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INTRODUÇÃO AOS 
ESTUDOS 
GEOGRÁFICOS
Anna Paula Lombardi
Conhecimento espacial 
até o século XVIII
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Apontar os registros técnicos em navegação dos viajantes.
  Descrever os primeiros estudos de pesquisadores sobre topografia 
detalhada.
  Reconhecer o Atlas Nacional da França e a sua importância para a 
geografia.
Introdução
Entre os séculos XIV e XVII, os europeus foram os pioneiros nas nave-
gações e realizaram as primeiras viagens com o intuito de desbravar 
novas terras. Até o século XVIII, a América e uma nova rota pelo sul da 
África foram os elementos mais importantes do conhecimento espacial. 
A rota no Atlântico para se chegar às Américas e a rota no Índico pelo 
sul da África foram traçadas a partir do desenvolvimento das ciências. A 
matemática, aliada à criação e ao manejo dos instrumentos náuticos, foi 
essencial para essas jornadas.
Neste capítulo, você vai verificar em que consistia o conhecimento 
espacial até o século XVIII. Como você vai ver, os registros técnicos 
foram importantes para as navegações do século XV. A topografia e a 
cartografia também possibilitaram conhecer o mundo por meio das 
representações. Assim, Portugal, devido às navegações e com base 
no avanço da ciência, se tornou uma referência para a Europa. Além 
disso, o Atlas général histoire et géographie, de Paul Vidal de La Blache, 
confirma a importância dos mapas e das informações representadas 
na sociedade moderna.
Os registros técnicos em navegação
Os portugueses, junto aos espanhóis, foram os primeiros a navegar pelo 
oceano Atlântico. Os interesses que motivavam as navegações eram os mais 
variados, mas a exploração de riquezas naturais e a dominação de novas 
terras foram os elementos que marcam o período. No século XII, Portugal 
já estava consolidado como um reino, diferentemente dos outros países 
europeus, que ainda se encontravam divididos em pequenas partes, em sua 
maioria rivais entre si. Para Portugal, essa foi uma vantagem, e o país foi 
pioneiro nas navegações. A Espanha também teve seu auge com as grandes 
viagens do século XV. As expedições eram realizadas constantemente, 
porém em uma delas Cristóvão Colombo chegou até terras desconhecidas. 
Tais terras receberam o nome de “continente americano”, também conhecido 
como “novo mundo”.
Segundo Souza (2010), a geografia da Terra era pouco conhecida pelos 
europeus no século XV. O pouco que se sabia estava relacionado com mitos, 
histórias fantasiosas e informações não fidedignas que marcaram o período da 
Grécia Antiga. As grandes viagens marítimas só começaram com a chegada 
à América. Antes disso, havia trocas comerciais na Baixa Idade Média, vin-
culadas à ascensão da burguesia e à formação dos Estados Nacionais. Nesse 
contexto, Portugal apresentava boa localização para as navegações. Outro 
aspecto que permitiu a descoberta de novos caminhos pelos portugueses é 
que eles visavam à independência do seu comércio com as Índias, ou seja, 
não desejavam passar pelos árabes, venezianos e genoveses, que dominavam 
a rota do mar Mediterrâneo. 
As primeiras navegações foram possíveis pelo desenvolvimento das técnicas 
de navegação. Os instrumentos e a modernização das navegações tiveram o 
incentivo e a compensação financeira das coroas tanto do reino de Portugal 
como do reino da Espanha. A busca por descobrir caminhos marítimos e 
conhecer novos territórios envolveu, naturalmente, o aperfeiçoamento das 
técnicas (SOUZA, 2010).
Os registros técnicos das navegações receberam contribuições dos primeiros 
filosófos da Antiguidade. Eratóstenes (240 a.C.) calculou o raio da Terra com 
uma boa precisão. Aristóteles (384 a.C.), em sua época, já havia descrito que 
a Terra era uma esfera depois de observar os eclipses lunares que apresenta-
vam sombras com forma circular. Além disso, a descoberta das coordenadas 
geográficas constituídas pelas latitudes e longitudes foi primordial para as 
técnicas de navegação. O primeiro a usar essas coordenadas foi o filósofo 
grego Ptolemeu (150 d.C.), que elaborou mapas.
Conhecimento espacial até o século XVIII2
Essas descobertas contribuíram para o desenvolvimento das técnicas de 
navegação. Como você deve imaginar, a navegação começou com os mais 
arcaicos tipos de barcos e canoas, construídos para a locomoção pela água. 
