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<p>ACÚSTICA</p><p>ARQUITETÔNICA</p><p>Silvana Laiz Remorin</p><p>Highlight</p><p>Propriedades físicas do som</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Descrever as principais propriedades físicas do som: pressão (P),</p><p>intensidade (I), potência (W) e frequência (Hz).</p><p> Identificar a natureza dos sons e as principais fontes internas e externas.</p><p> Reconhecer as técnicas utilizadas para proporcionar o conforto</p><p>acústico nas edificações.</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, você vai estudar as propriedades físicas do som, assim</p><p>como identificar a natureza de som de fontes internas e externas. Vamos</p><p>conhecer técnicas para que o conforto acústico seja praticado nas</p><p>edificações.</p><p>As principais propriedades físicas do som</p><p>O som é uma onda mecânica gerada pela vibração dos corpos onde temos,</p><p>como exemplo, as nossas cordas vocais. Podemos pensar também nas cordas</p><p>de uma guitarra e ou de um violão. Em um show, a nossa percepção sonora não</p><p>é apenas o resultado do som produzido por um instrumento, mas uma série de</p><p>fenômenos que infl uenciam a percepção, que pode ser alterada quando estamos</p><p>em frente ao palco ou fora do eixo de uma caixa de som (HEWITT, 2010).</p><p>Estudar o som é estudar física, porque o som é um fenômeno vibratório,</p><p>que resulta da variação da pressão do ar. Qualquer fenômeno que possa causar</p><p>ondas de pressão no ar é considerado uma fonte sonora, indiferente de ser um</p><p>corpo sólido em vibração, o escape de gás ou uma explosão. O som precisa</p><p>de um meio para se propagar, indiferente de ser gasoso, líquido ou sólido.</p><p>As ondas longitudinais se propagam na direção em que o som se propaga</p><p>(HEWITT, 2010).</p><p>Vamos conhecer algumas das principais propriedades físicas do som e as</p><p>suas diferenças. Pressão (P) é uma palavra que significa força e é também</p><p>definida como o ato de comprimir ou pressionar algo. No conceito da física,</p><p>pressão é uma grandeza de uma razão entre a força (F) e a área (A) de uma</p><p>superfície onde a força for aplicada. Para Karlen (2013), pressão e área são</p><p>grandezas inversamente proporcionais e que é considerada uma grandeza</p><p>escalar. Porém, se trazermos isso para a pressão sonora, ela é a base do estudo</p><p>dos sons e é a medida de energia de som emitida a partir de uma fonte de</p><p>ruído. A sua unidade de medida é o dB, conforme Silas (2018).</p><p>No Brasil, a norma regulamentadora NR15 indica que o nível de pressão</p><p>sonora deve ser, no máximo, 85 dB, em oito horas ininterruptas de trabalho.</p><p>Em outros países esse limite é mais baixo, mostrando que são mais rígidos</p><p>em relação à proteção contra o ruído. A própria NR15 nos traz no anexo I</p><p>a informação de que “2. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente devem</p><p>ser medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora</p><p>operando no circuito de compensação ‘A’ e circuito de resposta lenta (slow)”.</p><p>As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador, de acordo</p><p>com a NR15 (BRASIL, 1978).</p><p>O decibel corresponde a uma escala logarítmica e é a medida do nível</p><p>de pressão sonora, que pode ser medida e ouvida, dependendo do ambiente</p><p>acústico ao redor da fonte. Koehler (2015) afirma ainda que o nível de pressão</p><p>acústica é o que escutamos e podemos medir, sendo um sinônimo de nível</p><p>de ruído.</p><p>A medição dos níveis de som é uma das principais atividades para avaliar</p><p>os problemas de um ruído ambiente, essa medição deve ser realizada por um</p><p>medidor de nível de pressão de som (decibelímetro), que esteja de acordo com</p><p>as normas. Sleifer et al. (2013) mencionam que a exposição prolongada a sons</p><p>com níveis de pressão sonora elevado, pode resultar em mudanças, temporárias</p><p>ou permanentes, podendo causar a perda auditiva.