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<p>2</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL</p><p>DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS</p><p>FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS</p><p>CICLOS CURTOS E ONDAS LONGAS EM UM SISTEMA ASSIMÉTRICO:</p><p>O impacto no desenvolvimento econômico das economias periféricas</p><p>Palavras-chave: Desenvolvimento Econômico, Ciclos Econômicos, Assimetria Monetária, Assimetria Financeira, Países Periféricos.</p><p>JEL: E32, F02, F43, O23</p><p>LUIZA PECIS VALENTI</p><p>2024</p><p>SUMÁRIO</p><p>1. INTRODUÇÃO	2</p><p>1.1	PROBLEMA DE PESQUISA	4</p><p>1.2	OBJETIVOS E HIPÓTESES	4</p><p>1.3	JUSTIFICATIVA	5</p><p>2. REVISÃO DE LITERATURA	6</p><p>3. METODOLOGIA	16</p><p>4. ESQUEMA PROVISÓRIO	18</p><p>5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO	19</p><p>6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	19</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A análise dos ciclos econômicos é fundamental para compreender as flutuações sistêmicas da dinâmica capitalista (KONDRATIEFF, 1935; SCHUMPETER, 1989). Ao longo do tempo, diversos esforços teóricos resultaram em distintas categorizações temporais desses ciclos, incluindo os de curto prazo (como os ciclos de Kitchin, os modelos de Schumpeter e de Kalecki), os de médio prazo (como os ciclos de Juglar) e os de longo prazo (como os ciclos de Kondratieff) (KOROTAYEV; TSIREL, 2010).</p><p>A teoria dos ciclos longos, também conhecidos como "ondas de Kondratieff”, sugere a existência de padrões cíclicos que se manifestam em períodos de aproximadamente 50 a 60 anos e estão associados a mudanças tecnológicas e inovações impulsionadoras de transformações econômicas. Cada ciclo possui três momentos principais: a fase de expansão, a fase de estagnação e a fase de desaceleração. Esta última fase corresponde ao momento em que ocorrem instabilidades e crises econômicas (KONDRATIEFF, 1935).</p><p>Devido à sua amplitude temporal, as ondas de Kondratieff se apresentam como uma ferramenta analítica potencial para compreender as complexidades e os padrões subjacentes às trajetórias econômicas a longo prazo. Entretanto, embora os ciclos sejam uma característica comum em todas as economias globais, a capacidade de resposta às oscilações da trajetória econômica varia de acordo com circunstâncias nacionais únicas, com a intenção dos formuladores de políticas econômicas e com a forma de integração dos países no Sistema Monetário e Financeiro Internacional (SMFI) (FURTADO, 1999; PERES, 2019).</p><p>Enfatizando também a importância das políticas governamentais e das relações de poder na determinação dos ciclos econômicos, Kalecki desenvolveu a ideia do "ciclo de negócios político” (KALECKI, 1954). Ele argumentava que as políticas de demanda do governo, como gastos públicos e políticas fiscais, desempenham um papel crucial na determinação do nível de atividade econômica em um determinado período.</p><p>Enquanto Kalecki destaca o papel das políticas de demanda do governo na regulação da atividade econômica em períodos mais curtos, as ondas de Kondratieff oferecem uma visão mais ampla, sugerindo padrões cíclicos de longo prazo impulsionados por inovações tecnológicas e mudanças estruturais. Essas duas perspectivas complementares revelam a complexidade das relações entre o Estado, as políticas econômicas e os ciclos econômicos, sugerindo a importância de considerar tanto as etapas do ciclo curto quanto do ciclo longo para a análise da trajetória de desenvolvimento econômico.</p><p>Além disso, os diferentes graus e modelos de inserção na economia global resultam em consequências desiguais para os países (PERES, 2019). A dualidade centro-periferia, intrinsecamente vinculada à tradição estruturalista latino-americana (PREBISCH, 1949), evidencia as diferenças entre os países localizados no centro do sistema e aqueles que se encontram inseridos de forma periférica: para esse último grupo, os desafios econômicos são ainda mais acentuados. A dependência das nações periféricas em relação aos fluxos de capital, a vulnerabilidade de suas moedas diante dos mercados internacionais e a limitada capacidade de acumulação de reservas são exemplos tangíveis de assimetrias no SMFI.</p><p>O estudo das assimetrias ganhou maior destaque dentro da abordagem heterodoxa, principalmente em um contexto de intensa globalização financeira e pós-colapso do sistema de Bretton Woods (MIRANDA, 1998). Prates destaca os dois tipos principais de assimetrias que resultam em maiores desafios para as economias periféricas: a assimetria monetária, que se relaciona à conversibilidade internacional das moedas, e a assimetria financeira, que diz respeito aos fluxos de capitais (PRATES, 2005). Essas assimetrias exercem um impacto direto no poder de agência de cada país e, por isso, a capacidade de minimizar os graus de vulnerabilidade a partir da melhora de indicadores monetários e financeiro influencia na superação da fase do ciclo em que a atividade econômica atinge o seu nível mais baixo.</p><p>Levando isso em consideração, a pesquisa parte da hipótese de que, apesar dos ciclos econômicos possuírem uma natureza estrutural global e resultarem em maiores desafios para os países periféricos, a intencionalidade e a implementação de ações para mitigar as assimetrias monetárias e financeiras impacta na trajetória de desenvolvimento econômico de longo prazo das economias. Isso se dá na medida que a duração e a intensidade do nível mais baixo de atividade econômica do ciclo curto impactam diretamente o tempo para atingir e a capacidade de sustentar um novo período de expansão no ciclo longo.</p><p>Para identificar a capacidade de superação da fase mais baixa do ciclo curto, serão utilizados indicadores econômicos de uma amostra de países que servem como proxys das competências necessárias para enfrentar as assimetrias monetárias e financeiras do SMFI. A relação dívida/PIB, o nível de reservas internacionais e as taxas de juros de curto e longo prazo são alguns exemplos. Uma vez que o objetivo final é analisar os impactos no desenvolvimento econômico, a pesquisa leva em consideração o tempo médio de duração de um ciclo longo de Kondratieff e copara indicadores da década de 1970 (t1) e 2020 (t2) das seguintes economias: África do Sul, Argentina, Brasil, China, Índia e Rússia. A amostra foi escolhida considerando que todos apresentavam níveis de desenvolvimento econômico semelhantes em t1, porém essa situação se modificou consideravelmente em t2 (NASSIF, 2023).