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<p>APICULTURA – ABELHAS COM</p><p>E SEM FERRÃO</p><p>AULA 1</p><p>Profª Greissi Tente Giraldi</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Seja bem-vindo(a). Nesta etapa, estudaremos, em linhas gerais, a</p><p>importância das abelhas e do mel, como alimento, ao longo da história das</p><p>civilizações. Veremos também como o mel sobreviveu ao tempo e permanece</p><p>entre os principais alimentos da atualidade, além disso, veremos os principais</p><p>conceitos que norteiam a produção melífera.</p><p>Os objetivos desta etapa são: compreender a história da apicultura,</p><p>entender a origem das abelhas e sua importância, entender como vivem as</p><p>abelhas, qual a importância econômica desse setor e os principais cenários da</p><p>produção melífera. Desejo a você um excelente estudo.</p><p>TEMA 1 – HISTÓRIA DA APICULTURA</p><p>Ao iniciar este estudo, convido você a me acompanhar na compreensão</p><p>da história da apicultura sobre a luz do conhecimento de um dos maiores</p><p>estudiosos de abelhas de sua época, o Professor Frank R. Cheshire, autor do</p><p>livro Bees & Bee-Keeping Scientific and Practical, publicado em Londres, na</p><p>Inglaterra, no ano de 1886. Em tradução literal, o livro Abelhas e Apicultura –</p><p>Científica e Prática, trata, segundo o próprio autor da compilação de anos de</p><p>dedicação e estudo à compreensão do funcionamento de uma sociedade</p><p>hierárquica e economicamente organizada, chamada de colmeia. “A colmeia de</p><p>abelhas com as maravilhas de sua economia social põe em jogo instintos tão</p><p>notáveis quanto inexplicáveis, a ponto de ter captado o interesse dos homens</p><p>por muitos anos [...]”.</p><p>1.1 O Mel e o Velho Mundo</p><p>Na Antiguidade, o mel era a única fonte de sacarose disponível. Antes da</p><p>introdução da cana-de-açúcar, a colmeia supria a necessidade de açúcar da</p><p>humanidade de forma única, estando ligada à espécie humana desde os tempos</p><p>da pré-história quando os humanos começavam a observar e coletar mel de</p><p>colmeias naturais em rochas e cavidades de árvores. Já nessa época, o mel era</p><p>valorizado por suas propriedades nutricionais, terapêuticas e culinárias.</p><p>No Egito Antigo, o mel era utilizado como adoçante em alimentos e</p><p>bebidas, além de ser utilizado em oferendas religiosas e rituais funerários, assim</p><p>também era na Grécia e Roma Antigas. Além do uso do mel, essas civilizações</p><p>3</p><p>tinham grande apreço pelas abelhas, tanto que as antigas moedas gregas</p><p>estampavam em uma das faces uma abelha como símbolo de riqueza. Já os</p><p>romanos as veneravam como símbolo de admiração e de defesa de território. Na</p><p>Figura 1, podem ser observados desenhos de abelhas, em colunas no Egito,</p><p>enfatizando a importância desse inseto.</p><p>Figura 1 – Abelhas na coluna do Templo de Karnak, dedicado ao deus Amon-Rá</p><p>Créditos: jon_chica/adobe stock.</p><p>O mel também desempenhou um papel importante nas Culturas do</p><p>Oriente Médio e da Ásia, devido às suas diversas propriedades.</p><p>Curiosamente, o mel deu origem a uma das bebidas alcóolicas mais</p><p>antigas conhecida pela humanidade, o hidromel, pois sua origem remonta a</p><p>milhares de anos atrás, estando presente inclusive, em diversas mitologias.</p><p>1.2 A linha do Tempo – as descobertas sobre as abelhas e a colmeia</p><p>As maiores descobertas para o desenvolvimento da apicultura surgiram a</p><p>partir de Aristóteles, mas só a partir do século XVII é que houve considerável</p><p>avanço no desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas de manejo.</p><p>4</p><p>Foi com o surgimento do microscópio que Swammerdam (1637 – 1680)</p><p>desvendou o sexo da rainha, por meio da técnica de dissecação, pois se</p><p>supunha, até então, ser um rei.</p><p>Passado algum tempo, Janscha descobriu, no ano de 1771, que a</p><p>fecundação da rainha ocorre ao ar livre. No mesmo ano, Schirach provou que a</p><p>rainha se originava do mesmo ovo que pode dar origem a uma abelha operária.