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<p>CAPÍTULO 2 – NOÇÕES DE ÉTICA</p><p>2.1 – O QUE É ÉTICA?</p><p>Os conhecimentos a respeito da ética remontam aos primórdios da</p><p>atividade filosófica. O pensamento de Sócrates (470-399 a.C.) marca o</p><p>nascimento da filosofia clássica e, foi, posteriormente desenvolvido por Platão</p><p>e Aristóteles. Neste período começou-se a questionar as ações humanas e os</p><p>valores subjacentes a elas. Séculos mais tarde, durante a Revolução Francesa,</p><p>filósofos como Immanuel Kant (1724-1804) começam a analisar princípios da</p><p>consciência moral. Podemos ainda citar nomes importantes como Hobbes,</p><p>Maquiavel, Locke e Rousseau que apostavam no exercício da crítica como a</p><p>única forma de ser livre. Mas aqui vamos ser mais diretos.</p><p>Etimologicamente a palavra ética vem do grego “ethos” que significa</p><p>“modo de ser” ou “caráter”. A ética pode ser definida como a parte da filosofia</p><p>que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e dos princípios que</p><p>fundamentam a vida moral. Na verdade, mesmo com uma linguagem bastante</p><p>simples é difícil formular e justificar uma definição real sobre a ética, mas</p><p>podemos resumir dizendo que falar de ética é falar da conduta humana.</p><p>Em outras palavras, a ética está baseada em valores morais que</p><p>norteiam o comportamento do ser humano em sociedade. Por exemplo: a</p><p>intenção da vida no bem e, consequentemente, agir segundo o bem, que leva a</p><p>vida melhor ou mais feliz, sendo que o bem deve ser realizado, embora não</p><p>pela coação, mas pela persuasão, onde esses termos da tradicional moral</p><p>grega implicam em seu conteúdo semântico o conceito fundamental de bem,</p><p>eixo conceitual em torno do qual se construíram os grandes sistemas éticos da</p><p>tradição ocidental.</p><p>A propósito, podemos dizer que ética e moral são a mesma coisa? Não</p><p>exatamente. Apesar de serem usados muitas vezes como sinônimos essas</p><p>palavras têm conceitos diferentes, geralmente o conceito de ética se confunde</p><p>com o de moral. A palavra moral vem do latim “mos” que significa “maneira de</p><p>se comportar regulada pelo uso”.</p><p>A moral corresponde ao conjunto de costumes e juízos morais de um</p><p>indivíduo ou de uma sociedade que possui caráter normativo (regras de</p><p>comportamento das pessoas no grupo). Segundo Adolfo Sánchez Vásquez,</p><p>tanto ethos como mos indicam um tipo de comportamento propriamente</p><p>humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um</p><p>instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito”.</p><p>A moral tem um papel social, afinal, é o conjunto de regras que</p><p>determinam como deve ser o comportamento dos indivíduos em grupo, mas,</p><p>ademais, é preciso ressaltar que ela também está relacionada com a livre e</p><p>consciente aceitação das normas. Já a ética é a parte da filosofia que se ocupa</p><p>com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida</p><p>moral. Eu sei parece confuso, mas basta termos em mente que uma coisa está</p><p>vinculada a outra e que estes conceitos regem a forma como lidamos com o</p><p>outro e como vivemos em sociedade.</p><p>Apesar de serem etimologicamente semelhantes, a moral e a ética são</p><p>distintas, tendo a moral um caráter prático imediato e restrito, visto que</p><p>corresponde a um conjunto de normas que regem a vida do indivíduo e,</p><p>consequentemente, da sociedade, apontando o que é bom e o que é mal,</p><p>influenciando os juízos de valores e as opiniões. Em contrapartida, a ética</p><p>caracteriza-se como uma reflexão filosófica de caráter universalista sobre a</p><p>moral, a fim de analisar os princípios, as causas, mas, também as</p><p>consequências das ações dos indivíduos para a sociedade.