</p><p>Ao integrar a teoria estruturalista com as teorias de desenvolvimento e de ciclos econômicos, tanto de curto quanto de longo prazo, a pesquisa busca identificar padrões recorrentes que possam enriquecer a compreensão das diferentes dinâmicas econômicas dos países periféricos. Além disso, pretende-se destacar medidas econômicas com potencial para mitigar as assimetrias monetárias e financeiras e, consequentemente, promover um desenvolvimento econômico mais intenso e sustentável, impulsionando uma abordagem mais equitativa e resiliente das trajetórias de desenvolvimento dessas economias.</p><p>1.1 PROBLEMA DE PESQUISA</p><p>Como a capacidade de ação[footnoteRef:1] das economias com maiores restrições de operar no sistema, devido a assimetrias monetárias e financeiras do SMFI, impacta na reversão da fase mais baixa do ciclo curto e, consequentemente, na fase de expansão do ciclo longo, afetando a trajetória de desenvolvimento econômico? [1: Em essência, a capacidade de ação está relacionada à capacidade dos países de tomar decisões e implementar políticas que possam afetar sua trajetória econômica e sua capacidade de enfrentar desafios do sistema, como as assimetrias monetárias e financeiras.</p><p>]</p><p>1.2 OBJETIVOS E HIPÓTESES</p><p>O projeto tem como objetivo estabelecer uma relação entre assimetrias monetárias e financeiras, ciclos econômicos e desenvolvimento econômico. Para tal, busca-se (i) analisar como as assimetrias monetárias e financeiras impactam na capacidade de ação das economias periféricas, (ii) compreender como a implementação de políticas específicas pode acelerar a duração e mitigar a gravidade da fase mais baixa da atividade econômica no ciclo curto, (iii) estabelecer uma relação entre ciclo curto e ciclo longo e (iv) examinar como o tempo e a duração das fases</p><p>do ciclo longo impactam na trajetória de desenvolvimento econômico.</p><p>Hipóteses:</p><p>1. Economias periféricas, por serem mais afetadas pelas assimetrias monetárias e financeiras do SMFI, tendem a ter uma capacidade de ação mais limitada em comparação com as economias centrais;</p><p>2. Apesar das assimetrias e das contingências globais que influenciam o desenvolvimento econômico das economias periféricas, há oportunidades para adotar medidas que reduzam tanto a duração quanto a intensidade da fase mais baixa do ciclo curto. A intencionalidade dos formuladores de políticas emerge como uma variável-chave para conceber e aplicar medidas que atenuem os efeitos das assimetrias monetárias e financeiras;</p><p>3. Os ciclos curtos podem funcionar como um mecanismo de ajuste dentro dos ciclos longos de Kondratieff, moderando os efeitos das flutuações econômicas de curto prazo sobre a trajetória de desenvolvimento econômico de longo prazo;</p><p>4. A implementação de políticas econômicas voltadas para mitigar as assimetrias monetárias e financeiras pode influenciar a superação da fase mais baixa do ciclo curto, acelerando a chegada à fase de expansão do ciclo longo e promovendo uma maior estabilidade e sustentabilidade na trajetória de desenvolvimento econômico das economias periféricas.</p><p>1.3 JUSTIFICATIVA</p><p>Este projeto de pesquisa tem como intuito trazer contribuições tanto para o conhecimento científico quanto para as opções nacionais de desenvolvimento econômico, ao abordar a capacidade dos países periféricos em superar as fases de desaceleração dos ciclos econômicos e seu subsequente impacto no desenvolvimento econômico a longo prazo. Ao explorar indicadores-chave que evidenciem essa capacidade, o estudo oferece uma análise de um dos determinantes do desenvolvimento econômico, contribuindo para o debate sobre estratégias eficazes de recuperação e crescimento sustentado.</p><p>Somado a isso, o estudo das assimetrias monetárias e financeiras do SMFI acrescenta uma dimensão crítica sobre relações entre as economias contemporâneas, elucidando as questões estruturais e sistêmicas que permeiam a economia global. Além disso, a combinação da teoria estruturalista latino-americana, da teoria de desenvolvimento econômico neoschumpeteriana, do modelo de ciclos curtos de Kalecki e da teoria das ondas longas de Kondratieff oferece uma perspectiva original e abrangente para a análise das trajetórias de desenvolvimento econômico. Adicionalmente a aplicações teóricas, os achados possibilitam que sejam detectados padrões de resposta nacionais e que sejam propostas medidas a serem adotadas pelas economias periféricas a fim de mitigar a duração e a intensidade de períodos de desaceleração econômica futuros.</p><p>A escolha do objeto de pesquisa revela-se como um desdobramento natural da jornada acadêmica e científica da proponente. Ao longo dos anos, a imersão na área de ciências econômicas fez com que os desafios enfrentados pelos países periféricos se tornassem um objeto de interesse, assim como formas de mitigar os efeitos das vulnerabilidades inerentes à posição menos privilegiada no SMFI. A temática central deste projeto ressoa diretamente com as inquietações decorrentes de estudos elaborados durante o período de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A possibilidade de relacionar assimetrias monetárias e financeiras com a teoria do desenvolvimento constitui uma continuidade nessa trajetória de pesquisa e representa um potencial de contribuição na fronteira do conhecimento do campo de ciências econômicas.</p><p>O objeto de pesquisa está consonância com as linhas de pesquisa da Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da UFRGS e, principalmente, do Departamento de Economia e Relações Internacionais. O conteúdo abordado pode ter diferentes aplicações, tanto em termos de pesquisa, extensão e ensino. No âmbito de ensino, as atividades desenvolvidas a partir desse projeto serão relevantes para disciplinas de graduação e de pós-graduação – como Teorias do Desenvolvimento Econômico (ECOP 74). No âmbito da pesquisa, o tema converge com os assuntos trabalhados em grupos de pesquisa como o NEPPAS e com o projeto “Países Emergentes no Sistema Monetário e Financeiro Internacional”, possibilitando o desenvolvimento de artigos a serem submetidos a revistas científicas. Em termos de extensão, a parceria com instituições internacionais, como CEPAL e FMI, e o diálogo com Think Tanks, como BW Project, cria uma ponte entre a universidade e a sociedade. Essa comunicação para além do ambiente universitário visa impactar a formação dos alunos, aumentando a representatividade de profissionais oriundos de países periféricos em cargos de liderança.