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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO CURSO: Licenciatura em Pedagogia DISCIPLINA: – PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO CONTEUDISTA: MARISE BEZERRA JURBERG AULA 2: DISCUSSÃO DAS DIVERSAS CONCEPÇÕES DE HOMEM SUBJACENTES `AS ABORDAGENS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO – O INATISMO META Apresentar a importância das diversas concepções de homem, segundo modelos que foram influenciados pelas descobertas em vários campos do saber, assim como sua repercussão nos estudos psicológicos. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. identificar as diversas concepções de homem; 2. analisar as influências, sobre essas concepções, das descobertas científicas sobre desenvolvimento humano; 3. conceituar inatismo e identificar suas interrelações com teorias filosóficas, biológicas e psicológicas; 4. analisar a importância de contextualizar o conhecimento sobre o homem. INTRODUÇÃO Espero que você continue animado(a) com as aulas desta disciplina. Se você prestar atenção à palavra “animado”, vai constatar que ela provém de anima, que significa alma, em latim. Daí expressões como “eu te amo com toda a minha alma”, ou “a atriz interpretou o papel com toda a sua alma” significa que estamos expressando que algo é superior, melhor que o habitual. Como esse conceito de alma encontra-se agora, em sua mente? Pegue uma folha de seu caderno e tente descrevê-lo agora e guarde-o para mais tarde, quando terminar a leitura desta aula. Este conceito será muito importante nas diversas concepções do ser humano, ao longo da nossa história. Após a leitura da primeira aula, você deve ter percebido que os conceitos de fenômenos que, posteriormente, seriam objeto de estudo da Psicologia - que só firma-se como ciência no século XIX - começaram como preocupações de pensadores, de filósofos. A herança filosófica da Psicologia remonta ao estudo do psiquismo como equivalente à consciência, mas este conceito é posterior às discussões iniciais, pois antes se discutiam as relações entre a alma, ou espírito, e o corpo. Hoje não temos dúvidas de que somos constituídos de corpo e mente, somos indivíduos (e, portanto, indivisíveis), únicos. Além disso, estamos inseridos nas dimensões espaço e tempo. Tais dimensões nos incitam a realizar uma incursão na história, na cultura, nos diversos grupos sociais, para entender como a humanidade tem apresentado idéias e valores que nortearam diferentes concepções sobre o homem, ora priorizando dispositivos inatos, ora destacando fatores do ambiente: inatismo e ambientalismo, os temas da segunda e da terceira aulas. Desde a Antiguidade, diversos filósofos preocuparam-se com a natureza do conhecimento. Através da visão de diversos estudiosos sobre como conhecemos o mundo, poderemos inferir as diferentes concepções acerca do homem, através de recortes da história da humanidade. Gadotti (2008), ao tratar da história das idéias pedagógicas, inclui o pensamento oriental, mas aqui nos deteremos nos pensamentos que advieram do ocidente, porquanto foram os que mais influenciaram nossa cultura atual. O inatismo nos filósofos da Antiguidade O inatismo (em latim in natu, ou “nascer com”), em termos gerais, constitui um sistema filosófico que defende que as idéias são inatas, existindo em estado latente, de forma que conhecer é acioná-las ou recordá-las. Teve origem com Platão, para o qual as idéias estão na própria alma do homem, uma vez que não podem ser encontradas na natureza. Discutindo as idéias de Sócrates (469-399 a.C.), cuja preocupação como educador era despertar e estimular o impulso para o auto-conhecimento, a busca pessoal e a verdade, tanto Platão como seu discípulo, Aristóteles, estudaram a forma pela qual apreendemos as experiências por que passamos, mas assumiram posições divergentes, quanto à natureza da realidade e quanto ao método de observação a ser utilizado. Platão (429-347 aC), filósofo grego,discípulo de Sócrates. Detalhe da Escola de Atenas, de Rafael Sanzio (c. 1510), Vaticano. (fig.2.1: disponível em htpp://pt.wikipedia.org./wiki.Ficheiro:Plato-raphael.jpg ) (fig.2.2: disponível em www.vidaslusofonas.pt/aristoteles.htm) Para Platão, possuímos idéias inatas e a realidade só pode ser compreendida pelas idéias abstratas eternas de objetos, que já existem em nossas mentes. O método do platonismo é a dialética, que opera para encontrar as idéias de justiça, bondade etc.; é ela que nos leva às idéias. A teoria das idéias é o ponto culminante da filosofia platônica. Idéias estas que formam uma hierarquia, no cimo da qual estão as três seguintes: a idéia superior, a do Bem, e a do próprio Deus. Para Aristóteles, a realidade situa-se no mundo concreto dos objetos que nossos sentidos percebem. Em sua concepção educacional, aponta três fatores como essenciais que determinam o desenvolvimento espiritual do ser humano: disposição inata, hábito e ensino. Ambos diferem também em relação ao método de observação da realidade: para o platonismo, só podemos obter o conhecimento pelo uso da mente e da reflexão sobre o mundo das idéias; na visão aristotélica, o conhecimento só pode ser obtido por meio da experiência e da observação. Defendem, portanto, posições inatistas e ambientalistas, que seriam, mais tarde, classificadas como racionalistas e empiristas, respectivamente. Se pensarmos na visão platônica relacionada à Psicologia, ensina ele que o ser humano é formado de alma e corpo e que a alma é formada por três elementos: a parte racional, com sede no cérebro; a irascível, residindo no peito; a apetitiva, localizada nas entranhas. A alma racional é livre, espiritual e imortal. Na sociedade, a organização do estado deve assemelhar-se à alma humana, dividida em três classes: a parte racional seria formada pelos filósofos, que comporiam os encargos públicos; a classe dos guerreiros, para a defesa social e a apetitiva, por operários e lavradores, responsáveis pela subsistência. Mais tarde ele reconheceu a impraticabilidade de sua teoria política entre indivíduos que são seres humanos, e não divinos. Platão fundou uma escola, a qual denominou Academia e, dez anos após sua morte, Aristóteles fundou o Liceu. Na próxima aula, sobre ambientalismo, as idéias aristotélicas serão mais discutidas. Em relação à visão aristotélica, verificamos que sua posição não é idealista, mas realista, uma vez que seu objeto de estudos é o mundo animado, ou seja, aquilo que tem vida, que se diferencia essencialmente do mundo inorgânico. O princípio da atividade, portanto, é a alma. Tais estudos podem ser classificados, como o fazem muitos autores, como característicos de uma fase denominada Psicologia Filosófica, a qual perdurou até o século XVII, a partir do qual a visão aristotélica de ciência continuará a fomentar discussões que se centralizam ainda em duas possíveis vertentes: o conhecimento teria como fonte as sensações - e, portanto, o papel da experiência é mais importante – ou estas não conseguem nos forneceruma visão fidedigna da realidade, a não ser que usemos a razão. O inatismo nas épocas medieval e moderna Durante a Idade Média, cuja data de início não é um consenso entre historiadores, variando desde o ano 395 ao ano 476, época da queda do império romano, no ocidente, várias mudanças ocorreram: a fundação do Santo Império Romano, católico e feudal, por Carlos Magno; as invasões bárbaras, a organização feudal, a expansão do islamismo, o prestígio dos papas, com as heresias e a Inquisição, o início das monarquias modernas no ocidente e no oriente, a luta entre o império e o papado e, finalmente, a queda de Constantinopla, em 