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1 Angela Maria Alves e Souza Organizadora Fortaleza - 2011 SOUZA, Ângela Maria Alves e (Org.).Coordenação de Grupos. Teoria, Prática e Pesquisa. Expressão Gráfica Editora. Fortaleza 2011. ISBN.9788575636824.388 páginas. 2 Angela Maria Alves e Souza Organizadora COORDENAÇÃO DE GRUPOS: TEORIA, PRÁTICA E PESQUISA 2ª. Edição Revisada e atualizada Fortaleza-2019 3 Dados internacionais de catalogação-na-publicação ______________________________________________________________________ Coordenação de grupos: Teoria, Prática e Pesquisa. 2ª. Edição – Revisada e atualizada. / Angela Maria Alves e Souza, (Organizadora). – Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2019. 400p. : il. color. ISBN: 978-85-7563.682. 4 1. Formação profissional em saúde. 2. Saúde pública. 3. Saúde mental. . 4 Equipe interdisciplinar. I. Título. Souza, Angela Maria Alves e (Org.). CDD 610.73072 ______________________________________________________________________ Conselho Editorial José Tarcísio Diniz-UFC Rita Paiva Pereira Honório -UFC 4 Organizadora Ângela Maria Alves e Souza- Enfermeira em saúde mental, possui graduação em ENFERMAGEM pela Universidade Federal do Ceará (1993), mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (1997) e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (2004). Desde 1998 até os dias atuais é docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará e supervisiona prática de acadêmicos de enfermagem-UFC do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS/SRIII. Ministra as disciplinas de Enfermagem no Processo de Cuidar em Saúde Mental, Tanatologia, Coordenação de grupos, e Práticas Alternativas em Saúde. Tem experiência, com ênfase em promoção em Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: enfermagem, saúde mental, CAPS, terapia do luto e família, abordagem com grupos, interdisciplinaridade, Práticas Integrativas e Complementares-PICs. Líder do grupo de pesquisa Políticas e Práticas de Saúde -GRUPPs Coordenadora do grupo terapêutico de apoio ao luto- PLUS+ Transformação. Coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão e Perdas luto e Separação- PLUS DENF-UFC. Naturopata, Formação em acupressura-ABENCe(1999) e Reflexologista. Terapeuta Florais de Bach e auriculopunturista e acupunturista- TUNG. Mestra em Reiki USUI tradicional. Coordena e desenvolve cuidados como enfermeira na promoção de saúde mental no Laboratório de Práticas Alternativas em Saúde LABAS-DENF-UFC realiza terapias de auriculopuntura e acupuntura TUNG, reflexologia, meditação, visualização criativa, florais de Bach, aromoterapia, musicoterapia, cromoterapia, florais de Bach e toque terapêutico. Formação em arteterapia. Escritora de livros de abordagem em grupo e de terapia do luto. Enfermeira do abraço e do amor. 5 6 AUTORES COLABORADORES Alex Gouveia Madeira – Acadêmico de Odontologia do PET-Saúde /SF/UFC. Aline Freitas Dias Pinheiro - Assistente Social. Residente da equipe multiprofissional em saúde mental- UFC. Álissan Karine Lima Martins - Enfermeira; Mestre em enfermagem; Docente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI) - Campus Amílcar Ferreira Sobral - Floriano - PI; Membro do GRUPPS. Grupo de Pesquisa em Políticas e Práticas de Saúde. Ana Claudia do Espírito Santo Silva - Médica. Mestre em Saúde Publica. Membro da Equipe de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza. Docente do Curso de Medicina da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Amanda Tinôco Carneiro - Acadêmica de Enfermagem – UFC. Ana Cristina Holanda de Souza- Acadêmica de psicologia do PET-SAÚDE/SF/UFC. Ana Flávia de Araújo Lima – Odontóloga. Preceptora do PET-SAÚDE/SF/UFC. Ana Karina Bezerra Pinheiro – Enfermeira. Doutora em enfermagem, Docente do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem-UFC. Vice-Coordenadora da FFOE – UFC. Ana Paula Albuquerque Vieira – Acadêmica de enfermagem do PET-SAÚDE/SF/UFC. Ana Paula Ramalho Cavalcante Brilhante- Enfermeira. Mestre em Saúde Publica. Coordenadora do Sistema de Saúde Escola do Município de Fortaleza. Andréia Cinnthya Eufrásio Soares- Plusiana- Acadêmica de enfermagem - UFC. Andréia Farias Gomes - Enfermeira - Gerente de enfermagem do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC. Membro do grupo de pesquisa políticas e práticas de saúde – GRUPPS. Antonia Waldiana Lima Leandro - Enfermeira. Mestranda da Universidade de Fortaleza. Aretha Feitosa de Araújo – Enfermeira. Mestre em Ensino na Saúde - UECE. Doutoranda do Programa de Pós-graduação Cluidados Clínicos em Enfermagem e Saúde -PPCCLIS da Universidade Estadual do Ceará - UECE Bárbara Pereira D`Alencar - Docente da Universidade Estadual do Ceará. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação Interunidades da Escola Paulista de Ribeirão Preto. 7 Brunna Laryssa Barroso de Sousa Francelino-- Acadêmica de enfermagem – UFC. Camila Brasil Bezerra - Graduanda do Curso de Enfermagem –UFC. Chris Evert Moura Tabosa - Médica da UBASF César Cals, preceptora do Programa de Educação Pelo Trabalho-Pet-Saúde Cynara Teles Dionísio – Assistente social hospitalar Cynthia Lima Sampaio – Enfermeira. Mestra em enfermagem – UFC - Membro do grupo de pesquisa políticas e práticas de saúde – GRUPPS. Cristiano José da Silva- Enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família -ESF Daiana de Jesus Moreira – Psicóloga-UFC Plusiana –UFC Débora de Araújo Moreira - Enfermeira; Mestre em enfermagem UFC.Membro do grupo de pesquisa políticas e práticas de saúde – GRUPPS. Eliana de Queiroz Sousa - Terapeuta ocupacional. Terapeuta comunitária. Emídio Giuseppe Pinheiro Misici - Psicólogo. Terapeuta comunitário. Érica Rodrigues D’Alencar - Graduanda de Enfermagem- UFC. Bolsista de iniciação cientifi ca.- PIBIC-UFC. Evilma Ramos Barroso - Enfermeiro, atua na equipe multiprofissional do CAPS Geral SR III. Francisca de Melo Beserra - Enfermeira; gerente de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva pós-operatória e da sala de recuperação pós-anestésica do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC; mestre em enfermagem – UFC; membro do grupo de pesquisa políticas e práticas de saúde – GRUPPS. Francisca Elaine de Souza França - Graduanda de Enfermagem- UFC . Membro do Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perdas, Luto e Separação – PLUS Gisele Alves Jácome Acadêmica de medicina. Giselle de Almeida Batista Rocha – Médica da Atenção a Saúde da Família do Município de Caucaia Ceará. Residente em Cínica Médica do Hospital Universitário Walter Cantidio- HUWC da Universidade Federal do Ceará-UFC. Fabíola Gessika Coelho Bezerra – Enfermeira. Mestra em saúde da Família Francisca de Melo Beserra - Enfermeira; gerente de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva pós-operatória e da sala de recuperação pós-anestésica do Hospital Universitário 8 Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC; mestre em enfermagem – UFC; membro do grupo de pesquisa políticas e práticas de saúde – GRUPPS; Glícia Mesquita Martiniano Mendonça- Enfermeira. Mestre do Programa de Pós-graduação Cluidados Clínicos em Enfermagem e Saúde -PPCCLIS da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Hérika Maria Lopes da Silva- Técnica em Enfermagem, atuando na equipe multiprofissional no CAPS Geral SR III. Inês Jucá Paiva Viana- Assistente social hospitalar Jamile de Souza Pacheco- Acadêmica de enfermagem – UFC. Janaína Francisca Pinto Fernandes – Enfermeira ESF. Jéssica Lima Benevides- Acadêmica do Curso de graduação em Enfermagem –UFC. Jessyca Elaine Chagas Barbosa – Enfermeira ESF John Anderson dosSantos Morais - Acadêmico de enfermagem – UFC. José Evangleyson de Paiva Girão- Enfermeiro. Residência multiprofissional em saúde mental do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) - UFC. Joyce da Silva Costa-Enfermeira - UFC Karine de Castro Bezerra- Graduanda do Curso de Enfermagem –UFC. Bolsista PIBIC/CNPQ. Karl Dmitri Ramos Moura- Médico Psiquiatra do CAPS/SR III. Psiquiatra da RAPS da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza com atuação no CAPS Geral SER III/UFC entre maio/2001 e dezembro/2018. Katiana Araújo Aragão - Enfermeira, Especialista em Saúde do Trabalhador. Coordenadora do Programa de Saúde da Família de Caponguinha-Pindoretama; Lana Barroso Melo Camelo - Acadêmica de Enfermagem – UFC. Lia Carneiro Silveira – Enfermeira. Doutora em enfermagem, docente do Curso de Graduação e da Pós-Graduação em Enfermagem –UECE. Leidy Dayane Paiva de Abreu. Enfermeira. Mestre e doutoranda do Programa de Pós-graduação Cluidados Clínicos em Enfermagem e Saúde -PPCCLIS da Universidade Estadual do Ceará – UECE Leila Memória Paiva Moraes - Enfermeira. Doutora em enfermagem. Gerente do Programa de Saúde da Família. Fortaleza - Ceará. 9 Lízia Angélica Teixeira Nunes Ribeiro- Enfermeira da UBASF César Cals. Preceptora do PET- SAÚDE. Membro do grupo de pesquisa GRUPPS-UFC. Lúcia de Fátima Rocha Maia - Assistente social. Coordenadora da residência multiprofissional em saúde mental do Hospital Universitário Walter Cantídio ( HUWC) da Universidade Federal do Ceará - UFC. Luciana Rodrigues Cordeiro- Enfermeira da Estratégia Saúde da Família de Fortaleza; Mestre e especialista em Saúde da Família (UFC); Especialista em Terapias Tradicionais Chinesas-UECE. Marcela Matias Sena- Acadêmica de enfermagem – UFC. Márcia Maria Tavares Machado – Enfermeira. Doutora em enfermagem, Docente do Curso de Graduação em Medicina UFC. Maria Adelane Monteiro da Silva - Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará- UFC, docente do curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA. Pós-doctor em enfermagem DENF-UFC. Maria Aparecida Paixão- Graduada em Pedagogia – UECE. Nutricionista. Terapeuta Floral pelo Instituto Dr. Edward Bach SP, Coordenadora do Cursos de Saúde Natural do Instituto Paixão Natural. Professora da disciplina de Fitoterapia da pós graduação em Terapias naturais e complementares da UNIAMERICAS; Atuação em: Florais de Bach - Homeopatia - Fitoterapia . CTN-SP Nº 1664. CONAHOM Nº 1652. ABRATH - CRTH-BR 1842 .Autora do blog Viver Natural e do site Instituto Paixão Natural Maria Dalva Santos Alves- Enfermeira e psicóloga, mestre e doutora em enfermagem, Docente aposentada do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem –UFC. Ex-Chefe do Departamento de Enfermagem DENF–UFC. Coordenadora da disciplina ―Comunicação em Enfermagem‖. Maria Graciele de Menezes Paula- Acadêmica de enfermagem – UFC. Maria das Graças Anastácio Alves – Assistente Social-UECE. Bacharela em Direito -Santa Úrsula- RJ. Assistente social do CAPS/SER III/UFC. Maria de Nazaré de Oliveira Fraga- Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professora Aposentada UFC. Maria do Socorro de Oliveira Santos – Enfermeira. Especialista em saúde mental Coletiva. Preceptora da residência multiprofissional em saúde mental do Hospital Universitário Walter Cantídio ( HUWC) da Universidade Federal do Ceará - UFC. Maria do Socorro de Sousa Medeiros - Terapeuta ocupacional, membro da equipe de saúde mental do complexo hospitalar UFC, preceptora da residência multiprofi ssional em saúde mental, especialista em psiquiatria social pela Fiocruz do Rio de Janeiro eMestre em saúde do trabalhador e qualidade de vida pela a Faculdade Internacional de Minas Gerais. http://florecha.blogspot.com.br/ http://florecha.blogspot.com.br/ http://institutopaixaonatural.com.br/ 10 Maria Fátima Maciel Araújo – Enfermeira. Doutora em enfermagem, Docente do curso de graduação em Enfermagem –UFC. Psicodramatista. Educadora Popular do Núcleo de Integração Pela Vida-NIV. Criadora da disciplina Práticas Alternativas e do LABPAS. Maria Glêdes Ibiapina Gurgel- Enfermeira, mestre e doutoranda em enfermagem. Membro do GRUPPS. Grupo de pesquisa em Políticas e Práticas de Saúde. Maria Irismar de Almeida – Enfermeira. Doutora em enfermagem. Docente do curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará. –UECE. Psicodramatista. Maria Josefina da Silva - Enfermeira, Doutora em enfermagem, Docente do Programa de Pós- graduação de Enfermagem da UFC e do curso de graduação em Enfermagem–UFC. Maria Lúcia Pinheiro Garcia da Silva- Psicóloga, Gestalterapeuta com formação em pscioterapia breve e saúde mental, Mestre em Saúde Pública, especialista em Neuropsicologia. Maria Luiza Rocha Barreto de Carvalho- Odontóloga de UBASF. Maria Sueuda Costa - Enfermeira, mestre e doutora em enfermagem. Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas e Práticas de Saúde GRUPPS/DENF - UFC. Maria Zelfa de Souza Feitosa- Acadêmica de psicologia -UFC Marilac Fernandes da Cruz - Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem –UFC. Membro do PIBIC do Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perdas, Luto e Separação – PLUS. Marília Aguiar Beserra- Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem –UFC Matheus Silva Holanda -- Graduando em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Membro do Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perdas, Luto e Separação – PLUS Michell Ângelo Marques Araújo -Enfermeiro, Doutor em Enfermagem, Mestre em Enfermagem, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem UFC. Vice-lider do GRUPPS. Grupo de Pesquisa em Políticas e Práticas de Saúde. Míria Conceição Lavinas Santos- Enfermeira do INCA, Doutora em enfermagem. Lotada no departamento de enfermagem-DENF-UFC Natália Gondim de Almeida - Graduanda em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Natasha Bruna Soares Barros- Graduanda em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Bolsista PIBIC do Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perdas, Luto e Separação – PLUS Neiva Francenely Cunha Vieira – Enfermeira. Doutora em enfermagem, Docente do Curso de Graduação e da Pós-Graduação em Enfermagem –UFC. Ex-Diretora da– FFOE – UFC. 11 Raimundo Severo Junior- Psiquiatra, psicoterapeuta com formação em gestalt terapia e psicologia transpessoal. Mestre em Saúde Pública . Coordenador e docente do curso Formação em arte-terapia. Ravenna Cavalcante Bessa de Queiroz- Acadêmica de medicina do PET-SAÚDE/SF/UFC. Raquel Maciel Araújo – Enfermeira do Hospital Geral de Fortaleza. Discente do Curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho da Universidade Estadual do Ceará. Rita Maria Viana Rêgo- Enfermeira, Especialista em Enfermagem Pediátrica e Puericultura UNIFESP, Mestre em Enfermagem e Doutoranda pela Universidade Federal do Ceará. Professora da Universidade Federal de Sergipe. Sabrina Martins Alves Enfermeira. Mestranda em Ciências da Saúde pelo programa da Faculdade de Medicina do ABC. Pós- graduanda em Cuidados Intensivos, Docência no Ensino Superior, Segurança do Paciente. Sandra Maria Costa de Sousa - Enfermeira assistencial do Hospital Universitário Walter Cantídio. Especialista em terapia intensiva pela Universidade Vale do Acaraú. Silvia Leite Demetrio de Sousa- Assistente social . Stella Maia Barbosa – Enfermeira do Hospital Universitário Walter Cantídio. Mestre em enfermagem- UFC. Sabrina de Souza Gurgel - Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem –UFC Sara Nogueira Silveira Lima- Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem –UFC. Tamires Rebeca Forte Viana- Acadêmica do curso de graduação em Enfermagem –UFC. Taynara Carvalho das Neves – Psicóloga. Thábyta Silva de Araújo - Graduanda de Enfermagem- UFC. Monitora da disciplina Práticas Alternativas em Saúde e PET/Saúde/SF/UFC. Thaysa Grasiely Sousa de Oliveira - Acadêmica de Enfermagem -Universidade Federal do Ceará- Bolsista de Iniciação Científica/PIBIC do Projeto Pessoa com Deficiência: investigação do cuidado de enfermagem. Vanessa da Frota Santos- Acadêmica de enfermagem -UFC Violante Augusta Batista Braga - Enfermeira. Doutora em enfermagem, Docente aposentada do Curso de Graduação e da Pós-Graduação em Enfermagem–UFC. Vitor Bahia Gonçalves de Souza -Graduando em Enfermagem da UFC. Membro do Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perdas, Luto e Separação – PLUS. 12 DEDICATÓRIA Dedico esse livro ao grupo de acadêmicas de enfermagem-UFC Tamires Rebeca Forte Viana Sofia Esmeraldo Rodrigues Sabrina de Souza Gurgel Se destacaram pela competência e excelência na condução de grupos, assim como mostraram durante a passagem na faculdade, responsabilidade, ética, compromisso a profissão e atualmente (2019) são destaques onde desenvolvem suas habilidades como enfermeiras, pessoas queridas que me motivam a continuar, como colecionadora de borboletas e coordenadora de grupos. 13 AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos vão para pessoas que me fazem viver dias com amizade e afeto. É impossível agradecer a todas as pessoas e grupos que contribuíram para este livro, pois ele é o resultado do que fiz durante minha prática e o que continuo ainda hoje fazendo profissionalmente. Há muitas que estiveram presentes nestes anos em minha vida, mas me lembrarei dos muitos que serão inesquecíveis por suas contribuições. Assim como cada coautor foi trazendo o seu melhor de seus escritos, sem eles não poderia fazer essa coletânea com tantas descrições de grupos e no ―aqui-e-agora‖ expresso meus sentimentos de agradecimento a todos. De inicio, registro minha eterna gratidão ao meu grupo primário, minha família biológica que tem me recebido nos retornos à casa materna com carinho e muito amor. Aos meus pais, Maria e José( In memoriam), minha mãe, que está presente à distância e que continua dando apoio em tudo. Aos meus irmãos, José Carlos Alves, que sempre está lutando por dias melhores do planeta Terra e de nossa cidade natal, Acopiara-Ce; Laécio Alves e sua esposa Suely, por tudo o que me ajudaram em minha adolescência, em meu crescimento como estudante, me acolhendo em sua casa em Juazeiro do Norte; e a minha querida irmã Aparecida Alves, obrigada por tudo que já me ofereceu e tanto zelo que ainda me oferece, te admiro pela força e coragem de auto-regular a vida e a de tua família. Às irmãs adotivas Marta Vieira e Ana Vieira, que estão presentes e dedicam horas à minha querida mãe, Maria carinho de filhas, na minha ausência. Ao meu marido, Heraldo que me mantém viva, me faz viver intensamente cada dia ao seu lado que me ajudou a colocar no mundo nossos filhos, os dois que sobreviveram, são pessoas lindas e amorosas - Andressa e Ângelo - que também são motivos de minha existência. A Profª. Drª. Nazaré Fraga minha estrela- guia que tornou-me uma enfermeira, ética e comprometida com a formação de enfermeiros competentes em saúde mental. A Profª. Drª. Grasiela Barroso, pela coragem mostrada de continuar viva em tudo a que nos deixou como legado no Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, e por acreditar em meu potencial como enfermeira em saúde mental, bem como e por me ver como professora desde a graduação. Agradeço em especial a minha referência de ética, profissionalismo na Enfermagem, minha querida amiga Profª. Drª. Maria Dalva Santos Alves, por tudo o que representa para mim e para o Curso de Enfermagem-UFC. 14 À Dra. Miria Lavina, pela parceria no Curso de Enfermagem-UFC Agradeço a todos os profissionais, professores, alunos e funcionários do Curso de Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Enfermagem da Universidade Federal do Ceará que e tem recebido e acolhido os grupos os quais desenvolvo desde a sala de aula até os que grupos os quais coordeno neste local o qual designei como meu espaço de extensão de minha vida e amor pela profissão como enfermeira psiquiátrica e docente. Ao ―grupo PLUS+ transformação‖, grupo de apoio ao luto em perdas e separação, o qual coordeno como terapeuta desde o ano de 1998 e que hoje se mantém com pessoas que participam por acreditarem em sua atualização de possibilidades. Esse grupo serve de espaço de aprendizagem para as acadêmicas de enfermagem na disciplina do processo de cuidar no módulo de enfermagem em saúde mental no DENF-UFC. Agradeço ter estudado com uma encantadora de grupos - Ruth Cavalcante - fundadora e formadora do CDH, minha segunda professora de grupos, pois a primeira foi a inesquecível Regina Estela na UNIFOR, em 1996. Às turmas de ―enfermeirandos‖ da disciplina ―Coordenação de Grupos‖, da Graduação em Enfermagem – UFC que me nutrem de estímulos para que eu seja o que sempre acreditei. Ao grupo de monitoras e bolsistas que me ajudaram nas disciplinas e nos projetos de pesquisa, pessoas fundamentais para que eu pudesse ministrar disciplina ―Coordenação de Grupos‖ e fazer pesquisas. Estão nesse grupo às enfermeiras Drª. Stella Maia Barbosa; Drª. Jamile de Souza Pacheco; Drª. Maria Graciele de Menezes Paula, Drª. Katiana Araújo Aragão que foram monitoras voluntárias. Ao grupo de todos os profissionais do CAPS/SRIII/UFC, que abriram as portas de seus grupos e atividades para os alunos de enfermagem da UFC, que vivenciaram práticas em saúde mental dos anos de 1998 a 2009. Minha eterna gratidão em especial por me ajudar a ser essa coordenadora de grupos, sempre felicíssima, dois amigos que marcaram minha história de vida, Drª. Graça Anastácio e Dr.Karl Dmitri Ramos, que não é coordenador de grupo, mas faz diferença no CAPS com sua competência nos atendimentos individuais. A todos aqueles que participaram dos grupos que coordenei durante toda a minha vida profissional que me nutriram com suas experiências. A todos coautores deste livro, pois sem a colaboração dessa rede de amigos que fazem grupos e acreditam no que fazem, não teria sido possível a elaboração e edição desta obra. 15 A Rose Costeski, amiga que me ensina a ver o mundo pela varanda, e me faz, a cada dia, borboleta em meus vôos de transformação, assim como na capa desse livro. Sua família, Evanildo meu amigo obrigada por tudo o que fazem por mim e pelos meus. Agradeço a Noêmia Rodriguês que bordou as figuras de flores e borboletas da 1ª. Edição e da 2ª. Edição , meu carinho todo especial . A minha amiga Gloria Mota pelo carinho dos encontros. À Profª. Drª. Leila Memória Moraes, pelo desprendimento por termos juntas ―inventado‖ e dado forma ao que fazemos em nossas práticas profissionais como enfermeiras em saúde mental. A psicóloga, Drª. Lúcia Pinheiro, pela competente entrega e dedicação em me ajudar a tornar- me doutora de fato e direito em gestalt; meu amor por você é incondicional. Ao meu sobrinho Gean Alves, por sua admiração a mim, ―como uma pessoa determinada e catedrática da UFC‖. Às minha sobrinha enfermeira Drª. Sabrina Martins Alves e que desempenha com ética e competência. À amiga, Drª. Lucineide Costa, meu carinho, pela Enfermeira Psiquiátrica cearense. Ao Prof Vianney Mesquita da UFC, pela competência na revisão gramatical deste livro e por deixar a leitura correta. E por acompanha-me desde o início de minha prática como docente. Minha admiração por acolher com muita atenção a meus pedidos em tornar livros, janelas por onde as pessoas possam ver o mundo diferente. A Eliene Moura, pela generosidade, dedicação e cuidados especiais aos meus trabalhos. Você foi, além de bibliotecária, merece muitas tortas de bananas e de ser cada vez mais feliz. Às enfermeiras brilhantes do Hospital Universitário Walter Cantídio-UFC, Drª. Fátima Bezerra e Drª. Dayse Pereira, que torcem por meu sucesso e me acompanharam há mais de 20 anos, desdea minha graduação. À Drª. Liduina Alves, amiga, que aumenta sempre minha autoestima. Você é responsável por meu sorriso ―inteiro‖. A minha amiga farmacêutica Drª. Robelma France Marques que o destino não conseguiu torná-la enfermeira.Obrigada pelo diário reforço positivo. A profª Drª. Rita Rego, Drª. Francisca Beserra e Drª. Alíssan Martins, orientandas no mestrado em Enfermagem, meu agradecimento especial, pois cada uma interviram um tipo de grupo e fizeram estudos dignos de ENFERMEIRAS, mostrando em destaque suas práticas em cenários da enfermagem. 16 Ao meu grupo de amigos que compõem a equipe de Enfermagem nas enfermarias psiquiátricas do Hospital Universitário Walter Cantídio-HUWC-UFC da Clínica III, que me acolhem como mais um membro, as enfermeiras clínicas competentíssimas, Drª. Anaíza Diógenes Soares, Drª. Valdelucia Albuquerque Cardoso e Drª. Márcia Camilla Alves Lopes tiveram que ajustar seus conhecimentos para tornarem também enfermeiras psiquiátricas e aprendem todos os dias que a saúde mental está em todos os atos do cuidado humano. E aos demais membros da equipe de enfermagem que mostram profissionalismo e competência na assistência de Enfermagem, em destaque as relações interpessoais e uma convivência harmoniosa durante meus ―plantões‖ na ―unidade psiquiátrica‖ junto a todos vocês; meus agradecimentos especiais, aos técnicos de enfermagem, Venícius Moura, Deusimar, Rodrigues, Ângela Maria, Lucimar Gonzaga, Aurileide Lima, Maria José Tavares, Quétria Lima, Ana Cláudia, que desenvolvem seus atributos de vencedores no cuidado, incluindo e não vendo diferença entre as pessoas em sofrimento mental grave e os com as ―doenças do corpo‖. Agradeço a coragem e a determinação da Assistente Social Dra. Lúcia de Fátima Rocha Maia para acontecer a residência multiprofissional em saúde mental do Hospital Universitário Walter Cantídio-UFC. E a todas as pessoas que contribuíram para que esse livro se tornasse um instrumento de ajuda. 17 APRESENTAÇÃO Apresentar um livro da professora Dra. Ângela Souza para mim é motivo de honra e imensa alegria. Ela é uma pessoa especial e, como orientadora sabe perceber o ser humano de forma completa, inteira. Referida competência tem como base o conhecimento e experiência acumulados, a atitude do seu cotidiano olha o ser humano em seus olhos para perscrutar os corações e principalmente a habilidade de fazer tudo com espontaneidade e autenticidade. Esses são traços de sua personalidade que lhe possibilita assistir o ser humano em sua integralidade. Como terapeuta do amor, visualiza e de fato acredita na cura pelo abraço fraterno e terno. Os participantes de seu grupo terapêutico de apoio ao luto, intitulado PLUS transformação-DENF-UFC, sob sua coordenação referem, após o abraço coletivo, momento do encerramento do grupo, que se sentem aliviados de tensões, inclusive físicas. A promoção da saúde ocorre de fato quando cada participante é ‖empoderado‖ e gradativamente elabora seu luto. Algumas falas ilustram com fidelidade o que afirmo. Eu encontrei aqui, a força para enfrentar as minhas dificuldades; o relaxamento e a meditação e visualização criativa foi tão bom que me senti no outro mundo; eu sou um exemplo vivo de quanto o grupo revitaliza. Nesse grupo terapêutico, os participantes são orientados em relação ao desuso da palavra ―problema‖ e a Dra. Angela Explica com calma e firmeza que devemos visualizar as dificuldades como ― situações a serem enfrentadas‖. Em seu olhar terapêutico e amoroso, este detalhe funciona de fato como mola propulsora para mobilizar energia necessária para defrontar qualquer realidade por mais dura que pareça. Cada capítulo é uma prática por ela ou por outras autoras que tiveram a assessoria in logo ou indiretamente desta criatura impar que acredita na força do trabalho em grupal. O livro consta de três partes, correspondendo às disciplinas ―Coordenação de Grupos‖ da Graduação e ―Concepções teóricas e metodologia do trabalho com grupos‖ da Pós-Graduação em Enfermagem-UFC. No entanto, cada capítulo, por ser independente, poderá ser lido de acordo com a escolha do leitor. A primeira parte do livro consta de 16 capítulos sendo denominados Aspectos teóricos da coordenação de grupos. No primeiro capitulo algumas características do ser humano são postas com sensibilidade e leveza, em que é feita analogia metafórica com as borboletas, ao tempo em que a profa. Angela 18 discorre sobre sua trajetória como coordenadora de grupo. No capitulo dois, ela situa a disciplina: da disciplina curricular “Coordenação de Grupos”, do Curso de Graduação do Curso em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Um diferencial da disciplina é o processo avaliativo, uma vez que utiliza o portifólio, que ―empodera‖ o aluno para ser ativo no processo de aprendizagem. Neste formato metodológico, ao final da disciplina, o aluno tem todo material por ele elaborado. O capitulo três é uma Breve história dos grupos, e temos a sequencia de outros capítulos que fazem a teoria uma visão ampla como como se pode fazer na prática. Coordenação de grupos: Processo grupal para enfermeiros (Loomis,1979) Coordenação de grupos: Aspectos técnicos e tipos de abordagens Grupos de sala de espera, Grupos no hospital geral, Grupos de apoio/suporte, Grupo operativo, Oficinas, Psicodrama e Sociodrama, Gestalt‘terapia, Grupos de auto-ajuda, Grupos terapêuticos, Grupos de Arteterapia, Grupo de Terapia comunitária. O capitulo cinco é considerado por ela como o mais importante para o planejamento, pois, revela a prática operacional do trabalho em grupo que perpassa a atitude, o saber-fazer. Neste contexto convida o enfermeiro a ser ousado, acreditar em seu potencial de líder e afirma que no trabalho grupal ‖ é preciso ser verdadeiro e estar inteiro naquele espaço com as pessoas as quais escolheu para serem seus clientes‖ Estabelece limites e possibilidades para o planejamento de um grupo e as fases do processo grupal. O capitulo essencial para quem pretende iniciar atividades em grupo. No Capitulo 2 corresponde breve história dos grupos quando na realidade a autora faz uma exaustiva e detalhada retrospectiva do trabalho em grupo do ano de 1905, quando o tisiologista J. Pratt iniciou em um hospital geral dos EUA o primeiro grupo em que o doente mental pode realizar educação em saúde. Neste passeio, o criador do psicodrama, Jacob Levi Moreno, Kurt, Lewin psicólogo da corrente gestáltica, que cunhou a expressão dinâmica de grupo; o psicanalista britânico S.H. Sawlkes inaugurou a prática da psicoterapia e psicanálise em grupo com abordagem gestaltica. No Capítulo 3, é destacada a importância da opção de escolha, o estar aberto ao desafio do novo com ênfase que o receio dos profissionais pode ser devido à escassez do tema. Cita algumas características necessárias para quem quer trabalhar em grupo, a exemplo de acreditar, amar a verdade, ser coerente, ter respeito pelo outro, paciência. Discorre sobre tipos de coordenação de grupos, papéis e competência de cada membro do grupo. Continua descrevendo as diversas formas de abordagem grupal e dinâmica, assim como os tipos de grupo. 19 A partir no Capitulo 4 é mostrado que várias são as correntes da abordagem global, fala um pouco de sua experiência pessoal, revela que é discípula de Loomis, um grupo de enfermagem e descreve a dinâmica e regras de um grupo segundo este autor. Dos capítulos seis a 13 da primeira parte é sistematizada a teoria de alguns dos grupos de referencia como, grupo de sala de espera, do hospital, de apoio/suporte, de auto-ajuda, operativo, grupo de oficinas , psicodrama, gestalt‘terapia e grupos terapêuticos . E o capitulo 14 situa o leitor sobre grupos terapêuticos desde a sua origem, origem, tipos, classificação, estruturae funcionalidade. Há riqueza de detalhes no que diz respeito às fases e evolução desse grupo. Finaliza com um modelo de registro de cada sessão grupal verdadeiro subsídio para quem quer enveredar por este tipo de grupo. Na segunda parte intitulada Práticas de Coordenação de grupos contempla, do capitulo 17 ao 22, as contribuições da prática em grupos com outros autores , a exemplo dos capítulos do relato de experiência exitosa na criação de uma cooperativa social por uma terapeuta ocupacional, Grupos terapêuticos, Grupos de Arteterapia, Grupo de Terapia Comunitária. Na terceira parte estão escritos os capítulos 23 ao 42 denominada Coordenação de Grupos como Método de Pesquisa com outros autores os capítulos feitos por profissionais que utilizaram grupos como metodologia de pesquisa na captação de dados, sendo sistematizados a prática do cotidiano de diversos enfermeiros que trabalharam com o grupo em suas dissertações e teses ou em curso de especialização, tendo a orientação e suporte da autora. “Círculos de Cultura em Saúde Mental na Estratégia Saúde da Família” parte da dissertação de mestrado Álissan Karine Lima Martins e com orientação da profa. Ângela Maria Alves e Souza. ―Grupo Focal com Enfermeiras da Estratégia da Saúde da Família‖ das autoras feito pela mestranda enfermeira Dra. Maria Glêdes Ibiapina Gurgel, com orientação da profa. Dra. Maria Dalva Santos Alves, e colaboração de material teórico das profa. Dra. Rita Maria Viana Rêgo. Creio que esse livro será benéfico para todos aqueles que acreditam na força do trabalho grupal, sejam profissionais de saúde ou não. Escolham o modo de ler e desfrutem do valioso conteúdo que ele oferece. Esta obra foi germinada e acalentada no amor, transpira a arte da valorização do ser humano. Todos os autores acreditam em uma enfermagem comprometida com uma vida digna em que todos são valorizados individual e coletivamente. Dra. Rita Maria Viana Rêgo -UFS 20 Agradecimentos especiais Agradeço a esta obra ao meu segundo grupo familiar, um dos mais importantes de minha vida, o qual há mais de 25 anos é formado junto com meu marido Heraldo Souza, somos co- criadores de Deus deste universo, por termos nossos filhos, Andressa, André (In memoriam) e Ângelo Souza. 21 SUMÁRIO PARTE I ASPECTOS TEÓRICOS DA COORDENAÇÃO DE GRUPOS CAPÍTULO 1 ................................................................................................................. Trajetória como coordenadora de grupos e colecionadora de “borboletas” Angela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 2................................................................................................................. A disciplina “Coordenação de Grupos” Angela Maria Alves e Souza 29 35 CAPÍTULO 3.................................................................................................................... Grupos: breve história Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga 39 CAPÍTULO 4 .................................................................................................................. Coordenação de grupos: Processo grupal para enfermeiros Maria Adelane Monteiro da Silva Ângela Maria Alves e Souza Ana Karina Bezerra Pinheiro 43 CAPÍTULO 5.................................................................................................................. Coordenação de grupos: Aspectos técnicos Angela Maria Alves e Souza 53 CAPÍTULO 6 ................................................................................................................... Grupos de Sala de Espera Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Violante Augusta Batista Braga Stella Maia Barbosa Jamile de Souza Pacheco Maria Graciele de Menezes Paula Débora de Araújo Moreira Francisca Beserra de Melo 65 CAPÍTULO 7 ................................................................................................................... Grupo no Hospital Geral Angela Maria Alves e Souza Andréia Farias Gomes Daiana de Jesus Moreira Cynthia Lima Sampaio Taynara Carvalho das Neves Francisca Beserra de Melo Débora de Araújo Moreira Sabrina Martins Alves 71 22 CAPÍTULO 8 .................................................................................................................. Grupos de apoio/suporte diferenciação dos Grupos de auto-ajuda Angela Maria Alves e Souza Gisele Alves Jácome Sabrina Martins Alves Miria Conceição Lavinas Santos Tamires Rebeca Forte Viana 78 CAPÍTULO 9 ................................................................................................................ Grupo Operativo Angela Maria Alves e Souza Cynthia Lima Sampaio Katiana Araújo Aragão 82 CAPÍTULO 10 ................................................................................................................. Método de Oficinas Maria Fátima Maciel Araújo Maria Irismar de Almeida Ana Claudia do Espírito Santo Silva Giselle de Almeida Batista Rocha Raquel Maciel Araújo Thabyta Silva Araujo Ana Paula Cavalcante Ramalho Brilhante Maria Josefina da Silva 89 CAPÍTULO 11 .................................................................................................................. Psicodrama Pedagógico Maria Fátima Maciel Araújo Maria Irismar de Almeida Ana Claudia do Espírito Santo Silva Giselle de Almeida Batista Rocha Raquel Maciel Araújo Thabyta Silva Araujo Ana Paula Cavalcante Ramalho Brilhante Maria Josefina da Silva 105 CAPÍTULO 12 ............................................................................................................... Gestalt’terapia: aspectos históricos e pressupostos filosóficos Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Leila Memória Paiva Moraes Maria Lúcia Pinheiro Garcia 122 CAPÍTULO 13 ................................................................................................................. Reflexão da necessidade de Grupo para familiares Katiana Araújo Aragão Angela Maria Alves e Souza 135 CAPÍTULO 14 ............................................................................................................... Grupos terapêuticos Angela Maria Alves e Souza 140 23 CAPÍTULO 15................................................................................................................. Arteterapia e o uso da Pintura em Tecido como Elemento Terapêutico Andréia Cinnthya Eufrásio Soares Ângela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 16................................................................................................................. Avaliação de Grupo: Funcionamento de um Grupo Angela Maria Alves e Souza Joyce da Silva Costa Matheus Silva de Holanda José Evangleyson de Paiva Girão PARTE II PRÁTICAS DE COORDENAÇÃO DE GRUPOS CAPÍTULO 17................................................................................................................ Grupo de apoio/suporte PLUS Ângela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Maria das Graças Anastácio Nascimento Katiana Aragão Araújo Daiana Moreira de Jesus 150 167 173 CAPÍTULO 18............................................................................................................. Grupos na Estratégia de Saúde da Família Katiana Araújo Aragão Ângela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 19 .............................................................................................................. Grupo de Puérperas Maria Adelane Monteiro da Silva Ângela Maria Alves e Souza Ana Karina Bezerra Pinheiro CAPÍTULO 20.............................................................................................................. CooperativaSocial do Centro de Atenção Psicossocial CAPS/SR III :Relato de experiência da terapeuta ocupacional Maria do Socorro de Sousa Medeiros CAPÍTULO 21................................................................................................................. Terapia Comunitária: Relato de experiência Emidio Giuseppe Pinheiro Misici Eliana de Queiroz Sousa CAPÍTULO 22................................................................................................................. Grupo terapêutico de abordagem gestáltica Ângela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Leila Memória Paiva Moraes Maria Lúcia Pinheiro Garcia Karl Dmitri Ramos Moura 182 188 200 207 211 24 PARTE III COORDENAÇÃO DE GRUPOS COMO MÉTODO DE PESQUISA CAPÍTULO 23................................................................................................................ Concepções Técnicas de Metodologia do Trabalho com Grupos Rita Maria Viana Rego Ângela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 24............................................................................................................... Metodologia de pesquisa com grupos focais Ângela Maria Alves e Souza Silvia Leite Demetrio de Sousa Inês Jucá Paiva Viana Cynara Teles Dionísio 224 231 CAPÍTULO 25.................................................................................................................. Grupo de casais amigos da amamentação Rita Maria Viana Rego Ângela Maria Alves e Souza Maria Dalva Santos Alves Márcia Maria Tavares Machado Maria Glêdes Ibiapina Gurgel Ana Karina Bezerra Pinheiro 234 CAPÍTULO 26............................................................................................................... Círculos de Cultura com a Equipe na Estratégia Saúde da Família Álissan Karine Lima Martins Angela Maria Alves e Souza Neiva Francenely Cunha Vieira CAPÍTULO 27............................................................................................................... 244 253 Grupo focal com enfermeiras Maria Glêdes Ibiapina Gurgel Maria Dalva Santos Alves Rita Maria Viana Rego Ângela Maria Alves e Souza Maria Suêuda Costa CAPÍTULO 28................................................................................................................. Grupo pesquisador : espiritualidade ao enfrentar o câncer Michell Ângelo Marques Araújo Lia Carneiro Silveira Violante Augusta Batista Braga CAPÍTULO 29................................................................................................................ Grupo terapêutico:relaxamento e arte-terapia Ângela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Maria Lúcia Pinheiro Garcia Leila Memória Paiva Moraes Raimundo Severo Junior 259 268 25 CAPÍTULO 30.................................................................................................................. Cuidando do cuidador em um grupo de graduandos de enfermagem Míria Conceição Lavinas Santos Camila Brasil Moreira Karine de Castro Bezerra Angela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 31................................................................................................................... Grupo de Promoção em Saúde no Hospital Geral Francisca de Melo Beserra Ângela Maria Alves e Souza Bárbara Pereira D`alencar. Natalia Gondim de Almeida Sandra Maria de Sousa Costa Antonia Waldiana Lima Leandro CAPÍTULO 32................................................................................................................ Grupo de apoio ao pré-natal : projeto de pesquisa do PET-SAÚDE-UFC Lízia Angélica Teixeira Nunes Ribeiro Ana Flávia de Araújo Lima Jéssica Lima Benevides Alex Gouveia Madeira Ana Paula AlbuquerqueVieira Sabrina de Souza Gurgel Karoline Vieira Sampaio Sara Nogueira Silveira Lima Ravenna Cavalcante Bessa de Queiroz Marília Aguiar Beserra Ângela Maria Alves e Souza Maria Fátima Maciel Araújo CAPÍTULO 33................................................................................................................ Promoção de Saúde a pessoas com tuberculose em UBASF: PET-SUS-UFC Chris Evert Moura Tabosa Maria Zelfa de Souza Feitosa Ana Cristina Holanda de Souza Vanessa da Frota Santos Ângela Maria Alves e Souza Maria Fatima Maciel Araújo CAPÍTULO 34 ................................................................................................................. Arteterapia: alguns materiais para o uso em grupo Marilac Fernandes da Cruz Vitor Bahia Gonçalves de Souza Natasha Bruna Soares Barros F. Elaine de Souza França 282 289 301 315 326 26 CAPÍTULO 35................................................................................................................. Coordenação de Grupos com crianças Amanda Tinôco Carneiro Brunna Laryssa Barroso de Sousa Francelino Jessyca Elaine Chagas Barbosa John Anderson dos Santos Morais Lana Barroso Melo Camelo Marcela Matias Sena CAPÍTULO 36.............................................................................................................. Fortalecendo Vínculos em Grupo de Puericultura com Abordagem da Massagem Shantala: Proposta Essencial na Promoção da Saúde Materno Infantil Cristiano José da Silva Luciana Rodrigues Cordeiro Maria Luiza Rocha Barreto de Carvalho Fabíola Gessika Coelho Bezerra CAPÍTULO 37................................................................................................................. Oficinas e Construção de Jogos Educativos para Promoção A Saúde na Gravidez, Parto e Nascimento Fabíola Gessika Coelho Bezerra Maria Fátima Maciel Araújo Janaína Francisca Pinto Fernandes CAPÍTULO 38 ............................................................................................................... Um Novo Olhar no Cuidado com a Gestação: Fortalecendo Vínculos em Grupos de Gestantes Cristiano José da Silva Luciana Rodrigues Cordeiro Maria Luiza Rocha Barreto de Carvalho CAPÍTULO 39.................................................................................................................. Reiki como cuidado de enfermagem– Experiência com Iniciações e inserção do atendimento na Universidade Federal do Ceará Luciana Rodrigues Cordeiro Cristiano José da Silva Ângela Maria Alves e Souza CAPÍTULO 40................................................................................................................. Sentimentos e Percepções de Gestantes Adolescentes com Base no Processo Grupal de LOOMIS Leidy Dayane Paiva de Abreu. Enfermeira Glícia Mesquita Martiniano Mendonça Maria Adelane Monteiro da Silva Aretha Feitosa de Araújo Sabrina Martins Alves Capitulo 41 ................................................................................................................. ................... Experiências em Práticas Grupais com Fitoterapia, Florais de Bach e Homeopatia Maria Aparecida Paixão 334 342 347 358 372 377 387 27 CAPÍTULO 42................................................................................................................. Tecnologia leve adaptada ao cuidado em saúde mental: arte-terapia e reciclagem para o acompanhamento do uso de medicamentos pelos usuários do CAPS Evilma Ramos Barroso Hérika Maria Lopes da Silva Thaysa Grasiely Sousa de Oliveira Ângela Maria Alves e Souza 397 28 PARTE I ASPECTOS TEÓRICOS DA COORDENAÇÃO DE GRUPOS 29 CAPÍTULO 1 Trajetória como coordenadorade grupos e colecionadora de “borboletas” Angela Maria Alves e Souza Este livro foi elaborado para os que são interessados e que desejem buscar conhecimento teórico e prático de como coordenar e realizar pesquisas com grupos de pessoas. Sempre fui apaixonada por todos os tipos de borboletas e me denomino uma colecionadora de ―borboletas‖. As borboletas foram lagartas, assim como os seres humanos nossas transformações nos permitem outras possibilidades, assim de forma metafórica cada pessoa pode ser vista como um casulo que vai se modificando até se transformar em alguém que voa com suas próprias asas. Na capa, o desenho das borboletas, simboliza grupalidade e ao mesmo tempo mudanças, diversidades. A posição de cada borboleta é diferente, estão dispostas em várias direções, fazendo uma comparação com o ser humano pode que tornar-se livre para fazer vôos para outros grupos na vida. Evidenciando sutis inter-relações dos membros de cada grupo. A figura desse movimento de borboletas com diferentes cores, formas, e espaço foi pensado desde quando comecei a esboçar os capítulos desse livro (há mais de cinco anos). A configuração do grupo com suas cores e harmonia foi captada e expressa sua forma por uma pessoa muito sensível, Noêmia Rodriguês que fez a figura das borboletas com perfeição. Mostra como é mais fácil encontrar-se com as pessoas, olhando para cada uma delas, assim também, como é o formato das relações humanas, com idas e vinda, vôos e paradas de diversas direções e com encontros e desencontros, situações as quais evidenciam que necessitamos da união de todos os povos, isto é dos grupos no planeta para salvá-lo e mantê-lo habitável. Quando escrevemos um livro, sabemos que exporemos nossas histórias, para que outros possam ler nossas peculiaridades; assim nos conhecerão ainda mais. Deixamos nosso registro marcado para a posteridade. Todos os livros são feitos com a descrição de histórias, isto é, são desenhados com letras, símbolos que mostram experiências exitosas ou não, por seus autores de suas vivências por meio da escrita ou relato oral (atualmente com os livros em CD). Neste livro, as histórias, experiências contadas por seus protagonistas são reveladas com o que acreditam ou sabem sobre algum tema ou assunto que tenham vivido em sua condição humana, seja de compreensão pessoal ou profissional. Então, quem ler este livro verá que em cada história escrita estão as melhores narrações de suas histórias oferecidas aos leitores. 