</p><p>Considerando o aparato teórico estruturalista latino-americano e tendo em vista o potencial caráter internacional da pesquisa, poderá ser estimulada uma aproximação com universidades de diferentes países, principalmente daqueles periféricos. A articulação com parceiros internacionais terá como objetivo a obtenção de dados relevantes para o trabalho, além de possibilitar o acesso a fontes internacionais de recursos (como a Research Grants da Latin American Studies Association) e a busca pela excelência da pesquisa a nível internacional.</p><p>2. REVISÃO DE LITERATURA</p><p>Considerando que a pesquisa integra as teorias de desenvolvimento econômico, ciclos econômicos e assimetrias de poder econômico, tanto monetárias quanto financeiras, busca-se respaldo em distintos arcabouços teóricos para compreender as relações entre esses elementos. A investigação se baseia na concepção desenvolvimentista sobre desenvolvimento econômico e, para a análise dos ciclos econômicos e das transformações estruturais, utiliza-se a teoria das ondas de Kondratieff, o modelo de ciclo político de negócios desenvolvido por Kalecki e a literatura neoschumpeteriana. Além disso, incorpora-se a dualidade centro-periferia da tradição estruturalista latino-americana para analisar as assimetrias monetárias e financeiras do SMFI, assim como a discussão presente na Economia Política Internacional para interpretar o conceito de poder. A literatura pertinente a cada um dos componentes é detalhada a seguir:</p><p>1. Desenvolvimento Econômico:</p><p>Diante da complexidade inerente às definições do conceito de desenvolvimento econômico, a pesquisa adota como ponto de partida o consenso smithiano que o caracteriza como o resultado do aumento sustentado da produtividade do trabalho ao longo do tempo, sendo a acumulação de capital e o progresso tecnológico as forças propulsoras desse processo evolutivo (NASSIF, 2023; SMITH, 1983). Esse entendimento é complementado por diversas abordagens teóricas que examinam o papel das instituições, da geografia e das políticas econômicas na determinação do desenvolvimento (ACEMOGLU; ROBINSON, 2012; RODRIK, 2007). Segundo Rodrik (2007, p. 12), “as instituições, que determinam os incentivos econômicos, são fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentado”.</p><p>No contexto da abordagem desenvolvimentista, rejeita-se a causalidade oferta-demanda presente na Lei de Say, enfatizando a necessidade de intervenção estatal para fomentar a industrialização como catalisador fundamental para o desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1989; JOHNSON, 1982). Essa perspectiva, alinhada com as teorias de Marx, Keynes e Schumpeter, ressalta a importância de um ambiente institucional que suporte a inovação e a mudança estrutural (KEYNES, 1936; MARX, 1867). Como destacou Keynes (1936, p. 378), “o governo deve desempenhar um papel ativo na promoção da demanda agregada para garantir o pleno emprego e o crescimento econômico”.</p><p>Além disso, assume-se o sistema capitalista como dinâmico, suscetível a desequilíbrios contínuos e a mudanças estruturais. O desenvolvimento é concebido como um processo intrinsecamente ligado a alterações estruturais resultantes do progresso técnico e das inovações tecnológicas, que são vistas como as principais fontes propulsoras do desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1989). Essas inovações geram ciclos de prosperidade ao introduzir novas tecnologias</p><p>e realizar investimentos adicionais em capital produtivo (NASSIF, 2023).</p><p>O desenvolvimento econômico sob tal perspectiva implica em mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais cíclicas e não-lineares, refletindo premissas presentes no aparato teórico de Marx que influenciaram Schumpeter (NASSIF, 2023; MARX, 1867). Schumpeter define o desenvolvimento econômico como um processo de destruição criativa que passa por etapas de criação, lançamento e difusão de inovações, sendo essas inovações também o fato explicativo chave dos ciclos econômicos (SCHUMPETER, 1989). Schumpeter (1989, p. 83) afirma que</p><p>"O processo de Destruição Criativa é o fato essencial sobre o capitalismo. É o que o capitalismo consiste e o que todo empresário capitalista tem que viver. [...] Este processo de Destruição Criativa é a força fundamental que move o capitalismo adiante. Ao invés de estar em um estado estacionário, o sistema capitalista está sempre em movimento, com novos produtos, novas tecnologias e novos métodos de produção substituindo os antigos, e esta dinâmica incessante é a chave para entender como as economias capitalistas se desenvolvem ao longo do tempo."</p><p>Em resumo, a partir de uma lógica desenvolvimentista, o conceito de desenvolvimento econômico é compreendido como um processo dinâmico, impulsionado pela acumulação de capital e pelo progresso tecnológico, mas também dependente de uma forte intervenção estatal para orientar e sustentar o crescimento. Esse desenvolvimento é caracterizado por ciclos de destruição criativa, onde inovações tecnológicas e mudanças estruturais desempenham um papel central, resultando em uma evolução contínua e não linear das economias. Assim, o desenvolvimento econômico não é apenas um aumento quantitativo da produção, mas um processo qualitativo que envolve profundas transformações econômicas, sociais, políticas e culturais.</p><p>2. Ciclos Econômicos:</p><p>O estudo dos ciclos econômicos visa identificar as causas, origens e mecanismos subjacentes às flutuações inerentes à atividade econômica. De acordo com Schumpeter (1989), os ciclos podem ser classificados com base em sua periodicidade, sendo designados por nomes que remetem aos economistas que os identificaram. Por exemplo, os ciclos de Kitchin, com duração de 3 a 5 anos, são associados às flutuações nos estoques das empresas, enquanto os ciclos propostos por Kalecki variam entre 2 e 10 anos e são influenciados por uma variedade de fatores, como investimento, consumo, gastos do governo e políticas econômicas.</p><p>Por outro lado, os ciclos de Juglar, com períodos de 7 a 11 anos, têm suas raízes no investimento em capital fixo, incluindo a aquisição de novas máquinas e renovações das antigas, enquanto as ondas longas de Kondratieff, com ciclos entre 50 e 60 anos, são influenciadas por padrões de longo prazo observados em séries temporais, como produção industrial, preços, salários, taxas de juros e investimentos (KOROTAYEV; TSIREL, 2010).