1453, que marca o término desse período. Podemos considerá-lo como um período de grande desenvolvimento cultural nas universidades e o período eminente do catolicismo, religião ameaçada na Idade Moderna. Além do ensino nas primeiras Universidades criadas, o ensino filosófico era seguido em escolas ligadas à teologia (escolástica) e perdurou até o final do século XVII. A filosofia escolástica, fortemente influenciada por Aristóteles, tinha, como uma de suas preocupações principais, a questão da realidade das idéias gerais ou universais. Três escolas ocuparam-se desta questão: a escola realista, a qual defendia que as idéias existiam realmente, antes das coisas; a escola nominalista, para a qual as idéias nada mais eram do que nomes e que só existiam depois que as coisas eram percebidas; a escola conceptualista, que admitia as idéias gerais, mas no nível individual. A escolástica pode ser vista como a idade da dialética, mas uma dialética acrítica. As doutrinas platônicas foram retomadas, nesse período, por Santo Agostinho, associadas à doutrina cristã, que também teve São Tomás de Aquino como uma de suas figuras mais destacadas. Para a filosofia tomista, a espécie inteligível não é o objeto material entendido, ou seja, a representação da coisa, mas o meio pelo qual a mente entende as coisas do mundo exterior. Isto corresponde aos dados do conhecimento, permitindo-nos conhecer coisas, e não idéias. As coisas não podem entrar no nosso cérebro, pois são conhecidas através de imagens. Início do verbete Escolástica : constitui uma linha dentro da filosofia medieval, de características notadamente cristãs, que surgiu da necessidade de responder às exigências da fé que era ensinada pela Igreja, instituição que dividia o poder com os reinados e que se atribuia a funçao de guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Como a Europa era majoritariamente cristâ, a igreja era responsável pela unidade da fé, tanto neste continente, como nos demais, através das cruzadas e do envio de congregações religiosas aos países do Novo Mundo que iam sendo descobertos.de. A Escolástica deve seu nome às artes ensinadas nas Escolas medievais e perdurou do começo do século IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média. Final do verbete É nesse período, em que a educação formal restringia-se a nobres e sacerdotes e era realizada sob a égide da Igreja Católica, que um cientista polaco é responsável por uma mudança radical: a revolução promovida por Nicolau Copérnico, que desfere o primeiro golpe na concepção de homem e da realidade, quando ousa retirar o planeta Terra do centro do Universo. Ao discorrer sobre a “revolução copernicana” que representou a resposta do filósofo Emanuel Kant (1724-1804) aos problemas do inatismo e do empirismo, Chauí (1999) tece algumas considerações sobre a revolução de Copérnico. Descreve que, na Antiguidade e na Idade Média, ainda se considerava que o mundo possuía limites, que era formado por um conjunto de sete esferas concêntricas, tendo a Terra, imóvel, em seu centro. Nessas esferas os planetas estariam presos (neles incluíam o Sol e a Lua). Este sistema astronômico era denominado geocêntrico, pois em grego Gaia ou Geia significa Terra. A teoria heliocêntrica, além de colocar o sol no centro do sistema, incluiu outras descobertas, como os movimentos da Terra e do próprio Sol, que já havia sido classificado como estrela, e não planeta, por outros astrônomos. disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Copernicus.jpg Nicolau Copérnico 1473/1543) foi um astrônomo e matemático polaco Foi também cônego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrólogo e médico.Sua teoria do Heliocentrismo, contrariando a então vigente teoria geocêntrica, é tida como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia moderna, embora desacreditados e mal divulgados na época. O italiano Galileo Galilei (1564-1642), ao defender e divulgar com a teoria heliocêntrica, proposta anteriormente por Copérnico, é acusado de herege e a perseguição a que foi submetido, pela Inquisição, tornou-se quase tão célebre quanto suas descobertas como astrônomo. Na Antiguidade e na Idade Média ainda se considerava que o mundo possuía limites, que era formado por um conjunto de sete esferas concêntricas, tendo a Terra, imóvel, em seu centro. Nessas esferas os planetas estariam presos (neles incluíam o Sol e a Lua). Este sistema astronômico era denominado geocêntrico, pois em grego Gaia ou Geia significa Terra. (Chauí, 1999). Galileu Galileu ante o tribunal da Inquisição (fig 2.3 e 2.4:disponíveis em http//pt.wikipwedia.org/wiki/galileu_galilei) Na Idade Moderna, que vai do século XV (1453) até o século XVII (1789), ocorreram grandes invenções e descobrimentos marítimos, houve um período de absolutismo real, uma descristianização do mundo moderno, a implantação da Reforma protestante. Do ponto de vista cultural, a idade moderna não pode ser separada da Idade Contemporânea, pois esta constitui uma continuação da primeira. O período denominado Renascença (renascimento das letras e das artes), iniciado na Itália, no século XIV, que caracterizou-se pelo estudo e admiração dos cânones artísticos da antiguidade clássica, marca a transição para a idade Moderna. A Renascença finalizou-se quando a supremacia feudal e escolástica cedeu lugar ao nacionalismo, culminando, na política, com a revolução francesa e, na sociedade, com a revolução russa. Graças às profundas transformações na visão do homem associadas às grandes descobertas, (a bússola, a imprensa, o uso militar da pólvora, a descoberta da América) surgem duas correntes filosóficas – empirismo e racionalismo. De um modo geral, o empirismo defende que todas as nossas idéias são provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato) e que podem ser assimiladas através do processo de aprendizagem. No racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos à mente do homem, motivo pelo qual a razão deve ser a fonte básica do conhecimento. Somente a razão humana operando com princípios lógicos pode atingir o conhecimento verdadeiro, universalmente aceito. A partir do século XVII, novas discussões voltam a fundamentar-se no valor de se adotar o empirismo ou o racionalismo, na tentativa de explicar o conhecimento. Seus maiores defensores foram, respectivamente, René Descartes (1596-1650), considerado o pai da filosofia moderna, e John Locke (1632-1704). Na visão cartesiana, anterior à de Locke, a razão é privilegiada: “penso, logo existo” (“cogito, ergo sum”) e a racionalidade é defendida como a via de acesso ao conhecimento. O racionalismo defendido por seu maior precursor (Descartes, em Discurso do Método) preconizava que a experiência sensorial constitui uma fonte permanente de erros e confusões sobre a complexa realidade do mundo. Só através dos princípios da lógica, próprios da razão humana, pode-se atingir a verdade, ou o conhecimento universal. O cartesianismo utiliza-se da “dúvida metódica”, proposta como umavia para se chegar à certeza; ela não é uma dúvida sistemática, com a finalidade apenas de manter o próprio ato de duvidar, como o é para os céticos. As idéias em geral são incertas e instáveis, sujeitas à imperfeição dos sentidos. Algumas, porém, apresentam-se ao espírito com nitidez e estabilidade. Tal fenômeno ocorre em todas as pessoas, da mesma maneira, e independe das experiências dos sentidos. As idéias gerais, universais, residem na mente de todas as pessoas e são inatas. Resumindo o cartesianismo, pode-se dizer que ele admite, como idéias absolutamente certas – das quais a inteligência não pode abstrair – as idéias de