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C O O R D E N A D O R A S RENATA OSÓRIO CACIQUINHO BITTENCOURT SÔNIA MARIA CARNEIRO CAETANO FERNANDES PATRÍCIA OSÓRIO CACIQUINHO MARIA VITÓRIA DIAS FERNANDES A U T O R E S AENE MARTINS DA SILVA BARTIRA ALICIA DA SILVA MAIA DA CUNHA BARTIRA MACEDO DE MIRANDA CÉLIA ALVES DE LELES DELAÍDE ALVES MIRANDA ARANTES EDITH COSTA ANTUNES MACHADO ELEN KELEM DA SILVA PEREIRA DE OLIVEIRA ESTHER SANCHES PITALUGA FLÁVIA SILVA MENDANHA CRISÓSTOMO JÉSSICA MARTINS GUIMARÃES JÉSSICA PAINKOW ROSA CAVALCANTE JULIA LOURES NUNES KÊNIA CARDOSO DE PAULA LARISSA P. P. JUNQUEIRA REIS BAREATO LAUDELINA INÁCIO DA SILVA LUCIANA LARA SENA LIMA MANOELA GONÇALVES MARIA CECILIA DE ALMEIDA MONTEIRO LEMOS MARIA EUGÊNIA NEVES SANTANA MARIA VITÓRIA DIAS FERNANDES MARIANNA DE QUEIROZ GOMES MARIELLY RAMOS GUIMARÃES MAURIDES MACEDO MUNIQUE TURONES DOS PASSOS NATHALIA CANHEDO PATRÍCIA OSÓRIO CACIQUINHO PAULA DUARTE TAVARES RODRIGUES PAULO CAMPANHA SANTANA RENATA OSÓRIO CACIQUINHO BITTENCOURT SÔNIA MARIA CARNEIRO CAETANO FERNANDES STHEFANIE FERREIRA LEITE THAWANE LARISSA SILVA THAYNARA CRISTINA RIBEIRO E SILVA THAYNNARA FREITAS FERRO ©Org.: Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Patrícia Osório Caciquinho, Maria Vitória Dias Fernandes EDITORA MIZUNO 2024 Revisão: Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Patrícia Osório Caciquinho, Maria Vitória Dias Fernandes (Org.) Nos termos da lei que resguarda os direitos autorais, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial destes textos, inclusive a produção de apostilas, de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, reprográficos, de fotocópia ou gravação. Qualquer reprodução, mesmo que não idêntica a este material, mas que caracterize similaridade confirmada judicialmente, também sujeitará seu responsável às sanções da legislação em vigor. A violação dos direitos autorais caracteriza-se como crime incurso no art. 184 do Código Penal, assim como na Lei n. 9.610, de 19.02.1998. O conteúdo da obra é de responsabilidade dos autores. Desta forma, quaisquer medidas judiciais ou extrajudiciais concernentes ao conteúdo serão de inteira responsabilidade dos autores. O material disponibilizado on-line, incluindo links, QR-codes, vídeos, petições, entre outros, estará acessível durante a vigência da edição atual do livro, podendo ser retirado após esse período, sem aviso prévio. Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA MIZUNO Rua Benedito Zacariotto, 172 - Parque Alto das Palmeiras, Leme - SP, 13614-460 Correspondência: Av. 29 de Agosto, nº 90, Caixa Postal 501 - Centro, Leme - SP, 13610-210 Fone/Fax: (0XX19) 3554-9820 Visite nosso site: www.editoramizuno.com.br e-mail: atendimento@editoramizuno.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil Direitos das Mulheres e das Meninas: Estudos selecionados da ABMCJ-GO Catalogação na publicação Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166 D598 Direitos das mulheres e das meninas: estudos selecionados da ABMCJ-GO / Organização de Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Patrícia Osório Caciquinho, et al. – Leme-SP: Mizuno, 2024. Outra organizadora: Maria Vitória Dias Fernandes. Autoras: Célia Alves de Leles, Delaíde Alves Miranda Arantes, Edith Costa Antunes Machado, Elen Kelem da Silva Pereira de Oliveira, Esther Sanches Pitaluga, Flávia Silva Mendanha Crisóstomo, Jéssica Martins Guimarães , Jéssica Painkow Rosa Cavalcante, Julia Loures Nunes, Kênia Cardoso de Paula, Larissa P. P. Junqueira Reis Bareato, Laudelina Inácio da Silva, Luciana Lara Sena Lima, Manoela Gonçalves, Maria Cecilia de Almeida Monteiro Lemos, Maria Eugênia Neves Santana, Maria Vitória Dias Fernandes, Marianna de Queiroz Gomes, Marielly Ramos Guimarães, Maurides Macedo, Munique Turones dos Passos, Nathalia Canhedo, Patrícia Osório Caciquinho, Paula Duarte Tavares Rodrigues, Paulo Campanha Santana, Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Sthefanie Ferreira Leite, Thawane Larissa Silva, Thaynara Cristina Ribeiro e Silva, Thaynnara Freitas Ferro. Colaboradoras: Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Patrícia Osório Caciquinho, Maria Vitória Dias Fernandes. 302 p.; 16 X 23 cm ISBN 978-65-5526-877-5 1. Direitos das mulheres. 2. Discriminação de sexo contra as mulheres. 3. Igualdade de gênero. I. Bittencourt, Renata Osório Caciquinho (Organizadora). II. Fernandes, Sônia Maria Carneiro Caetano (Organizadora). III. Caciquinho, Patrícia Osório (Organizadora). IV. Título. CDD 323.34 Índice para catálogo sistemático I. Direitos das mulheres COORDENADORAS RENATA OSÓRIO CACIQUINHO BITTENCOURT Mestra em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Pós-Graduada em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. Pós-graduada em Direito Constitucional Aplicado e em DP e Compliance Trabalhista. Assessora de Ministro no Tribunal Superior do Trabalho. Professora universitária. Membra da equipe editorial da Revista científica Direito das Relações Sociais e Trabalhistas (Capes B1). Pesquisadora assistente da coordenação do Grupo de Pesquisas sobre Sindicalismo do Mestrado do UDF. Membra da Diretoria do Instituto Goiano de Direito do Trabalho. Vice-presidenta da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica – Comissão de Goiás (ABMCJ/GO). Endereço eletrônico: renatacaciquinho@hotmail.com. SÔNIA MARIA CARNEIRO CAETANO FERNANDES Advogada e Professora de Direito Processual Civil. Pós-graduada com Especialização em Direito Processual Civil pela UFG. Formada em Filosofia Universal de Huberto Rohden pela UFG. Indicada ao Presidente da República, em lista tríplice formada pelo TJ-GO, para ocupar o cargo de Juíza Eleitoral do TRE-GO, em 2009 e 2010. Indicada em lista sêxtupla formada pela OAB-GO, para ocupar o cargo de Desembargadora do TJ-GO, em 2020 e 2023. Nomeada Presidenta da Comissão de Mediação e Conciliação da OAB-GO, em 2022/2023. Eleita Presidenta da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica – Comissão de Goiás (ABMCJ/GO), gestão 2023-2025. PATRÍCIA OSÓRIO CACIQUINHO Advogada Gestora Trabalhista. Professora de Direito e Processo do Trabalho. Mestranda em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas no UDF - Centro Universitário do Distrito Federal. Integrante do IGT - Instituto Goiano de Direito do Trabalho. Juíza do TED da OAB de Goiás em 2024. Pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá. Pós-graduada em Direito e Processo Tributário pela Faculdade CERS. MARIA VITÓRIA DIAS FERNANDES Advogada. Advogada Assistente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/GO. Graduada em Direito pela Universidade Paulista. Pós-Graduanda em Execução Trabalhista. Email: mariavitoriafernandes.adv@gmail.com. composição da diretoria (Gestão 2023/2026) Presidente Dra. Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes Vice-Presidente Dra. Renata Osório Caciquinho Bittencourt Secretária Dra. Carla Franco Zanini Secretária Adjunta Dra. Priscila Maura de Paula Carvalho Rezende Tesoureira Dra. Thawane Larissa Silva Tesoureira Adjunta Dra. Elen Kelen da Silva Pereira de Oliveira Conselheira deliberativa titular Dra. Larissa Junqueira Bareato Conselheira deliberativa suplente Dra. Jacira Maria dos Santos Conselheira fiscal titular Dra. Ana Paula de Guadalupe Rocha Conselheira fiscal titular Dra. Jordanna Rodrigues di Araújo Conselheira fiscal titular Dra. Maria Nilza Almeida Starling Conselheira fiscal suplente Dra. Maria Eugênia Neves Santana Conselheira fiscal suplente Dra. Meyre Elizabeth Carvalho Conselheira fiscal suplente Dra. Thais Moraes de Sousa MENSAGEM DA COORDENAÇÃO Os debates sobre os desafios de ser mulher e da ótica interseccional de gênero consistem na essência da ABMCJ/GO, que se estabelece como uma das Comissões estaduais da entidade nacional e uma das suas engrenagens na buscade um mundo melhor para todas as mulheres e meninas, a partir de um otimismo realista característico. Ao longo do nosso trabalho voluntário, como associadas, ativistas e feministas, em diversas frentes e projetos, unindo nossas mais diversas personalidades, profissões (ainda que majoritariamente jurídicas, mas em muitos recortes) e perspectivas, sentimos a necessidade de amplificar a nossa voz e os nossos pensamentos, com o fim de efetivar um propósito forte e poderoso. Isso porque percebemos que o mundo ainda é lido por um viés inconsciente que exclui as mulheres e as marginaliza da equidade de oportunidades e participação que são suas por direito. E um livro, se fez um instrumento fantástico para que o propósito ganhasse toque de realidade e que desse às mulheres enquanto categoria, e especialmente àquelas que imediatamente acreditaram e abraçaram o projeto enviando seus textos, o volume necessário para que suas ideias e sua voz fossem ouvidas, e pudessem percorrer espaços, plantando sementes que esperançam avanços em face da desigualdade que as atravessa. Desejamos, todas