</p><p>A amplitude da pressão sonora sofre redução na medida em que a distância</p><p>da fonte até o receptor é aumentada, devido à perda da transmissão do som</p><p>em um meio. Um nível de ruído medido será sempre um valor de acordo com</p><p>a distância entre a fonte e o medidor de nível de pressão sonora e qualquer</p><p>variação na distância. No Brasil, de acordo com a norma regulamentadora</p><p>NR15, é estabelecido que o nível de pressão sonora é de 85 dB (BRASIL, 1978).</p><p>Conforme Guimarães (2005), para realizar a medição no nível de pressão</p><p>sonora (NPS) é necessário o uso da fórmula:</p><p>NPS = 10log (P2/P²</p><p>0</p><p>)</p><p>Propriedades físicas do som2</p><p>Onde:</p><p>P = pressão sonora (N/m3)</p><p>P0 = pressão sonora de referência (2 × 10-5 N/m2) que corresponde a limiar</p><p>da audição a 1 kHz.</p><p>O Quadro 1 mostra a relação de NPS e pressão.</p><p>Fonte: Adaptado de Guimarães (2005).</p><p>NPS dB Pressão (N/m2)</p><p>140 (limiar da dor) 200</p><p>120 20</p><p>100 2</p><p>80 0,2</p><p>60 2 × 10-2</p><p>40 2 × 10-3</p><p>20 2 × 10-4</p><p>0 (limiar da audição) 2 × 10-5</p><p>Quadro 1. Relação de valores de NPS e a pressão</p><p>O som é causado pela variação da pressão ou da velocidade de moléculas em um</p><p>meio, e é uma forma de energia transmitida pela colisão de moléculas.</p><p>3Propriedades físicas do som</p><p>Fonte: Adaptado de Buxton (2017).</p><p>Fonte Nível de pressão sonora</p><p>ponderado L</p><p>Aeq</p><p>(dB)</p><p>Área urbana próxima a uma</p><p>rodovia movimentada</p><p>70–90</p><p>20 m do meio-fio de uma rodovia</p><p>importante (110 km/h)</p><p>78</p><p>Área urbana próxima a uma</p><p>avenida movimentada</p><p>65–75</p><p>20 m do meio-fio de uma avenida</p><p>movimentada (50 km/h)</p><p>68</p><p>Área suburbana afastada de</p><p>uma via movimentada</p><p>55–65</p><p>Em uma via pararela a uma avenida</p><p>movimentada e protegida do</p><p>ruído do trânsito por prédios</p><p>58</p><p>Parque dentro de uma cidade</p><p>de médio ou grande porte</p><p>55–60</p><p>Localização rural e afastada 35–45</p><p>Quadro 2. Prováveis níveis de ruído de fundos externos</p><p>Intensidade (I): definida como a qualidade do som, permitindo a diferen-</p><p>ciação de sons fracos e sons fortes. A unidade de medida da intensidade é o bel</p><p>(homenagem a Alexander Grahan Bell) e, na prática, vamos utilizar o decibel</p><p>(dB) como unidade de medida. Podemos perceber que o dB é a décima parte</p><p>de um bel, ou seja, 0,1 bel, e que o ouvido humano apresenta tolerância aos</p><p>sons em relação à intensidade. A coluna de intensidade do Quadro 3 mostra</p><p>valores correspondentes ao nível sonoro e a sua unidade de medida é o W/m2.</p><p>Observe no Quadro 3 a relação entre o nível sonoro e a intensidade.</p><p>Propriedades físicas do som4</p><p>Fonte: Adaptado de Sato e Ramos (2015).</p><p>Som Nível sonoro (dB) Intensidade (W/m2)</p><p>Sussurro 20 1 × 10-10</p><p>Ambiente calmo 30 1 × 10-9</p><p>Sala de aula 45 3,1 × 10-8</p><p>Conversa normal 60 1 × 10-6</p><p>Serra circular 88 6,3 × 10-4</p><p>Rua com muito tráfego 90 1 × 10-3</p><p>Betoneira em</p><p>funcionamento</p><p>92 1,6 × 10-3</p><p>Bate-estaca em</p><p>funcionamento</p><p>98 6,3 × 10-3</p><p>Dano ao ouvido</p><p>humano</p><p>120 1</p><p>Motor de avião a jato 130 10</p><p>Quadro 3. Nível sonoro e intensidade</p><p>Esse quadro também nos apresenta o valor do nível sonoro que é prejudicial</p><p>ao ouvido humano, se exposto de forma contínua. Essa relação é calculada</p><p>com a fórmula a seguir, de acordo com Sato e Ramos (2015):</p><p>Nível sonoro = log</p><p>1</p><p>l</p><p>0</p><p>Valor de l0 = 10-12 W/m2.</p><p>A intensidade do som é medida nos ambientes e sofre influência da reflexão, refração,</p><p>difração e reverberação durante a propagação sonora.