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INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR
1. ENQUADRAMENTO DA DISCIPLINA 1
2. PAPEL DA POLÍCIA 1
3. CONCEITO E FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL 2
4. NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO: procedimento administrativo preliminar de caráter informativo. 5
5. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO 5
PROCEDIMENTO INQUISITIVO 5
PROCEDIMENTO DISCRICIONÁRIO 7
PROCEDIMENTO SIGILOSO 8
PROCEDIMENTO ESCRITO 11
PROCEDIMENTO TEMPORÁRIO 11
PROCEDIMENTO UNIDIRECIONAL 12
PROCEDIMENTO INDISPONÍVEL 12
PROCEDIMENTO DISPENSÁVEL 13
6. VALOR PROBATÓRIO DO IP 15
Elementos de migração/Elementos migratórios 16
7. VÍCIOS OU IRREGULARIDADES 16
8. PROCEDIMENTO 17
9. QUESTÕES COMPLEMENTARES: 20
1. ENQUADRAMENTO DA DISCIPLINA
O processo penal regula a persecução penal (perseguição do crime), composta das seguintes etapas:
a) FASE PRÉ-PROCESSUAL (FASE INVESTIGATÓRIA): trata-se da fase em que se investigam as circunstâncias
relacionadas à infração penal. Ainda não temos processo, mas meros procedimentos investigatórios, dentre eles, o
principal e mais conhecido é o inquérito policial.
b) FASE PROCESSUAL: fase inaugurada com o recebimento da peça acusatória (denúncia ou queixa-crime).
2. PAPEL DA POLÍCIA
POLÍCIA ADMINISTRATIVA / OSTENSIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA
Policiamento ostensivo e preventivo. Policiamento predominantemente repressivo, atuando,
em regra, após a prática dos crimes, investigando-os.
Incide sobre bens, direitos e atividades. Atua sobre as pessoas, individualmente ou
indiscriminadamente
Exemplo: PM, Polícia Rodoviária, Polícia Ferroviária e a
Polícia Marítima.
Exemplo: Polícia Civil e Federal.
1
http://www.a-pdf.com/?tr-demo
Observações:
- Polícia Judiciária x Polícia Investigativa1
1a Corrente: o termo polícia judiciária engloba tanto a função de apurar a materialidade e autoria delitiva,
quanto a de auxílio ao Poder Judiciário. Tem por fundamento o art. 4° do CPP: “A polícia judiciária será exercida
pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações
penais e da sua autoria” e SV 14, STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”
2a Corrente: não se confundem, pois cabe à Polícia Investigativa a apuração de autoria e materialidade delitiva, e
à Polícia Judiciária, o auxílio ao Judiciário no cumprimento de ordens e diligências. Tem por fundamento o art.
144, §4° da CF: “§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.” O
STJ, no RHC 97886, pontuou que:
“A Constituição da República confere às polícias civil e federal a exclusividade do exercício
das funções de polícia judiciária, as quais, por sua vez, não se devem confundir com
funções de polícia investigativa - ligadas à colheita de elementos informativos quanto à
autoria e materialidade das infrações penais. Apesar do teor do art. 4.º do Código de
Processo Penal, segundo o qual a polícia judiciária tem por objeto a apuração das
infrações penais e da autoria, essa terminologia não foi a utilizada pela Constituição
Federal de 1988. É que o próprio texto constitucional, ao se referir às atribuições da polícia
federal, diferencia as funções de polícia investigativa (CF, art. 144, § 1.º, I e II) das funções de
polícia judiciária (CF, art. 144, § 1.º, IV). Não é outra a diretiva no que diz respeito à polícia civil,
a teor do § 4.º do mesmo art. 144 da Constituição da República, verbis: § 4º - às polícias civis,
dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União,
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Portanto,
estabelecida a distinção entre funções de polícia judiciária e de polícia investigativa, fica
claro que apenas a primeira foi conferida com exclusividade à polícia federal e à polícia
civil. As atribuições investigatórias, todavia, poderão ser exercidas por outras
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função, tal qual
dispõe o parágrafo único do art. 4.º do Código de Processo Penal.”
- A carreira de delegado de polícia é regulada pela Lei 12.830/13, sendo cargo privativo de bacharel em direito
e com tratamento protocolar similar ao das demais autoridades, conforme o Art. 3º da Lei 12.830/13:
“Art. 3º O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser
dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da
Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.”
3. CONCEITO E FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL
Segundo Renato Brasileiro, o Inquérito Policial é um “Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido
pelo Delegado de Polícia”, (...) que “consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa
1 https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/policia-judiciaria-e-policia-investigativa-ha-diferenca/
2
objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e
materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.”2
Dupla Função2:
- PRESERVADORA: “a existência prévia de um inquérito policial inibe a instauração de um processo penal
infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado”.
- PREPARATÓRIA: “fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de
acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo”
Analisando o conceito de IP...
a) É um procedimento administrativo preliminar: não se trata de processo, pois situado na fase pré-processual
da persecução penal.
b) De caráter informativo: em regra, não são produzidas provas no inquérito policial, mas apenas elementos
informativos. Nas lições de Renato Brasileiro:
“Logo, como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes não
têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem (...). Logicamente, caso uma
determinada prova tenha sido produzida com violação a normas de direito material, há de ser
reconhecida sua ilicitude (CF, art. 5º, LVI), com o seu consequente desentranhamento dos
autos, bem como de todas as demais provas que com ela guardem certo nexo causal (teoria
dos frutos da árvore envenenada). Isso, todavia, não significa dizer que todo o inquérito será
considerado nulo. Afinal, é possível que constem da investigação policial elementos de
informação que não foram contaminados pela ilicitude originária (teoria da fonte
independente).” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm.
