo D. E. Janischevsky (EVANS; MCRAVEN, 2017). 
Os canabinoides são as substâncias responsáveis pelas propriedades tera-
pêuticas e psicoativas das espécies de cannabis e estão presentes na resina que 
cobre a superfície de toda a planta. O canabidiol (CBD), que apresenta proprieda-
des terapêuticas, e o tetrahidrocanabinol (THC), que possui efeitos psicoativos, são 
os principais canabinoides dos mais de 80 registrados (ARAÚJO, 2017). 
A planta em questão por vezes é chamada cânhamo, mas este termo é me-
lhor aplicado para designar tipos de cannabis que possuem baixíssimas quantida-
 
 
 
18 
 
des, cerca de menos de 1%, de THC, conhecido como cânhamo industrial. Da es-
trutura da planta extrai-se a fibra, que é matéria prima para fabricação têxtil, na 
produção de papel, cordas e na construção civil. 
Da semente, retira-se o óleo que contém grandes capacidades nutricionais 
e do qual se produz biocombustível. No que se refere à flor, que detém concentra-
ções significativas de canabinoides, como o THC e o CBD, é usada para fins recre-
ativos sendo, por exemplo, fumada ou ingerida e na produção de medicamentos. 
As folhas também possuem resina, porém em menores concentrações e são usa-
das também na culinária. 
E há ainda propriedades medicinais nas raízes, utilizadas tradicionalmente 
por povos que recorrem a esta para combater um amplo leque de enfermidades 
(EVANS; MCRAVEN, 2017). 
O cânhamo é um velho conhecido das civilizações. Registros do início da 
antiguidade revelam que seu uso passou a ser comum na fabricação de fibras para 
confecção de tecidos na China a partir de 4000 a.C. (FRANÇA, 2015). Este período 
é marcado pelo surgimento da escrita, e desde lá a cannabis esteve presente na 
vivência de inúmeras civilizações para ser documentada, em principal, pelos seus 
usos industriais e medicinais. 
No século I a.C., também na China, é descoberto o uso da fibra do cânhamo 
para fabricação de papel (FRANÇA, 2015). Sendo tão versátil, não é difícil compre-
ender como o cânhamo disseminou-se pelo Oriente Médio, África, Europa e poste-
riormente, devido à expansão marítima europeia, à América. Segundo França 
(2015, pg.8), os árabes introduziram a planta na Península Ibérica e, por volta do 
século XII, dá-se na Espanha mourisca seu uso no ocidente para a produção de 
papel. 
A fibra em questão foi indispensável para equipar a expansão dos territórios 
das metrópoles imperialistas, que continham em suas expedições marítimas velas 
e cordas feitas de cânhamo, assim como as vestes de seus tripulantes e os papéis 
de suas cartas e mapas. 
Os ingleses iniciaram a produção da cultura em solo norte-americano no co-
meço do século XVII e os norte-americanos mantiveram o cultivo de forma legal e 
com o apoio do Estado até o final da segunda guerra mundial, em 1945. Portugal, 
que possui tradição no cultivo e utilização do cânhamo, desde o século XVIII até 
1945 editou manuais agrícolas ensinando a plantá-lo e dele extrair a melhor fibra. 
 
 
 
