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VISÃO 2035: Brasil, país desenvolvido Sinopse das agendas para alcance da meta VISÃO 2035: Brasil, país desenvolvido Sinopse das agendas para alcance da meta Rio de Janeiro 2018 Sumário VISÃO BRASIL 2035 ...........................................................7 Paulo Rabello de Castro Presidente do BNDES VISÃO BRASIL 2035: COMO O BNDES PODE CONTRIBUIR ............................................ 12 António Bernardo e Daniel Martins Roland Berger Brasil UMA AGENDA SETORIAL PARA 2018-2035 .................. 18 Fernando Puga e Lavinia Barros de Castro BNDES AGENDAS SETORIAIS PARA ALCANCE DA META (SUMÁRIO) .........................34 A VISÃO DO BNDES PARA 2035: AGENDAS REGIONAIS ................................................... 36 Sergio Guimarães Ferreira e Guilherme Franco Montoro BNDES AGENDAS REGIONAIS PARA ALCANCE DA META (SUMÁRIO) .........................53 ESTAMOS EM 2035 .........................................................54 Lavinia Barros de Castro BNDES 7 Visão Brasil 2035 Ao executar seu planejamento estratégico 2018-2035, em início de implantação, o BNDES estabeleceu cenários para o de- senvolvimento da economia brasileira no período de 2018 a 2035. Tais cenários foram utilizados para projetar o futuro dos principais setores da economia e das macrorregiões do país, resultando em dois livros dos três da série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido”. Em cada cenário setorial, os especialistas encarregados das aná- lises prospectivas se perguntaram, primeiro, “o que seria necessário para destravar o setor”; em seguida, passaram a conceber algo mais ousado como “o que deveria acontecer para potenciar esse setor da economia”; e, finalmente, se permitiram fazer uma rápida viagem imaginando um futuro em que fosse possível “não só acelerar mas, sobretudo, transformar o setor” objeto de cada estudo. Estabeleceram-se, desse modo, três patamares evolutivos para as análises setoriais apresentadas no primeiro volume, cujo subtítulo é Agendas setoriais para alcance da meta. No cenário básico, um patamar de destravamento setorial, ao se elencarem tarefas de desobstrução para o melhor desempenho da economia naquele segmento específico; no patamar intermediário, medidas de potenciação setorial, ou seja, aquelas capazes de gerar um salto significativo da produtividade do trabalho e do capital ali empregados; e, no patamar mais alto, imaginaram-se as condições de uma verdadeira transformação setorial. A tabela a seguir indica os principais fatores de propul- são em setores selecionados da economia brasileira. Ela define 98 quatro grandes fatores de impulso: (i) demanda interna, como é o caso do setor de alimentos e bebidas; (ii) políticas públi- cas, como é o caso do setor de biocombustíveis; (iii) governo, já que para destravar, por exemplo, água e saneamento, serão necessários vários esforços com os estados e municípios; e (iv) demanda externa, uma vez que as exportações e os preços externos impõem, em grande medida, a dinâmica do setor. A ta- bela foi construída de forma que quanto mais para baixo o setor se situa, maiores são os desafios (“entraves”) do setor. Principal fonte de propulsão de setores selecionados Demanda interna Políticas públicas Governo Demanda externa Múltiplas travas Múltiplas travas Trava fiscal Preços e PIB mundial Automotivo Energia elétrica Logística Complexo agroalimentar Economia criativa Mobilidade urbana Aeroespaço e defesa Mineração e metalurgia Tecnologias da informação e comunicação Biocombustíveis Água e saneamento Petróleo e gás Alimentos e bebidas Química Resíduos sólidos Papel e celulose Duráveis de consumo Bens de capital Saúde Fonte: Elaboração própria. Os mesmos três cenários também serviram de base para as análises do desenvolvimento regional no volume dois, Agendas regionais para alcance da meta. A visão 2035 aponta na direção de uma aceleração do crescimento brasileiro, com efeitos positivos no PIB e forte redução de desigualdades regionais. No volume três, Agendas nacionais para alcance da meta, serão colecionadas as contribuições externas ao Banco. As conclusões preliminares dessas análises são disponibili- zadas com a vocação de ser “ponto de partida” para um debate muito mais amplo com a sociedade e o governo. Os textos internos são assinados por dedicados pesquisadores do BNDES, que fazem questão de assumir o caráter pessoal de suas contribuições. Estamos saindo penosamente de uma difícil experiência de recessão econômica. A frustração nacional é enorme após três longos anos de retrocesso na maioria dos setores da economia brasileira. Mais do que frustração, também um estado de per- plexidade tomou conta de leigos e estudiosos diante da inten- sidade surpreendente do mergulho da renda per capita, quando a impressão antecedente era, justamente, a de que o país havia, afinal, encontrado seu caminho de ascensão sustentada da renda nacional, com a vantagem de ser também um movimento de in- clusão social pela elevação do consumo de milhões de brasileiros pobres ou muito pobres. Tamanha surpresa negativa nos deixou diante da pergunta: “o Brasil ainda tem condição de se tornar um país desenvolvido?” Os estudos apresentados na série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido” trazem a boa notícia para a nação brasileira: os destravamentos setoriais são perfeitamente viáveis e, na maioria dos casos, requerem mais a determinação de remover obstáculos do que a superação de desafios pesados de novos investimentos. Ou seja, sim, uma agenda de superação é viável! M ai or (+ ) o u m en or (- ) f ac ili da de p ar a “d es tr av ar ” + - 1110 Segundo recentes cálculos do produto potencial da econo- mia,1 sempre com base retrospectiva, o crescimento da economia brasileira estaria circunscrito hoje a uma sofrível taxa de 2% ao ano, com evolução praticamente nula da produtividade total. Mas o futuro não precisa acontecer dessa maneira. E o BNDES existe para contestar o conformismo diante de um cenário nacional de relativa estagnação da renda dos brasileiros. Nossa visão 2035 nos permite imaginar, por exemplo, uma taxa de crescimento de 3,2% ao ano no período até 2035, com avanços sustentados da produtividade – mediante a adoção de medidas de destravamento e potenciação recomendadas nas análises setoriais. Destravar a economia no horizonte 2035 é o mínimo que a sociedade brasileira pode e deve ambicionar. Nos debates polí- ticos do presente ano eleitoral, novos rumos serão procurados. E a ousadia de nosso coletivo como nação não precisa respeitar os limites impostos por frustrações passadas e perplexidades estéreis. Um cenário de potenciação é também possível. Nele, o país poderia exibir crescimento médio anual de até 3,9%. Nes- se cenário, desafios de inovação e pesquisa, intensificação de investimentos, sobretudo em infraestruturas, e fortalecimento financeiro pelo mercado de capitais exigirão a criatividade de todos, inclusive a nossa – do BNDES – como agente do desenvol- vimento. Para tanto, é essencial mais planejamento, sem qualquer “controlismo”. Mais esclarecimento de responsabilidades e mais compartilhamento de tarefas. Mais pesquisas e menos invencioni- 1 ORAIR, R. O.; BACCIOTTI, R. R. M. Hiato do produto na economia brasileira: estima- tivas da IFI pela metodologia de função de produção. Instituição Fiscal Independente (IFI), jan. 2018. (Estudo Especial n. 4) ces. Mais oportunidades para todos e menos destruição gratuita de valor. Mais trabalho e mais aprendizado continuado. Muito mais acesso popular ao capital social. E atenção permanente à sustentabilidade do ambiente. Essa é uma agenda de potenciação nacional com a qual os brasileiros atuantes no BNDES teriam enorme satisfação de colaborar profissionalmente. Para além da agenda de potenciação, que já levaria o país a alcançar, até 2035, um estágio de renda per capita de econo- mia medianamente desenvolvida, nos seriapermitido sonhar e tentar alçar a sociedade brasileira a um patamar de efetiva transformação. O século XXI é e será, aceleradamente, uma era de estonteantes transformações. Por enquanto, o Brasil tem ficado bem à margem desse caminho, no máximo como discreto observador e um seguidor eventualmente oportu- nista. Mas nada nos impede de mudar nossa atitude de mero espectador do progresso acelerado do mundo. Depende de decisão e persistência, além de doses cavalares de educação aplicada e coesão social. Os estudos contidos na série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido” nos apresentam uma janela do que seriam os predicados setoriais e regionais de tamanha mudança. São sugestões generosas de especialistas que con- tinuam acreditando na possibilidade de efetiva transformação da sociedade brasileira. Para colaborar com esse sonho, o BNDES também planeja seu próprio futuro como banco do desenvolvimento nacional. PAULO RABELLO DE CASTRO Presidente do BNDES 1312 Visão Brasil 2035: como o BNDES pode contribuir1 ANTÓNIO BERNARDO DANIEL MARTINS2 O Brasil é um país com grande diversidade de recursos e que poderia ser uma potência global. Quem nunca ouviu essa frase ou pensou nisso? Sem dúvida, o Brasil é um país com enorme potencial: é a oitava maior economia do mundo, o segundo maior exportador de alimentos, o país que mais tem reservas de água potável, cerca de 12% das reservas mundiais. Mas o Brasil também ainda é um país onde um trabalhador produz, em média, apenas um quarto do que um trabalhador produz nos Estados Unidos da América (EUA). A produtivi- dade do Chile praticamente dobrou desde 1980, enquanto diversas fontes mostram que a produtividade brasileira se manteve estagnada. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1940 a 1980 a população brasileira entre 15 e 59 anos cresceu a uma taxa média de 2,87%, o que, sem dúvida, impulsionou, e muito, o crescimento econômico do país. Quando analisamos as projeções de 2020 a 2060, vemos que a população em idade ativa declinará a uma taxa média 1 O ponto de vista expresso neste artigo constitui a opinião da Roland Berger, con- sultoria que apoiou o processo de reflexão e planejamento estratégico 2018-2035 do BNDES, e não necessariamente reflete a opinião do Banco e de seus executivos. 2 Respectivamente diretor-presidente e gerente sênior da Roland Berger Brasil. de 0,44%. Essa mudança no contexto demográfico torna a es- tagnação da produtividade brasileira ainda mais preocupante. Para ter um crescimento acima de 2% a.a. de forma sus- tentada, o Brasil terá que dar grandes saltos de produtividade. As razões para a estagnação da produtividade no Brasil são muitas e os diagnósticos são diversos, mas vale destacar a baixa qualidade da educação básica, a reduzida abertura ao mercado internacional, a burocracia e a dificuldade em fazer negócios, os desafios institucionais que criam custos de transação restritivos, a falta de acesso a crédito em condições adequadas e até medidas protecionistas que desfavoreceram a concorrência e retiraram incentivos à renovação empresarial. A solução para nossos problemas é olhar para frente, bus- cando proatividade e pragmatismo na resolução de problemas. O BNDES é uma instituição sólida, comprometida com o de- senvolvimento de gerações de brasileiros e que, ao longo de anos, solidificou uma história de contribuições relevantes para o progresso nacional. Na conjuntura em que o país se encontra, vemos um espaço importante para o BNDES contribuir e, por que não, em certas ocasiões, liderar uma agenda de desen- volvimento do país que possibilite saltos de produtividade e um crescimento sustentado. São imperativos para a agenda do desenvolvimento do Brasil investimentos em infraestrutura, capital humano e inovação. O investimento brasileiro em infraestrutura é historicamente baixo e apresentou tendência decrescente nas últimas décadas. De 1971 a 1980, o Brasil investiu cerca de 5% do produto interno 1514 bruto (PIB) em infraestrutura, mas, de 2001 a 2014, o investimento foi, em média, de apenas 2,2%. Em virtude da redução do volume de investimento, o gap atual no estoque de infraestrutura é ele- vado. De acordo com um estudo3 realizado, o nível ótimo do peso do estoque de infraestrutura no PIB é de 60%, estando o patamar atual em torno de 36%. Para resolvermos esse problema, teremos que investir anualmente cerca de 5% do PIB em infraestrutura durante os próximos 15 a vinte anos. O gap de infraestrutura que temos é um gargalo de produtivi- dade e não permite que novos negócios e empresas sejam criadas. Conforme um estudo4 divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, o custo logístico do Brasil corresponde a cerca de 13% do PIB, enquanto nos EUA o mesmo custo corresponde a 8% do PIB. Outra pesquisa realizada5 aponta que a infraestrutura sanitária deficitária do Brasil resultou em um impacto negativo de US$ 10 bilhões em 2015, decorrente de mortalidade e custos econômicos relacionados a doenças. Em São Paulo, a viagem diária em transporte público dura em média 93 minutos, em Berlim, 62 minutos e em Paris, 64 minutos. Precisamos de muito mais investimentos em infraestru- tura, para os quais o BNDES será um ator fundamental no financiamento de longo prazo. Para além de financiamentos, será necessário que o BNDES apoie a estruturação de agendas, 3 FRISCHTAK, C.R.; MOURÃO, J. Uma estimativa do estoque de capital de infraestru- tura no Brasil. Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2017. 4 BARROS, M. Desafios da logística na América Latina, 2015. 5 LIXIL, WATER AID JAPAN, OXFORD ECONOMICS. The true cost of poor sanitation. Tóquio: Lixil, 2016. projetos e o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, catalisador essencial para expandir o volume de investimentos. Como mencionado anteriormente, a baixa qualidade da educação brasileira também é um enorme entrave ao aumento da produtividade. Entendemos que não há desenvolvimento sem capital humano. De acordo com dados da OCDE,6 55% da população brasileira não concluiu o ensino médio, 15% dos alunos estão fora da série adequada e 78% deles têm conhecimento básico ou insuficiente em português. Além do impacto na produtividade, a diferença entre resultados de estudantes de famílias pobres e ricas dificulta a mobilidade e intensifica a desigualdade social. Cerca de 55% dos estudantes de baixa renda no Brasil não são competentes em matemática, contra 20% dos alunos de alta renda. Apesar de o investimento por aluno no Brasil ainda ser baixo em relação à média da OCDE, a maior parte dos problemas educacionais do país tem origem na má gestão e alocação de recursos. Embora os retornos e as externalidades educacionais se concentrem nos anos iniciais, o Brasil ainda aloca apenas 34% do investimento per capita no ensino básico, diferentemente da Coreia do Sul, que aloca 65%. Diversos estudos mostram que o retorno individual de um ano adicional de educação é altíssimo no Brasil comparativamente a outros países. No caso de um estudante que conclui o ensino básico, nossa estimativa é de que a taxa de retorno esperado do investimento possa alcançar os 153%, o que não considera todas as externalidades sociais geradas. 6 OCDE – ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÓMI- CO. Education at a glance, 2015. 1716 A boa notícia é que se o Estado mantiver o investimento absoluto em educação básica, a mudança demográfica em curso fará com que o investimento per capita se aproxime dos valores alocados por estudante em outros países da OCDE. Entendemos que o BNDES pode ser um ator relevante para a melhoria da educação no país, estruturando e financiando bons exemplos de projetos educacionais, que possam ser replicados, sobretudo projetos com foco em gestão, tecnologia e inovação. A atuação do Banco deveria se dar em conjunto com o Ministério da Educação (MEC), estados e municípios e, sobre- tudo, em parceria com osetor privado, que pode acrescentar recursos, expertise e capacidade de gestão. Apostar na redução da evasão escolar no ensino médio pode antecipar parte dos resultados, tal como o investimento em qualificação profissio- nal. Esses graus mais elevados de ensino constituem atalhos importantes para treinar, capacitar e melhorar as competências da força de trabalho, impactando diretamente e de forma mais rápida os níveis de produtividade dos brasileiros já em idade ativa. Além de infraestrutura e capital humano, é chave para o desenvolvimento do país a modernização de sua estrutura pro- dutiva. O país precisa fazer a transição para uma economia mais moderna, alinhada com a quarta revolução industrial em curso. Precisamos intensificar investimentos em projetos ino- vadores, agregar mais valor a nossas cadeias produtivas, de- senvolvendo serviços eficientes, escalar médias empresas com potencial, e abrir mais a nossa economia para capitalizar os ganhos gerados com trocas comerciais entre países. O Brasil tem grande potencial tanto no agronegócio, van- tagem comparativa evidente, quanto no setor industrial. Para alavancar o potencial brasileiro, é preciso continuar explorando oportunidades atuais, mas descobrir novos atores e mercados. Por exemplo, o Brasil tem a maior reserva do mundo de grafita, mineral estratégico com grande potencial inovador. Outro exemplo é o fato de, apesar das dificuldades para abrir e gerir uma empresa no Brasil, o país ainda contar com grandes empreendedores e um middle market com enorme potencial de crescimento. É preciso criar condições para o florescimento de novos negócios, mercados e empresas, e o BNDES pode contribuir muito por meio de: ampliação do acesso a crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPME), indução da boa gestão e governança em médias empresas com potencial, apoio a pro- jetos inovadores e de alta tecnologia, e revisão das políticas de conteúdo local, favorecendo o comércio exterior e ganhos de produtividade com importação de bens e serviços. Os desafios não são pequenos, mas um país como o Brasil não pode deixar de ambicionar ser desenvolvido, e o BNDES pode dar uma grande contribuição. A hora é agora. Para apoiar a sociedade brasileira a superar esses obstáculos de desenvolvi- mento, o Banco precisa se renovar, se modernizar e adotar novas estratégias. O Plano Estratégico 2035, com o qual colaboramos, deixa o caminho aberto para consolidar-se uma ampla mudança modernizadora no BNDES. Temos a certeza de que os primeiros passos já foram dados e muitos outros ainda virão. Essa é a nossa visão. 1918 Uma agenda setorial para 2018-2035 FERNANDO PUGA LAVÍNIA BARROS DE CASTRO1 A publicação Agendas setoriais para alcance da meta da série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido” reúne duas antigas tradições do BNDES. A primeira delas é a produção de análises setoriais, que remonta à criação do Banco, em 1952.2 A segunda tradição, menos conhecida, refere-se ao uso de técnicas de cenários para planejamento estratégico, utilizadas no Banco desde meados dos anos 1980.3 Nesse livro, análises setoriais e técnicas de cenários se combinam imbuídas de um terceiro elemento: o espírito de ousadia do processo de reflexão e planejamento estratégico, em curso no Banco. De forma distinta das projeções probabilísticas, a metodologia de cenários escolhida pelo BNDES para uso em seus planejamen- tos estratégicos tem por objetivo primordial ampliar a gama de possibilidades a ser considerada pelos tomadores de decisão. São perspectivas criadas a partir da agregação de tendências e incertezas que hoje se vislumbram. Não representam, portanto, 1 Economistas do BNDES. 2 No intuito de agregar e valorizar os conhecimentos setoriais do corpo técnico do BNDES, foi criado o Comitê de Assuntos Setoriais (CAS). Desde 2006, o CAS publi- ca livros e projeções periódicas de investimento, por setor, em horizonte de quatro anos. Os livros publicados foram: Panoramas setoriais (BNDES, 2014), Panoramas se- toriais – mudanças climáticas (BNDES, 2016) e Panoramas setoriais 2030 – desafios e oportunidades para o Brasil (BNDES, 2017). As projeções são publicadas no site do Banco com o nome de “Perspectivas do Investimento”. 3 Tal prática teve início em meados dos anos 1980, sendo o cenário “Integração Com- petitiva”, de 1987, o mais conhecido. Ver Mourão (1994). o futuro mais provável, mas são plausíveis e consistentes em sua construção. Não pretendem prever o amanhã, mas fomentar a reflexão estratégica para ações preventivas contra horizontes indesejados ou propulsoras de porvir mais promissores. A expressão máxima de arrojo do planejamento em curso no Banco se reflete na própria visão: “Tornar o Brasil um país desenvolvido até 2035”. Essa frase não deve ser entendida, porém, como algo que o BNDES se julga capaz de realizar, mas como um desejo compartilhado, algo que se almeja alcançar. É, por isso, sim, uma ousadia, mas que se propõe ser coletiva. Para materializar em números o que significa ser desenvolvi- do, utilizou-se, no âmbito do planejamento estratégico, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Embora esse índice não seja suficiente para caracterizar os múltiplos aspectos do de- senvolvimento, é um indicador bastante conhecido que permite comparações internacionais. O IDH varia entre 0 (valor mínimo) e 1 (valor máximo). Acima de 0,7, os países são considerados de IDH elevado, e muito elevado, quando acima de 0,8. No relatório mais recente, com dados de 2015, o Brasil ocupa a 79ª posição do ranking, com exatamente o mesmo valor de 2014: 0,754. No cenário em que o Brasil se torna desenvolvido em 2035, considerou-se: • aumento da renda per capita (expressa em paridade de po- der de compra – PPP) de cerca de US$ 14 mil, em 2015, para cerca de US$ 25 mil – obtido por meio de uma taxa de 2120 crescimento médio da renda per capita de 2,7% ao ano e uma taxa de crescimento médio do produto interno bruto (PIB) de 3,2% ao ano;4 • aumento da expectativa de vida de 74,7 para 82 anos; • aumento da duração média de escolaridade de 7,8 para 10,5 anos; e • aumento da expectativa de escolaridade de 15,2 para 16,5 anos. Esses resultados elevariam o IDH do Brasil de 0,754 para 0,864, posicionando o país na 32ª posição do ranking global do índice, considerando os níveis atuais de IDH, publicados pelo Pnud em 2016, atingindo nível próximo ao hoje obtido pela Grécia (0,866), e acima do de Portugal (0,843). 5 O objetivo do livro é mostrar que existe uma ampla agenda setorial possível de ser implementada, que tem muito a contribuir para potencializar o crescimento da economia brasileira. Como será visto, boa parte dessa agenda consiste em medidas de fácil adoção, mas grande efeito e retornos já no curto e médio prazos. 4 O nível da renda de US$ 25.226 considera ajuste PPP de longo prazo, pela suposição de que o crescimento é puxado por saltos de produtividade. O conceito utilizado no IDH é o de renda per capita, para chegar ao valor de PIB per capita supôs-se que a proporção da renda enviada/recebida permanece a mesma, por simplificação, e considerou-se crescimento médio da população de 0,48% entre 2018-2035. 5 Como é natural supor que esses países também terão evoluído até 2035, o cenário “Brasil desenvolvido” afirma apenas que alcançaríamos em 18 anos padrões seme- lhantes aos que esses países europeus têm hoje. Se para alguns analistas esse cenário pode parecer pouco ousado, para outros é considerado otimista, já que os debates sobre o produto potencial da economia apontam taxas de crescimento do PIB em torno de 2% ao ano ou até inferiores. Ver Orair e Bacciotti (2018). Em um cenário mais ambicioso, pressupondo que os desafios re- lacionados a essa agenda vão sendo superados, mas que também acontecem iniciativas mais ambiciosas e de longo prazo, temos a perspectiva de uma verdadeira transformação da economia. Seus capítulosbuscam apontar as medidas, em cada um de seus respectivos setores, para promover o crescimento da economia brasileira no período 2018 a 2035, em três cenários: “destravar”, no qual o crescimento do PIB é, em média, de 2,8% ao ano; “potencializar”, no qual o PIB cresce, em média, 3,9% ao ano; e “transformar”, com crescimento da economia indo além dos 3,9% ao ano, com mudanças qualitativas, inclusive de bem-estar, que não são perfeitamente aferidas pelo PIB.6 O cenário de referência do BNDES, “Brasil desenvolvido em 2035” (crescimento médio do PIB de 3,2%), que serve de base para o planejamento estratégico, portanto, é um cenário intermediário em relação ao “destravar” (média de 2,8%) e ao “potencializar” (média de 3,9%) explorados no livro Visão 2035: Brasil, país desenvolvido – Agendas setoriais para alcance da meta. Isso porque, por um lado, se consideradas projeções que levam em conta o comportamento recente do país para cálculos de PIB potencial, crescer 2,8% já parece um grande desafio. Tal taxa, porém, seria insuficiente para superar o desenvolvimento nos padrões definidos pelo planejamento estratégico do Banco. Por outro lado, se o planejamento do BNDES adotasse como 6 A opção por não precisar o percentual de crescimento do PIB brasileiro no cenário de transformação deve-se à grande incerteza, entre outras, sobre qual será o impac- to das novas tecnologias na renda mundial e nos fluxos de comércio entre países. 