</p><p>5Propriedades físicas do som</p><p>Potência (W): para Fortuna (2006), o nível de potência de som, Lw, é a</p><p>energia proveniente de uma fonte e constitui uma propriedade da própria fonte.</p><p>A potência de um áudio é medida, no sistema internacional de unidades, em</p><p>watts e se usa para avaliar os descritores de onda: valor médio, valor de pico,</p><p>composição espectral, distorção harmônica, entre outros.</p><p>A potência é a quantidade de energia transferida por unidade de tempo. O</p><p>nível de potência do som é dado por:</p><p>L</p><p>w</p><p>= 10 � log</p><p>10 dBw</p><p>w</p><p>r</p><p>2</p><p>W = potência do som da fonte, em watts.</p><p>Wr = potência do som de referência, correspondente a 10-12 watts.</p><p>Temos também a intensidade do som, que de acordo com Fortuna (2006)</p><p>é medido por nível de intensidade, é a quantidade de potência do som por</p><p>unidade de espaço:</p><p>I =</p><p>w</p><p>4�r2</p><p>Onde:</p><p>w = potência de som em watts.</p><p>r = distância, em metros, da fonte.</p><p>Fortuna ainda nos indica que a amplitude é metade da diferença entre a</p><p>pressão máxima e a pressão mínima.</p><p>A amplitude é mostrada em unidades</p><p>de pressão (micro pascal [µPa]). Usualmente a amplitude é convertida em</p><p>potência sonora (10-12 W) ou em intensidade sonora (10-12 W/ m2).</p><p>Frequência (Hz): número de oscilações por segundo do movimento vi-</p><p>bratório do som. O número de ondas que passam por um ponto de referência</p><p>em um determinado período de tempo.</p><p>Essa frequência é medida em Hertz (Hz). Podemos trazer, como exemplo,</p><p>que essa frequência é distinguida pelo som agudo ou grave. Sato e Ramos</p><p>(2015) mencionam a equação:</p><p>V = λf</p><p>Propriedades físicas do som6</p><p>A velocidade de propagação (V) é diretamente proporcional ao compri-</p><p>mento de onda (λ) e da frequência (f). E tanto o comprimento de onda quanto</p><p>a frequência influenciam na velocidade de propagação.</p><p>O ouvido humano é capaz de captar sons de 20 a 20.000 Hz. Sons com</p><p>menos de 20 Hz são chamados de infrassons e sons com mais de 20.000 Hz</p><p>são os ultrassons, de acordo com Sato e Ramos (2015). Observe a Figura 1.</p><p>Figura 1. Frequência de som.</p><p>Fonte: Sato e Ramos (2015, p. 108).</p><p>7Propriedades físicas do som</p><p>Na Figura 1, Sato e Ramos (2015) indicam que cada imagem representa</p><p>timbres (frequências) diferentes para uma mesma intensidade ou volume</p><p>(amplitude), e por isso varia a sua velocidade de propagação. A consequência,</p><p>é a diferença de energia transportada. Lembrando que, de acordo com Cutnell</p><p>e Johnson (2009), pessoas jovens e saudáveis ouvem todos os sons entre as</p><p>frequências de 20 até 20.000 Hertz.</p><p>Ferroni (2007) afirma que acima da faixa de 20 a 20.000 Hertz, há o ultrassom e abaixo</p><p>ocorre o infrassom. Cães escutam entre 15 e 50.000 Hz, morcegos ouvem a faixa de</p><p>1 a 120.000 Hz e golfinhos de 70 a 240.000 Hz.</p><p>A natureza dos sons, fontes internas e externas</p><p>Você já deve ter se dado conta que em alguns momentos do dia se sente mais</p><p>cansado, indisposto ou com perda de concentração. O fato é que as cidades</p><p>estão fi cando cada dia mais barulhentas, e o trânsito pode ser um dos maiores</p><p>vilões, pois o aumento da população inevitavelmente criou um maior número</p><p>de veículos circulando nas cidades. Porém, a questão vai além dos carros e</p><p>do trânsito. Fábricas, ambientes industriais, locais próximos a casas de shows</p><p>ou festas, residência próxima a aeroportos, entre tantas fontes de ruídos que</p><p>podemos ter por perto, também são fonte de poluição sonora no meio urbano,</p><p>conforme Cassilha e Cassilha (2007).