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<p>Indaial – 2020</p><p>Economia intErnacional</p><p>Prof.ª Andréa Oliveira Hopf Díaz</p><p>Prof. Diego Boehlke Vargas</p><p>Prof. José Alfredo Pareja Gómez de la Torre</p><p>1a Edição</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2020</p><p>Elaboração:</p><p>Prof.ª Andréa Oliveira Hopf Díaz</p><p>Prof. Diego Boehlke Vargas</p><p>Prof. José Alfredo Pareja Gómez de la Torre</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>Impresso por:</p><p>D542e</p><p>Díaz, Andréa Oliveira Hopf</p><p>Economia internacional. / Andréa Oliveira Hopf Díaz; Diego Boehlke</p><p>Vargas; José Alfredo Pareja Gómez de la Torre. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.</p><p>222 p.; il.</p><p>ISBN 978-85-515-0434-5</p><p>1. Relações econômicas internacionais. - Brasil. 2. Comércio internacional.</p><p>– Brasil. I. Díaz, Andréa Oliveira Hopf. II. Vargas, Diego Boehlke. III. Torre, José</p><p>Alfredo Pareja Gómez de la. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.</p><p>CDD 337</p><p>III</p><p>aprEsEntação</p><p>Olá, acadêmico! Seja bem-vindo aos estudos de Economia</p><p>Internacional. Esta é uma disciplina muito importante do curso de Ciências</p><p>Econômicas, mas que também é discutida em diversos outros cursos de</p><p>graduação e pós-graduação. Isso ocorre porque o tema da economia visto a</p><p>partir de seus aspectos internacionais envolve muitas áreas de aprendizagem.</p><p>Você já imaginou todos os fatores que podem estar envolvidos para</p><p>que a troca de produtos entre dois países ocorra? Desde a produção voltada</p><p>para a exportação ou a compra de matérias primas importadas. As teorias</p><p>econômicas que se preocupam com os tipos de produtos a serem exportados</p><p>e importados. As políticas comerciais que regem o fluxo internacional</p><p>de bens e serviços. O desenvolvimento econômico proporcionado pela</p><p>internacionalização das dinâmicas econômicas nacionais. Se a economia</p><p>interna de um país é bastante complexa, sua ampliação para o cenário</p><p>mundial torna-se um desafio!</p><p>São justamente estes temas citados que serão amplamente estudados</p><p>ao longo das páginas do Livro Didático de Economia Internacional.</p><p>Estudaremos, tanto as teorias da economia internacional, quanto as políticas</p><p>de comércio internacional, mas, também, a inserção brasileira no cenário</p><p>internacional. Para ajudá-lo com os estudos apresentados ao longo do livro,</p><p>dividiu-se o tema mais geral em três unidades, cada uma delas contando com</p><p>autoatividades de apoio. Fique atento à leitura!</p><p>A Unidade 1 do Livro foi dedicada às teorias fundamentais da</p><p>economia internacional, ou seja, vamos procurar entender o contexto mais</p><p>amplo desta área, com o amparo das abordagens teóricas de compreensão.</p><p>Do ponto de vista da ciência econômica é a partir do período conhecido por</p><p>mercantilismo que os fluxos internacionais do comércio são intensificados,</p><p>por isso que dedicamos algum tempo para relembrar este contexto histórico.</p><p>Contudo, o primeiro contato com uma teoria econômica internacional</p><p>será por meio de Adam Smith e David Ricardo, a partir da teoria das vantagens</p><p>absolutas e comparativas. Em seguida, estudaremos o modelo de Heckscher-</p><p>Ohlin, o qual insere-se na teoria neoclássica do comércio internacional. Além</p><p>dessas, ainda na Unidade 1, estudaremos outras abordagens do comércio</p><p>internacional. Faça anotações para não perder nada!</p><p>Na Unidade 2, o tema central é sobre a política comercial internacional,</p><p>que se preocupa com os aspectos políticos da economia internacional. Já</p><p>sabemos que a economia não funciona sem a compreensão política, não é</p><p>mesmo? Para o cenário internacional ocorre o mesmo. Portanto, estudaremos</p><p>IV</p><p>de que forma os países vêm se integrando economicamente uns com os outros,</p><p>bem como as barreiras tarifárias e não-tarifárias existentes. Para que o tema da</p><p>política internacional possa ser melhor captado é necessário, também, estudarmos</p><p>sobre as instituições e os organismos internacionais. Assim, poderemos analisar o</p><p>funcionamento do sistema mundial de comércio!</p><p>Já na Unidade 3 os temas são menos teóricos e mais relativos aos impactos</p><p>para o desenvolvimento econômico e social dos países a partir da dinâmica</p><p>internacional da economia. Quais são os atuais desafios à economia internacional?</p><p>Por que existe uma vulnerabilidade ao contexto externo? Quais as disparidades</p><p>do crescimento e desenvolvimento econômico dos países? Já mencionamos que</p><p>a economia internacional compreende diversas áreas de estudo. Procuraremos</p><p>inter-relacionar estes conhecimentos a partir das respostas a essas perguntas mais</p><p>amplas. E quanto ao Brasil? Qual sua importância no cenário internacional? Desde</p><p>qual momento histórico nossa economia é “internacionalizada”? Poderíamos</p><p>dizer que os estudos da economia internacional não têm fim, tanto do ponto de</p><p>vista teórico quanto prático e político.</p><p>As teorias e os temas abordados ao longo do Livro Didático são o principal</p><p>material para os seus estudos em Economia Internacional. Contudo, você verá</p><p>que ao longo das páginas deste livro são indicados, sites, bibliografias e muito</p><p>mais para que você possa ampliar ao máximo seus conhecimentos. Além disso,</p><p>as autoatividades garantem que o conteúdo estudado seja devidamente discutido</p><p>e aprendido. Portanto, não deixe de fazê-las e tirar as dúvidas posteriormente.</p><p>Desejamos ótimo estudos!</p><p>Prof.ª Andréa Oliveira Hopf Díaz</p><p>Prof. Diego Boehlke Vargas</p><p>Prof. José Alfredo Pareja Gómez de la Torre</p><p>V</p><p>Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para</p><p>você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há</p><p>novidades em nosso material.</p><p>Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é</p><p>o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um</p><p>formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.</p><p>O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova</p><p>diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também</p><p>contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.</p><p>Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,</p><p>apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade</p><p>de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.</p><p>Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para</p><p>apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto</p><p>em questão.</p><p>Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas</p><p>institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa</p><p>continuar seus estudos com um material de qualidade.</p><p>Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de</p><p>Desempenho de Estudantes – ENADE.</p><p>Bons estudos!</p><p>NOTA</p><p>VI</p><p>VII</p><p>Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela</p><p>um novo conhecimento.</p><p>Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro</p><p>que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá</p><p>contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,</p><p>entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.</p><p>Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>LEMBRETE</p><p>VIII</p><p>IX</p><p>UNIDADE 1 – TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ........................................................1</p><p>TÓPICO 1 – AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS ........................................3</p><p>1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3</p><p>2 A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA INTERNACIONAL ............................................................4</p><p>3 AS ORIGENS DO MERCANTILISMO ..............................................................................................7</p><p>de oferta.</p><p>Por fim, se o preço relativo é maior do que o custo de oportunidade do país</p><p>Estrangeiro (PQ/PV > aLQ*/aLV*), as duas economias irão se especializar na produção</p><p>de queijo. Não haverá produção de vinho, e a oferta de queijo será infinita.</p><p>E quanto à curva de demanda (RD)? Bom, ela revela que conforme o preço</p><p>relativo do queijo aumenta, menores serão as tendências de consumo do queijo e</p><p>maiores para vinho.</p><p>O preço relativo de equilíbrio é mostrado pelo Ponto 1, determinado pela</p><p>intersecção das curvas de oferta relativa e demanda relativa, quando os preços</p><p>estão numa posição anterior ao comércio entre os dois países. Cada país irá se</p><p>especializar na produção do bem que possui maior vantagem comparativa: o país</p><p>Local produz apenas queijo e o país Estrangeiro apenas vinho.</p><p>Agora, no Ponto 2, havendo o comércio internacional, o preço mundial do</p><p>queijo é igual ao custo de oportunidade do país Local do queijo em termos do vinho.</p><p>Assim, o país Local, como vimos, não precisa especializar-se na produção de queijo</p><p>ou de vinho. Uma vez que PQ/PV está abaixo do custo de oportunidade do queijo,</p><p>o país Estrangeiro irá especializar-se totalmente na produção de vinho, pois possui</p><p>maiores vantagens comparativas. O resultado é que com a elevação do preço</p><p>internacional do queijo faz com que o país Local se especialize na produção de</p><p>queijo; a queda no preço internacional do queijo faz com que o país Estrangeiro</p><p>es especialize na produção de vinho. O efeito desta convergência de preços é que</p><p>cada país se especializará na produção do bem que exija unidades de trabalho</p><p>relativamente menores. Como podemos perceber os ganhos com o comércio</p><p>internacional? O gráfico a seguir pode nos ajudar a visualizar esta situação.</p><p>GRÁFICO 4 – EXPANSÃO DAS POSSIBILIDADES DE CONSUMO</p><p>Quantidade</p><p>de vinho, Qv</p><p>Quantidade</p><p>de vinho, Q*v</p><p>Quantidade</p><p>de queijo, QQ</p><p>Quantidade</p><p>de queijo, Q*Q(a) Local (b) Estrangeiro</p><p>T</p><p>P</p><p>P* T*F</p><p>F*</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001. p. 22)</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>30</p><p>A especialização do país Local resulta no ponto F da parte (a) do Gráfico</p><p>4. Já a especialização do país Estrangeiro resulta no ponto F* da Gráfico 4. Os</p><p>ganhos de comércio ocorrem, pois, o comércio internacional permite que o país</p><p>Local e o país Estrangeiro tenham seus consumos aumentados para qualquer</p><p>lugar ao longo das linhas mais à direita nos gráficos (linhas TF e F*T*).</p><p>Estas linhas refletem as possibilidades de consumo de cada um dos</p><p>países. Sem o comércio internacional as possibilidades de consumo são iguais às</p><p>possibilidades de produção apresentadas pelas linhas sólidas mais à esquerda</p><p>(PF e P*F*).</p><p>Agora, quando o comércio internacional ocorre, cada economia poderá</p><p>consumir uma combinação de vinhos e queijos diferente daquela produzida, pois</p><p>será complementada com a produção do país cujos produtos serão importados.</p><p>Neste caso, as possibilidades de consumo serão aumentadas para as linhas mais</p><p>à direita (TF e F*T*). Na parte (a) do gráfico, a linha TF indica as possibilidades</p><p>de consumo do país Local, com maior quantidade de vinho disponível para o</p><p>consumo do que sem o comércio internacional. Na parte (b) do gráfico, a linha F*T*</p><p>indica as possibilidades de consumo do país Estrangeiro, com maior quantidade</p><p>de queijo disponível para o consumo do que sem o comércio internacional.</p><p>Em cada caso, o comércio internacional propiciou o aumento das opções de</p><p>consumo, e, portanto, deve suprir melhor as necessidades da população de cada</p><p>um dos países (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Desta forma, ao longo dos estudos deste item, foi possível entendermos</p><p>o conceito das vantagens comparativas desenvolvido por David Ricardo. Para</p><p>avançarmos nosso conhecimento, no próximo item veremos com detalhes como</p><p>se desenvolve a chamada teoria neoclássica da economia internacional.</p><p>3 INSTRUMENTOS E GANHOS DO COMÉRCIO NA TEORIA</p><p>NEOCLÁSSICA: O MODELO HECKSCHER-OHLIN</p><p>O que pudemos compreender até aqui com base no modelo clássico</p><p>ricardiano diz respeito às vantagens comparativas entre os países surgirem</p><p>devido às diferenças internacionais da mão de obra. Contudo, nas economias</p><p>reais, as diferenças entre os países também ocorrem pelos recursos existentes em</p><p>cada território. Portanto, embora as trocas comerciais entre os países decorram</p><p>das diferenças entre a produtividade da mão de obra, elas também resultam da</p><p>quantidade e do tipo de fatores de produção existentes, tais como terra, capital e</p><p>recursos minerais.</p><p>Por meio desta perspectiva, estudaremos aqui uma das teorias mais</p><p>importantes da economia internacional, que defende a ideia de que o comércio</p><p>internacional é conduzido basicamente por diferenças entre os recursos dos</p><p>países. Neste modelo, as vantagens comparativas são influenciadas pela interação</p><p>entre os recursos de um território, bem como pela tecnologia empregada na</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>31</p><p>3.1 UM MODELO COM DOIS FATORES DE PRODUÇÃO</p><p>Iremos assumir daqui em diante que existam duas economias e que cada</p><p>uma delas pode produzir dois bens, sendo que cada um dos bens requer dois</p><p>fatores ou recursos iguais para serem produzidos. Por exemplo, tecido e alimento.</p><p>Cada um dos países produz os dois bens, e os dois bens utilizam os fatores de</p><p>produção terra e mão de obra para serem produzidos. Os tecidos são medidos</p><p>em metros, os alimentos em calorias, a mão de obra mediremos em horas e a terra</p><p>em alqueires.</p><p>Primeiro, veremos o caso de apenas um dos países com a utilização de dois</p><p>fatores de produção para depois nos perguntarmos o que ocorre quando as duas</p><p>economias comercializam entre si. Assim, podemos definir as seguintes expressões:</p><p>• aTT = alqueires de terra utilizados na produção de um metro de tecido;</p><p>• aLT = horas de trabalho utilizadas na produção de um metro de tecido;</p><p>• aTA = alqueires de terra utilizados para produzir uma caloria de alimento;</p><p>• aLA = horas de mão de obra utilizadas para produzir uma caloria de alimento;</p><p>• L = oferta de mão de obra da economia;</p><p>• T = oferta de terra da economia.</p><p>É importante perceber que as horas de trabalho ou alqueires se referem</p><p>àqueles realmente utilizados na produção, dando margem para que cada</p><p>produtor defina qual a quantidade de recursos pretende utilizar para cada bem.</p><p>O gráfico a seguir mostra as possíveis escolhas entre combinações de insumos</p><p>para a produção de uma caloria de alimento.</p><p>produção. Ou seja, as vantagens comparativas recebem influência da abundância</p><p>de recursos e da intensidade pela qual os diferentes recursos são transformados</p><p>no processo produtivo (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>A chamada teoria de Heckscher-Ohlin foi desenvolvida por dois economistas</p><p>suecos, Eli Heckscher e Bertil Ohlin, e representa o início da abordagem neoclássica da</p><p>economia internacional. Esta teoria dá ênfase à lógica entre as proporções existentes</p><p>de fatores de produção em países diferentes, bem como às proporções de utilização</p><p>destes fatores na produção de bens diversos, por isso também é chamada de teoria</p><p>das proporções dos fatores (KRUGMAN; OBSTFLED, 2001).</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>32</p><p>GRÁFICO 5 – POSSIBILIDADES DE INSUMOS NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS</p><p>Unidades do insumo terra,</p><p>aTA, em alqueires por caloria</p><p>Combinações de insumos</p><p>que produzem uma caloria</p><p>de alimento</p><p>Unidades do insumo</p><p>mão-de-obra, aLA, em horas</p><p>por caloria</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 71)</p><p>Um agricultor que cultiva alimentos poderia escolher produzir com</p><p>menos alqueires de terra se tivesse mais mão de obra disponível ou o inverso.</p><p>Esta escolha depende dos custos relativos da terra e da mão de obra. Se w é o</p><p>salário pago por hora de trabalho, e r é o custo de um alqueire de terra, então a</p><p>escolha dos insumos utilizados na produção depende da relação entre salários e</p><p>custos (w/r), ou seja, depende da relação entre os preços dos fatores.</p><p>Por sua vez, a relação entre o preço dos fatores (w/r) e a proporção terra/</p><p>mão de obra utilizada na produção de alimentos</p><p>pode ser visualizada na curva</p><p>AA do Gráfico 6.</p><p>GRÁFICO 6 – PREÇO DOS FATORES E ESCOLHA DE INSUMOS</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 72)</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>33</p><p>Do mesmo modo, é possível perceber uma relação correspondente entre</p><p>w/r e a proporção terra/mão de obra utilizada na produção de tecidos (curva TT).</p><p>Como a curva TT encontra-se à esquerda da curva AA, para quaisquer preços de</p><p>fatores na produção de alimentos, a proporção terra/mão de obra utilizadas na</p><p>produção de tecidos será sempre menor.</p><p>Quando isso ocorre, dizemos que a produção de alimentos é terra-</p><p>intensiva, e a produção de tecidos é trabalho-intensiva.</p><p>Em cada setor, a razão terra-trabalho utilizada na produção depende da relação</p><p>entre o custo da mão de obra e o custo da terra, w/r. A curva AA mostra as escolhas da razão</p><p>terra/mão de obra na produção de alimentos e a curva TT, as escolhas correspondentes na</p><p>produção de tecidos. Para uma dada razão salário-renda, a produção de alimentos utiliza</p><p>uma razão terra-trabalho mais alta; quando este é o caso, dizemos que a produção de</p><p>alimentos é terra-intensiva e a produção de tecidos é trabalho-intensiva (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD, 2001, p. 72).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Uma outra relação está demonstrada no gráfico a seguir. Supondo que</p><p>uma economia produz os dois bens, tecidos e alimentos, e não realiza comércio</p><p>internacional, os preços dos bens tendem a igualar aos custos de produção.</p><p>GRÁFICO 7 – PREÇO DE FATORES E PREÇOS DE BENS</p><p>Preço relativo de</p><p>tecido, PT/PA</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 72)</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>34</p><p>Dado que a produção de tecidos é trabalho-intensiva, enquanto a produção de</p><p>alimentos é terra-intensiva, existe uma relação unívoca entre a razão dos preços dos fatores</p><p>w/r e o preço relativo do tecido P</p><p>T</p><p>/P</p><p>A</p><p>; quanto mais alto for o custo da mão de obra, mais</p><p>alto será o preço relativo do bem trabalho-intensivo (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 72).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Após analisar as informações contidas nos dois gráficos anteriores de</p><p>forma separada, é possível uni-las em um só gráfico para demonstrar a ligação</p><p>entre preços dos bens e proporção terra/mão de obra utilizada na produção de</p><p>cada bem. Veja o gráfico a seguir. Note que a curva do gráfico anterior foi girada</p><p>em 90 graus em sentido anti-horário.</p><p>GRÁFICO 8 – DOS PREÇOS DOS FATORES ÀS ESCOLHAS DE INSUMOS</p><p>Razão salário - aluguel,</p><p>w/r</p><p>TT</p><p>SS</p><p>AA</p><p>w/r²</p><p>w/r¹</p><p>T</p><p>T</p><p>/L</p><p>T</p><p>¹P</p><p>T</p><p>/P</p><p>A</p><p>²</p><p>Crescente Crescente</p><p>P</p><p>T</p><p>/P</p><p>A</p><p>¹ T</p><p>T</p><p>/L</p><p>T</p><p>² T</p><p>A</p><p>/L</p><p>A</p><p>¹ T</p><p>A</p><p>/L</p><p>A</p><p>² Promoção</p><p>terra/mão-de-obra,</p><p>T/L</p><p>Preço relativo do</p><p>tecido P</p><p>T</p><p>/P</p><p>A</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 73)</p><p>A importância do preço de um fator de produção em relação ao custo de</p><p>alimentos ou tecidos depende do quanto este fator está envolvido na produção</p><p>de cada bem. Desta forma, se o aluguel da terra é mais alto, quanto maior</p><p>a participação do fator terra na produção de um bem, maior será o preço dos</p><p>produtos finais. Se a produção de tecido utiliza pouco recurso terra, o aumento</p><p>do preço do recurso terra não terá impacto tão alto no preço do metro de tecido,</p><p>que é intensivo em trabalho. Isto é mostrado por meio da curva SS na Gráfico 7:</p><p>“há uma relação unívoca entre a razão salário/aluguel, w/r, e a razão do preço</p><p>do tecido e o preço do alimento, PT/PA” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 72).</p><p>A relação é unívoca porque possui apenas um significado, ou seja, sem equívoco:</p><p>por exemplo, quanto mais alto for o custo da mão de obra, mais alto será o preço</p><p>relativo do bem trabalho-intensivo.</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>35</p><p>Vamos analisar as informações contidas no Gráfico 8: se o preço relativo</p><p>do tecido for PT/PA</p><p>1, quando a economia produz ambos os bens, a razão salário/</p><p>aluguel será w/r1, e a proporção terra/mão de obra para os tecidos será TT/LT</p><p>1 e para</p><p>os alimentos, TA/LA</p><p>1. Agora, se o preço relativo do tecido aumentasse para PT/PA</p><p>2, a</p><p>razão salário/aluguel da terra aumentaria até w/r2. Uma vez que a terra é, na posição</p><p>2, relativamente mais barata, as proporções de terra para a mão de obra empregadas</p><p>na produção de tecidos e alimentos deveriam crescer para TT/LT</p><p>2 e TA/LA</p><p>2.</p><p>Assim, a parte esquerda do Gráfico 8 mostra que um incremento no preço</p><p>relativo do tecido em relação ao do alimento aumentará a renda dos trabalhadores</p><p>em relação a renda dos donos de terra (w/r). Ou ainda: um incremento no preço</p><p>relativo do tecido em relação ao do alimento incrementará o poder de compra dos</p><p>trabalhadores (maiores salários) e diminuirá o poder de compra dos proprietários</p><p>de terra (aluguel), por meio do aumento dos salários reais e da redução dos</p><p>aluguéis reais em termos de ambos os bens (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Perceba que esse aumento do salário real se dá porque o emprego de mais</p><p>terra por trabalhador implica em um aumento da produtividade por trabalhador.</p><p>Assim como você aprendeu no estudo do equilíbrio do mercado de trabalho em</p><p>macroeconomia, o salário real é sempre igual à produtividade marginal do trabalho.</p><p>Esta relação revela a modificação da distribuição de renda quando os preços</p><p>relativos dos bens sofrem alteração, fazendo com que os proprietários de um fator de produção</p><p>melhorem enquanto os proprietários de outro fator de produção piorem economicamente.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Para completar a análise de uma economia de dois fatores, vamos descrever</p><p>a relação existente entre o preço dos bens, as ofertas de fatores e a produção.</p><p>Quando temos o preço relativo de tecido como dado, sabemos que ele</p><p>determina a razão salário-aluguel, w/r, e a proporção terra/mão de obra utilizada</p><p>na produção tanto de tecidos como de alimentos. De que forma a economia</p><p>utiliza plenamente os recursos de produção? Qual a alocação de recursos entre as</p><p>indústrias e sua produção? Para isto, é comum utilizarmos o chamado “diagrama</p><p>da caixa”, conforme o do Gráfico 9.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>36</p><p>GRÁFICO 9 – DIAGRAMA DA CAIXA: A ALOCAÇÃO DE RECURSOS</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 75)</p><p>Enquanto a altura da caixa representa a oferta total de terra na economia,</p><p>a largura representa a oferta total de mão de obra da economia. Assim, a alocação</p><p>de recursos entre as indústrias é representada pelo Ponto 1. Desde o canto inferior</p><p>esquerdo (OT) até LT, temos o uso de mão de obra na produção de tecidos; de OT</p><p>até TT, o uso de terra na produção de tecidos. Para o setor de alimentos precisamos</p><p>partir do canto superior direito: desde OA até LA temos o uso de mão de obra na</p><p>produção de alimentos; de OA até TA, o uso de terra na produção de alimentos.</p><p>As linhas T e A são desenhadas com base na inclinação que iguala terra/</p><p>mão de obra para cada indústria, cuja intersecção — o momento no qual as linhas</p><p>se cruzam — revela a alocação de recursos na economia. Cabe perceber que a linha</p><p>relativa à indústria de alimentos é mais inclinada do que a de tecidos, uma vez que</p><p>a proporção terra/mão de obra é maior na indústria de alimentos do que na tecidos.</p><p>Qual será o efeito na alocação dos recursos quando os recursos de</p><p>produção se alteram? O que aconteceria se mais terra fosse disponibilizada para</p><p>a produção em uma economia? Esta situação é o que mostra o gráfico a seguir.</p><p>Crescente</p><p>Mão-de-obra usada na produção de alimentos</p><p>C</p><p>rescente</p><p>Terra utilizada na produçãode alim</p><p>entos</p><p>C</p><p>re</p><p>sc</p><p>en</p><p>te</p><p>Te</p><p>rr</p><p>a</p><p>us</p><p>ad</p><p>a</p><p>na</p><p>p</p><p>ro</p><p>du</p><p>çã</p><p>o</p><p>de</p><p>te</p><p>ci</p><p>do</p><p>s</p><p>Mão-de-obra utilizada na produção de tecidos</p><p>LA</p><p>TATT</p><p>OT</p><p>T</p><p>A</p><p>1</p><p>LT</p><p>Crescente</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>37</p><p>GRÁFICO 10 – AUMENTO NA OFERTA DE TERRA</p><p>Com a oferta de terra ampliada, a quantidade de terra utilizada na</p><p>produção é medida, agora, a partir de OA</p><p>2, e a linha da proporção terra/mão de</p><p>obra é A2, movendo a alocação de recursos entre as indústrias para o Ponto 2.</p><p>Qual análise é possível realizar a partir da mudança na oferta de terra</p><p>pela economia? Bom, as quantidades de mão de obra e terra empregadas</p><p>na</p><p>produção de tecidos caem para LT</p><p>2 e LA</p><p>2, diminuindo, também, a produção dos</p><p>bens que são trabalho-intensivos, neste caso, os tecidos. Os recursos de produção</p><p>que não são mais utilizados na produção de tecidos, passam a serem utilizados</p><p>na produção de alimentos. Como a indústria de alimentos é terra-intensiva, sua</p><p>produção sofre um incremento mais do que proporcional ao aumento da oferta</p><p>de terra. Perceba que o aumento do emprego do fator terra é acompanhado de um</p><p>aumento do emprego de trabalho em alimentos, na mesma proporção da queda</p><p>do emprego em tecidos. Há apenas uma realocação.</p><p>As alterações das curvas de possibilidades de produção da economia</p><p>refletem muito bem a mudança da oferta dos recursos de produção. Veja o Gráfico</p><p>11. A curva de possibilidade de produção TT1 se refere ao momento anterior à</p><p>mudança da oferta de terra: a produção encontra-se distribuída no Ponto 1, com</p><p>QT</p><p>1 de tecidos e QA</p><p>1 de alimentos. Já a curva TT2 mostra as possibilidades de</p><p>produção com a nova oferta de terra.</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 76)</p><p>Crescente</p><p>Mão-de-obra utilizada na produção de alimentos</p><p>Mão-de-obra utilizada na produção de tecidos</p><p>L²A L¹A O²A</p><p>O¹A</p><p>T¹A</p><p>T¹T</p><p>T²A</p><p>T²T</p><p>L²T L¹T</p><p>A¹A²</p><p>2 1</p><p>C</p><p>re</p><p>sc</p><p>en</p><p>te</p><p>Te</p><p>rr</p><p>a</p><p>ut</p><p>ili</p><p>za</p><p>da</p><p>n</p><p>a</p><p>pr</p><p>od</p><p>uç</p><p>ão</p><p>d</p><p>e</p><p>te</p><p>ci</p><p>do</p><p>s</p><p>C</p><p>rescente</p><p>Terra utilizada na produção de alim</p><p>entos</p><p>Crescente</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>38</p><p>GRÁFICO 11 – RECURSOS E POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO</p><p>Produção de</p><p>alimentos, QA</p><p>Produção de</p><p>alimentos, QA</p><p>Produção de</p><p>tecidos, QT</p><p>inclinação = –PT/PA</p><p>inclinação</p><p>= –PT/PA</p><p>1</p><p>TT¹</p><p>Q¹TQ²T</p><p>Q¹A</p><p>Q²A</p><p>TT²</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 77)</p><p>Com o deslocamento da curva de TT1 para TT2 a economia pode produzir</p><p>maior quantidade de alimentos e de tecidos, e a produção encontra-se distribuída</p><p>entre as indústrias no Ponto 2. Contudo, o deslocamento é muito maior na direção</p><p>dos alimentos do que na dos tecidos. É que o chamamos de uma expansão</p><p>enviesada das possibilidades de produção. Mantendo-se o preço do tecido</p><p>constante (indicado pela inclinação - PT/PA), do Ponto 1 para o Ponto 2, houve uma</p><p>queda real da produção de tecidos (de QT</p><p>1 para QT</p><p>2) e um incremento grande na</p><p>produção real de alimentos (de QA</p><p>1 para QA</p><p>2).</p><p>O efeito enviesado dos incrementos dos recursos nas possibilidades de</p><p>produção é a chave para entender como as diferenças em recursos aumentam o comércio</p><p>internacional. Um aumento na oferta de terra expande as possibilidades de produção de</p><p>forma desproporcional na direção da produção de alimentos, enquanto um aumento</p><p>na oferta de mão de obra expande a produção de forma desproporcional na direção da</p><p>produção de tecidos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 77).</p><p>IMPORTANTE</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>39</p><p>Uma das grandes conclusões que este modelo pode nos dar é que uma</p><p>economia com alta proporção de terra/mão de obra disponível irá ser mais</p><p>eficiente na produção de alimentos, ou de outros bens que também utilizem</p><p>maior proporção deste recurso, do que as economias com baixa proporção de</p><p>terra/mão de obra.</p><p>Uma economia com alta proporção de terra/mão de obra será mais</p><p>eficiente produzindo bens terra-intensivos e uma economia com baixa proporção</p><p>de terra/mão de obra será mais eficiente produzindo bens trabalho-intensivos.</p><p>“Em termos gerais, uma economia tende a ser relativamente eficaz na produção</p><p>de bens que são intensivos no fator com o qual o país é relativamente bem-</p><p>dotado” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 77).</p><p>Pois bem, agora que já compreendemos a estrutura de produção de uma</p><p>economia com dois fatores de produção, poderemos avaliar o que ocorre quando</p><p>as duas economias decidem realizar comércio entre si.</p><p>3.2 EFEITOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE</p><p>ECONOMIAS DE DOIS FATORES</p><p>Nesta análise, as duas economias, a doméstica e a estrangeira, continuam</p><p>possuindo muitas similaridades entre si: os mesmos gostos e as mesmas</p><p>demandas relativas por alimentos e tecidos; a mesma tecnologia, sendo que certa</p><p>quantidade de terra gera a mesma quantidade de alimentos em ambos os países,</p><p>bem como certa quantidade de mão de obra gera a mesma quantidade de tecidos.</p><p>A diferença entre a economia doméstica e a estrangeira diz respeito aos seus</p><p>recursos disponíveis: a economia doméstica tem uma proporção maior de mão de</p><p>obra em relação à terra do que a estrangeira. Ou seja, a economia doméstica é</p><p>abundante em mão de obra e a economia estrangeira é abundante em terra.</p><p>Cabe destacar que a abundância é sempre definida em termos relativos,</p><p>pois comparamos a proporção entre mão de obra e terra nos dois países. Assim,</p><p>nenhum país é abundante em tudo. Não importa a quantidade total de trabalhadores</p><p>disponíveis, mas a relação entre o número de trabalhadores por hectares de terra.</p><p>A abundância diz respeito às disponibilidades relativas de fatores. Imagine que</p><p>no Brasil existem 50 milhões de trabalhadores e 100 milhões de hectares de terra, e na</p><p>China, 120 milhões de trabalhadores e 360 milhões de hectares. O Brasil será abundante em</p><p>terra (pois, 50/100=0,50) mesmo tendo menos terra do que a China (pois, 120/360=0,33).</p><p>ATENCAO</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>40</p><p>O gráfi co a seguir irá nos ajudar a compreender a formação dos preços</p><p>relativos, o padrão do comércio e a convergência dos preços relativos com o</p><p>comércio mundial.</p><p>GRÁFICO 12 – CONVERGÊNCIA DOS PREÇOS RELATIVOS</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 79)</p><p>A curva RS* representa a oferta relativa da economia estrangeira e a curva</p><p>RS representa a oferta relativa da economia doméstica. A demanda relativa de</p><p>ambos os países é mostrada na curva RD, pois assumimos que as economias</p><p>possuem os mesmos gostos.</p><p>A oferta relativa de tecidos da economia doméstica está mais à direita do</p><p>que da economia estrangeira, uma vez que a economia doméstica é abundante</p><p>em mão de obra.</p><p>Quando não há comércio internacional entre os países, os equilíbrios de</p><p>mercado estariam nos Pontos 1 e 3 do Gráfi co 12. O Ponto 1 se refere ao cruzamento</p><p>entre as curvas de demanda relativa e oferta relativa da economia doméstica. O</p><p>Ponto 3 se refere ao cruzamento entre as curvas de demanda relativa e oferta</p><p>relativa da economia estrangeira. Assim, o preço relativo dos tecidos seria menor</p><p>na economia doméstica do que na estrangeira.</p><p>Agora, quando as duas economias comercializam entre si, os seus preços</p><p>relativos convergem a um ponto comum. O comércio internacional leva a um preço</p><p>relativo mundial, que se situa entre os preços que vigoravam antes do comércio</p><p>internacional. O preço relativo mundial poderia ser aquele expresso pelo Ponto 2.</p><p>Quantidade relativa</p><p>dos tecidos QT + Q*T</p><p>QA + Q*A</p><p>Preço relativo</p><p>dos tecidos, PT/PA</p><p>RD</p><p>RS</p><p>RS*</p><p>3</p><p>1</p><p>2</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>41</p><p>O preço relativo dos tecidos aumenta na economia doméstica e diminui na</p><p>economia estrangeira. Dessa forma, na economia doméstica haverá um aumento</p><p>na produção de tecidos, mas um declínio no consumo relativo interno, levando</p><p>a economia doméstica tornar-se uma exportadora de tecidos e importadora de</p><p>alimentos. Por sua vez, na economia estrangeira haverá um aumento no consumo</p><p>relativo interno de tecidos, levando a economia estrangeira tornar-se uma</p><p>importadora de tecidos e exportadora de alimentos. O que conseguimos aprender</p><p>sobre o padrão de comércio com base nas trocas comerciais?</p><p>• A economia doméstica é abundante em mão de obra e a economia estrangeira</p><p>é abundante em terra, porque a proporção de mão de obra em relação à terra é</p><p>maior na economia doméstica do que na estrangeira.</p><p>• Os tecidos são intensivos em mão de obra porque sua produção utiliza maior</p><p>proporção de mão de obra em relação à terra do que os alimentos; os alimentos</p><p>são intensivos em terra porque sua produção utiliza maior proporção de terra</p><p>em relação à mão de obra do que os tecidos.</p><p>• A economia doméstica exporta tecidos (o produto intensivo em mão de obra)</p><p>porque é abundante em mão de obra; a economia estrangeira exporta alimentos</p><p>(o produto intensivo em terra) porque é abundante em terra (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD, 2001).</p><p>A regra geral da teoria de Heckscher-Ohlin é: os países tendem a exportar</p><p>bens cuja produção é intensiva em fatores com os quais eles são favorecidos em abundância.</p><p>NOTA</p><p>Além destas constatações, um outro aprendizado diz respeito ao padrão</p><p>de comércio e a distribuição de renda. Lembre-se de que já destacamos que a</p><p>especialização da produção revela a modificação da distribuição de renda quando</p><p>os preços relativos dos bens sofrem alteração, fazendo com que os proprietários</p><p>de um fator de produção melhorem enquanto os proprietários de outro fator de</p><p>produção piorem economicamente.</p><p>O comércio internacional tem um impacto significativo na distribuição</p><p>de renda dos países. Na economia doméstica, na qual o preço relativo dos</p><p>tecidos aumenta, as pessoas que têm a mão de obra como fonte de renda serão</p><p>beneficiadas com o comércio internacional, mas as que tem a terra como fonte de</p><p>renda ficarão em pior situação. Por outro lado, na economia estrangeira, na qual o</p><p>preço relativo dos tecidos diminui, as pessoas que têm a mão de obra como fonte</p><p>de renda serão prejudicadas com o comércio internacional, mas as que tem a terra</p><p>como fonte de renda ficarão em uma situação de bem-estar econômico melhor.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>42</p><p>A conclusão da teoria de Heckscher-Ohlin sobre os efeitos do comércio</p><p>internacional sobre a distribuição de renda é: os proprietários dos fatores abundantes de</p><p>um país ganham com o comércio internacional, mas, os proprietários dos fatores escassos</p><p>de um país perdem em decorrência do comércio internacional.</p><p>IMPORTANTE</p><p>O efeito do comércio internacional sobre a distribuição de renda de uma</p><p>economia é um tema bastante importante dentro do debate sobre a internacionalização</p><p>dos mercados. Quando falamos sobre a distribuição de renda entre terra, capital e</p><p>mão de obra, constatamos que os efeitos são mais ou menos permanentes, uma vez</p><p>que a estrutura econômica formada não é facilmente dissolvida.</p><p>Um exemplo estaria nos setores econômicos com empregos menos</p><p>qualificados nos países com abundância de mão de obra altamente qualificada.</p><p>Tais economias precisam contar com políticas específicas para a proteção destes</p><p>setores econômicos com empregos menos qualificados para que sua população</p><p>não seja ainda mais afetada.</p><p>A Unidade 2 deste livro didático contará com tópicos específicos sobre a</p><p>Política do Comércio Internacional. Não deixe de conferir!</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Chegando ao final da leitura deste tópico, revise os temas mais importantes</p><p>com a ajuda dos itens a seguir. Depois disto, não deixe de realizar as autoatividades!</p><p>O recurso de que o país tem oferta relativamente grande (mão de obra na</p><p>economia doméstica, terra na economia estrangeira) é o fator abundante</p><p>naquele país, e o recurso cuja oferta é relativamente pequena (terra no</p><p>Local e mão de obra no Estrangeiro) é o fator escasso (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD, 2001, p. 80).</p><p>43</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A teoria das vantagens comparativas mostra que o comércio entre dois países</p><p>pode beneficiar ambos os países, se cada um produzir os bens nos quais possui</p><p>vantagens comparativas.</p><p>• A lei da vantagem comparativa foi introduzida com a publicação da obra clássica</p><p>de David Ricardo em 1817.</p><p>• O custo de oportunidade de produção de um produto se dá pela relação entre</p><p>as horas de trabalho necessárias para a produção de um e outro produto.</p><p>• Uma economia terá a especialidade da produção de um produto se o seu preço</p><p>relativo exceder seu custo de oportunidade.</p><p>• As vantagens comparativas levam em conta as necessidades de trabalho dos</p><p>produtos produzidos em cada país que deseja realizar comércio.</p><p>• Para determinar os preços dos produtos comercializados entre os países é preciso</p><p>levar em conta a oferta e demanda relativas entre os países.</p><p>• O efeito da convergência de preços internacionais é que cada país se especializará</p><p>na produção do bem que exija unidades de trabalho relativamente menores.</p><p>• Os ganhos de comércio ocorrem porque o comércio internacional permite que</p><p>os países que realizam comércio tenham seus consumos internos aumentados.</p><p>• No modelo de Heckscher-Ohlin as vantagens comparativas recebem influência</p><p>da abundância de recursos e da intensidade pela qual os diferentes recursos</p><p>são transformados no processo produtivo.</p><p>• Quando um produto utiliza mais terra do que trabalho dizemos que o produto</p><p>é terra-intensivo.</p><p>• Quando um produto utiliza mais trabalho do que terra dizemos que o produto</p><p>é trabalho-intensivo.</p><p>• O efeito enviesado do incremento dos recursos nas possibilidades de produção</p><p>mostra que com um aumento na oferta de um recurso há uma expansão de forma</p><p>desproporcional na direção na produção de um produto que utiliza este recurso.</p><p>• Uma economia tende a ser relativamente eficaz na produção de bens que são</p><p>intensivos no fator com o qual o país é relativamente bem-dotado.</p><p>44</p><p>1 No modelo ricardiano, em uma economia com apenas um fator de produção,</p><p>a decisão sobre qual produto deve ser produzido depende do custo de</p><p>oportunidade de um produto em termos do outro e dos preços relativos.</p><p>Explique esta noção.</p><p>2 Qual a diferença entre vantagem absoluta e vantagem comparativa de</p><p>produção?</p><p>3 Como ocorrem os ganhos de comércio a partir do modelo ricardiano?</p><p>4 A teoria de Heckscher-Ohlin também é chamada de teoria das proporções</p><p>dos fatores. Explique o porquê.</p><p>5 Qual a diferença entre uma produção que é terra-intensiva de uma trabalho-</p><p>intensiva?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>45</p><p>TÓPICO 3</p><p>ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Estamos quase chegando ao fim da primeira unidade do Livro Didático</p><p>de Economia Internacional. Por isso, antes de concluirmos o aprendizado sobre</p><p>as teorias do comércio internacional, veremos algumas abordagens e reflexões</p><p>mais atuais, como forma de complementar as teorias aqui discutidas.</p><p>Primeiramente, veremos o caso de uma aplicação dos instrumentos da</p><p>economia internacional na análise de dois países, tanto quando não há comércio</p><p>entre eles, quanto na situação em que o comércio entre os países ocorre. Assim,</p><p>com ajuda dos conceitos básicos de microeconomia de oferta e demanda, veremos</p><p>a formação de preços e os ganhos e perdas no comércio mundial de um país</p><p>exportador, antes e após o comércio, bem como se realiza a formação de preços e</p><p>os ganhos e perda no comércio mundial de um país importador.</p><p>Após a análise desta situação mais simples de comércio internacional,</p><p>nos dedicaremos em apresentar as noções básicas do Índice de Complexidade</p><p>Econômica, que analisa a relação entre especialização da produção dos países. Por</p><p>meio desta perspectiva, veremos que a densidade da complexidade econômica</p><p>traz uma explicação sobre os níveis de desenvolvimento de cada território. Tenha</p><p>uma ótima leitura e estudo!</p><p>2 UMA APLICAÇÃO SIMPLES DA ECONOMIA INTERNACIONAL</p><p>Quem ganha e quem perde com o livre comércio entre países? Como</p><p>os ganhos se comparam com as perdas? Quais as perdas e ganhos de um país</p><p>importador? Quais as perdas e ganhos de um país exportador?</p><p>Estas perguntas sempre foram relevantes para a compreensão da economia</p><p>mundial. Desde que a ampliação geográfica da economia permitiu que economias</p><p>comercializassem entre si, a discussão da forma pela qual o comércio deveria</p><p>ocorrer esteve na pauta do debate teórico e, também, político. Na dinâmica dos</p><p>mercados globalizados, o estudo deste tema é cada vez mais pertinente.</p><p>46</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Basta olharmos para a etiqueta de nossas roupas para perceber que o</p><p>setor econômico têxtil raramente tem suas etapas de produção concentradas</p><p>em apenas um país. Se por muitos anos alguns municípios do Estado de Santa</p><p>Catarina concentraram a produção têxtil do Brasil, ou outros municípios, no</p><p>Rio Grande do Sul, a produção calçadista,</p><p>com a dinâmica da globalização das</p><p>economias, estes setores foram totalmente reestruturados. A dinâmica economia</p><p>internacional constantemente afeta as estruturas nacionais de produção. Muitas</p><p>dessas e outras empresas, demitiram funcionários, fecharam parques industriais</p><p>brasileiros, e passaram a importar peças semiacabadas.</p><p>Para conhecer melhor os efeitos no mercado brasileiro relacionados à dinâmica</p><p>da globalização, não deixe de assistir ao documentário O mundo global visto do lado</p><p>de cá, do cineasta brasileiro Silvio Tendler. Além desse tema, você conhecerá um pouco</p><p>sobre o geógrafo brasileiro Milton Santos, cuja contribuição para a economia foi bastante</p><p>importante. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM.</p><p>DICAS</p><p>Para analisarmos como o mercado internacional promove os ganhos de</p><p>comércio e como os ganhos são distribuídos entre os agentes econômicos, iremos</p><p>exemplificar a partir do setor têxtil, uma vez que este setor está presente em</p><p>muitos lugares e seu comércio é relevante em todo o mundo.</p><p>O objetivo aqui é apresentar um modelo um pouco mais simples, mas</p><p>com maior similaridade ao mundo real de produção. Assim, nosso exemplo será</p><p>sobre o mercado de tecidos do país chamado Isolândia (MANKIW, 2013).</p><p>Em um primeiro momento, a Isolândia está isolada do restante do mundo. Por</p><p>meio de um decreto governamental, os produtores de tecidos não podem exportar</p><p>seus produtos, tampouco os consumidores podem importar tecidos de outros países.</p><p>Sem o comércio internacional, o mercado de tecidos consiste apenas nos</p><p>vendedores e compradores que residem na Isolândia. O preço de equilíbrio será</p><p>estabelecido pela oferta e pela demanda de tecidos de sua própria população,</p><p>conforme podemos ver no Gráfico 13.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>47</p><p>GRÁFICO 13 – O EQUILÍBRIO SEM O COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 162)</p><p>O Gráfico 13 mostra a quantidade e o preço de equilíbrio quando não há</p><p>comércio internacional na Isolândia e, também, os excedentes do consumidor e do</p><p>produtor no ponto de equilíbrio. O benefício total que os produtores e compradores</p><p>recebem com o comércio de tecidos é medido pela soma dos excedentes.</p><p>Lembre-se que o excedente do consumidor é a quantia que um comprador</p><p>está disposto a pagar por um bem menos a quantia que realmente paga por ele. Já o</p><p>excedente do produtor é a quantia que um vendedor recebe por um bem menos o seu</p><p>custo de produção. A soma dos dois, o excedente total, é maximizado pelos mercados livres</p><p>para a melhoria do bem-estar econômico.</p><p>ATENCAO</p><p>Se o governo da Isolândia mudasse sua postura e decidisse abrir seu</p><p>mercado econômico para o comércio mundial, o que aconteceria com o preço e</p><p>a quantidade vendida de tecidos no mercado interno? Quem ganharia e quem</p><p>perderia com o comércio de tecidos? Os ganhos seriam maiores do que as perdas?</p><p>Talvez se o novo cenário não ocorresse, os avanços tecnológicos não teriam</p><p>acontecido com tamanha rapidez. Com o comércio internacional movendo a</p><p>economia muitas perguntas devem surgir, contudo, a primeira delas poderia ser:</p><p>a Isolândia tende a ser exportadora ou importadora de tecidos?</p><p>48</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>FIGURA 9 – EVOLUÇÃO NA PRODUÇÃO DE TECIDOS INDUSTRIAIS</p><p>FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tecelagem#/media/Ficheiro:QSMM_3200.JPG>;</p><p><https://ffw.uol.com.br/app/uploads/noticias/2012/03/santaconstancia_005.jpg>.</p><p>Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>Como o nosso exemplo vem levando em conta os preços dos produtos, a</p><p>teoria das vantagens comparativas pode nos ajudar neste caso. Quando o preço</p><p>mundial de tecidos está acima do preço interno, a Isolândia torna-se exportadora</p><p>de tecidos, pois possui vantagens na produção desse produto quando comparadas</p><p>com a produção em outros países. Os produtores de tecidos da Isolândia estariam</p><p>muito satisfeitos em vender seus tecidos para outros países uma vez que o preço</p><p>cobrado poderia ser além daquele estabelecido pelo ponto de equilíbrio interno</p><p>(com a economia fechada).</p><p>Quando o preço mundial de tecidos está abaixo do preço interno, a</p><p>Isolândia torna-se importadora de tecidos, pois não possui vantagens na produção</p><p>deste produto quando comparadas com a produção em outros países. Como os</p><p>preços externos seriam mais atrativos aos consumidores, rapidamente o mercado</p><p>de consumo interno se abasteceria com os tecidos importados de outros países.</p><p>Em essência, comparar o preço mundial com o preço interno antes do</p><p>comércio indica se a Isolândia terá vantagem comparativa na produção</p><p>de tecidos. O preço interno reflete o custo de oportunidade dos</p><p>tecidos: diz o quanto um isolandês precisa abrir mão para obter uma</p><p>unidade de tecidos. Se o preço interno é baixo, o custo de produção</p><p>de tecidos na Isolândia também é baixo, sugerindo que esse país tem</p><p>vantagem comparativa na produção desse produto em relação ao resto</p><p>do mundo (MANKIW, 2013, p. 163).</p><p>Agora, no caso de os preços internos serem mais altos, o custo de</p><p>produção de tecidos também é mais alto, indicando que os países estrangeiros</p><p>terão vantagem comparativa na produção de tecidos.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>49</p><p>2.1 OS GANHADORES E OS PERDEDORES NO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>Para entendermos os ganhos e as perdas que ocorrem com o comércio</p><p>internacional da Isolândia, podemos separar os benefícios e prejuízos para quem</p><p>exporta e para quem importa. De um lado os produtores podem ser beneficiados</p><p>e os compradores prejudicados, de outro, o inverso pode ocorrer. Será possível</p><p>que se beneficiem?</p><p>Vejamos o caso dos ganhos e perdas de um país exportador por meio do</p><p>Gráfico 14 e Tabela 2. No gráfico há o destaque para o ponto de equilíbrio antes</p><p>do comércio internacional, bem como para o preço dos tecidos quando existe</p><p>comércio internacional.</p><p>Com o comércio internacional, o preço interno irá subir até igualar a faixa</p><p>do preço mundial do tecido. Nenhum vendedor irá vender a um preço menor</p><p>que o preço mundial; nenhum consumidor irá comprar tecidos vendidos a preço</p><p>maior que o preço mundial.</p><p>GRÁFICO 14 – COMÉRCIO INTERNACIONAL EM UM PAÍS EXPORTADOR</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 164)</p><p>TABELA 2 – EXCEDENTES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL EM UM PAÍS EXPORTADOR</p><p>Antes do comércio Após o comércio Mudança</p><p>Excedente do</p><p>consumidor A + B A − B</p><p>Excedente do</p><p>produtor C B + C + D + (B + D)</p><p>Excedente total A + B + C A + B + C + D + D</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 164)</p><p>50</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>O que podemos perceber por meio do Gráfico 14 e dos dados da Tabela 2</p><p>é que os consumidores são prejudicados após o comércio internacional, pois seu</p><p>excedente diminui de A + B para apenas A. Com o tecido sendo vendido ao preço</p><p>mundial, os consumidores ficarão em pior situação, pois terão que pagar mais</p><p>caro pelo metro do tecido.</p><p>Contudo, os produtores são beneficiados, uma vez que antes do comércio</p><p>seu excedente era apenas C, e com o comércio internacional passa para B + C + D.</p><p>Os produtores ficam em melhor situação porque podem vender seus produtos a</p><p>um preço maior do que sem o comércio internacional.</p><p>A área em destaque na tabela, a mudança “+ D”, representa o acréscimo ao</p><p>excedente total devido ao comércio internacional. Como os ganhos dos produtores</p><p>são maiores do que as perdas dos consumidores, o excedente total da Isolândia</p><p>aumentou. Assim, o aumento do excedente total, indica que o comércio internacional</p><p>propiciou um aumento do bem-estar econômico do país como um todo.</p><p>Duas conclusões são relevantes:</p><p>• Quando um país permite o comércio e se torna exportador de um bem, os produtores</p><p>internos do bem em questão ficam em melhor situação e os consumidores internos</p><p>ficam em pior situação.</p><p>• O comércio aumenta o bem-estar econômico de uma nação na medida em que os</p><p>ganhos dos beneficiados superam as perdas dos prejudicados (MANKIW, 2013, p. 165).</p><p>IMPORTANTE</p><p>Outra informação relevante que podemos observar no gráfico anterior,</p><p>diz respeito à oferta interna de tecidos. Com o comércio</p><p>internacional, a oferta</p><p>interna aumenta, mas, a demanda interna diminui. Como há um excedente de</p><p>oferta, a Isolândia irá vender seu excesso para os países estrangeiros, tornando-</p><p>se, assim, exportadora de tecidos. Consequentemente, o mercado de tecidos</p><p>continua em equilíbrio, porque agora conta a participação mundial na demanda</p><p>de seus tecidos. Caso não houvesse exportações, a oferta seria maior do que a</p><p>demanda, fazendo que sobrassem produtos em seus estoques.</p><p>A situação anterior ocorreria caso o preço mundial dos tecidos estivesse</p><p>acima do preço de equilíbrio interno da Isolândia, fazendo com que o país se</p><p>tornasse exportador de tecidos. Uma segunda situação aconteceria caso o preço</p><p>mundial dos tecidos estivesse abaixo do preço de equilíbrio interno da Isolândia,</p><p>conforme Gráfico 15. Nesta situação, teríamos um país que passaria a importar</p><p>tecidos. Para visualizarmos melhor, veja o gráfico e a tabela a seguir.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>51</p><p>Com a liberação do comércio internacional, o preço interno iguala-se ao</p><p>preço mundial de tecidos. Com a quantidade ofertada tornando-se menor que a</p><p>demandada, há uma falta de tecidos no mercado interno, impulsionando o país</p><p>na direção de ser um importador de tecidos.