2322 cenário-base crescer 3,9% ou acima, isso poderia ser conside- rado não factível e, portanto, a visão 2035 perderia sua força. Entretanto, como um convite ao debate e à reflexão estraté- gica, que é o intuito maior desse livro, pensar em “destravar”, “potencializar” e “transformar” permite identificar gargalos e oportunidades a serem exploradas.7 A Tabela 1 reúne os diferentes tipos de propostas setoriais apresentadas no livro de forma bastante sintética, por cenário, excluindo as duplas contagens, analisadas em cinco categorias:8 • Com impacto fiscal direto: são medidas que, em geral, implicam desoneração dos setores. Contudo, ainda que a implementação do conjunto das propostas tenda a ter efeitos negativos sobre o orçamento do governo, isso não ocorre com todas as medidas. Algumas delas podem até mesmo levar a uma melhora das contas públicas, como é o caso, dependendo da forma como for feita, da reestruturação tributária. 7 Foi com esse espírito de promover o debate que foram organizados dois seminários em março de 2018. O primeiro, no dia 5 de março de 2018, contou com membros de associações, federações e confederação da indústria nacional, de órgãos públicos com pesquisa econômica e setorial, de universidades, e de outras instituições finan- ceiras de desenvolvimento. Contou também com representantes do Ministério da Defesa e representantes dos trabalhadores. Nessa ocasião, foram recebidas críticas e sugestões que foram incorporadas à versão atual do livro. No dia 20 de março de 2018, o BNDES organizou um seminário para discutir o conteúdo do livro e melhor conhecer outras agendas que estão sendo feitas por instituições brasileiras. 8 Os setores podem apresentar: (i) mais de um tipo de proposta em cada grupo e (ii) diferentes propostas em diferentes cenários. Como resultado de (i) em cada cenário, os totais de setores nos grupos diferem da soma de setores nas propos- tas; e de (ii) os totais de setores por proposta diferem da soma de setores por pro- posta dos três cenários. Como resultado de (i) e (ii) os totais de setores em cada grupo diferem das somas de setores por proposta e por cenário. • Mudanças na regulação e ampliação das concessões: envolvem a racionalização da forma como ocorre o licenciamento ambiental, a promoção da entrada de empresas estrangeiras no setor, políticas de conteú- do local e mudanças nos marcos regulatórios e a am- pliação das concessões nos setores de infraestrutura. • Gestão pública e planejamento de longo prazo: di- fere do grupo anterior pela maior complexidade das propostas ou por envolverem maior número de insti- tuições públicas ou governos locais. Neste grupo, es- tão propostas como: apoio aos estados na elaboração de planejamento regional; formação de consórcios municipais, políticas públicas para universalização da banda larga fixa de alta qualidade e específicas para o setor de aerospaço e defesa (A&D); formação de alianças internacionais em prol dos biocombustíveis; e fortalecimento do transporte hidroviário. • Melhoria do funding: compreende desde a melhoria das linhas de crédito existentes até o desenvolvimen- to de novas fontes de financiamento. • Ações voltadas ao desenvolvimento tecnológico: abrangem as propostas destinadas ao desenvolvi- mento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). In- cluem: formação de parcerias entre universidades, instituições de ciência e tecnologia (ICT) e empresas; desenvolvimento de novas rotas tecnológicas para 2524 produção de químicos a partir da biomassa; ações de eficiência energética; implantação das redes elé- tricas inteligentes (REI) e obtenção de produtos de maior valor agregado em setores como mineração e papel e celulose. Embora as medidas divirjam quanto aos desafios à implan- tação, o número de propostas foi maior no cenário “destravar”. Isso indica a necessidade de um conjunto maior de ações setoriais com esse objetivo. Tabela 1: Tipos de propostas e número de setores com esses tipos de proposta Cenários Total Destravar Potenc. Transf. 1 Medidas com impacto fiscal direto 11 6 2 13 - Reestruturação tributária/ZPEs/ Regime automotivo 4 4 - 7 - Contingenciamento de recursos públicos 7 2 2 7 - Fiscalização 1 - - 1 2 Mudanças na regulação e ampliação das concessões 10 2 3 11 - Concessão 3 - 1 3 - Licenciamento ambiental 2 - - 2 - Conteúdo local 2 - - 2 - Regulação/Marco regulatório 6 2 3 6 (continua) (continuação) Cenários Total Destravar Potenc. Transf. 3 Capacitação de órgãos públicos e Planejamento de LP 5 3 9 12 - Política pública/Planejamento de LP - 1 3 4 - Articulação pública/Consórcio entre municípios 5 1 2 7 - Alianças internacionais - - 2 2 - Capacitação do setor público 2 3 2 4 4 Funding 7 7 2 11 - Funding 7 7 2 11 5 Ações voltadas ao desenvolvimento tecnológico 2 8 10 14 - Parcerias universidades-ICTs-empresas - 2 1 3 - Eficiência energética/Meio ambiente - - 4 4 - Desenvolvimento tecnológico: biotecnologia, IoT, REIs 1 4 6 7 - Mudança na cadeia produtiva/ Novos materiais e produtos 1 3 4 6 Fonte: Elaboração própria. Sinergias entre as agendas A implementação das agendas setoriais terá impacto nos respectivos setores, mas também nos demais. Sem pretender 2726 esgotar os conjuntos de inter-relações existentes, o Mapa 1 mostra algumas das principais relações entre os setores.9 São apresentados apenas os efeitos diretos. Por exemplo, o desenvolvimento de TICs tem forte im- pacto nos setores de: complexo agroalimentar, com avanços em IoT permitindo o acompanhamento e a análise remota das operações no campo; petróleo e gás, sendo importante, por exemplo, na construção de instalações submarinas; energia elétrica, com a implantação das REIs; mineração e metalur- gia, com o desenvolvimento de minas autônomas, com uso de caminhões, sistemas de perfuração e monitoramento de forma autônoma; bens de capital, principalmente por meio do desenvolvimento da IoT, colocando as máquinas trabalhando em rede; automotivo, com os veículos autônomos; aeroespa- ço, com processamento de dados em tempo real e aeronaves conectadas; mobilidade urbana, com o desenvolvimento de cidades inteligentes, com tecnologias que permitem melhor controle do trânsito, monitoramento de crime por vídeo e da iluminação pública; economia criativa, com a digitalização de conteúdos; e saúde, com aplicações na descentralização da saúde,monitoramento remoto de pacientes e eficiência de gestão das unidades. 9 Não se pretende esgotar as relações entre os setores. O crescimento em econo- mia criativa, por exemplo, afeta diversos setores. Dada a dificuldade em distinguir os mais afetados, não foram colocadas setas destacando a importância da econo- mia criativa para os demais setores. Mapa 1: Sinergias entre os setores Fonte: Elaboração própria. O Brasil nos três cenários A Tabela 2 exibe uma síntese das perspectivas setoriais apresentadas nos capítulos do livro.10 10 A falta de padronização nos indicadores apresentados reflete a heterogeneidade das informações setoriais disponíveis. Fornecedores de matérias-primas e insumos básic os Fornecedores de tecnologia e BK Fo rn ecedores de infraestrutura econômica e social biorrefinarias fertilizantes biotec. biotec. ferroviascompetit. fármacos biomassa RSU m .p . p / f er til iz. bioplást. polím eros m.p. do pré-sa l monitoramento remoto “d ig ita l o ilf ie ld s” m in a au tô n. IoT plataformas tecnológicas digitalização manufatura avançada veíc. autôn. “cidades inteligentes” REIs prevenção logist. carro autônomo bioc. bioc. bi og ás novos mater. equip. transp.caminhões bioco mb. biogás RSU previsib. preços da gasolina port., ferrov. ferrovias etanol bio-óleos ca m in hõ es no vo s m at er ia is maq.& eq. com petit. m .prim a bi og ás novos m ater. aço biogás TICs Química Logística Energia elétrica Mob. urbana Água e esgoto Saúde BK Automotivo Aeroespaço Economia criativa Agroalimentar P&Celulose Biocomb. RSU P&G Mineração e metalurgia 2928 Tabela 2: Desempenho brasileiro nos diferentes cenários Destravar Potenc. Transf. Crescimento do PIB - Brasil (% a.a.) 2,8 3,9 Agroalimentar - Aumento anual da produção de grãos (% a.a.) 2,2 4,0 - Aumento anual da área plantada (% a.a.) 1,6 3,6 Mineração e metalurgia - Investimento médio anual na mineração (R$ bilhão/ano) 14 18-20 - Investimento médio anual na siderurgia (R$ bilhão/ano) 9 13 - Crescimento do consumo e da produção de aço (% a.a.) 4,5-5,0 6,0-7,0 - Capacidade instalada na produção de aço (ton./ano) > 70 Petróleo e gás - Total de investimentos até 2035 [US$ bilhão (R$ bilhão de 2018)] 800 (2.600) 1.015 (3.300) - Produção de petróleo em 2035 (milhões de barris dia) 4,6 5,2 Biocombustíveis - Produção brasileira de etanol em 2035 (bilhões de litros/ano) 44 60 - Crescimento anual da produção de etanol (% a.a.) 5,0 - Aumento da capacidade instalada de etanol até 2035 (bilhões de litros/ano) 16 - Volume de investimentos até 2035 (R$ bilhão) 50 quase 600 (continua) (continuação) Destravar Potenc. Transf. Papel e celulose - Investimentos médios anuais em papel e celulose (R$ bilhão/ano) 5,6 8,0 - Crescimento médio anual da capacidade instalada em papel (% a.a.) 3,1 4,4 Química - Investimento médio anual [US$ bilhão/ano (R$ bilhão/ano de 2018)] 3,0 (10) 4,0 (13) TICs - Investimentos em infraestrutura de telecom até 2035 (R$ bilhão) 32 62 200 - Impacto no crescimento anual do PIB (p.p.) 0,06 0,12 0,37 Economia criativa - Crescimento dos segmentos de mídia e entretenimento: % a.a. [Brasil (mundo)] 4,6 (4,2) 6,6 10,5 Saúde - Investimentos em saúde (% do PIB) 0,61 - 0,75 0,75 Energia elétrica - Crescimento do consumo de energia (% a.a.) 4,2 5,5 - Total de investimentos em geração, transmissão, distribuição e REIs (R$ bilhão) 820 1.236 Logística - Investimentos anuais em logística (R$ bilhão/ano) - ferrovias 19,0 - hidrovias 3,5 - portos* 4,1 Fonte: Elaboração própria. * Não considera investimentos na manutenção da infraestrutura existente. 