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ser educacional gente criando o futuro Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, elet rônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de oroietos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela M arques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglíelmi, Danise Gr imm, Jaquelíne M orais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Már io Gomes, Sérgio Ramos,nago da Rocha Ilustradores: Andersen Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi da Si lva, ltala Daniela. Teor ia e sistemas/ lta la Danie la d a Si lva; Julio Cesar Carregarí. -São Paulo: Cengage -2020. Bibliografia. ISBN 9786555583007 1. Teoria e sistemas em Psicologia 2. Psicologia 3 . Carregari, Julio Cesar. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com PALAVRA DO GRUPOSER EDUCACIONAL "É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais t ransformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescent e globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade." Janguiê Diniz Autoria ltala Daniela da Silva Psicóloga e supervisora cl inica. Bacharela em Psicologia pelo Cent ro Universitário UniFavip e em Teologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (Fafica). Doutoranda e mestra em Psicologia Clinica pela Universidade Catól ica de Pernambuco (Unicap). Especial ista em Educação moderna: metodologia, tendência e foco no aluno pela Pontifícia Universidade Catól ica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Júlio César Carregari Psicólogo e mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Pau lista (Unesp) em Assis, onde iniciou a carreira docente no ensino superior como professor substituto. No Amazonas, em diversas instituições públicas e privadas, t rabalhou para o desenvolvimento e aprofundamento científico das áreas de Psicologia e Educação até o ano de 2012. Licenciou-se em Pedagogia e atualmente é professor da Rede Municipal de Piracicaba. SUMÁRIO Prefácio UNIDADE l • os atravessamentos fflosójfcos na psicologia ............................................................ 9 Introdução............................... . ....... 10 1 Raízes Filosóficas da Psicologia.. .... ........................ . ....... 11 2 Dicotomia Mente e Corpo: influê ncias filosóficas e ressonâncias na psicologia 3 Discussões sobre inato e adquirido no ser humano 4 Natureza e limites da psicologia .... .... .... 18 .. .. 21 . ........... 22 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................... ..... .................................... .................... 28 UNIDADE 2 • Matrizes e teorias do pensamento psicológico .................. ......................................... 29 Introdução........ . ....... 30 1 Reducionismo ...... . 2 Abordagem etnocêntrica. 3 Abordagem Transcultural .. 4 Determinismo/Livre Arbítrio . ...... 31 . ............ 35 . ............. .............. ............................ 38 ............ 42 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. .................................... .................... 48 UNIDADE 3 • Construção do espaço psicológico: teorias e escolas .................................................. 49 Introdução... . ....... 50 1 Abordagens nomotéticas e idiográticas ...... ................... . ........... 51 2 Escolas da psicologia........................... ... . ....... 58 3 Matrizes do pensamento psicológico..... . ....... 62 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. ......................................... 68 , UNIDADE 4 - Ps/co/ogla{s) e a diversidade como conhecimento ...................................................... 69 Introdução........ ................. ... . ....... 70 1 Fenomenologia e Existencialismo .. . ... 71 2 A constituição da Psicologia como ciência ................ 73 3 A unicidade ou pluralidade do objeto da Psicologia .... 77 4 Principais teorias e sistemas atuais da Psicologia ...... . . ....................................... 80 PARA RESUMIR .............................................................................................................................. 85 REFERtNCIAS BIBUOGRÁFICAS ...................................................................................................... 86 PREFÁCIO A Contabilidade tem várias divisões que se dedicam a áreas específicas, como a Contabilidade Tributária, também conhecida por Contabilidade Fiscal, que trata da administração dos tributos. A primeira unidade tratará do sistema de apuração e alíquotas dos impostos, os procedimentos da escrituração contábil e os de alguns métodos para ca lcular os tributos e saber como apurar os principais tributos, como Imposto de Renda, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, ICMS, 155, IPI, PIS e Cofins. A unidade 2 mostrará como é o pagamento dos tributos pelas empresas e as técnicas para realizar o planejamento tributário. Falaremos sobre o fato gerador do imposto e o que fazer para que esse fato não ocorra, além de discorrer sobre procedimentos para uma eficiente elisão fiscal. A diferença entre elisão e evasão fiscal também será explicada nesta unidade. Detalharemos ainda sobre como realizar um diferimento do crédito tributário e uma eficiente gestão de planejamento tributário, explicando os tipos de planejamentos existentes. Na sequência, será apresentado o sistema de apuração do crédito tributário, um importante assunto ligado à Contabilidade Tributária. As diferenças temporárias ...... ·,.. ............... ,.. .......... ,.. ... 1 .......... 11 ..... · .,J..., ....1 ............................ ,.. ........................... .,J,.. .. ,.. ..... ,.. ........ ,.. ................... 1 ............ , .... .,. t::'X.1:::,u::11lt::':::, t:llllt: u IULIU 114u1uu Ud t:111µ1t::>d t: u µ,uLt::::,:::,u Ut: rt:t:,1:::,llu t: LUllllUlt: Ut:ld:::, e como essas diferenças afetam o lucro da empresa serão discutidas nesta terceira unidade. Por fim, abordaremos os procedimentos técnicos contábeis da constituição do crédito tributário, seu sistema de cálculo, e o funcionamento do registro das diferenças nos livros fiscais de apuração de lucro líquido e da contribuição social do lucro líquido, além do sistema de informatizaçãoutilizado hoje. Fina lizando este livro, a unidade 4 apresenta a contabil ização dos efeitos nos sistemas de regimes de tributação e por que o processo de registro e apuração dos aj ustes fiscais depende do regime fiscal da empresa. Você aprenderá que o regime de lucro real, lucro presumido e simples nacional se diferenciam no processo de contabilização. As características dos regimes de tributação e as reservas de reavaliação fecham a unidade. Bons estudos! UNIDADE 1 Os atravessamentos filosóficos na psicologia Introdução Olá, Você está na unidade Os atravessamentos Filosóficos na Psicologia. Conheça aqui a história dos principais filósofos que influenciaram a psicologia. Aprenda sobre os conceitos de inato e adquirido, identificando a influência da filosofia nas concepções dicotômicas entre mente e corpo. Por fim, entenda a natureza e os limites da ciência psicológica. Bons estudos! 1 RAÍZES FILOSÓFICAS DA PSICOLOGIA Você sabia que, para compreendermos do que é composto o solo da psicologia, precisaremos dar alguns passos para t rás em busca da história da construção científica? Esse percurso iniciará muito antes do que chamamos de ciência propriamente dita, como concebida pela academia (campos de formação de ensino superior e pós-graduações) na atualidade. Essa história é extensa, e por ser longa, precisaremos realizar alguns recortes. Infelizmente, não é possível apresentar todos os aspectos, autores, filósofos, pensamentos e ideias que ajudaram a compor a narrativa histór ica da psicologia. As escolhas dos pensamentos que apresentaremos sempre está circunscrita a partir do olhar daquele que conta a história. Basta você pensar que, ao contar uma história, você sempre escolherá o que enfatizará. Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construção escrita sobre alguma área da ciência será sempre l imitada, porque haverá recortes. Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao estudo de alguma área do conhecimento, como você, estudante de psicologia, necessitarão ler, ouvir e estudar diversos autores contando a "mesma história". Apesar de ser a "mesma história", serão dadas ênfases distintas, a depender do horizonte científico daquele que escreve. Comentadas as considerações iniciais sobre o limite da escrita, agora chegou a hora de você aprender sobre as bases filosóficas da psicologia. Você conhecerá alguns dos pré-socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Apresentarei também um pouco da história da idade média e depois entraremos na história da idade moderna, o nascimento da ciência e o modo como a filosofia influencia as nossas concepções sobre corpo e mente, bem como inato e adqui rido. Após essa história inicial, pensaremos juntos sobre a natureza e os limites da psicoloeia . É importante ressaltar que os filósofos não estavam pensando na constituição da psicologia, eles estavam filosofando. Mas hoje percebemos o quanto as ideias filosóficas, de algum modo, atravessam a psicologia que nascerá, enquanto ciência, no século XIX. 1.1 Pré-Socráticos e Sócrates Os primeiros filósofos da nossa cultura ocidenta l, que iniciaram o processo de sistematização do conhecimento, surgiram por volta dos séculos VII-VI a.e. Esses filósofos, chamados de pré- socráticos (porque vieram antes de Sócrates), buscavam compreender a origem do cosmo: constituição, princípios e leis. Esse período ficou conhecido como cosmológico. Cada pré- socrático, a partir dos seus estudos e observações, indicava a essência, o princípio, a origem cosmológica da natureza. Ou seja, eles buscavam explicar a arché (essência, origem) da physis (natureza) (CASERTANO, 2011). Acompanhe algumas ideias dos pré-socráticos. 