A embarcações foram evoluindo a partir do momento em que os homens se 
aventuraram em alto-mar. Essa evolução partiu dos métodos mais primitivos da 
navegação empírica, baseada no regime dos ventos, passou pelo uso de instru-
mentos náuticos astronômicos e chegou aos avançados métodos de orientação 
por imagens de satélites, que são as técnicas mais atuais (OLIVEIRA, 2017).
Os instrumentos náuticos usados para as grandes navegações do século 
XV eram baseados em: navegação por rumo e estima, navegação astronômica 
por latitudes e navegação astronômica por latitudes e longitudes. Em pleno 
século XIII, a primeira navegação por rumo e estima elevou o nível anterior 
dos métodos empíricos de navegação. Os instrumentos utilizados foram a 
bússola e a carta de marear. A bússola indicava os ângulos dos rumos traçados. 
Desse modo, era possível estimar as distâncias percorridas e traçar os pontos 
nas cartas náuticas, projeções planas dos principais mares em que era comum 
navegar na época, em especial pelas rotas comerciais do Mediterrâneo. Con-
tudo, essa prática não garantia a exatidão das localizações (OLIVEIRA, 2017).
A carta de marear é uma representação cartográfica de uma área náutica. Ela é repre-
sentada em conjunto com as regiões costeiras adjacentes à área náutica. Pode ser o 
equivalente marítimo dos mapas terrestres.
A navegação astronômica por latitudes foi possível já no século XV, viabi-
lizada por cálculos para a obtenção da latitude por meio das alturas angulares 
dos astros celestes. Para muitos, essa foi a grande inovação na náutica europeia, 
precisamente em Portugal. O novo método continuava a estimar as distâncias, 
conservando o ângulo do rumo medido constantemente pela bússola, porém 
partindo da informação precisa, que era a latitude. Com o conhecimento das 
latitudes, nos séculos XVI e XVII foi possível conduzir as embarcações de forma 
segura para os destinos continentais, como os recém-descobertos no novo mundo.
Por sua vez, as navegações astronômicas por latitudes e longitudes já 
eram viáveis no século XVI. Para se conhecerem as latitudes e longitudes, os 
fenômenos astronômicos foram observados em diferentes horários solares. 
3Conhecimento espacial até o século XVIII
Portanto, a latitude foi conhecida por meio das alturas angulares dos astros 
terrestres. Já a longitude foi medida pela comparação do horário local, referente 
à posição do Sol, com o horário da cidade de referência. Assim, as diferenças 
de horários indicavam a longitude (OLIVEIRA, 2017). O tipo de relógio que se 
tinha na época para as navegações eram as tradicionais ampulhetas. Elas eram 
relógios de areia constituídos por recipientes transparentes. Um gargalo central 
interligava dois compartimentos simétricos, geralmente em forma de cone.
Dos instrumentos de navegação usados na expansão marítima entre os séculos 
XV e XVII, as medições por latitudes e longitudes sem dúvida foram os mais 
importantes. Eles permitiram aos navegadores atravessar os oceanos e chegar 
aos destinos que almejavam sem se perder em alto-mar. Foi dessa maneira que, 
em 1500, Pedro Álvares Cabral atracou no Brasil (OLIVEIRA, 2017).
A seguir, veja alguns instrumentos de navegação que possibilitaram as grandes viagens 
marítimas do século XV (SOUZA, [2007]).
  Caravela portuguesa: tipo de embarcação com estrutura forte, rápida e veloz. Permi-
tia navegar em alto-mar e apresentava bastante espaço para a tripulação e as cargas.
  Astrolábio: utilizado em 1555 para medir em terra ou no mar a altura do Sol e, a 
partir desse dado, calcular as latitudes.
  Quadrante do século XVI: utilizado para calculara latitude tanto pela altura do Sol 
quanto pela Estrela Polar, à noite.
  Tavoletas das Índias ou balestilha: faziam a medição angular dos corpos celestes. A 
mira era feita simultaneamente em relação ao astro e ao horizonte.
Os primeiros estudos da topografia
A topografi a é parte da geodésia, ciência que objetiva determinar as dimen-
sões da superfície terrestre. Essa modalidade de estudo tem como fi nalidade 
realizar medidas lineares e angulares, ou medições de ângulos, distâncias e 
desníveis sobre a superfície terrestre em uma escala adequada. Os metódos 
que têm como característica a coleta de dados se chamam levantamentos 
topográfi cos. O termo topos signifi ca “lugar”, enquanto graphen signifi ca 
“descrição” (VEIGA; ZANETTI; FAGGION, 2012).