3130 Conclusão O objetivo do livro em questão é mostrar uma agenda de propostas setoriais, com medidas tanto para “destravar”, “poten- cializar” ou “transformar” a economia brasileira. Algumas dessas medidas têm custo fiscal. A maioria não tem. Há propostas de reestruturação tributária que podem até melhorar a arrecadação, além dos ganhos de receitas advindos do maior crescimento. As agendas envolvem também mudanças na regulação dos setores, coordenação entre instituições públicas, parcerias entre univer- sidades e ICTs, bem como cooperação com institutos de pesquisa no exterior e entrada de empresas estrangeiras. A necessidade de planejamento de longo prazo também foi enfatizada por muitos. Algumas das propostas adquirem caráter de urgência, ou- tras ameaçam o longo prazo. Caso o Brasil não dedique atenção especial a P&D, por exemplo, considera-se que todo o esforço desenvolvido para alcançar a liderança em setores com tec- nologia de ponta poderá, a longo prazo, ser comprometido. Existe também um caráter disruptivo na agenda. Há propostas que contemplam profundas mudanças nas cadeias produtivas e o desenvolvimento de novos materiais e produtos, principalmente no cenário “transformar”. Neste convite à leitura do livro, buscou-se dar um panorama geral das principais propostas apresentadas nos estudos seto- riais da publicação, agregando-as em cinco blocos: (i) medidas com impacto fiscal; (ii) mudanças na regulação; (iii) políticas públicas de longo prazo; (iv) financiamento; e (v) ações voltadas ao desenvolvimento tecnológico. As duas primeiras concentram medidas de implementação no curto prazo, com maior incidên- cia no cenário “destravar”. Questões relativas a financiamento aparecem como itens relevantes tanto no cenário “destravar” como “potencializar” com um número menor de propostas no cenário “transformar” da economia. Em contraste, a terceira e a quinta, como era de se esperar, concentram ações de prazo mais longo – cenário “transformar”. Essa combinação de medidas para destravar, potencializar e transformar os setores abre a possibilidade de obter alguns resultados mais imediatos das propostas, bem como ajudar a construir, desde já, agendas portadoras de futuros mais pro- missores. Resultados de curto prazo aumentam a reputação da agenda, o que encoraja a realização das iniciativas mais ambi- ciosas e de longo prazo, voltadas à verdadeira transformação dos setores produtivos. Foram também ressaltadas sinergias entre as propostas. Medidas que resultem em desenvolvimento da química verde, por exemplo, têm impacto em diversos setores, além de no próprio setor de química. Mesmo em setores mais tradicionais, como mineração e metalugia, vislumbra-se o desenvolvimento da produção de novos materiais que servem como insumos básicos na produção de bens por outros setores. Tais sinergias podem criar um ciclo virtuoso, facilitando a implementação das diferentes agendas setoriais. A partir dessas sinergias é possível levantar questões para políticas públicas que tenham maior alcance, colaborando para o debate sobre escolhas de prioridades. 3332 Caso as agendas propostas se materializem em ações efe- tivas, faz-se necessário ainda acompanhar a implementação das propostas. Em muitos dos estudos setoriais, os autores apresentam estimativas dos impactos das medidas sobre indi- cadores econômicos e sociais. Tais estimativas são, em geral, baseadas em estudos acadêmicos, de empresas de consultoria ou de organismos internacionais. Fornecem parâmetros para o acompanhamento e análise da efetividade da agenda, impor- tantes para correção de rotas. Só há uma certeza: o futuro é incerto. Entraves novos, não previstos, bem como novas tecnologias, capazes de potencializar e transformar os setores, sempre surgirão. Por isso, o exercício de cenários deve ser entendido como um processo permanente e contínuo, que necessita ser periodicamente revisto, a fim de incorporar novas tendências e eliminar possibilidades de futu- ros que, com o passar do tempo, se tornam menos plausíveis. Os cenários descritos no livro buscam evitar dois erros comuns: a mera projeção de tendências do passado, bem como o equívoco de transformarinstabilidades conjunturais em tendências de longo prazo, subestimando fatores de continuidade e questões estruturais. Ao contrário do que em geral se supõe, é justamente a exis- tência da incerteza em seu sentido forte o que justifica a criação de cenários. Eles não servem para prever, mas sim para basear uma atitude ativa e criativa em relação à construção de futuros mais promissores e evitar riscos que comprometam o desenvol- vimento do país, a longo prazo. Referências BNDES - BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Perspectivas do investimento 2015-2018 e panoramas setoriais. Rio de Janeiro: BNDES, 2014. ______. Panoramas setoriais: mudanças climáticas. Rio de Janeiro: BNDES, 2016. ______. Panoramas setoriais 2030 – Desafios e oportunidades para o Brasil. Rio de Janeiro, BNDES, 2017. ORAIR, R. O.; BACCIOTTI, R. R. M. Hiato do produto na economia brasileira: estimativas da IFI pela metodologia de função de produção. Instituição Fiscal Independente (IFI), jan. 2018. (Estudo Especial n. 4) 3534 Visão 2035: Brasil, país desenvolvido Agendas setoriais para o desenvolvimento [no prelo] Versão digital em www.bndes.gov.br/agendas-setoriais-2035 Organizadores Fernando Puga e Lavinia Barros de Castro PREFÁCIO Paulo Rabello de Castro INTRODUÇÃO Fernando Puga e Lavinia Barros de Castro MINERAÇÃO E METALURGIA Pedro Paulo Dias Mesquita, Guilherme Costa Pereira e Thamyris de Lima Meirellis PETRÓLEO E GÁS André Pompeo do Amaral Mendes, Cassio Adriano Nunes Teixeira e Marco Aurélio Ramalho Rocio BIOCOMBUSTÍVEIS Artur Yabe Milanez e Rafael Vizeu Mancuso COMPLEXO AGROALIMENTAR Artur Yabe Milanez e Diego Duque Guimaraes PAPEL E CELULOSE André da Hora, Leonardo Nader e Rodrigo Mendes QUÍMICA Martim Francisco de Oliveira e Silva, André Camargo Cruz e Felipe dos Santos Pereira BENS DE CAPITAL Thiago Miguez AUTOMOTIVO Gabriel Daudt e Luiz Daniel Willcox AEROESPAÇO E DEFESA Sergio Bittencourt Varella Gomes, Nelson Tucci, Joao Alfredo Barcellos, Sergio Leite Schmitt, Luiz Daniel Willcox TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Azen Alves, Rodrigo Ferreira Madeira, Maria Luiza Carneiro da Cunha, Eduardo Kaplan Barbosa e Ricardo Rivera de Sousa Lima ECONOMIA CRIATIVA Diego Nyko e Patricia Zendron SAÚDE Carla Reis de Souza Neto, Vitor Pimentel, Luciano Machado e Larissa Barbosa ENERGIA ELÉTRICA Alexandre Siciliano Esposito LOGÍSTICA Dalmo Marchetti, Edson Dalto, Guilherme Guimarães Martins e Luiza Almeida Curado MOBILIDADE URBANA Anie Gracie Noda Amicci e Carlos Henrique Reis Malburg ÁGUA E ESGOTO Luciana Xavier de Lemos Capanema e Letícia Barbosa Pimentel RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Daniela Cristina Grisa e Luciana Xavier de Lemos Capanema 3736 A visão do BNDES para 2035: agendas regionais1 SERGIO GUIMARÃES FERREIRA GUILHERME FRANCO MONTORO2 As análises constantes na publicação Agendas regionais para alcance da meta da série “Visão Brasil 2035: Brasil, um país de- senvolvido” apontam para três cenários evolutivos possíveis para a superação do desenvolvimento, denominados “destravar”, com crescimento médio de 2,8% ao ano (a.a.), “potencializar” (cresci- mento médio de 3,9% a.a.) e “transformar”, com crescimento da economia indo além dos 3,9% a.a., com mudanças qualitativas, inclusive de bem-estar, que não são perfeitamente aferidas pelo produto interno bruto (PIB).3 O cenário de destravamento estabelece um crescimento moderado, sem grandes alterações na estrutura produtiva das regiões, mas com investimentos relevantes em segmentos selecio- nados da agropecuária, indústria e serviços. A produção e a renda crescem suavemente, com os investimentos em infraestrutura reduzindo gargalos preexistentes de logística, telecomunicações, habitação, saneamento e mobilidade urbana. Percebe-se um aumento moderado da produtividade, com a utilização pontual de novas tecnologias. 1 Este artigo sintetiza a contribuição dos autores do referido livro. Agradecemos a todos eles, mas erros e omissões são, contudo, de nossa inteira responsabilidade. 2 Economistas do BNDES. 3 A opção por não precisar o percentual de crescimento do PIB brasileiro no cenário de transformação deve-se à grande incerteza, entre outras, sobre qual será o impac- to das novas tecnologias na renda mundial e nos fluxos de comércio entre países. O cenário de potencialização do crescimento vislumbra o aumento da taxa de formação de capital no país, com aumento substantivo dos investimentos das empresas e em infraestru- tura. As empresas serão capazes de explorar as oportunidades decorrentes dos avanços tecnológicos, tais como tecnologias de interconectividade, tecnologias de automação, tecnologias relacionadas à energia e biotecnologias, alterando a estrutura de produção e de geração de valor. A redução dos gargalos logísticos e a integração com as cadeias globais possibilitarão alavancar as cadeias produtivas nacionais de fornecedores industriais e de serviços. No cenário de transformação, o crescimento econômico acelerado será acompanhado pela melhora substancial da in- fraestrutura social e urbana, com expressivo avanço em edu- cação, saúde e segurança pública, mobilidade urbana e sanea- mento, reduzindo significativamente o déficit habitacional. A estrutura industrial e de serviços do Brasil aproximar-se-á da das nações mais desenvolvidas, com empresas nacionais aumentando sua participação e relevância nas cadeias globais de valor. As desigualdades de renda pessoal e regional serão reduzidas expressivamente. O crescimento médio da economia brasileira no período de 2001 a 2015 foi de 2,8% a.a. Essa taxa, porém, é insuficiente para aproximar o Brasil das economias mais desenvolvidas e muito abaixo do desempenho dos países emergentes e em desenvolvimento. Entretanto, pelo lado da economia regional verificou-se um processo de desconcentração, com crescimen- 3938 to da renda dos estados do Norte (3,96%), Nordeste (3,54%) e Centro Oeste (3,84%) acima da taxa de Sul (3,2%) e Sudeste (2,44%).4 Grande parte dessa performance foi obtida com a expansão do agronegócio e da indústria extrativa nessas re- giões, aproveitando as oportunidades decorrentes do boom de commodities, além dos efeitos positivos dos programas de transferência de renda e da política de concessão de aumentos reais ao salário mínimo. Para manter uma trajetória de convergência inter-regional de renda semelhante nas próximas décadas, será necessário identificar e aproveitar as oportunidades e potencialidades locais. Regiões menos desenvolvidas, quando são providas de melhor infraestrutura, apresentam grandes oportunidades de investimentos produtivos, os quais possibilitam saltos de produtividade e geração de emprego e renda. A visão de desenvolvimento regional do BNDES para 2035 pressupõe que o destravamento dos investimentos e a efetiva implementação dos projetos estruturantes em cada estado terão efeitos positivos não apenas no crescimento do PIB, mas também na redução das diferenças entre as regiões, nos três cenários projetados: (i) destravar; (ii) potencializar; e (iii) transformar. De forma ilustrativa, realizamos um exercício no cenário- -base de destravamento, com a volta ao crescimento médio 4 Crescimento médio entre 2003 e 2015 obtido com base nas Contas Regionais do IBGE, disponível em <https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economi- cas/contas-nacionais/>. de 2,8% a.a., de 2018 até 2035, e a manutenção da mesma dinâmica de convergência. Admitindo-se um crescimento médio de 3,5% a.a. para os estados das regiões Norte, Nor- deste e Centro-Oeste e de aproximadamente 2,5% a.a. para os estados do Sul e Sudeste, projeta-se o valor do produto regional até 2035. Nesse exercício, a participação da região Norte passaria de 5,5% para 6,2% do PIB nacional; a da região Nordeste subiria de 14,5% para 16,4%; a do Centro-Oeste, iria de 10,0% para 11,2%, enquanto no Sul ela cairia de 16,9% para 16,0%, e no Sudeste passaria de 53,2%para 50,3% do PIB brasileiro. Tabela 1: Manutenção da convergência Participação no PIB 2015 Crescimento 2018-2035 Participação no PIB 2035 Destravamento Norte 5,5% 3,5% a.a. 6,2% Nordeste 14,5% 3,5% a.a. 16,4% Centro-Oeste 10,0% 3,5% a.a. 11,2% Sudeste 53,2% 2,5% a.a. 50,3% Sul 16,9% 2,5% a.a. 16,0% Fonte: Elaboração própria com base nas Contas Regionais do IBGE, 2015. * Em consequência de arredondamentos, a soma dos números na tabela pode não ser exata. A seguir, apresentamos, para cada região, as estratégias de desenvolvimento regional que levariam a uma aceleração do crescimento do país, e a uma redução de desigualdades de renda e de bem-estar. 