2020, p. 175, 176)
No mesmo sentido, o STJ:
Eventuais irregularidades ocorridas na fase inquisitorial não contaminam o desenvolvimento
da ação penal, tendo em vista ser o Inquérito Policial peça meramente informativa e não
probatória, que tem por finalidade fornecer ao Ministério Público ou ao ofendido, conforme a
natureza da infração, os elementos necessários para a propositura da ação penal. (STL, AgRg
no HC 640.345/PE, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF
1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 03/08/2021, DJe 09/08/2021)
“O inquérito policial é procedimento administrativo de caráter inquisitório, cuja finalidade é
fornecer, ao d. Ministério Público, elementos de informação para a propositura de ação
penal. Sendo assim, seus componentes, antes de se tornarem prova apta a fundamentar
eventual édito condenatório, devem se submeter ao crivo do contraditório, sob estrito
controle judicial. VIII - Assente nesta eg. Corte Superior que "Eventuais vícios ocorridos no
inquérito policial não se transmudam automaticamente para o processo, por se tratar de peça
meramente informativa,destinada à sustentação de admissibilidade da inicial acusatória"
(RHC n. 65.977/BA, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 17/3/2016).
2 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 173
3
Não confunda:
ELEMENTOS INFORMATIVOS PROVAS
“São aqueles colhidos na fase investigatória, sem a
necessária participação dialética das partes. Em
relação a eles, não se impõe a obrigatória observância
do contraditório e da ampla defesa (...). Apesar de não
serem produzidos sob o manto do contraditório e da
ampla defesa, tais elementos são de vital importância
para a persecução penal, pois, além de auxiliar na
formação da opinio delicti do órgão da acusação, podem
subsidiar a decretação de medidas cautelares pelo
magistrado ou fundamentar uma decisão de absolvição
sumária (CPP, art. 397).”3
“A palavra prova só pode ser usada para se referir aos
elementos de convicção produzidos, em regra, no
curso do processo judicial, e, por conseguinte, com a
necessária participação dialética das partes, sob o manto
do contraditório (ainda que diferido) e da ampla defesa.
O contraditório funciona, pois, como verdadeira condição
de existência e validade das provas.”4
Observação:
- ELEMENTOS MIGRATÓRIOS DO PROCESSO PENAL5: “são os elementos informativos extraídos do inquérito
policial e que poderão servir de fundamento para eventual sentença condenatória. Recebem tal denominação
pelo fato de esses elementos informativos migrarem do inquérito para o processo penal, permitindo que o juiz
os utilize como fundamento de sua decisão.”
PROVA NÃO REPETÍVEL
“é aquela que, uma vez produzida, não tem como ser novamente
coletada ou produzida, em virtude do desaparecimento, destruição ou
perecimento da fonte probatória” (LIMA, 2015, p. 573).
PROVAS CAUTELARES
“são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da
prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o
contraditório será diferido” (LIMA, 2015, p. 573).
INCIDENTE DE PRODUÇÃO
ANTECIPADA DE PROVA
“são aquelas produzidas com a observância do contraditório real,
perante a autoridade judicial, em momento processual distinto
daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do
processo, em virtude de situação de urgência e relevância” (LIMA, 2015,
p. 574).
c) Presidido pela autoridade policial (delegado de polícia)
“Art. 2º, Lei 12.830/13. As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da
investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei,
5 Biffe Junior, João Concursos públicos : terminologias e teorias inusitadas / João Biffe Junior, Joaquim Leitão Junior. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
4 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 177.
3 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 176.
4
que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das
infrações penais.”
d) Tendo por objetivo apurar a autoria, materialidade e as circunstâncias da infração.
Observações:
- Quando a infração deixar vestígios, a materialidade é demonstrada por exame de corpo de delito (Art.158, CPP).
- Os crimes que deixam vestígio são chamados de NÃO TRANSEUNTES ou INTRANSEUNTES.
- O conceito de vestígio é trazido pelo §3º do Art. 158-A do CPP:
“§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que
se relaciona à infração penal.”
e) Com prazo certo: o prazo pode variar a depender do crime investigado e da condição do investigado: se preso
ou solto.
PRAZO CONCLUSÃO PRESO SOLTO
JUSTIÇA ESTADUAL 10 30
JUSTIÇA FEDERAL 15+15 30
LEI DE DROGAS 30+30 90+90
ECONOMIA POPULAR 10 10
PRISÃO TEMPORÁRIA EM CRIMES HEDIONDOS 30+30 NÃO SE APLICA
JUSTIÇA MILITAR 20 40+20
f) Tendo por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação.
Observação: Segundo AURY LOPES JÚNIOR, o inquérito servirá no fornecimento da justa causa para adoção de
medidas cautelares durante a persecução penal.
“O inquérito policial é procedimento administrativo de caráter inquisitório, cuja finalidade é
fornecer, ao d. Ministério Público, elementos de informação para a propositura de ação
penal. Sendo assim, seus componentes, antes de se tornarem prova apta a fundamentar
eventual édito condenatório, devem se submeter ao crivo do contraditório, sob estrito
controle judicial. Assente nesta eg. Corte Superior que "Eventuais vícios ocorridos no
inquérito policial não se transmudam automaticamente para o processo, por se tratar
de peça meramente informativa, destinada à sustentação de admissibilidade da inicial
acusatória" (RHC n. 65.977/BA, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 17/3/2016). (STJ,
AgRg no HC 665.195/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021)
4. NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO: procedimento administrativo preliminar de caráter informativo.
5
Como pontua Renato Brasileiro (2020, p. 175), “como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios dele
constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Havendo, assim, eventual irregularidade
em ato praticado no curso do inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente. Afinal, as
nulidades processuais concernem, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados ao longo
do processo penal condenatório”. No mesmo sentido:
Assente nesta eg. Corte Superior que "Eventuais vícios ocorridos no inquérito policial não
se transmudam automaticamente para o processo, por se tratar de peça meramente
informativa, destinada à sustentação de admissibilidade da inicial acusatória" (RHC n.
65.977/BA, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 17/3/2016). (STJ, AgRg no HC
665.195/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT),
QUINTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021)
5. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO
PROCEDIMENTO INQUISITIVO
- CONCEITO: Procedimentos inquisitivos são caracterizados com concentração de poder em autoridade
única. Usualmente não teremos partes, contraditório ou ampla defesa. Um procedimento inquisitivo é o
oposto de um procedimento acusatório, no qual há contraditório, ampla defesa e divisão de tarefas e
funções entre as partes ou atores.