Para Tuler (2014), a topografia é uma ciência fundamentada na geometria 
e na trigonometria plana que utiliza medidas horizontais e verticais para 
Conhecimento espacial até o século XVIII4
obter a representação em projeção ortogonal sobre um plano de referência. 
Ou seja, a ideia é obter a representação dos pontos capazes de definir a forma, 
a dimensão e os acidentes naturais e artificiais de uma porção limitada da 
superfície terrestre. Logo, é por meio das medidas de uma porção limitada 
do terreno que se conhecem as suas principais descrições e características.
Você deve notar que a topografia não se limita ao estudo da superfície 
terrestre. Ela se dedica também a outras formas de relevo, como as formas 
continentais marinhas. A topografia se restringe ao estudo de áreas pequenas e 
não considera os fatores da curvatura da Terra. A ciência que se preocupa com 
as grandes porções da superfície terrestre é a geodésia. Assim, a topografia não 
pode ser confundida com a geodésia, apesar de a primeira fazer parte da segunda.
Outro detalhe que deve ser considerado é que a topografia não pode ser 
confundida com a agrimensura, conhecida desde as civilizações mais antigas. 
Apesar disso, tanto a topografia como a agrimensura se dedicam a aspectos 
semelhantes nas coletas de dados, inclusive os profissionais podem trabalhar 
juntos. O agrimensor tem o papel de medir e dividir propriedades rurais e urbanas.
Quanto à relação entre a topografia e a cartografia, a segunda é considerada 
uma ciência e ambas estão conectadas. A cartografia tem como finalidade a 
confecção de mapas, mas não apenas com as divisas. Logo, deve conhecer 
os elementos topográficos, como as formas do relevo, que são as montanhas, 
planícies e depressões, para incluir informações precisas nos mapas.
Tuler (2014) explica que a topografia como técnica e os instrumentos 
topográficos estão relacionados às necessidades dos homens e à sobrevivência 
humana, considerando as adversidades da natureza. Assim, a topografia é tão 
antiga quanto a história da civilização. É também anterior em relação a muitas 
outras ciências. As representações gráficas mais antigas demarcam as margens 
dos rios Tigres e Eufrates, território do atual Iraque. Lá, as civilizações se 
desenvolveram com base na agricultura e havia a necessidade de conhecer as 
formas do relevo. As primeiras medições foram realizadas pelos mesopotâmios 
em 3500 a.C. Mais tarde, suas práticas de medição e representação foram 
passada para os gregos, que as denominaram de topografia.
A partir do momento da descoberta das coordenadas geográficas constitu-
ídas pelas latitudes e longitudes pelo filósofo grego Ptolemeu, a representação 
gráfica de determinado lugar e os avanços na topografia permitiram a confecção 
de mapas ou cartas geográficas. Em 1704, se verificou a produção de mapas no 
território português. Assim, Portugal se integrou a outros países que já eram 
referência na produção de mapas, como França, Inglaterra e Alemanha. Os 
mapas produzidos nessa época estavam relacionados com o poderio militar e 
com a guerra na Península Ibérica. Eles eram indispensáveis para os militares. 
5Conhecimento espacial até o século XVIII
Foi por meio da guerra que se multiplicaram os levantamentos topográficos. 
Desse modo, os engenheiros militares produziam o novo material cartográfico 
(COUTINHO, 2007).
Portugal, além de ser o país pioneiro no que diz respeito às navegações 
e à descoberta de novos caminhos pelo oceano Atlântico no século XV, já 
possuía cartas náuticas. Logo, a topografia se tornou relevante para outros 
tipos de representação. Foi em Portugal que aconteceu a primeira impressão 
cartográfica, em 1729: a representação era do reino de Portugal e foi reali-
zada por Carlos de Granpré (Figura 1). Os países de toda a Europa sofreram 
influência dessa carta na época (COUTINHO, 2007).
Figura 1. Reino de Portugal e a primeira impressão cartográfica, realizada 
por Carlos Granpré em 1729.
Fonte: Moreira (2012).