4140 Região Nordeste: ênfase maior em distribuição de renda A região Nordeste ocupa lugar de destaque na meta de tor- nar o Brasil um país desenvolvido, pois se constitui em um dos vetores de crescimento do país em virtude de seu potencial de consumo (27,6% da população brasileira), de recursos naturais (energia renovável) e de capital humano. Assim, estratégias de atuação coordenadas e políticas públicas de desenvolvimento regional tornam-se fundamentais para destravar, potencializar e transformar o país a partir de ações nessa região. Em função dos baixos indicadores econômicos e da in- fraestrutura atual da região, verificam-se diversas oportuni- dades de atuação com valores de investimentos relativamente baixos e altos potenciais de retorno econômico e social. Investimentos em educação, saneamento básico, infraes- trutura, mobilidade urbana, bem como na consolidação de cadeias produtivas já estabelecidas na região podem poten- cializar o crescimento econômico do Brasil, como também elevar a renda e o índice de desenvolvimento humano (IDH) do Nordeste. A Figura 1 sintetiza as estratégias para a região, repre- sentando-as em três eixos: estruturação, competição e dis- tribuição de renda. A ênfase maior é no vetor da distribuição de renda, marcado em uma caixa. Nos últimos anos, a economia do Nordeste tem passado por profundas modificações decorrentes de uma série de fatores. Investimentos estruturadores foram ou ainda estão sendo implantados na região, principalmente nas regiões metropolitanas, como: refinarias de petróleo, indústrias petroquímicas, siderúrgicas, indústrias automobilísticas, estaleiros, além da expansão e implantação de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, bem como usinas eólicas e solares. Figura 1: Universo da atuação setorial – região Nordeste Fonte: Elaboração própria. Competição Estruturação Arco de infraestruturas sociais Arco de grandes infraestru turas A rc o de e st ru tu ra s p ro dutiv as ▪ Educação/ Treinamento ▪ Cooperativas ▪ Canais de suprimento ▪ ZPEs ▪ Pesquisas aplicadas ▪ Portos ▪ Aeroportos ▪ Turismo ▪ Energia ▪ Ferrovias ▪ Rodovias vicinais ▪ Saneamento ▪ Pequenos municípios ▪ Água Distribuição de renda 4342 Para dar suporte a esse crescimento e possibilitar um con- tínuo desenvolvimento da região, fazem-se necessários novos investimentos em educação e inovação. Ainda no tocante a investimentos em infraestrutura, espera-se a execução de diversos projetos de grande porte, tais como a Ferrovia Transnordestina, a duplicação de rodo- vias federais e estaduais, a expansão de redes de gasodutos e de obras relacionadas à infraestrutura hídrica, a exemplo da integração de bacias do Rio São Francisco e da construção de adutoras para abastecimento urbano e rural. Região Norte: ênfase maior em projetos estruturantes Os desafios para o desenvolvimento da região Norte na perspectiva de 2035 são bastante complexos, sobretudo con- siderando o fato de que a região tem os menores indicadores socioeconômicos do país em praticamente todas as principais vertentes de desenvolvimento. O primeiro grande desafio é oferecer o básico em serviços públicos à população: educação, saúde, saneamento, habitação, transporte. Esse conjunto de demandas pressiona os orça- mentos das administrações públicas que são especialmente deficientes na capacidade de arrecadação, seja por dificul- dades operacionais, seja porque a base econômica da região não viabiliza uma tributação no mesmo nível das necessidades dos gastos públicos. Nesse contexto complexo, alcançar o desenvolvimento é mais do que superar os gargalos evidentes das cadeias produzidas já instaladas, sejam as mais incipientes ou as mais consolidadas. Trata-se de superar o círculo vicioso das atividades de baixa produtividade ou com baixo valor agregado. O desafio, portanto, é identificar e estimular as atividades econômicas que possibi- litem um acelerado crescimento econômico associado à maior distribuição de renda e melhor qualidade de vida. A potenciação do desenvolvimento da região Norte depen- derá de incremento de valor adicionado na cadeia da biopes- quisa e no aumento da produtividade agrícola e das atividades de pesca, atividades com efeitos importantes sobre a inclusão produtiva e, portanto, com efeitos positivos sobre a distribui- ção de renda. Por sua vez, pesados investimentos em energia e na logís- tica de distribuição de cargas terão efeito substancial sobre as empresas locais, situadas principalmente no entorno das grandes regiões metropolitanas de Belém e Manaus. Essas me- trópoles por sua vez apresentam problemas de adensamento populacional, com impactos negativos sobre a saúde pública e o saneamento básico, em que investimentos estruturantes não somente têm efeito sobre a distribuição de bem-estar, como também são promissores para o aumento da produtividade da aglomeração urbana. Investimentos em transporte urbano, em especial sobre trilhos, também contribuiria para reduzir a congestão do bem público urbano. 4544 Figura 2: Universo da atuação setorial – região Norte Fonte: Elaboração própria. Região Centro-Oeste: ênfase em estruturação A despeito do crescimento econômico e dos notáveis avan- ços observados no Centro-Oeste entre 2000 e 2010, datas em que foram realizadas pesquisas de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) no Brasil, os estados com crescimento mais acentuado, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mantiveram Competição Estruturação Arco de infraestruturas sociais Arco de grandes infraestru turas Ar co d e es tr ut ur as pr od utiv as Distribuição de renda ▪ Educação/Treinamento ▪ Recursos da floresta ▪ Biopesquisa ▪ Aeroportos ▪ Turismo ▪ Energia ▪ Ferrovias ▪ Pescado ▪ Saneamento ▪ Gestão de florestas ▪ Portos ▪ Mineração ▪ Hidrovias ▪ Gestão de fronteiras ▪ Agropecuária ▪ Saúde ▪ Pós-ZPM suas posições no ranking de estados brasileiros, denotando a não superação das desigualdades regionais. Figura 3: Universo da atuação setorial – região Centro-oeste Fonte: Elaboração própria. A Figura 3 mostra o conjunto de investimentos estruturantes da região Centro-Oeste. A integração das atividades de agricultura com a indústria pode elevar a agregação da produção de grãos, fibras e carne. Ou seja, há que se apoiar e incentivar as atividades das respectivas cadeias produtivas (foco no produto final) e não Distribuição de renda Competição Arco de infraestruturas sociais Arco de grandes infraestru turas Ar co d e es tr ut ur as pr od utiv as Estruturação ▪ Integração agricultura e indústria ▪ Cooperativas ▪ Canais de suprimento ▪ Pesquisas aplicadas ▪ Hidrovias ▪ Aeroportos ▪ Armazenagem ▪ Energia ▪ Ferrovias ▪ Rodovias vicinais ▪ Saneamento ▪ Pequenos municípios ▪ Meio ambiente▪ Projetos educacionais ▪ Rodovias ▪ Processamento produtos primários 4746 somente do agronegócio (foco na matéria-prima). A atividade de processamento de produtos primários é o caminho natural a seguir. Essa atividade já é realizada em diferentes graus nos complexos soja, milho, carne e fibras. Porém, ao se promover um aumento dos subprodutos oriundos da atividade agrope- cuária, pode-se elevar a incorporação de processos industriais em todoo sistema, concorrendo para a ampliação do leque de produtos e processos. Apoiar as atividades cooperativistas existentes em suas várias vertentes, a fim de prover e/ou racionalizar recursos, ampliar as atividades de processamento de matérias-primas, melhora a capacidade de negociação de preços dos insumos e da produção, viabiliza acesso mais barato a programas de microcrédito, portanto, tem impactos positivos sobre a dis- tribuição de renda. Região Sudeste: ênfase em maior competição Com uma estrutura produtiva forte e diversificada, a região Sudeste concentra o maior parque industrial do país, um setor de serviços que cresce em toda sua diversidade e uma agropecuária também relevante. Para manter o dinamismo econômico e a com- petitividade das empresas localizadas na região, investimentos em atualização tecnológica, qualidade e inovação serão funda- mentais não apenas para as empresas dos segmentos de alta tecnologia, como as indústrias eletroeletrônica, farmacêutica, automobilística e aeroespacial, mas também para as empresas dos demais setores. Nesse contexto, as indústrias de extração mineral, de alimentos, de papel e celulose e sucroenergética, que já são competitivas internacionalmente, poderiam ter seu crescimento potencializado por investimentos em inovação e agregação de valor. Embora o Sudeste tenha infraestrutura mais desenvolvida que a média do país, ainda apresenta diversos gargalos, assim como oportunidades. Foram mapeadas estimativas de R$ 1,85 trilhão em investimentos em telecomunicações, logística, mo- bilidade, saneamento, energia elétrica e habitação no período de 2018-2035. Espera-se que o setor privado assuma papel relevante na realização de obras de infraestrutura, por conta de restrições fiscais. A Figura 4 mostra um esquema visual do universo da atuação setorial no Sudeste do país. O arco das grandes in- fraestruturas apresenta diversos investimentos estruturantes. Chamamos a atenção, em especial, para a importância do setor de petróleo e gás (P&G) no montante dos investimen- tos a serem realizados nas próximas décadas. Por tratar-se de uma commodity, a competitividade internacional é uma condição para a existência dessa indústria e o dinamismo do setor acaba transbordando para a sua cadeia de fornecedores, com efeitos positivos para a competitividade da economia. Os avanços no arco de grandes infraestruturas, no qual o sistema de estruturas públicas propicia um ambiente mais competitivo para as empresas, como energia e logística, são fundamentais em quaisquer dos cenários de desenvolvimento para o país. 4948 Figura 4: Universo da atuação setorial – região Sudeste Fonte: Elaboração própria. Muitos desses investimentos têm efeitos diretos e indire- tos sobre todos os eixos – são, por excelência, transversais. O saneamento, por exemplo, causa dois efeitos diretos: requer investimentos relevantes em estações de tratamento de esgoto, portanto investimentos em infraestrutura, e tem impacto na distribuição de renda, na medida em que a redução de taxas de morbidade por doenças aumenta a frequência escolar das crianças e tem impactos positivos sobre a produtividade das firmas (que, Distribuição de renda Competição Estruturação Arco de infraestruturas sociais Arco de grandes infraestru turas Ar co d e es tr ut ur as pr od utiv as ▪ Ensino profissionalizante ▪ Universidades ▪ Renovação industrial ▪ Parques tecnológicos ▪ Eletrônica ▪ Turismo ▪ Energia mais barata ▪ Novos materiais ▪ Transporte de alta capacidade ▪ Saneamento ▪ Saúde ▪ Segurança ▪ Administrações municipais ▪ Resíduos sólidos ▪ Petroquímica ▪ Petróleo e gás ▪ C,T&I ▪ BK ▪ Mobilidade urbana ▪ Logística em casos extremos, sofrem com absenteísmo em decorrência de saúde pública) e, portanto, sobre sua competitividade. Região Sul: ênfase em maior competição Na dinâmica da região Sul, é indispensável realçar o pa- tamar de desenvolvimento e integração da cadeia de forne- cedores e produtores do agronegócio, com diversas empresas sólidas que ocupam todos os elos, desde fabricantes de in- sumos, máquinas e equipamentos agrícolas, até a produção, transformação e distribuição de alimentos. Isso constitui um diferencial valioso para o futuro da região, que tende a se fortalecer ainda mais nesse setor, dada a rede de suporte à atividade econômica já existente. Parques tecnológicos e institutos de pesquisa como a Empresa Brasileira de Pesqui- sa Agropecuária (Embrapa) colaboram com biotecnologia e desenvolvimento de insumos. Agências de desenvolvimento locais são parceiras para o financiamento da inovação e da produção. As cooperativas, por sua vez, facilitam a organiza- ção e integração dos produtores rurais por todo o território. Assim como o agronegócio, há outros setores com po- tencial de inserção em cadeias globais de valor, tais como o de tecnologias da informação e comunicação (TIC), o couro- -calçadista, o químico, o automobilístico e o metal-mecâni- co, em que a região possui não só vantagens comparativas, baseadas não meramente em recursos naturais, mas também competências e capacidades tecnológicas. A articulação e atuação integrada entre governos, universidades, centros 5150 de pesquisa e setor empresarial pode viabilizar a inserção internacional destes e de outros setores. Em um cenário de destravamento, são fundamentais os investimentos em infraestrutura, que geram impactos de forma transversal, propiciando ganhos de competitividade. Na região, podem-se citar as ferrovias e sua interligação com os portos. Além desses, há os investimentos em melhoria das condições das rodovias federais e estaduais e em aeroportos. Esses investimentos estão relacionados ao arco das grandes infraestruturas, conforme a Figura 5. O impacto mais relevante é nos eixos de estruturação e competição, por permitirem a melhoria do escoamento da produção da agrícola e