- PRERROGATIVA DO ADVOGADO: Em que pese o inquérito policial seja um procedimento inquisitivo, de
acordo com o Art. 7º, XXI da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB), é DIREITO DO ADVOGADO acompanhar o
cliente perante qualquer autoridade investigante.
Observação: A presença de um advogado é um direito do investigado e não um dever, logo, se o
suspeito comparecer sozinho e abrir mão de assistência técnica, ele será ouvido normalmente. Já na
fase judicial, se o réu for interrogado sem advogado, é fato gerador de NULIDADE ABSOLUTA, por
ausência de defesa técnica (Art. 185, caput do CPP c/c Súmula 523 do STF). Portanto, no curso do
processo judicial não há escolha, o acusado deve ser obrigatoriamente acompanhado de advogado,
salvo se tiver habilitação técnica para realizar sua própria defesa.
Súmula 523-STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo
penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
- PACOTE ANTICRIME: segundo oa rt. 14-A do CPP, deve o delegado “citar” (notificar) o integrante das
forças policiais (Art. 144 da CF) para que constitua advogado no prazo de 48 horas, quando investigado
pelo emprego de força letal no desempenho das suas funções. Se o investigado for omisso, a instituição
a qual ele pertencia à épocado fato será intimada e dispõe de 48 horas para nomear advogado.
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da
Constituição Federal (polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal;
polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares; polícias penais federal,
estaduais e distrital) figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos
policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma
6
consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de
até 48 horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor
pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição
a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no
prazo de 48 horas, indique defensor para a representação do investigado.
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste artigo, a
defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não
estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à respectiva
competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar profissional para
acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do
investigado.
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser precedida de
manifestação de que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita
o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado
profissional que não integre os quadros próprios da Administração.
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos
interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo correrão por
conta do orçamento próprio da instituição a que este esteja vinculado à época da
ocorrência dos fatos investigados.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às
instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados
digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.
ATENÇÃO: Essa mesma prerrogativa é aplicada aos membros das forças armadas que empreguem força
letal na operação GLO (garantia da lei e da ordem).
- CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA: não há contraditório e ampla defesa na fase investigatória.
Exceção: Inquérito para a expulsão do estrangeiro.
Art. 58, Lei 13.445/2017: No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla
defesa.
- PROCESSUALIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS: De acordo com FREDIE DIDIER,
devemos aplicar o princípio do devido processo legal e toda a sua carga axiológica aos procedimentos
investigativos. Com isso, teremos contraditório e exercício da defesa na dosagem adequada para
preservar direitos e garantias fundamentais. Para LFG6, adotando a processualização dos
procedimentos, “seria possível garantir direitos e garantias fundamentais já no decorrer da investigação
preliminar mediante aplicação do contraditório e da ampla defesa. Assim, a contribuição da processualização
no inquérito policial é que com isso afastar-se-ia a característica da inquisitoriedade, o que fortaleceria o
inquérito evitando a repetição da prova em juízo.”
6https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121928138/qual-a-contribuicao-da-processualizacao-dos-procedimentos-no-inquerit
o-policial
7
PROCEDIMENTO DISCRICIONÁRIO
- CONCEITO: O delegado conduz o inquérito com margem de conveniência e oportunidade, adaptando
o inquérito às necessidades do crime e do caso investigado. Segundo Renato Brasileiro (2020, 194)
“Discricionariedade implica liberdade de atuação nos limites traçados pela lei”. Se a autoridade
policial ultrapassa esses limites, sua atuação passa a ser arbitrária, ou seja, contrária à lei. Logo, não se
permite à autoridade policial a adoção de diligências investigatórias contrárias à Constituição Federal e à
legislação infraconstitucional.7
Conclusões:
● O inquérito não deve ser previsível, diante de uma pretensão de eficiência.
● “O inquérito policial não tem rito”, pois discricionário e não engessado pela lei.
- POSTURA DO DELEGADO:
Os requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito, podem ser negados diante da
análise de impertinência (Art. 14 do CPP). Exceção: exame de corpo de delito quando a infração
deixar vestígios (Arts. 158 e 184 do CPP).
Art. 14.  O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 184.  Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
As requisições emanadas do MP ou do Juiz devem ser cumpridas (posição majoritária), salvo diante
de manifesta ilegalidade (Art. 13, II do CPP).
Art. 13.  Incumbirá ainda à autoridade policial:
II -  realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
- TRATAMENTO NO CPP: Os Arts. 6º, 7º do CPP e o Art. 2º da Lei 12.830/13, de forma NÃO EXAUSTIVA,
apontam inúmeras diligências que podem ou devem ser cumpridas para melhor aparelhar o inquérito.
Assim, embora tais dispositivos enumerem várias diligências que podem ser determinadas pela
autoridade policial, daí não se pode concluir que o Delegado de Polícia esteja obrigado a seguir uma
marcha procedimental preestabelecida.
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;
7 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 194.
8
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 testemunhas que lhe
tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer
juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social,
sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante
ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento
e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos,
indicado pela pessoa presa.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado
modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que
esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.
Art. 2°, § 2°, Lei 12830/13. Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a
requisição de perícia, informações,documentos e dados que interessem à apuração dos
fatos.
PROCEDIMENTO SIGILOSO
- CONCEITO: Como sabido, o inquérito policial objetiva investigar infrações penais, identificando fontes
de provas e coletando elementos de informação quanto à autoria e materialidade dos delitos. Porém, o
sigilo é uma característica fundamental para o sucesso do trabalho investigatório realizado. Deve-se
compreender então que o elemento da surpresa é, na grande maioria dos casos, essencial à própria
efetividade das investigações policiais.8 Nesse sentido, cabe ao delegado a gestão do sigilo do inquérito
em atenção à eficiência da investigação (Art. 20, caput do CPP).
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.
8 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 184.
9
- PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: Informações do inquérito não serão apontadas na certidão
de antecedentes (Art. 20, §único do CPP).
Parágrafo único.  Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito
contra os requerentes.
- CLASSIFICAÇÃO DO SIGILO9:
SIGILO EXTERNO SIGILO INTERNO
“não possibilita que a imprensa ou qualquer
pessoa do povo tenha acesso aos autos e
elementos de informação.”