12 • Tales de Mileto De acordo com Casertano (2011), para Tales de M ileto (641-546 a.C.), "a observação e o estudo da regularidade dos fenômenos naturais permitem que se extraia uma lei geral" (CASERTANO, 2011, p. 40) que permite a explicação das coisas. Para ele, observador dos fenômenos naturais, a água seria o fundamento e a origem do cosmo. Ou seja, ela seria a arché. Isso porque a água "é o alimento das coisas e as sementes de todas as coisas são úmidas" (CASERTANO, 2011, p. 43). • Parmên ides Parmênides (520-440 a.e.), ao contrário dos filósofos daquela época, não acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos naturais são mutáveis, e a essência não poderia ser mutável. Logo, ele assegura que o Ser seria o princípio, a essência. O Ser aqui não é visível na aparência. Porque tudo que aparece é passível de mudanças. O Ser faz parte de um universo que não pressupõe mutabilidade (CASERTANO, 2011). • Heráclito Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60 a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser quanto as coisas são dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais famosa é que "tudo flui, como as águas de um rio que nunca são as mesmas" (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava que o fogo seria a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e eterna regeria as mudanças do ser (CASERTANO, 2011). Houve muitos outros pré-socráticos, vinte são mencionados por Osborne (2012). Contudo, optamos por apresentar três do mais mencionados. Apresentamo-los para que fosse possível você compreender como as perguntas filosóficas sobre a natureza e o ser já estavam postas 600 anos antes da era cristã. Por falar em questões do Ser, Sócrates foi aquele que abandou as questões sobre a natureza e se concentrou eminentemente nos problemas do ser humano. Suas questões centrais eram: o que é o bem, a virtude e a justiça. Sócrates, filho de mãe parteira, desenvolveu um método que ficou conhecido como maiêutico (arte de trazer à luz, partejar). Esse método foi utilizado por Sócrates nos encontros que ele realizava nas praças públicas. Os diálogos críticos realizados por ele poderiam ser divididos em dois momentos: refutação e ironia (etapa em que o filósofo enfatizava as contradições na resposta dada pelos interlocutores às suas perguntas); a maiêutica era a etapa em que Sócrates construía questões para que os interlocutores pudessem reconstruir as ide ias anteriormente refutadas (COTRIM; FERNANDES, 2016). 1.2 Platão e Aristóteles Enquanto os pré-socráticos conflitavam entre si sobre a mutabilidade ou imutabilidade da essência da natureza, Platão indicou uma solução que comporta as duas dimensões. Para Platão, há algo que não muda, que permanece. Esse algo estaria no mundo inteligíve l, ou seja, plano das ideias. As ideias seriam fixas, imutáveis e, portanto, a essência de t udo o que existe. Portanto, a verdade, por ser imutável e fixa, só poderia estar no mundo inteligível, na transcendência. Pa rtindo desse pressuposto, a verdade não se manifesta na dimensão visível, aparente (COTRIM; FERNANDES, 2016). O mundo sensível, por sua vez, seria mutável. É uma cópia imperfeita do que existe no mundo inteligível e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus "artesão" ). O mundo sensível é cheio de impressões e essa reprodução não comporta a essência da verdade, apenas espelha uma parte do ser e não o que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016). ... - Transcendência Verdades Imutável Fixo Permanente Mundo Sensível liil1iih'r.tifl1l;/:l,il - Impressões - Cópias 1mperfe1tas - Mutável Sofre transformações Figura 1- Mundo inteligíve l e mundo sensível Fonte: Elaborado pela autora, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra um esquema contendo características do mundo inteligível e do mundo sensível. Mas, então, como nós humanos, vivendo no mundo sensível, conheceríamos as verdades eternas e imutáveis? Para Platão, para se chegar ao conhecimento da verdade, é necessário realizar o exercício da razão. Nesse sentido, só se atinge um conhecimento verdadeiro quando se submete as impressões aoraciocínio. Apenas os seres humanos têm a capacidade de realizar o exercício da razão, pois, para esse filósofo, apesar de homens e animais possuírem impressões sobre o mundo sensível, só o homem poderá formar conhecimento racional, transcendendo as impressões (COTRIM; FERNANDES, 2016). 14 Além desse pensamento dual sobre o mundo, Platão também compreende o ser humano numa dualidade, pois é composto por alma e corpo. A alma/mente é o bem mais precioso do ser humano, enquanto o corpo é inferior. Essa dualidade atravessará muito fortemente as compreensões da medicina que delineará os modos de lidar com o corpo e com a mente, como veremos mais adiante (COTRIM; FERNANDES, 2016). Enquanto Platão acreditava que as impressões do mundo sensível geravam distorções e não eram verdade iras, Aristóteles defendia que o conhecimento advém da observação da realidade. Esse conhecimento que nasce da observação do real, do sensível, daquilo que é mutável, ficou conhecido como método indutivo. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 228), para Aristóteles: A finalidade da ciência deve ser a compreensão do universal, visando estabelecer definições essenciais que possam ser utilizadas de modo generalizado. Desse modo, a indução (operação mental que vai do particular ao gerall representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões cientificas, conceituais, de âmbito universal. Partindo desse pressuposto, Aristóteles, contrapondo-se a Platão, defende também que o mundo inteligível e sensível andariam juntos e constituiriam a realidade, pois as coisas são o que são. Sendo o que são, para conhecê-las, seria necessário partir do dado empírico, perceptíve l aos sentidos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Esse filósofo, além de superar a cisão entre mundo sensível e inteligível, ultrapassou também o dualismo entre corpo e mente. Aristóteles defende que corpo e mente são indivisíveis. O filósofo também foi o primeiro a discutir questões muito peculiares para a psicologia, como: "mente, sentidos, sensação, memória, sono e insônia, geriatria, brevidade da vida, juventude e velhice, vida, morte e respiração" (FREIRE, 2008, p. 38). 1.3 Idade Média Talvez você esteja se perguntando o motivo de dedicarmos um espaço para falar sobre a idade média. Muitas vezes escutamos alguns estudiosos descartando a história desse tempo, pois ele está muito atrelado a Igreja Católica como instituição social. O período é tido como séculos escuros, das trevas, visto que o pensamento cristão exercia uma grande influência que norteava as concepções dessa época. A idade média teve início com a ascensão do cristianismo no ocidente. O Deus cristão (teocentrismo) passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, literatura, filosofia, educação, arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016). Nesse período, defendia-se que: Toda investigação filosófica ou cientifica não poderia, de algum modo, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Em outras palavras, os filósofos não precisavam mais se dedicar à busca da verdade, pois ela já teria sido revelada por Deus aos seres humanos. Restava-lhes, apenas, demostrar racionalmente as verdades da fé (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 241). A filosofia med ieval pode ser dividida em: padres apostólicos, apologistas, patrística e escolástica. A patrística tem como principal representante Santo Agostinho, que foi influenciado por algumas ideias da filosofia platônica. A escolástica é representada por São Tomas de Aquino, que foi influenciado por Aristóteles (COTRIM; FERNANDES, 2016). As construções filosóficas desse período tinham como finalidade defender e estruturar as verdades da fé católica. Não houve contributos para o pensamento psicológico. Contudo, só conhecendo esse período conseguimos compreender o renascimento, o iluminismo e o fervor que construiu a idade moderna e constituiu a nova ciência e o racionalismo (COTRIM; FERNANDES, 2016). 1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da nova ciência Após dez séculos de influência do pensamento cristão em todas as esferas humanas, algumas alterações começaram a acontecer nesses âmbitos: nos setores sociais, econômico, político, artístico. O movimento que contribuiu para as alterações foi chamado de renascimento. Essa etapa propiciou o desenvolvimento da mentalidade racionalista e o retorno do antropocentrismo, onde o homem volta a ser o centro e não Deus (teocentrismo), como era na Idade média. Contudo, a Igreja não iria abrir mão tão facilmente de sua influência e algumas obras de arte e cultura ainda reproduziam resq uícios religiosos. Além disso, nesse período a inqu isição da Instituição Católica perseguiu aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. Uma das mudanças essenciais foi o heliocentrismo que, diferente do catolicismo, defendia que o sol e não a terra era o centro do universo. Cotrim e Fernandes (2016, p, 256) indicam que: Ao propiciar a e<pansão de uma mentalidade racionalista, o renascimento criou as bases conceituais e de valores que favoreceriam o desenvolvimento da ciência no século XVII. revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo, o individuo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou mais tempo à pesquisa e ás e<perimentações, abriu a mente ao livre e<ame do mundo. Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histórica, que começaram a oferecer fundamentos para a criação e fundamentação das ciências que aconteceriam posteriormente. Nessa época, a psicologia era essencialmente filosófica, mas essas fundamentações também iriam oferecer as bases necessárias para que a psicologia fosse alçada ao status de ciência nos séculos posteriores (FREIRE, 2008). 1.5 Constituição da ciência moderna As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram uma certa desorientação. Fazia- se necessário criar bases sólidas para o conhecimento e novos conceitos de verdade, visto que as bases fundadas no pensamento cristão tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim e 16 Fernandes (2016, p. 259), A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os pensadores modernos buscassem uma base segura, algo que garantisse a verdade de um raciocínio. Assim, um dos principais problemas da filosofia nesse período relacionou-se com o processo de entendimento humano e, mais especificamente, com a seguinte questão: Que garantia posso t er de que um pensamento é verdadeiro? Procurava-se, portanto, um método. Iniciou-se uma busca frenética pelo método para se chegar à verdade. Na busca pelo método do conhecimento, novas concepções de homem e de mundo foram sendo construídas pelos pensadores da época. A filosofia, debruçada no compromisso do conhecimento, adota novas linguagens em que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. O racionalismo teve o seu triunfo, e a base científica passou a ser: observação, experimentação e formulação de hipótese. É importante destacar que cada filósofo construiu distintamente os seus métodos e concepções e deu ênfases distintas também. Francis Bacon foi um empirista que, contrário ao racionalismo da época, enfatizou o papel das experiências sensíveis no processo de conhecimento. Para ele, a razão só teria sentido se aplicada à experiência, e não o contrário. Na sua obra Novum Organum, mostrou a importância de um método de experimentação que reduzisse os equívocos tanto do intelecto quanto da pura experiência, aliando o melhor de ambos para a aqu isição dos conhecimentos científicos. Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; FREIRE, 2008) . No que concerne à ciência, ele indicou que esta deveria valorizar a pesquisa experimental, e defendeu o método indutivo. No seu método, Bacon indica que são necessárias as seguintes etapas: 1 Organizar e controlar os dados recebidos da experiência sensível graças a experimentos adequados de observação e experimentação. 2 Organizar e controlar os resultados observacionais e experimentais para chegar a conhecimentos novos ou à formulação de teorias verdadeiras. 3 Desenvolver procedimentos adequados para a aplicação prática de resultados teóricos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Em contraposição ao método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método em que desconfia das percepções e sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu método indica que é necessário duvidar de tudo, até reco nhecer como indubitável a própria existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida seria o fato da existência. Sua famosa frase "Penso, logo existo" assegura que, pensando, ele constatou que sua existência é verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016). O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a perspectiva dualista iniciada em Platão. Após aplicar o seu método, da dúvida metód ica, René Descartes conclu iu que existem duas substâncias distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res extensa). A substância pensante corresponde à esfera da consciência, e a substância extensa, ao mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016). Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida metódica. Nesse método, o questionamento rigoroso é o fundamento do pensamento filosófico. Ele se constitui por quatro passos. Clique abaixo para conhecê-los. 1 Regra da evidência: Só aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente. 2 Regra da análise: Decompor o problema em elementos mais simples ou últimos. .:i ~egra aa sImese: une ma Ir aas o□Jews mais sImpIes aos ma is compIexos. 4 Regra da enumeração: Ver ificar para obter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016). No sécu lo XVIII, a fundação do positivismo fortaleceu a ciência que se baseia nos fatos e nas experiências. Um dos principais representantes dessa perspectiva é o filósofo Augusto Comte. O entusiasmo positivista foi um reflexo do espírito da época e do entusiasmo da burguesia, capitalismo e do desenvolvimento técn ico-ind ustrial. Sobre o objetivo e as características do positivismo, Cotrim e Fernandes (2016) resumem: De acordo com Comte, o método positivo de investigação tem por objetivo a pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conheciment o cientftico apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande ideal das ciências. com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 291). Controle, previsibilidade e generalização são as marcas do pensamento positivista, que posteriormente influenciará, direta ou indiretamente, na constituição das ciências. O espírito científico buscará consolidar métodos científicos que assegurem esse tripé. Após apresentar o pensamento de alguns filósofos, importa destacar que muitos outros pensadores atravessaram a história da filosofia e da construção da ciência. Todavia, fica inviável apresentar todos aqui e/ou se delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por apresentar alguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros e que você, estudante da área psicológica, mergu lhará em outros textos que enfatizarão outros pensadores. 18 Nos tópicos seguintes, retomaremos alguns desses filósofos e acrescentaremos outros, com vias a discutir sobre a influência da filosofia na constitu ição da ciência psicológica. 2 DICOTOMIA MENTE E CORPO: INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS E RESSONÂNCIAS NA PSICOLOGIA O mundo ficou dual desde que Platão o separou. Essa perspectiva dualista foi retomada em alguns momentos na história da filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI. Para Descartes, a substância pensante corresponde à mente, à consciência, enquanto a substância extensa corresponde à matéria corpora l (COTRIM; FERNANDES, 2016). Essa cisão entre mente e corpo estabeleceu um longo debate nos tratados filosóficos. O dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso partisse da premissa de que FIQUE DE OLHO Vimos que os pré-socráticos tinham como problema a ser investigado o princípio fundamental, a arché do cosmos. Já na idade moderna, o maior objetivo dos filósofos era definir o método de chegar ao conhecimento. A centralidade da idade moderna é a busca pelo método científico. É importante saber as distinções e objetivos de cada período. interagir? (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Antes de Descarte, acreditava-se que a interação entre essas duas substâncias se dava de forma unilateral. Ou seja, a mente que comandava o corpo. Todavia, Descartes, apesar de considerar substâncias distintas, defendia a mútua interação entre elas, e não a unilateralidade l-=>'-nULI L, .l'-n ULI L, ,LlAJ:,J, \...UIIIUI lllt: lt:LUI I ldlll .:>L.IIUILL t: .lLI I UILL l.Luu:,, ..,. ~o,. uc:::,L.dl Lt::::, dl 111 1 l d que a mente e o corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente é capaz de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que esse pode influenciar a mente". Sobre a natureza do corpo, Na visão de Descart es, o corpo é com posto de matéria ffsica, portanto tem características comuns a qualquer matéria, ou sej a, possui tamanho capacidade motora. Sendo uma matér ia, as leis da fís ica e da mecânica que regem o movimento e a ação do universoffsico aplicam-se tam bém a ele. Logo, o corpo é semelhante a uma máquina cuja o peração pode ser explicada pelas leis da mecânica que governa o movimento dos objetos no espaço. seguindo esse raciocfnio, Descanes prosseguiu com a explicação do funcionamento fisiológico do corpo com base na ffs'tca. Descartes foi claramente influenciado pelo espírito mecankista da época, refletido nos relógios mecânicos e nos robôs {SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36). Fazendo referências ao mecanismo dos robôs, Descartes defende que há reações do corpo que são reflexos dos movimentos externos e não necessariamente uma vontade da mente. Por essa constatação, por vezes o pensador é "definido como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa teoria é a precursora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-resposta" (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36). Ainda nesse sentido, "o comportamento reflexo não envolve pensamento nem processo cognitivo: parece ser completamente mecânico ou automático" (SCHULTZ; SCHULTZ, p.36). Enquanto o corpo é visto como uma máquina, a mente "não apresenta nenhuma das propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de pensamento, característica que a