pensamento e de extensão. O cartesianismo adota a dúvida sistemática como método, o mecanismo como princípio e o espiritualismo e o deísmo como princípios metafísicos. Na Inglaterra, John Locke rejeitava as idéias inatas, colocando a fonte de todo o nosso conhecimento na experiência e na sensação, com o auxílio da reflexão; para ele, o psiquismo seria uma página em branco, na qual seriam inscritas as impressões que nos chegassem pelos sentidos. Assim como Aristóteles, este filósofo será discutido com mais detalhes na próxima aula. No século seguinte, novas discussões e controvérsias ocupam os filósofos, até alcançarem um certo consenso acerca das faculdades inerentes ao psiquismo humano: a inteligência, a vontade e as emoções. Em seus primórdios, portanto, as explicações psicológicas que advieram da filosofia tiveram, como ponto de partida, o estudo das faculdades mentais, ou a pesquisa da verdade, o que seria realizado através da compreensão dos nexos existentes entre os acontecimentos. Foram muitas as discussões sobre a possibilidade de que o pensamento corresponderia ou não à realidade percebida, preocupação que remonta às discussões de Platão. Atividade 1 Através desta atividade, buscamos atingir um dos objetivos de nossa aula: conceituar inatismo e identificar suas interrelações com a filosofia. Neste sentido, responda às seguintes questôes: 1- Como o inatismo era conceituado para filósofos, até a idade moderna? Resposta comentada 1- Para filósofos, desde a antiguidade, era discutida a natureza inata ou não das idéias humanas, dando origem a duas tendências que se mantiveram durante as idades média e moderna, persistindo ainda na modernidade: a empirista e a racionalista. Estas ainda perduram nas divisões das teorias psicológicas, que ainda são agrupadas em duas grandes categorias: teorias associacionistas e teorias cognitivistas. O associacionismo prioriza as relações com o meio ambiente, as vivências por que as pessoas passam, assim como a possibilidade de criarem hábitos, condicionamentos e atitudes através das relações sociais advindas do contacto com outros, com grupos sociais mais amplos e com os valores e ideologias contidas na sociedade em que vivemos. O racionalismo deu origem a teorias que priorizam a capacidade intelectual, as funções da mente, o raciocínio e o funcionamento da mente, como o faz a neurociência, atualmente. O inatismo e a Psicologia Até o final do século XIX, portanto, a Psicologia era mediada pelo conhecimento filosófico, uma vez que seu objeto de estudos abrangia tanto visões mais gerais do mundo, como também se interessava pelos grandes sistemas filosóficos. Somente em suas últimas décadas observa-se uma tendência a distanciar a Psicologia da Filosofia, ao ser privilegiada a possibilidade de transformá-la em uma ciência autônoma. O mesmo aconteceu com a Educação, que passou a buscar, na Psicologia, fontes de informação para a formulação de teorias educativas científicas. Daí o nascimento da Psicologia da Educação, na primeira década do século XX. O caminho da busca por cientificidade viera através de um médico francês, Claude Bernard, (1813-1878) que defendia a necessidade de se criarem métodos mais precisos e que propiciassem maior controle no tratamento de doentes e enfermos, iniciando a fisiologia e a medicina experimentais. Não aceitava mais que se continuasse a tratar os pacientes com ensaios e erros, com acertos ocasionais: no lugar de fazer experiências com pacientes, era necessário um método que permitisse verificar hipóteses e cria, assim, as regras da experimentação, comparando tratamentos e controlando a influência de possíveis variáveis do organismo e do meio. Foi professor de Medicina Experimental no College de France, chamando a atenção de seus colegas para a nova disciplina comparativa, tendo publicado, em 1865, um livro sobre o assunto, o qual lhe conferiu, quatro anos após, a eleição para a Academia Francesa. O método experimental, por ele criado, tornou-se o modelo de cientificidade e passou a ser adotado pelas diversas áreas de conhecimento, inclusive determinando a fase experimentalista também na Psicologia, fase que perduraria até o final do século passado, como modelo hegemônico deste campo de saber. Início do Verbete Os pressupostos do método experimental, para a verificação de hipóteses, implicam, em sua versão clássica, trabalhar com dois grupos, cujas respostas serão comparadas: a um deles é aplicado um determinado tratamento (grupo experimental) e, ao outro, (grupo de controle) não se introduz nenhuma variável, tomando-se o cuidado de manter as mesmas condições do primeiro. Tal controle permitiria que ambos os grupos fossem homogêneos. As respostas dos sujeitos de ambos os grupos seriam comparadas e as diferenças encontradas seriam atribuídas ao tratamento utilizado. Atualmente este método foi sendo aperfeiçoado, inclusive face ao desenvolvimento da estatística e passou a incluir diversos tipos de planejamento experimental e a possibilidade de pesquisar vários grupos simultaneamente, para os testes de hipóteses. No lugar de se tentar analisar a ação de determinada droga, por exemplo, com uma única dosagem, pode-se testar várias doses ao mesmo tempo, utilizando grupos de pessoas em diferentes faixas etárias, como se faz nos planejamentos fatoriais. Não confunda experimentalismo com empirismo, este último já definido na aula 1. Para os empiristas, o conhecimento tem sua origem FORA do individuo e é interiorizado através dos SENTIDOS. Final do Verbete O inatismo na Idade Contemporânea Paralelamente, no final do século XIX, as ciências físicas e naturais começam a se desenvolver, centrando-se na quantificação e na experimentação. Nesse período, destacam-se dois cientistas que revolucionaram as concepções vigentes sobre o homem, trezentos anos após Galileu ter tirado a Terra do centro do sistema solar. Agora, é o ser humano que perderá seu lugar no centro da criação. Em uma época em que se acreditava que uma pessoa morria porque chegara sua hora, por desígnios divinos, foi difícil aceitar que seres inferiores, invisíveis a olho nu, pudessem atacar nosso corpo e destruí-lo. O primeiro golpe na vaidade do ser humano veio com Louis Pasteur (1822- 1895), químico francês, professor da Sorbonne, o qual descobrira que a fermentação, observada na fabricação de diversas bebidas (vinho, cerveja, vinagre), era causada pela ação de microorganismos e que podia ser evitada através de um processo simples de esterilização, mais tarde denominado pasteurização (técnica que consistia em aquecê-las a 75 graus centígrados, a fim de matar esses micróbios). Seus estudos sobre microorganismos levaram-no a reconhecer o papel que desempenham em diversas doenças e epidemias, as quais começou a evitar através da vacinação. Certa época, quando uma doença alastrava-se e estava dizimando o rebanho de ovelhas do interior da França, ele avisou às autoridades que se tratava de uma epidemia, a qual estava sendo transmitida através dos animais mortos, deixados à beira dos rios. Para que ela fosse contida, propôs vacinar a metade dos rebanhos de cada fazenda por onde passariam os cursos de água contaminadose, só depois que os animais vacinados e marcados sobreviveram, pode comprovar a efetiva ação dos microorganismos na transmissão de doenças. Assim como os animais, as pessoas também não morriam por causas indeterminadas, mas porque eram atacadas por seres microscópicos. Como acreditar que o ser humano - criado à semelhança divina - pudesse sucumbir a criaturas tão inferiores? Início do Box de Curiosidades Pasteur expôs a "teoria germinal das enfermidades infecciosas", segundo a qual