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<p>8</p><p>AUTARQUIA EDUCACIONAL DE AFOGADOS DA INGAZEIRA - AEDAI</p><p>FACULDADE DO SERTÃO DO PAJEÚ – FASP</p><p>DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS</p><p>LEÔNIDA LEITE FERREIRA SILVA</p><p>ABANDONO AFETIVO E AS GRAVES CONSEQUENCIAS NA VIDA DAS CRIANÇAS</p><p>AFOGADOS DA INGAZEIRA</p><p>2022</p><p>LEÔNIDA LEITE FERREIRA SILVA</p><p>ABANDONO AFETIVO E AS GRAVES CONSEQUENCIAS NA VIDA DAS CRIANÇAS</p><p>Monografia apresentada à Faculdade do Sertão do Pajeú – FASP para obtenção do grau de Bacharel em Direito.</p><p>Orientador(a): Jonas Mário Nascimento Cassiano</p><p>AFOGADOS DA INGAZEIRA</p><p>2022</p><p>(Verso da folha de rosto )</p><p>A ficha catalográfica é preparada pela Biblioteca.</p><p>(</p><p>S586m Silva, AXXXXXXXXXX e</p><p>Manual de serviço da biblioteca da Faculdade XXXXXX /</p><p>MariaXXXXXX, --Afogados da Ingazeira: FaculdadeXXXX, 2021.</p><p>48 f. : il.</p><p>Monografia (Graduação) – Faculdade XXXXXXXXX. Curso de</p><p>Bacharelado em Direito, 2021.</p><p>1. Biblioteca universitária – Manual de serviço. 2. Biblioteca da</p><p>Faculdade XXXXXXXXXX – Manual de serviço. I. Faculdade XXXXX</p><p>. II. Título.</p><p>CDU-027.7</p><p>)</p><p>FACULDADE DO SERTÃO DO PAJEÚ – FASP</p><p>DIREITO</p><p>LEÔNIDA LEITE FERREIRA SILVA</p><p>ABANDONO AFETIVO E AS GRAVES CONSEQUENCIAS NA VIDA DAS CRIANÇAS</p><p>Monografia submetida ao corpo docente do Curso de Bacharelado em Direito, da Faculdade do Sertão do Pajeú - FASP, aprovada em ___ de ____ de ____ (dia, mês e ano).</p><p>Banca examinadora</p><p>_______________________________________________________________</p><p>Nome completo, titulação e instituição de origem do professor Orientador</p><p>_______________________________________________________________</p><p>Nome completo, titulação e instituição de origem do professor Examinador</p><p>_______________________________________________________________</p><p>Nome completo, titulação e instituição de origem do professor Examinador</p><p>RESUMO</p><p>O presente trabalho examina a evolução vivida pela família e os direitos responsáveis pelo cuidado da instituição para mostrar as muitas consequências do abandono afetivo e seu impacto na vida das crianças. O presente estudo é de natureza qualitativa, com ênfase em análises bibliográficas e publicações já existentes sobre o referido tema. O estudo dividiu-se em capítulos, sendo que no primeiro será abordado o referencial teórico sobre o abandono afetivo e as suas graves conseqüências na vida da criança, no segundo capitulo será abordada a metodologia utilizada no trabalho e no ultimo capitulo será feita a analise e discussão dos dados analisados no decorrer do trabalho. Após análise, pode-se concluir que a responsabilidade civil do direito de família é um tema problemático, havendo certa dificuldade de consenso entre a doutrina e a jurisprudência. Atualmente não existe legislação específica sobre o abandono afetivo, sendo notório que o abandono afetivo pode ser indenizado, mas somente se causar dano evidente à criança e lesar a dignidade da pessoa, que é um bem tutelado judicialmente.</p><p>Palavras-chave: Direito de Família; Afetividade; Consequências.</p><p>ABSTRACT</p><p>The present work examines the evolution experienced by the family and the rights responsible for the care of the institution to show the many consequences of emotional abandonment and its impact on the children's lives. The present study is of a qualitative nature, with emphasis on bibliographic analyzes and existing publications on the referred subject. The study was divided into chapters, in which the first will address the theoretical framework on affective abandonment and its serious consequences on the child's life, the second chapter will address the methodology used in the work and the last chapter will be the analysis and discussion of the data analyzed during the work. After analysis, it can be concluded that the civil liability of family law is a problematic issue, with some difficulty of consensus between doctrine and jurisprudence. Currently, there is no specific legislation on emotional abandonment, and it is clear that emotional abandonment can be compensated, but only if it causes obvious damage to the child and harms the dignity of the person, which is a judicially protected asset.</p><p>Key-words: Family Law; Affectivity; Consequences.</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO 08</p><p>2 REFERENCIAL TEÓRICO 10</p><p>2.1 Evolução Histórica 10</p><p>2.2 A Relação Familiar 11</p><p>2.3 Princípios Inerentes a Relação familiar 13</p><p>2.4 Responsabilidade Civil e o Dever de Indenizar 18</p><p>2.5 A Caracterização do Dano a Partir do Abandono Afetivo 20</p><p>3 METODOLOGIA 23</p><p>4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS 24</p><p>5 CONCLUSÃO 26</p><p>REFERÊNCIAS 27</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Essa monografia trata sobre o abandono afetivo e as graves consequências na vida das crianças. Diante disso, os pais são os principais responsáveis por moldar o comportamento e o caráter de seus filhos para que eles cresçam e se tornem adultos completos e saudáveis, mental e fisicamente saudáveis. Uma criança e jovem que cresce sem este apego, negligenciado ou abandonado pelo pai ou pela mãe, pode tornar-se um adulto com problemas psicológicos e infeliz, refletindo este déficit na sua vida pessoal e social, um adulto que pode ter dificuldades de comunicação e ficar ansioso convivendo com outras pessoas, a falta de ajuda dos pais e apoio moral para os filhos causa danos mentais e emocionais irreparáveis.</p><p>Este trabalho justifica-se, pois, essa questão do abandono afetivo é rotineira e, embora não haja muita clareza, é importante, pois esse é o principal motivo para analisar como essas disputas são tratadas pelos tribunais e quais são os entendimentos feitos atualmente colocando em prática. Sabe-se que, o afeto é essencial para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, as chances de alguém desenvolver algum tipo de transtorno psicológico são maiores quando há abandono emocional na infância.