É aquele aplicável aos “atores da persecução
penal”, tendo nítida fragilidade. (FAUZI HASSAN)
Observação: O sigilo do IPL não é aplicável ao MP ou ao juiz.
- PRERROGATIVA DO ADVOGADO: De acordo com a súmula vinculante 14 e o Art. 7º, XIV da Lei
8.906/94 (EAOAB) é direito do advogado ter acesso ao que já foi produzido e está documentado nos
autos de qualquer investigação criminal.
Súmula Vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa.
Observações:
● O advogado pode tomar apontamentos e copiar os autos, de forma física ou digital.
● O acesso independe de procuração. Todavia, sendo decretado segredo de justiça (sigilo
judicial), o acesso é mantido, mas a procuração passa a ser necessária.
● A súmula deixa claro que o direito do defensor está atrelado aos elementos já
documentados nos autos do inquérito, pois não haveria sentido o advogado ter acesso a
uma diligência em andamento, cujo sigilo é imprescindível para sua eficácia. Pode-se citar como
exemplo uma interceptação telefônica em curso, cujo desconhecimento dos interlocutores é
fundamental para seu sucesso. Assim, a autoridade investigante pode opor o acesso no que diz
respeito a diligências em andamento ou futuras.
- BOICOTE AO ACESSO: A autoridade investigante responderá administrativa e penalmente por abuso de
autoridade. Em acréscimo, o advogado pode empregar as seguintes ferramentas:
a) Reclamação ao STF em razão do descumprimenhto da SV 14;
b) Petição Simples ao Juiz das Garantias (Art. 3º-B, XV);
c) Mandado de Segurança;
d) Para o STJ, pode ser impetrado HC já que existe risco, mesmo que acidental, a liberdade (HC
profilático).
9 FERREIRA, Abraão Alves. Sigilo do inquérito policial afronta o princípio da publicidade?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina,
ano 21, n. 4577, 12 jan. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/43083
10
- FOCO NA VÍTIMA: O juiz pode decretar o segredo de justiça do inquérito para proteger a vítima na
intimidade, vida privada, honra e imagem (Art. 201, §6º do CPP).
- SIGILO E ENTENDIMENTOS DO STF E DO STJ
Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem obter acesso integral
aos termos dos colaboradores para viabilizar de forma plena e adequada, sua defesa,
invocando a SV 14?
SIM, desde que estejam presentes os requisitos positivo e negativo.
a) Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos em que o requerente
é de fato mencionado como tendo praticado crime (o ato de colaboração deve apontar a
responsabilidade criminal do requerente); e
b) Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a diligência em
andamento (devem ser excluídos os atos investigativos e diligências que ainda se encontram
em andamento e não foram consubstanciados e relatados no inquérito ou na ação penal em
tramitação). STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 19/5/2020 (Info 978).10
Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que o
investigado tenha acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de inteligência
financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se negue o acesso a peças que digam
respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça. Essa restrição parcial não
viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um dos investigados a
informações de caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao direito de
defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
17/12/2019 (Info 964).11
O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para promover por autoridade própria,
investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns
parâmetros, dentre eles: Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do
STF (“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);12
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/05a5cf06982ba7892ed2a6d38fe832d6>
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não viola a SV 14 quando se nega que o investigado tenha acesso a
peças que digam respeito a dados sigilosos de terceiros e que não estejam relacionados com o seu direito de
defesaa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/09779bb7930c8a0a44360e12b538ae3c>.
10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem obter
acesso integral aos termos dos colaboradores desde que estejam presentes os requisitos positivo e negativo.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/23937b42f9273974570fb5a56a6652ee>
11
A SV 14 NÃO pode ser aplicada para os casos de sindicância, que objetiva elucidar o
cometimento de infrações administrativas. Pela simples leitura da súmula percebe-se que a
sindicância não está incluída em seu texto já que não se trata de procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária. STF. 1ª Turma. Rcl 10771 AgR/RJ, rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2014 (Info 734).13
PROCEDIMENTO ESCRITO
- CONCEITO: Prepondera, no inquérito, a forma documental. Porém, apesar de o CPP não fazer menção à
gravação audiovisual de diligências realizadas no curso do inquérito policial, deve-se atentar para a data
em que o referido Codex entrou em vigor (1º de janeiro de 1942). Destarte, seja por força de uma
interpretação progressiva, seja por conta de uma aplicação subsidiária do art. 405, § 1º, do CPP, há de se
admitir a utilização desses novos meios tecnológicos no curso do inquérito.14
Conclusões:
● Os atos produzidos oralmente serão reduzidos a termo.
● A autoridade deve rubricar todas as laudas, conferindo autenticidade ao documento (Art. 9º do
CPP).
“Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.”
- INOVAÇÃO: As novas ferramentas tecnológicas podem ser empregadasna documentação, como
captação de som e imagem, assim como a estenotipia, que nada mais é do que uma técnica de resumo
de palavras por símbolos. Como pontuado por Renato Brasileiro (2020, p. 183), “sempre que possível, o
registro dos depoimentos do investigado, do indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios
ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinada a obter maior fidelidade das informações.”
PROCEDIMENTO TEMPORÁRIO
- CONCEITO: O delegado deve atender a prazos pré-fixados em lei diante da razoável duração da
investigação (Art. 10 c/c Art. 3º-B, VIII e §2º). Diante da inserção do direito à razoável duração do
processo na Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII), já não há mais dúvidas de que um inquérito policial
não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado indefinidamente.15
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
15 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p 196.
14 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p. 183.
13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Processo administrativo disciplinar e súmula vinculante 14 STF. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0584ce565c824b7b7f50282d9a19945b>.
12
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela.
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à
autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (LEI 13964/19)
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das
razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo; (LEI
13964/19)
§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da
autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração
do inquérito por até 15 dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a
prisão será imediatamente relaxada. (LEI 13964/19)
Observação: Além dos prazos fixados no CPP, existem prazos diferenciados estabelecidos em
leis especiais, como na Lei 5.010/66 (Lei que organiza a Justiça Federal de Primeira Instância);
Código de Processo Penal Militar; Lei 11.343 (Lei de Drogas) e Lei 1.521/51 (Lei dos Crimes
Contra Economia Popular).