toda enfermidade infecciosa tem sua causa (etiologia) num micróbio com capacidade de propagar-se entre as pessoas. Deve-se buscar o micróbio responsável por cada enfermidade para se determinar um modo de combatê-lo. Pasteur passou a investigar os microscópicos agentes patogênicos, terminando por descobrir vacinas, em especial a anti- rábica. Fundou, em 1888, o Instituto Pasteur, um dos mais famosos centros de pesquisa da atualidade. Louis Pasteur em seu Laboratório (fig.2.5 disponível em http//pt.wikipwedia.org/wiki/Louis_pasteur) Fim do Box de Curiosidades O segundo foi um naturalista inglês, Charles Darwin (1809-1882), que publicou sua teoria sobre a origem e a evolução das espécies em 1859 : On the Origin of Species by means of Natural Selection, provocando numerosas controvérsias, uma vez que opunha-se ao criacionismo, conforme a religião católica pregava há séculos. Para o darwinismo, as espécies atuais são o resultado de uma longa e gradual adaptação evolutiva de espécies mais antigas, através de mecanismos de seleção natural, que faz sobreviver o mais apto, na luta pela vida. A seleção natural completa-se com a seleção sexual, pela qual as fêmeas são atraídas pelos machos portadores de determinadas características que lhes garantam a sua sobrevivência e a de seus filhotes. (Darwin, 2000). Atualmente outros fatores foram sendo incluídos, como determinantes de novas espécies, tais como a teoria das variações somáticas e genéticas e de determinantes geográficos, fisiológicos e o isolamento de populações. Não só a aptidão física é relevante na escolha de parceiros sexuais, como discute Miller (2001); há também uma seleção baseada nas aptidões intelectuais - mentes sagazes, articuladas e ao mesmo tempo generosas - o que significa que também a mente é seletiva. Para o autor, muitos aspectos envolvendo o "como" e o "porquê" da evolução da mente humana ainda nos parece um mistério, assim como a teoria da seleção natural também não ofereceu soluções para a rapidez com que a mente humana evoluiu. Segundo o neurobiólogo Edelman (1987), prêmio Nobel de Medicina em 1972, a evolução caminhou no sentido de selecionar grupos neuronais (darwinismo neural). Para discutir esses novos aspectos da natureza humana, Miller (op.cit.) recorre às novas idéias que provêm da moderna biologia evolutiva, da economia e da psicologia, usando exemplos que vão da história natural à cultura popular, comprovando a necessidade de contextualização dos estudos contemporâneos. Durante a sua vida, Charles Darwin tornou-se famoso como um influente cientista, estudando tópicos controversos. (fig.2.6 disponível em http//pt.wikipwedia.org/wiki/charles_darwin) Início do Verbete O criacionismo consiste na mais difundida explicação sobre a Criação e desenvolvimento do Universo, incluindo galáxias, planetas e a própria vida: um sistema de crenças segundo o qual tudo teria sido criado por uma entidade inteligente, superior, normalmente identificada como Deus. Com o avanço das ciências naturais e seu desvinculamento da religião, novas explicações foram deduzidas sobre a origem do Universo, do homem, do nosso planeta e da vida. Tais mudanças geraram e até hoje geram controvérsias e conflitos entre certos grupos religiosos; os cristãos, assim como os fundamentalistas, configuram-se como os principais mantenedores dessa polêmica, através do embate entre criacionistas versus evolucionistas. Nos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, país considerado desenvolvido, segundo critérios econômicos e tecnológicos, em mais de vinte estados ainda é proibido o ensino da teoria da evolução de Darwin. A Criação de Adão: patriarca da humanidade no cristianismo, judaísmo e islamismo. Pintura de Michelangelo, na Capela Cistina (fig.2.7 disponível em http//pt.wikipwedia.org/wiki/a criação de adão) Final do Verbete Atividade 2 Através desta atividade, buscamos atingir mais um dos objetivos de nossa aula: identificar as interrelações do inatismo com a psicologia e com as descobertas científicas em outras áreas do saber. Neste sentido, responda à seguinte questão: 2- Como descobertas científicas na astronomia e na biologia modificaram as concepções do homem? Resposta comentada: 2- Ao tirar a terra do centro do Universo e o homem do centro da criação divina, Galileu e Darwin, respectivamente no período medieval e na idade moderna, provocaram uma revolução nas idéias sobre a concepção do homem. As mudanças radicais não costumam ser aceitas sem perseguições de grupos que sentem seus ideais ou crenças abaladas. A revolução galileana foi precursora de outras grandes teorias da física, que vêm mudando substancialmente esta área de saber e é aceita como uma verdade universal – mas não como uma idéia inata, conforme pregava o platonismo -, mas a teoria evolucionista ainda sofre críticas e desconfiança, embora também tenha sido ampliada e continua tendo novas evidências e algumas correções. Ainda dentro da biologia, temos diversas contribuições da Etologia e da Genética, que vem revolucionando as aplicações do mapeamento do genoma humano, gerando concepções sobre o homem que jamais poderiam ser imaginadas. Tais concepções estão em um processo constante de vir-a- ser. Melhor do que uma resposta apressada é formular uma boa pergunta, que leve a reflexões pertinentes. Inatismo na Psicologia e na Educação Como o final do século XIX caracterizou-se por grandes descobertas, o século seguinte prometia ser um período de grandes mudanças, muitas das quais foram aceleradas pelas duas guerras mundiais por que passou grande parte da humanidade. Chegamos ao século XX, a cujo final todos assistimos, pois aconteceu há menos de uma década. Vamos retornar às nossas áreas de interesse: Psicologia e Educação. A busca pela cientificidade atingirá também a Psicologia, que seguirá o mesmo caminho das ciências naturais. É nesse período que Wilhelm Wundt (1832-1929) cria o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental em 1879, na Universidade de Leipzig. Tornou-se o líder do movimento conhecido como estruturalismo, para o qual o objeto de estudos deve ser a consciência, servindo-se, para este fim, da introspecção e analisando os processos mentais em seus elementos; além dessas características, os estruturalistas tentam localizar, no sistema nervoso, as estruturas relacionadas aos elementos que compõem tais processos. (Davidoff, 1983). Em Lepzig, os resultados das pesquisas de seu fundador, sobre emoção e sentimentos, foram publicadas no livro Elementos de Psicologia Fisiológica; lá também trabalharam Weber e Fechner, realizando pesquisas psicofísicas sobre estímulos limiares: absolutos (a menor intensidade de um estímulo capaz de torná-lo perceptível por um determinado órgão sensorial) e relativos (dependendo do estado do organismo no momento). Ambos elaboraram as célebres leis de Fechner e Weber, acerca das sensações. Também neste laboratório J.M. Catell (1860-1944) inicia suas pesquisas sobre tempo de reação, aplicando a experimentação, o que o levou à formulação de leis sobre as diferenças individuais e tentou aplicar os conhecimentos da Psicologia a diversas áreas do conhecimento, inclusive a Educação, para a qual construiudiversos testes mentais. Os primeiros anos do século que acabou de findar foram marcados pelo avanço na criação de testes e instrumentos de medida, tanto nos EEUU como na Europa. Na França, Alfred Binet publica, em 1903, o livro Étude experimental de l’intelligence, onde apresenta a possibilidade de medir a inteligência, criando um teste que, depois de traduzido para o inglês, passou a denominar-se Stanford-Binet. Foram criados testes que mediam um fator