</p><p>Diante disso, o estudo tem por finalidade mostrar as inúmeras consequências causadas pelo abandono afetivo e suas implicações na vida da criança.</p><p>O presente estudo é de natureza qualitativa, com ênfase a pesquisa bibliográfica e visou a compreensão do conjunto de técnicas e métodos que possibilitam levar a conhecimento científico relevante. Esta pesquisa refere-se a ferramentas utilizadas para capturar ou manipular a realidade, associadas a métodos, formas e procedimentos que levam a objetivos específicos.</p><p>O estudo dividiu-se em capítulos, sendo que no primeiro será abordado o referencial teórico sobre o abandono afetivo e as suas graves conseqüências na vida da criança, no segundo capitulo será abordada a metodologia utilizada no trabalho e no ultimo capitulo será feita a analise e discussão dos dados analisados no decorrer do trabalho.</p><p>Como todos sabemos, o conceito de família mudou muito recentemente, mas ainda é considerada a sociedade mais importante na vida de todos, mas isso não muda o fato de que os laços familiares são rompidos, principalmente quando acontece o abandono. As consequências do comportamento emocional dos pais em relação aos filhos têm se mostrado prejudiciais para a vida adulta das crianças.</p><p>Sabe-se que quando uma criança se vê em uma situação em que compartilha momentos com o pai ou a mãe, sem a possibilidade de vê-los ao mesmo tempo, isso causa transtornos já comprovados e estudados pela psicologia. Assim, já podemos imaginar o resultado de uma possível relação em que a atitude do pai ou da mãe seja extremamente indiferente em relação ao fornecimento de alimentos para a prole, mas principalmente em demonstrar pai, mãe e sentimentos inatos.</p><p>Um lar saudável para que todos possam crescer, se desenvolver e fazer bem, pai e mãe, juntos para a felicidade comum dos filhos, que é o principal objetivo da constituição de uma família, proporcionar ao filho união, respeito, amor, atenção e dignidade, apoio moral e social.</p><p>Desta forma, observa-se que os pais são referências na vida dos filhos,</p><p>o comportamento do pai pode ser inspirado por ele como exemplo para o filho ou atrapalhar negativamente o seu desenvolvimento. As crianças veem os pais como modelos a seguir, por isso os pais devem ter cuidado em todas as suas ações e tentar ser sempre o melhor para o seu filho, respeitando-se a si próprios e às outras pessoas.</p><p>2 REFERENCIAL TEÓRICO</p><p>2.1 Evolução Histórica</p><p>A família é o primeiro elemento da história dos grupos humanos, pois dela provêm todos os demais (FARIAS; ROSENVALD, 2016), por isso sofreu muitas mudanças conceituais ao longo da história, e ainda hoje é difícil imaginar tal instituição.</p><p>A estrutura familiar ocidental é baseada na lei romana, que é baseada em um sistema patriarcal. Em Roma, a organização familiar era baseada no princípio da autoridade, além disso, era uma unidade econômica, política e religiosa que era dirigida exclusivamente pelo Pater familias (PEREIRA, 2014). Pontes de Miranda (1955, apud RIZZARDO, 2011) afirma que o termo família incluía “as riquezas e todos os escravos pertencentes aos senhores (RIZZARDO, 2011).</p><p>Pereira (2014) leciona que:</p><p>O pater era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domésticos (penates) e distribuía justiça. Exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis), podia impor-lhes pena corporal, vendê-los, tirar-lhes a vida. A mulher vivia in loco filiae, totalmente subordinada à autoridade marital (in manu mariti), nunca adquirindo autonomia, pois passava da condição de filha à de esposa, sem alteração na sua capacidade; não tinha direitos próprios, era atingida por capitis deminutio pérpetua que se justificava propter sexus infirmitatem et ignorantiam retrum forensium. Podia ser repudiada por ato unilateral do marido (PEREIRA, 2014, p. 31).</p><p>A Igreja Católica Romana exerceu grande influência na sociedade, principalmente nas relações familiares, desde os anos 1980. O casamento religioso era o único que era aceito por ser indestrutível e ter como finalidade principal a reprodução (GRISARD FILHO, 2013), esse padrão continuou anos Isso é confirmado pelo fato de termos um código civil de 1916, os artigos referentes ao direito de família eram principalmente, casamento e autoridade do pai. O marido era responsável apenas pelo uso do poder do pai, um exemplo claro é que depois do casamento, a esposa tinha um marido para ajudá-la em todas as ações de sua vida civil, por isso ela estava relativamente incapaz de trabalhar, os filhos eram nascido fora. De casamento também não foi aceito considerado ilegal (RAMOS, 2016).</p><p>Com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, a legislação de família passou a pautar-se pelos “valores sociais e humanizadores, especialmente a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a igualdade essencial” (FARIAS; ROSENVALD, 2016, p. 71). Fachin (1999, apud RAMOS, 2016) ensina que a constituição adotada em 1988 “reforça a orientação diárquica da família à luz da igualdade, contrapondo-se à orientação unitária estabelecida pelo Código Civil de 1916 (FACHIN, 1999, apud RAMOS, 2016, p. 62).</p><p>Farias e Rosenvald (2016) afirmam que o caput de art. O artigo 226 da CF/88 constitui uma “cláusula geral de inclusão” porque reconhece que todos os grupos familiares constituídos merecem a proteção do Estado, independentemente do casamento (RAMOS, 2016, p. 73).</p><p>Farias e Rosenvald (2016) conceituam o objeto mais atual do direito de família, que é a família eudemonística:</p><p>Tendente à felicidade individual de seus membros, a partir da convivência, permitindo que cada pessoa se realize, pessoal e profissionalmente, convertendo-se em seres socialmente úteis, não mais se confinando ao estreito espaço da sua própria família (RAMOS, 2016, p. 73).</p><p>Na mesma linha de pensamento, Dias (2011) afirma que:</p><p>o eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de sua felicidade. A absorção do princípio eudemonista pelo ordenamento altera o sentido da proteção jurídica da família, deslocando-o da instituição para o sujeito (DIAS, 2011, p. 55).