No século XVI, em Portugal, as artes gráficas tiveram êxito a partir da 
Academia Real de História Portuguesa. A topografia aparecia em obras editadas 
no reino de D. João V no século XVII e nos volumes da geografia histórica dos 
Estados Soberanos, apresentando o projeto de enciclopédia geográfica. As obras 
geográficas tinham como objetivo apresentar as descrições topográficas e esta-
tísticas dos relatos de viagens e estudos de geografia histórica que floresciam na 
Europa. Elas retratavam os rudimentos de geografia matemática entre os países 
europeus. Nesse sentido, as manifestações gráficas e os mapas representam as 
ideologias de sua época de produção ou confecção (COUTINHO, 2007).
Conhecimento espacial até o século XVIII6
A cartografia da Academia Real de História Portuguesa avançou princi-
palmente devido à ciência. O domínio das ciências no reinado de D. João V 
foi promissor para a época. A expansão marítima impulsionada pelos portu-
gueses foi determinante para a ciência náutica. Nesse contexto, se detaca a 
figura do cosmógrafo-mor Petrus Nonius. Na época, na formação de técnicos, 
tinham destaque as cartas geográficas. Os “[...] levantamentos topográficos 
[eram] baseados no método da triangulação, exigindo não só meios humanos 
e materiais bem como uma elevada organização científica e técnica”; isso em 
meados de 1721 (COUTINHO, 2007, documento on-line).
O método da triangulação consiste na implantação de uma malha de tri-
ângulos que se desenvolve a partir dos lados de medidas já conhecidas. A 
principal utilização do método é em levantamentos de grandes superfícies. Sua 
finalidade é implantar pontos de apoio geodésico na execução de levantamentos 
aerofotogramétricos para a confecção de cartas geográficas. Atualmente, esse 
método está caindo em desuso em virtude da utilização do GPS.
Petrus Nonius foi um matemático português que ocupou um dos cargos mais impor-
tantes, o de cosmógrafo-mor do Reino de Portugal. Ele contribuiu decisivamente para 
o desenvolvimento da navegação teórica, se dedicando aos problemas matemáticos 
da cartografia.
O engenheiro-mor Manuel de Azevedo Fortes (1660–1749), sócio da Acade-
mia Real, abordou pela primeira vez as questões relacionadas aos instrumentos 
e métodos de levantamentos de campo, assim como aos instrumentos e códigos 
empregados na elaboração de desenhos nas obras. Manuel de Azevedo Fortes 
impulsionou, no final do século XVIII, um plano de levantamento topográfico 
de todo o território nacional, paralelamente às observações astronômicas dos 
matemáticos, contribuindo para a reforma cartográfica na França, que levou 
à realização da Carta de Cassini (COUTINHO, 2007).
Coutinho (2007) afirma que a oficina topográfica da Academia Real foi 
criada após a Academia Real de História. A oficina tinha como preocupação 
a ilustração e a precisão, garantindo a qualidade e o aperfeiçoamento da 
representação cartográfica da época. Para a gravura das cartas geográficas, 
o metal era o suporte privilegiado. O gravador era o profissional responsável 
7Conhecimento espacial até o século XVIII
pelos gravadores de cartas. A gravura sobre o cobre permitiu reproduzir a 
delicadeza do traçado geográfico e da letra, por exemplo.
Em pleno século XVIII,o trabalho de campo (levantamentos topográficos), 
junto ao trabalho de escritório de confecção dos mapas, já era realidade na 
maioria dos mapas editados. Na primeira metade do século XVIII, já havia 
significativa produção de cartas geográficas do território português. Os mapas 
eram assinados pelos ilustres geógrafos do rei, na reprodução das mais variadas 
obras gráficas. Esses mapas, produzidos nos mais importantes centros de 
produção cartográfica, eram bastante importantes para a época na Europa.
Os mapas produzidos com as informações de levantamentos topográficos 
foram importantes no período de D. João V. A ideia era manter a população 
informada sobre os acontecimentos geopolíticos e militares da época. Assim, o 
domínio da arte, da técnica e das ciências foram fundamentais para que Portugal 
se tornasse uma grande potência. O acervo documental valioso da Biblioteca 
Central foi importante na confecção de mapas. Além disso, a participação dos 
padres jesuítas matemáticos contratados para as observações astronômicas, 
seguindo as novas teorias e os novos métodos científicos, foi necessária para 
a preparação de levantamentos topográficos no Brasil.
O trabalho do engenheiro-mor Manuel de Azevedo Fortes envolveu algumas 
falhas no levantamento de dados, principalmente nos mapas de escala local, regional 
e nacional na Portugal do século XVIII, mas a técnica foi aperfeiçoada mais tarde. 