30 Como coordenadora, percebo que cada configuração do mesmo grupo, sempre é diferente, pois cada ser humano muda a cada instante. Descrevemos neste livro algumas experiências utilizando um padrão usual e de outros profissionais que podem em alguns casos servir de referencial, ou não, pois cada grupo é único e cada coordenador evidencia suas peculiaridades com base nas vivências anteriores com sua marca pessoal impressa na sua abordagem grupal. Organizei este livro por alguns motivos, o primeiro dos quais por estar, há mais de doze anos, como professora do Departamento de Enfermagem da disciplina curricular ―Coordenação de Grupos‖, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Durante as aulas, e em outras disciplinas que ministro na graduação e pós-graduação, e, mais recentemente, ―Concepções teóricas e metodologia do trabalho com grupos‖ na Pós-Graduação em Enfermagem, mestrado e doutorado, tenho que disponibilizar muitos livros e artigos para os alunos acompanharem o que é específico para cada aula teórica ou prática, ou pesquisa. Então, decidi organizar esta coletânea de capítulos, escrito por vários profissionais que reúne algumas práticas que poderão servir de referencias para alunos e profissionais na condução de grupos. A segunda motivação vem de minha história, como enfermeira em saúde mental. Minha paixão e identificação pela abordagem com grupos foi aumentando por ter desenvolvido prática com grupos ao longo destes últimos 17 anos de carreira profissional (1993-2010) desde minha primeira experiência, em um hospital psiquiátrico em Fortaleza, no ano de 1993, quando desenvolvi trabalhos com grupos, em plantões diurnos havia mais de 100 pacientes para acompanhá-los e era impossível dar conta individualmente de cada um. Então, a estratégia utilizada foi a abordagem grupal no pátio, onde convidávamos os ―pacientes‖ ( no sentido estrito da palavra) para ouvir música, dançar, cantar. Neste ano se iniciou minha trajetória como coordenadora de grupo. Em 1998, quando assumi a função, como docente do Curso de Graduação do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, fiquei responsável pela disciplina ―Coordenação de grupos‖ a qual ministro até os dias atuais.Também naquele ano, comecei a desenvolver um grupo de apoio a perdas no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS/SERIII/HUWC/UFC, o qual foi realizado nesta instituição até o primeiro semestre do ano de 2009. O grupo inicialmente foi chamado de ―queixas difusas‖, por ser composto de pessoas com sintomas somáticos, cujas queixas eram verbalizadas de que suas dores estavam por todo corpo. No ano de 2003, quando assumi a coordenação do Projeto PLUS+, esse grupo passou a chamar ―grupo PLUS+ transformação‖, denominação escolhida pelos participantes que no período de dez anos, foi 31 coordenado com a colaboração de três coordenadoras auxiliares, a primeira das quais foi minha querida amiga, comadre a psiquiatra, Drª. Antonia Lúcia de Oliveira Correia Queiroz (In memoriam), com ela, criamos este grupo o qual foi um dos primeiros grupos do serviço. Também teve a participação de duas assistentes sociais como coordenadoras auxiliares, a Drª. Maria Fabíola Benevides Bomfim, que ficou de 2000 até 2002 e a terceira ficou do ano de 2002 até 2009, a Drª. Maria das Graças Anastácio Alves, competentíssima e que, por mais de sete anos de convivência, também se tornou amiga. Quando há 17 anos me graduei como enfermeira, em Fortaleza, não havia cursos que me preparassem para coordenar grupos e os que existiam eram voltados para profissionais específicos, como psiquiatras e psicólogos. Passei quatro anos (1998-2002) sem um referencial teórico para abordagem grupal, apenas meu empirismo como coordenadora de um grupo terapêutico e ainda como docente da disciplina de grupos. Durante vários anos, essa experiência como coordenadora foi permeada pelo fato de ―aprender fazendo‖. Assim, para isto, fui criando as próprias estratégias de atuação quanto às necessidades que foram surgindo em cada grupo coordenado. Fui aprendendo a fazer, fazendo, errando, acertando, modificando cada configuração, deixando que os participantes pudessem ter ―contatos‖ com seus sofrimentos desde a fala, o choro, o toque ao próprio corpo, a arte. Tornei-me assim uma colecionadora de ―borboletas, isto é fui cuidando, assistindo pessoas que chegavam com suas dores. E então sendo transformadas em outras melhores, mais serenas. Algumas chegavam com medo e dores físicas e as técnicas de relaxamento e respiração vão trazendo as estas pessoas paz interior. Muitas buscavam no grupo apoio, consolo, para o luto por ter perdido alguém ou algo. Outras buscavam a recuperação e elevação de auto-estima. As intervenções feitas por nós no projeto PLUS+ com o uso da arte-terapia fizeram com que essas pessoas pudessem melhorar suas condições e passar para as suas atualizações de possibilidades. Ainda é importante destacar que com a nutrição do acolhimento do lanche coletivo e a finalização com abraço grupal e muitos outros individuais resgatam a energia e tudo que é terapêutico nos encontros humanos. E com maior sensibilidade e sendo gestalt‘terapeuta, fui deixando que as necessidades emergissem dos participantes do grupo, onde seus discursos tornaram-se figuras. É difícil começar, assim como manter um grupo, pois todas as sessões são desafiadoras, tudo é novo,e a cada dia há novas aberturas e fechamentos de gestalt‘s. Continuo até hoje nesse movimento de ―aprender fazendo‖ em cada grupo criado. 32 Só durante o ano de 2002, pude fazer minha primeira formação em grupos ―Formação em Dinâmicas de Grupos‖, o qual realizei no Centro de Desenvolvimento Humano – CDH, e tive o prazer de conhecer uma das pessoas mais encantadoras na prática da subjetividade e trabalho com grupos - Ruth Cavalcante - fundadora e formadora do CDH. Dando continuidade a atualização do trabalho com grupos, e para preparação da coleta de dados da tese de doutorado, no ano de 2003, fiz a segunda formação em ―Arte como recurso terapêutico e de desenvolvimento humano‖, no Instituto Aquilae. É organizada a cada ano até os dias atuais e dirigida pelo psiquiatra Dr. Raimundo Severo Junior. Nesse curso, há um módulo cujo enfoque é dado à arte com básicos conceitos da teoria gestáltica e da gestalt‘terapia, com a qual me identifiquei e me apropriei com profundidade. Mesmo sem ter um orientador na Enfermagem que desenvolvesse esta abordagem, adquiri quase toda a literatura que tratava a teoria, li e reli muitos livros com os quais me tornei autodidata. Essa aproximação foi tão apaixonante e aconteceu por me sentir gestalt-terapeuta por todo o tempo na qualidade de profissional e pessoa, pois a gestalt‘terapia, é um jeito de ser gente, de ser humano. Ainda no ano de 2003, fui convidada pelas plusianas Drª. Débora Moreira e Drª. Geórgia Gurgel para assumir a coordenação do PLUS+ - Projeto integrado de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação – UFC. Aceitei essa proposta também por necessidade pessoal; tive um luto complicado após a perda de um filho. A participação e preparação dos eventos do projeto PLUS+ trouxeram oportunidades na elaboração do meu luto e hoje ajudo a muitas pessoas a passarem naturalmente as fases do processo de luto. Coordenando junto com a Profª. Drª. Maria Dalva Santos Alves, amiga e companheira diária, que tem me acompanhado nesta proposta de projeto interdisciplinar com coragem e desafio. O projeto PLUS+ tem como objetivos: esclarecer e suscitar reflexões e discussões em torno dos temas Perda, Luto e Separação, capacitar os integrantes acerca dos assuntos centrais do projeto, Tanatologia e assuntos afins, dando subsídios para que seus conhecimentos sejam utilizados pela comunidade acadêmica e pela sociedade como de auxílio profissional e pessoal. Em 2004, com minha querida professora desde minha graduação, chamada carinhosamente por mim de ―Estrela-Guia‖, a Profª. Drª. Maria de Nazaré de Oliveira Fraga, tendo-a mais uma vez, como minha orientadora, nessa ocasião no doutorado em Enfermagem na Universidade Federal do Ceará, utilizando a abordagem da gestalt‘terapia. Defendi a tese com o grupo de mulheres utilizando o relaxamento e a arteterapia, reduziram o nível de ansiedade, 33 como também desnecessário o uso de benzodiazepínicos durante a intervenção grupal. O estudo foi desenvolvido com mulheres com diagnóstico médico de transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes. Estabeleci que as pessoas que participariam da pesquisa não fariam uso de psicofármacos, por considerar que, com o uso da medicação, após alívio dos sintomas, elas poderiam não mais se sentir motivadas a participar de outro tratamento. Além do mais, acredito que os benzodiazepínicos tradicionais, muitas vezes, mostram-se ineficazes, levando a pessoa à dependência. Nesse estudo concluímos que, o espaço grupal foi um locus privilegiado para sistematizarmos a prática assistencial e pesquisarmos sobre os resultados advindos de nossas intervenções como enfermeira em saúde mental. Em 2007, junto com a Profª. Drª. Dalva Santos Alves, iniciamos a ministrar a Disciplina Tanatologia, no Departamento de Enfermagem-UFC. E, com o mesmo intuito de ter referências teóricas para essa disciplina, elaboramos um livro didático intitulado Estudos sobre luto, suicídio e psico-oncologia feito a várias mãos pelos plusianos com a orientação também de um enfermeiro querido e essencial no PLUS+, o Prof. Dr. Michell Ângelo Marques Araújo. Durante dois anos, 2008 e 2009, desenvolvi minha terceira formação, intitulada ―Formação em Psicologia e Psicoterapia Fenômenológico Existencial – Gestalt‘Terapia e Abordagem Rogeriana‖ sob a orientação do psicólogo Afonso H Lisboa da Fonseca, uma das pessoas mais brilhantes e inteligentes que já conheci e que me permitiu saber ainda mais sobre a abordagem gestáltica, da qual me havia tornado autodidata. Assim, tive a oportunidade de mais aprofundamento teórico-vivencial. Minha participação se deu em uma turma constituída por profissionais da saúde, pois até então, a formação era aberta somente a médicos e psicólogos. Com o Mestre Afonso Lisboa, aprendi a diversificar a aceitar o grupo como uma configuração sem ser instituída ou formada por diagnósticos médicos ou de enfermagem; e fui criando um outro grupo, desta vez, com olhar ―affonsiano‖ dentro de uma metodologia ainda mais leve, deixando o grupo fluir, e que eu, gestalt‘terapeuta, pudesse viver nos grupos coordenados, acreditando sempre que o awareness será buscado por quem permite e assim deseja. Faço referência aqui à frase que respondi em dezembro de 2009, quando fui questionada por uma colega querida, a enfermeira Profª. Drª.Cristina Loiola -UFRJ sobre o que eu fazia enquanto enfermeira em saúde mental; Respondi: há pouco tempo, após sair de uma ― uma jornada como coordenadora de grupo institucionalizado (mais de 10 anos), tornei-me a 34 enfermeira que faz grupo nos lugares aonde estou, pois o que somos como profissionais está em nós e não nos muros existentes ou nos quais criamos. Com uma nova concepção de abordagem de grupo em saúde mental, no segundo semestre do ano de 2009, mudei o local de atendimento ao grupo PLUS+ transformação. Esta mudança de local ocorreu para que o grupo não fosse mais ―instituído para doentes mentais‖ e sim que dele pudessem participar todas as pessoas com perdas, luto e separação. Que viessem ao grupo pessoas da comunidade a qual desenvolvo a prática como docente e estou inserida como profissional, no Campus do Porangabussu, sem ter de haver uma ―ficha‖ ―prontuário‖ com diagnóstico médico como ―doente mental‖. O grupo está aberto as pessoas como seres humanos precisando de cuidados de auto-regulação. Cada grupo tem como objetivo assistência de enfermagem a referencia do cuidado com muito afeto. O potencial de cada coordenador é imensurável, pois em todo grupo realizado, a experiência é nova. Tenho mais de dez anos como coordenadora de grupos, mas, quando coordeno o mesmo grupo é uma experiência diferente. Entendo que a enfermeira, assim como os outros profissionais da equipe de saúde, tem como desafio desempenhar práticas nos serviços que são chamados em suas fachadas de serviços de saúde, mas que, em muitas situações, ainda estão voltados para o tratamento, isto é, para a doença e não a prevenção ou promoção da saúde dos doentes que ali procuram. Temos que nos adequar ao atendimento das necessidades que os usuários trazem, se aperfeiçoando e aprofundando nossos conhecimentos para coordenação de grupos com pessoas que nos buscam apenas para serem ouvidas suas dores e alegrias e não só o sofrimento físico e que elas possam ser assistidas por meio desta modalidade terapêutica. A divulgação desse livro é sonho realizado, que ele seja útil à vida de alguém. Ângela Souza, 18 fevereiro de 2010 (42 anos de vida cronológica) Ângela Souza, 18 fevereiro de 2019 (51 anos de vida cronológica) 35 CAPÍTULO 2 A disciplina “Coordenação de grupos” Angela Maria Alves e Souza ―Coordenação de Grupos‖ é uma disciplina curricular do Curso de Graduação em Enfermagem a Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem-FFOE da Universidade Federal do Ceará-UFC de aprendizagemteórica prática a qual é realizada por acadêmicos em vários locais no bairro de Rodolfo Teófilo do Campus do Porangabussu onde está localizado a FFOE e o Departamento de Enfermagem -UFC. A disciplina teve seu início no ano de 1998 quando foi incluída na grade curricular do Curso de Graduação em Enfermagem e se mantém até hoje (ano de 2010) com seu desenvolvimento como disciplina prática. A disciplina foi registrada por fotos e relatórios escritos e verbais das coordenações de grupos dos alunos ao longo destes anos. Os locais aonde são desenvolvidos as práticas no Campus do Porangabussu no Bairro Rodolfo Teófilo: setores do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC); compreendendo: em Salas de espera;Clínicas pediátricas; Clínicas cirúrgicas. Destacam lugares como a Casa de Apoio de pessoas portadoras de câncer do ICC; comunidade dos idosos, creches comunitárias e em áreas livres nos campi da UFC. Os objetivos da disciplina são: compreender os aspectos básicos e conceituais da disciplina ―Coordenação de Grupos‖; Conhecer os preceitos básicos da abordagem grupal e sua utilização prática; Aplicar na prática os conceitos estruturais das dinâmicas grupais; Atuar na coordenação de grupos; Implementar técnicas grupais com abordagem terapêutica junto a clientes em situações de saúdedoença. A coordenação de grupos é um recurso que pode ser utilizado pela enfermeira e pelo enfermeiro em vários cenários de práticas como nos hospitais gerais, centros de saúde, serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, como hospitais-dia, CAPS e NAPS, em Unidades do Programa Saúde da Família ou em ambientes os quais sejam necessários o desenvolvimento da promoção e educação em saúde. Para que os alunos possam desenvolver a prática da disciplina, utilizamos a metodologia de três aulas vivenciais com fundamentos históricos, técnicos de coordenação de grupos darão 36 subsídio teórico para que os acadêmicos possam estar preparados para iniciar, dar continuidade e terminar um grupo. EMENTA : Grupos: conceitos, objetivos e aplicação à clientela da área de saúde institucionalizada ou não. Teorias do processo grupal. Técnicas de coordenação de grupo. Grupos de Apoio/suporte, grupo de auto-ajuda, grupo operativo, grupo de sala de espera, orientação e vivência. METODOLOGIA Teoria: Aulas teóricas e vivenciais sobre abordagem grupal. Práticas: A prática é desenvolvida na comunidade, ambulatórios e complexo do hospital das clínicas Walter Cantídio no Campus do Porangabussu compreendendo:Sala de espera do ambulatório de Radiologia/HUWC;Clínicas pediátricas HUWC;Clínicas cirúrgicas /HUWC;Casa de apoio de pessoas portadoras de Câncer do hospital do câncer; Comunidade de idosos- São Vicente de Paula- Rodolfo Teófilo; creches da comunidade ( vida nova e Creche Aprisco ) Setores da Maternidade Escola Assis Chateaubriant –MEAC-UFC, Hemoce, Escolas municipais entre outros locais os quais são escolhidos pelos alunos. AVALIAÇÕES Critérios de nota final( 10,0 ) = (0-2 pontos) +( 0-7 pontos)+ ( 0-1ponto) Port fólio de livros e textos sobre abordagem grupal na sala de aula + Entrega ao final do semestre de todas as resenhas dos textos lidos com atualização sobre as abordagens estudadas (0-2 pontos) ; Coordenação de grupo – auto-avaliação e do grupo de alunos e da professora ( 0-7 pontos) + Entrega do roteiro de planejamento escrito* no dia da coordenação de grupos( 0- 1ponto ). Será levado em consideração a condução da Coordenação de um dos grupos; Capacidade de sistematização de informações: relação teoria x prática; Compromisso, colaboração nos trabalhos grupais; Pontualidade; Assiduidade. *Entrega do roteiro de planejamento escrito antes do dia da coordenação de grupos com descrição do local, clientela, abordagem usada, recursos materiais e referências bibliográficas. ao final da disciplina cada aluno entregará um port fólio feito durante as aulas teóricas e práticas como também sobre sua coordenação do grupo específico. A avaliação é constituída por meio da coordenação de grupo realizada pelos alunos no campo da prática, pelo próprio aluno e finalmente pela professora. Com 40 alunos por turma: 20 alunos em sala de aula com abordagem teórica e 20 alunos na prática. Descrevemos no Quadro 1, um dos modelos utilizados como cronograma de atividades realizadas na disciplina a primeira coluna mostra alguns lugares escolhidos pelos alunos para a sua atuação como coordenadores de grupos, o qual é programado junto ao serviço, e escolhido a clientela específica. Na segunda coluna é registrada a data e horário. Na terceira coluna descrevemos a abordagem teórica que será discutida para aprendizagem em sala de aula e na quarta coluna distribuirmos os alunos em subgrupo A e subgrupo B para a prática. Cada aula, tem duas metodologias diferentes, um dos subgrupos fica em sala de aula no DENF com a aula 37 teórica- vivencial e leitura do livro e de textos com as monitoras sobre as abordagens descritas, assim como a preparação para a próxima prática de coordenação, o outro sub-grupo vai com a professora para o desenvolvimento de coordenação de grupos nos cenários de práticas em saúde. Quadro 1: Cronograma de atividades da disciplina : ―Coordenação de grupos‖. Conteúdos/ locais da prática Dat a Aula teórica e Abordagem Aulas teóricas - Aulas prática Docente/Discente/monitores Apresentação da disciplina: Breve história dos grupos. Abordagem Gestáltica Profa. Dra. Ângela Maria Alves e Souza e Monitoras Coordenação de grupos:Processo grupal para enfermeiros (Loomis, 1979) Abordagem Gestáltica Profa. Dra. Ângela Maria Alves e Souza e monitoras Coordenação de grupos: Aspectos técnicos e tipos de abordagens. Abordagem Gestáltica Profa. Dra. Ângela Maria Alves e Souza e monitoras Clínica Cirúrgica –HUWC-UFC Grupos de sala de espera Grupo A – Prática. Grupo B - sala de aula- Discussão de textos e preparação da próxima coordenação de grupo. Comunidade das Idosas Grupos no hospital geral Grupo A - sala de aula - Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Grupo B – Prática. Sala de espera do setor de radiologia –HUWC-UFC Grupos de apoio/suporte X Grupos de auto- ajuda Grupo A – Prática. Grupo B - sala de aula- Discussão de textos e preparação da coordenação de grupo. Creche Aprisco Grupo operativo Grupo A – sala de aula- Discussão de textos e preparação da coordenação de grupo. Grupo B – Prática. Creche Vida Nova Grupos de Encontro Carl Roger Grupo A – Prática. Grupo B - sala de aula - discussão de textos e preparação da coordenação de grupo. Pediatria do Hospital Universitário – HUWC Oficinas Grupo A - sala de aula -Discussão de textos e preparação da próxima coordenação de grupo. Grupo B – Prática. HUWC-UFC Psicodrama e Sociodrama Grupo A – Prática Grupo B - sala de aula-Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Sala de espera em Unidade Básica de Saúde Gestalt‘terapia Grupo A - sala de aula- Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Grupo B – Prática. Mãe canguru – MEAC Grupos de familiares Grupo A – Prática. Grupo B – sala de aula- Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Escola municipal ensino fundamental Grupos terapêuticos Grupo A - sala de aula-Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Grupo B – Prática. Sala de espera- Hemoce Grupos de Arteterapia Grupo A – Prática. Grupo B – sala de aula-Discussão de texto e preparação da próxima coordenação de grupo. Local fora do Campus Parque Botânico do Ceará Grupo de Terapia comunitária Grupo A e grupo B -Encerramento da disciplina com Sociometria Durante mais de 12 anos ministrando a disciplina, podemos concluir que com a prática da disciplina ―coordenação degrupos‖ há promoção de saúde em ambientes com pessoas em 38 situação de saúde ou doença e preparando o futuro enfermeiro(a) para o desenvolvimento do trabalho em grupo de acordo com a necessidade da clientela específica. Referências Sugeridas ARAÚJO, Maria Fátima Maciel et al. Port Folio Como trabalhar com o método de oficinas. Fortaleza: Imprensa Universitária. 1998.28pp. BOTEGA, N. J.Trabalhando com grupos no hospital geral: teoria e prática In.: CONTEL, J. O B. Prática Psiquiátrica no hospital geral. Porto Alegre: Artmed. 2002 pp419-429. FONSECA, A .H. L. Grupo: fugacidade, ritmo e forma. São Paulo: Ágora, 1988. LOOMIS, M. E. Group process for nurses. Saint Louis: Mosby, 1979. MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. São Paulo: Duas Cidades. 1981. MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de grupo: Teorias e sistemas. 3ed. São Paulo: Atlas. 1991. MORENO, Jacob, Levy. Quem sobreviverá: fundamentos da sociometria, psicoterapia de grupo e sociodrama.Goiânia: Dimensão. 1994. MOSCOVICI. Fela. Desenvolvimento interpessoal : Treinamento em grupo. 4ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro :José Olympio, 1995. MUNARI, D. B.; RODRIGUES, A . R . F. Enfermagem e grupos. Goiânia:AB, 1997 OLIVEIRA, F. B. Grupo operativo no hospital-dia: uma alternativa de atendimento em saúde mental. Rio de Janeiro, J. Bras. Psiq. V. 44, nº 11, p. 583-587, nov. 1995. OSÓRIO, L.C. et alli. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. PICHON-RIVÈRE, E.J. O processo grupal. 14a. ed. São Paulo: Martins Fortes,1991. QUEIROZ, A. L. A. C.; SOUZA, A. M. A. Grupo de queixas difusas: uma experiência de assistência no CAPS de Fortaleza. In: FRAGA, M. N. A.; BRAGA, V. A. B.; SOUZA, A. M. A. Políticas de saúde, saúde mental e interdisciplinaridade: avaliação e métodos. Fortaleza: Pós-Graduação- DENF/UFC/FFOE/ FCPC, 2001. p. 11-116. RIBEIRO, J. P. Gestalt’terapia de curta duração. São Paulo: Summus,1999. RIBEIRO, J. P. Processo grupal. S. Paulo: Summus, 1993. ROGERS, K. Grupo de encontro. São Paulo: Martins Fortes, 1979. SOUZA, Ângela Maria Alves e. Grupo Terapêutico: Sistematização da Assistência de Enfermagem em Saúde Mental a Mulheres com Transtornos Neuróticos, Relacionados Ao Estresse e Somatoformes Fortaleza, 2004. Tese de Doutorado em Enfermagem –UFC. VINOGRADOV, S.; YALOM, I. D. Psicoterapia de grupo: um manual prático. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. WILSON,M.Group theory. Process for nursing pratice. USA: Brady Communications Company, 1985.292p. YALOM, I. D. The theory and practice of group psychotherapy. New York: Basic Books, 1975. YONTEF, G. M. Processo, dialógo e awareness: ensaios em gestalt‘terapia. São Paulo: Summus, 1998. ZIMERMAN, David E. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997 39 CAPÍTULO 3 Grupos : Breve História Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Nossa experiência, e a literatura, indicam que o espaço grupal é potencializador da função terapêutica dos indivíduos, essa compreensão remete-nos, para efeito de maior contextualização, à história dos grupos no mundo. A primeira experiência com grupo registrada como recurso terapêutico na literatura especializada foi feita em 1905, nos Estados Unidos, no Hospital Geral de Massachussets, pelo tisiologista J. Pratt, por meio de encontros grupais com pacientes portadores de tuberculose, nos quais ele discutia sobre a doença e higiene e respondia a perguntas. Ao mesmo tempo em que aprendiam sobre a doença, os pacientes recebiam apoio emocional, tanto de Pratt como dos demais. O sucesso desses grupos disseminou seu uso para outros problemas de saúde, junto a pessoas portadoras de Diabetes mellitus e doenças cardíacas. Mesmo de modo empírico, esta forma de atenção à saúde tornou-se modelo para outras organizações similares, como Alcoólicos Anônimos, iniciada em 1935 e que se mantém até hoje ( ZIMERMAN, 2000). Entre as experiências que se seguiram, destaca-se o trabalho de Jacob Levi Moreno, criador do psicodrama e introdutor das expressões "terapia de grupo" e "psicoterapia de grupo". A técnica grupal do psicodrama é bastante difundida e praticada no mundo inteiro (MORENO, 1994). O ano de 1930 foi marcado pela contribuição de Kurt Lewin, psicólogo da corrente gestáltica, que cunhou a expressão "dinâmica de grupo‖. Em 1945, ele fundou o primeiro Centro de Pesquisas de Dinâmicas de Grupo (Instituto Tecnológico de Massachusets-MIT), o qual permitiu a ele e sua equipe formular a base gestáltica dos fenômenos dos pequenos grupos e que desenvolvessem pesquisas fundamentais nesse campo, como as que relacionam o clima e a produtividade grupal ao estilo de sua liderança, isto é, liderança democrática, autocrática e permissiva (laissez-faire). Ele explica a liderança, utilizando conceitos da Teoria de Campo, a qual ele criou e introduziu na seara da Psicologia Social. 40 No início de 1947, Kurt Levin morreu subitamente, dificultando a continuidade e o aprofundamento de suas pesquisas. Ele direcionou seu trabalho no sentido de integrar as experiências do campo das Ciências Sociais (MAILHIOT, 1981). Na década de 1940, destaca-se Bion, psicanalista inglês que recebeu influência de Melanie Klein. Ele criou e difundiu conceitos totalmente originais acerca da dinâmica de grupo, como dependência, fuga, luta e apareamento. Suas contribuições permanecem vigentes ( ZIMERMAN, 2000). Em 1948, o psicanalista britânico S.H. Foulkes inaugurou a prática da psicoterapia psicanalítica de grupo, com abordagem gestáltica. Criador de uma comunidade terapêutica no Northfield Hospital, realizou trabalhos de terapia do grupo familiar, terapia de grupo com casais, grupo de atividades, grupo social, grupos de terapêuticos e psicoterapêuticos (RIBEIRO, 1993). No contexto dos movimentos norte-americanos, sobretudo na Califórnia, considerada berço do movimento de encontro, estão a gestalt‘terapia com seu criador, Frederick Perls, os grupos de terapia bioenergética e as ―maratonas‖ ou grupos terapêuticos intensivos, que tiveram grande influência nos anos 1960. Destaca-se ainda Carl Rogers, com sua terapia centrada no cliente, transposta para o contexto grupal (ROGERS, 1979; MUNARI e RODRIGUES, 1997; OSÓRIO, 2000). A gestalt‘terapia está inserida nas psicoterapias humanistas, significando que contém e promove a ideia do homem como centro, como valor positivo, como capaz de autorrealização e autoregulação. Frederick Perls em 1977 foi o idealizador e criador da gestalt‘terapia, influenciado pela psicanálise (Freud e Reich), pela Psicologia da gestalt (Koffka, Köhler, Wertheimer, Lewin, Goldstein, entre outros) e por princípios do existencialismo e da fenomenologia.Também incorporou ideias de Moreno, desenvolvendo a importância do desempenho de papéis na psicoterapia, a Filosofia e a prática do Zen. Perls, usando a visão existencialista, considera que o mundo vivencial de um individuo só pode ser compreendido por meio da descrição direta que o indivíduo faz de uma situação única (TELLEGEN, 1984). Os principais conceitos utilizados na gestalt‘terapia são: autoregulação, contato; o organismo como um todo (holismo); totalidade; figura e fundo; ênfase no aqui–e-agora (autopercepção presente e imediata que o indivíduo tem de si mesmo e de seu meio); preponderância do como sobre o porque (importância da experiência de uma maneira descritiva e nãocausal); conscientização - awareness- processo de expansão das áreas da autoconsciência para o crescimento pessoa(PERLS, 1991; PERLS, HEFFERLINE, GOODMAN, 1997). 41 Enrique Pichon-Rivière, psicanalista argentino, criou um esquema conceitual referencial operativo (ECRO), aprofundou o estudo dos fenômenos surgidos no campo dos grupos instituídos, não para a finalidade de terapia, mas para desenvolver determinada tarefa. O grupo operativo foi criado em 1957 por Pichon-Rivière e iniciou-se em uma instituição universitária dacidade de Rosário, na Argentina. O projeto de um grupo operativo surge como emergente da tarefa executada por um grupo e isso ocorre quando todos os membros conseguem visualizar um objetivo para esse agrupamento (PICHON-RIVIÈRE,1991). Na França, na década de 1960, destacam-se Didier Anzieu e René Kaës, trazendo conceitos como ‗ilusão grupal‘ e ‗aparelho psíquico grupal‘. Após esses autores, as terapias de grupo adquiriram bases teóricas específicas e seguem para uma identidade própria (ZIMERMAN, 2000). Ainda nos EUA, Irving Yalom, psiquiatra, com base em sua experiência profissional e com a colaboração da enfermeira ianque Maxine Loomis publicou a obra Teoria e prática da psicoterapia de grupo. Loomis, posteriormente, publicou o livro Processo grupal para enfermeiros, dando significativa contribuição ao trabalho com grupos coordenado por enfermeiros (Loomis, 1979). Outra referência importante para a prática de enfermeiros é Marga Wilson (1985), que publicou um livro sobre teoria e processo grupal para a prática de enfermagem e vários artigos . A principal contribuição de Yalom, juntamente com Vinogradov, diz respeito aos fatores terapêuticos desenvolvidos nos grupos: instilação de esperança, universalidade, oferecimento de informações, altruísmo, desenvolvimento de técnicas de integração social, comportamentos imitativo, catarse, reencenação corretiva do grupo familiar primário, fatores existenciais coesão do grupo, e aprendizagem interpessoal (VINOGRADOV; YALOM, 1992). Eles acentuam que estes 11 fatores terapêuticos podem estar presentes em qualquer grupo, variando em função do tipo de grupo, da terapia e as diferenças individuais entre os pacientes. Essa categorização abriu outras possibilidades para os pesquisadores interessados no estudo do fenômeno grupal, já que esses fatores podem ser considerados como mediadores da mudança terapêutica. No Brasil, o trabalho desenvolvido com grupos em diferentes abordagens é praticada por grande número de profissionais de áreas diversas. A coordenação de grupo constitui um dos principais recursos terapêuticos nos mais diferentes contextos de assistência à saúde, em específico na área da saúde mental. É possível que os grupos sejam uma estratégia criada em grande parte, pela reforma psiquiátrica, tendo por foco a ressocialização do indivíduo em 42 sofrimento psíquico. O aumento do número de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico e a criação de políticas de assistência ao doente mental voltadas para a atenção primária e secundária vieram apontar o atendimento em grupo como um dos principais recursos terapêuticos nesses contextos BIBLIOGRAFIA LOOMIS, M. E. Group process for nurses. Saint Louis: Mosby, 1979. MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos.São Paulo: Duas Cidades. 1981. MORENO, Jacob, Levy. Quem sobreviverá: fundamentos da sociometria, psicoterapia de grupo e sociodrama.Goiânia- Go: Dimensão. 1994. MUNARI, D. B.; RODRIGUES, A . R . F. Enfermagem e grupos. Goiânia:AB, 1997 OSORIO, L. C. Grupos: teoria e praticas- acessando a era da grupalidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PERLS, F. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro; Zahar, 1981. PERLS, F; HEFFERLINE, R; GOODMAN, P. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997. PICHON-RIVIÉRE. O processo grupal . São Paulo: Martins Fontes,14 ª ed. 1991 RIBEIRO, J. P. Processo grupal. São Paulo: Summus,1993 ROGERS, K. Grupo de encontro. São Paulo: Martins Fortes, 1979. TELLEGEN, T. Gestalt e grupos. São Paulo: Summus, 1984. VINOGRADOV, S.; YALOM, I. D. Psicoterapia de grupo: um manual prático. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. WILSON, M. Group theory. Process for nursing pratice. USA: Brady Communications Company, 1985. 292p. YALOM, I. D. The theory and practice of group psychotherapy. New York: Basic Books, 1975. ZIMERMAN, David E. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000 . 43 CAPÍTULO 4 Coordenação de Grupos: Processo Grupal para Enfermeiros Maria Adelane Monteiro da Silva Ângela Maria Alves e Souza Ana Karina Bezerra Pinheiro Introdução O marco histórico do desenvolvimento do trabalho com grupos aconteceu em 1905 nos EUA, com o médico Pratt. Daí muitos contribuíram na evolução da utilização da abordagem grupal, com que várias correntes. Na Enfermagem estadunidense, a enfermeira Máxime Loomis tem como base para seu trabalho, a obra de Yalon, psiquiatra que estudou o grupo como instância terapêutica. Desta forma, não se trata de uma novidade para a enfermagem, pois há vários registros da utilização dessa estratégia em diversos contextos na área (SOUZA, 2004; MONTEIRO, 2005; MONTEIRO, PINHEIRO, LEITÃO, 2005). Há um número crescente de publicações sobre as conhecidas ―dinâmicas de grupos‖ como demandas de atividades desenvolvidas nos mais vários campos da saúde da educação. Observa-se, em geral, a banalização da atividade de grupo como tarefa simples e que não requer mais aprofundamentos teóricos (ANDALÓ, 2001). Pela nossa experiência com grupos, somos frequentemente solicitadas a ajudar na realização de alguma técnica a ser desenvolvida em determinado grupo, cujas características muitas vezes são desconhecidas pelo coordenador. Este apenas programa atividades para serem executadas durante o grupo, sem aprofundamento de um referencial e sem visualizar o caminho. Apesar de a abordagem grupal estar integrada ao cotidiano de nossas vidas, e muitas vezes ser nossa ferramenta de trabalho, nem sempre consideramos os determinantes ligados ao seu êxito ou fracasso. A articulação entre o embasamento teórico, a reflexão e a experiência concreta com grupos, traz a verdadeira aprendizagem acerca dessa abordagem e seus benefícios, como estratégia para o trabalho da Enfermagem (MUNARI, RIBEIRO, LOPES, 2202). Uma das bases teóricas que orienta nossa prática de abordagem grupal se trata do Group process for nurses, o qual propõe o trabalho grupal desenvolvido por enfermeiros. Com efeito, este capítulo descreve os princípios teóricos do processo grupal, com base no referencial de Loomis (1979). Loomis (1979) propõe o trabalho grupal a ser desenvolvido por enfermeiros mediante de um conjunto de variáveis que podem acontecer no ambiente do grupo e que estão dispostas 44 em quatro determinantes interdependentes - objetivos, estrutura, processo e resultados do grupo - como demonstra o Gráfico 1. Gráfico 1 - Modelo de variáveis de grupos pequenos – objetivos, estrutura, processo e resultados Fonte: Tradução do modelo de Loomis (1979). Manutenção Emocional Comporta- mental Mudança de comp. Intrapessoal Interpessoal Pessoal Ambiental Aprendizagem Insight Processo Interpessoal Preparação de particpantes Objetivos Estrutura Processo Resultados Reembolso Adequações Físicas Seleção de participantes CONTRATO DE CUIDADO SAÚDE OBJETIVOS E METAS O b je tiv o s E stru tu r a ra P r o c esso R e su lta d o s COESÃO GRUPAL EFETIVIDADE DO GRUPO PESQUISA CLÍNICA Metas do Grupo Normas do Grupo Esclarec. das normas apresent. Acordo qto aos meios p/ alcançar as metas Esclarec. das metas apresent. Compatibliidade às normas do grupo PAPEL DO COORDENADOR INTERAÇÃO DOS MEMBROS Estimulação emocional Papéis Cuidado Poder e Influência Atribuição de significado Comunicação Função executiva FATORES TERAPEUTICOS Necessidades dos membros Expectativa do Sistema Objetivos do coordenador 45 PRINCÍPIOS TEÓRICOS DO PROCESSO GRUPAL Loomis (1979) Organizamos esses descritores, os quais correspondem a etapas para a condução do grupo, seguindo três fases - planejamento, intervenção e avaliação. O Planejamento correspondeu à etapa dos objetivos, a Fase de Intervenção compreendeu as etapas deestruturação e processo e a última, a Fase de Avaliação, os resultados do grupo. Loomis (1979), sugere que identificar as necessidades dos clientes, assim como suas expectativas, é fator fundamental para a elaboração dos objetivos e metas do grupo, correspondendo a uma pré-avaliação necessária na Fase de Planejamento. No momento inicial, deve ser realizada uma avaliação a fim de identificar e classificar as necessidades do cliente, ajustando-as a uma das categorias que poderá ser de apoio, realização de tarefas, socialização, aprendizagem e mudanças de comportamento, aprimoramento das relações humanas e psicoterapia. Avalia-se também se estas necessidades podem ser satisfeitas em um grupo, considerando as vantagens e desvantagens de utilizar a abordagem grupal como alternativa de intervenção. Conhecer as expectativas da instituição/serviço, no que concerne à função da enfermeira como coordenadora do grupo, é de fundamental importância para garantia da continuidade do trabalho. Após se fazer o levantamento das necessidades dos clientes, pode-se identificar que tipo de grupo poderá ser constituído no sentido de satisfazê-las. Loomis (1979) aponta uma variedade de métodos para descrever e categorizar grupos de cuidados de saúde. Um desses métodos é baseado nas etapas mais comuns que acontecem dentro do grupo, citadas anteriormente: objetivos (grupos de apoio, de realização de tarefa, de socialização, de aprendizagem, de encontro e psicoterapia); estrutura (de acordo com o tipo de participantes, nível de prevenção adotado, grau de estrutura do grupo, orientação teórica e grau de orientação para insight); processo (baseado nos fatores terapêuticos de Yalom - instilação de esperança, universalidade, oferecimento de informação, altruísmo, reedição corretiva do grupo familiar primário, desenvolvimento de técnicas de socialização, imitação de comportamento, aprendizagem interpessoal, coesão grupal, catarse e fatores existenciais); e resultados (manutenção, aprendizagem e mudança de comportamento). A identificação das necessidades dos participantes do grupo também possibilita ao enfermeiro avaliar se seus objetivos, na qualidade de coordenador do grupo, estão de acordo com 46 o que os membros precisam. Os seus objetivos devem estar relacionados com os objetivos do grupo e estes também devem condizer com as necessidades dos integrantes. Embora reconhecendo a importância da Fase de Planejamento para o alcance dos objetivos do grupo, configurando-se essa no momento inicial de preparação, também entendemos que o planejamento deve ocorrer mesmo após o início da formação do grupo. Acreditamos que o planejamento é algo que deve ser contínuo e flexível. Considerando os ajustes que podem e devem ser feitos no decorrer dos encontros e que exigem um replanejamento constante. Dependendo do tipo de grupo, as necessidades e, portanto, os objetivos podem ser mutáveis, necessitando ser modificados de acordo com a evolução do grupo e com as circunstâncias que os membros vivenciam. Na Fase de Intervenção, devem ser observados os aspectos relacionados à estruturação dos grupos como: seleção dos integrantes, organização física, tempo (horário, freqüência e duração), número de participantes do grupo, espaço e ambiente, reembolso, assim como preparação dos membros. A autora se refere ao reembolso como uma taxa, a qual os clientes pagam pelos cuidados de saúde prestados no grupo. Essa não é bem a realidade da Enfermagem no Brasil, onde os enfermeiros são remunerados pela sua carga horária de trabalho. A preparação dos membros é um momento que se destina ao compartilhamento de expectativas entre o coordenador e os participantes do grupo, facilitando a entrada da pessoa no grupo (LOOMIS, 1979). Não há um padrão para definir com os participantes os objetivos do grupo de cuidados de saúde, podendo ocorrer individualmente ou numa sessão preparatória. Também na etapa de estruturação do grupo devem ser definidas as regras e normas para a convivência no grupo, firmando-se o contrato de trabalho ou contrato dos cuidados de saúde. Vale ressaltar a importância de que estes aspectos sejam discutidos e definidos com todos os participantes, chegando-se a um consenso, permeado por uma atmosfera de abertura, possibilitando a comunicação, o diálogo. Esse momento como fundamental e alerta no sentido que esse acordo pode ser renegociado ou finalizado a qualquer momento e deve ser novamente esclarecido toda vez que se fizer necessário. Assim, entende-se que os aspectos referentes à estruturação devem ser validados de forma contínua, especialmente em grupos abertos, que necessitam de validação e/ou reestruturação a cada entrada/saída de um novo membro. 