</p><p>A conclusão é que a família moderna é baseada no afeto, na ética, na solidariedade entre os membros e na busca do valor individual (FARIAS; ROSENVALD, 2016, p. 73). É um ambiente propício à autorrealização pessoal e emocional, e os interesses materiais passaram a ser secundários (LÔBO, 2011, p. 27).</p><p>2.2 A Relação Familiar</p><p>A sociedade está se movendo rapidamente para o desenvolvimento em todos os campos que pertencem a ela. E a família como instituição social não é diferente. A fim de satisfazer as necessidades sociais, o conceito de família tem estado em constante mudança, que varia de acordo com o tempo e o espaço (VENOSA, 2018).</p><p>De fato, o conceito de família foi um dos que mais mudou ao longo dos anos. A melhor prova disso é o Código Civil de 1916, Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916, revogada pela Lei nº 10.406/02, atual Código Civil brasileiro, que considerava apenas dois critérios para o conceito de família, o casamento e parentesco em primeiro lugar.</p><p>Em obediência à lei civil de 1916, Beviláqua (1976) definiu família como</p><p>um conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade, cuja eficácia se estende ora mais larga, ora mais restritamente, segundo as várias legislações. Outras vezes, porém, designam-se, por família, somente os cônjuges e a respectiva progênie (BEVILÁQUA, 1976, p. 16).</p><p>Essa seria a família tradicional, que, como argumenta Dias (2015, p. 132), “é mais ou menos intuitivo equiparar a família ao conceito de casamento. Também vem à mente a imagem de uma família patriarcal: o homem como figura central ao lado da esposa, rodeado de filhos, genros, genros e netos”.</p><p>Sustentando a afirmação do referido autor, foi enfatizado o pressuposto anteriormente adotado pelo Código Civil de 1916, de que o marido é o cabeça do casamento e seu papel era exercer a autoridade do pai o chefe de família e a esposa só podem desempenhar essa tarefa em sua ausência ou obstrução. Nessa lei, a mulher sempre foi tratada apenas como colega do marido, que era o principal representante da família.</p><p>Mas é claro que a ideia de família mudou. A começar pelo fim do culto à figura masculina, a tristeza da sociedade patriarcal onde o homem, o esposo, o pai era cultural e legalmente responsável pelo sustento, moral e bom caráter de sua família.</p><p>Ao falar do conceito retrógrado de família, Maluf (2010) preceitua que:</p><p>o esteio da família não se fincava na afetividade [...] Assim, dispõe-se que a gênese da família encontrava-se na autoridade parental e na marital, ungidas à forca suprema da crença religiosa, sendo, na concepção antiga, a sua formação mais uma associação religiosa do que uma formação natural (MALUF, 2010, p. 10).</p><p>De fato, além do desenvolvimento estrutural da família, os papéis das unidades pertencentes à família foram os que mais mudaram. A esse respeito, Venosa (2018, p. 5) diz que “a unidade básica da família, composta por pais e filhos, não mudou muito com a sociedade urbana. A família atual são pais e mães".</p><p>As mudanças na família e no seu conceito foram causadas por vários fatores. Entre eles, Dias (2015) destaca a emancipação da mulher e o distanciamento entre o Estado e a Igreja. Para elas</p><p>a emancipação feminina e o ingresso da mulher no mercado de trabalho a levaram para fora do lar. Deixou o homem de ser o provedor exclusivo da família, e foi exigida sua participação nas atividades domésticas. O afrouxamento dos laços entre Estado e a igreja acarretou profunda evolução social. Começaram a surgir novas estruturas de convívio sem uma terminologia adequada que as diferencie (DIAS, 2015, p. 132).</p><p>No entanto, existem inúmeros outros fatores que contribuíram para a necessária mudança na definição de família e como a lei a trata. Um exemplo pode ser dado pela relação homoafetiva, a chamada unidade familiar monoparental constituída por apenas um dos genitores (o que é de extrema importância para a abordagem do abandono afetivo) e até mesmo uma concubina, hoje</p><p>uma união estável.</p><p>Em termos de formas familiares, são reconhecidas a família nascida do casamento, a união estável (ex-concubina) e a família constituída por ambos os progenitores. Por se tratar de um texto legal, compreensivelmente é muito denso quando se trata de unidades familiares. Mas na situação atual existe arte. O artigo 226 da Constituição Federal de 1988 deve ser interpretado de forma ampla. Da mesma forma, Pereira (2012) diz que</p><p>apesar de certa timidez no texto quando se diz entidade familiar em vez de família, podemos marcar aí uma evolução. É compreensível que a elaboração de um texto legislativo seja eivada de forças políticas diversas. Mas talvez seja mesmo na diversidade que esteja a democracia. Apesar de alguns resistirem ainda em não entender o atual Texto constitucional, ele é a tradução da família atual, que não é mais singular, mas cada vez mais plural. E nele estão contidas todas as novas estruturas parentais e conjugais (PEREIRA, 2012, p. 7).</p><p>É possível observar que devido à transitoriedade histórica, que sempre vem acompanhada de diversos contextos advindos do tempo e do lugar, a sociedade muda suas necessidades, tendo sempre que adequar tudo a ela relacionado. E não foi diferente com o conceito de família. Hoje, tornou-se retrógrado pensar na família da mesma forma que nos tempos históricos passados.</p><p>2.3 Princípios Inerentes a Relação familiar</p><p>Para contextualizar o tema da rejeição afetiva, é necessário abordar os princípios que regem a família. Por isso, é de extrema importância conhecer esses princípios e sua aplicação legal.