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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA LABORATÓRIO DE MECÂNICA – ENG03123 – 2024/1 Professor: Liu Barros RELATÓRIO EXPERIMENTAL DE ENSAIOS NO LABORATÓRIO DE APLICAÇÕES EM ENERGIA E FENÔMENOS DE TRANSPORTE - LAEFT por Ricardo José Belibio Porto Alegre, Abril de 2024 3 RESUMO O relatório apresenta os resultados de uma visita ao Laboratório de Aplicações em Energia e Fenômenos de Transporte (LAEFT) na UFRGS, onde foram realizados experimentos envolvendo termopares e um tubo de Pitot. Inicialmente, foram discutidos os princípios de funcionamento de um termopar e como ele é utilizado para medir a temperatura. No primeiro experimento, comparou-se os dados obtidos de um termopar e de um sensor PT100, observando-se uma diferença de 20ºC entre as medições. Em seguida, foi realizada uma segunda experiência com dois termopares, um utilizando fios de cobre como extensão e outro com cabos de extensão próprios, o que evidenciou diferenças nos valores medidos devido à forma como a extensão afeta a transmissão de sinais. No experimento com o tubo de Pitot, que mede a velocidade de um fluido com base na diferença de pressão, foi possível identificar variações de velocidade em uma tubulação ao se comparar a diferença de alturas manométricas em diferentes frequências de ar. Os resultados mostraram que, apesar de o tubo de Pitot ser uma ferramenta prática para estimar a velocidade do fluido, ele apresentou um erro de até 12,7% em relação a um sensor eletrônico, indicando a necessidade de ajustes para melhorar a precisão da medição. Palavras-chave: Sensores 1; Ensaios 2; Fluidos; Velocidade 4; Temperatura 5. 4 1. INTRODUÇÃO A mecânica dos fluidos é um campo essencial dentro da engenharia, especialmente no que diz respeito aos fenômenos de transporte e às ciências térmicas. Estudar o movimento de líquidos e gases, bem como seu comportamento, é fundamental para o desenvolvimento de uma ampla variedade de tecnologias, como redes de distribuição de água, máquinas de conversão de energia, veículos que dependem de sustentação aerodinâmica, entre outros. Para compreender esses princípios na prática, os estudantes de Engenharia Mecânica da UFRGS têm a oportunidade de participar de atividades no Laboratório de Aplicações em Energia e Fenômenos de Transporte (LAEFT), que faz parte do Departamento de Engenharia Mecânica. O LAEFT, localizado no campus Centro da UFRGS, desempenha um papel vital na formação dos futuros engenheiros, ao fornecer um ambiente onde os estudantes podem realizar experimentos práticos que envolvem medições térmicas e de fluxo de ar, utilizando equipamentos como termopares e medidores de fluxo. Essas práticas são fundamentais não apenas para o entendimento dos conceitos teóricos de mecânica dos fluidos, transferência de calor e massa, mas também para o desenvolvimento de habilidades que serão essenciais na vida profissional. A seguir, são apresentados os detalhes sobre a execução dos experimentos, incluindo os materiais e métodos utilizados. Além disso, os resultados obtidos são organizados em tabelas e gráficos, permitindo uma análise concisa dos parâmetros medidos e calculados. 2. METODOLOGIA O professor Liu Barros foi o responsável por ministrar tanto as aulas teóricas quanto as práticas. As aulas teóricas aconteceram em sala de aula, proporcionando aos alunos uma compreensão dos princípios fundamentais que embasam os experimentos. Por outro lado, as aulas práticas foram realizadas nas instalações do Laboratório de Aplicações em Energia e Fenômenos de Transporte (LAEFT). Neste ambiente, os alunos participaram de três ensaios práticos, nos quais puderam aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos. 5 2.1. Ensaio de Escoamento O tubo de Pitot, também conhecido como pitômetro (Figura 1), é um instrumento que utiliza o Princípio de Bernoulli e o princípio da continuidade para medir a velocidade de fluidos em movimento. Esse dispositivo se baseia na conservação de energia em um fluido ideal, permitindo a comparação de suas medições com as de sensores eletrônicos