O mapa do reino de Portugal impresso em 1729 não apresentava uma qualidade 
tão boa na representação gráfica dos elementos, mas os mapas do volume da 
Geografia histórica de todos os estados soberanos têm exatidão e rigor científico.
O trabalho prático da topografia é dividido em cinco etapas (VEIGA; ZANETTI; FAGGION, 
2012). Veja a seguir.
  Tomada de decisão: está relacionada com os métodos de levantamento, equipa-
mentos, posições ou pontos a serem levantados.
  Trabalho de campo ou aquisição de dados: envolve as medições e gravações de dados.
  Cálculos ou processamento: implicam a realização de cálculos baseados nas medidas 
obtidas para a determinação das coordenadas.
  Mapeamento ou representação: é a produção do mapa ou da carta a partir de 
dados medidos ou calculados.
  Locação: é o processo de demarcar o terreno no projeto, o que auxilia na imple-
mentação de uma obra.
Conhecimento espacial até o século XVIII8
O Atlas général e a sua importância 
para a geografia
Os atlas elaborados ao longo do tempo foram importantes para a produção de 
conhecimento em determinadas épocas. Um atlas é um conjunto de mapas 
ou cartas geográfi cas. A palavra “atlas” é derivada da mitologia grega e está 
relacionada a histórias imaginárias ou fantasiosas da época. O atlas geográfi co 
pode ser compreendido como uma interface entre a geografi a e a cartografi a, 
com o intuito de representar um dado ou vários dados com diferentes temas.
Na França, em 1894, ocorreu a produção do Atlas général histoire et gé-
ographie, publicado por Vidal de La Blache (1845–1918). Ele incluía encar-
tes e diagramas com o objetivo de dar a conhecer o espaço geográfico com 
informações abrangentes. O atlas de Vidal de La Blache apresentou o que 
havia de mais rico no conhecimento francês em geografia. Nele, havia mais 
de 300 cartas que possibilitaram conhecer o mundo por meio das paisagens e 
fronteiras moldadas pela mão do homem. A escola francesa foi fundamental 
e contribuiu para as produções de Vidal de La Blache.
Martinelli e Hess (2013) mencionam que o primeiro atlas francês foi voltado 
ao ensino fundamental e era chamado Petit atlas géographique du premier âge 
(1840). Esse atlas tinha como proposta a simplificação dos grandes atlas gerais 
de referência, como o de Adolf Stieler, de 1817. Já o Atlas général histoire et 
géographie foi um clássico que inspirou inúmeras nações.
A escola francesa foi importante para o avanço do pensamento geográfico, prin-
cipalmente em relação à geografia humana e aos conceitos de região e paisagem 
caracterizados na geografia tradicional. A escola se originou depois da derrota da França 
para a Alemanha prussiana na guerra de 1870. Ela surgiu para servir à burguesia francesa 
e para recuperar as perdas territoriais causadas pela guerra. A compensação veio com 
a expansão colonial. A escola buscou ainda servir de instrumento de recuperação da 
imagem da França como grande potência. Nesse período, o Estado francês expandiu 
o ensino de geografia no país.
O atlas de La Blache possuía duas partes: os mapas históricos e os mapas 
geográficos. A peculiaridade da obra era apresentar uma visão relacionada a 
cada território. O mapa político de cada país era estudado junto com um mapa 
9Conhecimento espacial até o século XVIII
físico natural. Desse modo, o mapa político e o físico se complementavam 
em relação aos conteúdos expostos e à sua racionalização. Para Vidal de La 
Blache, essa junção dos mapas permitiu compreender de forma significativa 
os aspectos geográficos de cada território. Não era pertinente estudá-los 
de forma separada. Logo, o valor científico dos mapas produzidos no Atlas 
somente seria consolidado na correlação entre eles.
No Quadro 1, a seguir, você pode ver a relação entre os estudos na França 
e o desenvolvimento da geografia moderna (MARTINELLI; HESS, 2013).
Fonte: Adaptado de Mamigonian (2003).
Contexto Avanços relacionados à geografia
1867: Exposição Universal em Paris. 1867–1868: publicação de La Terre, 
description des phénomenes de la vie du 
globe, de Élisée Reclus.
1871: derrota da França na Guerra 
Franco-Prussiana; proclamação do Im-
pério Alemão em Versalhes; insurreição 
e derrota da Comuna de Paris.