</p><p>A lei está repleta de princípios em suas mais diversas consequências. A sua existência pode ser detectada nos processos de modificação, interpretação, integração e implementação da norma. Porque para desenvolver uma norma jurídica, deve-se atentar para os princípios que a ela se aplicam. Dias (2015) explica a implementação de princípios na lei que</p><p>o ordenamento jurídico positivo compõe-se de princípios e regras cuja diferença não é apenas de grau de importância. Acima das regras legais, existem princípios que incorporam as exigências de justiça e de valores éticos que constituem o suporte axiológico, conferindo coerência interna e estrutura harmônica a todo o sistema jurídico (DIAS, 2015, p. 40).</p><p>Com o ramo do direito da família não é diferente. Na realidade, Dias (2015) garante que</p><p>é no direito das famílias onde mais se sente o reflexo dos princípios que a Constituição Federal consagra como valores sociais fundamentais, e que não podem se distanciar da atual concepção da família, com sua feição desdobrada em múltiplas facetas (DIAS, 2015, p. 43).</p><p>Sobre essa mesma temática, Gonçalves (2018) se pronunciou afirmando que</p><p>o Código Civil de 2002 procurou adaptar-se à evolução social e aos bons costumes, incorporando também as mudanças legislativas sobrevindas nas últimas décadas do século passado. Adveio, assim, com ampla e atualizada regulamentação dos aspectos essenciais do direito de família à luz dos princípios e normas constitucionais. As alterações introduzidas visam preservar a coesão familiar e os valores culturais, conferindo-se à família moderna um tratamento mais consentâneo à realidade social, atendendo-se às necessidades da prole e de afeição entre os cônjuges ou companheiros e aos elevados interesses da sociedade (GONÇALVES, 2018, p. 21).</p><p>Existem vários princípios implementados pelos professores. Dias (2015, p. 43-54) elenca vários deles, a saber: O princípio do respeito à dignidade humana, liberdade, igualdade e diversidade, solidariedade familiar, pluralidade de unidades familiares, proteção integral de crianças, jovens, jovens e o idoso, a proibição do retraimento social e o princípio da afetividade (DIAS, 2015).</p><p>Além dos princípios mencionados acima, Gonçalves (2018, p. 22-25) acrescenta outros que são extremamente importantes para a análise do tema deste trabalho. São eles o princípio da igualdade jurídica dos filhos e o princípio da paternidade responsável e do planejamento familiar (GONÇALVES, 2018).</p><p>Os princípios atuais do direito de família estão contidos na Constituição Federal de 1988. Como dito anteriormente, a atual Carta Magna retirou a imagem do pai como único titular do poder familiar e chefe da sociedade casada. O objetivo da constituição, entre muitos outros objetivos, foi trazer o indivíduo plenamente para o ambiente familiar, sem separar ou prejudicar um ou outro membro da família. Além disso, o artigo 6º da CF/88 também equiparou os filhos que antes eram tratados de forma desigual por terem nascido dentro ou fora do casamento, conforme §6° do art. 227, que estabelece que “os filhos, nascidos do casamento ou da adoção, têm os mesmos direitos e qualificações, sendo vedado todo parentesco discriminatório”.</p><p>Vale a pena analisar cada um dos princípios acima. O princípio da dignidade da pessoa humana é um dos pilares da Constituição Federal de 1988 e um dos princípios de seu rol de art. 1. Este princípio é também tido como fundamento no direito da família. Gonçalves (2018, p. 22) diz que “o direito de família é o mais humano de todos os campos jurídicos”. Portanto, ao tratar do conteúdo desta área do direito, fica difícil não pensar na submissão ao princípio da obediência e da dignidade da pessoa humana.</p><p>Sobre esse primeiro princípio, Diniz (2015) afirma que</p><p>o princípio do respeito da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1°, III), que constitui base da comunidade familiar (biológica ou socio afetiva), garantindo, tendo por parâmetro a afetividade, o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente (CF, art. 227) (DINIZ, 2015, p. 37).</p><p>Para Maria Berenice Dias (2015) o princípio da dignidade da pessoa humana “é o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito”. Para ela,</p><p>a dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum -, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em ideias pluralistas, solidaristas, democráticas e humanistas. (DIAS, 2015, p. 45).</p><p>No direito de família, o princípio da liberdade é aplicado ao poder paternal, à igualdade dos cônjuges na gestão conjunta dos poderes familiares, ao direito de contrair um casamento livre de estereótipos, como a relação homossexual, e à liberdade dissolver, casado a qualquer momento e se desejado, e ainda liberdade de expressão e opinião na família (DIAS, 2015).</p><p>O princípio da igualdade e respeito à diversidade pode referir-se a diversos temas, como a igualdade dos cônjuges e a igualdade dos filhos (Gonçalves, 2018, p. 23) são discutidos de forma independente, pois é discutido neste trabalho. Quanto à igualdade no casamento, esse princípio marca o fim do patriarcado nas antigas unidades familiares. Como visto anteriormente, o Código Civil de 1916 reconhecia o homem como único chefe do casamento e titular do poder familiar. Com a introdução desse princípio, esse cenário mudou e agora marido e mulher, família e mãe são tratados de forma igualitária.</p><p>O princípio da solidariedade familiar mostra que a reciprocidade e a cooperação prevalecem no ambiente familiar. Madaleno (2018) também se posicionou sobre esse princípio, que afirma que</p><p>a solidariedade é princípio e oxigênio de todas as relações familiares e afetivas, porque esses vínculos só podem se sustentar e se desenvolver em ambiente recíproco de compreensão e cooperação, ajudando-se mutuamente sempre que se fizer necessário (MADALENO, 2018, p. 91).</p><p>O princípio da pluralidade de unidades familiares afirma que o Estado deve reconhecer diferentes formas de constituição familiar, pois segundo Dias (2015, p. 49) a exclusão desses novos rádios familiares é conveniente para a injustiça.</p><p>O princípio</p><p>da proteção integral de crianças, jovens, jovens e idosos é de extrema importância do ponto de vista do direito de família, de modo que há legislação especial para eles, a condição de crianças e jovens (lei nº 8.069/1990) e o Regulamento do Idoso (Lei nº 10.741/2003). A Carta Grande dá especial atenção à proteção de crianças, jovens, jovens e idosos, a Constituição Federal reserva o Capítulo VII para tratar de questões específicas a eles.