</p><p>GRÁFICO 15 – COMÉRCIO INTERNACIONAL EM UM PAÍS IMPORTADOR</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 166)</p><p>TABELA 3 – EXCEDENTES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL EM UM PAÍS IMPORTADOR</p><p>Antes do comércio Após o comércio Mudança</p><p>Excedente do</p><p>consumidor A A + B + D + (B + D)</p><p>Excedente do</p><p>produtor B + C C − B</p><p>Excedente total A + B + C A + B + C + D + D</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 166)</p><p>Novamente, podemos perceber que nem todos os agentes econômicos</p><p>ganham com o comércio internacional. Como o comércio internacional força os</p><p>preços para baixo, agora, os consumidores são beneficiados após o comércio</p><p>internacional, pois seu excedente aumentou de apenas A para A + B + D. Com</p><p>o tecido sendo vendido ao preço mundial, os consumidores ficarão em melhor</p><p>situação, pois pagarão mais barato pelo metro do tecido.</p><p>Os produtores, são prejudicados, uma vez que antes do comércio seu</p><p>excedente era B + C, e com o comércio internacional passa para apenas C. Os</p><p>produtores ficam em pior situação porque precisam vender seus produtos a um</p><p>preço menor do que sem o comércio internacional.</p><p>52</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>A área em destaque na tabela, a mudança “+ D”, novamente representa o</p><p>acréscimo ao excedente total devido ao comércio internacional. Como os ganhos</p><p>dos consumidores são maiores do que as perdas dos produtores, o excedente</p><p>total da Isolândia aumentou. Assim, o aumento do excedente total, mas, neste</p><p>caso, por meio do processo de importação, indica que o comércio internacional</p><p>também propiciou um aumento do bem-estar econômico do país como um todo.</p><p>Aqui, outras duas conclusões são relevantes:</p><p>• Quando um país permite o comércio e se torna importador de um bem, os consumidores</p><p>internos desse bem ficam em melhor situação e os produtores internos desse bem</p><p>ficam são prejudicados.</p><p>• O comércio aumenta o bem-estar econômico de uma nação na medida em que os</p><p>ganhos dos que se beneficiam do comércio superam as perdas daqueles que são</p><p>prejudicados por ele (MANKIW, 2013, p. 166).</p><p>IMPORTANTE</p><p>O caso do país hipotético, Isolândia, procurou demonstrar um pouco</p><p>sobre as escolhas econômicas, realizadas o tempo todo por diversas econômicas</p><p>mundiais, ainda que de maneira muito mais simples.</p><p>Os efeitos das tarifas e políticas comerciais pode alterar significativamente este</p><p>cenário da economia internacional. Fique atento, pois este será o tema da Unidade 2 deste livro!</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>A partir de todas estas informações sobre oferta e demanda interna</p><p>e externa, preços internos e mundiais, bem como os ganhos e perdas dos</p><p>exportadores e importadores, podemos retornar às perguntas iniciais para que</p><p>não fiquem dúvidas. Acompanhe no quadro a seguir, as respostas que a equipe</p><p>econômica hipotética da Isolândia daria à presidência do país:</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>53</p><p>QUADRO 5 – RESPOSTAS DA HIPOTÉTICA EQUIPE ECONÔMIA DO PAÍS ISOLÂNDIA</p><p>Excelentíssima Sra. Presidenta,</p><p>A senhora nos fez algumas perguntas sobre a abertura comercial.</p><p>Depois de muito trabalho, temos as respostas.</p><p>Pergunta: se o governo permitisse que os isolandeses importassem e</p><p>exportassem tecidos, o que aconteceria com o preço e a quantidade vendida</p><p>desse produto no mercado interno?</p><p>Resposta: uma vez permitido o comércio, o preço interno do</p><p>produto se igualaria ao preço mundial. Se o preço mundial fosse maior do</p><p>que o preço na Isolândia, nosso preço aumentaria. O preço maior reduziria</p><p>a quantidade de tecidos que os isolandeses consomem e aumentaria a</p><p>quantidade de tecidos que produzem. A Isolândia se tornaria, assim,</p><p>exportadora de tecidos. Isso se daria porque, nesse caso, o país teria uma</p><p>vantagem comparativa na produção de tecidos. Se, ao contrário, o preço</p><p>mundial estivesse agora mais baixo do que o preço na Isolândia, nosso</p><p>preço cairia. O menor preço aumentaria a quantidade de tecidos que o país</p><p>consome e reduziria a quantidade de tecidos que produz. Nessas condições,</p><p>a Isolândia se tornaria um país importador de tecidos. Isso aconteceria</p><p>porque, nesse caso, os demais países teriam uma vantagem comparativa na</p><p>produção de tecidos.</p><p>Pergunta: quem ganharia e quem perderia com o livre comércio de</p><p>tecidos? Os ganhos seriam maiores do que as perdas?</p><p>Resposta: a resposta depende do que vai acontecer com o preço quando</p><p>o comercio for liberado: se vai subir ou cair. Se o preço subir, os produtores</p><p>de tecidos sairão ganhando, e os consumidores, perdendo. Se o preço cair,</p><p>os consumidores sairão ganhando, e os produtores, perdendo. Tanto em um</p><p>caso quanto no outro, os ganhos serão maiores do que as perdas. Com isso, o</p><p>livre comercio aumentará o bem-estar total dos isolandeses.</p><p>FONTE: Adaptado de Mankiw (2013, p. 169-170)</p><p>A abertura do mercado de tecidos para o mundo propiciaria ganhadores</p><p>e perdedores, mesmo que a decisão seja por importar ou exportar produtos. As</p><p>teorias econômicas procuram ressaltar que, de qualquer forma, os ganhos dos que</p><p>se beneficiam do comércio superam as perdas dos que são prejudicados. E, assim,</p><p>os beneficiados poderiam compensar as perdas dos prejudicados, posicionando</p><p>todos numa situação melhor que antes, quando não havia comércio internacional.</p><p>Por meio desta perspectiva, o comércio poderia melhorar a situação de</p><p>todos. Será que isto se concretiza de modo prático? Sabemos que a compensação</p><p>para os perdedores é rara. O comércio internacional é uma política que aumenta</p><p>54</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>os indicadores da economia como um todo, embora existam alguns agentes</p><p>econômicos mais privilegiados do que outros (MANKIW, 2013). Bom, não</p><p>é por acaso que o tema da política comercial internacional seja tão debatido e</p><p>controverso. Quando uma política econômica internacional cria perdedores e</p><p>ganhadores, o espaço para disputas políticas torna-se amplo.</p><p>Caro acadêmico, estamos quase no fim desta primeira Unidade do</p><p>Livro Didático de Economia Internacional. Antes de nos aprofundarmos nas</p><p>interpretações sobre as instituições e organismos internacionais, bem como nas</p><p>políticas comerciais que estudaremos na Unidade 2, ainda estudaremos uma</p><p>outra abordagem da economia internacional no próximo item. Vamos lá!</p><p>3 O ÍNDICE DE COMPLEXIDADE ECONÔMICA</p><p>Os estudos e as teorias que procuramos apresentar ao longo desta</p><p>unidade do livro de Economia Internacional são a base para o entendimento das</p><p>relações econômicas entre economias mundiais. Não é à toa que David Ricardo é</p><p>comumente citado em artigos científicos da atualidade, seja como fundamentação</p><p>teórica básica, ou no desenvolvimento de novas abordagens sobre o comércio</p><p>internacional.</p><p>A economia clássica entende que a tomada de decisão na estruturação da</p><p>produção em setores ou produtos fundamenta-se nas vantagens comparativas</p><p>dos custos de produção, os quais, por sua vez, são determinados pelas dotações</p><p>de fatores produtivos e na eficiência de sua alocação (TOREZANI; PIPER,</p><p>2014). Vale lembrar que um país tem vantagem comparativa quando o custo de</p><p>oportunidade da produção de um produto em termos de outros produtos é mais</p><p>baixo que em outros países.</p><p>Assim, as empresas são vistas como consumidoras de uma série de</p><p>insumos, dos quais se obtém um ou mais produtos comercializáveis, em que as</p><p>quantidades produzidas estão relacionadas às quantidades de insumos em uma</p><p>determinada função de produção.</p><p>A diversificação da produção se baseia em dois pontos. (i) Motivo de</p><p>maior lucratividade: basta os mercados existentes se tornarem relativamente</p><p>menos lucrativos para que se tenha estímulos à diversificação. Esse movimento</p><p>pode ocorrer tanto pelo surgimento de novos investimentos que se mostrem</p><p>aparentemente mais lucrativos, quanto pelo declínio da lucratividade nas</p><p>atividades da empresa. (ii) Motivo de risco e incerteza: os riscos e as incertezas são</p><p>inerentes ao desenvolvimento de qualquer atividade econômica. A diversificação</p><p>em poucos produtos similares, principalmente bens de capital, tornam as</p><p>empresas mais vulneráveis às flutuações de demanda, a riscos regulatórios e a</p><p>possíveis pressões induzidas por concorrentes (PENROSE, 1959).</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>55</p><p>Desta forma, a diversificação é entendida pelas empresas como solução</p><p>para alguns dos possíveis movimentos desfavoráveis nas condições de demanda</p><p>e como uma estratégia de mitigação de riscos.</p><p>Para Adam Smith o segredo da riqueza das nações estaria relacionado à</p><p>divisão do trabalho. Assim, à medida que pessoas e empresas se especializassem</p><p>em diferentes atividades, a eficiência econômica aumentaria. Contudo, a divisão</p><p>do trabalho do ponto de vista clássico era limitada pela extensão do mercado. De</p><p>fato, no século XX, a divisão internacional do trabalho é muito mais evidente do</p><p>que em 1776 — quando publicada a obra clássica de Adam Smith. Quanto maior</p><p>o mercado, maior também será a possibilidade de especialização e intensidade da</p><p>divisão do trabalho.</p><p>É sob essa perspectiva que permitir o comércio se torna benéfico para</p><p>os indivíduos ao equacionar a limitação do mercado e crescimento econômico</p><p>pela demanda mundial. A liberdade nas transações econômicas entre os países</p><p>resolveria qualquer limitação relacionada à divisão do trabalho e geraria</p><p>consequências benéficas às forças produtivas do país, especificamente, no que</p><p>diz respeito à capacidade de gerar riqueza e receitas (BLECKER, 2010).</p><p>A perspectiva da complexidade econômica é entendida exatamente a</p><p>partir desta discussão sobre a internacionalização das economias. Isso porque</p><p>tal perspectiva se baseia na premissa de que a divisão do trabalho de Adam</p><p>Smith continua válida: quanto maior o mercado maior será a divisão do trabalho,</p><p>ou seja, a especialização do emprego do capital e da mão de obra. Contudo, a</p><p>perspectiva da complexidade enquanto foco analítico acrescenta que a riqueza e</p><p>o desenvolvimento econômico decorrentes da divisão do trabalho resultam das</p><p>interações entre o crescente número de atividades individuais que compõem uma</p><p>economia (HIDALGO; HAUSMANN, 2009). Para a perspectiva da complexidade,</p><p>é a densidade da complexidade dessas interações, ou seja, a maior ou menor</p><p>combinação de conhecimento, que explica os níveis de desenvolvimento</p><p>(NARDO, 2018).</p><p>[...] a divisão do trabalho é o que nos permite acessar uma quantidade</p><p>de conhecimento que nenhum de nós seria capaz de adquirir</p><p>individualmente [...]. Mercados e organizações permitem que o</p><p>conhecimento mantido por poucos alcances muitos. Em outras</p><p>palavras, eles nos tornam coletivamente mais sábios. A quantidade</p><p>de conhecimento incorporado em uma sociedade, no entanto, não</p><p>depende principalmente de quanto conhecimento cada indivíduo</p><p>detém. Depende, em vez disso, da multiplicidade dos conhecimentos</p><p>entre os indivíduos e de sua capacidade de combinar esses</p><p>conhecimentos, e utilizá-los, através de teias complexas de interação</p><p>(HAUSMANN et al., 2014, p. 15, tradução nossa).</p><p>A complexidade de uma economia se relaciona à multiplicidade de</p><p>conhecimento útil incorporada nela. Essa abordagem expressa a composição</p><p>produtiva em um país e reflete as estruturas que emergem para assegurar e</p><p>56</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>combinar conhecimento. Pois, o conhecimento só pode ser acumulado, transferido</p><p>e preservado se incorporado a uma rede de indivíduos e organizações, os quais</p><p>são responsáveis por colocar o conhecimento em uso produtivo.</p><p>O fato é que os produtos não são todos parecidos no que diz respeito</p><p>ao resultado que geram para o crescimento e desenvolvimento econômico dos</p><p>países. A especialização em alguns produtos traz maior crescimento do que a</p><p>especialização em outros produtos (HAUSMANN; HWANG; RODRIK, 2007).</p><p>Desta forma, compreendendo que os produtos não são todos parecidos</p><p>quanto ao resultado que geram para o crescimento e desenvolvimento econômico</p><p>dos países, qual é o avanço trazido pela perspectiva da complexidade econômica?</p><p>Essa abordagem é considerada uma extensão das teorias de economia</p><p>internacional, pois se refere ao esforço de analisar que a especialização em alguns</p><p>produtos resulta em maior crescimento econômico do que a especialização</p><p>em outros produtos. O seu modelo avança, sobretudo, em dois aspectos mais</p><p>relevantes: (i) o entendimento e a premissa do conceito de conhecimento tácito e</p><p>de seu acúmulo ao longo do tempo, e (ii) a dificuldade e os custos de movimentar</p><p>o conhecimento tácito (NARDO, 2018). Qual a diferença entre conhecimento</p><p>explícito e conhecimento tácito?</p><p>Conhecimento explícito pode ser transferido facilmente lendo um</p><p>texto ou ouvindo uma conversa [...]. Se todo o conhecimento tivesse</p><p>essa característica [....] os países incorporariam muito rapidamente</p><p>as tecnologias vizinhas, e as diferenças da renda através do mundo</p><p>seriam muito menores do que o que nós vemos hoje. O problema</p><p>central é que partes cruciais do conhecimento são tácitas e, portanto,</p><p>difíceis de incorporar às instituições e às pessoas. Por ser difícil de</p><p>transferir, o conhecimento tácito é o que explica o processo de</p><p>crescimento e desenvolvimento [...]. As diferenças de prosperidade</p><p>estão relacionadas com a quantidade de conhecimento tácito que as</p><p>sociedades mantêm (HAUSMANN et al., 2014, p. 16, tradução nossa).</p><p>A premissa do conhecimento tácito mostra que algumas atividades</p><p>individuais decorrentes da divisão de trabalho não podem ser simplesmente</p><p>importadas de outros países. Direitos de propriedade, regulação, infraestrutura,</p><p>competências laborais são competências que precisam de disponibilidade ou</p><p>capacidades para serem produzidas. As diferenças de renda entre países</p><p>poderiam ser explicadas pelas diferenças de complexidade econômica, medida</p><p>pela multiplicidade de capacidades de um país e suas interações (HIDALGO,</p><p>HAUSMANN, 2009; NARDO, 2018).</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>57</p><p>A produtividade de um país está vinculada à diversidade e à disponibilidade de</p><p>suas “capacidades não comercializáveis”.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Neste contexto, as economias complexas são todas aquelas que podem</p><p>entrelaçar uma grande e diversa quantidade de conhecimento por meio de largas</p><p>redes de pessoas, com o fim de gerar uma diversidade do mix de produtos</p><p>intensivos em conhecimento.</p><p>Já as economias simples, ou menos complexas, possuem um gargalo em</p><p>sua base produtiva relacionada ao conhecimento e produzem poucos e simples</p><p>produtos, cujo processo requer menor rede de interações de conhecimento</p><p>(HAUSMANN et al., 2014; NARDO, 2018).</p><p>Ficou clara a noção do conhecimento tácito para a economia internacional? Por</p><p>meio destes motivos podemos compreender a importância do conhecimento tácito</p><p>para a perspectiva da complexidade e para a construção de vantagens comparativas.</p><p>Vejamos agora sobre a construção do modelo espaço-produto.</p><p>A partir da</p><p>análise dos produtos exportados e dos países envolvidos obtemos a ferramenta</p><p>conceitual da perspectiva da complexidade econômica, conhecida como índice de</p><p>complexidade econômica, com o fim de observar os níveis de desenvolvimento</p><p>econômico dos países. Esta ferramenta é fundamentada no modelo espaço-produto.</p><p>Muitos fatores podem ser responsáveis pela relação entre os produtos, tais</p><p>como o trabalho, a terra, o capital, o nível de sofisticação tecnológica, os insumos e os</p><p>produtos finais envolvidos na cadeia de produção, além dos requisitos institucionais.</p><p>Se dois bens estão relacionados, seja porque requerem similares instituições,</p><p>infraestrutura, fatores físicos, tecnologia, ou alguma combinação destes, então eles</p><p>tendem a ser produzidos em conjunto, ao passo que bens pouco similares tem menor</p><p>probabilidade de serem produzidos juntos (HIDALGO et al., 2007).</p><p>Assim podemos perceber que existe uma cadeia que interliga a produção</p><p>de diferentes produtos e suas semelhanças. Por meio desta perspectiva é que</p><p>se constrói uma rede de ligações ou de conexões entre os diferentes produtos</p><p>por grau de similaridades de capacidades. Esta rede de conexões foi chamada</p><p>de espaço-produto. A concepção do espaço-produto é a base para a análise do</p><p>desenvolvimento e crescimento econômico dos países a partir do Índice de</p><p>Complexidade Econômica (HAUSMANN et al., 2014; HAUSMANN; KLINGER,</p><p>2007; HIDALGO, HAUSMANN, 2009; HIDALGO et al., 2007).</p><p>58</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>A conexão dos países com os produtos que exportam, quantifica a</p><p>complexidade econômica de um país em uma estrutura de rede de ligações. Por</p><p>sua vez, este método é conhecido modelo de reflexos. O “reflexo” da interação</p><p>entre países e produtos origina a complexidade econômica de um país.</p><p>A Figura 10 mostra o desenvolvimento do modelo espaço-produto,</p><p>baseada nas conexões dos produtos exportados e os países envolvidos. Na parte</p><p>inferior da figura, as capacidades são suprimidas, dando origem a uma matriz da</p><p>relação entre países e produtos.</p><p>FIGURA 10 – MODELO DE REFLEXOS NO ESPAÇO-PRODUTO</p><p>FONTE: Hidalgo e Hausmann (2009, p. 10571)</p><p>A construção e o acúmulo das capacidades não são o foco do modelo,</p><p>uma vez que sua constatação no Índice de Complexidade Econômica ocorre de</p><p>forma intuitiva. Embora os aspectos institucionais e o acúmulo das competências</p><p>sejam condições fundamentais para se explicar a interação de atividades entre</p><p>os produtos que um país exporta, a perspectiva da complexidade econômica</p><p>não entra nesta questão. Ela faz um entrelaçamento a partir de um gigantesco</p><p>volume de informações disponíveis na rede (Big Data) sobre os níveis exportação</p><p>e importação mundiais.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>59</p><p>A análise do funcionamento do modelo espaço-produto por meio dos</p><p>“reflexos” revela que o índice de complexidade econômica se trata de uma análise de</p><p>duas variáveis: produto e países.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Na Figura 11 é possível visualizar um exemplo da complexidade de três países</p><p>(Holanda, Argentina e Gana) e cinco produtos (aparelho de Raio-X; medicamentos;</p><p>cremes e polidores; queijo; e peixe congelado) que compõem uma minirrede.</p><p>FIGURA 11 - UMA MINIRREDE DA COMPLEXIDADE ECONÔMICA</p><p>FONTE: Hausmann et al. (2014, p. 21)</p><p>Para esta situação hipotética, Holanda é o país mais diversificado, porque</p><p>é competente em exportar cinco produtos. Argentina, neste caso, é um país de</p><p>diversificação intermediária, pois tem capacidade de exportar três produtos. Já</p><p>Gana é o menos diversificado dos três países, pois apenas exporta peixe congelado.</p><p>60</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Praticamente todos os países do mundo são capazes de produzir peixe</p><p>congelado, pois é um dos produtos mais comuns de um país produzir e exportar,</p><p>ou seja, é um produto que todos os países do mundo possuem competência</p><p>para exportar. Assim, nos termos do Índice de Complexidade Econômica, o peixe</p><p>congelado é considerado um produto ubíquo. Gana, no exemplo, é um país que</p><p>não tem diversidade nenhuma e exporta um produto ubíquo.</p><p>Já a Holanda, além da diversidade de produtos que exporta, tem capacidade</p><p>para fazer e exportar produtos que nenhum dos outros países do nosso exemplo</p><p>produzem, tal como os aparelhos de Raio-X e os medicamentos. Estes produtos</p><p>são mais complexos, já que necessitam de maquinário específico, capital</p><p>humano especializado, uma rede de fornecedores sofisticada, entre outros fatores</p><p>excepcionais. Desta forma os aparelhos de Raio-X e os medicamentos são produtos</p><p>não ubíquos. Os cremes e polidores e o queijo possuem complexidade intermediária.</p><p>Foi possível entender o conceito de complexidade econômica? E o modelo</p><p>espaço-produto? Ambos se complementam significativamente para a construção</p><p>do Índice de Complexidade Econômica. Lembre-se se que a complexidade de</p><p>uma economia diz respeito à multiplicidade de conhecimento útil incorporada</p><p>nela. O conhecimento só pode ser acumulado, transferido e preservado quando</p><p>incorporado em uma rede de indivíduos e organizações, os quais se preocupam</p><p>em colocar este conhecimento em uso produtivo.</p><p>O que explica a diferença entre o nível de acúmulo, transferência e</p><p>preservação do conhecimento entre os países para a perspectiva da complexidade</p><p>é a existência do conhecimento tácito e de sua construção ao longo do tempo. Ou</p><p>seja, existe certa dificuldade em movimentar o conhecimento, de forma que tende</p><p>a permanecer nas instituições das economias que o cercam.</p><p>Por fim, cabe uma pergunta um pouco mais prática: de que forma as</p><p>informações sobre o Índice de Complexidade Econômica podem ser obtidas?</p><p>Pois bem, a partir deste referencial teórico, o “Laboratório de Crescimento” da</p><p>Universidade de Harvard nos Estados Unidos, por meio de um projeto ligado ao</p><p>Centro para o Desenvolvimento Internacional, criou uma página virtual na internet</p><p>para que os dados estatísticos sobre o Índice de Complexidade Econômica (além</p><p>de diversos outros dados econômicos sobre os países do mundo) pudessem ser</p><p>facilmente visualizados, denominada The Atlas of Economic Complexity.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>61</p><p>O caminho digital para o Atlas da Complexidade Econômica é http://atlas.</p><p>cid.harvard.edu. No site é possível explorar (no link Explore) diferentes países e suas</p><p>características específicas de comércio internacional, tais como: os setores econômicos</p><p>mais importados e exportados, os países com os quais se manteve mais ou menos</p><p>comércio, os produtos e suas conexões com base no know-how necessários para produzi-</p><p>los, além do próprio indicador da complexidade econômica de cada produto, entre outras</p><p>informações relevantes.</p><p>NOTA</p><p>Veja, por exemplo, os dados sobre a economia brasileira, extraídos</p><p>diretamente do site, sobre a participação dos setores econômicos no total das</p><p>exportações, para o ano de 2017 (os dados mais atualizados disponíveis).</p><p>FIGURA 12 – PARTICIPAÇÃO DOS SETORES ECONÔMICOS NO TOTAL DAS EXPORTAÇÕES,</p><p>BRASIL, 2017</p><p>FONTE: Brazil (2019, s.p.)</p><p>62</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Uma rápida visualização dos dados nos permite uma ampla visão do</p><p>conjunto dos setores econômicos mais relevantes para o caso das exportações</p><p>brasileiras. Somente a exportação de grãos de soja corresponde a 9,72% do total.</p><p>Minérios de ferro e concentrados, representam 8,73% do total exportado em</p><p>2017. Os blocos mais à esquerda, referem-se ao setor de serviços, aí o setor de</p><p>Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) é o mais relevante, com 8,18%</p><p>do volume total exportado.</p><p>Contudo, é interessante relacionar a Figura 12 com a Figura 13 a seguir,</p><p>em que os setores exportadores são coloridos a partir de seus índices de</p><p>complexidade. Os setores marrons são menos complexos (com valores negativos);</p><p>os setores azuis, mais complexos (com valores positivos). Bom, aí temos uma</p><p>visão mais profunda sobre o grau de complexidade da economia brasileira: em</p><p>sua maioria, os setores com maior participação</p><p>nas exportações, são, também, os</p><p>setores menos complexos.</p><p>FIGURA 13 – COMPLEXIDADE ECONÔMICA DE SETORES ECONÔMICOS EXPORTADOS,</p><p>BRASIL, 2017</p><p>FONTE: Brazil (2019, s.p.)</p><p>As possibilidades de análise a partir da plataforma disponibilizada pelas</p><p>pesquisas das Universidade de Harvard são imensas. Não deixe de conferir!</p><p>Apenas como comparação, veja os mesmos dados para o país que está no topo do</p><p>ranking da complexidade econômica, o Japão.</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>63</p><p>FIGURA 14 – PARTICIPAÇÃO DOS SETORES ECONÔMICOS NO TOTAL DAS EXPORTAÇÕES,</p><p>JAPÃO, 2017</p><p>FONTE: Brazil (2019, s.p.)</p><p>FIGURA 15 – COMPLEXIDADE ECONÔMICA DE SETORES ECONÔMICOS EXPORTADOS,</p><p>BRASIL, 2017</p><p>FONTE: Brazil (2019, s.p.)</p><p>64</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Uma primeira constatação é que os setores exportados no Japão são bem</p><p>menos concentrados do que o caso brasileiro, com exceção às TIC e aos carros, com</p><p>11,31% e 11,01% de participação nas exportações totais japoneses, respectivamente.</p><p>Ou seja, há uma diversificação bastante ampla da pauta exportadora.</p><p>E quanto aos indicadores de complexidade para estes setores econômicos, é</p><p>possível perceber que a grande maioria são positivos (azuis de várias tonalidades),</p><p>correspondendo a produtos de alta complexidade econômica.</p><p>Depois de realizados estes estudos sobre a teoria do comércio internacional,</p><p>fique atento à revisão e realize as autoatividades para melhor fixar os conteúdos.</p><p>Até a Unidade 2!</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>65</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>COMÉRCIO NORTE-SUL E DESIGUALDADE DE RENDA</p><p>Paul R. Krugman</p><p>Maurice Obstfled</p><p>Entre o fim da década de 1970 e o início da década de 1990 houve um</p><p>aumento acentuado na desigualdade salarial nos Estados Unidos. Por exemplo,</p><p>enquanto o salário real dos trabalhadores do sexo masculino no 90º percentil (isto</p><p>é, os trabalhadores que recebem mais do que os 90 por cento inferiores, mas menos</p><p>do que os 10 por cento superiores) aumentou 15 por cento entre 1970 e 1989, o</p><p>salário real dos trabalhadores no 10º percentil caiu 25 por cento no mesmo período.</p><p>É possível que essa desigualdade crescente de salários tenha piorado os problemas</p><p>sociais norte-americanos: a queda entre os salários mais baixos tomou mais difícil a</p><p>ascensão das famílias que partem da pobreza e, ao mesmo tempo, o contraste entre</p><p>rendas estagnadas para muitas famílias e rendas superiores crescendo rapidamente</p><p>pode ter contribuído para uma frustração social e política generalizada.</p><p>Por que a desigualdade salarial aumentou? Muitos observadores</p><p>atribuem tal mudança ao crescimento do comércio mundial e, em particular, às</p><p>crescentes exportações de bens manufaturados das economias de industrialização</p><p>recente (EIRs), como Coréia do Sul e China. Até a década de 1970, o comércio</p><p>entre as nações industriais avançadas e as economias menos desenvolvidas —</p><p>frequentemente chamado de comércio Norte-Sul, pelo fato de a maioria das nações</p><p>avançadas se encontrarem na zona temperada do Hemisfério Norte — consistiu</p><p>predominantemente em uma troca de produtos industrializados do Norte por</p><p>matérias-primas e bens agrícolas como petróleo e café, do Sul. De 1970 em diante,</p><p>contudo, os antigos exportadores de matérias-primas começaram cada vez mais</p><p>a vender bens manufaturados para países com altos salários como os Estados</p><p>Unidos. Como mostra a Tabela 1, entre o início da década de 1970 e meados</p><p>da década de 1990, os países em desenvolvimento mudaram drasticamente o</p><p>tipo de bens que exportavam, afastando-se de sua dependência tradicional de</p><p>produtos agrícolas e minerais e aproximando seu foco dos bens manufaturados.</p><p>Embora as EIRs também oferecessem um mercado rapidamente crescente para</p><p>exportações das nações com altos salários, as exportações das economias de</p><p>industrialização recente obviamente diferiam muito em intensidade de fatores</p><p>de suas importações. Predominantemente, as exportações das EIRs para as</p><p>nações avançadas consistiam cm roupas, sapatos e outros produtos sem muita</p><p>sofisticação, cuja produção é intensiva em trabalho não qualificado, enquanto</p><p>as exportações das nações avançadas para as EIRs consistiam em bens capital-</p><p>intensivos ou qualificação-intensivos, como produtos químicos e aviões.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>66</p><p>Produtos</p><p>agrícolas</p><p>Produtos de</p><p>mineração</p><p>Bens</p><p>manufaturados</p><p>1973 30,0 47,5 22,0</p><p>1995 14,0 22,5 62,5</p><p>Fonte: Organização Mundial do Comércio (OMC).</p><p>Para muitos observadores, a conclusão parecia simples estava ocorrendo</p><p>um movimento em direção à equalização dos preços dos fatores. O comércio entre</p><p>os países avançados, abundantes em capital e qualificação, e as EIRs, com sua</p><p>oferta abundante de trabalho não qualificado, estava aumentando os salários dos</p><p>trabalhadores mais bem qualificados e reduzindo os salários dos trabalhadores</p><p>menos qualificados nos países qualificação-abundantes e capital-abundantes,</p><p>exatamente como o modelo das proporções de fatores previa.</p><p>A essência desse argumento vai muito além de uma discussão puramente</p><p>acadêmica. Se considerarmos a desigualdade de renda crescente nas nações</p><p>avançadas como um problema sério, como muitos fazem, e se acreditarmos que o</p><p>comércio mundial crescente é a principal causa desse problema, ficará difícil para</p><p>os economistas manter o apoio que têm dado ao livre comércio. [...]</p><p>Segundo alguns importantes comentaristas de rádio e televisão, as nações</p><p>avançadas terão de restringir seu comércio com países de baixos salários se</p><p>desejarem permanecer essencial mente como sociedades de classe média.</p><p>Embora alguns economistas acreditem que o comércio crescente com</p><p>países de baixos salários tem sido a principal causa da desigualdade de renda</p><p>nos Estados Unidos, na prática, a maioria dos trabalhadores acredita que o</p><p>comércio internacional tenha sido, no máximo, um fator que contribuiu para</p><p>esse crescimento, mas que as principais causas residam em outro ponto.1 Esse</p><p>ceticismo baseia-se em quatro observações principais.</p><p>Em primeiro lugar, embora os países avançados venham exportando</p><p>bens capital-intensivos e importando bens trabalho-intensivos, desde o início da</p><p>década de 1990 não ocorreu praticamente nenhuma mudança na distribuição de</p><p>renda entre capital e trabalho; a parcela da remuneração (salários mais benefícios)</p><p>na renda nacional dos Estados Unidos em 1993 foi igual (73 por cento) à de 1973.</p><p>Assim, a história do comércio poderia ser aplicada, no máximo, a uma</p><p>mudança na distribuição de renda entre trabalhadores qualificados e não</p><p>qualificados, mas não entre trabalhadores e capital.</p><p>Em segundo lugar, o modelo das proporções de fatores diz que o comércio</p><p>internacional afeta a distribuição de renda por meio de uma mudança nos preços</p><p>relativos dos bens. Assim, se o co mércio internacional é o principal responsável</p><p>Tabela 1 Composição das exportações de países em desenvolvimento (porcentagem do total)</p><p>TÓPICO 3 | ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>67</p><p>pela desigualdade de renda crescente, deve haver uma clara evidência de aumento</p><p>no preço dos produtos qualificação-intensivos em relação aos bens trabalho não</p><p>qualificado-intensivos. No entanto, estudos sobre preços internacionais não</p><p>conseguiram encontrar uma evidência clara dessa mudança nos preços relativos.</p><p>Em terceiro lugar, o modelo prevê que os preços relativos de fatores</p><p>convirjam: se os salários dos trabalhadores qualificados estão aumentando e</p><p>os dos não qualificados estão caindo no país qualificação-abundante, o inverso</p><p>deve acontecer no país trabalho-abundante. Embora os dados sobre salários e</p><p>distribuição de renda nas EIRs sejam escassos, uma observação descomprometida</p><p>sugere que em muitos países, notavelmente na China, está ocorrendo o oposto:</p><p>a desigualdade de renda vem crescendo nas EIRs pelo menos tão rapidamente</p><p>quanto nos países avançados — enquanto os trabalhadores qualificados vão</p><p>muito bem, obrigado.</p><p>Em quarto lugar, embora o comércio entre países avançados</p><p>e EIRs tenha</p><p>crescido rapidamente, ele ainda constitui apenas uma porcentagem pequena do</p><p>dispêndio total nas nações avançadas.</p><p>Como resultado, as estimativas do “conteúdo de fatores” desse comércio</p><p>— o trabalho qualificado exportado, de fato, por países avançados e incorporado</p><p>em exportações qualificação-intensivas e o trabalho não qualificado, de fato,</p><p>importado nas exportações trabalho-intensivas — ainda representam somente</p><p>uma pequena fração das ofertas totais de trabalho qualificado e não qualificado.</p><p>Isso sugere que tais fluxos de comércio não podem ter tido um impacto muito</p><p>grande sobre a distribuição de renda.</p><p>Quem é, então, o verdadeiro responsável pelo hiato crescente entre</p><p>trabalhadores qualificados e não qualificados nos Esta dos Unidos? A maioria</p><p>acha que o vilão não é o comércio, mas a tecnologia, que desvalorizou o trabalho</p><p>menos qualificado. No entanto, a opinião de que o comércio é, de fato, o grande</p><p>vilão ainda tem muitos adeptos.</p><p>FONTE: KRUGMAN, P. R.; OBSTFLED, M. Economia internacional: teoria e prática. 6. ed. São</p><p>Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005. p. 59-60.</p><p>68</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Sem o comércio internacional o preço de equilíbrio de um produto será</p><p>estabelecido pela oferta e pela demanda de sua própria população.</p><p>• O benefício total que os produtores e compradores recebem com o comércio de um</p><p>produto é medido pela soma dos excedentes dos produtores e dos consumidores.</p><p>• Quando o preço mundial dos tecidos está acima do ponto de equilíbrio interno</p><p>os consumidores são prejudicados após o comércio internacional, mas, os</p><p>produtores, beneficiados.</p><p>• Quando o preço mundial dos tecidos está acima do ponto de equilíbrio interno,</p><p>os ganhos dos produtores serão maiores do que as perdas dos consumidores,</p><p>indicando que o comércio internacional aumentou o bem-estar econômico global.</p><p>• Quando o preço mundial dos tecidos está abaixo do ponto de equilíbrio interno</p><p>os consumidores são beneficiados após o comércio internacional, mas, os</p><p>produtores, prejudicados.</p><p>• Quando o preço mundial dos tecidos está abaixo do ponto de equilíbrio interno,</p><p>os ganhos dos consumidores serão maiores do que as perdas dos produtores,</p><p>indicando que o comércio internacional aumentou o bem-estar econômico global.</p><p>• Na perspectiva da complexidade econômica a maior ou menor combinação de</p><p>conhecimento explica os níveis de desenvolvimento dos países.</p><p>• A complexidade de uma economia se relaciona à multiplicidade de conhecimento</p><p>útil incorporada nela.</p><p>• A complexidade econômica é considerada uma extensão das teorias de economia</p><p>internacional. Entende que a especialização em alguns produtos resulta em</p><p>maior crescimento econômico do que a especialização em outros produtos.</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>69</p><p>1 Quais são os ganhos e as perdas para um país exportador quando os preços</p><p>de um produto se encontram mais altos no mercado mundial do que no</p><p>mercado interno?</p><p>2 Quais são os ganhos e as perdas para um país importador quando os preços</p><p>de um produto se encontram mais baixos no mercado mundial do que no</p><p>mercado interno?</p><p>3 Imagine que o preço mundial de um produto, tal como uma camiseta,</p><p>está abaixo do preço interno das camisetas fabricadas no país. Qual será o</p><p>movimento de comércio internacional? Explique.</p><p>4 Como podemos compreender a perspectiva da complexidade econômica?</p><p>5 A complexidade econômica considera a relevância do conhecimento tácito.</p><p>Qual a diferença entre o conhecimento explícito e o conhecimento tácito?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>70</p><p>71</p><p>UNIDADE 2</p><p>POLÍTICA COMERCIAL</p><p>INTERNACIONAL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• entender o processo de integração e a dinâmica da formação dos blocos</p><p>econômicos;</p><p>• compreender instrumentos e planos tarifários, bem como efeitos</p><p>provocados por tarifas;</p><p>• examinar barreiras não tarifárias e a política comercial internacional por</p><p>meio das negociações e organismos internacionais;</p><p>• analisar tipos de tarifas e planos tarifários acordados entre países e blocos</p><p>econômicos;</p><p>• investigar efeitos para o consumidor, o produtor e o governo com a</p><p>aplicação de tarifa de importação.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você</p><p>encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>TÓPICO 3 – SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS</p><p>INTERNACIONAIS</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>72</p><p>73</p><p>TÓPICO 1</p><p>INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Caro acadêmico, após cumprida a primeira unidade do livro, vamos</p><p>avançar agora para os aspectos políticos da Economia Internacional. A forma</p><p>pela qual os países se organizam internamente é amplamente discutida por</p><p>diferentes correntes teóricas da economia.</p><p>Contudo, há, também, formatos pelos quais os países procuraram se</p><p>integrar uns aos outros ao longo do tempo. Esta temática também perpassa</p><p>pelo campo político, uma vez que a integração em blocos econômicos de países</p><p>depende da convergência dos objetivos expostos em acordos internacionais.</p><p>Despertou interesse? Então, vamos lá!</p><p>Portanto, neste primeiro tópico, denominado “Integração econômica”,</p><p>você aprenderá sobre as formas mais comuns de integração dos países, bem</p><p>como perceberá a evolução das integrações mundiais.</p><p>Em seguida, estudaremos o caso de três blocos econômicos de grande</p><p>relevância para a economia mundial e brasileira: a União Europeia (UE), o Acordo</p><p>de Livre Comércio da América do Norte, conhecido por NAFTA e o Mercado</p><p>Comum do Sul — MERCOSUL. Os três blocos vêm passando por mudanças</p><p>recentes e importantes: você conhece alguma delas?</p><p>Fique atento às indicações ao longo do texto e bons estudos!</p><p>2 FORMAS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>Muitos conteúdos que serão trazidos à tona nesta unidade do livro dizem</p><p>respeito às tarifas no comércio internacional ou às barreiras tarifárias, mas,</p><p>também, às barreiras não tarifárias e possíveis regimes de cobrança de tarifas.</p><p>Entretanto, o comércio internacional não é feito somente de tarifas, mas de</p><p>acordos; acordos que são únicos para cada país ou grupo de países.</p><p>Atualmente, muito do comércio mundial é realizado a partir de</p><p>tratamentos diferenciados a parceiros comerciais, com a finalidade de criar uma</p><p>unidade integrada de comércio entre seus membros. Como ocorre essa integração</p><p>econômica entre os países? Quais são os benefícios, e destinados para quem?</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>74</p><p>De forma mais geral, é possível diferenciar o grau de integração econômica</p><p>a partir de algumas formas fundamentais pelas quais os países realizam comércio</p><p>e acordos econômicos. Vejamos as características fundamentais de cada uma delas.</p><p>Acordos de comércio preferencial: estes regimes procuram garantir o</p><p>comércio internacional com um volume menor de barreiras para a circulação de</p><p>bens e serviços entre as nações participantes do acordo. A integração econômica</p><p>por meio dos acordos preferenciais é um modelo mais informal, contudo, uma</p><p>das vantagens está no imposto cobrado para importação ser inferior ao imposto</p><p>daqueles países cujas economias não são participantes do acordo de comércio</p><p>preferencial (SALVATORE, 2007).</p><p>Dois exemplos importantes são o Esquema de Preferências da Comunidade</p><p>Britânica (British Commonwealth Preference), criado na década de 1930 na Grã-</p><p>Bretanha, e o Sistema Geral de Preferências, composto por diversos países do</p><p>mundo, do qual o Brasil também é beneficiário. No Tópico 2 veremos como esses</p><p>dois casos se inserem no âmbito dos impostos preferenciais.</p><p>FIGURA 1 – PRIMEIROS-MINISTROS DURANTE</p><p>4 ADAM SMITH E A TEORIA DA VANTAGEM ABSOLUTA .....................................................13</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................17</p><p>AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................18</p><p>TÓPICO 2 – TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL...........................................................................................................19</p><p>1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................19</p><p>2 DAVID RICARDO: AS VANTAGENS COMPARATIVAS ..........................................................19</p><p>2.1 ECONOMIA COM APENAS UM FATOR DE PRODUÇÃO ....................................................23</p><p>2.2 O COMÉRCIO EM UM MUNDO DE APENAS UM FATOR DE PRODUÇÃO .....................25</p><p>3 INSTRUMENTOS E GANHOS DO COMÉRCIO NA TEORIA NEOCLÁSSICA:</p><p>O MODELO HECKSCHER-OHLIN .................................................................................................30</p><p>3.1 UM MODELO COM DOIS FATORES DE PRODUÇÃO ...........................................................31</p><p>3.2 EFEITOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE ECONOMIAS DE</p><p>DOIS FATORES ................................................................................................................................39</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................43</p><p>AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................44</p><p>TÓPICO 3 – ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ................45</p><p>1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45</p><p>2 UMA APLICAÇÃO SIMPLES DA ECONOMIA INTERNACIONAL.......................................45</p><p>2.1 OS GANHADORES E OS PERDEDORES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................49</p><p>3 O ÍNDICE DE COMPLEXIDADE ECONÔMICA ..........................................................................54</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................65</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................68</p><p>AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................69</p><p>UNIDADE 2 – POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL .......................................................71</p><p>TÓPICO 1 – INTEGRAÇÃO ECONÔMICA ......................................................................................73</p><p>1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................73</p><p>2 FORMAS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA ................................................................................73</p><p>3 BLOCOS ECONÔMICOS: OS CASOS DE UNIÃO EUROPEIA, ACORDO DE LIVRE</p><p>COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE E MERCADO COMUM DO SUL ..........................80</p><p>3.1 UNIÃO EUROPEIA – UE ..............................................................................................................80</p><p>3.2 ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE – NAFTA ...........................84</p><p>3.3 MERCADO COMUM DO SUL – MERCOSUL ..........................................................................89</p><p>sumário</p><p>X</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................96</p><p>AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................97</p><p>TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL ......................................................99</p><p>1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................99</p><p>2 ANÁLISE DAS TARIFAS ....................................................................................................................99</p><p>2.1 OUTROS ASPECTOS DE PLANOS TARIFÁRIOS ....................................................................102</p><p>3 OS EFEITOS DE UMA TARIFA .......................................................................................................107</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113</p><p>TÓPICO 3 – SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS</p><p>INTERNACIONAIS .......................................................................................................115</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115</p><p>2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS: OUTROS INSTRUMENTOS DE POLÍTICA</p><p>COMERCIAL .......................................................................................................................................115</p><p>2.1 SUBSÍDIOS ÀS EXPORTAÇÕES .................................................................................................116</p><p>2.2 COTA DE IMPORTAÇÕES ..........................................................................................................118</p><p>2.3 RESTRIÇÕES VOLUNTÁRIAS ÀS EXPORTAÇÕES ...............................................................121</p><p>3 NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS NA POLÍTICA COMERCIAL ....................................123</p><p>3.1 UM BREVE HISTÓRICO DOS ACORDOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAIS .............124</p><p>3.2 A RODADA URUGUAI ................................................................................................................127</p><p>3.3 A RODADA DE DOHA ................................................................................................................130</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................133</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................135</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136</p><p>UNIDADE 3 - O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL ........................137</p><p>TÓPICO 1 – OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL ...........................139</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139</p><p>2 DESAFIOS COMERCIAIS E PRODUTIVOS ...............................................................................139</p><p>3 RECURSOS ESCASSOS E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA .......................................................145</p><p>3.1 INOVAÇÃO E CAPACIDADE TECNOLOGIA NO CONTEXTO HISTÓRICO ..................147</p><p>4 AS VANTAGENS COMPARATIVAS DAS NAÇÕES E DO BRASIL, PRIMEIRAS DUAS</p><p>DÉCADAS DO SÉCULO XXI ...........................................................................................................152</p><p>4.1 A VOLATILIDADE FINANCEIRA: CRISES CAMBIAIS E ESPECULAÇÕES E ......................</p><p>ESTABILIDADE DA RESERVA INTERNACIONAL ................................................................154</p><p>4.2 AS OSCILAÇÕES CAMBIAIS E O FIM DO PADRÃO OURO ...............................................157</p><p>4.3 O DÓLAR AMERICANO COMO MOEDA ...............................................................................165</p><p>INTERNACIONAL ........................................................................................................................165</p><p>A CONFERÊNCIA DA COMMONWEALTH, 1944</p><p>FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/27/</p><p>CommonwealthPrimeMinisters1944.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>Área de livre comércio: a integração econômica promovida pelas áreas de</p><p>livre comércio corresponde a uma forma em que todas as barreiras comerciais são</p><p>removidas entre aqueles que são membros. Contudo, cada país-membro mantém</p><p>suas próprias barreiras comerciais com aqueles países que não participam do</p><p>acordo (SALVATORE, 2007).</p><p>Aqui, os exemplos estão: i) na Associação Europeia de Livre Comércio</p><p>(AELC), criada em 1960 e formada por Reino Unido, Áustria, Dinamarca,</p><p>Noruega, Portugal, Suécia e Suíça; ii) no Acordo de Livre Comércio da América</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>75</p><p>do Norte (NAFTA), criado em 1993 e composto por México, Estados Unidos e</p><p>Canadá; e, iii) no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), criado em 1991, por</p><p>Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Os dois últimos casos serão vistos com</p><p>mais detalhes ainda neste tópico do Livro Didático.</p><p>Conheça um pouco mais sobre a Associação Europeia de Livre Comércio</p><p>(AELC) com a leitura do artigo publicado na DW Brasil, 1960: Fundação da Associação</p><p>Europeia de Livre-Comércio, Disponível no endereço: https://www.dw.com/pt-</p><p>br/1960-funda%C3%A7%C3%A3o-da-associa%C3%A7%C3%A3o-europeia-de-livre-</p><p>com%C3%A9rcio/a-312528.</p><p>DICAS</p><p>FIGURA 2 – CERIMÔNIA INICIAL PARA A CRIAÇÃO DO NAFTA, 1992</p><p>FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b0/Nafta.jpg>.</p><p>Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>União aduaneira: entre seus países membros não é permitido nenhum tipo</p><p>de tarifa ou barreira comercial, assim como no caso das áreas de livre comércio.</p><p>Além disso, as uniões aduaneiras procuram harmonizar suas políticas comerciais</p><p>(SALVATORE, 2007). Um exemplo é quando uma união aduaneira estabelece</p><p>alíquotas comuns a todos os seus parceiros comerciais do resto do mundo.</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>76</p><p>Em 1957, o Mercado Comum Europeu, mais conhecido por União</p><p>Europeia, foi constituído como uma união aduaneira entre Alemanha Ocidental,</p><p>França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. O caso do Mercosul nasceu como</p><p>uma área de livre comércio e, em 1995, tornou-se uma união aduaneira.</p><p>FIGURA 3 – DIFERENTES CASOS DE UNIÕES ADUANEIRAS</p><p>FONTE: Adaptado de <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Customs_Unions_World.svg>.</p><p>Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>Mercado comum: esta forma de integração vai além da área de livre</p><p>comércio e da união aduaneira. Ou seja, além de não permitir qualquer tipo de</p><p>tarifa ou outros tipos de barreiras comerciais entre seus membros e harmonizar</p><p>suas políticas comerciais, o mercado comum permite a livre movimentação de</p><p>mão de obra, capital e serviços entre as nações que são membros (SALVATORE,</p><p>2007). Neste caso, cabe destacar a União Europeia que atingiu a qualidade de</p><p>mercado comum em 1993.</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>77</p><p>FIGURA 4 – MINISTROS DOS PAÍSES SIGNATÁRIOS DO TRATADO DE ROMA, DOCUMENTO</p><p>QUE, EM 1957, DEU ORIGEM À UNIÃO EUROPEIA</p><p>FONTE: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/foto/0,,16144503-EX,00.jpg>.</p><p>Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>União Econômica: neste caso, as políticas monetária e fiscal do Estados-</p><p>membros são unificadas, além de cumprir com todos os critérios das formas de</p><p>integração até aqui citadas. Desta forma, a união econômica representa a forma</p><p>mais elevada de integração econômica dada a complexidade de negociação e</p><p>acordo entre as partes envolvidas (SALVATORE, 2007).</p><p>Aqui, temos a situação da “Benelux”, uma união econômica estabelecida</p><p>entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo, após a Segunda Guerra Mundial, com o</p><p>intuito de estimular o comércio e eliminar as barreiras alfandegárias, além de</p><p>realizar uma coordenação única das políticas econômicas, financeiras e sociais.</p><p>FIGURA 5 – UNIÃO ECONÔMICA DE BENELUX</p><p>FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/7e/Benelux%28pt%29.</p><p>png/800px-Benelux%28pt%29.png>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/foto/0,,16144503-EX,00.jpg</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>78</p><p>Zona franca ou zona de livre comércio: são áreas específicas criadas</p><p>com a finalidade de atrair investimentos estrangeiros, uma vez que permitem a</p><p>importação de matérias-primas e bens intermediários com isenção de impostos.</p><p>As zonas francas podem ser estabelecidas em um ou mais municípios, no interior</p><p>de uma ou mais unidades federativas.</p><p>O caso que recebeu maior atenção entre as zonas de livre comércio no</p><p>Brasil foi a Zona Franca de Manaus (ZFM). Constituída em 1967 a partir da</p><p>Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), compreende as</p><p>unidades federativas do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima e os municípios</p><p>de Macapá e Santana, no Amapá. A ZFM é composta por três polos econômicos:</p><p>comercial, industrial e agropecuário, cuja ascensão está ligada ao processo de</p><p>industrialização brasileiro até o final da década de 1980, quando o Brasil adotava</p><p>um regime mais fechado em sua economia (PERES, 2015).