modernos para avaliar sua precisão. Nomeado em homenagem a Henri Pitot, um engenheiro hidráulico francês, o tubo foi desenvolvido por ele em 1732. Inicialmente, Pitot se dedicou aos estudos de Astronomia e Matemática, mas acabou se especializando em fluidos e conseguiu criar um dispositivo eficaz para medir a velocidade de líquidos e gases (Chanson, 2004). Para que a equação de Bernoulli seja aplicável ao tubo de Pitot, algumas suposições são feitas: o escoamento é considerado permanente e incompressível, sem atrito, e as partículas do fluido se movem ao longo de linhas de corrente. A velocidade do fluido (VP) pode ser calculada a partir da Equação 1, onde a diferença de pressão (ΔP) entre a pressão estática e a pressão total, considerando também a densidade do ar (ρ) e do líquido (ρM), a aceleração da gravidade (g) e a altura (h) do líquido em um determinado ponto. Esse método é amplamente utilizado em diversas aplicações, como na aviação para medir a velocidade do ar, em sistemas de ventilação e em processos industriais, Figura 1 – Simplificação do tubo de Pitot (Barros, 2023). (1) 6 destacando a importância do tubo de Pitot na medição de fluidos e sua relevância histórica na engenharia. 2.1.1. Procedimento de ensaio Para conduzir o experimento, foi empregado um gerador de frequências da Siemens, que possibilita o controle da velocidade do ventilador em função da frequência selecionada. A velocidade do ar, considerada como referência, foi medida utilizando uma sonda anemométrica do modelo VT 200, fabricada pela Kimo, como demonstrado na Figura 2. O tubo de Pitot foi conectado a uma das entradas de um manômetro em formato de “U”, fabricado pela Sttylus, enquanto a outra entrada do manômetro foi ligada a um tubo, mostrado na Figura 3, que serve para medir a pressão estática do fluxo. O ponto A, indicado é onde serão realizadas as medições. Para assegurar a exatidão dos dados obtidos, é crucial que a extremidade do tubo de Pitot e o sensor Kimo estejam posicionados o mais próximo possível do centro da seção do fluxo de ar. Isso se deve ao fato de que a velocidade do fluido pode variar bastante dependendo da localização transversal dos instrumentos. Ao longo do experimento, a frequência do gerador será ajustada, e, para cada frequência selecionada, serão coletadas medições da velocidade do ar no sensor Kimo e da diferença de altura nos tubos do manômetro. Essas informações permitirão o cálculo da velocidade do Figura 2 - Sonda anemométrica Kimo VT 200 (Próprio autor, 2024). 7 fluido com a Equação 1, contribuindo para uma avaliação precisa do desempenho do sistema em teste. 2.2. Ensaio de termopares Para a realização dos ensaios, foram utilizados os seguintes equipamentos: um multímetro modelo POL-79C da Politerm, dois termopares do tipo J (Fe e Co), dois conectores tipo barra borne, um fio de cobre, uma extensão, um sensor PT100, um arame e uma garrafa térmica contendo água quente. Os termopares são dispositivos comuns na medição de temperatura, constituídos por dois metais diferentes. Eles funcionam detectando a variação de temperatura entre suas extremidades, o que gera uma diferença de potencial (ddp) que pode ser medida. Para traduzir essa ddp em temperatura, o usuário pode consultar tabelas específicas que estabelecem a relação entre os dois. Adicionalmente, o sensor PT100, que opera com base no princípio da resistência elétrica, oferece medições de temperaturaaltamente precisas e confiáveis, complementando os dados obtidos pelos termopares. A combinação desses instrumentos possibilita uma análise abrangente das variações térmicas. A garrafa térmica com água quente é fundamental para criar um ambiente controlado, permitindo medições em diferentes temperaturas de referência e assegurando a consistência dos resultados obtidos. Figura 3 - Esquema de medição e pontos de análises (Próprio autor, 2024). (A) 8 2.2.1. Sensor PT100 Comumente utilizado em laboratórios e indústrias, o presente sensor funciona com base em um resistor cuja resistência aumenta à medida que a temperatura sobe. Essa característica permite calcular a temperatura de forma