industrial da região para exportação e para outros centros consumi- dores, além do desenvolvimento das cadeias produtivas de construção, de máquinas e equipamentos ferroviários e de operadores logísticos. Ainda no arco das grandes infraestruturas, estão incluídos os investimentos em telecomunicações, com a implantação da rede 5G, e em energia: produção de gás natural sintético voltado à provisão das termelétricas, bem como a constru- ção de novas usinas; ampliação do gasoduto Bolívia-Brasil; implantação de novos parques de geração eólica; construção de usinas hidrelétricas no rio Uruguai, em parceria com a Argentina; implantação de usinas sucroalcooleiras para a produção de açúcar, etanol e geração termelétrica. Em con- junto, a maior parte dos investimentos é voltada a energias renováveis e geram externalidades positivas, melhorando a oferta de energia e estimulando os investimentos das cadeias de fornecedores. Os efeitos dos investimentos do arco das infraestruturas produtivas sobre a distribuição de renda são menores, mas têm impacto indireto, por melhorar o fluxo de renda, de bens e de serviços. Figura 5: Universo da atuação setorial – região Sul Fonte: Elaboração própria. Distribuição de renda Estruturação ▪ Educação ▪ C,T&I ▪ Portos ▪ Rodovias ▪ Turismo ▪ Ferrovias ▪ Saneamento ▪ Mobilidade urbana ▪ Saúde ▪ Aeroportos ▪ Telecomunicações ▪ Energia ▪ Agronegócio ▪ Complexo automotivo ▪ Metal- mecânico ▪ Couro e calçados Arco de infraestruturas sociais Arco de grandes infraestru turas Ar co d e es tr ut ur as pr od utiv as Competição 5352 Visão 2035: Brasil, país desenvolvido Agendas regionais para o desenvolvimento [no prelo] Versão digital preliminar em www.bndes.gov.br/agendas-regionais-2035 Organizadores Sergio Guimarães Ferreira e Rodrigo Mendes Leal INTRODUÇÃO Sergio Guimarães Ferreira BRASIL 2035: UM OLHAR SOB A ÓTICA REGIONAL André Luis Souto Souza, Gumersindo Sueiro Lopez Júnior, Lucas Roosevelt Ferreira Linhares e Walsey de Assis Magalhães REGIÃO SUDESTE: DESAFIOSPARA UM NOVO CICLO DE DESENVOLVIMENTO Guilherme Castanho Franco Montoro, Claudia Sussekind Bird, Marco Antônio Silvestre Leite, Silvia Maria Guidolin, Fernão de Souza Vale REGIÃO SUL: ESTRATÉGIAS PARA UM CRESCIMENTO ECONÔMICO EQUILIBRADO Guilherme Castanho Franco Montoro, Claudia Sussekind Bird, Marco Antônio Silvestre Leite, Silvia Maria Guidolin, Fernão de Souza Vale REGIÃO CENTRO-OESTE: REFORÇANDO VANTAGENS COMPARATIVAS DINÂMICAS Mário Alberto Costa Miranda REGIÃO NORTE: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO ATÉ 2035 Ian Ramalho Guerriero REGIÃO NORDESTE: PROJETOS ESTRUTURANTES E INCLUSÃO PRODUTIVA Caio Cavalcanti Ramos Em conclusão, acredita-se que a viabilização das estratégias regionais é perfeitamente viável, desde que se destravem os canais pelos quais o capital busca seus melhores usos. As vanta- gens naturais de cada região, assim como os saberes específicos acumulados em cada território, consistem em um patrimônio riquíssimo cuja realização na forma de valor econômico propiciará a transformação da economia brasileira. 5554 Estamos em 2035 LAVINIA BARROS DE CASTRO1 Preâmbulo O BNDES tem longa tradição no uso de técnicas de cenários para seu planejamento. O cenário a seguir descrito não constitui o cenário de referência para o atual planejamento estratégico do BNDES, mas foi o escolhido por ser o mais disruptivo e, portanto, o mais desafiador entre três cenários apresentados nos livros da série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido”. Foram usadas técnicas comuns de descrição de cenários, não probabilísticas, que descrevem uma situação de futuro a partir de tendências e incertezas críticas que hoje se vislumbram. Utiliza-se a técnica comum de cenários, pela qual se conta uma história na perspectiva de alguém que se encontra em 2035, relatando fatos passados que levaram à situação então presente. Cenário “transformar” Estamos em 2035. Considerando os anos de 2018 a 2035 como um todo, o Brasil cresceu, em média, acima de 4,0% ao ano. O país apresentou taxas de variação do PIB, portanto, acima das 1 Economista do BNDES. Este texto resulta de um longo trabalho de elaboração de cenários do BNDES realizado entre os anos de 2014 e 2015. O texto tem por base a versão final desses trabalhos - ver Castro e Souza (2015). Uma atualização foi reali- zada com trechos do livro Agendas setoriais para alcance da meta (BNDES, 2018), da série “Visão 2035: Brasil, país desenvolvido”, adaptados para uma linguagem de cená- rios. O artigo não representa necessariamente a visão do BNDES, sendo a atualização do texto responsabilidade exclusiva da autora. taxas das “economias avançadas”, porém, abaixo das taxas veri- ficadas pelos “países emergentes e em desenvolvimento”, tendo em mente os antigos conceitos utilizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial.2 Nos últimos cinco anos, porém, temos crescido a taxas próximas à dos “emergentes”. O Brasil consolidou de forma inequívoca seu processo democrático, o que permitiu a reunião de forças em torno da construção de um projeto de desenvolvimento nacional. Política e inserção global O Brasil encontra-se hoje muito menos fragmentado po- liticamente do que há cerca de vinte anos. Foi realizada uma reforma política, com o apoio da sociedade, que se sente hoje mais representada. Com a entrada em vigor da cláusula de barreira em 2018 e a proibição do financiamento empresarial, o número de partidos existentes se reduziu gradativamente, mantendo, contudo, a pluralidade e a expressão da diversidade da sociedade. Cidadãos brasileiros participam de forma intensa dos processos de escolha e fiscalização de seus representantes. O Poder Legislativo consolidou-se como instância efetiva da construção dos consensos sociais, reduzindo-se as disputas entre os poderes e garantindo-se a governabilidade. 2 As taxas têm por base a extrapolação mais recente das projeções do FMI e do Banco Mundial. Em sua última revisão do crescimento mundial, o FMI coloca, como projeções para as economias avançadas, taxas de crescimento real do PIB de 2,3%, em 2018, e de 2,2%, em 2019. Já para as economias emergentes e em desenvolvimento, as mesmas taxas projetadas são de 4,9%, em 2018, e 5,0%, em 2019. As projeções do Banco Mun- dial são um pouco menores e se estendem um ano a mais. São elas, respectivamente: 4,5% (2018), 4,7% (2019) e 4.7% (2020). Ver FMI (2018) e Banco Mundial (2018, cap. 1, p.4). 5756 O país logrou inserção internacional mais relevante, ainda que eventuais instabilidades no cenário mundial nos coloquem em situação externa pouco confortável, ocasionalmente. O país tem hoje maior presença nos organismos que definem a governança mundial, com protagonismo nas discussões sobre sustentabilidade. O Brasil elevou sua participação nas cadeias globais e regio- nais de valor, aumentando a complexidade de suas exportações. O percentual de participação no comércio exterior, porém, continua sendo pouco expressivo, a despeito dos avanços alcançados. Nos períodos em que a liquidez internacional foi mais favorável, houve expansão, sobretudo das exportações de commodities, e acúmulo de divisas. Todavia, a diversidade da pauta de exportações aumentou, em função do revigora- mento da competitividade industrial. Isso propiciou maior capacidade de absorver eventuais choques externos, quando esses, inexoravelmente, vieram. Em setores de alto conteúdo tecnológico, houve especia- lização em nichos de mercado. Tais nichos estão relacionados, principalmente, ao atendimento da demanda dos ramos mais dinâmicos da economia, como é o caso de petróleo e gás e de alguns segmentos de máquinas e equipamentos, incluindo aviões e máquinas agrícolas. Nos setores intensivos em trabalho da indústria de transformação, houve também especialização da produção, mas por motivos diversos. O crescimento dos salários tirou competitividade de empresas que dependiam de mão de obra barata para se manterem em atividade. Como resultado, houve queda de participação desses setores na indústria. Para realocar trabalhadores, foram fundamentais os programas de requalificação, muitas vezes incentivados pelo governo. Os avanços permitidos pela prioridade da agenda da sustentabilidade possibilitaram, porém, a descoberta de múltiplos produtos e novas tecnologias derivadas, gerando novos empregos qualificados. O modelo de desenvolvimento O primeiro passo para a retomada do crescimento foi o aumento significativo da oferta de infraestrutura, suprindo ne- cessidades decorrentes da economia e do comércio, por meio da atração de investimentos privados em alta escala, inclusive capital estrangeiro. O segundo passo foi o aumento sistemático dos recursos para a inovação, ao mesmo tempo em que seu marco regulatório foi aprimorado. O uso intensivo de novas tecnologias no sistema financeiro e a priorização do apoio público ao seg- mento permitiram florescer, em termos do aumento de volume e a custos acessíveis, o crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPME). Após os anos de crise econômica, retomou-se o processo de redução da pobreza e de distribuição de renda. Uma combinação de políticas públicas universais com ações focalizadas promoveu o acesso à cidadania para milhões de brasileiros, consolidando um grande mercado de consumo de massa. Tais políticas foram seletivamente articuladas para gerar maior investimento e de- senvolvimento no país. A melhoria da distribuição de renda não apenas ampliou as dimensões do mercado interno, mas também 5958 promoveu mudanças no padrão de consumo. Para responder aos desafios e explorar as oportunidades que daí emergiram, o sis- tema produtivo doméstico passou por grandes transformações. Foram criados regimes especiais para agregação de valor e de tecnologia nas cadeias produtivas. A produção e a inovação do país foram estimuladas também por políticas de compras governamentais. A chave do processo foram a seletividade e a efetividadedas ações, que potencializaram o crescimento das taxas de investimento e da produtividade. Outro elemento im- portante da estratégia de desenvolvimento foi atrair centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de empresas estrangeiras para o país. O Brasil passou a adotar, também na indústria, estratégias de foresight, isto é, passou a acompanhar a fronteira tecnológica em diversos setores para traçar suas estratégias. A macroeconomia do período As políticas macroeconômicas nacionais foram fundamen- tais para viabilizar a elevação do crescimento, com controle da inflação. O país tem conseguido sustentar uma taxa de câmbio real efetiva competitiva, por meio dos ganhos de produtividade. Quando olhamos a média dos componentes do produto interno bruto (PIB) no período 2018-2035, o item que mais avançou foi a formação bruta de capital fixo (FBCF), ainda que, nos primeiros anos desse período, o movimento apenas compensasse a queda sofrida nos anos anteriores. A redução substancial dos juros reais básicos e dos spreads médios bancários, a ampliação de prazos para níveis compatíveis com os internacionais, os programas especiais de financiamento e constituição de garantias e, claro, o próprio crescimento econômico estimularam os investimentos. A elevação das taxas de investimento e da produtividade compensou, ao me- nos parcialmente, os efeitos negativos da mudança demográfica. O consumo das famílias também cresceu de forma expres- siva, puxado por baixos juros e pela ampliação de prazos. Quan- to ao dinamismo das exportações, embora tenha flutuado em diferentes períodos, seguindo momentos de maior ou menor expansão do crescimento mundial, avançou na direção de uma inserção mais qualificada na divisão internacional do trabalho, por meio do fortalecimento de sua capacidade inovadora e de seu protagonismo na difusão da responsabilidade socioambiental. Apesar do elevado desempenho das exportações, o crescimento econômico manteve pressão na balança comercial, pelo lado das importações. A balança de rendas e serviços segue deficitária, sendo seu principal componente as remessas de lucros e divi- dendos. Exceto pelos períodos pontuais de maior instabilidade do cenário internacional, os déficits de transações correntes têm sido financiados, em grande medida, com investimento estrangeiro direto. Na agricultura, pelo lado da oferta, a significativa ampliação do programa de regularização da propriedade da terra tornou possível melhorar o planejamento e a proposição de políticas públicas locais. Por meio da ampliação do crédito rural e da assistência técnica foi possível elevar a produtividade por hectare. Paralelamente, o uso de novas tecnologias permitiu elevar a produção de commodities agrícolas, inclusive pela incorporação de pastagens degradadas. 