</p><p>Ética x Moral</p><p>Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955,</p><p>na cidade de Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu à</p><p>regra existente de que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para</p><p>pessoas brancas. Já com certa idade, farta daquela humilhação moralmente</p><p>oficial, Rosa se recusou a levantar para um branco sentar. O motorista chamou</p><p>a polícia, que prendeu a mulher e a multou em dez dólares. O acontecimento</p><p>provocou um movimento nacional de boicote aos ônibus e foi a gota d’água de</p><p>que precisava o jovem pastor Martin Luther King para liderar a luta pela</p><p>igualdade dos direitos civis.</p><p>No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam</p><p>certos quanto a isso. Na verdade, a regra moral vigente é que estava errada, a</p><p>moral é que era estúpida. A partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde</p><p>deliberada e publicamente desobedecer àquela regra moral.</p><p>Entretanto, é comum confundir os termos ética e moral, como se fossem</p><p>a mesma coisa. Muitas vezes se confunde ética com espírito de corpo, que tem</p><p>tudo a ver com moral mas nada com ética. Um médico seguiria a “ética” da sua</p><p>profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro</p><p>grave e assim matasse um paciente. Um soldado seguiria a “ética” da sua</p><p>profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que torturasse o inimigo.</p><p>Nesses casos, o tal do espírito de corpo tem nada a ver com ética e tudo a ver</p><p>com cumplicidade no erro ou no crime.</p><p>Diante de variadas definições e conceitos sobre a ética, percebemos que</p><p>o homem não vive sozinho, pois, como ser humano, coexiste com seus hábitos,</p><p>costumes, tradições, sonhos, trabalhos etc, dentro de uma ordem moral, onde</p><p>os seus atos, desde que visem o bem, são tidos como éticos. Portanto, a ética</p><p>está relacionada a regras estabelecidas por meio de leis que regulam o modo</p><p>de vida da população de um país.</p><p>Sabendo que uma sociedade é construída baseada em valores históricos</p><p>e culturais, percebemos que cada sociedade tem seus próprios códigos de</p><p>ética, fazendo com que o agir eticamente implique em transpor desafios e</p><p>obstáculos comuns na vida em vista de uma melhor socialização.</p><p>Logo, todos os atos humanos devem se alicerçar em atos éticos, com</p><p>princípios que a torne real para que possa exteriorizar o seu comportamento</p><p>moral em um comportamento moral ético, que é necessário para que melhore a</p><p>convivência social.</p><p>Desta forma, as ações éticas acontecem quando os valores como a</p><p>igualdade, a justiça, a dignidade da pessoa, a democracia, a solidariedade, o</p><p>desenvolvimento integral de cada um e de todos é respeitado e garantido de</p><p>forma plena e eficaz para a formação de uma sociedade mais equilibrada e</p><p>justa.</p><p>2.2 – ÉTICA E INTEGRIDADE NA PRÁTICA CIENTÍFICA</p><p>A expressão “integridade da pesquisa” (research integrity) vem sendo</p><p>utilizada para demarcar um campo particular no interior da ética profissional do</p><p>cientista, entendida como a esfera total dos deveres éticos a que o cientista</p><p>está submetido ao realizar suas atividades propriamente científicas. No interior</p><p>dessa esfera, pode-se distinguir, por um lado, o conjunto dos deveres</p><p>derivados de valores éticos mais universais que os especificamente científicos.</p><p>São dessa natureza aqueles que compõem o campo da chamada Bioética,</p><p>derivados, por exemplo, do valor (não especificamente científico) que é o</p><p>respeito à integridade física, psicológica e moral dos seres humanos e do</p><p>“proibido” (não especificamente científico) de submeter animais a tratamento</p><p>cruel. É enquanto pesquisador que um cientista se relaciona com os sujeitos e</p><p>as cobaias de seus experimentos, mas não é por ser um pesquisador que ele</p><p>deve preservar os direitos dos sujeitos de seus experimentos ou deve</p><p>ponderar, no planejamento desses experimentos, o possível sofrimento de</p><p>suas cobaias.