</p><p>Conheça um pouco mais sobre a história e a atualidade da Zona Franca</p><p>de Manaus assistindo ao vídeo, A história da Zona Franca de Manaus, feito pelo canal</p><p>TecMundo, disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=xno0_mX8ynI.</p><p>DICAS</p><p>FIGURA 6 – ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA DA ZONA FRANCA DE MANAUS</p><p>FONTE: <http://site.suframa.gov.br/assuntos/zfmabrangencia.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=xno0_mX8ynI</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>79</p><p>Conforme acompanhamos pelas formas de integração econômicas</p><p>mencionadas, muitas são as disposições possíveis para o comércio internacional.</p><p>Além do fato das áreas de livre comércio ou uniões aduaneiras, por exemplo,</p><p>terem características específicas para cada integração formada. Ou seja, não há</p><p>um modelo único ou padronizado para o estabelecimento das integrações. Como</p><p>foi possível constatar, em alguns casos, até mesmo houve alterações em suas</p><p>formas de integração ao longo do crescimento e amadurecimento econômico dos</p><p>países que os compõem.</p><p>De toda forma, são muitos os impactos gerados pela integração econômica</p><p>dos territórios. Em termos gerais, a integração econômica implica em diferenças</p><p>no tratamento dos países não membros por parte dos países membros, levando</p><p>a mudanças no modelo de comércio entre os não membros e os membros da</p><p>integração, além de impactos ambíguos para os países membros.</p><p>Contudo, a integração pode gerar efeitos dinâmicos e estáticos. Quanto</p><p>aos efeitos estáticos, a integração pode criar comércio, que diz respeito a um</p><p>movimento dos países membros para o livre mercado, mas, por outro lado,</p><p>pode desviar o comércio, quando leva o comércio dos países não membros de</p><p>mais baixo custo — que ainda enfrentam as tarifas externas dos países membros</p><p>— para o interior de um país membro, o qual não possui mais nenhuma tarifa</p><p>(APPLEYARD; FIELD JR.; COOB, 2010).</p><p>Além dos efeitos estáticos, os países que fazem parte de uma integração</p><p>podem evoluir a sua estrutura econômica de forma diferente caso não tenham se</p><p>integrado economicamente. Os fatores que garantem essa evolução são chamados</p><p>de efeitos dinâmicos da integração econômica. Quais fatores podem ser esses?</p><p>Os ganhos dinâmicos com a redução das barreiras comerciais promovidos</p><p>com a integração econômica podem ser decorrentes do aumento da concorrência</p><p>interna, pois, sem barreiras comerciais, os produtores precisam maximizar sua</p><p>eficiência de produção para enfrentar a concorrência de outros produtores dentro</p><p>da união aduaneira.</p><p>Um reflexo direto da eficiência produtiva diz respeito às economias de</p><p>produção em larga escala, uma vez que a integração econômica possibilita o</p><p>alcance de mercados globais com maior facilidade, levando a produção para escalas</p><p>substanciais de produção a partir das exportações para o restante do mundo.</p><p>Outro efeito dinâmico da integração está nos estímulos para investimentos</p><p>promovidos a partir das vantagens fiscais dos países membros. Muitos países e</p><p>empresas sentem-se atraídos para</p><p>produzir nestes espaços, até mesmo com a</p><p>construção de plantas industriais inteiras dentro das uniões aduaneiras, as chamadas</p><p>indústrias para isenção de tarifas. Uma vez que, em alguns casos, há também o livre</p><p>movimento de mão de obra, capital e serviços dentro da comunidade, a integração</p><p>econômica promovida resulta em melhor utilização dos recursos econômicos para</p><p>todos os atingidos pela integração (SALVATORE, 2007).</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>80</p><p>Os efeitos dinâmicos gerados pela integração econômica são relativos ao</p><p>aumento da concorrência interna, à formação de economias de escala, aos estímulos ao</p><p>investimento e a melhor utilização dos recursos econômicos.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os acordos de comércio preferenciais e as áreas de livre comércio</p><p>também resultam em diversos benefícios econômicos, contudo, a organização em</p><p>uniões aduaneiras, mercados comuns ou uniões econômicas são situações mais</p><p>estruturadas e avançadas de integração que garantem o alcance de vantagens</p><p>econômicas em um grau muito mais complexo.</p><p>3 BLOCOS ECONÔMICOS: OS CASOS DE UNIÃO EUROPEIA,</p><p>ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE E</p><p>MERCADO COMUM DO SUL</p><p>As formas elementares de integração econômica dos países nos permitem</p><p>perceber que a questão espacial vem assumindo forte relevância quanto à</p><p>organização da economia mundial. Como estas teorias se aplicam ao mundo real?</p><p>Como se formaram blocos econômicos?</p><p>Já vimos alguns exemplos de integração no item anterior, mas, agora,</p><p>estudaremos três casos mais relevantes para a economia mundial, bem como para</p><p>a economia do Brasil, por meio da análise da União Europeia, do Acordo de Livre</p><p>Comércio da América do Norte, conhecido por NAFTA, e do Mercado Comum</p><p>do Sul, o MERCOSUL.</p><p>3.1 UNIÃO EUROPEIA – UE</p><p>A partir das formas de integração econômica foi possível perceber que</p><p>os blocos econômicos existentes atualmente passaram por diferentes arranjos ao</p><p>longo do tempo. Não é diferente para o caso europeu.</p><p>A União Europeia (UE), primeiramente denominada como Mercado</p><p>Comum Europeu, foi fundada em 1957 a partir da assinatura do Tratado de</p><p>Roma pelos então países membros: Alemanha Ocidental, França, Itália, Bélgica,</p><p>Holanda e Luxemburgo (UE, 2019).</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>81</p><p>Nos anos subsequentes, houve ajustes relativos ao livre comércio e às</p><p>tarifas aplicadas, sendo que em sua origem a tarifa externa comum ficou definida</p><p>como a média entre as tarifas existentes nos países signatários em 1957. Onze</p><p>anos depois, em 1968, foi permitido o livre comércio de produtos industrializados</p><p>dentro da União Europeia, bem como um preço único para os produtos de origem</p><p>agrícola. Já em 1970 houve uma restrição da circulação de capital e mão de obra</p><p>nos países membros (SALVATORE, 2007).</p><p>Até 1995 o número de países membros passou de seis para quinze, com a</p><p>entrada do Reino Unido, Dinamarca e Irlanda em 1973; a Grécia, em 1981; a Espanha</p><p>e Portugal, em 1986; e Áustria, Finlândia e Suécia, em 1995 (SALVATORE, 2007).</p><p>Como vimos, a União Europeia é criada no formato de uma união</p><p>aduaneira, mas, em 1993, ela torna-se um mercado comum, já que neste período</p><p>são removidas todas as barreiras remanescentes quanto ao livre comércio de bens,</p><p>serviços e fluxo recursos produtos, inclusive mão de obra, entre os membros do</p><p>bloco (SALVATORE, 2007; UE, 2019).</p><p>Em 2004 e nos anos posteriores novos membros foram aceitos ao bloco,</p><p>chegando atualmente (setembro de 2019) ao número de 28 Estados-membros.</p><p>Ainda, Albânia, Macedônia do Norte, Montenegro, Sérvia e Turquia são</p><p>candidatos à entrada no bloco (UE, 2019). Acompanhe na figura a seguir.</p><p>FIGURA 7 – ESTADOS-MEMBROS E BANDEIRA DA UNIÃO EUROPEIA</p><p>FONTE: Adaptado de <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/46/UE-EU-</p><p>ISO_3166-1.png/690px-UE-EU-ISO_3166-1.png>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>82</p><p>QUADRO 1 – LEGENDA DO MAPA</p><p>Países Na língua local Sigla</p><p>Alemanha Deutschland DE</p><p>Áustria Österreich AT</p><p>Bélgica België / Belgique / Belgien BE</p><p>Bulgária България BG</p><p>Chipre Κύπρος CY</p><p>Croácia Hrvatska HR</p><p>Dinamarca Danmark DK</p><p>Eslováquia Slovensko SK</p><p>Eslovênia Slovenija SI</p><p>Espanha España ES</p><p>Estónia Eesti EE</p><p>Finlândia Suomi / Finland FI</p><p>França France FR</p><p>Grécia Ελλάδα GR</p><p>Hungria Magyarország HU</p><p>Irlanda Éire IE</p><p>Itália Italia IT</p><p>Letônia Latvija LV</p><p>Lituânia Lietuva LT</p><p>Luxemburgo Luxembourg LU</p><p>Malta Malta MT</p><p>Países Baixos Nederland NL</p><p>Polónia Polska PL</p><p>Portugal Portugal PT</p><p>Reino Unido United Kingdom GB</p><p>República Checa Česká republika CZ</p><p>Roménia România RO</p><p>Suécia Sverige SE</p><p>Candidatos</p><p>Albânia Shqipëria AL</p><p>Macedônia do Norte Македонија MK</p><p>Montenegro Crna Gora / Црна Гора ME</p><p>Sérvia Србија RS</p><p>Turquia Türkiye TR</p><p>FONTE: O autor</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Maced%C3%B3nia_do_Norte</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>83</p><p>Recentemente houve um novo impulso para a saída do Reino Unido da União</p><p>Europeia. O movimento conhecido como Brexit (British exit) é antigo, já da década de</p><p>1970. Contudo, um fato que deu ânimo às discussões atuais foi um plebiscito em 2016 que</p><p>decidiu pela saída do bloco (52% dos votos), mas, até meados de 2019 a separação ainda</p><p>não ocorreu. Até o presente momento, o prazo para a decisão oficial, que era em 31 de</p><p>outubro de 2019, foi prorrogado para 31 de janeiro de 2020. Saiba mais em: https://www.</p><p>bbc.com/portuguese/internacional-46335938.</p><p>NOTA</p><p>Os resultados da formação da União Europeia mostram que o comércio</p><p>de bens industrializados expandiu significativamente entre os países que não são</p><p>membros do bloco, devido, principalmente, a dois fatores: 1) o rápido crescimento</p><p>da UE, que fez crescer também rapidamente a demanda por importações de</p><p>produtos industrializados de outros países; 2) a redução das tarifas médias sobre</p><p>as importações de produtos industrializados a partir das Rodadas Kennedy e</p><p>Tóquio do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) (SALVATORE, 2007).</p><p>O tema das negociações e dos acordos para a economia internacional que</p><p>incluem as rodadas comerciais e o GATT serão estudados no Tópico 3 desta unidade.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Quanto aos benefícios estáticos e dinâmicos, resultantes da formação da</p><p>UE, cabe reconhecer que os ganhos estáticos líquidos, em termos de prosperidade</p><p>econômica, foram surpreendentemente pequenos, estimados entre 1% e 2% do</p><p>PIB. Os ganhos dinâmicos foram bem maiores, chegando a 5,30% do PIB da UE</p><p>em 1988 (SALVATORE, 2007). Acompanhe esses ganhos divididos pelos fatores</p><p>dinâmicos no quadro a seguir.</p><p>QUADRO 2 – GANHOS GERADO PELO MERCADO COMUM DA UNIÃO EUROPEIA</p><p>Ganhos gerados por Porcentagem do PIB da UE em 1988</p><p>Remoção de barreiras comerciais não tarifárias 0,20%</p><p>Remoção de barreiras à produção 2,20%</p><p>Economias de escala 1,65%</p><p>Concorrência intensificada 1,25%</p><p>Ganhos totais gerais 5,30%</p><p>FONTE: Adaptado de Salvatore (2007, p. 127)</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>84</p><p>Dentre todos os benefícios com a constituição da União Europeia, talvez o</p><p>de maior relevância seja quanto à organização política estabelecida, resultando em</p><p>uma única comunidade econômica de nações, tais como as economias da Alemanha</p><p>e da França, antigas inimigas nas Guerras Mundiais. Aqui, podemos identificar</p><p>outros quatro destaques ao funcionamento do bloco.</p><p>• Os Estados-membros adotaram um sistema de imposto sobre o valor agregado</p><p>comum, evitando que os consumidores sejam os prejudicados com a cobrança</p><p>de impostos dupla sobre o mesmo processo de produção.</p><p>• A Comissão da UE, com corpo executivo cuja sede se localiza em Bruxelas,</p><p>propõe leis, monitora a conformidade de tratados e administra políticas comuns.</p><p>• Também existe o Conselho de Ministros, composto por representantes dos</p><p>países, que toma as decisões finais sobre acordos, sob recomendação da</p><p>Comissão. Além do Parlamento Europeu, composto por 626 membros, eleitos</p><p>por meio de voto direito a cada cinco anos, e uma Corte de Justiça, com o fim de</p><p>regulamentar a constitucionalidade das decisões da Comissão e do Conselho.</p><p>• Planos político-econômicos vem sendo delineados em relação a uma união</p><p>monetária plena, com o fim de harmonizar políticas monetária e fiscal dos países</p><p>membros, bem como uma eventual união política plena (SALVATORE, 2007).</p><p>Com base no histórico e caracterização política e econômica da União</p><p>Europeia que procuramos detalhar ao longo deste item, é possível perceber a</p><p>relevância da formação do bloco para a economia dos países europeus, bem como</p><p>para o contexto da economia internacional.</p><p>A fim de manter-se atualizado sobre o tema, não deixe de acompanhar as</p><p>notícias econômicas sobre a negociação de acordos internacionais com a União</p><p>Europeia. Verifique também qual será o resultado do já mencionado Brexit,</p><p>movimento que tende alterar fortemente a dinâmica econômica europeia.</p><p>3.2 ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO</p><p>NORTE – NAFTA</p><p>A partir de 1º de janeiro de 1994 entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio</p><p>da América do Norte, mais conhecido pela sigla em inglês NAFTA (North American</p><p>Free Trade Agreement), assinado por Canadá, Estados Unidos e México, com objetivo</p><p>de gerar livre comércio de bens e serviços na região dos três países. O acordo foi</p><p>uma expansão do Tratado de livre comércio Canadá-Estados Unidos (Canada-US Free</p><p>Trade Agreement) de 1989, ao incluir o México (AGUILAR, 2019).</p><p>Ao final de década de 1980 o acordo com Canadá, então o maior parceiro</p><p>comercial norte-americano, já previa a eliminação de barreiras comerciais tarifárias e</p><p>não tarifárias. Em conjunto com a economia mexicana ainda não existiam acordos de</p><p>comércio, embora que, em 1990, o México já representasse o terceiro maior parceiro</p><p>comercial dos Estados Unidos, atrás do Canadá e do Japão. Desta forma, o principal</p><p>impacto gerado com o NAFTA diz respeito ao comércio entre Estados Unidos</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>85</p><p>e México, uma vez que o Canadá se juntou às negociações apenas com o objetivo</p><p>de garantir que seus interesses fossem protegidos (AGUILAR, 2019; SALVATORE,</p><p>2007). Acompanhe na figura a seguir os países que compõem o NAFTA.</p><p>FIGURA 8 – ESTADOS-MEMBROS E BANDEIRA DO NAFTA</p><p>FONTE: Adaptado de <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:North_American_Agreement_</p><p>(orthographic_projection).svg>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>Quanto aos benefícios com a formação do bloco para os Estados Unidos,</p><p>cabe destacar o aumento da concorrência nos mercados de bens e recursos</p><p>produtivos, bem como a diminuição dos preços de muitos produtos para os</p><p>consumidores norte-americanos.</p><p>Desde sua implementação, em 1994, até 2002, o NAFTA gerou um aumento</p><p>de 130% entre o comércio dos Estados Unidos com o México. Uma vez que a</p><p>economia norte-americana é 20 vezes maior que a mexicana, os ganhos relativos</p><p>ao PIB foram bem maiores para o caso do México. Contudo, como os salários dos</p><p>trabalhadores norte-americanos são seis vezes mais elevados que os salários dos</p><p>mexicanos, era esperada uma redução nos empregos de baixa qualificação nos</p><p>Estados Unidos, já que seriam estes os empregos a serem explorados no México</p><p>(mão de obra não especializada) (SALVATORE, 2007).</p><p>O livre comércio entre os países permitiu que os Estados Unidos</p><p>importassem componentes intensivos em mão de obra do México, mas</p><p>mantivessem operações mais complexas — com salários mais altos — dentro do</p><p>próprio país (Estados Unidos). Uma das condições para a realização do NAFTA</p><p>estava na aprovação de uma série de outros acordos relacionados ao mundo do</p><p>trabalho, tais como normas ambientais e sobre as condições de trabalho. O objetivo</p><p>era evitar que empresas norte-americanas deslocassem unidades industriais</p><p>para o México e tirassem vantagens das regulamentações mais flexíveis quanto</p><p>à mão de obra, que diz respeito ao já crescente desenvolvimento das chamadas</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:North_American_Agreement_(orthographic_projection).svg</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:North_American_Agreement_(orthographic_projection).svg</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>86</p><p>indústrias maquiladoras. Os acordos alinhados à criação do NAFTA também</p><p>procuraram proteger alguns setores norte-americanos contra ondas de importação</p><p>que pudessem trazer algum prejuízo para a industrial local (SALVATORE, 2007).</p><p>“As empresas maquiladoras são aquelas que realizam a manufatura parcial,</p><p>encaixe ou empacotamento de um bem sem que sejam as fabricantes originais”</p><p>(ARRIETA, 2019, s.p.). Ou seja, são empresas estabelecidas no México, criadas</p><p>com o único fim de importar produtos intermediários dos Estados Unidos para</p><p>montagem ou encaixe de produtos finais a serem exportados de volta, utilizando</p><p>mão de obra mexicana de baixíssimo salário com o propósito de reduzir os custos</p><p>de produção das empresas norte-americanas.</p><p>Uma vez que as maquiladoras possuem, normalmente, capital</p><p>estadunidense, japonês, coreano, canadense e alemão, com reduzido capital de</p><p>propriedade nacional, os investimentos estrangeiros no setor foram amplamente</p><p>beneficiados por cargas tarifárias quase nulas promovidas pelo NAFTA, além</p><p>do baixo custo de transporte devido à localização próxima à fronteira entre</p><p>México e Estados Unidos (local onde se concentram-se as maquiladoras) e o</p><p>descumprimento de normas ambientais. Sem mencionar, ainda, no contexto de</p><p>utilização intensiva de segmentos trabalhistas nacionalmente mais explorados,</p><p>como é o caso da mão de obra feminina (ARRIETA, 2019).</p><p>FIGURA 9 – INDÚSTRIA MAQUILADORA NO MÉXICO</p><p>FONTE: <https://www.lavozdelafrontera.com.mx/incoming/jhy00j-4893666-483x297.jpg/</p><p>alternates/LANDSCAPE_768/4893666-483x297.jpg>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>Em 2004, somente a indústria maquiladora mexicana foi responsável por</p><p>46% das exportações nacionais totais do México, no valor de 86,95 bilhões de</p><p>dólares. Para comparação, o conjunto das exportações brasileiras em 2004 foi de</p><p>95 bilhões de dólares.</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>87</p><p>Em linhas gerais, os dados e as informações sobre o bloco econômico</p><p>evidenciam que o livre comércio promovido pelo NAFTA trouxe um crescimento</p><p>do comércio entre os países membros, mas vem contribuindo para a dependência</p><p>mexicana em um setor com pouca vinculação com sua economia local, já que</p><p>menos de 2% dos insumos utilizados são oriundos de empresas nacionais. Além</p><p>de fomentar uma dinâmica econômica com empregos precários, de altas taxas de</p><p>exploração e rotatividade dos postos de trabalho (ARRIETA, 2019).</p><p>Para que possamos comparar os blocos econômicos estudados com o Japão,</p><p>considerada uma das principais economias do mundo, acompanhe na tabela a</p><p>seguir os dados relativos à população, PIB, PIB per capita, bem como o nível de</p><p>exportações e importações para o período de grande relevância para o NAFTA.</p><p>TABELA 1 – PERFIL ECONÔMICO: UNIÃO EUROPEIA, NAFTA E JAPÃO, 2002</p><p>País/bloco População</p><p>(milhões)</p><p>PIB</p><p>(bilhões)</p><p>PIB</p><p>(per capita)</p><p>Exportações</p><p>(bilhões)</p><p>Importações</p><p>(bilhões)</p><p>Alemanha 82,4 1.870,4 22.670 721,0 643,3</p><p>França 59,9 1.342,7 22.010 392,4 365,6</p><p>Itália 57,5 1.097,9 18.960 313,9 300,7</p><p>Reino</p><p>Unido 59,1 1.486,2 25.250 404,8 436,6</p><p>Total da UE 379,4 8.057,2 21.171 3.048,6 2.889,2</p><p>Canadá 31,3 700,5 22.300 301,3 269,7</p><p>Estados</p><p>Unidos 291,0 10.110,1 35.060 974,4 1.392,1</p><p>México 102,0 596,7 5.910 173,4 186,3</p><p>Total do</p><p>NAFTA 424,3 11.140,3 27.111 1.448,8 1.848,1</p><p>Japão 127,5 4.265,6 33.550 461,3 409,7</p><p>FONTE: Adaptado de Salvatore (2007, p. 126)</p><p>Entre os 28 países que compõem a União Europeia foram selecionados apenas</p><p>os quatro mais relevantes quanto ao PIB para a apresentação na tabela.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os dados da tabela revelam que a União Europeia possui 89% da</p><p>população do NAFTA, 72% de seu PIB, 78% da média do PIB per capita, mas</p><p>suas exportações e importação excedem aquelas correspondentes ao NAFTA —</p><p>considerado que o comércio entre os países que compõem a UE também se refere</p><p>a comércio exterior.</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>88</p><p>O Japão possui 30% da população do NAFTA, 38% do PIB, 31% de</p><p>suas exportações, 22 de suas importações, mas o seu PIB per capita é</p><p>24% mais</p><p>elevado do que o do NAFTA. Desta forma, os dados evidenciam as diferenças nas</p><p>dinâmicas produtivas das economias mundiais selecionadas.</p><p>Oficialmente, o NAFTA teve fim em 2018, após a chegada do presidente</p><p>Donald Trump aos Estados Unidos. Contudo, nem todas as regras acordadas</p><p>foram extintas. Desde então, um novo acordo vem sendo discutido entre os países,</p><p>sobretudo, quanto às regras comerciais que não prejudiquem o emprego tanto de</p><p>mexicanos quanto de norte-americanos. O novo acordo, denominado United States-</p><p>Mexico-Canada Agreement — USMCA —, vem sendo chamado de NAFTA 2.0, por</p><p>substituir o NAFTA, ou T-MEC (Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá), e</p><p>procura renovar as tarifas para a indústria, discutir novas políticas para o comércio</p><p>digital, sem que os direitos trabalhistas sejam desprezados (USTR, 2019).</p><p>A página eletrônica do USMCA pode ser visualizada em https://ustr.gov/usmca,</p><p>bem como o texto completo do acordo assinado em novembro de 2018, é só acessar o</p><p>endereço: https://ustr.gov/trade-agreements/free-trade-agreements/united-states-mexico-</p><p>canada-agreement/agreement-between.</p><p>DICAS</p><p>Quando finalizado e implementado, segundo a imprensa oficial, o acordo</p><p>procurará criar um comércio mais equilibrado e recíproco entre os três países. Os</p><p>destaques do contrato incluem (USTR, 2019, s.p., tradução nossa):</p><p>• Criar condições de igualdade para os trabalhadores americanos,</p><p>incluindo regras de origem aprimoradas para automóveis, caminhões,</p><p>entre outros produtos e disciplinas sobre manipulação de moeda.</p><p>• Beneficiar agricultores, pecuaristas e agronegócios americanos,</p><p>modernizando e fortalecendo o comércio de alimentos e agricultura</p><p>na América do Norte.</p><p>• Apoiar a economia do século XXI através de novas proteções à</p><p>propriedade intelectual dos Estados Unidos e garantir oportunidades</p><p>para o comércio de serviços nos Estados Unidos.</p><p>• Foram adicionados novos capítulos ao acordo sobre comércio</p><p>digital, anticorrupção e boas práticas regulatórias, bem como um</p><p>capítulo dedicado a garantir que as pequenas e médias Empresas se</p><p>beneficiem do acordo.</p><p>O documento foi assinado em 1º de outubro de 2018, durante a cúpula do</p><p>G20 em Buenos Aires na Argentina. Entrará em vigor após ser aceito por todas as</p><p>esferas legislativas dos três países membros.</p><p>https://ustr.gov/usmca</p><p>https://ustr.gov/trade-agreements/free-trade-agreements/united-states-mexico-canada-agreement/agreement-between</p><p>https://ustr.gov/trade-agreements/free-trade-agreements/united-states-mexico-canada-agreement/agreement-between</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>89</p><p>Saiba mais sobre o USMCA com a leitura do artigo O U.S.-Mexico-Canada</p><p>Agreement (USMCA) e a política comercial de Trump, disponível em: https://www.opeu.org.</p><p>br/2018/10/31/o-u-s-mexico-canada-agreement-usmca-e-a-politica-comercial-de-trump.</p><p>DICAS</p><p>Da mesma forma que a respeito da União Europeia, é importante</p><p>acompanhar as notícias econômicas relativas ao recentemente criado USMCA,</p><p>cuja proposta procura dar novo impulso ao comércio entre Canadá, Estados</p><p>Unidos e México, já amplamente discutido no âmbito do NAFTA.</p><p>3.3 MERCADO COMUM DO SUL – MERCOSUL</p><p>Em nossos estudos sobre a integração econômica dos países já mencionamos</p><p>um pouco sobre o caso do Mercado Comum do Sul, o MERCOSUL, agora</p><p>poderemos dedicar um pouco mais de tempo para compreender a experiência</p><p>latino-americana de integração.</p><p>Embora o bloco seja denominado “mercado comum”, conforme os</p><p>conceitos vistos, não se trata, de fato, de um mercado comum. Em sua origem,</p><p>em 1991, o Mercosul surge como uma área de livre comércio, com a participação</p><p>de Argentina e Brasil, mas, em 1995, torna-se uma união aduaneira, com a</p><p>participação de Paraguai e Uruguai. Em 2013, a Venezuela é incorporada ao</p><p>bloco, mas, desde dezembro de 2016 o país encontra-se suspenso por tempo</p><p>indeterminado do bloco por não cumprir com as diretrizes do grupo no que</p><p>diz respeito à promoção e proteção dos direitos humanos (BANDEIRA, 2019).</p><p>Acompanhe na figura a seguir os países que compõem o bloco econômico.</p><p>https://www.opeu.org.br/2018/10/31/o-u-s-mexico-canada-agreement-usmca-e-a-politica-comercial-de-trump/</p><p>https://www.opeu.org.br/2018/10/31/o-u-s-mexico-canada-agreement-usmca-e-a-politica-comercial-de-trump/</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>90</p><p>FIGURA 10 – ESTADOS-MEMBROS E BANDEIRA DO MERCOSUL</p><p>FONTE: Adaptado de <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:MERCOSUR%2BCandidate_</p><p>countries_(orthographic_projection).svg>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>O processo de integração organizado pelo Mercosul teve início em 1988</p><p>com o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento Brasil-Argentina, prevendo</p><p>um espaço econômico comum aos dois países em um prazo máximo de dez anos.</p><p>Primeiramente, ambos os países deveriam harmonizar suas políticas</p><p>aduaneiras, comercial, agrícola, industrial e de transportes e comunicações, bem</p><p>como a coordenação de políticas monetária, fi scal e cambial. Em um segundo</p><p>momento seriam adequadas as demais políticas necessárias ao estabelecimento</p><p>de um mercado comum.</p><p>Com o Tratado de Assunção, o qual teve adesão também do Uruguai e do</p><p>Paraguai, o prazo para implantação da união aduaneira foi antecipado para 1994.</p><p>Contudo, foi com a criação da Tarifa Externa Comum (TEC), que se teve o marco</p><p>do início efetivo do Mercosul, em 1º de janeiro de 1995 (BANDEIRA, 2019).</p><p>Conjuntamente à TEC foi criada a Nomenclatura Comum do Mercosul</p><p>(NCM), cujo conteúdo menciona códigos e respectivos bens com tarifas específi cas</p><p>de importação para os países que compõem o Mercosul.</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>91</p><p>No Tópico 3, desta unidade, iremos estudar o tema das cotas de importações</p><p>brasileiras, as quais utilizam a Nomenclatura Comum do Mercosul.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Por meio destes mecanismos, o Mercosul padronizou a nomenclatura dos</p><p>produtos exportados e importados entre seus países membros, bem como criou</p><p>um regime tarifário comum. Acessando a lista podemos saber, por exemplo, que o</p><p>produto com NCM 0103.10.00 (Animais vivos da espécie suína, reprodutores de raça</p><p>pura) possui tarifa de 0% para importação, mas, o NCM 0103.91.00 (Animais vivos da</p><p>espécie suína, outros, de peso inferior a 50 kg) possui tarifa de 2% (BRASIL, 2019a).</p><p>Você pode conhecer a lista completa da TEC por meio do site do Ministério da</p><p>Economia, Indústria, Comércio e Serviços, acessando: http://www.mdic.gov.br/index.php/</p><p>comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais.</p><p>DICAS</p><p>Além do regime tarifário comum, a TEC informa produtos que são exceções</p><p>à lista, como é o caso dos produtos que possuem uma cota de importação, os</p><p>quais são indicados por “#” na lista. A indicação “BK” identifica as mercadorias</p><p>definidas como Bens de Capital; “BIT”, as mercadorias definidas como Bens de</p><p>Informática e Telecomunicações; “§”, códigos pertencentes à Lista de Exceções de</p><p>Bens de Informática e Telecomunicações. Desta forma, a TEC/NCM é o documento</p><p>que regulamenta as tarifas para o comércio internacional entre os países membros</p><p>do Mercosul (BRASIL, 2019a).</p><p>Leia os dados da tabela a seguir. Para compararmos com os dados</p><p>econômicos de União Europeia, NAFTA e Japão, adicionamos os países que</p><p>compõem o Mercosul à análise do perfil econômico.</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>92</p><p>TABELA 2 – PERFIL ECONÔMICO DE BLOCOS E PAÍSES SELECIONADOS, 2002</p><p>País/bloco População</p><p>(milhões)</p><p>RIB*</p><p>(bilhões)</p><p>RNB**</p><p>(per capita)</p><p>Exportações</p><p>(bilhões)</p><p>Importações</p><p>(bilhões)</p><p>Argentina 38,0 154,1 4.060 28,7 13,0</p><p>Brasil 176,3 497,4 2.850 70,0 61,9</p><p>Paraguai 5,7 6,4 1.170 2,9 2,7</p><p>Uruguai 3,4 14,8 4.370 2,7 2,5</p><p>Mercosul 223,4 672,7 3.036 104,3 80,1</p><p>Estados Unidos 291,0 10.110,1 35.060 974,4 1.392,1</p><p>Total do NAFTA 424,3 11.140,3 27.111 1.448,8 1.848,1</p><p>União Europeia 379,4 8.057,2 21.171 3.048,6</p><p>2.889,2</p><p>Japão 127,5 4.265,6 33.550 461,3 409,7</p><p>* Renda Interna Bruta (RIB).</p><p>** Renda Nacional Bruta (RNB).</p><p>FONTE: Adaptado de Salvatore (2007, p. 126)</p><p>O comércio entre países do Mercosul aumentou de US$ 4,1 bilhões, em</p><p>1990 (8,9% do total de seu comércio) para US$ 17,7 bilhões, em 2001 (20,9% do</p><p>total de seu comércio). Contudo, grande parte desse aumento decorre de desvio</p><p>de comércio dos produtores mais eficientes, externos ao bloco.</p><p>O Mercosul representa muito pouco quando comparado com os demais</p><p>blocos econômicos e o Japão: em média 10% da RIB, 11% da RNB per capita,</p><p>11% das exportações e 9 das importações. O Brasil e a Argentina são os mais</p><p>relevantes, com RIB de US$ 497,4 e US$ 154,1 bilhões, respectivamente</p><p>As crises do Brasil, em 1999, e da Argentina, em 2002, com reflexos amplos</p><p>na desvalorização das moedas nacionais, estremeceram bastante as relações entre</p><p>os principais integrantes do bloco, com forte receio de um colapso do Mercosul</p><p>como um todo. Em janeiro de 2003 as situações econômicas, financeiras e políticas</p><p>já haviam sido estabilizadas, de modo que as negociações junto ao Mercosul</p><p>puderam ser retomadas.</p><p>Acompanhe na notícia a seguir alguns dos problemas internos pelos quais</p><p>o Mercosul enfrentou e enfrenta em função da integração econômica de seus</p><p>países membros.</p><p>Cúpula do Mercosul é marcada por falta de decisões</p><p>Denise Chrispim Marin</p><p>A 38ª Reunião Cúpula do Mercosul foi marcada pela falta de decisões</p><p>relevantes para o fortalecimento da organização e sua consolidação como</p><p>união aduaneira, ou seja, um bloco que, como a União Europeia, adota uma</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>93</p><p>política comercial comum para as trocas de bens e serviços com países de fora</p><p>da região. Abaixo, seguem as principais omissões na agenda da reunião de hoje</p><p>em Montevidéu, algumas das quais deveriam ter sido acertadas há dez anos:</p><p>• TEC – O Mercosul alcançou um acordo no final de 2008, um nível técnico,</p><p>para eliminar a dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) sobre os</p><p>produtos de fora da região que cruzam mais de uma fronteira dentro do</p><p>bloco. A assinatura do compromisso foi vetada pelo Paraguai, que boicotou a</p><p>negociação do tema ao longo de 2009.</p><p>• Aduanas – Os termos do Código Aduaneiro do Mercosul também foram</p><p>concluídos no final de 2008. Previa a interconexão automática das aduanas</p><p>dos quatro sócios, a partir de informatização. Somada à eliminação da dupla</p><p>cobrança da TEC, o Código Aduaneiro tenderia a facilitar a retomada das</p><p>negociações do Mercosul com a União Europeia e com outros parceiros. A</p><p>falta de acordos nessas áreas atrasa a agenda externa do bloco.</p><p>• Parlamento – Embora os parlamentares dos quatro países tenham chegado</p><p>a um acordo, em 2008, a representação de cada sócio no Parlasul é um</p><p>imbróglio a ser resolvido. O governo do Paraguai protesta contra a proporção</p><p>recomendada – 75 representantes para o Brasil, 43 para a Argentina, 18 para</p><p>o Uruguai e mais 18 para o Paraguai. Ainda falta a definição dos critérios de</p><p>aprovação das decisões do Parlasul. Com o atraso, o Brasil não poderá incluir</p><p>a escolha de parlamentares do Mercosul nas eleições de 2010.</p><p>• Focem – O Fundo Estrutural de Convergência (Focem) vai acumular mais de</p><p>US$ 500 milhões em 2010, mas continuará subutilizado. Na reunião de hoje,</p><p>nenhum novo projeto foi aprovado. O objetivo de Montevidéu de conseguir</p><p>acesso a cerca de US$ 80 milhões do Focem para a instalação de um linhão de</p><p>energia elétrica entre a cidade uruguaia de San Carlos e Candiota, no Brasil,</p><p>foi mais uma vez abortado pela Argentina, por causa da disputa bilateral em</p><p>torno do investimento de uma fábrica de celulose no Uruguai.</p><p>FONTE: MARIN, D. C. Cúpula do Mercosul é marcada por falta de decisões.</p><p>2009. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cupula-do-</p><p>mercosul-e-marcada-por-falta-de-decisoes,478791. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>Embora coberta de desafios, a integração econômica por meio do Mercosul</p><p>teve uma mudança recente, com o anúncio do Acordo de Associação Mercosul-</p><p>União Europeia, realizado em julho de 2019 entre o Mercosul e a União Europeia.</p><p>As discussões que resultaram no acordo já eram antigas, pois, oficialmente, desde</p><p>1999 os integrantes dos dois blocos procuravam alinhar suas propostas para</p><p>promover o livre-comércio. O pacto é o primeiro no mundo que ocorre entre dois</p><p>blocos econômicos e o maior acordo comercial já realizado na história.</p><p>https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cupula-do-mercosul-e-marcada-por-falta-de-decisoes,478791</p><p>https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cupula-do-mercosul-e-marcada-por-falta-de-decisoes,478791</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>94</p><p>Um resumo informativo do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia</p><p>foi elaborado pelo governo brasileiro e publicado em julho de 2019. Trata-se do documento</p><p>oficial mais recente âmbito dessa discussão. Você pode conhecê-lo em: http://www.</p><p>itamaraty.gov.br/images/2019/2019_07_03_-_Resumo_Acordo_Mercosul_UE.pdf.</p><p>DICAS</p><p>Os produtos industriais, por exemplo, terão eliminação de 100% nas tarifas</p><p>para exportação. “Alguns produtos agrícolas de grande interesse do Brasil também</p><p>terão suas tarifas eliminadas, como suco de laranja, frutas e café solúvel” (BRASIL,</p><p>2019b, s.p.). Além da eliminação ou redução de barreiras tarifárias, as quais</p><p>envolvem muitos produtos, barreiras não tarifárias também foram acordadas,</p><p>como é o caso da participação do Mercosul em licitais da União Europeia.</p><p>Juntos, os países que formam o novo acordo representam 25% de toda</p><p>riqueza produzida no mundo, cerca de US$ 20 trilhões, criando uma das maiores</p><p>áreas de livre comércio do mundo. Além disso, estima-se que o PIB brasileiro seja</p><p>incrementado em US$ 87,5 bilhões em 15 anos (BRASIL, 2019b). Acompanhe alguns</p><p>dados econômicos atuais sobre ambos os blocos econômicos na figura a seguir.</p><p>FIGURA 11 – EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES, UE E MERCOSUL, 2018</p><p>FONTE: Landim, Neves e Coletta (2019, s.p.)</p><p>O anúncio público e político do acordo é resultado das negociações</p><p>preliminares que dão início a todo o processo normativo. O acordo deve entrar</p><p>em vigor, de fato, daqui dois anos, tempo para que os dois blocos possam</p><p>realizar a revisão técnica e jurídica dos termos acordados. Somente a partir deste</p><p>http://www.itamaraty.gov.br/images/2019/2019_07_03_-_Resumo_Acordo_Mercosul_UE.pdf</p><p>http://www.itamaraty.gov.br/images/2019/2019_07_03_-_Resumo_Acordo_Mercosul_UE.pdf</p><p>TÓPICO 1 | INTEGRAÇÃO ECONÔMICA</p><p>95</p><p>momento o acordo contará com uma data para a assinatura definitiva por parte</p><p>de seus membros, para que então siga aos respectivos Congressos dos países do</p><p>Mercosul e o Parlamento Europeu (LANDIM; NEVES; COLETTA, 2019).</p><p>Conforme foi possível perceber nos casos da União Europeia e do NAFTA,</p><p>estudados nesta unidade do Livro Didático de Economia Internacional, o tema</p><p>dos blocos econômicos é bastante atual e dinâmico. Portanto, para que os aspectos</p><p>teóricos e políticos aqui apresentados e discutidos possam ser assimilados com</p><p>facilidade não deixe de conferir as notícias sobre os blocos econômicos!</p><p>Acompanhe os itens a seguir e realize as autoatividades para uma revisão</p><p>completa do conteúdo. Bons estudos!</p><p>96</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Os acordos de comércio preferencial procuram garantir o comércio internacional</p><p>com um volume menor de barreiras para a circulação de bens e serviços entre</p><p>as nações participantes do acordo.</p><p>• As áreas de livre comércio correspondem a uma forma em que todas as barreiras</p><p>comerciais são removidas entre aqueles que são membros.</p><p>• As uniões aduaneiras, além de eliminar as barreiras comerciais, procuram</p><p>harmonizar as políticas comerciais dos países que as compõem.</p><p>• O mercado comum permite a livre movimentação de mão de obra, capital e</p><p>serviços entre as nações que são membros, além de contar com os benefícios</p><p>das demais formas de integração econômica.</p><p>• A união econômica representa a forma mais elevada de integração econômica</p><p>dada a complexidade de</p><p>negociação e acordo entre as partes envolvidas.</p><p>• A União Europeia (UE) foi fundada em 1957 como uma União Aduaneira, mas em</p><p>1993 torna-se um Mercado Comum composto, atualmente, por 28 Estados-membros.</p><p>• O comércio de bens industrializados expandiu significativamente entre os países</p><p>que não membros da UE, devido rápido crescimento do bloco e à redução das</p><p>tarifas médias sobre as importações.</p><p>• O NAFTA, Acordo de Livre Comércio da América do Norte, foi firmado em 1994</p><p>entre Canadá, Estados Unidos e México com objetivo de gerar livre comércio</p><p>de bens e serviços na região dos três países.</p><p>• Oficialmente, o NAFTA teve fim em 2018, mas nem todas as regras acordadas</p><p>foram extintas e um novo acordo vem sendo organizado entre os três países.</p><p>• O Mercosul foi criado em 1991 como uma área de livre comércio entre Argentina</p><p>e Brasil, mas torna-se em 1993 uma união aduaneira com a participação de</p><p>Paraguai e Uruguai.</p><p>• A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) foi criada em conjunto com a</p><p>Tarifa Externa Comum, que menciona códigos e produtos com tarifas específicas</p><p>de importação para os países que compõem o Mercosul.</p><p>97</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Qual a diferença entre as áreas de livre comércio e as uniões aduaneiras?</p><p>2 Cite um exemplo de uma área de livre comércio e de uma união aduaneira.</p><p>3 O que é um Mercado comum? Existe um caso atual para esta forma de</p><p>integração econômica?</p><p>4 Escreva um pouco sobre o caso da União Europeia.</p><p>5 O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) ainda existe?</p><p>Qual é o seu objetivo?</p><p>98</p><p>99</p><p>TÓPICO 2</p><p>INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Agora que já conhecemos um pouco sobre os aspectos políticos da Economia</p><p>Internacional é o momento de analisar os instrumentos da política comercial.</p><p>Quanto à análise de tarifas é importante distinguir as tarifas específicas das</p><p>ad valorem, mas, também, entender que a aplicação tarifária nas economias reais</p><p>ocorre por meio de um arranjo tarifário bastante complexo e singular para cada</p><p>situação, como é o caso do tratamento da nação mais favorecida (MFN/NTR).</p><p>Por outro lado, trouxemos aqui uma situação em que são investigados um</p><p>pouco dos efeitos gerados a partir da aplicação de uma tarifa de importação, com</p><p>base na curva de oferta e demanda e no preço mundial dos produtos importados.</p><p>O que ocorre com o preço do produto antes da aplicação da tarifa? E depois da</p><p>tarifa? Vamos descobrir?</p><p>Continue atento, ao final do tópico você encontrará itens e autoatividades</p><p>para revisar o conteúdo!</p><p>2 ANÁLISE DAS TARIFAS</p><p>Antes de começarmos, leia algumas notícias recentes:</p><p>“O governo decidiu reduzir a zero as alíquotas de importação de 281</p><p>máquinas e equipamentos pelo regime de ex-tarifário — em que é cobrado</p><p>um imposto menor para o ingresso de produtos não fabricados no Brasil.</p><p>Do total de itens, 261 são bens de capital (BK) e 20 bens de informática e</p><p>telecomunicações (BIT).</p><p>A medida foi publicada, nesta sexta-feira, no Diário Oficial da União.</p><p>Atualmente, as alíquotas de BK são, em média, de 14%, enquanto as de BIT são</p><p>de 16%”.</p><p>FONTE: <https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2019/08/governo-reduz-zero-</p><p>tarifas-de-importacao-de-281-maquinas-e-equipamentos.html>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2019/08/governo-reduz-zero-tarifas-de-importacao-de-281-maquinas-e-equipamentos.html</p><p>https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2019/08/governo-reduz-zero-tarifas-de-importacao-de-281-maquinas-e-equipamentos.html</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>100</p><p>“Tóquio e Washington alcançaram um consenso sobre os principais</p><p>pontos de um novo acordo comercial.</p><p>Os impostos sobre produtos agropecuários dos Estados Unidos, como</p><p>carne bovina e suína, vão ser reduzidos para o mesmo nível preferencial</p><p>aplicado aos membros da Parceria Transpacífica.</p><p>Por outro lado, o Japão não vai estabelecer novas cotas de importação</p><p>de manteiga e leite desnatado. O país é contrário à medida por ela exceder os</p><p>termos da Parceria Transpacífica”.</p><p>FONTE: <https://www.diarioinduscom.com/japao-e-eua-chegam-a-acordo-sobre-corte-de-</p><p>tarifas-para-importacoes/>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>“Os países do Mercosul vão zerar o imposto de importação para carros</p><p>fabricados na União Europeia num prazo de 15 anos, a partir do início de</p><p>validade do acordo comercial anunciado na última sexta-feira (28/6/2019)</p><p>pelos blocos”.</p><p>FONTE: <https://g1.globo.com/carros/noticia/2019/07/01/mercosul-vai-zerar-tarifa-de-</p><p>importacao-de-carros-da-uniao-europeia-em-15-anos-preve-acordo.ghtml>. Acesso em: 5</p><p>nov. 2019.</p><p>“Desde o último dia 7 deste mês (agosto de 2019), comprar no</p><p>exterior determinados tipos de fraldas descartáveis, absorventes higiênicos</p><p>e medicamentos para tratamento de pacientes com câncer e HIV/Aids ficou</p><p>mais barato. As tarifas de importação, antes de até 18%, foram reduzidas de</p><p>zero a 2%.</p><p>Esses produtos estão inseridos em uma lista de 17 itens que tiveram as</p><p>alíquotas de importação rebaixadas”.</p><p>FONTE: <https://oglobo.globo.com/economia/governo-reduz-tarifas-de-</p><p>importacao-de-remedios-para-cancer-aids-fraldas-absorventes-23876462>. Acesso</p><p>em: 5 nov. 2019.</p><p>O tema das tarifas do comércio entre os países aparece desde muito</p><p>tempo como capa em jornais ou destaque em notícias da área política. Basta uma</p><p>rápida olhada em periódicos de grande circulação para perceber que a economia</p><p>nacional é conectada com os aspectos de sua internacionalização.</p><p>As tarifas são as formas mais simples das políticas de comércio</p><p>internacional, pois são os impostos cobrados em um produto quando ele é</p><p>importado. Salvo o caso de planos tarifários específicos, os quais serão vistos</p><p>logo mais, as duas tarifas comumente praticadas mundialmente são as tarifas</p><p>específicas e as tarifas ad valorem. Vamos conhecê-las um pouco melhor?</p><p>https://www.diarioinduscom.com/japao-e-eua-chegam-a-acordo-sobre-corte-de-tarifas-para-importacoes/</p><p>https://www.diarioinduscom.com/japao-e-eua-chegam-a-acordo-sobre-corte-de-tarifas-para-importacoes/</p><p>https://g1.globo.com/carros/noticia/2019/07/01/mercosul-vai-zerar-tarifa-de-importacao-de-carros-da-uniao-europeia-em-15-anos-preve-acordo.ghtml</p><p>https://g1.globo.com/carros/noticia/2019/07/01/mercosul-vai-zerar-tarifa-de-importacao-de-carros-da-uniao-europeia-em-15-anos-preve-acordo.ghtml</p><p>https://oglobo.globo.com/economia/governo-reduz-tarifas-de-importacao-de-remedios-para-cancer-aids-fraldas-absorventes-23876462</p><p>https://oglobo.globo.com/economia/governo-reduz-tarifas-de-importacao-de-remedios-para-cancer-aids-fraldas-absorventes-23876462</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>101</p><p>A tarifa específica é uma taxa de importação cujo valor é fixo (em dólar)</p><p>para cada quantidade física de um produto (APPLEYARD; FIELD JR.; COBB,</p><p>2010). Desta forma, uma tarifa específica pode ser de $65 por tonelada importada</p><p>de casacos de malha ou $20 por unidade de garrafa de vinho importada. Esta</p><p>característica mostra que o valor total da taxa de importação é fixado de acordo</p><p>com a quantidade total de produtos recebidos do exterior, e não decorre do preço</p><p>do produto importado.</p><p>Por meio das tarifas específicas as autoridades fiscais podem recolher as</p><p>taxas de importação com bastante facilidade, pois não precisam saber seu valor</p><p>monetário, mas, apenas, a quantidade física das importações que chegam até o</p><p>país importador.</p><p>Contudo, há uma desvantagem fundamental da tarifa específica quanto à</p><p>proteção dos produtores internos do país que aplica a tarifa, uma vez que seu valor</p><p>produtivo varia inversamente ao preço do produto importado (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010). Ou seja, quando os preços dos produtos importados</p><p>se reduzem, o valor da produção interna aumenta, prejudicando os produtores</p><p>locais com a competição estrangeira.</p><p>Veja um exemplo: se o preço da importação é de $5, com uma tarifa de</p><p>$1 por unidade de produto, a tarifa equivale a 20% do preço do produto. Mas,</p><p>se há inflação e o preço da importação aumenta para $10, a tarifa específica será</p><p>de apenas</p><p>10% do preço do produto importado. Os produtores locais poderiam</p><p>sentir que esta tarifa não traz proteção para sua produção.</p><p>Com as inflações amplas após a Segunda Guerra Mundial, mas, também,</p><p>entre as décadas de 1970 e 1980, muitos países passaram a desconsiderar a</p><p>aplicabilidade das tarifas específicas. Na prática, elas ainda existem e são</p><p>utilizadas no comércio internacional de muitos bens.</p><p>A tarifa específica considera a quantidade total de produtos recebidos do</p><p>exterior. Sua cobrança é fixada por unidade do bem/produto importado. Assim, a aplicação</p><p>dessa taxa não decorre do preço do produto importado.</p><p>ATENCAO</p><p>E quanto às tarifas ad valorem? Pois bem, essas tarifas são fixadas a partir de</p><p>um percentual do valor monetário das unidades do bem/produto importado. Uma</p><p>das utilidades da aplicação dessa tarifa é a possibilidade de os produtores locais</p><p>reduzirem a perda de valor relativa à inflação dos preços mundiais, a qual não pode</p><p>ser suprimida com o uso da tarifa específica (APPLEYARD; FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>102</p><p>Neste caso, se o valor da tarifa ad valorem é de 10% sobre o valor de um</p><p>produto, uma importação de um produto cujo preço mundial é $10 terá tarifa ad</p><p>valorem de $1. Se a inflação aumentar o preço mundial para $20, o recolhimento</p><p>via imposto de importação também sobe, para $2.</p><p>A tarifa ad valorem é fixada a partir de um percentual do valor monetário das</p><p>unidades do bem/produto importado.</p><p>ATENCAO</p><p>Entretanto, embora as tarifas ad valorem sejam largamente utilizadas no</p><p>mundo, aqui também existem algumas dificuldades quanto ao uso da tarifa. Uma</p><p>vez que o imposto é baseado no valor monetário dos produtos, justamente para</p><p>evitar que a inflação prejudique o mercado interno, esse instrumento tarifário</p><p>depende do julgamento dos produtos importados pelos inspetores alfandegários</p><p>para sua cobrança.</p><p>Tendo conhecimento deste procedimento, o produtor e exportador,</p><p>muitas vezes, procura desvalorizar o preço total de seu produto em faturas e</p><p>contas de frete com o fim de reduzir a taxa sobre o valor final. Por sua vez, os</p><p>inspetores alfandegários poderiam supervalorizar o preço total do produto para</p><p>contrabalancear a desvalorização dos exportadores, ou ainda para aumentar o</p><p>nível de proteção e arrecadar um valor mais alto com a tarifa (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010). O resultado é a criação de uma dinâmica de constantes</p><p>ajustes por parte dos exportadores, bem como dos países-destino que dificulta a</p><p>execução continua e linear dessa tarifa.</p><p>2.1 OUTROS ASPECTOS DE PLANOS TARIFÁRIOS</p><p>Uma outra forma de aplicar tarifas ao comércio internacional é por meio</p><p>dos impostos preferenciais, os quais são aplicados de acordo com a origem</p><p>geográfica dos produtos a serem importados. Assim, o país que possui um</p><p>acordo a partir de um imposto preferencial paga tarifa mais baixa nas transações</p><p>internacionais de bens.</p><p>Este instrumento foi utilizado amplamente na Commonwealth da Grã-</p><p>Bretanha a partir de 1931, em que as taxas para importação eram menores se os</p><p>bens tinham origem em algum país-membro, como Austrália, Canadá ou Índia.</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>103</p><p>A Commonwealth foi criada em 1926 originalmente com o nome de</p><p>Comunidade Britânica das Nações e trata-se de uma organização intergovernamental</p><p>atualmente composta por 53 países membros com o intuito de facilitar o comércio</p><p>internacional e garantir desenvolvimento para as 2,4 bilhões de pessoas que compõem a</p><p>iniciativa (THE COMMONWEALTH, 2019).</p><p>NOTA</p><p>Atualmente, os impostos preferenciais da União Europeia permitem que</p><p>aos bens importados entre países que compõem o bloco econômico não seja</p><p>cobrada nenhuma tarifa, possibilitando um livre comércio (APPLEYARD; FIELD</p><p>JR.; COBB, 2010). O mesmo instrumento de comércio internacional se aplica</p><p>ao caso do recentemente extinto Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio</p><p>(NAFTA), firmado por Canadá, Estados Unidos e México em 1994.</p><p>Os impostos preferenciais levam em conta a origem geográfica dos produtos</p><p>que estão sendo importados. Portanto, é relevante destacar que este instrumento procura</p><p>realizar um tratamento diferenciado a partir do ponto de vista geográfico e político.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Outro exemplo para o caso dos impostos preferenciais está no Sistema Geral de</p><p>Preferências (GSP, em inglês). Estes impostos procuram dar preferência à entrada de</p><p>produtos importados oriundos dos países considerados menos desenvolvidos nos</p><p>países mais desenvolvidos. Assim, as exportações dos países menos desenvolvidos</p><p>são estimuladas por meio de tarifas reduzidas ou isentas para uma lista pré-</p><p>determinada de produtos elencados por cada país ou grupo de países.</p><p>Os países participantes desse sistema são: União Europeia (27 estados membros),</p><p>Estados Unidos (inclusive Porto Rico), União Aduaneira da Eurásia (Cazaquistão,</p><p>Rússia e Belarus), Suíça, Japão, Turquia, Canadá, Noruega, Nova Zelândia, e Austrália.</p><p>Veja as características elementares do Sistema Geral de Preferências:</p><p>• Unilateral e não recíproco: os outorgantes concedem o tratamento</p><p>tarifário preferencial, sem, contudo, obter o mesmo tratamento em</p><p>contrapartida.</p><p>• Autônomo: cada outorgante possui seu próprio esquema, que contém</p><p>a lista de produtos elegíveis ao benefício, respectivas margens</p><p>de preferências (redução da tarifa alfandegária) e regras a serem</p><p>cumpridas para a concessão do benefício, tais como Regras de Origem.</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>104</p><p>• Temporário: cada esquema é válido por um prazo determinado, mas,</p><p>historicamente, os outorgantes têm sempre renovado seus esquemas.</p><p>• Autorizado no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC)</p><p>por meio da “Cláusula de Habilitação”, por tempo indeterminado</p><p>(BRASIL, 2019c).</p><p>O Brasil também recebe os benefícios do Sistema Geral de Preferências por</p><p>meio dos países que possuem o acordo vinculado à economia brasileira, como é</p><p>o caso da Austrália, União Aduaneira da Eurásia (Cazaquistão, Rússia e Belarus),</p><p>Estados Unidos, Japão, Noruega, Nova Zelândia e Suíça.</p><p>Ao longo dos anos, sobretudo, no período mais recente do desenvolvimento</p><p>mundial, cuja dinâmica foi marcada pelos aspectos da globalização econômica,</p><p>o comércio internacional constituiu-se por meio de diversos acordos e planos de</p><p>tarifas comerciais. Outro instrumento tarifário desenvolvido foi realizado por</p><p>meio do tratamento da nação mais favorecida (MFN), também chamado de</p><p>relações comerciais normais (NTR).