geral de inteligência e outros que identificavam o nível de fatores específicos, os quais tinham relação com a capacidade intelectual. Outros testes foram sendo criados, com o intuito de medir as capacidades mentais e as aptidões e, assim, determinar as possibilidades dos educandos em relação à aprendizagem. A onda psicométrica parecia disponibilizar ferramentas que pretendiam facilitar o trabalho do educador. Além da dicotomia Inatismo-ambientalismo Na aula anterior, assim como na introdução desta, você aprendeu que, em suas origens, essas duas áreas do saber – psicologia e filosofia – confundiam-se. Viu também como as relações entre psicologia e educação eram igualmente norteadas por premissas criadas no campo da filosofia. Agora, vamos tentar mostrar como conhecimentos advindos de outras áreas repercutiram nos avanços da Psicologia e nas teorias e nas práticas educativas, ora defendendo o inatismo, ora privilegiando o ambientalismo. A dicotomia inato-ambiental separa a multidiversidade que caracteriza o ser humano em apenas duas possibilidades. Ela pode ser denominada de outras formas, tais como: hereditário x aprendido, ou como essencialismo x construtivismo social, ou ainda “nature” x “nurture”. É necessário que você atente para o fato de que, embora essas duas posições pareçam dar conta do objeto da psicologia, não podemos nos contentar em tentar compreender os fenômenos psíquicos que ocorrem dentro do indivíduo apenas com estas duas vertentes. Conforme ressalta Paulilo (1996), precisamos admitir que processos externos e internos têm significação anterior à existência do ser humano, ou seja, há variáveis que são oriundas da história da sociedade na qual o indivíduo nasce e vive. Tentando aplicar as teorias psicológicas, a Psicologia da Educação buscou fundamentação nas três áreas que estavam em franco desenvolvimento, no início do século passado: os estudos sobre diferenças individuais e a preocupação psicométrica, (uso de testes de inteligência, atenção, aptidões), as pesquisas sobre processos e tipos de aprendizagem e, finalmente, os estudos sobre o desenvolvimento infantil. No que concerne ao estudo das diferenças individuais: - o interesse pelas diferenças individuais entre os indivíduos começou na área das ciências físicas, especificamente na astronomia, quando foi constatada uma diferença nos cálculos de velocidades e distâncias de corpos celestes, ao serem comparados os resultados de diferentes astrônomos. Uma aproximação do tempo real deveria ser estimada, a partir de uma equação pessoal dos erros. Daí resultaram estudos psicofísicos no Laboratório de Leipzig, incluindo testes de tempo de reação; - na psicologia, estes estudos influenciaram uma visão psicométrica da inteligência, buscando entender a forma pela qual a inteligência se estrutura; neste modelo, coexiste uma pressuposição de que a inteligência é composta de habilidades e que estas podem ser medidas por provas de capacidade mental. - além deste, outros paradigmas foram marcantes para o estudo da inteligência: o desenvolvimento da psicologia cognitiva - que concerne os processos mentais responsáveis pelo funcionamento do pensamento - e a ciência biológica, ao tratar das bases neurais de inteligência, atualmente denominada neurociência. Quanto à aprendizagem, comecemos por uma definição abrangente: constitui o modo como os seres vivos adquirem novos conhecimentos, desenvolvem suas competências e modificam seus comportamentos, valores e atitudes, em função de suas experiências. Nesta definição, foram contemplados tanto fatores inatos quanto fatores do ambiente sócio-cultural, na medida em que dependerá de pressupostos políticos, econômicos, históricos e ideológicos vigentes em determinado espaço e determinado tempo, todos relacionados à visão do mundo e aos conhecimentos de que dispomos no momento. enquanto um PROCESSO, a aprendizagem pode ser estudada segundo um conjunto de DIMENSÕES, e não apenas as duas dimensões opostas, propostas pela dicotomização entre inatismo e ambientalismo. As teorias associacionistas serão mais detalhadas na aula 3, por estarem relacionadas ao ambientalismo. Dentre as teorias da aprendizagem, as que se fundamentam nos processos cognitivos são as que mais se aproximariam da visão inatista, uma vez que os cognitivistas acreditam que a inteligência compreende uma gama de representações mentais das informações (proposições, imagens, etc.) e uma série de processos que podem operar sobre essas representações. O construtivismo piagetiano, a ser apresentado a seguir, possui princípios igualmente ligados ao inatismo. Quanto ao desenvolvimento infantil, várias teorias o estudaram, mas na presente aula você irá se familiarizar com aquelas cujos princípios denotem uma visão inatista. Dentre as teorias da aprendizagem, que serão abordadas em outras aulas, o construtivismo de Jean Piaget (1896-1980) apresenta, em sua estrutura, mecanismos próprios, determinados principalmente pela maturação biológica. Utilizando o método estruturalista, o autor centraliza seus estudos mais no sujeito do que no objeto, este último visto como perturbador da estrutura cognitiva. Piaget tomou as descobertas de Konrad Lorenz - juntamente com os resultados de sua própria pesquisa- como base para sua inovadora psicobiologia. O conhecimento, dentro do construtivismo piagetiano, é “construído” de acordo com os estágios do desenvolvimento do ser humano. Tais estágios são fixos e universais, como o são os processos de maturação, e independem da aprendizagem. As constantes trocas com o meio, a partir de esquemas motores e das ações do ser humano, propiciam adaptação progressiva, objetivando uma equilibração constante. A aprendizagem beneficia-se desses progressos, mas não o influencia; certos tipos de aprendizagem só serão possíveis quando o organismo alcançar determinados níveis ou estágios de desenvolvimento das estruturas cognitivas. Desde que iniciou sua carreira, na malacologia (estudo de moluscos), Piaget tinha interesse em fenômenos de adaptação ontogenética que tinham repercussão na filogênese. Segundo alguns autores, como Figueiredo (1991) e Palangana (1994), a visão piagetiana é vista como interacionista, face à necessidade de a criança interagir com o meio, para que ocorra a gênese do pensamento. O interacionismo determinou o fim da dicotomia inatismo-ambientalismo, inclusive porque os termos inato e ambiental possuem conotações diferentes em outras áreas do saber. Você deve estar se perguntando porque, ao observarmos a história da psicologia, nos deparamos com um conjunto de discursos composto por inúmeras escolas, com diferentes orientações, o que lhe dá a aparência de um corpo em pedaços, sem unidade, como observa Patto (1994). Realmente o objeto atual da Psicologia, com suas inúmeras especialidades, desde a Psicologia Biológica à Psicologia Social, abarca um grande número de possibilidades para os que se dedicam a esta área de estudos. O Inato na perspectiva etológica Uma nova perspectiva de base inatista apareceu nos últimos cinqüenta anos, com o desenvolvimento de estudos etológicos. A Etologia, definida como a biologia do comportamento, surgiu na Europa, com o objetivo de estudar os mecanismos do comportamento através de uma perspectiva evolucionária. Ocupou-se inicialmentedas atividades instintivas nas diversas espécies, em ambiente natural. Destacam-se, nesta fase, os trabalhos pioneiros de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen (1951), sobre instintos em aves, introduzindo a noção de “imprinting” (ou estampagem) para atos instintivos – e, portanto, inatos - que necessitam de certo estágio do desenvolvimento