6160 A indústria cresceu, em média, a taxas superiores à do PIB, gerando alto valor agregado em setores com vantagens compara- tivas e competitivas dinâmicas. Os avanços proporcionados pela economia do conhecimento ampliaram o conteúdo científico e tecnológico dos setores intensivos em recursos naturais, permi- tindo ao país aproveitar as vantagens na produção de commodities para avançar na diferenciação de produtos. A ampla reforma tributária que teve início há cerca de 15 anos tornou o sistema mais simples e eficiente e também mais progressivo. Mesmo com alíquotas de imposto menores, em função do mais elevado crescimento econômico e da redução da sonegação fiscal, foi possível preservar a arrecadação. Paralela- mente, foi implementado um vasto programa de modernização da gestão pública. Este levou a ganhos de produtividade e eficácia, contribuindo para a melhoria dos serviços públicos e para a efe- tividade da política fiscal. A queda dos juros nominais associada ao maior crescimento econômico permitiu uma trajetória de queda da dívida líquida e bruta em relação ao PIB, que hoje se encontram em patamares bastante confortáveis, considerando a importante ampliação dos prazos médios verificada. A legislação trabalhista foi flexibilizada em alguns pontos, e a entrada de migrantes, especialmente os qualificados, foi incenti- vada, com reflexos no crescimento da população economicamente ativa (PEA). Apesar da taxa praticamente nula de crescimento da população em idade ativa (PIA), juntos, esses fatores criaram espaço para o financiamento da seguridade social. As questões previdenciárias, que tanto preocupavam os economistas há cerca de vinte anos, sobretudo diante do evidente envelhecimento da população, foram devidamente equacionadas. Destaques setoriais no período Nos setores em que o Brasil já exibia vantagens em relação aos concorrentes estrangeiros, como é o caso da indústria de alimentos, houve investimentos, seja para explorar as opor- tunidades de ganhos de escala (intensificação da produção agropecuária), seja na diferenciação da produção (alimentos processados com alto valor agregado). Outra frente importante foram as descobertas na área de biotecnologia, que tiveram impacto tanto no melhoramento genético vegetal e animal (por exemplo, elevando a resistência a pragas, doenças e eventos climáticos) quanto no desenvolvimento de produtos veteriná- rios, defensivos agrícolas e fertilizantes organominerais. No caso da indústria de alimentos, o maior crescimento deu-se no segmento de produtos com características funcionais (que oferecem benefícios à saúde) e maior facilidade de preparo, agregando valor. O uso mais intensivo de máquinas e equipa- mentos conectados à internet permitem o acompanhamento e análise remota das operações no campo.3 Na antiga indústria dita “tradicional” (têxtil, calçados, entre outros), que hoje muitas vezes incorpora diversas inovações, esforços de política somaram-se aos incentivos das economias de escala do mercado interno, gerados pelo próprio crescimento 3 Ver capítulo “Complexo alimentar”, em BNDES (2018). 6362 e pela melhor distribuição da renda. Esses fatores contribuíram para o fortalecimento das empresas locais e para a atração de investimentos ao país. Em alguns setores, a maior escala e o lançamento de inovações de produto e processo aumentaram a competitividade das empresas locais, abrindo espaço também para a exportação de bens e serviços. O crescimento do mercado interno tem sido robusto e acom- panhado por um deliberado esforço tecnológico próprio do país, por meio das políticas de apoio à inovação. Assim, a ampliação da classe média foi seguida por resposta da produção nacional de bens de consumo duráveis, o que tem ajudado a resistir à pressão competitiva dos países asiáticos. Além da infraestrutura para atender às demandas oriun- das da maior produção e ao mercado de consumo de massa, foram necessários grandes aportes na infraestrutura social e urbana.4 Para tanto, houve um exercício de aprimoramento permanente no planejamento urbano para a realização de investimentos em habitação popular, saneamento, drenagem e sistemas multimodais integrados de logística nas cidades. Esse esforço para a melhoria das condições de vida nas cida- des deixa, ainda, como legado, um horizonte de planejamento de longo prazo que viabiliza muitas empresas especializadas na fabricação de diversos equipamentos, nas atividades de construção e de operação da infraestrutura. Muitas delas, uma vez consolidadas no país, tendo como alvo o mercado 4 Ver capítulo “Mobilidade urbana”, em BNDES (2018). interno, já estão aproveitando oportunidades para exportar bens e serviços. Na logística, a transformação envolveu, em primeiro lugar, a elevação do papel do setor ferroviário no transporte de carga geral. Para isso foi necessária a criação de um modelo regulatório alternativo, com vistas à diversificação de cargas. No segmento hidroviário, o foco foi o fortalecimento do transporte hidroviário interior, compatibilizando a agenda do setor de transportes com a do setor elétrico. Nas rodovias, a criação de um marco regu- latório diferenciado,que passou a utilizar uma política tarifária com visão consolidada do sistema (tarifa/km) foi fundamental. No que se refere aos portos, os esforços se concentraram na reestruturação dos portos públicos. Nos aeroportos, o que fez a diferença foi o estabelecimento de uma visão integrada do setor. Os programas, ao mesmo tempo, solucionavam questões do setor de forma sustentável e exploravam a capacidade ino- vativa da indústria nacional de bens de capital. 5 O planejamento energético nacional tem propiciado um crescimento sustentado sem crises energéticas e com uso mais racional da água. Investimentos em modernização das redes (redes elétricas inteligentes, por exemplo) atingiram sua forma plena já em 2030, o que compensou os efeitos de aumento do consumo pela elevação da renda real das famí- lias.6 A estratégia também envolveu uma ampla recuperação de mananciais hidrográficos. 5 Ver capítulo “Logística”, em BNDES (2018). 6 Ver capítulo “Energia elétrica”, em BNDES (2018). 6564 A transformação do setor de petróleo e gás (P&G) teve por mote a inovação. Esta ocorreu tanto de forma incremental, na direção sistemática de redução dos custos (otimizações de processo, uso de tecnologia digital, melhorias em materiais, entre outras), quanto por inovações mais disruptivas. Aqui o maior exemplo foi a instalação de fábricas submarinas. O Brasil também aperfeiçoou sua tecnologia de perfuração, por meio do monitoramento em tempo real e do entendimen- to detalhado dos reservatórios e de sua geologia, a partir de modelagens e simulações 3D. Não seria possível contar a história de P&G no Brasil, porém, sem destacar os esforços relacionados à promoção da sustentabilidade ambiental e eficiência energética. São exemplos de sucesso a captura e reinjeção de CO2 nos poços, a utilização da oxicombustão, viabilizando a captura do CO2 para ser vendido a outras in- dústrias, entre outras tecnologias.7 No setor de infraestrutura de telecomunicações, o país viveu uma verdadeira transformação. Hoje, a penetração de banda larga no país alcança 90% dos domicílios, com internet de alta qualidade e velocidade. Para alcançar a quase universa- lização dos serviços, foram necessários estímulos, sobretudo para que as empresas de telecomunicações investissem em regiões pouco atrativas financeiramente, seja por meio de recursos diretos, seja por meio de financiamentos subsidia- dos. A transformação digital da economia passou também por mudanças na educação, desde o ensino básico até iniciativas 7 Ver capítulo “Petróleo e gás”, em BNDES (2018). em universidades e escolas técnicas, como na formação con- tinuada de profissionais nas empresas.8 A transformação da economia perpassou também a pro- dução e comercialização de insumos básicos. No setor de celulose, o destaque da agenda foi o desenvolvimento e a aplicação do conceito de biorrefinarias integradas às plantas de produção de celulose, de modo a criar novos produtos e processos. Estes permitiram ao Brasil manter sua competi- tividade com o passar dos anos. No elo posterior da cadeia, segmento de papéis, avanços significativos foram feitos a partir da integração de novas máquinas de papel às grandes fábricas de celulose já existentes.9 Na química, a transformação se deu a partir do desen- volvimento de novas rotas biotecnológicas para produção, a partir de fontes renováveis de matérias-primas, principalmente na produção de químicos derivados de biomassas de fontes renováveis. Já no setor de mineração e metalurgia, a expansão do setor foi puxada pelo próprio desenvolvimento de cadeias produtivas de elevada tecnologia, bem como da agenda da economia de baixo carbono (por exemplo, energia eólica e solar, veículos de transporte elétricos etc.). Ambas elevaram a demanda por materiais nobres de alto desempenho, contri- buindo para o aumento dos investimentos do setor.10 8 Ver capítulos “Tecnologias da informação e comunicação” e “Economia criativa”, em BNDES (2018). 9 Ver capítulo “Papel e celulose”, em BNDES (2018). 10 Ver capítulo “Química”, em BNDES (2018). 6766 No setor de bens de capital foram mapeadas oportunida- des tecnológicas em diversos segmentos industriais, tendo por principais bases de conhecimento para o Brasil a biotecnologia, eletrônica e ótica avançadas e a manufatura padrão e avançada. Os setores mais demandantes desse tipo de bens de capital foram: complexo agroalimentar, saúde, petróleo e gás, e aeroespaço e defesa (A&D).11 Foram realizadas joint ventures entre universidades e em- presas brasileiras visando redesenhar e mudar a concepção de bens de capital produzidos no país. Isso permitiu não apenas atender ao mercado doméstico, como também conquistar novos mercados externos e consolidar posições na América Latina. No fim de 2010, apenas se ensaiava no mundo a revolução dos veículos elétricos, conectados e autônomos. No Brasil, a escolha foi um amplo conjunto de estímulos ao desenvolvi- mento tecnológico e à venda de veículos eficientes, bem como a constituição de empresas voltadas ao segmento de eletrôni- ca. Esforços de adequação e desenvolvimento de motores ao etanol e outros biocombustíveis permitiram aproveitar uma potencialidade brasileira, por meio da conjugação da eletro- mobilidade com biocombustíveis assumindo o papel de gerar energia para a bateria elétrica. Paralelamente, o crescimento econômico e a distribuição de renda puxaram o setor automo- bilístico. No setor de A&D, a agenda de transformação incluiu elevação dos investimentos em P&D, encomendas das Forças Armadas, incentivos fiscais simplificados e implantação de um 11 Ver capítulos “Bens de capital” e “Biocombustíveis”, em BNDES (2018). programa de plataformas tecnológicas para atrair e alavancar novos investimentos no segmento de jatos (executivos ou co- merciais) e aeronaves leves.12 Avanços na sustentabilidade ambiental O Brasil logrou reduzir substancialmente as emissões de gases de efeito estufa (GEE), em especial no que diz respei- to ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, de acordo com os compromissos internacionais assumidos. Para isso, foram adotadas medidas de incremento na produtividade da pecuária, com métodos mais intensivos e de integração com a agropecuária. O país iniciou amplo plano de investimentos em logística, sobretudo em ferrovias, e em mobilidade urbana. Com isso, as emissões de GEE relativas a veículos automotores apresentaram uma inflexão e mostram tendência de queda para os próximos anos. Em um movimento estratégico importante, o Brasil desenvolveu competências em tecnologias limpas, com base em uma política energética pensada em conjunto com a política industrial, de modo a desenvolver a cadeia produtiva das energias renováveis. O país conseguiu resolver travas institucionais e regulatórias no saneamento básico. Mas a verdadeira transformação decorreu de estabelecer o saneamento como prioridade nos gastos públi- cos e nas atividades de planejamento. Isso possibilitou avançar muito nessa questão.13 Os níveis de cobertura de água atingiram 12 Ver capítulos “Indústria automotiva” e “Aeroespaço e defesa”, em BNDES (2018). 