47 Durante a Fase de Intervenção, ainda devem ser observados os aspectos referentes ao processo grupal, respeitante a tudo que acontece dentro de um grupo durante seu funcionamento. Incluem-se não só o conteúdo do que é dito, mas o modo como os membros interagem, o tempo em que ocorrem essas interações, os papéis do líder do grupo e dos membros em relação um ao outro (LOOMIS, 1979). Segundo Loomis (1979), os membros procurarão desenvolver um papel que lhes é familiar e que está relacionado ao seu desconforto e incerteza experimentada por estar em um grupo novo. Outro fenômeno intimamente relacionado ao desenvolvimento de papéis é o desenvolvimento de padrão de poder e influência. A maioria dos grupos de cuidado de saúde tem um líder que normalmente é um profissional de saúde. Outros tipos de grupos, no entanto, ou mesmo grupos que tenham um profissional como coordenador, poderão eleger um líder por um período específico. De acordo com Loomis (1979), os membros considerados influentes ou assumem um papel de liderança, normalmente são aqueles que buscam as metas e que facilitam para que os outros integrantes alcancem os objetivos do grupo. Esse comportamento deve ser reforçado pelo coordenador. O enfermeiro precisa, no entanto, reconhecer quando um dos participantes se proclama líder ou o único expert no assunto, pois esses extremos são prejudiciais ao processo do grupo. É importante que o coordenador do grupo perceba a contribuição de cada membro e modele este compartilhamento de poder e influência. Desta forma, trata-se de uma etapa em que ocorrem os primeiros experimentos nos papéis de liderança e de testagem da capacidade do coordenador de conduzir o grupo com suas diversidades. Frequentemente os papéis e os tipos de poder e influência demonstrados pelos membros do grupo coincidem com o padrão de comunicação destes. O desenvolvimento de padrões de comunicação é outro assunto importante a ser considerado na fase inicial de um grupo. Quem fala com quem e sobre o quê. Uma abordagem sociométrica pode ser realizada para analisar as interações do grupo, sendo um dos métodos mais precisos e também que mais consome tempo do coordenador. Nessa abordagem, é quantificada a frequência das interações iniciadas e recebidas por parte de cada membro. Para um líder iniciante na condução de grupo, pode haver várias questões que merecem atenção: quem tem a tendência a fazer perguntas? Quem dá respostas? Quem não diz nada? Quem pergunta para obter atenção do líder? Quem muda de assunto quando os sentimentos são expressos? Qual é o humor utilizado no grupo? Quem se emociona com o que 48 está sendo dito? As questões são infinitas e não existem as mais importantes, pois o que deve ser observado pelo coordenador é maneira como emerge o padrão de comunicação do grupo (LOOMIS, 1979). Logo, o papel do coordenador nessa fase é de suma importância para o sucesso do grupo, pois dele depende o desenvolvimento da coesão grupal, fator terapêutico imprescindível para o alcance dos objetivos e efetividade do grupo. O coordenador deve maximizar o potencial do grupo, orientar e estimular o compartilhamento de sentimentos e experiências,realizando comentário positivo, facilitando e reforçando, assim, a interação dos membros. O coordenador deve ainda esclarecer o caráter de interdependência dos membros na realização de suas metas. Os outros fatores terapêuticos citados anteriormente também podem ser expressos durante o processo grupal, entretanto, a coesão grupal também é considerada como um dos resultados da efetividade do grupo, configurando-se, ao mesmo tempo, como causa e efeito. Ela resulta de todas as forças de ação dos membros para continuarem no grupo. Loomis (1979) suscita três pontos importantes para a coesão grupal: as metas e as normas do grupo e o papel do coordenador. O desenvolvimento da coesão grupal pode ser facilitado quando a coordenação esclarece os objetivos e metas propostos, relacionando-os com as necessidades dos clientes e com a própria expectativa. Loomis (1979) aponta, porém alguns aspectos que constituem ameaças para o desenvolvimento da coesão grupal. A instabilidade dos membros do grupo é um fator que dificulta o processo grupal como um todo, sendo diversas as razões que favorecem este fato, a exemplo das normas rígidas, falta de limite em relação ao número de integrante, desrespeito a pontualidade, indefinição de um lugar fixo, rotatividade da equipe, interrupção de visitantes externos ao grupo entre outras. Há alguns desvios do grupo as atitudes daqueles membros que dificultam o processo grupal, como a sua oposição ou não-aceitação das normas e das metas do grupo. Também refere que a formação de subgrupos, resultante da insatisfação, relutância ou da inabilidade em aderir às normas e metas do grupo, é um acontecimento que dificulta o desenvolvimento da coesão grupal, pois estimula a competitividade. Os problemas de liderança também podem pôr em risco a integridade do grupo e são resultantes da falta de conhecimento ou de habilidade do coordenador para trabalhar a favor da coesão grupal. Em resumo, as metas e normas são veículos que o líder pode usar para desenvolver a coesão grupal. Quando o coordenador escuta com interesse, reforça verbalmente, ignora ou 49 desaprova certas interações, os participantes incorporam isso, de maneira que o coordenador pode, desta forma, influenciar a formação de normas de possibilidade em lugar de normas restritivas. Durante o funcionamento dos grupos, os objetivos e metas podem ser atingidos por dois caminhos: o do conteúdo e o do processo. Através do caminho do conteúdo, o grupo se movimenta no sentido de utilizar a maior parte do seu tempo e de sua energia na busca de aspectos concretos do que se faz ou do que se diz. No caminho do processo, é importante a forma como o grupo se desenvolve em todas as suas nuanças, considerando as intenções de comunicações, sequência e tempo destinado para cada integrante. A maioria dos grupos utiliza uma mistura dessas duas dimensões, de modo a beneficiar-se de ambos (conteúdo e processo) no seu desenvolvimento (LOOMIS, 1979). Nessa etapa, também pode acontecer a adoção de algumas posições relacionadas a comportamentos e atitudes que fazem parte da dinâmica das relações humanas. A resistência à mudança é natural nessa fase, podendo ser assumida pelo grupo como um todo ou somente por alguns de seus membros. A possibilidade do abandono de certos comportamentos presentes no relacionamento pode despertar sentimentos de ambivalência que serão tão mais intensos quanto maior a dificuldade de abertura para mudanças. As situações de conflito são comuns durante o trabalho com grupos, pois pode haver diversidade e divergência de posicionamentos e sentimentos dos integrantes entre si, entre subgrupos, do coordenador para com os elementos do grupo e ainda para com o grupo como um todo. Para que a proximidade ocorra, é necessária uma comunicação honesta de ambas as partes, podendo o grupo constituir, para alguns indivíduos de certas culturas, experiência única. A resolução de problemas pode acontecer em todos os tipos de grupos. Mediante a coesão grupal, é possível mobilizar as capacidades para solucionar problemas e resolver assuntos da fase de seu funcionamento como a resistência à mudança ou conflitos. A finalização do grupo também é destacada como um evento tão importante quanto todo o seu percurso, exigindo atenção especial do coordenador. Um membro que deixa o grupo é um evento importante, assim como a integração de novos membros ao grupo também é um fator significante. Esses eventos precisam ser reconhecidos e discutidos dentro do grupo como um modo de nutrir a coesão. Um dos fatores que parece facilitar a participação dos membros no grupo é ter experienciado a participação prévia em outros agrupamentos. Esse fator, assim como o grau de 50 instrução do participante, pode contribuir para o desenvolvimento do padrão de poder e influência de certos membros sobre o restante. A proximidade pode estar presente entre duas pessoas que já se conhecem há algum tempo e que, com a participação destas, pode ser intensificada, fortalecendo um vínculo passível de continuar mesmo após a finalização. Entre esses membros, o padrão de comunicação parece ser bem mais evidente, permitindo um diálogo aberto, com base no qual se estabelece um relacionamento interpessoal terapêutico e duradouro (MONTEIRO, 2005). Considerando o fato de que todos os profissionais devem avaliar a efetividade de sua prática, a Fase de Avaliação é uma etapa importante do trabalho grupal, embora muitos autores se refiram a esse aspecto de forma subjetiva. O enfermeiro pode recorrer à avaliação clínica, ou seja, à observação de ―O que acontece‖, ―De que forma‖ e ―Como‖. Também pode começar com alguma pergunta do tipo: Realmente estou ajudando às pessoas? Do que os integrantes mais gostam no grupo? Eles têm alguma sugestão para acrescentar ao grupo? Os outros profissionais da instituição notam alguma diferença nos participantes como resultado do grupo? Quais as mudanças dos membros do grupo? As mudanças podem ser generalizadas às suas vidas fora do grupo? As mudanças são mantidas com o passar do tempo? Para Loomis (1979), as repostas para essas perguntas podem ser buscadas em diferentes fontes. Há basicamente cinco estratégias ou formas para avaliar a efetividade do grupo: avaliação dos membros, individual ou em grupo; avaliação na percepção do coordenador; avaliação sob a perspectiva de outros membros da equipe que trabalha com o grupo; avaliação assinada da opinião de pessoas que convivem com os participantes e avaliação de supervisor externo ou perito em abordagem grupal. Além disso, a avaliação também pode ser realizada sob a perspectiva dos resultados que o grupo poderá alcançar, utilizando-se três parâmetros, a manutenção do emocional e da ação comportamental dos participantes, a aprendizagem e a mudança de comportamento que possuem como indicadores os objetivos e metas estabelecidas para o trabalho grupal. O primeiro constitui um desses resultados e deve-se observar a capacidade de manter os objetivos primários a que se destina o grupo. O segundo não é simples aquisição de conhecimento/informação, é uma condição mais ampla, que envolve a possibilidade do indivíduo conhecer algo sobre si mesmo, reflexão a respeito de suas dúvidas e dificuldades, acerca do relacionamento com o seu problema com os outros que o cercam, e no tocante às suas chances de mudança. O terceiro constitui a 51 maneira mais observada para medir os resultados de uma intervenção grupal. Os seres humanos, entretanto, não mudam sempre em uma linha direta, na forma de causa e efeito, e, apesar do conhecimento crescente sobre comportamento humano, nem o participante nem o profissional podem dizer, sem dúvida, por que uma mudança ocorreu. Alertamos ainda para uma tendência dos membros serem muitos positivos sobre o grupo no momento da finalização, por isso, uma avaliação mais fidedigna em relação à mudança decomportamento poderia ser obtida depois de vários meses. Em geral, essas mudanças podem ser classificadas como mudanças em no que concerne a si mesmo, no atinente às pessoas à sua volta e em relação ao meio em que vivemos. O grupo constitui espaço para se praticar essas mudanças (LOOMIS, 1979). Ressaltamos que a avaliação e o feedback podem fazer parte do continuum do grupo, de tal modo que o coordenador e os membros possam fazer ajustes e melhorias enquanto o grupo ainda está acontecendo. Outro aspecto importante é que o processo que acontece dentro de um grupo pode prover aprendizagens múltiplas que aumentam a efetividade deste. Assim, a avaliação da efetividade do grupo deveria levar em conta a possibilidade de resultados múltiplos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como a fundamentação dos estudos existentes em grupos advém da psicoterapia ou terapias de grupo, percebemos que ainda há uma necessidade de pesquisa para testar a aplicabilidade de muitos princípios em grupos de cuidado de saúde. Assim, é mister o profissional que conduz grupos de cuidados de saúde adotar uma posição interrogativa, comprometida com sua prática, pois pouco sabemos sobre as vantagens e desvantagens da abordagem em diferentes grupos de modo sistemático. Embora o grupo conduza o próprio caminho, não sendo possível prever seu andamento, se faz necessário o aprofundamento teórico e a discussão sobre sua dinâmica para o aprimoramento do papel de coordenador. Acreditamos que essa função exige do profissional conhecimentos e habilidades especificas sobre o assunto, que só serão adquiridas na contextura prática crítica e reflexiva. Consideramos que os princípios teóricos aqui descritos tratam o assunto do processo grupal conduzido por enfermeiros em grupos de cuidados de saúde de forma sistemática e exequível, configurando um caminho possível de ser adotado. 52 Referências ANDALÓ, C.S.A. O papel do coordenador de grupos. Psicol USP. 2001;12(1):135-52 LOOMIS, M.E. Groups process for nurses. Saint Louis: Mosby; 1979. MONTEIRO, M.A.A. Abordagem grupal a puérperas com o filho recém-nascido hospitalizado. 2005. 157p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. MONTEIRO, M.A.A; PINHEIRO, A.K.B; LEITÃO, G. da C.M. Análise do conceito de grupo como estratégia para o cuidado de enfermagem. Rev Min Enferm. 2005;9(3):247-52. MUNARI, D.B.; RIBEIRO, V.; LOPES, M.M. Intervenção grupal com enfoque no cuidado emocional: relato de experiência. Rev Bras de Enferm. 2002; 55(4):449-51. SOUZA, Ângela Maria Alves e. Grupo Terapêutico: Sistematização da Assistência de Enfermagem em Saúde Mental a Mulheres com Transtornos Neuróticos, Relacionados Ao Estresse e Somatoformes Fortaleza, 2004. Tese de Doutorado em Enfermagem –UFC. 53 CAPÍTULO 5 Coordenação de Grupos: Aspectos Técnicos Angela Maria Alves e Souza Introdução Por que usar grupos? É uma questão de escolha do profissional em trabalhar com esse recurso de atendimento às necessidades da clientela específica. Na abordagem com grupos é a economia de tempo e de energia. Outro benefício do grupo é que pode congregar pessoas com situações semelhantes, proporcionando experiências de valor terapêutico, o que ajuda os membros do grupo a quebrarem barreiras criadas por sentimentos de solidão e isolamento, especialmente pela possibilidade de receberem feedback e sugestões construtivas de outras pessoas que experimentam as mesmas situações. Quando iniciamos prática com grupos, a insegurança é uma das características naturais, pois será um empreendimento desconhecido. Ser coordenador de grupo requer coragem para o novo, isto é, estar sempre aberto aos desafios. Só estaremos seguros para enfrentar qualquer grupo quando estivermos dispostos a correr o risco de nos expor como pessoa. Então, somente aquelas que têm a coragem ousar e de se expor estão preparadas para trabalhar com grupos. E é muito comum, o que ocorre quando ainda não nos sentimos seguros é o temor de sermos incapazes na condução de algum grupo. O ser humano é um sistema aberto, em constante processo, reconhecendo esse aspecto, já é um grande passo para se evitar que uma atitude perfeccionista seja um bloqueio para sua atuação como coordenador de grupos. Uma das maiores dúvidas de quem vai coordenar um grupo é referente à área de operacionalização do grupo, e está ligada a questões tais como: estruturação de como atingir a clientela e critérios para o planejamento grupal. Sendo assim, um dos temores vivenciado pelo indivíduo é acreditar ser incapaz ou que não tem competência para coordenador um grupo. Esse aspecto é relativo à nenhuma ou reduzida vivência em trabalhos com grupos como também, que o iniciante ainda não tenha estudado ou conhecimento sobre algum tipo de referencial teórico de abordagem grupal. No processo grupal, caso haja alguma tentativa considerada como falha percebida pelo coordenador que algo não deu certo conforme havia sido planejado, nessa ocasião pode ocorrer sentimentos de culpa e de inadequação, para isto, defendemos que todas as situações pelas quais 54 passamos são para o aprendizado de nossas peculiaridades, no desenvolvimento da atuação como coordenadores nos próximos encontros grupais. Para que possamos reavaliar nossa atuação em cada grupo executado. Ser coordenador de grupo requer coragem e crença de que somos capazes de ajudar pessoas que necessitam de nossa assistência. O enfermeiro durante a graduação torna-se capaz de ser um líder e coordenador seja da equipe de enfermagem ou multiprofissional por ter formação holística da assistência ao individuo, família e/ou comunidade. Ser enfermeiro coordenador de grupo já nos é peculiar em nossa profissão, em vários cenários de nossa prática. Muitos profissionais da saúde, assim como o enfermeiro, têm o papel de coordenador de grupo, deixando que mudanças aconteçam para que cada indivíduo use sua percepção e que possa aprender a transportar suas elaborações conscientes para o seu cotidiano. Quando pensamos em trabalhar com grupos, temos que considerar as expectativas do sistema de saúde em que estamos inseridos. É necessário avaliar as expectativas e aceite da instituição ante a proposta de assistência com grupos. Embora as atividades em grupo façam parte do cotidiano de muitos profissionais e sejam desenvolvidas até de forma automática, é importante dizer que algumas condições podem contribuir para o seu êxito ou fracasso; tais condições estão em diversos planos, que vão desde aspectos estruturais, de funcionamento, até sua dinâmica interna e das inter-relações. Sendo uma atividade complexa, combinando ações básicas não dissociadas, ou seja, a Educação em Saúde, o cuidado e a gerência dos sistemas de Enfermagem, situado no contexto do setor saúde, sendo, portanto, um trabalho coletivo, compartilhado pelos demais profissionais que estejam desenvolvendo grupos. As peculiaridades pessoais e técnicas de cada coordenador serão determinantes nos resultados, para o começo de qualquer grupo. É preciso ser verdadeiro e estar inteiro naquele espaço com as pessoas as quais escolheu para serem seus clientes. Defendemos a ideia de que são necessárias para a mínima condução de grupos do futuro coordenador, a prática de algumas experiências, e observação com outros coordenadores, assim como participar em alguns grupos, sejam vivenciais e ou profissionais. Se temos interesse em desenvolver atividades de grupos, é fundamental a preparação ou formação em algum tipo de abordagem grupal . Sugiro também para um coordenador de grupos ter alguns atributos desejáveis, que estão sublinhados e descritos conforme nossa compreensão da função e conforme Zimerman 55 (1997):Gostar e acreditar em grupos, só podemos fazer algo que gostamos quando acreditamos naquilo que fazemos; Amor àsverdades, pois é dentro de nossa transparência que podemos alcançar excelentes resultados; Ter Coerência no que faz e fala, pois o coordenador tem que ter a seriedade de ver o que é mais coerente para o grupo; Senso de ética, que significa não apenas a questão do sigilo, mas manter a individualidade de cada participante no anonimato; Respeito às peculiaridades de cada pessoa que faz parte de teu grupo, mas também a não-imposição, pelo coordenador, de seus valores e expectativas ao grupo; Paciência em esperar o tempo e o ritmo necessário de cada participante. Ser Continente para acolher cada participante; Ter capacidade negativa - é necessário muitas vezes não expor os próprios sofrimentos. Função de pensar, na configuração para que aconteça contato em cada gestalt apresentada; Discriminação -buscar em cada um o seu papel no grupo. Comunicação verbal, a fala é um dos aspectos mais importante para o desenvolvimento do grupo, assim como saber escutar, saber falar no tempo certo. Traços caracteriológicos, para que possamos ajudar a outros, é necessário para o grupo que o coordenador conheça a si próprio, e sua personalidade. Modelo de identificação, o coordenador mostra-se sempre como um modelo a ser apresentado. Empatia - é se colocar no lugar de cada um do grupo e entrar no clima grupal. Síntese e Integração - sintetizar o conteúdo e o processo grupal dos participantes, como despertar elos que formem configurações necessárias a cada grupo. Mesmo escrevendo acerca de grupos de forma genérica, é importante destacar que existe uma grande variedade de tipos de grupos, e, para nós enfermeiros e outros profissionais, é fundamental conhecê-los para que possamos fazer a opção adequada quando planejamos um grupo, considerando os limites e possibilidades que cada um de nós oferece. Planejamento de um Grupo Para se iniciar um grupo, temos que conhecer as - fases do grupo; - quem serão os coordenadores; - a clientela; - dia, horário e período de duração; -local; -tipos de grupos, e, por último, Abordagens grupais. 56 Fases do desenvolvimento de um grupo Para compreensão didática de como coordenar um grupo, é necessário que o processo grupal, tenha sempre começo, meio e fim. Em outras palavras, início, desenvolvimento e avaliação, ou 1ª fase, 2ª fase, 3ª fase, ou, 1º momento, 2º momento e 3º momento ou ainda como defende (SCHUTZ, 1958), que haja Inclusão, Controle e Afeição dos participantes. Estas etapas podem ter nomenclaturas variadas, pois serão determinadas pela formação dos coordenadores. Estas fases acontecem tanto em cada encontro como no processo grupal durante a existência do grupo. Os momentos de um grupo serão descritos e distintos para que se possa ter uma visão didática das fases, mas elas podem acontecer simultaneamente ou mesmo começar pelas várias formas do fim para o começo, do meio para o começo, do final para o meio conforme os coordenadores elaborarem sua abordagem. O grupo deve visto como um contínuo processo, como um todo. Podemos em síntese descrever as fases do grupo: 1ª Fase - 1º.Momento:quebra-gelo - fase inicial - aquecimento – orientação-( Inclusão); 2ª Fase - 2º. Momento: desenvolvimento- operacional ou (Controle); 3ª Fase - 3º. Momento: a avaliação ao terminar uma sessão ou processo grupa ou (Afeição). De acordo com Schutz(1958), autor da teoria das Necessidades Interpessoais, refere que todo indivíduo vem a um grupo com necessidades interpessoais específicas e identificadas que somente em grupo e pelo grupo podem ser satisfeitas. Identifica três necessidades interpessoais: a necessidade de inclusão, a necessidade de controle e a necessidade de afeição. Toda pessoa ao entrar em um grupo, inicialmente, pensa como será sua inclusão passando, posteriormente para o controle, isto é como será sua função no grupo e, finalmente, procura satisfazer sua necessidade de afeição. Os grupos também se iniciam pela Inclusão, passam para Controle e então para Afeto. O ciclo recomeça, porém numa diferença de profundidade ou nível. Quando cada fase for suficientemente resolvida e o grupo tiver ainda energia para outras coisas, assim passará, para a próxima fase. Os termos Inclusão, Controle e Afeto como estágios de desenvolvimento do grupo foram classificados em adequado, isto é, o grupo consegue funcionar de maneira satisfatória e inadequado, quando o funcionamento do grupo não satisfaz aos membros( FRITZEN, 1987). 57 1ª Fase - Quebra-gelo-aquecimento – orientação- Inclusão O primeiro momento pode ser chamado por várias denominações como quebra-gelo, aquecimento, acolhimento, orientação, preparação para o desenvolvimento do trabalho em grupo. O tempo desta fase poderá ser de 10 minutos ou o tempo determinado pelo número de participantes e se o grupo é do tipo aberto ou fechado. Os coordenadores explicitam os objetivos a serem alcançados que sejam determinados pelos participantes para aquele trabalho grupal. Toda vez que um novo grupo é formado ou quando se entra pela primeira vez em um novo grupo, a pessoa procura satisfazer sua necessidade de inclusão: de se sentir aceito, valorizado por aqueles aos quais formará o grupo. É um sentimento de continência, de pertença naquele novo contexto. É nessa fase que as pessoas percebem ou não, se estão no grupo com o qual se identificam. E busca confiança e sentimento de pertença ao grupo. Cada pessoa pode colaborar para sua inclusão e integração e a dos outros participante. É neste primeiro encontro podemos estabelecer o contrato de convivência mostrando as normas internas e externas para que todos e repeti-las em outros encontros, para que os novatos também possam conhecer o funcionamento das normas do grupo. Explicar o contrato de convivência em grupo, quanto ao sigilo das relações que as informações ali discutidas serão mantidas em segredo e que a ética permeará a ações de cada participante, assim quando e aonde serão as sessões, horários, coordenadores, regras de comunicação, que todos poderão falar respeitando o momento de cada um. Esta fase ela é uma das mais importantes, pois os coordenadores acolhem e conhecem as pessoas que chegaram ao grupo por convite, indicação, encaminhamento ou por desejo pessoal em estar ali e sentir-se participante daquele grupo. É importante destacar que se os participantes não se conhecem é necessário que sejam usados crachás para que facilite a memorização dos nomes e que cada pessoa possa dizer como gostaria de ser chamado. O uso de crachás pode ser mantido até o quarta sessão,( o coordenador poderá guardar os crachás e entregar em cada sessão) ou até o momento em que todos já saibam o nome dos participantes. O crachá é fundamental para a apresentação de cada pessoa, assim enquanto participante eu reafirmo está me sentindo integrante e incluído naquele grupo. Poderemos usar técnicas para apresentação do grupo ou ser o mais natural possível de acordo com as peculiaridades das pessoas. Há uma vasta literatura de técnicas grupais para a realização do início de um grupo esta introdução será determinada pela abordagem de formação 58 dos coordenadores. Em outros dias após os primeiros contactos, neste momento inicial do grupo, os coordenadores podem desenvolver técnicas de sensibilização, acolhimento para que todos que cheguem naquele local sintam-se acolhidos e que pertencem ao grupo. Se o grupo tem já certa familiaridade pode ser trazido ideias de cumprimentos de carinho como forma espontânea de afeto, aperto de mãos, abraços, toque nos ombros entre outros. 2º Fase: Desenvolvimento ou operacional - Controle Essa fase é chamada também de desenvolvimento ou operacional, isto é, aonde ocorre o desenvolvimento do processo grupal, o coordenador irá desenvolver o que ele propõe como objetivo ou ao que o grupo necessita para ser realizado naquele encontro. Utilizando sua abordagem grupal,os coordenadores usarão técnicas ou não que serviram de base para os encontros subseqüentes, formando assim o processo grupal a cada encontro vivido. Quando satisfeita a necessidade de inclusão, a pessoa se dirige para a influência e o controle. É a necessidade que experimenta cada novo membro de se sentir responsável por aquilo que constitui o grupo: suas atividades, seus objetivos, sua estrutura, seu crescimento e progresso. No segundo momento após todos já em condições estarem inteiros no grupo, os coordenadores poderão estabelecer com os participantes como será esse momento. Pode ser usado a abordagem específica dos coordenadores para que seja dado continuidade o processo grupal. O tempo do encontro deverá já ter sido estabelecido para que seja completamente aproveitado. Se o grupo tiver pelo menos 12 a 15 pessoas o tempo médio de duração será entre 40 a 50 minutos para que haja participação no que for desenvolvido por todos os membros do grupo. Após as necessidades de inclusão e de controle, estarem de acordo suas expectativas, os membros do grupo buscam preencher suas necessidades emocionais de aproximação mais com os outros membros. Entra a necessidade mais importante de afeição considerada por Schutz em toda dinâmica de grupo. Aquele que se junta a um grupo não aspira, somente, ser aceito, respeitado ou estimado, por sua competência ou por seus recursos, mas a ser aceito como pessoa, mas por sua essência. Nesta fase se experimentar o que é possível da aproximação com os outros participantes. 3ª fase: Avaliação A avaliação é a finalização das duas primeiras fases. Ao terminar o grupo deve-se avaliar o que foi feito, e como foi feito. Pode perguntar aos participantes como vocês estão saindo? Esta é uma pergunta clássica em nossos grupos de apoio os quais realizamos em nosso dia-a-dia. Ao término do grupo, deve ser realizado um feedback, isto é, uma retro-alimentação, quando 59 questionamos aos membros sobre o que foi vivenciado no grupo. Avaliando, assim, todo o processo grupal, verificamos se o objetivo daquele encontro foi alcançado e o que ainda pode ser melhorado no próximo encontro. Nesta fase é onde acontece a avaliação do que ocorreu durante o encontro e a preparação para a próximo. Poderão ser pactuadas algumas responsabilidades para os participantes realizarem para o encontro seguinte, se for o primeiro encontro fazer avaliação do que pode ser incluído, complementado e abordado nos outros encontros. O tempo de duração desta fase pode ser entre 10 a 15 minutos. É importante que seja estimulado para que todos possam falar algo sobre o que foi vivenciado ou pelo menos algumas pessoas sejam representantes da avaliação do todo. Alguns participantes sempre serão os porta- vozes do grupo e aos coordenadores podem ser estimulados a descrever sobre o encontro. Para entender essa diversidade de características dos grupos, comentaremos alguns elementos da sua estrutura que de certa forma podem ajudar-nos na elaboração do trabalho. Uma das formas de identificarmos o tipo de trabalho de grupo é por meio dos seus objetivos que geralmente definem o perfil das atividades. É importante que tenhamos coerência com o tipo de grupo e a abordagem escolhida para que os coordenadores possam denominar suas fases de execução do grupo como acharem melhor e que essas se adéqüem a necessidade dos participantes. Para mostrar a diferença entre a temporalidade de uma sessão e a de como processo grupal pode ocorrer nos diversos cenários dos grupos, elaboramos um quadro comparativo em que evidencia as fases de Shutz em que chamamos a atenção para mostrar que cada participante poderá passar por estas fases durante a existência do grupo ( isto é , inclusão controle e afeição) e que em uma sessão poderá também ocorrer essas fases. Para compreensão destas semelhanças entre o processo grupal e individual é importante notar que as pessoas poderão no grupo passar pelas mesmas fases isso irá depender como cada participante vivencia seu processo individual durante a sua permanência. 60 QUADRO1 : Comprativo das fases de Schutz e nossa condução grupal Schutz Fases descritas Aspectos a serem observados 1ª. fase Inclusão fase inicial - aquecimento Determinação dos objetivos 2ª. fase Controle desenvolvimento- operacional Estratégias a serem executadas. 3ª. fase Afeição Avaliação- fechamento- separação Sentimentos de alcance dos objetivos Quem serão os Coordenadores Os coordenadores devem traçar quais os papéis que irão desenvolver no grupo diante da necessidade da clientela. Assim como os participantes terão papeis que se destacaram durante o grupo. Tipos de coordenador de grupos Coordenador autocrático- quando um grupo é submetido ao domínio do coordenador, que especifica todas as ações a serem desenvolvidas pelo grupo. Coordenador permissivo (Laissez-faire) – quando o grupo desenvolve a liberdade de ação com o mínimo de atuação por parte do coordenador; numa condição de anarquia, sem liderança. Coordenador democrático- quando as atividades desenvolvidas são debatidas e decididas em grupo. Há participação de todos os membros do grupo. O coordenador torna-se um instrumento de canalizar a energia de equilíbrio que motiva e estimula o grupo. O coordenador de grupo pode compartilhar sua liderança entre os membros na fase intermediária, em que a maioria já definiu seu papel no grupo. Dependendo do grupo (tipo, cliente), natureza de atividade, é necessária uma coliderança ou como chamamos, coordenador auxiliar, sendo este necessário para maximizar o benefício terapêutico, pois as intervenções grupais tendem a consumir mais energia do coordenador. Que os coordenadores possam avaliar suas condições de atuação ou mesmo revezar as funções onde um possa focalizar no processo grupal e o outro o conteúdo grupal expresso pelos participantes. A coordenação de um grupo não poderá ser feita por uma só pessoa, pois, a energia grupal deverá ser compartilhada por mais de uma, podendo ter uma equipe que varie seus dias para o desenvolvimento do grupo. Assim, teremos vários olhares e contribuições diversas durante o processo grupal. Papéis dos membros do grupo 61 Os indivíduos desempenham alguns tipos de papéis como membros do grupo. Cada um deles pode assumir mais de um papel e pode mudá-lo de papel de acordo com a situação. Estes são papéis específicos, dentro desses três tipos principais há alguns comportamentos associados a cada um deles (LaSalle; LaSalle, 2001). - papéis de tarefa -completar a tarefa do grupo; Iniciador(sugere ideias inovadoras, inicia as interações), coordenador(organiza e integra), avaliador(avalia o desempenho do grupo); - papéis de manutenção - manter e intensificar os processos de grupo acolhedor(encoraja a aceitação de todos os membros do grupo e sua participação); encorajador (elogia e aceita) moderador, (mantém a paz por meio de compromissos, alternativas ); e -papéis individuais (pessoais) - satisfazer as necessidades pessoais ou individuais: inibidor, (inibe o avanço do grupo),busca-reconhecimento(tenta se engrandecer); monopolista(controla falando sem parar). Os papéis de tarefa e de manutenção contribuem para o sucesso ou eficácia do grupo. Os papéis pessoais satisfazem necessidades dos membros individuais, por vezes, ao ponto de interferir na eficácia do grupo. Após os coordenadores estabelecerem seus papeis e funções de um grupo, temos que determinar a clientela. A clientela A clientela será definida quando os coordenadores, ao iniciarem seu planejamento, decidirem quais participantes poderão ser incluídos no grupo como, crianças, adolescentes, adultos, jovens, idosos, pessoas em sofrimento mental e físico, institucionalizadas ou não. Inicialmente, impõe-se determinar a clientela e a com base nela, será acolhida a abordagem a ser desenvolvida.Dia, horário e período de duração ( contrato de convivência) É importante distribuir o tempo de duração do grupo, isto é por quanto tempo o profissional estará disponível a desenvolver aquele grupo e se por um período de um mês, meses, semestre(s) ou ano ou se não há término, pois o grupo pode ser aberto durante toda sua existência. Determinar o dia da semana e o horário, que devem ter sido acordados pelas pessoas para que todos possam participar, ficando isto estabelecido no contrato de convivência do grupo. 62 Este contrato que seja descrito fique exposto em local de fácil acesso e que todos possam ter uma cópia deste documento para que seja revisto o que é necessário para o andamento do grupo. O contrato de convivência entre os participantes e o coordenador deve constar todas as condições de funcionamento estabelecido, com a opinião e acordo de todos em conjunto. Depois de saber quem serão os coordenadores, a clientela, a abordagem, o dia e horário, estabelecido o contrato de convivência definido o tempo de duração para o processo grupal. O tempo de duração será vital para o estabelecimento de metas a serem alcançadas, de acordo com a abordagem e para o processo grupal. A duração dos encontros e sessões deverá ser estabelecida pelo tipo de abordagem escolhida pelo enfermeiro coordenador junto com seu coordenador auxiliar, que poderá ser outro profissional da área da saúde, de ciências humanas, entre outras dependendo da disponibilidade dos dois, pois uma coordenação de grupo deverá sempre ser feita pelo menos por duas pessoas. Local O lugar a ser escolhido deve estar dentro do planejamento como ação a ser concebida com qualidade, para dar acolhimento necessário para os participantes. Espaço físico significa ambiente adequado à abordagem, de acordo com as condições também oferecidas pela instituição e pelos profissionais, podendo ser amplo, limpo, arejado, privado, aconchegante, com almofadas, com cadeiras entre outras. Que o local que sirva de espaço de acolhimento e que possa dar conforto a todas as pessoas de forma ideal. Tipos de grupo Para que possamos coordenar um grupo, é necessário determinar qual tipo de grupo coordenaremos que podemos ter um grupo Aberto ou grupo semiaberto ou grupo fechado, grupo homogêneo ou grupo heterogêneo. Grupo aberto É aquele cujos membros entram e saem com facilidade do grupo. Não existe um compromisso rígido de frequência e de permanência. As pessoas desses grupos já sabem e aceitam o seu funcionamento dessa maneira. Estes grupos funcionam frequentemente como grupos de sala de espera, de reflexão, grupo de apoio, onde um efeito terapêutico secundário pode acontecer e a prática mostra que acontece, pois basta que as pessoas se reúnam com sinceridade para que o encontro se torne viável. 63 Grupo semi-aberto Esses são os mais comuns. As pessoas entram para ficar, para fazer seu tratamento, sabem da regra da pontualidade, da frequência, do sigilo, mas, de quando em quando, alguém abandona o grupo, tem alta, entre outras condições. Quando tudo ocorre normalmente, a frequência média da vida de clientes em grupo é cerca de um ano e meio. Passado esse tempo, existe uma tendência a abandonar o grupo, porque as pessoas sentem que seu processo já aconteceu. Naturalmente, existem exceções. Tanto a saída de um membro como a entrada do novo devem ser motivos de séria discussão pelo grupo, pois a cultura grupal mudará certamente, uma vez que o sistema foi modificado. São frequentes as crises nos grupos, ligadas seja à saída, ou admissão de um novo membro. O acolhimento caloroso e amigo do novo membro por parte do coordenador é fundamental para que ele se sinta, contido no grupo. É freqüente o comentário dos novatos que se sentem como um ―estranho no ninho‖. Sente-se perdido, por não conhecer a história prévia do grupo. A presença, o calor, a abertura do coordenador serão decisivos no processo de boas-vindas do novo participante. Grupo fechado O objetivo desse grupo é que ele pode ser formado com objetivos específicos que se possível, num período mais breve. Uma vez composto o grupo, não admite outros membros. Esse tipo de contrato permite ao participante do grupo sentir-se mais seguro, mais motivado, mais dentro, pois ele sabe que conta com todo o grupo o tempo todo como contato e suporte permanentes. Quanto ao nível de promoção e prevenção, é importante ver o que poderá ser prevenção feita, se a plano primário ou secundário. Grupo homogêneo É aquele cujos membros têm as mesmas características, como, patologia, idade, sexo, grau cultural, entre outros. Grupo Heterogêneo Pode ser composto por variações no tipo e grau de doença ou sexo, no caso de um grupo terapêutico; no tipo e nível de formação e qualificação profissional, como no grupo operativo. 64 Abordagens grupais A abordagem grupal é a base teórica e prática do coordenador que define o funcionamento do grupo, estabelecendo o contrato de convivência definido, o tempo de duração para o processo grupal. Abordagem com grupos que podemos coordenar podem variar desde um grupo de sala de espera, de apoio, de reflexão, oficinas, de gestalt‘terapia, de arte-terapia, de familiares - estes realizados para todos os públicos, desde, criança, adulto, idoso, família. Oferecer suporte, realizar tarefas, socializar, aprender mudanças de comportamento; treinar relações humanas, oferecer terapia, psicoterapia - eis sua função. Outra variável que podemos usar para a diferenciação de tipos de grupos é a estrutura grupal, e esta pode estar baseada em alguns pressupostos fundamentais na determinação do funcionamento da atividade. Na sociedade atual, buscamos cada vez mais a valorização da tomada de decisão em equipe. Esta consideração é buscada com a visão de que a conquista coletiva possui maior proveito do que a individual. Podemos observar com clareza que um grupo será sempre um instrumento de mudança de comportamento. REFERENCIAS LaSalle P. C; LaSalle, A J. Grupos terapêuticos . In. : STUART, G. W. Enfermagem psiquiátrica: princípios e práticas. 6 ed. Porto Alegre: Artmed. 2001.pp 694-709, FRITZEN, Silvino José Jogos dirigidos: para grupos, recreação e aulas de educação física. 22ed. Petropólis, Rj. VOZES. 1987. 65 CAPÍTULO 6 Grupos de Sala de Espera Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Violante Augusta Batista Braga Stella Maia Barbosa Jamile de Souza Pacheco Maria Graciele de Menezes Débora Araújo Moreira Francisca Beserra de Melo Salas de espera são espaços existentes em redes assistenciais de saúde destinadas a comportar e acolher os usuários e acompanhantes que aguardam algum procedimento ou atendimento da equipe de saúde. O tempo nestes espaços das instituições é geralmente ocioso, podendo trazer inquietações ao cliente mediante situação de espera prolongada. Contudo, aguardar o atendimento pode ser transformado em momento útil. Para isso, existem os grupos em salas de espera, que são intervenções em conjunto, promovidas por profissionais da saúde. Os mesmos realizam uma das prioridades do SUS, que é a de acolher o sofrimento humano, sem distinção de raça, credo ou cor; fornecem orientações, promovem educação em saúde e até mesmo relaxam os que aguardam. Há na utilização adequada da sala de espera as contribuições são refinamentos das informações sobre a doença com a qual convivem, resultando em melhor convivência com a sua enfermidade; facilitação da expressão de seus sentimentos; aumento da satisfação e diminuição do nível de ansiedade; diminuição do uso de medicamentos e da freqüência de procuras por consultas; diminuição do estresse provocado pela conturbação na espera prolongada. Também foi observado que a práxis grupal em contextos institucionais põe em evidência o atual modelo biopsicossocial.É freqüente as pessoas chegarem muito cedo a Unidade de Saúde e as salas de espera ficam cheias de pessoas esperando atendimento. Há experiências em Estratégicas de Saúde da Família (ESF) de que os agentes comunitários de saúde fazem palestras educativas, que são orientadas pela enfermeira ou médico, com temas de cuidados a saúde, direitos e assuntos pertinentes a comunidade. Aconselhamento em sala de espera é uma ação de integralidade em serviço a atenção primária, pois utilizar o tempo ocioso dos pacientes para integração com profissionais de saúde. Este tipo de grupo tem avançado em vários setores da área da saúde. 66 Desde o atendimento em hospitais gerais de grande porte, como no acolhimento realizado nas unidades de saúde. Constatamos em nossa prática diária em instituições de saúde que é muito freqüente os enfermeiros se responsabilizarem pela condução de tais grupos sem dispor de textos básicos para subsidiar, com base em literatura corrente, assim este capítulo tem como objetivo mostrar alguns passos e experiências que já foram feitas por vários profissionais como, Verissimo e Valle (2005) descrevem uma revisão critica quanto aplicações e implicações clínicas dos grupos de sala de espera. Ribeiro et al ( 2007) estes autores mostraram o valor da sala de espera que as mães tem vivencias semelhantes e que é possível propiciar a estas mães educação e aprendizagem. Teixeira, e Veloso(2006) descreveram aspectos significativos de vivências em grupos de sala de espera por observações de docentes em unidades básicas de saúde. Argumentam que esta estratégia favorece o entendimento das representações dos clientes, possibilitando a interação e o exercício de práticas educativas em saúde. Poleti et al (2006), utilizaram a sala de espera de um ambulatório infantil para recreação para crianças. Desenvolveram atividades como jogos, desenhos, histórias infantis. O espaço de sala de espera utilizado proporcionou lazer enquanto as crianças esperavam atendimento tendo a oportunidade de medos e ansiedades. Perdo et al ( 2007) trouxe a experiência de que enquanto a criança esperava o atendimento ambulatorial é possível aproveitar o tempo para brincar e tornar o espaço agradável sendo o brinquedo o mediador das relações. Souza, Fraga, Braga (2000), descrevem grupo de sala de espera constituído de pessoas que esperam por outros atendimentos num espaço específico de assistência a saúde. Os objetivos variarão com a necessidade da equipe, assim como do serviço. Podemos traçar aqui alguns dos muitos objetivos como: triar os clientes encaminhando-os aos setores ou outros serviços; ocupar o tempo da clientela com atividades que sejam necessárias para a melhoria das condições de atendimento no serviço; reduzir a ansiedade da espera comum, quando o cliente não conhece a instituição; realizar atividades educativas sobre temas diversos de interesse da clientela; desenvolver educação em saúde; realizar escuta atenta quanto as necessidades emergentes; identificar e intervir em situações de crise entre outras. Acolhimento Portanto, os grupos de sala de espera podem se diferenciar e assumir as características de acordo com a necessidade do profissional e da instituição. É possível usar a sala de espera como processo de triagem o que chamaríamos de ―triagem de resolutividade imediata‖, isto aquele cliente que veio a instituição só para ter uma informação, ou fazer uma solicitação de 67 encaminhamento a outro serviço. Que esta assistência a esse cliente fosse logo resolvido sua situação e só ficasse na unidade pessoas que estivesse precisando do serviço naquele período para que houvesse assim e para qualidade no trabalho dos profissionais como no acolhimento e atendimento as necessidades da clientela. Souza, Fraga, Braga ( 2000), enquanto docentes e enfermeiras em saúde mental mostram como é feito o planejamento de um grupo sala de espera, utilizando para isso, abordagem didática onde os leitores pudessem conhecer como pode ser realizar. Traremos algumas destas idéias que podem ser agrupadas para um planejamento e adequação da sala de espera. Estruturação de Grupos de Sala de Espera Planejamento Clientela Os participantes podem ter características homogêneas e heterogêneas de acordo com a idade e sexo isso variará acordo com a clientela junto a qual será desenvolvido o grupo. A quantidade de pessoas que se beneficiará estará de acordo com o local destinado para este fim, pode chegar de e 5 a 50, dependendo dos recursos e técnicas usados pelo coordenador atingir suas expectativas. Após a seleção da clientela, determinar os objetivos. Dentro da instituição é importante que se crie a cultura que o local de entrada ou em espaço especifico ficará destinado ao acolhimento da clientela, assim ficará mais fácil ter como cada coordenador se organizar para participar sem ficar sobrecarregado para apenas de alguns o desenvolvimento de outras funções. O horário deve ser o tempo firmado que horas terá início e quanto terminará . O que foi planejado e quando a clientela já foi completamente atendida para que cheguemos ao término da sessão grupal. Sugerimos que seja elaborado conforme sugestão do Quadro 1, um cronograma de atividades junto aos outros coordenadores auxiliares, para que todos possam participar dando opiniões e comentários facilitando o processo educativo de cada abordagem e o tema exposto em cada encontro. Quadro 1 : CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DATA E HORA TEMA ASSUNTO TÉCNICA GRUPAL RECURSOS UTILIZADOS Nº DE PARTICIPANTES AVALIAÇÃO DO COORDENADOR COORDENADORES 68 Metodologia utilizada nas salas de espera A metodologia empregada será definida pelas peculiaridades do coordenador utilizando estratégias que envolvam a clientela, podem ser usados autores que tragam técnicas e jogos, sessões educativas para aprendizagem, recreação, contos de estórias e fábulas, integração. Há uma vasta literatura sobre técnicas grupais, mas o coordenador poderá usar sua formação como marca para o desenvolvimento das atividades propostas. Coordenadores de grupos Profissionais que atuam na área da educação, serviço social, da saúde e que tenham alguma formação em grupo, como pedagogos, educadores, artistas plásticos, arte-educadores, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, médicos, educadores físicos, sociólogos entre outros. Recursos Materiais Quando o ambiente onde o grupo vai acontecer é amplo faz-se necessário o uso de microfone e da caixa de som. Os instrumentos e o material variarão de acordo com a clientela e o tipo de dinâmica a serem desenvolvidas, podendo ser utilizados, canetas coloridas, papéis, tesoura, sucatas de embalagens, cartolinas, livros de técnicas grupais, discos, fitas K-7, aparelho de som, entre outros, Condições ambientais Locais que garantam condições mínimas para realização dos grupos tais como : acomodação, com cadeiras, ambiente iluminado e arejado. Conclusão Concluímos que os grupos em salas de espera trazem benefícios significativos para educação em saúde, destacando o acolhimento, o qual poderá conter uma triagem de resolutividade imediata, fazendo com que os clientes sejam encaminhados ao setor e/ou profissional. Desse modo, há maior organização do serviço. Observou-se que o custo-benefício dessa intervenção é de destaque, uma vez que este tipo de grupo não exige investimentos financeiros onerosos, necessitando apenas de um espaço físico para que a equipe de saúde promova as atividades, sempre se adequando à realidade institucional na qual se aplica. 