separa do mundo material ou físico" (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interação entre corpo-mente, segundo o filósofo, o ponto centra l das funções da mente é o cérebro, mais especificamente a glândula pinea l ou conarium. Os movimentos físicos e menta is influenciam um e o outro mutualmente a partir desse ponto central. Essas discussões sobre mente e corpo irão, posteriormente, no século XIX, influenciar a medicina, inclusive a psicologia. A visão dual ista reverberou no modo de se compreender saúde e doença, bem como suas possíveis associações com a mente e o corpo. Travou-se uma discussão na med icina sobre o caráter de adoecimento do corpo, se este tinha como causa fatores endógenos ou exógenos. Desde o século XV, os médicos Galeno e Paracelsus tinham visões distintas. Para o primeiro, a doença tinha causas endógenas, "estaria dentro do próprio homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassemao desequilíbrio" (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40) . Já para o méd ico Paracelsus: As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Ele propôs a cura pelos semelhantes , baseada no princípio de que, se os processos que ocorrem no corpo são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a ad ministrar aos doentes pequenas doses de m·,nera·,s e metais(CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Nos séculos seguintes, essas discussões chegaram a outras áreas da medicina, inclusive da psicanálise e psicologia. Na psicanál ise freudiana, o determinismo psíquico reforçou "a importância dos aspectos internos do homem" (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Essa ideia foi reforçada pelo psicanalista Groddeck com a sua obra "Determinação psíquica e tratamento psicanalítico das afecções orgânicas" (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). A supremacia da mente sobre o corpo foi reforçada pela psicanál ise, enquanto no campo médico havia uma supremacia de cuidado com o corpo. 20 Apesar desse dualismo reverberar nas práticas psicológicas e médicas contemporâneas, estudos atuais indicam a perspectiva holística como uma saída para a cisão entre corpo e mente. Na postura holística, corpo e mente são inseparáveis e interdependentes em aspectos psíquicos e biológicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40), Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p, 41): Com o desenvolvimento das neurociências o conceito dualístico tomou-se mais díffcíl de ser aceito. Por exemplo, o sistema nervoso autônomo não é tão autônomo assim e se encontra regulado pelas estruturas llmbicas junto com o controle emocional. O sistema imune influencia e é influenciado pelo cérebro (URSIN, 20001. O campo de estudo da psiconeuroimunologia t em suas origens no pensamento psicossomático e tem evoluído no sentido da realização de investigações de complexas interações entre a psique e os sistemas nervoso, imune e endócrino. Mais ampla do que as discussões das neurociências e da postura holística, a concepção de doença sociossomática amplia a inter-relação entre corpo, mente, ambiente e meio social. Nesse sentido, a medicina e a atuação psicológica, influenciada pela postura psicossomática, sociossomática e holística, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da saúde e da doença, Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: FIQUE DE OLHO A Organização Mundial da Saúde, desde o ano de 1947 define que a saúde é um estado que articula o bem-estar físico, mental e social. Hoje, muitos pesquisadores acrescentam as dimensões espirituais e culturais, sendo saúde, então, um bem estar biopsicossocial- espiritual e cultural, e não apenas ausência de enfermidades biológicas. 3 DISCUSSÕES SOBRE INATO E ADQUIRIDO NO SER HUMANO Assim como as discussões de corpo e mente perduraram e perduram até hoje na fi losofia e na ciência, as questões concernentes ao que é inato e o que é adquirido pelo ser humano ao longo da exIstencIa tambem se estendem pelos seculos. Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como inatas. Ou seja, as ideias nasceram com o sujeito pensante. Em contraponto ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, segundo Cotrim e Fernandes (2016), defendeu que não existem ideias inatas; ao contrário, quando o ser humano nasce, nossa mente é como uma tábula rasa. No nascimento, nossa mente é como um papel em branco e, a partir das experiências vividas no mundo, inscrevem-se nossos conhecimentos. Para adquirir conhecimento, Lock indica as ideias de sensação e de reflexão (COTRIM; FERNANDES, 2016). Veja suas definições clicando abaixo. • As ideias de sensação são as que chegam à mente através das experiências adquiridas pelos sentidos. • Já as ideias de reflexão são aquelas que se articulam da sensação e reflexão. A reflexão seria "nosso sentido interno que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mes- ma, analisando as próprias operações" (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 275). o pensamento de Jonh Lock se associa ao pensamento de mente vazia indicada séculos atrás por Aristóteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61), sobre o pensamento de Lock, resume: As sensações, imagens e ideias formam o conteúdo da ment e. São adquiridas através das impressões seMoriais, tanto do mundo externo como no interno e são obtidas através da percepção, que já é um processo psicológico. A percepção sensorial consciente constitui, portanto, a base do conhecimento e recebe, quase que passivamente, a influência de estfmulos externos. Na escala da aquisição do conhecimento, distinguem se dois eleme ntos básicos: a sensação e a percepção. As ideias que resultam desse processo podem ser simples quando se originam de um ou mais sentidos ou da combinação deles com a reflexão (a ideia de comprimento). a ideia de substância composta porque não se origina de nenhum sentido, mas da combinação de várias ideias simples. As ideias do filósofo Lock, empirista, são claramente distintas das ideias inatas de Platão e Descartes. Por esse motivo, podemos considerá-lo como "o precursor do estruturalismo psicológico do século XX" (FREIRE, 2008, p, 62), Além das discussões filosóficas sobre o modo que o conhecimento é dado à mente humana (se inatos ou adquiridos), existe uma outra l inha a ser estudada e investigada, que diz respeito a condições comportamentais, se essas são genéticas ou apreend idas na relação com o ambiente, Clique abaixo e acompanhe duas tendências alinhadas com esse pensamento. 22 • Ambientalismo-empirismo Para o ambientalismo-empirismo, o ambiente é o responsável pelas características dos comportamentos do ser humano. Essas concepções, defendidas por Jonh Lock, têm um adepto fundamenta l no cenário da psicologia, o psicólogo Jonh Watson. Watson, fundador do behaviorismo, explicou o comportamento humano a partir da interação com a cultura e o meio ambiente (PINHEIRO, 199S). • Nativismo O nativismo, perspectiva filosófica baseada nas concepções inatas de Platão e Descartes, considera o oposto do ambienta lismo. Nessa linha, a inteligência, personalidade e comportamentos são traços genéticos herdados pelos genes dos respectivos genitores. Aquela famosa frase dita no senso comum, "filho de peixe, peixinho é" é atravessada por essa lógica nativista (PINHEIRO, 1995), Mas será que essa perspectiva é vá lida para o comportamento humano? Sobretudo partindo do campo psico lógico que, ao acolher os comportamentos humanos, busca construir com os outros novas formas de existir? Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicológicas que têm mais inclinação para a linha ambientalista e/ou naavIsta. ~ssas noções básicas tu naamentarao pràacas e Intervençóes trente ao comportamento humano. Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicológicas que têm mais inclinação para a linha ambientalista e/ou nativista. Essas noções básicas fundamentarão práticas e intervenções frente ao comportamento humano. 4 NATUREZA E LIMITES DA PSICOLOGIA Você já ouviu alguma dessas frases? "Eu sou a psicóloga na família"; "Sou o psicólogo dos amigos"; "Sou professora e psicóloga dos meus alunos". Provavelmente sim, pois é frequente as pessoas fazerem menção à Psicologia quando rea lizam alguma atividade de escuta, conselho ou persuasão. Essas frases são resquícios da popularização dos termos psicológicos no senso comum, assim como as palavras empatia, recalque, projeção e outras. Primeiramente, vamos definir o que é senso comum. Ele é o conhecimento cotidiano construído pelas pessoas num cenário de realidade. Não passa pelo crivo da ciência e não é submetido a um método filosófico ou de pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é passado de tradição para tradição, e é assimiladopor cada homem e mu lher na lida com a vida cotidiana, Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p, 18): Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos pelos outros setores do saber humano. O senso comum mist ura e recicla esses outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo. O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário (mas esse é o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isso não ocorre muito rapidamente. Leva certo tempo para o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando uti lizamos termos como "rapaz complexado", "menina histérica", "ficar neurótico", estamos usando termos definidos pela Psicologia cie ntífica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar mu·,to próximo do conceito cientifico, mas, na maioria das vezes, nem sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência. Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso comum e no cotidiano das pessoas, isso não faz delas psicólogos/as. Isso porque a Psicologia é uma ciência. Mas então, o que é ciência? Essa não é uma pergunta fácil de responder, pois como vimos na história da filosofia e da ciência as compreensões sempre são plurais e não únicas. Existem vários caminhos distintos para definir os problemas da ciência, como fazer ciência e consequentemente o que é ciência. Mas, numa perspectiva mais tradicional, ciência são os conhecimentos submetidos a metodologias reconhecidas por filósofos e cientistas. Os métodos cientificas, que também são vários, indicam os caminhos de se obter conhecimentos validados pela academia (centros de pesquisas). Não se faz ciência com achismos, faz-se ciência com métodos específicos, com pesquisas, com crivo cientifico. Poderíamos dizer, como comumente é assinalado, que cientificas são os conhecimentos construídos de maneira programada, controlada e sistematizada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). No entanto, há métodos cientificas que não pressupõem controle e previsibilidade, como são as pesquisas de cunho social, fenomenológicas e cartográficas (DANIELA, 2016). Outro aspecto comumente indicado é que todos os campos cientificas têm um objeto de estudo. A Sociologia tem como objeto de estudo os fenô menos ligados à sociedade; a Economia, os componentes econômicos; a Astrologia, os astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu objeto de estudo? (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primórdios da Psicologia enquanto ciência foi difícil definir um único objeto de seu estudo, dado que cada perspectiva que surge enfatiza aspectos distintos do humano. No início da Psicologia Científica, o foco esteve no comportamento com os behavioristas. Os/as psicólogos/as de base analítica (psicanálise) dirão que é o inconsciente; aqueles de perspectiva fenomenológica, os fenômenos; os socioconstrutivistas, as 24 interações socia is. Enfim, passaríamos anos e anos indicando os diferentes objetos da Psicologia, visto que ela é uma ciência multifacetada. Um resumo coerente poderia ser o indicado por Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 22): Nossa matéria-prima, portanto, é o se r humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singu lares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) - é o ser humano-corpo, ser humano- pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade. A Psicologia é uma ciência multifacetada, em que cada linha teórica, cada abordagem e cada perspectiva definirá suas concepções de homem, de mundo e os seus métodos de ação. É diferente da medicina, em que as evidências científicas indicarão a melhor ação para aquele paciente; na psicologia, os profissionais lidam com a mu ltiplicidade de teorias que indicam modos distintos de lidar com o mesmo fenômeno. Mas como indica Figuei redo (2009), essas perspectivas, embora distintas, não são arquipélagos avulsos e desconectados. O campo da Psicologia enquanto ciência e profissão por vezes deixa os profissionais e estudantes de psicologia atordoados na busca de uma unicidade. Ou seja, na busca de uma prescrição única. O professor Luís Cláudio Figueiredo, ao falar do campo psicológico como campo de dispersão, nos lembra que: Os alunos, ao ingressarem no curso e entrando em contato com o currlculo, podem ficar, de inicio, com a expectativa de que várias disciplinas irão se organizar harmonicamente, converg·1ndo para uma meta comum, segundo uma concepção compartilhada por todos os professores do que seja pensar e fazer psicologia {FIGUEIREDO, 2009, p. 17). Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciência, a psicologia, não se organiza com um objeto único, mas com objetos, campos, nuances de estudo e investigação. cada professor/a, a partir de suas perspectivas teóricas, indicará possíveis modos de lidar com os fenômenos advindos dos diversos campos de atuação psicológica. Ind icar essa abertura e essa multiplicidade inerente ao campo psicológico não autoriza os profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum, no dogmatismo ou no ecletismo. É necessário que as práticas profissionais estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de prática) esco Ih ida. Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersão teórica e metodológica, se encaminham para a prisão do senso comum "porque ela é a mais próxima e envolvente" (FIGUEIREDO, 2009, p. 19). Outros, os dogmáticos, se agarram em uma perspectiva teórica e fecham-se a ela como se essa fosse a única e grande verdade. "Ensurdecem para tudo que possa contestá-la" (FIGUEIREDO, 2009, p. 18) e não ampliam os seus horizontes. Já os ecléticos: 25 [ ... ] adotam indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos disponíveis de acordo com a sua compreensão do que lhe parece necessário para enfrentar ur'iificadamente os desafios da prática (FIGUEIREDO, 2009, p. 18) . Nenhuma dessas alternativas é indicada, isso porque todas cerce iam a possibilidade da construção psicológica ética e coerente. A alternativa é a busca contín ua pela elaboração de conhecimentos novos e a articulação das teorias com a prática profissional. Trata-se de fundamentá-los em perspectivas de prática (abordagens), articulá-los com a experiência cotidiana e sempre viva do profissional e daqueles que buscam a psicologia. Não dá para juntar todas as teorias psicológicas como se elas falassem a mesma coisa, mas também não é possível fechar-se em uma teoria como se ela comportasse a única e mais exímia verdade sobre o comportamento humano. Importa sim definir qual será a sua abordagem e onde está circunscrita a sua visão de mundo. Mas a partir desse eixo, é necessário estabelecer diálogos, abrir questões, interrogar as indicações teóricas e metodológicas. Faz-se importante, inclusive, abrir novas questões nas abordagens e visões de mundo majoritárias na psicologia. As perspectivas cognitivo-comportamental, psicanalíticas, humanistas (Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenológicas (Daseinsanalyse) nasceram em realidades distintas da realidade brasi leira, com teóricos Europeus e Estadunidenses e em séculos diferentes do que estamos vivendo. Não se trata de abandonar esses teóricos, trata-se de assumir essas concepções de ser humano e de mundo, colocando novas e coerentes questões para os nossos séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; DANIELA, 2019). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Essa concepção de que a ciência psicológica necessita dialogar comos cenários sociais, políticos e econômicos do seu povo, no nosso caso, o povo brasileiro, também é sustentada pelo Código de Ética do Psicólogo/a, que em seus "Princípios fundamentais" ind ica: " Ili. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, 26 econômica, social e cultural" (CFP, 2005). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: fJ Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer os pré-socráticos e o problema da "origem"; • estudar o dualismo que nasce com Platão; • aprender sobre o desenvolvimento dos primeiros métodos de conhecimento; • entender as ressonâncias da filosofia nas discussões sobre corpo-mente e saúde- doença; • compreender que a Ciência Psicológica é um campo de Dispersão. BOCK, A. M. B. A evolução da Psicologia. ln: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. CASERTANO, G. Os pré-socráticos. São Paulo: Loyola, 2011. CASTRO, M. G.; ANDRADE, T. M. R.; MULLER, M. C. Conceito mente e corpo através da história. Psicologia em Estudo [onli ne), 2006, v. 11, n. 1, p.39-43. COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia e manual do professor. São Paulo: Saraiva, 2016. DANIELA, 1. O velar como des-vela-dor da vida: a possibilidade da natalidade (re)velada no plantão psicológico. 2016. Dissertação [Mestrado em Psicologia Clínica]. Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife: UNICAP, 2016. FIGUEIREDO, L. C. Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009. FREIRE, 1. R. Raízes da Psicologia. Petrópolis: Vozes, 2008. PINHEIRO, M. Comportamento Humano- interação entre genes e ambiente. Educar, n. 10, p. 53-57, Curitiba, UFPR, 1995. SCHULTZ, 5, E.; SCHULTZ, D. P. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cengage Lear- ning, 2009. SILVA, F. E.; DANIELA, 1. Graduações com viés mercadológico: implicações para a prática psicológica no Brasil. 2019. ln: Anais do li Seminário Internacional da união Latino Ameri- cano de Entidades de Psicologia. Disponível em: http://www2.pol.org.br/inscricoesonli- ne/ulapsi/2019/anais/detalhe.cfm?id=9025. Acesso em: 03 fev. 2020. UNIDADE 2 Matrizes e teorias do pensamento psicológico Introdução Olá, Você está na unidade Matrizes e teorias do pensamento psicológico. Conheça aqui as contr ibuições do Reducionismo para a formação da ciência psicológica; a formação de um novo campo de abordagem prático-teórica da Psicologia Etnocêntrica; a consolidação das leituras socioculturais com a Psicologia Transcu lt ural; e a dinâmica de relação do Determinismo e o Livre Arbítrio para a constituição subjetiva do homem. Nesta unidade, seja apresentado a alguns aspectos importantes do percurso histórico da Psicologia, além de algumas das principa is matrizes presentes nas suas dinâmicas de análise mais atuais. Bons estudos! 