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1 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DO ABANDONO AFETIVO 
PATERNO-FILIAL: UMA ANÁLISE DOS REQUISITOS E POSSIBILIDADES PARA 
SUA APLICAÇÃO. 
CIVIL RESPONSIBILITY ARISING FROM PATERNAL AFFECTIVE 
ABANDONMENT: AN ANALYSIS OF THE REQUIREMENTS AND 
POSSIBILITIES FOR ITS APPLICATION. 
MARIA EDUARDA REINALDO PAIVA
1
 
JEAN MATHEUS DE OLIVEIRA FREIRE
2
 
BRUNO MORAIS GOMES DE OLIVEIRA
3
 
 
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise acerca da possibilidade do 
instituto da Responsabilização Civil decorrente do abandono afetivo na relação paterno-filial, 
no que tange a indenização como reparo do dano moral causado ao infante, uma vez presente 
os requisitos para sua caracterização, como culpa, nexo de causalidade e dano a partir do fato 
gerador. Buscou-se também verificar a aplicação do instituto da responsabilização civil no 
descumprimento do dever de cuidar por seu genitor em decisões favoráveis, e de que forma é 
capaz de ensejar sequelas psíquicas e emocionais aos filhos abandonados afetivamente. 
Portanto utilizou-se de correntes doutrinárias e jurisprudências para se fazer essa análise e 
observar como tem-se comportado nosso ordenamento jurídico, a evitar demandas 
meramente interesseiras e no sentido de vingança por parte das mães. 
PALAVRAS-CHAVE: Abandono afetivo. Relação paterno-filial. Responsabilidade civil. 
ABSTRACT: 
This article aims to analyze the possibility of the Civil Liability institute resulting from 
affective abandonment in the paternal-filial relationship, with regard to compensation as a 
repair for the moral damage caused to the kids, once the requirements for its characterization 
are present, as fault, causal link and damage from the triggering event. It was also sought to 
verify the application of the institute of civil liability in the failure to comply with the duty to 
care for their parent in favorable decisions, and in what way it is able to give rise to 
 
1
 Bacharelanda do curso em direito pela Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte. 
eduardareinaldo@hotmail.com. 
2
 Bacharelando do curso em direito pela Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte. 
jheanfreire@gmail.com. 
3
 Orientador. Advogado. Especialista em Direito público e Direito tributário, Professor do curso de graduação de 
Direito na Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte. Já atuou como membro da Comissão de Assistência a 
criança, ao adolescente e ao idoso. 
about:blank
about:blank
2 
 
 
 
psychological and emotional sequelae to children who have been abandoned emotionally. 
Therefore, doctrinal currents and jurisprudence were used to make this analysis and observe 
how our legal system has behaved, to avoid merely self-interested demands and in the sense 
of revenge on the part of mothers. 
1. INTRODUÇÃO 
 Uma pesquisa feita através no Portal de transparência de Registro Civil do Brasil no 
período compreendido entre 01/01/2021 à 01/01/2022 revela que 164.290 recém-nascidos 
foram identificados somente com o nome da mãe, sendo 2.649.081 o total de nascimento 
neste mesmo período, e 24.682 foram o total de reconhecimento de paternidade neste mesmo 
lapso temporal. Segundo o site Agencia Brasil, ainda nos mostra que de janeiro a abril de 
2022, já foram registrados 56,9 mil bebês por mães solo, o maior número em comparação 
com o mesmo período de anos anteriores, os dados foram divulgados pela Associação 
Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais. 
 Esses dados repercutem diretamente no direto estabelecido no Estatuto da criança e do 
adolescente (ECA) em seu art. 27, in verbis: O reconhecimento do estado de filiação é direito 
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus 
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. Dessa forma os dados 
apresentados nos induz à uma reflexão inicial sobre o tema. 
Seriam os pais "obrigados" a estabelecer vínculo de afeto com os filhos sob pena de 
responsabilização civil? De um lado, a liberdade do pai de manifestar/ estabelecer, ou não, um 
vínculo de afeto com o seu filho, e do outro lado a solidariedade que confere ao filho o direito 
de ser atendido em suas necessidades existenciais. O que deve prevalecer? (Pancieri, 2021). 
 A partir dessas considerações iniciais o presente artigo prestará uma análise que 
desperta diversas discursões no mundo jurídico brasileiro. O objetivo no estudo é a efetivação 
da análise bibliográfica, doutrinária e jurisprudencial dos requisitos e possibilidades para 
configuração do abandono afetivo advindo da relação paterno filial e consequentemente a 
responsabilização civil sob a luz do ordenamento jurídico brasileiro. 
O abandono afetivo é um tema complexo, bastante debatido e polemizado nos tribunais, 
gerando inúmeros casos de ações judiciais. O abandono poderá surgir desde o não 
reconhecimento da paternidade, de conflitos familiares entre o genitor e a genitora, e até 
mesmo em razão de um divórcio mal sucedido. 
3 
 