</p><p>O princípio da proibição do declínio social determina que as diretrizes dadas na constituição como garantidoras da proteção à família não podem ser revogadas. Portanto, a conquista da igualdade entre homens e mulheres, filhos e novas famílias não pode ser tratada como, por exemplo, antes. Para Dias (2015, p. 51), a reação social é um verdadeiro desrespeito às normas constitucionais.</p><p>O princípio da igualdade jurídica dos filhos está expressamente previsto no art. 227 § 6º da Constituição Federal de 1988 e este é um tema que já foi discutido anteriormente neste trabalho. No entanto, os pesquisadores tratam a questão como um princípio muito importante do ponto de vista do direito de família, portanto, é conveniente abordar a questão agora. Para melhor compreensão do conteúdo desse princípio, vale citar o que Gonçalves (2018) diz a respeito:</p><p>O dispositivo em apreço (art. 227, §6°, CF/88) estabelece absoluta igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a retrógrada distinção entre filiação legítima ou ilegítima, segundo os pais fossem casados ou não, e adotiva, que existia no Código Civil de 1916. Hoje, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, mas com iguais direitos e qualificações (CC, arts. 1.596 a 1.629) (GONÇALVES, 2018, p. 23).</p><p>O princípio da paternidade responsável e do planejamento familiar está previsto no §7º CF/88 §226, onde se lê como segue:</p><p>Art. 226, § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas (BRASIL, 1988).</p><p>Este princípio diz que as decisões sobre planejamento familiar são de responsabilidade do casal e que tais decisões são de responsabilidade direta dos pais e não podem ser impostas por nenhuma instituição.</p><p>Por fim, é muito importante analisar o princípio da eficiência. Este é o princípio do direito de família mais importante na estrutura deste trabalho. As opiniões de vários especialistas neste assunto são muito valiosas.</p><p>Madaleno (2018) diz que</p><p>O afeto é a mola propulsora dos laços familiares e das relações interpessoais movidas pelo sentimento e pelo amor, para ao fim e ao cabo dar sentido e dignidade à existência humana. A afetividade deve estar presente nos vínculos de filiação e de parentesco, variando tão somente na sua intensidade e nas especificidades do caso concreto. [...] A sobrevivência humana também depende e muito da interação do afeto; é valor supremo, necessidade ingente, bastando atentar para as demandas que estão surgindo para apurar responsabilidade civil pela ausência do afeto. [...] certamente nunca será inteiramente saudável aquele que não pode merecer o afeto de seus pais, ou de sua família e muito mais grave se não recebeu o afeto de ninguém (MADALENO, 2018, p. 97).</p><p>Diniz, (2015, p. 38) refere-se ao princípio da afetividade “em decorrência do respeito à dignidade humana, como diretriz das relações familiares”. Explica sua posição sobre a importância da união familiar.</p><p>Dias (2015, p. 52), por sua vez, enuncia que</p><p>a afetividade é o princípio que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia em face de considerações de caráter patrimonial ou biológico. [...] O direito ao afeto está muito ligado ao direito fundamental à felicidade. Também há a necessidade de o Estado atuar de modo a ajudar as pessoas a realizarem seus projetos racionais de realização de preferências ou desejos legítimos. Não basta a ausência de interferências estatais. O Estado precisa criar instrumentos (políticas públicas) que contribuam para as aspirações de felicidade das pessoas, municiado por elementos informacionais a respeito do que é importante para a comunidade e para o indivíduo (DIAS, 2015, p. 52).</p><p>À luz dos pontos de vista apresentados, o significado do afeto como base do grupo familiar é, portanto, infame, segundo a analogia de Maria Berenice Dias, sobretudo na conquista da auto-realização e da felicidade individual.</p><p>Depois de explicar os princípios, é importante vinculá-los ao tema principal deste artigo. Dessa forma, a penhora tem caráter fundamental, pois elevando-a a princípio do direito de família, cria a possibilidade de responsabilização civil dos pais que abandonam afetivamente os filhos.</p><p>2.4 Responsabilidade Civil e o Dever de Indenizar</p><p>A adequação da compensação decorrente do abandono afetivo parental continua a ser objeto de debate doutrinário, havendo muitos que discordam desse aspecto e podem perder o próprio foco da reparação do abandono afetivo.</p><p>Portanto, para evitar ou levar em conta a monetarização do amor e seu eventual exagero, cautelas devem ser tomadas para a fixação de indenização por danos imateriais. As preocupações estão no prelúdio de ações de indenização, voltadas apenas para ganhos pessoais e financeiros, apesar da ganância sem escrúpulos por dinheiro.</p><p>Nas lições de Julio Cezar de Oliveira Braga (2014).</p><p>Em decorrência do acolhimento do afeto como principio jurídico e bem tutelável pelo Estado, o compromisso legal dos pais de prestarem sustento alimentício ou material a seus filhos não seria mais suficiente por si só, ampliando-se o conceito de sustento por força da afetividade. O comprometimento afetivo em suas concepções de envolvimento, cuidado, dedicação e implicação com o outro. O afeto como propiciador da convivência familiar (BRAGA, 2014, p. 23).</p><p>É importante ressaltar que a indenização não substitui ou garante o direito ao afeto. Essa questão agrava ainda mais as chances de reconciliação entre pai e filho e pode levar à separação. Porque é impossível obrigar alguém a demonstrar afeto, mesmo que seja obrigado a criar um filho, mas não o pediu quando o filho nasceu. Como seres humanos que dependem de relacionamentos familiares para se tornarem, eles precisam da presença, atenção, proteção e apoio psicológico, físico e moral de seus pais para crescer de maneira saudável.