</p><p>Por outro lado, a ética profissional do cientista inclui um conjunto de</p><p>deveres derivados de valores éticos especificamente científicos, isto é, valores</p><p>que se impõem ao cientista em virtude de seu compromisso com a própria</p><p>finalidade de sua profissão: a construção coletiva da ciência como um</p><p>patrimônio coletivo. O princípio desse campo particular da ética profissional é:</p><p>ao exercer suas atividades científicas, um pesquisador deve sempre visar a</p><p>contribuir</p><p>para a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo,</p><p>deve abster-se de agir, intencionalmente ou por negligência, de modo a impedir</p><p>ou prejudicar o trabalho coletivo de construção da ciência e a apropriação</p><p>coletiva de seus resultados. É a essa parte da ética profissional do cientista</p><p>que remete a expressão “integridade da pesquisa”.</p><p>⎯ Leitura Complementar:</p><p>Pesquisador de Harvard é acusado de falsificar resultados com células-tronco -</p><p>19/10/2018 - Ciência - Folha (uol.com.br)</p><p>❖ Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq</p><p>A comissão instituída pela portaria PO-085/2011 de 5 de maio de 2011,</p><p>constituída pelos pesquisadores Alaor Silvério Chaves, Gilberto Cardoso Alves</p><p>Velho, Jaílson Bittencourt de Andrade, Walter Colli e coordenada pelo Dr.</p><p>Paulo Sérgio Lacerda Beirão, diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da</p><p>Saúde do CNPq, vem apresentar seu relatório final.</p><p>A necessidade de boas condutas na pesquisa científica e tecnológica tem</p><p>sido motivo de preocupação crescente da comunidade internacional e no Brasil</p><p>não é diferente. A má conduta não é fenômeno recente, haja vista os vários</p><p>exemplos que a história nos dá de fraudes e falsificação de resultados. As</p><p>publicações pressupõem a veracidade e idoneidade daquilo que os autores</p><p>registram em seus artigos, uma vez que não há verificação a priori dessa</p><p>veracidade. A Ciência tem mecanismos de correção, porque tudo o que é</p><p>publicado é sujeito à verificação por outros, independentemente da autoridade</p><p>de quem publicou.</p><p>Como ilustração, podemos citar alguns exemplos emblemáticos, como o</p><p>chamado “Homem de Piltdown” - uma montagem de ossos humanos e de</p><p>orangotango convenientemente manipulados, que alegadamente seria o “elo</p><p>perdido” na evolução da humanidade. Embora adequada para as ideias então</p><p>vigentes, a farsa foi desmascarada quando foi conferida com novos métodos</p><p>de datação com carbono radioativo. Outros exemplos podem ainda ser citados,</p><p>como o da criação de uma falsa linhagem de células-tronco embrionárias</p><p>humanas que deu origem a duas importantes publicações na revista Science</p><p>em 2004 e 2005. Por esse feito, o autor principal foi considerado o mais</p><p>https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/10/pesquisador-de-harvard-e-acusado-de-falsificar-resultados-com-celulas-tronco.shtml</p><p>https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/10/pesquisador-de-harvard-e-acusado-de-falsificar-resultados-com-celulas-tronco.shtml</p><p>importante pesquisador de 2004. O que seria um feito extraordinário mostrou</p><p>ser uma fraude e resultou na demissão desse pesquisador e na exclusão</p><p>desses artigos da revista.</p><p>Essa autocorreção, no entanto, não é suficiente para impedir os efeitos</p><p>danosos advindos da fraude, seja por atrasar o avanço do conhecimento ou</p><p>mesmo por consequências econômicas e sociais resultantes do falso</p><p>conhecimento. Um caso exemplar das consequências danosas que podem ser</p><p>causadas por fraudes científicas foi a rejeição dos princípios da genética, por</p><p>meio da manipulação de dados e informações com objetivos ideológicos e</p><p>políticos, feita pelo então presidente da Academia Soviética de Ciências, Trofim</p><p>Lysenko. Essa falsificação, mesmo sendo posteriormente contestada</p><p>cientificamente, trouxe grande atraso na produção agrícola da então União</p><p>Soviética, o que contribuiu sobremaneira para a deterioração econômica e</p><p>sustentabilidade do regime soviético.