 
 
Outro fator que deve ser levado em consideração é a falta de cuidados fundamentais 
sentido pelos pais, pois não tiveram este afeto na sua infância. Assim, alegam não saberem 
dividir este sentimento e acabam tornando-se pessoas mais frias e com um imenso vazio em 
decorrência de sua criação. 
Abandono afetivo é a omissão de cuidado, de criação, educação, de assistência física, 
psíquica, moral e social, que os pais devem aos filhos, principalmente quando criança e 
adolescente. Ocorre quando os pais negligenciam a relação como seus filhos, carecendo com 
os deveres garantidos pelo art. 227 da Constituição Federal associado aos arts. 22 e 27 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) há a chance puni-los, buscando uma equiparação 
os danos causados ao infante. 
Quando há a ausência dos cuidados necessários, estamos diante de um abandono 
afetivo. O amor não é obrigatório, no entanto, o abandono afetivo gera dano moral, pois 
cuidar dos filhos é uma obrigação constitucional. Os responsáveis que negligenciam ou são 
omissos quanto ao dever geral de cuidado podem responder judicialmente por terem causado 
danos morais a seus próprios filhos. 
Para que possamos entrar no campo da discursão do tema abordado, julga necessário 
fazemos algumas ponderações acerca dos temas correlatos, deste modo o presente trabalho foi 
dividido em 3 capítulos. 
No capitulo 1 levantará uma arguição sucinta e objetiva sobre família e o poder familiar 
no contexto atual. E ainda serão analisados alguns princípios do direito da família e a proteção 
jurídica do afeto. 
No capitulo 2 abordará os requisitos e possibilidades para aplicação da 
responsabilidade civil, no tocante ao abandono afetivo na relação paterno-filial, assim como 
explanações sobre este instituto. 
E por fim, o capitulo 3 trará aspectos jurisprudenciais, com decisões extraídas do STJ 
através de pesquisa online realizada no site oficial, sobre o comportamento do ordenamento 
jurídico brasileiros em ações de indenização decorrentes de situação de abandono afetivo 
paterno. 
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do referido artigo foi o estudo de 
revisão bibliográfica de doutrinadores brasileiros, e subsidiariamente, o compilado de artigos 
relacionados ao tema, bem como jurisprudência e a própria legislação vigente. 
4 
 
 
 
2. A FAMÍLIA E O PODER FAMILIAR NO CONTEXTO ATUAL. 
A nova configuração de famílias vem se tornando algo comum e necessário em razão 
de sua definição no período colonial. Excluir estes novos grupos vão na contra mão dos 
princípios fundamentais e constitucionais assegurado a toda pessoa humana. 
A entidade familiar é o primeiro grupo social que um individuo pertence, e neste 
grupo é que se estabelecem valores e princípios iniciais, para tanto há uma necessidade de 
maior cautela estatal a este instituto assegurando a família proteçãodo estado (BONINI; 
ROLIN; ABDO, 2017). 
O termo família vem evoluindo e ocasionando diversas mudanças em nossa sociedade 
e no ordenamento jurídico brasileiro, assim como compreender esse grupo social é de grande 
importância perante os deveres e obrigações impostos pela legislação. 
Em relação ao tema, segundo Thomaz apud Pereira (2020, p.4): 
Durante um largo lapso temporal, a reunião familiar ocidental viveu sob a estrutura 
patriarcal. O pai reunia em si as funções de chefe, julgador e até mesmo sacerdote. 
Cabia-lhe decidir sobre a vida e a morte de sua família, que era formada por seus 
filhos, esposas e escravos. Por outro lado, a mulher sempre ocupava uma posição de 
subordinação, pois após o matrimônio passava a obedecer ao esposo, em 
substituição ao genitor. Com a evolução, a família limitou-se a ser composta por 
pais e filhos. E em substituição a autoridade do pai, que exercia o paterfamilias, a 
afetividade e a compreensão passaram a exercer influência na constituição familiar. 
Analisando o texto da Constituição Federal, é notória a omissão do legislador ao 
conceituar família de forma tão concisa e, até mesmo, insuficiente. O instituto família 
comporta vários conceitos jurídicos, sociológicos e sempre dinâmicos na medida em que a 
sociedade evolui, por isso a dificuldade em conceituá-lo. 
Nesse sentido, Gonçalves (2015, p.17) entende que família em lato sensu, é aquela que 
“abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um 
tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. compreende os 
cônjuges e companheiros, os parentes e os afins”. 
Pode-se perceber nos dias atuais, que a sociedade tem certa dificuldade em considerar 
como membros do núcleo familiar grupos oriundos fora do casamento, como concubinato e 
adoção, por considerar em não apresentar características da moralidade e função social. 
5 
 