precisa a partir da resistência medida. A relação entre a resistência e a temperatura é descrita pela Equação 2, na qual o valor de R₀, que representa a resistência a 0°C, é de 100 Ω, enquanto o coeficiente de temperatura α é de 0,00392°C⁻¹. 2.2.2. Procedimento do ensaio 1 O objetivo do procedimento foi medir a temperatura da água em uma garrafa térmica. Para isso, foi montada uma estrutura com um bloco conector, um sensor PT100 e um termopar (Figura 4). As extremidades dos sensores de temperatura foram conectadas para evitar interferências do ambiente. Primeiro, foi necessário medir a temperatura ambiente, pois o termopar calcula a temperatura com base na diferença de temperatura entre suas extremidades. Assim, foram registrados os valores da diferença de potencial (ddp) do termopar e da resistência do PT100 ao expor os sensores ao ambiente do laboratório. Para determinar a temperatura da água, foram utilizados dois métodos: um com o PT100 e outro com o termopar. No método do PT100, a resistência do sensor foi medida ao mergulhá-lo na água. No método do termopar, a ddp foi coletada em contato com a água, e esse valor, somado à temperatura ambiente, permitiu calcular a temperatura da água usando uma tabela. Figura 4 - Esquema da das ligações do primeiro experimento (Barros, 2023). (2) 9 2.2.3. Procedimento do ensaio 1 Durante a segundo experimento, o sensor PT100 foi substituído por um segundo termopar, conforme mostrado na Figura 5. O bloco 1, onde ambos os termopares estão conectados, possui ligações que se estendem a um segundo bloco, no qual, o termopar 1 é conectado por meio de uma extensão, enquanto o termopar 2 utiliza um fio de cobre. Inicialmente, as juntas quentes de ambos os termopares foram submersas na água da garrafa térmica. Após essa etapa, foi medida a diferença de potencial (ddp) dos dois termopares no bloco 2. Em seguida, o bloco 1 foi posicionado sobre o bocal da garrafa térmica, sendo exposto ao aquecimento gerado pelo vapor d'água. Mais uma vez, a ddp de ambos os termopares foi medida no bloco 2. Essa abordagem permitiu a comparação das leituras de temperatura entre os dois termopares em diferentes condições. 3. RESULTADOS 3.1. Resultado ensaio de escoamento Após a realização das medições da velocidade de referência (VKIMO) e da diferença de altura entre os tubos do manômetro para cada incremento de frequência de rotação (f), as velocidades calculadas pelo tubo de Pitot (VPITOT) foram determinadas de acordo com a Equação 1. O líquido manométrico utilizado foi água, com uma densidade (ρM) de 1000 kg/m³, e a aceleração da gravidade (g) considerada foi de 9,81 m/s². Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 1. Figura 5 - Esquema da das ligações do segundo experimento (Barros, 2023). 10 Ao examinar a Tabela 1 e a Figura 6 observa-se uma discrepância notável entre os valores medidos pelo sensor eletrônico e aqueles calculados pelo tubo de Pitot, tendo uma média de erro de 12,7%. Apesar dessa diferença, ela pode ser considerada uma aproximação razoável. Para melhorar a precisão dos resultados, algumas medidas poderiam ser adotadas: a utilização de um manômetro mais preciso facilitaria a visualização das diferenças de altura, a inclusão de um suporte para o tubo de Pitot garantiria que ele estivesse posicionado centralmente no fluxo de ar e a realização de um maior número de ensaios poderia resultar em uma média mais confiável, minimizando a variabilidade dos dados. Essas estratégias poderiam contribuir para uma análise mais rigorosa e para a obtenção de resultados mais consistentes nas medições de velocidade. Figura 6 - Frequência x Velocidade de fluxo (Próprio autor, 2024) Tabela 1 - Medidas para cálculo da velocidade de fluxo (Próprio autor, 2024). 11 3.2. Resultados dos ensaios com termopares Após a realização das experimentações, os valores foram registrados de acordo com os procedimentos executados. Em seguida, foi iniciada a análise dos dados, com o objetivo de entender as razões por trás dos resultados obtidos, sempre considerando a base teórica que fundamenta as observações feitas. 