</p><p>Esses casos mostram que resultados falsos ou errados podem atrasar</p><p>acentuadamente o avanço do conhecimento, sem contar com o custo,</p><p>financeiro e humano, envolvido na correção dos desvios. Mais difíceis de</p><p>serem corrigidos são os problemas advindos de plágios, onde o verdadeiro</p><p>autor, seja de descobertas ou de textos, pode ter seu mérito subtraído com</p><p>possíveis prejuízos profissionais.</p><p>A falsificação de dados pode ser caracterizada quando as manipulações</p><p>introduzidas alteram o significado dos resultados obtidos. Por exemplo,</p><p>introduzir ou apagar imagens em figuras podem alterar a interpretação dos</p><p>resultados. Algumas situações são consideradas legítimas, como, por exemplo,</p><p>o emprego de software de aumento de contraste usado por astrônomos pode</p><p>revelar objetos celestes dificilmente identificáveis de outra maneira. Alterações</p><p>de contraste ou brilho para melhorar a qualidade global de uma imagem são</p><p>consideradas legítimas se aplicadas a toda a imagem e descritas na</p><p>publicação. Nesses casos a imagem original deve ser mantida, e publicada</p><p>como informação suplementar quando possível.</p><p>Além das referidas consequências danosas da falsificação e do plágio,</p><p>essas práticas podem favorecer indevidamente seus autores para conseguirem</p><p>vantagens em suas carreiras e na obtenção de auxílios financeiros. Em relação</p><p>a isso, surge também como significativa a prática crescente de autoplágio. Em</p><p>um ambiente de competição para a obtenção de auxílios financeiros, isso pode</p><p>significar o investimento em pessoas e projetos imerecidos, em detrimento</p><p>daqueles que efetivamente são capazes de produzir avanços do conhecimento.</p><p>A existência de software capaz de identificar trechos já publicados de</p><p>manuscritos submetidos tem facilitado a prevenção de plágio e de autoplágio.</p><p>Por todas essas razões as más condutas na pesquisa são assunto de</p><p>interesse das agências de financiamento, que devem zelar pela boa aplicação</p><p>de seus recursos em pessoas que sejam capazes de produzir avanços efetivos</p><p>(isto é, confiáveis) do conhecimento. Isso significa instituir mecanismos que</p><p>permitam identificar e desestimular as práticas fraudulentas na pesquisa, e</p><p>estimular a integridade na produção e publicação dos resultados de pesquisa.</p><p>Para lidar com esses problemas, a comissão recomenda que o CNPq</p><p>tenha duas linhas de ação: 1) ações preventivas e pedagógicas e 2) ações de</p><p>desestímulo a más condutas, inclusive de natureza punitiva.</p><p>Com relação às ações preventivas, é importante atuar pedagogicamente</p><p>para orientar, principalmente os jovens, nas boas práticas. É também</p><p>importante definir as práticas que não são consideradas aceitáveis pelo ponto</p><p>de vista do CNPq. Como parte das ações preventivas, o CNPq deve estimular</p><p>que disciplinas com conteúdo ético e de integridade de pesquisa sejam</p><p>oferecidas nos cursos de pós-graduação e de graduação. Também a produção</p><p>de material com esses conteúdos em língua portuguesa deve ser estimulada e</p><p>disponibilizada nas páginas do CNPq. Como ponto de partida, algumas</p><p>diretrizes orientadoras das boas práticas nas publicações científicas, inclusive</p><p>nos seus aspectos metodológicos, devem ser imediatamente publicadas,</p><p>podendo ser aperfeiçoadas com contribuições subsequentes. Há que se</p><p>salientar nessa direção a importância dos orientadores acadêmicos.</p><p>Com relação às atitudes corretivas e punitivas, recomenda-se a instituição</p><p>de uma comissão permanente pelo Conselho Deliberativo do CNPq, constituída</p><p>de membros de alta respeitabilidade e originados de diferentes áreas do</p><p>conhecimento. Deverá caber a esta comissão examinar situações em que</p><p>surjam dúvidas fundamentadas quanto à integridade da pesquisa realizada ou</p><p>publicada por pesquisadores do CNPq - detentores de bolsa de produtividade</p><p>ou auxilio a pesquisa. Com relação a denúncias, é de se cuidar para não</p><p>estimular denúncias falsas ou infundadas. Caberá a essa comissão examinar</p><p>os fatos apresentados e decidir preliminarmente se há fundamentação que</p><p>justifique uma investigação específica, a ser realizada por especialistas da área</p><p>nomeados ad hoc. Caberá também a essa comissão, a partir dos pareceres</p><p>dos especialistas, propor à Diretoria Executiva do CNPq os desdobramentos</p><p>adequados. Será também incumbência dessa comissão avaliar a qualidade do</p><p>material disponível sobre ética e integridade de pesquisa, a ser publicado nas</p><p>páginas do CNPq.