 
 
É Importante comentar que, com os avanços tecnológicos e culturais o termo família 
passou por modificações, provocando alterações na formação de novos núcleos familiares. A 
mudança experimentada pela sociedade, bem como a evolução dos costumes, trouxeram 
verdadeira reconfiguração da conjugalidade e da parentalidade. Dessa forma não é mais 
permitida qualquer adjetivação à família e aos filhos, como expressões antigas do tipo 
ilegítima, adulterina dentre outras que foram retiradas do vocabulário jurídico. 
Dito isso, podemos observar que o modelo de família convencional, formado por um 
homem e uma mulher e seus descendentes, não é mais a realidade dos dias atuais. Haja vista 
as múltiplas relações familiares, não restringindo apenas ao casamento. Ressaltado novamente 
o reconhecimento de filhos fora do matrimônio que mostra outro lado da nova ordem jurídica. 
Para a nova estrutura jurídica o conceito de família abrange a socioafetiva, referida por 
alguns autores como família sociológica, identificadas, sobretudo, pelos laços afetivos, pela 
solidariedade entre seus membros. 
A Constituição Federal de 1988 reflete a sociedade atual marcada por estes avanços, a 
família ganhou status de instrumento de realização do ser humano, que foi colocado no centro 
do ordenamento jurídico. A Carta Magna igualou direitos de homens e mulheres, tratou 
indistintamente filhos havidos ou não do casamento, e passou a reconhecer efeitos jurídicos a 
outros modelos familiares além do matrimonial, dissociando família de casamento. 
Conforme previsão dos arts. 226, § 3º a 5º e art. 227, §6º da CF/88. In verbis: 
Art. 226: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem 
e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em 
casamento. 
§4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal serão exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher. 
 Ainda analisando a carta magna de 1988, o art. 227 e §6, a norma constitucional 
da prioridade absoluta dos direitos, mas também a participação do estado e toda sociedade no 
cumprimento do instituto, principalmente aqueles que atentam às especificidades da infância e 
da adolescência. 
6 
 
 
 
Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
§6º Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os 
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias 
relativas à filiação. 
Posto isso, apresentado os principais elementos de família, podemos concluir que sua 
conceituação dependerá do momento histórico de sua análise, uma vez que os fatores sociais, 
morais e religiosos são considerados parâmetros formalizadores do seio familiar. 
2.1. MODULAÇÃO DO PODER FAMILIAR. 
 Com o advento da Constituição Federal de 1988, houve a necessidade iminente de que 
ocorressem mudanças significativas na interpretação do Código Civil comparado ao código 
civil de 1916 que foi elaborado respeitando a realidade daquela época, uma vez que o pai era 
considerado o Pátrio Poder. 
 No Código Civil 2002, o instituto do Poder Familiar está contido nos artigos 1.630 e 
1.638 e é compreendido como sendo todo conjunto de direitos e deveres dos pais em relação 
aos filhos menores, não emancipados, com fim de cria-los, educa-los, cuidar-lhes da saúde 
física e mental, promovendo-lhes, ainda, o lazer, a dignidade humana, a proteção, o amor e, 
sobretudo, o convívio familiar e comunitário (BRASIL, 2002). 
Dessa forma, o legislador buscou adequar o código civil de 2002 ao um novo modelo 
constitucional. Um dos aspectos importantes a essa mudança se dá pela extinção da figura do 
Pátrio Poder, este que comportava a sujeição dos filhos ao poder superior do genitor, para o 
surgimento do Poder familiar, uma nova modulagem atribuído a ambos os pais, uma relação 
de direitos e deveres que os pais têm para com seus filhos. 
Segundo o Estatuto da criança e do adolescente em seu art. 21 regulamenta a respeito 
da questão, em síntese: 
7 
 
 
 