Por fim, essa natureza temporária da investigação preliminar ganha reforço com a entrada em vigor da
nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei n. 13.869/19), cujo art. 31, caput, passa a tipificar a conduta do
agente público que estende injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do
investigado ou fiscalizado.
Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do
investigado ou fiscalizado:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou
conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo
do investigado ou do fiscalizado.
PROCEDIMENTO UNIDIRECIONAL
- CONCEITO: O inquérito tem como destinatário o titular da ação, pois é ele o detentor da opinião
delitiva.
PROCEDIMENTO INDISPONÍVEL
- CONCEITO: Uma vez instaurado do inquérito policial, em NENHUMA hipótese o delegado poderá
arquivá-lo (Art. 17 do CPP).
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
Observações:
● Toda investigação iniciada deve ser concluída e encaminhada à autoridade competente.
13
● A indisponibilidade não se confunde com o juízo negativo de admissibilidade para instauração da
investigação, que pode ser exercido pelo delegado (Art. 5º, §2º).
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso
para o chefe de Polícia.
● Quanto à possibilidade de invocação do princípio da insignificância para deixar de instaurar o
inquérito, temos as seguintes posições:
1ª CORRENTE
(majoritária)
2ª CORRENTE
(Luíz Flávio Gomes)
3ª CORRENTE
(Henrique Hoffman)
Não é possível o delegado deixar de
instaurar inquérito sob alegação de
que a infração penal é insignificante.
O delegado deve instaurar a
investigação e não indiciar o sujeito
em razão da insignificância da
conduta.
A insignificância pode ser vista de
maneira mais desafiadora,
autorizando o filtro quanto à
deflagração da investigação.16
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou contrariamente ao reconhecimento da insignificância em sede policial17:
No que se refere à invocação do princípio da bagatela em sede policial, objeto do presente
artigo, o Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do HC 154.949/MG[1], já se
manifestou no sentido de que o delegado de polícia, ao lhe ser apresentada uma situação
de flagrância, deve, no estrito cumprimento do dever legal, proceder à autuação em
flagrante, uma vez que cabe somente ao Poder Judiciário, a posteriori, a análise acerca
da aplicação do princípio da insignificância, de acordo com o caso concreto
(CONTREINAS, 2017, p.1).
PROCEDIMENTO DISPENSÁVEL
- CONCEITO: A deflagração do processo independe da prévia elaboração do inquérito policial (posição
majoritária), ou seja, para que o titular da ação penal ofereça a peça acusatória não é necessária a
prévia existência de inquérito policial, bastando que exista lastro probatório mínimo (justa causa) a
subsidiar a ação penal.
Observações:
● Para HENRIQUE HOFFMANN, o inquérito é indispensável, já que a regra geral é que a inicial acusatória
esteja alicerçada na investigação, porém, tal posicionamento é minoritário.
● INQUÉRITOS NÃO POLICIAIS:
- CONCEITO: São aqueles presididos por autoridades distintas da polícia judiciária.
- PRINCIPAIS HIPÓTESES:
A) Inquérito Parlamentar: É aquele elaborado por CPI.
17 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/delegado-de-policia
16HOFFMANN, Henrique. Investigação Criminal pela Polícia Judiciária 2. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017, p.
47-53.
14
Conclusão: Ele é remetido ao MP, sendo analisado em caráter de urgência (Art. 3º, Lei
10.001/2000).
B) Inquérito Militar: Tem por objeto as infrações definidas nos Arts. 9º e 10 do CPM.
C) Quando os membros da magistratura são investigados, a condução das diligências e
o indiciamento fica na gestão intelectual do Tribunal Competente (Art. 33, LOMAN).
D) A investigação e o indiciamento dos membros do MP está afeta à procuradoria geral
ou a sua assessoria direta (Art. 18, §único da LC 75/93 e Art. 4, §único da Lei 8.625/93).
E) Demais autoridades com foro por prerrogativa de função:
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem
duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas: a)
Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b) Membros do Ministério Público
(art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de autoridades
com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é indispensável que a
autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal competente para julgar esta
autoridade. Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime praticado
por Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem elementos
suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a autoridade policial
deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ autorização para realizar o
indiciamento do referido Governador. Chamo atenção para o fato de que não é o
Ministro Relator quem irá fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial.
O Ministro Relator irá apenas autorizarque o Delegado realize o indiciamento. STF.
Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016
(Info 825).
Existe decisão monocrática mais recente em sentido contrário: De acordo com o Plenário
do STF, é nulo o indiciamento de detentor de prerrogativa de foro, realizado por
Delegado de Polícia, sem que a investigação tenha sido previamente autorizada por
Ministro-Relator do STF (Pet 3.825-QO, Red. p/o Acórdão Min. Gilmar Mendes). Diversa é
a hipótese em que o inquérito foi instaurado com autorização e tramitou, desde o início,
sob supervisão de Ministro do STF, tendo o indiciamento ocorrido somente no relatório
final do inquérito. Nesses casos, o indiciamento é legítimo e independe de autorização
judicial prévia. Em primeiro lugar, porque não existe risco algum à preservação da
competência do STF relacionada às autoridades com prerrogativa de foro, já que o
inquérito foi autorizado e supervisionado pelo Relator. Em segundo lugar, porque o
indiciamento é ato privativo da autoridade policial (Lei nº 12.830/2013, art. 2º, § 6º) e
inerente à sua atuação, sendo vedada a interferência do Poder Judiciário sobre essa
atribuição, sob pena de subversão do modelo constitucional acusatório, baseado na
separação entre as funções de investigar, acusar e julgar. Em terceiro lugar, porque
conferir o privilégio de não poder ser indiciado apenas a determinadas autoridades, sem
razoável fundamento constitucional ou legal, configuraria uma violação aos princípios da
igualdade e da república. Em suma: a autoridade policial tem o dever de, ao final da
investigação, apresentar sua conclusão. E, quando for o caso, indicar a autoria,
15
materialidade e circunstâncias dos fatos que apurou, procedendo ao indiciamento. STF.