</p><p>Kondratieff identificou três fases distintas em um ciclo típico:</p><p>· A fase de expansão: caracterizada por um crescimento econômico substancial impulsionado por inovações tecnológicas e avanços em setores-chave;</p><p>· A fase de estagnação: marcada por sinais de superprodução e excesso de capacidade, resultando em desaceleração econômica, crises financeiras e ajustes no mercado;</p><p>· A fase de desaceleração: representando o ponto mais baixo do ciclo, com uma contração econômica profunda, falências de empresas e aumento significativo do desemprego (KONDRATIEFF, 1935).</p><p>Já os ciclos curtos de Kalecki descrevem as flutuações de curto prazo na atividade econômica ao longo do tempo. Esses ciclos são influenciados por uma variedade de fatores, incluindo investimento, consumo, gastos do governo e exportações líquidas. Em sua teoria, Kalecki enfatiza a importância das políticas governamentais e das interações entre diferentes componentes da demanda agregada na determinação dos ciclos econômicos. Como Kalecki (1954, p. 78) observa:</p><p>As flutuações econômicas de curto prazo são, em grande medida, moldadas pela demanda agregada e pelas intervenções governamentais. A capacidade de um governo de gerenciar o investimento público, os gastos e a política monetária é crucial para suavizar os ciclos econômicos e promover a estabilidade econômica.</p><p>Embora não tenham etapas claramente definidas, os ciclos de Kalecki podem ser sumarizados em algumas fases principais. Inicialmente, há uma fase de expansão, caracterizada por um aumento na atividade econômica, impulsionada pelo investimento, consumo e gastos do governo. Em seguida, a economia atinge um pico, marcando o ponto mais alto do crescimento, seguido por uma fase de contração, onde a atividade econômica diminui, levando a uma redução na produção e no emprego. Finalmente, a atividade econômica atinge seu nível mais baixo na fase do vale, sendo esse um ponto de inflexão do ciclo, representando o início de uma nova fase de recuperação, onde a economia começa a se recuperar gradualmente da contração e a atividade econômica começa a se expandir novamente. Durante o vale, os formuladores de políticas frequentemente implementam medidas para estimular a demanda e reativar a economia, com o objetivo de acelerar a recuperação e minimizar os efeitos negativos da recessão (KALECKI, 1954).</p><p>Os ciclos longos, devido à sua extensa abrangência temporal, influenciaram estudos sobre os efeitos da inovação e contribuíram para o desenvolvimento de teorias relacionadas ao desenvolvimento econômico (RANGEL, 1990). Enquanto as ondas longas de Kondratieff se estendem ao longo de décadas e refletem padrões de desenvolvimento econômico de longo prazo impulsionados por mudanças tecnológicas fundamentais, os ciclos curtos de Kalecki focalizam as flutuações de curto prazo na atividade econômica. A relação entre esses dois conceitos reside na interdependência e na interação dinâmica entre os ciclos curtos e longos, permitindo entender como a implementação de políticas específicas para superar a fase mais baixa do ciclo curto pode afetar o ciclo longo e, consequentemente, a trajetória de desenvolvimento econômico.</p><p>3. Assimetrias Monetárias e Financeiras:</p><p>A análise das assimetrias monetárias e financeiras assume um papel crucial no estudo, especialmente diante das complexidades nas relações cambiais entre as moedas dos países centrais e periféricos, agravadas pelos desafios decorrentes do aumento da integração financeira (ARMIJO; TIRONE; CHEY, 2019). Esses fenômenos contribuem para um SMFI mais assimétrico, caracterizado por volatilidade cambial e instabilidades financeiras, afetando a trajetória de desenvolvimento das economias periféricas (KALTENBRUNNER; PAINCEIRA, 2018).</p><p>Como destaca Prates (2005, p. 45):</p><p>A estrutura hierárquica das moedas internacionais reflete e reforça as desigualdades entre as economias centrais e periféricas. Enquanto as moedas dos países centrais gozam de maior aceitação e estabilidade, as moedas periféricas são frequentemente submetidas a fortes pressões cambiais e à fuga de capitais, exacerbando as vulnerabilidades econômicas e financeiras das nações periféricas.</p><p>Essas assimetrias se manifestam de várias formas, incluindo a capacidade dos países centrais de emitir dívida em suas próprias moedas e o privilégio de ter suas moedas usadas como reservas internacionais. Em contraste, os países periféricos geralmente enfrentam maiores custos de financiamento e volatilidade em suas taxas de câmbio, dificultando o planejamento econômico de longo prazo e a implementação de políticas de desenvolvimento.</p><p>A análise das assimetrias monetárias e financeiras revela a complexidade das relações econômicas globais e a importância de políticas que busquem mitigar essas desigualdades. As intervenções dos países periféricos para tentar reduzir a dependência de capitais externos e aumentar a resiliência econômica são frequentemente desafiadas por fluxos de capitais voláteis e pela rigidez das estruturas financeiras internacionais. Como observam Armijo, Tirone e Chey (2019, p. 12):</p><p>A integração financeira</p><p>internacional, embora promova o acesso a capitais e oportunidades de investimento, também expõe as economias periféricas a riscos significativos de instabilidade financeira, exacerbando as assimetrias estruturais existentes no SMFI.</p><p>A análise das assimetrias monetárias e financeiras assume um papel crucial no estudo, especialmente diante das complexidades nas relações cambiais entre as moedas dos países centrais e periféricos, agravadas pelos desafios decorrentes do aumento da integração financeira (ARMIJO; TIRONE; CHEY, 2019). Esses fenômenos contribuem para um SMFI mais assimétrico, caracterizado por volatilidade cambial e instabilidades financeiras, afetando a trajetória de desenvolvimento das economias periféricas (KALTENBRUNNER; PAINCEIRA, 2018). Diante da análise das assimetrias monetárias e financeiras e do entendimento da dinâmica cíclica do desenvolvimento econômico, é possível vislumbrar um quadro complexo de desafios e oportunidades para os países periféricos.