Art. 21- O pátrio poder será exercido em igualdade de condições, pelo pai e pela 
mãe na forma do que dispuser a legislação civil, assegurando a qualquer deles o 
direito de, em caso de discordância, recorrer a autoridade judiciária competente para 
a solução da divergência. 
 Pode-se observar que essa alteração não somente resultou na modificação do poder 
familiar, para sermos mais assertivos, essa modulação trouxe significativa mudança quanto ao 
conceito de família, que por sua vez, deixou de ser mero agrupamento de pessoas ligadas por 
vínculo de sangue para ser a reunião de seres humanos, ligados por um afeto específico e que 
visam auxiliar-se mutuamente. 
2.2 PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS LIGADOS AO DIREITO DE FAMILIA. 
 É Através dos princípios que se constrói o sistema jurídico dando-lhe coerência e 
sentido mediante os costumes e comportamento da sociedade, sendo estes bases ou pilares 
para o legislador e meio de desenvolvimento do raciocino ao cria-se uma norma. 
 Seguindo a temática do tópico anterior, é perceptível que a CFRB/88 promoveu uma 
releitura dos institutos e normas inerentes ao direito de família deixando de possuir apenas 
força suplementar, de preenchimento de lacunas, para ganhar eficácia normativa imediata. 
 E isto se derivou consoante à nova interpretação do legislador perante aos princípios, 
uma vez estes funcionando como alicerces para qualquer operação jurídica que diga em 
respeito ao direto de família.Para um melhor entendimento será feito alguns explanações 
sobre estes princípios não sendo a pretensão desse estudo euxarir o conhecimento ao extremo, 
mas não abstendo-se de tecer algumas considerações vistas como importantes para formação 
do raciocino da temática principal. 
2.2.1 O afeto como princípio do direito da família. 
 Para compreender o abandono afetivo na relação paterno-filial, deve-se discorrer 
acerca da importância do afeto na estrutura familiar contemporânea. É justamente na infância 
que a criança sente mais falta e necessidade em manter o vínculo afetivo com seus genitores, 
pois ela precisa se sentir amparada, amada, protegida e segura. É por meio dessa relação de 
afeto, que o filho tem o seu primeiro contato com o ser humano e com a vida em sociedade. 
 Devido a sua evidente importância, o ordenamento jurídico valorizou o afeto e passou 
a considerá-lo como um princípio constitucional implícito em consonância com o da 
8 
 
 
 
dignidade humana, mostrando-se fundamentado na ampliação interpretativa da Constituição 
Federal vigente. 
 Segundo Maria Berenice Dias (2015, p.52): o princípio da afetividade está fortemente 
ligado com o direito da busca à felicidade. Argumenta ainda que o estado deve agir como 
agente facilitador, de modo a ajudar as pessoas a realizarem seus projetos racionais, de 
realização, de preferências ou desejos legítimos. 
 Logo, podemos perceber que o afeto é a base da entidade familiar e, 
consequentemente, de toda organização social. Não existe hoje em dia um modelo de família 
cuja sua essência não esteja embasada no afeto recíproco. 
2.2.2 Princípio da dignidade da pessoa humana. 
 Considerado o principio de maior valor em nosso ordenamento jurídico, principio esse 
que norteia todas as relações jurídicas sejam elas litigadas entre particulares, ou entre estado e 
particulares. 
 A Constituição Federal de 1988, nos art. 227, consagrou o Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana no Direito Familiar, dando-lhe especial proteção independentemente de sua 
origem. 
 Para Maria Berenice (2015, p.45) O princípio da dignidade humana significa igual 
dignidade para todas as entidades familiares. assim, é indigno dar tratamento diferenciado às 
várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de família, 
 Posto isso, a dignidade atua no sentido de assegurar o pleno desenvolvimento e 
formação da personalidade de todos os integrantes do núcleo familiar, ao contrário do modelo 
patriarcal do passado, onde apenas a dignidade do marido era reconhecida. 
2.2.3 Princípio da paternidade responsável. 
 Este princípio reflete diretamente na temática deste estudo, que por sua vez possui 
relação intima com os demais apresentados, contribuindo assim para uma construção 
sistemática do conhecimento. 
 O principio da paternidade responsável significa responsabilidade, onde os genitores 
devem ser responsáveis por promover toda e qualquer carência do menor, seja ela fisicamente, 
economicamente, afetivamente e mentalmente. 
9 
 
 
 
 Nas palavras de Pereira apud Rodrigo da Cunha Pereira: 
Independente da convivência ou relacionamento dos pais, a eles cabe a 
responsabilidade pela criação e educação dos filhos, pois é inconcebível a ideia de 
que o divórcio ou término da relação dos genitores acarrete o fim da convivência 
entre os filhos e seus pais. (2012, p. 120) 
 Ainda sobre este aspecto, podemos identificar este princípio implicitamente no art. 
227 da CFRB/88, como também no art. 27 do ECA de forma explicita ao dispor sobre o 
reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível. 
3. POSSIBILIDADES DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PATERNA PELO 
ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS MENORES. 
 Inicialmente, este estudo pouco se preocupa em discorrer as diversas circunstâncias 
que possam resultar na origem da relação paterno-filial, como, antes ou depois do casamento, 
se a prole adveio de uma união estável ou pelo fato de uma relação sexual momentânea, o 
objetivo é fazer uma analise sobre a existência afetiva dessa relação, entender como se 
configura o dano moral na esfera civil, e a forma de reparação por meio de uma indenização. 
 Por conseguinte, sabemos que o amor não dever ser quantificado, muito embora 
alguns genitores desconheçam a etimologia da palavra. Como já dizia Denise Braga (2011), 
“O dinheiro pode não cessar a dor, encerrar as mágoas e enxugar as lágrimas. No entanto, 
tem-se que ter em mente que em situações extremas, de profundo dano e abalo psicológico, os 
seus causadores não podem ficar impunes”. 
 O abandono afetivo é algo difícil de conseguir uma definição, bem como sua 
comprovação, eis que as demandas nesse aspecto são bastante frequentes e está sendo 
bastante discutida nos tribunais 
 De acordo com a doutrina e a jurisprudência, a expressão “abandono afetivo” é 
utilizada quando os filhos são desamparados pelos pais, ou seja, os genitores são 
completamente omissos em relação aos seus descendentes, ainda que amparando-os 
materialmente. Todavia a assistência emocional é uma obrigação legal, conforme 
interpretação extensiva do art. 229 da Constituição federal, que subentende-se como a 
assistência imaterial, composta pelo o afeto, o cuidado e o amor. 
10 
 