</p><p>Podemos perceber também que a falta de fiscalização e o planejamento</p><p>urbano têm contribuído para o aumento dos ruídos, demonstrando que o</p><p>planejamento pode interferir diretamente na vida dos cidadãos. A concepção</p><p>de espaço urbano precisa ser gerenciada de forma cuidadosa, permitindo que</p><p>sejam criados ambientes sonoros agradáveis, evitando que ruídos indesejáveis</p><p>gerem problemas à saúde (CASSILHA; CASSILHA, 2007).</p><p>Dizer que um ruído é agradável, é subjetivo. Cada ser humano interpreta</p><p>de forma individual o conforto acústico, porém, deve-se concordar que o</p><p>barulho de uma britadeira na rua, de ônibus, buzinas, sirenes, alarmes, podem</p><p>ser considerados poluição sonora. Podemos trazer essa mesma ideia para uma</p><p>sala em silêncio, onde é necessário concentração, porém, um celular toca</p><p>Propriedades físicas do som8</p><p>insistentemente. É um pequeno ruído, perto dos demais exemplos, porém,</p><p>com a variação da concentração do trabalho, o ruído desse celular pode ser</p><p>mais perturbador do que a passagem de diversos ônibus na rua.</p><p>O tempo de exposição aos ruídos também é algo determinante, podendo</p><p>até mesmo realizar alterações fisiológicas no organismo, ocasionando danos</p><p>nas capacidades funcionais devido ao estresse. Conforme Roncolato, Prado e</p><p>Tonglet (2016), dados de 2015 apontam que 360 milhões de pessoas no mundo</p><p>sofreram alguma deficiência auditiva congênita e que a OMS estima que, em</p><p>1999, 80 a 90% dos casos de distúrbio do sono estavam associados a ruídos</p><p>exteriores ao local de repouso, gerando fadiga, insônia, mudança de humor</p><p>e falta de concentração.</p><p>Se pensarmos em ruído externo, podemos reviver a situação a seguir: estamos em</p><p>uma sala de aula, o ruído de conversa é alto, o que obriga o professor a falar mais alto</p><p>ainda. Vamos pensar no desgaste e na dor de cabeça que isso pode gerar para todos</p><p>dentro da sala. Em uma academia, podemos pensar no som ambiente, na conversa,</p><p>no som de uma música em alguma aula específica que expande para o ambiente.</p><p>De acordo com Roncolato, Prado e Tonglet (2016), países como Portugal</p><p>e Chile estão adotando mapas de ruído, que consistem em um sistema que, a</p><p>partir de um levantamento de relevo, estrutura de edifícios e o fluxo de trânsito</p><p>medidos, avaliam os resultados e mostram os locais com mais ruído. Com</p><p>isso, pode-se perceber como está a cidade e implementar mudanças em locais</p><p>que estão críticos, fazendo a gestão desse ruído. Os autores ainda mencionam</p><p>que no Brasil, a cidade de Fortaleza já está realizando o mapa de ruído com</p><p>o auxílio e a consultoria de um professor de Lisboa.</p><p>Na busca de qualidade de vida, ações devem ser tomadas para que os</p><p>moradores de cidades possam se beneficiar da tranquilidade, com o auxílio</p><p>da fiscalização e uma série de boas práticas.</p><p>9Propriedades físicas do som</p><p>É muito importante a construção de edifícios na melhor orientação, para que, por</p><p>exemplo, janelas não fiquem viradas para uma rua barulhenta. Temos ainda o isolamento</p><p>entre paredes, para que barulhos desagradáveis como descargas, conversas ou o</p><p>elevador não se tornem um problema no dia a dia dos moradores.</p><p>Como parte de solução, há diretrizes, normas e leis que arquitetos, enge-</p><p>nheiros e fabricantes de materiais de construção devem seguir. Outro auxílio</p><p>importante são as medidas de redução de som em estradas, próximo a trens ou</p><p>em ruas movimentadas, com o uso de uma barreira que impeça a propagação</p><p>do som. No Brasil, na margem da Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, há</p><p>uma barreira de três metros que reduz o ruído da avenida para a comunidade</p><p>próxima. Barreiras como essas podem ser parte de uma solução, mas que</p><p>deve ser cuidadosamente pensada, pois também atrapalham a visão, podendo</p><p>ocasionar outros problemas à comunidade (HEWITT, 2010).