</p><p>4. Poder Econômico</p><p>O propósito desta literatura é elucidar e demarcar os conceitos fundamentais relacionados à utilização de elementos ou instrumentos econômicos pelos Estados para amplificar ou exercer sua influência no cenário global. A literatura apresenta uma miríade de terminologias derivadas do conceito de poder, cada uma com nuances específicas e interpretações que variam conforme o autor e o contexto teórico.</p><p>De maneira geral, o estudo do poder dos Estados é permeado por questões relacionadas a aspectos econômicos. Ao buscar mensurar o “poder econômico” dos Estados, a literatura comumente recorre à renda dos Estados – medida pelo produto nacional bruto ou o produto interno bruto, em dólares correntes ou em paridade de poder de compra (PPC). O fato de que o PIB em PPC da China já superou o dos Estados Unidos é tido como sintomático do avanço do poderio chinês. Outras medidas relacionadas à renda, como a renda per capita e a taxa de crescimento da renda, também são utilizadas para descrever o poder econômico dos Estados. Além disso, o peso de um país no comércio internacional – seja pelo volume transacionado, pelo tamanho de suas redes, pela complexidade da sua pauta exportadora – frequentemente aparece como um indicador do poder econômico. Ainda, o uso internacional da moeda doméstica para transações internacionais – tanto no âmbito público quanto no âmbito privado como unidade de conta, meio de troca e reserva de valor – é da mesma forma percebido como um elemento do poder econômico dos Estados, assim como o tamanho e a profundidade de seus mercados financeiros.</p><p>Outros indicadores, como o volume e o alcance do investimento direto estrangeiro (IDE) de um país e o peso de sua participação em bancos e instituições financeiras internacionais (IFIs) (sejam elas regionais ou multilaterais), também despontam como indicadores que permitem caracterizar e dimensionar os aspectos econômicos do poder dos Estados. Não parece haver, contudo, um consenso na literatura sobre quais destes elementos – renda, comércio internacional, uso internacional da moeda doméstica, papel dos mercados financeiros domésticos, perfil do IDE, voz e voto em IFIs – deveriam ser considerados na análise dos aspectos econômicos do poder dos Estados.</p><p>Ademais, possivelmente refletindo esta ausência de consenso sobre o que caracteriza os aspectos econômicos do poder, existe também uma amplitude na taxonomia associada ao tema, conforme destacado na introdução. Observa-se, em particular, a diferenciação entre as noções de “poder” e de “statecraft”, definida como “a arte de conduzir os assuntos do Estado”, conforme Baldwin (2020, p. 1, tradução livre). Assim, “statecraft” são os instrumentos, as técnicas usadas pelos policymakers nas suas tentativas de exercer poder. Para Baldwin (2020, p. 22), poder sempre é um conceito relacional, enquanto “statecraft” é uma propriedade dos Estados. Neste sentido, “economic statecraft” é uma das técnicas à disposição dos policymakers para atingir seus objetivos – junto com propaganda, diplomacia e militarismo. Enfatiza-se que os objetivos do “economic statecraft” podem ser econômicos ou não. Ou seja, “economic statecraft” pode ser sobre atingir objetivos econômicos, mas também pode ser sobre outras questões de política externa. Da mesma forma, objetivos econômicos podem ser atingidos com outras técnicas de statecraft que não a econômica.</p><p>Ecoando as transformações que estavam ocorrendo no sistema internacional, a literatura sobre os aspectos econômicos do poder dos Estados ganhou fôlego no início dos anos 1970. Um elemento desta discussão era o reconhecimento de que, uma vez que as economias estão todas conectadas via balanço de pagamentos, elas deveriam ter que adotar metas compatíveis em termos de equilíbrio externo para evitar conflitos, já que o déficit de uma é o superávit de outra (Kindleberger 1970, p. 10; Cohen 1977, p. 28-34). Esta discussão reverberava o fato de que a relativa compatibilidade em termos do resultado externo que existia no pós-Guerra entre Estados Unidos, Europa e Japão gradualmente erodia. Enquanto a recuperação econômica europeia e japonesa passava a pressionar o balanço de pagamentos dos Estados Unidos, a prioridade anterior dos Estados Unidos em restaurar uma ordem econômica global aberta era substituída por preocupações majoritariamente domésticas. O poder americano ficaria escancarado com a recusa dos Estados Unidos em arcar com o ônus político doméstico que seria necessário para defender a paridade dólar-ouro, e que optou, em vez disso, por encerrar unilateralmente o Sistema Bretton Woods, escancarando seu poder estrutural sobre o sistema (Kirshner 2014).</p><p>Neste contexto, diversos autores trataram de temas relacionados ao poder econômico dos Estados, ao papel do dólar e às dificuldades do SMFI, mas o fizeram sem a ambição de necessariamente avançar em termos de uma formulação teórica. Kindleberger (1970), Strange (1971) e Cohen (1977) foram pioneiros em tentar desenvolver um arcabouço para analisar “a política da economia internacional e a economia da política internacional”[footnoteRef:2]. [2: Este é o título do livro de Kindleberger, “Power and Money: The Politics of International Economics and the Economics of International Politics”.]</p><p>Kindleberger (1970) é provavelmente o mais ambicioso em termos de escopo no seu esforço em compreender como que as disputas políticas e econômicas entre os países afetam sua política externa e sua “política econômica internacional” (p. 15-16). Seu livro explora uma gama de temas políticos sob a ótica econômica (soberania, poder, imperialismo, guerra, peacekeeping) e de temas econômicos sob a ótica política (comércio, ajuda externa (aid), migração, finanças, corporações, pagamentos e moeda).</p><p>A contribuição de Strange (1971, p. 217) é talvez a mais inovadora no sentido de propor uma “teoria política das moedas internacionais”, formulando pela primeira vez uma taxonomia para diferenciar as moedas nacionais (Top, Master, Passive ou Neutral, e Political ou Negotiated), que mais tarde serviria de inspiração para a pirâmide monetária de Cohen (1998 e obras posteriores). A teoria de Strange buscava compreender as causas e os efeitos do status de uma moeda internacional: “primeiro, as condições tanto econômicas quanto políticas sob as quais as moedas domésticas passam a ser usadas para além das fronteiras nacionais; e segundo, as consequências tanto políticas quanto econômicas que se seguem para o Estado emissor quando isso acontece” (1971, p. 217, tradução livre). No período que se seguiu, contudo, Cohen avançou mais do que Strange na elaboração de tal teoria (Cohen 1998). O legado intelectual de Strange, para além de sua contribuição na origem da disciplina de EPI, é sobretudo relacionado às obras Casino Capitalism (1986), States and Markets (1988 primeira edição e 1994b segunda edição), The Retreat of the State (1996) e Mad Money (1998), que tratam menos da questão específica da moeda e mais sobre as relações intrínsecas entre o poder das finanças e o poder dos Estados.