 
 
 Como também preceitua o art. 1634 em seu insico I do código civil de 2002: Art. 
1634 - Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I - dirigir-lhes a criação e 
educação; 
 Interessante notar, que o abandono afetivo comporta um dos pais ou até mesmo 
ambos, ausentando-se nos cuidados para com seus filhos, todavia através de análises 
jurisprudenciais, se observa o abandono ser praticado, sobremaneira pela figura paterna. 
 Faz-se necessário e indispensável destacar que nas palavras de Zacchi apud Pereira 
(2017), onde na maioria das decisões que versam sobre as rupturas conjugais os filhos ficam 
com as mães, mesmo o ordenamento jurídico sendo claro que a custódia deverá ficar sobre 
aquele que tiver melhores condições, porém raramente o pai reivindica a guarda e acaba 
ficando com mãe. Que precisam trabalhar e cria-los às custas de um esgotamento físico e 
psíquico. 
 Em decorrência deste, o termo abandono afetivo compreende-se como o 
distanciamento ou ausência afetiva de convívio com os filhos, ao não cumprimento pela 
figura paterna de seus deveres jurídicos, Tendo como características a continuidade, a 
vulnerabilidade do ofendido e o silêncio, conforme explica Bicca (2015). 
 Portanto, o afeto está relacionado ao dever de cuidado, uma obrigação jurídica 
relacionada fortemente ao convívio, proteção e transmissão de carinho. Segundo Thomaz 
apud Hironaka (2006) afirma que a presença física do genitor no seio familiar não é garantia 
de que exista afetividade, mas sim o bom exercício da paternidade. 
3.1. DANO MORAL COMO ELEMENTO JURIDICO OFENDIDO DOS FILHOS 
ABANDONADOS AFETIVAMENTE. 
 Antes de adentramos na discursão sobre a responsabilidade civil, faz-se necessário 
entender sobre os pressupostos para sua aplicação. E o dano moral é tido como um dos 
elementos constituintes desse instituto jurídico como forma de responsabilização decorrente 
do abandono afetivo causado principalmente pelo distanciamento, omissão de sentimento, 
desprezo e falta de apoio. 
 O código Civil de 2002 é incisivo quando trata desse assunto primeiramente em seu 
art. 186. 
11 
 
 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
 Nesse primeiro aspecto temos o dano moral como ato ilícito praticado pela própria 
pessoa ou terceiro, seja ele pela ação ou omissão que resulte em um prejuízo ao ofendido. 
Adiante temos o art. 927 que trata sobre os requisitos para reparação, como culpa, nexo de 
causalidade e a existência de um dano (material ou moral). Já no art. 944 do mesmo institutoesclarece que a indenização mede-se pela extensão do dano entre gravidade da culpa e a 
existência do dano. 
 Como diria Folador e Melo (2016): 
“Um princípio não pode ser volátil no sentido de ampliar e restringir direitos 
dependendo do caso. O princípio necessita ser pleno naquilo que lhe cabe, portanto, 
o mesmo princípio que concede direitos à uniões deve dar deveres àqueles que 
integram essas uniões. 
 Diante do que já foi exposto, fica evidente sobre o dano causado ao infante mediante o 
abandono afetivo, onde podemos observar uma lesão à igualdade, à integridade psicofísica, à 
liberdade e à solidariedade. Essa constatação vai de encontro ao principio da afetividade que 
apesar de implícito em nosso ordenamento jurídico já é bastante utilizado como base para 
suprimir situações entre particulares, principalmente nas relações familiares. 
3.2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL COMO MEIO PARA APLICAÇÃO DA 
OBRIGAÇÃO INDENIZÁVEL. 
 A Responsabilidade Civil surge na necessidade de restaurar um dano causado pela 
violação do dever legal, previsto no ordenamento jurídico, melhor dizendo, uma forma de 
obrigar o terceiro a reparar um dano causado a outrem de através da indenização. 
 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2019, p.47) conceituam 
responsabilidade como: 
Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada 
– um dever jurídico sucessivo – de assumir as conseqüências jurídicas de um fato, 
conseqüências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do 
agente lesionante) de acordo com os interesses lesados. 
12 
 