Decisão monocrática. Inq 4621, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018.18
F) INQUÉRITO MINISTERIAL (PIC – PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO CRIMINAL): de
acordo com o Pleno do STF (RE 593.727, Inf. 785) o MP pode conduzir investigação criminal,
convivendo com a regulação do IP.
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e
por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do
Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em
nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII,
XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade — sempre presente no Estado democrático de
Direito — do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa
Instituição.” STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado
em 26/5/2015 (Info 787). STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/
o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785).
ATENÇÃO: o STF adotou a TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS. (STF HC 91.661). Como a
CF/88 conferiu ao MP o poder-dever de processar (art. 129, I), implicitamente investe o MP
com todas as ferramentas para cumprir o seu papel. (Caso MC Culloock x Maryland, 1819).
HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. EXISTÊNCIA
DE SUPORTE PROBTATÓRIO MÍNIMO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE. POSSIBLIDADE DE INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
DELITOS PRATICADOS POR POLICIAIS. ORDEM DENEGADA.
5. É perfeitamente possível que o órgão do Ministério Público promova a colheita
de determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e
da materialidade de determinado delito. Tal conclusão não significa retirar da
Polícia Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas
harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo a
compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos fatos
supostamente delituosos, mas também a formação da opinio delicti. 6. O art. 129,
inciso I, da Constituição Federal, atribui ao parquet a privatividade na promoção da
ação penal pública. Do seu turno, o Código de Processo Penal estabelece que o
inquérito policial é dispensável, já que o Ministério Público pode embasar seu
pedido em peças de informação que concretizem justa causa para a denúncia. 7.
Ora, é princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos "poderes implícitos",
segundo o qual, quando a Constituição Federal concede os fins, dá os meios. Se a
atividade fim - promoção da ação penal pública - foi outorgada ao parquet em foro de
privatividade, não se concebe como não lhe oportunizar a colheita de prova para tanto,
já que o CPP autoriza que "peças de informação" embasem a denúncia. (HC 91661,
Relator(a): ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 10/03/2009, DJe-064 DIVULG
18 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2d579dc29360d8bbfbb4aa541de5afa9>.
16
02-04-2009 PUBLIC 03-04-2009 EMENT VOL-02355-02 PP-00279 RTJ VOL-00211-01
PP-00324 RMDPPP v. 5, n. 29, 2009, p. 103-109 LEXSTF v. 31, n. 364, 2009, p. 339-347
RMP n. 43, 2012, p. 211-216)
Observação: de acordo com a súmula 234, STJ, o membro do MP que investiga não é
suspeito ou impedido de atuar na fase processual.
SÚMULA 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase
investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.
6. VALOR PROBATÓRIO DO IP
De acordo com Tourinho Filho, o IP tem valor probatório relativo, servindo de base ao ajuizamento da ação e para a
adoção de medidas cautelares. Todavia, o IP não se presta sozinho a sustentar eventual condenação, uma vez que o art.
155 do CPP veda ao juiz motivar suas decisões exclusivamente em elementos informativos produzidos na fase
investigatória.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Elementos de migração/Elementos migratórios
- Conceito: são aqueles extraídos do IP, transportados ao processo e que podem servir de base para eventual
condenação.
- Hipóteses:
● Provas cautelares: aquelas justificadas pelo binômio necessidade e urgência. Ex. captação ambiental.
● Provas irrepetíveis: são aquelas de fácil perecimento e que dificilmente podem ser refeitas na fase
processual. Ex. bafômetro.
Atenção: tais elementos, ao migrarem ao processo, serão submetidos a contraditório diferido ou postergado
e à ampla defesa.
● Incidente de produção antecipada de provas: ele é instaurado perante o juiz, contando com a intervenção
das futuras partes do processo, contraditório e ampla defesa. Ex. depoimento especial (depoimento sem
dano).
7. VÍCIOS OU IRREGULARIDADES
São os defeitos ocasionados pela condução do IP ao arrepio da lei ou dos princípios constitucionais.
Consequências:
a) Os vícios podem justificar a avocatória, por despacho motivado do Chefe de Polícia, designando outro delegado
para conduzir a investigação. (art. 2º, §4º, Lei 12.830/13)
17
Atenção: a avocatória ainda pode ocorrer por razões de interesse público.
b) Para os tribunais superiores, os vícios do IP, como regra, não contaminam o processo, afinal, o IP é meramente
informativo e dispensável.
Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem o
condão de nulificar o recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando
existam elementos autônomos que sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar
que eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o processo penal, dada a natureza
meramente informativa do inquérito policial.STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min.
Felix Fischer, julgado em 22/09/2020.
Eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal. STJ.
6ª Turma. RHC n. 112.336/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/11/2019.
O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter informativo, cuja
finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público,
razão pela qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de
processo-crime. STF. 1ª Turma.HC 169.348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
17/12/2019.19
Conclusões:
● “Os vícios do Inquérito são endoprocedimentais.”.
● Quando o IP é integralmente viciado e serviu de base para denúncia, cabe ao juiz rejeitar a inicial, por ausência
de justa causa (art. 395, I, CPP). Todavia, se a inicial foi recebida, resta concluir que o processo é nulo.
● De acordo com o artigo 12, do CPP, sempre que o IP serve de base para a inicial, ele deve acompanhar a
denúncia.
Observação: de acordo com o §3º, art. 3-C, CPP, ainda suspenso, os autos que compõem matéria de competência do juiz
das garantias, ficarão acautelados na secretaria desse juízo, a disposição das partes, não acompanhando os autos
remetidos ao juiz da instrução, salvo as provas irrepetíveis, assim como as medidas de obtenção e antecipação de provas.
8. PROCEDIMENTO
1ª ETAPA
- Início: o IP é deflagrado por meio de uma portaria, que é peça escrita que demarca o início da investigação.
- Conteúdo:
19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Via de regra, eventuais irregularidades ocorrida no inquérito policial não
contaminam a ação penal.. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ea9bf866d98db73eb0909fa9c1cc1b11>
18
1. Fatos a serem apurados;
2. Diligências que serão imediatamente cumpridas;
3. Envolvidos;
4. Determinação de instauração da investigação.
- Substituição: algumas peças podem funcionar como portaria, a exemplo do auto de flagrante.