19 
 
Assim como a Inglaterra, Portugal introduziu a cultura em suas colônias, em espe-
cial, para atender as necessidades da marinha (FRANÇA, 2015). 
Houve tentativas de inserir o cânhamo para fins industriais na porção portu-
guesa da América, sendo que algumas dispuseram de apoio governamental, como 
o caso da Real Feitoria do Linho Cânhamo em São Leopoldo no Rio Grande do Sul, 
mas não houve o estabelecimento da cultura de forma tradicional no Brasil 
(FRANÇA, 2015). 
No entanto, a Lei de Fiscalização de Entorpecentes foi aprovada em 1938 
(decreto-lei Nº 891) e a proibição encerra as tentativas de inserção e de pesquisa 
da cultura da cannabis, assim como dos produtos dela derivados e seus usos. 
O princípio da dignidade humana e o direito à privacidade quanto ao porte 
de Drogas A Lei vigente sobre drogas no país é a 11.343 de 2006que prevê penas 
de advertência, prestação de serviços à comunidade ou medida educativa obriga-
tória, àquele que portarem drogas para uso pessoal (BRASIL, 2006). 
As consequências, apesar de mais brandas do que a pena de prisão, não 
retiram sua natureza delitiva, nem o caráter estigmatizante da incidência da norma 
penal (KARAM, 2006). 
Portanto, o porte de drogas para consumo próprio é crime no Brasil. Trata-
remos aqui da constitucionalidade da criminalização do consumo de entorpecentes. 
Ao criminalizar o porte de droga para uso pessoal, a lei afronta o princípio da Dig-
nidade da Pessoa Humana e da pluralidade, ambos previstos na Constituição Fe-
deral (artigo 1º, III e V). 
O primeiro pode ser definido como a capacidade de autodeterminação do 
ser humano para o desenvolvimento de um mundo de vida autônomo, onde seja 
possível a reciprocidade (GRECO, 2010). Pluralidade significa a tolerância no 
mesmo corpo social de diferentes estilos de vida, ideologias e preferências morais, 
respeitadas as fronteiras do mundo de vida dos outros (FELICIO, 2016). 
Segundo Roxin (2006, p.40), “Impedir que as pessoas se despojem da pró-
pria dignidade não é problema do direito penal. Mesmo que se quisesse, por exem-
plo considerar o suicídio um desprezo à própria dignidade este argumento não po-
deria ser trazido para fundamentar a punibilidade do suicídio tentado”. Comporta-
mentos praticados dentro do espaço de autodeterminação do indivíduo, sem reper-
cussão para terceiros, não afetem a dignidade de outros membros do corpo social 
e, portanto, não têm relevância penal. 
 
 
 
20 
 
Os direitos fundamentais à intimidade e à vida privada estão previstos no 
inciso X do artigo 5º da Constituição “X – são invioláveis a intimidade, a vida pri-
vada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo 
dano material ou moral decorrente de sua violação” (BRASIL, 1988). Ou seja, a 
punição criminal do porte de drogas esbarra na proteção da intimidade e da vida 
privada, direitos garantidos constitucionalmente. 
Políticas praticadas e Políticas alternativas 
Segundo a Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (2018), há muitos 
anos convivemos com políticas de drogas orientadas pelo tabu e pelo moralismo. 
Comportamentos considerados desviantes ou anormais têm sido proibidos e crimi-
nalizados e essa é razão para a manutenção da proibição de determinadas drogas, 
como a maconha, em detrimento de outras, como o álcool. 
As decisões políticas de nossos representantes e de gestores de políticas 
públicas devem levar em conta as melhores evidências científicas disponíveis e não 
é razoável fazer política pública com base apenas em certezas morais. A Política 
atual no Brasil em relação às drogas é de proibição e repressão. Como visto no 
tópico acima, o porte é crime apesar de despenalizado. Mais adiante no nosso es-
tudo, trataremos de forma mais profunda acerca da Lei de Drogas (11.343/06). 
Neste momento, cabe compreender a orientação das políticas de drogas aqui pra-
ticadas e quais as alternativas possíveis. 
As políticas repressivas combatem a oferta de drogas visando reduziram o 
consumo. Este raciocínio possui dois problemas econômicos: primeiro, considerar 
preço uma variável de impacto para o consumidor e depois, acreditar que é a oferta 
de drogas que gera sua demanda. As políticas focadas em atacar a oferta descon-
sideram que a formação de preços em um mercado tão específico leva em consi-
deração os custos agregados de todo o processo produtivo e de distribuição. 
Não apenas aos custos monetários da produção em si, mas também os da 
logística do tráfico, os gastos com propina e os custos relacionados aos riscos da 
atividade. Além dos custos impostos aos usuários através da dificuldade de acesso. 
Mankiw (2004) mostrou o comportamento do mercado de drogas a um aumento da 
pressão policial à oferta de drogas. Oferta e demanda são as duas forças que ga-
rantem o funcionamento de um mercado, determinando preços e a quantidade de 
produtos oferecidos. 
 