69 Referências para consulta TEIXEIRA, Enéas Rangel; Veloso, Raquel Coutinho. O grupo em sala de espera: território de práticas e representações em saúde / The group in the waiting room: territory of practices and representations in health: Texto & contextoenferm;15(2):320-325, abr.-jun. 2006. 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Ribeirão Preto, SP: FIERP – EERP USP/FAPESP, 2000.V.1,P. 183 – 192. CANELLA, Paulo R.B. Grupos por atendimento, sala de espera e enfermaria. Rio de janeiro: Femina: v.17, n11, 910, 915-7, novembro, 1989. SOUZA , AMA; FRAGA, MNO; BRAGA, VABB. Grupo sala de espera: uma abordagem didática. Anais do VI Encontro de Pesquisadores em Saúde Mental. Ribeirão Preto, SP: FIERP-EERP- USP, 2000. pp183-191. 71 CAPÍTULO 7 Grupo no Hospital Geral Angela Maria Alves e Souza Andréia Farias Gomes Daiana de Jesus Moreira Cynthia Lima Sampaio Katiana Araújo Aragão Taynara Carvalho das Neves Francisca Beserra de Melo Débora de Araújo Moreira Rita Maria Viana Rego Introdução O tema da morte faz parte do cotidiano do ser humano, quer por atração, repulsa curiosidade ou terror. O século XX traz a morte que se esconde a morte vergonhosa, não considerada mais como fenômeno natural, e sim fracasso, impotência (ARIÈS, 2003). A boa morte atual é a que era mais temida na Antiguidade, a morte repentina, não percebida. O triunfo da ―medicalização‖ está justamente em manter a doença e a morte na ignorância e no silêncio. O local da morte é transferido do lugar de casa para o hospital, no qual se preparou para receber pessoas e devolver a elas a saúde perfeita; no entanto, às vezes, apesar de toda a tecnologia existente, determinadas doenças crônicas são incuráveis. E, para lidar com esses casos, com pessoas portadoras de doenças graves, a equipe multiprofissional nem sempre está preparada. É possível vermos supressão do luto, escondendo-se as manifestações ou até mesmo a vivência da dor, atribuindo-lhes um caráter de fraqueza e exigência de controle emocional. Uma diferença entre as pessoas em geral e os profissionais da área de saúde - médico, enfermeiros, psicólogos, entre outros - é que na vida destes a morte faz parte do cotidiano. Muitos deles relatam sua impotência e frustração perante a imprevisibilidade da morte. No caso de doenças graves, em que muitas vezes há degeneração física ou psíquica, pode haver sentimentos ambivalentes naquele que cuida, e o desejo de que o parente ou paciente morra para aliviar o sofrimento de ambos. A impotência para aliviar a dor e o bem-estar naquela pessoa amada pode desencadear sofrimento tão forte, do cuidador desejar, a morte do paciente para alívio do sofrimento de ambos, mas, também, pode incitar sentimentos ambíguos de culpa e alívio . 72 Picelli & Vianna (1998) afirmam que alguns profissionais têm atitudes disfuncionais com relação à morte, como negação, não-enfretamento, medo de assumir a própria finitude ao estar diante da morte do outro. Quando na formação profissional focaliza-se quase que inteiramente no controle e erradicação da doença, à custa do atendimento e conforto da pessoa portadora da enfermidade, a morte transforma-se em inimiga a ser enfrentada. Em outras palavras, a morte pode equacionar-se com fracasso e refletir a inadequação e limitações da equipe multiprofissional. No hospital, a equipe de enfermagem habitualmente está mais próxima ao doente, e de sua família, no cuidado de suas necessidades básicas, nos momentos mais difíceis, tendo de lidar com os sentimentos dos parentes, as dúvidas, angústias, temores e quando o paciente falece é quem toma as primeiras providências (PITTA, 1999). A equipe de enfermagem sente mais reações de sofrimento diante da morte e o morrer pela frequência contínua e diária dos procedimentos e por passar por longos períodos de acompanhamento intensivo aos clientes. Como é notório, que a área da Psicologia Hospitalar vem se constituindo como área emergente e isso traz a questão da morte para esses profissionais. Pouco se tem escrito sobre este profissional diante da questão da morte. O psicólogo pode se defrontar com a questão da morte em qualquer ambiente de trabalho, até mesmo naqueles onde nem se imaginaria. Outro profissional que se destaca na equipemultiprofissional é o médico, que está constantemente tendo que atender pessoas em situações de vida e morte no ambiente hospitalar, local onde se depara com a frequência com tomadas decisões diante de suas possibilidades e limitações quanto a própria condição humana. Para todos estes profissionais, impõem-se preparação e condições favoráveis de apoio para que reaja com sentimentos de enfretamento da dor ao perder um cliente no hospital , em seu ambiente de trabalho. Diferentemente de outrora, falar da morte constitui ousadia não admitida nas relações sociais habituais e, no hospital, falar disso pode trazer crises de desespero entre os doentes e famílias, lágrimas e todas as demais manifestações de emoção que perturbam a serenidade do hospital (PITTA, 1999). O Projeto Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação PLUS+, composto por acadêmicos de Enfermagem, Medicina e Psicologia da Universidade Federal do Ceará, orientado por professoras da Universidade e profissionais colaboradores, divide-se em três subgrupos de estudos sobre : Luto, Suicídio e Psico - Oncologia. 73 No primeiro semestre de 2008, as atividades do grupo de estudo sobre luto se restringiam à leitura e discussão de textos sobre essa temática. Os alunos, juntamente com a orientadora, sentiam necessidade de ir ao ambiente hospitalar para verificar as características do luto relatadas nos livros e produzir conhecimento resultante do confronto com a realidade. Organizar um grupo de apoio a perdas e luto para profissionais no ambiente hospitalar, propiciando um espaço de expressão e elaboração dos processos de perdas dos clientes. A ideia de criação de um grupo de apoio ao luto surgiu também de muitas idas e vindas ao hospital Universitário Walter Cantídio, conhecendo de perto a realidade das práticas dos profissionais, e diálogos com a enfermeira-gerente da Unidade Hematologia segunda autora desse capítulo, e posteriormente com os outros profissionais. Trabalhar em grupo numa perspectiva multidisciplinar amplia a soma de conhecimentos trazidos por parte de cada profissional, a visão holística do ser como pessoa se preserva. A coesão e o apoio vivenciados no interior da equipe fornecem os subsídios necessários ao enfrentamento do estresse que representa trabalhar com a dor e o sofrimento. E, dessa forma, o grupo possibilitará aos profissionais a sensibilização e escuta dos processos internos perante a morte, assim como refletir sobre sua ação em situações envolvendo essa questão. Grupos no Hospital Geral Uma origem remota dos grupos terapêuticos, principalmente dos grupos somáticos, remete-se à prática de Heródoto, na antiga Mesopotâmia, de reunir os pacientes em praças públicas para que discutissem sobre suas doenças, sofrimentos, morte. Na Grécia, os templos de Esculápio, quando os doentes se aglomeravam, exceto os doentes mentais, que eram expulsos a pedradas, foram os precursores dos hospitais que eram táticas grupais, sociais de enfrentar a doença. Depois vieram os hospitais/hospedarias da Idade Média. Aqui o grupal foi uma função de juntar iguais, os enfermos, favorecendo o diagnóstico e a terapia e posteriormente reduzir custos. Se os pacientes são agrupados por necessidades de funcionamento (enfermarias, ambulatórios), os profissionais também se agrupam em modo permanente (equipes, grupos administrativos), junto aos doentes ou em recantos próprios (salas de reuniões, chefia de serviços). A princípio, os médicos ocupavam quase todo o espaço das unidades hospitalares e a Enfermagem, como um corpo subsidiário, acompanhava-os. Com o crescimento tecnológico e a ampliação da visão de homem, outros profissionais foram surgindo e pressionando sua entrada na 74 equipe de saúde: assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros (MELLO FILHO, 2000). A técnica grupal não se restringe ao atendimento de pacientes. Nos anos 50, unidades de consultoria psiquiátricas foram sendo desenvolvidas para, por meio de reuniões com médicos clínicos, promover a facilitação e melhoria da qualidade da relação médico-paciente. Os grupos no Hospital Geral podem ocorrer no ambulatório, na enfermaria e nos serviços especializados e ser homogêneos (patologias ou problemas comuns) ou heterogêneos. Nesses espaços, podem ser feitos grupos de informação ou de preparo, operativos, psicoeducativos, suporte, reflexão e até mesmo psicoterapia de grupo. Grupos de Suporte ao Luto A ampla gama de sentimentos advindos da perda de uma pessoa significativa produz diversas reações. Essas resistências geralmente não necessitam de intervenções para se chegar ao fim do luto. Algumas pessoas, no entanto, têm problemas em lidar com esses sentimentos e então necessitam de aconselhamento que os auxilia na função de elaborar o processo de luto. Os grupos de suporte ao luto podem ser facilitados por profissionais, voluntários selecionados e treinados ou grupos de autoajuda. Alguns princípios básicos norteiam a prática dos grupos de suporte ao luto, como: ajudar a pessoa que ficou a se dar conta da perda, a identificar e expressar os sentimentos, fornecer tempo para o luto, examinar defesas e estilos de como lidar com o problema, identificar uma possível patologia e encaminhar; oferecer um espaço de compreensão e diálogo, para que as pessoas possam compartilhar suas dificuldades, dores e refletir sobre as possibilidades de reconstruir e reorganizar sua vida social e familiar (ALVES, ARAÚJO, SOUZA, 2006). O grupo foi criado com o objetivo de acompanhar a trajetória do grupo de apoio a perdas e luto de uma equipe de saúde multiprofissional na Unidade de Hematologia do Hospital Universitário, desde seu processo de experimentação com o planejamento dos participantes até o processo de desenvolvimento grupal. Materiais e Métodos Tipo de pesquisa Esse estudo é uma pesquisa-ação. ―A pesquisa-ação é um termo que se aplica a projetos práticos que buscam transformações em suas próprias práticas..." na qual se planeja, se implementa, e se descreve e avalia uma mudança para a melhora de nossa prática, aprendendo 75 mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quando da própria investigação (TRIPP, 2005). A pesquisa-ação é participativa na medida em que inclui todos os que, de um modo ou outro, estão envolvidos nela; e é colaborativa em seu modo de trabalhar. A pesquisa-ação tende a documentar seu progresso, muitas vezes por meio da compilação de um portfolio, do tipo de informações regularmente produzidas pela prática rotineira. A pesquisa-ação produz muito conhecimento baseado na prática, porque não é possível especificar com antecedência qual conhecimento será obtido nem quais resultados práticos serão alcançados. Isso porque os resultados de cada ciclo determinarão o que acontecerá a seguir e não há como dizer de saída aonde o processo levará. Pode-se esboçar a situação do trabalho de campo e não se pode especificar os tópicos sobre os quais se trabalhará, pois esses surgirão da análise da situação e serão selecionados pelos participantes. Local A unidade escolhida para a realização da pesquisa foi em um Hospital Geral no Setor de Hematologia, o qual possui 17 leitos, sendo cindo deles destinados à Reumatologia e 12 à Hematologia, dos quais quatro estão na área de isolamento. A equipe de saúde multiprofissional é composta por médicos, psicólogos, sete enfermeiros, sendo uma gerente, dois técnicos e vinte auxiliares de enfermagem. As patologias mais comuns nessa unidade são os linfomas, as leucemias, os mielomas, as anemias, e as aplasias, com alta incidência de morte, muitas delas dolorosas com o paciente consciente, o que gera intenso sofrimento psíquico aos profissionais. Período de Coleta de Dados O período de coleta de dados ocorrerá de abril de 2010 a novembro de 2011, tendo já sido a pesquisa aprovadado Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Walter Cantídio. Instrumentos Utilizados Utilizaremos a pesquisa- ação por meio da abordagem grupal semanal, na qual realizaremos vivências de aprofundamento dessa temática, rodas de conversas e outros métodos que se constituirão ao longo do processo de investigação, além de entrevistas semi-estruturadas individuais e grupais na primeira reunião do grupo para avaliar as necessidades da equipe e ao 76 término do período da pesquisa para avaliar as mudanças e benefícios da participação dos profissionais no grupo enquanto um espaço de expressão e elaboração das perdas dessas pessoas. Desenvolvimento da Pesquisa O grupo será facilitado pela enfermeira e coordenadora do projeto PLUS+ (Projeto Integrado de ensino, pesquisa e extensão em Perda, Luto e Separação) e servirá também para a prática de pesquisa e extensão dos membros deste projeto. Ocorrerá às terças-feiras, no horário de 11h às 12h. Análise dos Dados A análise dos dados será o método de análise de conteúdo (AC) com a abordagem qualitativa. Para Bardin (1977, p.42), esta é "um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] destas mensagens". A maioria dos autores refere- se à AC, como sendo uma técnica de pesquisa que trabalha com a palavra, permitindo de forma prática e objetiva produzir inferências do conteúdo da comunicação de um texto replicáveis ao seu contexto social. Na AC o texto é um meio de expressão do sujeito, onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases) que se repetem, inferindo uma expressão que as represente. A análise por categorias temáticas tenta encontrar "uma série de significações que o codificador detecta por meio de indicadores que lhe estão ligados‖. A análise categorial será temática, construindo as categorias conforme os temas que emergem do texto. Para classificar os elementos em categorias, é preciso identificar o que eles têm em comum, permitindo seu agrupamento. Aspectos Éticos A realização desta pesquisa obedecerá à Resolução nº 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 2005) atendendo às exigências éticas e científicas fundamentais, observando para os possíveis riscos e danos associados ou decorrentes da pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa, a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem, respeito 77 aos valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos e a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Walter Cantídio. Considerações finais O grupo está acontecendo e os resultados mostram que os profissionais estão se beneficiando com as trocas durante o processo grupal. Referências ALVES.M.D.S.; ARAÚJO, M.A.M.; SOUZA, A.M.A. (ORG) Estudos sobre luto, suicídio e psico- oncologia. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2006. ARIÈS, P. A História da morte no ocidente. 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São Paulo: Hucitec, 1999. TRIPP , David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo. v.3, n.3, set/dez 2005. 78 Capítulo 8 Grupos de Apoio/Suporte Diferenciação dos Grupos de Auto-Ajuda Angela Maria Alves e Souza Gisele Alves Jacome Sabrina Martins Alves Miria Conceição Lavinas Santos Tamires Rebeca Forte Viana Tamires Grupos de Apoio/Suporte Em 1976, Gerald Caplan e Marie Killilea publicaram o livro Support systems and mutual help, no qual analisam e descrevem os vários sistemas de suporte que permeiam a coletividade humana. Para eles, os sistemas de suporte implicam padrões duradouros de vínculos que contribuem de maneira significativa para a manutenção da integridade física e psicológica do indivíduo Os fatores envolvidos na ação terapêutica do grupo de suporte são: apoio dado pela equipe e pelo grupo por meio de relações afetuosas, cuidadoras entre todos; identificação e troca de experiências; espaço para expressão de sentimentos, entre outros. Tendo em vista esses princípios, o grupo a ser estruturado para a realização da pesquisa será da modalidade apoio, de curta duração, tendo como referencial básico as proposições de Vinogradov & Yalom (1992). Segundo estes autores os grupos de apoio têm como características: a postulação de objetivos realistas e específicos; uma relativa homogeneidade entre seus participantes, sobretudo quanto a diagnósticos clínicos ou situações interpessoais similares; e posturas mais ativas por parte de seu coordenador, por meio do oferecimento de conselhos, sugestões e apoio (FRAGA, SOUZA, SANTOS, 2000). O grupo de apoio segundo (LEWIS; FRAIN, DONNELLY, 1993; MUNARI, 1995) tem como finalidade reunir pessoas com situações semelhantes, oportunizando um ambiente de respeito e valorização pessoal, criando um espaço onde as pessoas possam expressar suas dificuldades e considerar modos alternativos para modificarem seu estilo de vida. Assim, o grupo de apoio tem finalidade terapêutica e educativa e é um recurso fundamental para a assistência de enfermagem e dos demais profissionais da área de saúde mental. Assim, um grupo de apoio destaca-se pela função de ajudar as pessoas a lidarem com estresses relacionados a situações emocionais ou crises. O grupo potencializa as interações, funcionando como um espaço adequado para a exploração da subjetividade ao atuar como um "laboratório social", no qual os membros reproduzem os papéis que ocupam no dia-a-dia de suas 79 relações. O grupo constitui-se como espaço terapêutico ao possibilitar a atuação de determinados fatores terapêuticos que ajudam o indivíduo em sua tomada de consciência como ser social (Queiroz, Souza, 2001). Grupos de auto ajuda Os GAAs proliferaram nos EUA depois da experiência pioneira e positiva dos Alcoólicos Anônimos grupo criado em 1935 sendo oprimeiro grupo de auto-ajuda criado, podemos citar como exemplos os neuróticos anônimos(NA),narcóticos anônimos( NA), comedores complusivos( AA), jogadores anônimos ( JÁ).Os grupos de auto-ajuda podem ser conceituados como associações voluntárias organizadas por pessoas que compartilham de uma situação semelhante (doença ou condição humana) e que acredita no conhecimento a partir da experiência de quem vivenciou a mesma condição. Estas pessoas tentam lidar e enfrentar suas dificuldades por meio de interesses comuns e da ajuda mútua. Os grupo de auto-ajuda são coordenados pelos próprios participantes, isto é, auto gerenciado pela clientela. As características dos participantes são semelhantes. São homogêneos abertos. Seus participantes trocam suas vivencias emsituações que podem ser relatadas como boas ou ruins, segundo Sadock, Sadock( 2007) descrevem que os grupos de auto-ajuda tem como um dos componentes essenciais, a coesão, o que faz com que seus membros desenvolvam apoio mútuo aceitação por passarem por condições semelhantes , tornando-se terapêutico ao ponto de sentirem que o grupo tem ― qualidades mágicas de cura‖. Kyrouz e Humphrey (1998), estudaram os grupos de auto-ajuda e mostraram que eles são eficazes em maximizar os níveis de bem-estar e de recuperação. Roehe( 2004) após pesquisa realizada para aprofundamento dos neuróticos anônimos faz uma vasta busca sobre os grupos de auto-ajuda e mostra os princípios e critérios que os regem . - autogestão - seus integrantes encarregam-se de todos os procedimentos na manutenção do grupo; - independência de instituições e profissionais de saúde – os GAAs são leigos e autônomos - participação voluntária - a freqüência ao grupo é totalmente livre - sem interesse financeiro –não visam a lucro sustentam-se com doações espontâneas dos integrantes - dirigidos para um único problema - os grupos têm um foco: alcoolismo, drogadição, problemas emocionais, compulsão alimentar · experiências pessoais como principal fonte de ajuda – os GAAs não utilizam conhecimento científico ou literatura especializada o conhecimento partilhado é experiencial. 80 Grupos de auto-ajuda (GAAs) Inicialmente, convém destacar que, de acordo com o processo básico de funcionamento dos GAAs, a denominação mais adequada é a de ajuda mútua (Sanchez Vidal, 1991). Integrando as duas expressões: são grupos de auto-ajuda na medida em que mantêm total autonomia em relação a instituições e profissionais (ou seja, o grupo ajuda a si mesmo); e são grupos de ajuda mútua porque baseiam sua atuação na mutualidade (os participantes ajudam uns aos outros). Sanchez Vidal (1991), afirma que o desenvolvimento de grupos de auto-ajuda ter iniciado com os Alcoólicos Anônimos ( AA) nos Estados Unidos deve-se à importância atribuída na sociedade norte-americana às iniciativas da sociedade civil, estimulando que as pessoas se responsabilizem por sua cidadania, assim como também está associada a origem do programa dos Doze Passos, criado por e nas metrópoles. As teorias sobre as relações de trocas defendem que estas experiências compartilhadas são ainda mais reforçadas mutuamente por ambos os participantes e trazem benefícios para ambos. Destaca-se como reforços, o apoio social e a auto-realização, que fazem parte da vida do indivíduo, maximizando seus resultados (Chadwich-Jones, 1976). Os grupos de auto-ajuda trazem muitos benefícios, a vida dos que participam contribuindo cada um deles para melhorar a qualidade de vida, como possibilidade de conhecer outras pessoas em situações semelhantes, compartilhar as estratégias de enfrentamento contra a doença; oportunidade de estabelecer novas relações pessoais. Referencias SADOCK, B.J; SADOCK, V.A. Compêndio de psiquiatria : Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. VINOGRADOV, S.; YALOM, I. D. Psicoterapia de grupo: um manual prático. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. QUEIROZ, Antonia Lúcia de Oliveira Correia , SOUZA, Angela Maria Alves e. Grupo de queixas difusas: uma experiência de assistência no CAPS de Fortaleza. In.: FRAGA, Maria de Nazaré de Oliveira; BRAGA, Violante Augusta Batista; SOUZA, Angela Maria Alves e. 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Segundo Enrique Pichon-Rivière o “grupo é um conjunto restrito de pessoas que ligadas por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, se propõe de forma explícita ou implícita uma tarefa que constitui sua finalidade, interatuando por meio de complexos mecanismos de atribuição de papéis‖. Utilizou os processos grupais por meio de GRUPO OPERATIVO, definindo-o como centrado na tarefa cuja finalidade é aprender a pensar em termos das resoluções das dificuldades no campo grupal. A tarefa emerge do grupo e é concluída por todos os integrantes. A comunicação, a resolução da tarefa e a aprendizagem acontecem ao mesmo que a cura. A tarefa é a abordagem do objeto de conhecimento (nível explícito). Durante a execução da tarefa surgem dificuldades, obstáculos à visão do conhecimento e resistência à mudança (nível implícito). Em virtude da explicitação do que estava latente, novas ideias vão sendo formuladas por meio da comunicação, da aprendizagem e do ensino que ocorrem simultânea e continuamente numa espiral, promovendo a mudança, conforme Pichon-Rivére (2005). O grupo é baseado na aprendizagem, com o propósito de mudança, para a conclusão da tarefa. As investigações sobre grupos operativos tiveram origem na Experiência Rosário, uma situação de laboratório social, em 1958, realizada pelo Instituto Argentino de Estudios Sociales (IADES), dirigido por Pichon-Rivière, tendo como técnica os grupos das discussões. Foram utilizadas didática interdisciplinar e investigação operativa, como pesquisa-ação. O grupo 83 operativo tem como tarefa a investigação operativa e esclarecimento dos acontecimentos vigentes no seu âmbito. A tarefa vem a ser a resolução das situações estereotipadas e dilemáticas que aparecem no grupo, acrescidas das ansiedades de perda e de ataque, que se constituem pelo abandono do vínculo anterior e pela criação do vínculo novo. A função do coordenador consiste em manter o grupo em comunicação ativa e criadora. Na investigação operativa, as soluções para os problemas partem do próprio grupo, consoante Pichon-Rivière (2005). De acordo com Simões e Stipp (2006), o campo grupal costuma ser dividido por vários autores em dois grandes grupos - o psicoterápico e o operativo. Para Pichon-Riviére (2005), os grupos são divididos de acordo com a técnica de abordagem que usam e, por isso, podem ser centrados no indivíduo, no grupo ou na tarefa. A aplicabilidade do grupo operativo, apesar das particularidades, é universal, pois sua técnica é apropriada para qualquer situação, seja de aprendizagem, de cura, de aspectos terapêuticos, ou com pacientes internados.O grupo operativo faz um esquema referencial grupal, obtendo um sentido de unidade e coerência entre seus membros. Estes papéis desempenhados por parte de cada membro no grupo são entendidos por meio da articulação de dois níveis: a verticalidade, relacionada à história pessoal da pessoa, e a horizontalidade, relação entre os integrantes. Dando andamento ao processo grupal a interação começa pela afiliação, quando a pessoa não se incorpora totalmente ao grupo e se transforma em pertença, quando ocorre um sentimento de efetiva integração grupal (PICHON-RIVIÈRE, 2005). Segundo Favoreto e Cabral (2009), o grupo operativo objetiva o desenvolvimento da autonomia do paciente, por isso pode trazer caráter informativo, reflexivo ou de suporte. Esta modalidade de grupo tem como objetivo concluir a tarefa. Metodologia utilizada no grupo operativo Lucches e Barros e (2007) recomendam, para melhor qualidade dos dados em pesquisa, que os integrantes do grupo sejam de oito a 12 pessoas e estejam em círculo, pois isto, permite o contato de olhares entre os membros do grupo, maior visão para o observador e pontos estratégicos para os gravadores, caso sejam aceitos pelos participantes. A amplitude de público e de possibilidades que os grupos operativos proporcionam traz o seu grande destaque na pesquisa, para a coleta de dados, e na assistência, como intervenção por meio da promoção e prevenção da saúde. Para obtenção de dados na pesquisa mediante estratégia grupal, o pesquisador pode assumir o papel de coordenador ou de observador. Como observador, 84 ele ficará responsável pelo registro das falas, das reações do grupo em todos os momentos e pelas anotações de suas impressões. Como coordenador, estimulará a comunicação e evitará discussões diretas entre os membros do grupo (PICHON-RIVIÈRE, 2005). A utilização do grupo operativo na coleta de dados não funciona como questionários que somente extraem informação dos participantes sem adicionar nenhum benefício ao tratamento. Ele também opera como grupo terapêutico, pois, à medida que surge a percepção do grupo sobre determinado assunto, o próprio grupo remodela a forma de enfrentamento. Essa atitude é encorajada principalmente pelo fato de o indivíduo não estar sozinho no enfrentamento de uma situação. Em pesquisa realizada com estudantes de Enfermagem, objetivando identificar a percepção desses estudantes em relação à sua qualidade de vida, os alunos mencionaram a convivência no grupo e a partilha de medos e de angústias como um momento relaxante e de prazer, trazendo novas perspectivas para o cotidiano (OLIVEIRA, CIAMPONE, 2008). Lucchese e Barros (2002) também realizaram grupo operativo com estudantes de Enfermagem, com o objetivo de oferecer um espaço para a expressão vivencial do aluno do quarto ano da graduação. Os grupos permitiram um momento terapêutico e de apreensão da estratégia pichoniana. Os estudantes relataram sentir necessidade da intervenção de uma técnica grupal desde o início dos estágios. Dos artigos encontrados, treze falavam de práticas realizadas com grupos operativos. O número de participantes nos grupos variou de oito a 25 e o tempo utilizado esteve entre 1 hora até 2 horas e meia (FAVORETO, CABRAL et al, 2009). As semelhanças de Pichon-Riviére e Paulo Freire Assim como Pichon-Rivière, o pernambucano Paulo Freire, defende as ideias de criticidade e conscientização na aprendizagem. As estratégias educativas encontradas em pesquisas científicas, relatadas neste capítulo demonstram a importância do grupo, para a mudança do indivíduo, pois juntamente com o grupo ele aprende e ensina, faz uma reflexão da sua realidade, conscientiza-se de como deve agir e muda sua posição. O grupo operativo de Pichon, portanto, tem semelhança com os círculos de cultura de Paulo Freire. Círculo de Cultura é expressão de um momento riquíssimo para o exercício dialógico, podendo ser útil além do seu exercício primeiro, na alfabetização (PAULO FREIRE, 2006). Atualmente, transcende a dimensão educativa, podendo ser aplicado em qualquer tipo de promoção coletiva que incentive processos educativos. 85 Na aprendizagem, os passos iniciais das práticas de Freire são convergentes com a teoria de Pichon no que diz respeito à equivalência entre o levantamento do universo vocabular e a investigação operativa do grupo, entre a escolha das palavras geradoras e a elaboração da tarefa pelos participantes, e entre a criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar com o diálogo dos participantes, expondo histórias de vida e práticas individuais. O grupo operativo é uma estratégia ampla, podendo ter caráter educativo ou de apoio. Atuação de grupo operativo na Enfermagem No âmbito da assistência, muitos estudos comprovaram a eficácia dos grupos operativos com a atuação do enfermeiro como facilitador do grupo. A Enfermagem, por buscar uma visão mais completa do indivíduo e atuar principalmente na promoção e prevenção da saúde, tem sucesso nas atividades com grupos. Pereira, Silva, Pelzer et al (2007) tiveram como objetivo em seu estudo a proposta educativa de planejamento familiar por meio do grupo operativo, que trouxe como tarefa responder à questão reflexiva ―por que sou mãe?‖. As respostas permitiram entender a realidade social em que se encontravam as mulheres. Ser mãe, para algumas, significava amadurecimento, pela mudança do status de filha para mãe; fonte de renda, pelo recebimento das pensões alimentícias ou aumento na mãodeobra na coleta de lixo; perspectiva de ser cuidada quando envelhecer ou solução para não apanhar do marido, pois ele só não a agredia durante o período gestacional. O grupo operativo tornou-se um espaço de expressão coletiva para essas mulheres e, então, elas se sentiram mais integradas com o serviço, buscando mais os métodos contraceptivos, o exame preventivo do colo de útero e a imunização para os filhos. Colosio et al (2007) também utilizam o grupo operativo como estratégia para a prevenção de HIV em homossexuais. A tarefa apresentada foi discutir sobre as relações entre proteção e sexualidade. O grupo operativo, baseado na técnica de o explícito trazer o implícito, abriu espaço para a representação simbólica da camisinha no conceito de muitos entrevistados. A camisinha foi traduzida como o símbolo da promiscuidade e utilizá-la era como uma forma de admitir a existência de muitos parceiros. Após o grupo, houve, porém, mudança de pensamento e aumento dos participantes no uso do preservativo. Peres e Figueiredo (2004) discorrem sobre o grupo operativo realizado com pacientes psiquiátricos. A utilização da estratégia grupal trouxe para o usuário do serviço o que vem a ser grande o desafio para esse tratamento: o autocuidado. Os encontros grupais trouxeram vínculos sociais para os indivíduos, permitindo a elevação da autoestima, o que evidenciou maior 86 enfrentamento da doença. Além disso, o grupo operativo proporcionou–lhes o conhecimento e a reflexão sobre a doença, podendo se apropriar das vantagens e desvantagens do uso da medicação e chegar à conclusão da importância do seu uso. Aspectos importantes do grupo operativo para atuação de outros profissionais Segundo Torres, Hortale et al, (2003) o grupo operativo facilita a ação interprofissional, e pode utilizar, como técnica, e de forma positiva, por favorecerem a comunicação e o aprendizado. Eles trabalharam com diabéticos e relataram conseguir sensibilizar os profissionais para uma comunicação mais acessível ao paciente e alcance de todos mediante da coordenação de um grupo. Constataram que o uso de jogos não deve ser utilizado para mais de 12 participantes e o uso da mesma técnica não deve ultrapassar 50 minutos. Favoreto e Cabral (2009) buscaram, por meio do grupo operativo, observar os pacientes diabéticos em uma vivência dialógica e coletiva para conhecero significado da saúde-doença para eles. Os pacientes informaram que compartilhar as suas experiências com os participantes do grupo os ajudava a compreender os próprios questionamentos. O relato de sinais e sintomas associados a questões do dia a dia e a sentimentos revelaram nova compreensão do corpo. Dessa maneira, o saber médico pôde atingir os clientes quando as vivências de cada indivíduo e as vivências do grupo deixaram de ser linhas paralelas e se cruzaram. As semelhanças encontradas abriram caminho para a reflexão e a mudança de comportamento. A mudança do estilo de vida não é apenas da prática de exercício, alimentação correta, mas também de solidariedade, respeito às diferenças e participação. Ela sobrepõe à mudança da vida individual, indo para a vida coletiva (TORRES, HORTALE e SHALL, 2003). Jardim et al (2007) realizaram um estudo com o objetivo de demonstrar a eficácia da intervenção psicoterápica em um grupo operativo de reflexão. A mãe de uma criança com crises de agressividade passou a mudar seu comportamento, diante da filha, após conseguir manifestar seus sentimentos sobre a relação conjugal de conflituosa e as fantasias criadas por ela. O grupo operativo realizado com professores de uma escola particular de Porto Alegre, tendo como tarefa debater a vida de professor, interveio de forma eficaz na síndrome de Burnout, pois proporcionou o suporte emocional que os docentes sentiam falta na instituição (BÖCK, SARRIERA, 2006). Considerações finais É importante salientar que todos os profissionais da saúde podem ter participação num grupo operativo. Na revisão de literatura, foram achados, como coordenadores de grupos, 87 enfermeiros, médicos e psicólogos, contando com o auxílio e a participação de endocrinologistas, nutricionistas e professores de Educação Física. O grupo operativo pode ser realizado também entre estudantes e profissionais. Cuidar do cuidador viabiliza maior interação e respeito entre a equipe, além de trazer mais qualidade de vida para os profissionais e, portanto, indiretamente para o paciente. Ademais, podemos compreender que o grupo operativo pode ser constituído em uma opção de atendimento em saúde em seus diversos âmbitos, proporcionando aos participantes desenvolver um papel ativo e crítico durante todo o processo grupal. Na convivência grupal, há a possibilidade de formação de um espaço de trocas de experiências e de vivências no campo, configurando uma condição indispensável para a mobilização dos esteriótipos de cada membro do grupo, ajudando-os a enfrentar situações de mudança, já que estes tendem a resiginifar suas vivências por meio do reconhecimento dos outros em si mesmo. Portanto, o grupo é um espaço singular para mudanças, podendo ser utilizado como recurso importante na assistência a pessoas, principalmente pelos profissionais de Enfermagem. Referências BOCK, Vivien Rose e SARRIERA, Jorge Castellá. O grupo operativo intervindo na Síndrome de Burnout. Psicol. esc. educ. [online]. jun. 2006, vol.10, no.1 [citado 25 Janeiro 2010], p.31-39. Disponível na World Wide Web:<http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo>. ISSN 1413-8557. COLOSIO, Robson et al . Prevenção de infecção pelo HIV por intermédio da utilização do grupo operativo entre homens que fazem sexo com homens, São Paulo, Brasil. Cad. 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Nesse contexto narrativo, a oficina é compreendida pelas autoras como algo que presume intuitivamente ser um lugar onde acontecem transações pessoais e onde se verificam grandes transformações nas formas de sentir, ver, perceber a realidade e refletir esse espaço como um lugar de vida. Araújo, Almeida, Espírito Santo (2005). Trazendo as experiências da aplicação de oficinas no campo da saúde encontramos as primeiras referências registradas nos escritos de Moccio (1980), exprimindo que a oficina estava vinculada àquelas ações que intentam por meios expressivos corporais, plásticos e dramáticos desenvolver a capacidade expressiva daspessoas com base em propostas terapêuticas, residindo aí ideia de que mediante de atividades concretas, o individuo tenha cada vez mais acesso a vida e a realidade, assim, tornando mais fácil a maneira de comunicar-se e relacionar-se com o mundo em seu entorno. Ainda Moccio, cita, que em 1964, Ernest Harns, no seu livro Psicologia Del Nino anormal, enfatiza a importância desse recurso e inicia esse processo em um hospital infantil na província de La Plata, na Argentina, no final do ano de 1967. A oficina de expressividade se transformou nessa experiência em um instrumento terapêutico e começou a funcionar como um elemento importante a serviço da saúde e do cuidado humano. 90 Em 1968, o centro de Èstudios y Publicaciones de Alforja publicou experiências de oficinas de capacitação pedagógica, apresentando metodologias vivenciadas por educadores populares da Nicarágua, México, Honduras, Panamá e Costa Rica, que constituíram trabalho formativo e sistemático dentro da educação popular que vislumbravam a perspectiva libertadora dos povos latinos. No Brasil, as primeiras experiências de socialização das propostas metodológicas no formato de oficinas educativas no campo da saúde se consolidam por meio dos movimentos organizados de mulheres, que implementaram um processo de largo alcance popular e institucional, articulando de maneira efetiva a ideia da parceria, da multidicisciplinaridade e integralidade da atenção à saúde da mulher, até no plano das utopias. Essas experiências contribuíram sobremaneira no engajamento das mulheres nas lutas e conquistas cotidianas no cuidado à saúde integral em sua concepção mais ampliada. Em 1996, Holliday educador popular e sociólogo, publicou resultados de sua intensa experiência de trabalhos com setores populares o livro intitulado Para sistematizar experiências, baseado em suas vivencias e reflexões. Essa publicação traz um enfoque de ressignificação da oficina também como um instrumento de sistematização de práticas, indicando o processo como ideias e não como produto acabado e desenvolvimento de pesquisas. Sua experiência teórica aponta que, mesmo em situações temáticas diferenciadas, as oficinas de sistematização trazem alguns elementos comuns: eixo temático específico, objetivos, experiências, roteiro de perguntas, elaboração de um ou mais produtos coletivos. No Ceará, as abordagens educativas com uso de oficinas emergiram na década de 1980, pela iniciativa de muitas mulheres e alguns homens que ao estabelecer resistências, vinham buscando efetivamente uma metodologia de trabalho que ao tempo em que consolidava as práticas cívicas-emancipatórias da cidadania das mulheres, traziam uma feição estética no cuidado/autocuidado à saúde. Essas oficinas chegaram com a missão de mobilizar pessoas e no desafio de reorientação das práticas de Educação em Saúde e mobilização social na Saúde da mulher, (Araújo, Almeida, Espírito Santo; 1998, 2000, 2003, 2005, 2008). A experiência ensejou a criação de ambientes pedagógicos com base na problematização da realidade e na experimentação, sem deixar que o discurso teorico-conceitual em nenhum momento das reflexões fosse renunciado. Nesse ponto, o destaque para o modelo de participação, que não só discursa, mas também compreende que o espaço de promoção de saberes é aquele que qualifica a espécie, coextensivo a vida, revitalizado no diálogo e na crença de que as pessoas 91 quando engajadas podem se superar e constituir novas direções com autonomia, num movimento entre teoria e prática. Ao considerar todas essas abordagens, o objetivo deste capítulo é tecer alguns caminhos metodológicos para o planejamento e execução de oficinas como instrumento educativo no desenvolvimento de trabalhos estruturados na partilha de vivências, construção de sentidos e experiências e modos de atuar em grupo. Constitui-se como resultado da experiência na realização de oficinas(s) no Estado do Ceará e outros estados brasileiros pelas autoras professoras e estudantes, iniciadas há mais de duas décadas, reunindo, estudantes, docentes, profissionais e trabalhadores de saúde, gestores, conselheiros, terapeutas populares, artistas, cordelistas, animadores, palhaçoterapeutas, atores, poetas, mestres e doutores das letras e da vida, brincantes, que ao participar das oficinas, sempre reconheceram no método a capacidade exploratória, pela riqueza das vivências pedagógicas de aprendizagem, construção de diálogos e possibilidades educativas de sua adequação em grupos e rodas populares. METODOLOGIA A proposta metodológica se insere em uma tendência problematizadora e significativa, caracterizada, como estratégia facilitadora do dialogo, da conversação, socialização de ideias, liberdade de expressão, fatores esses de maior importância para tomada de decisão sobre a vida cotidiana. A metodologia em referência se ancora no ser humano por sua potencial riqueza para provocar as próprias mudanças, em termos de vida. A par disso, o bom humor é ressaltado na experiência, considerando sua função social, fato desvelado pela relevante expressão de prazer e pelo clima criado no ambiente de aprendizagem, propício a reflexões de mais sedutoras (ARAÚJO, 2000). Essa metodologia com ênfase dialógica pensa com palavras, também com elementos simbólicos, promovendo a comunicação, mobilizando o potencial criativo dos participantes para resignificar conceitos, valores, pensar estratégias de intervenção, além de contribuir para a análise e contemplação de elementos subjetivos da experiência vivida. A essência da aprendizagem significativa é que ideias simbolicamente expressa sejam relacionadas, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária, ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente relevante que pode ser, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito ou uma proposição significativa. A organização do grupo em formato de roda/circulo tem revela-se de grande importância nos espaços educativos, não só pela revolução na comunicação e elaboração dos diálogos, mas 92 também porque em suas diferentes modificações passou a fazer parte de numerosos mecanismos e a consequente contribuição ao desenvolvimento humano e civilizatório, enfatizado como base das metodologias ativas. A roda usada por muitos povos tem um chão histórico e aparece nas oficinas como excelente mecanismo de aproximação entre os participantes. Na experiência de oficinas, a roda é sugerida como uma técnica, um método, um jeito de organizar o grupo para promover o processo educativo; surge como uma metáfora, uma linguagem figurada que, trazida aos ambientes de aprendizagem, ganha novos e renovados contornos na criação do ambiente para estimulo da relação dialógica; a conversa é sugerida como provocadora do encontro para o dialogo. Colocar o assunto na roda é engajar-se numa espécie de reenfoque metafórico e esta passa a ser um jeito de juntar ideias, analisar formas culturais de um povo, e, se tomada como uma estrutura simbólica coletivamente organizada, serve como meio de poder dizer alguma coisa sobre algo, enfrentar-se então um problema coletivamente. Os significados só podem ser armazenados por meio de símbolos, o circulo, a roda, que ilustramos com base nos escritos de GEERTZ (1989), ao citar uma informação Oglala (Sioux) de James Walker, encontrada no clássico de Paul Radim Primitive Man as a Philosopher; o autor ressalta inclusive como algo negligenciado: Os Oglala acreditam que o circulo é sagrado, porque o grande espírito fez com que tudo na natureza fosse redondo, exceto as pedras. A pedra é a ferramenta da destruição. O sol e o céu, a terra e a lua, são redondos como um escudo, embora, o céu seja fundo como uma tigela. Tudo que respira é redondo, como o caule de uma planta. Uma vez que o grande espírito fez tudo redondo, a humanidade devia olhar o circulo que formao limite do mundo e, portanto dos quatro ventos que viajavam por lá. Consequentemente, ele é também o símbolo do ano. O dia, a noite e a lua percorrem o céu num circulo, e, portanto o circulo é um símbolo dessas divisões do tempo e, portanto o símbolo de todo o tempo.Por essas razões é que os Oglala fazem seus ―Tipis‖ (habitação dos Oglala) circulares, fazem seu circulo de campo circular e se sentam em circulo em todas as cerimônias. O circulo é também o símbolo do ―tipi‖ e do abrigo. Se alguém faz um circulo como ornamento e ele não é dividido de alguma forma, deve-se compreende-lo como símbolo do mundo e do tempo. No cenário das práticas educativas a roda é a forma preferida pelos ―oficineiros‖ para organização dos grupos e esse jeito aparece com maior frequência, às vezes ainda vista como uma proposta excêntrica, mais bastante acolhedora nos propósitos de Educação em Saúde, Educação Popular e Saúde e desenvolvimento de aprendizagens em diversos contextos e temáticas. Como método largamente utilizado no campo da saúde produz efetivamente grandes resultados na consolidação de abordagens pedagógicas de concepções e metodologias ativas. Nos ensinamentos de Paulo Freire (1983. 