 
 
 Os elementos incidentes se encontram no código civil de 2002, também nos arts. 186, 
187, 389 e 927 tais quais, ação ou omissão, voluntária, negligencia ou imprudência. Segue 
descrição literal dos dispositivos: 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé 
ou pelos bons costumes. 
Art. 389. Não cumprida à obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais 
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e 
honorários de advogado. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo 
 Quanto a sua comprovação, Folador e Melo (2016) apud Carlos Roberto Gonçalves, 
orienta sobre a prova de um dano moral, sendo este extracontratual e subjetivo: 
O dano moral, salvo casos especiais, como o de inadimplemento contratual, por 
exemplo, em que se faz mister a prova da perturbação da esfera anímica do lesado, 
dispensa prova em concreto, pois se passa no interior da personalidade e existe in re 
ipsa. Trata-se de presunção absoluta. 
 No mesmo sentido ressalta Zacchi apud Tartuce, que a responsabilidade subjetiva 
constitui regra geral em nosso ordenamento jurídico, baseada na teoria da culpa, assim, para 
que o agente indenize, para que responda civilmente, faz-se necessária sua comprovação. 
 Do mesmo modo, Rui Stoco (2014, p. 1909), tratando sobre o dano moral, explica a 
lógica dos casos que se dão in re ipsa: 
Significa dizer, em resumo, que o dano em si, porque imaterial, não depende de 
prova ou de aferição do seu quantum. Mas o fato e os reflexos que irradia, ou seja, a 
sua potencialidade ofensiva, dependem de comprovação ou pelo menos que esses 
reflexos decorram da natureza das coisas e levem à presunção segura de que a 
vítima, em face das circunstâncias, foi atingida em seu patrimônio subjetivo, seja 
com relação ao seu vultus, seja ainda, com relação aos seus sentimentos, enfim 
naquilo que lhe seja mais caro e importante. 
 Alguns doutrinadores defendem a possibilidade da responsabilização financeira para o 
reparo do dano tendo como fundamento o abuso de direito que prevê o art. 187 do código 
civil e não ato ilícito. 
13 
 
 
 
 No dizer de Pereira (2018), o abandono parental deve ser entendido como uma lesão 
extrapatrimonial a um interesse jurídico tutelado, causada por omissão do pai ou da mãe no 
cumprimento do exercício do poder familiar, o que configura um ilícito, sendo, portanto, fato 
gerador de obrigação indenizatória. 
 Ainda, para Hironaka, a fundamentação jurídica do abandono afetivo se configura pela 
omissão dos pais ou de um deles, em relação ao dever de educar na sua acepção mais ampla, 
ou seja, permeada de afeto, carinho, atenção e desvelo, na medida em que a Constituição 
Federal exige um tratamento primordial à criança e ao adolescente atribuindo correlato dever 
aos pais, à família, à comunidade e à sociedade. 
4. DECISÕES JUDICAIS: CONDENAÇÃO DO GENITOR A REPARAÇÃO POR 
INDENIZAÇÃO A PROLE 
 Tendo em vista em engrandecer este estudo, achou-se necessário implementar à 
discursão decisões judiciais pertinentes a temática principal, com o objetivo de associar todo 
conteúdo exposto ao entendimento do ordenamento jurídico nos dias atuais. Para isso foram 
feitas buscas de jurisprudência no banco informações do STF (Supremo Tribunal Federal) e 
STJ (Superior Tribunal de Justiça) através das palavras chaves: ABANDONO, AFETIVO, 
PAI e DANO MORAL. A forma que será utilizada para a analise das decisões será a de 
procedimentos voltados à produção de trabalho cientifico. 
 Dentre as diversas jurisprudências existentes com finalidade de indenização por danos 
morais decorrente do abandono afetivo parterno-filial, tanto na sua ocorrência, quanto na sua 
não configuração, podemos citar uma decisão recente, com data do julgamento em 
21/09/2021 que tem como classe recursal o Resp 1887697 (RECURSO ESPECIAL), que teve 
como Relatora a Ministra Nanci Andrighi da 3ª turma do STJ, em síntese a ementa: 
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. 
REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. PEDIDO JURIDICAMENTE POSSÍVEL. 
APLICAÇÃO DAS REGRAS DE RESPONSABILIDADE CIVIL NAS 
RELAÇÕES FAMILIARES. OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS E 
PERDA DO PODER FAMILIAR. DEVER DE ASSISTÊNCIA MATERIAL E 
PROTEÇÃO À INTEGRIDADE DA CRIANÇA QUE NÃO EXCLUEM A 
POSSIBILIDADE DA REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIZAÇÃO 
CIVIL DOS PAIS. PRESSUPOSTOS. AÇÃO OU OMISSÃO RELEVANTE QUE 
REPRESENTE VIOLAÇÃO AO DEVER DE CUIDADO. EXISTÊNCIA 
14 
 