</p><p>2.3 – Definições</p><p>Podem-se identificar as seguintes modalidades de fraude ou má conduta</p><p>em publicações:</p><p>I. Fabricação ou invenção de dados - consiste na apresentação de dados</p><p>ou resultados inverídicos.</p><p>II. Falsificação: consiste na manipulação fraudulenta de resultados obtidos</p><p>de forma a alterar-lhes o significado, sua interpretação ou mesmo sua</p><p>confiabilidade. Cabe também nessa definição a apresentação de</p><p>resultados reais como se tivessem sido obtidos em condições diversas</p><p>daquelas efetivamente utilizadas.</p><p>III. Plágio (total ou parcial): consiste na apresentação, como se fosse de</p><p>sua autoria, de resultados ou conclusões anteriormente obtidos por outro</p><p>autor, bem como de textos integrais ou de parte substancial de textos</p><p>alheios sem os cuidados detalhados nas Diretrizes. Comete igualmente</p><p>plágio quem se utiliza de ideias ou dados obtidos em análises de projetos</p><p>ou manuscritos não publicados aos quais teve acesso como consultor,</p><p>revisor, editor, ou assemelhado.</p><p>IV. Autoplágio: consiste na apresentação total ou parcial de textos já</p><p>publicados pelo mesmo autor, sem as devidas referências aos trabalhos</p><p>anteriores.</p><p>⎯ Leitura complementar:</p><p>http://www.fapesp.br/boaspraticas/</p><p>http://www.fapesp.br/boaspraticas/</p><p>2.4 – PROBLEMAS ÉTICOS E A CIÊNCIA DE HOJE</p><p>Ao iniciarmos um empreendimento cientifico, assumimos questões éticas</p><p>e morais, como por exemplo de que forma a vida deve ser vivida ou o bem e o</p><p>mal, o justo e o injusto. Isto acontece de forma simultânea não somente ao</p><p>momento temporal, mas à proposta filosófica de que ética e moral se</p><p>constituem mutuamente, na medida em que a busca por compreender o que é</p><p>viver nos leva ao terreno prático de como tratamos o outro, e o debate entre o</p><p>justo e o injusto leva-nos à reflexão sobre justiça como tal.</p><p>A combinação do termo ética com o campo científico, que soaria</p><p>estranha para os fundadores as Sociedade Real de Londres, no ano de 1660.</p><p>O lema desse restrito grupo nullius in verba (afirma a vontade de estabelecer a</p><p>verdade no domínio dos fatos, baseando-se somente na experiência científica,</p><p>e jamais na palavra de alguma autoridade) a determinação de verificar</p><p>proposições científicas com base no apelo aos fatos, que para eles eram</p><p>externos e pertencentes à natureza. Ética da atividade científica era presumida</p><p>como natural porque, tal como os demais saberes (práticos, tecnológicos,</p><p>sociais ou artesanais) era feita, em grande parte, por pessoas honestas e</p><p>sinceras que gostavam do que faziam, que aceitavam os limites da negociação</p><p>da verdade e reagiam contra proposições que consideravam insustentáveis.</p><p>É essa prática de lidar com questões éticas e morais como parte do</p><p>cotidiano é que está sendo questionada hoje, como atestam os diversos</p><p>códigos de conduta para pesquisa e publicação científica produzidos nos</p><p>últimos anos. Somente em 2011, no Brasil, tivemos o código de Boas Práticas</p><p>Científicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo</p><p>(Fapesp), o relatório e recomendações da Comissão de Integridade de</p><p>Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq) e a conduta</p><p>pública sobre a revisão da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de</p><p>Saúde, que trata da ética em pesquisa em seres humanos.