1979) como linha pedagógica, opta-se como orientação de como trabalhar com o método de oficinas, procurando nessa opção caracterizar 93 uma pedagogia problematizadora como aquela que pode servir para a libertação do ser humano dos seus opressores e promover a emancipação do homem rumo a sua plena humanização. Essa abordagem potencializa a atuação pedagógica com base na compreensão e resolução de um problema contextualizado que considera os sujeitos sócioculturais. Para concretizar esse processo metodológico, utilizamos o método do arco, de Charles Maguerez, publicado por Bordenave e, Pereira (1978-1982). O método sugerido pelos autores aponta um caminho que na experiência, é capaz de orientar o planejamento, execução e avaliação da prática pedagógica com uso do método de oficinas no campo da saúde caracterizadas nas etapas. 1ª Etapa Observação da Realidade- Levantamento de Necessidades as informações geralmente são escassas e podem se apresentar como um obstáculo para a executar uma ação, daí a necessidade de que o ―oficineiro‖ possa esta sempre voltado a uma compreensão mais significativa do problema. Daí, quando falamos ―observar a realidade,‖ é a exposição dos participantes a um problema prático real como base de uma prática educativa dialogal. Consiste numa visão global do tema a partir da realidade a ser trabalhada. É importante considerar o olhar multirreferencial, isto é, a todos os fenômenos dos quais participamos no dia a dia para que sejam discutidos, refletidos como possíveis determinantes que podem estar interferindo no contexto que se pretende atuar/intervir. Para proceder essa etapa, pode-se dispor de várias técnicas para reunir as informações sobre o que ocorre naquele contexto ou realidade. Como ilustração: visita de campo, visita domiciliária, visita a instituições governamentais e não governamentais, entrevistas com a lideranças comunitárias, participação em eventos festivos da comunidade, participação em reuniões de conselhos locais, participação em eventos religiosos da comunidade, consultas a experts, técnicas de dinâmica de grupo, psicodrama pedagógico, círculo de cultura, grupo operativo, grupos de encontro. Nesse momento, o ―oficineiro‖ pode fazer uso de vários instrumentos de registros, como: murais, diário de campo, registros fotográficos, atas, mapas, gráficos, quadro sinóticos, desenhos, memórias de seminários, gravações, filmagens. Esses tipos de registros podem não ser suficientes, sendo importante ampliar a busca de outras formas de registro que possam dar maiores esclarecimento a respeito do evento/problema que se pretende tratar como temática central da oficina. Essa etapa intenciona problematizar a realidade e ―empoderar‖ os participantes da oficina na busca de respostas que em algum grau possam contribuir para superação do problema. Tem um significado relevante, pois situa o participante como sujeito do processo pedagógico, descaracterizando a ideia de aluno como ser passivo, 94 potencializando o surgimento do aprendiz que se mobiliza e se movimenta para ressignificar e resolver problemas com suporte no desenvolvimento de capacidades para decidir-se e tomar o próprio destino em suas mãos, Freire apud Gadotti (1998, p28). 2ª Etapa Pontos-Chave, Problemas, Definir Prioridades Esse momento não se limita a uma soma de resultados ou dados organizados com informações colhidas na etapa anterior. Serve, sobretudo, para declarar a representação do problema de saúde naquela região/localidade/comunidade e observar como se reproduzem as condições desiguais e desumanas na vida comunitária, como se alteram as relações de forças para que o novo vá se instituindo, identificando as variáveis do problema. Nessa etapa abre-se um campo amplo de possibilidades para o trabalho educativo com uso de oficinas. O diálogo ganha força, é o momento da partilha da experiência do grupo. Os agrupamentos temáticos são organizados, desde questões mais amplas até aquelas mais especificas, de cuja composição se estabelecem os pontos-chave, ou seja, o que se conseguiu determinar como problema. Essa etapa remete a formulação de temáticas mais precisas e objetivas, trazendo maiores facilidades para o ―oficineiro‖ na organização do apoio teórico necessário ao processo pedagógico, viabilizando o rigor cientifico na execução da oficina. Geralmente esse momento situa os participantes em confronto com as desigualdades sociais, e os descuidos humanos eambientais tornam-se visíveis, trazendo ao evento educativo em muitas situações um clima de comoção, perplexidade, estranhamento, silenciamento, ocorrendo entre os presentes muitos desafios para lidar com os problemas com maior sensibilidade, de identificar o não sabido e o desejo de tomar parte de algo. Nesse percurso experimenta-se a arte do encontro e do refinamento da sensibilidade, tempo também que oferece um repertório de possibilidades exploratórias para revitalizar o laço social em torno do aprendizado recíproco de como atuar coletivamente na realidade. A força do dialogo, a leveza e a organização circular nessa etapa conferem ao grupo uma estética diferenciada. A roda, o círculo e a circularidade entram como cenário, conferindo a esse método um componente cultural bastante significativo nos processos de educação permanente. Essa leveza a que a proposta se refere não é aquela de contrário de pesado, mas a capacidade de mobilização da inteligência, do pensamento para mudar o foco de olhar quando no cotidiano as coisas se apresentarem de muito peso. As cirandas, as brincadeiras de roda, as danças circulares sagradas, as técnicas de dinâmicas de grupo e os jogos educativos podem nesse momento trazer ao ambiente experiências de motivações lúdicas. 95 3ª Etapa - Teorização- estabelecer campos de atuação nessa etapa do processo o ―oficineiro‖ é orientado a buscar as evidências cientificas e uma explanação teórica do problema, mobilizando a capacidade do grupo para reunir um acervo teórico-conceitual que possa apoiar as atividades educativas propostas e os problemas a serem resolvidos. A maneira como o grupo encara o conhecimento deve exprimir esse momento de reflexão e as teorias entram como organização das informações, tornando-as compreensíveis e praticáveis. É importante buscar inspiração em outras fontes de saber além da Ciência, a Arte, a Filosofia, e Religião, como acolhendo a diversidade de experiências já instituídas e instituíntes no campo da educação popular, legitimando a emergência de incluir novos elementos teóricos aos processos pedagógicos, articulando tecnologia e sensibilidade, como solidariedade, escuta, ternura, fé e amor. Consideramos que as teorias/conceitos não podem abominaro sonho e a utopia, consoante com Gauthier, Santos, Souza, Figueiredo (1995), mais que elas possam orientar ressignificações e delineamento de novas e renovadas concepções de mundo, vida e saúde. Nessa etapa, o conhecimento sobre o tema a ser tratado na oficina é indispensável, sendo relevante se utilizar de uma revisão de literatura a respeito do assunto a ser aplicado no desenvolvimento da oficina. Sugere a seleção do referencial teórico ou conceitual mais adequado, para orientar a metodologia de trabalho educativo, os objetivos da oficina e as estratégias mais significativas para linear os rumos e a direção da resolução do problema e discussão dos resultados; técnicas de visita a bibliotecas, consultas, visita a bases de dados -BIREME (Mediline,Lilacs, Bdenf) SciELO, PUBMED. e outras bases; com Cochrane, Cinhal, usar também técnicas de fichamento, resumos, sínteses, organização de bibliografias, fomentando abordagens mais significativas do problema. No momento o desafio é constituir o espaço do pensamento coletivo que quase sempre acontece nas oficinas, por ser espaço aberto à indagação, à analise e à curiosidade como essenciais ao desenvolvimento de pessoas entregues ao estudo/experiência/vida/, não apenas aquele acadêmico, baseado nas evidências cientificas, nas certezas, mas também o que foge de toda sistematização lógica que se encontra no campo das incertezas, derivado da experiência humana. 4ª Etapa Hipóteses de Solução- Caminhos de Intervenção identificado o problema, inicia-se um momento mais operativo que descrevemos como aquele que desafia habilidades necessárias no plano imediato do saber-fazer com criatividade e competência para compreender a realidade, o contexto em que o processo educativo vai acontecer, que objetivos alcançar, que estratégias utilizarem na aplicabilidade do processo, a viabilidade num determinado grupo, 96 análise do nível de governabilidade do problema pelo processo de educação permanente, coerência com os processos da gestão da realidade a ser trabalhada. Essa etapa é bem dinâmica. Os participantes anunciam boas novas, dão noticias de última hora, levantam polêmica, fazem denuncias, demonstram força, assumem compromissos, apresentam projetos, sintetizam ideias, dão lugar ao sonho e à utopia, declaram amor; vivem o bom humor e o gracejo, falam com leveza sobre experiências em Educação em Saúde, Educação Popular em Saúde. O engajamento e o entendimento são buscados durante a oficina e podem expressar temas os mais variados: histórias de vida de - povo, raça, idade, gênero, cuidado, fé, cultura, de experiência, de encantamento, de conhecimento, de exclusão, de inclusão, de respeito aos direitos humanos e dignidade dos povos, de paz, amor, esperança e sentido da vida. A oficina nessa etapa reserva em toda a sua diversidade dimensões analíticas, didáticas e contemplativas OSTROWER (1983- 1996) convocando e provocando entre os participantes o desejo de buscar os caminhos de entendimento e a solução para os problemas identificados. O processo educativo, a dimensão corporal é trabalhada, e o corpo é visto como lócus da existência humana, lugar onde se realizam as coordenações entre as percepções e as ações, lugar de ressonância e emotividade, onde elas tomam sentido e significado, no plano das competências onde acontece a evolução das operações da inteligência, cuja composição esta constituída de funções psicológicas superiores, como pensamento abstrato, atenção voluntária, imaginação, lembrança voluntária, memorização ativa, controle consciente do comportamento, raciocínio dedutivo, ação de planejar, a aquisição plástica, VYGOTSKY(1998), sendo possível utilizar meios para viabilizar o protagonismo dos sujeitos como levar os participantes ao campo e observar diretamente o problema delineado, usando técnicas como: cortejos populares, trilhas, visitas domiciliárias ou abordar o problema com uso de fotografias, mapa vivos, psicodrama pedagógico, dramatizações, performances, dinâmicas de grupo ou ate mesmo se utilizando de músicas populares para abordar o problema. Todas essas ferramentas desafiam o ―oficineiro‖ a proporcionar aos participantes condições para expressar o mundo mediante as sensações, emoções, perplexidades, incluindo uma crítica ao saber e às vivências práticas que constituem o cenário do problema que está sendo trabalhado, além de conferir ao espaço uma unidade de prática pedagógica e construção de sentido e significado à aprendizagem. 5ª- Etapa Aplicação à realidade, Intervenção, Avaliação o caráter de intervenção na realidade é fomentado no ato de conhecer. É a etapa de aplicação à transformação da realidade. Finalmente todo o processo vai ser aplicado e os novos conhecimentos articulados para 97 solucionar o problema. Esta etapa final intenciona, por meio de processos pedagógicos, contribuir para superar as condições que ensejam opressão e sofrimento social. A experiência adquire um modo instrumental que objetiva: para que serve, a que contexto se destina, as razões políticas, éticas, morais e afetivas. A oficina quase sempre utiliza ferramentas da arte, pois potencializam a liberdade de todos participarem, aprenderem e construírem saberes e práticas de maneira colaborativa. Tornam-se um veículo importante para a comunicação e expressão, envolvendo dimensões multissensoriais da comunicação verbal e não verbal, como: visão, audição, o olfato e o tato, como fontes de contato humano social e afetivo; é o esforço cooperativo como meio para se conseguir algo, estabelecer possibilidades, procurar alternativas, como seres humanos em constante movimento de vida. Pain e Jarreau(1996) estimulam a vivência criativa e a criatividade, potencializando a exploração da inteligência em toda a sua inteireza; no produto da arte elaborado, fundado sobre a objetivação das representações e criatividade, plástica, da matéria que se transforma criando um objeto novo, cuja função não vem do uso que se pode fazer dele, mas tornar-se signo/símbolo que o sujeito propõe com originalidade que faz a diferença na possibilidade de levar à experiência do prazer compartilhado. Muito são os materiais utilizados como forma de expressão: o papel, a argila, a tinta, a massa de modelar, o gesso, o tecido, a madeira, terra, areia, barro, pedra, osso, como também as cores, as texturas, as formas. As técnicas de modelagem, os bonecos mamulengos, marionetes, fantoches, recortes, máscaras, impressão, colagens, montagens, pinturas e desenho são importantes ferramentas para o ―oficineiro‖ durante as oficinas. As músicas de brincadeiras, roda, cirandas, acalantos, brincos e parlendas são excelentes ferramentas, pois se apresentam importantes na revitalização da ternura e encantamento, por despertarem entre os participantes pensamentos acolhedores e ternos OSTROWER(1983;1996). Têm sido de bom uso em vivências de cultivo do espírito de gentileza e de expressão da linguagem física do amor nos ambientes do cuidado/autocuidado. Os rituais de dança do coco, maneira-o-pau, também se apresentam interessantes e deleitam os participantes com canções e ritmos da cultura popular, permitindo aproximação entre os presentes, rompendo barreiras do distanciamento entre as pessoas, proporcionando a revitalização do ser humano brincante 98 sobejamente anunciado, sempre presente em todas as pessoas, que às vezes precisa ser despertado. As músicas populares, também, servem para representar a linguagem corriqueira do cotidiano, perpassada nas letras e melodias que expressam os rituais de vida e histórias do cotidiano; às vezes, servem para expressar o lamento, questão intimamente integrada e integrante dos relacionamentos cotidianos na família e na sociedade; elas provocam a saudade, a vida de sacrifício, o choro, a perda, o sofrimento, o poder ou não-poder, mas ao mesmo tempo podem representar a declaração do compromisso,do amor, da flexibilidade e da vontade; em suas expressões as mais diversas, têm servido a todas as sociedades, evocando emoções coletivas, estimulando o trabalho, o gozo sexual e para as guerras; envolve as pessoas por encantamento no manejo de seus infortúnios. Temos também as técnicas de dinâmicas de grupo, jogos educativos, que se apresentam potencialmente interessantes na abordagem educativa; podem se utilizados para aquecimento, reflexão, abordar os sentidos do tato, paladar, olfato, audição, visão, para animação, recreação dependendo da trajetória pedagógica. Têm sido de muito valor para recompor rituais de vida na expressão de valores básicos de forma simbólica, que compreendidos num contexto pedagógico e cultural especifico, contribui para recriar nos participantes uma visão coletiva do mundo. Entendendo a arte como um recurso pedagógico e terapêutico, é possível criar nos ambientes do cuidado uma dimensão que se concretiza nos rituais do fazer com encantamento, disposição, vontade e saber, que na atitude de transformação de tudo aparece como estado da arte ARAÚJO (1978; 2001). RECOMENDAÇÕES/CONCLUSÕES Os passos para a realização de uma oficina educativa podem variar, dependendo dos mecanismos de adaptação. A oficina como método educativo se presta a qualquer área de saber/tema/situação, desde que considerando o problema a ser enfrentado, a realidade, cenário da prática educativa e grupo de participantes. Os passos a seguir podem oferecer um caminho instrumental para o planejamento, execução e avaliação de um processo educativo com uso do método de oficinas. 99 MÉTODO DE ABORDAGEM TEÓRICA DO ESQUEMA DO ARCO (SEGUNDO CHARLEZ MAGUEREZ, CITADO POR BORDENAVE, 1978-1982) 1Observação da realidade: consiste na observação atenta da realidade, com o objetivo de captar os diferentes aspectos que a envolvem a partir de onde os sujeitos expressam suas percepções pessoais, constituindo a primeira leitura sincrética da realidade ao tempo em que vão selecionando as situações a serem problematizadas. 2Ponto -chave: momento a partir do qual, do que foi observado, é destacado aquilo que se apresenta de mais importante e a isso denominamos pontos-chave do problema em questão, as variáveis mais determinantes da situação. 3Teorização: procura-se saber o porquê das coisas observadas; nela os sujeitos do processo passam a entender o problema não apenas nos seus contextos/manifestações empíricas/situacionais, mas também os contextos teóricos conceituais que explicam o problema. 4Hipótese de solução: formulação de hipóteses de solução para o problema é uma etapa que cultiva a originalidade e a criatividade. Exige confrontrar hipóteses de solução com os condicionamentos e limitações da realidade, do ideal com o real. 5Aplicação da realidade: fase que possibilita a prática da solução que foi encontrada como viável para a aplicação e resolução do problema em situações que podem ser diferentes. É a fase de intervir na realidade para transformá-la. DEFINIÇÃO, DELIMITAÇÃO , ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO DOS PROBLEMAS PROBLEMA-1 RELEVÂNCIA-2 MAGNITUDE-3 GOVERNABILIDADE-4 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 R E A L I D A D E 2 PONTO CHAVE 4HIPÓTESE DE SOLUÇÃO 1 OBSERVAÇÃO DA REALIDADE (PROBLEMA) 5 APLICAÇÃO A REALIDADE (PRÁTICA) 3TEORIZAÇÃO 100 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Escores: 1 – Baixa 2 – Média 3 - Elevada 1- Problema consiste em dizer de maneira explícita, clara, compreensível e operacional qual a dificuldade que se pretende resolver. 2- Relevância consiste em dar destaque, determinar a importância e considerar a supremacia de resolução do problema no contexto de atuação. 3 Magnitude consiste na importância dada ao problema, considerando a sua dimensão e o sentido em que se mede a extensão para avaliá-lo. 4- Governabilidade consiste num conjunto de procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem realizar uma determinada ação. IMAGENS ORIENTANDO CAMINHOS INSTRUMENTAIS NA ORGANIZAÇÃO DE OFICINAS EDUCATIVAS 101 102 Referencias 103 ARAÚJO, Maria Fátima Maciel . ALMEIDA, Maria Irismar de. SILVA, Raimunda Magalhães. O jogo Educativo: AIDS e Educação Popular em Saúde. IN: NOBREGA-THERRIEN, Silvia Maria. ALMEIDA, Maria Irismar de. LIMA, Jose Wellington de Oliveira. Saúde Pública: Concepções, práticas e pesquisa. Fortaleza:ED. UECE . 2003. ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. Aids/Jogos educativos: viabilizando Estratégias de Avaliação. Programa de Pós-graduação da UFC/ FFOE. Doutorado em Enfermagem. Tese de Doutorado. Fortaleza - Ce. 2001. ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. ALMEIDA, Maria Irismar de. ESPIRITO SANTO, Maria José.Trabalhando com o Método de Oficinas. Edição Reimpressão pelo MS.Fortaleza:UNESCO.CN DST e AIDS.UFC.NIV. 2005 ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. ALMEIDA, Maria Irismar de. Oficina Educativa: Uma Abordagem Metodológica no Trabalho com Mulheres. IN: SALES, C. de M. V. AMARAL. C.C. do A. ESMERALDO, G. G S. L. Feminismo, Memória e Historia. NEGIF/UFC. Imprensa Universitária. Fortaleza. 2000. ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. ALMEIDA, Maria Irismar de. SANTO, Maria José do Espirito. Portfolio - como trabalhar com o método de oficinas, Edição publicada pela UFC e UECE. Fortaleza. 1998. ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. ALMEIDA, Maria Irismar de. SOUZA, Silézia Maria Franklin de. SAMPAIO, Maria Lúcia de Vasconcelos. Narrativas: A Música nas Imagens do Cuidar em Educação Popular. IN: ALMEIDA, M. I. de. FARIAS, F. L. R. de. BANDEIRA, M. N. C. Interfaces do cuidado e Interdisciplinaridade. Fortaleza: Editora UECE. 2008. 104 ARAÚJO, Maria Fátima Maciel. Na Luta Contra a AIDS o Jogo Como Esperança de Vida. Dissertação de Mestrado em Saúde Publica. Programa de Pós-graduação da UECE. Fortaleza - Ce. 1997. BORDENAVE, Juan Diaz. PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Ensino-aprendizagem. 2ª ed. Editora Vozes. Petrópolis. 1978. 1982. FREIRE Paulo. Conscientização. - teoria e prática da libertação- uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. Editora Cortez & Moraes. São Paulo. 1979. FREIRE. Paulo. Extensão ou Comunicação? 8ª ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.. 1983. GAUTHIER, J. SANTOS, I, dos. SOUZA, L.dos S de. FIGUEIREDO, N. M. A, de. A Sociopoética: uma Filosofia Diferente e Prazerosa. IN: GAUTHIER, J, H, M, C. CABRAL, I. E. SANTOS, I, dos. TAVARES, C. M. de M. Pesquisa em Enfermagem, novas metodologias. Editora Afiliada. Rio de Janeiro.Guanabara KOOGAN. 1995. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 19ª ed. São Paulo. LTC Editora. 1989. HOLLDAY, Oscar Jará. Para Sistematizar Experiências. João Pessoa Editora Universitária/UFFB.1996. MOCCIO, F. El Taller de. Terapias Expressivas. Grupos e instituições Barcelona:Ediciones PAIDOS. 1980. MOREIRA, Marco Antonio. Editora. A Teoria da Aprendizagem Significativa e sua Implementação em Sala de Aula. Brasília: Editora UNB. 2006. OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. 11º ed. Petrópolis: Vozes. 1996. OSTRWER, F. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Editora Campus. 1983. PAIN, Sara. & JARREAU, Gladys. Teoria e Técnica da arte terapia. A compreensão do sujeito. Artmed. Porto Alegre 1996. VIGOTSKY, L. O Desenvolvimento Psicológico na Infância. São Paulo:Martins Fontes. 1998. 105 CAPÍTULO 11 Psicodrama Pedagogico Maria Fátima Maciel Araújo Maria Irismar de Almeida Ana Claudia do Espírito SantoSilva Giselle de Almeida Batista Rocha Raquel Maciel Araújo Thabyta Silva Araujo Ana Paula Cavalcante Ramalho Brilhante Maria Josefina da Silva Introdução Os estudos atuais que descrevem sobre a grupalidade humana, tratam do tema, como uma tendência cada vez mais forte, desvelando o grupo como cenário das grandes transformações sociais políticas, cientificas da sociedade e seu povo. Entre os autores clássicos das abordagens grupais que trouxeram grandes contribuições ao tema, citar Jacob Levy Moreno (1993) psiquiatra de origem judaica, nascido em 1889 na cidade de Bugareste, na Romênia, é um registro obrigatório em qualquer enunciado sobre o assunto. Autor de importante técnica grupal, o psicodrama, Moreno é bastante difundido e praticado na atualidade. O psicodrama é uma técnica psicoterápica com origem no teatro, na psicologia e na sociologia, utilizando a dramatização como instrumento terapêutico para alcançar os estudos de espontaneidade e a cartase da integração. Gonçalves. Wolff. Almeida (1988). A trajetória do autor e os fundamentos da sua teoria o psicodrama, é formulada no inicio do século XX inspirada na sociologia, na experiência religiosa filosófica derivada do hassidismo (ramo do judaísmo e do cristianismo), que tem suas origens no sufismo, na cabala e no teatro, entre outras disciplinas. A teoria propõe reparar, recompor algumas experiências negativas, vividas por um sujeito ou por um grupo, de forma a reabrir os canais para que flua a espontaneidade, criando novas respostas e evitando a submissão em relação às formas cristalizadas de comportamento. A teoria moreniana sempre se refere ao homem imerso em seu contexto social um ser de relação, sempre em processo de inter-relação entre pessoas buscando transformá-lo através da 106 ação dramática. Aponta como recursos inatos do homem a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade. Embora haja possibilidade de estas condições serem perturbadas por ambientes ou sistemas sociais constrangedores (conserva cultural). Aponta como um dos obstáculos o ambiente afetivo-emocional, que o grupo humano mais próximo estabelece tanto com a criança (matriz de identidade e átomo social), quanto com o sistema social em que a família se insere (rede sociométrica e social), no entanto, o homem pode intervir através da renovação das relações afetivas e da ação transformadora sobre o meio (GONÇALVES, 1988). O núcleo dinâmico da teoria moreniana é a espontaneidade, entendida como a capacidade de dar respostas adequadas e originais às situações e problemas que a vida apresenta. A espontaneidade funciona somente no momento em que surge; pode ser comparada, metaforicamente, com a lâmpada que se acende e graças à qual tudo fica claro na casa (ROJAS- BERMUDEZ, 1980, p.50). Para recuperar a espontaneidade e a criatividade, o homem deverá romper com os padrões comportamentais estereotipados por convenções da sociedade. A espontaneidade constitui-se como uma característica que possibilita ao ser humano responder com sucesso aos desafios do seu meio e quando exercitada tem um papel preponderante na aprendizagem, na medida em que, os sujeitos encontram mais facilidade para mobilizar o já aprendido e empregá-lo em novas situações. (PUTINI, 1997). Para Marineau, (1992, p. 117) a base da filosofia de Moreno é a importância dada a cada indivíduo para se expressar através de seus recursos espontâneos e criativos, num mundo em que cada um é parte de um grupo ou de uma entidade social. Segundo Moreno (1975), a evolução da espontaneidade é, provavelmente, mais antiga que a sexualidade, a memória e a inteligência. Embora seja a mais antiga em termos universais, na evolução, é a força menos desenvolvida nas pessoas e, frequentemente, inibida e desencorajada pelas instituições culturais. A espontaneidade está presente desde o nascimento da natureza humana e é uma característica própria da criança pequena enquanto ainda não está direcionada a copiar modelos conservados de comportamentos da sociedade. A trajetória de vida de Moreno foi permeada por experiências desafiadoras que contribuíram para a elaboração da sua teoria. Com quatro anos, realizou uma brincadeira com seus colegas empilhando algumas cadeiras formando o trono divino e tentando voar lançando-se ao ar, interpretando o papel de Deus. Caiu e fraturou o braço direito. Quando jovem, brincava 107 com as crianças nos parques de Viena, contava-lhes histórias utilizando jogos que faziam apelo à espontaneidade sob a influência de seus pais e professores. Manteve um trabalho com prostitutas visando organizá-las e ajudá-las na organização de um sindicato em defesa da profissão, que possibilitasse estabilidade à classe, demonstrando o seu interesse pela psicoterapia em grupo. Após a primeira Guerra Mundial entre 1914 e 1918, a Áustria sofria com a falta de liderança social e política e discutia o papel de autoridade. Moreno realizou um debate público sobre essa problemática e, ao lado de um trono, anunciou que estava procurando um rei e convidou as pessoas da platéia para subirem ao palco e assumirem o poder. Esta experiência foi considerada a primeira demonstração do sociodrama aplicado a problemas políticos e sociais. Moreno criou também o teatro da espontaneidade em 1921, em Viena, contrapondo- se ao teatro tradicional, que cultuava as conservas culturais, utilizando como base a proposta de que o ator, ao se permitir como sujeito espontâneo, criador de uma espontaneidade, ao expressá- la em seu próprio benefício, promovia o reencontro consigo mesmo. Ao apresentar-se em cena como autor de sua história, tal atitude seria de grande valia para possível resolutividade dos conflitos internos (Garrido, 1996). O psicodrama foi oficialmente fundado em 1º de abril de 1921. Nesse teatro, destacou-se o caso ―Georg‖ e ―Bárbara‖ atores que após se casarem passaram por crises constantes, brigas conjugais, as quais foram abordadas e resolvidas no palco por Moreno, sendo essa passagem dos seus escritos uma demonstração dos efeitos poderosos do desempenho de papeis que acabou dramatizando e revivendo no palco os problemas pessoais e familiares, dando origem ao teatro terapêutico. Essa descoberta muito contribuiu para validar o conhecimento prático na história do psicodrama (MARINEAU, 1992). Historicamente, o Psicodrama representa o ponto decisivo na passagem do tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em grupo; do tratamento do indivíduo com métodos verbais, para o tratamento com métodos de ação (MORENO, 1983). No ano de 1925, Moreno emigrou para os EUA, fundando e sistematizando a Sociometria, o Psicodrama e a Psicoterapia de grupo. No Brasil, o Psicodrama foi reconhecido como método de Psicoterapia e como recurso educacional, sendo seu pioneiro o professor Pierre Weid na década de 1940. Este transferiu o mérito à professora Helena Antipoff, que, segundo ele, introduziu o Psicodrama de Fantoches no 108 país em 1930, na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Belo Horizonte, visando ―reeducar‖ as professoras através do teatro de fantoches. Na década de 1960, a professora Maria Alicia Romana, educadora Argentina, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento humano, inicia a primeira tentativa de aplicação do Psicodrama à educação em crianças com problemas de aprendizagem e avaliação final de matéria de pedagogia, objetivando verificar a possibilidade de tradução simbólica de qualquer conhecimento (ROMANA, 1985, p.18). Somente em agosto de 1969, apresentou oficialmente o Psicodrama Pedagógico, por ocasião do IV Congresso Internacional de Psicodrama, em Buenos Aires. Para Romaña (1996, p. 27), os anos de 1970-1973 formam uma fase de Estruturação da Teoria do Psicodrama Pedagógico. A principal característica dessa etapa era a de interação em grande escala, pois tentava, naquele momento, dar respostasàs diversas solicitações com o objetivo do confronto com realidades educativas diferentes, fato que enriqueceu a pesquisa e propiciou um caminho prático, que permitiu realizar experiências e verificações.Arantes (2002) faz referencia a respeito das principais aplicações do psicodrama pedagógico sugerindo as seguintes situações: promover a criatividade, dificuldades de aprendizagem, seleção e treinamento profissional, método de ensino, pesquisa educacional, aconselhamento de problemas cotidianos, jogos dramáticos, orientação profissional. Podem ser também aplicados em situações de conflitos, desenvolvimento de um tema, estudo diagnóstico e terapêutico de grupos, relações sociais/profissionais. Em 1976 a professora Maria Alicia Romana difundiu o psicodrama pedagógico por meio de cursos de formação e introdução, destinados a educadores e profissionais ligados a área de Recursos Humanos; em 1977 foi a criação dada FEBRAP Federação Brasileira de Psicodrama; também nesse ano Anne Ancelim-Shutznberger, introduz a videotarapia no Brasil em seminário realizado em Belo Horizonte, no Retiro das Pedras. Na década de 80, em 1983 foi oficializado a Associação de Psicodrama Pedagógico e em 1994, criado o curso de psicodrama sob orientação de Cely Wagner auxiliado pela professora Maria Alicia Romana; em 1987 foi implantado a formação de psicodrama pedagógico no Centro de Psicodrama do Rio de Janeiro. O objetivo desse artigo é oferecer uma abordagem do psicodrama pedagógico e técnicas psicodramáticas para aplicação em diferentes cenários de aprendizagem como recurso 109 para facilitação de ações formativas de educação permanente no contexto individual e grupal- coletivo no campo da saúde Metodologia O psicodrama pedagógico é uma metodologia ativa constituída de atividades integradas por trabalhos de grupo, jogos e dramatizações. Romana (1985) assegurando que, através da metodologia psicodramática, se contribui para que o participante do processo coloque para fora o conhecimento que ―sabe‖ e o compreenda como algo próprio, como algo seu, e isto acontece porque descobre as conotações que dão sentido ao conhecimento que têm valor para si e para os outros, dentro de um mesmo contexto cultural. Valoriza os saberes do sujeito seu conhecimento e experiências culturais. Consiste numa dramatização, de um caso, uma situação- problema, um assunto, com a utilização de técnicas ou recursos psicodramáticos; Essa mesma metodologia no processo formativo valoriza também a aprendizagem vivencial, integrando o pensar, o sentir e o agir, despertando a espontaneidade, criatividade, elementos imprescindíveis para construir conhecimento e enfrentar as situações cotidianas. O participante ao entrar em contato com o outro e consigo mesmo, se inquieta, questionando as ―conservas culturais‖ do mundo do trabalho em saúde e da própria formação, podendo desenvolver a sensibilidade, a capacidade crítica para compreender e transformar a realidade. CORRÊA,( 2004) Os recursos psicodramáticos como elemento de expressão da espontaneidade e mobilidade das capacidades intelectuais, afetivas, sociais, coloca o sujeito inteiramente no ato de aprender, estabelecendo suas próprias relações com o conhecimento e atribuindo-lhe significados. Esse exercício de ação-reflexão-ação é permeado pela liberdade que caracteriza as relações psicodramáticas, para expressar ideias e sentimentos pessoais a respeito dos diferentes temas colocado no palco, num ambiente lúdico e democrático, que permita resignificar o prazer de aprender a aprender (PUTTINI, 1997). O psicodrama pedagógico reforça a premissa que tudo parte do homem em relação, constituindo assim o seu eixo fundamental a interelação, reforçando o fato de que as pessoas só se constituem como pessoas na relação com as outras; é uma abordagem que integra uma visão de grupo interativo, e surgimento do humano para socialização individual; também uma filosofia da 110 criatividade/espontaneidade, tendo como referencial os estados espontâneos e as funções criadoras a partir da livre vontade. Essa metodologia se reporta aos principios de Moreno (1984) pela sua afirmação de que são quatro as características do ato criativo, elemento importante dos processos pedagógicos: a espontaneidade; a sensação de surpresa, de inesperado; a irrealidade, que se vincula à mudança de realidade, e ser uma atuação sui generis. Ao promover a criatividade, o Psicodrama Pedagógico estimula a capacidade criativa dos alunos com o desenvolvimento da espontaneidade; a personalidade do aluno é enriquecida, proporcionando o surgimento de manifestações criativas. A criatividade proporciona a manifestação do potencial interior e possibilidades de renovação constante. Uma das características da criatividade é a sensibilidade aos problemas, a capacidade de se intrigar com aquilo que os outros aceitam como coisa indiscutível. O psicodrama pedagógico é um método que possibilita a coordenação desses fatores porque a aprendizagem se da através da ação a interação; a pessoa/grupo que se permite expressar que sabe com o saber do grupo, compartilhando com o grupo, construindo e reconstruindo o conhecimento adquirido; levando a pessoa/grupo a reflexão, ao questionamento, ao entendimento dos conceitos transmitidos, permitindo o desenvolvimento da espontaneidade e criatividade; além disso contribui para que o indivíduo aprenda a se aceitar ou modificar seus padrões de conduta, para ser aceito por si e pelos outros, aprimorando-se assim nas suas relações interpessoais. Pode ressaltar a capacidade e instrumentalidade do psicodrama na área de educação em saúde e educação popular em saúde, ele é considerado um método de aprendizagem com base numa correlação afetiva cognitiva e sua importância se estabelece no seu valor formativo no contexto da multiplicidade e multirefencialidade das demandas humanas; nelas o psicodrama se estrutura também como metodologia educacional, pois a produção do conhecimento acontece por meio da ação; Moreno já afirmava que os conteúdos imprimem-se na mente quando o sujeito encontra-se em comportamento ativo (1975, p105). Para realização do método psicodramático os instrumentos necessários a composição dos papéis a serem desempenhados pelos integrantes do grupo: Protagonista – É a pessoa em torno da qual se centraliza a dramatização. Traz o tema para dramatizar e ao mesmo tempo o desempenha. Sua função é desempenhar o papel de ator, na forma dramática através de suas 111 ações e sentimentos, isto é: responsável por trazer o assunto a ser dramatizado e a mesma representa. Na sessão psicodramática, a pessoa ou grupo representa seus próprios conflitos, é autor e ator de sua própria cura/autocuidado/cuidado; é a pessoa ou grupo em torno da qual se centraliza a dramatização; é quem traz o tema para dramatizar e ao mesmo tempo o desempenha e de acordo com o diretor, constrói o contexto dramático e da as primeiras diretivas de cenas que vão se levadas. O protagonista nem sempre é um individuo, podendo ser um grupo, nesse caso o psicodrama denomina-se Sociodrama. Cenário- É o espaço onde se realiza o psicodrama, ou seja a dramatização.É o lugar onde se realizam as dramatizações, preferencialmente deve ter o formato circular em torno do mesmo os integrantes do auditório, sem que esses toquem o espaço reservado para a ação dramática. A proximidade é necessária para diminuir ao máximo a distancia entre contexto grupal e dramático. No contexto grupal-coletivo o cenário substitui o campo terapêutico do psicodrama. É o espaço livre onde pode manifestar-se. È sugestivo um espaço amplo e adaptável a situação do grupo atuante. Ego-auxiliar –ou egos-auxiliares- Integrantes da equipe encarnando personagens e criando um clima para o processo pedagógico. Atua como facilitador de insights, é ator de contexto dramático e observador social e registra dadosno contexto grupal e dramático Tem função de desempenhar o papel dos outros a fim de colocar o protagonista na situação real; desempenha as funções de ator, agente terapêutico e investigador social; enquanto ator, encarna o papel requerido pelo protagonista; enquanto agente pedagógico/terapêutico, levando o indivíduo as situações visadas pelo diretor. Como prolongamento do diretor leva a dramatização as ideias dele, através dos papéis desenvolvidos, adaptando-se as circunstâncias e aos imprevistos que vão aparecendo. Nesse processo as ideias do diretor devem ser transformadas em ação, tendo especial cuidado de harmonizá-la com o contexto. Atuando com investigador social em pleno processo dramático pode observar e registrar as características do vínculo complementar do protagonista. Diretor ou terapeuta – Responsável pelo psicodrama em seus diferentes aspectos, pelo continente, exploração e desenvolvimento do psicodrama, assumindo três funções básicas: a de produtor – sendo responsável pela escolha dos jogos e seus objetivos; terapeuta – dirige o ego auxiliar, fornece senhas, termina o jogo; e de analista social – analisa os dados do ego auxiliar, processa-os e complementa-os tem também a função de aquecer os personagens e criar um clima 112 favorável ao despertar da espontaneidade e permitir o protagonista representar o seu problema com a maior realidade possível; é responsável pelo psicodrama em seus diferentes aspectos, sendo necessários uma sólida formação psicodramática que permita atuação eficaz no desempenho de suas funções como produtor, terapeuta e analista social. Para o desenvolvimento da sessão psicodramática são adotados os seguintes procedimentos/etapas que predispõem a ação: 1 – aquecimento- são ações preparatórios do organismo grupal para a ação: são considerados dois aquecimentos, se constituindo no primeiro momento da sessão psicodramatica, consiste num conjunto de procedimentos destinados a centralizar a atenção do auditório e diminuir os estados de tensão, facilitar a interação criando um clima acolhedor e propicio a aprendizagem, esse momento objetiva colocar o grupo em atividade e possibilitar que seus integrantes se manifestem por meio de suas interações. 1-1 – aquecimento inespecífico, conjunto de procedimentos destinados à promover a atenção do auditório. Constituído do grupo que se encontra fora do campo terapêutico: realizado pelo diretor, que utiliza técnica verbal ou corporal para facilitar a integração do grupo inicia-se com o encontro do diretor e protagonista. 1-2-aquecimento específico, aquele que se realiza com o protagonista emergente do grupo em preparação para dramatização Nessa fase é estruturado o contexto dramático. É o momento onde se da à seleção das cenas a serem dramatizadas; 2 – dramatização-é a segunda etapa da sessão e se constitui no núcleo do psicodrama. e o que o caracteriza, o material trazido pelo protagonista é posto em cena, é o operar terapêutico/pedagogico no aqui e no agora; consiste em representar uma situação dramática pelo protagonista. Realiza-se a dramatização, a representação da cena mais adequada para iniciar levando em conta um sintoma, uma queixa ou um contexto; 3 – comentários e análises- é a terceira e se constitui na última etapa de cada sessão, a atenção centraliza-se no auditório e solicita-se aos membros do grupo referentes a dramatização em si, ao protagonista e a eles mesmo, formando a opinião grupal com a ajuda do psicodramatista/terapeuta/educador, que pode ser o momento de grande riqueza exploratória pelo exercício do compartilhamento das ideias que emergiram do grupo e que foi posto em cena. A atenção centraliza-se no auditório e solicita-se aos membros do grupo referentes a dramatização Os membros do grupo expressam os sentimentos e pensamentos vivenciados por ocasião da dramatização. O processo nesta fase, as observações realizadas pelo Diretor e ego auxiliar são feitas frente às sensações e sentimentos . 