do animal, assim como a presença de certo estímulo para que sejam gravados. Início do verbete Etologia: disciplina dedicada, em seus primórdios, ao estudo do comportamento animal, mas que passou a estudar a espécie humana. O termo provêm do grego êthos (conduta, costumes, comportamento) e lógos (estudo, tratado).Ela utiliza-se de estudos em ambiente natural e também em laboratórios, possuindo caráter interdisciplinar e combinando conhecimentos de neuroanatomia, ecologia e teoria da evolução. Fim do verbete Os comportamentos animais desenvolvem-se como resultado da interação de influências genéticas e ambientais. Certas condutas possuem determinantes mais inatos do que comportamentais; em outras, ocorre o oposto. Os comportamentos denominados em geral como instintivos, são geneticamente programados e geralmente sofrem muito pouca influência da experiência ou da aprendizagem. Eles fazem parte do repertório de condutas e de habilidades essenciais para a vida e a sobrevivência da espécie, em geral, e do indivíduo, em particular. fig2.8-Disponível em: http//ciência e mente.blogspot.com/2008/04/as-contribuies-da- etologia-para.html O comportamento de chupar o dedo – e, após o nascimento, o mamilo da mãe - nos bebês humanos, ocorre mesmo dentro do ventre materno e constitui um dos comportamentos instintivos com que já nascemos. Um exemplo de influências genéticas e ambientais em comportamento animal é o chamado imprinting ("estampagem", em português, mas é um termo em geral não traduzido). Esse fenômeno foi, de início, denominado "stamping in", pelo fato de que Lorenz achara que o objeto sensorial seria estampado (ou carimbado), de for forma irreversível no sistema nervoso, dentro do “período crítico” de desenvolvimento. Na figura a seguir você verá o próprio Lorenz sendo seguido pelos filhotes que, ao nascerem, apenas se depararam com ele, novimentando-se próximo ao ninho e, assim, sofreram imprinting. (fig.2.9 disponível em http//pt.www.cerebromente.org.br/n14/experimento/lorenz/index.lorenz.html Este é um fenômeno exibido por vários animais jovens, principalmente por pássaros: ao saírem dos seus ovos, eles seguirão o primeiro objeto em movimento que encontrarem no ambiente, não importando os demais detalhes (cor, forma etc) do objeto que normalmente desencadearia o “imprinting”. Konrad Lorenz com Nikolaas Tinbergen, 1978 (fig.2.10 disponível em http//en.wikipedia.org/wiki/konras_Lorenz) Dentre as descobertas desses pioneiros, há ainda as que se relacionam aos “estímulos sinais”, ou estímulos deflagradores de comportamentos inatos, como o grito de alerta, à aproximação de predadores. No caso das aves, por exemplo, a visão de um simples contorno que caracterize um ganso ou uma águia provocará reações diversas, não importando os demais detalhes da figura percebida. Início do Box de Curiosidades. Lorenz e Tinbergen testaram diversos modelos de gansos e águias e chegaram à conclusão de que a relação entre pescoço e cauda é que servia de parâmetro para a percepção da águia predadora, fazendo com que os animais buscassem refúgios. A mesma figura apresentada, ora amarrada na parte dianteira, ora na parte traseira, deflagrava ou não sinais de alerta. Abaixo, o modelo de cartolina preta, utilizado pelos dois cientistas. Quando se observa um bando de macacos, o grito de alerta para águias e felinos é diferente: no primeiro caso, o bando procura proteção no centro da copa de árvores, local de difícil acesso aos vôos rasantes da ave predadora; quando se trata de felinos, o bando se refugia nos galhos menores, mais difíceis de serem escalados, face ao peso desses últimos predadores. Fim do Box de Curiosidades Em seu livro Fundamentos da Etologia,(1981) Lorenz aborda diversos temas, tais como: metodologia etológica, aspectos ligados ao comportamento e a cognição como modificadora de comportamentos. Defende a idéia de que muitos dos mais importantes padrões de comportamento dos animais - aqueles tradicionalmente chamados instintivos - eram inatos, fixos e não podiam ser modificados ou eliminados pelo meio. O critério para determinar se um certo padrão de comportamento é inato, é verificar se ele ocorre em todos os indivíduos normais da espécie, levando em consideração idade e sexo, sem que tenha havido aprendizado anterior e que esse comportamento se apresente sem necessidade de tentativas e erros. Comportamentos instintivos acontecem espontaneamente, como que provocados por causas internas ao próprio animal. São comportamentos de busca, que prescindem de um estímulo externo. É como se houvesse um reservatório (modelo hidráulico) que vai se enchendo, à proporção que aumenta uma necessidade primária, até que o animal tem que diminuir a pressão, através de um comportamento fixo, mesmo que o objeto que satisfaria a necessidade em questão não esteja presente. É o caso de pombos, por exemplo, que, quando afastados da fêmea, podem tentar copular com um pombo empalhado, um pedaço de pano, ou mesmo um objeto da gaiola. Para Lorenz, o comportamento do homem é semelhante aos dos outros animais e está sujeito às mesmas leis causais da natureza. O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana, exposto no livro Sobre a Agressão, é que o ser humano, assim como acontece com outros animais, tem o impulso inato do comportamento agressivo em relação à sua própria espécie. Esse impulso deveria estar limitado, provocando poucos danos ao outro, como acontece em geral, nas disputas por fêmeas ou por território. Entre os humanos, no entanto a agressão pode levar à morte do oponente, consequência que contraria a necessidade de sobrevivência da espécie. Nos seres humanos foram observadas duas grandes diferenças: a primeira é o poder do ser humano em termos destrutivos, com o crescente arsenal de armas disponíveis para matar. Se antes as armas demandavam contacto com o inimigo ou com o opositor, como eram os casos em que eram usados machados, espadas e armas brancas em geral, passando pela lança e pelo arco e flecha, o agressor podia ver o sofrimento causado ao outro, o que deveria inibir o comportamento agressivo. Com a nova utilização da pólvora e a invenção do revólver e, depois, de armas que impediam a visão das reações das vítimas da agressão, o alvo ficou cada vez mais longínquo. Até que a humanidade chegou à “assepsia”de apertar um botão e lançar mísseis de longo alcance, que sequer são associados à grandeza da destruição que provocam e tampouco à população dizimada; desta forma, o equilíbrio natural entre o potencial de agressão e a inibição a ela passou a ser dificilmente percebido. A tecnologia destruiu a possibilidade de que a espécie humana iniba o comportamento agressivo, quando a vítima apresenta gestos ou posturas de submissão, como fazem os cães e outros mamíferos, deitando-se de barriga para cima e mostrando-se, desta forma, vulnerável e sem capacidade de reagir. Para Lorenz, o conhecimento pautado na filogênese, nas capacidades e habilidades inatas, não leva a pensarmos que não sejamos livres: ao contrário, nosso crescente conhecimento de nós mesmos aumenta o nosso poder de autocontrole. Se compreendermos melhor as causas de nossa agressão, mais aptos estaremos para tomar medidas racionais para controlá-la. Em 1973, Lorenz, Tinbergen e Von Frisch receberam o prêmio Nobel por suas descobertas, tendo este último se destacado por suas pesquisas sobre a comunicação entre abelhas,quando percebeu que, de alguma forma, elas passavam a informação às demais, sobre o local da fonte de alimento, ao chegarem à colméia: a famosa dança do “oito”, como ficou conhecida. Início do Box Multimídia Para assistir o vídeo dobre imprinting, com