nós, que a sua experiência na leitura traga reflexões, que atormentam (naturalmente) pelo tom evidente de realidade, mas que lhe instiguem a ser mais do que avesso à discriminação de gênero, a ser uma e um ativista pela sua superação, estabelecendo os direitos das mulheres como um direito humano de todas as pessoas à uma sociedade justa e solidária! Goiânia, 20 de junho de 2024. Renata Osório Caciquinho Bittencourt Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes Patrícia Osório Caciquinho Maria Vitória Dias Fernandes COORDENADORAS PREFÁCIO Uns lutam com o cimento armado. Com as leis. Outros, com os bisturis. Com as máquinas – tantas e tão variadas lutas. Eu luto com a palavra. É bom? É ruim? Não interessa, é a minha vocação.” Esta frase, de Lygia Fagundes Telles, presente no livro As Meninas, é instigante e inspiradora, pois nos mostra que, se queremos construir um mundo melhor, o faremos com palavras, com ações pacíficas e com o debate de ideias. É com palavras, com estudos, com a ciência e o uso da sabedoria que conquistamos, ao longo de várias décadas, avanços na legislação e de cidadania. Assim seguimos a nossa luta diária pela igualdade de gêneros e pela defesa dos direitos das mulheres e meninas, não apenas as de carreira jurídica. O movimento feminista no Brasil teve início no século 19, com as mulheres buscando participação nos processos eleitorais e buscando maior independência social, uma vez que eram vistas como indivíduo sem autonomia e direitos. A mulher não podia votar e era considerada apenas a cuidadora dos filhos e do lar. Até para trabalhar a mulher dependia da autorização do marido, conforme definia o Código Civil de 1916. Nas duas primeiras décadas dos anos 1900, começaram a surgir movimentos consistentes de mulheres que reivindicavam direitos. As conquistas foram pequenas, mas já significaram um passo concreto na direção da autonomia. O direito ao voto e à representação política foram consolidados com a elaboração do Código Eleitoral de 1933. No ano seguinte, foi eleita a primeira deputada do Brasil – Carlota Pereira de Queirós. A década de 1930 foi de intensa efervescência política e cultural para as mulheres, que começaram a ter espaço em jornais e impressos periódicos, peças teatrais e publicação de livros. Seguindo a tendência mundial nos anos 1960 e 1970, com a intensificação do movimento feminista em vários países do planeta, houve uma grande mobili- zação de resistência das mulheres brasileiras, para enfrentar a possibilidade de retrocessos em razão do golpe de estado perpetrado pelos militares. Algumas legislações trataram especificamente da questão feminina e significaram um avanço positivo para os parâmetros da época. A Lei nº 4.121/62, por exemplo, conhecido por Estatuto da Mulher Casada, garantiu a entrada no mercado de trabalho sem a autorização do marido, receber herança e solicitar a guarda dos filhos em caso de separação; e a Lei nº 6.515/77, o Código Eleitoral, possibilitaram mais direitos às mulheres. DIREITOS DAS MULHERES E DAS MENINAS: ESTUDOS SELECIONADOS DA ABMCJ-GO 10 A Constituição de 1988 possibilitou que a ideia de igualdade de gêneros fosse reforçada, garantindo mais independência e direitos. A submissão em rela- ção ao gênero masculino foi extinta legalmente a partir do Código Civil de 2002. Embora a legislação tenha avançado ao longo dos anos para dar a oportu- nidade de as mulheres ocuparem os espaços que lhes são de direito, na prática ainda há muito caminho a ser percorrido. Quando se trata de eleições, a definição de cota de gênero pelo Tribunal Superior Eleitoral vem proporcionando uma maior participação feminina nos pleitos eleitorais, embora o número de candidatas eleitas não acompanhe o porcentual de candidaturas. No mercado de trabalho, há avanços recentes, como a definição de paridade nas indicações para cargos nas instâncias superiores do Poder Judiciário. São mais de 120 anos de luta intensa, com avanços e ocupação de espaços. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, para que a equidade de gêneros seja uma realidade palpável e concretizada. A Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ) tem se transformado, ao longo de sua existência, em uma cidadela do movimento feminista de nosso País. A nossa entidade tem respondido a todos os ataques à independência das mulheres e meninas, não apenas as de carreira jurídica, bem como marcando presença em momentos importantes para a consolidação de direitos. Abrir espaço para a publicação de obras culturais e científicas e fomentar o estudo crítico do Direito são missões institucionais da ABMCJ. Ao longo dos anos, a nossa entidade não tem poupado esforços para promover eventos culturais e difundir conhecimento e ciência. Esta obra, publicada pela comissão estadual de Goiás da ABMCJ, é a prova viva de que a cada dia as mulheres de carreira jurídica estão mais capacitadas e preparadas para enfrentar os desafios que o Direito nos impõe. Intitulada Direitos das Mulheres e das Meninas: Estudos Selecionados da ABMCJ-GO, esta obra reúne artigos com temas atuais e importantes para o debate sobre a condição feminina no Brasil. Aproveito para parabenizar as competentes Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, Patrícia Osório Caciquinho e Maria Vitória Dias Fernandes pelo brilhante trabalho realizado e pela minuciosa escolha e captação dos artigos que aqui são publicados. Também não poderia deixar de cumprimentar toda a diretoria da ABMCJ de Goiás, muito bem presidida pela estimada Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, pela iniciativa de incentivar a produção científica das associadas. Certamente servirá de guia para as pessoas que forem debater a igualdade de gêneros e e os direitos das mulheres, temas tão importantes para a construção de um mundo socialmente mais justo, no qual as pessoas se respeitem. 11 PREFÁCIO Os riscos e benefícios do fortalecimento da cultura digital, que pode aproximar as mulheres e meninas das transformações sociais e garantir-lhes mas direitos, mas também pode trazer resultados danos e criminosos, são abordados por Manoela Gonçalves em O Efeito da Tecnologia Digital sobre os Direitos das Mulheres e Meninas. O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e sua Importância para o Desenvolvimento de Políticas Públicas, de Laudelina Inácio da Silva, fala sobre os mecanismos institucionais em relação à função do Estado na promoção da equidade de gênero como também na conquista e preservação dos direitos das mulheres do Brasil. Leitura Hermenêutica das Convenções 156 e 183 da Organização Internacional do Trabalho – OIT é o título do artigo de Renata Osório Caciquinho Bittencourt, Thaynara Cristina Ribeiro e Silva, Maria Vitória Dias Fernandes e Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes, em uma abordagem sobre o a aplicação da concepção de quea mulher é destinada aos trabalhos de cuidado como fundamento para efetivar, até mesmo por meio da própria legislação, a desigualdade de gênero. Delaíde Alves Miranda Arantes, Maria Cecilia de Almeida Monteiro Lemos e Julia Loures Nunes falam sobre o processo dialético da evolução da sociedade e o Estado Democrático de Direito, como paradigmas de desenvolvimento da sociedade capitalista, bem como da dignidade humana, em A Efetividade do Direito à Igualdade: Uma Perspectiva do Poder Judiciário. A experiência e o papel social de juízes e juízas, com base em experiência própria, é um relato emocionante da magistrada Marianna de Queiroz Gomes, no artigo Mas como É Ser Juíza? Em A Reprodução da Reprodução: O Ciclo Vicioso da Gravidez de Meninas de Baixa Renda – Um Desafio às Políticas Públicas em Educação e Direitos Humanos, Renata Osório Caciquinho Bittencourt e Patrícia Osório Caciquinho fazem uma avaliação das razões da repetição intergeracional da gravidez infantil/ adolescente, com enfoque nos seus impactos nos Direitos Humanos e no Direito à Educação de mulheres e meninas. Do Lixo ao Lucro: A Importância do Reaproveitamento dos Resíduos Sólidos na Geração Sustentável de Energia é o tema abordado por Thawane Larissa Silva. No artigo, ela fala sobre o aumento exponencial de resíduos sólidos, seus efeitos específicos no meio ambiente, e a importância do reaproveitamento do lixo e seu papel na produção sustentável de energia. O processo de construção da democracia no Brasil e a exclusão sistemática das mulheres da participação ativa e das tomadas de decisões nas esferas políticas e no ensino representam um obstáculo substancial para a consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática e igualitária, de acordo com o artigo Inclusão Social da Mulher do Ensino e na Política sob a Ótica de Sócrates, de Munique Turones dos Passos e Kênia Cardoso de Paula. DIREITOS DAS MULHERES E DAS MENINAS: ESTUDOS SELECIONADOS DA ABMCJ-GO 12 Esther Sanches Pitaluga e Paula Duarte Tavares Rodrigues, em A Lei 14.611/2023: Uma Análise