113 Os jogos dramáticos são dramatizações empregadas com o fim de propiciar aos alunos uma introdução à linguagem dramática. A utilização de jogos dramáticos permite que se desenvolva o trabalho num campo mais relaxado. Além dos aspectos lúdico-educativos, nos desafios oferecidos pelos jogos psicodramáticos há um incentivo à liberdade do aluno. Criam um clima favorável ao desenvolvimento da imaginação criativa, possibilitando que as personalidades sejam construídas espontaneamente, livres das pressões sociais e estereótipos que limitam o processo de desenvolvimento. São muito significativos na perspectivas de trabalhar a espontaneidade dos participantes, o resgate do lúdico, o desenvolvimento de todas as formas de expressão de brincar, tornando a aprendizagem prazerosa. Reconhecendo também a partir dos jogos, as regras e os limites definidos que permitam assumir compromissos intra e extragrupo. Os métodos e técnicas utilizados são variados: inversão de papéis, o andar junto, musicoterapia, o solilóquio, duplagem, . psicodrama coletivo, jogos dramáticos, cadeira vazia, dramatização (role- playing), jornal vivo, monólogo, dentre outros apresentam um amplo leque de aplicação, incluindo o uso de vivências dirigidas para: aquecimento do grupo, treinamento de habilidades, exploração de um tema, enfrentamento de crises/conflitos, conquista de melhorias de relações sociais/profissionais, estudo diagnóstico, educativo/pedagógico e terapêutico de grupo e tantas outras finalidades, cujos resultados ficam dependendo dos mecanismos de adaptação adotados em cada situação . Quando utilizadas favoreceram o redescobrimento dos potenciais latentes, despertam a criatividade, ampliam a compreensão de si mesmo, dos outros e do mundo. Acredita- se que os resultados desta ação poderá formar profissionais dotados de senso crítico, capazes de iniciativas inovadoras, e provocar os atores a gerar soluções eficientes para problemas multidimensionais. Por meio de role-playing e de auto-apresentação dramática tanto a comunicação verbal como a não-verbal são utilizados. A esse contexto pode-se articular o que Moreno chama de conserva cultural, é ele que traz a explicação nos seus escritos; Moreno (1983), Moreno (1998) ou de seus seguidores, Will (1967), Gonçalves, Wolff, e Almeida (1988), como resultante de um processo de criação ou de ato criador que pode cristalizar-se, aparecendo como objetos materiais, incluindo obras de arte, comportamentos, usos e costumes que se mantêm idênticos em uma dada cultura. Responder alguns questionamentos sobre, o gesto manual e os contatos humanos mais utilizados na 114 comunidade; quais os mais significativos, como são valorizados ou não pelos membros da família; formam o foco principal do psicodrama pedagogico objeto desse texto. Com a abordagem psicodramatica é possível estudar aspectos de uma comunidade a partir do seu interior e gerar possibilidades/ferramentas de transformação dessa realidade a partir do seu crescimento enquanto grupo. E dele algumas premissas de que a personalidade humana deve ser estudada em seu próprio ambiente através das relações interpessoais. A polarização entre o crescimento individual da pessoas e o seu caráter social dever ser compreendida em seu desenvolvimento e o indivíduo, como um ser espontâneo e criativo, que necessita do outro para desenvolver sua personalidade e seu senso de si mesmo e assim desempenhar os vários papéis que lhe cabem dentro do se grupo (família, escola, trabalho etc.). Recomendações Desdobramento do EU - Nessa técnica o ego-auxiliar coloca-se ao lado do protagonista procurando adotar ao máximo a atitude postural e efetiva deste cuja missão é expressar todos aqueles pensamentos sentimentos e sensações que por uma ou outra razão, o protagonista não percebe ou evita explicitar. Inversão de Papeis - Se propõe em trocar o papel com que o protagonista esta fazendo comseu interlocutor ou interlocutores. Solilóquio - Consiste em dizer em voz alta o que esta pensando em relação ao dialogo que se desenrola ou relação a outro tema que ocorra no individuo naquele momento. Espelho - E uma técnica onde o protagonista e imitado pelo ego-auxiliar em todos os seus movimentos. Auto-apresentação - Representação de simples personagens em situações da vida do protagonista. Interpolação de Resistência - E a modificação por parte do diretor da cena proposta pelo protagonista E a modificação por parte do diretor da cena proposta pelo protagonista. Realização Simbólica- Consiste na realização de acontecimentos não reais que simbolizam outros acontecimentos. Sem Palavras - São alegorias que consistem na representação plástica de uma situação, de um estado de animo de uma fantasia com a utilização São alegorias que consistem na representação plástica de uma situação, de um estado de animo de uma fantasia com a utilização de sons Sociodrama - nessa técnica o protagonista é o grupo. O que se trabalha é o grupo e suas relações com outros grupos. Muito útil em trabalhos de grupo já formados ou grupos comunitários em formação. Psicodança - Através da dança com ou sem música o protagonista comunica, expressa conflitos, estados de ânimo, situações, cultura. Psicodrama de Marionetes- é uma técnica complementar na atuação em grupo 115 Alguns jogos são válidos para atuações mais operativas nas sessões psicodramaticas voltadas a educação em saúde que ilustramos fomentados por via da experiência das autoras:Encontro Humano: Equação Básica: Eh=(Dn+Rn); Inicialmente solicita-se a todos os presentes se organizarem em pares, seguindo-se que fiquem de costas um para o outro; orientado pela psicodramatista devem se voltar para o seu par e manifestar um gesto de acolhimento; segue-se um desafio de ―Desencontro‖força física e de ―Reencontro‖ abraços. Nesse movimento se reflete sobre gesto humano, expressão corporal, atitude acolhedora; além de resgatar as dimensões do encontro humano a partir dos referencias pessoais, grupais familiares, profissionais; e na relação que se estabelece entre os sujeitos, no dialogo possível que acontece.O gesto humano de acolhimento, o bom olhar, o mau olhado. Escala hipotética de distancias. As dimensões assistivas cuidativas, e cultura de proximidade e distância, são importantes situações que emergem nessa dramatização. Aquecimento- É solicitado ao grupo se organizar em circulo seguindo-se a solicitação de realizar movimentos corporais que envolvesse a mobilidade de articulações, flexibilidade do corpo que eram facilitados através de comandos do tipo: enrijecer músculos, relaxar músculos, agachar, levantar, movimentar e flexionar pés, mãos, braços, pescoço, cabeça, olhos, boca, entre outros. O corpo como espaço concreto da ação humana; mobilidade corporal e plasticidade cerebral; concepção de leveza;ruptura de práticas culturais de cuidado ao corpo e superação de estilo de vida sedentário; necessidade de apoio bibliográfico sobre corpo, saúde, atividade física Construir disposições e desejos de colocar o corpo como espaço de vivência e aprendizagem do autocuidado Promover o aquecimento grupal para iniciação dos elementos de acolhimento e interação grupal; Ritual de vivencias sensoriais- através de contatos com diversas texturas: Terra, Bila, Algodão, Bombril, Bolinhas de isopor, Mel, Grãos de vários tipos, Artefatos de sons, água, gelo, perfumes, frlores, plantas com aromas diversos Inicialmente coloca-se a disposição dos presentes em pequenos recipientes recursos para a vivência de contatos humanos com diferentes estímulos sensoriais;. Vivência corporal de uso dos sentidos em sua dimensão plural; resgata a dimensão sensorial na vivência do cuidado a saúde. Refletir sobre o uso e desuso dos sentidos humanos nos contatos cotidianos do autocuidado/cuidado;Reconhecer a importância da dimensão do tato toque: afetivo-expressivo,(maximização dos afetos familiares) Toque Instrumental,(contatos profissionais) TT (Toque terapeutico) revitalização de campo energético. Exercitar a escuta sensível , qualificada, terapêutica. Exercitar o contato Ocular e comportamento ocular no cuidado, o olhar passageiro, prolongado, o rastreamento do olhar, a soma do tempo dedicado a 116 olhar o outro. Vivenciar experiências de culturas de Odor, olfato, cheiro- MQE(mensageiros Químicos Externos). O odor: Biológico, culturas do odor, a importância do odor como indutor do autocuidado/cuidado. Danças circulares: Sagradas, Rodas, Cirandas, Toré, Em se definido a escolha sobre a dança circular para a vivência, solicita-se ao grupo que se organize em círculo e inicie os movimentos corporais que compõem o tipo de dança escolhido.Cada uma delas tem um significado no contexto da educação em saúde uso de técnicas de vivencias populares sagradas que se organizam em torno de circularidades, movimento de plasticidade corporal e mental e vivencias de práticas sagradas;resgatar através da dança concepções de vida, sentidos e significados mais concretos .e resgate de musicas sagradas da vivencia comunitária Restaurar o ser humano brincante de cada um dos participantes;Recuperar a memória cultural através das letras de musicas sagradas e rituais de cuidado com uso de danças sagradas; a experiências de rituais e cerimônias de construção do cuidado pela valorização de cuidado e cura de inspiração espiritual; a experiências de rituais e cerimônias de construção do cuidado pela valorização de cuidado e cura de inspiração espiritual; Eu sou um copo Eu sou uma chave - É entregue a cada participante uma figura contemplando dois espaços com um copo e uma chave. Cada participante poderá escolher uma dessas figuras (chave ou copo). Ao tomar a decisão sobre a escolha o participante faz uma narrativa sobre a opção escolhida contexto do tema sugerido pessoas, família, grupos e comunidades. Revela formas de empoderamentos para o exercício de escolhas cotidianas resgata a dimensão simbólica no desvelamento da subjetividade no contexto do cuidado, demandas e arranjos tecnológicos de dimensões educativas de promoção do bem estar além de ampliar competências no uso de tecnologias educativas que articula a sensibilidade para práticas educativas edificantes e emancipatorias. (Díade) Com universos temáticos selecionados para a dramatização como:Promoção da Saúde, Prevenção da Saúde, Educação em saúde, Participação e Mobilização Social, solicita-se aos presentes se organizarem em duplas(díades). Após esse momento solicita-se a construção de marcos conceituais que orientam as práticas de educação em saúde/educação popular em saúde para construir diálogos construção e sistematização de ideias numa dimensão colaborativa cooperativa dramatizadas. Pensar práticas educativas contextualizadas a partir de referencias técnico cientificas, metodológicos e que articule a participação e o apoio popular como base do 117 direito a saúde e o controle social. Construir marcos referenciais de práticas de cuidado considerando a educação em saúde e educação popular em saúde. BINGO é colocado a disposição dos participantes uma cartela de bingo, ao mesmo tempo em que é solicitado aos participantes colocarem o nome de pessoas do grupo em cada casela. Ao final as oficineiras, iniciam a jogada, chamanda os nomes de acordo com os participantes do grupo ate que feche o bingo. Ao final abre-s a reflexão É colocado a disposição dos participantes uma cartela de bingo, ao mesmo tempo em que é solicitado aos participantes colocarem o nome de pessoas do grupo em cada casela. Ao final as iniciam a jogada, chamanda os nomes de acordo com os participantes do grupo ate que feche o bingo. Ao final abre-s a reflexão restauração das dimensões brincantes no espaço educativo reconstrução de elementos de inteligência como memória, abstração Identificar lideranças ou forças individuaisno grupo Constituir elementos de memorização de nomes através de significados da vida cotidiana do grupo. Sociodrama- considerando temáticas as mais diversas :Família,linguagem., Prática, Vivência, Dialogo, pluralidade, Cultura, Virtude, Alegria, prazer, Humor, Criatividade, é distribuído textos que tratam de aspectos relevantes de educação em saúde, educação popular em saúde é solicitado aos leitores a construção de dramatizações que representem as leituras realizadas e motivação do dialogo pelos temas levantados. Recuperação da cultura da leitura pelo caminho dos autores selecionados, como também narrativas, crônicas apresentando linguagens que representem a vida cotidiana com seus gracejos e humor; leitura da vida do mundo. Necessidade de identificar leituras que seja adequadas ao contextos em que se pretende contextualizar o universo da experimentação. Realçar as concepções dialéticas da educação e alguns princípios que orientam essa prática. Resgatar os princípios da educação de aprender a aprender, fazer, conviver e ser; Compreender sobre os tipos de tecnologia a serviço do cuidado(Tecnologia Leve, Leve-dura, Dura), Campo e Núcleo de Prática. Jornada das estrelas - É entregue primeiramente a cada participante um desenho em uma folha de papel oficio de duas estrelas sendo que uma dentro da outra com espaço entre elas de aproximadamente um centímetro.Também é entregue um espelho retangular com largura aproximada da folha de papel oficio; Em seguida se solicita a cada participante colocar a estrela sobre uma superfície plana e o espelho em posição horizontal de modo a que as estrelas sejam vistas, a seguir com uma caneta e olhando as estrelas através do espelho fazer o percurso no espaço entre as duas estrelas. Material simbólico e ruptura de paradigmas sobre as formas de 118 construir caminhos; formas de construção de percepções com uso da gestão da tecnologia e sensibilidade para as descobertas; necessidade de apoio bibliográfico sobre imagem refletida, referencial, modelo, conceito Promover a reflexão da construção de práticas de educação em saúde a partir de referências conceituas de teorias e modelos já postos:Circulo de cultura de Paulo Freire,Grupo operativo de Pichon Rivière, Oficinas educativas de Fayga Ostrower; Grupo de encontro de Calr Rogers; Psicodrama de Moreno e psicodrama pedagógico de Romana. A força das mãos- Foi solicitado ao grupo fazer um circulo e fazendo uma roda encontrar algumas formas de entrelaçamento com uso de mãos , dedos e braços representada na forma de abordagem grupal e circular e uso do corpo como forma de legitimação da atitude acolhedora e cooperativa; uso da força física e regras previamente pensadas para conseguir o entrelaçamento de braços e mãos; a dimensão corpórea como marco da existência humana biológica e representação concreta de ocupação de espaço num determinado território. Construir culturas de grupo pela aprendizagem corpora; Vivenciar cultura da repetição não pelo condicionamento mais na perspectiva de construir releituras de mundo pelo visto e vivido. Refletir sobre o novo, a novidade a mesmice na vivência cotidiana. Refletir sobre o corpo como recurso da experiência do vivido em ato presencial.Pensar as formas em que o poder muda de mãos. Laço humano- Foi solicitado aos participantes ficarem de pé e fazer um circulo unindo as mãos; logo a seguir o psicodramatista solicitou que todos soltassem as mãos, observando que tínhamos que memorizar quem estava a nossa direita e esquerda; fazia com que todos caminhasse pelo espaço e a partir de um indicação pedia que todos parassem e procurasse a pessoa que estava a nossa direita e esquerda e pegassem em sua mão; o nó ficava construído e o grupo ia desfaze-lo sem soltar as mãos. O laço representa o nó fácil de se desfazer, mais exige uma base cooperativa para sua construção. Seguir regras sem uma relação de mando. necessidade de memorização e obediência a regras predeterminadas. Refletir sobre o fenômeno grupal a vida em grupo e sua dinâmica, sua estrutura. Pensar nas normas e regras estabelecidas para a vivência e os mecanismos de poder pessoas e institucional.Experienciar abordagens grupais onde o poder muda de mãos.Aprender a compreender os mecanismos biológicos que viabiliza aspectos de memória e outras capacidades de articulação e conexões mentais. Coro e coreografia de nomes- Foi solicitado aos participantes se organizarem em circulo, forma que oportunizava a todos se verem uns aos outros sem dificuldades; a seguir foi solicitado que cada participante declinasse seu nome ao mesmo tempo em que fazia um movimento uma coreografia que era repetida ao mesmo tempo por todos os participantes. Ao dar prosseguimento o participante seguinte repetia 119 o que o participante anterior tinha feito e fazia sua própria apresentação e assim sucessivamente com todos os participantes. Necessidade de vivenciar experiências de encontro e aquecimento do grupo;necessidade de exposição dos participantes para falar de si mesmo; numa repetição criativa necessidade de regras onde todos os participantes estavam sujeitos; Exposição de artefatos e materiais educativos- O momento e de exposição, onde se faz uma bancada com apresentação de matérias e artefatos que podem ser utilizados nos processos de educação popular/educação em saúde:Jogos educativos;Vivencias teatrais/dramatização;Portifolio;Material de textura(lixa, algodão, bombril, areia, pedra, massas,);Materiais sensoriais(mel, ervas de cheiro, sons, coeres)Fantoches; Mamulengos; Dedoches;Bonecos; Exposição para visibilidade de produtos, matérias e artefatos que servem como estimulo ao dialogo em situações de educação em saúde; os próprios produtos como matéria de expressão com criatividade; Descrição de etapas de construção e de uso dos produtos. Possibilitar ferramentas para o desenvolvimento de habilidades na construção de produtos, materiais e artefatos para mediar processos dialógicos educativos. O jogo da moeda - Solicita-se ao grande grupo se dividirem em dois subgrupos, organizando-se um de frente para o outro como se estivesse em uma quadrilha junina. A cada subgrupo é entregue uma moeda de um real e após um aviso do facilitador se inicia o jogo; a moeda terá que passar por cada um dos participantes, mais por dentro da roupa toda. Jogo das Amarras. Fora da sala o grupo é reunido e o oficineiro amarra os participantes de cada sub grupo. Em seguida solicita aos grupos entrarem na sala que esta organizada com vários bombons e chocolates espalhados pelo chão. A seguir solicita que o grupo recolha esses produtos sem, no entanto tocar com os pés em qualquer um deles. Caso isso aconteça o grupo é eliminado. No final se conta o número de bombons e ganha aquele grupo que consegue o maior número. Após será feito um compartilhamento das experiências vividas. Capa de Livro- É colocado vários materiais expressivos como papel fantasia, cola colorida, glíter, areia prateada entre outros. Solicita a cada participante que cada um é um livro e com esse material vai construir a capa do livro e por sua vez se apresentar através dela. Guia de cego - O grupo é comandado por um líder e todos os membros do grupo não podem falar (é colocado um coração na boca de cada um) para que não possa interferir durante todo o percurso da música Cada pessoa fecha; em seguida os olhos que serão protegidos por uma venda; em seguida cada um vai se movimentando e vai procurando a porta de saída. 120 Palhaçaria - Coloque a disposição dos participantes materiais que podem ser utilizados para composição de uma vivencia integrativa a partir da personagem palhaço. experiências de releitura da dimensão da fala na relação cuidativa/assistiva, como forma concreta e individual da pessoa na expressão das situações limites da vida cotidiano. Check- list- Foi solicitado aos participantes construir uma lista dehabilidades no campo da educação em saúde considerando sua aplicabilidade a indivíduos e coletividades, no cotidiano do trabalho centrado na família. No momento seguinte foi sistematizada uma lista de competências e habilidades no contexto da educação em saúde no cuidado a família. Produção colaborativa a partir da sistematização das experiências singulares dos participantes, consolidando a ideia de sujeito do processo em construção; Recuperação da historia de vida dos participantes e construção de uma releitura dos fatos e eventos no contexto atual. Apoio necessário de bibliografia sobre sistematização/produção Refletir sobre competências e habilidades no contexto das práticas de educação em saúde, educação popular em saúde;Construir visibilidade sobre competências e habilidades necessárias a formação do educador em saúde.Compreender as competências e habilidades enquanto campo e núcleo de prática profissional.Desenvolver habilidades de utilização de tenologias/metodologias no trabalho com famílias. Referências BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Civilização Brasileira. RJ. 2005. BOAL, Augusto. 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Goiana, 1992 122 CAPÍTULO 12 Gestal’terapia: aspectos Históricos e Pressupostos Filosóficos Angela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Leila Memória Morais Maria Lúcia Pinheiro Garcia da Silva A escolha do referencial que serve de base para a sistematização da assistência de Enfermagem, usando como recurso a abordagem grupal, foi emergindo lentamente e antecedida de muitos avanços e recuos. Buscando um embasamento teórico-metodológico para a sistematização da prática que nos propomos realizar, aprofundamos nosso contato com os fundamentos da gestalt‘terapia. A opção de fazermos a relação da sistematização da prática com a gestalt‘terapia ocorreu porque entendemos que essa abordagem retrata e compõe o que desenvolvemos durante todo o processo grupal, o que se materializou quando ocorreu grande identificação nossa com o conhecimento apreendido no contato mais aprofundado com as bases teóricas. As sessões de grupo desenvolvidas nesta pesquisa foram analisadas à luz do referencial teórico da gestal‘terapia. Daí desenvolvermos um tópico que situa o leitor sobre esta abordagem e mostrarmos que um grupo de abordagem gestáltica oferece a possibilidade de uma experiência com várias pessoas, pela seu caráter imediato, pelo convite a experienciar, aqui-e- agora, o fenômeno e propiciar um alargamento do horizonte consciencial. Tal fato faz com que a experiência do fenômeno transferencial possa ser vivida pelos componentes do grupo. A gestalt‘terapia surgiu no início da década de 50 do século XX, das reflexões de Frederick Salomon Perls (FritzPerls), médico, psicanalista de origem judaica, nascido em Berlim em 1893. Em 1926, trabalhou com o psicólogo Kurt Goldstein, precursor da Psicologia gestáltica, adotando seus fundamentos. Em 1930, esteve em contato com Wilhelm Reich, incorporando à sua prática o significado dos processos físicos dos doentes psíquicos. Durante a década de 1940, com a ascensão do nazismo, Fritz Perls emigrou da Alemanha para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde, juntamente com um grupo de intelectuais lá, desenvolveu a gestalt‘terapia (GINGER e GINGER, 1995). 123 O primeiro livro, publicado em 1942 por Fritz Perls, antes mesmo do nascimento da gestalt‘terapia, foi The Ego, Hunger and Aggression, onde condensou sua crítica à Psicanálise de Freud. O novo modelo psicoterapêutico teve seus fundamentos sistematizados em 1951, no segundo livro intitulado Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality, em que Ralph Hefferline e Paul Goodman foram co-autores. Nessa obra, o termo ―gestalt‘terapia‖ foi usado como titulo pela primeira vez (YONTEF, 1998). A gestalt‘terapia, cujo principal pensador foi Fritz Perls, foi desenvolvida pelo chamado Grupo dos Sete, nos Estados Unidos, formado originalmente por Fritz Perls e Laura Polster Perls (esposa de Fritz), Paul Goodman, Isadora From, Paul Weisz, Elliot Shapiro e Sylvester Eastman. Outra personalidade de destaque desse grupo foi Paul Goodman, intelectual, anarquista e crítico literário, que passou a fazer parte do primeirocírculo que se reunida em torno de Fritz e Laura, e que, junto com Ralph Hefferline, foi coautor do segundo livro de Perls. Ralph Hefferline era professor da Universidade de Columbia e fez experiências com seus alunos usando com exercícios de ―terapia da concentração‖, descrevendo os resultados e aspectos teóricos, compondo a primeira parte do livro (TELLEGEN, 1984). Foi Perls que manteve a denominação gestalt-therapy, apesar da discordância de alguns de seu grupo. Laura acreditava que teriam dificuldades com os representantes da gestat-psicologia acadêmica. Goodman achava o nome esotérico e Hefferline sugeria como alternativa a denominação Terapia Integrativa. Após o lançamento do segundo livro em 1951 e da fundação, em 1952, por Laura e Fritz, do Gestalt Institute of New York, a nova abordagem terapêutica iniciava sua história (TELLEGEN, 1984). A gestalt‘terapia (bem como o movimento humanístico e a antipsiquiatria dos anos 1960) rejeitou a ideia de diagnóstico por acreditar ser ele mais um rótulo limitante do que um instrumento a serviço do processo psicoterapêutico. Ela tem por base o enfoque dialógico de Martin Buber, que enfatiza a relação como fundamental tanto no processo de desenvolvimento quanto no terapêutico. Ampara-se na ideia de funcionamento saudável e não saudável como fenômenos interativos e toma o diagnóstico como algo dinâmico que acompanha a complexidade do processo psicoterapêutico e se reconfigura constantemente ao longo deste, da compreensão de cada cliente em sua singularidade existencial. Em 1962, em período de reflexão sobre sua prática, Perls fez uma viagem ao redor do mundo, ficando dois meses em um mosteiro budista de Kioto no Japão, e um mês em um Kibutz de Israel. Em 1964, ele radicou-se em Esalen (Califórnia), o mais conhecido centro do movimento do 124 potencial humano e por onde passam milhares de pessoas em busca de novas experiências de vida e expressão pessoal em arte e ciência, filosofia oriental, conscientização sensorial, comunicação interpessoal, entre outras. Foi lá que Perls, durante cinco anos, ensinou gestalt‘terapia em programas de duração variável. Seu terceiro livro, publicado em 1969, Gestalt Therapy Verbatim, resultou da transcrição de palestras, seminários e sessões terapêuticas dessa época. Foi também lá que escreveu a autobiografia. Novamente em 1969, aos 76 anos, Perls mudou de país para formar uma comunidade gestáltica, uma espécie de Kibutz, no Canadá. Essa mudança, em parte, foi motivada por sua convicção de que a experiência de vida comunitária supera qualquer tipo de terapia, em parte por problemas e insatisfações em Esalen e, finalmente, pela situação política vigente nos Estados Unidos na época da Guerra do Vietnã, interpretada por Perls como um fascismo estadunindense. Foi assim que surgiu o Gestalt Institute of Canadá, onde Perls passou os últimos meses de vida. Nessa época firmava-se a convicção de que sua abordagem gestáltica estava sendo reconhecida em muitos centros importantes dos Estados Unidos, como indicavam inúmeros convites que recebia para proferir conferências. Perls faleceu em 14 de março de 1970, quando estava preparando mais um livro, The Gestalt Approach to Therapy, publicado em 1973. A gestalt‘terapia ainda não foi totalmente explorada, principalmente pela diversidade de suas origens epistemológicas, que envolvem, além dos autores já citados, também o pensamento de Heráclito de Éfeso, Wilhelm Dilthey, Friedrich Nietzsche, Franz Brentano, Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty, Wilhelm Reich e do próprio Freud, e ainda de outros campos, como a Filosofia Oriental. A gestalt‘terapia resultou de várias tendências culturais, filosóficas e psicológicas que, no período pós-guerra, revelaram novos paradigmas. O desenvolvimento e evolução da gestalt‘terapia se confundem com a própria caminhada de Perls. As várias contribuições teóricas e filosóficas recebidas por Fritz Perls que se tornaram formadoras da gestalt‘terapia foram a Psicologia da gestalt, a fenomenologia, a Teoria de Campo, de Kurt Lewin,e a Teoria Organísmica Holística. Além destas, os antecedentes pessoais de Perls mais importantes são a Psicanálise (Freud e Reich) e as filosofias orientais, em especial o Zen- Budismo e o Taoísmo. Segundo Ribeiro (1985), os antecedentes pessoais de Fritz Perls 125 confundem-se com a própria gestalt‘terapia1. Em seguida discorremos sobre os fundamentos e influências de algumas dessas correntes sobre a gestalt‘terapia. A psicologia da gestalt A Psicologia da gestalt ou Psicologia dos Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas (Gestalten, plural de gestalt) surge como ciência nos EUA, nos anos 50 do século XX, em protesto contra a tentativa de se compreender a experiência psíquicoemocional por meio de uma análise atomístico-mecanicista tal como proposta por Wundt - na qual os elementos de uma experiência são reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada um destes componentes é peça estudada isoladamente, ou seja, a experiência é entendida como a soma das propriedades das partes que a constituem, assim como um relógio é constituído de peças isoladas. Para os psicólogos da gestalt, porém, a totalidade possui características muito particulares que vão muito além da mera soma de suas partes constitutivas. Com o apoio de pesquisas sobre percepção e comportamento realizadas por psicólogos destacados, como Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, esses autores defendiam a ideia de que o organismo não poderia ser compreendido desde o estudo de suas partes isoladas, mas, somente como uma totalidade autônoma, irredutível e com leis próprias. Kohler (1968) ensinava que o funcionamento de cada elemento depende da estrutura do conjunto e das leis que a regem. Nos primeiros anos do governo nazista na Alemanha, dois dos fundadores da Psicologia da gestalt, Wertheimer e Köhler, o primeiro por ser judeu e o outro por se ter posicionado oficialmente contra o nazismo, deixaram a Alemanha. Ocuparam postos em universidades dos Estados Unidos: Wertheimer, na New School for Social Research em New York; Köhler, no Swarthmore College, perto de Filadélfia. Em 1935, Koffka publicou um livro que contém a parte teórica e as principais pesquisas da Psicologia da gestalt, o qual foi traduzido para diversas línguas, entre as quais o português (KOFFKA, 1975). No campo prático, a Psicologia da gestalt foi desenvolvida por Kurt Lewin e Kurt Goldstein. No espaço terapêutico, a Psicologia da gestalt foi desenvolvida posteriormente por Fritz Perls, Paul Goodman e Ralph Hefferline. O substantivo alemão gestalt tem dois significados um tanto diferentes: um representa forma e o outro indica uma entidade concreta que possui entre seus vários atributos a forma. É o 1 Uma excelente complementação à história da gestalt’terapia está disponível em: GINGER, S.; GINGER, A.Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: SUMMUS, 1995. 126 segundo significado que os gestaltistas do grupo adotaram. A tradução da palavra gestalt não existe nas outras línguas e a melhor maneira encontrada pelos próprios gestaltistas ao escrever em idiomas diferentes é simplesmente mantê-la (ENGELMANN, 2002). A palavra gestalt é melhor traduzida como todo, inteiro, disposição ou configuração. O todo sempre é mais que a soma de suas partes. Estamos imersos em todos, em gestalts, das quais, em níveis diferentes, tomamos maior ou menor consciência. A experiência só chega até nós de modo completo, quando ela é experimentada como um todo, ainda que este todo seja apenas um esboço da realidade do ser como tal. Para compreensão deste todo, é necessário que se descubra e se conheça a relação entre suas partes, pois estas estão em íntima e dinâmica relação com o todo (RIBEIRO, 1985; MARTINS, 1995). A gestalt tenciona que a pessoa se torneela mesma o quanto possível, pois gostamos e procuramos profundamente a sensação de completeza, plenitude e unicidade. A abordagem gestáltica é essencialmente realística e integrativa, pois considera o lado escuro e regressivo do ser humano, bem como seu natural impulso para a saúde, a felicidade e autoatualização. Além disso, não nega as raízes irracionais da raiva, da inveja, do medo, seja no plano individual ou grupal. A abordagem gestáltica é baseada na absoluta e inseparável unidade da experiência corporal, envolvendo linguagem, pensamento e comportamento. A análise terapêutica é necessariamente um caminhar consciente nessas fronteiras e entre essas fronteiras. Fenomenologia Os psicólogos que desenvolveram a teoria da gestalt na Alemanha, nos estudos sobre os processos de constituição da percepção e da consciência, buscaram desenvolver uma psicologia de cunho especificamente fenomenológico. Eles inspiraram-se nas ideias de Edmund Husserl, formulador das principais críticas ao psicologismo. Seu postulado fenomenológico básico foi a noção de intencionalidade, contrapondo-se à filosofia positivista do século XIX e presa à visão objetiva do mundo. Husserl afirmava que a fenomenologia é o retorno à experiência vivida, é voltar ―às coisas mesmas‖, tentando descrever o fenômeno, sem necessariamente explicá- lo ou apreender as relações causais (TELLEGEN, 1984). A fenomenologia é um método que estuda a constituição da consciência, postulando o entendimento de que não se pode dissociar sujeito e objeto, isto é, existe correlação intrínseca entre sujeito e objeto, que se dá simultaneamente. Isso cria a correlação necessária entre consciência e mundo, entre sujeito e objeto. É um esforço de conhecimento do mundo que parte, 127 especificamente, da experiência; experiência e consciência do sujeito na relação imediata com o objeto. Para a fenomenologia, não existem as causas e os efeitos, existe o vivido tal como ele é. Sua proposta é fazer uma ciência que possa partir do subjetivismo humano. A gestalt‘terapia utiliza o conceito da fenomenologia de organismo. Quando refere que um organismo está regulado, em harmonia com sua natureza, ele se comporta espontânea e naturalmente. Não existe um esforço em planejar ou em fazer. Quando estamos no ponto de equilíbrio, temos energia para ir a qualquer direção, sem investir em opções ou em tentativas de manter o ponto morto (imóvel). Supõe uma posição consciente (awareness) e um movimento de interesse e engajamento para estender esse estado a outras direções e possibilidades. É algo dinâmico, de observação atenta à própria possibilidade de criar que surge a cada instante. É uma sensação de inteireza, é estar inteiro em cada situação vivenciada. A palavra inglesa awareness não tem equivalente em português, tendo um sentido mais amplo do que consciência, chegando a ser um processo de conscientização do presente e que envolve todo o organismo. O estar-consciente (to be aware) é ter consciência da própria atenção, da própria consciência. É um olhar de partes internas entre si. É como se nada mais pudesse perturbar o que está dentro. É se preparar para que ocorra o insight, quando ocorrer. Awareness é definida como o fluir perceptual de uma figura a outra numa viva progressão, como determinada pelas necessidades. O adequado funcionamento da awareness mostra o estado de saúde de um indivíduo. A awareness é viva, pelo assinalar não só da formação, mas do acabamento, do finalizar da gestalt. A awareness é a percepção dos eventos do campo indivíduo-meio com total suporte sensório-motor, emotivo, cognitivo e energético. É estar em contato com. A awareness traz a figura relativa à necessidade dominante presente no organismo. É acompanhada de um conhecimento tanto da situação como da maneira como a pessoa está nela. É no aqui-e-agora que há mudança e autotranscendência. Isso significa dizer que nem todos os insights são significativos. Para que o sejam, precisam corresponder aos pontos citados. A awareness significativa provoca, induz uma mobilização para o crescimento, um ajustamento criativo, das necessidades emergentes. A consciência é o atributo de um sujeito no mundo. A consciência da própria consciência só ocorre no contato real, na relação que ultrapassa o imediatismo do fenômeno, e cria pontes essenciais entre seres que se convidam para a unidade, onde, tendo em vista a diversidade, há muitas possibilidades para se chegar à autoregulação. 128 Segundo Ribeiro (1985), o método fenomenológico consiste de uma descrição sistemática da experiência imediata, tendo como objetivo apreender sua estrutura essencial. Centra-se em facilitar ao cliente o dar-se conta do mundo existencial presente no aqui e no agora que o rodeiam. A experiência imediata vivência imediata representa o momento de entrada na realidade, contém a chave do passado e do futuro e responde às questões mais sutis de como o tempo se concretiza e o espaço se temporaliza. Isso é o fenômeno. A gestalt‘terapia como aprendizagem existencial fenomenológica está atenta a duas coisas: aos limites frequentes e necessários para que a pessoa possa se situar no mundo, não se violentando, e à sua criatividade, ensinando-a a lidar consigo própria, de modo a encontrar dentro de sua realidade total a resposta efetiva às suas perguntas. A teoria de Campo, de Kurt Lewin Kurt Lewin, em sua Teoria de Campo, desenvolveu um esquema para explicar as interações humanas, baseando-se nos princípios da topologia, e estabeleceu uma teoria dinâmica da personalidade centrada na ideia de campo psicológico que mantém interdependência com múltiplas forças sociais. Daí resultou uma metodologia de trabalho chamada de pesquisa-ação, na qual o individuo é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto em estudo. Kurt Lewin traz conceitos retirados da Física do campo magnético, para descrever os fenômenos da existencialidade social do ser humano. Alguns conceitos destacados são coesão, atração e equilíbrio de forças, procura de uniformidade. Com base neles, cria a ideia do ‖grupo como um todo dinâmico, uma gestalt que não é só resultado da soma dos seus integrantes, mas possuidora de propriedades específicas enquanto um todo‖ (LEWIN, 1975: 83). Kurt Lewin elaborou uma teoria da personalidade com base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, onde estipula que o comportamento do indivíduo resulta da configuração de elementos internos num espaço vital, que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num dado momento, ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir num certo instante, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo. A teoria lewiniana é uma teoria estrutural, cujos conceitos de pessoa, meio e espaço e espaço vital são fundamentais. Lewin descreve três princípios usados na gestalt‘terapia: o da conexão ocorrente pela interação de dois fatos, o da concretação, que afirma que só os fatos concretos no espaço vital podem produzir efeitos, e o da contemporaneidade, segundo o qual só os fatos presentes podem criar um comportamento atual. A gestalt não trabalha com o ontem nem com o amanhã. Ela traz 129 o ontem e o amanhã para o aqui-e-agora, porque, neste contexto, as forças dinâmicas do campo podem ser mais bem trabalhadas, visualizadas e operacionalizadas. A Teoria de Campo de Lewin enfatiza que não se pode compreender o comportamento sem se considerar os fatores externos e internos à pessoa, uma vez que estes interagem na determinação desse comportamento. Kurt Levin descreve a realidade como um grande campo de forças, como um todo dinâmico, concreto e limitado caracterizado por constituir uma complexa rede de relações entre as partes. A análise das partes componentes desse todo permite uma descrição explicativa e sistêmica dos eventos que nele ocorrem, ou seja, como a mudança em uma das partes altera o todo. Emboratais mudanças se produzam constantemente no campo, pois se trata de uma realidade dinâmica, todavia, ele possui algo que o identifica (RIBEIRO, 1985). Perls buscou na Teoria de Campo de Lewin inspiração para maior compreensão do processo da aprendizagem e dos processos de grupo. Ele utiliza os conceitos da Teoria de Campo quando assinala que a pessoa deve ser vista como um todo, ou seja, seu comportamento só se torna compreensível desde sua visão dentro de um determinado campo com o qual ela se encontra em relação. O campo é uma noção dinâmica. As ações dentro do campo são momentâneas em virtude das forças e da relação entre elas, operando dentro do campo, a exemplo das noções de figura e fundo, que se sucedem e sobrepõem. Os campos, em um dado momento, são múltiplos, funcionando como sub-regiões do espaço vital. No seu espaço vital, a pessoa é sua expressão e revela a relação estabelecida entre sua realidade espacial e existencial. Em um dado momento, poderá assumir tantos comportamentos quantas forem as possibilidades de combinação entre as sub-regiões do meio e a esfera intrapessoal. Teoria Organísmica Holística O pioneiro e precursor filosófico da moderna Teoria Organísmica ou Holística do século XX foi Jan Smuts, militar e estadista inglês, autor do livro Holism and Evolution, escrito em 1926. Smuts exerceu grande influência sobre vários cientistas e pensadores, tendo cunhado o termo holismo da raiz grega holos, que significa todo, inteiro, completo, embora as verdadeiras bases da concepção holística venham de muito antes, desde Heráclito, Pitágoras, Aristóteles, Goethe. 130 Um dos maiores expoentes do pensamento holístico foi Kurt Goldstein, que se tornou internacionalmente conhecido com o livro The organism e como representante da Teoria Organísmica. Ele formulou a Teoria Holística da Psique com o apoio em estudos e observações clínicas realizados em soldados lesionados no cérebro durante a I Guerra Mundial, e de estudos sobre distúrbios de linguagem. De suas observações, Goldstein concluiu que um determinado sintoma não pode ser compreendido ou reduzido a uma simples lesão orgânica localizada, mas como tendo características e/ou fortes reforços ou abrandamentos do organismo como um todo, como um conjunto integrado, como um holos e não como um conjunto de partes mais ou menos independentes. De acordo com Tellegen (1984), para Goldstein, o corpo e a mente não podem ser vistos como entidades separadas, pois ambos só se expressam na conjunção, na união íntima. O organismo é uma só unidade e o que ocorre em uma parte afeta o todo, como já era reconhecido pela Medicina homeopática e pelas artes da cura não ocidentais, como na medicina chinesa, e na sabedoria das tradições populares. Goldstein desenvolveu duas noções importantes, figura e fundo, como os principais conceitos estruturais explicativos do organismo. As leis do organismo são as leis de uma totalidade dinâmica, que harmoniza as diferentes partes que constituem esta totalidade. Portanto, é necessário descobrir as leis segundo as quais o organismo inteiro funciona, para que se possa compreender a função de cada um de seus componentes, e não o inverso. É este o princípio básico da teoria organísmica ou holística em saúde, principalmente em Psicologia. Goldstein acreditava que os sintomas eram uma interferência do meio sobre a organização do todo, ou eram, em menor grau, consequências de anomalias internas. De qualquer forma, porém, a tendência intrínseca ao equilíbrio dinâmico poderia levar o indivíduo a se adaptar à nova realidade, desde que existissem os meios apropriados para isso. Assim, Goldstein via em todo ser vivo uma tendência de autorealização, que significaria um esforço constante para a realização das potencialidades inerentes aos seres vivos, mesmo que havendo um meio hostil. Assim, a teoria holística é centrada no ciclo das necessidades homeostáticas. Este conceito é retomado por Perls (1977: 34) para a gestalt‘terapia: A formação de uma gestalt, a emergência de necessidades, é um fenômeno biológico primário. Assim, abolimos toda a teoria do instinto e consideramos o organismo simplesmente como um sistema que está em equilíbrio e que deve funcionar adequadamente. Qualquer desequilíbrio é experimentado como 131 necessidade a ser corrigida. A situação mais urgente emerge, em qualquer caso de emergência, você percebe que ela prevalece sobre qualquer outra atividade. Portanto, chegamos agora ao fenômeno mais importante e interessante de toda patologia: auto-regulação versus regulação externa. Os conceitos da Teoria Organísmica ou Holística utilizados na gestalt‘terapia são: aqui-e-agora, figura-fundo, autorregulação, totalidade. Aqui-e-agora não é apenas um conceito espaciotemporal, é também um conceito filosófico, pois assinala um modo de conceber a realidade e de lidar com ela. É algo existencial, onde a própria natureza do desejo está em causa. É um conceito holístico que envolve totalidade, enquanto é uma gestalt cheia, plena. Gestalticamente, a realidade é aqui-e-agora. Para que um ato se plenifique, ele tem de ser possível aqui-e-agora. Se só o aqui ou só o agora for factível, a realidade estará necessariamente incompleta. É a junção dos dois que cria a possibilidade da plenitude, do encontro total. A visão holística dá importância à autopercepção presente e imediata que um indivíduo tem de seu meio. As pessoas com características neuróticas, de acordo com Perls, são incapazes de viver no presente, pois carregam cronicamente consigo situações inacabadas (gestalts incompletas) do passado. A atenção é, pelo menos em parte, absorvida por essas situações e as pessoas não têm nem consciência nem energia para lidar plenamente com o presente. A gestalt‘terapia é um modo de agir, de conceber a realidade com base nas necessidades de cada ser humano. Estamos ligados ao discurso do cliente, ao que ele fala e ao que ele quer. A necessidade organiza o campo porque é ela que provoca e mantém a dinâmica de sucessão entre figura e fundo. A diferenciação figura-fundo é o processo pelo qual entramos em contato com nossas necessidades, dizendo para nós o que é emergente. A pessoa (organismo) se expressa ora como figura ora como fundo. A figura é tudo aquilo que emerge do fundo e o diferencia. A figura é, portanto, o que se destaca como a principal atividade do organismo. O fundo se apresenta como uma realidade contínua, que circunda a figura e lhe dá limites. Uma figura, embora destacada do fundo, mantém-se ligada a ele e recebe dele sua origem e explicação. Surgem sempre figuras quando o organismo inicia uma atividade diferente e, dependendo do que se vai fazer, a natureza do organismo faz surgir um tipo ou outro de figura. 