</p><p>De que se trata esse instrumento? O princípio é que os acordos bilaterais</p><p>realizados entre países sejam automaticamente aplicados aos países terceiros que</p><p>também realizarem comércio. Imagine que Estados Unidos e Índia estabeleçam um</p><p>acordo tarifário no qual Índia reduza as tarifas de importação dos computadores</p><p>norte-americanos, bem como Estados Unidos reduza as tarifas de importação dos</p><p>tecidos indianos. Agora, qualquer outro país que Estados Unidos tenha um acordo</p><p>MFN/NTR terá a mesma redução oferecida para a Índia. O mesmo ocorre com os</p><p>países que tiverem acordo MFN/NTR com a Índia, pois terão a mesma redução</p><p>oferecida pela Índia aos Estados Unidos (APPLEYARD; FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>O tratamento de MFN/NTR foi a base das negociações tarifárias</p><p>multilaterais após a Segunda Guerra Mundial a partir do Acordo Geral de Tarifas</p><p>e Comércio (GATT) de 1947, atualmente substituído pelos acordos discutidos no</p><p>âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).</p><p>A política internacional que fundamenta tanto o Acordo Geral de Tarifas e</p><p>Comércio (GATT) quanto a Organização Mundial do Comércio (OMC) será estudada no</p><p>próximo tópico deste livro.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>105</p><p>Mas e no mundo real, como estas tarifas funcionam? A tabela a seguir traz</p><p>alguns dados estatísticos sobre a tarifação para diferentes produtos.</p><p>A Tabela 3 mostra as tarifas de importação vigentes em 2007 nos Estados</p><p>Unidos para alguns produtos. Na coluna “MFN/NTR” temos as tarifas para os</p><p>países que fazem parte do tratamento da nação mais favorecida, e na coluna</p><p>“Não MFN/NTR”, as tarifas para aos parceiros comerciais remanescentes. Repare</p><p>que algumas taxas são específicas (cobradas por unidade), outras ad valorem</p><p>(cobradas a partir de um percentual do valor do produto), e noutros casos há</p><p>uma combinação de tarifas específicas e ad valorem.</p><p>TABELA 3 – TARIFAS DE IMPORTAÇÃO MFN/NTR PARA PRODUTOS SELECIONADOS,</p><p>ESTADOS UNIDOS, 2007</p><p>Produto MFN/NTR Não MFN/NTR</p><p>Caprinos 68¢/cabeça $3,00/cabeça</p><p>Espinafre</p><p>Fresco ou gelado 20% 50%</p><p>Congelado 14% 35%</p><p>Uísques escoceses e irlandeses Isento $1,99/litro</p><p>Clorometano (metilcloro) 5,5% 125%</p><p>Fio dental Isento 88¢/kg + 75%</p><p>Coleiras caninas 2,4% 35%</p><p>Arame redondo inoxidável Isento 34%</p><p>Jaquetas ou blazers masculinos infantis ou adultos</p><p>de tricô ou crochê</p><p>De lã ou algum pelo de animal 38,6¢/kg 77,2¢/kg + 54,5%</p><p>De algodão 13,5% 90%</p><p>Lixas e raspadeiras</p><p>Abaixo de 11 cm de comprimento Isento 47,5¢/dúzia</p><p>Abaixo de 11 cm, mas abaixo de 17 cm de</p><p>comprimento Isento 62,5¢/dúzia</p><p>Acima de 17 cm de comprimento Isento 77,5¢/dúzia</p><p>Baralhos Isento 10¢/pacote + 20%</p><p>Refis para caneta 0,4¢ cada + 2,7% 6¢ cada + 40%</p><p>FONTE: Adaptado de Appleyard; Field Jr.; Cobb (2010, p. 261-262)</p><p>As informações que se destacam a partir da visualização da tabela são</p><p>aquelas relativas à diferença entre as tarifas para os países que recebem o tratamento</p><p>da nação mais favorecida (MFN/NTR) e aqueles que não recebem. Enquanto o</p><p>espinafre fresco ou gelado, por exemplo, tem tarifa de importação ad valorem de</p><p>20% quando MFN/NTR, os países não MFN/NTR tem tarifa ad valorem de 50%. Ou</p><p>o caso do fio dental que tem isenção de imposto para MFN/NTR, mas imposto de</p><p>88¢ por quilo mais 75% sobre o valor do produto, para países não MFN/NTR.</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>106</p><p>TABELA 4 – TARIFAS DE IMPORTAÇÃO MFN/NTR PARA PRODUTOS SELECIONADOS,</p><p>ESTADOS UNIDOS, 2013</p><p>Produto MFN/NTR Não MFN/NTR</p><p>Roupa de cama, de malhas, estampadas, de algodão,</p><p>contendo quaisquer bordados, rendas, fitas, barra,</p><p>debrum, trabalho de enfeite ou adorno.</p><p>11,9% 90%</p><p>Toalha de mesa e guardanapos, exceto em ponto de tafetá</p><p>ou damasco, exceto tricô ou crochê, de algodão. 5,8% 40%</p><p>Roupa de toucador ou de cozinha, de felpa ou tecidos</p><p>similares, de algodão. 9,1% 40%</p><p>Cobertores e mantas, não especificados nem incluídos</p><p>em outros itens. 7,2% 90%</p><p>Colchas, edredons, cobertores e artigos similares, exceto</p><p>de algodão. 12,8% 90%</p><p>Roupas de cama, exceto malha ou crochê, estampadas,</p><p>de materiais têxteis, não especificadas nem incluídas em</p><p>outros itens (lençóis).</p><p>4,5% 90%</p><p>FONTE: Adaptado de Sebrae (2014)</p><p>Por fim, o último instrumento tarifário que veremos aqui trata-se dos</p><p>arranjos de divisão de produção. Inicialmente, estes manejos tarifários eram</p><p>chamados de provisões de recepção offshore (Offshore Assembly Provision — OAP),</p><p>justamente por levar à atenção as situações de comércio internacional em que</p><p>empresas são instaladas em países que possam oferecer benefícios fiscais ao seu</p><p>funcionamento, mas que continuam realizando comércio com suas economias de</p><p>origem. Vejamos como essa condição se realiza com um pouco mais de detalhes.</p><p>A legislação tarifária sobre a divisão de produção existe em diversos países</p><p>desenvolvidos e procura reduzir ainda mais os impostos para a importação de</p><p>bens específicos: aqueles bens importados que utilizaram bens intermediários</p><p>locais como parte do processo de produção de outros bens na indústria estrangeira</p><p>terão métodos diferenciados de cobrança de tarifas.</p><p>Imagine que os Estados Unidos importam celulares de Taiwan por $80 a</p><p>unidade. Se a tarifa de importação for de 15% por unidade, cada telefone chega</p><p>aos Estados Unidos custando $92, quando adicionamos o valor de $12 relativo</p><p>à tarifa. Agora, suponha que os bens intermediários utilizados na produção dos</p><p>celulares taiwaneses foram exportados dos Estados Unidos e custaram $52. Assim,</p><p>quando há um arranjo de divisão de produção, a tarifa dos Estados Unidos para</p><p>Os dados para 2013 também revelam estas diferenças. Veja na Tabela 4, a</p><p>seguir, informações sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil nos</p><p>setores de cama, mesa e banho.</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>107</p><p>a importação é aplicada apenas ao valor adicionado pelo país estrangeiro. Ou</p><p>seja, é aplicado ao valor do produto final ($80) menos o valor dos componentes</p><p>dos Estados Unidos ($52) utilizados na produção dos celulares em Taiwan.</p><p>Logo, o “valor tributável” será apenas sobre $28, pois $80 – $52 = $28. Com</p><p>o imposto de 15% sobre $28, a tarifa será de $4,20. Cada telefone chega, agora,</p><p>ao consumidor norte-americano, por apenas $84,20. Assim, há vantagens para o</p><p>consumidor dos Estados Unidos na aplicação do arranjo de divisão de produção.</p><p>Se compararmos as porcentagens, é possível ver que o valor aplicado como tarifa</p><p>representa apenas 5,25% do preço do produto, pois $4,20 / $80 = 5,25%. Muito</p><p>inferior à taxa de 15% no caso de incidir no valor integral do produto.</p><p>Obviamente que as vantagens não se manifestam em todos os agentes</p><p>econômicos. Os trabalhadores das indústrias protegidas pelo acordo de tarifas</p><p>dos Estados Unidos, aqueles das empresas que produzem celulares, vão discordar</p><p>da aplicação das tarifas diferenciadas, uma vez que as linhas de montagem de</p><p>celulares dos Estados Unidos serão transferidas para Taiwan. Essas vagas serão,</p><p>pouco a pouco, menores. Os trabalhadores das indústrias de componentes para os</p><p>celulares (bens intermediários) estarão satisfeitos, já que as empresas estrangeiras</p><p>serão incentivadas a utilizarem os componentes norte-americanos (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>3 OS EFEITOS DE UMA TARIFA</p><p>Você está lembrado do caso estudado sobre o país Isolândia e sua</p><p>produção de tecidos? Na Unidade 1 acompanhamos um possível cenário a</p><p>respeito da economia internacional por meio dos ganhos e das perdas quando</p><p>um país decide exportar ou importar produtos.</p><p>Quando o preço mundial de um determinado produto está acima do preço</p><p>interno de venda, haverá uma tendência à exportação do excedente ofertado,</p><p>gerando ganhos para os produtores e para o conjunto da economia, embora que,</p><p>em alguma medida, os consumidores saiam prejudicados.</p><p>Quando o preço mundial de um produto está abaixo do preço interno de</p><p>venda, haverá uma tendência à importação do excedente demandado, gerando</p><p>ganhos para os consumidores e para o conjunto da economia, os produtores</p><p>fiquem, em parte, prejudicados.</p><p>Desta forma, é possível concluir que tanto em um caso quanto no outro, os</p><p>ganhos serão maiores do que as perdas; o livre comércio aumentará o bem-estar total</p><p>dos isolandeses. Quais seriam os efeitos de uma tarifa para o caso da Isolândia?</p><p>Primeiramente, é importante lembrar que uma tarifa para a importação</p><p>dos tecidos não terá efeito se o país decidir exportar tecidos. Portanto, vejamos</p><p>o caso de os preços mundiais estarem abaixo do preço de equilíbrio interno,</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>108</p><p>propiciando uma tendência à importação de tecidos. A pergunta que procuramos</p><p>responder agora é se uma tarifa de importação deverá ou não fazer parte da</p><p>política comercial do país.</p><p>A partir da figura a seguir é possível visualizar o mercado de tecidos da</p><p>Isolândia, bem como os preços com e sem tarifa de importação.</p><p>GRÁFICO 1 – OS EFEITOS DE UMA TARIFA DE IMPORTAÇÃO</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 168)</p><p>Com a ocorrência do livre comércio internacional, o preço interno tende</p><p>a igualar-se ao preço mundial (preço sem tarifa). A aplicação da tarifa, por sua</p><p>vez, eleva o preço interno para além do preço mundial. Assim, o preço do tecido</p><p>importado e do tecido produzido internamente se aproxima do preço em</p><p>que o mercado interno se equilibraria sem o comércio internacional. Pois, os</p><p>produtores internos de tecidos, que competem com os produtores externos de</p><p>tecidos, podem vender seu produto pelo preço mundial acrescido do valor da</p><p>tarifa (MANKIW, 2013).</p><p>Bom, mas, se o preço interno com o</p><p>comércio internacional fica mais</p><p>próximo do preço de equilíbrio antes do comércio internacional, podemos afirmar</p><p>que a tarifa reduz a quantidade demandada de importações. Isto ocorre porque</p><p>a mudança de preço altera o comportamento dos produtores e consumidores</p><p>internos. Veja novamente no Gráfico 1: com a elevação dos preços ocasionada</p><p>pela tarifa, a quantidade demandada internamente se reduz de Q1</p><p>D para Q2</p><p>D; a</p><p>quantidade ofertada internamente aumenta de Q1</p><p>O para Q2</p><p>O.</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>109</p><p>Para visualizar a redução das quantidades a serem importadas basta</p><p>olhar para a marcação no gráfico representada por “importação sem tarifa” e</p><p>“importação com tarifa”. Enquanto a quantidade importada “sem tarifa” dizia</p><p>respeito ao excedente de demanda desde Q1</p><p>O até Q1</p><p>D, a quantidade importada</p><p>“com tarifa” é de apenas ao excedente de demanda relativo a Q2</p><p>O até Q2</p><p>D.</p><p>Agora, cabe também analisar os ganhos e as perdas resultantes da</p><p>aplicação da tarifa para as importações. Uma vez que a tarifa aumenta o</p><p>preço interno dos tecidos, os vendedores internos são beneficiados, mas, os</p><p>consumidores, prejudicados com a alta dos preços. Além disso, o governo</p><p>obtém receita com a arrecadação do imposto. Vejamos os ganhos e as perdas</p><p>por meio das mudanças do excedente do consumidor, do produtor e na receita</p><p>do governo, expressas na Tabela 5.</p><p>TABELA 5 – EXCEDENTES DO COMÉRCIO INTERNACIONAL COM APLICAÇÃO DA TARIFA</p><p>Antes da tarifa Depois da tarifa Mudança</p><p>Excedente do</p><p>consumidor A + B + C + D + E + F A + B – (C + D + E + F)</p><p>Excedente do</p><p>produtor G C + G + C</p><p>Receita do governo Nenhuma E + E</p><p>Excedente total A + B + C + D + E + F + G A + B + C + E + G – (D + F)</p><p>FONTE: Mankiw (2013, p. 168)</p><p>Antes da tarifa, o preço interno é igual ao preço mundial, portanto, o</p><p>excedente do consumidor se refere a toda a área mais escura acima do preço</p><p>mundial (A + B + C + D + E + F). O excedente do produtor é apenas G, pois se</p><p>refere à área entre o preço mundial e a oferta interna. Como não há tarifa, também</p><p>não há receita para o governo. Logo, o excedente total para a economia antes da</p><p>tarifa era toda a área escura do gráfico (A + B + C + D + E + F + G).</p><p>Depois da tarifa, o preço interno supera o preço mundial. Assim, o</p><p>excedente do consumidor se refere a somente A + B, do produtor aumenta para</p><p>C + G, e o governo passa a ter uma receita E. O excedente total tem duas áreas</p><p>suprimidas, D e F, pois não são apropriadas por nenhum agente econômico,</p><p>resultando assim em um excedente total representado por A + B + C + E + G.</p><p>Essa diminuição no excedente total é chamada de peso morto da tarifa.</p><p>“A área D representa o peso morto causado pela superprodução de tecidos, e</p><p>a área F representa o peso morto causado pelo subconsumo” (MANKIW, 2013,</p><p>p. 168). A tarifa, neste caso, reduziu a quantidade de importações e deslocou o</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>110</p><p>mercado para uma região mais próxima do ponto de equilíbrio que existiria sem</p><p>o comércio internacional. Assim, o excedente total da economia é reduzido para</p><p>um valor equivalente à área D + F.</p><p>O peso morto da área D também é entendido como perda pela distorção</p><p>da produção, que resulta do fato de que a tarifa leva os produtores internos a</p><p>produzirem muito desse bem. E o peso morto da área F, também é entendido</p><p>por perda pela distorção do consumo, devido à tarifa levar os consumidores</p><p>a consumirem muito pouco daquele determinado produto (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD, 2001).</p><p>Uma vez entendidos os efeitos básicos da tarifa de importação, poderíamos</p><p>retornar a nossa pergunta inicial sobre a política comercial de Isolândia. No</p><p>quadro a seguir está a resposta que a equipe econômica hipotética da Isolândia</p><p>daria à presidência do país:</p><p>QUADRO 3 – RESPOSTA DA HIPOTÉTICA EQUIPE ECONÔMIA DO PAÍS ISOLÂNDIA</p><p>Excelentíssima Sra. Presidenta,</p><p>A senhora nos fez uma última pergunta sobre a abertura comercial.</p><p>Depois de algum trabalho, temos a resposta.</p><p>Pergunta: uma tarifa de importação deverá fazer parte da nova política</p><p>comercial do país?</p><p>Resposta: uma tarifa terá um impacto somente se a Isolândia se tornar</p><p>um país importador. Nesse caso, a tarifa deixa a economia mais próxima do</p><p>equilíbrio sem comércio e, como a maior parte das tarifas, apresenta peso</p><p>morto. Embora a tarifa melhore o bem-estar dos produtores internos e aumente</p><p>a receita do governo, esses ganhos são muito mais que uma compensação pelas</p><p>perdas sofridas pelos consumidores. A melhor política, do ponto de vista da</p><p>eficiência econômica, seria permitir o comércio sem nenhuma tarifa.</p><p>FONTE: Adaptado de Mankiw (2013, p. 170)</p><p>Por fim, vale uma ressalva quanto à similaridade do nosso modelo com</p><p>a dinâmica da economia internacional real. Vimos que com a aplicação da tarifa,</p><p>o preço do produto sofre uma elevação, mas esta elevação total com relação ao</p><p>valor da tarifa só ocorre em economias “pequenas”.</p><p>Em economias de maior relevância, o aumento dos preços ocorre em menor</p><p>quantidade do que o valor da tarifa, porque parte da tarifa é refletida em um</p><p>declínio do preço de exportação do produto. Assim, contra as perdas de eficiência</p><p>proporcionadas pela tarifa devem ser comparados os ganhos em termos de troca,</p><p>que são justamente resultado do declínio do preço de exportação estrangeiro</p><p>TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL</p><p>111</p><p>causado pela aplicação da tarifa. Os ganhos em termos de troca dependem da</p><p>habilidade de reduzir os preços das exportações estrangeiras, por parte dos países</p><p>que impõem determinada tarifa (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Nas economias de menor relevância internacional, o efeito provocado por</p><p>sua tarifa é de um aumento do preço do produto pelo montante total da tarifa,</p><p>porque os países pequenos não afetam significativamente os preços estrangeiros.</p><p>Como resultado, as importações se reduzem no país que impôs a tarifa, de</p><p>modo que os custos de uma tarifa excedem seus benefícios sobre o bem-estar</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Uma vez que os ganhos e as perdas são distribuídos a diferentes grupos</p><p>econômicos, a avaliação total do custo-benefício da aplicação de uma tarifa</p><p>depende da forma pela qual avaliamos ser o benefício distribuído por cada</p><p>grupo. Um caso seria quando os beneficiados são os proprietários mais ricos</p><p>dos recursos, cujos consumidores são mais pobres do que a média. Outro caso,</p><p>quando um bem de luxo é comprado pelos mais ricos, embora fabricado pelos</p><p>trabalhadores de baixo salário.</p><p>Outra situação, ainda, é quanto aos ganhos do governo. Pois, se a receita</p><p>do governo será utilizada para financiar serviços públicos para diferentes classes</p><p>econômicas, teríamos um benefício bastante amplo com a aplicação da tarifa.</p><p>Do contrário, se essa receita fosse desperdiçada em projetos sobrevalorizados</p><p>por governos autoritários, os prejuízos superariam os ganhos (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD, 2001).</p><p>112</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• As tarifas são os impostos cobrados em um produto quando ele é importado.</p><p>• A tarifa específica é uma taxa de importação cujo valor é fixo (em dólar) para</p><p>cada quantidade física de um produto.</p><p>• As tarifas ad valorem são fixadas a partir de um percentual do valor monetário</p><p>das unidades do bem/produto importado.</p><p>• Os impostos preferenciais, os quais são aplicados de acordo com a origem</p><p>geográfica dos produtos a serem importados.</p><p>• O tratamento da nação mais favorecida (MFN), também chamado de relações</p><p>comerciais normais (NTR) é quando os acordos bilaterais realizados entre países</p><p>são automaticamente aplicados aos países terceiros que também realizarem</p><p>comércio.</p><p>• Com a aplicação de uma tarifa de importação os preços internos tendem a subir,</p><p>beneficiando os vendedores, mas prejudicando os consumidores.</p><p>• A diminuição do excedente total ocasionado pela aplicação de uma tarifa de</p><p>importação é chamada de peso morto da tarifa.</p><p>113</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Qual a diferença entre tarifas específicas e tarifas ad valorem para os</p><p>produtos importados?</p><p>2 Qual</p><p>a principal característica dos impostos preferenciais? Cite um exemplo.</p><p>3 O que é o processo conhecido por Tratamento da nação mais favorecida (MFN)?</p><p>4 Procure, neste tópico, as diferenças entre as tarifas de importação para países</p><p>que possuem acordo MFN/NTR e países que não possuem este acordo.</p><p>Mencione um exemplo.</p><p>5 O que podemos entender por tarifas aplicadas aos arranjos de divisão de</p><p>produção?</p><p>114</p><p>115</p><p>TÓPICO 3</p><p>SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS</p><p>INTERNACIONAIS</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Estamos chegando ao fim de mais uma unidade do Livro Didático de</p><p>Economia Internacional. Espero que você tenha conseguido aproveitar muito</p><p>bem os conteúdos apresentados e discutidos ao longo das páginas anteriores.</p><p>No entanto, ainda restam temáticas de grande relevância para a</p><p>compreensão do escopo político da economia internacional. Aliás, talvez estas</p><p>sejam as principais instituições na arena do sistema mundial de comércio.</p><p>Este tópico foi denominado Sistema mundial de comércio e organismos</p><p>internacionais, mas, antes de analisarmos os organismos e os acordos</p><p>internacionais, iremos avançar o tema das barreiras ao comércio a partir das</p><p>chamadas barreiras não tarifárias, que são aqui demonstradas pelos subsídios às</p><p>exportações, às cotas de importações e às restrições voluntárias às exportações.</p><p>Ao fim, saberemos sobre os efeitos causados por todas as barreiras tarifárias e não</p><p>tarifárias estudadas nesta unidade!</p><p>Em seguida, vamos analisar os aspectos fundamentais das negociações</p><p>internacionais na política comercial. Revisitaremos um pouco da história para</p><p>compreender a evolução dos acordos internacionais, principalmente, a respeito</p><p>do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, conhecido pela sigla GATT, o qual foi</p><p>base para formação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Você já ouviu</p><p>falar sobre a OMC? E sobre as rodadas comerciais? Elas são fundamentais para o</p><p>entendimento da organização da economia mundial na atualidade.</p><p>Desejamos, novamente, ótimos estudos. Confira as autoatividades e a</p><p>leitura complementar ao final desta unidade!</p><p>2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS: OUTROS INSTRUMENTOS DE</p><p>POLÍTICA COMERCIAL</p><p>Uma das preocupações que ocupa o pano de fundo de nossas discussões</p><p>sobre a economia internacional se refere à questão: “O quê ou como deveria ser a</p><p>política de comércio de um país?”</p><p>116</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Já conhecemos ao longo dos nossos estudos as principais tarifas de</p><p>importação, bem como alguns de seus efeitos na dinâmica de preços internos</p><p>e externos, mas ainda existem outros instrumentos bastante utilizados pelas</p><p>economias modernas na condução de suas políticas de comércio internacional.</p><p>Veja algumas manchetes jornalísticas recentes que evidenciam políticas</p><p>econômicas internacionais:</p><p>• Brasil considera zerar tarifa de importação do etanol dos EUA (Publicado em 5 de agosto</p><p>de 2019). Disponível em: https://exame.abril.com.br/economia/brasil-considera-zerar-tarifa-de-</p><p>importacao-do-etanol-dos-eua.</p><p>• União Europeia colocará limites à importação de aço do Brasil (publicado em 14 de janeiro</p><p>de 2019). Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/noticias/uniao-europeia-aco-brasil.</p><p>DICAS</p><p>O Brasil deveria utilizar de uma cota de importação para proteger sua</p><p>indústria da concorrência internacional? Quem seria beneficiado e quem perderia</p><p>com a implantação de uma cota de importação? Os benefícios compensariam os</p><p>custos? Haveria promoção de bem-estar? Estas e outras perguntas são discutidas</p><p>a todo momento quando o assunto é política comercial.</p><p>Por meio dessa perspectiva, estudaremos agora algumas formas alternativas</p><p>de intervenção dos governos na economia internacional, as chamadas barreiras não</p><p>tarifárias, para além das tarifas específicas e/ou ad valorem, como são os casos dos</p><p>subsídios às exportações, cotas de importações, restrições voluntárias às exportações</p><p>e a necessidade de requisitos locais. Vamos lá!? Acompanhe os itens a seguir.</p><p>2.1 SUBSÍDIOS ÀS EXPORTAÇÕES</p><p>A própria noção da palavra subsídio diz respeito a uma ação determinada</p><p>por um agente econômico. Pois, um subsídio trata-se de uma concessão monetária</p><p>feita pelo governo para determinadas atividades econômicas, tais como a indústria</p><p>ou a agricultura, com a finalidade de manter acessíveis os preços dos produtos ou</p><p>como forma de estímulo às exportações do país. Ademais, as quantias monetárias</p><p>pagas aos agentes econômicos pelos governos não terão contrapartida em forma</p><p>de produtos ou serviços, ou seja, são cifras destinadas exclusivamente à promoção</p><p>de políticas econômicas (SANDRONI, 1999).</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>117</p><p>Os subsídios às exportações, por sua vez, são os pagamentos realizados</p><p>pelo governo às empresas que embarcarem um bem específico para o exterior.</p><p>O subsídio também pode ser específico, quando se refere ao valor fixo por</p><p>unidade de produto, ou ad valorem, quando é uma proporção do valor exportado</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Quando um subsídio à exportação é oferecido pelo governo, os</p><p>exportadores tendem a exportar o produto até o ponto em que o preço interno</p><p>exceda o preço estrangeiro pela quantidade do subsídio. O gráfico a seguir revela</p><p>os efeitos de um subsídio sobre os preços.</p><p>GRÁFICO 2 – EFEITOS DE UM SUBSÍDIO À EXPORTAÇÃO</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001, p. 205)</p><p>O preço do produto no país exportador aumenta de Pi para Ps (preço</p><p>com subsídio), mas, com a queda do preço no país importador de Pi para P*</p><p>s,</p><p>o aumento do preço no país exportador é menor do que o subsídio. Ou seja, o</p><p>país exportador tem a capacidade de alterar a dinâmica dos preços mundiais do</p><p>produto devido às suas exportações.</p><p>Assim, no país exportador os consumidores são prejudicados pelo aumento</p><p>do preço, mas, os produtores, são beneficiados. Já o governo perde a quantia</p><p>relativa aos subsídios transferidos, embora tais perdas sejam planejadas no interior</p><p>das políticas de comércio executadas. A perda do consumidor refere-se à área a + b;</p><p>o ganho do produtor, a + b + c; o subsídio do governo, b + c + d + e + f + g.</p><p>As áreas b + d + e + f + g representam as perdas líquidas, ou o peso morto</p><p>tal como visto na unidade anterior deste livro. Tal como no caso da aplicação</p><p>de uma tarifa, as áreas b e d representam as perdas distorcidas do consumo</p><p>(subconsumo) e as perdas distorcidas da produção (superprodução).</p><p>118</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Mas, contrariamente às tarifas, os subsídios às exportações pioram os</p><p>termos de troca, baixando o preço da exportação no mercado estrangeiro de Pi</p><p>para P*</p><p>s. A perda pelos termos de troca se refere à área e + f + g, resultado de Pi – P*</p><p>s</p><p>vezes a quantidade de produtos exportada com o subsídio. Deste modo, o subsídio</p><p>à exportação resultou em custos mais altos do que os benefícios recebidos.</p><p>2.2 COTA DE IMPORTAÇÕES</p><p>Confira a notícia a seguir:</p><p>O governo da Austrália está pressionando os Estados Unidos para</p><p>aumentar a cota de importação anual de carne bovina, segundo</p><p>anunciado pelo ministro da Agricultura australiano, Warren Truss.</p><p>Segundo a Meat and Livestock Australia (MLA), caso não haja um</p><p>controle, os exportadores de carne do país cumprirão com a cota,</p><p>neste ano, antes do final de outubro, causando consideráveis perdas</p><p>aos produtores e processadores nos últimos meses do ano. Os EUA</p><p>impõem uma tarifa de importação de 25% para as carnes australianas</p><p>que ultrapassarem a cota (BEEFPOINT, 2019, s.p., grifo nosso).</p><p>As cotas de importação são restrições direta à quantidade de importação</p><p>de um produto. Para que o mercado interno seja privilegiado, os governos</p><p>normalmente emitem licenças para que algumas pessoas ou algumas empresas</p><p>possam importar certa quantidade de um produto.</p><p>No caso da notícia acima, o governo australiano solicitava que as cotas</p><p>norte-americanas fossem maiores para que os exportadores australianos não</p><p>sofressem prejuízos, já que não teriam mercado para escoar sua produção. Pois,</p><p>quando as cotas de importação</p><p>4.3.1 O Eurodólar............................................................................................................................166</p><p>4.4 A VULNERABILIDADE DO MERCADO CAMBIAL ..............................................................167</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................172</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173</p><p>TÓPICO 2 – DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL ..........175</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175</p><p>2 POTENCIAL DE CRESCIMENTO ECONÔMICO DOS PAÍSES</p><p>EM DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................178</p><p>2.1 BENEFÍCIOS E CUSTOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................182</p><p>2.2 A QUESTÃO DAS COMMODITIES ...........................................................................................185</p><p>XI</p><p>2.2.1 A doença holandesa .................................................................................................................187</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................193</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................194</p><p>TÓPICO 3 – O BRASIL NA ECONOMIA INTERNACIONAL ....................................................195</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................195</p><p>2 PRECEDENTES HISTÓRICOS DA ABERTURA ECONÔMICA DO BRASIL .....................196</p><p>2.1 A ABERTURA DA ECONOMIA BRASILEIRA DE 1990 .........................................................198</p><p>2.2 PERSPECTIVAS DO MERCADO INTERNACIONAL PARA O BRASIL .............................202</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................210</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................212</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................213</p><p>REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................215</p><p>XII</p><p>1</p><p>UNIDADE 1</p><p>TEORIA DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender a importância da economia internacional a partir de alguns</p><p>exemplos do cotidiano econômico;</p><p>• entender as origens do mercantilismo sob o ponto de vista do tema da</p><p>economia internacional;</p><p>• analisar a contribuição de Adam Smith e de sua Teoria da Vantagem</p><p>Absoluta para a economia internacional;</p><p>• compreender o modelo clássico de comércio internacional por meio da lei</p><p>das vantagens comparativas de David Ricardo;</p><p>• analisar os ganhos do comércio a partir da teoria neoclássica com base no</p><p>modelo de Heckscher-Ohlin.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você</p><p>encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>TÓPICO 2 – TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>TÓPICO 3 – ABORDAGENS ESTENDIDAS DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>2</p><p>3</p><p>TÓPICO 1</p><p>UNIDADE 1</p><p>AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Caro acadêmico, é um prazer tê-lo como leitor do Livro Didático de</p><p>Economia Internacional. O estudo das relações econômicas em nível internacional</p><p>foi um tema discutido já nos séculos XVIII e XIX, cujas análises serviram de base</p><p>para o conjunto da economia moderna. Contudo, a economia internacional nunca</p><p>foi tão importante como é atualmente.</p><p>A partir do comércio internacional de bens produzidos e serviços prestados,</p><p>além dos fluxos monetários, as economias dos países estão conectadas como jamais</p><p>estiveram na história da Economia. É por este motivo que a análise econômica</p><p>internacional se tornou uma estratégia do ponto de vista da política nacional de</p><p>cada território.</p><p>As teorias do comércio internacional continuam evoluindo desde sua origem</p><p>mais remota com a política mercantilista, a qual contribuiu significativamente para</p><p>a internacionalização do comércio entre os países. Contudo, é a partir da Teoria da</p><p>Vantagem Absoluta de Adam Smith que os conceitos e análises sobre o comércio</p><p>internacional são aprofundados e aprimorados. É a partir destes marcos que iremos</p><p>entrar no mundo da Economia Internacional!</p><p>Veja algumas perguntas que procuraremos responder ao longo das páginas</p><p>seguintes: De onde se origina a Economia Internacional? Qual a importância da</p><p>Economia Internacional? Como podemos entender o comércio internacional a partir</p><p>do mercantilismo? De que forma a Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith</p><p>contribui para o entendimento da teoria do comércio internacional?</p><p>Para que essas perguntas sejam respondidas da forma mais clara possível,</p><p>preparamos este livro com uma leitura fácil e dinâmica, embora seja preciso atenção e</p><p>dedicação para que os temas sejam perfeitamente assimilados. As páginas que você lerá</p><p>contam com ilustrações, informações adicionais e dicas para aprofundar o seu estudo.</p><p>Desejamos que tenha ótimos resultados com seus estudos! Vamos lá!?</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>4</p><p>2 A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA INTERNACIONAL</p><p>Imagine por alguns momentos que para todas as necessidades de sua</p><p>vida serem atendidas você apenas dependerá de suas próprias aptidões. Você</p><p>não poderia comprar nada de ninguém, nem mesmo trocar nada que possua por</p><p>outra coisa ou produto. Você teria que costurar as próprias roupas, plantar o</p><p>próprio alimento, construir a própria moradia. Qual tipo de produto tecnológico</p><p>você poderia produzir?</p><p>Ao menos, em um primeiro momento, o seu padrão de vida cairia muito,</p><p>pois faltariam muitos recursos necessários à produção de tudo aquilo que</p><p>desejamos em nosso dia a dia, sejam eles recursos materiais, habilidades que</p><p>precisariam ser adquiridas, ou mesmo tempo disponível e necessário.</p><p>Basta pensar em um dia comum de sua vida: você acorda pela manhã</p><p>e toma um copo de suco feito com laranjas plantadas no Brasil, mas que foram</p><p>exportadas in natura e importadas em forma de caixinhas de suco. O café matinal</p><p>talvez tenha percorrido caminho parecido. Enquanto degusta seu café, assiste a</p><p>um noticiário transmitido de São Paulo em sua televisão produzida na China em</p><p>um canal cujo satélite se localiza fora do planeta. Suas roupas são de algodão</p><p>plantado na Bahia e costuradas na Tailândia. Vai para as aulas de carro ou ônibus</p><p>com peças fabricadas em diversos países pelo mundo. Então, abra seu Livro</p><p>Didático de Economia Internacional, publicado em Santa Catarina, com árvores</p><p>cultivadas no Paraná.</p><p>FIGURA 1 – VARIEDADE DE PRODUTOS DE CONSUMO</p><p>FONTE: <https://st.depositphotos.com/1063437/3688/i/950/depositphotos_36886667-stock-</p><p>photo-variety-of-consumer-products-in.jpg>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>O fato é que não é possível participar diretamente de tudo aquilo que</p><p>consumimos. Todos os dias dependemos de muitas pessoas, empresas e políticas</p><p>econômicas de outros países (a maioria dos quais nem conhecemos) para nos</p><p>fornecerem os bens e serviços que desfrutamos em nossa casa, trabalho, faculdade.</p><p>Esta interdependência é possível porque os agentes econômicos</p><p>comercializam entre si. Os agentes econômicos,</p><p>são ultrapassadas, as tarifas de importação são</p><p>elevadas para 25%, inviabilizando o comércio internacional.</p><p>Um dos resultados relevantes para os nossos estudos é que a partir da</p><p>aplicação das cotas de importação para determinados produtos os preços dos</p><p>produtos são sempre elevados no país que os importou.</p><p>Com o limite para as importações, o resultado é que, em um primeiro</p><p>momento, a demanda será maior do que a oferta interna mais as importações. A</p><p>cota de importação elevará os preços internos da mesma forma que a tarifa limita</p><p>as importações. A diferença é que, com a cota, o governo não recebe nenhuma</p><p>receita (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>Veja na Tabela 6 a seguir alguns dados sobre as cotas brasileiras de</p><p>importação para produtos/posições selecionados. Atualmente existem 54 posições</p><p>na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) com resolução aprovada junto à</p><p>Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) estabelecendo</p><p>suas cotas de importação.</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>119</p><p>A coluna “NCM” apresenta o código e descrição do produto; na coluna</p><p>“Cota concedida”, os limites para importação do produto; na coluna “Cota</p><p>consumida”, os volumes já importados até agosto de 2019; na coluna “Tarifa”</p><p>estão as tarifas cobradas para os produtos importados além da cota concedida.</p><p>TABELA 6 - COTAS DE IMPORTAÇÃO PARA NCM SELECIONADAS, BRASIL, 2019</p><p>NCM Cota concedida Cota consumida (até</p><p>08/2019) Tarifa</p><p>0303.53.00 Sardinhas e sardinelas,</p><p>anchoveta 57.000 t 53.245 t 10%</p><p>3002.20.23 Vacinas para a medicina</p><p>humana, conta a Hepatite B 24.000.000 doses 17.310.000 doses 2%</p><p>1107.10.10 Malte, não torrado, inteiro ou</p><p>partido 400.000 t 200.000 t 14%</p><p>1513.29.10 Óleo de amêndoa de palma</p><p>(palmiste) 224.785 t 47.723 t 10%</p><p>2833.11.10 Sulfato dissódico de anidro 910.000 t 471.664 t 10%</p><p>3215.11.00 Tintas de impressão, pretas 455 t 241 t 14%</p><p>5303.10.10 Juta (fibra têxtil) 7.000 t 5.858 t 8%</p><p>FONTE: Elaboração própria com base em dados do Ministério da Economia, Indústria, Comércio</p><p>Exterior e Serviços (http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/importacao/</p><p>acompanhamento-das-cotas-de-importacao; http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-</p><p>exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais). Acesso em: 15 jan 2020.</p><p>No caso da barreira estabelecida pelas cotas, a soma do dinheiro que seria</p><p>arrecadado pelo governo com as tarifas será distribuída aos agentes econômicos</p><p>licenciados para a importação. Esses lucros recebidos a partir das cotas de</p><p>importação são chamados de rendas de cotas. Por isso que para avaliar os custos</p><p>e benefícios da aplicação de uma cota é preciso conhecer e determinar quem</p><p>recebe as rendas de cotas.</p><p>Para estudarmos um pouco sobre os efeitos das cotas de importação na</p><p>economia, vamos analisar o caso do açúcar importado pelos Estados Unidos a seguir.</p><p>UMA COTA DE IMPORTAÇÃO NA PRÁTICA: O AÇÚCAR NORTE-AMERICANO</p><p>Para garantir o preço doméstico do açúcar o governo federal dos Estados Unidos elevou</p><p>os preços nacionais acima dos níveis do mercado mundial. Contudo, a oferta doméstica norte-</p><p>americana não excede a demanda doméstica. Desse modo, os Estados Unidos podem manter os</p><p>preços domésticos no nível pretendido graças a uma cota de importação sobre o açúcar.</p><p>IMPORTANTE</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/importacao/acompanhamento-das-cotas-de-importacao</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/importacao/acompanhamento-das-cotas-de-importacao</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior-9/arquivos-atuais</p><p>120</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Uma característica especial dessa cota é que o direito de vender o açúcar nesse país</p><p>é concedido a governos estrangeiros, que repassam esse direito a seus próprios residentes.</p><p>Dessa maneira, as rendas geradas pela cota do açúcar recaem na mão de estrangeiros.</p><p>No gráfico a seguir vemos uma estimativa dos efeitos da cota do açúcar em</p><p>2005. A cota limitou as importações a aproximadamente 1,4 milhão de toneladas; em</p><p>decorrência, o preço do açúcar norte-americano ficou pouco mais que o dobro do preço</p><p>do resto do mundo. De acordo com esta estimativa, o livre comércio praticamente dobraria</p><p>as importações de açúcar para 3,7 milhões de toneladas.</p><p>Os efeitos da cota de importação sobre o bem-estar são representados pelas</p><p>áreas a, b, c e d. Os consumidores norte-americanos perdem o excedente a + b + c +</p><p>d, com um valor total de $1,674 bilhão. Parte dessa perda é transferida aos produtores de</p><p>açúcar dos Estados Unidos, que ganham o excedente do produtor, a: $0,853 bilhão. Parte</p><p>da perda representa a distorção da produção, b ($0,188 bilhão), e a distorção do consumo,</p><p>d ($0,281 bilhão). As rendas auferidas pelos governos estrangeiros que recebem os direitos</p><p>de importação resumem-se à área c, que é igual a $0,364 bilhão.</p><p>A perda líquida que os Estados Unidos sofrem consiste nas distorções (b + d) somadas</p><p>às rendas das cotas (c) — um total de $883 milhões por ano. No que que a maior parte dessa</p><p>perda líquida vem do fato de que quem recebe os direitos de importação são os estrangeiros.</p><p>A cota do açúcar ilustra, de forma extrema, a tendência de a proteção beneficiar</p><p>um pequeno grupo de produtores — que abocanham uma bela fatia do bolo — à custa de</p><p>muitos consumidores, que sofrem apenas um pequeno prejuízo.</p><p>Do ponto de vista dos produtores de açúcar, entretanto, a cota é uma questão de</p><p>vida ou morte. Uma vez que o setor açucareiro norte-americana emprega somente 38.000</p><p>trabalhadores, os ganhos dos produtores com a cota representam um subsídio implícito de</p><p>cerca de $20.000 por funcionário. Não é de se espantar que os produtores de açúcar lutem</p><p>com unhas e dentes para preservar essa proteção.</p><p>FONTE: Adaptado de Krugman e Obstfeld (2010, p. 148-149)</p><p>GRÁFICO – EFEITOS DA COTA DE IMPORTAÇÃO NORTE-AMERICANA SOBRE O AÇÚCAR</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>121</p><p>Pois bem, após conhecermos as barreiras não tarifárias promovidas pelos</p><p>subsídios às exportações e pelas cotas de importações, iremos estudar, por fim,</p><p>as restrições voluntárias às exportações, para que possamos comparar os efeitos</p><p>destas formas alternativas de intervenção dos governos na economia internacional</p><p>com a aplicação das tarifas.</p><p>2.3 RESTRIÇÕES VOLUNTÁRIAS ÀS EXPORTAÇÕES</p><p>Uma das variações das cotas de importações é a restrição voluntária à</p><p>exportação (RVE), também conhecida por acordo de restrição voluntária (ARV).</p><p>Neste caso, também temos a situação em que um país determina um limite para</p><p>o comércio internacional de um produto, mas a RVE diz respeito à cota imposta</p><p>pelo país exportador, e não pelo país importador.</p><p>Essas restrições, na verdade, são resultado de um acordo realizado entre</p><p>o país exportador e o país importador com o fim de evitar outras restrições</p><p>comerciais, como é o caso da aplicação das tarifas. “Uma restrição desse tipo</p><p>equivale a uma cota de importação na qual as licenças são atribuídas aos governos</p><p>estrangeiros — e tem, portanto, um custo muito alto para o país importador”</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD, 2010, p. 147).</p><p>Um exemplo da aplicação dessa restrição ocorreu com o mercado de</p><p>automóveis japoneses e sua exportação para os Estados Unidos na década de</p><p>1980. Entre 1960 e 1970 o mercado norte-americanos de automóveis estava</p><p>protegido contra a concorrência estrangeira, já que a opção dos consumidores era</p><p>por carros grandes e de alto consumo, uma vez que os impostos sobre a gasolina</p><p>eram muito baixos.</p><p>Os aumentos no preço do petróleo e a escassez temporária de gasolina</p><p>levaram inesperadamente os consumidores à opção de carros menores e de menor</p><p>consumo de gasolina, cuja oferta era predominantemente japonesa. A partir do</p><p>momento em que a quantidade de carros japoneses que eram comercializados nos</p><p>Estados Unidos aumentava, aumentava também a preocupação do</p><p>governo norte-</p><p>americano em proteger sua indústria local. Ao invés de agir diretamente contra</p><p>o Japão, criando uma guerra comercial, o governo dos Estados Unidos solicitou</p><p>que o Japão implantasse um limite para as suas exportações de automóveis.</p><p>Com receio das possíveis medidas protecionistas caso o pedido não fosse</p><p>atendido, os japoneses concordaram em limitar suas vendas: para 1,68 milhão de</p><p>automóveis em 1981, revisado para 1,85 milhão entre 1984 e 1985. Já em 1985 o</p><p>acordo estava suspenso. Os resultados básicos são de que o Japão respondeu a</p><p>cota melhorando a qualidade dos automóveis e vendendo, assim, automóveis</p><p>maiores e mais diversificados. Com o aumento dos preços dos automóveis</p><p>japoneses, houve um ganho por parte das empresas japonesas. O custo para</p><p>os Estados Unidos ficou estimado em US$ 3,2 bilhões em 1984, traduzidos por</p><p>transferências ao Japão (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>122</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Portanto, do ponto de vista econômico, uma restrição à exportação traz</p><p>um prejuízo para o país importador sempre maior do que uma tarifa que limita</p><p>as importações, além de que as receitas que seriam recebidas pelo governo</p><p>tornam-se rendas recebidas por estrangeiros. Por isso que a opção por este tipo</p><p>de restrição comercial tem uma base explicativa muito mais ampla no campo na</p><p>política internacional do que nos resultados econômicos.</p><p>Outro aspecto que cabe destacar é que os acordos de restrição voluntária</p><p>podem abranger mais de um país ao mesmo tempo. O mais famoso deles é o</p><p>Acordo Multifibras (Multi-Fiber Arrangement), que colocou um limite para as</p><p>exportações de produtos têxteis produzidos em 22 países até o início de 2005. Tais</p><p>acordos de restrição voluntária multilateral são conhecidos ainda por acordos</p><p>organizados de venda (AOV) (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>Após termos estudados os principais instrumentos de política comercial,</p><p>tanto a partir das tarifas quanto por meio das barreiras não tarifárias é possível</p><p>analisar alguns dos efeitos provocados nos agentes econômicos e na sociedade</p><p>como um todo. O Quadro 4, a seguir, compara os efeitos de quatro tipos de</p><p>política comercial sobre o bem-estar dos consumidores, produtores, governo e a</p><p>nação como um todo. Acompanhe:</p><p>QUADRO 4 – EFEITOS DE POLÍTICAS COMERCIAIS</p><p>Tarifa Subsídios às</p><p>exportações</p><p>Cota de</p><p>importação</p><p>Restrições</p><p>voluntárias às</p><p>exportações</p><p>Excedente do</p><p>produtor Aumenta Aumenta Aumenta Aumenta</p><p>Excedente do</p><p>consumidor Diminui Diminui Diminui Diminui</p><p>Receita do</p><p>governo Aumenta</p><p>Diminui (gasto</p><p>do governo</p><p>aumenta)</p><p>Não muda (rendas</p><p>para detentores de</p><p>licenças)</p><p>Não muda</p><p>(rendas para</p><p>estrangeiros)</p><p>Bem-estar</p><p>econômico</p><p>geral</p><p>Ambíguo</p><p>(diminui para</p><p>países pequenos)</p><p>Diminui</p><p>Ambíguo (diminui</p><p>para países</p><p>pequenos)</p><p>Diminui</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2010, p. 151)</p><p>O resumo dos instrumentos de política comercial revela que, por meio</p><p>de uma análise econômica mais direta, a intervenção do governo na economia</p><p>internacional não resulta em benefícios amplos para as sociedades. Todas as quatro</p><p>políticas beneficiam produtores e prejudicam consumidores. Quanto ao governo,</p><p>apenas as tarifas, de fato, aumentam as receitas. E o bem-estar econômico geral</p><p>promovido, no melhor das hipóteses é ambíguo, pois apenas economias mais</p><p>relevantes poderiam reduzir os preços internacionais com o comércio e, portanto,</p><p>resultar em benefícios para a sociedade.</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>123</p><p>Para que as tomadas de decisões no campo da economia a nível</p><p>internacional sejam mais bem compreendidas é fundamental que estejamos</p><p>atentos à política econômica internacional como um todo. O próximo item desta</p><p>unidade irá avançar nestes estudos por meio do entendimento das negociações</p><p>internacionais entre as nações.</p><p>3 NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS NA POLÍTICA COMERCIAL</p><p>Os temas levantados e discutidos sobre política comercial ao longo deste</p><p>livro não permitem que a defesa das restrições comerciais seja defendida por</p><p>todos e todas em diferentes economias mundiais. Pois, os argumentos relevaram</p><p>que o cenário para políticas comerciais que elevam o bem-estar social e econômico</p><p>dos países é bastante complexo, uma vez que tais políticas, assim como em tantos</p><p>outros níveis, são quase sempre dominadas por grupos nacionais e internacionais</p><p>de interesse.</p><p>De fato, a condução das políticas econômicas é altamente dinâmica e uma</p><p>das condicionantes para a formação do que conhecemos hoje por globalização</p><p>econômica diz respeito às alterações na economia internacional. A conjuntura</p><p>econômica mundial da segunda metade do século XX fez com as tarifas e outras</p><p>barreiras de comércio fossem gradativamente retiradas do âmbito do comércio</p><p>internacional, cujos impactos viabilizaram um rápido aumento da integração</p><p>internacional entre os países.</p><p>Para confirmar esta análise, basta olharmos para os dados estatísticos</p><p>sobre a evolução das tarifas de importação aplicadas por duas grandes economias</p><p>mundiais, Estados Unidos e Brasil. Veja os gráficos a seguir:</p><p>GRÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DAS ALÍQUOTAS DAS TARIFAS, ESTADOS UNIDOS, 1914-2005</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2010, p. 172)</p><p>124</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>GRÁFICO 4 – EVOLUÇÃO DAS ALÍQUOTAS DE IMPORTAÇÃO, BRASIL, 1983-2016</p><p>FONTE: Brasil (2019d, p. 1)</p><p>Quais outros fatores garantiram que a suspensão das tarifas fosse possível?</p><p>De que forma os governos de diferentes economias concordaram em realizar</p><p>uma redução mútua das tarifas? É justamente para responder estas questões que</p><p>ganha relevância o tema dos acordos de comércio e negociações internacionais</p><p>para a política comercial.</p><p>3.1 UM BREVE HISTÓRICO DOS ACORDOS DE COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAIS</p><p>O tema dos acordos internacionais teve início já na década de 1930,</p><p>quando a questão da redução das tarifas comerciais coordenada para o âmbito</p><p>internacional foi pensada como uma política comercial. Nesse período, os Estados</p><p>Unidos aprovaram a Lei Smoot-Hawley, cujas determinações aumentaram as</p><p>alíquotas das tarifas de importação norte-americanas de forma abrupta. A Lei foi</p><p>considerada de grande irresponsabilidade pela análise de diversos economistas,</p><p>uma vez que prejudicou fortemente a economia e contribuiu para aprofundar a</p><p>dinâmica de crescimento já afetada pela Grande Depressão.</p><p>Após alguns anos, o governo norte-americano concluiu que as tarifas</p><p>precisariam ser reduzidas. Contudo, foi justamente essa decisão que impulsionou</p><p>a formação de acordos bilaterais entre países. Como qualquer redução de tarifa</p><p>enfrentaria a oposição de alguns políticos, já que em seus distritos muitas empresas</p><p>beneficiavam-se com o aumento das tarifas, a solução era vincular a redução das</p><p>tarifas com alguns benefícios concretos para as empresas exportadoras. Assim, os</p><p>Estados Unidos passaram a estabelecer acordos com países que exportavam para</p><p>lá: ofereciam redução das tarifas de entrada em troca da redução das tarifas de</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>125</p><p>saída. Os dados mostram que as negociações bilaterais contribuíram na redução</p><p>das tarifas médias norte-americanas de 59% em 1932 para 25% após a Segunda</p><p>Guerra Mundial (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>Embora as negociações bilaterais fossem muito vantajosas, os seus impactos</p><p>acabavam atingindo — e beneficiando — as economias relacionadas àquelas que</p><p>negociavam os acordos. Pois, se as tarifas para importação do café brasileiro fossem</p><p>reduzidas por algum país, outros produtores de café, como a Colômbia, também</p><p>se beneficiariam com o aumento do preço mundial do café. Por isso que a próxima</p><p>etapa dos acordos para o comércio internacional ocorreu por meio dos acordos</p><p>multilaterais, os quais envolvem muitos países ao mesmo tempo.</p><p>Em 1947, portanto, logo após a Segunda Guerra Mundial, um grupo de</p><p>23 países iniciou o processo de realizar negociações multilaterais de comércio por</p><p>meio de um conjunto provisório de normas que ficou conhecido como Acordo</p><p>Geral sobre Tarifas</p><p>e Comércio (GATT – General Agreement on Tariffs and Trade).</p><p>O GATT garantiu a redução multilateral de tarifas durante toda sua operação até</p><p>meados da década de 1990.</p><p>As regras de conduta no âmbito do GATT eram monitoradas a partir de uma</p><p>sede física em Genebra, na Suíça, cujas principais restrições que o acordo estabelece</p><p>sobre o comércio internacional podem ser visualizadas na figura a seguir.</p><p>FIGURA 12 – PRINCIPAIS RESTRIÇÕES NO ÂMBITO DO GATT</p><p>FONTE: O autor</p><p>Desde sua criação em 1947 até 1994 o GATT, oficialmente, era apenas o</p><p>agrupamento dos acordos multilaterais realizados, embora sua influência na</p><p>economia mundial fora muito mais ampla do que apenas um conjunto de leis</p><p>internacionais. Contudo, suas “partes contratantes”, os países, não faziam parte</p><p>de uma organização internacional.</p><p>126</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Este cenário se altera em 1995 com a criação da Organização Mundial do</p><p>Comércio (OMC), cujo objetivo foi dar um corpo formal ao GATT, uma vez que</p><p>suas normas e a lógica básica do sistema permanece a mesma até a atualidade.