sobre a Importância da Igualdade Salarial entre Homens e Mulheres, falam sobre a inovação legislativa e analisam a importância da promoção da igualdade salarial entre os sexos. A Atuação Sindical Frente ao Trabalho Indigno da Mulher no Cenário Pós-Reforma Trabalhista, de autoria de Maria Eugênia Neves Santana, Paula Tavares Duarte Rodrigues e Paulo Campanha Santana, trata sobre o trabalho da mulher no cenário pós-reforma trabalhista e a atuação sindical na busca por direitos e garantias específicos sob o enfoque de gênero. A importância de ser observada a busca pela igualdade de direitos das mulheres e da mudança de paradigmas de representação coletiva é abordada por Thaynnara Freitas Ferro em A Necessidade da Composição Feminina nos Tribunais para Garantia do Cumprimento do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero. Da Dignidade Humana. Compliance Trabalhista como Instrumento para a Reparação e Prevenção é o título do artigo de Elen Kelem da Silva Pereira de Oliveira, que trata da efetividade da Constituição e dos direitos fundamentais do trabalho. Larissa P. P. Junqueira Reis Bareato, em Os Princípios ESG para a Necessária Consolidação da Equidade de Gênero em sua Perspectiva Social, mostra as liga- ções entre o respeito ao princípio constitucional da dignidade humana e a busca de adequação do direito privado ao prol de garantias e princípios consagrados pela ordem constitucional. O Necessário Diálogo entre os Princípios da Administração Pública e os da Inteligência Artificial para a Garantia da Prevalência do Princípio da não Discriminação, de Flávia Silva Mendanha Crisóstomo, mostra que a Inteligência Artificial (IA) avança para todos os setores da sociedade contemporânea. A luta das mulheres em busca de reconhecimento e efetivação de seus direitos ao longo do tempo são os temas centrais de A Jornada em Busca de Direitos, de Marielly Ramos Guimarães. Kênia Cardoso de Paula e Célia Alves de Leles tratam do papel das mulheres indígenas na preservação e perpetuação das culturas ancestrais e aumento na presença das mulheres indígenas em fóruns públicos de discussão política em diálogo com as entidades não indígenas no Brasil, no artigo Mulheres Indígenas: Protagonismo e Preservação da Cultura. A vida conjugal, o adultério e suas consequências em um relacionamento, bem como a reação da sociedade, foram abordados por Edith Costa Antunes Machado, em A Legítima Defesa da Honra no Brasil: Ênfase no Caso do Livro de Jorge Amado, Gabriela Cravo e Canela. 13 PREFÁCIO Dependência Emocional e as Consequências no Direito Penal, de Sthefanie Ferreira Leite, mostra o fenômeno da dependência afetiva na criminalidade feminina e o interesse que o tema tem despertado tanto no campo acadêmico quanto nas esferas da justiça e do sistema prisional. Jéssica Painkow Rosa Cavalcante, Nathalia Canhedo e Maurides Macedo proporcionam a reflexão sobre a violação do direito à privacidade quando há divulgação de dados de mulheres vítimas de violência, em Privacidade e Esquecimento: Desafios na Era Digital para as Vítimas de Violência A violência contra a mulher e seu confrontamento com as relações de poder existentes na sociedade global são apontados por Aene Martins da Silva, Jéssica Martins Guimarães e Luciana Lara Sena Lima, em Desvendando o Labirinto da Violência: Impactos Legais sobre a Mulher. Bartira Macedo de Miranda e Thawane Larissa Silva mostram que as mulheres sofrem diversos tipos de violência, que colocam em risco sua vida e integridade física, em decorrência de preconceito e discriminação. Elas também mostram preocupação com as ofensas verbais e suas consequências em A Misoginia deve Ser Criminalizada? Análise do Projeto de Lei N. 896/2023 e o Preconceito Contra as Mulheres. Em Análise da ADPF 442: Se o Aborto não For um Direito, ao Menos não deve Ser Crime, Bartira Macedo de Miranda, Thawane Larissa Silva e Bartira Alicia da Silva Maia da Cunha mostram que o debate sobre a questão do aborto, no Brasil, vem sendo intensificado no Brasil, e aponta para a necessidade de implementação de políticas públicas e atendimento médico adequados e deixar de ser crime. Boa leitura a todas e a todos! Goiânia, abril de 2024. Manoela Gonçalves Presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica Nacional - ABMCJ Presidente da Federação Internacional de Mulheres de Carreira Jurídica - FIFCJ O EFEITO DA TECNOLOGIA DIGITAL SOBRE OS DIREITOS DAS MULHERES E MENINAS ...... 21 Manoela Gonçalves O CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER (CNDM) E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................. 24 Laudelina Inácio da Silva 1 O que são Políticas Públicas e Porque Direcioná-las à Mulher ........................................... 24 2 Sobre o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM): Sua Finalidade, Natureza e Composição ................................................................................................................ 26 2.1 Sobre as Conselheiras Governamentais: Representantes dos Ministérios de Estado .. 28 2.2 Sobre a Direção do CNDM ...................................................................................... 29 2.3 Sobre a Estrutura do CNDM .................................................................................... 30 2.4 Sobre as Reuniões ................................................................................................. 30 2.5 Sobre as Manifestações ......................................................................................... 30 2.6 Sobre as Câmaras Técnicas Permanentes ............................................................... 31 2.7 Coordenação Política e suas Atribuições ................................................................ 31 2.7.1 Atribuições da Coordenação Política ..............................................................31 3 3 Sobre A Luta pela Criação e Defesa do Desenvolvimento de Políticas para Mulheres e o Protagonismo no CNDM para a sua Consolidação ......................................................... 32 3.1 1983 – Criação do Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo .............. 32 3.2 1985 – Marco Inicial do CNDM – Lei nº 7.353/1985 ................................................ 32 3.3 1987 – Criação da Campanha: “Constituinte pra Valer tem que ter Palavra de Mulher”: Movimento Feminista e a Participação das Mulheres no Processo Constituinte de 1987-1988 ............................................................................................................. 35 3.4 Lobby do Batom: Documentário Lembra Luta e Conquistas das Mulheres nos Anos 80 - A História de Mulheres que Mudaram a História para Garantir os seus Direitos e o de Todas Nós ..................................................................................................... 36 3.5 2008 – Regulamentação do CNDM pelo Decreto nº 6.412/2008 ............................... 38 4 A Virada Histórica de Retomada de Políticas Públicas para Mulheres ................................ 38 5 Pautas Para 2024 ........................................................................................................... 46 sumário A LICENÇA PARENTAL COMO MEDIDA ANTIDISCRIMINATÓRIA: UMA LEITURA HERMENÊUTICA DAS CONVENÇÕES 156 E 183 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT ....................................................................................................... 49 Thaynara Cristina Ribeiro e Silva | Maria Vitória Dias Fernandes | Renata Osório Caciquinho Bittencourt | Sônia Maria Carneiro Caetano Fernandes 1 Convenção 156 da OIT – Convenção sobre as Trabalhadoras e os Trabalhadores com Encargos de Família .................................................................................................................... 50 2 Convenção 183 da OIT – Proteção à Maternidade ............................................................ 54 3 Licença Parental ............................................................................................................. 57 4 A Licença Parental: O Instrumento de Efetivação das Normas de Combate à Desigualdade de Gênero ................................................................................................................... 60 A EFETIVIDADE DO DIREITO À IGUALDADE: UMA PERSPECTIVA DO PODER JUDICIÁRIO .... 66 Delaíde Alves Miranda Arantes | Maria Cecilia de Almeida Monteiro Lemos | Julia Loures Nunes 1 O Estado Democrático de Direito e o Direito à Igualdade e não Discriminação .................... 69 2 A Trajetória de Oitenta Anos de Desigualdade na Justiça do Trabalho: da Inferioridade Numérica à Minoria na Cúpula do Judiciário ................................................................. 72 3 A Visão Interseccional da Corte Interamericana de Direitos Humanos Como Paradigma para o Judiciário Trabalhista Brasileiro ................................................................................. 