- Noticia-crime: é a comunicação da ocorrência de uma infração a autoridade com atribuição para agir.
Observações:
● Destinatários:
1. Delegado
2. MP
3. Juiz
● LEGITIMIDADE ATIVA (NOTICIANTES) - CLASSIFICAÇÃO:
 - Notícia-crime direta / notícia-crime de cognição imediata: é aquela atribuída ao papel da polícia ou da
imprensa.
 
- Notícia apócrifa / inqualificada: é o que rotulamos como “notícia anônima”.
Observação: Segundo o STF, não se pode, de imediato, instaurar o IP diante de uma notícia anônima. É
necessário que inicialmente se verifique o substrato da notícia (STF. HC 97.197. Inf. 565).
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de
ação penal ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos
invasivos de investigação, como interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto,
elas podem constituir fonte de informação e de provas que não podem ser simplesmente
descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário. Procedimento a ser adotado pela autoridade
policial em caso de “denúncia anônima”:
1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de procedência,
instaura-se inquérito policial;
3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a
interceptação telefônica (esta é a ultima ratio).
Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar
imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao
magistrado. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info
819).20
20 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Denúncia anônimaa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3a824154b16ed7dab899bf000b80eeee>.
19
 - Notícia-crime indireta / cognição mediata / qualificada: é aquela apresentada por pessoa que não integra a
polícia, mas está devidamente identificada. Vejamos:
1) Vítima ou representante legal (incapacidade): A notícia é formulada por meio de um requerimento.
Observações:
● Diante da denegação de instauração do IP, caberá recurso administrativo endereçado ao chefe de
polícia (art. 5º, §2º, CPP).N
● Nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a instauração do IP depende de prévia
manifestação de vontade do legítimo interessado (art. 5º, §§4º e 5º, CPP).
2) Juiz/ MP: a notícia é formulada por meio de requisição (art. 5º, II, CPP).
Observação: prevalece o entendimento que a requisição deve ser atendida, mesmo inexistindo vínculo de
hierarquia.
3) Qualquer pessoa do povo: a notícia é formulada por meio de delação.
Observações:
● Cabível nos crimes de ação pública incondicionada, pois o delegado deve instaurar o IP de ofício (art.
5º, §6º, CPP).
● Delatio criminis com força coercitiva: é a notícia extraída da prisão em flagrante, podendo ser direta
ou indireta a depender de quem realize a captura (art. 301, CPP).
● Delatio criminis postulatória: é sinônimo de representação no âmbito da ação pública
condicionada.
● A instauração da investigação deve ser comunicada ao juiz das garantias (art. 3º-B, CPP).
Resumindo:
NOTITIA CRIMINIS (conhecimento do crime pela polícia)
ESPONTÂNEA Mediante atividade rotineira da polícia
PROVOCADA Quando, por exemplo, o ofendido noticia à polícia o cometimento do crime
DE COGNIÇÃO
COERCITIVA
Com a prisão em flagrante
INQUALIFICADA Denúncia anônima
2ª ETAPA
- Evolução: O IP avança por meio do cumprimento de diligências realizadas de forma discricionária (arts. 6º
e 7º, CPP).
20
3ª ETAPA
- Encerramento / Conclusão: O IP é concluído com a elaboração de um relatório (art. 10, CPP).
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido
inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade
poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão
realizadas no prazo marcado pelo juiz.
- Conceito: relatório é a peça eminentemente descritiva que aponta as diligências realizadas e justifica
as que não foram feitas por algum motivo relevante.
- Mitigação: segundo Luiz Flávio Gomes, a descrição inerente ao relatório é mitigada na Lei de Drogas, já
que o delegado deve justificar a razão do enquadramento no tráfico e não no porte para uso de
drogas (art. 52, I, Lei 11.343/06).
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária,
remetendo os autos do inquérito ao juízo:
I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à
classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias
da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou” (...)
9. QUESTÕES COMPLEMENTARES:
- ARQUIVAMENTO:
ANTES DO PACOTE ANTICRIME DEPOIS DO PACOTE ANTICRIME
 Cabe ao Ministério Público requerer ao juiz o
arquivamento.
Conclusões:
● Se o juiz concordar, homologará o pedido. Logo,
cabe ao juiz arquivar, diante do requerimento do
MP, o que caracteriza o ato como complexo.
 Com a nova redação do art. 28 do CPP, ainda suspensa
por deliberação do STF, cabe ao MP ordenar o
arquivamento, comunicando ao delegado, ao ofendido e
ao investigado.
Conclusões:
● O arquivamento é submetido a homologação por
umainstância de revisão.
21
● Se o juiz discordar, remeterá os autos ao
Procurador-Geral (PRINCÍPIO DA DEVOLUÇÃO).
O Procurador-Geral poderá adotar as seguintes medidas:
● Oferecer a denúncia;
● Designar outro membro do MP para
denunciar (prevalece que o membro designado deve
agir, atuando por delegação do Procurador-Geral);
● Insistir no arquivamento, cabendo ao juiz,
homologar.
● O ofendido poderá impugnar o arquivamento
provocando a instância revisional, dispondo do
prazo de 30 dias.
● Quando a união, o Estado ou o Município são
atingidos pela conduta criminosa, a chefia do
ente jurídico responsável por sua representação
poderá provocar a instância revisional.
- DEFINITIVIDADE DO ARQUIVAMENTO:
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL DESARQUIVAR?
1) Insuficiência de provas SIM
(Súmula 524-STF)
2) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal SIM
3) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou prova da
materialidade)
SIM
4) Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO
5) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude STJ: NÃO (REsp 791471/RJ)
STF: SIM (HC 125101/SP)
6) Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade* NÃO
(Posição da doutrina)
7) Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade NÃO
(STJ HC 307.562/RS)
(STF Pet 3943)
Exceção: certidão de óbito falsa
*Tabela retirada do site www.dizereodireito.com.br
- INCOMUNICABILIDADE:
● Definição: era a possibilidade de, no IP, o preso não tivesse contato com terceiros, em favor da eficiência da
investigação.
● Filtro constitucional: Com o advento do art. 136, §3º, IV, CF, que inadmite a incomunicabilidade mesmo no
Estado de Defesa, resta concluir que o art. 21, CPP não foi recepcionado.