</p><p>O mesmo autor ainda nos conta que a maioria dos sons que escutamos são</p><p>transmitidos pelo ar, porém qualquer substância elástica pode transmitir o som.</p><p>Essa elasticidade é a capacidade do material de voltar a sua forma original</p><p>depois que sofreu a ação de uma força aplicada.</p><p>A avaliação de um ambiente é realizada através de um medidor de pressão</p><p>sonora, expresso em dB. Para essa avaliação existem normas e legislações que</p><p>possuem o embasamento para que seja realizada. As medições, conforme as</p><p>normas ABNT NBR 10151 e NBR 10152, visam o conforto da população e</p><p>consideram as variáveis e dia e hora para a exposição.</p><p>Para o controle de ruído, a primeira opção a ser pensada é a redução da</p><p>fonte, ou alteração da mesma. Se a fonte não puder ser alterada, a solução é a</p><p>redução o caminho da propagação desse som, permitindo assim que o receptor</p><p>receba menos ruído do local onde estiverem.</p><p>Quando há ruídos internos como em máquinas e equipamentos, devem</p><p>ser realizadas avaliações identificando a fonte de ruído de cada equipamento</p><p>e propor soluções como o enclausuramento de máquinas ou a colocação de</p><p>placas absorventes, silencioso na descarga e redução de vibração na trajetória</p><p>do som (BUXTON, 2017).</p><p>Propriedades físicas do som10</p><p>Técnicas utilizadas para o conforto acústico nas</p><p>edificações</p><p>Hewitt (2010) afi rma que os átomos respondem mais facilmente à movimen-</p><p>tação em líquidos ou sólidos, devido a sua aproximação, e que isso transmite</p><p>energia, quase sem perda. Temos como exemplo que o som se propaga 15</p><p>vezes mais rápido no aço do que no ar, e que se propaga também quatro vezes</p><p>mais rápido na água do que no ar.</p><p>Hewitt (2010) afirma que o ar seria o pior transmissor de som, se comparado a sólidos</p><p>e líquidos. E podemos citar, como exemplo, que colocar o ouvido no trilho do trem</p><p>torna o som mais nítido do que ouvir ele</p><p>se aproximando naturalmente. Ou então</p><p>colocar o ouvido em uma mesa para escutar um relógio analógico.</p><p>Para que o isolamento acústico de um espaço seja realizado, podemos contar</p><p>com dois tipos de materiais, os convencionais e os não convencionais (criados</p><p>a partir de uma inovação para o isolamento específico). Materiais criados a</p><p>partir de uma inovação, são materiais que foram criados especificamente para</p><p>o tratamento acústico e serão tratados mais adiante.</p><p>Materiais convencionais são materiais de vedação utilizados normalmente na cons-</p><p>trução, como blocos cerâmicos, blocos de concreto, madeira, vidro.</p><p>Os materiais não convencionais são os que foram desenvolvidos especialmente</p><p>para isolar os ambientes, como lã de vidro, lã de rocha, vermiculita, espumas elasto-</p><p>méricas, fibras de coco.</p><p>O som reflete em superfícies lisas e por isso quando o som é refletido</p><p>nas paredes, forro ou piso, significa que as superfícies são refletoras e o som</p><p>pode ser tornar confuso. Quando o som sofre várias reflexões, mesmo depois</p><p>11Propriedades físicas do som</p><p>da fonte parar de emitir esse som, chamamos de reverberação. Porém, se as</p><p>paredes forem absorventes, o nível de som será baixo e abafado.</p><p>Diferenças podem ser sentidas em um box do chuveiro, se você tentar cantar. Ou</p><p>então ao assistir a alguma apresentação em um auditório, onde a parede é refletora.</p><p>No auditório, temos a explicação de que o som é tranquilamente ouvido, pois a parede</p><p>atrás do palco tem as superfícies refletoras, direcionando o som para a plateia.</p><p>A seguir, você poderá acompanhar as características de cada material.</p><p> Lã de vidro: conhecida como um dos melhores isolantes térmicos, é</p><p>composta por sílica, sódio e aglomerado com resinas sintéticas. Por</p><p>ser porosa, a onda sonora entra em contato e é rapidamente absorvida.