13 Ver capítulo “Água e esgoto”, em BNDES (2018). 6968 90% e os de esgoto, 80%. Nos resíduos sólidos, os avanços na coleta seletiva combinada com logística reversa e atividades de aproveitamento econômico do resíduo foram fundamentais para mudar o cenário. Entretanto, a verdadeira transformação foi comportamental, o que envolveu educação ambiental, pro- gramas de conscientização, adaptação de processos produtivos e responsabilização individual. Nos primeiros anos, incentivos públicos foram importantes, mas se tornaram gradativamente menos relevantes, perante mudanças de hábitos. 14 Avanços na educação e economia do conhecimento O aumento dos recursos per capita para a educação básica, associado à queda do número de crianças e jovens; a melhora da qualidade da educação; os programas para redução da taxa de evasão do ensino médiolevaram a um significativo incremento da qualificação do trabalhador, reduzindo o hiato de competi- tividade em segmentos de mais elevado conteúdo técnico, em relação aos competidores do país. Dentre as diversas mudanças, destacam-se: nova política de remuneração dos professores, atraindo profissionais; revisão dos sistemas de avaliação para desenhar incentivos e monitorar resultados; ampliação da oferta de educação pré-escolar e infantil de qualidade; a ampliação do ensino a distância de qualidade e a integração entre o ensino técnico e o superior. A resultante dessas forças é um sistema com mais equidade e melhor desempenho. 14 Ver capítulo “Resíduos sólidos”, em BNDES (2018). O fluxo de entrantes no mercado de trabalho com desempenho abaixo do mínimo caiu drasticamente, reduzindo o chamado “ciclo intergeracional de pobreza”. O Brasil também se utilizou estrategicamente do poder catalisador de desenvolvimento industrial e tecnológico associado ao pré-sal, à biodiversidade, entre outros, para alavancar inves- timentos em P&D e em conhecimentos e competências. Estes, por sua vez, criaram efeitos para outros segmentos, alavancan- do o desenvolvimento industrial e de serviços. Foram também importantes os investimentos em recursos de alto desempenho, como os esforços para o aumento no número de diplomas em ciências e em engenharia, bem como para a elevação de mes- tres e doutores nessas categorias. Outro vetor relevante foi o aumento da oferta de cursos técnicos de curta duração. Diante das mudanças provocadas pelas tecnologias no mundo do tra- balho, foi necessário criar o conceito de “educação continuada” e programas para requalificar trabalhadores. A política de inovação incluiu ações para difundir conheci- mentos e facilitar a fluidez de informações entre universidades, institutos de pesquisa e órgãos de governo. As atividades de pesquisa e a produção científica e tecnológica mudaram de patamar, o que se verifica no aumento do número de trabalhos publicados em revistas qualificadas e na frequência com que são citados, mas, principalmente, no expressivo crescimento das patentes.15 15 Extrapolação realizada com base em temas discutidos em Inae (2013). 7170 Desafios da saúde foram enfrentados O envelhecimento da população trouxe profundos desafios ao Brasil, na medida em que se ampliou a incidência de doenças não transmissíveis, de caráter crônico-degenerativo. Em contraposi- ção, houve redução do peso relativo das doenças transmissíveis ou infecciosas. Esse processo ampliou pressões de custo para o sistema. Em contrapartida, os avanços da biotecnologia (lato sensu) e as tecnologias da informação e comunicação (TIC) con- tribuíram para o desenvolvimento de novos produtos e soluções de prevenção, diagnóstico e tratamento. Competências adquiridas pela indústria farmacêutica nacional a partir de inovações incrementais constituíram um passo funda- mental para inovações mais disruptivas de novas moléculas sinté- ticas e biológicas, tornando a indústria farmacêutica brasileira mais competitiva e, de fato, intensiva em conhecimento. Houve difusão de medicina de precisão, a partir da redução do custo do sequenciamento do genoma. Na indústria farmacêutica, o Brasil conseguiu estabelecer sua liderança em algumas indica- ções terapêuticas de alto impacto social, com a consolidação da estratégia de internalização da biotecnologia na indústria brasileira e com o suporte financeiro à inovação radical forne- cido por fundos de patrimônio estável. No sistema de saúde brasileiro, a transformação passou por temas-chave. A incorporação do protocolo eletrônico em todos os níveis é um desses temas. A digitalização e a conectividade contribuíram para melhorar a gestão do sistema. O sistema se tornou mais efetivo nos resultados para os pacientes, com a mudança do mecanismo de pagamentos para o modelo fee for value, em contraposição ao antigo fee for service.16 Destaque na segurança A situação da segurança pública há cerca de vinte anos era alarmante, com o Brasil sendo classificado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como país de “violência epidêmica”. Um passo importante para as conquistas obtidas foi a criação de uma base de informações nacional, padronizada e integrada, com maior uso de análises por entes de segurança para elaboração/revisão de políticas. Promoveu-se maior integração entre as polícias civil e militar, com melhor alinhamento de planejamentos e ações para identificação e investigação dos crimes. Contribuíram também para a transformação das polícias as melhorias engendradas na gestão e eficiência operacional, bem como uma transformação da cultura das corporações policiais. De forma semelhante, o uso de indicado- res de tempo de resolução de processos, de taxas de condenação, entre outros, contribuíram para melhorar a eficiência no Judiciário. Amplas revisões dos processos foram também importantes para elevar as taxas de elucidação de crimes. A melhora da gestão do sistema carcerário foi enfatizada, com ações voltadas para reduzir as taxas de reincidência e combater a superlotação dos presídios.17 A articulação, em nível nacional, entre os agentes de segurança para operação integrada, prevenção criminal e justiça criminal foi uma das estratégias perseguidas. É consensual entre os especialistas 16 Ver capítulo “Saúde”, em BNDES (2018). 17 Este parágrafo baseia-se no Relatório Brasil 2030 (CLP, 2014). 7372 que ações como iluminação pública, policiamento ostensivo, a co- locação da questão da “drogadição” como objeto de saúde pública e outras ações semelhantes tiveram sua importância. Mas, nada disso teria sido suficiente se não fosse o amplo trabalho de redução das vulnerabilidades sociais, por meio de programas sociais articulados com estratégias de prevenção à violência.18 Transformações e ampliação do financiamento O Brasil não ficou para trás no uso de novas tecnologias para financiamento. Também aqui se verificou um movimento na di- reção de desintermediação financeira, pela proliferação do uso de plataformas descentralizadas (P2P) e de crowdfunding para investimentos de cunho social e cultural, bem como o desen- volvimento de novos sistemas de pagamentos. Como nos países mais avançados, também se consolidou a tendência de redução de agências bancárias físicas, movimento de “empoderamento do cliente”, seguros compartilhados, uso de inteligência artificial para aconselhamento de aplicações de gestão de portfólio, uso da tec- nologia blockchain (dentro do conceito de internet da confiança), entre outros. Todos esses fatores aumentaram a competição per se entre bancos e instituições financeiras no país, possibilitando a redução dos spreads. A essa se somou a pressão adicional exercida por novos bancos com novas técnicas e abordagens. Houve aprofundamento do mercado de capitais. As emissões primárias de ações se multiplicaram, ao mesmo tempo em que 18 Este parágrafo baseia-se em ficha elaborada em parceria com a Associação Bra- sileira de Desenvolvimento Econômico (ABDE), em workshop realizado nos dia 23 de fevereiro de 2018. O trabalho encontra-se em fase final de conclusão e pretende ser uma publicação realizada em parceria com os membros da referida associação. aumentou o volume transacionado no mercado secundário. O mercado de debêntures atrai investidores pessoas físicas, interessados em retornos mais elevados, dada a baixa taxa de juros real de curto prazo. Os baixos juros e o envelhecimento da população também levaram os fundos de pensão a mudar a composição de seus portfólios. Investidores institucionais são os principais demandantes dos produtos de securitização de ativos criados pelos bancos públicos. No que se refere à infraestrutura, o governo compartilha riscos com o setor privado, tanto por meio de instrumentos de financiamento (via consórcios de bancos) como pelo compartilha- mento de garantias e seguros. Esquemas de garantias solidárias e de cotas subordinadas(aquelas que sofrem as primeiras perdas), oferecidas pelos bancos públicos, ajudaram a desenvolver a oferta de financiamento para projetos de maior prazo. O investimento greenfield, porém, ainda necessita de elevada participação do setor público, seja sob a forma de financiamento, seja na forma de garantias. A maior estabilidade da economia brasileira reduziu custos e alongou instrumentos de hedge. Investimentos industriais intensivos em capital e segmentos de maior risco (inovação, MPME etc.) e que demandam maior prazo continuam a ser atendidos pelo setor público, embora não exclusivamente. Em diversos casos, bancos públicos ala- vancam recursos privados para financiamento à inovação, por meio de participação em fundos de private equity. De forma geral, aumentou a oferta (pública e privada) de garantias e seguros. Na exportação, riscos políticos e cambiais de longo prazo, que são exógenos ao setor privado e comuns a essas 74 atividades, continuam a ser parcial ou totalmente cobertos pelo governo. Para riscos comerciais, entretanto, prevalece a oferta privada, exceto em casos de prazo muito longo. Por fim, mas não menos importante, numerosos esforços institucionais de aproximação foram feitos entre o sistema nacional de fomento para promover o desenvolvimento re- gional e viabilizar projetos-chave para o desenvolvimento. Referências BANCO MUNDIAL. Global economic prospects - groad-based upturn, but for how long? Global Economic Prospects, jan. 2018. BNDES – BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Visão 2035: Brasil, país desenvolvido. Agendas setoriais para alcance da meta. Rio de Janeiro: BNDES, 2018. [no prelo] CASTRO, L.; SOUZA, F. E: Cenários mundo-Brasil 2030 – insumos para o planejamento estratégico do BNDES. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, n. 44, p. 399-457, dez. 2015. Disponível em: <https://web.bndes.gov.br/ bib/jspui/bitstream/1408/7104/1/RB%2044%20Cen%C3%A1rios%20 mundo_Brasil%202030_P.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2018. CLP – CENTRO DE LIDERANÇA PÚBLICA Sumário executivo – estudo visão Brasil 2030. 5 set. 2014. Disponível em: <http:// www.clp.org.br/Show/Sumario-Executivo---Estudo-Visao-Brasil- 2030?=lfUQif+DI0T5pEiX9DzmIQ==>. Acesso em: 11 mar. 2018. FUNDO MONETÁRIO NACIONAL. World Economic Outlook-Update. 2018. Disponível em: <http://www.imf.org/en/Publications/WEO/ Issues/2018/01/11/world-economic-outlook-update-january-2018>. Acesso em: 18 de jan. de 2018. INAE – INSTITUTO NACIONAL DE ALTOS ESTUDOS. Rumo ao Brasil desenvolvido (em duas ou três décadas). 2013. Disponível em: <http:// www.inae.org.br/livro/rumo-ao-brasil-desenvolvido-em-duas-ou-tres- decadas/>. Acesso em: 11 mar. 2018. 76 Editado pelo Departamento de Relacionamento Público Março de 2018