132 Existem aqueles para quem satisfazer as necessidades é sempre uma figura e aqueles para quem é um fundo. Em algum lugar, esses dois movimentos se encontram, numa convergência que cria a estabilidade do comportamento e permite sua identificação ao longo do tempo. Grupos na gestalt’terapia As referências sobre gestalt‘terapia neste tópico é a síntese das consultas feitas aos seguintes autores: Perls (1977, 1988), Ribeiro (1985, 1994, 1999), Rodrigues (2000) e Polster e Polster (2001). A gestalt‘terapia deve ser concebida como uma abordagem relacionada com a necessidade do organismo em se satisfazer e se completar totalmente. A gestalt‘terapia vê a pessoa como um organismo com processos fisiológicos, psicológicos, sociológicos e espirituais que ocorrem no contexto de um campo total. Estes processos não acontecem isoladamente. As pessoas dependem da interação organismo-ambiente para se nutrirem. Isto é contato: eu, você, o ambiente, nós dois e o ambiente. Isto na gestalt‘terapia é grupo. A condução do grupo em gestalt‘terapia exige conhecimentos de Fenomenologia, Teoria do Campo e Teoria Holística. Estasteorias constituem um tripé que serve de suporte para a condução do grupo numa visão humanístico-existencial. A gestalt‘terapia está atenta às necessidades das pessoas. É uma dinâmica de permeabilidade entre figura e fundo. É um processo semelhante à compulsão de repetição. A contínua repetição de um processo é sinal de que uma figura quer emergir ou que algo do fundo quer emergir, tornando-se figura. Um ambiente sadio, reflexivo, permite que isso ocorra e as pessoas podem lidar com essas mesmas realidades inacabadas e antigas, permitindo que venham à tona, no calor do presente. Nessa situação, as pessoas podem tomar consciência do que é antigo e do que é novo na repetição e estabelecer um contato direto com a emoção e com a pessoa que, naquele momento, estimula seu aparecimento. O contato, portanto, é restabelecido, as fronteiras ficam claras e visíveis e nelas cessa a perturbação. Tudo o que acontece aqui-e-agora está acontecendo aqui-e-agora, embora neste aqui-e-agora haja fragmentos do passado. A presença intelectual e emocional do fenômeno produz a awareness, que, por sua vez, restaura o equilíbrio perdido. O grupo é o lugar marcado do encontro, pois nada mais diferente do que as pessoas de um grupo, quando ele começa. Pode-se sentir de caráter provisório da consciência nessa fase inicial. É como se a consciência quisesse saber, predispor e recuasse à espera de que as coisas se façam 133 inteligíveis, encontrem nexos, formem totalidade. Se não impedirmos que esse encontro ocorra e se aprofunde, ele ocorrerá e se aprofundará infalivelmente. Não o meu encontrar ou o encontrar dele, mas o nosso encontro. Não predispomos, não determinamos o fenômeno. Ele, simplesmente é, e tomamos consciência dele e com ele estamos e acontecemos. O grupo é reverente diante da grandeza e do mistério que a realidade encerra, a qual o convida a postar-se diante do ser na compreensão e na contemplação de uma busca que nem sempre tem resposta, porque a chegada da totalidade pode ser de forma casual. O ser humano busca a totalidade. O inacabado, o incompleto é sua angústia fundamental. Existe em nós uma tendência ao completo, ao perfeito, à unidade total e absoluta. Por mais precário que alguém se sinta, dentro dele não se extingue a chama pela totalidade, pela perfeição. Isso significa olhar a realidade como um todo. Somos atraídos pelo belo, pelo perfeito. Essa atração, no entanto, está sujeita ou é proporcional ao nível de emoções com que as coisas nos chamam. O grupo nos dá a percepção de limites, a sensação da diferença, do contato, sem o que o encontro não ocorre. Viver e experienciar um grupo terapêutico é a arte de formar o igual, o semelhante, a com suporte nas diferenças. No grupo, as pessoas se mostram de forma natural, espontânea, sem necessidade de usar máscaras. Assim como o indivíduo tem internamente um comando para autorregulação, para a autodeterminação organísmica, assim também o grupo. Tudo o que acontece no grupo é rico de significação; nada é neutro. Tudo é uma forma de linguagem. Essa linguagem ou forma de significação pode ocorrer em dois níveis: como uma percepção sensorial ou como uma reflexão intuitiva. O grupo é um fenômeno cuja essência reside no seu poder de transformação, no seu poder de escutar, de sentir, de se posicionar, de se arriscar a compreender a significação da vida e do ato de responsabilizar-se. O grupo se transforma em um contínnum de cura, descobrindo, a cada momento, sua capacidade autorreguladora, seu movimento intrínseco para a totalidade, funcionando como matriz de mudança, em que cada um de seus membros colhe, na atmosfera grupal, força para a solução de seus conflitos, compreensão do mistério do outro e garantia de que ninguém está só neste universo. O ser humano pertence necessariamente, ao mesmo tempo, a diversos grupos. Em um determinado grupo, seu comportamento não será resultado só de sua relação intragrupal, mas sim intergrupal, ou seja, ele é o produto da dinâmica de vários grupos a que pertence. 134 Referências FONSECA, A . H. L. Grupo: fugacidade, ritmo e forma. São Paulo: Ágora. 1988. FRITZEN, Silvino José Jogos dirigidos: para grupos, recreação e aulas de educação física. 22ed. Petropólis, Rj. VOZES. 1987. GINGER, S.; GINGER, A . Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: SUMMUS, 1995. GOMES, A C. do Vale. Nossa Cartilha de dinâmicas. 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Com base nesta compreensão, analisamos algumas das consequências da Reforma Psiquiátrica brasileira sobre o cuidar do paciente em sofrimento mental grave na família. A Reforma Psiquiátrica, no Brasil, é um movimento histórico de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos dominantes. Sua práxis faz parte do cotidiano de muitos profissionais em saúde mental. Tem como uma das vertentes principais a desinstitucionalização com consequente desconstrução do manicômio e dos paradigmas que o sustentam. A substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas e a cidadania do doente mental são objetos de discussão não só entre os profissionais de saúde, mas também em toda a sociedade (SILVA, 2008). Um novo modelo vem sendo edificado a partir da contribuição de vários segmentos da sociedade e implica a desconstrução literal do modelo hegemônico. A Reforma Psiquiátrica vem se desenvolvendo no Brasil há várias décadas, mais precisamente a partir do final dos anos 70. O movimento aponta as inconveniências do modelo que fundamentou os paradigmas da psiquiatria clássica e tornou o hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a exclusão dos doentes mentais em todo o país. De acordo com o conceito defendido pela Reforma, a desinstitucionalização não se restringe à substituição do hospital por um aparato de cuidados externos, envolvendo 136 prioritariamente questões de carátertécnico-administrativo-assistencial, como a aplicação de recursos na criação de serviços substitutivos. Envolve questões do campo teórico-conceitual, jurídico-político e sociocultural. Exige, de fato, que haja um deslocamento das práticas psiquiátricas para práticas de cuidado realizadas na comunidade. Segundo Gonçalves (2001) as consequências da Reforma Psiquiátrica refletem de forma diretamente sobre a família do doente mental, principalmente sobre as pessoas que são responsáveis pelo cuidado. Conceituada como desospitalização, sem as condições necessárias para viabilizar uma proposta de ressocialização e de reabilitação, refletindo de forma negativa sobre a família, pois é nesta que se dá o enfrentamento com a realidade cotidiana do cuidado ao doente mental atribuído ao cuidador familiar. A reforma psiquiátrica no Brasil vem configurando-se como um movimento com diferentes graus de adesão e entendimento por parte dos profissionais e de alguns segmentos da sociedade. Segundo Silva (2008) o que se espera da Reforma está muito além da transferência do doente mental para fora das instituições psiquiátricas, condicionado a viver em casa a sua própria sorte. Espera-se a reintegração deste sujeito com a família e sociedade. Vários estudos enfatizam a sobrecarga enfrentada pela família no que concerne à convivência com pessoas em sofrimento mental grave. Esse é atribuído principalmente à ocasião da alta hospitalar, fato desencadeante de atitudes como, incompreensão familiar e rejeição, as quais são motivadoras de reinternações sucessivas ou de internações permanentes. Consoante, pesquisadores defendem a necessidade de ajuda de profissionais da saúde mental no que tange à função familiar (KOGA, 2002; SOUZA, 2002; COLVEIRO, 2004; BANDEIRA, 2005; PEGARARO, 2006; SADIGURSKY, 2008). Porém, é comum os profissionais de saúde mental exigirem da família a aceitação da doença sem, muitas vezes, oferecer-lhe orientações ou suporte. Segundo Gonçalves (2001) não é mais aceitável estigmatizar, excluir e colocar em reclusão ―os loucos‖, ou reduzir a Reforma Psiquiátrica à devolução destes às famílias, como se estas fossem capazes de resolver a problemática da vida cotidiana mediante as dificuldades geradas pela convivência, pela manutenção e pelo cuidado com o doente mental. Isto levaria a uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da sociedade para com o doente mental. Por fim, é notória a necessidade de revisões das práticas de saúde mental em todos os níveis, para viabilizar a tomada de posturas mais críticas dos órgãos formadores de profissionais, principalmente, os da saúde e da educação. 137 Especialistas no assunto recomendam, nos casos dos quadros agudos, a curta permanência da internação e o desenvolvimento extra-hospitlar do restante do tratamento, o que faz com que o doente mental retorne à casa, à família e à sociedade (COLVEIRO, 2004). Minha escolha em atuar na área de saúde mental iniciou-se antes do ingresso no curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). Na elaboração deste projeto, escolhi desenvolver um tema relacionado com minha identidade profissional. Essa identificação se deu pela convivência pessoal cotidiana com um familiar em sofrimento mental grave, com várias internações psiquiátricas, causando alterações no cotidiano de minha família, acarretando sobrecargas de ordem financeira, nas atividades domésticas, nas responsabilidades e no adoecimento físico-psicológico de seus membros. A presença de uma pessoa em crise e/ou sofrimento mental grave produz inúmeras mudanças no seio da família. Além disso, a escolha do tema do estudo, também, é justificada pela escassez de políticas de saúde voltadas para a clientela em questão. O reinternamento desse familiar referido era inevitável devido às condições estruturais inadequadas, e falta de apoio profissional para seu cuidado. Dessa maneira minha família era obrigada à reinterná-lo garantindo, dessa forma, sua integridade física e proteção. No entanto, nós, enquanto família, negligenciávamos sua autonomia e cidadania. Dessa forma, adoecíamos psico-fisiológicamente com a sobrecarga de trabalho vivenciada, sendo necessária a procura de serviços especializados para tratamento de toda a família a qual, no momento apresentava transtornos afetivos (depressão e ansiedade). Nesse contexto fomos levados ao Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (MSMCBJ). O qual posteriormente transformou-se em CAPS. Segundo Contel e Villas-Boas 2009, existem grupos de apoio a multifamiliar em hospital- dia psiquiátrico aplicando psicoterapia de grupo aos familiares dos pacientes que se encontram em tratamento. Estes grupos visam apoiar a família durante o tratamento. Entretanto, podemos constatar que os enfermeiros estão buscando novas referências que possam subsidiar sua prática em saúde mental, e é nesse contexto que podemos refletir a criação de grupos inovadores para prestação de serviços aos familiares de pacientes em sofrimento mental grave em locais estratégicos como no próprio CAPS durante as consultas dos pacientes, igrejas, colégios municipais, centros comunitários, ou em outros locais importantes onde se possa utilizar a escuta como intervenção terapêutica na formação de grupos de escuta, sala de conversa ou outra modalidade de grupo onde se possa ser enfocado sofrimento psíquico desses familiares. Temos, 138 portanto, o desafio de construção de grupos que enfoque a família como elemento fundamental no cuidado com o cliente, refletindo a repercursão do cotidiano desses familiares. Trago neste capítulo a reflexão de é reduzida abordagem existente na literatura direcionada à assistência à família de pacientes em sofrimento mental grave, egressos de internações psiquiátricas, bem como dos resultados obtidos com a terapia familiar comunitária na qualidade de vida da população assistida. Tal fato representa uma lacuna importante, em virtude da escassez de parâmetros para ampliação de políticas de saúde voltadas a essa clientela e formulação de diretrizes que orientem a atenção à família nos serviços de saúde mental atuais. O novo contexto atual a família está a se deparar com o tratamento de seu familiar portador de transtorno mental não mais centrado no hospital psiquiátrico. Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Persona, 2004. BANDEIRA, M.; BARROSO, S. M. Sobrecarga das famílias de pacientes psiquiátricos. J. Bras. Psiquiatr., v. 54, n.1, p. 34-46, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. 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Acessado em: 20.02. 2010. 140 CAPÍTULO 14 Grupos Terapêuticos Angela Maria Alves e Souza Os grupos inicialmente na historia do mundo foram destacados após a 2ª guerra mundial quando necessitava de atendimento para um número maior do que era possível atender por profissionais que tinham algum conhecimento sobre sofrimento mental. Os grupos foram se formando pelos profissionais qualificados para ouvi-los e encorajá-los a falar sobre suas vidas. E assim o método de grupo tornou-se cada vez mais eficaz, surgindo às terapias de grupo que repercutia nas pessoas, muito mais do que o atendimento individual. É possível que estes efeitos estejam ligados ao papel dos coordenadores de grupos simulando um ambiente familiar no qual os líderes se assemelham aos pais e os participantes com os irmãos. Para realizarmos um grupo terapêutico é importante iniciaremos conhecendo nosso cliente com por meio de sua história de vida, de cada participante, para que possa ser avaliado o comportamento individual do cliente, como durante a terapia no contexto do grupo.Para que aja avaliação durante as primeiras sessões grupais do grupo, podemos avaliar o conteúdo verbal proferido no local do grupo, assim como os processos do grupo, observando os aspectos de onde os membros estão distribuídos quanto aos lugares que se sentam; quem fala com quem e sobre o quê; tons de voz usados pelos membros. Disponibilidades referidas quanto as respostas às normas dos grupos; congruência entre o conteúdo verbal e o processo; como são desenvolvidos as funções dos papéis assumidos pelos membros; evolução da coesão do grupo. Com a avaliação do grupo e dos membros é importante que se trace metas a serem alçadas utilizando para isto um planejamento com seus participantes, isto é que cada participante possa conhecer para que o grupo será de cura de ajuste de ajuda para que se possa prescrever o que o coordenador possa ajudá-lo a alcançar suas metas naquele grupo formado. Como exemplo, Issac( 1998) prescreve algumas dicas que o terapeuta deve estar atento em suas intervenções , junto com os membros do grupo estabeleça metas realistas, assim como critérios para a evolução final desejada para o grupo. Estimular que os membros do grupo vão demonstrar sentimento de grupo e interesse por membros individuais; que os participantes do grupo possa focalizar o objetivo identificado relacionando ao tipo de grupo específico e à tarefa específica. 141 A Implementação de um grupo será definida por cada fase , na fase de orientação o terapeuta terá que ser diretivo e ativo , estabeleça um contrato para os encontros e as relações, promovendo normas produtivas e a coesão do grupo, como incentivando a comunicação e a exploração de sentimentos e opiniões; tenha atenção ao feedback terapêutico; comentários que possam estar estimulando comportamentos que melhoram ou prejudicam o processo construtivo do grupo; Ajude os membros individuais e o grupo a avaliar os comportamentos. Já na fase operacional é importante assumir o papel de consultor e facilitador, reconhecendo conflitos em identifique-os e explore significados. Deixando que grupo possa lidar de modo construtivo com conflitos e problemas. Reduzindo e avaliando com o grupo a examinar o impacto de panelinhas, bodes expiatórios, faltas e comportamento passivo-agressivo, quando aplicável. Na a fase de término o terapeuta deve assumir o papel de apoio mais direto, elaborando com os participantes a verbalizar e explorar sentimentos e pensamentos sobre o término do grupo; Encorajando a avaliação do progresso do grupo e de membros individuais; ê aos membros tempo adequado para lidar com o término; encaminhe aqueles cujas necessidades não foram atendidas pelo grupo para avaliação e atendimento adicionais, quando apropriado. Na Evolução do grupo e individual observar se o grupo apresenta coesão; os membros demonstram dedicação compartilhada e responsabilidade pelo grupo; se as normas são produtivas e aceleram o desenvolvimento emocional dos membros. Como estão distribuídos os papéis de manutenção e tarefas do grupo; se há comunicação entre os membros e não apenas entre o líder e os membros; se a liderança é compartilhada entre os membros. Também observar o desenvolvimento dos participantes se cada um demonstra maior capacidade de comunicação., se apresenta maiores capacidades de resolução de problemas; se cada um possa relatar lidar melhor com os problemas da vida. Independente da metodologia de abordagem de grupo, todas tem um princípio norteador comum: gerar o desenvolvimento e a aprendizagem nos membros a partir da realidade vivenciada. No processo de avaliação ou impacto, é preciso que se verifique como o grupo se encontra no momento após a investigação e intervenção. Os resultados devem ser analisados:A abordagem grupal é um modo de assistir em saúde, em que o enfermeiro se torna um profissional autônomo, conhecedor dos benefícios à natureza humana, bem como dos seus limites teóricos e práticos. 142 GRUPOS TERAPÊUTICOS Existem vários tipos de grupos terapêuticos, por exemplo: 1. Psicoterapia de grupo que pode focalizar, por exemplo, a reconstrução da personalidade; compreensão e consciência de si mesmo; remotivação; resolução de problemas; reeducação e apoio. 2. Grupos de auto-ajuda (dirigidos pelos próprios membros do grupo) podem proporcionar: melhoras do comportamento; aceitação; redução do estresse; auto-estima e manutenção da integração social. 3. Grupos terapêuticos podem destinar-se a proporcionar prevenção; educação; apoio; intervenção em crises; entre outros. Alguns detalhes importantes na condução do grupo dados por Ponciano (1995 ) para realização de um Grupo terapêutico . O homem enquanto ser social encontra-se circundado e inserido nos mais diversos tipos de grupos (familiar, trabalho, lazer, educacional, religioso,...) nos quais participa, contribui e procura reconhecimento enquanto pessoa.Estamos sempre em relação, independentemente de nossa vontade. O modo como entramos em relação com o mundo fora de nós é altamente significativo. A realidade é sempre dinâmica, envolvendo a mim e o ambiente. Viver e experienciar um grupo terapêutico é a arte de construir o igual, o semelhante, a partir das diferenças. No grupo, as pessoas terminam por se mostrar intensamente, sem necessidade de máscaras. O cara a cara facilita o encontro com a verdade. O lugar da terapia, o setting, é importantecomo local de energia. O lugar é, por si só, uma sala, uma matriz de energia, que é imediatamente captada pela pessoa. A sala deve produzir uma sensação de segurança, privacidade, aconchego, um lugar de encontro. A ornamentação deve ser sóbria, adequada. A sala não deve ser nem grande, nem pequena demais. A distribuição física das pessoas na sala é altamente simbólica. Há aqueles que ocupam sempre os mesmos lugares e se sentem incomodados, quando alguém ocupa o "seu" lugar. Mais cedo ou mais tarde, isso será objeto da fala grupal. O próprio terapeuta pode, às vezes, mudar os móveis, cadeiras ou almofadas, o que facilita o rodízio de lugares. 143 Duração da sessão A sessão terapêutica deve durar de noventa a 120 minutos, isso dependerá do tamanho do grupo. A sessão tem horário fixo para começar e terminar. O terapeuta deve ser pontual, ainda que os membros do grupo se atrasem. Esporadicamente, se admitam exceções, ligadas, sobretudo, à intensidade de um trabalho grupal ainda em curso e que técnica, ética e pessoalmente pareça conveniente não ser interrompido. Composição do grupo Grupos com características de homogêneas ou heterogêneas. Há terapeutas que acreditam que a integração e equilíbrio se deva que os participantes, isto é que eles tenham semelhanças (homogeneidade) quanto a idade, diagnósticos médicos e até, mesmo sexo, alguns defendem que estas semelhanças não garantem que os participantes possam interagir com fluidez, mas há outros que não acreditam que o grupo equilibrado com pessoas com características variadas. É possível incluir pessoas com inteligência ou habilidades verbais para que a comunicação seja eficaz. Quanto ao pagamento da terapia deve está incluído no contrato do grupo. Se nós enfermeiros e outros profissionais da saúde podemos entender o grupo como um espaço para expressão de pensamentos e sentimentos e de trocas de experiências, seguramente ele poderá servir-nos como um agente transformador, que possibilitará mudanças. Assim, quanto mais existir uma atitude acolhedora e solidária entre os membros, maiores serão as chances do desenvolvimento de potencialidades individuais e coletivas. São os grupos que possibilitam a complementação das habilidades e a potencialização dos talentos humanos. É no espaço grupal que os membros podem compartilhar os seus sentimentos, viver a sua afetividade, aprender, influenciar e ser influenciado. Por estas razões sempre houve e haverá o interesse genuíno dos ―técnicos‖ em pesquisar e desvendar os fenômenos grupais na sociedade e nas organizações. Os alvos de interesse centralizam-se basicamente em três componentes significativos e essenciais: as relações interpessoais, a tarefa e a vinculação entre relações interpessoais/tarefa. O papel do coordenador torna-se então imprescindível já que a sua forma de atuação implicará substancialmente nas construções grupais e conseqüentes resultados para as organizações. 144 O coordenador passa a ser o fio condutor e responsável pela quantidade e qualidade das interações, devendo atuar em três processos: Investigação – conhecer o grupo e avaliar o momento grupal; Intervenção – utilizar-se de técnicas que melhor se adeque ao momento grupal e aplicá-las. Vale lembrar que não serão as técnicas em si que garantirão o sucesso do coordenador e do trabalho de grupo, e sim a sua forma de atuação e como se utiliza das técnicas para alcançar os objetivos pré-determinados. A flexibilidade neste processo é um dos pré- requisitos para que o coordenador possa lidar satisfatoriamente com a imprevisibilidade dos conteúdos que emergem nos grupos. Independente da metodologia de abordagem de grupo, todas tem um princípio norteador comum: gerar o desenvolvimento e a aprendizagem nos membros a partir da realidade vivenciada. No processo de avaliação ou impacto, é preciso que se verifique como o grupo se encontra no momento após a investigação e intervenção. Os resultados devem ser analisados: Para realização de um grupo terapêutico é necessário ser autentico em suas crenças, pois cada coordenador carrega em si sua conduta de ver o mundo isto é, expectare, respeitar o seu modo de ser e de agir de si e do outro. Quando se organiza um grupo terapêutico o coordenador traz dentro de si, suas melhores características como amor a grupo e ser genuíno no que desempenha. Terapêutico significa ―cuidar‖ quando interajo, acolho, apoio, compreendo oriento entre outras ações que desenvolvo como coordenador do grupo. O grupo necessita ser leve, ter a sutil diferença em acolher e receber aquela pessoa que for buscar ajuda para resolução de conflituosas ou de sofrimento mental ou físico, para que alguém busque ajuda é preciso ser muito verdadeiro e humilde o suficiente em acreditar que outros poderão ajudá-lo naquela dificuldade apresentada. Temos que ter o cuidado de não sermos conselheiros nos grupos terapêuticos as pessoas de nosso grupo vivenciará somente aquilo o qual tem sua estrutura psicológica para desenvolvê-la isto é, cada um terá seu ritmo próprio e o tempo específico para chegar aonde deseja chegar para melhoria ou manutenção de seu status quo. Nossa experiência com grupos tem nos mostrado que mesmo com todo empenho dos coordenadores, cada participante só irá aonde seu desejo o suporta, ou cabe em sua vida, não adianta apressar o fechamento de gestalt, cada uma delas só se fechava no dia, horário e local escolhido para tal etapa de vivência com atualização de possibilidade. 145 TIPOS DE GRUPOS TERAPÊUTICOS Quadro A : Adaptação dos Tipos de terapia de Grupo ( Kaplan H; Sadock, B. Compêndio de Psiquiatria : Ciências Comportamentais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993.pp 996 Parâmetros Terapia de grupo de apoio Terapia de grupo analiticamente orientada Psicanálise de grupo Terapia de grupo transacional Terapia de Grupo comportamental Freqüência 1 vez por semana 1 a 3 vezes por semana 1 a 5 vezes por semana 1 a 3 vezes por semana 1 a 3 vezes por semana Duração Até 6 meses 1 a 3 anos ou + 1 a 3 anos ou + 1 a 3 anos Até 6 meses Indicações primárias Transtornos psicóticos e neuróticos Transtornos neuróticos, estados bonderline transtornos personalidade Transtornos neuróticos, transtornos de personalidade Transtornos neuróticos e psicóticos Fobias, passividade, problemas sexuais Entrevista de avaliação individual Geralmente Sempre Sempre Geralmente Geralmente Conteúdo da comunicação Fatores ambientais primários Situações vitais presentes e passadas intra e extra grupo Primariamente experiências vitais, passadas relacionamentos intragrupo Primariamente relações intragrupo; raramente história passada, ênfase no passado, ênfase no aqui- e-agora Sintomas específicos, sem enfocar a causalidade Transferência Transferência encorajada para positiva promover melhor o funcionamento Transferência positiva e negativa evocada e analisada Neurose de transferência é evocada e analisada Incentivo de relacionamento s positivos, análise de sentimentos negativos Incentivo dos relacionamentos positivos, nenhum exame da transferência Sonhos Não analisados Freqüentemente analisados Sempre analisados e Encoraja das Raramente analisados Não utilizados Dependência Dependência intragrupo encorajada; membros confiam muito no líder Dependência intragrupo, dependência do líder variável Dependência intragrupo não encorajada, dependência do líder variável Dependência intragrupo não encorajada, dependência do líder variável Dependência intragrupo não encorajada; confiança no líder é alta Atividade do terapeuta Fortalece defesas existentes, ativo, dá conselhos Desafia as defesas, ativo, dá conselhos ou resposta pessoal Desafia as defesas, passivo, não dá conselhos ou respostas pessoais Desafia asdefesas, ativo, dá mais respostas pessoais do que conselhos Cria novas defesas ativo e diretivo. Interpretação Nenhuma interpretação do conflito inconsciente Interpretação de conflito inconsciente Extensiva interpretação de conflitos inconscientes Interpretação dos padrões atuais de comportamento no aqui-e-agora Não utilizada Principais processos grupais Generalização; teste de realidade Coesão; transferência, teste de realidade Transferência, ventilação, catarse, teste de realidade Ab-reação, teste de realidade Coesão, reforço, condicionamento Socialização fora do grupo Encorajada Geralmente desencorajada Desencorajada Variável Desencorajada Objetivos Melhor adaptação ao ambiente Moderada reconstrução da dinâmica da personalidade Extensiva reconstrução dinâmica da personalidade Alteração do comportamento através de mecanismo de controle de consciência Alívio de sintomas psiquiátricos específicos 146 CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS TERAPÊUTICOS As abordagens de um grupo terapêutico ira se determinante pela formação acadêmica dos profissionais que conduzirão as pessoas para o crescimento pessoal, desenvolvimento das relações interpessoais, estabelecimento de cura, fechamento de gestalt‘s que poderão ter o formato de acordo com a necessidade de cada participante de seu grupo. O grupo terapêutico como técnica, o terapeuta do grupo pode adotar algumas posições no grupo: I.Terapia individual em grupo: O indivíduo fala seu problema ou tema, o terapeuta lida com ele. Os outros participantes escutam em silêncio, com o término da explanação, a terapia é continuada com outra pessoa. II.Terapia de grupo: o terapeuta e o grupo se envolvem com uma única pessoa ou com um assunto. O terapeuta conduz o caso, e os membros do grupo podem intervir. Após a sessão grupal, pede-se ao grupo que falem livremente expressando seus sentimentos a respeito do ocorrido. III.Terapia do grupo: Neste modelo, o grupo é visto como um todo, como uma unidade em tratamento. Curar o grupo é curar cada um dos seus membros. Este caso é o mais difícil, mais complexo porque o processo do grupo é visto como a soma dos processos individuais, e o terapeuta deve ter a capacidade de sempre induzir o tema principal a partir das colocações individuais e devolvê-lo ao grupo como uma produção sua. É o tipo mais eficaz e eficiente. Esses três modelos poderiam ocorrer até em uma sessão, como três momentos vividos pelo grupo, mas o que freqüentemente acontece é que o modelo número I pode ocorrer, mais no início das terapias do grupo, o modelo II mais para o meio quando o grupo já está familiarizado, e o modelo III, quando o grupo já tem mais relações interpessoais e intrapessoal. Uma questão prática é como e quando se decidir por um dos modelos ou se isso ocorre espontaneamente. É preciso muita sensibilidade do terapeuta para respeitar a necessidade do grupo. Ele tem o papel de catalizador e intermediário nesse e desse processo. É por meio dos grupos que cada ser humano se percebe como ator social de mudanças em seu mundo interior e exterior. É dando forma ao que observa em seu espelho de vida que estará ligado a várias redes de grupos de pessoas com objetivos diferentes. Referências Que no grupo possa alguns terapeutas crêem que é benéfico a configuração do grupo que pelo menos dois participantes possam ter o papel de co-terapeuta sendo atribuídos a função de 147 um focar no conteúdo expresso, e o outro estar atento o processo do grupo. Processo grupal – desenvolvimento do grupo ocasionado pelo crescimento da integração e interação. Conteúdo – expressão dos discursos produzidos no grupo Taylor (1992) expõe que cada grupo, assim como cada indivíduo passa por fases diferentes de desenvolvimento. Sugiro aqui que seja feito um diário de campo com o registro de cada sessão grupal. REGISTRO DE CADA SESSÃO GRUPAL Data:___________________________ Sessão número:_________________ Hora: _______________Início Hora: _______________Término Participantes: 1__________________________________ 11________________________________ 2__________________________________ 12________________________________ 3__________________________________ 13________________________________ 4__________________________________ 14________________________________ 5__________________________________ 15________________________________ 6__________________________________ 16________________________________ 7__________________________________ 17________________________________ 8__________________________________ 18________________________________ 9__________________________________ 19________________________________ 10_________________________________ 20________________________________ YALOM, 1970 VINOGRADOV, YALOM, ( 1992) estudaram vários fatores terapêuticos . universalidade, instilação de esperança, busca de coesão grupal, catarse, altruísmo, oferecimento de informações, comportamento de imitação, recapitulação corretiva do grupo familiar primário, aprendizagem interpessoal e desenvolvimento de técnicas de socialização. HOGE & MCLOUGHLIN (1991) destacam os cinco primeiros fatores - universalidade, instilação de esperança, coesão grupal, catarse e altruísmo - e acrescentaram mais dois fatores terapêuticos relevantes: auto-conhecimento e desenvolvimento de responsabilidade consigo próprio (self- understanding e self-responsibility). SCHEIDLINGER (1997) acrescenta ao fator terapêutico de universalidade, o sentimento de pertencer ou o de ser acolhido. As técnicas estratégias terapêutica s e atividades da abordagem em específico são desenvolvidas para dar ênfase nos fatores terapêuticos grupais e assim alcançar seus objetivos (HOGE & MCLOUGHLIN,1991). 148 OBSERVAÇÃO DOS FATORES TERAPEUTICOS 1 oferecimento de informações 2 Instilação de esperança 3 Universalidade 4 Altruísmo 5 Reedição corretiva do grupo familiar primário 6 Desenvolvimento de técnicas de socialização 7 Comportamento imitativo 8 Aprendizagem interpessoal 9 Coesão do grupo 10 Catarse 11 Fatores existenciais REFERENCIAS MAY, K.A . 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Através de seus estudos, observações e pesquisas, Reil chegou ao princípio de continuidade entre psique e soma; corpo e alma, tendo afirmado: ―O ser humano tem um psicológico, uma receptividade química e mecânica/física; tendo sido esta confiável, mas não mais‖. Em 1803, publica o livro ‗Rhapsodieen über die Anwendung der psychischen Curmethode auf Geisteszerrüttungen‘ (Rapsódias sobre a aplicação dos métodos de cura aos Transtornos Mentais), no qual, se usando de poemas, canções e prosa, colocou em pauta o ‗louco‘ existente e 2 Na Grécia antiga, no século V antes de Cristo, encontramos relatos da utilização terapêutica da arte em Epidauro, às margens do Mar Egeu, no santuário de Asclépio, deus da medicina. Neste local, os indivíduos enfermos assistiam a apresentações teatrais e musicais e contemplavam manifestações artísticas diversas, depois à noite, recolhiam-se para a prática da “incubação”, que era a possibilidade de receber uma indicação das divindades, pela via do sonho, e nesta comunicação encontrar uma chave para transformar a situação que havia gerado a doença (PHILIPPINI, 2004, p.13). 2 Figura 1. Johann Christian Reil. Fonte: (Wikipedia, 2018) 151 desenvolveu suas próprias propostas de reforma, tendo nisso, além de solicitado o estabelecimento de hospitais conectados com cadeias de psiquiatria para o atendimento dessas pessoas – que, através dele, haviam sido reconhecidas como enfermas e necessitadas de tratamentos médicos –, demonstrado e sugerido, também, maneiras completamente novas de tratar as doenças mentais, abrangendo técnicas além das cruéis, austeras e arbitrárias práticas então vigentes na época [baseadas principalmente na chamada ―Schocktherapie‖, que consistia em um tratamento paradoxal e mal elaborado, oriundo de uma releitura distorcida do tratamento moral de Pinel, onde se utilizavam de potentes estímulos físico ou químicos – submersão, quedas, chicotadas, máquinas giratórias, sangrias, banhos frios, drogas – que visavam provocar intensas reações psicológicas, autonômicas, hormonais ou humorais (psicotrauma) como gatilhos para a ―reorganização‖ mental normal] e alcançando técnicas psicoterapêuticas, como o psicodrama; Nesse percurso, Reil estruturou um protocolo terapêutico com finalidade de cura psiquiátrica em que se utilizou de várias formas artísticas, como desenhos, sons e textos, para o estabelecimento de uma comunicação com conteúdos internos destes pacientes, consistindo isso, por sua vez, nas origens da sistematização da arte como processo terapêutico. Contudo, foi apenas a partir da primeira metade do século XX que a arteterapia conseguiu se estabelecer como campo específico do conhecimento, principalmente através das ações e trabalhos publicados pela educadora norte-americana Margaret Naumburg (1890-1983), co- fundadora da Associação Americana de Arteterapia e uma das primeiras teóricas da Arteterapia nos EUA, única, até então, na época, a usa-la como elemento primário no tratamento, em vez de uma ferramenta auxiliar a outras terapias. Tudo isso, posteriormente, lhe conferiu o título de ―mãe da Arteterapia‖. Em 1930, começou seus trabalhos e pesquisas envolvendo a aplicação da arte como elemento terapêutico, período a partir do qual deu início ao desenvolvimento de programas de arteterapia para doentes psiquiátricos baseando-se no princípio psicanalítico freudiano do determinismo psíquico, onde, de acordo com este, inexiste fenômeno psíquico sem significação ou ―acidental‖; e que elementos provenientes de camadas mais profundas da psique teriam Figura 2. Margaret Naumburg. Fonte: (Resende, 2015) 152 mais facilidade a emergir à consciência através de símbolos pictóricos do que por palavras, como comprovado por Freud na teoria dos sonhos. Desse modo, Naumburg acreditava que a expressão artística favorece, por via simbólica, a projeção de conteúdos inconscientes, podendo servir como mediadora do dialogo entre o terapeuta e os conteúdos mais internos dos seus clientes. Na década de 1940, Naumburg procurou treinamento em psiquiatria no Hospital Bellevue, Estados Unidos, tendo, entre 1941 e 1947, trabalhado no Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, onde teve a oportunidade de desenvolver seu método de diagnóstico e terapia baseada na arte livre, de onde resultou, por sua vez, a publicação de uma série de estudos de caso e terapia na instituição e lhe conferiu bases para a estruturação de sua maior contribuição à comunidade de Arteterapia: sua própria metodologia – marcadamente pautadaem um viés psicanalítico –, cuja a mesma denominou de Terapia com Arte Dinamicamente Orientada. Esta é baseada no princípio de que os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem vêm do inconsciente e que a arte é a mediadora capaz de orientar, de forma dinâmica, a elaboração, pelo sujeito, de uma linguagem simbólica, através da qual se torna possível estabelecer uma ponte entre consciente e inconsciente. Desse modo, usou a arte como meio para os clientes projetarem visualmente seus conflitos, independente de qualquer treinamento ou aptidão artística por estes. Naumburg insistiu que a única interpretação válida da arte só pode vir do próprio criador e, apesar de sua metodologia ser fundamentada na teoria psicanalítica freudiana, era cética sobre abordagens simples ou rígidas de significado simbólico (em sua opinião, consistentes com o ensino de Freud sobre análise dos sonhos) devendo, segundo ela, o arteterapeuta evitar comentar os trabalhos artísticos para impedir entraves e vieses no processo expressivo/criativo e apenas direcionar e estimular a descoberta do significado simbólico das produções pelos próprios clientes, tendo ainda afirmado que ―quando os ensinamentos de arte são rotineiros, desencoraja esforços de expressão espontânea e criativa, forçando os alunos‖ (Naumburg, 1973, p. 137). A autora escreveu sobre suas filosofias e métodos em quatros livros: Uma Introdução à Arteterapia; Arte Esquizofrênica: seu significado em psicoterapia; Arte Psiconeurótica: sua função em psicoterapia e Terapia com Arte Dinamicamente Orientada: Seus princípios e práticas. No final da década de 1950, Margaret desenvolveu e aplicou os primeiros cursos de terapia artística na New School for Social Research e na New York University. Como produto de toda investigação e trabalho investidos, ao longo de seu percurso histórico a arteterapia gradualmente foi conquistando espaço e reconhecimento meio à 153 comunidade científica e se consolidou como uma prática terapêutica que, desprovida de preocupações estéticas, propõe o uso de recursos artísticos como meio para se obterem representações simbólicas de conteúdos intrapsíquicos de um indivíduo, servindo de instrumento de intervenção profissional para a avaliação, prevenção, tratamento, reabilitação e promoção da saúde e qualidade de vida deste mesmo. Abrangendo hoje as mais diversas linguagens artísticas (música, dança, teatro, literatura e, principalmente as artes plásticas), ela se configura como um poderoso canal da subjetividade humana, ampliando as possibilidades de expressão e indo além da abordagem terapêutica tradicional, cuja é baseada na linguagem verbal, que por sua vez é suscetível ao crivo da racionalização que acompanha o discurso – seja ele oral ou, principalmente, quando escrito.3 A abordagem utilizada na arteterapia, além de possibilitar diferentes referenciais teóricos para fundamentar a sua prática, dispõe ao cliente diferentes técnicas expressivas (como a pintura, o desenho, a modelagem, a dramatização, a poesia, a música, etc.) para que, através delas, ele tenha como possibilidade a catarse emocional – de forma direta e sem intencionalidade –, projetando seus conteúdos internos e resultando num símbolo (pintura, desenho, escultura, drama, poema, canção, etc.), o qual posteriormente poderá ser submetido à análise. De acordo com Valladares e Carvalho (2006), as intervenções de arteterapia são envolvidas pela predominância do não verbal, ou seja, a abordagem e as formas de intervenção têm como objetivo o confronto com os conteúdos inerentes aos processos psíquicos primários e pré-verbais. Mediante a expressão através do ato criativo, torna-se possível a compreensão, reconstrução e até mesmo a ressignificação de sentimentos e experiências de vida, de forma a permitir que o cliente não só remaneje e se aproprie dos seus próprios conteúdos antes desconhecidos ou incompreendidos, como também, especialmente que se torne um agente ativo no seu processo terapêutico. Como outras vantagens ligadas a arteterapia, tem-se a prevenção do embotamento psíquico, a redução/controle dos níveis de estresse e ansiedade, o aumento da autoestima, atenção, concentração, memória e relaxamento, o desenvolvimento de habilidades 3 A Associação Americana de Arteterapia define a arteterapia como uma “profissão integradora de saúde mental e serviços humanos que enriquece a vida de indivíduos, famílias e comunidades por meio da criação ativa de arte, do processo criativo, da teoria psicológica aplicada e da experiência humana dentro de um relacionamento psicoterapêutico. A arteterapia, facilitada por um arteterapeuta profissional, apoia efetivamente os objetivos de tratamento pessoal e relacional, bem como as preocupações da comunidade. A arteterapia é usada para melhorar as funções cognitivas e sensório-motoras, fomentar a autoestima e a autoconsciência, cultivar a resiliência emocional, promover insights, melhorar as habilidades sociais, reduzir e resolver conflitos e angústia e promover mudanças sociais e ecológicas. 154 interpessoais e de enfrentamento saudáveis, exploração da imaginação e criatividade, além de melhorar a capacidade de lidar com sintomas e experiências traumáticas de vida. Segundo Valladares (2008), através da arteterapia, é possível resgatar os aspectos mais saudáveis da personalidade do indivíduo, desenvolver novos projetos de vida e, com isso, alcançar alívio para os sentimentos negativos e minimizar os comportamentos problemáticos. Este processo terapêutico trabalha com a intersecção de vários conhecimentos: educação, saúde, arte e ciências. É um dispositivo terapêutico que possui uma prática transdisciplinar, visando resgatar o homem em sua integridade por meio de processos de autoconhecimento e transformação. A arte em si é uma forma de expressão, comunicação, linguagem e é inerente ao ser humano, além de estar ao alcance de todos (VALLADARES, 2008) O grau de intervenção do arteterapeuta no processo terapêutico vai ter influência direta do referencial teórico sob o qual aquele é embasado, sendo que ele poderá realizar análise dos símbolos junto ao criador ou essa tarefa ficar totalmente a cargo deste próprio, mediante a orientação do profissional. Contudo, independente da metodologia escolhida, cabe ao profissional proporcionar recursos materiais e orientações básicas sobre o manejo dos mesmos para que a expressão possa acontecer, além de incentivar o ato criativo do cliente, sem, contudo, abusar do uso de palavras, sob o risco de limitar o alcance e aprofundamento da psique. A arteterapia pode ser adaptada a diferentes objetivos e, como já revelado anteriormente, pautada sobre diferentes referenciais teóricos, cabendo ao arteterapeuta o discernimento para a escolha da linha que melhor se adeque as necessidade do seu cliente – ainda hoje tem-se a maior preponderância no uso das abordagens clássicas: psicanalítica, junguiana e gestáltica. Sigmund S. Freud (1856-1939), célebre e revolucionário médico austríaco fundador da psicanálise, reconheceu a arte como meio para projeção do inconsciente e fruto de um mecanismo que nomeou de sublimação, através do qual os impulsos sexuais reprimidos – por serem indesejáveis e não aceitos – são redirecionados por uma via alternativa de satisfação socialmente aceita (neste caso, a arte), de modo que o prazer produzido pelo resultado desse redirecionamento substitui, pelo menos em parte, o prazer que a gratificação original teria proporcionado; em outras palavras, Freud considerava a arte uma forma de sublimação das pulsões. Esse mecanismo, então, torna possível através da arte a expressão saudável de ideias, lembranças, desejos, impulsos, sentimentos e pensamentos que, por poderem causar desprazer ao 155 entrar em dissonância com as exigências provenientes de outrasestruturas psíquicas ou exigências do meio exterior/sociedade seriam reprimidos e submergidos na negação do inconsciente num processo que Freud chamou de recalcamento. De acordo com este mesmo, pelo recalcamento, os processos inconscientes só podem vir à consciência através de seus derivados: os sonhos ou os sintomas neuróticos, o que equivale a dizer que o que é recalcado emerge a consciência através de sintomas psicossomáticos patológicos. Por conclusão, é mais saudável essas pulsões encontrarem uma via de escape na arte do que serem recalcadas e retornarem na forma de sintomas/doenças. É importante considerar que nessa abordagem, o sujeito é incentivado pelo arteterapeuta a descobrir por si mesmo o significado de suas produções, podendo se usar como recurso para este fim a técnica da livre associação, a fim de que o cliente expresse em palavras os sentimentos e os pensamentos projetados nas suas produções artísticas, de modo a fazer com que este mesmo tome conhecimento do significado de suas produções. A partir do pressuposto psicanalítico de que o inconsciente se expressa por imagens, tais como as originadas no sonho, tornou-se possível a compreensão de que as imagens criadas através da arte (assim como a livre associação de palavras e a interpretação dos sonhos) constitui-se como uma via de acesso privilegiada ao inconsciente, pois de acordo com o psicanalista, essas imagens teriam capacidade de escaparem mais facilmente da censura do que as palavras. Apesar desse grande achado, o próprio Freud não chegou a utilizar a arte como parte do processo psicoterapêutico de seus pacientes em sua época. Esta técnica recebeu influências da psicanálise freudiana, com a ideia de que a arte é um meio de manifestação do inconsciente. Entretanto, foi Jung que se apropriou da expressão artística como parte do processo terapêutico. Para Jung, as imagens representam a simbolização do inconsciente individual e muitas vezes coletivo. (COQUEIRO, VIEIRA E FREITAS, 2010) O psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) depois de entrar em contato com as ideias de Freud, se tornou um de seus mais ilustres discípulos, tendo, entre os anos de 1907 a 1912 contribuído com sua atuação no campo da psicanálise. Contudo, anos mais tarde rompeu com o psicanalista por dissidências de ideias e fundou sua própria teoria: a Psicologia Analítica. 