76 MAS COMO É SER JUÍZA? ................................................................................................ 83 Marianna de Queiroz Gomes 1 Como Machismo e Patriarcado ainda nos Influenciam ...................................................... 84 2 Da Relação entre Gênero, Imaginário Social e Poder ......................................................... 87 3 E as Expectativas Sociais: Homens, Mulheres e a Figura do Juiz ....................................... 90 A REPRODUÇÃO DA REPRODUÇÃO: O CICLO VICIOSO DA GRAVIDEZ DE MENINAS DE BAIXA RENDA – UM DESAFIO AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS ...... 98 Renata Osório Caciquinho Bittencourt | Patrícia Osório Caciquinho 1 Gravidez Precoce: Biológico ou Cultural? ......................................................................... 99 2 Reprodução do Comportamento Intergeracional ............................................................... 102 3 Direitos das Meninas ...................................................................................................... 104 4 Desafio para Políticas Públicas de Educação e Direitos Humanos ..................................... 106 DO LIXO AO LUCRO: A IMPORTÂNCIA DO REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL DE ENERGIA ...................................................................... 111 Thawane Larissa Silva 1 O Problema do Acúmulo de Resíduos Sólidos .................................................................. 111 2 O Potencial Energético do Lixo ........................................................................................ 112 3 O Mercado Brasileiro e a Administração Pública ............................................................... 113 INCLUSÃO SOCIAL DA MULHER NO ENSINO E NA POLÍTICA SOB A ÓTICA DE SÓCRATES ... 121 Munique Turones dos Passos | Kênia Cardoso de Paula 1 Mulher no Ensino e na Política sob a Ótica de Sócrates .................................................... 122 1.1 Opressão da Mulher Perante a Figura Masculina ..................................................... 122 1.2 Disparidades de Gênero na Estrutura Social ............................................................ 124 1.3 Progresso das Mulheres na Sociedade ao Longo do Tempo ..................................... 126 1.4 Momentos Históricos de Resistência Feminina ........................................................ 127 1.5 A Jornada da Presença das Mulheres na Política do Brasil ....................................... 129 1.6 A Filosofia Socrática e seu Impacto no Empoderamento das Mulheres. .................... 131 A LEI 14.611/2023: UMA ANÁLISE SOBRE A IMPORTÂNCIA DA IGUALDADE SALARIAL ENTRE HOMENS E MULHERES ........................................................................................ 137 Esther Sanches Pitaluga | Paula Duarte Tavares Rodrigues 1 Análise sobre os Dados Nacionais que Indicam que as Mulheres Ganham Menos .............. 138 2 A Vedação de Diferença Salarial para Trabalho de Igual Valor em Decorrência do Gênero ... 140 3 Reflexões sobre a Importância da Igualdade Salarial como Direito Fundamental ................ 144 A ATUAÇÃO SINDICAL FRENTE AO TRABALHO INDIGNO DA MULHER NO CENÁRIO PÓS-REFORMA TRABALHISTA ........................................................................................ 150 Maria Eugênia Neves Santana | Paula Tavares Duarte Rodrigues | Paulo Campanha Santana 1 A Contribuição do Sindicato nos Direitos da Mulher .......................................................... 151 2 O Impacto da Reforma Trabalhista na Atuação Sindical .................................................... 156 3 O Reflexo da Atuação Sindical nos Direitos da Mulher ....................................................... 160 A NECESSIDADE DA COMPOSIÇÃO FEMININA NOS TRIBUNAIS PARA GARANTIA DO CUMPRIMENTO DO PROTOCOLO PARA JULGAMENTO COM PERSPECTIVA DE GÊNERO ... 165 Thaynnara Freitas Ferro 1 A História da Participação das Mulheres no Poder Judiciário em uma Sociedade Patriarcal 166 2 O Protocolo de Julgamento com Perspectiva de Gênero CNJ ............................................ 168 3 Da Dificuldade de Cumprimento do Protocolo CNJ diante da Majoritária Presença Masculina nos Tribunais diante da Visão Androcêntrica................................................................. 170 DA DIGNIDADE HUMANA. COMPLIANCE TRABALHISTA COMO INSTRUMENTO PARA A REPARAÇÃO E PREVENÇÃO ......................................................................................... 175 Elen Kelem da Silva Pereira de Oliveira 1 Compliance Trabalhista ................................................................................................... 175 2 Assédio Moral no Ambiente de Trabalho .......................................................................... 176 3 Assédio Sexual nas Relações de Trabalho e Proteção a Integridadedo Ambiente de Trabalho. .. 178 4 Síndrome de Burnout ...................................................................................................... 180 OS PRINCÍPIOS ESG PARA A NECESSÁRIA CONSOLIDAÇÃO DA EQUIDADE DE GÊNERO EM SUA PERSPECTIVA SOCIAL ........................................................................................ 184 Larissa P. P. Junqueira Reis Bareato O NECESSÁRIO DIÁLOGO ENTRE OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA A GARANTIA DA PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO .................................................................................................... 196 Flávia Silva Mendanha Crisóstomo 1 A Diferença entre Inteligência Artificial e Algoritmo .......................................................... 198 2 Os Princípios da Inteligência Artificial .............................................................................. 198 3 A Aplicação da Inteligência Artificial na Administração Pública e os Riscos da Discriminação Algorítmica ................................................................................................................. 200 4 A Inteligência Artifical no INSS e o Risco do Viés de Gênero ............................................. 203 5 Processo nº TC 006.662/2021-8 Acordão 1139/2022 - TCU .............................................. 204 A JORNADA EM BUSCA DE DIREITOS .............................................................................. 209 Marielly Ramos Guimarães MULHERES INDÍGENAS: PROTAGONISMO E PRESERVAÇÃO DA CULTURA ................... 215 Kênia Cardoso de Paula | Célia Alves de Leles 1 Protagonismo e Preservação da Cultura Indígena ............................................................. 216 1.1 As Principais Batalhas das Mulheres Indígenas no Brasil ......................................... 216 1.2 O papel fundamental das mulheres indígenas na visão da antropologia feminista e da perspectiva de gênero ............................................................................................ 221 1.3 Mulheres indígenas como protagonistas na defesa dos direitos indígenas contra violações .............................................................................................................. 224 A LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA NO BRASIL: ÊNFASE NO CASO DO LIVRO DE JORGE AMADO, GABRIELA CRAVO E CANELA. ........................................................................... 228 Edith Costa Antunes Machado 1 Legítima Defesa no Direito Brasileiro ............................................................................... 229 2 A Legítima Defesa da Honra ............................................................................................ 231 3 O Caso da Dona Sinhazinha ............................................................................................. 233 4 A Legítima Defesa da Honra nos Tribunais Brasileiros ...................................................... 235 DEPENDÊNCIA EMOCIONAL E AS CONSEQUÊNCIAS NO DIREITO PENAL ...................... 240 Sthefanie Ferreira Leite 1 A Dependência Emocional no Direito Penal: Reflexões sobre sua Relevância e Implicações 242 2 Lei nº 13.721, de 2 de Outubro de 2018: A importância da prioridade ao exame de corpo de delito em casos de violência doméstica e familiar contra a mulher e violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência .............................................................. 244 3 A Influência da Dependência Emocional na Criminalidade Feminina: Desafios e Perspectivas ... 247 PRIVACIDADE E ESQUECIMENTO: DESAFIOS NA ERA DIGITAL PARA AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ...................................................................................................................... 251 Jéssica Painkow Rosa Cavalcante | Nathalia Canhedo | Maurides Macedo 1 O Direito à Privacidade no Estado Democrático de Direito ................................................. 