</p><p>Strange (1975) define poder econômico como a habilidade de um estado ou organização de moldar as regras e normas econômicas globais, influenciando as práticas comerciais, fluxos de capital e as políticas econômicas de outros estados. Além disso, Strange (1971) também oferece uma perspectiva crítica sobre o poder econômico, argumentando que as escolhas políticas em relação às políticas econômicas são frequentemente motivadas por objetivos políticos, e não por avaliações racionais dos custos e benefícios econômicos. Strange enfatiza que o poder econômico é inerentemente político, sendo uma ferramenta utilizada pelos Estados para alcançar objetivos políticos mais amplos. A sua análise destaca como as moedas internacionais e a diplomacia econômica são usadas para projetar poder e influência, reforçando a ideia de que o poder econômico vai além de meros indicadores econômicos, englobando também a capacidade de moldar a ordem econômica internacional (Strange 1971).</p><p>Cohen (1977), por sua vez, enfatiza a questão específica das relações monetárias internacionais, reconhecendo que os dois problemas centrais da ordem monetária internacional são os mecanismos de ajuste para o balanço de pagamentos e de criação de liquidez internacional. Este tema ele continua explorando nos seus trabalhos seguintes, notadamente em The geography of money (1998) e The future of money (2004), tendo aprofundado o arcabouço analítico para analisar o poder (político e econômico) associado à internacionalização da moeda mais recentemente, especialmente em Currency Power (2015) e Currency Statecraft (2019). Para Cohen, o poder da moeda (“currency power”), refere-se ao papel que uma moeda específica ocupa na pirâmide monetária e a capacidade do seu país emissor em projetar influência internacional através de sua moeda. Cohen (2015) define o poder das moedas como a capacidade de uma moeda ser amplamente aceita e utilizada nas transações internacionais, conferindo ao país emissor uma série de vantagens estratégicas, tanto econômicas quanto políticas, sendo a principal delas o chamado “privilégio exorbitante”.</p><p>O privilégio exorbitante ocorre na medida em que o país emissor da moeda chave pode emitir dívida em sua própria moeda, que é avidamente procurada como reserva de valor pelo resto do mundo. Assim sendo, o país pode financiar seus déficits externos sem enfrentar as mesmas pressões de ajustamento que outras nações. Essa posição dominante não só facilita a manutenção de um déficit contínuo, mas também reduz os custos de empréstimos, aumenta a liquidez do mercado financeiro doméstico e fortalece a capacidade de o país exercer influência econômica global (Carneiro e De Conti, 2022). Nesse sentido, a noção de privilégio exorbitante está profundamente entrelaçada com o conceito de poder monetário, já que a confiança global na moeda sustenta a demanda contínua por ela. O privilégio exorbitante, entretanto, não é apenas uma questão de poder monetário, mas também de poder financeiro. No caso do SMFI contemporâneo, o domínio do dólar nos mercados financeiros globais proporciona aos Estados Unidos uma influência desproporcional sobre as condições econômicas e financeiras internacionais que, como veremos, também tem implicações geopolíticas (Eichengreen, 2011; Helleiner, 2008).</p><p>Susan Strange (1971) acrescenta que o poder das moedas é também uma ferramenta de diplomacia econômica. Ela argumenta que países com moedas fortes podem usar seu status monetário para forjar alianças, impor sanções econômicas e moldar a arquitetura financeira global. Além disso, a capacidade de um país de internacionalizar sua moeda e utilizá-la em transações globais confere-lhe uma vantagem estratégica significativa, permitindo-lhe exercer influência sobre outros países. Este poder monetário é sustentado pela confiança global na moeda do país e pela capacidade do país de manter a estabilidade econômica e política.</p><p>De fato, um componente fundamental do poder econômico é o aspecto monetário. Em um mundo cada vez mais globalizado, em que as trocas comerciais e financeiras transcendem fronteiras, a capacidade de um país de gerir sua moeda e suas políticas monetárias torna-se crucial para a manutenção da estabilidade econômica e para a projeção de poder internacional (Baldwin 2020; Cohen 2019; Kindleberger 1970). Ao discutir a capacidade monetária de um país, Kindleberger (1970) argumenta que o poder monetário é um componente essencial do poder econômico de um estado, permitindo-lhe ajustar suas políticas monetárias para responder a crises econômicas e influenciar a estabilidade financeira interna. Barry Eichengreen (2011) complementa essa visão ao destacar que o poder monetário é crucial para a manutenção da estabilidade macroeconômica. Ele enfatiza que países com forte poder monetário podem utilizar suas políticas monetárias para mitigar os efeitos de choques econômicos externos, influenciar as taxas de câmbio e controlar a inflação. Este controle interno, por sua vez, fortalece a posição internacional do país ao permitir uma maior flexibilidade e resiliência econômica.</p><p>Além do poder monetário, o poder financeiro é outro componente central do poder econômico, passando a ser amplamente discutido com a intensificação da globalização econômica. Com um aumento significativo nos fluxos de capital entre os países, o SMFI se tornou mais interconectado e interdependente, de maneira que o poder financeiro é percebido como um elemento fundamental na composição do poder econômico. Autores como Armijo e Katada (2015) discutem como a globalização financeira ampliou a capacidade de certos países de exercerem poder através de suas instituições financeiras e mercados de capitais. Esta nova dinâmica global reforçou a importância de entender o poder financeiro e os instrumentos e técnicas financeiras necessários para exercê-lo, à medida que países com sistemas financeiros robustos passaram a aumentar seu papel no SMFI.