 
 
21 
 
Em sua demonstração, exibido no gráfico a diante, um aumento da pressão policial 
leva a curva de oferta a se desloca para a esquerda de O para O’ fazendo o preço 
da droga em questão aumentar de P0 para P1 e a quantidade ofertada sofrer uma 
leve redução de Q0 para Q1. 
 
O impasse está ao avaliar a redução na oferta quando confrontada com o 
aumento de preço. As drogas são bens ineláticos, ou seja, a resposta a quantidade 
demandada é pouco sensível a elevação nos preços. 
Em função da inelasticidade preço da demanda (BECKER, MURPHY E 
GROSSMAN, 2004), o consumidor irá comprar drogas independente do aumento 
nos preços, fazendo com que o aumento da receita gerada, mesmo havendo uma 
redução da quantidade, tenha um impacto social negativo. Dada a repressão, a 
inelasticidade preço da demanda das drogas fortalece financeiramente o narcotrá-
fico. Já que, o aumento da receita do tráfico de drogas, mesmo com a redução das 
quantidades vendidas, torna-se um atrativo à entrada de ofertantes que, por sua 
vez, terão que competir com outros já preexistentes. O que acarreta em conflitos 
por território de tráfico. 
Sendo assim, as políticas de repressão mostram-se paradoxais, pois mesmo 
que o objetivo seja enfraquecer o narcotráfico e o mercado de drogas, terminam, 
dada as características específicas deste mercado, gerando um fortalecimento do 
 
 
 
22 
 
mesmo. Se o objetivo das políticas forem a redução do consumo de entorpecentes 
o que deve ser levado em consideração é a demanda. 
As drogas não devem ser tratadas como um tabu, a informação acerca de 
seus usos e feitos devem ser disseminadas de forma verídica e os usuários e de-
pendentes devem ter acesso a atendimento e cuidados profissionais. 
Segundo a Associação Internacional de Redução de Danos (IHRA) (2010), 
redução de danos é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os 
danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou 
não querem parar de usar drogas. Focando na prevenção aos danos, ao invés da 
prevenção do uso de drogas. Redução de danos complementa outras medidas que 
visam diminuir o consumo de drogas como um todo. 
É baseada na compreensão de que muitas pessoas em todo mundo seguem 
usando drogas apesar dos esforços empreendidos para prevenir o início ou o con-
sumo contínuo de drogas, assim, como aceita o fato de que muitas pessoas não 
conseguem ou não querem parar de usar drogas, mas o acesso a um tratamento 
adequado é fundamental (IHRA, 2010). 
A ATUAL SITUAÇÃO LEGAL DA MACONHA NO BRA-
SIL E EXEMPLOS INTERNACIONAIS 
A Lei de Drogas e suas implicações 
Movimentos pró-legalização, como as Marchas da Maconha, estão se forta-
lecendo e promovendo avanços no debate acerca da regulamentação e legalização 
da maconha no país. As reivindicações, além de pedirem mudanças na Lei de Dro-
gas e na política de repressão, adotadas pelos países orientados pela ONU (OR-
GANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS), pleiteiam a legalização para fins recreativos 
de todas as drogas, o apoio a pesquisa acerca das capacidades medicinais da can-
nabis, o autocultivo e o uso religioso. 
A Marcha da Maconha (Global Marijuana March) surgiu nos EUA nos anos 
1990 e ocorre anualmente em mais de 300 cidades no mundo. No Brasil, está pre-
sente em quase 40 municípios (MELO, 2018). Diante de um grande número de 
decisões judiciais proibindo a marcha da maconha em diversos estados do país, 
em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a Marcha da Maconha em todo 
 