252 2 Aspectos Relevantes da Lei Geral de Proteção de Dados .................................................. 254 3 A Lei Geral de Proteção de Dados e a Privacidade das Mulheres Vítimas de Violência ........ 256 DESVENDANDO O LABIRINTO DA VIOLÊNCIA: IMPACTOS LEGAIS SOBRE A MULHER .... 263 Aene Martins da Silva | Jéssica Martins Guimarães | Luciana Lara Sena Lima 1 Aspetos Jurídicos Acerca da Violência Feminina .............................................................. 265 A MISOGINIA DEVE SER CRIMINALIZADA? ANÁLISE DO PROJETO DE LEI N. 896/2023 E O PRECONCEITO CONTRA AS MULHERES .................................................................... 283 Bartira Macedo de Miranda | Thawane Larissa Silva 1 O Projeto 896/2023: A Criminalização da Misoginia – Entendendo os Limites da Propositura ... 284 2 Da Análise Criminológica ................................................................................................ 286 3 Da Análise Dogmático-Penal ........................................................................................... 290 4 Da Análise Político-Criminal ............................................................................................ 292 ANÁLISE DA ADPF 442: SE O ABORTO NÃO FOR UM DIREITO, AO MENOS NÃO DEVE SER CRIME ....................................................................................................................... 295 Bartira Macedo de Miranda | Thawane Larissa Silva | Bartira Alicia da Silva Maia da Cunha 1 O Aborto na Legislação Penal .......................................................................................... 295 2 O Enfoque Errado da Questão do Aborto: “A Favor” ou “Contra” ......................................... 297 3 O Acúmulo da Inteligibilidade da Questão do Aborto no Brasil em seu Enfoque Jurídico..... 299 4 A Questão Colocada na ADPF 442 ................................................................................... 300 O EFEITO DA TECNOLOGIA DIGITAL SOBRE OS DIREITOS DAS MULHERES E MENINAS Manoela Gonçalves1 O fortalecimento da cultura digital pode aproximar as mulheres e meninas das transformações sociais e garantir-lhe maior acesso à informação e às opor- tunidades de crescimento pessoal e profissional. A tecnologia veio para inovar e possibilitar avanços sociais, mas o seu mau uso é danoso e criminoso. Um dos riscos do uso incorreto é se transformar em uma ferramenta de disseminação de ódio e das mais variadas violências contra as mulheres. Os cri- mes virtuais são cometidos através dos compartilhamentos de imagens íntimas, ataques misóginos, intolerâncias e postagens inadequadas e inapropriadas, que devastam com a privacidade das vítimas ou atingem sua honra, provocando dor, sofrimentos psíquicos e emocionais. Na esfera penal, o conceito de crime, de acordo com o Guilherme Nucci2, é qualquer ação legalmente punível, e para Monteiro de Barros3, é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao direito, a que a lei atribui uma pena. Quando se fala em tecnologia e inovação, é preciso entender que a sua utilização promoveu alterações importantes no modo de viver das pessoas, com a introdução de novos hábitos e comportamentos, com o uso do computador, da internet – com suas facilidades de pesquisa e comunicação – e das redes sociais uma rotina diária e regular. A transformação digital deve ser utilizada para aprimorar a equidade e o desenvolvimento humano, com a utilização de suas ferramentas para ampliar o alcance dos conteúdos e o desenvolvimento do pensamento crítico e voltado para o combate ao preconceito e à discriminação, em todas as suas formas de manifestação. A estimativa é de que cerca de 60 milhões de pessoas no Brasil já foram vítimas de golpes virtuais no Brasil. A Lei 12.737/2012, também conhecida por Lei Carolina Dieckmann, foi a primeira no País a tipificar atos criminais cometidos 1 Advogada, mestre em Direito Empresarial na Universidade de Franca (Unifran) e doutora em Ciências Jurídicas e Sociais pelaUniversidad Del Museo Social Argentina, presidente da Fede- ração Internacional de Mulheres de Carreira Jurídica e da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica. 2 NUCCI. Guilherme de Souza. Manual do Direito Penal. Parte Geral, Parte Especial 7ª edição. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais. - 2011. 3 BARROS. Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal. Parte Ger. Al v.1. São Paulo, Editora Saraiva. – 2003. DIREITOS DAS MULHERES E DAS MENINAS: ESTUDOS SELECIONADOS DA ABMCJ-GO 22 por meio cibernético no Brasil – invasão de computadores e celulares, violação de dados de usuários e interrupção de sites. Os principais crimes cibernéticos cometidos no Brasil são furto de dados em geral – dados pessoais e financeiros – e fraudes, cyberbullying, discursos de ódio, pornografia infantil, entre outros. Desta forma foram acrescentados dois artigos no Código Penal Brasileiro – 154-A e 154-B. O artigo 154-A define crime cibernético como “Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”. Esta lei foi modernizada com a Lei 14.155/2021, que passou a criminalizar também a invasão de aparelhos celulares, computadores ou sistemas informá- ticos com o objetivo de obter, adulterar ou destruir dados, visando à obtenção de vantagem ilícita ou instalação de vulnerabilidades. No caso específico das mulheres e meninas, os crimes cibernéticos mais comuns são aqueles que buscam disseminar discursos de ódio, promover ameaças, realizar perseguição – também conhecido por stalking –, crimes contra a honra – calúnia, injúria e difamação – A chamada pornografia de vingança. O assunto vem chamando a atenção em todo o mundo e despertando a preocupação por parte de feministas, estudiosos do direito e autoridades. Tanto que foi tem da 67ª Sessão da Comissão sobre a Condição da Mulher, a CSW67, realizada em março deste ano, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Na ocasião, a inclusão de mulheres e meninas no espaço digital e a importância desse processo para a igualdade de gênero e o empode- ramento feminino foram amplamente discutidas. A CSW67 estabeleceu a dimensão do poder e do potencial da tecnologia e inovação para acelerar a igualdade de gênero e os direitos humanos das mulheres, além de traçar importantes estratégias de ação conjunta dos movimentos femi- nistas de todo o Planeta, bem como promover o reforço da integração de todas as mulheres e meninas para alcançar a igualdade de gênero e o seu empoderamento. Ficou evidente ser imperiosa e imprescindível a implementação plena, eficaz e acelerada da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e da Agenda 2030, de forma abrangente, refletindo a sua natureza universal, integrada e indivisível. A tecnologia pode se transformar em uma importante ferramenta de combate ao machismo, o sexismo e à misoginia, na medida em que sua utiliza- ção estimule a criatividade, o raciocínio lógico e a capacidade de pesquisa, com a disseminação de novos modelos e conceitos, principalmente aqueles voltados para o respeito ao ser humano e para o entendimento sobre o mundo contem- porâneo, no qual não há mais espaço para as intolerâncias, discriminações e violências de gênero. Nesse sentido, deve ser uma ferramenta de promoção e 23 EFEITO DA TECNOLOGIA DIGITAL SOBRE OS DIREITOS DAS MULHERES E MENINAS Manoela Gonçalves valorização das mulheres, por isso a necessidade de elaboração e execução de um pacto global, que possibilite o efetivo combate a todas as formas intolerân- cias cibernéticas. Para que este objetivo seja alcançado, será importante estabelecer formas de participação efetiva das mulheres na concepção, aplicação, monitoramento e avaliação da eficácia das políticas públicas de combate aos crimes cibernéticos. Além disso, será indispensável o compromisso dos organismos governamentais na instituição de ferramentas que propiciem o aproveitamento da tecnologia na melhoria da vida das mulheres e meninas, com o estabelecimento de mecanis- mos de proteção às individualidades. A sociedade, nesta sua etapa de evolução, que está concentrada forte- mente na utilização de tecnologia, não pode se esquecer que o foco principal de todas as atividades econômicas, sociais e evolutivas é o ser humano. O bem-es- tar das pessoas é o motivo maior de todos os estudos científicos e a abordagem de gênero não pode ser excluída das inovações tecnológicas. O lado mais frágil da sociedade deve ser resguardado, com o estabele- cimento de ferramentas que garantam a sua inclusão, acessibilidade e proteção nos ambientes virtuais. E a tecnologia, como anteriormente observado, é uma ferramenta que pode ser utilizada para transformar e promover a valorização e o empoderamento das mulheres e meninas e, principalmente, combater as desigualdades. O fortalecimento da cultura digital pode aproximar as mulheres e meninas das transformações sociais e garantir-lhe maior acesso à informação e às oportu- nidades de crescimento pessoal e profissional. REFERÊNCIAS ALEXANDRE JÚNIOR. Júlio César. CIBERCRIME: UM ESTUDO ACERCA DO CONCEITO DE CRIMES INFORMÁTICOS. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito de Franca. BARROS. Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal. Parte Ger. Al v.1. São Paulo, Editora Saraiva. 2003 NUCCI. Guilherme de Souza. Manual do Direito Penal. Parte Geral, Parte Especial 7ª edição. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais. 2011. PLANALTO. Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.htm. PLANALTO. Lei nº 14.155, de 27 de maio de 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14155.htm. O CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER (CNDM) E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Laudelina Inácio da Silva1 Introdução A doutora em Política, pela University of London, Maria Fernandes Ribas, a partir de estudos de Baumgartner e de Jones (1993), alerta que: (...) a organização administrativa do governo tende a refletir as prioridades dos grupos dominantes, criando um viés institucional na estrutura da adminis- tração pública em favor das questões importantes para estes grupos. Desta forma, as estruturas institucionais podem formalizar e consolidar os enten- dimentos de políticas preferidos por certos grupos em detrimento de outros2. Dito isso, esta pesquisa justifica-se pela problemática no Brasil, sobre os mecanismos institucionais, uma vez que podem ser entendidos como “termô- metro institucional3”, em relação à função do Estado na promoção da equidade de gênero como também na conquista e preservação dos direitos das mulheres do Brasil. 1 O que são Políticas Públicas e Porque Direcioná-las à Mulher Políticas públicas, em síntese, são medidas formais, institucionais, legais, consultadas, deliberadas e aplicadas para o desenvolvimento de questões socio- políticas, que envolvam diversos fatores, como saúde, alimentação, segurança, meio ambiente dentre outros. Constituem-se, essencialmente, por diretrizes e princípios que implicam relações necessárias entre atores da sociedade e os do Estado4. 1 Presidenta da Câmara Técnica Permanente de Assuntos Internacionais do CNDM. Conselheira Titular do CNDM – de 2018 a 2021 e de 2021 a 2024. Presidenta Nacional da ABMCJ – 2017- 2020. Vice-presidente da FIFCJ – 2022-2025. Mestra em Direito Penal pela UFG. Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA/Argentina. Coordenadora do Curso de Direito da UNIP/ Goiânia desde 2004. Presidente do Instituto Laudelina Inácio da Silva: Rede Lis de Mediação. Sócia-proprietária do Escritório Nestor Tavora & Laudelina Inácio Advocacia Associada. Autora do livro Prática Policial Sistematizada em sua 5ª edição. 2BAUMGARTNER, F. R.; JONES, B. D. Agendas and instability in American politics. Chicago: Uni- versity of Chicago Press, 1993. p. 369. 3 Ibid., p. 370. 4 SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Políticas Públicas para as Mulheres. Brasí- lia: SPM, 2013. 25 CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER (CNDM) E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO Laudelina Inácio da Silva Embora o termo “públicas” esteja presente nessa expressão, as políticas também podem ser tomadas por iniciativa privada, contanto que se destinem a grupos, comunidades ou entidades que padeçam de vulnerabilidade tal, que somente determinada política privada tende a resolvê-la ou, no mínimo, dirimi-la, evidentemente depois de anuída e constatada o interesse público pela demanda em questão5. Há quatro tipos de políticas públicas: 1) as distributivas (voltadas a setores marcados da população); 2) as redistributivas (que se orientam à promoção da qualidade de vida e do bem-estar social); 3) as regulatórias (que estabelece as diretrizes da sociedade); e as constitutivas (concernentes à função das variadas maneiras de executar a política). Todas elas são discutidas, promulgadas e aplicadas no Brasil, inclusive às mulheres, especialmente a partir dos Conselhos Nacional, Municipais e Estaduais do Direito da Mulher. Elas foram e continuam sendo uma conquista histórica, somente possível a partir da criação do Estado, em seu modelo democrático, para atender objeti- vos previamente observados e estudados numa dada causa para que se possa ampliar a efetivação da cidadania. Dito de outro modo, são voltadas para que se possa estabelecer igualdade de oportunidades, benefícios e dignidade a “grupos sociais excluídos, setores marginalizados, esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneráveis onde se encontram as mulheres”6em acordo com a Constituição Brasileira de 1988. Cada política pública detém particularidades a depender de sua destinação, uma vez que a demanda a ser atendida varia em muitos fatores, como demográ- fica, educacional, racial, étnica e socialmente, além de condições de classe, de gerações e de questões ambientais. Tal variação ocorre, ainda, em desigualda- des estruturais e culturais entre homens e mulheres, o que perpassa questões emergentes, como o conceito de gênero, que “estrutura-se a partir da ênfase nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, etc. entre os sexos, uma vez que sinaliza […]. sobretudo, relações hierárquicas e de poder7”. Isso afeta negativamente as mulheres “enquanto um coletivo social, [que] está ainda em condições de desigualdade e de subordinação em nossa na socie- dade” e evidencia “A presença de um modelo estereotipado predominante no imaginário social invisibiliza as situações de conflitos relacionadas à violência sexista e ao racismo estruturador das relações sociais8”, o que reclama à implan- tação e ao desenvolvimento de políticas públicas que se concentrem em vencer as injustiças pelas quais as mulheres sofrem sob o domínio do patriarcado nas 5 CNN BRASIL. Políticas Públicas: entenda o que são, para que servem e veja exemplos. São Paulo: CNN Brasil, 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/politicas-publicas/. Acesso em: 04/03/2024. 6 SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Op. Cit. p. 3. 7 SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Recife: SOS Corpo, 1995. 8 SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Op. Cit. p. 4-5. DIREITOS DAS MULHERES E DAS MENINAS: ESTUDOS SELECIONADOS DA ABMCJ-GO 26 esferas domésticas e profissionais. Um exemplo prático de política pública é a que visa à erradicação da violência doméstica contra mulheres, como o Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios, que foi instituído em 16 de agosto de 2023, pelo Decreto nº 11.640/2023. Dito isso, as políticas públicas direcionadas à questão de gênero visam: (...) contemplar a condição emancipatória e a dimensão de autonomia das mulheres. Para que as desigualdades de gênero sejam combatidas no con- texto do conjunto das desigualdades sócio-históricas e culturais herdadas, pressupõe-se que o Estado evidencie a disposição e a capacidade para redis- tribuir riqueza, assim como poder entre mulheres e homens, entre as regiões, classes, raças, etnias e gerações9. Essa possibilidade, de promover e efetivar políticas públicas com vistas à dignidade e equidade de gênero se levanta a partir da articulação entre enti- dades consultivas e deliberativas, como o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), com órgãos eleitos da sociedade civil, como a Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência, a Associação Brasileira de Mulhe- res de Carreira Jurídica (ABMCJ) e Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS) dentre outros, junto ao Estado com seus meca- nismos governamentais. 2 Sobre o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM): Sua Finalidade, Natureza e Composição Diante da problemática destacada, centraliza-se o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) como uma entidade pública que promove e desen- volve políticas públicas com finalidade e composição que se volta a garantir a dignidade das mulheres. Diz-se, pois, que ele deve ser afirmado para preservação, fomento e conhecimento, cada vez maior, pela sociedade de sua atuação e de seus impactos, principalmente por mulheres. Ele tem por finalidade a promoção, em âmbito nacional, de políticas que visem eliminar a discriminação da mulher; assegurar condições de liberdade e de igualdade de direitos; e estabelecer sua plena participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do País. Suas diretrizes orientadoras de funcionamento estabelecem-se em um regimento interno que estabiliza suas operações e define sua natureza e composição: 9 Ibid. A EFETIVIDADE DO DIREITO À IGUALDADE: UMA PERSPECTIVA DO PODER JUDICIÁRIO Delaíde Alves Miranda Arantes1 Maria Cecilia de Almeida Monteiro Lemos2 Julia Loures Nunes3 Introdução O processo dialético evolução da sociedade, resultante da superação de um modelo de Estado por outro (Estado Liberal – Estado Social – Estado Democrá- tico de Direito) foi acompanhado por mudanças no modo de produção. O Estado Democrático de Direito, terceiro paradigma do constitucionalismo contemporâ- neo, implementado no atual estágio de desenvolvimento da sociedade capita- lista, constitui, até então, o mais avançado no que se refere ao respeito aos Direi- tos Humanos, pois inseriu o ser humano no centro do ordenamento jurídico e reconheceu a dignidade humana como valor fonte que norteia todos os direitos fundamentais4. 