</p><p>Ao ler esses e outros documentos de âmbito internacionais, parece que,</p><p>de maneiras distintas, pesquisadores, gestores, editores, usuários e</p><p>financiadores estão chegando à conclusão de que a caótica cultura</p><p>democrática e coletiva que sustentava as diferentes comunidades científicas e</p><p>garantia a circulação do saber está com sérias dificuldades de enfrentar</p><p>questões fundamentadas na integridade.</p><p>A integridade da pesquisa deve ser um valor absoluto tanto para os</p><p>pesquisadores individuais como para as instituições envolvidas com essas</p><p>atividades. Questões de má conduta como as especificações de práticas</p><p>científicas apropriadas baseiam-se em princípios de integridade científica.</p><p>Estes devem ser observados por pesquisadores individuais, nas</p><p>relações entre pesquisadores e nas relações com o ambiente externo. São</p><p>princípios gerais:</p><p>I – Honestidade na apresentação, execução e descrição de métodos e</p><p>procedimentos da pesquisa e na interpretação dos resultados.</p><p>II – Confiabilidade na execução da pesquisa e na comunicação de suas</p><p>conclusões.</p><p>III – Objetividade na coleta e no tratamento de dados e informações, na</p><p>apresentação de provas e evidências e na interpretação de resultados.</p><p>IV – Imparcialidade na execução da pesquisa, na comunicação e no</p><p>julgamento das contribuições de outros.</p><p>V – Cuidado na coleta, armazenamento e tratamento de dados e informações.</p><p>VI – Respeito por participantes de objetos do trabalho de pesquisa, sejam</p><p>seres humanos, animais, o meio ambiente ou objetos culturais.</p><p>VII – Veracidade na atribuição dos créditos a trabalhos de outros.</p><p>VIII – Responsabilidade na formação e na supervisão do trabalho de jovens</p><p>cientistas.</p><p>Estes princípios devem ser seguidos pela equipe de pesquisadores</p><p>desde o estabelecimento dos métodos que serão utilizados na pesquisa até a</p><p>publicação dos resultados. A avaliação ética de um projeto de pesquisa em</p><p>saúde baseia-se na qualificação do projeto de pesquisa, na equipe de</p><p>pesquisadores envolvidos, na avaliação do risco-benefício, no consentimento</p><p>informado e também na prévia avaliação realizada por um comitê de ética.</p><p>Em todos os tipos de pesquisa clínica, o pesquisador principal é quem</p><p>deve garantir o cumprimento dos processos éticos, das boas práticas clínicas,</p><p>garantir o cuidado aos pacientes, ser responsável pelos dados da pesquisa e</p><p>da equipe profissional envolvida como um todo. E como a publicação científica</p><p>é o produto final de toda a pesquisa realizada, ele é o responsável pela autoria</p><p>e co-autoria da publicação científica.</p><p>Também devemos destacar os aspectos jurídicos dessa questão. Os</p><p>autores e co-autores de trabalhos científicos também assumem a</p><p>responsabilidade profissional, pública, ética e social da publicação de acordo</p><p>com a Lei do Direito Autoral. Responsabilidades estas também compartilhada</p><p>com os editores das revistas científicas e são considerados co-responsáveis</p><p>pela publicação.</p><p>2.5 – DIRETRIZES DE PRÁTICAS CIENTÍFICAS</p><p>1) O autor deve sempre dar crédito a todas as fontes que fundamentam</p><p>diretamente seu trabalho.</p><p>2) Toda citação in verbis de outro autor deve ser colocada entre aspas.</p><p>3) Quando se resume um texto alheio, o autor deve procurar reproduzir o</p><p>significado exato das ideias ou fatos apresentados pelo autor original, que</p><p>deve ser citado.</p><p>4) Quando em dúvida se um conceito ou fato é de conhecimento comum, não</p><p>se deve deixar de fazer as citações adequadas.</p><p>5) Quando se submete um manuscrito para publicação contendo informações,</p><p>conclusões ou dados que já foram disseminados de forma significativa (p.ex.</p><p>apresentado em conferência, divulgado na internet), o autor deve indicar</p><p>claramente aos editores e leitores a existência da divulgação prévia da</p><p>informação.</p><p>6) Se os resultados de um estudo único complexo podem ser apresentados</p><p>como um todo coesivo, não é considerado ético que eles sejam</p><p>fragmentados em manuscritos individuais.