</p><p>Você sabia que o diplomata brasileiro Roberto Azevedo é o atual diretor-geral</p><p>da Organização Mundial do Comércio? Ele concorreu e assumiu o cargo para o período</p><p>entre 2013 e 2017, mas, em fevereiro de 2017, foi indicado por consenso entre os membros</p><p>da OMC para permanecer no cargo até dezembro de 2020.</p><p>FONTE: <https://www.wto.org/english/thewto_e/dg_e/dg_e.htm>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>INTERESSANTE</p><p>Uma das dinâmicas bastante importante quanto à OMC é o processo de</p><p>vinculação de tarifas. Quando uma tarifa é vinculada, o país em que a tarifa está</p><p>vinculada compromete-se a não elevar a alíquota da tarifa no futuro. Quase todas as</p><p>tarifas dos países desenvolvidos estão, hoje em dia, com suas alíquotas vinculadas.</p><p>Dos países em desenvolvimento, cerca de 75% das alíquotas são vinculadas. Há</p><p>alguma mobilidade quanto à vinculação, pois um país pode aumentar alguma</p><p>alíquota caso outros países concordem, exigência que significa fornecer uma</p><p>compensação por meio da redução de outras alíquotas de importação. Ao longo</p><p>dos últimos 50 anos a dinâmica da vinculação de tarifas vem mostrando-se bastante</p><p>eficiente, e conta com poucos retrocessos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>Para que os debates em torno da política comercial internacional fossem</p><p>avançando ao longo do tempo o GATT criou um mecanismo chamado rodada</p><p>comercial, no qual governantes de muitos países reúnem-se para negociar</p><p>políticas para o comércio internacional, sobretudo, reduções de tarifas e outras</p><p>medidas com foco na liberalização do comércio.</p><p>Deste modo, oito rodadas foram realizadas desde a criação do GATT em</p><p>1947, sendo que a última delas concluída – a Rodada Uruguai – foi responsável</p><p>pela da criação da OMC. Em 2001, deu-se início a nona rodada comercial, que se</p><p>encontra em exercício desde então, conhecida por Rodada de Doha.</p><p>As cinco primeiras rodadas tiveram o formato de acordos bilaterais em</p><p>conjunto, no qual um país negociava a redução de tarifas com dois outros países</p><p>no mesmo acordo. Essa possibilidade de realizar acordos mais amplos contribuiu</p><p>para a redução substancial de tarifas.</p><p>https://www.wto.org/english/thewto_e/dg_e/dg_e.htm</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>127</p><p>Em 1967 concluiu-se a sexta rodada comercial, conhecida como Rodada</p><p>Kennedy, pela qual procurava-se reduzir 50% das tarifas dos principais países</p><p>industrializados, com foco nas tarifas a se isentar, e não na redução de produtos</p><p>em específico. Os resultados mostram que a rodada teve êxito em reduzir as</p><p>tarifas médias em torno de 35%.</p><p>A sétima rodada, Rodada Tóquio, foi concluída em 1979 e permitiu a</p><p>redução média das tarifas de 31% para os Estados Unidos, 27% para a União</p><p>Europeia e 28% para o Japão (SALVATORE, 2007). Além das reduções tarifárias,</p><p>houve um esforço para controlar a proliferação de barreiras não tarifárias, tais</p><p>como as restrições voluntárias à exportação e os acordos organizados de venda</p><p>(ambas citadas nesta unidade do livro).</p><p>3.2 A RODADA URUGUAI</p><p>A última rodada comercial do GATT já finalizada foi a Rodada Uruguai,</p><p>cujas negociações estenderam-se entre 1986 e 1994. A oitava rodada foi a mais</p><p>ambiciosa de todas as anteriores rodadas de negociações comerciais multilaterais,</p><p>cuja participação contou com a presença de representantes de 123 países. Foi,</p><p>também, a mais debatida: os desacordos entre Estados Unidos e União Europeia,</p><p>sobretudo, França, em relação aos subsídios agrícolas, atrasaram a conclusão das</p><p>negociações em pelo menos três anos (SALVATORE, 2007).</p><p>O objetivo específico da Rodada Uruguai foi verificar a proliferação de</p><p>um novo protecionismo e reverter sua tendência; abarcar os setores serviços,</p><p>agricultura, investimentos estrangeiros, bem como o tema da proteção dos</p><p>diretos de propriedade intelectual para a agenda das negociações internacionais;</p><p>e, melhorar os mecanismos de resolução de litígios (controvérsias) (SALVATORE,</p><p>2007). As principais disposições do acordo assinado em meados de 1994 podem</p><p>ser visualizadas no quadro a seguir:</p><p>QUADRO 5 – PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES DA RODADA URUGUAI</p><p>Tarifas</p><p>As tarifas impostas sobre produtos industrializados devem ser reduzidas de uma</p><p>média de 4,7% para 3%, e a parcela relativa a bens com tarifa zero deve aumentar</p><p>de 20/22% para 40/45%. As tarifas para produtos farmacêuticos, equipamentos</p><p>de construção, equipamento médicos, derivados do papel e aço foram totalmente</p><p>removidas.</p><p>Cotas</p><p>As nações devem substituir as cotas de importação sobre produtos agrícolas e</p><p>têxteis/vestuário por tarifas menos restritivas. Tarifas sobre produtos agrícolas</p><p>devem ser reduzidas em 24% nas nações em desenvolvimento e em 36% nas</p><p>nações desenvolvidas.</p><p>Subsídios</p><p>As exportações agrícolas subsidiadas devem ser reduzidas em 21%. Os subsídios</p><p>do governo para a pesquisa industrial estão limitados em 50% dos custos de</p><p>pesquisa aplicada.</p><p>128</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Salvaguardas</p><p>As nações podem temporariamente aumentar as tarifas ou outras restrições</p><p>contra uma onda de importações que prejudique gravemente um determinado</p><p>setor interno.</p><p>Propriedade</p><p>intelectual</p><p>O acordo prevê uma proteção de 20 anos em relação a patentes, marcas registradas</p><p>e direitos autorais, mas permite um período de adaptação gradual para a proteção</p><p>de patentes de produtos farmacêuticos para países em desenvolvimento.</p><p>Investimentos O acordo elimina a exigência de que investidores estrangeiros adquiram</p><p>componentes localmente ou que exportem tanto quanto importam.</p><p>Organização</p><p>Mundial do</p><p>Comércio</p><p>Houve a substituição do secretariado em torno do GATT pela criação da</p><p>Organização Mundial do Comércio (OMC), também em Genebra, na Suíça.</p><p>FONTE: Elaboração própria com base em informações de Salvatore (2007, p. 109-110).</p><p>De forma mais geral, os resultados da Rodada Uruguai podem ser agrupados</p><p>em duas grandes categorias: a liberalização do comércio e a reforma administrativa.</p><p>Quanto à liberalização do comércio, podemos perceber pelas informações</p><p>do quadro anterior que muitas medidas procuravam restringir as barreiras</p><p>comerciais e reduzir as tarifas para importação. Nesse contexto, os setores</p><p>econômicos da agricultura e do vestuário foram os que receberam maior atenção</p><p>no âmbito das negociações realizadas.</p><p>O Japão, por exemplo, precisou substituir suas cotas de importação para</p><p>produtos agrícolas por tarifas que não poderiam ser aumentadas no futuro. Outro</p><p>alvo foi a Política Agrícola Comum da União Europeia, cujos subsídios robustos</p><p>às exportações forçavam o aumento do preço mundial dos produtos agrícolas.</p><p>Já no setor têxtil, um dos focos foi relativo à extinção do Acordo Multifibras,</p><p>eliminando todas as restrições quantitativas ao comércio de produtos têxteis e</p><p>roupas. Em 2005, conseguiu-se a eliminação de todas as cotas de importação do</p><p>âmbito do Acordo Multifibras (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010).</p><p>No gráfico a seguir é possível visualizar o gráfico contendo as médias</p><p>das alíquotas de tarifas dos Estados Unidos entre 1990 e 2003 relacionadas com a</p><p>ocorrência das rodadas comerciais promovidas pelo GATT.</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>129</p><p>GRÁFICO 5 – MÉDIA DAS ALÍQUOTAS DE TARIFAS E OCORRÊNCIA DAS RODADAS</p><p>COMERCIAIS, ESTADOS UNIDOS, 1990-2003</p><p>M</p><p>éd</p><p>ia</p><p>d</p><p>as</p><p>A</p><p>líq</p><p>uo</p><p>ta</p><p>s</p><p>de</p><p>T</p><p>ar</p><p>ifa</p><p>s</p><p>Pr</p><p>im</p><p>ei</p><p>ra</p><p>G</p><p>ue</p><p>rr</p><p>a</p><p>M</p><p>un</p><p>di</p><p>al</p><p>Se</p><p>gu</p><p>nd</p><p>a</p><p>G</p><p>ue</p><p>rr</p><p>a</p><p>M</p><p>un</p><p>di</p><p>al</p><p>Le</p><p>i d</p><p>e</p><p>A</p><p>co</p><p>rd</p><p>os</p><p>C</p><p>om</p><p>er</p><p>ci</p><p>ai</p><p>s</p><p>(1</p><p>93</p><p>4)</p><p>Ro</p><p>da</p><p>da</p><p>K</p><p>en</p><p>ne</p><p>dy</p><p>(1</p><p>96</p><p>7)</p><p>Ro</p><p>da</p><p>da</p><p>T</p><p>óq</p><p>ui</p><p>o</p><p>(1</p><p>97</p><p>9)</p><p>Ro</p><p>da</p><p>da</p><p>U</p><p>ru</p><p>gu</p><p>ai</p><p>(1</p><p>99</p><p>3)</p><p>G</p><p>att</p><p>(1</p><p>94</p><p>7)</p><p>Le</p><p>i d</p><p>e</p><p>Ta</p><p>ri</p><p>fa</p><p>s</p><p>Sm</p><p>oo</p><p>t-</p><p>H</p><p>aw</p><p>le</p><p>y</p><p>(1</p><p>93</p><p>0)</p><p>FONTE: Salvatore (2007, p. 109)</p><p>Por outro lado, os resultados da Rodada Uruguai estão nas mudanças</p><p>administrativas e institucionais da política econômica internacional por meio da</p><p>criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 1995 a OMC substituiu</p><p>o secretariado formado para conduzir as operações do GATT em Genebra. “A OMC</p><p>se tornou a organização que os opositores da globalização amam odiar; ela tem</p><p>sido acusada pela esquerda e pela direta de agir como uma espécie de governo</p><p>mundial, minando a soberania nacional” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010, p. 174).</p><p>Como já mencionado, do ponto de vista legal, o GATT era um acordo</p><p>provisório entre países, mas que na prática foi utilizado desde sua criação em</p><p>1947 até 1994; a OMC é uma organização internacional, de fato.</p><p>Contudo, os objetivos fundamentais continuaram os mesmos, tanto que</p><p>a maior parte do texto original do GATT foi incorporado a normas da OMC.</p><p>Entretanto, se o GATT se preocupava exclusivamente ao comércio de bens, as</p><p>regulamentações da OMC abrangeram também o setor de serviços, tais como as</p><p>operações de bancos, seguradoras, consultorias, entre outros, criando, assim, o</p><p>Acordo Geral sobre Comércio e Serviços (GATS – General Agreement on Trade in</p><p>Services). Os acordos no âmbito do GATS ainda possuem pouco impacto, mas</p><p>seu propósito principal está em servir como base para futuras negociações para</p><p>o setor de serviços.</p><p>130</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Outro avanço importante da OMC diz respeito à atenção ao tema da</p><p>propriedade intelectual, cujas reestruturações produtivas, em 1990, e anos</p><p>subsequentes reorganizaram a forma de produção, criando setores inteiramente</p><p>novos. Basta pensarmos que Google, Facebook, Uber e Netflix são os grandes</p><p>produtos da atualidade, cuja dependência de “propriedade intelectual” substituiu</p><p>a dependência do capital físico. Como a proteção de patentes e direitos autorais</p><p>tornou-se fundamental, sobretudo, em mercados globalizados, a OMC também</p><p>criou o Acordo de Aspectos da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio</p><p>(TRIPS – Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property).</p><p>3.3 A RODADA DE DOHA</p><p>As negociações internacionais sobre o comércio na atualidade têm espaço</p><p>no contexto da Rodada de Doha, a qual teve início na cidade de Doha, capital</p><p>do Qatar, em 2001. Doha contou, até o presente momento, com conferências</p><p>posteriores em Cancún (2003), Genebra (2004), Paris (2005), Hong Kong (2005)</p><p>e Bali (2013). Contudo, a atual rodada comercial da OMC encontra-se em uma</p><p>situação de inércia indeterminadamente, já que nenhum amplo acordo foi</p><p>assinado pelas economias participantes.</p><p>O objetivo geral da Rodada foi buscar o livre comércio e o crescimento</p><p>econômico, com ênfase nas necessidades dos países em desenvolvimento, cujas</p><p>negociações incluem os temas:</p><p>Agricultura, acesso a mercados para bens não agrícolas (NAMA),</p><p>comércio de serviços, regras (sobre aplicação de direitos antidumping,</p><p>subsídios e medidas compensatórias, subsídios à pesca e acordos</p><p>regionais), comércio e meio ambiente (incluído o comércio de bens</p><p>ambientais), facilitação do comércio e alguns aspectos de propriedade</p><p>intelectual, além de uma discussão horizontal sobre tratamento especial</p><p>e diferenciado a favor de países em desenvolvimento (BRASIL, 2019e).</p><p>Atribui-se o fracasso da Rodada de Doha ao sucesso das rodadas anteriores,</p><p>pois, as reduções tarifárias acordadas anteriormente permanecem em vigor, bem</p><p>como a dinâmica do comércio mundial, que se encontra muito mais “livre”, do</p><p>ponto de vista das barreiras comerciais, do que em qualquer outro período da</p><p>história da economia moderna.</p><p>As barreiras comerciais que ainda existem são relativamente baixas,</p><p>de modo que os ganhos potenciais com a liberalização maior da economia são</p><p>pequenos. Estas informações podem ser visualizadas na tabela a seguir, que</p><p>contém estimativas do Banco Mundial sobre a procedência dos ganhos de bem-</p><p>estar com a eliminação das barreiras restantes ao comércio e dos subsídios à</p><p>exportação. Entre os bens manufaturados, os dois setores que se destacam são</p><p>agricultura e têxteis, com ganhos potenciais mais elevados, cujas negociações</p><p>dependem fortemente das disputas políticas de cada país.</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>131</p><p>TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS GANHOS POTENCIAIS DO LIVRE COMÉRCIO</p><p>Liberalização plena de:</p><p>Economia Agricultura e alimentos Têxteis e vestuário Outros bens Todos os bens</p><p>Países desenvolvidos 46 6 3 55</p><p>Países em</p><p>desenvolvimento 17 8 20 45</p><p>Todos 63 14 23 100</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2010, p. 178)</p><p>São perceptíveis os ganhos elevados dos países desenvolvidos no setor</p><p>de Agricultura e alimentos quando comparados aos ganhos dos países em</p><p>desenvolvimento. Contudo, no contexto mais geral, quando envolvemos todos os bens</p><p>ou setores econômicos, há certa distribuição dos ganhos para ambas as economias.</p><p>O fato é que a participação dos países nas rodadas comerciais vem</p><p>aumentando ao longo do tempo, bem como o percentual de corte nas tarifas</p><p>para importação. A tabela a seguir procura trazer um panorama das rodadas</p><p>de negociações comerciais realizadas pelo GATT e pela OMC e, também, os</p><p>principais ajustes acordados multilateralmente pelos países. Acompanhe:</p><p>TABELA 8 – AS RODADAS COMERCIAIS DO GATT, 1947-1993, E A RODADA DA OMC, 2001</p><p>Ano Local/Nome</p><p>Número</p><p>de países</p><p>participantes</p><p>Matéria abordada</p><p>Percentual de corte</p><p>em tarifas</p><p>1947 Genebra 23 Tarifas 21</p><p>1949 Annecy 13 Tarifas 2</p><p>1951 Torquay 38 Tarifas 3</p><p>1956 Genebra 26 Tarifas 4</p><p>1960-1961</p><p>Genebra</p><p>(Rodada Dillon)</p><p>26 Tarifas 2</p><p>1964-1967</p><p>Genebra</p><p>(Rodada Kennedy) 62</p><p>Tarifas e medidas</p><p>antidumping</p><p>35</p><p>1973-1979</p><p>Genebra</p><p>(Rodada Tóquio)</p><p>102</p><p>Tarifas, medidas não tarifárias,</p><p>acordos multilaterais</p><p>33</p><p>1986-1993</p><p>Genebra</p><p>(Rodada Uruguai)</p><p>123</p><p>Tarifas, medidas não tarifárias,</p><p>agricultura, serviços, produtos</p><p>têxteis, propriedade intelectual,</p><p>solução de litígios, criação da</p><p>OMC</p><p>34</p><p>2001 (não</p><p>concluída)</p><p>Doha</p><p>(Rodada Doha)</p><p>144</p><p>Liberalização do comércio</p><p>global na agricultura, bens</p><p>industrializados e serviços</p><p>Não acordado</p><p>FONTE: Salvatore (2007, p. 111)</p><p>132</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>Por meio dos mecanismos criados a partir da OMC as negociações sobre</p><p>o comércio internacional tem um espaço político próprio, tão controverso quanto</p><p>os desafios internos e próprios a cada nação. Sérios problemas ainda tumultuam</p><p>o cenário internacional de comércio, tal como as desavenças comerciais entre</p><p>Estados Unidos e União Europeia a respeito de diversos setores produtivos; os</p><p>subsídios e tarifas bastante elevados mundialmente para produtos agrícolas; a</p><p>tendência de divisão da economia mundial em blocos comerciais de acordos</p><p>bilaterais; e, o estabelecimento de padrões das condições de trabalho e de questões</p><p>ambientais, sendo que este último tema é debate dominante em diversas outras</p><p>“arenas” internacionais (SALVATORE, 2007).</p><p>TÓPICO 3 | SISTEMA MUNDIAL DE COMÉRCIO E ORGANISMOS INTERNACIONAIS</p><p>133</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>OMC AUTORIZA EUA A APLICAREM SANÇÕES A ITENS DA UE,</p><p>QUE JÁ FALA EM RETALIAÇÃO</p><p>Silvia Ayuso</p><p>O Governo dos Estados Unidos anunciou a adoção de novas tarifas de</p><p>importação para produtos oriundos da União Europeia a partir de 18 de outubro.</p><p>A medida ocorre depois</p><p>de a Organização Mundial do Comércio (OMC) emitir,</p><p>nesta quarta-feira, uma decisão favorável a Washington em uma prolongada</p><p>disputa comercial, que durou 15 anos. As sanções têm como objetivo compensar</p><p>um dano econômico que o Escritório de Comércio Exterior dos EUA norte-</p><p>americano valorou em 11,2 bilhões de dólares (45,86 bilhões de reais) anuais a sua</p><p>indústria de aviação civil por conta de subsídios de Governos europeus à francesa</p><p>Airbus, para o desenvolvimento do A350 e A380.</p><p>Na sentença, a OMC determinou que Washington pode impor sanções</p><p>comerciais à UE num valor de 7,5 bilhões de dólares por ano, mas o escritório de</p><p>Comércio Exterior explicou que, por enquanto, as tarifas serão limitadas a 10% para</p><p>aeronaves civis grandes e 25% para certos produtos agrícolas. É a maior sanção</p><p>já aprovada pela OMC por conta de uma disputa. Os países mais afetados serão</p><p>França, Alemanha, Espanha e Reino Unido, os "quatro responsáveis pelos subsídios</p><p>ilegais", segundo o Governo dos EUA. Entre os itens que terão uma sobretaxa estão,</p><p>além dos aviões da Airbus, vinhos, queijo fresco, azeitonas, azeite de oliva e produtos</p><p>suínos de origem espanhola, alemã e britânica, segundo uma lista distribuída pelo</p><p>escritório de Comércio Exterior. "Os EUA começarão a impor tarifas aprovadas</p><p>pela OMC a certos produtos da UE a partir de 18 de outubro", informou em nota o</p><p>representante de Comércio Exterior dos EUA, Robert Lighthizer.</p><p>Represálias da França se Trump não negociar</p><p>A França foi primeira a anunciar a intenção de adotar retaliações se os</p><p>EUA efetivamente aplicarem as tarifas. O ministro da Economia do país, Bruno</p><p>Le Maire, afirmou nesta quinta-feira que a Europa responderá com “sanções”</p><p>se os Estados Unidos se negarem a negociar uma solução. "Estendemos a mão.</p><p>Estendemos a mão nos últimos meses porque pensamos que era do interesse</p><p>político e econômico tanto dos Estados Unidos como da Europa”, recordou</p><p>Maire. Mas “se o Governo norte-americano rejeitar a mão estendida pela França</p><p>e pela UE, estaremos preparados para reagir com sanções […] que a OMC nos</p><p>autorizará”, advertiu o ministro francês.</p><p>Le Maire é um dos ministros de Economia europeus que mais negociaram</p><p>com seus pares norte-americanos nos últimos meses, já que a França ostenta,</p><p>neste ano, a presidência do G7, em cuja cúpula de agosto, em Biarritz, se alcançou</p><p>precisamente um princípio de acordo com Washington para taxar as plataformas</p><p>tecnológicas em todo o mundo.</p><p>Pouco antes, numa entrevista pela televisão, a porta-voz do Governo</p><p>134</p><p>UNIDADE 2 | POLÍTICA COMERCIAL INTERNACIONAL</p><p>francês, Sibeth Ndiaye, também deixou claro que a França preparará “medidas</p><p>de represália” contra os EUA “em comum acordo com a UE” se Washington de</p><p>fato aplicar as novas alíquotas.</p><p>“Sempre dissemos aos EUA que consideramos melhor obter soluções</p><p>amistosas em vez de entrar em conflitos comerciais”, mas, se isto ocorrer, “a</p><p>Europa não se entregará” e buscará “uma resposta consensual em nível europeu”.</p><p>"Evidentemente, prevemos medidas de represália" em comum acordo com a</p><p>UE, afirmou Sibeth Ndiaye, sem detalhar quais seriam essas medidas ou quais</p><p>produtos norte-americanos seriam afetados. "Lamento que estejamos metidos</p><p>nesta guerra comercial com os EUA, porque com ela há poucas possibilidades</p><p>de crescimento coletivo", acrescentou, salientando que a situação "não ajuda</p><p>ninguém em nada”.</p><p>Uma disputa de 15 anos</p><p>A disputa transatlântica na OMC, que começou em 2004, pode provocar</p><p>uma guerra tarifária entre a UE e os EUA, embora a Casa Branca mantenha a porta</p><p>aberta a uma negociação e tenha pedido ao organismo comercial multilateral</p><p>que marque uma reunião no próximo dia 14 para que as novas alíquotas norte-</p><p>americanas sejam oficialmente autorizadas.</p><p>A OMC determinou que a Boeing, fábrica de aviões com sede nos EUA,</p><p>perdeu o equivalente a 7,5 bilhões de dólares (34 bilhões de reais) em vendas</p><p>potenciais devido a subsídios ilegais que Governos da UE deram ao seu concorrente</p><p>europeu Airbus, também um dos maiores fabricantes de aviões do mundo.</p><p>Nesse contexto, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido ofereceram</p><p>financiamento à Airbus com taxas de juros abaixo do mercado, o que permitiu à</p><p>empresa desenvolver alguns de seus modelos mais recentes e avançados. "Durante</p><p>anos, a Europa concedeu subsídios maciços à Airbus que prejudicaram seriamente</p><p>a indústria aeroespacial dos EUA e nossos trabalhadores", manifestou Lighthizer.</p><p>O presidente norte-americano, Donald Trump, descreveu nesta quinta-</p><p>feira a sentença da OMC como um "grande triunfo". Além disso, atribuiu-se o</p><p>mérito por essa vitória, pois segundo ele a OMC desejava deixá-lo “feliz” porque</p><p>ele sabe que a organização não é favorável ao livre comércio. Já a comissária</p><p>(equivalente a ministra) europeia de Comércio, Cecilia Malmström, considerou que</p><p>qualquer medida dos EUA para impor tarifas seria "míope e contraproducente".</p><p>Trump escreveu no Twitter que "os Estados Unidos ganharam um prêmio</p><p>de 7,5 bilhões de dólares da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a</p><p>União Europeia, que durante muitos anos tratou muito mal os Estados Unidos</p><p>no comércio devido a tarifas, barreiras comerciais e outros. Este caso tramitou</p><p>durante anos, uma bonita vitória!".</p><p>FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/internacional/1570083373_</p><p>647581.html>. Acesso em: 5 nov. 2019.</p><p>https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/internacional/1570083373_647581.html</p><p>https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/internacional/1570083373_647581.html</p><p>135</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Os subsídios às exportações, às cotas de importações, às restrições voluntárias</p><p>às exportações e à necessidade de requisitos locais são algumas barreiras não</p><p>tarifárias de comércio internacional.</p><p>• Os subsídios às exportações são pagamentos realizados pelo governo às</p><p>empresas que embarcarem um bem específico para o exterior.</p><p>• Os subsídios às exportações podem ser do tipo específico ou ad valorem.</p><p>• As cotas de importação são restrições direta à quantidade de importação de</p><p>um produto.</p><p>• Uma restrição voluntária à exportação diz respeito a uma cota de importação</p><p>imposta pelo país exportador, e não pelo país importador.</p><p>• Ao longo do tempo, devido, sobretudo, à dinâmica da globalização houve uma</p><p>redução das tarifas de importação de todo o mundo, assim como no Brasil.</p><p>• Em 1947, um grupo de 23 países iniciou o processo de realizar negociações</p><p>multilaterais de comércio por meio do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio</p><p>(GATT).</p><p>• Na década de 1990, as diretrizes do GATT foram sendo substituídas com a</p><p>criação da Organização Mundial do Comércio (OMC).</p><p>• Atualmente, as negociações internacionais sobre o comércio vêm ocorrendo a</p><p>partir da Rodada de Doha, no âmbito da OMC.</p><p>Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem</p><p>pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao</p><p>AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.</p><p>CHAMADA</p><p>136</p><p>1 Explique como funciona a aplicação de um subsídio à exportação.</p><p>2 Procure no livro pelo tema das cotas de importação: o que são as cotas? Cite</p><p>duas NCM que possuem cotas e tarifas relativas.</p><p>3 Quais são os efeitos esperados de excedente, receita e bem-estar com a</p><p>política comercial das restrições voluntárias às exportações?</p><p>4 Comente um pouco sobre o contexto de criação do GATT e da OMC.</p><p>5 O que podemos entender por Rodada de Doha?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>137</p><p>UNIDADE 3</p><p>O BRASIL NO CENÁRIO</p><p>ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender os desafios contemporâneos para a economia internacional;</p><p>• entender a vulnerabilidade das economias ao setor externo;</p><p>• examinar as disparidades do crescimento e desenvolvimento econômico</p><p>dos países;</p><p>• analisar a importância da economia brasileira no cenário internacional.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade</p><p>você encontrará autoatividades com o objetivo</p><p>de reforçar o conteúdo</p><p>apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>TÓPICO 2 – O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>TÓPICO 3 – O BRASIL NA ECONOMIA INTERNACIONAL</p><p>Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos</p><p>em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá</p><p>melhor as informações.</p><p>CHAMADA</p><p>138</p><p>139</p><p>TÓPICO 1</p><p>OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Antes de iniciar nosso estudo sobre os desafios comerciais e produtivos</p><p>da economia internacional, é relevante observar os riscos envolvidos na economia</p><p>atual dos países. A economia internacional é cada dia mais interdependente. Isso</p><p>acontece por diversos motivos, destes, o mais simples de observar é que hoje</p><p>o mundo é simplesmente menor. Ou seja, as pessoas ao redor do mundo estão</p><p>mais próximas, as comunicações atuais fazem que você possa se contatar com</p><p>uma pessoa na China em questões de segundos, com custos muito reduzidos.</p><p>Você consegue viajar para o outro lado do mundo em apenas um dia de viagem,</p><p>antigamente (Século XIX), em uma viagem de um dia, você conseguia viajar</p><p>apenas de São Paulo para Belo Horizonte.</p><p>Tanto o intercâmbio cultural como o comercial vêm crescendo de</p><p>maneira exponencial, fazendo do mundo um lugar próximo e interligado, no</p><p>qual acontece milhares de transações comerciais e financeiras por minuto entre os</p><p>países. Hoje, algumas empresas funcionam com escritórios virtuais, uma pessoa</p><p>pode trabalhar de uma cidade da América Latina (suponha São Paulo ou Santiago</p><p>de Chile), outro colega do mesmo escritório poderia trabalhar de Taipei, e outro</p><p>de Madrid, ou seja, todos eles são colegas de trabalho, mas de maneira virtual e</p><p>em países diferentes!</p><p>Essas novas tendências fazem com que a economia internacional seja muito</p><p>mais dinâmica, mas também muito vulnerável, conforme iremos estudar mais</p><p>adiante. Também devermos levar em consideração que a economia internacional</p><p>de hoje apresenta novas realidades do que apresentava há 10 anos!</p><p>2 DESAFIOS COMERCIAIS E PRODUTIVOS</p><p>Existe uma série de elementos que vêm transformando o cenário econômico</p><p>mundial. Se você reparar, o mundo está mudando muito rápido, profissões estão</p><p>saindo do mercado e outras estão sendo introduzidas à atividade econômica.</p><p>Aguarde somente mais 10 anos e você irá se surpreender, novas áreas de atividade</p><p>econômica, novos cenários e interesses produtivos e comerciais vão se manifestando.</p><p>Você consegue identificar qual continente irá ter o maior crescimento em</p><p>termos de população e de classe média nas próximas décadas? Antes de responder</p><p>observe o seguinte gráfico:</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>140</p><p>GRÁFICO 1 – PERSPECTIVA DE CRESCIMENTO POPULACIONAL POR CONTINENTES</p><p>FONTE: <https://www.ecodebate.com.br/wp-content/uploads/2018/07/20180716-180716a.png>.</p><p>Acesso: 17 nov. 2019.</p><p>Segundo o gráfico, os continentes que estavam puxando o crescimento</p><p>populacional nas últimas décadas vêm sendo a Ásia e a África, ambos de</p><p>maneira expressiva, e a América Latina (ALC). Destas regiões, qual será a que</p><p>irá impulsionar ainda mais o crescimento populacional mundial? A resposta é</p><p>a África! E de maneira expressiva, os demais continentes, a partir do ano 2020,</p><p>começam estabilizar o crescimento populacional, e alguns deles podem apresentar</p><p>decrescimento populacional.</p><p>Nesse sentido, não é por acaso que grandes corporações e diversos países,</p><p>incluindo o Brasil, tenham observado alguns interesses potenciais nos países</p><p>africanos. Ficou curioso? Pesquise um pouco sobre o assunto e irá se surpreender.</p><p>FIGURA 1 – ÁFRICA O NOVO CAMPO DE INTERESSE MUNDIAL</p><p>FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/news/320/cpsprodpb/EDA4/production/_103063806_</p><p>tablero4.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2019.</p><p>https://www.ecodebate.com.br/wp-content/uploads/2018/07/20180716-180716a.png</p><p>https://ichef.bbci.co.uk/news/320/cpsprodpb/EDA4/production/_103063806_tablero4.jpg</p><p>https://ichef.bbci.co.uk/news/320/cpsprodpb/EDA4/production/_103063806_tablero4.jpg</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>141</p><p>Leia a reportagem da BBC: África é o novo campo de disputa entre Rússia</p><p>e China por influência comercial e política, acessando o link: https://www.bbc.com/</p><p>portuguese/internacional-45257031.</p><p>DICAS</p><p>Qual é um dos maiores desafios e oportunidades da economia atual? Entre</p><p>alguns está o aumento constante da população e da classe média na maioria dos</p><p>países pobres. Estes fatos trazem uma série de consequências tanto na necessidade</p><p>de recursos produtivos relativamente limitados como nas oportunidades</p><p>econômicas que isso representa. Essa classe média mundial, com altos índices</p><p>de crescimento, apresenta uma série de necessidades primárias e progressivas</p><p>que vão simplesmente progredindo em novas “necessidades/desejos”, tais como:</p><p>comida mais elaborada e com maior teor de proteína animal, maior volume de</p><p>restaurantes, maior demanda de carros, mais atividades de lazer etc.</p><p>Enfim, esse aumento das necessidades num mundo interligado faz de que</p><p>o comércio mundial seja ainda mais interdependente. O salmão do Chile ou da</p><p>Noruega que é ofertado aqui no Brasil depende, em grande parte, do grão de soja</p><p>produzido aqui mesmo no Brasil. Assim, qualquer vulnerabilidade impacta na</p><p>cadeia produtiva desse produto, tal como um problema que possa vir acontecer</p><p>na produção de soja aqui no Brasil.</p><p>Isso para citar um produto, sejam mercadoria, serviços, ou transações</p><p>financeiras, a maioria de produtos/serviços possuem em sua cadeia de valor</p><p>vários países envolvidos. Você já viu o efeito “Nutella” no processo de produção,</p><p>comercialização e distribuição deste produto? Hoje, a maioria dos produtos</p><p>possuem um processo de geração de valor que envolvem vários países, semelhante</p><p>ao processo de fabricação da “Nutella”.</p><p>Os processos de fabricação de hoje baseiam-se em passos gradativos de</p><p>integração dos sistemas de produção. Essa internacionalização da geração valor</p><p>na fabricação gera uma constante interpendência entre países e setores produtivos</p><p>com interesses em comum. Então, vamos ver qual o nível de internacionalização</p><p>da Nutella (creme de chocolate e avelã). Ela possui matéria prima, insumos,</p><p>patentes e gestão comercial/financeira em cada canto deste mundo, gerando valor</p><p>econômico na cadeia produtiva deste produto alimentar.</p><p>Neste creme de chocolate e avelã há a participação da Itália (país de origem</p><p>da marca e produto) da França, da Nigéria, da Malásia, do Canadá, do Brasil, do</p><p>Equador, entre outros, isto é, representatividade de todos os continentes do mundo!</p><p>Gerando a integração de uma série de fornecedores e fábricas ao redor do mundo,</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>142</p><p>e tudo isso para produzir um creme de chocolate! Agora, imagine a complexidade</p><p>da geração de valor de um veículo, com certeza será bem mais complexa. Vejamos</p><p>o mapa do mundo e os países envolvidos na produção da Nutella.</p><p>FIGURA 2 – MAPA DA CADEIA VALOR DA NUTELLA</p><p>FONTE: <https://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-nakagawa/wp-content/uploads/</p><p>sites/66/nutellamap.jpg>. Acesso em: 14 out. 2019.</p><p>O exemplo da Nutella é importante, porque dá um panorama de como são,</p><p>hoje, as possibilidades de produção/comercialização, de fontes de financiamento,</p><p>de consumo, e como elas estão inseridas na economia internacional. Essa</p><p>interdependência, tanto na geração de valor como no fluxo de capitais, traz consigo</p><p>riscos de crises econômicas, que geram contágios quase imediatos! Isso graças à</p><p>interação econômica dos países. Vejamos quais os desafios da economia internacional.</p><p>[...] consiste de aspectos levantados pelos problemas especiais</p><p>da interação econômica entre estados soberanos. Sete temas são</p><p>recorrentes durante o estudo da economia internacional: (1) ganhos</p><p>decorrentes do comércio; (2) padrão de comércio; (3) protecionismo;</p><p>(4) equilíbrio dos pagamentos; (5) determinação da taxa de câmbio;</p><p>(6) coordenação da política internacional; e (7)</p><p>mercado de capitais</p><p>internacional (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 3).</p><p>Então, é ao redor desses pontos críticos que a economia internacional</p><p>vai se estudando, onde o protecionismo econômico, inclusive o isolamento,</p><p>gera repercussões a nível nacional, regional e até mundial. Nos acontecimentos</p><p>recentes sobre protecionismo tem-se a briga comercial entre os Estados Unidos e</p><p>a China que começou aproximadamente em 2017. Essa disputa comercial, e mais</p><p>outros fatores, em 2019, começou a gerar sequelas para uma possível recessão</p><p>econômica mundial em 2020. Vejamos alguns comentários sobre isso do jornal</p><p>New York Times, da revista Forbes, e do The Economist.</p><p>https://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-nakagawa/wp-content/uploads/sites/66/nutellamap.jpg</p><p>https://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-nakagawa/wp-content/uploads/sites/66/nutellamap.jpg</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>143</p><p>Veja só o resultado das manifestações protecionistas dos Estados Unidos</p><p>contra a China dos últimos três anos (2017, 2018 e 2019), elas vêm aumentando</p><p>os riscos financeiros e econômicos de uma briga comercial, com risco de terminar</p><p>em uma crise de recessão econômica mundial em 2020.</p><p>Então, se haverá uma recessão em 2020 — se os sinais pessimistas</p><p>nos mercados financeiros forem corretos — como isso aconteceria?</p><p>Há muitas pistas, nos detalhes de relatórios econômicos recentes,</p><p>em sinais dos mercados e no histórico recente das recessões e quase</p><p>recessões. A execução repetida em várias vezes pelo presidente Trump</p><p>da guerra comercial com a China e outros países alimentou incerteza</p><p>na tomada de decisões das empresas. Os gastos com investimentos</p><p>corporativos estão diminuindo, apesar do grande corte de impostos</p><p>que Trump disse que o aumentaria. E a combinação de bancos centrais</p><p>que estão nos limites de sua capacidade de estimular o crescimento e</p><p>uma reviravolta interna de muitos países, poderia tornar os governos</p><p>menos eficazes na resposta a uma desaceleração (IRWIN, 2019, s.p.,</p><p>tradução nossa).</p><p>Larry Summers: possibilidade de recessão em 2020 em quase 50%.</p><p>O professor da Universidade de Harvard e ex-secretário do Tesouro,</p><p>Larry Summers, colocou as chances de uma recessão antes de 2021</p><p>em quase 50% - e descreveu um "cenário de buraco negro" no qual</p><p>as taxas poderiam ficar paradas em zero. Em uma entrevista ao Wall</p><p>Street Journal, Summers forneceu uma perspectiva sombria para as</p><p>condições econômicas dos EUA — "Não fiquei tão alarmado desde</p><p>a crise financeira", admitiu (KLEBNIKOV, 2019, s.p., tradução nossa).</p><p>A China, principal alvo da guerra comercial de Trump, relaxou a política</p><p>monetária esta semana em resposta a uma economia enfraquecida.</p><p>Quando as taxas de juros sobem nos Estados Unidos, mas em nenhum</p><p>outro lugar, o dólar se fortalece. Isso dificulta para que os mercados</p><p>emergentes paguem suas dívidas em dólares. Um dólar em processo</p><p>de valorização já ajudou para impulsionar problemas na Argentina e</p><p>na Turquia, nesta semana o Paquistão pediu ao FMI um resgate (THE</p><p>NEXT RECESSION, 2019, s.p., tradução nossa).</p><p>Na economia internacional existem diversos desafios a serem observados</p><p>e graças às ferramentas de análise e políticas econômicas, muitas vezes, esses</p><p>desafios são superados. Tais desafios envolvem a capacidade comercial e os</p><p>recursos financeiros dos países. Além desses desafios deve-se acrescentar as</p><p>condições geoeconômicas e socioeconômicas das nações que atuam nas relações</p><p>internacionais, condições que determinam a dinâmica da geopolítica mundial,</p><p>ou jogo de interesses entre as nações. Vários líderes do cenário mundial têm</p><p>manifestado a famosa frase: “As nações não têm amigos, as nações têm interesses”,</p><p>entre esses grandes líderes têm-se:</p><p>• Winston Churchill, primeiro-ministro britânico por duas vezes. Primeiro</p><p>período de 1940 até 1945, durante a Segunda Guerra Mundial; e segundo</p><p>período, 1951 até 1955.</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>144</p><p>• Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos durante quatro ocasiões,</p><p>seu último período foi até 1945, final da Segunda Guerra Mundial.</p><p>• Charles-Maurice de Talleyrand, reconhecido pensador e político durante a</p><p>época da Revolução Francesa.</p><p>• Gilberto Amado, reconhecido pensador, escritor e político brasileiro, foi</p><p>membro da Academia Brasileira de Letras, faleceu em 1969.</p><p>• John Foster Dulles, atuou como secretário de Estado dos Estados Unidos e</p><p>como diplomático desse país nas negociações de vários tratados internacionais</p><p>vigentes até os dias de hoje. Entre os tratados mais importantes que ele teve</p><p>participação foi o acordo multilateral de todas as nações para formalizar a</p><p>Organização das Nações Unidas (ONU).</p><p>Então, essa famosa frase, “As nações não têm amigos, as nações têm</p><p>interesses”, está presente em diferentes épocas da história moderna. Os países</p><p>vão negociando seus interesses econômicos no cenário global, interesses que</p><p>muitas vezes têm levado para crises econômicas e financeiras com repercussões</p><p>globais, e até guerras de grandes repercussões.</p><p>Conscientizando esse fato, as nações, logo depois da Segunda Guerra</p><p>Mundial, começaram a normatizar e institucionalizar organismos internacionais</p><p>que possam estabelecer normas internacionais perante os interesses das nações.</p><p>Isso vem gerando diversas parcerias comerciais e econômicas, cujo objetivo é</p><p>evitar, ou pelo menos diminuir, crises entre países, criando um ambiente dinâmico</p><p>para a atividade econômica.</p><p>Sabe o significado de geoeconomia e geopolítica?</p><p>• Geoeconomia: é o estudo da economia conforme as condições geográficas.</p><p>Para entender o papel das economias externas no comércio</p><p>inter-regional, primeiro precisamos discutir a natureza das</p><p>economias regionais, isto é, como as economias das regiões</p><p>dentro de uma nação encaixam -se na economia nacional</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 124).</p><p>• Geopolítica: é a dinâmica da atividade política das nações em função das condições</p><p>geográficas, posse de recursos, características políticas, populacionais e interesses</p><p>econômicos que as nações vão manifestando.</p><p>NOTA</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>145</p><p>Voltando para nosso foco de estudos, é combinando os elementos</p><p>de produtividade, disponibilidade de recursos produtivos e de estrutura</p><p>socioeconômica que os países conseguem se posicionar no cenário internacional.</p><p>Dependendo do nível de desenvolvimento econômico, alguns países são</p><p>fornecedores de commodities, outros de mercadorias com pouco valor agregado,</p><p>outros com mercadorias e bens de capital de alto valor agregado e outros</p><p>produzem bens e serviços de altíssimo valor agregado.</p><p>Poucos países conseguem se posicionar na maioria destas classificações,</p><p>desde países produtores de commodities até mercadorias com altíssimo valor</p><p>agregado. Um exemplo é os Estados Unidos, país que consegue se posicionar, de</p><p>maneira muito forte, em diversos mercados desde a exportação mercadoria com</p><p>pouco valor agregado, commodities, (soja, trigo, milho, petróleo etc.) até bens e</p><p>serviços de altíssimo valor agregado. No contexto da estrutura econômica deste</p><p>país deve-se levar em consideração que a maior geração de valor econômico é a</p><p>vantagem competitiva na produção de bens e serviços de altíssimo valor agregado.</p><p>E o Brasil? Podermos dizer que o Brasil consegue se posicionar como um</p><p>país que possui vantagens em diversos mercados, desde produtos primários até</p><p>aqueles com maior valor agregado, semelhante aos EUA. Porém, de maneira</p><p>contrária dos USA, a maior concentração produtiva do Brasil é nas commodities</p><p>e pouca geração de valor econômico de bens e serviços de alto valor agregado.</p><p>O interessante de se observar entre os EUA e o Brasil é que ambos são de</p><p>tamanho continental e possuem vastos recursos produtivos. A grande diferença</p><p>é na capacidade relativa de gerar valor agregado nos processos produtivos de</p><p>suas respectivas economias, conhecido em termos econômicos como as vantagens</p><p>comparativas das nações. Essa observação</p><p>das vantagens comparativas nos leva</p><p>a analisar os desafios produtivos e comerciais da economia internacional, isto é, a</p><p>gestão dos recursos escassos e a capacidade inovação tecnológica.</p><p>3 RECURSOS ESCASSOS E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA</p><p>Se você reparar, todo país possui recursos produtivos limitados perante o</p><p>nível tecnológico disponível em um dado momento da história. Porém, à medida</p><p>que as tecnologias vão gerando inovação e aprimorando processos produtivos,</p><p>os países conseguem produzir maiores volumes de mercadorias com os mesmos</p><p>recursos disponíveis, que aliás são limitados para todas as economias.</p><p>Eis um dos porquês da precificação das mercadorias que a sociedade</p><p>consome a nível mundial. Se você reparar, as commodities (produtos primários)</p><p>possuem preços internacionais que, mais tarde ou mais cedo, repercutem nas</p><p>economias domésticas dos países. Exemplificando, se o petróleo subir de preço</p><p>— de US$ 50,00 para US$ 60,00 — isso impacta para todos os consumidores desse</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>146</p><p>produto primário ao redor do mundo, o mesmo acontece com a soja, o milho,</p><p>e mais outros. Eis um dos porquês da sensibilidade desses para a economia</p><p>mundial. Com relação à precificação das mercadorias em geral, a lógica é simples:</p><p>• Um produto muito escasso é extremadamente caro, tal como o ouro.</p><p>• Em contrapartida um produto abundante, tal como a água, tem um preço</p><p>relativamente baixo, embora venha aumentando de preço, pois a cada dia vai</p><p>se tornando mais escasso. Observe que esse mesmo produto, a água, há poucas</p><p>décadas, era considerando de relativa abundância em alguns países, logo,</p><p>ficava disponível até de graça!</p><p>Sabia que existem vários tipos de commodities? Para o setor energético:</p><p>petróleo, gás, óleo para aquecer; metais: ouro, prata, cobre; agrícolas: soja, milho, trigo; de</p><p>consumo: café, algodão, cacau, açúcar; e mais outros produtos primários. Os preços deles</p><p>são cotados em US$ de maneira contínua, você pode acompanhar os preços internacionais</p><p>deles em diversos sites, tal como: https://money.cnn.com/data/commodities/index.html.</p><p>ATENCAO</p><p>Levando em consideração a limitada disponibilidade de recursos,</p><p>o horizonte produtivo e tecnológico dos países tem dois componentes: a</p><p>disponibilidade relativa dos recursos e a capacidade tecnológica, o que faz</p><p>aproveitar ao máximo possível esses recursos nos processos de transformação,</p><p>tudo isso em um cenário de produção e comércio mundial. Essa dinâmica do</p><p>comércio mundial leva intrinsicamente as forças de mercado conforme vão se</p><p>manifestando a competitividade relativa das nações. Porém, essa competitividade</p><p>relativa das nações não é estática, ela vai se desenvolvendo à medida que a</p><p>tecnologia vai permitindo novos horizontes de produção inimagináveis.</p><p>Exemplificando, qual o limitante produtivo de uma fazenda? O número de</p><p>hectares, a riqueza do solo, a disponibilidade de água, seu recurso humano e sua</p><p>capacidade tecnológica, recursos que sob a gestão humana visa aprimorar processos.</p><p>Ou seja, à medida que uma fazenda consegue melhorar a sua tecnologia, mantendo</p><p>seu número de hectares constante poderá produzir maiores volumes de produto</p><p>por hectare. Essa lógica pode ser aplicada à nível de países também, sabe qual é a</p><p>produtividade média dos hectares disponíveis de soja/ha do Brasil e dos USA?</p><p>Segundo a Embrapa — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — o</p><p>Brasil possui uma produtividade média de soja por hectare de: 3.206 kg/ha, e os</p><p>EUA de 3.468kg/ha.</p><p>https://money.cnn.com/data/commodities/index.html</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>147</p><p>Então, segundo esse dado, em termos relativos, os EUA são mais</p><p>produtivos por hectare que o Brasil, mas será mesmo que os EUA possuem</p><p>vantagem comparativa na produção deste grão ao se comparar com o Brasil?</p><p>Dependerá de muitos fatores, aí teríamos que entram na análise de custos por</p><p>ha desses dois países, e de fato deve-se levar em consideração que o produtor de</p><p>soja dos EUA tem a seu favor subsídios que ajudam a minimizar seus custos de</p><p>produção, ou seja, provavelmente o Brasil tenha melhor vantagem comparativa</p><p>na produção de soja.</p><p>Será que a capacidade produtiva desses países era assim há três décadas?</p><p>Com certeza não, era menor, e bem menor antes da Revolução Verde de 1950, a</p><p>qual ajudou muito alavancar a produção mundial de alimentos. O mesmo acontece</p><p>em outras áreas da economia, para visualizar como o mundo vem mudando em</p><p>pouco espaço de tempo, vamos fazer uma breve análise da disponibilidade de</p><p>recursos e tecnologia dos últimos séculos e como isso influenciou a dinâmica da</p><p>economia internacional.</p><p>3.1 INOVAÇÃO E CAPACIDADE TECNOLOGIA NO CONTEXTO</p><p>HISTÓRICO</p><p>Quais são as duas grandes vulnerabilidades da economia internacional</p><p>atual e do passado? Entre as principais podermos citar a segurança alimentar e a</p><p>capacidade de gerar energia. Aliás, um sintoma de desenvolvimento econômico</p><p>é a capacidade de consumo de energia de um país, além dos dados estatísticos</p><p>e econômicos. Sabe como os economistas conseguem identificar a diferença de</p><p>desenvolvimento econômico entre as duas Coreias, logo da divisão em Coreia do</p><p>Norte (comunista e com escassos dados de sua atividade econômica) e a Coreia</p><p>do Sul? Olhe a seguinte foto de satélite.</p><p>FIGURA 3 – LUMINOSIDADE DURANTE A NOITE ENTRE COREIA DO NORTE, COREIA DO SUL E</p><p>NORTE DE CHINA</p><p>FONTE: <https://abcnews.go.com/International/internet-north-korea/story?id=27789459>.</p><p>Acesso em: 14 out. 2019.</p><p>https://abcnews.go.com/International/internet-north-korea/story?id=27789459</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>148</p><p>Nessa foto de satélite fica claro o contraste de luminosidade entre as duas</p><p>Coreias durante as primeiras horas da noite, quando ainda há atividade humana.</p><p>Esse contraste de iluminação noturna consegue diferenciar o desenvolvimento</p><p>econômico, ficou curioso? Faça uma pesquisa entre os dois grandes países</p><p>vizinhos, mas com níveis de desenvolvimento econômico diferentes, tais como</p><p>os Estados Unidos e o México, talvez não seja tão drástico como a foto das duas</p><p>Coreias, mas irá deixar ainda mais claro a correlação de luminosidade noturna e</p><p>desenvolvimento econômico.</p><p>Como o consumo de energia e produtividade agrícola era no passado?</p><p>Estavam em seu limite máximo como estamos hoje, apresentando diminuição</p><p>na produtividade marginal da mão de obra, ou seja, se só levar em consideração</p><p>a capacidade produtiva com uma quantidade fixa de solo, a produção marginal</p><p>agrícola por hectare tem uma tendência de diminuir.</p><p>Analogamente, ao final do século XVIII, a produtividade agrícola tinha</p><p>chegado perto de seu limite, assim como hoje. O famoso historiador econômico,</p><p>Thomas Malthus, tinha alertado que perante o crescimento acelerado da população</p><p>no futuro faria com que não houvesse alimento disponível para as pessoas, logo,</p><p>a fome em grande escala viria a acontecer. Sabe qual era a população mundial</p><p>nessa época? Estava próxima a 1 bilhão e hoje estamos próximos de 8 bilhões! Sob</p><p>a lógica de Thomas Malthus, o número de hectares era limitado e fixo, mas ele</p><p>não tinha levado em consideração a capacidade do desenvolvimento tecnológico.</p><p>Em 1798, Thomas Malthus, um clérigo e professor de história</p><p>política e econômica — fez previsões que a população (se continuar</p><p>com a tendência da época) cresceria mais rápido que a produção</p><p>de alimentos, levando em consideração que a quantidade de solo é</p><p>fixa. O problema disto, segundo sua visão, era que que a quantidade</p><p>fixa de solo levaria à diminuição da produção marginal do trabalho,</p><p>assim, a produção de alimentos aumentaria em menor proporção</p><p>que o aumento de trabalhadores. O problema, ele acreditava, era que</p><p>a quantidade fixa de solo agrícola levaria à diminuição do produto</p><p>marginal do trabalho, de modo que a produção aumentaria em menor</p><p>proporção que a quantidade de trabalhadores agrícolas. Malthus</p><p>concluiu sombriamente que a fome em massa resultaria disto.</p><p>Hoje, a Terra suporta uma população</p><p>sete vezes maior do que quando</p><p>Malthus tinha feito suas previsões. Por que a maioria de nós não vem</p><p>morrendo de fome? A explicação simples disto é que grandes avanços</p><p>vêm acontecendo na agricultura (PERLOFF, 2014, p. 206).</p><p>Veja, a seguir, o crescimento da população mundial, conforme análise de</p><p>tendências das Nações Unidas, desde o começo do século XIX, quando Thomas</p><p>Malthus havia feito sua análise.</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>149</p><p>GRÁFICO 2 – CRESCIMENTO POPULACIONAL DESDE 1800</p><p>FONTE: Adaptado de <https://slideplayer.com.br/slide/1574735/4/images/10/</p><p>Crescimento+populacional+da+Revolu%C3%A7%C3%A3o+Industrial+at%C3%A9+1960.jpg>.</p><p>Acesso em: 24 out. 2019.</p><p>A análise de Thomas Malthus estava corretíssima, mas, conforme o</p><p>horizonte produtivo dessa época. Ele não tinha levado em consideração os</p><p>grandes avanços tecnológicos que iram acontecer com a Revolução Industrial, e</p><p>logo depois (no século XX) com a Revolução Verde, e mais outros grandes avanços</p><p>na produtividade agrícola. E agora, no século XXI, será que estamos chegando de</p><p>novo ao limite do horizonte de produtividade agrícola?</p><p>Perante o acelerado desmatamento que vem acontecendo nas florestas,</p><p>aqui no Brasil e em outros países, além de outros indícios, poderia se dizer que</p><p>sim. Assim, estamos chegando ao limite que irá forçar o ser humano a melhorar</p><p>seu comportamento de consumo e aprimoramento produtivo, visando melhorar a</p><p>segurança alimentar. Das oportunidades do Brasil, essa alta necessidade mundial</p><p>de segurança alimentar leva o país para o cenário mundial, atual e futuro, como</p><p>um dos países com altíssima vantagem competitiva na agroindústria. Será que o</p><p>Brasil saberá aproveitar essa conjuntura histórica, procurando gerar maior valor</p><p>em suas vantagens competitivas naturais? O tempo irá nos dizer.</p><p>O Brasil já vem representando um papel muito importante neste setor,</p><p>mas seu papel no futuro poderá ser fundamental tanto para a economia do Brasil</p><p>como para o mundo. Hoje, o Brasil tem a capacidade real de aumentar o horizonte</p><p>agrícola sem a necessidade de gerar desmatamento na Floresta Amazônica, coisa que</p><p>infelizmente não está se fazendo há vários anos. Em termos de geopolítica, o Brasil</p><p>tem capacidade de alimentar o mundo: “A agricultura ocupa hoje em dia 60 milhões</p><p>de hectares. Somos os únicos no mundo a dispor de 100 milhões de hectares para</p><p>crescer, sem contar áreas de preservação permanente” (NEVES, 2011, p. 29).