1871: 1º Congresso da União Geográ-
fica Internacional (UGI), na Antuérpia. 
La Blache defende seu doutorado na 
Sorbonne.
1872: criação do Banco Paris et Pays-Bas; 
lei de repressão à Associação Interna-
cional dos Trabalhadores; criação do 
Desdner Bank.
1872: criação da primeira cadeira de 
geografia na Universidade Francesa 
(Nancy), ocupada por La Blache de 
1873 a 1877.
1875: início do surto de filoxera nos 
vinhedos franceses (até 1888); conquista 
do Congo-Brazzaville (1875–1882); 
Inglaterra adquire controle do Canal de 
Suez; Congresso dos partidos operários 
europeus em Gotha (Alemanha).
1875: 2º Congresso da UGI, em Paris.
1879: início do plano Freycenet de 
grandes trabalhos públicos; elevação 
das tarifas de importação na Alemanha; 
criação do cartel alemão do potássio.
1877 a 1905: publicação da Révue de 
Géographie (L. Drapeyron). Em 1878, La 
Blache é nomeado Maitre de Confe-
rences na École Normale Superieur 
(Paris).
1885: lei que cria mercado a termo; algu-
mas medidas de proteção à agricultura.
1885: La Blache publica cartas-murais 
escolares.
Quadro 1. A França, as suas relações internacionais e a sua geografia moderna
Conhecimento espacial até o século XVIII10
O Atlas général histoire et géographie foi tão importante para a época que 
foram produzidas várias edições dele. O Atlas foi muito bem aceito entre as 
camadas cultas da população de vários países, inclusive do Brasil. As cartas 
apresentavam características para cada região; e cada uma correspondia aos 
traços e fenômenos do país em questão. As escalas espaciais também diferiam 
na representação de cada país. Os temas eram abordados por meio das repre-
sentações espaciais e da escala cartográfica. O espaço de referência, chamado 
assim por Vidal de la Blache, se diferenciava pelos aspectos físicos, naturais, 
culturais, linguísticos, entre outros. Portanto, cada mapa era representado por 
um espaço de referência próprio (ROBIC, 2004).
Como você deve imaginar, o Atlas général histoire et géographie foi uma 
das obras mais importantes de Vidal de La Blache. Ele se dedicou por 20 anos 
ao ofício de geógrafo, modernizando-o e criando ferramentas sem as quais 
seria impossível exercê-lo. La Blache elaborou o grande atlas que faltava 
à França e desenvolveu um quadro conceitual no seu trabalho. Nas férias 
universitárias, percorreu, de trem e a pé, aEuropa e a África do Norte. Mais 
tarde, viajou à América do Norte.
Você pode consultar o atlas de La Blache no link a seguir.
https://qrgo.page.link/aUHt
Até meados do século XVIII, o conhecimento espacial foi possível devido 
às descobertas astronômicas, principalmente das latitudes e longitudes. Elas 
constituem as coordenadas geográficas e, junto à bússola, ajudaram na defini-
ção da direção e dos rumos que se deveriam seguir em alto-mar. As observações 
dos filósofos gregos da Antiguidade em relação aos corpos celestes também 
foram importantes para o conhecimento das coordenadas geográficas.
A descoberta de novas terras na América foi possível pela sucessão de 
eventos da época, principalmente nos campos econômico e político. Além 
disso, a evolução da técnica e da ciência antes do século XVIII (em Portugal 
e outras nações da Europa) permitiram o avanço dos estudos topográficos e 
a representação das informações contidas nas cartas geográficas. Nesse con-
11Conhecimento espacial até o século XVIII
texto, o Atlas général histoire et géographie, com suas referências espaciais, 
evidenciava a diferença entre os países. Logo, era possível conhecer o mundo 
por meio das 300 cartas apresentadas por ele.
COUTINHO, A.S. A. de. Imagens cartográficas de Portugal na primeira metade do século XVIII. 
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Cadernos-Geogr%C3%A1ficos-UFSC-N%C2%BA-06-A-Escola-Francesa-de-Geografia-
-e-o-papel-de-A.-Cholley.-Maio-de-2003.pdf. Acesso em: 24 abr. 2019.
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Leitura recomendada
VIDAL DE LA BLACHE, P. Histoire et géographie: atlas général. Paris: A. Colin, 1894.
Conhecimento espacial até o século XVIII12

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