1 REDUCIONISMO O Reducionismo é um sistema de pensamento bastante promissor e com potencial explicativo nascido entre os séculos XVII e XIX,juntamente com a concepção de que os homens seriam como máquinas, cuja natureza se comportava segundo critérios e padrões específicos, submetidos a "leis gerais" de funcionamento, subsid iando os primórdios do que mais tarde se reconheceria como conhecimento científico e seus desdobramentos metodológicos. Em um momento histórico de grandes descobertas e invenções humanas, o pensamento da época buscava explicar o homem e seus feitos a partir de uma compreensão que se afastasse do conhecimento religioso e se apropriasse do pensamento filosófico racional, prático e paradigmático, a fim de poder intervir e produzir efeitos de compreensão e previsão do comportamento e runc1onamento nu mano. O Reducionismo constitui-se em um movimento filosófico específico e próprio desse tempo histórico, e se consolida como um método de pensamento, cujos conceitos podem ser formulados em termos cada vez mais "simples", promovendo uma redução ao nível das propriedades e das relações entre suas partes. Foi através do reducionismo teórico conceituai que a visão mecânica do universo se constituiu em um modelo de compreensão do homem enquanto ser natural, distanciando-se do conhecimento religioso e predizendo as leis gerais que explicitavam o homem, suas estruturas orgânicas e biológicas, e sua relação com a vontade e o pensamento. Através desse modelo, o homem era comparado a uma máquina, e seu funcionamento pod ia ser então explicado em razão de causa, efeito e consequência. • Causa Enquanto o que o motivava, como operava sua maquinaria interna e revelava a dinâmica física de seu comportamento. • Efeito Enquanto movimento e comportamento vital. • Consequência Enquanto processo de tomada de consciência (mesmo que religiosa e moral) de seus atos. O universo mecânico era então explicitado aos olhos de quem quisesse ver, e as razões de causas e efeitos pod iam ser harmonicamente remontadas na composição das engrenagens de uma das máquinas mais emblemáticas destse pensamento: o re lógio. 32 Como nos dizem Schultz e Schultz (1992, p. 34): "O relógio era a metáfora perfeita para o espírito mecanicista do século XVII, tendo sido, justamente, considerado uma das maiores invenções de todos os tempos". Foi com esse conhecimento, cada vez mais sistematizado e difundido sobre o mundo e seu funcionamento, que o homem passou a considerar-se pertencente ao mundo natural; assim, deixava de ser uma criação divina para fazer parte das mesmas leis mecânicas que regiam e organizavam todo o universo. A concepção dos seres humanos "como máquinas" emprestou aos modelos filosóficos de explicação do mundo condições para a criação de um novo método de conhecimento, modo pelo qual seria possível entender e operar sobre a natureza humana, fomentando intensamente o recém "descoberto" método científico de investigação do mundo moderno. 1.1 Conceitos e Abordagens É inegável a contribuição e o avanço significativo que o reducionismo trouxe no bojo das transformações das relações do homem com o conhecimento e de sua base na produção do conhecimento científico, como ainda hoje se considera. A possibi lidade de traduzir as leis gerais de um fenômeno em um único conceito ou apenas em uma lista diminuta de explicações que congregam, em essência, o jogo das partes envolvidas e sua dinâmica de interferências, produziu, no homem, uma racional idade de controle e predição dos fenômenos enquanto acontecimentos naturais e, como tais, possíveis de serem "reduzidos" aos mesmos enquadres de explicações de causas e efeitos observados no universo físico do mundo. Se,rnndo Hillix e M.:irx í1995_ o. 57l: As expl icações reducionistas oferecem, pelo menos, uma economia potencial de conceitos, visto que um único conceito pode servir em mais de um nfve l de explicação. Essas economias podem servir como base para a escolha entre teorias em tudo o mais equivalente. Como também explicitam EI-Hani e Pereira (1999), a base de toda produção científica na modernidade se consolida a medida em que os pensadores e cientistas das diversas áreas do conhecimento fazem uso do reducionismo como modelo a ser aplicado na construção do saber científico, contrapondo-se aos saberes filosóficos, religiosos e do senso comum. Através de um modelo reducion ista, ao analisar um fenômeno qualquer em questão, o cientista seria capaz de " reduzir" a explicação do mesmo em termos condensados e essenciais, revelando os "segredos" das estruturas e de seus funcionamentos específicos, respeitando as condições externas e internas para a sua manifestação e expressão aparente. Continuam os autores acima citados: Nos últimos trezentos anos, o programa reducionista tem sido o modo de análise dominante dos mundos físico, biológico e até mesmo social. Em outras palavras, ele tem sido o parad'rgma na explicação cientifica(EL-HANI; PEREIRA, 1999, p. 77). Os autores acreditam que a assimilação do reducionísmo ao pensamento científico da modernidade fez com que essa última estivesse íntimamente associada a um modelo que, se tinha grande sucesso no plano das ciências natura is da física, química e biologia, o mesmo não se podia observar no planos dos conhecimentos científicos que não possuíam um objeto de investigação tão objetivo e passível de replicação de experimentos com controles de variáveis manejáveis ou até mesmo mensuráveis. E, apesar de demonstrar-se como um método limitado para lidar com sistemas causais complexos, dentre eles encontramos os estudos realizados pela psicologia científica. Esta fez uso de suas premissas em diversos momentos e em várias perspectivas teóricas tão distintas que, em certos momentos, chegou mesmo a produzir-se em contradições teóricas e metodológicas, sendo seus conflitos teóricos a base para a compreensão do que hoje se aceita como sendo a Psicologia, ciência e profissão. 1.2 Contribuições para a Psicologia Para retratarmos as contribuições do reducionismo para a Psicologia enquanto ciência moderna, vale destacar as premissas do que é cientifico contrapondo-se aos conhecimentos de naturezas distintas, de base especulativa, observacional e experimental, presentes nos conhecimentos da filosofia, das artes, religiões e do próprio senso comum. Clique abaixo para obter mais informações. Com o advento do "Iluminismo", movimento cultural e filosófico do século XVII, transfere-se ao homem a capacidade de conhecer e explicar o universo, suas estruturas e funcionamentos com base no instrumental próprio de sua natureza superior. Isso distingue-o dos demais seres e dá ao homem o caráter dominador de tudo o que é capaz de observar, perceber, pensar, controlar, mensu rar e concretamente experimentar, "objetivando" o conhecimento e transformando, inclusive, o próprio corpo como objeto do conhecimento. Essa mudança de paradigma para o processo de conhecimento e produção de saberes específicos sobre o homem e a natureza inaugura um cenário ideal para o advento da racionalidade enquanto instrumento específico de acesso às verdades universais do homem e da natureza, conduzindo a humanidade para a realização plena de sua liberdade fundamental. ..., ... ..,..,.._ ,,n..,._. ..,, ,.._,._.._,,._..., ..,~._..._. ,._.._,..,,,...,,,._..._,._.,._ ._..,,,,.., t-' ' " ' ""'t-''""' ,,..,,._,._._.._...,, ._..._,.., '-',,._,,'-',..,.., ,,.., ,,,._.,,._...,.._, dentre essas, a ciência psicológica, o homem passou a considerar a possibilidade de revelar todo 34 o fenômeno humano à luz do reducionismo explicativo, tratando a realidade interna e externa da psiquê humana como "essência" e, portanto, como um fenômeno já dado a priori, que se transforma e se "esconde" à medida que se manifesta no plano físico e fisiológico do corpo. A compreensão da expressão comportamental como efeito de um funcionamento psíquico constituiu-se na base do reducionismo fisicalista, explicando o fenômeno psíquico humano como um fenômeno comportamental, ou seja, reduzindo o que se entendia em termos subjetivos como vontades e motivações humanas a uma espécie de respostas comportamenta is a estímulos que poderiam ser observados, categorizados e, consequentemente, man ipulados (CASTANON, 2009). Esse exemplo de um reducionismo realizado pela ciência psicológica demonstra o difícil di lema enfrentado por essa área do conhecimento científico e, até mesmo, revela uma das tensões fundamentais da Psicologia apresentada em termos de disputa de, ora pertencimento, ora afastamento do paradigma da ciência moderna. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Devido à natureza não quantificável de seu objeto- à simultaneidade da condição de sujeito e objeto de estudo, à indivisibilidade do fenômeno psíquico, dentre outros aportes analíticos, considerando a transformação do próprio ser humano pela inerente interação com o mundo e demais indivíduos, da sua relativa autonomia e, portanto, relativa liberdade, além das constantes transformações de suas rea lidades externas e internas-, as diversas teorias explicativas realizadas pe los métodos reducionistas desses fenômenos contribuíram para a ampliação dos modelos teóricos, por vezes complementares, ou tão antagôn icos, colocados no bojo da compreensão psicológica: desde o estudo do funcionamento neuroquímico do sistema nervoso central até mesmo as cond ições inconscientes da constituição subjetiva humana. Essa compreensão ana lítica da realidade psíquica humana será sustentada por reducionismos metodológicos que explicitarão os mecanismos e funcionamentos da psiquê humana na alternância de posições de destaque desses sistemas e de acordo com as tendências das épocas históricas que se seguem, até o aparecimento de outro campo teórico capaz de produzir uma Psicologia científica tao rica e pIuraI quanto as compIexas rea11aaaes ae consmu1çao ao ser numano. 