</p><p>7) Para evitar qualquer caracterização de autoplágio, o uso de textos e</p><p>trabalhos anteriores do próprio autor deve ser assinalado, com as devidas</p><p>referências e citações.</p><p>8) O autor deve assegurar-se da correção de cada citação e que cada citação</p><p>na bibliografia corresponda a uma citação no texto do manuscrito. O autor</p><p>deve dar crédito também aos autores que primeiro relataram a observação</p><p>ou ideia que está sendo apresentada.</p><p>9) Quando estiver descrevendo o trabalho de outros, o autor não deve confiar</p><p>em resumo secundário desse trabalho, o que pode levar a uma descrição</p><p>falha do trabalho citado. Sempre que possível consultar a literatura original.</p><p>10) Se um autor tiver necessidade de citar uma fonte secundária (p.ex. uma</p><p>revisão) para descrever o conteúdo de uma fonte primária (p. ex. um artigo</p><p>empírico</p><p>de um periódico), ele deve certificar-se da sua correção e sempre</p><p>indicar a fonte original da informação que está sendo relatada.</p><p>11) A inclusão intencional de referências de relevância questionável com a</p><p>finalidade de manipular fatores de impacto ou aumentar a probabilidade de</p><p>aceitação do manuscrito é prática eticamente inaceitável.</p><p>12) Quando for necessário utilizar informações de outra fonte, o autor deve</p><p>escrever de tal modo que fique claro aos leitores quais ideias são suas e</p><p>quais são oriundas das fontes consultadas.</p><p>13) O autor tem a responsabilidade ética de relatar evidências que contrariem</p><p>seu ponto de vista, sempre que existirem. Ademais, as evidências usadas</p><p>em apoio a suas posições devem ser metodologicamente sólidas. Quando</p><p>for necessário recorrer a estudos que apresentem deficiências</p><p>metodológicas, estatísticas ou outras, tais defeitos devem ser claramente</p><p>apontados aos leitores.</p><p>14) O autor tem a obrigação ética de relatar todos os aspectos do estudo que</p><p>possam ser importantes para a reprodutibilidade independente de sua</p><p>pesquisa.</p><p>15) Qualquer alteração dos resultados iniciais obtidos, como a eliminação de</p><p>discrepâncias ou o uso de métodos estatísticos alternativos, deve ser</p><p>claramente descrita junto com uma justificativa racional para o emprego de</p><p>tais procedimentos.</p><p>16) A inclusão de autores no manuscrito deve ser discutida antes de começar a</p><p>colaboração e deve se fundamentar em orientações já estabelecidas, tais</p><p>como as do International Committee of Medical Journal Editors.</p><p>17) Somente as pessoas que emprestaram contribuição significativa ao trabalho</p><p>merecem autoria em um manuscrito. Por contribuição significativa entende-se</p><p>realização de experimentos, participação na elaboração do planejamento</p><p>experimental, análise de resultados ou elaboração do corpo do</p><p>manuscrito.</p><p>18) Empréstimo de equipamentos, obtenção de financiamento ou supervisão</p><p>geral, por si só não justificam a inclusão de novos autores, que devem ser</p><p>objeto de agradecimento.</p><p>19) A colaboração entre docentes e estudantes deve seguir os mesmos critérios.</p><p>Os supervisores devem cuidar para que não se incluam na autoria</p><p>estudantes com pequena ou nenhuma contribuição nem excluir aqueles que</p><p>efetivamente participaram do trabalho. Autoria fantasma em Ciência é</p><p>eticamente inaceitável.</p><p>20) Todos os autores de um trabalho são responsáveis pela veracidade e</p><p>idoneidade do trabalho, cabendo ao primeiro autor e ao autor</p><p>correspondente responsabilidade integral, e aos demais autores</p><p>responsabilidade pelas suas contribuições individuais.</p><p>21) Os autores devem ser capazes de descrever, quando solicitados, a sua</p><p>contribuição pessoal ao trabalho.</p><p>22) Todo trabalho de pesquisa deve ser conduzido dentro de padrões éticos na</p><p>sua execução, seja com animais ou com seres humanos.</p>

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