3.2.1. Resultados ensaio 1 No primeiro experimento, foram realizadas medições tanto com o sensor PT100 quanto com o termopar em dois cenários diferentes: inicialmente no ambiente e, em seguida, após serem inseridos em um recipiente com água quente. Para determinar a temperatura medida pelo PT100, foi utilizada a Equação 2, com os resultados apresentados na Tabela 2. Após medir a diferença de potencial (ddp) nos polos do termopar e compará-la com a tabela de referência, verificou-se que o termopar indicou uma temperatura aproximadamente 20 °C inferior à temperatura real. Isso revela uma diferença notável entre as medições feitas pelo termopar e pelo PT100. Entretanto, considerando que a temperatura ambiente foi tomada como sendo em torno de 20,4 °C, pode-se concluir que a medição do termopar, embora subestimada, ficou relativamente próxima do valor esperado. Isso indica que, apesar da discrepância, o termopar ainda proporciona uma leitura que, dentro de certos limites, se alinha à medição realizada pelo PT100, especialmente em condições de temperatura ambiente. 3.2.2. Resultados ensaio 2 No segundo experimento, foram analisados os dados obtidos ao medir as temperaturas com termopares utilizando extensores em diferentes situações. Na Tabela 3, observa-se que, quando as medições foram realizadas com ambos os bornes em Tabela 2 - Valores obtidos aferindo a medição do PT100 e do termopar (Próprio autor, 2024). 12 ambiente controlado, não houve diferença significativa entre o uso de fios de cobre e fios de extensão. No entanto, quando o borne do termopar 1 foi colocado sobre a garrafa com água quente, uma diferença notável surgiu nas medições realizadas com os diferentes extensores. Isso ocorre porque o cobre não gera força eletromotriz (f.e.m.) associada às diferenças de temperatura, ao contrário dos fios de extensão. Assim, conclui-se que, para obter medições mais precisas, é fundamental utilizar cabos de extensão adequados aos termopares, especialmente em situações onde há variações de temperatura significativas ao longo do circuito. Tabela 3 - Valores obtidos aferindo a medição dos termopares (Próprio autor, 2024). 13 4. CONCLUSÕES O relatório elaborado reflete as experiências dos alunos de graduação em engenharia mecânica da UFRGS no estudo dos fenômenos de transporte, destacando a importância desse tema para o desenvolvimento dos acadêmicos no contexto das tecnologias emergentes nessa área. A realização dos ensaios, tanto de escoamento quanto de termopares, possibilitou uma análise detalhada dos princípios envolvidos e suas aplicações práticas. No ensaio de escoamento, embora tenham sido observadas discrepâncias entre os valores medidos e os calculados, a proximidade dos resultados ainda é considerada aceitável. Essas diferençasindicam a necessidade de aprimorar os métodos experimentais, sugerindo que ajustes podem melhorar a precisão das medições em futuros experimentos. Em relação aos ensaios com termopares, os resultados evidenciaram a influência significativa das diferentes condições experimentais na precisão dos dados. Isso reforça a importância de utilizar métodos experimentais rigorosos para garantir a confiabilidade dos resultados. Em síntese, os resultados apresentados neste relatório, sustentados por uma base teórica sólida e metodologias experimentais bem aplicadas, oferecem insights valiosos para a compreensão e aplicação prática dos princípios de transporte. Tais estudos são fundamentais para o avanço científico e tecnológico na formação dos engenheiros mecânicos, destacando a importância crucial desses experimentos tanto no ambiente acadêmico quanto na futura atuação profissional dos alunos. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, L. ENG03123 – LABORATÓRIO DE MECÂNICA: Tubo de Pitot. Porto Alegre. 2023. Apresentação em slide, 13 slides. Aula de Laboratório de Mecânica da UFRGS. BARROS, L. ENG03123 – LABORATÓRIO DE MECÂNICA: Termopares. Porto Alegre. 2023. Apresentação em slide, 14 slides. Aula de Laboratório de Mecânica da UFRGS. CHANSON, H. The hydraulics of open channel flow: an introduction. Queensland: Elsevier, 2024 .