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<p>Debate sobre Estado, Sociedade e Administração Pública</p><p>O termo Estado, derivado do latim status (estar firme), foi empregado, pela primeira vez como situação permanente de convivencia associada a sociedade politica na Obra O Principe, de Nicolau Maquiavel (Dallari, 2003).</p><p>De acordo com Bibbio (1987) e Bobbio & Bovero (1991), os argumentos que explicam a génese do Estado consolidam-se duas correntes. Na primeira encontram-se aqueles que defendem sua formação espontânea. Na segunda estão os que creem no seu advento por via contratual, referindo a racionalidade humana.</p><p>Para os teóricos não – contratualistas, a origem dos Estados pode ser explicada: a) pelo desenvolvimento interno da sociedade; b) por actos de força, violência ou conquista; c) pela ampliação dos núcleos familiares ou d) por motivações económicas – patrimoniais. O ultimo ponto abandona o raciocínio logico – dedutivo dos demais e busca em evidencias históricas sua fundamentação.</p><p>Depois de todas essas afirmações e teorias sobre estado, é possível encontrar um significado que atenda a todas correntes doutrinárias sobre o Estado, que define como a ordem jurídica e soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Nesta definição, encontramos atributos essenciais que são: soberania, território, povo e finalidade.</p><p>Como requisitos para a constituição estatal (Estado), aponta-se: a) existência de um governo formado por membros da elite política; b) uma tecno burocracia pública que se ocupa de sua administração; c) uma força policial e militar capaz de protegê-lo de inimigos externos e de levantes internos e d) um ordenamento impositivo que avança sobre o aparelho estatal e aplica-se a toda sociedade. O Estado representa, portanto, (...) uma organização burocrática ou aparelho que se diferencia essencialmente das demais organizações porque é a única que dispõe do poder extroverso de um poder político que ultrapassa os seus próprios limites organizacionais (Bresser Pereira, 1995, p. 8).</p><p>O debate sobre as definições de Estado e de sociedade é precedido pela dicotomia público-privado que permite a compreensão da sociedade como o campo das relações sociais não reguladas pelo Estado ou, ainda, tudo o que resta após a delimitação exata do poder estatal. Assim, em torno dessa definição rudimentar giram diferentes noções que identificam o não-estatal com o pré- estatal, o anti - estatal e o pós-estatal.</p><p>A visão pré-estatal vincula-se ao jusnaturalismo, quando os indivíduos agrupavam-se para garantir a satisfação de necessidades. Para a noção anti - estatal, a sociedade civil representa o lugar de onde emergem os contrapoderes, isto é, as iniciativas de transformação do padrão de dominação. Finalmente, a via pós-estatal sugere uma sociedade sem Estado, formada pela dissolução do poder político (Bobbio, 1987).</p><p>Observa-se, a partir dessas definições, que o emprego da expressão “sociedade” é diverso e, por vezes, contraditório. Para os jusnaturalistas, a sociedade representa a antítese da sociedade natural. Assim, ela expressa uma formação social artificial e política que, no limite, corresponde ao próprio Estado. Para alguns jusnaturalistas, o termo refere-se ao estágio posterior às sociedades bárbaras e selvagem. Dessa classe de pensadores exclui-se Rousseau. Em sua visão, a sociedade civil, embora civilizada, não constitui, necessariamente, um momento positivo do desenvolvimento humano.</p><p>Definições de sociedade e Estado exprimem a distinção entre um Estado inferior e um superior, na qual o primeiro deveria mediar os interesses privados e reprimir as ofensas ao direito instituído e o segundo, prover o bem comum, interferindo na distribuição do trabalho, na fiscalização dos costumes, na educação e na assistência social.</p><p>Gramsci compreende a sociedade como o lugar onde se formam o poder ideológico e os processos de legitimação do consenso social, que representa a fonte de poder da classe dominante (Bobbio, 1987; Bobbio & Bovero, 1991).</p><p>O pensamento de Habermas sobre a sociedade e a interpretação de suas ideias por outros autores permitem a compreensão da mesma como o mundo da vida, ou seja, como o meio onde se desenvolve a intersubjectividade. A sociedade abarca, portanto, instituições e formas associativas que dependem de interfaces comunicativas para a sua reprodução e para o seu desenvolvimento.</p><p>O Estado era percebido pelos liberais éticos como o reduto de uma elite patriótica que, devido à sua educação e às suas posses, poderia representar responsavelmente a nação, deliberando, racional e desinteressadamente, sobre o bem comum. Porém, o interesse próprio, que levou os indivíduos a buscarem vantagens no mercado, motivou-os a perseguirem seus objetivos, também por meios políticos.</p><p>A Administração pública é, em tese, tutelada, dirigida e subordinada a um conjunto de determinações institucionais e legais que a norteiam e estabelecem os limites da relação entre Estado e Sociedade.</p>