</p><p>Assim sendo, define-se poder financeiro como a capacidade de um Estado de influenciar e controlar os fluxos de capital e as condições financeiras internacionais, utilizando instrumentos como políticas monetárias, regulações financeiras, e a manipulação de taxas de câmbio (Strange 1988). Além disso, a profundidade do setor financeiro doméstico e a posição na rede financeira global são cruciais para o poder financeiro, permitindo maior influência nas transações internacionais e na credibilidade percebida pelos outros atores (Kahler, 2009).</p><p>As principais conclusões de Chin e Helleiner (2008) e Norrlöf (2023) sobre poder financeiro destacam a capacidade dos estados de utilizar suas instituições financeiras e políticas monetárias para exercer controle sobre os fluxos de capital globais e influenciar as condições financeiras internacionais. Chin e Helleiner (2008) argumentam que países com mercados financeiros desenvolvidos e integrados possuem uma vantagem significativa ao atrair e direcionar investimentos internacionais, permitindo-lhes moldar o sistema financeiro global a seu favor. Eles também ressaltam que a influência sobre as taxas de juros globais e a capacidade de impor sanções financeiras são ferramentas poderosas de política externa. Norrlöf (2023) complementa essa visão ao enfatizar que o controle sobre os fluxos de capital não só fortalece a moeda nacional, mas também promove interesses geopolíticos e econômicos.</p><p>Norrlöf (2023) destaca ainda a importância das sanções financeiras como um instrumento eficaz para isolar economicamente países adversários, restringindo seu acesso ao sistema financeiro global e afetando sua capacidade de financiar atividades econômicas. Essas conclusões sublinham a centralidade do poder financeiro na configuração das relações econômicas e políticas internacionais (Norrlöf, 2023), além de convergir com a noção de influência financeira como capacidade de um Estado moldar as condições financeiras globais através de suas políticas econômicas (Drezner, 2009). Armijo e Katada (2015) definem o uso estratégico de políticas financeiras por parte</p><p>dos Estados para alcançar objetivos geopolíticos e econômicos como “financial statecraft”. Esse conceito abrange uma série de instrumentos financeiros, como empréstimos, investimentos e sanções, para alcançar objetivos políticos e estratégicos (McDowell, 2019).</p><p>3. METODOLOGIA</p><p>A fim de corroborar as hipóteses levantadas e atender aos objetivos supracitados, a pesquisa contará com os seguintes aspectos metodológicos:</p><p>1. Revisão de Literatura: A revisão de literatura será conduzida por meio da metassíntese, incorporando a análise, interpretação e integração de trabalhos de diferentes autores. Esse método, conforme descrito por Nakano e Muniz Jr. (2018), permite uma síntese interpretativa de dados qualitativos, ampliando a compreensão das dinâmicas dos ciclos econômicos e das assimetrias no SMFI, com foco especial nas economias periféricas. A análise será embasada em um aparato teórico desenvolvimentista, com ênfase nas teorias de Kondratieff, Kalecki e Schumpeter, aliadas ao desenvolvimentismo e ao estruturalismo latino-americano. A interação dessas teorias proporcionará uma compreensão profunda da trajetória de desenvolvimento econômico dos países periféricos, considerando as assimetrias no contexto dos ciclos de Kondratieff.</p><p>2. Seleção da Amostra: A escolha da amostra levou em consideração países periféricos com níveis semelhantes de desenvolvimento econômico na década de 1970 (t1) e cuja situação se modificou significativamente cinquenta anos depois (t2), de acordo com a literatura previamente examinada. Os países selecionados são África do Sul, Argentina, Brasil, China, Índia e Rússia. A escolha desses anos se justifica pela duração de um ciclo de Kondratieff.</p><p>3. Coleta e Análise de Dados: Os dados serão obtidos a partir de fontes nacionais e internacionais. Para as fontes nacionais, será lançado mão dos dados disponibilizados pelos respectivos bancos centrais e pelos ministérios da economia e da fazenda da amostra selecionada. Em relação às fontes internacionais, a coleta será realizada em bancos de dados de organismos multilaterais, como o Fiscal Monitor e a Macroprudential Database do FMI, os relatórios do BIS, o OECD Outlook e as estatísticas da CEPAL disponíveis no CEPALSTAT.</p><p>TABELA 1. Indicadores Iniciais</p><p>Fonte: Elaboração Própria</p><p>A Tabela 1 sintetiza os indicadores monetários e financeiros iniciais que serão utilizados como proxies da capacidade das economias em mitigar os efeitos das assimetrias do SMFI. A interpretação dos resultados será guiada pelas teorias mencionadas no referencial teórico, permitindo a identificação de padrões, tendências e mudanças nas competências econômicas dos países analisados.</p><p>4. ESQUEMA PROVISÓRIO</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>· Apresentação do tema e contexto</p><p>· Problematização e relevância da pesquisa</p><p>· Metodologia e estrutura da monografia</p><p>2. As Assimetrias Monetárias e Financeiras e Suas Consequências para as Economias Periféricas</p><p>· Análise das assimetrias no Sistema Monetário e Financeiro Internacional (SMFI)</p><p>· Impactos das assimetrias monetárias e financeiras na capacidade de ação das economias periféricas</p><p>· Estudo de casos específicos para ilustrar as consequências dessas assimetrias</p><p>3. Políticas Econômicas e a Superação das Fases Críticas dos Ciclos Curtos</p><p>· Identificação das políticas econômicas voltadas para a mitigação das fases mais baixas dos ciclos curtos</p><p>· Análise do impacto dessas políticas na aceleração da recuperação econômica</p><p>· Exemplos de implementação bem-sucedida em economias periféricas</p><p>4. A Relação Entre Ciclos Curtos e Longos na Dinâmica Econômica</p><p>· Exploração da interação entre ciclos curtos e longos</p><p>· Mecanismos de ajuste e influência mútua entre os ciclos</p><p>· Discussão teórica e empírica sobre como os ciclos curtos podem influenciar os ciclos longos</p><p>5. Impacto dos Ciclos Longos na Trajetória de Desenvolvimento Econômico</p><p>· Análise do tempo e da duração das fases dos ciclos longos</p><p>· Estudo de como essas fases impactam o desenvolvimento econômico das economias periféricas</p><p>6. CONCLUSÃO</p><p>· Síntese dos principais achados da pesquisa</p><p>· Discussão das implicações políticas e econômicas</p><p>· Sugestões para futuras pesquisas e políticas</p><p>5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO</p><p>1</p><p>2</p><p>3</p><p>4</p><p>5</p><p>6</p><p>7</p><p>8</p><p>9</p><p>10</p><p>11</p><p>12</p><p>2024</p><p>Projeto</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>Primeiro Capítulo</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>2025</p><p>Segundo Capítulo</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>Terceiro Capítulo</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>Quarto Capítulo</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>Quinto Capítulo</p><p>x</p><p>x</p><p>x</p><p>2026</p><p>Introdução</p><p>x</p><p>x</p><p>Conclusão</p><p>x</p><p>x</p><p>Ajustes finais</p><p>x</p><p>x</p><p>6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ACEMOGLU, D.; ROBINSON, J. A. Por que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.