156 Enquanto que Freud inicialmente dividiu a psique em consciente, pré-consciente e inconsciente – sendo este último formado por conteúdos reprimidos relativos apenas à história pessoal do indivíduo –, Jung concebe a teoria de que a psique humana é formada pelo Ego, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, sendo este último um componente inteiramente novo quando contrastadas as duas teorias. De acordo com Jung, o inconsciente coletivo é formado por instintos e arquétipos (conteúdos psíquicos universais herdados por cada pessoa no transcorrer da evolução do homem e que regularmente reincidem na história da humanidade, podendo esses ressurgir do inconsciente através das imagens arquetípicas; estas, diferentemente dos arquétipos, são acessíveis à consciência). Outra diferença entre as duas teorias é que para Jung, além das imagens arquetípicas, pensamentos inteiramente novos e ideias criadoras podem surgir do inconsciente, já que lhe é inerente uma função criadora.4 Nise da Silveira (2001), pioneira e principal representante da psicologia analítica no Brasil, escreveu que Jung considerava a criatividade artística uma função psíquica natural e estruturante, cuja capacidade de cura estava em dar forma; em transformar conteúdos inconscientes em imagens simbólicas, sendo uma característica própria da energia psíquica transformar-se em imagens. Com base nesse princípio, a abordagem arteterapêutica junguiana não é orientada pela convicção de que as imagens produzidas pelo fazer artístico são representações veladas do inconsciente e cujo seus sentidos e fator terapêutico só viria a posteriori, a depender da verbalização e compreensão pelo sujeito; pelo contrário, Silveira coloca 4 A arteterapia com abordagem junguiana parte do pressuposto de que, os indivíduos ao longo da vida, ”em seus processos de autoconhecimento e transformação, são orientados por símbolos. Estes emanam do Self, centro de saúde, equilíbrio e harmonia, representando para cada um o potencial mais pleno, a totalidade da psique e a essência de cada um”, (ibidem, p. 17) Figura 3. À frente, Sigmund Freud na extremidade esquerda e Carl Jung à direita, durante visita aos EUA em 1909. Entre eles o psicólogo americano G. Stuart Hall. Fonte: (Byington, 2017) 157 que o importante ao indivíduo é ―dar forma, mesmo rudimentar, ao inexprimível pela palavra: imagens carregadas de energia, desejos e impulsos‖ (2001, p.86), nas quais ―a libido poderá ser apreendida viva, e não esfiapada pelo repuxamento das tentativas de interpretação racionais‖ (2001, p.86). Considerando isso, o ato expressivo de plasmar a energia psíquica em símbolos do inconsciente na arte (seja na pintura, desenho, escultura, etc) não só torna possível ao arteterapeuta a visualização dos processos psíquicos, mas principalmente proporciona ao cliente a (re)experiência e a possibilidade de transformação qualitativa destes mesmos, de modo que eles sejam ressignificados ou despotencializados. ―A arteterapia sob a ótica junguiana, parte do pressuposto de que a vida psíquica tem uma tendência inata à organização. Há dentro de nós um movimento para que sejamos nós mesmos, para que obtenhamos o máximo possível de nossa força vital, para que vivamos nossa inteireza, e que o processo terapêutico por meio da arte poderá dinamizar esta tendência. Os símbolos são parte do processo de autoconhecimento e transformação, vão onde as palavras não pisam, alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir.‖ Diniz (2010, p. 13) Jung chamou de ―processo de individuação‖ o caminho que um indivíduo segue rumo a se tornar um ser único e integrado, sendo a arte, segundo ele, um elemento integrador da personalidade. Os símbolos, como registros dos processos psíquicos que evidenciam o rumo que a energia psíquica toma, permitem ao arteterapeuta acompanhar o desdobramento e evolução desse ―caminho‖, através da análise temporal em série dessas produções feitas pelo cliente. Diferentemente de Freud, Jung – considerando não somente a expressão verbal como elemento de cura, mas também a expressão artística – se apropriou da arte como elemento terapêutico e a aplicou à psicopatologia, tendo a partir de 1920, recorrido à linguagem artística expressiva como forma de tratamento5. 5 Jung solicitava aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. 158 ABORDAGEM GESTÁLTICA No decorrer de sua evolução, a arteterapia veio ganhando outras molduras teóricas além destas três principais abordadas neste capítulo; são exemplos as abordagens humanista, transpessoal e antroposófica. Desde então, essa prática terapêutica vem se desenvolvendo e ganhando cada vez mais reconhecimento entre vários profissionais de diferentes áreas, o que por sua vez está permitindo que ela encontre espaços além da clínica e tenham ampliadas as suas possibilidades de aplicação, com diferentes potenciais terapêuticos sobre os mais diversos públicos. Pintura em tecido como elemento terapêutico Fundamentos de pintura em tecido: principais conceitos, técnicas e materiais Esta sessão dedica-se a descrição e conhecimento dos elementos físicos, técnicos e teóricos básicos que serão guias essenciais para compreensão e aplicação das principais técnicas de pintura pelo arteterapeuta,de modo que este se capacite a orientar durante o processo expressivo, bem como, principalmente, reconhecer e dar meios para que a expressão do cliente se canalize em direção a técnica que melhor se adeque a sua personalidade criativa e, com isso, se amplie o poder expressivo proporcionado pela arteterapia. Para melhor compreensão dos conteúdos que se seguirão, é importante ter em mente algumas noções e conhecimentos sobre alguns conceitos próprios da pintura. Como princípio, vamos considerar que a tinta é formada por um meio líquido, chamado de médium ou aglutinante, que é destinado a fixar os pigmentos sobre um suporte, sendo o suporte mais comumente utilizado para pintura em tecido, a tela, que consiste em um tecido tensionado sobre um chassis de madeira. A categorização em diferentes técnicas de pintura em tecido está associada aos materiais que se utiliza no processo de pintura, bem como a forma como esses materiais são diluídos e aplicados sobre o suporte. Como exemplo, podemos citar as técnicas mais populares de pintura em tecido: a óleo, acrílica, guache, aquarela e a têmpera de ovo. Para parte que se seguirá, considere que a utilização dos recursos artísticos (tintas, pincéis, telas/tecidos, cavaletes, etc) para estas técnicas de pintura citadas tem como finalidade mediar a 159 expressão pessoal do sujeito, sendo as técnicas de utilização dos materiais destinadas ao simples manuseio dos mesmos, sem fins de profissionalização ou comercialização. PINCÉIS Os pincéis para pintura existem sob uma grande variedade de tamanhos e formatos; eles consistem em pelos, cerdas ou filamentos sintéticos presos a um cabo por uma peça metálica chamada virola. O tamanho dos pincéis são padronizados e definidos de acordo com a numeração impressa no cabo: quanto maior o número, maior será a extensão e número de filamentos presos ao cabo, por essa razão, a numeração do pincel deve ser selecionada conforme a área que se deseja cobrir com a tinta. Áreas pequenas requerem pincéis nº 2 ou nº4, e áreas maiores pincéis nº 8 à nº 12. Eis os principais modelos: CHANFRADO: LÍNGUA DE GATO: CHATO: REDONDO: LEQUE: FILETE: Como dica para maior conservação e durabilidade dos pincéis, recomenda-se que estes sejam limpos imediatamente após seu uso, nunca deixando as cerdas mergulhadas em água, terebintina ou qualquer outro solvente. Para limpá-los, é mais aconselhável o uso de um pano umedecido com o solvente adequado à tinta com que se trabalha. Guarde-os sempre na vertical, com as cerdas para cima. 160 TELAS A tela é um suporte muito usado para todas as técnicas de pintura em tecido, podendo ela ser confeccionada à critério do próprio arteterapeuta ou adquirida já preparada sob vários formatos, dimensões e qualidades. O formato basicamente refere-se às proporções entre as dimensões da tela, havendo telas proporcionadas para retratos, paisagens e marinas. A sua qualidade, por sua vez, está relacionada ao tipo de tecido que a compõe. As telas mais comumente encontradas são feitas de algodão ou linho. As telas de algodão, além de serem mais facilmente encontradas comercialmente, são bem mais econômicas que as de linho. Uma alternativa mais econômica às telas em chassis são as telas em blocos, que consistem em blocos de lona de algodão, também encontrados no mercado e sob uma grande variedade de tamanhos. Cavalete O cavalete é um apoio importante no momento da pintura, pois permite que a tela fique posicionada confortavelmente frente ao cliente e que as mãos deste fiquem totalmente livres para segurar e manusear os demais materiais, como pincéis, paleta, etc. Também é importante no momento da secagem, após o fim do trabalho. PALETA Esse item oferece um suporte para a preparação de tintas, tais como a mistura para obtenção de novas cores e tonalidades ou mesmo diluição destas. 161 PINTURA A ÓLEO A pintura a óleo – em grande parte devido ao fato de grandes obras de arte, tais como Mona Lisa e A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci, serem a óleo – é considerada a técnica mais tradicional de pintura, sendo indicado, por grande parte da literatura acerca da história da arte, que seu surgimento remonte ao século XV, na Europa, tendo sido atribuída aos irmãos Van Eryck6. Consiste basicamente na aplicação de tintas a base de óleo – através de pincéis ou mesmo espátulas – sobre uma superfície suporte, que pode ser madeira ou tecido, mais propriamente as telas de algodão ou linho. A tinta óleo pode ser aplicada ―crua‖ ou diluída em solventes ou óleos (óleo de linhaça, essência de terebintina7 ou a aguarrás retificado) de acordo com a espessura que o artista deseja obter. A principal característica das tintas a óleo diz respeito à mistura cromática e o brilho, conferindo um acabamento excepcional, além da flexibilidade para quem as manuseia, em função de sua lenta secagem, possibilitando que o trabalho seja alterado quando necessário, dentro de um certo período de tempo. Pode-se sugerir, como uma lista básica e essencial de materiais para esta técnica: tintas a óleo, tela/tecido, pincéis, diluentes e solventes (óleo de linhaça e terebentina) para misturas e limpeza do material e paleta. Como material complementar, mas não essencial: cavalete e espátula – esta última a depender da técnica e a disposição das tintas no tecido que se pretende atingir. Para escolha dos pincéis, recomenda-se uma seleção básica: Planos (3cm de largura, 1cm de largura e 1/2 polegadas de largura), Pincéis de pelos de Marta planos (1/2 polegada de largura, 1/4 polegada de largura) e dois pincéis redondos de tamanhos pequenos. A compra de outros modelos e tamanhos de pincéis fica a critério do produtor da arte, de acordo com suas técnicas, preferências e orçamento. Em relação às tintas, também existe uma ampla variedade de cores e tonalidades, podendo-se indicar como essenciais à produção de novas: Branco Titânio, Cádmio Amarelo claro, Cádmio Laranja, Cádmio Vermelho, Azul Ultramarino, Cádmio Verde, Azul Pthalo, Verde Pthal, Marron VanDike e Preto. Pintura Acrílica A pintura com tinta acrílica é uma ótima opção para quem busca materiais mais econômicos e com maiores praticidades. A tinta acrílica, diferentemente da tinta óleo que necessita de solventes vegetais e minerais, pode ser diluída em água, o que permite sua 6 Estudos mais recentes sobre novas imagens encontradas sugerem que esta técnica era usada já no século VII, tendo sido as tintas confeccionadas à base de nozes e sementes de plantas. 7 É aconselhável não diluir as tintas a óleo com muita quantidade de terebintina, visto que a tinta perde sua aderência à tela. 162 manipulação sem a necessidade da adição de solventes tóxicos ou irritantes. Pelo acrílico ser um polímero plástico, a tinta acrílica pode ser aplicada a diversos substratos, desde que não contenham cera ou óleo, tornando-se naqueles substratos, altamente resistente à água depois de sua secagem, caracteristicamente rápida. Devido a essa propriedade intrínseca do material de ‗secagem rápida‘, é sempre importante ter a mão um borrifador com água para pulverizar as cores na palheta para evitar que sequem enquanto se trabalha. Visando a melhor preservação e cuidado com os materiais, é importante ter em mente que a tinta acrílica pode facilmente danificar os pincéis, especialmente se estes forem de fibras naturais, podendo ressecá-los e fazer com que eles se degradem e se tornem frágeis ao longo do tempo; por essa razão, recomenda-se utilizar pincéis sintéticos, feitos de nylon ou de filamentos de poliéster, sendo estes mais adequados para a pintura acrílica e menos caros que os pincéis de fibras naturais. Quaisquer desses pincéis, depois deutilizados, podem facilmente ser limpos com água, enquanto a tinta não secar. Os acrílicos, depois de secos, aproximam-se muito das cores desejadas, contudo ligeiramente mais escuras. Pintura com Aquarela A aquarela é feita a partir de pigmentos finamente moídos e misturados com água gomada, que serve como aglutinante. Trata-se de uma pintura com base essencialmente na água, e seus suportes podem ser os mais variados: papiro, casca de árvore, plástico, couro, tecido, e a própria tela de linho ou algodão. Contudo, o uso de aquarela em tecido/tela é limitado, pois estes materiais absorvem a tinta diretamente, sem que se tenha a fluidez necessária para se trabalhar adequadamente com as propriedades específicas desse material. A aquarela é, portanto, uma técnica mais adequada ao papel de alta gramatura8; porém, caso queira aplicá-la aos tecidos, recomenda-se o uso daqueles com memores propriedades absortivas. Para melhores resultados com essa técnica, recomenda-se o uso de pincéis de pelos de animais, ao invés dos pincéis de filamentos sintéticas. É indicado também o uso de paletas de mistura onde se possa diluir e mesclar as cores, não sendo as paletas planas apropriadas. 8 Quanto maior for a gramatura, mais grosso será o papel. 163 Pintura com Guache O uso do guache é uma técnica muito apreciada na pintura não apenas pelos bons resultados proporcionados pelas tintas, mas também pela alta facilidade de encontrar no mercado diferentes marcas e as mais variadas cores, tudo sob um preço mais econômico, quando se comparado a outras técnicas de pintura, como a aquarela ou a óleo. O guache é, por sua vez, muito semelhante à aquarela, porém com uma consistência mais densa e opaca devido adição de pigmento branco à mistura, além de goma-arábica como aglutinante. Como resultado disso, as cores são mais fortes e menos transparentes que as obtidas com as aquarelas. Quanto a forma de aplicação dessas duas técnicas, também há muitas similaridades: usa-se água para diluir as tintas9; os pincéis mais adequados para aplicação também são os de pelos de animal; apesar da possibilidade da aplicação em tecido, é mais popular o uso em papel de alta gramatura; e, são preferíveis paletas não planas, para que sobre esta seja possível a adequada diluição e mistura das cores. Ainda em relação a aquarela, podemos dizer que existe uma oura vantagem: a existência da cor branca. Outro fato a se atentar é que os pigmentos do guache quando secam, parecem ligeiramente mais claros do que quando a tinta está fresca (o que o arteterapeuta deve levar em consideração se pretende analisar as cores que o cliente escolheu). Pintura com Têmpera de Ovo A têmpera (do latim/italiano temperare; misturar, juntar) é uma técnica de pintura na qual pigmentos ou corantes são adicionados a um aglutinante10, formando a ―tinta‖. A ―têmpera de ovo‖ nada mais é do que uma tinta em que o aglutinante é feito à base de componentes do ovo, podendo ser uma emulsão de água e gema, clara e gema ou somente a clara. Segundo o pintor americano Ralph Mayer, é aconselhável a utilização não só da gema, mas do ovo inteiro no preparado dessa têmpera, pois defende que os preparados apenas com as gemas apresentam maiores problemas, e que a clara do ovo propicia uma emulsificação melhor quando há a adição do óleo de linhaça. A adição deste óleo, por sua vez, além de conferir uma maior durabilidade à têmpera11, também a confere propriedades da tinta a óleo. Nesse preparo, é indispensável ressaltar a importância da adição de um fungicida ao aglutinante, a fim de prevenir a deterioração 9 Pode-se diluir as tintas com água até se adquirir a consistência do azeite. 10 Substância utilizada na composição das tintas para dar coesão às partículas de pigmentos e fixa-las ao suporte escolhido para a pintura, p. e., resinas de árvore, gema de ovo, o sumo de alho e cola plástica. 11 O termo muitas vezes também é usado não para designar a técnica, mas também para o preparo resultante dela. 164 do preparo. Caso essa adição não seja feita, a têmpera resultante terá curta durabilidade e aconselha-se a conservar o preparo no refrigerador para prolongar sua conservação. Vejamos agora quais são os ingredientes e como preparar o aglutinante da têmpora: Aglutinante 1 parte de ovo; 1 partes de água pura destilada; 1 parte de óleo de linhaça; Fungicida [sugestão: gotas de própolis]. Essa solução deve ser bem agitada após o ovo e o óleo serem misturados completamente, podendo-se usar para isso o próprio pincel. Recomenda-se que ela seja feita sempre em partes pequenas, para que fique bastante homogênea. Quais componentes do ovo serão usados na composição fica a critério do arteterapeuta/cliente, sendo que se a gema for usada, se atentar para o cuidado de remover a película que a envolve utilizando uma tela. Pigmentos Os Pigmentos podem ser classificados como orgânico ou inorgânico, bem como naturais ou sintéticos. Os pigmentos sintéticos são, hoje, os mais utilizados. Eles são formulados para criar novas cores ou substituir os pigmentos mais caros, tóxicos ou pigmentos naturais da antiguidade, tendo a capacidade de reproduzir os efeitos de pigmentos naturais, tanto os orgânicos como os inorgânicos. Estes podem ser encontrados em lojas de materiais de pintura em uma ampla gama de cores. Há, contudo, da mesma forma que podemos pessoalmente produzir o aglutinante, a possibilidade de produzir artesanalmente e de modo menos oneroso alguns pigmentos naturais a partir de elementos da natureza, tais como: urucum, açafrão, café, nozes, beterraba e cenoura. Os três primeiros devem ser dissolvidos na porção de água utilizada na produção do aglutinante, para garantir a proporção dos componentes da têmpera; para estes mesmos, é esperada a suspensão de partículas, que devem ser filtradas do pigmento/corante antes de ser adicionada ao aglutinante. O procedimento para obtenção de pigmento a partir da beterraba e cenoura é um 165 pouco mais complexo, devendo esses componentes passar por um processo de fervura para que a água extraia seus pigmentos. Por fim, misturar bem os pigmentos secos ou corantes ao aglutinante, garantindo que a quantidade de água seja inalterada e se mantenham as proporções, pois disso depende o sucesso desse tipo de têmpera. Referências ALTMAN, Julie. Margarete Naumburg. Disponível em: <https://jwa.org/encyclopedia/article/Naumburg-Margaret> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 ANDRADE, L. Q. (1995). Linhas teóricas em arte-terapia. In M. M. M. J. de Carvalho (Org.), A Arte Cura? Recursos artísticos em psicoterapia (pp. 39-54). Campinas, SP: Editorial Psy II. ANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias Expressivas: Arte-Terapia, Arte-Educação, Terapia Artística. São Paulo: Vector, 2000. BLOG AMO PINTAR. Pintura: São inúmeras e variadas. Disponível em: <https://www.amopintar.com/tecnicas-de-pintura/> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 CARVALHO, Maria Margarida (coordenadora). A Arte Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia. São Paulo: Editorial Psy II, 1995. CIORNAI, S. (Org.) (2004). Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus Editorial. CIORNAI, S. (1995). Arte-terapia: o resgate da criatividade na vida. Campinas, SP: Editorial Psy II. FREUD, Sigmund. 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Johann Christian Reil. Disponível em: <https://www.halle-im- bild.de/fotos/denkmaeler/johann-christian-reil> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 166 VALLADARES, Ana Cláudia Afonso. A Arteterapia Humanizando os Espaços de Saúde. 1. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. WIKIPÉDIA. Arteterapia. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_terapia> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 WIKIPÉDIA. Johann Christian Reil. Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Johann_Christian_Reil> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 WIKIPÉDIA. Margaret Naumburg. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Naumburg> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 WIKIPÉDIA. Schocktherapie (Psychiatrie). Disponível em: <https://de.wikipedia.org/wiki/Schocktherapie_(Psychiatrie)#Beurteilung_der_Schocktherapie> Acesso em: 18 de janeiro de 2019 167 CAPÍTULO 16 Avaliação e Funcionamento de um Grupo Angela Maria Alves e Souza Joyce da Silva Costa Matheus Silva Holanda José Evangleyson de Paiva Girão A coordenação de grupos é um recurso que pode ser utilizado pela enfermeira ou qualquer profissional desenvolver suas habilidades em relações interpessoais em vários cenários de sua prática, hospital, ambulatórios, comunidades. o homem é um ser social, inserido em diversos grupos tais como o familiar, trabalho, lazer, educacional, religioso. Em cada um deles participa, contribui e procura ser reconhecido. E para que tenhamos condições de mantermos nossos grupos é importante que possamos entender como fazermos o grupo e para isso é necessário elaborarmos todo processo grupal e uma das fases que merece consideração e ênfase para a manutenção de um grupo, é a fase da avaliação. O processo grupal ocorre em três fases, planejamento, atividades grupais e avaliação conforme Loomis (1979), apresentadas de acordo com o Quadro 1. Quadro 1 – Síntese das fases do processo grupal FASES ATIVIDADES DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES Planejamento Objetivos do Grupo Entrevistas individuais. Descrever no primeiro dia os objetivos do grupo e acordo para local e horário Ter algumas condutas de boa convivência e que seja entregue Cronograma dos encontros grupais Atividades grupais Estrutura do Grupo O acolhimento – encontro preparatório Avaliação das expectativas dos participantes Contrato de convivência, aonde pode ser pregado com todos tendo participado destas escolhas de como estaremos juntos em nossos encontros. Encontros grupais Datas escolhidas Avaliação Resultados do Grupo Avaliação dos encontros grupais E registro de tudo que aconteceu para que a próximo encontro, terapia, sessão seja ainda melhor para que possamos motivar as pessoas a expressarem seus desejos no grupo e facilitar todos os processos necessários para o profissional e os participantes. 168 O Quadro 2 mostra algumas das situações que ocorrem durante uma coordenação de grupo e poderíamos agir de outro modo. Cabe aqui neste capitulo a título de sugestão cada coordenador fará o que melhor lhe convier , usando sempre o bem senso para suas tomadas de decisão Quadro 2: Descrições de sugestões durante uma coordenação de grupos Atitudes inadequadas de um coordenador de grupo Atitudes adequadas de um coordenador de grupo Em caso de atraso, recriminar a pessoa, expondo para o grupo o descontentamento com tal atitude. Devem-se acolher as pessoas de modo carinhoso, permitindo que elas expressem suas emoções e as compartilhe com os outros participantes, engrandecendo a discussão do grupo. Começar a coordenação de grupo além do horário anteriormente estipulado. Deve-se começar a coordenação de grupo no horário acertado de acordo com o contrato de convivência independente da quantidade de pessoas no local. Induzir respostas referentes ao método avaliativo. Deve-se promover um ambiente onde os membros são instigados a refletir sobre a temática discutida e tenham liberdade de avaliar a metodologia utilizada. Impor cultura, conhecimentos e informações, julgando-se detentor da verdade absoluta e menosprezar o conhecimento dos participantes. Deve-se possibilitar um ambiente onde as vivências individuais e o conhecimento empírico sejam valorizados, favorecendo a horizontalidade. Além de priorizar a educação libertadora. Forçar um participante a falar. Deve-se deixar que os participantes se manifestem voluntariamente e exponham suas opiniões sem serem pressionados. Colocar o nome do participante no crachá mesmo o integrante não gostando do nome. Deve-se perguntar como o integrante gosta de ser chamado para anotar no crachá. Fonte: criação das autoras Avaliar um grupo exige clareza e definição anterior dos objetivos do grupo específico, e para que possa saber, se o coordenador alcançou seus objetivos e dos participantes do grupo. Requer do coordenador uma postura aberta e que seja sempre de elaboração de processos dos participantes do próprio profissional, para que cada pessoa tenha seu tempo de auto-regulação , de aprendizagem e de entender porquê e para quê está participando daquele grupo e o coordenador também aprender a se auto-avalair e avaliar suas atividades como orientador daquela atividade em grupo, como ter habilidade e conhecimento sobre e de como e está 169 colaborando para que aquele grupo possa ter auto sustentação e possa ser aplicado em outras realidade se necessário. No transcorrer das terapias de grupos , os participantes tem oportunidade de observar a evolução das situações vivenciados por outros que conquistaram por meio do autoconhecimento, fruto do próprio esforço, em um grau que lhes possibilitou assumirem atitudes positivas à luz da nova orientação que desenvolveram. Por outro lado, há momentos em que um deles regride e piora. Nesse caso, aprende que tal fato pode ocorrer que não é motivo de insucesso. Os participantes de um grupo necessitam saber que não estão isentos de futuros situações a ser vividas. A terapia de grupo não confere imunidade a ninguém contra a possibilidade de emergência de uma nova crise, não previne necessariamente uma recaída diante de uma nova exposição a situações estressoras, nem oferece garantias de que no futuro o indivíduo sempre responderá de maneira adaptativa às adversidades e infortúnios( COSTA; FIORONI, 2009). Destacamos que no grupo, quem participa não se apresenta somente por aquilo que descreve e revela sobre sua pessoa e sua vida, mas também pelo modo de se vestir, postura, comportamento não-verbal, local onde se senta (por exemplo, em um canto fora do círculo do grupo), se chega atrasado, como entra na sala (com respeito ou fazendo barulho), maneira de interagir, tom de voz (confiante, imperioso, insinuante, intimidado, entre outros ), o tema que escolhe e prefere discutir, entre outros aspectos Para que pudéssemos entender como avaliar um grupo trouxemos aqui algumas informações importantes do modelo de avaliar o comportamento de pessoas com depressão segundo Dougher e Hackbert (1994) apud Costa; Fioroni,( 2009). O Modelo da depressão para a Análise do Comportamento proposto por Dougher e Hackbert (1994) considera as Funções das consequências, são assim chamadas de consequências, pois são quaisquer eventos produzidos pela resposta de um organismo. Baixa densidade de reforço: a mais óbvia característica da pessoa que está deprimida é a redução significativa de certos tipos de atividades, que foi por ele atribuída a uma relativa escassez de reforçadores, os quais são consequências que fortalecem as respostas de um indivíduo. Para Dougher e Hackbert (1994), uma causa óbvia para um baixo nível de reforços sociais é um repertório social. Neste sentido, pessoas em sofrimento mental de depressão, não só não se comportam de modo que torne mais provável a obtenção e manutenção de interações sociais, mas também seu comportamento é visto como aversivo e produzindo esquiva ativa por parte dos outros. 170 Extinção: segundo os propositores deste modelo, as pessoas em sofrimento mental de depressão costumam descrever histórias de vida caracterizadas por ambientes sociais geralmente não responsivos. Também é frequente que haja a busca de tratamento após perdas muito significativas, como a morte de um ente querido, fim de um relacionamento amoroso importante, aposentadoria, ou a partida dos filhos adultos de casa. Os problemas mais crônicos, neste sentido, ocorrem quando a fonte de reforços perdida mantinha uma proporção relativamente grande do repertório comportamental do indivíduo, existindo poucas fontes alternativas de reforçadores. A aposentadoria pode ser devastadora para aqueles que falham em desenvolver um conjunto de atividades reforçadoras fora do ambiente de trabalho. Cultivar uma variedade de fontes de reforços e de atividades reforçadoras gera uma boa proteção contra depressões mais sérias. Punição: os autores do modelo descrevem como são comuns histórias de punições prolongadas e inescapáveis trazidas por pessoas com diagnóstico médico de depressão crônica. Particularmente devastador é quando o comportamento de defesa da punição também é punido. Trabalhos sobre desamparo aprendido mostraram de modo claro que repetidas estimulações aversivas inescapáveis resultam de uma redução generalizada do comportamento e interfere com os efeitos subsequentes das contingências de reforço. Reforço de comportamentos de pesar ou aflitivo: é comum que pessoas com sofrimento mental de depressão apresentem uma taxa alta de comportamentos de pesar ou aflitivos, que incluem reclamar, chorar e demonstrar irritabilidade. Vários estudos mostraram que os comportamentos de pesar têm a função de reduzir a probabilidade de estimulação aversiva por parte dos outros. Os autores deste modelo também acreditam que o comportamento de pesar pode ser reforçado socialmente pelo aumento da atenção e da simpatia. Contudo, apesar de aumentar a simpatia dos outros por um curto período de tempo, percebe-se que estes comportamentos podem se tornar aversivos para outras pessoas, levando-a a fugir e se esquivar dos mesmos. Esta esquiva acaba removendo uma fonte de reforços da pessoa deprimida, o que agrava a depressão. Estímulos discriminativos: Dougher e Hackbert (1994) apontam para a existência de funções de controle de estímulos envolvidos na manutenção do comportamento de depressão. Eventos correlacionados com a extinção ou com a punição podem evocar comportamentos de esquiva, que são mantidos com reforço negativo. Como em muitos paradigmas de esquiva, o comportamento continua sobre o controle de estímulos discriminativos relevantes, mesmo quando as contingências mudam. 171 Funções respondentes: embora profissional de saúde esteja principalmente preocupado com a baixa taxa de respostas emitidas pelas pessoas que expressam sofrimento mental de depressão e pelos eventos ambientais que a produz, os estados afetivos associados com a depressão são sintomas primários para o diagnóstico e uma das principais razões para os pacientes buscarem tratamento. Daí a importância em explicar estes sentimentos e reações emocionais. Além dos efeitos sobre a taxa de resposta, reforços insuficientes, extinção e punição exercem outras funções, entre elas a eliciação* de respondentes denominadas como tristeza, frustração e raiva. Comportamento verbal:. O tipo de comportamento verbal evocado na forma de reclamações, autocríticas, insultos autodirigidos são comuns entre depressivos. Algumas destas expressões autodirigidas são agressivas, tendo como objetivo infligir dor ou injúria, uma vez que são evocadas por estimulação aversiva; quase sempre são bastante efetivas. O problema, então, é que, como elas são dirigidas ao próprio sujeito, somente aumentam a estimulação aversiva e exacerbam a depressão. ___________________________ * Eliciação - Provocação ou evocação de uma forma de comportamento, de um estado ou de uma estratégia. http://www.golfinho.com.br/artpnl/glossari2.htm Referências DOUGHER, M. J., & HACKBERT, L. A behavior-analytic account of depression and a case report using acceptance-based producedures. The behavior Analyst, 17(2), 321-334. 1994. COSTA, Aline Alberti Veronez da; FIORONI, Luciana Nogueira. Avaliação de Grupos Terapêuticos Comportamentais como estratégia de tratamento para pacientes depressivos. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 17, n. 2, p. 527-539, 2009 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X2009000200021&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 09 fev. 2019. SOUZA, Ângela Maria Alves e (Org.). Coordenação de Grupos: Teoria, Prática e Pesquisa. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011. 392p. ANDALO, Carmen Silvia de Arruda. O papel de coordenador de grupos. Psicol. USP, São Paulo , v. 12, n. 1, p. 135-152, 2001 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 65642001000100007&lng=en&nrm=iso>. access on 18 July 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0103- 65642001000100007. Andaló, Carmen Silvia de Arruda. (2001). O papel de coordenador de grupos. Psicologia USP, 12(1), 135-152. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642001000100007 http://www.golfinho.com.br/artpnl/glossari2.htm https://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642001000100007 172 PARTE II PRÁTICA COM GRUPOS 173 CAPÍTULO 17 Grupo de Apoio/Suporte - PLUS Ângela Maria Alves e Souza Maria de Nazaré de Oliveira Fraga Maria das Graças Anastácio Nascimento Katiana Aragão Araújo Daiana de Jesus Moreira Introdução Segundo dados da Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde divulgados na Conferencia Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental(2005), em 2000 existiam no Brasil, 253 CAPS em outubro de 2005 passou este total para 689 (destes 251 CAPS do tipo 1, 266 CAPS do tipo 2, 25 CAPS do tipo 3, 56 CAPS infantis e 31 CAPS ad); 357 módulos de residências terapêuticas, 1.970 leitos em hospitais gerais e centenas de equipes do Programa de Saúde da Família em todo o país. É possível percebermos que houve um aumento significativo do número de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico em nossos país. Em Fortaleza no Ceará tínhamos apenas um CAPS do tipo 2 funcionando até 2003 quando foi aberto dois outros e atualmente em 2006 foram criados mais três. Há dez anos a primeira autora e a terceira autora desenvolvem prática assistencial junto a um grupo de apoio denominado grupo transformação, no CAPS da Secretaria Executiva Regional III e da Universidade Federal do Ceará - SERIII/UFC, mostramos como uma parte da clientela assistida no CAPS que estão sendo acompanhadas com terapia de relaxamento, a qual seus efeitos repercutem na redução do uso pouco criterioso de medicação. A prática desenvolvida por meio da abordagem grupal tem representado a oportunidade de assistir diretamente mulheres com sofrimento psíquico e de observar que o número de pessoas com perfil para o tipo de grupo que vimos desenvolvendo está aumentando. 174 O que é o grupo apoio/suporteO grupo de apoio/suporte em estudo é formado por mulheres e homens com sintomas de diagnósticos médicos transtorno de ansiedade (pânico, somatoformes, generalizada), e transtorno depressivo leve em diferentes faixas etárias e graus de escolaridade, vivenciando diferentes ciclos de vida familiar. O grupo foi criado em janeiro de 1999. Atualmente a entrada no grupo só ocorre quando o profissional que realiza a triagem geral pela qual passa todos os usuários do CAPS, concluindo sua avaliação com encaminhamento formal da pessoa ao grupo. O grupo recebeu o nome PLUS transformação Atualmente, as coordenadoras são duas profissionais, uma enfermeira docente (primeira autora) e uma assistente social ( segunda autora ) que facilitam e estimulam a verbalização e expressão das emoções para aliviar o sofrimento através da escuta terapêutica onde cada participante nas sessões descreve sua convivência cotidiana. Um dos objetivos de um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Ceará é a preparação para o enfrentamento de perdas ocorridas e vivenciadas em seu processo de ensino– aprendizagem, este grupo é denominado Projeto Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação - PLUS+ . Criado desde 1999 é composto por acadêmicos dos cursos de graduação em Enfermagem, Psicologia e Medicina, e tem como eixos principais: orientar e educar a comunidade acadêmica da área da saúde sobre os temas ―Perda, Luto e Separação‖; assistir por meio de acompanhamento a grupos de pessoas que estejam vivenciando situações relacionadas aos assuntos estudados e estabelecer um núcleo de estudos, pesquisa e treinamento. Além destes temas, também foram ampliados os de oncologia e suicídio (SOUZA, ALVES & ARAÚJO, 2006). Como um dos eixos das atividades desenvolvidas no Projeto PLUS+ é o acompanhamento por meio da abordagem grupal e por entendermos que esta assistência está ligada a área da saúde mental, buscamos como instituição de ensino, pesquisa e extensão a parceria com o Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, serviço de saúde mental, que tem como proposta a reabilitação, reintegração do indivíduo na sociedade. O grupo terapêutico desenvolvido nesta pesquisa foi chamado de grupo PLUS+ TRANSFORMAÇÃO, coordenado por uma enfermeira e uma assistente social (UFC) e pelos acadêmicos do projeto . O tema ―perda‖ está diretamente ligado a sentimentos de dor, sofrimentos, evidenciando a fragilidade humana. O papel da Tanatologia, ciência que estuda a morte em seus diferentes aspectos, está diretamente ligado, desde a comunicação de más notícias, as fases vivenciadas por 175 um paciente gravemente enfermo, até o processo de luto. Sendo o luto, uma perda, uma separação de alguém ou de algo significativo ou de alguma situação específica. Entendemos que todo ser humano está sujeito a passar por esse processo, que traz fatores que diminuem a qualidade da saúde mental do indivíduo. Em qualquer etapa da nossa vida estamos sujeitos a conviver com pessoas ao nosso redor, assim compartilhamos de sua presença física, sua história e suas relações com o mundo. Partindo da ideia que todo ser humano tem a necessidade de estabelecer a manutenção de vínculos na vida, surge o comportamento do apego que, segundo Bowlby (1982), é concebido como qualquer forma de comportamento que resulta em que uma pessoa alcance ou mantenha proximidade com algum outro indivíduo diferenciado e preferido, o qual usualmente é considerado mais forte ou mais sábio. Esta definição procura explicar porque cada perda que sofremos tem um nível de dor e de sofrimento relativo. O luto surge como uma perda, por separação ou afastamento físico do objeto amado que comumente leva à renúncia do objeto, gerando dor emocional. Referencial teórico Fases do luto Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça, após suas experiências com pacientes gravemente enfermos descreveu em seu livro On Death and Dying , publicado em 1969, traduzindo para o português com o título Sobre a Morte e o Morrer, os cinco estágios vivenciados por pacientes nesta situação e estendidos para o processo de elaboração do luto. Estes são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Cada uma dessas fases tem suas características e há diferenças de uma pessoa para outra, tanto no que se refere à duração quanto à forma de cada fase, nem sempre ocorrem nesta ordem e nem são todas experimentados por todos os pacientes. A duração e a intensidade desses sentimentos vão depender do histórico de perdas da pessoa, do tipo de personalidade, e também do grau de relação com quem morreu e ainda do tipo de morte. Ao tomar conhecimento do falecimento de um ente querido, é comum ouvirmos frases como ―não, não pode ser verdade‖. A negação funciona como uma defesa temporária, depois de notícias inesperadas e chocantes, do qual se recupera gradualmente. Negar é uma das formas de não entrar em contato com experiências dolorosas. O estágio de negação pode ser substituído por sentimentos de raiva, revolta, ressentimento. Surge a pergunta ―por que eu?‖. Esta raiva se propaga em todas as direções, muitas http://pt.wikipedia.org/wiki/Elisabeth_K%C3%BCbler-Ross http://pt.wikipedia.org/wiki/1969 176 da quais são até mesmo banais, sendo que a origem dela, nada ou pouco tem a ver com as pessoas em quem é descarregada, podendo ser ao próprio enlutado como auto-acusação ou culpa. Se nos primeiros estágios não conseguimos enfrentar os tristes acontecimentos e nos revoltamos contra Deus e as pessoas, talvez possamos ser bem-sucedidos entrando em algum tipo de acordo com os mesmos. Graças a experiências anteriores, sabemos que existe uma possibilidade de ser recompensado por um bom comportamento e receber um prêmio por serviços especiais. Por isso, esse terceiro estágio é chamado de barganha. O afastamento ou estoicismo, a revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda. Esta pode apresentar muitas facetas: perda da imagem, do cabelo, parte do corpo, do parente, emprego, projetos, funções. Nossa primeira reação para com as pessoas que estão tristes é tentar animá-las. Dizer-lhe para não ficar triste seria contraproducente, pois todos nós ficamos tristes quando perdemos um ser amado. Se deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a situação e ficará agradecido aos que puderem estar com ele neste estado de depressão sem requerem que não fique triste. Por último, vem a aceitação da realidade da perda com a elaboração da dor e ajustamento ao ambiente. O enlutado procura significados na perda e sua vida muda, adapta-se a novos papéis para dar sentido e obter novamente o controle de sua vida. A seguir um quadro representando as fases do luto propostas por Kubler-Ross e a comparação com as fases nomear por outros estudiosos desse temas. J. BOLWBY (1982) C.M. PARKES E. KUBLER-ROSS EXPRESSÕES COMUNS 1) Torpor ou protesto 1) Alarme 2) Torpor 1) Negação e isolamento ―Não pode ser‖ ―Não quero falar nisso!‖ ―Isso não pode ter acontecido!‖ Deixem-me só!‖ 2) Anseio e busca pela figura perdida 3) Busca 2) Raiva ―Por que eu?‖ ―Por que ele fez isso comigo?‖ ―Logo comigo?‖ 3) Desorganização e desespero 4) Depressão 3) Barganha 4) Depressão Se ela viver mais deixo de fumar‖ 177 O objetivo desse estudo foi descrever metáforas relacionadas às fases do luto comparando com os discursos de pessoas de um grupo de apoio a perdas, luto e separação. A metodologia usada nesta pesquisa foi realizada com participantes de um grupo de apoio no Centro de Atenção Psicossocial na cidade de Fortaleza. Os discursos foram obtidos a partir de entrevistas gravadas nos meses de fevereiro a abril de 2008. O estudo foi desenvolvido no Cento de Atenção Psicossocial (CAPS) da Secretaria Executiva Regional (SER III). Este serviço foi inaugurado em 1998 e atende à Portaria