</p><p>Algumas vantagens são: leveza, fácil manipulação, não deteriora, não</p><p>favorece a proliferação de fundo e não é alvo de roedores.</p><p> Lã de rocha: fibras originais de basalto aglomerado com resina sinté-</p><p>tica. Pode ser aplicada em forro e divisórias. Suas características são:</p><p>isolante térmico e acústico, não é corrosivo, não nocivo à saúde (quando</p><p>manuseado com equipamento especial tem um ótimo custo/benefício).</p><p> Espuma elastomérica: espuma de poliuretano com as propriedades. Se</p><p>aplicada com retardante de chamas, melhora a segurança contra o fogo</p><p>e protege contra mofo, fungos e bactérias.</p><p> Fibra de coco: se misturada com cortiça expandida, tem um bom resul-</p><p>tado na absorção de ondas de baixa frequência. Material versátil, bom</p><p>isolamento térmico e acústico e é uma matéria-prima natural e renovável.</p><p> Frequentemente utilizamos o drywall ou o gesso cartonado, onde as</p><p>placas são utilizadas em acabamentos sobre a alvenaria para a estru-</p><p>tura de forros ou paredes de espessuras menores. As vantagens de uso</p><p>dessas placas é o revestimento com pouco peso, pouco uso do espaço,</p><p>precisão e permite que instalações elétricas sejam embutidas. Porém,</p><p>a desvantagem é que a resistência mecânica contra impactos é baixa,</p><p>de até 35 kg, e tem baixa resistência à umidade. Esse material também</p><p>é utilizado na separação de ambientes, podendo ser trabalhado com</p><p>Propriedades físicas do som12</p><p>paredes duplas e um material acústico. Uma boa indicação de uso seria</p><p>a lã de vidro.</p><p>Conhecimento, técnica e materiais possibilitam a construção de ambientes de estudo,</p><p>de lazer e de trabalho com conforto e condicionamento acústico adequado.</p><p>Conhecer o ambiente e a finalidade para a qual ele será utilizado permite</p><p>realizar um projeto diferenciado, com materiais adequados ao trabalho, dife-</p><p>renciando também tetos e divisórias (SATO; RAMOS, 2015). Essas escolhas</p><p>permitem que as ondas sonoras sejam perfeitamente aproveitadas ou então</p><p>seja feita a minimização da refração, ajustando o conforto com a finalidade</p><p>do espaço.</p><p>Em um ambiente de trabalho, pode-se pensar que aletas ou saliências no</p><p>teto vão ajudar a impedir que as ondas sonoras realizem reflexões e difrações,</p><p>possibilitando um maior conforto e um trabalho mais produtivo. Confira a</p><p>diferença observando a Figura 2, que nos mostra um teto que reflete os sons,</p><p>emitindo por toda a sala.</p><p>Figura 2. Ambiente em que o som se propaga.</p><p>Fonte: Sato e Ramos (2015, p. 116).</p><p>Já a Figura 3 nos mostra uma sala com saliências que restringem a pro-</p><p>pagação do som. Se o material for absorvente, torna o ambiente ainda mais</p><p>agradável.</p><p>13Propriedades físicas do som</p><p>Figura 3. Ambiente com placas e aletas.</p><p>Fonte: Sato e Ramos (2015, p. 117).</p><p>Se o trabalho for realizado no local mostrado pelas imagens do livro men-</p><p>cionado anteriormente, são indicados cortinas de veludo, colunas com ranhuras,</p><p>formas irregulares e discos de neoprene para diminuir a vibração do som.</p><p>Podemos perceber, então, que a vedação, o formato da edificação, o projeto</p><p>e os detalhamentos influenciam no nosso comportamento dentro de um espaço.</p><p>Tudo isso porque locais silenciosos não podem ser planejados próximos à sala</p><p>com ruído, como salas com músicas. E que locais que exigem sigilo, devem</p><p>ser planejados para que o som não saia do ambiente.