 
 
23 
 
o país por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.274 (SUPREMO TRIBU-
NAL FEDERAL, 2012). A Lei que vigora acerca da cannabis e suas substâncias 
psicoativas no Brasil é a mesma Lei que rege as demais drogas, a 11.343 de 23 de 
agosto de 2006, que revogou as Leis nº 6.368/76 e nº 10.409/02 (BRASIL,2006). 
No artigo 1º , a Lei instituio Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre 
Drogas – Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e 
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para 
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. 
Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos 
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em 
listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (BRASIL, 2006). 
O Congresso Nacional aprovou a adoção da Convenção sobre Substâncias 
Psicotrópicas, assinada em Viena, em 1971 e o então presidente, Ernesto Geisel 
decreta (Decreto nº 79.388) em 14 de março de 1977 que a Convenção seja exe-
cutada e cumprida tão inteiramente como nela se contém (BRASIL, 1977). 
Os membros participantes da convenção alegaram preocupação com a sa-
úde e o bem-estar da humanidade diante do abuso de certas substâncias psicotró-
picas. Determinados em prevenir e combater o abuso de tais substâncias e o tráfico 
ilícito, consideraram que medidas rigorosas seriam necessárias para restringir o 
uso de tais substâncias aos fins legítimos. 
Foi reconhecido que o uso de substâncias psicotrópicas para fins médicos e 
científicos é indispensável e que a disponibilidade daquelas para esses fins não 
deve ser indevidamente restringida (BRASIL, 1977). A Convenção de Viena cate-
goriza as substâncias psicotrópicas em quatro listas, o artigo 7º dispõe sobre subs-
tâncias incluídas na Lista I. 
E com respeito às substâncias incluídas na Lista I, fica determinado que as 
partes deverão: a) proibir todos os usos, exceto para fins científicos e para fins 
médicos muito limitados, por pessoa devidamente autorizada, em estabelecimentos 
médicos ou científicos que estejam diretamente sob o controle de seus Governos 
ou hajam sido por eles especificamente aprovados; (…) f) proibir a exportação e 
importação, exceto quando o exportador e importador forem, ambos, autoridades 
ou repartições competentes do país ou região importadora ou exportadora, respec-
tivamente, ou outras pessoas ou empresas que sejam especificamente autorizadas 
pelas autoridades competentes de seu país ou região para tal fim (BRASIL, 1977). 
 
 
 
24 
 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob a forma de autar-
quia de regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, regulamenta e é res-
ponsável pela aprovação dos produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária. 
A planta cannabis sativa e suas substâncias psicotrópicas encontram-se classifica-
das em listas de substâncias proibidas da Anvisa. Devido a seu uso terapêutico, a 
Anvisa retirou em 2016 o canabidiol (CBD) da lista de substâncias proibidas no 
Brasil, liberando o uso controlado do canabinoide. (ANVISA, 2016). Em 22ª posição 
na Lista C1, a Lista das outras substâncias sujeitas a controle especial (sujeitas a 
Receita de Controle Especial em duas vias) da Anvisa, está o CANABIDIOL (CBD) 
(ANVISA, 1998). 
Para fazer uso de tratamento médico com canabinoides no país é necessário 
a prescrição de um médico e autorização da Anvisa, que apenas regulamenta óleos 
importados. Os mercados não oficiais são onde óleos de cannabis são feitos arte-
sanalmente por pacientes, familiares de pacientes ou por associações. Não é pos-
sível, no entanto, saber a concentração de canabinoides nesses óleos. Isso dificulta 
a terapia e avaliação médica, por outro lado, os custos desses óleos são baixos em 
relação aos importados, na maioria das vezes inviabilizam o tratamento de pacien-
tes que não tem condições de arcar com os custos da importação (APEPI, 2014). 
Em janeiro de 2017, a Anvisa aprovou o registro do medicamento Mevatyl® impor-
tado do Reino Unido (BEAUFOUR IPSEN FARMACÊUTICA LTDA, 2017) com te-
traidrocanabinol (THC), 27 mg/mL + canabidiol (CBD), 25 mg/mL. Na forma farma-
cêutica solução oral (spray) que é indicado para o tratamento sintomático da es-
pasticidade moderada a grave relacionada à esclerose múltipla. 
É o primeiro medicamento registrado no país à base de cannabis (ANVISA, 
2017). Na Lista E, a Lista de plantas proscritas que podem originar substâncias 
entorpecentes e/ou psicotrópicas, a Cannabis sativa L ocupa o primeiro lugar. Fi-
cam proibidas a importação, a exportação, o comércio, a manipulação e o uso da 
planta e de suas substâncias, sendo permitida, excepcionalmente, a importação de 
produtos que possuam as substâncias canabidiol e/ou tetrahidrocannabinol (THC), 
quando realizada por pessoa física, para uso próprio, para tratamento de saúde, 
mediante prescrição médica (ANVISA, 1998). E, por fim, na Lista F2, a Lista de 
substâncias psicotrópicas, ocupa a 96ª posição o tetrahidrocannabinol (THC) (AN-
VISA, 1998). 
 