</p><p>https://slideplayer.com.br/slide/1574735/4/images/10/Crescimento+populacional+da+Revolu%C3%A7%C3%A3o+Industrial+at%C3%A9+1960.jpg</p><p>https://slideplayer.com.br/slide/1574735/4/images/10/Crescimento+populacional+da+Revolu%C3%A7%C3%A3o+Industrial+at%C3%A9+1960.jpg</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>150</p><p>Além disso, perante o crescimento de economia verde no cenário</p><p>internacional, o Brasil poderia também iniciar projetos econômicos para gerar</p><p>divisas em troca da proteção da floresta amazônica, exemplo disto, vendendo</p><p>créditos de carbono. Eis alguns exemplos para gerar valor e competitividade</p><p>relativa às atividades agroindustriais do Brasil e se posicionar como país que gera</p><p>valor no seu setor agroindustrial.</p><p>Acabamos de fazer uma breve análise na capacidade de melhorar a</p><p>segurança alimentar, mas e o contexto energético? Observe que, ao final do</p><p>século XIX, as grandes cidades da Europa tinham sérios problemas de impacto</p><p>ambiental perante o uso excessivo de cavalos, lenha e óleo —especialmente de</p><p>baleia. Mas qual o elo disso no contexto energético e econômico? Vejamos quais</p><p>eram os usos de cada um deles:</p><p>• O cavalo era a principal força motriz dessa época, eles eram a força que</p><p>movimentava as carroças do século XIX. Observe que isso não vinha sendo</p><p>grande problema, mas a revolução industrial fez que as cidades crescessem</p><p>em níveis nunca antes experimentado, resultado? Cidades lotadas de carroças</p><p>(diversos modelos) puxadas por cavalos, o que fez com que as cidades tivessem</p><p>montanhas de esterco espalhadas pelas ruas, produzindo sérios problemas de</p><p>contaminação e geração de doenças, além do cheiro desagradável.</p><p>FIGURA 4 – ÔNIBUS DO SÉCULO XIX, PUXADO POR CAVALOS</p><p>FONTE: <http://www.mobilize.org.br/midias/noticias/thumb-onibus-de-londres-do-seculo-19-</p><p>que-era-puxado-por-cavalos1.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2019.</p><p>• As famílias para cozinhar e esquentar suas casas usavam carvão e lenha,</p><p>assim, perante o crescimento acelerado das cidades isso se converteu em um</p><p>problema grave de saúde pública, excesso de CO2 no ar (doenças pulmonares),</p><p>desmatamento agressivo das florestas, entre outros grandes problemas de</p><p>impacto ambiental.</p><p>• Uso de óleo de baleia para iluminar as cidades, nessa época as lâmpadas das</p><p>cidades e das casas usavam óleo como combustível, entre outros usos. Isso</p><p>gerava grandes impactos ambientais, além, do fato de que as baleias quase</p><p>ficaram extintas.</p><p>http://www.mobilize.org.br/midias/noticias/thumb-onibus-de-londres-do-seculo-19-que-era-puxado-por-cavalos1.jpg</p><p>http://www.mobilize.org.br/midias/noticias/thumb-onibus-de-londres-do-seculo-19-que-era-puxado-por-cavalos1.jpg</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>151</p><p>FIGURA 5 – ÓLEO DE BALEIA PARA ILUMINAR AS CIDADES</p><p>FONTE: <https://volpeeletropostes.com.br/wp-content/uploads/2015/08/a-acendedor-de-</p><p>lampadas.jpg>; <http://amora2012petroleo.pbworks.com/f/1353591684/%C3%B3leo%20de%20</p><p>baleia.jpeg>. Acesso em: 14 out. 2019</p><p>Esses três elementos básicos de uso de energia para satisfazer as</p><p>necessidades da atividade econômica do século XIX, tinham uma correlação</p><p>muito forte com exaustão dos recursos naturais, assim, era um dos grandes</p><p>problemas de impacto ambiental da época. Qual foi a grande salvação dessa</p><p>matriz energética? Tanto no contexto ambiental como no uso de energia de</p><p>maneira ineficiente? O petróleo foi a salvação da época e o grande potencial de</p><p>desenvolvimento econômico internacional.</p><p>Assim, no contexto de finais do século XIX, o petróleo permitia o uso</p><p>de energia sem precedentes. Em termos de impacto ambiental o petróleo era</p><p>relativamente “limpo”. O petróleo e o gás natural foram a grande salvação para</p><p>o excesso de esterco nas ruas, foi a grande salvação para o excesso de consumo</p><p>de lenha e carvão (impacto no desmatamento) e, junto à invenção de lâmpada</p><p>elétrica, salvou as baleias da extinção.</p><p>E agora? Perante o volume de consumo energético da economia moderna,</p><p>o petróleo se converteu em um problema a ser resolvido por meio de novas</p><p>fontes de energias mais “limpas” e com menor impacto ambiental. Então, veja</p><p>bem, no final do século XIX os países estavam chegando ao limite de seus</p><p>horizontes produtivos, porém a inovação tecnológica fez grandes avanços para</p><p>que a sociedade conseguisse sair do gargalo energético e atingisse os patamares</p><p>atuais de atividade econômica. Repare que nessa época era impensável conseguir</p><p>alimentar quase 8 bilhões de pessoas que habitam hoje no planeta, e, isso, sem</p><p>levar em consideração todos os bens e serviços que a sociedade de hoje consome</p><p>e tem à disposição.</p><p>Estamos, de novo, chegando ao limite perante o excessivo consumo de</p><p>energia e uma população de quase 8 bilhões! Logo, nosso horizonte produtivo</p><p>está gerando sérios problemas aos recursos disponíveis aqui em nosso planeta,</p><p>colocando em alto risco a própria sobrevivência do ser humano, resultado? Uma</p><p>https://volpeeletropostes.com.br/wp-content/uploads/2015/08/a-acendedor-de-lampadas.jpg</p><p>https://volpeeletropostes.com.br/wp-content/uploads/2015/08/a-acendedor-de-lampadas.jpg</p><p>http://amora2012petroleo.pbworks.com/f/1353591684/%C3%B3leo de baleia.jpeg</p><p>http://amora2012petroleo.pbworks.com/f/1353591684/%C3%B3leo de baleia.jpeg</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>152</p><p>série de avanços tecnológicos e inovações para que a sociedade consiga se manter e</p><p>crescer perante o aprimoramento do uso de energias renováveis e consumo recursos</p><p>disponíveis, gerando, assim, novas vantagens competitivas entre as nações.</p><p>Então, o ponto</p><p>de análise é que as vantagens comparativas das nações vão</p><p>gerando uma dinâmica mundial entre países à medida que o horizonte produtivo</p><p>vem se aprimorando e descobrindo novas tecnologias que permitem ao ser humano</p><p>melhorar sua qualidade de vida. Nesse contexto de constante inovação, consumo</p><p>de energia e uso de recursos produtivos, é que os países procuram se posicionar</p><p>perante a dinâmica econômica mundial dos dias de hoje. Assim, cada país possui</p><p>suas vantagens comparativas que consegue oferecer em um dado momento</p><p>conforme seu nível de desenvolvimento e disponibilidade de recursos naturais.</p><p>4 AS VANTAGENS COMPARATIVAS DAS NAÇÕES E DO BRASIL,</p><p>PRIMEIRAS DUAS DÉCADAS DO SÉCULO XXI</p><p>O Brasil em função de seu vasto território consegue produzir diversos</p><p>produtos, mas será que ele exporta todos eles? A resposta é não, ele exporta</p><p>os produtos que consegue ter volumes e preços competitivos no mercado</p><p>internacional, veja alguns produtos:</p><p>• O país produz vinho? Sim, mas será que o Brasil exporta grandes quantidades?</p><p>Exporta quantidades pequenas, se comparado com os grandes exportadores</p><p>deste produto, tais como a França, a Espanha, o Chile, a Argentina, entre outros.</p><p>• O país produz banana? Sim, aliás, em grandes quantidades, mas com foco no</p><p>mercado nacional. No contexto internacional os líderes são Equador, Filipinas,</p><p>Costa Rica e Colômbia.</p><p>Observe em termos de preço e volumes, os países expostos anteriormente</p><p>conseguem ser bem competitivos nesses produtos, logo, o Brasil não consegue se</p><p>posicionar como grande exportador, ou seja, não possui vantagens comparativas</p><p>fortes, mas em muitos outros sim. Veja o exemplo da banana, por questões</p><p>geográficas, o Brasil, de fato, tem vantagem absoluta na produção do produto,</p><p>mas não possui vantagem comparativa, quem as possuem são os países líderes</p><p>mundiais na exportação de banana.</p><p>É sempre tentador supor que a capacidade de exportar um bem</p><p>depende de o seu país ter uma vantagem absoluta em produtividade.</p><p>Mas a vantagem de produtividade absoluta sobre outros países</p><p>em produzir uma mercadoria não é uma condição necessária nem</p><p>suficiente para se ter uma vantagem comparativa nessa mercadoria</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 31).</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>153</p><p>Em termos internacionais, o Brasil tem vantagens comparativas em</p><p>diversas mercadorias, desde commodities, tais como: o grão de soja, o açúcar, a</p><p>carne de gado, o porco, o frango, o etanol, entre outros. Como também mercadorias</p><p>exportáveis com maior valor agregado, como veículos (a nível regional), peças</p><p>indústrias, inclusive exporta-se jatos comerciais de porte pequeno da Embraer.</p><p>A relação de capacidade produtiva e preços competitivos é conhecido</p><p>como a competividade relativa das nações, logo, em função dessa competitividade</p><p>relativa, os países vão definindo, juntando esforços e fazendo investimentos</p><p>na produção nas mercadorias que eles conseguem produzir melhor e, deste</p><p>modo, vender no mercado nacional e/ou exportar para outros países com preços</p><p>competitivos. Essa produção é dinâmica, envolvendo vários países, veja o exemplo</p><p>do salmão do Chile e da Noruega, ambos os países dependem da soja produzida</p><p>aqui no Brasil. Isso gera uma interação internacional constante e até dependente</p><p>dos cenários econômicos internacionais.</p><p>Observe que sem as importações das matérias-primas e mais outros produtos</p><p>essenciais com maior valor agregado necessários aos processos de produção, a</p><p>economia brasileira, aliás, da grande maioria de países, estaria prestes a um colapso.</p><p>Será que isso é normal? Para uma economia inter-relacionada, isso é normal sim.</p><p>Hoje, a geração valor dos processos de produção são interdependentes entre os</p><p>países, como descreve o economista Glycon de Paiva (1963 apud PIFFER, 2012, p.</p><p>12): “dos 300 minerais normalmente necessários ao progresso e à sobrevivência de</p><p>um país, até agora nos faltam 250”, ou seja, um país precisa, na média, importar 250</p><p>minerais essenciais, e possuir, na média, apenas 50.</p><p>É nessa dinâmica de necessidades produtivas que os países procuram</p><p>gerar maior valor agregado em seus processos produtivos e, assim, ficarem menos</p><p>dependentes, especialmente dos preços das commodities. Veja dois casos extremos:</p><p>• O Japão, país muito pobre em recursos naturais, quase não tem matéria-prima,</p><p>importa quase tudo para seus processos de produção, porém gera muito valor</p><p>agregado, logo, tem maior poder de negociar os preços de seus produtos com</p><p>grande vantagem competitiva, virando uns dos maiores exportadores do</p><p>mundo, aliás, terceira economia mundial e relativamente estável.</p><p>• A Venezuela, país muito rico em recursos naturais, possui as maiores reservas</p><p>de petróleo do mundo e mais outros recursos naturais, mas quase não gera valor</p><p>agregado, logo, não tem poder de negociar preços, fica dependente do preço</p><p>internacional do petróleo. Aliás, mais de 90% de suas exportações é petróleo.</p><p>Resultado? País muito vulnerável com grandes problemas econômicos e sociais</p><p>a serem resolvidos.</p><p>E o Brasil? Embora não esteja na posição extrema da Venezuela, o Brasil</p><p>tem forte dependência da produção de produtos, mas com pouca geração valor,</p><p>resultado disso? O país é relativamente vulnerável às oscilações dos preços</p><p>internacionais das commodities, observe que a matriz de exportação do Brasil</p><p>está composta de:</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>154</p><p>• 60% em comodities, grão de soja, carnes, milho, mineiro de ferro, açúcar,</p><p>celulose, entre outros.</p><p>• 40% em semielaborados e mercadorias com maior valor agregado.</p><p>Qual seria a solução para melhorar a vantagem competitiva de produtos</p><p>com maior valor agregado? A saída para isso poderia ser um planejamento</p><p>para aumentar a competitividade de mercadorias com maior valor agregado,</p><p>reflexo dos países com maior nível de desenvolvimento. Isto é, um fato fácil de</p><p>diagnosticar, mas muito difícil de aplicar, pois a execução disto envolve uma</p><p>série de políticas econômicas a serem analisadas e executadas as quais dependem</p><p>do contexto e ambiente sociopolítico do país.</p><p>Aqui no Brasil, e demais países que fazem parte da comunidade</p><p>internacional, a vulnerabilidade produtiva que acabamos de estudar possui</p><p>vínculo direto com a estrutura financeira nacional e internacional, sem o recurso</p><p>financeiro torna-se quase impossível produzir em grande escala. Então, hoje, as</p><p>movimentações de capitais acontecem de maneira muito rápida entre os países,</p><p>isso gera um fluxo financeiro bem dinâmico, mas com alta vulnerabilidade às</p><p>oscilações dos ciclos econômicos entre países, tanto a nível regional (entre blocos</p><p>econômicos, tais como: MERCOSUL, UE, NAFTA, entre outros) como a nível</p><p>global, conforme iremos estudar a seguir.</p><p>4.1 A VOLATILIDADE FINANCEIRA: CRISES CAMBIAIS E</p><p>ESPECULAÇÕES E ESTABILIDADE DA RESERVA INTERNACIONAL</p><p>Conforme vem-se estudando, a economia dos países de hoje possui</p><p>uma forte interdependência, quanto maior a influência de um país em uma</p><p>determinada região, ou inclusive a nível mundial, maior será a chance de uma</p><p>volatidade financeira regional ou mundial de se espalhar, com repercussões na</p><p>capacidade de produzir e consumir, isto é, a economia real.</p><p>Nesse sentido, em termos globais, qualquer acontecimento que possa vir</p><p>acontecer na economia dos Estados Unidos, da União Europeia ou da China,</p><p>terá repercussões a nível mundial, lembra da grande recessão que começou nos</p><p>Estados Unidos em 2008? Teve impacto mundial, hoje, depois de mais de uma</p><p>década, ainda há ressacas, especialmente no nível de endividamento público</p><p>agressivo dos países após essa crise. Grande parte dos países, para sair das crises,</p><p>tiveram que usar mecanismos de endividamento visando salvar a atividade</p><p>econômica. O salvamento deu certo, mas deixou os países endividados e com</p><p>menos ferramentas monetárias caso venha acontecer uma nova crise.</p><p>Então, no contexto atual, será que perante uma eventual crise mundial os</p><p>países poderiam conseguir minimizar os impactos desta, levando</p><p>que são os produtores, os</p><p>consumidores, também se especializam na produção de determinados bens</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>5</p><p>e serviços. Isto ocorre, pois, passamos a desenvolver e a trabalhar naquilo que</p><p>temos mais habilidade; naquilo que fazemos melhor. Assim, é possível produzir</p><p>quantidades tão altas de um produto, que superam a quantidade necessária para</p><p>o nosso próprio consumo, dando margem para um excedente de produção. Esse</p><p>excedente será trocado por outros produtos necessários ao nosso bem-estar e que</p><p>não podem ser produzidos por nossas próprias mãos (MANKIW, 2013).</p><p>A especialização é algo muito comum entre as pessoas, seja um médico, um</p><p>professor, um pedreiro: cada um deles procura obter vantagens “especializando-</p><p>se naquilo que faz melhor e ganhando o suficiente para poder comprar os bens e</p><p>serviços que não produz” (PASSOS; NOGAMI, 2008, p. 521). Por sua vez, no mesmo</p><p>sentido dos agentes econômicos que, individualmente, tomam determinadas</p><p>decisões, estão as políticas econômicas dos países, já que os recursos necessários à</p><p>produção se encontram distribuídos desigualmente pelo mundo.</p><p>Por exemplo, enquanto em alguns lugares estão concentrados grandes</p><p>espaços de terra úteis para a produção agrícola, em outros, as habilidades</p><p>tecnológicas e/ou de educação vem sendo desenvolvidas a mais tempo (ou</p><p>recebendo mais investimento) e, portanto, estão mais aprimoradas. Em outros</p><p>termos, em alguns países há mais mão de obra especializada; outros, são mais</p><p>bem-dotados de capital, tendendo a ter maior ou menor produtividade em</p><p>decorrência dos fatores de produção existentes. Logo, os custos de produção</p><p>também serão diferentes, e alguns produtos terão custos menores se produzidos</p><p>em outros países e, então, importados.</p><p>O comércio internacional traz a possibilidade de os países aproveitarem</p><p>suas aptidões e empregarem seus recursos na produção daqueles produtos com</p><p>custo relativamente baixo a outros países, e trocar estes produtos por outros que</p><p>possuem custo relativamente mais alto (PASSOS; NOGAMI, 2008).</p><p>Além destes elementos que vimos, existem ainda outras razões pelas</p><p>quais os países procuram realizar comércio com países estrangeiros. Veja-as na</p><p>figura a seguir.</p><p>FIGURA 2 – RAZÕES PARA REALIZAR COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Distinções entre as nações no tocante aos recursos naturais</p><p>Diferenças internacionais quanto às diferenças climáticas</p><p>(altitude, topografia) e naturais (distribuição dos solos)</p><p>Desigualdades nas disponibilidades estruturais de</p><p>capital e trabalho</p><p>Diferenças nos estágios de desenvolvimento tecnológico</p><p>FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 522)</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>6</p><p>Por meio da combinação desses quatro fatores surge o que muitos estudiosos</p><p>chamam de divisão internacional do trabalho, que separa o mundo em zonas de</p><p>produção especializadas em diferentes produtos e serviços. Consequentemente,</p><p>o comércio internacional contribui para uma internacionalização dos processos</p><p>econômicos, mas, também, pode gerar um aumento das taxas de dependência de</p><p>determinadas economias com o resto do mundo a partir de uma especialização</p><p>excessiva de sua produção. Veja no quadro a seguir exemplos de países bastante</p><p>dependentes de produtos para a exportação.</p><p>QUADRO 1 – PAÍSES ALTAMENTE DEPENDENTES DE EXPORTAÇÕES</p><p>País Produto</p><p>Arábia Saudita Petróleo</p><p>Burundi Café</p><p>Sri Lanka Chá</p><p>México Petróleo</p><p>Jamaica Alumínio</p><p>Serra Leoa Diamantes</p><p>Gâmbia Amendoim</p><p>Islândia Pescado</p><p>Chile Cobre</p><p>Bolívia Estanho</p><p>Honduras Banana</p><p>FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 523)</p><p>A estrutura econômica, nesses casos, resultou em uma organização que</p><p>o principal produto produzido internamente tornou-se também o produto a ser</p><p>exportado. É através da receita obtida com a exportação desses produtos que</p><p>tais economias conseguem recursos para importar os demais bens e serviços que</p><p>atendem as necessidades e bem-estar de sua população.</p><p>Devido a essas e outras questões que a discussão sobre o livre comércio</p><p>é bastante ampla e, também, controversa, assim como o das políticas comerciais,</p><p>que será visto na Unidade 2 deste Livro Didático. Contudo, neste momento é</p><p>importante compreendermos alguns benefícios para as economias quando</p><p>decidem realizar o comércio internacional. Os itens a seguir trazem temas</p><p>importantes para pensarmos sobre o livre comércio dos países.</p><p>• Maior variedade de produtos: os bens produzidos em países diferentes não</p><p>são exatamente os mesmos. A cerveja da Alemanha, por exemplo, não é igual</p><p>à dos Estados Unidos. O livre comércio oferece aos consumidores, em todos os</p><p>países, maior variedade de escolha.</p><p>• Custo menor por meio de economias de escala: alguns bens podem ser</p><p>produzidos a baixo custo, apenas em grandes quantidades — um fenômeno</p><p>chamado economia de escala. Uma empresa de um país pequeno não pode</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>7</p><p>se beneficiar completamente da economia de escala se vender apenas em um</p><p>mercado interno pequeno. O livre comércio dá acesso a mercados mundiais</p><p>maiores e permite que se realizem economias de escala de forma mais completa.</p><p>• Maior competição: uma empresa afastada dos competidores internacionais</p><p>pode ter força no mercado, o que a capacita a aumentar os preços acima dos</p><p>níveis competitivos. Isso é um tipo de falha de mercado. A abertura do mercado</p><p>fortalece a competição e permite que a mão invisível tenha maiores chances de</p><p>fazer sua mágica.</p><p>• Melhor fluxo de ideias: acredita-se que a transferência dos avanços tecnológicos,</p><p>em todo o mundo, esteja ligada à comercialização dos bens que incorporam</p><p>esses avanços. A melhor maneira de um país agrícola pobre aprender sobre a</p><p>revolução dos computadores, por exemplo, é comprar alguns computadores</p><p>do estrangeiro, em vez de tentar produzi-los internamente (MANKIW, 2013).</p><p>Com base nestes benefícios, percebemos que o livre comércio aumenta</p><p>a variedade de produtos disponíveis para os consumidores, possibilita que</p><p>empresas tenham economia de escala, aumenta a competição, estabiliza os preços</p><p>e contribui para a disseminação da tecnologia.</p><p>Será que a economia internacional é somente feita de benefícios? Quais as</p><p>perdas e os ganhos com o comércio internacional? Bom, para compreendermos</p><p>sobre o fluxo comercial entre os países é preciso relembrar alguns temas da</p><p>história econômica: mais precisamente até o período mercantilista!</p><p>Vamos dar início ao estudo da Economia Internacional entendendo um</p><p>pouco melhor a relação entre mercantilismo e comércio internacional.</p><p>3 AS ORIGENS DO MERCANTILISMO</p><p>A História do Pensamento Econômico é uma disciplina fundamental</p><p>dentro do curso de Economia, uma vez que traz à tona e procura entender o</p><p>funcionamento das relações econômicas ao longo da história. No campo da</p><p>Economia Internacional não é diferente. As bases das teorias ligadas à economia</p><p>internacional, as quais procuram desvelar as formas pelas quais os países trocam</p><p>bens e serviços entre si, estão alicerçadas em muitos pensadores do passado, uma</p><p>vez que a percepção de que a dinâmica econômica nacional acontece de forma</p><p>interligada com o resto do mundo não é nem um pouco recente.</p><p>O fato é que há muito tempo viu-se que as nações e sua população</p><p>poderiam se beneficiar com o desenvolvimento do comércio de outras nações.</p><p>Embora num mundo globalizado o papel das políticas internacionais seja</p><p>totalmente diferente das economias do passado, é surpreendente perceber que as</p><p>estratégias por ganhos nas trocas econômicas comerciais continuam sendo foco</p><p>em todas as economias de mercado.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>8</p><p>A escola do pensamento mercantilista do século XVI é responsável por</p><p>concentrar muitas das ideias e estratégias que dariam origem ao conhecemos hoje</p><p>por Economia Internacional. Ideias cujo tempo e novos pensadores procuraram</p><p>desafiar para aprimorar o entendimento sobre a sociedade que se formava com</p><p>base nas relações econômicas. O mais importante desses estudos está na</p><p>em consideração</p><p>o altíssimo endividamento público dos países? Será que conseguiríamos imaginar</p><p>o valor da dívida mundial? Segundo o Fórum Econômico Mundial — https://www.</p><p>https://www.weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-visualization</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>155</p><p>weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-visualization — a</p><p>dívida mundial em 2017 ficou acima de US$ 63 trilhões, deste valor, quais os</p><p>países com maior peso de dívida pública a nível mundial? Confira a seguir.</p><p>FIGURA 6 – PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES NA DÍVIDA PÚBLICA MUNDIAL - EM PORCENTAGENS</p><p>FONTE: <https://assets.weforum.org/editor/large_</p><p>UZFo4WRy6KJL7xEN58yxmPbf4ziu9zKwKsgUWqO9GMU.png>. Acesso em: 6 set. 2019.</p><p>Na figura consegue-se visualizar o grande peso das maiores economias</p><p>do mundo no contexto da dívida pública mundial, se somar as dívidas das 10</p><p>maiores economias — Estados Unidos, China, Japão, Itália, Alemanha, França,</p><p>Reino Unido, Brasil, Espanha e Canadá — o peso delas é de 80% da dívida</p><p>mundial! E se levar em consideração somente o peso das três primeiras economias</p><p>— Estados Unidos, China e Japão — a porcentagem será de 59%!</p><p>Ou seja, o que possa vir a acontecer na perspectiva de desempenho das</p><p>economias destes países terá repercussões mundiais, é por isso que quando</p><p>uma notícia sensível acontece, logo as repercussões são imediatas nas posições</p><p>cambiais das moedas internacionais — em US$ e €, principalmente, e claro, em</p><p>termos locais na nossa moeda nacional, o R$ (Real). De fato, o grande peso da</p><p>dívida mundial é, também, uma das grandes preocupações de uma possível crise</p><p>https://www.weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-visualization</p><p>https://assets.weforum.org/editor/large_UZFo4WRy6KJL7xEN58yxmPbf4ziu9zKwKsgUWqO9GMU.png</p><p>https://assets.weforum.org/editor/large_UZFo4WRy6KJL7xEN58yxmPbf4ziu9zKwKsgUWqO9GMU.png</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>156</p><p>futura. Pois logo dos grandes incentivos monetários para minimizar o impacto</p><p>da grande recessão do ano 2008, levou os países a aumentarem o peso de suas</p><p>dívidas, logo, hoje há pouco espaço para incentivar suas economias por meio do</p><p>uso da dívida pública.</p><p>Em termos absolutos, essa dívida a nível mundial gera muita preocupação,</p><p>mas em termos de sua relação com o PIB dos países gera ainda mais perguntas do</p><p>que respostas. As maiores economias do mundo possuem dívidas que superam o</p><p>PIB delas mesmo. Isso mostra a alta dependência das economias ao crescimento</p><p>econômico, se o PIB parar de crescer, a dívida das nações dispara com sérios impactos.</p><p>Eis um dos grandes riscos da briga comercial entre os Estados Unidos e a China que</p><p>vem acontecendo desde 2017. Sabe qual o peso da dívida das maiores economias com</p><p>alto nível de endividamento? O Japão, terceira maior economia do mundo, possui</p><p>uma dívida pública que supera o 239,3% de seu PIB! Veja, a seguir, o peso da dívida</p><p>pública em função do PIB de países com peso econômico importante.</p><p>TABELA 2 – DÍVIDAS PRÓXIMAS OU SUPERIORES AO 100% DO PIB DAS MAIORES</p><p>ECONOMIAS DO MUNDO</p><p>Rank Countries Debt ($B) % of Global Debt Debt-to-GDP</p><p>#1 United States $ 19,947 31.8% 107.1%</p><p>#2 Japan $ 11,813 18.8% 239.3%</p><p>#3 China $ 4,976 7.9% 44.3%</p><p>#4 Italy $ 2,454 3.9% 132.6%</p><p>#5 France $ 2,375 3.8% 96.3%</p><p>FONTE: <https://www.weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-</p><p>visualization>. Acesso em: 6 set. 2019.</p><p>A China possui uma dívida pública, aparentemente baixa, de 44,3%, correto?</p><p>Porém, se levar em consideração a estrutura de alto controle do Estado Chinês</p><p>sobre a atividade econômica, ou seja, a forte correlação da atividade empresarial</p><p>com a gestão governamental, a dívida pública e privada chinesa dispara, segundo</p><p>a agência Reuters — https://www.reuters.com/article/us-china-economy-debt/</p><p>chinas-debt-tops-300-of-gdp-now-15-of-global-total-iif-idUSKCN1UD0KD —,</p><p>para 303% de seu PIB! Isso quer dizer, alto risco de crise econômica que pode</p><p>iniciar com repercussões mundiais, claro, se houver uma desaceleração na</p><p>atividade econômica chinesa. Além do peso da dívida pública/privada da China,</p><p>deve-se levar em consideração o agressivo investimento corporativo chinês ao</p><p>redor do mundo, isso gera maiores chances de vulnerabilidade mundial.</p><p>https://www.weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-visualization</p><p>https://www.weforum.org/agenda/2018/05/63-trillion-of-world-debt-in-one-visualization</p><p>https://www.reuters.com/article/us-china-economy-debt/chinas-debt-tops-300-of-gdp-now-15-of-global-total-iif-idUSKCN1UD0KD</p><p>https://www.reuters.com/article/us-china-economy-debt/chinas-debt-tops-300-of-gdp-now-15-of-global-total-iif-idUSKCN1UD0KD</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>157</p><p>Assista ao vídeo da revista Financial Times sobre o alto risco da dívida</p><p>corporativa das empresas chinesas e seus investimentos ao redor do mundo em diversas</p><p>atividades, desde agronegócios, aqui no Brasil, até empresas de alta tecnologia nos Estados</p><p>Unidos e na Europa, disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=HkZT2roOM2g.</p><p>DICAS</p><p>4.2 AS OSCILAÇÕES CAMBIAIS E O FIM DO PADRÃO OURO</p><p>Após estudar a sensibilidade econômica dos altos índices de dívida em</p><p>2019 perante possíveis desacelerações da atividade econômica. É o momento de</p><p>estudar a maneira como o mercado cambial internacional atua nos dias de hoje</p><p>e como isso ajuda a dinâmica da economia mundial, considerando o contexto</p><p>histórico das últimas décadas e os interesses comerciais do Brasil. Para isso, vamos</p><p>primeiro estudar sobre o padrão ouro e a importância do dólar americano (US$)</p><p>nas posições cambiais ao redor do mundo e a importância disso na estabilidade</p><p>econômica das nações.</p><p>Há mais de 40 anos, o mercado de câmbio possui forte correlação ao</p><p>dólar americano, mas será que sempre foi assim? Na verdade, o dólar americano,</p><p>como referência internacional de câmbio, começou a se manifestar com maior</p><p>força a partir da década de 1970. Antes dessa década estava em vigor o “Sistema</p><p>Bretton Woods”, por meio do qual os países podiam estabelecer seus balanços</p><p>de pagamentos em US$, e esses dólares norte-americanos utilizados pelos países</p><p>tinham a opção de ser convertidos em ouro por meio de uma taxa de câmbio fixa</p><p>de US$ 35 a onça, conforme especifica a Federal Reserve e o Instituto Mises:</p><p>Desde 1958, quando o sistema de Bretton Woods entrou em operação,</p><p>os países podiam estabelecer seus saldos internacionais em dólares</p><p>norte-americanos, e esses US$ podiam ser convertidos em ouro a uma</p><p>taxa de câmbio fixa de US $ 35 a onça. Os Estados Unidos tinham a</p><p>responsabilidade de manter o preço do ouro em dólar fixo e precisavam</p><p>ajustar a oferta de dólares para manter a confiança na conversibilidade</p><p>futura do ouro (GHIZONI, 2013, s.p.).</p><p>Os gráficos históricos do preço do ouro denominados em US$ mostram</p><p>uma linha fixa de US $ 35 que percorre a maior parte do século</p><p>XX. O preço de US $ 35 era parte integrante do Acordo de Bretton</p><p>Woods, negociado após a Segunda Guerra Mundial. O Bretton Woods</p><p>especificou um sistema de paridades fixas entre o dólar dos EUA e</p><p>outras moedas industrializadas e a conversibilidade pelos bancos</p><p>centrais estrangeiros de dólares dos EUA em ouro a US $ 35 a onça.</p><p>Em outras palavras, cada dólar pagou cerca de 0,03 onças de ouro, ou</p><p>0,888671 gramas (KONING, 2009, s.p.).</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=HkZT2roOM2g</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>158</p><p>Nesse sentido, antes de 1971, as moedas dos países estavam atreladas ao</p><p>padrão ouro por meio da convertibilidade do US$ ao valor do ouro. Na década</p><p>de 1970, os Estados Unidos tinham a melhor posição cambial, isto é, a mais</p><p>segura e com maior circulação no mundo, pois, nessa época, e ainda hoje, vem</p><p>sendo a maior potência mundial em vários contextos, entre eles a capacidade de</p><p>gerar valor real e as perspectivas de produtividades de sua atividade econômica.</p><p>Porém, no começo dessa década, 1970, a convertibilidade do</p><p>US$ em ouro —</p><p>que desde finais da Segunda Guerra Mundial, com o acordo “Bretton Woods”,</p><p>já vinha perdendo força — estava quase no seu final. Assim, em 1971, o Sistema</p><p>Bretton Woods e sua convertibilidade de US$ em ouro estava finalizando. Os</p><p>motivos foram vários, mas aqui vamos estudar só os mais relevantes.</p><p>Entre outros fatores importantes, nos inícios de 1970, aconteceu a primeira</p><p>grande crise do preço do petróleo. Nessa época, os USA tinham se convertido em</p><p>importador com alta dependência dos fornecedores de petróleo, principalmente</p><p>dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).</p><p>Além disto, em 1973, aconteceu a Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão), entre Israel,</p><p>Egito e Síria. Nessa guerra, tanto os USA como os países europeus apoiaram Israel,</p><p>e a consequência foi uma forte retaliação dos países árabes por meio da redução</p><p>de oferta de petróleo dos países membros da OPEP. Resultado disso? O preço de</p><p>petróleo disparou de apenas US$ 2,90/barril para US$ 11,65 em só três meses:</p><p>[...] em 16 de outubro, as vendas para os EUA, maiores importadores</p><p>mundiais, e para a Europa são embargadas; a produção sofre firme</p><p>redução em tempos de alta demanda, forçando o preço do barril a</p><p>subir cerca de 400% em três meses, de US$ 2,90, em outubro de 1973,</p><p>para US$ 11,65, em janeiro do ano seguinte (IPEA, 2010, s.p.)</p><p>Isso representou um aumento no preço do petróleo de mais de 300%,</p><p>somente em 3 meses! Esse fato fez os valores das importações do produto</p><p>dispararem em bilhões de US$. E isso só veio a piorar o crescente déficit na</p><p>balança de pagamentos dos USA, graças ao alto custo da Guerra do Vietnam. O</p><p>impacto financeiro foi muito drástico, principalmente em função da Guerra do</p><p>Vietnam e a disparada do preço do barril de petróleo. Isso, entre outros fatores</p><p>macroeconômicos, fez com que os USA começassem a ter problemas críticos em</p><p>suas reservas de ouro que davam suporte a sua moeda, o dólar americano.</p><p>Sob essa pressão crítica, e levando em consideração que US$ era já a</p><p>moeda com maior circulação no contexto mundial, fez que os Estados Unidos</p><p>abandonassem de vez a convertibilidade do US$ em ouro. Isso quer dizer, que os</p><p>Estados Unidos deixaram unilateralmente o padrão ouro, que vinha se usando</p><p>sob a dinâmica do sistema do Breton Woods. Qual foi a consequência disso?</p><p>• O dólar americano, por ser a moeda com maior circulação no mundo, e de alta</p><p>confiança desde finais da Segunda Guerra Mundial, fez que os demais países</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>159</p><p>começassem, definitivamente, a deixar o padrão ouro. O poder da posição</p><p>cambial dos USA era, simplesmente, ser a moeda com maior circulação no</p><p>mundo e representar a maior potência econômica com altíssima perspectiva de</p><p>gerar valor real com alta produtividade.</p><p>Entre as consequências de forte relevância, largar o padrão ouro, fez com</p><p>que o mercado de câmbio internacional começasse a flutuar. Isso foi deixando ao</p><p>próprio mercado fixar as posições das moedas. Essa dinâmica de livre flutuação</p><p>— e sendo o US$ a moeda com maior circulação e maior solidez relativa —</p><p>fez do dólar americano o referente internacional das posições cambiais, sem</p><p>a necessidade de os países terem reservas em ouro. Ou seja, até essa época, as</p><p>reservas internacionais dos países estavam baseadas na quantidade de ouro, mas,</p><p>a partir desse novo cenário, as reservas começaram a ser medidas em função de</p><p>uma cesta de divisas, principalmente em US$.</p><p>Segundo o Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum, 2019) em</p><p>2019 mais de 62% das reservas internacionais dos países estão em US$, no início</p><p>do ano 2000, essa porcentagem era de 70% e, ao final da década de 1970 era de</p><p>80%, embora tenha diminuído, ainda seu peso era relevante, tanto que o valor das</p><p>reservas internacionais são, até hoje, medidos em US$.</p><p>Embora não seja oficial, a moeda mundial, o US$ é ainda o mais próximo</p><p>disso. Talvez não tenha a importância que tinha durante o sistema do</p><p>Bretton Woods, quando grande parte das moedas estavam atreladas ao</p><p>dólar, mas até os dias de hoje o US$ ainda continua sendo, de fato, a</p><p>moeda das reservas internacionais dos países (RICHTER, 2019, s.p.).</p><p>Assim, as reservas internacionais dos países são medidas em US$, mas</p><p>qual a relevância disso no contexto de reserva valor dos países? Veja a seguinte</p><p>analogia: as famílias procuram fazer reservas de dinheiro por meio da poupança,</p><p>prevendo ter uma reserva para possíveis imprevistos — doenças, desemprego,</p><p>educação dos filhos, entre outros fatores —, o mesmo acontece com os países</p><p>perante as suas necessidades internacionais, eles possuem uma conta que vai</p><p>acumulando seus saldos vindos do Balanço de Pagamentos, ou seja, suas reservas</p><p>internacionais, desta maneira:</p><p>• As meras perspectivas de mudanças na Balança Comercial (Exportações –</p><p>Importações); movimentações financeiras de juros e réditos internacionais (juros</p><p>pagos; menos juros cobrados; movimentações de lucros; mais movimentações</p><p>de capital — investimento internacional tanto de curto como de longo prazo),</p><p>fazem marcar tendências de solidez das reservas internacionais dos países,</p><p>logo, marcar posições no valor de sua moeda no mercado de câmbio.</p><p>Esse é um dos motivos que qualquer mudança nas perspectivas de geração</p><p>de divisas da Balança de Pagamentos faça mexer a taxa de câmbio, no caso do</p><p>Brasil, o Real versus o US$ e demais moedas internacionais. Todo país possui</p><p>“reservas internacionais”, ela serve como ferramenta para gerar confiança para</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>160</p><p>possíveis contingentes, tal como a grande recessão do ano 2008. Nessa época o</p><p>Brasil tinha suficientes reservas para amortizar fortes choques externos, em 2008,</p><p>segundo o Banco Central do Brasil (BACEN, 2010) suas reservas internacionais</p><p>eram de US$ 207 bi, suficiente recurso monetário para dar conta de mais de 11</p><p>meses de importações.</p><p>O Brasil enfrentou a crise mundial de 2008 sem perder a confiança</p><p>dos investidores internacionais, o que foi determinante para a rápida</p><p>estabilização em 2009. A solidez do sistema financeiro e a condução</p><p>criteriosa das políticas monetária e fiscal garantiram a estabilidade dos</p><p>fundamentos da economia, conforme pode ser visto na evolução da</p><p>dívida líquida do setor público (DLSP) e das reservas internacionais</p><p>apresentada no gráfico 1.7 (BACEN, 2010, p. 10).</p><p>GRÁFICO 3 – RELAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA E RESERVAS INTERNACIONAIS</p><p>FONTE: BACEN (2010, p. 11)</p><p>O Brasil, além de reter boas reservas internacionais, mostrou confiança</p><p>aos investidores e fornecedores estrangeiros, conseguindo manter sua moeda, o</p><p>Real, relativamente estável perante a crises do ano 2008.</p><p>Tanto aqui no Brasil como na maioria dos países, qual a estrutura das</p><p>reservas internacionais? Como já vem se falando, elas são medidas em US$, sendo</p><p>que sua estrutura é uma cesta de divisas internacionais (dólar americano, euros,</p><p>ienes) mais reservas em ouro. Observe que a maior parte dessas divisas são aplicadas</p><p>em US$, basicamente em títulos da dívidas pública dos USA (treasuries bonds), os</p><p>quais são considerados os de menor risco no mundo. É conhecido que “Países em</p><p>desenvolvimento mantêm uma quota de cerca de 60% de suas reservas na forma de</p><p>dólares norte-americanos” (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 539).</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>161</p><p>É em função deste baixo risco dos títulos dos USA que, quando vir</p><p>acontecer crises numa região do mundo ou mesmo uma crise financeira mundial, os</p><p>investidores internacionais tendem a procurar principalmente dólares americanos</p><p>e ouro. Junto ao ouro, o US$ tende a se sobrevalorizar, mesmo quando a crise pode</p><p>estourar nesse país (Estados Unidos), tal como aconteceu na grande recessão de</p><p>2008. Esse fenômeno de valorização do US$, perante crises internacionais, nós</p><p>pudemos observar em vários momentos depois da crise de 2008, exemplos:</p><p>• Preço do US$ e ouro na crise da Grécia, em 2012.</p><p>• Guerra comercial dos Estados</p><p>Unidos versus China, a partir de 2017 até 2019.</p><p>Embora, o dólar seja considerado um ativo financeiro seguro, e, de fato,</p><p>muitos investidores mantêm posições neste ativo, nos últimos anos, perante</p><p>perspectivas de perda de poder econômico dos USA e da crise do Euro, eles têm</p><p>procurado de novo ativos em ouro. Essa nova condição de reservar valor vem sendo</p><p>uns dos principais motivos da alta desse metal, os países vêm aumentando parte de</p><p>suas reservas em ouro, será que os países estão indo de novo para o padrão ouro?</p><p>O ouro desempenhou o papel de ativo de reserva internacional por</p><p>excelência sob o padrão-ouro — e enquanto o dólar norte-americano</p><p>continua a ser o ativo de reserva principal hoje, economistas debatem</p><p>por quanto tempo o privilégio único norte-americano pode durar.</p><p>Como os bancos centrais e governos podem alterar suas políticas para</p><p>afetar a explorações nacionais das reservas internacionais, é importante</p><p>compreender os fatores que influenciam as exigências dos países para</p><p>reservas internacionais (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 409).</p><p>Observe que vem se falando da importância das reservas internacionais,</p><p>mas será que todos países precisam ter grandes reservas para manter estável</p><p>a posição cambial? Isso dependerá de vários fatores, um deles é a estabilidade</p><p>política e econômica do país, nações com longo histórico de estabilidade política/</p><p>econômica como os USA, Reino Unido, Alemanha, França, entre outros, precisam</p><p>de menores valores de reservas internacionais em proporção ao tamanho de</p><p>suas economias (medidas em PIB/ano). Países com menor estabilidade precisam</p><p>de maiores valores de reservas, objetivando dar confiança aos investidores e</p><p>fornecedores internacionais.</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>162</p><p>QUADRO 1 – RESERVAS INTERNACIONAIS E PIB: 10 MAIORES PAÍSES</p><p>FONTE: Adaptado de:<https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD.></p><p>Acesso em: 13 de set/2019</p><p>Desse quadro, é interessante observar o Japão, que retém um dos maiores</p><p>níveis de desenvolvimento, mas também retém as maiores reservas — em relação</p><p>ao PIB. Por quê? Embora seja a terceira maior economia do mundo, o Japão é uma</p><p>ilha com pouquíssimos recursos naturais, assim, para gerar valor a sua atividade</p><p>econômica, o país importa grandes volumes de recursos naturais e os processa</p><p>em mercadorias a serem exportadas em grande volume e com grande valor</p><p>agregado. Ou seja, é um país que depende muitíssimo do comércio exterior, logo,</p><p>as reservas internacionais servem como a melhor garantia para manter estável</p><p>suas relações comerciais e sua economia.</p><p>Esse altíssimo valor das reservas do Japão é mais um reflexo do porquê,</p><p>quando se apresentam crises internacionais, o Iene (¥) — com o US$, o ouro, o €,</p><p>e Franco Suíço — é uma das moedas que mais se valoriza. No quadro também</p><p>se observa que, das maiores economias, com exceção do Japão, os países mais</p><p>pobres em termos de desenvolvimento econômico e PIB/per capita, são os que</p><p>retém maiores reservas, isto é, a China, a Índia, e o Brasil. Esses países, por</p><p>diversos motivos de sua condição de economias em desenvolvimento, precisam</p><p>dar confiança à comunidade internacional.</p><p>É interessante também observar como as reservas internacionais dos</p><p>países, como um todo, vêm aumentando nas últimas décadas, conforme se vê no</p><p>seguinte quadro.</p><p>QUADRO 2 – RESERVAS INTERNACIONAIS MUNDIAIS EM TRILHÕES DE US $</p><p>Ano 1995 2000 2005 2011 2018</p><p>US$ em trilhões 1.390 1936 4.320 10.197 12.533</p><p>FONTE: Adaptado de <https://data.worldbank.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=BR>.</p><p>Acesso em: 27 nov. 2019.</p><p>https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD</p><p>https://data.worldbank.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=BR</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>163</p><p>De acordo com o quadro, as reservas internacionais passaram de US$</p><p>1.390 trilhões, em 1995, para US$ 12.533 trilhões, em 2018, ou seja, as reservas vêm</p><p>crescendo muito, isso representa uma taxa de crescimento altíssima. Qual será</p><p>o motivo disso? Um dos argumentos é o acelerado crescimento dos mercados</p><p>financeiros internacionais.</p><p>Hoje, os investidores estão de olho em um leque de opções de investimento,</p><p>tanto de curto como de longo prazo, ao redor de mundo. Assim, para os países, é</p><p>fácil captar recursos desses investidores internacionais, mas também é fácil eles</p><p>tirarem seus fundos e migrar para outras alternativas de investimentos. Logo,</p><p>os países ficam expostos e precisam ter boas reservas internacionais, visando se</p><p>proteger de possíveis saídas repentinas de recursos.</p><p>Observe-se que, perante a possibilidade de uma crise, os investidores</p><p>de capital de curto prazo começam a vender suas posições em moeda local.</p><p>Suponhamos que, aqui no Brasil, os investidores procuram opções mais seguras,</p><p>tais como os Treasure Funds dos USA ou mesmo o ouro. Assim, para garantir as</p><p>posições cambiais, os países precisam ter reservas robustas, visando amortizar as</p><p>saídas de capital financeiro muito fortes. Vejamos um exemplo atual.</p><p>Em 2018, perante a possibilidade de uma guerra comercial entre os USA e a</p><p>China houve uma valorização geral do US$ e do ouro, logo, os investidores no mundo</p><p>ficaram nervosos e começaram vender suas posições, especialmente dos países de</p><p>maior risco, entre eles o Brasil e a Argentina. Tanto no Brasil como na Argentina</p><p>suas moedas foram desvalorizadas, porém, qual teve maior desvalorização, o Peso</p><p>argentino ou o Real brasileiro? A desvalorização do Peso argentino foi bem maior.</p><p>Além disso, na Argentina, essa desvalorização veio para ficar, ao contrário do Brasil</p><p>que logo a sua moeda voltou a sua posição cambial normal — mesmo o Brasil</p><p>tendo, ainda, alguns problemas macroeconômicos a serem resolvidos.</p><p>No caso específico da Argentina, entre outros fatores importantes, qual</p><p>foi um dos motivos da desvalorização desse país? Entre outros problemas</p><p>estruturais de sua economia, um dos problemas foram as reservas internacionais</p><p>muito baixas em relação ao tamanho de sua economia, ao contrário do Brasil,</p><p>que possui a décima maior reserva do mundo, segundo o Banco Mundial —</p><p>https://data.worldbank.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=BR. O Impacto</p><p>na Argentina foi tão drástico, que teve que solicitar empréstimo emergencial ao</p><p>FMI, visando melhorar suas reservas para conter a desvalorização, conforme</p><p>consegue-se observar a seguir.</p><p>https://data.worldbank.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=BR</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>164</p><p>GRÁFICO 4 – DESVALORIZAÇÃO DO PESO ARGENTINO</p><p>FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/news/695/cpsprodpb/182F5/production/_108616099_ars-</p><p>usd_640-nc.jpg>. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>Observe que o peso ficou estabilizado na faixa de um pouco menos de AR$</p><p>20,00 por US$ 1,00, desde antes de 2016 até 2018, porém, a partir de 2018, o peso</p><p>vem se desvalorizando muito, chegando a AR$ 60,00 por US$1,00 no segundo</p><p>semestre de 2019. Observe que se o Real tivesse apresentando desvalorização</p><p>na mesma proporção, passando (supostamente) de R$ 3,80 por US$1,00 para R$</p><p>11,40, teria sido uma catástrofe econômica! Pois bem, é isso mesmo, vem sendo</p><p>para os argentinos, uma catástrofe econômica.</p><p>Essa desvalorização do peso Argentino é reflexo de vários problemas</p><p>macroeconômicos que esse país vem acumulando, e, como resultado, as reservas</p><p>internacionais da Argentina, há vários anos, vêm sendo relativamente baixas,</p><p>logo, em uma crise, ou mesmo perante um susto internacional, como foi em 2018,</p><p>a sua moeda perde valor, e essa desvalorização simplesmente piora ainda mais</p><p>o quadro convalescente da economia desse país. Vejamos o que diz Krugman,</p><p>Obstfeld e Melitz a respeito da relação sensibilidade econômica e a necessidade</p><p>de reservas internacionais:</p><p>Historicamente e até os dias atuais, as reservas internacionais têm sido</p><p>valorizadas pelos bancos centrais porque podem ser negociadas com</p><p>estrangeiros por bens e serviços, mesmo em circunstâncias como crises</p><p>financeiras e guerras, quando o valor dos ativos domésticos</p><p>pode ser</p><p>posto em dúvida (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ; 2015, p. 409).</p><p>https://ichef.bbci.co.uk/news/695/cpsprodpb/182F5/production/_108616099_ars-usd_640-nc.jpg</p><p>https://ichef.bbci.co.uk/news/695/cpsprodpb/182F5/production/_108616099_ars-usd_640-nc.jpg</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>165</p><p>Leia mais sobre a crise da Argentina acessando a reportagem da BBC através</p><p>do link: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49571729.</p><p>DICAS</p><p>Em termos gerais, perante as crises os investidores procuram baixo risco.</p><p>Motivo da valorização do US$ quando se apresenta possibilidade de crises</p><p>internacionais. Assim como o exemplo da Argentina, isso já aconteceu no Brasil</p><p>várias vezes no passado. A nível mundial, a crise de 2008 é um bom exemplo</p><p>histórico. Foram estudados vários níveis de reservas, mas será que existe um</p><p>valor ideal, ou referencial de valores de reservas que os países possam aplicar?</p><p>Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou IMF (siglas em inglês para</p><p>International Monetary Fund): “Há algumas regras fundamentais bem conhecidas,</p><p>tal como a relação entre reservas e importações, ou a relação entre reservas e</p><p>passivos externos de curto prazo, eles servem como parâmetros objetivando</p><p>avaliar o nível adequado de reservas” (LU; WANG, 2019, p. 5, tradução nossa).</p><p>Então, os países devem determinar qual poderia ser a relação ideal,</p><p>conforme a dinâmica econômica e o nível de incerteza envolvido na atividade</p><p>econômica dos países. Segundo o Lu e Wang (2019), como referência “média” os</p><p>países deveriam ter:</p><p>• Reservas pelo valor equivalente a três meses de importações.</p><p>• Reservas pelo valor de dois terços das demandas de pagamentos externos.</p><p>• Reservas que possam representar 10% do PIB, para países em desenvolvimento.</p><p>Observe que as reservas da Argentina representavam 5% do PIB quando</p><p>começou o risco internacional de uma potencial guerra comercial entre os USA e</p><p>a China. No caso do Brasil, suas reservas representam 20% do PIB em 2018, entre</p><p>outros motivos, é uma das explicações que a moeda nacional do Brasil consegue se</p><p>manter relativamente estável, apesar das turbulências tanto internas como externas.</p><p>4.3 O DÓLAR AMERICANO COMO MOEDA</p><p>INTERNACIONAL</p><p>Conforme estudamos, o US$ é a moeda internacional como maior</p><p>circulação no mundo, isso é assim por uma série de fatores. A primeira é</p><p>porque os Estados Unidos vem sendo a maior potência econômica do mundo,</p><p>principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. O segundo motivo é por</p><p>questões de geopolítica que aconteceram nas décadas de 1960 e 1970, conforme</p><p>https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49571729</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>166</p><p>iremos estudar mais adiante. E a terceira é porque, há mais de 60 anos, os USA</p><p>vem se apresentando como o país com maior potencial de inovação tecnológica,</p><p>fato que gera confiança nas perspectivas de capacidade de gerar valor dessa</p><p>economia, logo, confiança na sua moeda.</p><p>Talvez essa confiança perca força nas próximas décadas, mas, ainda assim, por</p><p>enquanto, o US$ é a moeda que gera maior confiança, especialmente nos momentos</p><p>de crises internacionais. A seguir iremos ver alguns dos fatores importantes do US$</p><p>possuir a maior circulação de moeda internacional ao redor do mundo.</p><p>4.3.1 O Eurodólar</p><p>O dólar americano apesar de ser a moeda de uso interno dos Estados</p><p>Unidos, tem maior circulação no âmbito internacional, segundo Dominick</p><p>Salvatore (2007 apud MAIA, 2011, p. 162) “Cerca de 60% do montante dos dólares</p><p>em papel-moeda em circulação estão fora dos Estados Unidos”. Isso acontece por</p><p>vários motivos. É estranho visualizar, mas imagine que mais do 50% da moeda</p><p>nacional do Brasil, o real, estivesse circulando fora do país, seria um sucesso de</p><p>confiança para a moeda do Brasil.</p><p>Como isso pode existir maior circulação de uma moeda fora de um país?</p><p>Primeira resposta, o volume imenso de reservas internacionais dos países em</p><p>US$, mas existem outros fatores de cunho geopolítico e de interesses econômicos</p><p>durante a Guerra Fria.</p><p>Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA ficaram, de maneira</p><p>evidente, e de longe, como a maior potência, tanto em termos econômicos como</p><p>financeiros, logo, o US$ superou a Libra Esterlina (moeda do Reino Unido) como</p><p>a moeda de maior peso internacional. Assim, muitos países começaram ter ativos</p><p>financeiros em US$, entre eles a já extinta União Soviética — URSS — segundo</p><p>país com maior poder mundial até finais de 1980.