Konrad Lorenz, em ambiente natural, acesse http://www.youtube.com/watch?V=T-OPub1ma4U. Este filme é falado em inglês, com legendas em espanhol. Ao terminar, procure à direita o filme Bee Dance, cuja duração é pequena (menos de um minuto) e veja a dança das abelhas, desvendada por Karl Von Fritch). Para assistir vídeos sobre Konrad Lorenz imprinting, acesse pela internet, sob este título; para assistir os experimentos de Harry Harlow, sobre a mãe substituta, entre na sub seção intitulada Vídeos relacionados. O endereço principal é: www.youtube.com/watch?v=eqZmW7ulPWY Fim do Box multimídia Atividade 3 Após assistir aos vídeos, tente responder à pergunta: 3-Qual a importância do imprinting para o inatismo? Início do Box Curiosidades (fig.2.11 disponível em www.zbp.univre.ac.at/ilg/preistraegerbild35.htm (caso tenha reserva de direitos autorais, usar outra foto, da wikipedia,à direita) Zoólogo austríaco nascido em Viena, que se destacou estudando o comportamento das abelhas, não só fazendo importantes descobertas sobre seus sentidos, como sua utilização pelos membros de uma sociedade, para troca de informações. Conseguiu decodificar a linguagem das abelhas, verificando que elas usam a radiação solar como método de orientação, mesmo quando o Sol não está visível, demonstrando como estes animais comunicam-se e orientam-se; observou que as abelhas comunicam ao resto da colméia a localização de uma fonte de alimento através de dois tipos de movimentos rítmicos: a dança circular, para indicar que a comida se encontra num raio de menos de 75m; a agitação violenta do abdome assinala distâncias maiores. A direção do eixo central da dança indica a direção do sol enquanto o número de voltas indica a distância até o alimento. (ver figura acima). Estudos posteriores detectaram sinais combinados e mais complexos na troca dessas informações. Fim do Box de Curiosidades As pesquisas de Harry Harlow (1959), sobre as relações maternais de macacos com a mãe de pano e a mãe de arame, evidenciaram que a preferência não era definida pela mãe que fornecia alimento, mas a que facilitava o apego pelo contacto macio, pelo aconchego. Nesta fase inicial, denominada etologia tradicional, as pesquisas realizadas focalizaram os mecanismos causais imediatos e a ontogênese do comportamento. Somente dez anos após Bowlby (1969) vai denominar o vínculo entre mãe e filho de “apego”, chamando a atenção para o fato de que formar vínculos tem, como uma de suas principais conseqüências, a criação de novas interações sociais entre ambos, garantindo um desenvolvimento saudável. A abordagem etolófica influenciou diversos psicólogos, inclusive Piaget, que utilizou, para criar sua inovadora psicobiologia, as descobertas de Konrad Lorenz, juntamente com os resultados de suas próprias pesquisas, através de observações do desenvolvimento em crianças. Após 1975, os estudos passam à fase denominada etologia comportamental, focalizando mais as questões sobre evolução e os estudos sobre etologia humana. Diversas áreas foram contempladas, mas se nos detivermos na questão da formação do vínculo afetivo entre macho e fêmea verificamos que os etologistas apontam, no homo sapiens, diversas mudanças nos mecanismos de reprodução. Tais mudanças teriam sido resultado do andar bípede e da posição ereta do corpo, o que reduzia as chances de a fêmea conseguir sustentar um feto - cujo cérebro estava se desenvolvendo gradativamente, ao longo da evolução – dentro de uma cavidade pélvica estreitada pelo bipedismo. Um animal mais complexo não nasceria tão pronto quanto os demais mamíferos e, portanto, havia necessidade de que a evolução caminhasse no sentido de promover uma ligação maior entre os pares que se acasalavam. Mudanças no ato de copular foram se processando, passando a cópula a se dar com macho e fêmea de frente um para o outro, aumentando assim a possibilidade de desenvolverem ligações afetivas. Os seios da fêmea humana passaram a crescer na puberdade, mantendo-se volumosos, sem que isto acontecesse apenas durante a amamentação, como acontece com os demais mamíferos. Todas estas mudanças aumentaram as chances de sobrevivência da prole humana. Garantida a presença do macho perto da fêmea, ficava garantida também a sobrevivência do único filhote por prole, como é a característica dos humanos. Como a cria nasce menos preparada para enfrentar o ambiente e virá completar seu desenvolvimento – principalmente a prontidão para se locomover sozinha e a comunicar-se – após o nascimento, o investimento parental deve ser maior. Outro fator importante, que diferenciou nossa espécie, foi a perda de indicadores da fase do cio, nas fêmeas. Por seleção natural, ela foi gradativamente perdendo os sinais de seu período fértil. Como a fêmea humana estava sempre pronta para a cópula, este último fator também garantia a presença do macho e sua colaboração nos cuidados necessários. Quanto ao apego dos pais em relação aos filhotes, a neotenia facilitou-lhes o desenvolvimento, principalmente por que ela vem associada às características dos rostos dos bebês, que funcionam como estímulos sinais para a proteção e a ternura, como assinalam Bussab e Otta (1992). Afirmam que foi a contínua interação entre o apego e o investimento parental que deu origem ao amor entre pais e filhos e, como evoluímos em um contexto de vínculos afetivos individualizados, também permitiu o desenvolvimento da própria sociedade (Bussab e Otta, 2000). Início do verbete Neotenia : processo que retarda a maturação da espécie humana, em comparação com outros primatas, permitindo uma infância muito longa, além do crescimento do cérebro, especialmente o neocórtex. Fim do Verbete Segundo Blurton Jones (1981), a biologia do comportamento ultrapassa concepções dualistas como as de inato-aprendido, natureza-cultura. Para Ana Maria Carvalho (1989), na espécie humana, o ambiente é fortemente marcado pela cultura, que pode ser desvinculada da evolução biológica; para a autora, “a cultura produziu o cérebro que a produz” (op.cit:89). Muitos dos estudos e pesquisas na área da Etologia atualmente seguem a denominação de Psicologia Evolucionista (ou Evolucionária, ou Psicologia Biológica) termo que não deve ser confundido com a Psicologia Evolutiva, ou Psicologia do Desenvolvimento, ligada mais à ontogênese. Podemos ainda nos perguntar: Qual seria a utilidade de um pensamento biológico, como o da Etologia, para a Psicologia? Quem responde é Bertelli (2008:2) “O objeto da Psicologia, de um modo geral, é o ser humano. E nós, seres humanos, somos seres biológicos e sociais, ao mesmo tempo. A integração das perspectivas biológicas e sociais é necessária para compreender o fenômeno humano. Nenhuma das visões (biológica e social), sozinha, é capaz de explicar o ser humano. A teoria da Evolução, utilizada pela Etologia como pressuposto teórico, pode ampliar a compreensão das causas do comportamento humano”. Atividade 4 4-Qual a importância de se contextualizarem os conhecimentos sobre o homem? Resposta comentada 4-O reconhecimento de que natureza e ambiente interagem, contínua e reciprocamente, leva-nos, no mínimo, a inferir a necessidade de uma visão interacionista, nos processos que envolvem qualquer atividade humana. No interacionismo não cabe a divisão em somente duas categorias isoladas e não é aceita a dicotomia inato-aprendido. No inatismo, qualquer mudança seria devida exclusivamente a fatores internos dos indivíduos, limitando-lhes as possibilidades e a multidiversidade de alternativas de que dispõem. A necessidadede contextualização, ou seja, de aceitar a influência de diferentes variáveis, tanto internas quanto externas, constitui