1 Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) na vaga do Quinto Constitucional da Advocacia Trabalhista; integra no TST a SBDI-1, o Conselho do CSJT, o Conselho da ENAMAT e a 8ª Turma. É Ouvidora Nacional da Justiça do Trabalho (TST/CSJT). Mestra em Direito, Estado e Constitui- ção, pela Universidade de Brasília (UnB). Membro Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania (UnB/CNPq); integra a AJD (Associação Juízes para a Democracia) e o IPEATRA. É pós graduada em Direito e Processo do Trabalho, Universidade Federal de Goiás (UFG) e Magis- tério Superior, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO); Graduação em Direito, Cen- tro Universitário de Goiás (UNI/Anhanguera); Secretária da Delegação Brasil, da Associação Luso-Brasileira de Juristas do Trabalho (JUTRA); Membro da Comissão do Quinto Constitu- cional da OAB Federal; do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB); Instituto dos Advogados de Goiás (IAG); da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra); E-mail: delaidearantes@gmail.com. 2 Professora Titular do Curso de Mestrado em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). Doutora em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB). Pós Doutorado em andamento na Universitat de València, Espanha. Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituiçãoe Cidadania (UNB-CNPq) e do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Políticas Publicas e Meio Ambiente (UDF–CNPq). E-mail: mclemos@udf.edu.br. 3 Graduada em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades pela Uninter, servidora do Tribunal Superior do Trabalho e aluna do 10º semestre do curso de Direito, no Centro Universitário IESB, no ano de 2023. Assessora da Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Delaíde Alves Miranda Arantes. E-mail: loures- julia@gmail.com. 4 DELGADO, Maurício G.; DELGADO, Gabriela N. Constituição da República e Direitos Fundamentais: dignidade da pessoa humana, justiça social e Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012. p. 46. 67 A EFETIVIDADE DO DIREITO À IGUALDADE: UMA PERSPECTIVA DO PODER JUDICIÁRIO Delaíde Alves Miranda Arantes | Maria Cecilia de Almeida Monteiro Lemos | Julia Loures Nunes Não obstante as conquistas do constitucionalismo moderno, o trabalho humano – imprescindível qualquer que seja o modo de produção vigente - perma- nece atuando tanto como fonte de dignidade como de opressão, contradição que decorre da própria lógica do sistema capitalista, que busca, ao mesmo tempo, aumentar os lucros a partir da exploração da força de trabalho humana e, con- traditoriamente, reconhece o trabalho como direito - essencial para o desenvol- vimento pessoal e social. Dessa tensão inerente ao sistema “resultam avanços e retrocessos sociais decorrentes da luta constante travada pelos trabalhadores em busca da manutenção ou ampliação de direitos, e pelos empregadores em busca da diminuição de custos e otimização da produção5”. Nesse sentido, no âmbito da igualdade de gênero, a histórica luta por reconhecimento e por direitos das mulheres trabalhadoras, ao mesmo tempo em que consolidou a igualdade formal do ponto de vista normativo, encontra resistência por parte dos empregadores no que se refere à efetividade, resultado de séculos de domínio da elite masculina e branca, que introjetou na sociedade estereótipos e crenças sobre a inferioridade da mulher. Desde o seu surgimento, o capitalismo já encontrou a mulher em uma situação de desigualdade, exercendo trabalhos subalternos e mal remunerados, condição que, para Heleieth Saffioti, se expressa por intermédio de uma dupla dimensão: quanto ao nível de superestrutura, as mulheres são subvalorizadas a partir de “mitos justificadores da supremacia masculina” e, como consequência, da própria ordem social que a originou. Pontua-se que no que se refere ao nível estrutural, a mulher foi marginalizada das principais funções produtivas e relegada à periferia do sistema de produção6. A compreensão da interrelação entre a condição da mulher no século XXI e o modo capitalista de produção de bens e serviços, núcleo da sociedade con- temporânea, passa pelo reconhecimento de que as questões de gênero, assim consideradas a discriminação, o aviltamento salarial, a violência doméstica, o alijamento dos postos de comando, entre outras formas de tratamento desigual impostas às mulheres, devem ser relacionadas a outras modalidades de opressão: a racial e a de classe social. Para Heleieth Saffioti, a interseccionalidade consiste na relação existente entre as três formas de opressão - patriarcado, racismo e capitalismo - contradições integrantes do que a autora denomina de “nó”, e que adquirem importâncias distintas a depender das circunstancias históricas7. Ao conceituar patriarcado, Christine Delphy, afirma tratar-se de 5 LEMOS, Maria Cecilia de Almeida Monteiro. Dano Existencial nas relações de Trabalho Inter- mitentes. São Paulo: LTr, 2020. p. 57. 6 SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1976. p. 35. 7 Id., 2004. p. 215. A REPRODUÇÃO DA REPRODUÇÃO: O CICLO VICIOSO DA GRAVIDEZ DE MENINAS DE BAIXA RENDA – UM DESAFIO AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS Renata Osório Caciquinho Bittencourt1 Patrícia Osório Caciquinho2 Introdução A avaliação das razões da repetição intergeracional da gravidez infantil/ adolescente, com enfoque nos seus impactos nos Direitos Humanos e no Direito à Educação de mulheres e meninas, consiste no objeto do presente ensaio. O objetivo é investigar quais os caminhos viáveis para empoderar meninas e mulheres, conquistar avanços na busca da equidade de gênero real e afastar a vulnerabilidade cíclica que permeia sua realidade no advento da gravidez adoles- cente/infantil de repetição (seja intergeracional, seja em relação a mesma ges- tante). Justifica-se a relevância do estudo, haja vista que busca compreender quais políticas públicas são eficientes na abordagem do problema, verificando em que medida aquelas adotadas até o momento fracassaram, para que tal experiência fundamente a mudança de perspectiva necessária e o alcance de um mundo mais igualitário para todas as pessoas. Para tanto, utilizou-se a meto- dologia materialista dialética, com ampla pesquisa bibliográfica. Nesse sentir, ante ao desafio de compreender a gravidez cíclica na infância/ adolescência, há que se destacar que a puberdade é um momento de grandes descobertas na vida das meninas e, não raro, aquelas de baixa renda acabam evoluindo as descobertas sexuais para uma gestação infantil/adolescente, algumas vezes indesejada, outras até desejada. Esse comportamento não tem o mesmo padrão de repetição em outras classes sociais, além de, no caso do recorte desse ensaio, qual seja, meninas de baixa renda, repetir-se de forma intergeracional em ordem cíclica e, algumas vezes, repetido pela própria menina- mãe, que tem mais de uma gravidez na infância/adolescência. 1 Advogada. Professora na Universidade Paulista (2013 – atual). Mestra pelo UDF em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Pós-Graduada em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. Associada da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ). Assessora Nacional de Direito do Trabalho da ABMCJ. Representante da Federação Internacional das Mulheres de Carreira Jurídica na Organização Internacional do Trabalho (OIT). 2 Advogada Gestora Trabalhista. Professora de Direito e Processo do Trabalho. Mestranda em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas no UDF - Centro Universitário do Distrito Federal. Integrante do IGT - Instituto Goiano de Direito do Trabalho. Juíza do TED da OAB de Goiás em 2024. Pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Estácio de Sá. Pós-gra- duada em Direito e Processo Tributário pela Faculdade CERS.. 99 A REPRODUÇÃO DA REPRODUÇÃO: O CICLO VICIOSO DA GRAVIDEZ DE MENINAS DE BAIXA RENDA Renata Osório Caciquinho Bittencourt | Patrícia Osório Caciquinho Mas a que se deve essa realidade que certamente desarmoniza a ordem da maturidade dessas meninas, lhes retirando oportunidades de estudo, de melho- res oportunidades de trabalho ante a ausência de qualificação, de uma condição de vida melhor do que a originária e, no mínimo, mais independente? Seria bio- lógico, do instinto animal do ser humano? Seria cultural? Seria falta de informa- ção? Seria ausência de meios contraceptivos? Para buscar compreender tais inquietações, no primeiro capítulo, Gravidez Precoce: Biológico ou Cultural, apresentou razões biológicas e não biológicas que convergem para a gravidez infantil/adolescente. No segundo capítulo, Repro- dução do Comportamento Intergeracional, tratou-se do espelhamento intergera- cional da gravidez precoce e das consequências no aumento da vulnerabilidade dessas jovens mães inseridas em um contexto social limitante. No terceiro capí- tulo, Direitos das Meninas, por sua vez tratou-se da arquitetura legislativa que protege os direitos das meninas, no âmbito nacional e internacional. Por fim, no quarto e último capítulo, Desafio para Políticas Públicas de Educação e Direitos Humanos, tratou da problemática da gravidez precoce em um contexto social- -cultural, exigindo esforços para além de leis utópicaspara efetivar os direitos dessas meninas, apresentando, ainda, exemplo de boas práticas. 