 
 
DO DANO MATERIAL OU MORAL. NEXO DE CAUSALIDADE. 
REQUISITOS PREENCHIDOS NA HIPÓTESE. 
CONDENAÇÃO A REPARAR DANOS MORAIS. CUSTEIO DE SESSÕES DE 
PSICOTERAPIA. DANO MATERIAL OBJETO DE TRANSAÇÃO NA AÇÃO 
DE ALIMENTOS. INVIABILIDADE DA DISCUSSÃO NESTA AÇÃO. 
 No julgado supra, o propósito recursal é definir se é admissível a condenação ao 
pagamento de indenização por abandono afetivo e se, na hipótese, estão presentes os 
pressupostos da responsabilidade civil. Ação proposta pela filha contra seu genitor, em 
31/10/2013. Recurso especial interposto em 30/10/2018 e atribuído à Relatora em 27/05/2020. 
 Neste caso, vale ressaltar pontos importantes evidenciados pela ministra, como, a 
adequada demonstração dos pressupostos da responsabilidade civil, considerados 
imprescindíveis, a saber: A conduta dos pais, a existência do dano e o nexo de causalidade. 
Em síntese, segue transcrição de parte dos fundamentos da Ministra Nancy Andrighi: 
7- Na hipótese, o genitor, logo após a dissolução da união estável mantida com a 
mãe, promoveu uma abrupta ruptura da relação que mantinha com a filha, ainda em 
tenra idade, quando todos vínculos afetivos se encontravam estabelecidos, ignorando 
máxima de que existem as figuras do ex-marido e do ex-convivente, mas não 
existem as figuras do ex-pai e do ex-filho, mantendo, a partir de então, apenas 
relações protocolares com a criança, insuficientes para caracterizar o indispensável 
dever de cuidar. 
8- Fato danoso e nexo de causalidade queficaram amplamente comprovados pela 
prova produzida pela filha, corroborada pelo laudo pericial, que atestaram que as 
ações e omissões do pai acarretaram quadro de ansiedade, traumas psíquicos e 
sequelas físicas eventuais à criança, que desde os 11 anos de idade e por longo 
período, teve de se submeter às sessões de psicoterapia, gerando dano psicológico 
concreto apto a modificar a sua personalidade e, por consequência, a sua própria 
história de vida. 
9- Sentença restabelecida quanto ao dever de indenizar, mas com majoração do valor 
da condenação fixado inicialmente com extrema modicidade (R$ 3.000,00), de 
modo que, em respeito à capacidade econômica do ofensor, à gravidade dos danos e 
à natureza pedagógica da reparação, arbitra-se a reparação em R$ 30.000,00. 
 A jurisprudência citada na decisão supra foi o Resp. nº 1.159.242/SP julgado também 
pela Ministra Nancy em 24/04/2012 onde o STJ reconheceu pela primeira vez o direito à 
indenização por dano moral na hipótese de abandono afetivo. 
 Dessa forma, Recurso Especial conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar 
procedente o pedido de reparação de danos morais. Após o voto-vista do Sr. Ministro 
15 
 
 
 
Ricardo Villas Bôas Cueva, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de 
Justiça, na conformidade dos votos. Seguindo o voto vencido da Sra. Ministra Relatora Nancy 
Anadrighi (BRASIL, 2021, Superior Tribunal de Justiça). 
No mesmo sentido, soa pertinente a transcrição da ementa da decisão abaixo, a qual 
qualifica como ato ilícito a conduta dos pais que abandonam afetivamente seus filhos. 
Vejamos: 
RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. ABANDONO MATERIAL. MENOR. 
DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE PRESTAR ASSISTÊNCIA MATERIAL 
AO FILHO. ATO ILÍCITO (CC/2002, ARTS. 186, 1.566, IV, 1.568, 1.579, 1.632 E 
1.634, I; ECA, ARTS. 18-A, 18-B E 22). REPARAÇÃO. DANOS MORAIS. 
POSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 
 Trata-se de um Resp n º 1087561 RS 2008/0201328-0, que teve como relator o Sr. 
Ministro Raul Araújo da 4ª turma do STJ com data do julgamento em 13/06/2017 e sua 
publicação se deu em 18/08/2017. O relator fundamentou sua manutenção sob os argumentos, 
in verbis: 
1. O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa 
de prestar assistência material ao filho, não proporcionando a este condições dignas 
de sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e 
psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil de 2002. 
2. Estabelecida a correlação entre a omissão voluntária e injustificada do pai quanto 
ao amparo material e os danos morais ao filho dali decorrentes, é possível a 
condenação ao pagamento de reparação por danos morais, com fulcro também no 
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 
3. Recurso especial improvido. 
Em relação a sentença da ação supracitada, foi julgada parcialmente procedentes 
quanto aos pedidos iniciais, condenando o genitor: 
16 
 