</p><p>O abandono afetivo é o dano que afeta a personalidade do indivíduo como pessoa, como pessoa em desenvolvimento, personalidade pré-existente se revela na família, e na criança torna-se sinal de humanidade e responsabilidade social. . Você pode desenvolver totalmente as habilidades que aparecem no ambiente social na idade adulta.</p><p>Para o Promotor Miguel Granato Veslasquez (2010), em seu artigo HECTOMBE X ECA:</p><p>“O abandono e a negligência familiar e a falta de afeto e diálogo também são problemas comuns que afligem os jovens, não sendo de espantar que mais de 90% dos adolescentes infratores internados provenham de famílias bastante desestruturadas, marcadas por agressões físicas e emocionais, problemas psiquiátricos e pela ausência das figuras paterna e materna, seja pela rejeição pura e simples, seja pela morte ou doença, muitas vezes causadas também pela violência urbana” (VESLASQUEZ, 2010).</p><p>É direito dos menores e dever dos pais ou tutores zelar pela integridade e formação da personalidade da criança, zelar pelo seu desenvolvimento harmonioso e evitar qualquer forma de negligência. Mas a presença do afeto é essencial e muito importante na vida de quem não buscou nascer.</p><p>A falta de amor, a falta de vínculos afetivos entre os familiares podem causar danos duradouros ao longo da vida. Um pai não pode se excluir da existência de seu filho. Ele deve cumprir seus deveres familiares com todo respeito e amor.</p><p>Nas palavras de Maria Berenice (2010):</p><p>A falta</p><p>de convívio dos pais com os filhos, em face do rompimento do elo de afetividade, pode gerar severas sequelas psicológicas e comprometer o desenvolvimento saudável da prole. A figura do pai é responsável pela primeira e necessária ruptura da intimidade mãefilho e pela introdução do filho no mundo transpessoal, dos irmãos, dos parentes e da sociedade.</p><p>(...) A omissão do genitor em cumprir os encargos decorrentes do poder familiar, deixando de atender ao dever de ter o filho em sua companhia, produz danos emocionais merecedores de reparação. Se lhe faltar essa referência, o filho estará sendo prejudicado, talvez de forma permanente, para o resto de sua vida. Assim, a falta da figura do pai desestrutura os filhos, tira-lhes o rumo de vida e debita-lhes a vontade de assumir um projeto de vida. “Tornam-se pessoas inseguras, infelizes” (BERENICE, 2010, p. 123).</p><p>O abandono emocional é tão pernicioso quanto o abandono financeiro, causando danos e efeitos negativos em sua vida. As imperfeições materiais podem ser substituídas ou reparadas, mas o amor não. As normas de direito tentam mitigar o dano, mas o amor não pode ser materialmente compensado. Quebrar a lei viola a dignidade de um ser humano em crescimento.</p><p>Nas lições de Bernardo Castelo Branco (2006):</p><p>“Havendo violação dos direitos da personalidade, mesmo no âmbito da família, não se pode negar ao ofendido a possibilidade de reparação do dano moral, não atuando esta como fator desagregador daquela instituição, mas de proteção da dignidade de seus membros. A reparação, embora expressa em pecúnia, não busca, neste caso, qualquer vantagem patrimonial em beneficio da vitima, relevando-se na verdade como forma de compensação diante da ofensa recebida, que em sua essencial é de fato irreparável, atuando ao mesmo tempo em seu sentido educativo, na medida em que representa uma sanção aplicada ao ofensor, irradiando daí seu efeito preventivo” (BRANCO, 2006, p. 116).</p><p>A presença dos pais deve ser parte integrante da vida da criança para apoiar o desenvolvimento psicológico e material da criança.</p><p>O ordenamento jurídico brasileiro prioriza a convivência entre pais e filhos, a fim de fortalecer o vínculo afetivo entre mãe e pai, cabendo à família a educação do filho em todos os seus aspectos.</p><p>2.5 A Caracterização do Dano a Partir do Abandono Afetivo</p><p>Resta esclarecer se o abandono afetivo prejudica crianças, jovens e adolescentes e se esse dano acarretará responsabilidade civil do genitor negligenciado. Portanto, é preciso analisar os malefícios que a ausência do pai ou da mãe causa à criança.</p><p>Para melhor compreensão é muito importante entender o conceito de responsabilidade civil. Como explica Venosa (2013):</p><p>A responsabilidade civil leva em conta, primordialmente, o dano, o prejuízo, o desequilíbrio patrimonial, embora em sede de dano exclusivamente moral. O que se tem em mira é a dor psíquica ou o desconforto comportamental da vítima. No entanto, é básico que, se não houver dano ou prejuízo a ser ressarcido, não temos porque falar em responsabilidade civil: simplesmente não há porque responder. A responsabilidade civil pressupõe um equilíbrio entre dois patrimônios que deve ser restabelecido (VENOSA, 2013, p. 22).</p><p>E para a consolidação da responsabilidade civil, verificamos que o valor do dano é o critério de existência. Portanto, em caso de dano, devemos falar em responsabilidade civil. Venosa (2013) também afirma:</p><p>O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar (VENOSA, 2013, p. 01).</p><p>A partir da análise de alguns dos prejuízos que um indivíduo pode sofrer em decorrência da ausência afetiva de um ou de ambos os genitores, considerando o número de danos requisito para a apuração da responsabilidade civil nos termos do art. Lópes (2009) diz:</p><p>O homem vem ao mundo em condições verdadeiramente deploráveis: incapaz de valer-se por si mesmo, está condenado a morrer em poucas horas se não velarem por ele seus progenitores, ou quem os substitui na missão tutelar. Mas o recém-nascido, aparentemente inerme, traz consigo um potencial energético considerável, que lhe é transmitido pelo misterioso ato de hereditariedade, e em virtude dele será possível, utilizando os estímulos do meio em que vive, desenvolver com este uma série de reações cada vez mais complexas, até criar-se uma vida interior, de autoconhecimento, que o levará a categoria de ser consciente, dotado de uma personalidade bem manifesta (LÓPES, 2009, p. 53).