 
 
25 
 
O art. 2 o da Lei de Drogas proíbe, em todo o território nacional, as drogas, 
bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos 
dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de 
autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de 
Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito 
de plantas de uso estritamente ritualístico religioso. Podendo a União autorizar o 
plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusi-
vamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, me-
diante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas (BRASIL, 2006). 
O Art. 28 da Lei de Drogas define que quem adquirir, guardar, tiver em de-
pósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autori-
zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido 
às seguintes penas: I – advertência sobre os efeitos das drogas; II – prestação de 
serviços à comunidade; III – medida educativa de comparecimento a programa ou 
curso educativo (BRASIL, 2006). 
§ 1 o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, 
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade 
de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. 
§ 2 o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz 
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condi-
ções em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem 
como à conduta e aos antecedentes do agente (BRASIL, 2006). 
Quanto ao art. 28, a interpretação deste, no que se refere a diferenciação 
entre usuário e traficante, abre espaço para que os responsáveis por implementá-
la, a façam de forma preconceituosa e até racista. A interpretação desta lei em um 
país desigual como o Brasil deixa a população negra, pobre e periférica mais vul-
nerável a ser entendida como traficantes e não usuários. 
O artigo 33 da Lei de Drogas caracteriza como crime importar, exportar, re-
meter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em 
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a con-
sumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desa-
cordo com determinação legal ou regulamentar. A pena é de 5 (cinco) a 15 (quinze) 
anos de reclusão e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
 
 
 
26 
 
multa (BRASIL, 2006). Como dito no capítulo anterior, quase um 1/3 da população 
carcerária está presa por crimes relacionados às drogas. 
A nova Lei de Drogas revogou duas leis de drogas vigentes anteriormente a 
esta, as Leis nº 6.368/76 e nº 10.409/02. As principais mudanças ocorridas foram 
aumento da pena mínima para o tráfico e extinção da prisão para o usuário de 
drogas (COSTA, 2015). A pesquisadora Juliana Borges (2018) afirma que houve 
um aumento exponencial da prisão de mulheres, principalmente negras, depois da 
promulgação da Lei de Drogasde 2006. 
Entre 2006 e 2014, a população feminina nos presídios aumentou em 
567,4%. A nível de comparação, o aumento no contingente de homens encarcera-
dos foi de 220%, sendo que 62% das mulheres presas estão por tráfico de drogas, 
ao passo que os homens são cerca de 27%. Expondo que a guerra às drogas e a 
Lei 11.343/2006 têm impactos diretos em mulheres negras, pois transforma tráfico 
em crime hediondo e a decisão de quem é usuário ou não a cargo dos agentes 
policiais e juízes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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