</p><p>Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, as duas potências</p><p>vinham se confrontando na chamada Guerra Fria, e, no contexto econômico</p><p>da época, a URSS tinha grande parte de seus ativos internacionais em US$. O</p><p>balanço de forças entre os EUA e a URSS ficou tenso, mas estável, até que, ao final</p><p>da década de 1950, a Guerra Fria esteve na sua maior crise, apresentando diversas</p><p>ameaças de cunho econômico por parte dos EUA, por esse motivo a URSS temia</p><p>um possível congelamento, por parte do governo dos EUA, de seus depósitos em</p><p>US$ nos bancos dos Estados Unidos: “A URSS temia que os EUA usassem sua</p><p>superioridade financeira. Em 1957, o Norodny Bank, com sede na URSS, tirou os</p><p>US$ da URSS e transferiu para sua filial em Londres, surgindo, assim, o mercado</p><p>Eurodólar” (CHANDLER, 2014, s.p., tradução nossa).</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>167</p><p>Qual foi a solução financeira para esse impasse? A solução veio por</p><p>parte do Reino Unido, oferecendo abrir contas, em US$, em seu território,</p><p>especificamente na capital, Londres, evitando o risco de congelamento dos ativos</p><p>em US$ da URSS. Então, foi a partir desse acontecimento que vários investidores</p><p>internacionais começaram a usar o Reino Unido como centro financeiro para</p><p>realizar investimentos em US$, foi assim que, desde 1957, os depósitos em</p><p>Eurodólar só estavam aumentando, negociando bilhões de US$ sem a necessidade</p><p>de passar pelos USA. “Desde 1960, surgiram mercados de capitais internacionais</p><p>enormes, mais notadamente o mercado de Eurodólar de Londres, no qual bilhões</p><p>de dólares são trocados diariamente sem sequer chegarem aos Estados Unidos”</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 6)</p><p>Resumindo, a partir da década de 1960, começou o grande mercado de</p><p>capitais em US$, mas fora dos USA. Assim nasceu o conhecido Eurodólar, se</p><p>espalhando a intermediação de depósitos em US$ na França, na Alemanha, na</p><p>Itália e mais alguns países no resto no mundo, principalmente os paraísos fiscais.</p><p>Essa facilidade de negociar títulos com valor em US$ a nível internacional ajudou</p><p>muito o dinamismo do comércio internacional. Mas vejamos quais as principais</p><p>características do Eurodólar:</p><p>• Transações em US$ negociadas ao redor do mundo, sem risco cambial,</p><p>permitindo, entre outras coisas, reduzir oscilações nos custos das transações</p><p>comerciais entre países. Suponha que, entre o Brasil e a Índia, a moeda para</p><p>definir preços da negociação comercial é o US$.</p><p>• Londres ficou como centro operacional do “Eurodólar”, tendo como base de</p><p>medição do risco financeiro a taxa LIBOR:</p><p>A taxa de juros LIBOR dólar americano é a taxa de juros média</p><p>interbancária utilizada por um grande número de bancos no mercado</p><p>monetário londrino para empréstimos mútuos sem garantia realizados</p><p>em dólares americanos. A taxa de juros LIBOR dólar americano (USD)</p><p>está disponível em 7 períodos de duração diferentes: de overnight (à</p><p>base de 1 dia) a 12 meses.</p><p>A taxa de juros LIBOR dólar americano é utilizada como taxa básica</p><p>para todo o tipo de outros produtos como contas poupança, hipotecas</p><p>e empréstimos (TAXA, 2019, s.p.)</p><p>4.4 A VULNERABILIDADE DO MERCADO CAMBIAL</p><p>Acabamos de estudar como o US$ é hoje a moeda que tem maior circulação</p><p>fora do país de origem, os EUA. Embora o US$ seja a moeda com maior circulação</p><p>no mundo e de baixo risco cambial, isso não exime a moeda dos Estados Unidos</p><p>ficar fora das forças do mercado de câmbio. O mesmo acontece com todas as</p><p>moedas dos países, elas estão sujeitas às forças da oferta e demanda de moeda,</p><p>conforme as necessidades comerciais e financeiras dos países.</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>168</p><p>Ao longo da história recente, muitos países quiseram contornar a</p><p>dinâmica do mercado de câmbio, mas, ao final desse caminho, todos esses países</p><p>sucumbiram às forças do mercado. O que define essas forças de mercado são</p><p>vários fatores, mas os principais são as perspectivas econômicas comparativas</p><p>entre os países que fazem parte do mercado de câmbio e os superávits/déficits</p><p>no balanço de pagamentos. A dinâmica dessas duas forças é que vai definindo as</p><p>posições das taxas de câmbio dos países.</p><p>A curto prazo os países conseguem aplicar diversas ferramentas para</p><p>abrandar as oscilações próprias do mercado, entre as ferramentas disponíveis</p><p>pelos países é precisamente a intenção de uso das reservas internacionais. Se a</p><p>moeda nacional se encontrar em uma posição desvalorizada, logo, o Banco Central</p><p>do país em questão, poderia procurar comprar moeda nacional em detrimento</p><p>da venda de parte de suas reservas em US$. O problema de “forçar” o mercado</p><p>de câmbio é quando os países tentam fixar a taxa de câmbio por períodos mais</p><p>longos, conforme iremos observar com alguns exemplos reais que já aconteceram.</p><p>Alguns países tentaram, várias vezes, aplicar controles, sem sucesso e,</p><p>provavelmente, ficarão tentados em fazê-lo novamente quando se sentirem</p><p>ameaçados por uma crise econômica. Isso pôde ser observado em 2019, pois</p><p>houveram muitos países começando a se fechar, tentando segurar suas posições</p><p>cambiais. Qual seria uma das consequências de segurar o câmbio? Seria o mercado</p><p>paralelo de US$, que já aconteceu aqui no Brasil, no passado, e vem acontecendo</p><p>agora na Argentina.</p><p>O mercado paralelo de câmbio é como uma sombra impossível de</p><p>controlar. Isso acontece quando um país coloca taxas oficiais de câmbio, sem</p><p>deixar a dinâmica do próprio mercado de câmbio atuar, logo, aos poucos, a falta</p><p>de oferta perante uma crescente demanda de moeda estrangeira começa ser</p><p>ofertada por mercados ilegítimos, nesses casos, as moedas mais procuradas são</p><p>o Dólar americano e o Euro, se apresentando uma ponderação dinâmica entre a</p><p>oferta e demanda dessas divisas em um mercado fora do oficial estabelecido pelo</p><p>Banco Central do país em questão.</p><p>Neste tópico, estudamos diversos assuntos, mas todos eles relacionados</p><p>às atividades econômicas entre países, focando nas vantagens competitivas entre</p><p>países e nas vulnerabilidades na dinâmica do comércio exterior. Também foi</p><p>estudado a importância do Balanço de Pagamentos para as relações comerciais</p><p>e financeiras entre países, se observando os riscos atuais da dívida dos países</p><p>e o grande peso que o dólar americano tem nas atividades econômicas entre</p><p>os países. Com esta base de conhecimento do cenário atual da competitividade</p><p>entre os países e suas vulnerabilidades é que vamos abordar o aspecto do</p><p>desenvolvimento econômico internacional.</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>169</p><p>Antes de iniciar o Tópico 2, convidamos você a ler sobre os riscos à</p><p>economia mundial sobre a dívida corporativa e pública a nível internacional. O</p><p>FMI vem alertando, ao longo de 2018 e 2019, que há tendências de desaceleração</p><p>da atividade econômica mundial, e que em função das baixas taxas de juros que</p><p>os Bancos Centrais das principais economias do mundo vêm aplicando, desde</p><p>a grande recessão de 2008, vem alimentando o crescimento tanto da dívida das</p><p>corporações como dos países a níveis muito preocupantes.</p><p>Segundo o FMI, há o risco, nos próximos três anos, de que aproximadamente</p><p>US$ 19 trilhões de dívida possam ter risco de se tornarem impagáveis, caso</p><p>continuar a desaceleração da economia mundial. Para enxergar o megavolume,</p><p>esse montante de dívida de risco representa o equivalente do PIB anual dos</p><p>Estados Unidos. Boa leitura!</p><p>FMI ALERTA PARA O RISCO DE UMA CRISE FINANCEIRA</p><p>O risco de calote de vários grupos não financeiros é parte do cenário</p><p>sombrio desenhado em três relatórios apresentados nos últimos dois dias.</p><p>Dezenove trilhões de dólares poderão ficar impagáveis, nos próximos</p><p>dois ou três anos, se a piora das condições econômicas, já em curso, pressionar</p><p>grandes devedores nos oito maiores mercados, adverte o Fundo Monetário</p><p>Internacional (FMI).</p><p>O risco de calote de vários grupos não financeiros é parte do cenário</p><p>sombrio desenhado em três relatórios apresentados nos últimos dois</p><p>dias. Dez anos depois de iniciada a recuperação da última grande crise, as</p><p>vulnerabilidades financeiras se tornaram de novo ameaçadoras, segundo os</p><p>economistas do Fundo.</p><p>Políticas monetárias frouxas no mundo rico, com juros muito baixos</p><p>e até negativos, atualmente, produziram efeitos com sinais opostos. Do lado</p><p>positivo, ajudaram o mundo a sair da recessão e a reduzir o desemprego.</p><p>Do lado oposto, estimularam o endividamento público e privado,</p><p>criaram ambiente favorável a operações arriscadas e ampliaram a</p><p>vulnerabilidade a novos choques. Qualquer desastre poderá atingir todos os</p><p>grupos de países, direta ou indiretamente.</p><p>A dívida total do setor corporativo saltou de US$ 34 trilhões para</p><p>US$ 51 trilhões entre 2009 e 2019, nos oito principais mercados cobertos</p><p>pelo estudo. O grupo inclui Estados Unidos, China, Japão e vários países da</p><p>Europa. Os bancos são hoje muito mais seguros do que há alguns anos, com</p><p>mais capital, maior liquidez e repetidos testes de estresse, observou o diretor</p><p>do Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI, Tobias Adrian.</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>170</p><p>Tem crescido, prosseguiu, a vulnerabilidade no setor financeiro não bancário e</p><p>nas empresas não financeiras, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira</p><p>Global apresentado nesta quarta-feira, 16.</p><p>CENÁRIO</p><p>O risco de algo mais grave, por enquanto, está num horizonte de médio</p><p>prazo, algo como dois ou três anos, mas os formuladores de políticas devem</p><p>agir logo, aumentando a vigilância e aperfeiçoando as normas de segurança,</p><p>insistiu o diretor. Dirigentes e economistas do FMI vêm chamando a atenção,</p><p>há alguns anos, para o lado negativo das políticas monetárias frouxas mantidas</p><p>por muito tempo.</p><p>Com juros baixos e até negativos no mundo rico, grandes fluxos de</p><p>capitais foram desviados para economias emergentes, em desenvolvimento</p><p>e também para aquelas na fronteira entre esses dois grupos, no caso dos</p><p>emergentes, a dívida externa mediana passou de um montante equivalente a</p><p>100% das exportações em 2008 para 160%.</p><p>Os autores do relatório foram contidos na citação de países, limitando-</p><p>se, na maior parte do texto, a mencionar as economias mais avançadas e</p><p>aquelas com vulnerabilidades financeiras evidentes, como a China. Se estivesse</p><p>no foco, o Brasil poderia aparecer em melhor condição do que no passado</p><p>recente. Sua dívida externa é pouco importante e grandes empresas muito</p><p>endividadas há alguns anos estão em condições bem mais confortáveis, depois</p><p>de reduzir o endividamento. Em alguns casos, houve também renegociações</p><p>bem-sucedidas com os credores.</p><p>FINANÇAS PÚBLICAS</p><p>Nenhum país estará livre de impactos, se o quadro global se agravar</p><p>seriamente. Ao apresentar o Monitor Fiscal, outro importante relatório</p><p>semestral do FMI, o chefe do Departamento de Assuntos Fiscais, Vítor Gaspar,</p><p>recomendou usar as finanças públicas para reanimar as economias e evitar</p><p>uma freada mais forte. Políticas de juros baixos, crédito fácil e ampla expansão</p><p>monetária, lembrou, chegaram ao limite. É hora de recorrer a estímulos fiscais.</p><p>Essa bandeira já havia sido agitada pelo presidente do Banco Central</p><p>Europeu (BCE), Mario Draghi, e vem sendo agora sustentada pelas figuras</p><p>principais do FMI, Mas a recomendação vale para os governos com alguma</p><p>folga fiscal. Não é o caso, obviamente, do governo brasileiro. A reforma da</p><p>Previdência ajudará a conter a expansão do gasto público nos próximos anos,</p><p>mas a dívida bruta do governo geral só passará a diminuir como porcentagem</p><p>do PIB em 2023, segundo projeção incluída</p><p>no Monitor. Aperto fiscal menos</p><p>severo, mas ainda longe de qualquer conforto, só será desfrutado no próximo</p><p>período presidencial, se as estimativas estiverem corretas.</p><p>TÓPICO 1 | OS DESAFIOS E A VULNERABILIDADE INTERNACIONAL</p><p>171</p><p>Além disso, qualquer efeito mais grave da desaceleração global poderá</p><p>dificultar as exportações, prejudicando o nível interno de atividade e, na pior</p><p>hipótese, reduzindo a segurança externa da economia brasileira.</p><p>O FMI acaba de reduzir de 3,2% para 3% sua estimativa de crescimento</p><p>global neste ano. Não há espaço para erro, quando se cresce tão pouco, disse</p><p>há dois dias a economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath.</p><p>FONTE: https://www.infomoney.com.br/economia/fmi-alerta-para-o-risco-de-uma-</p><p>crise-financeira/. Acesso em: 18 out. 2019</p><p>https://www.infomoney.com.br/economia/fmi-alerta-para-o-risco-de-uma-crise-financeira/</p><p>https://www.infomoney.com.br/economia/fmi-alerta-para-o-risco-de-uma-crise-financeira/</p><p>172</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• No contexto comercial e produtivo na economia internacional apresenta-se uma</p><p>interação constante entre países na cadeia de produção, gerando valor à medida</p><p>que vai se realizando a comercialização de mercadorias e serviços entre países.</p><p>• No mundo inter-relacionado apresenta-se uma série de desafios conforme a</p><p>interação econômica entre os países vai se aprofundando, entre os desafios</p><p>mais importantes têm-se: os ganhos do comércio entre países, tendências</p><p>de protecionismo, pressão para manter o balanço de pagamentos estável,</p><p>oscilações na taxa de câmbio, necessidade de coordenar políticas internacionais</p><p>e estabelecer normas aos mercados de capitais entre países.</p><p>• A economia internacional está ligada aos avanços tecnológicos e inovações que</p><p>vão aprimorando e gerando novas vantagens competitivas entre os países.</p><p>• No contexto das vulnerabilidades, quanto maior a influência de um país em</p><p>uma determinada região, ou inclusive a nível mundial, maior será a chance</p><p>de uma volatidade financeira regional ou mundial com repercussões na</p><p>capacidade de produzir e consumir, isto é, a economia real.</p><p>• Perante possíveis crises, os títulos de dívida pública americana (Treasury Bonds)</p><p>são considerados de menor risco sistêmico. Inclusive se uma crise estourar nos</p><p>Estados Unidos, como aconteceu na época da grande recessão de 2008.</p><p>173</p><p>1 As empresas precisam de recursos produtivos para ofertarem seus bens e</p><p>serviços aos consumidores, para isso elas dependem da disponibilidade de</p><p>recursos e acesso aos mercados tanto nacionais como internacionais. Nesse</p><p>sentido, essa atividade econômica de hoje é isolada ou inter-relacionada</p><p>entre os países?</p><p>2 Hoje a economia dos países apresenta desafios tanto nacionais como</p><p>internacionais, a seguir, defina quais são os grandes desafios da economia</p><p>internacional.</p><p>3 Na capacidade de ofertar bens de consumo e bens intermediários, levando em</p><p>consideração a dinâmica do comércio mundial, qual a relação entre a limitada</p><p>disponibilidade de recursos, o horizonte produtivo e tecnológico dos países?</p><p>4 No contexto histórico, será que hoje em dia os países possuem ferramentas</p><p>efetivas para minimizar os impactos de uma possível crise?</p><p>5 Existem vários motivos para explicar a grande força do Dólar norte-</p><p>americano no mercado de câmbio como moeda de referência para as</p><p>transações comerciais internacionais. Explique qual a relação do US$ e as</p><p>reservas internacionais dos países.</p><p>6 Existem vários fatores para que um país possa definir o nível ideal de</p><p>suar reservas internacionais, países mais estáveis e com maior nível de</p><p>desenvolvimento precisam de menores reservas internacionais em função do</p><p>PIB. No contexto referencial na média, quais os parâmetros ideais de reservas?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>174</p><p>175</p><p>TÓPICO 2</p><p>DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Na Unidade 1 foi estudado sobre as vantagens comparativas entre as</p><p>nações. Aqui, vamos estudar sobre como isso pode trazer desenvolvimento</p><p>econômico aos países. Se uma nação se abrir à economia internacional, esse</p><p>país poderá se focar em produzir os bens/serviços que possua maior vantagem</p><p>comparativa e reduzir a produção dos bens/serviços que tenha menor vantagem</p><p>comparativa, desse modo, o país em questão poderá aproveitar as economias</p><p>de escala no que ele é realmente produtivo, isso quer dizer que “economias</p><p>de escala (ou aumento de retorno) fazem com que seja vantajoso para cada</p><p>país especializar-se na produção de uma variedade limitada de mercadorias e</p><p>serviços” (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 113).</p><p>Então, as economias de escala entre países ampliam a capacidade</p><p>produtiva destes além de suas fronteiras, pois, além do mercado nacional,</p><p>essas nações terão a oportunidade de vender, a nível internacional, o que eles</p><p>realmente são competitivos, e importar tecnologia, bens e serviços o que eles</p><p>têm pouca competividade e/ou falta de conhecimento. Isso gera uma capacidade</p><p>de diversificação produtiva inter-relacionada e matricial entre países muito</p><p>complexa, que faz as nações se converterem dependentes entre elas, ou seja,</p><p>converte o mundo bem mais próximo e dependente.</p><p>Você consegue enxergar exemplos de países que conseguiram se desenvolver</p><p>de maneira isolada? Até agora, a história mostra o contrário, desde países isolados,</p><p>em um projeto socialista, até países fascistas, aqui alguns exemplos:</p><p>• Alemanha Oriental: antes da unificação da Alemanha, em 1991, existiam</p><p>dois países, a Alemanha Ocidental, aberta ao comércio internacional; e</p><p>a Alemanha Oriental, fechada ao comércio internacional. Por questões</p><p>históricas, culturais, socioeconômicas e geopolíticas, os dois países germânicos</p><p>chegaram a se reunificar. Porém, antes de 1991, qual das duas tinha maior</p><p>nível de desenvolvimento? A Alemanha Ocidental, que aliás, teve que assumir</p><p>a liderança da unificação e nivelar a Alemanha Oriental à capacidade de</p><p>competitiva da Alemanha de hoje.</p><p>176</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>• Países Europeus Orientais: incluindo a Alemanha Oriental, faziam parte</p><p>da integração econômica e social liderada pelo projeto socialista da União</p><p>Soviética, todos esses países, incluindo a União Soviética, vinham se isolado</p><p>do resto do mundo, eles faziam comércio internacional sim, mas em nível</p><p>estritamente necessário. Na queda do muro de Berlim (novembro de 1991) —</p><p>data histórica que simboliza a queda do projeto socialista da União Soviética</p><p>—, esses países tinham um nível de desenvolvimento econômico bem menor</p><p>em termos relativos aos países da Europa Ocidental.</p><p>• Espanha Fascista: dos três países que se iniciaram em um projeto fascista</p><p>(Alemanha, Itália e Espanha), o único que conseguiu sobreviver à Segunda</p><p>Guerra Mundial foi a Espanha. Isso porque a Espanha foi considerado um</p><p>país neutro durante a Segunda Guerra Mundial, e porque logo depois de ter</p><p>finalizado o maior conflito bélico da história, o ditador Franco conseguiu se</p><p>posicionar ao lado dos Estados Unidos como aliado firme contra o projeto</p><p>socialista da União Soviética, em contrapartida, o ditador se manteve</p><p>governando a Espanha até 1975 (36 anos depois de ter finalizado a Segunda</p><p>Guerra Mundial). Uns dos resultados dessa ditadura, Franco fez com que a</p><p>Espanha se isolasse bastante do resto do Mundo, tanto em termos econômicos</p><p>como culturais. Resultado? Dos grandes países da Europa Ocidental, a Espanha</p><p>era a menos desenvolvida, contudo, logo após a morte de Franco, em 1975, esse</p><p>país começou a se desenvolver de maneira muito acelerada, conseguindo, hoje,</p><p>ficar bem próximo ao nível de desenvolvimento do resto da Europa Ocidental.</p><p>Poderíamos ficar citando exemplos tanto de países com projetos socialistas</p><p>como de ditaduras de extrema direita. O ponto é que esses projetos de governo</p><p>tendem em desenvolver economias relativamente fechadas, que, em longo prazo,</p><p>atingem níveis de desenvolvimento menores ao se comparar com economias</p><p>relativamente abertas.</p><p>Na contramão desta tendência podermos</p><p>citar a China, país que começou</p><p>com um projeto socialista ainda bem mais fechado que da União Soviética, mas, a</p><p>partir da década de 1970, iniciou seu projeto de abertura econômica, passando de</p><p>uma economia comunista, extremamente fechada, para uma socialista planejada,</p><p>mas se abrindo à dinâmica do mercado, tanto a nível nacional como internacional,</p><p>resultado? A China passou de uma economia com um nível de desenvolvimento</p><p>bem menor do que a do Brasil, com uma renda per capita de menos de US$ 500,00</p><p>por anos para mais de US$ 20.000,00 (em ppp) em menos de 40 anos. Conforme</p><p>podermos observar no seguinte gráfico comparativo. Isso se reflete que, hoje, a</p><p>China é a segunda potência econômica mundial, algo inimaginável há 20 anos.</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>177</p><p>GRÁFICO 5 – RENDA PER CAPITA DO BRASIL E CHINA, DESDE 1980 ATÉ 2020 EM PPP</p><p>FONTE: <https://www.ecodebate.com.br/wp-content/uploads/2017/02/20170222-170222a.</p><p>png>. Acesso em: 14 out. 2019.</p><p>Observe que, ainda hoje, há uma série de questionamentos à economia</p><p>da China, apesar de sua grande abertura existem dados econômicos que não são</p><p>muito transparentes. Nesse sentido, é difícil de quantificar o nível real do risco</p><p>econômico nesse país, ainda mais se considerar que hoje é a segunda economia do</p><p>mundo, ou seja, as repercussões de uma crise lá terá impacto global e com maior</p><p>força nos países exportadores de commodities, tais como o Brasil e os demais</p><p>países que fazem parte da América Latina. Veja a seguir algumas reportagens que</p><p>falam sobre o forte risco das condições econômicas da China.</p><p>Será que o crescimento da China é sustentável? E quais os riscos do alto nível</p><p>de endividamento da dívida pública e privada da China? Leia mais sobre o assunto nos links</p><p>a seguir:</p><p>• Por que a China vai implodir: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1868.</p><p>• Desaceleração do setor imobiliário aumenta os temores da China: https://www.ft.com/</p><p>content/4f74c94a-da77-11e3-8273-00144feabdc0.</p><p>• Os preços dos bens imó veis na China apresentam redução de preços e de lucros:</p><p>https://www.reuters.com/article/us-china-economy-houseprices/china-september-</p><p>home-price-growth-flatlines-fewer-cities-see-price-gains-idUSKBN1X007A.</p><p>• A China pode voltar aos seus velhos hábitos à medida que o crescimento diminui.</p><p>Isso poderia elevar os níveis de dívida novamente: https://www.cnbc.com/2019/07/17/</p><p>china-slowdown-could-prompt-measures-leading-to-high-debt-analysts-say.html.</p><p>DICAS</p><p>https://www.ecodebate.com.br/wp-content/uploads/2017/02/20170222-170222a.png</p><p>https://www.ecodebate.com.br/wp-content/uploads/2017/02/20170222-170222a.png</p><p>https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1868</p><p>https://www.ft.com/content/4f74c94a-da77-11e3-8273-00144feabdc0</p><p>https://www.ft.com/content/4f74c94a-da77-11e3-8273-00144feabdc0</p><p>https://www.reuters.com/article/us-china-economy-houseprices/china-september-home-price-growth-flatlines-fewer-cities-see-price-gains-idUSKBN1X007A</p><p>https://www.reuters.com/article/us-china-economy-houseprices/china-september-home-price-growth-flatlines-fewer-cities-see-price-gains-idUSKBN1X007A</p><p>https://www.cnbc.com/2019/07/17/china-slowdown-could-prompt-measures-leading-to-high-debt-analysts-say.html</p><p>https://www.cnbc.com/2019/07/17/china-slowdown-could-prompt-measures-leading-to-high-debt-analysts-say.html</p><p>178</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>Porém, como exemplo histórico de abertura comercial e econômica serve</p><p>muito bem, pois seu nível de desenvolvimento é simplesmente impressionante,</p><p>embora os riscos econômicos sejam muito fortes. Será que a simples abertura e se</p><p>focar nas vantagens competitivas são receitas para o sucesso do desenvolvimento</p><p>econômico? Seria bem legal se fosse assim, mas existem uma série de fatores</p><p>correlacionados à situação socioeconômica dos países e correlacionados à</p><p>geopolítica da dinâmica internacional que deixa a análise bem mais complexa.</p><p>2 POTENCIAL DE CRESCIMENTO ECONÔMICO DOS PAÍSES</p><p>EM DESENVOLVIMENTO</p><p>Embora haja casos de pobreza isolada até nos países mais ricos do mundo,</p><p>ela fica bem mais evidente à medida que um país é menos desenvolvido. Quanto</p><p>menor for o nível de desenvolvimento maior o desafio político e econômico:</p><p>[...] a maioria dos países em desenvolvimento é pobre nos fatores</p><p>de produção essenciais para a indústria moderna: capital e mão de</p><p>obra especializada. A escassez relativa desses fatores contribui para</p><p>os níveis baixos de renda per capita e frequentemente impede os</p><p>países em desenvolvimento de alcançar as economias de escala a</p><p>partir das quais muitas nações mais ricas se beneficiam (KRUGMAN;</p><p>OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 523).</p><p>Sob esta ótica, qual seria a solução para que um país consiga ter crescimento</p><p>firme? A receita é fácil de dizer, mas difícil de se aplicar. A receita seria, fazer</p><p>investimento em educação, importar tecnologia, investir em infraestrutura, abrir o</p><p>país ao investimento internacional, focar nas vantagens competitivas, permitindo</p><p>melhorar as condições de liberdade econômica para que novos empreendimentos</p><p>e empresas possam se desenvolver, entre outros. O contexto político, econômico,</p><p>cultural e social de cada país é único, assim, a análise é uma complexa observação</p><p>de cada um desses elementos e suas correlações. Nesse sentido, só depois de uma</p><p>análise das particularidades socioeconômicas de um país é que se torna mais</p><p>viável aplicar políticas economias que estejam de acordo com a realidade de um</p><p>país, objetivando o desenvolvimento econômico. Agora, no contexto comparativo,</p><p>qual o nível de desenvolvimento das nações? Conseguindo se observar desde a</p><p>perspectiva do nível de renda dos países, conforme descrito a seguir:</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>179</p><p>QUADRO 3 – DIVISÃO ECONÔMICA DE ACORDO COM OS NÍVEIS DE RENDA PER CAPITA ANUAL</p><p>NÍVEL DE RENDA PAÍSES</p><p>Economias de renda</p><p>baixa</p><p>• Afeganistão, Bangladesh, Nepal, Camboja e Haiti, junto com partes da</p><p>África subsaariana.</p><p>Economias de renda</p><p>média inferior</p><p>• China, Índia, Paquistão, Filipinas, Indonésia, diversos países do Oriente</p><p>Médio, muitos da América Latina e do Caribe.</p><p>• Muitos países ex-soviéticos e a maior parte dos demais países da África.</p><p>Países de renda média</p><p>superior</p><p>• Países remanescentes da América Latina, um punhado de países da África,</p><p>diversos do Caribe, Turquia, Malásia, Polônia, Letônia, Lituânia e Rússia.</p><p>Economias de alta</p><p>renda</p><p>• Economias de mercado industrial rico.</p><p>• Os demais países do Caribe.</p><p>• Um punhado de ex-países em desenvolvimento excepcionalmente</p><p>afortunados, como Israel, Coreia e Singapura.</p><p>• Os países ricos em petróleo, como Kuwait e Arábia Saudita.</p><p>• Alguns países do Leste Europeu bem-sucedidos na transição, como as</p><p>Repúblicas Tcheca e Eslovaca, Hungria e Estônia.</p><p>FONTE: Adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 524)</p><p>Do quadro, observa-se que a China é considerada um país de renda média,</p><p>mas, pelo vasto tamanho de sua população, ela é a segunda potência econômica</p><p>do mundo. E o Brasil também é considerado país de renda média, mas, também,</p><p>pelo tamanho de sua população o país fica posicionado entre as 10 maiores</p><p>economias do mundo. A seguir, observe a classificação destas quatro categorias</p><p>de nível de desenvolvimento segundo o Banco Mundial:</p><p>QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO EM FUNÇÃO DO NÍVEL DE RENDA</p><p>Nível de renda PIB per capita (US$ 2018) Expectativa de vida média</p><p>Baixa Renda Até US$ 1.025 57</p><p>Renda média inferior Até US$ 3.995 66</p><p>Renda média superior Até US$ 12,375 72</p><p>Alta Renda Acima de US$ 12.376 80</p><p>FONTE: Adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 524)</p><p>Segundo a classificação de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), a China</p><p>está em um nível de desenvolvimento de “Renda Média Inferior”, e o Brasil</p><p>está classificado dentro dos países da América Latina entre uma “Renda Média</p><p>Inferior” e “Superior”. Esses dados são de 2011, qual será a classificação destes</p><p>dois países no 2019? Segundo o Banco Mundial, tanto o Brasil como a China estão</p><p>classificados como países de “Renda Média Superior”, conforme consegue-se</p><p>observar no seguinte gráfico:</p><p>180</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>GRÁFICO 6 – CLASSIFICAÇÃO DO BRASIL E DA CHINA CONFORME AO NÍVEL DE</p><p>RENDA PER CAPITA</p><p>FONTE: Prydz e Wadhwa (2019, s.p.)</p><p>Ambas economias, tanto a China como o Brasil (classificado como país</p><p>da América Latina), são, em 2019, economias de renda média superior. O mais</p><p>interessante é a tendência de ambos países, em especial da China. Esse país, na</p><p>década de 1990, estava entre os países de “Renda Baixa” (menos de US$ 500,00)</p><p>e em 2019 ficou no mesmo patamar do Brasil, mas com tendência de ultrapassar</p><p>esse nível em poucos anos.</p><p>Isso vem acontecendo graças ao crescimento exponencial do PIB real da China,</p><p>acima de dois dígitos nas últimas duas décadas. Há vários argumentos econômicos</p><p>para explicar esse crescimento impressionante da China, mas um deles é importante</p><p>para qualquer economia que deseja crescer, isto é: altos índices de investimento em</p><p>educação, infraestrutura, tecnologia, bens de capital e mais outros. Precisamente</p><p>elementos que estão em falta aqui no Brasil e demais países da América Latina, eis</p><p>um dos motivos que vêm apresentando baixos níveis de crescimento.</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>181</p><p>Sabe qual é a emigração do campo para as áreas urbanas na China?</p><p>• Migração campo - cidade desde 1980 até 2013: mais de 700 milhões de pessoas</p><p>(COSTA, 2013).</p><p>• Migração campo - cidade desde 2008 até 2018: mais de 200 milhões de pessoas</p><p>(GLOBAL 3000, 2019).</p><p>Ou seja, é a maior migração da história humana, daí um dos porquês o custo de</p><p>mão obra ainda é barata nesse país, uma das vantagens comparativas que a China vem</p><p>aproveitando para seu crescimento econômico.</p><p>ATENCAO</p><p>Outro argumento é a abertura econômica. Países que se abrem ao mundo,</p><p>até podem ter certas dificuldades no momento de adequar suas indústrias, mas no</p><p>longo prazo a própria força das vantagens comparativas, bem planejadas, começam</p><p>a mostrar seus benefícios, especialmente no nível de renda média da população:</p><p>Se o comércio é livre, se o capital pode se movimentar para países</p><p>que oferecem os retornos mais elevados, e se o próprio conhecimento</p><p>atravessa as fronteiras políticas, e, portanto, esses países sempre têm</p><p>acesso às tecnologias de produção de ponta, então não existe motivo</p><p>para as diferenças de renda internacional persistirem para sempre</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 525).</p><p>Isso vai além das ideologias, o exemplo disso é a China, país socialista,</p><p>inclusive seu Governo é liderado pelo Partido Comunista da China (PCC),</p><p>mas esse mesmo Governo, de ideologia comunista, programou a economia</p><p>chinesa para se abrir à dinâmica do mercado tanto no âmbito nacional como no</p><p>internacional. Então há vários argumentos que podem ser explicados conforme</p><p>às teorias econômicas. Para alguns pesquisadores e especialistas, a China, embora</p><p>seja um país socialista, possui excesso de políticas neomercantilistas e de subsídios</p><p>governamentais que cedo ou tarde têm a grande chance de implodir e gerar</p><p>grande impacto na economia global. Mas, além disso, quais são as características</p><p>estruturais dos países em desenvolvimento que conseguem crescer?</p><p>Principalmente investimento em educação, novas tecnologias e</p><p>infraestrutura, entre outros, mais adiante iremos estudar sobre isso. Porém,</p><p>antes disso, vamos abordar duas questões importantes sobre armadilhas ao</p><p>desenvolvimento econômico: a proteção à indústria nacional, e o risco de</p><p>depender das commodities. Elas podem ser consideradas armadilhas, porque,</p><p>bem programadas e executadas, servem como estratégias para iniciar uma base</p><p>ao desenvolvimento, mas se essas mesmas estratégias ficarem além do necessário,</p><p>além de uma década, convertem-se em riscos à própria capacidade de crescer e</p><p>inovar de maneira firme no tempo.</p><p>182</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>2.1 BENEFÍCIOS E CUSTOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>Ao longo desta unidade, vem-se estudando alguns dos benefícios do</p><p>comércio internacional para as economias dos países que fazem parte da dinâmica</p><p>do comércio internacional. Nas Unidades 1 e 2, foram estudados os fundamentos</p><p>teóricos dos benefícios do comércio exterior. Será que esses benefícios são</p><p>positivos para todos os setores de uma economia, ou eles vêm acompanhados de</p><p>alguns custos sociais? Pode acontecer que a abertura comercial de um país traga</p><p>consigo ameaças à indústria nacional, especialmente na presença de um mercado</p><p>nacional relativamente fechado. Os países, ao abrirem suas economias, podem</p><p>se deparar com mercadorias importadas com menor preço – e até mesmo com</p><p>melhor qualidade e diferenciação.</p><p>O resultado? Muitas empresas nacionais reduzem suas vendas, havendo</p><p>a possibilidade até de algumas delas fecharem. Isso gera diversos impactos</p><p>socioeconômicos, como aumento do desemprego, por exemplo. Assim, em</p><p>diversas situações (seja porque um país possui uma economia relativamente</p><p>fechada, ou porque simplesmente os parceiros comerciais internacionais</p><p>apresentam ameaças), eles usam práticas comerciais desleais. Então, seja pelas</p><p>próprias condições do país, ou pelas práticas desleais ao comércio, muitas vezes</p><p>os países percebem ameaças internacionais.</p><p>Neste contexto, as indústrias nacionais procuram se proteger -</p><p>principalmente por meio de barreiras comerciais tarifárias ou não tarifárias,</p><p>conforme foi estudado na Unidade 2. Uma destas barreiras é particularmente</p><p>interessante de estudar um pouco mais a fundo: o antidumping, muito utilizado</p><p>atualmente pelas nações. O que significa antidumping? Basicamente, é uma</p><p>medida que os países aplicam quando observam que exportador, no país de</p><p>origem da mercadoria, vem praticando dumping - ou seja, vem aplicando</p><p>estratégias de comercialização que descriminam os preços a nível internacional,</p><p>segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC):</p><p>O dumping é, em geral, uma situação de discriminação internacional de</p><p>preços: o preço de um produto, quando vendido no país importador, é</p><p>inferior ao preço pelo qual esse produto é vendido no mercado do país</p><p>exportador. Assim, nos casos mais simples, o dumping é determinado</p><p>simplesmente comparando preços em dois mercados. Contudo, a</p><p>situação raramente é tão simples assim, se é que existe, e na maioria</p><p>dos casos é necessário realizar uma série de análises complexas para</p><p>determinar o preço de mercado apropriado do país exportador (no</p><p>qual denominado "valor normal") e o preço de mercado apropriado do</p><p>país importador (denominado "preço de exportação") para fazer uma</p><p>comparação adequada (WITS, 2019, s.p.).</p><p>Então, segundo o significado da OMC, em termos simples, se um</p><p>exportador vender ao exterior uma mercadoria com preço menor que essa mesma</p><p>mercadoria é vendida no mercado nacional, isso é considerado dumping. Também</p><p>o dumping pode ser conceitualizado como a venda ao exterior com preços abaixo</p><p>do custo de produção. Exemplificando, suponha que uma empresa chinesa</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>183</p><p>exporta smartphones a um preço de US$ 100,00 FOB, e essa mesma mercadoria é</p><p>vendida no mercado da China em US$ 115,00, logo, existe a possibilidade que os</p><p>países que importam esse aparelho possam aplicar medidas antidumping.</p><p>Vejamos um caso histórico de antidumping, nos primeiros anos deste</p><p>século, o Departamento de Comércio dos EUA estabeleceu que o camarão</p><p>importado dos principais países exportadores deste alimento — Brasil, China,</p><p>Índia, Tailândia, Vietnã e Equador — estavam precificando o camarão com preços</p><p>abaixo do custo de produção. A medida antidumping imposta pelos EUA foi uma</p><p>sobretaxa de 10,4% sobre a tarifa normal.</p><p>As exportações de camarão do Brasil para os Estados Unidos serão</p><p>sobretaxadas em média em 10,40% a partir de quinta-feira da próxima</p><p>semana. A decisão foi tomada pelo Departamento de Comércio dos</p><p>Estados Unidos, segundo informou o presidente da Associação Brasileira</p><p>de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. A taxa adicional será</p><p>cobrada para compensar o que as autoridades americanas consideram</p><p>dumping (venda por preços abaixo do custo, com prejuízo à produção</p><p>local). A sobretaxa é resultado de ação antidumping iniciada em 31 de</p><p>dezembro de 2003 pelos pescadores de Aliança de Camarões do Sul dos</p><p>Estados Unidos contra os seis maiores fornecedores do crustáceo para o</p><p>mercado americano (CAMARÃO, 2004, s.p.).</p><p>Segundo os EUA, esses países estavam realizando práticas comerciais</p><p>prejudiciais para os produtores de camarão. Até que ponto isso é certo, está</p><p>fora de nossa análise, mas fica duvidoso que todos os maiores fornecedores de</p><p>camarão, países tanto da Ásia como da América Latina, estejam todos praticando</p><p>dumping. A explicação dessa atitude dos Estados Unidos é, basicamente, ameaça</p><p>à indústria nacional de camarão.</p><p>O que acontece lá nos EUA e em muitos outros países — e aqui no Brasil</p><p>também — é que quando um setor produtivo nacional sente-se ameaçado pelos</p><p>preços mais baixos (e até de melhor qualidade) do semelhante importado, logo,</p><p>os lobbies de um país (que representam os interesses de um determinado setor</p><p>econômico) começam justificar perante suas autoridades diversos argumentos</p><p>perante os órgãos responsáveis pelo comércio exterior para justificar formalmente</p><p>algum tipo de barreira comercial, nesse caso, o antidumping de camarão nos EUA.</p><p>E qual o maior argumento disso perante os órgãos responsáveis do comércio</p><p>exterior? Os impactos socioeconômicos recorrentes da perda de emprego e</p><p>empresas fechando, nesse caso, os produtores de camarão do sul dos EUA.</p><p>Então, com a medida antidumping do camarão do Estados Unidos, quem</p><p>sai ganhando e quem sai perdendo? Quem sai ganhando são os pescadores de</p><p>camarão do sul dos EUA, os quais conseguem manter seus negócios e os empregos</p><p>recorrentes destes. Quem sai perdendo?</p><p>184</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>• Os consumidores dos EUA, o preço do camarão ficará mais caro, o importado</p><p>tem 10,4% de aumento de custo. Provavelmente apresenta-se também menor</p><p>qualidade relativa.</p><p>• Os exportadores desses sete países, entre eles o Brasil, pois suas vendas e/ou</p><p>margens operativas são reduzidas, podendo acontecer perda de geração de</p><p>emprego nestes países.</p><p>• A longo prazo, o próprio setor produtivo de camarão do sul dos EUA. Ao</p><p>terem sua concorrência reduzida, esse setor não precisa procurar aprimorar</p><p>seus processos e qualidade de seu produto, mais cedo ou mais tarde eles</p><p>terão que se adequar às vantagens relativas melhores desses outros países.</p><p>Esse foi um exemplo de como os países podem reagir à concorrência</p><p>externa, aqui no Brasil acontece o mesmo, veja, a seguir, algumas das medidas</p><p>antidumping em vigor aqui no Brasil, são quase 100 medidas de antidumping até</p><p>set/2019. Algumas provavelmente a ameaça de dumping seja real, mas quantas</p><p>outras talvez sejam para justificar e proteger setores com menores vantagens</p><p>competitivas da indústria nacional?</p><p>QUADRO 5 – MEDIDAS EM VIGOR DE MEDIDAS ANTIDUMPING NO BRASIL</p><p>PRODUTO MEDIDA PRAZO DE VIGÊNCIA</p><p>Ácido adípico Direito Antidumping Definitivo 01/04/2020</p><p>Ácido cítrico Direito Antidumping Definitivo</p><p>Compromisso de Preço 18/10/2022</p><p>Acrilato de butila (EUA) Direito Antidumping Definitivo 19/12/2019</p><p>Acrilato de butila Direito Antidumping Definitivo 25/09/2020</p><p>FONTE: Adaptado de <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-</p><p>comercial/854-medidas-em-vigor>. Acesso em: 29 set. 2019.</p><p>Essa grande quantidade de medidas antidumping que há no Brasil</p><p>é mais um reflexo da economia relativamente fechada que o país tem, muitas</p><p>dessas medidas até podem ser justificadas, mas será que tantos produtos de</p><p>importação precisam ser sobretaxados? Um dos resultados é que as mercadorias</p><p>consumidas aqui no Brasil são relativamente mais caras que em outros países</p><p>e, às vezes, até com menor qualidade. É só ir para um supermercado de países</p><p>com nível de desenvolvimento e renda per capita semelhantes aos do Brasil,</p><p>por exemplo o Chile, a Colômbia, o Uruguai e o México. Nos supermercados</p><p>desses países provavelmente você irá reparar em produtos com maior qualidade</p><p>e diferenciação, com preços relativamente mais baixos, ao serem, esses mesmos</p><p>produtos, comparados por meio de uma moeda de referência, tal como o US$.</p><p>O problema de muitas ferramentas que os países possuem e visam proteger</p><p>a indústria nacional, tal como o sistema antidumping, é em função da falta de</p><p>competitividade relativa dos países em certos produtos. Veja o exemplo dos EUA,</p><p>a maior potência mundial tentando proteger a sua indústria de camarão local,</p><p>http://www.mdic.gov.br/www.mdic.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1068:acido-adipico&catid=147&Itemid=1229</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-comercial/147-defesa-comercial-2/medidas-em-vigor/1088-acido-citrico</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-comercial/147-defesa-comercial-2/medidas-em-vigor/1089-acrilato-de-butila-eua</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-comercial/147-defesa-comercial-2/medidas-em-vigor/1090-acrilato-de-butila</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-comercial/854-medidas-em-vigor</p><p>http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/defesa-comercial/854-medidas-em-vigor</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>185</p><p>quando há outros países que são mais competitivos. Essa briga comercial entre</p><p>países sempre estará presente, o importante é que os países, dentro dessa dinâmica,</p><p>têm que se esforçar para focar nas vantagens comparativas de suas economias.</p><p>2.2 A QUESTÃO DAS COMMODITIES</p><p>Hoje, a economia internacional incorpora milhares de mercadorias ao</p><p>processo de transformação e consumo mundial, sendo comercializadas todos os</p><p>dias, desde produtos básicos (commodities) até os mais elaborados com grande</p><p>valor agregado na sua fabricação. Nessa dinâmica internacional, há países que</p><p>geram grande valor agregado, liderando o desenvolvimento e geração de riqueza</p><p>relativa ao tamanho de suas economias. Países que geram níveis intermediários</p><p>de valor em seus processos; e países que geram pouco valor em seus processos</p><p>de transformação, os menos desenvolvidos e que geram o menor nível de riqueza</p><p>relativa em relação ao tamanho de suas economias.</p><p>Nessa última categoria estão os países que concentram maior parte de sua</p><p>produção na oferta de produtos primários, as conhecidas commodities. Então, um</p><p>dos sintomas de falta de desenvolvimento econômico é quando um país concentra</p><p>a sua maior parte de exportações em commodities. Vamos exemplificar com quatro</p><p>países de tamanho continental: Austrália, Brasil, Canadá e Estados Unidos.</p><p>Esses quatro países lideram nas exportações de commodities, conforme</p><p>o vasto volume de recursos naturais. Mas a grande diferença entre esses quatro</p><p>é o Brasil, enquanto nos outros três (Austrália, Canadá, e Estados Unidos) as</p><p>exportações de commodities têm um peso menor no contexto do quadro total de</p><p>suas exportações respectivas, no Brasil é ao contrário. Ou seja, o maior peso das</p><p>exportações do Brasil são commodities, aliás, segundo levantamento do Banco</p><p>Mundial, 65% das exportações em 2018 (PRYDZ; WADHWA, 2019).</p><p>Além de refletir menor capacidade de diversificar as exportações com</p><p>produtos mais elaborados, esse maior volume de exportações em commodities</p><p>traz uma série de riscos à economia brasileira, especialmente no contexto de</p><p>ficar dependente do preço internacional. Quando o preço está alto, reflexo da</p><p>grande demanda das commodities, o Brasil, e a maior parte das economias</p><p>Latino Americanas, vão indo muito bem, mas quando o preço começa a cair, as</p><p>economias desses países começam a dar sintomas de riscos e crises econômicas.</p><p>Vejamos um pouco disso no contexto histórico, na primeira década deste</p><p>século, a alta demanda pelas commodities começou a crescer, especialmente</p><p>graças ao alto crescimento da China e da Índia, países que vêm demandando</p><p>maiores volumes de uma série de commodities (petróleo, minério de ferro, soja,</p><p>carnes etc.) até os dias de hoje. Porém, a partir de 2011, o mercado desses produtos</p><p>primários começou a desacelerar, logo, os preços começaram a cair, reflexo da</p><p>menor demanda. Talvez seja muita coincidência, mas logo depois de dois anos da</p><p>186</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>queda da demanda, a partir de 2013, começaram a pipocar a maior parte das crises</p><p>econômicas de vários países da América do Sul, a Argentina (grande exportador</p><p>de soja, trigo e carne de gado), a Venezuela (mais de 90% de suas exportações são</p><p>petróleo) e o Brasil que teve uma de suas crises mais severas e que, até o ano 2019,</p><p>não apresenta uma volta firme ao crescimento. Segundo a revista Nexo:</p><p>O governo e parte dos economistas associam com frequência a queda</p><p>no preço das commodities nos últimos anos com a recessão que o</p><p>Brasil atravessa. Nem todo mundo concorda que o cenário externo é</p><p>o principal motivo da crise, mas ninguém nega o impacto da queda</p><p>mundial da demanda por produtos primários na economia brasileira.</p><p>A diminuição nos preços das commodities começou em 2011 e coincide</p><p>com o início da desaceleração da economia chinesa. Como o Brasil</p><p>exporta bem mais do que importa desde tipo de produto, quando</p><p>menor o preço, pior para o país (CASTRO, 2016, s.p.).</p><p>Apresenta-se uma correlação entre as commodities e o desempenho das</p><p>economias dependentes delas, mas qual seria essa correlação? Essa correlação</p><p>mostra desempenho econômico bom, quando os preços das commodities estão</p><p>altos, e sintomas de problemas econômicos, quando os preços desses produtos</p><p>primários apresentam quedas. Sobre isso há uma série de casos de análise que até</p><p>viram exemplos para desenvolver comportamentos econômicos dessa correlação,</p><p>uma delas é a doença Holandesa, conforme iremos estudar mais adiante, mas,</p><p>antes disso, observe o desempenho comparativo do PIB do Brasil e das outras</p><p>nove maiores economias do mundo, antes e depois do ano 2013.</p><p>QUADRO 6 – PIB DAS MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO, DESDE 2012 ATÉ 2018</p><p>2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012</p><p>1 United States 20,494.05 19,485.40 18,707.15 18,219.30 17,521.75 16,784.83 16,197.05</p><p>2 China 13,407.40 12,062.28 11,221.84 11,226.19 10,534.53 9,635.03 8,570.35</p><p>3 Japan 4,971.93 4,859.95 4,926.67 4,389.48 4,850.41 5,155.72 6,203.21</p><p>4 Germany 4,000.39 3,700.61 3,496.61 3,383.09 3,904.92 3,753.69 3,545.95</p><p>5 United Kingdom 2,828.64 2,639.97 2,669.11 2,897.06 3,036.31 2,755.36 2,677.08</p><p>6 France 2,775.25 2,587.68 2,466.15 2,439.44 2,856.70 2,811.96 2,685.31</p><p>7 Indía 2,716.75 2,652.25 2,289.75 2,103.59 2,039.13 1,856.72 1,827.64</p><p>8 Italy 2,072.20 1,946.89 1,869.97 1,833.20 2,155.15 2,131.16 2,073.97</p><p>9 Brazil 1,868.18 2,053.21 1,795.60 1,800.03 2,456.17 2,471.56 2,464.40</p><p>10 Canada 1,711.39 1,650.19 1,530.27 1,556.13 1,803.53 1,847.21 1,828.69</p><p>FONTE: Adaptado de <https://knoema.com/atlas/ranks/GDP>. Acesso em: 6 out. 2019.</p><p>Observe que, em 2012 e 2013, antes de estourar a crise, o Brasil era a sexta</p><p>economia mundial, para logo cair à nona posição. Em termos de impacto, isso</p><p>aconteceu por dois motivos, o PIB real teve crescimento negativo a partir do ano</p><p>2015, e a taxa de câmbio passou de R$ 2,08 por US$ em 2012 para R$ 3,91 por US$</p><p>ao final de 2018.</p><p>https://knoema.com/atlas/ranks/GDP</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>187</p><p>Você pode verificar os valores oficiais do Dólar Comercial desde 1970 até hoje</p><p>no seguinte endereço: http://www.yahii.com.br/dolar.html.</p><p>INTERESSANTE</p><p>A posição de câmbio é importante ao se comparar o PIB de outros países, pelo</p><p>fato que a moeda de comparação é o US$, assim, quando o Real se valorizar o PIB do</p><p>país melhora em termos comparativos com o ranking dos PIB de outros países.</p><p>Entre um dos motivos importantes da queda do PIB do Brasil, pode ser</p><p>interpretado por meio do sintoma da “Doença Holandesa”. Esse sintoma está</p><p>relacionado ao excesso de confiança que os países começam a ter após vários anos</p><p>apresentando preços muito bons na exportação de produtos primários, vejamos</p><p>um pouco sobre isto.</p><p>2.2.1 A doença holandesa</p><p>Países que, por diversos motivos, perdem a capacidade de gerar valor em</p><p>sua produção, aos poucos vão ficando com vantagens competitivas focadas na</p><p>produção de commodities e reduzem a sua capacidade de produzir mercadorias</p><p>mais complexas. O resultado é pouca diversidade e geração valor nas suas</p><p>economias, o que leva a graus altos de dependência na geração de divisas</p><p>vinculadas às commodities.</p><p>Casos de altíssimo grau de dependência (acima de 90%) se apresentam</p><p>na Venezuela, e casos de dependência relativamente alta (acima de 50%, mas</p><p>menor que 70%) se apresentam no Brasil. Essa dependência na geração de divisas</p><p>recorrentes das comodities significa que uma economia fica suscetível às oscilações</p><p>dos preços internacionais dos produtos básicos, ou seja, essas economias perdem</p><p>capacidade de diversificação e poder de negociação na precificação de suas</p><p>mercadorias nos mercados internacionais.</p><p>A análise clássica foi o que aconteceu na Holanda, da década de 1970, daí</p><p>o nome Doença Holandesa. País muito pequeno, 41.528 km, mas considerado</p><p>muito rico, e que possui um dos maiores níveis de desenvolvimento mundial. Em</p><p>1959, grandes reservas de gás tinham sido descobertas, assim, a Holanda começou</p><p>exportar grandes volumes desse produto primário. Em recorrência dos preços altos</p><p>dessa commodity, e dos grandes volumes exportados, o país começou acumular</p><p>fortes volumes de entrada de divisas — moeda estrangeria — logo, sua moeda local</p><p>vinha se fortalecendo. Esse fenômeno se manteve até a década de 1970, momento</p><p>188</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>que uma boa parte dos produtos com alto valor agregado que a Holanda produzia</p><p>(e produz ainda hoje) perderam competitividade no mercado internacional, isso</p><p>deixou o país dependente da geração de divisas vindas da venda de gás.</p><p>Em resumo, enquanto o país ficava dependente das exportações de gás,</p><p>produto primário, as outras indústrias que produziam maior valor agregado e</p><p>diversificação perderam competitividade. Isso aconteceu porque ao entrarem</p><p>grandes volumes de divisas (recorrente da venda de gás), e ao serem convertidas</p><p>em moeda local, ia se apresentando um quadro de posição de sobre valorização</p><p>da moeda local, resultado? Produzir no país ficou muito caro, logo, aos poucos,</p><p>suas indústrias iam fechando e/ou produzindo menores volumes. Alguma</p><p>semelhança com o Brasil antes da crise econômica que estourou em 2014?