</p><p>Percebemos que há inúmeros elementos que interferem no isolamento e</p><p>conforto do indivíduo dentro de uma edificação e que a qualidade dos materiais</p><p>e o planejamento do ambiente podem fazer diferença para o dia a dia de quem</p><p>frequenta o espaço. Esse planejamento pode influenciar, mesmo que o indivíduo</p><p>não perceba o seu bem-estar, a sua qualidade de vida. Como podemos ver,</p><p>esses detalhes e projetos arquitetônicos geram muito mais influência sobre</p><p>nós do que imaginamos.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 15: atividades e operações insalubres. Brasília, DF,</p><p>1978. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR15/</p><p>NR-15.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed.</p><p>Porto Alegre: Bookman, 2017.</p><p>CASSILHA, G. M.; CASSILHA, S. A. Planejamento urbano e meio ambiente. Curitiba: IESDE,</p><p>2007.</p><p>Propriedades físicas do som14</p><p>CUTNELL, J. D.; JOHNSON, K. W. Physics. 8. ed. New York: Wiley, 2009.</p><p>FORTUNA, V. S. Um simulador de tráfego para o estudo do ruído. 2006. 94 f. Dissertação</p><p>(Mestrado em Estatística Aplicada e Modelação) – Universidade do Porto, Porto, 2006.</p><p>Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/12041/2/Texto%20</p><p>integral.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>GUIMARÃES, L. G. Análise dos níveis de pressão sonora nos locais de maior incidência de</p><p>ruído na cidade de Santa Maria, RS. 2005. 61 f. Monografia (Especialização em Educa-</p><p>ção Ambiental) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005. Disponível</p><p>em : <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/2184/Guimaraes_Luis_Garcia.</p><p>pdf?sequence=1>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>HEWITT, P. G. Fundamentos de Física Conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2010.</p><p>KARLEN, M. Planejamento de espaços internos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.</p><p>KOEHLER, J. Qual a diferença entre nível de pressão acústica e nível de potência acústica?</p><p>08 maio 2015. Disponível em: <http://www.koeeng.com.br/textos/LD002%20-%20</p><p>Pot%C3%AAncia%20ac%C3%BAstica%20x%20press%C3%A3o%20ac%C3%BAstica.</p><p>pdf>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>RONCOLATO, M.; PRADO, G.; TONGLET, A. Os ruídos das cidades. 22 jul. 2016. Disponível</p><p>em: <https://www.nexojornal.com.br/especial/2016/07/22/Os-ru%C3%ADdos-das-</p><p>-cidades>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>SATO, H.; RAMOS, I. M. L. Física para edificações. Porto Alegre: Bookman, 2015.</p><p>SILAS, J. S. D. S. O que é pressão? 2018. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.</p><p>br/o-que-e/fisica/o-que-e-pressao.htm>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>SLEIFER, P. et al. Análise dos níveis de pressão sonora emitidos por brinquedos infantis.</p><p>Revista Paulista de Pediatria, v. 31, n. 2, p. 218-22, 2013. Disponível em: <http://www.</p><p>scielo.br/pdf/rpp/v31n2/13.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>AGÊNCIA DE NOTÍCIAS PARA A DIFUSÃO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Soluções Inovadoras</p><p>para conforto acústico em ambientes urbanos.</p><p>24 out. 2013. Disponível em: <http://www.</p><p>dicyt.com/noticia/solucoes-inovadoras-para-o-conforto-acustico-em-ambientes-ur-</p><p>banos>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>FERRONI, M. Qual é a frequência de som que incomoda os cães? Galileu, n. 187, fev. 2007.</p><p>Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT596707-1716-2,00.</p><p>html>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>GOI, F. D. Dicas de acústica nos ambientes. 01 ago. 2014.Disponível em: <https://dicas-</p><p>dearquitetura.com.br/dicas-de-acustica/>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>ISOVER. A acústica da empresa influencia na sua produtividade. 11 abr. 2016. Disponível</p><p>em: <https://www.isover.com.br/noticias/acustica-da-empresa-influencia-na-sua-</p><p>-produtividade>. Acesso em: 21 dez. 2018.</p><p>15Propriedades físicas do som</p>