 
 
 (a) a comprar uma casa em nome do autor, com escritura onerada com cláusulas de 
inalienabilidade, impenhorabilidade; (b) a comprar mobiliário para a referida casa, 
contendo o necessário a suprir necessidades básicas do menor inclusive 
relativamente ao lazer; (c) comprar em nome do autor, um computador e impressora; 
tudo - (a, b e c) - a ser apurado em liquidação de sentença; (d) ao pagamento de 
35.000,00 (trinta e cinco mil reais) ao autor, a título de indenização por danos 
morais, que deverão ser depositados em conta-poupança em nome do menor, 
podendo ser movimentada apenas com autorização judicial. 
 Portanto, conforme o exposto nesse capitulo, para evitar que o poder judiciário seja 
utilizado como meio de vingança e sentimentos ruins, devem-se os juízes analisar caso a caso 
minuciosamente e exaustivamente, ademais por se tratar de uma questão vulnerável, os meios 
de comprovação precisam ser robusto afim de se evitar condenações injustas. Uma vez que o 
afeto, o amor, o carinho são sentimentos intangíveis e imaterias, não podendo ser quantificado 
através do dinheiro, por se tratar de elementos subjetivos. 
 No mais, a título de conhecimento, o prazo prescricional para ajuizar a ação de 
reparação pelos danos morais é de 03 (três) anos, a contar da aquisição da maioridade do 
filho, com fundamento legal no art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil de 2002. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Diante de todo exposto, e considerando o que foi constatado, analisando objetivamente 
os aspectos demostrados no presente trabalho, é possível sim, admitir a indenização por danos 
morais nos casos envolvendo direito de família, especificamente, decorrentes do abandono 
afetivo na relação paterno-filial, independentemente do modo como esta foi constituída. 
 Pode-se compreender que o amor, o afeto e o carinho são sentimentos essenciais ao ser 
humano, e este não poderia ser deles privado. Em contra partida o que não pode ser 
confundido é a monetização do amor e a utilização do poder judiciário como indústria 
indenizável. A obrigação dos pais é em relação aos cuidados, necessários e indispensáveis 
para uma boa formação do individuo, evitando não somente o desamparo material, mas 
também os vínculos que poderiam ser gerados na convivência familiar. 
 Como foi evidenciado nesse trabalho, o afeto não estar explicitamente previsto no 
ordenamento jurídico, mas a sua existência parte da extensão interpretativa de princípios 
basilares como: principio da afetividade, principio da dignidade da pessoa humana e principio 
da paternidade responsável. 
17 
 
 
 
 Sendo assim, respondendo a pergunta proposta na introdução, não estão os pais, 
obrigados a desenvolver um sentimento de afeto, amor e carinho com seus filhos, até porque, 
não há dever jurídico de cuidar afetuosamente expresso em nosso ordenamento. Pressupõe 
que a falta deste, de forma injustificada e voluntária, incorre na inobservância no dever cuidar 
(ato ilícito), sendo este expressamente previsto nos dispositivos elencados no 
desenvolvimento deste artigo. Destacando que deve prevalecer o melhor interesses da criança, 
pois este encontra-se em condições vulneráveis neste período de sua existência. 
 Observou-se que, para que haja a responsabilização na esfera civil, através de 
indenização por danos morais é preciso o preenchimento dos requisitos legais tipificado no 
código civil de 2002, como, a conduta (ação ou omissão relevantes e que representem 
violação ao dever de cuidado), a existência do dano (demonstrada por elementos de prova que 
bem demonstrem a presença de prejuízo material ou moral), e o nexo de causalidade (que das 
ações ou omissões decorra diretamente a existência do fato danoso). 
 Portanto, não resta dúvida sobre as consequências causadas ao infante proveniente do 
abandono afetivo na relação paterno-filial. É notório, que além de causar muito sofrimento, o 
abandono também traz graves consequências na vida de uma criança e/ou adolescente. Sabe-
se que essas sequelas permanecem por anos na vida de um filho, podendo gerar transtornos de 
comportamento, convivência social, dificuldades no colégio, angustia, depressão e até mesmo 
complicações na saúde. 
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