</p><p>Podemos dizer que há uma forte correlação, embora haja particularidades</p><p>diferentes aqui no Brasil. Com a ressaca na queda dos preços das commodities, o</p><p>Brasil apresentou a perda do ranking de competitividade bem nesse período, em</p><p>2001, o ranking de competitividade do país estava na posição 44 e para finais do</p><p>ano 2017 ele estava na posição 80 (PRYDZ; WADHWA, 2019).</p><p>No caso da Holanda, enquanto se concentrava capital industrial na</p><p>produção de gás, em suas outras indústrias, com maior grau de geração de</p><p>valor, o país ia se desindustrializando. A Holanda se estabilizou, acomodou-</p><p>se nessa situação, pois gerava divisas e crescimento econômico, embora da alta</p><p>dependência da exportação de gás. Isso ficou assim até que os preços dessa</p><p>commodity despencaram. O resultado? As exportações de gás, ao dependerem do</p><p>preço internacional, apresentaram uma grande queda no volume de divisas que</p><p>entravam ao país, e com isso, o país teve uma de suas piores crises econômicas.</p><p>Então, o termo “Doença Holandesa” significa dependência e acomodação</p><p>da exportação de commodities na geração de divisas necessárias para a economia</p><p>de um país. Quando o preço internacional das commodities está alto, os países</p><p>que apresentam este sintoma apresentam crescimento econômico em detrimento</p><p>da competividade dos outros setores industriais que um país possa vir a ter. O</p><p>termo “Doença Holandesa” foi identificado pela revista The Economist</p><p>obra de</p><p>David Ricardo a partir da teoria das vantagens comparativas. A teoria ricardiana</p><p>concentra o cerne da teoria internacional do comércio, sendo estudada por</p><p>diversos/as teóricas/as até a atualidade.</p><p>Estudaremos com mais detalhes a importância do economista David Ricardo</p><p>para a economia internacional, bem como o desenvolvimento de sua Teoria das Vantagens</p><p>Comparativas ao longo do Tópico 2 desta unidade.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Dessa forma, para entendermos o desenvolvimento histórico da teoria</p><p>econômica internacional, é fundamental que voltemos à análise do papel do</p><p>mercantilismo e sua relevância para os argumentos atuais das políticas de</p><p>comércio internacional.</p><p>O mercantilismo não é classificado como uma escola formal do pensamento</p><p>econômico, mas como um conjunto de ideias similares sobre as atividades</p><p>econômicas de um país e a importância do papel do comércio internacional. A</p><p>convergência de estudiosos dedicados a este campo dominou tanto o pensamento</p><p>“científico” quanto a política do período entre 1500 e 1750. Desta forma, o</p><p>pensamento mercantilista sai do campo da teoria a partir do século XVI e entra</p><p>para a História por meio de seu impacto nas políticas dos países (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>É o momento que se atravessa a ruptura da Idade Média em direção à</p><p>Idade Moderna, cujas transformações marcam o desenvolvimento de toda a</p><p>organização em sociedade. Veja um resumo destas mudanças na figura a seguir:</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>9</p><p>FIGURA 3 – TIPOS DE TRANSFORMAÇÕES AMPLAS DA IDADE MODERNA</p><p>Intelectuais: as artes e a literatura refletem de forma</p><p>diferenciadada sobre o mundo, o uso de métodos ligados</p><p>a observação, tais como a experimentação científica, são</p><p>disseminados.</p><p>Religiosas: a igreja passa a condenar a ociosidade,</p><p>defender os empréstimos e a cobrança de juros, os lucros</p><p>e os negócios.</p><p>Economia: há um aumento do fluxo de riquezas, da</p><p>exploração de colônias além-mar, o surgimento de novos</p><p>centros de comércio, as cidades ganham maior relevância,</p><p>as classes economicas tornam-se mais definidas.</p><p>Geografia: a navegação, seu aprimoramento, e todos os</p><p>instrumentos de leitura do mundo permitiram o acesso a</p><p>novos territórios, tais como os dos povos das Américas.</p><p>Padrão de vida: há preocupação com o mundo material,</p><p>pelo desejo de bem-estar, com acesso a melhores formas</p><p>de alimentação, moradia, viagens e troca de experiências.</p><p>Política: surge o Estado moderno, que coordenava os</p><p>recursos materiais e humanos, agrupava as forças da</p><p>nobreza, dos senhores feudais e da burguesia.</p><p>FONTE: O autor</p><p>Há um mundo novo em formação, cujas relações econômicas são</p><p>determinantes para o seu funcionamento. Não é à toa que até o século XVIII</p><p>veríamos a formação de grandes centros de comércio articulados proporcionalmente</p><p>como os de hoje. As explorações econômicas e geográficas proporcionaram novas</p><p>oportunidades de comércio, alargando a dimensão das relações internacionais,</p><p>principalmente a partir da descoberta de metais preciosos antes não utilizados</p><p>para o comércio pelos povos originários. Como já estudamos em outros momentos,</p><p>o acúmulo de ouro e prata era o foco dos Estados que se compunham. Por isso, que</p><p>“o mercantilismo é frequentemente mencionado como a política econômica do</p><p>Estado em construção” (APPLEYARD; FIELD JR.; COBB, 2010, p. 18).</p><p>O sistema econômico mercantilista tinha como base a ideia de que a</p><p>concentração de metais preciosos era fundamental para os países. Além disso,</p><p>havia uma visão estática dos recursos econômicos mundiais, em que os ganhos</p><p>econômicos de um país advinham das perdas econômicas de outro país.</p><p>Assim, para os países emergentes europeus do século XVI, era preciso atuar</p><p>constantemente na aquisição de metais preciosos como forma de aumentar suas</p><p>riquezas e o bem-estar individual.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>10</p><p>Em um mundo rodeado por conflitos, ainda que em menor quantidade</p><p>daqueles da Idade Média, o aperfeiçoamento do poder do Estado foi crucial para</p><p>o processo de crescimento econômico. Esta foi uma outra perspectiva bastante</p><p>importante das políticas mercantilistas. A formação de exércitos cada vez mais</p><p>fortes, com tropas na marinha e de proteção das rotas comerciais, garantiram</p><p>que uma economia produtiva perdurasse e se fortalecesse ao longo do tempo e,</p><p>principalmente, dessem base para a implementação completa dos Estados-nação.</p><p>FIGURA 4 – SAQUE DE ROMA, PINTURA DE JOHANNES LINGELBACH, 1527</p><p>FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1f/Sack_of_Rome_</p><p>of_1527_by_Johannes_Lingelbach_17th_century.jpg/800px-Sack_of_Rome_of_1527_by_</p><p>Johannes_Lingelbach_17th_century.jpg>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>O saque de Roma foi um evento militar na cidade de Roma em 6 de maio de 1527,</p><p>e contou com a participação de mais de 25.000 soldados. No século XVI as cidades e territórios</p><p>ainda se encontravam em formação e demarcação, as quais eram realizadas por meio de</p><p>diversas guerras e conflitos, muitas vezes, finalizados com o saque das cidades derrotadas.</p><p>NOTA</p><p>O entendimento dos mercantilistas sobre o sistema econômico era</p><p>constituído por três componentes: o setor manufatureiro, o setor rural (interior</p><p>do próprio país) e as colônias do exterior (interior dos outros países). Por sua</p><p>vez, a classe mercante era o grupo mais relevante ao funcionamento do sistema</p><p>econômico, mas, o trabalho, o mais relevante entre os fatores de produção.</p><p>Assim, o pensamento mercantilista entendia que a atividade econômica</p><p>deveria ser regulada pelo Estado, e não ser deixada conduzida pelas decisões</p><p>individuais. As tomadas de decisão individuais eram vistas pelo Estado como</p><p>inconsistentes com as metas do próprio Estado, principalmente, no que dizia</p><p>respeito ao acúmulo de metais preciosos. Este aspecto foi um dos mais debatidos</p><p>dentro da teoria econômica clássica, alguns anos depois, por Adam Smith, dando</p><p>origem à ideia do liberalismo econômico.</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>11</p><p>Outra defesa dos mercantilistas era pela manutenção de uma balança</p><p>comercial favorável. Isto é, havia uma pressão por um nível de exportações</p><p>constantemente maior do que aquele importado de produtos, uma vez que era</p><p>interessante para a acumulação de metais preciosos que entravam no país por meio</p><p>dos pagamentos às exportações. Entendia-se que a entrada de moeda permitiria</p><p>um crescimento da produtividade e do emprego no país. Assim, a obtenção de</p><p>uma balança comercial favorável ou positiva seria benéfica para o país.</p><p>Como forma de controlar a saída de metais preciosos e moeda do país, os</p><p>Estados aplicavam duras penas a navios que contrabandeavam moeda, inclusive</p><p>com penas de morte. Uma alternativa era privilegiar algumas companhias, rotas</p><p>comerciais e áreas específicas para o fluxo de troca de moedas entre os países.</p><p>Desta forma, o Estado administrava os próprios monopólios e monopsônios</p><p>de navegação, contribuía direta e indiretamente para uma balança comercial</p><p>favorável e poderia distribuir os lucros entre os soberanos desta atividade. A</p><p>Hudson Bay Company e a Companhia das Índias Orientais Holandesa são exemplos</p><p>destes monopólios comerciais organizados pelo próprio Estado — alguns deles</p><p>se mantiveram até o século XIX (APPLEYARD; FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>FIGURA 5 – PRAÇA DAM AO FINAL DO SÉCULO XVII, PINTURA DE GERRIT A. BERCKHEYDE</p><p>A Companhia das Índias Orientais Holandesa foi uma</p><p>companhia majestática formada por neerlandeses em 1602.</p><p>Neste grupo estavam companhias privadas que possuíam</p><p>cartas de concessão de um governo lhes conferindo o</p><p>direito a privilégios comerciais: o objetivo era excluir os</p><p>competidores europeus de importantes rotas comerciais. A</p><p>sua sede em Amsterdã, capital da Holanda, tornou-se, logo</p><p>em seguida, a sede do Banco de Amsterdã e da Bolsa de</p><p>Valores de Amsterdã.</p><p>FONTE: Adaptado de <https://www.diario-universal.com/arquivo/aconteceu/a-companhia-</p><p>holandesa-das-indias-orientais/>; <https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Amsterdam#/media/</p><p>em 1977,</p><p>vejamos o que a revista diz sobre o assunto.</p><p>Origem da definição “Doença Holandesa”</p><p>The Economist cunhou o termo em 1977 para descrever os problemas</p><p>da economia holandesa. Grandes reservas de gás foram descobertas em 1959.</p><p>As exportações holandesas dispararam. Houve um contraste entre "saúde</p><p>externa e doenças internas". De 1970 a 1977, o desemprego aumentou de 1,1%</p><p>para 5,1%. O investimento corporativo estava caindo. Explicamos o quebra-</p><p>cabeça apontando para o alto valor do florim, a moeda holandesa dessa época.</p><p>As exportações de gás levaram a um afluxo de moeda estrangeira, o que</p><p>aumentou a demanda pelo florim e, portanto, o fortaleceu. Isso tornou outras</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>189</p><p>partes da economia menos competitivas nos mercados internacionais. Esse</p><p>não era o único problema. A extração de gás foi (e é) um negócio relativamente</p><p>intensivo em capital, que gerou poucos empregos. E, na tentativa de impedir</p><p>que o florim se valorizasse muito rápido, os holandeses mantiveram as taxas</p><p>de juros baixas. Isso levou o investimento a sair do país, frisando o potencial</p><p>econômico futuro. Desde esse artigo, economistas propuseram outros efeitos</p><p>da doença holandesa.</p><p>FONTE: <https://www.economist.com/the-economist-explains/2014/11/05/what-</p><p>dutch-disease-is-and-why-its-bad>. Acesso em: 27 nov. 2019.</p><p>Conforme a revista The Economist, a partir de 1977, vem se apresentando</p><p>uma série de outros exemplos, vejamos algum deles. Um dos casos mais extremos</p><p>da Doença Holandesa acontece, atualmente, na Venezuela. Esse país possui as</p><p>maiores reservas de petróleo do mundo, nos anos 70, possuía uma renda per</p><p>capita de quase 80% da equivalente dos Estados Unidos, porém, sua economia</p><p>ficava, e ainda fica, mais concentrada na produção de petróleo. Como resultado,</p><p>além outros problemas econômicos crônicos, hoje, a Venezuela apresenta uma</p><p>catástrofe socioeconômica e humanitária, apresentando um caso de emigração de</p><p>mais de 4 milhões de pessoas, de 2015 até 2019.</p><p>Leia mais sobre a emigração na Venezuela acessando o endereço: https://</p><p>elpais.com/internacional/2019/06/07/actualidad/1559911612_775139.html.</p><p>DICAS</p><p>No caso da Venezuela, poderia se dizer que, ao longo das décadas, a</p><p>“Doença Holandesa” virou um câncer, vejamos um pouco sobre isto. Há vários</p><p>anos, a Venezuela deixou de produzir uma série de produtos industriais e agrícolas,</p><p>dependendo da importação de quase tudo para satisfazer as necessidades de</p><p>consumo nacional. Isso não é um fenômeno novo na Venezuela, mas só foi a partir</p><p>de 2013 — quando começaram os reflexos da queda dos preços das commodities</p><p>nos países de América Latina — que o problema ficou crônico, impactando, em</p><p>termos sociais e econômicos, os países da região, incluindo o Brasil.</p><p>Não é um fenômeno novo e, no entanto, em 2013, dos US $ 143 bilhões</p><p>em exportações da Venezuela, US $ 139 bilhões foram compostos de</p><p>petróleo bruto e refinado (Observatório de Complexidade Econômica,</p><p>2013). O petróleo na Venezuela responde por 96% das receitas de</p><p>exportação, cerca de 40% das receitas do governo e 11% do PIB (CIA</p><p>https://www.economist.com/the-economist-explains/2014/11/05/what-dutch-disease-is-and-why-its-bad</p><p>https://www.economist.com/the-economist-explains/2014/11/05/what-dutch-disease-is-and-why-its-bad</p><p>https://elpais.com/internacional/2019/06/07/actualidad/1559911612_775139.html</p><p>https://elpais.com/internacional/2019/06/07/actualidad/1559911612_775139.html</p><p>190</p><p>UNIDADE 3 | O BRASIL NO CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL</p><p>World Factbook, 2015). Uma dependência tão pesada de um recurso</p><p>natural significa que, quando os preços mundiais do petróleo caem,</p><p>a economia da Venezuela cai. Os economistas sabem que os preços</p><p>das commodities flutuam continuamente e, como tal, as economias</p><p>precisam de indústrias de backup que possam sustentar a economia</p><p>quando os preços dos recursos naturais caírem. Frequentemente, um</p><p>país com alta exportação de commodities naturais é baixo nas taxas de</p><p>crescimento econômico. A Venezuela não é exceção a esse paradigma</p><p>(HEATH, 2016, s.p., tradução nossa).</p><p>A situação da Venezuela é extrema, mas quantos países da América Latina</p><p>tiveram as suas moedas sobrevalorizadas na época do boom das commodities?</p><p>Quase todos, incluindo a moeda do Brasil, um sintoma da “Doença Holandesa”.</p><p>Aliás, aqui foi onde se apresentou uma das maiores valorizações da moeda, época</p><p>de aumento nas commodities bem no início do governo do presidente Lula.</p><p>O Brasil elegeu um presidente populista, Luiz Inácio Lula da Silva,</p><p>em outubro de 2002, mas as políticas de mercado que ele por fim</p><p>(e inesperadamente) adotou preservaram o acesso do país aos</p><p>mercados de crédito internacional. O crescimento econômico tem</p><p>sido saudável e o país tornou-se uma força no mundo emergente.</p><p>Um fator fundamental no sucesso tem sido suas fortes exportações de</p><p>commodities, principalmente para a China (KRUGMAN; OBSTFELD;</p><p>MELITZ, 2015, p. 536).</p><p>Coincidência ou não, a partir do Governo Lula, o Brasil apresentou uma</p><p>época de crescimento econômico e redução da pobreza muito forte, fenômeno</p><p>que também aconteceu no México, no Chile, na Colômbia, entre outros. Assim,</p><p>esse forte crescimento econômico foi em função de vários fatores, mas em todos</p><p>esses países houve uma forte correlação com o crescimento na demanda das</p><p>commodities, aqui no Brasil e demais países da região.</p><p>Assim, perante a estabilidade das economias de América Latina e em</p><p>função das particularidades de cada economia da região, além do fluxo constante</p><p>e firme de divisas recorrentes das comodities, houve um boom em investimentos</p><p>que ajudou muito em melhorar quadros sociais (melhoras na educação, na</p><p>geração de emprego e saúde) e melhoramento na infraestrutura destes países,</p><p>desde o ano 2000 até os primeiros anos da década de 2010.</p><p>Toda essa dinâmica positiva — em alguns países menos, em outros mais</p><p>— acabou a partir do ano 2013, ano que ficou evidente a queda dos mercados</p><p>das comodities, coincidência, ou forte correlação, dependerá de uma análise</p><p>econômica mais profunda e detalhada em cada país.</p><p>Entre 2011 e 2013, por causa da deterioração de indicadores estruturais</p><p>da restrição externa e da interrupção do processo de alta de preços das</p><p>matérias-primas, houve desaceleração da economia sul-americana e</p><p>reversão da tendência de valorização da moeda desses países.</p><p>Os principais indicadores são a reversão da tendência de valorização da</p><p>moeda das principais economias emergentes, a estagnação ou mesmo</p><p>queda do volume de importações e a significativa desaceleração da</p><p>TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>191</p><p>taxa de crescimento econômico da maioria dos países. Há razões</p><p>internas e externas para isso. No primeiro grupo, a combinação de</p><p>aumento significativo do déficit em contracorrente e da estagnação</p><p>da quantidade exportada torna necessária a melhora substancial dos</p><p>termos de troca, a fim de se retomar o crescimento das importações.</p><p>Por outro lado, houve reversão da tendência de alta dos preços das</p><p>commodities (SANTOS, 2015, p. 206).</p><p>Vejamos outras épocas em que houve queda nos preços das commodities</p><p>e crise econômica nos países que concentram sua produção nelas. Lembram o</p><p>Brasil dos anos de 1980? Pois bem, nessa época, os países de América Latina</p><p>tiveram fortes crises econômicas, sendo que as maiores economias da região</p><p>até apresentaram quadros de hiperinflação (Argentina, Brasil, México, e mais</p><p>outros). Se observarem, nessa época, também houve queda geral nos preços das</p><p>commodities, veja a situação dos países da América Latina na década de 1980:</p><p>O problema foi ampliado pela valorização acentuada do dólar no</p><p>mercado cambial, que elevou substancialmente o valor real dos encargos</p><p>da dívida em dólar. Por fim, o preço das commodities entrou em colapso,</p><p>deprimindo os termos de comércio de muitas economias pobres.</p><p>A crise começou em agosto de 1982, quando o México anunciou</p><p>que seu banco central tinha ficado sem reservas externas e que</p><p>File:AmsterdamDamsquar.jpg>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>12</p><p>Nesse contexto, as tarifas de importação eram baixas ou inexistentes</p><p>para algumas matérias-primas que poderiam ser transformadas em produtos</p><p>manufaturados. Essas matérias-primas entravam no país com baixíssima</p><p>restrição, e, por meio do trabalho humano, transformavam-se em produtos com</p><p>maior valor agregado, e então eram exportados com preços mais caros.</p><p>Percebemos que é proporcionalmente uma lógica muito parecida com o</p><p>comércio atual. Se no passado o comércio de peles e roupas era intenso, atualmente,</p><p>o cultivo de grãos e a produção de alimentos processados domina os mercados</p><p>mundiais. As políticas de comércio internacional evoluíram com a dinâmica de</p><p>troca de matérias-primas e produtos de maior valor agregado (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010).</p><p>A seguir, um breve relato que exemplifica a relevância do pensamento</p><p>mercantilista para compreensão de situações sobre economia atual. Não deixe de ler!</p><p>O mercantilismo ainda vive</p><p>Noções mercantilistas concernentes ao comércio ecoaram por meio das</p><p>campanhas presidenciais de Patrick J. Buchanan de 1996 e 2000 [nos Estados</p><p>Unidos]. Por exemplo, durante um discurso em agosto de 1996, referindo-se</p><p>aos déficits comerciais dos Estados Unidos que atribuiu ao Tratado Norte-</p><p>Americano de Livre-comércio de 1993 (NAFTA) e ao pacto mundial de</p><p>liberação do comércio de 1994, assinado pelos membros do Acordo Geral</p><p>de Tarifas e Comércio (GATT), apontou “...que isto significa 4 milhões de</p><p>empregos perdidos para trabalhadores e trabalhadoras da América”.</p><p>O balanço de comércio da doutrina mercantilista foi belamente</p><p>verbalizado pelo chefe local de uma seção da organização United We Stand</p><p>do candidato presidencial Ross Perot em 1993, quando, referindo-se ao déficit</p><p>comercial dos Estados Unidos na época, disse: “Se parássemos de comercializar</p><p>com o resto do mundo, estaríamos $100 bilhões à frente”. The Economist</p><p>resumiu a situação quando afirmou, em 2004, que “o mercantilismo é uma</p><p>teoria econômica defunta há, pelo menos, duzentos anos, mas muitos homens</p><p>práticos com autoridade mantem-se escravos da noção de que as exportações</p><p>devem ser promovidas e as importações desencorajadas”.</p><p>FONTE: APPLEYARD, D. R.; FIELD JR., A. J.; COBB, S. L. Economia internacional. Tradução</p><p>técnica André Fernandes Lima et al. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. p. 21</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>13</p><p>Um dos principais ataques recebidos pelas ideias mercantilistas veio com</p><p>as teorias de Adam Smith. A riqueza de um país não poderia estar na manutenção</p><p>da quantidade de metais preciosos existentes em um país. Desta forma, Smith</p><p>percebeu que a riqueza de uma nação devia a sua capacidade de produção, ou</p><p>seja, estava nas habilidades de produzir bens e serviços. Aliás, esta é base de sua</p><p>teoria, apresentada em A riqueza das nações, uma das principais obras da economia</p><p>clássica, de sua autoria, publicada em 1776.</p><p>4 ADAM SMITH E A TEORIA DA VANTAGEM ABSOLUTA</p><p>A liberdade econômica foi a grande bandeira do pensamento econômico</p><p>do século XVIII. Se o objetivo econômico principal deveria ser o aumento da</p><p>produtividade dos países, um ambiente em que as pessoas fossem “livres” para</p><p>buscarem seus próprios interesses seria mais propício para alcançar esta meta.</p><p>“O interesse próprio levaria os indivíduos a se especializarem em produtos e</p><p>serviços e a trocá-los de acordo com suas habilidades especiais” (APPLEYARD;</p><p>FIELD JR.; COBB, 2010, p. 24). Os ganhos de produtividade viriam de forma</p><p>natural, produzindo aumento da divisão e da especialização do trabalho, uma</p><p>vez que os sistemas de transporte, comércio e de trocas seriam cada vez mais</p><p>fluidos e assimilados.</p><p>FIGURA 6 – TRADUÇÃO BRASILEIRA DA OBRA CLÁSSICA DE ADAM SMITH DE 1776</p><p>FONTE: <https://www.traca.com.br/livro/1093740/economistas-adam-smith-2-volumes/>;</p><p><https://www.todamateria.com.br/adam-smith/>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>Devido a estas e outras análises, Adam Smith não via necessidade do controle</p><p>da economia a partir do Estado. É o momento no qual as ideias do liberalismo</p><p>econômicas e a defesa do laissez-faire proporcionariam um ambiente melhor para o</p><p>aumento da riqueza das nações — a conhecida “mão invisível” do mercado.</p><p>Um ponto importante da crítica de Adam Smith ao mercantilismo, que</p><p>teve impacto na economia internacional, diz respeito à especialização e às trocas</p><p>entre os países. Suas conclusões mostraram que os países deveriam especializar-</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>14</p><p>se na produção e exportação dos produtos que detivessem vantagem absoluta.</p><p>Suas conclusões também mostraram que os países deveriam importar aqueles</p><p>produtos cujo parceiro comercial detivesse vantagem absoluta.</p><p>A teoria das vantagens absolutas defende que quando os países se</p><p>especializam na produção dos produtos que possuem maior eficiência produtiva,</p><p>ou seja, utilizam menos mão de obra para sua produção, o comércio entre estes</p><p>países permitiria um aumento na produção e no consumo, beneficiando ambos</p><p>os países (PASSOS; NOGAMI, 2008). Em outras palavras, quando os países se</p><p>especializam na produção dos produtos que possuem maior eficiência tornam-se</p><p>capazes de produzir mais com um custo menor.</p><p>O quadro a seguir traz um exemplo das vantagens absolutas do Brasil e</p><p>dos Estados Unidos com dados hipotéticos, levando em conta que os países só</p><p>produzam milho e tecido, e que apenas exista um recurso de produção, o trabalho.</p><p>QUADRO 2 – EXEMPLO DAS VANTAGENS ABSOLUTAS</p><p>Países Fator de produção Produtos</p><p>Milho Tecido</p><p>Estados Unidos 1/trabalhador/ano produz 1.200 kg ou 400 m</p><p>Brasil 1/trabalhador/ano produz 600 kg ou 800 m</p><p>FONTE: Passos e Nogami (2008, p. 524)</p><p>Os dados mostram que os Estados Unidos possuem vantagem absoluta na</p><p>produção de milho. Pois, um trabalhador por ano produz 1.200 quilos de milho.</p><p>No Brasil, com o mesmo fator de produção e tempo, são produzidos apenas 600</p><p>quilos de milho. Contudo, a vantagem absoluta da produção de tecido é brasileira,</p><p>pois um trabalhador por ano produz 800 metros, enquanto nos Estados Unidos,</p><p>apenas 400 metros. Portanto, a vantagem absoluta é a vantagem em produzir</p><p>devido à produtividade de cada país e produto.</p><p>A vantagem absoluta é a habilidade em produzir certo produto utilizando</p><p>quantidade menor de insumos ou matérias-primas que outro produtor (MANKIW, 2013).</p><p>NOTA</p><p>TÓPICO 1 | AS TRANSAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS</p><p>15</p><p>A partir destes dados, para simplificar, vamos supor que cada país só</p><p>possua um trabalhador, que não haja comércio entre os dois países, e que cada</p><p>país não especialize da produção, ou seja, os dois países produzem os dois</p><p>produtos: na primeira metade do ano, os dois países apenas produzem milho e</p><p>na outra metade, tecidos. Qual o volume de produção em cada país? Qual seria o</p><p>nível de produção total? Veja no quadro a seguir.</p><p>QUADRO 3 – PRODUÇÃO DOS DOIS PAÍSES SEM ESPECIALIZAÇÃO E SEM COMÉRCIO</p><p>Países</p><p>Produção</p><p>Brasil Estados</p><p>Unidos Produção total</p><p>Produção anual de milho (kg) 300 600 900</p><p>Produção anual de tecido (m) 400 200 600</p><p>FONTE: Passos e Nogami (2008, p. 524)</p><p>Para compararmos a produção total dos países, vamos supor que os países</p><p>realizem comércio entre si, bem como se especializam na produção daquele</p><p>produto que possuem vantagem absoluta na produção. O Brasil irá produzir</p><p>tecidos o ano inteiro, enquanto os Estados Unidos, milho o ano inteiro. Qual será,</p><p>agora, a produção total destes dois produtos? Veja o quadro a seguir:</p><p>QUADRO 4 – COMÉRCIO INTERNACIONAL COM ESPECIALIZAÇÃO NA PRODUÇÃO</p><p>Países</p><p>Produção</p><p>Brasil Estados</p><p>Unidos Produção total Ganho líquido</p><p>Produção anual de milho (kg) 0 1.200 1.200 + 300</p><p>Produção anual de tecido (m) 800 0 800 + 200</p><p>FONTE: Passos e Nogami (2008, p. 525)</p><p>Percebeu as diferenças? Com a especialização da produção, o milho tem</p><p>um aumento em sua produção mundial de 300 quilos, enquanto o tecido tem</p><p>um aumento em sua produção mundial</p><p>de 200 metros! Isso acontece devido</p><p>às vantagens absolutas, aos ganhos de produtividade, que cada país possui na</p><p>produção de cada um dos bens.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>16</p><p>No próximo tópico, a partir da Teoria das Vantagens Comparativas, veremos</p><p>que mesmo sem vantagem absoluta na produção de um produto, um país pode (e deve)</p><p>realizar transações comerciais com outros países.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Desta forma, se os dois países especializassem suas produções, a produção</p><p>conjunta de milho e tecido seria maior e os dois países poderiam partilhar desse</p><p>aumento por meio das trocas.</p><p>Evidentemente, esta é uma análise preliminar das trocas comerciais entre</p><p>os países, mas, ainda assim, a crítica de Adam Smith ao mercantilismo, bem como</p><p>sua defesa do comércio entre os países serviu de base para a teoria do comércio</p><p>internacional como um todo.</p><p>A teoria das vantagens absolutas de Adam Smith é correta, mas explica</p><p>apenas uma parte do comércio internacional. Coube ao economista David</p><p>Ricardo, no início do século XIX, explicar com mais detalhes e dar mais respostas</p><p>à problemática das economias internacionais, com a teoria das vantagens</p><p>comparativas. Fique atento, pois este será um dos temas que estudaremos na</p><p>próxima Unidade deste livro.</p><p>Antes de avançar para o próximo tópico não deixe de conferir os itens de</p><p>revisão e de realizar as autoatividades!</p><p>17</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O comércio internacional é importante, pois dependemos de diversos agentes</p><p>econômicos para a produção de bens e serviços úteis ao nosso dia a dia.</p><p>• A especialização da produção gera um aumento da produtividade com</p><p>formação de excedentes de produção.</p><p>• O contexto do mercantilismo é marcado por mudanças intelectuais, religiosas,</p><p>econômicas, geográficas e de padrão de vida das pessoas.</p><p>• A política mercantilista defendia a manutenção de uma balança comercial</p><p>favorável, com uma pressão para o nível de exportações ser sempre maior do</p><p>que as importações.</p><p>• A liberdade econômica e pessoal, além da busca pelo interesse individual, foi</p><p>defendida por Adam Smith, um importante economista do século XVIII.</p><p>• Adam Smith procurava mostrar que os países deveriam se especializar na</p><p>produção dos bens que detivessem vantagem absoluta.</p><p>• A vantagem absoluta é a vantagem em produzir devido à produtividade de</p><p>cada país e produto.</p><p>• Com a especialização da produção em cada país os ganhos ocorrem ao comércio</p><p>mundial como um todo a partir do aumento da produção total.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>18</p><p>1 Qual a importância do comércio internacional?</p><p>2 Quais as mudanças econômicas e geográficas pelas quais o período</p><p>mercantilista atravessou?</p><p>3 Uma das políticas mercantilistas estava na manutenção de uma balança</p><p>comercial favorável. Como podemos entender este processo?</p><p>4 Qual a contribuição de Adam Smith à economia internacional durante o</p><p>século XVIII?</p><p>5 Como podemos entender o conceito de vantagem absoluta de Adam Smith?</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>19</p><p>TÓPICO 2</p><p>TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO</p><p>INTERNACIONAL</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Olá, caro acadêmico! O tópico que se inicia a partir deste momento</p><p>é fundamental para o estudo da Economia Internacional, pois mostrará os</p><p>fundamentos das teorias clássicas e neoclássicas do comércio internacional.</p><p>Portanto, iniciaremos pela análise no modelo clássico de David Ricardo, o</p><p>qual se orienta pela teoria das vantagens absolutas de Adam Smith — estudada</p><p>no tópico anterior — para entender o funcionamento da economia internacional</p><p>por meio da formação de preços e da especialização da produção entre os países.</p><p>Em um segundo momento, estudaremos com maior detalhe os avanços</p><p>para a economia internacional com a teoria neoclássica. A ênfase aqui será para</p><p>o chamado modelo de Heckscher-Ohlin, cujas análises procuram evidenciar</p><p>a especialização da produção dos países com base na dotação dos fatores de</p><p>produção. Siga atento para mais esta etapa de estudos!</p><p>2 DAVID RICARDO: AS VANTAGENS COMPARATIVAS</p><p>O tradicional 12 de junho é o momento anual da troca de carinhos e,</p><p>principalmente, de presentes para muitos casais brasileiros. É quando o comércio</p><p>ganha um fôlego a mais de compra e venda de produtos. Desde 1948, graças a um</p><p>trabalho publicitário, o Brasil tem nessa data o Dia dos Namorados.</p><p>Contudo, nos Estados Unidos e na Europa, o chamado Dia dos Namorados</p><p>é celebrado em 14 de fevereiro, data conhecida por Valentine’s Day. No caso dos</p><p>países estrangeiros, a data também promove um forte aquecimento da economia:</p><p>expectativa de US$ 20,7 bilhões somente em 2019 (VALENTINE’S DAY, 2019).</p><p>O resgate dessas datas bastante importantes para as economias nacionais diz</p><p>respeito à relevância do comércio internacional para o caso norte-americano. Ora,</p><p>é de se imaginar que a produção de rosas no inverno dos Estados Unidos depende</p><p>muito mais de recursos do que em países com clima tropical neste mesmo período.</p><p>De fato, uma crescente parte do mercado norte-americano por rosas é suprida pela</p><p>importação oriunda da América do Sul durante o inverno do hemisfério norte.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>20</p><p>Desta forma, é possível perceber que o exemplo das rosas possui razões</p><p>excelentes dos benefícios do comércio internacional entre os países. Se as rosas</p><p>fossem produzidas nos Estados Unidos, deveriam crescer em estufas aquecidas,</p><p>com altos custos com energia elétrica, investimento em capital, estrutura física,</p><p>tecnológica, mão de obra especializada, entre outros recursos escassos. A decisão</p><p>em produzir rosas no inverno é conflitiva, pois estes recursos poderiam ser</p><p>utilizados, e melhores empregados, na produção de outros produtos. Quando</p><p>se decide pelas rosas, menos computadores, por exemplo, serão produzidos</p><p>pela economia norte-americana. É o chamado custo de oportunidade: o custo de</p><p>oportunidade das rosas em termos dos computadores é o número de computadores</p><p>que poderiam ser produzidos com os recursos utilizados na produção de um</p><p>determinado número de rosas (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>O Brasil é um dos poucos países do mundo que comemora o Valentine’s Day</p><p>em 12 de junho: é por uma questão econômica! Em 1948 o publicitário João Doria foi</p><p>responsável por criar uma campanha para aumentar as vendas durante o mês de junho,</p><p>período que o comércio registrava certo desaquecimento das vendas. Já a escolha do dia</p><p>12 refere-se à véspera da celebração de Santo Antônio — o famoso santo casamenteiro no</p><p>Brasil. Atualmente, o Dia dos Namorados é a terceira melhor data para o comércio, cujo</p><p>faturamento já chega a R$1,5 bilhão!</p><p>FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-38973884>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>NOTA</p><p>FIGURA 7 – PRODUÇÃO DE ROSAS EM ESTUFA E LINHA DE PRODUÇÃO DE COMPUTADORES</p><p>FONTE: <https://static8.depositphotos.com/1000701/936/i/950/depositphotos_9362570-stock-</p><p>photo-fresh-roses-in-a-greenhouse.jpg>; <https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/</p><p>size_960_16_9_producao-de-computadores4.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>.</p><p>Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>21</p><p>Levando-se em conta que nos Estados Unidos crescem dez milhões de</p><p>rosas para a venda em fevereiro, e que os recursos utilizados na produção destas</p><p>rosas poderiam produzir cem mil computadores, logo, o custo de oportunidade</p><p>das dez milhões de rosas são cem mil computadores. Ou, 10.000.000 rosas = 100.000</p><p>computadores. De forma invertida, se a escolha fosse pelos computadores, aí o</p><p>custo de oportunidade dos cem mil computadores seria de dez milhões de rosas.</p><p>No entanto, essas rosas poderiam ter sido produzidas no Brasil, por</p><p>exemplo, região em que o cultivo das rosas é muito mais fácil e propício. Além</p><p>disto, o custo de oportunidade da produção de rosas em termos de computadores</p><p>é menor no Brasil do que nos Estados Unidos, uma vez que há mais tecnologia</p><p>acumulada neste país do que naquele, ou seja, os trabalhadores brasileiros são</p><p>menos eficientes na produção de computadores do que os norte-americanos,</p><p>rendendo menor produção.</p><p>A relação de conflito entre rosas e computadores que era de dez milhões</p><p>nos Estados Unidos é de apenas 30 mil computadores no Brasil. Assim, o Brasil</p><p>é mais eficiente na produção de rosas, pois o custo de oportunidade é de menos</p><p>computadores do que nos Estados Unidos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).</p><p>Veja os dados da tabela a seguir. Eles demonstram uma situação em</p><p>que os Estados Unidos deixariam de produzir rosas e o Brasil aumentaria sua</p><p>produção de rosas.</p><p>TABELA 1 – MUDANÇAS HIPOTÉTICAS NA PRODUÇÃO</p><p>Rosas (em milhões) Computadores (em mil)</p><p>Estados Unidos -10 +100</p><p>Brasil +10 -30</p><p>Total 0 +70</p><p>FONTE: Adaptado de Krugman e Obstfeld (2001)</p><p>A diferença entre os custos de oportunidade oferece a possibilidade de</p><p>benefícios para ambos os países a partir da reorganização da produção mundial.</p><p>Os Estados Unidos deixariam de produzir rosas no inverno, dedicando seus</p><p>recursos para a produção de computadores. Por isso que -10 milhões, na tabela,</p><p>resulta em +100 mil computadores, no caso dos Estados Unidos. E +10 milhões,</p><p>resulta em -30 mil computadores, que é o caso do Brasil.</p><p>O fato de os Estados Unidos renunciarem à produção de rosas tem um</p><p>impacto melhor em termos numéricos do que o Brasil. Assim, para o comércio</p><p>mundial é importante que o Brasil dedique sua produção às rosas, pois menos</p><p>computadores deixarão de ser produzidos em troca.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>22</p><p>Agora veja a produção total na última linha da tabela: a economia</p><p>mundial continua produzindo rosas como antes, mas agora passará a produzir</p><p>mais computadores (+70). Com este rearranjo da produção, em que a produção</p><p>de computadores concentrar-se-á nos Estados Unidos e a de rosas, no Brasil, a</p><p>economia mundial, como um todo, produzirá maior quantidade de bens. Um dos</p><p>resultados preliminares é que quando a produção é maior, maior também será a</p><p>renda individual das pessoas.</p><p>O comércio internacional provoca esse crescimento na produção</p><p>mundial porque permite a cada país especializar-se da produção</p><p>do bem no qual apresenta vantagens comparativas. Um país tem</p><p>vantagens comparativas na produção de um bem se o custo de</p><p>oportunidade da produção do bem em termos de outros bens é mais</p><p>baixo que em outros países (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 15).</p><p>Desta forma, podemos perceber que no exemplo das rosas e dos</p><p>computadores, Estados Unidos possui vantagem comparativa na produção</p><p>de computadores, enquanto o Brasil, tem vantagem comparativa na produção</p><p>de rosas. Com o funcionamento do comércio internacional, o padrão de vida</p><p>de ambos os países pode ser melhorado, quando os Estados Unidos passam a</p><p>produzir computadores ao mercado brasileiro, e o Brasil, rosas para o mercado</p><p>norte-americano. Este é o entendimento chave das vantagens comparativas no</p><p>comércio internacional: “o comércio entre dois países pode beneficiar ambos os</p><p>países, se cada um produzir os bens nos quais possui vantagens comparativas”</p><p>(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 15).</p><p>Obviamente que os resultados deste modelo teórico se referem às</p><p>possibilidades de produção dos países em questão, e, portanto, não representam</p><p>a economia real dos países neste exato momento. Não há uma autoridade que</p><p>decida qual produto e em qual quantidade deve ser produzido por cada país,</p><p>pois, já vimos que as leis do mercado de oferta e de demanda são as responsáveis</p><p>pelos ajustes de nível de produção, bem como de comércio internacional.</p><p>FIGURA 8 – TRADUÇÃO BRASILEIRA DA OBRA CLÁSSICA DE DAVID RICARDO DE 1817</p><p>FONTE: <https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1183008617-ricardo-principios-de-</p><p>economia-politica-e-tributaco-_JM>. Acesso em: 1° nov. 2019.</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>23</p><p>O modelo clássico de comércio internacional surge exatamente com</p><p>a publicação de 1817 de David Ricardo, “Princípios de economia política e</p><p>tributação”, livro que introduziu o conceito de vantagens comparativas, a chamada</p><p>lei da vantagem comparativa.</p><p>Essa é uma das abordagens mais importantes dentro da Economia, tendo</p><p>seus estudos validados até os dias atuais em inúmeras situações práticas. Ela</p><p>representa o entendimento de que o comércio internacional é estritamente resultado</p><p>das diferenças internacionais na produtividade do trabalho, ficando conhecida por</p><p>modelo ricardiano (KRUGMAN, OBSTFELD, 2001; SALVATORE, 2007).</p><p>Interessou-se pela produção e exportação de flores? Conheça um pouco</p><p>sobre esta atividade econômica por meio do artigo Agricultura – o caminho das flores,</p><p>publicado na Revista do Ipea - Desafios do Desenvolvimento. Disponível em: http://www.</p><p>ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1131:reportagens-</p><p>materias&Itemid=39.</p><p>DICAS</p><p>2.1 ECONOMIA COM APENAS UM FATOR DE PRODUÇÃO</p><p>Para darmos continuidade ao estudo da teoria clássica da economia</p><p>internacional, e entender como a lei das vantagens comparativas de David</p><p>Ricardo determina os padrões de comércio internacional, veremos o caso de um</p><p>país hipotético que possua apenas um fator de produção.</p><p>Este país hipotético, o país “Local”, produz apenas dois bens, vinho e queijo,</p><p>e sua tecnologia resume-se pela produtividade do trabalho de cada indústria.</p><p>Para pensarmos nas diferenças de cada modelo de produção, expressaremos a</p><p>produtividade em termos das necessidades de unidade trabalho, ou seja, o número</p><p>de horas necessárias para a produção de 1 quilo de queijo ou 1 litro de vinho.</p><p>Desta forma, é necessária uma hora de trabalho para produzir 1 quilo de</p><p>queijo e 2 horas de trabalho para produzir 1 litro de vinho. As necessidades de</p><p>unidades de trabalho na produção de queijo e vinho serão, aLQ e aLV; os recursos</p><p>totais disponíveis na economia, o total de trabalho ofertado, será dado por L.</p><p>Uma vez que a economia do país Local também possui recursos limitados,</p><p>para que um ou outro bem seja produzido, quantidades de produção de um ou de</p><p>outro precisarão ser sacrificadas. Assim, a fronteira de possibilidade de produção</p><p>(linha PF no Gráfico 1), que revela as decisões de produção máxima para queijo e</p><p>vinho, é exposta no gráfico a seguir da seguinte forma:</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>24</p><p>GRÁFICO 1 – FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DO PAÍS LOCAL</p><p>Produção de vinho</p><p>do Local, Qv,</p><p>em litros</p><p>L/a</p><p>LV</p><p>P O valor absoluto da declividade</p><p>é igual ao custo de oportunidade</p><p>do queijo em termos de vinho</p><p>F</p><p>L/a</p><p>LQ</p><p>Produção de</p><p>queijo do Local,</p><p>Q , em quilosQ</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001. p. 16)</p><p>Como neste caso há apenas um fator de produção, a fronteira de</p><p>possibilidades de produção é uma linha reta. Agora, se QV for a produção de</p><p>vinho e QQ a quantidade de produção de queijo, o trabalho utilizado na produção</p><p>de vinho será aLVQV e o trabalho utilizado na produção de queijo, aLQQQ. Como</p><p>a fronteira de possibilidade de produção diz respeito aos limites de recursos</p><p>(fatores) de uma economia, neste caso o trabalho (L), então os limites da produção</p><p>serão definidos pela inequação:</p><p>aLVQV + aLQQQ ≤ L</p><p>O custo de oportunidade aqui se refere aos litros de vinho que a economia</p><p>Local deve deixar de produzir para que 1 quilo extra de queijo possa ser produzido.</p><p>Logo, o custo de oportunidade do queijo em termos do vinho é aLQ/aLV. Assim, se</p><p>é necessária uma hora de trabalho para fazer 1 quilo de queijo e duas horas para</p><p>produzir 1 litro de vinho, o custo de oportunidade do queijo em termos do vinho</p><p>é meio (1/2). Este custo de oportunidade é igual ao valor absoluto da inclinação</p><p>da fronteira de possibilidades de produção (KRUGMAN, OBSTFELD, 2001).</p><p>Se a fronteira de possibilidades de produção revela as possibilidades</p><p>de produção, ou seja, os limites de produção com determinadas quantidades de</p><p>recursos, como sabemos qual quantidade e produto será, de fato, produzido?</p><p>Para isso precisamos analisar o preço relativo dos dois bens; o preço de um</p><p>produto em relação ao outro. Como neste exemplo a economia em análise possui</p><p>apenas um recurso de produção, a oferta de queijo e de vinho será determinada pelo</p><p>movimento</p><p>da mão de obra para o setor que melhor remunera seus funcionários.</p><p>Suponha que: PQ e PV sejam os preços do queijo e do vinho; são necessárias</p><p>aLQ para que 1 quilo de queijo seja produzido; não existe lucro para o dono do</p><p>capital, logo, o salário por hora do trabalhador será igual ao valor daquilo que</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>25</p><p>ele consiga produzir em uma hora, PQ/aLQ. O mesmo ocorre para o trabalhador</p><p>da indústria do vinho, uma vez que aLV horas de trabalho são necessárias para a</p><p>produção de 1 litro de vinho, seu salário será PV/aLV.</p><p>Quais os setores que pagarão maiores salários? Os salários do setor de</p><p>queijo serão maiores se PQ/PV > aLQ/aLV. Logo, este será o setor que a economia</p><p>tende a se especializar.</p><p>Lembre-se que a</p><p>LQ</p><p>/a</p><p>LV</p><p>é o custo de oportunidade do queijo em termos do vinho.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os salários do setor de vinho serão maiores se PQ/PV < aLQ/aLV. Então, este</p><p>será o setor que a economia tenderá a se especializar. Isso ocorre porque todos</p><p>os trabalhadores gostarão de atuar no setor que paga melhores salários. Apenas</p><p>quando PQ/PV = aLQ/aLV, ambos os bens serão produzidos.</p><p>Deste caso, podemos extrair a proposição central sobre a relação entre</p><p>preços e produção: “a economia terá a especialidade da produção de queijo se o</p><p>preço relativo do queijo exceder seu custo de oportunidade” e, também, que “a</p><p>economia terá a especialidade da produção de vinho se o preço relativo do queijo</p><p>for menor que seu custo de oportunidade” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 17).</p><p>Por meio destas situações do país “Local” foi possível descrever um</p><p>pouco sobre o padrão de comércio quando existe apenas um fator de produção.</p><p>Seguindo em frente, vamos em busca da resposta para a pergunta: o que acontece</p><p>quando duas economias que possuem apenas um fator de produção realizam</p><p>comércio entre si?</p><p>2.2 O COMÉRCIO EM UM MUNDO DE APENAS UM FATOR</p><p>DE PRODUÇÃO</p><p>Neste modelo, teremos o país “Local” e o “Estrangeiro”, cada um deles</p><p>possui apenas um fator de produção, que é o trabalho, e cada um dos países pode</p><p>produzir dois bens, o queijo e o vinho. A mão de obra do país Local será indicada</p><p>por L e a necessidade de unidade de trabalho, aLV para vinho e aLQ para queijo. No</p><p>país Estrangeiro será indicada com o acréscimo de um asterisco (L*, aLV* e aLQ*).</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>26</p><p>GRÁFICO 2 – FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DO PAÍS ESTRANGEIRO</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001. p. 19)</p><p>De modo geral, a necessidade de unidades de trabalho pode seguir</p><p>qualquer padrão. A economia doméstica poderia ser mais ou menos produtiva</p><p>do que a estrangeira em vinho ou queijo. Assim, podemos fazer uma suposição</p><p>arbitrária que,</p><p>aLQ/aLv < aLQ*/aLV* ou, de modo equivalente, aLQ/aLQ* < aLV/aLV*</p><p>Assim, estaríamos assumindo que a proporção das unidades de trabalho</p><p>necessárias para produzir 1 quilo de queijo em relação às unidades de trabalho</p><p>necessárias para produzir 1 litro de vinho, é menor na economia doméstica que</p><p>na estrangeira. Então, a produtividade relativa de queijo do país Local é maior</p><p>que a de vinho.</p><p>Como as vantagens comparativas são determinadas em termos dos</p><p>custos de oportunidade, podemos dizer que a economia Local tem vantagem</p><p>comparativa na produção de queijo.</p><p>Note bem, não podemos confundir as vantagens absolutas com as</p><p>vantagens comparativas. Pois não podemos determinar o padrão de comércio</p><p>dos países apenas pelas vantagens absolutas. Para determinar as vantagens</p><p>comparativas precisamos olhar para as quatro necessidades de unidade do</p><p>trabalho de queijo e de vinho nos dois países. Portanto, dizer que aLQ < aLQ* apenas</p><p>nos mostra que o país Local é mais eficiente na produção de queijo do que o país</p><p>Estrangeiro, ou seja, possui vantagem absoluta da produção deste produto.</p><p>No gráfico a seguir temos a fronteira de possibilidades de produção do</p><p>país Estrangeiro na curva PF*. Com a inclinação da fronteira de possibilidades de</p><p>produção igual ao custo de oportunidade do queijo em termos do vinho, temos a</p><p>fronteira do país Estrangeiro mais inclinada que a do país Local.</p><p>V</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>27</p><p>Como a necessidade de unidades de trabalho no Estrangeiro, em termos</p><p>relativos, é maior que no país Local (o Estrangeiro necessita abrir mão de muito mais</p><p>unidades de vinho para produzir uma unidade de queijo), sua fronteira de possibilidades de</p><p>produção é mais inclinada.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Agora, estabelecidas as redes para que o comércio internacional possa ocorrer,</p><p>os preços não serão mais determinados pelas necessidades de trabalho domésticas,</p><p>mas com base nas necessidades de trabalho do país com o qual irá comercializar.</p><p>Se o preço relativo do queijo é maior na economia estrangeira do que na</p><p>doméstica, será lucrativo enviar (exportar) queijo da economia doméstica para a</p><p>estrangeira, e enviar (exportar) vinho da economia estrangeira para a doméstica.</p><p>Como os preços serão definidos com o comércio internacional?</p><p>Para determinar os preços dos bens comercializados internacionalmente,</p><p>utilizamos as leis da oferta e da demanda por meio da análise do equilíbrio</p><p>geral, que leva em conta as ligações entre os dois mercados. Desta forma, para</p><p>considerar os dois mercados simultaneamente, consideramos as quantidades de</p><p>queijo e de vinho ofertadas e demandadas, mas, também, a oferta e demanda</p><p>relativas. Ou seja, o número de quilos de queijo ofertado ou demandado dividido</p><p>pelo número de litros de vinho ofertado ou demandado em ambos os países.</p><p>A análise do equilíbrio geral leva em conta a oferta e a demanda relativas,</p><p>que diz respeito à quantidade de quilos de queijo ofertado ou demandado dividida pela</p><p>quantidade de litros de vinho ofertado ou demandado. Além de enfatizar as quantidades</p><p>de oferta e demanda dos dois produtos em ambos os países. Ou seja, considera os dois</p><p>mercados simultaneamente.</p><p>ATENCAO</p><p>O gráfico a seguir mostra a oferta e demanda mundial do queijo em</p><p>relação ao vinho como funções do preço do queijo relativo ao preço do vinho. RD</p><p>é a curva de demanda relativa; RS é a curva de oferta relativa.</p><p>UNIDADE 1 | TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>28</p><p>GRÁFICO 3 – OFERTA E DEMANDA RELATIVAS MUNDIAIS</p><p>RD</p><p>a /aLQ LV</p><p>a* /a*LQ LV</p><p>1</p><p>2</p><p>RD'</p><p>Preço relativo</p><p>do queijo, P /PQ V</p><p>Q'</p><p>LV</p><p>LQL/a</p><p>L*/a*</p><p>RS</p><p>Quantidade relativa</p><p>de queijo, Q + Q*</p><p>Q + Q*</p><p>Q</p><p>V V</p><p>Q</p><p>FONTE: Krugman e Obstfeld (2001. p. 20).</p><p>Compreender os degraus do Gráfico 3 é fundamental para entender o</p><p>modelo completo. Vamos por partes: a RS mostra, primeiramente, que não haverá</p><p>oferta de queijo se o preço relativo mundial cai abaixo de aLQ/aLV, ou seja, se cai</p><p>abaixo do custo de oportunidade.</p><p>Quando o preço relativo iguala ao custo de oportunidade (PQ/PV = aLQ/</p><p>aLV), o país Local produzirá qualquer quantidade de qualquer bem, uma vez que</p><p>os trabalhadores receberão a mesma quantidade produzindo queijo e vinho.</p><p>Agora, quando o preço relativo é maior do que o custo de oportunidade</p><p>(PQ/PV > aLQ/aLV), conforme já vimos, o país Local irá se especializar na produção</p><p>de queijo, pois os salários serão maiores. Se o preço relativo for menor que o custo</p><p>de oportunidade estrangeiro (PQ/PV < aLQ*/aLV*), o país Estrangeiro continuará a</p><p>produzir vinho.</p><p>Outra informação do Gráfico 3 é: quando o país Local tiver a especialidade</p><p>da produção de queijo, ele produzirá L/aLQ quilos que queijo. E o país Estrangeiro,</p><p>com a especialidade no vinho, produzirá L*/aLQ* litros de vinho. Logo, para</p><p>qualquer preço relativo de queijo entre aLQ/aLV e aLQ*/aLV*, a oferta relativa será:</p><p>L/aLQ</p><p>L*/aLV*</p><p>TÓPICO 2 | TEORIAS CLÁSSICAS E NEOCLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL</p><p>29</p><p>Quando o preço relativo iguala ao custo de oportunidade no país</p><p>Estrangeiro (PQ/PV = aLQ*/aLV*), o país Estrangeiro produzirá qualquer quantidade</p><p>de qualquer bem, uma vez que os trabalhadores receberão a mesma quantidade</p><p>produzindo queijo e vinho, por isso que temos novamente uma seção plana na</p><p>curva</p>

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