1 Gravidez Precoce: Biológico ou Cultural? Em uma sociedade contemporânea fundamentada em discursos de iso- nomia que destoam da prática vivenciada pelas meninas e mulheres com rela- ção a sua sexualidade e reprodução, especialmente as de baixa renda, verifica-se toda ordem de desafios a serem enfrentados para a proteção dos direitos funda- mentais que lhes assistem nesse aspecto. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009, p. 29-30) em 1999 mais de 20% (vinte por cento) dos nascimentos ocorri- dos no ano tinham mães menores de vinte anos e, em 2009, esse número caiu para pouco mais de 18% (dezoito por cento). Quanto ao ano de 2019, foi verifi- cada a porcentagem de 15% (quinze por cento) de nascimentos entre meninas até 19 (dezenove) anos (IBGE, 2019, p. 3). Mesmo com a diminuição demons- trada, os números absolutos que tais porcentagens ilustram são alarmantes sob a análise das consequências que uma gravidez impremeditada traz a jovem mãe e ao contexto social a que está inserida, sendo imprescindível o desenvolvi- mento de políticas públicas adequadas a subsidiar uma realidade menos vulne- rável a esse grupo. As causas de gravidez na adolescência são diversas, dentre elas estão inadequação de informações relacionadas a métodos contraceptivos e a própria sexualidade, falta de acesso aos serviços de saúde, não utilização de contracep- tivos para omitir dos pais a vida sexualmente ativa, o fator biológico, a concepção ideológica de que não haverá consequências, o impulso consciente ou incons- ciente do estado gestacional, o comportamento intergeracional espelhado, os DIREITOS DAS MULHERES E DAS MENINAS: ESTUDOS SELECIONADOS DA ABMCJ-GO 100 conflitos familiares, o uso e abuso de drogas, a falta de perspectiva educacional e profissional, dificuldade de comunicação entre pais e filhos, menarca cada vez mais precoce e iniciação sexual prematura.3 Segundo a obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade4 o impulso sexual decorre naturalmente da condição humana, sendo inerente a sua biologia e, nesse aspecto, muito semelhante à dos animais, não se relacionando com pra- zer ou desejo. Esse impulso se torna latente e evidente com a puberdade pois, com o corpo da menina (recorte de gênero objeto desse ensaio) passando por inúmeras alterações fisiológicas e hormonais, o desejo sexual surge não com um intuito meramente prazeroso, mas inicialmente biológico de experimentar o próprio aparelho reprodutor e confirmar sua fertilidade, verificando capacidades e limites, o que por vezes desencadeia a gravidez não premeditada.5 Nesse sentido, seria da natureza humana a perpetuação da espécie e, por consequência, um impulso natural da puberdade a reprodução, que deveria ser controlado em um segundo momento, por outros mecanismos. Porém, se assim simplesmente o fosse, qual o motivo dos índices de mães adolescentes serem superiores em populações de baixa renda6 e não equivalentes em quaisquer classes sociais? Entrementes, vislumbra-se, para além do aspecto biológico, o não-biológico, o social, cultural. As meninas de baixa renda, inseridas no contexto do modelo patriarcal de família brasileiro, idealizam o “sentimento de família”, sendo o casa- mento precoce seguido de filhos uma realidade aceitável na política familiar, onde muitas delas inclusive buscam esse cenário com o fito de se “posicionar social- mente”. Essa circunstância em muito difere das meninas de classe média, onde a gravidez não é bem aceita na adolescência, sendo priorizado o estudo e a capaci- tação profissional para, somente após, considerar o casamento.7 Sendo assim, a própria aceitação familiar da gravidez de forma fluida no caso das meninas de baixa renda, pois esses núcleos veem a maternidade como 3 CARVALHO. Clara Coelho de. Gravidez na Adolescência: principais causas e consequências. Tra- balho de Conclusão de Curso – Curso de Especialização em Atenção Básica e Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais. Governador Valadares, 2013. Disponível em: https://www. nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4940.pdf. Acesso em: 6 fev. 2021, p.15 4 FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, aná- lise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905). Tradução de Paulo César de Souza. 1. ed., São Paulo, Companhia das Letras, 2016. Disponível em: https:// www.companhiadasletras.com.br/trechos/14199.pdf. Acesso em: 6 fev. 2021, p. 20-21 5 DADOORIAN, Diana. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Psicologia: Ciência e Profissão. Brasília, v. 23, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S 1414-98932003000100012. Acesso em: 30 jan. 2021. 6 BRASIL. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua 2021/2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101957_informa- tivo.pdf Acesso em: 6 out. 2023 7 DADOORIAN, Diana. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Psicologia: Ciência e Profissão. Brasília, v. 23, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14 14-98932003000100012. Acesso em: 30 jan. 2021. 101 A REPRODUÇÃO DA REPRODUÇÃO: O CICLO VICIOSO DA GRAVIDEZ DE MENINAS DE BAIXA RENDA Renata Osório Caciquinho Bittencourt | Patrícia Osório Caciquinho a mais importante função da mulher nas suas organizações, servem como um dos fatores incentivadores do resultado. Algumas famílias até repulsam a ideia em um momento inicial, mas, via de regra, evolui de forma positiva, o que gera uma segurança inconsciente de que “vai ficar tudo bem” sem avaliação dos impactos extensos desse comportamento e, então, a gravidez antecipada não teria condão negativo. Além disso, há que se analisar, nos termos da psicanálise de Freud, que é inerente a menina o desejo de rever suas carências e ímpetos através da procria- ção, materializando em um filho o rompimento da infância e a inserção na fase adulta, criando uma extensão de si própria, uma versão que possa controlar e moldar diante de seus critérios, além de inseri-la no contexto social na função materna. As mães adolescentes veem no filho uma oportunidade de dar e de rece- ber o amor ideal que na maior parte das vezes não encontraram em seus pró- prios lares (seja pelas dificuldades econômicas, seja pelos conflitos familiares, seja pelo uso de drogas daqueles que as circundam), vislumbram a segurança de uma companhia que poderão ter consigo sem o receio de abandono, ou ainda, como um fator de união familiar, de reforço e aproximação de laços. Na busca da realização dessas expectativas, de melhora da frustração de suas realidades, muitas meninas alegam assertivamente não usarem contraceptivos pois tinham vontade de ter filhos o que entendiam que as traria a uma posição social mais relevante, a de mulher, de mãe, dentro de sua comunidade.8 As baixas expectativas educacionais e profissionais fazem com que essas meninas vejam a maternidade como o papel mais importante que desempenha- riam na sociedade e, por isso, atribuam a ele um valor ideológico, reforçando o nítido modelo patriarcal, onde a mulher é vista como filha-esposa-mãe e, por essa razão, não tratam a gestação na adolescência como indesejada, mas mera- mente acidental, porém, quando descoberta, querida. A gestação precoce tem grande repercussão negativa na vida da adoles- cente, seja no aspecto educacional, visto que a maior parte delas abandona o ambiente escolar, por vergonha, por desinteresse ou por falta de incentivo, seja no aspecto econômico, pois sem qualificação e com a responsabilidade de cui- dar de uma criança, que pode requerer acompanhamento médico, escolar, etc., a ascensão profissional fica nitidamente prejudicada, seja no aspecto de saúde, visto que vários são os riscos de uma gestação prematura para mãe e para o bebê. Além disso, essas meninas sãomais sujeitas a violência doméstica.9 8 Idem 73 9 BAHIA.BA. Conselheiro da ONU diz que gravidez na adolescência é ‘fábrica de pobres na América Latina’. Online, 2020. Disponível em: https://bahia.ba/mundo/conselheiro-da-onu-diz-que-gravidez- -na-adolescencia-e-fabrica-de-pobres-na-america-latina/. Acesso em: 16 jan. 2021.