Atenção: não há incomunicabilidade no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado, art. 52, LEP).
22
- INDICIAMENTO:
● Definição: Indiciar é atribuir a autoria (ou participação) de uma infração penal a uma pessoa. É apontar uma
pessoa como provável autora ou partícipe de um delito. Possui caráter ambíguo, constituindo-se, ao mesmo
tempo, fonte de direitos, prerrogativas e garantias processuais (CF, art. 5º, LVII e LXIII), e fonte de ônus e
deveres que representam alguma forma de constrangimento, além da inegável estigmatização social que a
publicidade lhe imprime. 21
● Legitimidade: no bojo do IP, o indiciamento é ato privativo do delegado, que não se sujeita a requisição do
MP ou do juiz para indiciar qualquer pessoa. Portanto, somente o delegado de polícia pode decidir acerca do
indiciamento de alguém.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque
o indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial. É por meio do
indiciamento que a autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora do ilícito
em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado
de polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite
que seja requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o
presidente do inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o responsável pela
prática criminosa, em nítida violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento
jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido é a inteligência do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que
afirma que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da polícia judiciária. STJ. 5ª
Turma. RHC 47984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552). STF. 2ª Turma.
HC 115015/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717)22.
● Requisitos: é necessário despacho motivado do delegado, em análise técnico-jurídica, apontando os indícios
de autoria, da materialidade e das circunstâncias da infração.
● Momento: o indiciamento pode ocorrer em qualquer momento durante o curso das investigações.
Portanto, desde a instauração do inquérito até a elaboração do relatório final é possível realizar o
indiciamento. Porém, após iniciada a ação penal, não é mais cabível o indiciamento.
Observação: Aquele que já é réu em processo criminal não será indiciado pelo mesmo fato. Em tal hipótese,
falta justa causa para o IP, que merece ser trancado pelo manejo de HC.
● Classificação:
- Indiciamento DIRETO: é aquele promovido perante o investigado.
- Indiciamento INDIRETO: é aquele realizado na ausência do suspeito.
● Afastamento do Funcionário Público: de acordo com o art 17-D da Lei 9613/98, o indiciamento do
funcionário público que se utiliza da função para lavar dinheiro, provoca o afastamento das atividades.
CUIDADO: O STF decidiu que a referida norma é inconstitucional.
22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d860edd1dd83b36f02ce52bde626c653>.
21 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p 223.
23
É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado
em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores.” STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)23.
● Termo circunstanciado de ocorrência (TCO): é a investigação simplificada na apuração das infrações de
menor potencial ofensivo (crimes com pena máxima de até 2 anos e contravenções penais).
Observações:
● Eventualmente vamos instaurar IP por infração de menor potencial ofensivo, a exemplo do que ocorre
quando a autoria da infração é desconhecida.
● A doutrina diverge quanto a legitimidade para a presidência da lavratura do TCO. Em uma visão estrita,
somente o delegado poderia lavrar o TCO, já em uma posição ampla, seria possível a lavratura por
outras autoridades, como Policiais Militares.
● DESINDICIAMENTO: dá-se quando não se tem indícios de autoria, materialidade e suas circunstâncias.
Segundo o STF, deve acontecer apenas em hipóteses excepcionais: “o trancamento do inquérito policial deve
ser reservado apenas para situações excepcionalíssimas, nas quais não seja possível, sequer em tese,
vislumbrar a ocorrência de delito a partir dos fatos investigados.” (Inq 2.913-AgR, Redator para o acórdão Min.
Luiz Fux). Para o STJ, “deve restar demonstrada, categórica e inequivocamente, a atipicidade da conduta, a
presença de causa extintiva da punibilidade ou a existência de outra situação comprovável de plano, apta a
justificar o desindiciamento.” (STJ, HC 562976)
Renato Brasileiro (2020, p. 256/257), ressalta as hipóteses excepcionais de cabimento:
“a) manifesta atipicidade formal ou material da conduta delituosa: suponha-se que a autoridade policial
determine a instauração de inquérito policial para apurar a subtração de uma lata de leite em pó, avaliada em
R$ 2,00 (dois reais). Patente a insignificância da conduta delituosa atribuída ao agente, é possível a
impetração do writ objetivando o trancamento do inquérito;
b) presença de causa extintiva da punibilidade: a título de exemplo, suponha-se que um inquérito policial
seja instaurado para investigar suposto crime de fraude no pagamento por meio de cheque (CP, art. 171, § 2º,
VI). Ocorre que, imediatamente após a prática delituosa, e, portanto, antes do oferecimento da denúncia, o
investigado comprovou que procedeu à reparação do dano. Ora, considerando que o Supremo entende que
a reparação do dano nesse delito antes do recebimento da denúncia é causa extintiva da punibilidade
(súmula nº 554 do STF), é possível a impetração de habeas corpus a fim de ser determinado o trancamento
da investigação policial;168
c) instauração de inquérito policial em crime de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, sem prévio requerimento do ofendido ou de seu representante
legal: afinal, nessas espécies de ação penal, o requerimento do ofendido écondição sine qua non para a
instauração das investigações policiais.”
● DESINDICIAMENTO COACTO: É aquele obtido em razão da procedência do HC impetrado para trancar o IP.
23 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do
servidor público pelo simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/22cdb13a83f73ccd1f79ffaf607b0621>.
24
- ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO: Renato Brasileiro, citando Afrânio Silva Jardim, pontua que é “o fenômeno de
ordem processual decorrente de o titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum fato investigado ou
algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste procedimento. Este arquivamento se
consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art. 28 com relação ao que foi omitido na peça
acusatória24”. Ressalta que “Apesar da construção doutrinária, é bom destacar que a maioria da doutrina e da
jurisprudência não admitem essa modalidade de arquivamento. Isso porque toda decisão de arquivamento deve
ser fundamentada.”
- ARQUIVAMENTO INDIRETO: Para Renato Brasileiro (2020, p. 255), “ocorre quando o juiz, em virtude do não
oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, fundamentado em razões de incompetência da autoridade
jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento.”
24 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8. Ed. Juspodivm. 2020, p 255.
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