2 ABORDAGEM ETNOCÊNTRICA Para entendermos a abordagem etnocêntrica em Psicologia e seu reduzido quadro de compreensão do homem e do mundo, precisamos adentrar uma área ainda mais espinhosa da psicologia cientifica, que se constitui na interface das relações de saber e poder produzidas e amplamente difundidas pela Psicologia e pela Antropologia enquanto áreas de domínio e de afirmação de preconceitos e desigualdades. Os esforços da ciência psicológica, desde seu início, voltaram-se primeiramente para os estudos do comportamento do ser humano adulto, traçando suas características externas e internas, preocupando-se com a regularidade e padrões desses comportamentos. Com o passar do tempo, essa ciência ampliou seu olhar também para os "desvios", os comportamentos que se constituíam fora da "curva", ou seja, se constituíam em análises iminentemente estatfsticas da norma. Com o alvorecer da compreensão de normalidade, as análises comparativas não demoraram a acontecer e a psicologia passou a incluir outras áreas do conhecimento em seu campo teórico- metodológico. Os avanços nos estudos do comportamento da criança e do adolescente, do comportamento animal, dos aspectos sociais e profundos das atividades humanas, acompanhado de um vasto campo de técnicas de intervenção e métodos de exploração cientifica, deram à Psicologia um lugar de destaque na compreensão de quem é o homem, objeto e sujeito de análise, na área das ciências humanas. Contudo, esse destaque não lhe garante universalidade de conhecimento sobre os temas do homem. Podemos observar que, apesar dos avanços significativos alcançados na compreensão do fenômeno humano, o embasamento teórico-metodológico da Psicologia se encontra profundamente enraizado em uma abordagem etnocêntrica, que considera outras sociedades ou povos como inferiores ao seu próprio grupo étnico. Toda a Psicologia produzida até meados de 1960 e 1970 tinha por pressuposto uma universa lidade de homem referendada aos sujeitos brancos, ocidentais, que viviam culturas capitalistas e democráticas, de tradição cultural judaico-cristã, e que compactuavam com a visão de mundo advinda da Europa renascentista, com os ideais da Revolução Francesa ainda pulsando fortemente em suas formas de entender e se relacionar com o mundo. 2.1 Teorias e conceitos O caráter etnocêntrico até então apresentado nos estudos psicológicos, ou seja, o caráter de 36 quem olha para outra cultura sem realizar um trabalho de reconhecimento e tratando o diferente como "exótico, diferente de mim (indivíduo), ou nós (sociocultural), começa a alargar-se em todas as direções dos campos de pesquisa. A abordagem etnocêntrica em Psicologia começa a sofrer severas críticas com o desenvolvimento da Psicologia Social em consonância às críticas dos métodos de investigação da Antropologia, compondo um campo novo, capaz de, não somente abarcar duas áreas específicas do conhecimento humano cientifico,mas compor uma Psicologia capaz de trabalhar a universalidade dos conhecimentos e dos olhares sobre o acontecimento humano sobre a terra, sem excluir as dimensões singulares e particulares dos modos de ser e habitar o planeta em toda sua diferenciação fundamental. Para essa nova perspectiva, a Psicologia Cultural nascerá como proposta alternativa e eticamente viável na composição do novo saber. Andrada (2010, p. 6) nos trará um aporte totalmente renovado sobre as perspectivas desse modo de entender o humano na sua dimensão etnológica ao destacar a importância de experimentarmos "o estranhamento do outro", como um modo de revermos o cenário antropológico da Psicologia, e propondo "um novo enfoque para a área, uma teoria interpretativa da cultura, de fato, amparada fundamentalmente na etnografia". Vale ressaltar que, dada a realidade recente desse campo de trabalho, ainda temos muito o que conhecer e compreender enquanto realidade teórico-metodológica, e muito mais ainda a formar enquanto campo semântico conceituai de inserção desse saber nas atuais bases das ciências humanas. Desse modo, as experiências que apresentamos a seguir são possibilidades de compreensão do campo da abordagem cultural em oposição à visão etnocêntrica em Psicologia, e nos permitem vislumbrar o caminho que ainda temos pela frente na consolidação desses conhecimentos. 2.2 Perspectivas culturais da Psicológica A abordagem etnocêntr ica em psicologia perde força para uma proposta de integração: • Entre os estudos culturais da antropologia . • Das perspectivas coletivas dos agrupamentos humanos organizados da sociologia. • Das constituições objetivas e subjetivas das linguagens e línguas da linguística. Das características psicológicas compartilhadas entre os indivíduos de uma tribo, aldeia, ou qualquer outro agrupamento humano que caracteriza ou denota uma compreensão específica de um modo de ser e estar no mundo de maneira única e singular da psicologia. Assim, é uma abordagem que se processa na tensão emergente das tentativas de interlocução interdisciplinar a respeito das relações entre os sujeitos, da mesma forma que acontece na composição da Psicologia Cultural, cujo método de investigação se processa na esteira da antropologia e sociologia. Segundo Guimarães (2016, p. 179): Ao trabalhar com a articulação de disciplinas, tais como a antropologia e a etnolog·,a, a psicologia cultural tem se aproximado de questões que dizem respeito à relação de pessoas oriundas de povos autóctones da América (povos indígenas) com a sociedade envolvente {não-índios). Investigações recentes vªm demonstrando, por exemplo, que diversos fatores contribuem para a configuração de situações de risco e vulnerab'llidades psicossoc'1ais intensas re lacionadas às pessoas indígenas que habitam tanto nas aldeias quanto nas regiões metropolitanas de grandes cidades. Com essa aproximação entre a Psicologia Cultural, a abordagem etnocêntrica perde espaço para a compreensão da relação intersubjetiva do homem emergente de determinada cu ltura, estabelecendo os critérios de análise de sua psicodinâmica, extrapolando e, por vezes, ressignificando os conceitos tradicionalmente aceitos e aplicados pela Psicologia científica oriunda do campo cultural europeu ou norte americano. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Esse esforço pode ser analisado nas recentes apropriações do campo teórico da psicologia na tentativa de explicar fenômenos culturais nos mais diversos espaços de ocupação do homem sobre a terra- primeiramente numa perspectiva puramente descritiva, na tentativa de identificação de o que fazem esses sujeitos, como vivem, como se organizam e como lidam com as adversidades desse modo de vida, etc. Tais esforços aprofundam-se na busca de compreender como se desenvolvem, quais aspectos de personalidade estão mais dispostos a aceitar e inclinados a valorizar, e como reagem diante do desconhecido e dos sentimentos que carregam e apresentam na relação consigo mesmos e com os demais integrantes do grupo. 38 Figura 1-A cultura em evidência Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2020 # ParaCegoVer: Na imagem, há um esquema das relações dos conceitos de cultura, etnia, pessoas, crença, tradição, diversidade e nação projetado numa parede com jovens sentados como em um auditório observando essa projeção. Vale destacar que uma das possíveis respostas a essa abordagem em Psico logia está na aproximação do plano teórico-metodológico da Psicologia Cultural às questões dos povos indígenas de nossa realidade nacional. Assim como nos lembra Guimarães (2016, p. 187): Ao entrarmos em contato com as t radições indígenas, dispOS1os a vivenciar o choque cultural e a estabelecer formas de re lação mais equitativas, passamos a conhecer a alteridade das diferentes tradições indígenas, ao mesmo tempo em que, pelo processo de comparação, passamos a conhecer também a nossa própria tradição. Com essa abordagem, vislumbramos um plano teórico-metodológico ainda em processo de consolidação e com muito espaço de aberturas e composição interdisciplinar que capte o que há de melhor no plano das ciências que têm o homem como principal referência de suas dimensões individuais e culturais em análise. 3 ABORDAGEM TRANSCULTURAL Para apresentar a abordagem da Psicologia Transcultural no seu percurso científico, que se relaciona com a Psicologia Social Experimental, utilizaremos da Psicologia Cultural como substrato de compreensão dessas discussões associadas ao universo da produção brasileira na área. Desse modo, faz-se necessária uma atenção ao recorte epistemológico dos efeitos desse Sistema Transcultural, na composição do campo temático em Psicologia. O nascimento da Psicologia Cultural remonta ao século XVII, quando o filósofo Giambattista Vico (1668- 1774) - em pleno período em que imperava o pensamento de Descartes, cuja expressão da ciência e do saber eram a mola mestra do direcionamento humano -questionava a importância do senso comum e da necessidade de compreensão da vida prática como elementos fundamentais para a construção do pensamento e da linguagem (BONIN, 1998). Ele apontava a importância de Deus como conhecedor de todas as coisas, e o homem deveria apreender as questões a partir de seu viés particular, amplamente valorizado, incitando o estudo cu ltural, voltado especificamente para a análise de uma dada realidade ou de um dado contexto. É por isso que se atribui a ele as origens da Psicologia Cultural, uma vez que consubstancia a importância da apreensão particular de cada sujeito. De uma maneira ou de outra, a Psicologia como ciência trilhou um caminho de reconhecimento do campo cultural. Apesar de algumas escolas de pensamento centralizarem suas pesquisas, conceit os e conhecimentos na natureza intrapsíquica das questões psicológicas, há uma busca de compreensão do campo cultural e de como os sujeitos reagem e produzem tal realidade. 