</p><p>Do trecho acima, percebemos o quanto é importante a presença dos pais na vida da criança desde o nascimento. Concluímos que a ausência dos pais prejudica estes já nos primeiros dias de vida, pois permanece a questão da genética e dos estímulos ambientais. A falta de um pai deixa a criança incapaz de responder às respostas do pai ausente.</p><p>Ainda em relação aos danos, Karow (2012) completa os ensinamentos:</p><p>A análise da existência desse dano é possível através de ciências afins como psiquiatria e a psicologia, pois as feridas causadas na alma, pela ausência da figura do genitor (a) geram danos muitas vezes irremediáveis e insuperáveis na personalidade de cada ser. [...] Nesse caso, somente quem foi abandonado emocionalmente sabe as psicopatias e desestruturas emocionais vivenciadas pela figura daquele que tanta falta lhe fez (KAROW, 2012, p. 294).</p><p>Costa (2009) ao tratar do abandono afetivo e dos danos provenientes deste, preconiza que:</p><p>O abandono afetivo é tão prejudicial quanto o abandono material. Ou mais. A carência material pode ser superada com muito trabalho, muita dedicação do genitor que preserve a guarda do infante, mas a carência de afeto corrói princípios, se estes não estão seguramente distintos na percepção da criança. É o afeto que delineia o caráter e, como é passível de entendimento coletivo, é a família estruturada que representa a base da sociedade. É comumente a falta de estrutura que conduz os homens aos desatinos criminosos, ao desequilíbrio social. Não que seja de extrema importância manter os pais dentro de casa, ou obrigá-los a amar ou a ter envolvimento afetivo contra sua própria natureza, mas é de fundamental valoração a manutenção dos vínculos com os filhos e a sua ausência pode desencadear prejuízos muitas vezes irreparáveis ao ser humano em constituição (COSTA, 2009).</p><p>Costa (2009) identifica o desequilíbrio social causado pela imperícia entre os afetados pela ausência parental e as condições que impulsionam a desagregação familiar por ausência parental para indivíduos de todas as personalidades. desenvolvimento. Além disso, ele disse:</p><p>A maior parte dos comportamentos do ser humano é adquirida, ou seja, algumas poucas atitudes são provenientes de traços da própria personalidade, enquanto a maioria é construída ao longo da vida, quando o ser humano tem contato com pessoas, objetos e conhecimento, seja este teórico ou empírico. Traumas e maus tratos, mais precisamente o trauma de abandono afetivo parental, imprimem uma marca indelével no comportamento da criança ou do adolescente. É uma espera por alguém que nunca vem, é um aniversário sem um telefonema, são dias dos pais/mães em escolas sem a presença significativa deles, são anos sem contato algum, é a mais absoluta indiferença; podem-se relatar inúmeras formas de abandono moral e afetivo, e ainda assim, o ser humano continuará criando novas modalidades de traumas e vinganças pessoais, próprias de sua vida desprovida de perspectivas e responsabilidades (COSTA, 2009).</p><p>Aqui observamos a ideia da interferência do contato com outras pessoas na construção da personalidade, uma vez que os traços humanos são inatos, muitos dos quais são compostos pelo meio em que estamos inseridos, e são adquiridos ao longo da vida, a ausência de um ou ambos os pais afeta diretamente quem somos, e talvez porque raramente haja uma explicação convincente para a ausência deles.. Crie sentimentos</p><p>de abandono, repulsa e negação na pessoa e espelhe esses sentimentos.</p><p>Demonstrados os prejuízos que podem sofrer os filhos que tiveram de lidar com a ausência dos pais, pode-se finalmente discutir a responsabilidade civil desses pais ausentes e a indenização dos filhos prejudicados pelo abandono afetivo.</p><p>3 METODOLOGIA</p><p>O presente trabalho foi elaborado através de uma revisão bibliográfica a cunho qualitativo. Diante disso, a revisão da literatura, pode ser compreendida como o conhecimento de uma temática, com a finalidade de averiguar, bem como reunir resultados de diversos estudos sobre uma temática. É importante ressaltar que a pesquisa bibliográfica “trata do levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto” [...] (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 43-44).</p><p>Sob uma perspectiva geral o estudo propiciou uma análise, reunião de estudos, interpretação, confrontando assim teorias e estudos de maneira relevante. Contudo, o estudo foi desenvolvido seguindo os preceitos do estudo exploratório, que é realizado a partir de material que já foi elaborado, constituído de livros, consultas on-line e artigos científicos.</p><p>Vale ressaltar que a revisão da literatura utilizou como fonte de dados livros e portais que indexa bases de dados como do Scielo e Lillacs. Vale inferir que foram utilizadas as seguintes palavras-chave: Direito de Família; Afetividade; Consequências. Ademais, a busca foi limitada a estudos redigidos em inglês e português que foram publicados recentemente e contemplem a temática, sendo excluídos resumos, dissertações e teses.</p><p>A seleção do trabalho é realizada por meio de uma busca abrangente das palavras descritivas acima na base de dados acima e passou por um processo de refinamento para atender aos critérios de inclusão definidos nesta pesquisa: texto completo e em português.</p><p>4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS</p><p>Como as responsabilidades parentais nem sempre são bem compreendidas, muitos pais se distanciam conscientemente dos filhos após a separação do casal e assumem obrigações de apoio moral, psicológico e emocional.</p><p>Mesmo em situações em que os pais nunca tiveram um relacionamento (famílias monoparentais), muitos pais abandonam emocionalmente os filhos sem exercer o direito de visita, ignorando a guarda e a convivência.</p><p>Madaleno (2009) diz sobre a renúncia moral dos pais:</p><p>Dentre os inescusáveis deveres paternos figura o de assistência moral, psíquica e afetiva, e quando os pais ou apenas um deles deixa de exercitar o verdadeiro e mais sublime de todos os sentidos da paternidade, respeitante a interação do convívio e entrosamento entre pai e filho, principalmente quando os pais são separados ou nas hipóteses de famílias monoparentais, onde um dos ascendentes não assume a relação fática de genitor, preferindo deixar o filho no mais completo abandono, sem exercer o direito de visitas, certamente afeta a higidez psicológica do descendente rejeitado (MADALENO, 2009, p. 310).