</p><p>ARMIJO, L. E., TIRONE, D. C., CHEY, H. The Monetary and Financial Powers of States: Theory, Dataset, and Observations on the Trajectory of American Dominance. New Political Economy, 2019.</p><p>ARMIJO, L. E.; TIRONE, D. C.; CHEY, H. The Financial Statecraft of Emerging Powers: Shield and Sword in Asia and Latin America. New York: Routledge, 2019.</p><p>ARMIJO, L.; KATADA, S. Theorizing the financial statecraft of emerging powers. New Political Economy, v. 20, n. 1, p. 42-62, 2015.</p><p>BALDWIN, D. Economic statecraft: New edition. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2020.</p><p>CARNEIRO, R.; DE CONTI, B. Exorbitant privilege and compulsory duty: the two faces of the financialised IMS. Cambridge Journal of Economics, v. 46, n. 4, p. 735-752, 2022.</p><p>CHIN, G.; HELLEINER, E. China as a creditor: A rising financial power? Journal of International Affairs, v. 62, n. 1, p. 87-102, 2008.</p><p>COHEN, B. Currency power: Understanding monetary rivalry. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2015.</p><p>COHEN, B. Currency statecraft: Monetary rivalry and geopolitical ambition. Chicago, IL: University of Chicago Press, 2019.</p><p>COHEN, B. 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Ithaca, NY: Cornell University Press, 2009.</p><p>KALECKI, M. Theory of Economic Dynamics: An Essay on Cyclical and Long-Run Changes in Capitalist Economy. London: George Allen & Unwin, 1954.</p><p>KALTENBRUNNER, A.; PAINCEIRA, J. Developing countries’ changing nature of financial integration and new forms of external vulnerability. Cambridge J. of Economics, v. 39, 2015.</p><p>KALTENBRUNNER, A.; PAINCEIRA, J. P. The Impossible Trinity and the Structuralist Monetary Policy Framework. Cambridge Journal of Economics, v. 42, n. 5, p. 123-147, 2018.</p><p>KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interest, and Money. London: Macmillan, 1936.</p><p>KINDLEBERGER, C. Power and money. London: Springer, 1970.</p><p>KIRSHNER, J. American Power After the Financial Crisis. Ithaca, NY: Cornell University Press, 2014.</p><p>KONDRATIEFF, N. The Long Waves in Economic Life. The Review of Economic Statistics, v. 17, n. 6, p. 105-115, 1935.</p><p>KOROTAYEV, A.; TSIREL, S. 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Isso cria uma vulnerabilidade estrutural, especialmente</p><p>se a dívida não estiver sendo utilizada para financiar investimentos produtivos.</p><p>Reservas Internacionais Um alto nível de reservas internacionais reduz a vulnerabilidade a choques externos, permitindo que</p><p>o país atenue impactos adversos em sua balança de pagamentos e evite crises cambiais.</p><p>Taxa de Reserva Compulsória Uma taxa elevada de reserva compulsória pode reduzir a liquidez dos bancos, limitando a</p><p>disponibilidade de crédito na economia.</p><p>Limites de Alavancagem Limites mais rígidos de alavancagem ajudam a evitar excessos no setor financeiro, reduzindo o risco</p><p>de instabilidade sistêmica.</p><p>Taxa de Câmbio A taxa de câmbio sub ou sobrevalorizada pode afetar a competitividade das exportações e pressionar</p><p>as reservas internacionais.</p><p>Taxa de Juros Taxas de juros mais altas podem aumentar os custos de financiamento, afetando negativamente o</p><p>investimento e o consumo, assim como atrair capital especulativo.</p><p>Inflação Altas taxas de inflação podem corroer o poder de compra da moeda, impactando negativamente a</p><p>estabilidade econômica e afetando negativamente o investimento e a confiança dos investidores.</p><p>Déficit Fiscal</p><p>Déficits fiscais persistentes podem levar a um aumento da dívida pública, contribuindo para a</p><p>vulnerabilidade financeira. Isso pode resultar em pressões inflacionárias e na necessidade de</p><p>financiamento externo, aumentando a exposição a choques econômicos.</p><p>Dívida/PIB</p><p>Se a dívida cresce desproporcionalmente em relação ao PIB, pode limitar a capacidade do governo de</p><p>responder a instabilidades econômicas futuras. Isso cria uma vulnerabilidade estrutural, especialmente</p><p>se a dívida não estiver sendo utilizada para financiar investimentos produtivos.</p><p>Reservas Internacionais</p><p>Um alto nível de reservas internacionais reduz a vulnerabilidade a choques externos, permitindo que</p><p>o país atenue impactos adversos em sua balança de pagamentos e evite crises cambiais.</p><p>Taxa de Reserva Compulsória</p><p>Uma taxa elevada de reserva compulsória pode reduzir a liquidez dos bancos, limitando a</p><p>disponibilidade de crédito na economia.</p><p>Limites de Alavancagem</p><p>Limites mais rígidos de alavancagem ajudam a evitar excessos no setor financeiro, reduzindo o risco</p><p>de instabilidade sistêmica.</p><p>Taxa de Câmbio</p><p>A taxa de câmbio sub ou sobrevalorizada pode afetar a competitividade das exportações e pressionar</p><p>as reservas internacionais.</p><p>Taxa de Juros</p><p>Taxas de juros mais altas podem aumentar os custos de financiamento, afetando negativamente o</p><p>investimento e o consumo, assim como atrair capital especulativo.</p><p>Inflação</p><p>Altas taxas de inflação podem corroer o poder de compra da moeda, impactando negativamente a</p><p>estabilidade econômica e afetando negativamente o investimento e a confiança dos investidores.</p><p>Déficit Fiscal</p><p>Déficits fiscais persistentes podem levar a um aumento da dívida pública, contribuindo para a</p><p>vulnerabilidade financeira. Isso pode resultar em pressões inflacionárias e na necessidade de</p><p>financiamento externo, aumentando a exposição a choques econômicos.</p>

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