3.1 Leituras do Campo Cultural De modo geral, a cultura se apresenta como "um conjunto de hábitos, de instrumentos, objetos de arte, tipos de relações interpessoais, regras sociais e instituições em um dado grupo" (BONIN, 1998, p. 61). A partir desse recorte, o autor nos relata quatro perspectivas sobre a Psicologia Cultural, que são determinadas pela leitura específica do campo cultural. Clique nas abas abaixo e acompanhe as definições. • Primeira leitura A prime ira leitura toma a cultura como variável independente, ou seja, se caracteriza como uma grandeza que estava sendo manipulada em um experimento. Essa concepção foi aplicada aos estudos de cogn ição/testagem psicológica nos anos 1960/1970. A ide ia observada era de que o corpo era separado da mente, dualismo mente/corpo. Nesse sentido, registra Bonin (1998), o mental era um aparelho interno que estabelecia o pensamento abstrato, o qual era marcado pela cu ltura, de fora, sem ter relação ouser criado por esta. • Segunda leitura A segunda leitura da concepção de cultura era de que a mente está inserida nas práticas cu lturais. Nesse entendimento, a cultura passa a ser considerada como elemento fundante das interações e práticas sociais, as quais constituem o sujeito. Há uma retroalimentação: o sujeito se constitui como humano a partir das produções culturais e, por sua vez, também é produtor dos elementos da cultura. 40 Um importante expoente é Vygostsky, que estuda e apresenta a Psicologia Sócio-histórica e as funções menta is superiores com as indicações de como a criança aprende e apreende o mundo a partir das relações de mediação promovidas pelo adulto em seus universos linguísticos e também pe la aj uda colaborativa com as demais crianças. • Terceira leitura A terceira leitura acena para a cultura na mente, a ideia de se estudar as narrativas produzidas pe las pessoas em um dado contexto cultural. Dar visibilidade e luz pelo modo como relatam e organizam as suas experiências diárias, coletivas, a partir de elementos cotidianos, e não se limitar a estudar categorias ordenadas como pensamento, cognição, linguagem como a concepção anterior. A questão que se coloca aqui alude ao pensamento simbólico e aos registros possíveis de serem efetuados pela fala ou a partir de elementos situacionais que nos conduzem a criar e potencializar ações e estabelecer conexões, por exemplo: diante de uma situação de descobrimento/conflito para a criança, ela pode resolver isso a partir da interação com o adu lto (que apresenta a cultura em seus gestos e ações) ou a partir de um conhecimento próprio (por ser sujeito emergente da mesma cultura). • Quarta leitura A quarta leitura sobre a cultura implica um novo direcionamento para a Psicologia Cu ltura l, diz respeito ao recorte que considera a cultura na pessoa, observando o sujeito como um agente intencional, capaz de criar elementos e recursos para a ação, considerando empaticamente a presença do outro . Estudos recentes apontam o bebê como um sujeito de intencionalidades e capacidade de empatia desde o nascimento, diferindo da concepção que aponta o bebê dotado apenas de instinto ou comportamento reflexo. Nesses estudos, se considera cada vez mais a importância do ambiente como elemento potencia lizador do desenvolvimento, bem como as relações que se estabelecem com o bebê, que viabil izam a ação deste, na convocação dos adultos que cuidam dele, reforçando a proposição de agente intencional que busca interativamente quem está por perto. 3.2 A Psicologia Transcultural: conceitos e contribuições A Psicologia Transcultural se caracteriza como um sistema de investigação em Psicologia, que se coloca a estudar a relação do homem em seu contexto social, como ele interage, aprende, demonstra emoções e afetos sob certas circunstâncias de vida. De acordo com Gomes (2018), a busca para compreender e estudar as semelhanças e diferenças nos indivíduos e grupos em seus mais diferentes aspectos - sejam eles biológicos, ecológicos, sociais ou psicológicos - constitui-se como um dos principais objetivos de pesquisa e intervenção da Psicologia Transcultural. FIQUE DE OLHO Para aprofundamento dessa questão, sugerimos o filme "Babies", pois apresenta o processo do desenvolvimento infantil em diferentes contextos culturais possíveis de serem analisados segundo a perspectiva da Psicologia Transcultural. Para garantir pesquisas que oportunizem tamanha correlação de variáveis, a Psicologia Transcultural opta por metodo logias de traba lho que contemplem as ações de coleta e análise de dados, mas que também analisem uma demanda abundante de variáveis que podem estar se apresentando. Gomes (2018) aponta aue esse campo precisa ser melhor explorado nos países ocidentais. aue ainda há necessidade de estudos mais abrangentes para analisar as pesqu isas e metodologias que apresentem um maior rigor científico. Via de regra, pode-se dizer que a Psicologia Transcultural oferece três orientações teóricas para os fenômenos observados, a saber: absolutismo, relativismo e un iversalismo. Clique abaixo para obter informações sobre cada uma delas. • Absolutista Para a perspectiva absolutista, entende-se que os fenômenos psicológicos se caracterizam da mesma maneira em todas as culturas (por exemplo, o comportamento ansioso, em um dado local, continua sendo um comportamento ansioso em outra cultura). • Relativista A perspectiva relativista implica em afirmar que o comportamento pode ser criado a partir do contexto em que ele se desenvolve, por exemplo, a criança desenvolverá paladares específicos de acordo com a ingestão de alimentos ofertados em um determinado contexto cultural a partir das primeiras experiências. Nesse caso, podemos observar que, para algumas culturas, o leite a ser oferecido para a criança é apenas o leite materno, não possuindo qualquer outro substituto como observado em determinadas culturas que o associam às disponibil idades alimentares da localidade. 42 • Universalista Por fim, a perspectiva universalista aponta que os processos psicológicos básicos são comuns a todas as pessoas, independentemente de questão cultural; porém, admite-se que a cultura possa interferir em características psíquicas. 4 DETERMINISMO/LIVRE ARBÍTRIO A dualidade que aqui se apresenta é apenas mais uma das diversas formas de compreender o acontecimento humano em seu amplo espectro de argumentos interpretativos e especulativos, na tentativa de explicar o homem, como se constitui objetiva e subjetivamente, qual seu objetivo ou sua missão no mundo, além de muitas outras indagações que, dependendo do ponto de partida, despertarão respostas tão distintas quanto incompletas a respeito das mesmas questões. Se partimos do pressuposto de que os atos humanos são frutos de uma intenção e que o próprio homem é quem conduz sua vida a partir de decisões pessoais, então estamos considerando o homem como um ser livre. Clique abaixo e obtenha mais informações. Segundo esse pressuposto, somos livres e o próprio querer é a origem causal de uma ação cujas intenções se colocam em xeque ao compreender que nem sempre somos capazes de identificar l inearmente o motivo e a consequência de um dado comportamento. Mas é possível estar no mundo e ser um sujeito sem qualquer interferência sobre si e seus comportamentos? De onde nasce o querer e quais as razões dele se manifestar dessa ou daque la forma? A liberdade da qual estamos tratando pode ser traduzida pelo livre arbítrio? Essas e outras questões nascem no intelecto humano e se constituem ao longo do seu próprio desenvolvimento sócio-histórico, desde os primórdios das civilizações das quais se tem registro até os nossos dias atuais. É claro que, ao ser estudado, enquanto objeto de conhecimento científico, conseguimos, por alguns breves momentos, compreendê-lo objetivamente e satisfazer nossa aguçada atenção curiosa definindo conceitos que justifiquem seus significados. Por outro lado, podemos também, sem muito esforço, ver tal estrutura teórico-conceituai se desmontar em função de um "novo" conceito, ou novo argumento, apresentado numa nova perspectiva que nos "obriga" a aceitarmos, senão em termos ideológicos, porém em termos lógico-racionais, que precisamos rever nossos velhos conceitos. Pensemos agora na psiquê humana como um "aparelho mental" provido de um sistema de análise e definidor de escolhas possíveis de serem realizadas sem interferências; como um dispositivo sem um acionamento prévio, sem qualquer forma de determinismo. É essa reflexão que Strapsson e Dittrich (2011) realizam ao analisar as contribuições do determinismo para a formação da Psicologia como ciência e profissão. Os autores fazem um contraponto esclarecedor entre o determinismo radical e o indeterminismo, também radical. Em ambos os casos, a realidade da condição humana de existência
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