</p><p>Essa rejeição pode ser atribuída a diversas situações: alguns pais ainda acreditam que sustentar os filhos com a pensão alimentícia é suficiente para liberá-los de suas responsabilidades sem que seja necessário visitá-los, acompanhar sua educação ou demonstrar amor. Outros, muitas vezes por nunca terem morado com a mãe/pai da criança, acreditam que se não morarem com a criança estão isentos da pensão alimentícia.</p><p>Em outras situações, com a dissolução dos casamentos e uniões estáveis, quando destes relacionamentos advém filhos, os genitores não guardiões negligenciam seus filhos, passando a exercer a paternidade com relação aos filhos da nova companheira ou novo companheiro de forma muito mais efetiva do que com seus filhos biológicos, relegando-os ao abandono.</p><p>A violação intencional do direito de visitação dos filhos por parte do pai não detentor da guarda, muitas vezes motivada por sentimentos de vingança contra o ex-cônjuge, também pode constituir a hipótese de rejeição afetiva, gerando sentimentos de rejeição nos filhos e enfraquecendo-os. reconhecimento (NADER, 2010).</p><p>Em todas essas situações, pode-se notar a característica do abandono afetivo, que é a negligência deliberada de criar, educar e conviver com os filhos, o que pode ser prejudicial ao desenvolvimento dessas crianças (MADALENO, 2009).</p><p>De fato, a Psicologia relata que a negligência e o afastamento dos pais podem levar a sintomas de abandono, baixa autoestima, baixo desempenho escolar nas crianças e consequências que duram toda a vida e afetam sua vida profissional e social como futuros adultos.</p><p>Sobre as consequências da conduta de pais negligentes, Gomide (2004), constata:</p><p>A negligência é considerada um dos principais fatores, senão o principal, a desencadear comportamentos antissociais nas crianças. E está muito associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas, e de adolescentes com o comportamento infrator (GOMIDE, 2004, p. 69).</p><p>Porém, segundo a autora supracitada, uma criança negligenciada é insegura, e por não ter recebido amor, é frágil. Alguns se comportam apaticamente, outros de forma agressiva, mas nunca em equilíbrio (GOMIDE, 2004).</p><p>Conforme Nader (2010):</p><p>A vida na idade adulta e a formação deste ser resultam de experiências vividas ao longo da vida, mormente no ambiente familiar, especialmente na infância e adolescência (,,,) Se a criança cresce em um ambiente sadio, benquista por seus pais, cercada de atenção, desenvolve naturalmente a autoestima, componente psicológico fundamental ao bom desempenho escolar, ao futuro sucesso profissional e ao bom relacionamento com as pessoas (NADER, 2010, p. 262).</p><p>Segundo Diniz (2010), a ausência de um dos pais significa a perda de proteção, companheirismo, afeto e recursos financeiros para muitas crianças, o que pode levar à delinquência juvenil, reprovação escolar e dependência de drogas.</p><p>No entanto, essa responsabilidade civil pelo abandono é contestada na doutrina e na jurisprudência nacional, pois muitos doutrinadores entendem que a indenização não aproximaria pais e filhos, pois a medida não tem efeito prático, por não haver obrigatoriedade legal.</p><p>5 CONCLUSÃO</p><p>Este trabalho teve como objetivo mostrar as inúmeras consequências causadas pelo abandono afetivo e suas implicações na vida da criança; o prejuízo decorrente do abandono afetivo da família e a responsabilidade civil pela reparação desse prejuízo.</p><p>O conceito de família deixou de ser patriarcal e a família passou a ter diversas formas que iam além dos laços consangüíneos, o apego passou a ser a prioridade da constituição familiar, surgiu um debate no STF sobre o reconhecimento da indenização moral pelo abandono afetivo.</p><p>A família, o Estado e a sociedade são responsáveis pela preservação dos direitos do menor, tendo em vista a extensão da violação, que não diz respeito apenas ao excluído da família. As consequências desse abandono atingem todo o círculo social, considerando a importância da família na formação e desenvolvimento psicológico, moral e físico do menor.</p><p>Com base no exposto, pode-se argumentar que a relação entre responsabilidade civil e direito de família é um assunto problemático que apresenta certas dificuldades de entendimento entre correntes doutrinárias e jurisprudenciais.</p><p>O desenvolvimento da família como instituição modificou alguns conceitos e parâmetros, abandonando a ideia de patriarcado, a estabilidade e infinitude das relações conjugais, e transformando-se em grupo social. Nessa mudança, o afeto, que antes era natural e espontâneo nas relações familiares, tornou-se várias vezes elemento jurídico.</p><p>Ainda não há legislação específica sobre abandono habitual e, portanto, a investigação e resolução de questões relacionadas por este instituto é baseada na jurisprudência e na doutrina. O abandono afetivo pode ser indenizado se a falta de afeto comprovadamente causar dano à criança e violar</p><p>a dignidade da pessoa humana, bem protegido por lei. Em suma, a sentença cabe ao bom senso do juiz na interpretação do dano moral sob abandono afetivo.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de Família. Rio de Janeiro, 1976.</p><p>BRAGA, Julio Cezar de Oliveira. Abandono afetivo: do direito à psicanálise. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.</p><p>BRANCO, Bernardo Castelo. Dano moral no Direito de Família. São Paulo: Método, 2006.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República. 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 01/12/2022.</p><p>COSTA, Walkyria Carvalho Nunes. Abandono afetivo parental: a traição do dever do apoio moral. Disponível em http://jus.com.br/revista/texto/12159. Acesso em 06 nov. 2022.</p><p>DIAS, Maria Berenice. 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