uma premissa básica para o conhecimento psicológico e suas aplicações à educação, favorecendo uma concepção abrangente e mais compreensiva do ser humano. Considerações finais "A verdade em ciência pode ser definida como a hipótese de trabalho melhor adequada para abrir caminho para uma próxima que seja melhor" Konrad Lorenz E agora? Você deve estar se perguntando: o que tudo isto tem a ver com a Pedagogia? Qual a importância e as interrelações entre posições inatistas, para a Psicologia da Educação? Durante séculos os estudiosos tentaram chegar a um consenso a respeito da origem dos princípios racionais, da capacidade para a intuição e de raciocínio do homem. Será que as pessoas já nascem com potencialidades, dons e aptidões que serão desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico ou tudo isso é desenvolvido através da experiência com o mundo externo? Essa discussão, que se iniciou a partir de dois dos maiores filósofos da história, Platão e Aristóteles, ocupou filósofos no período medieval e chegou à modernidade com diferentes nomes, apresentando o ser humano como um agente estático, sem a possibilidade de sofrer mudanças. Desta forma, quando o homem nasce, tudo está definido, toda a atividade de conhecimento é exclusiva do sujeito e o meio dela não participa. Já a predominância do meio ambiente, como única fonte na produção do conhecimento, característica do empirismo, destaca a importância da educação e da instrução na formação do homem. O estudo do empirismo e do inatismo é importante devido ao fato de que, atualmente, muitas questões polêmicas giram em torno destas duas teorias, tais como o desenvolvimento da homossexualidade, a formação de líderes, o desenvolvimento de superdotados, as técnicas de inseminação artificial, dentre outras. Outra premissa do inatismo – o ser humano concebido como biologicamente determinado – nos remete à concepção de uma sociedade “naturalmente” organizada, hierarquizada, onde cada ser humano tem seu lugar segundo suas capacidades herdadas; isto desencorajará as iniciativas de mudanças pessoais, impossibilitando inclusive a mobilidade social, assim como dos movimentos que vierem a propor transformações sociais em larga escala. Na educação, a concepção inatista tem levado a que pais e educadores esperem que as crianças amadureçam “naturalmente”, atingindo os níveis de desenvolvimento esperado para cada faixa etária. Por outro lado, faz com que não esperem muito daqueles que não apresentam um bom prognóstico, em função de uma herança genética ou cultural mais desfavorecida. Cria-se uma expectativa de que se deve deixar o aluno desabroche por ele mesmo, pois acabará demonstrando suas aptidões e potencialidades; o papel do professor é o de facilitar que a essência se manifeste e que, quanto menos ele interferir, mais facilmente surgirá a espontaneidade e a criatividade do aluno. Assim, o sucesso ou o fracasso escolar constituirá responsabilidade única do aluno, como assinala Patto (1991). A teoria inatista baseia-se em uma concepção de ser humano que se inspira no racionalismo e no idealismo. O primeiro fundamenta-se na crença de que o único meio para se chegar ao conhecimento é pelo uso da razão; todos chegarão a ele, uma vez que a razão é inata, imutável e igual em todos os seres humanos. Para o idealismo, o real é o mundo das idéias e dos significados. Dar realidade às idéias, oferecer respostas ideais (de idéias) às questões reais constitui a forma de compreender a realidade (Nunes, 1986). Os fatores maturacionais e hereditários são priorizados nessa perspectiva; o ser humano nasce com potencialidades, dons e aptidões que serão desenvolvidos, à proporção que amadurece, em termos biológicos (fisiológico e neurológico). Dotado de dons divinos, o homem não teria necessidade ou possibilidade de mudança; ele não agiria sobre o meio ambiente, nem receberia influências significativas do contexto sociocultural. Na atualidade, tal perspectiva é contestada pelos avanços da neurociência (Edelman e Tononi, 2000) e de teorias e práticas que defendem o processo somático, integrando corpo e mente em um tipo de biologia emocional (Keleman,1992; 1996) Cabe à escola, dentro da perspectiva construtivista piagetiana, respeitar cada etapa do seu desenvolvimento do aluno, ensinando-o a observar, estabelecer relações, investigar. O professor atua mais como orientador, propondo situações-problema, mas sem dar-lhes as soluções. Para entender o desenvolvimento, o inatismo parte do pressuposto de que o homem, em seu processo de aprendizagem, apenas aperfeiçoa o que lhe foi dado de forma inata. A aplicação dessa concepção na educação gera imobilismo e resignação, uma vez que as diferenças individuais não podem ser superadas, isentando a escola, a família, o educador – e a própria sociedade - de qualquer responsabilidade. Atividade Final 5- Agora tente conceituar novamente inatismo e verifique em que sua nova resposta difere da primeira, feita no início da aula. Esta atividade é simplesmente para que você reflita sobre as mudanças na concepção de algo. A seguir, comente os dois textos a seguir, de dois professores da USP/SP: o primeiro, de Ana Maria Carvalho, sobre contribuições da etologia para o conceito de Homem, disponível na revista Biotemas, 2(2), 81-92,1989 ; o segundo, de autoria do etólogo Cesar Ades, sobre a vida e a obra de Tinbergen, disponível em http://www.genismo.com/psicologiatexto1.htm A Etologia tem contribuído para a recuperação da noção de homem como um ser bio-psico-social, abandonando a concepção insular do ser humano que dominou as ciências humanas (inclusive algumas áreas da Psicologia) na primeira metade do século XX, que destaca o homem da natureza e coloca-o em oposição a esta. A concepção etológica do ser humano é a de um ser biologicamente cultural e social.(Carvalho, 1989) É interessante notar o quanto Tinbergen, que valorizava a análise e acreditava que a explicação última para os fatos do comportamento seria fisiológica, adotava uma perspectiva sistêmica, não reducionista: "Tudo no comportamento de um animal está relacionado a quase todo o resto." Ele propunha que a organização dos mecanismos que controlam a ação se compõe de uma ‘hierarquia’ de níveis de integração. À liberação de tendências comportamentais gerais segue a de tendências mais específicas, estas levando a tendências mais específicas ainda e assim por diante, até serem produzidas as unidades mais moleculares do comportamento. (Ades, s/d ) Referências Bibliográficas: ADES, C Etologia; disponível em http://www.genismo.com/psicologiatexto1.htm BERTELLI, L. As contribuições da Etologia para a Psicologia.Disponível em http://cienciaemente.blogspot.com/2008/04/as-contribuies-da-etologia-para.html BOWLBY, J. Apego: a natureza do vínculo. São Paulo:Martins Fontes, 1990 BUSSAB, V. S. R. A família humana vista da perspectiva etológica: natureza ou cultura? Interação,4: 9-22, 2000. BUSSAB, V. S. R. & OTTA, E. Desenvolvimento humano: a perspectiva da etologia. Documento CRP08, 2(3): 128-136,1992. CARVALHO, A. M. A. O lugar do biológico na psicologia: o ponto de vista da etologia. Biotemas, 2(2), 81-92,1989. Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo : Ática, 1999. DARWIN, C. A origem das espécies e a seleção natural. São Paulo: Hemus, 2000. DAVIDOFF, L.L. Introdução à Psicologia.São Paulo: McGraw-Hill, 1983. DAVIS, Cláudia & Oliveira, Zilma de. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1990. EDELMAN, Gerald. Neural Darwinism: the theory of neuronal group selection. New York: Basic Books, 1987. EDELMAN, Gerald e TONONI, Giulio. 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