</p><p>Em meados do século XIX, por volta dos anos 1851, Lorenzo Langstroth</p><p>descobriu o que se conhece por “espaço abelha”, que nada mais é do que o vão</p><p>entre um favo e outro, o qual pode variar em tamanho entre 6 e 9 mm. A partir</p><p>daí, foi criado um quadro móvel que fica suspenso dentro da colmeia pelas duas</p><p>extremidades, como pode ser observado na Figura 2.</p><p>Figura 2 – Quadro móvel com o “espaço abelha”, proposto por Langstroth</p><p>Créditos: satura_ /adobe stock</p><p>Ainda no mesmo século, em 1857, Johanes Mehring produziu a primeira</p><p>cera alveolada e, em 1865 Franz Von Hruschska inventou a máquina centrífuga</p><p>para retirar mel sem danificar os favos.</p><p>Todas essas descobertas levaram à criação da colmeia Langtroth, em</p><p>1851, considerada padrão e até hoje a mais usada em todo o mundo, a partir</p><p>disso, ocorreu o maior avanço na apicultura devido à facilidade de manejo que</p><p>proporciona, devido à agressividade das abelhas europeias, dotadas de ferrão.</p><p>5</p><p>1.3 Apicultura no Brasil</p><p>A apicultura no Brasil remonta aos tempos pré-coloniais, em que já</p><p>existiam colônias de abelhas nativas, os meliponíneos. Essas abelhas sem</p><p>ferrão eram valorizadas pelas populações indígenas por seu mel e outros</p><p>produtos apícolas.</p><p>Warwick Estevam Kerr, no prefácio do livro Manual de Apicultura, de</p><p>Camargo (1972), menciona que, no Brasil, a apicultura tem cinco fases distintas.</p><p>Veremos a seguir quais são elas.</p><p>Segundo o Kerr, a primeira fase tem início no século XIX, anterior a 1840.</p><p>Nessa época, havia apenas ocorrência dos Meliponíneos; no Sul as mandaçaias,</p><p>mandaguaris, tuiúvas, jatais, manduris e guarupus; no Nordeste a uruçu, a</p><p>jandaíra e a canudo; no Norte, também havia ocorrência de uruçu e jandaíra, no</p><p>entanto ocorria também a uruçu-boca-de-renda.</p><p>A segunda fase teve início em 1840, as abelhas da espécie Apis mellifera</p><p>foram introduzidas no Brasil, oriundas da Espanha e Portugal, trazidas pelo</p><p>Padre Antônio Carneiro. Há indícios que as subespécies A. mellifera mellifera e</p><p>A. mellifera carnica tenham sido as primeiras abelhas a chegar em território</p><p>brasileiro. Em 1845, com a migração dos alemães, várias colônias de A. mellifera</p><p>mellifera foram trazidas da Alemanha e devido a isso a apicultura nos estados</p><p>do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo começa a se</p><p>desenvolver; entre os anos de 1870 e 1880, as abelhas italianas A. mellifera</p><p>ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia.</p><p>Aproximadamente 100 anos após a segunda fase, uma terceira fase se</p><p>estabelece. Em 1940, aproximadamente, surgem os primeiros movimentos</p><p>associativos: a comercialização melífera começa a se fazer sentir, porém, a</p><p>concretização e organização da cadeia produtiva foi um processo relativamente</p><p>lento.</p><p>A quarta fase dura mais ou menos 20 anos e ocorre entre os anos de 1950</p><p>e 1970. Nesse período, pesquisadores de diversas cidades brasileiras colocam</p><p>o Brasil no mapa mundial das investigações científicas apícolas. Nesta fase é</p><p>introduzida a abelha africana para fins de cruzamentos, segregações de</p><p>linhagens que aliem suas boas propriedades às boas propriedades das melhores</p><p>linhagens italianas.</p><p>6</p><p>Porém, um acidente na manipulação das criações provocou a</p><p>enxameação de 26 colmeias, que iniciaram a africanização da apicultura</p><p>brasileira. As consequências desse acidente foram drásticas do ponto de vista</p><p>produtivo, no entanto, o grupo de pesquisas, com a colaboração dos apicultores,</p><p>conseguiu resolver o problema, pelo menos do ponto de vista produtivo.</p><p>Até o ano de 1970, foram realizadas as Semanas de Apicultura e Genética</p><p>de Abelhas de números 1, 2 e 3. O mesmo ano marca o início da quinta fase da</p><p>apicultura no Brasil, uma fase marcada por diversos problemas, como a extrema</p><p>agressividade, característica da abelha do Norte e do Nordeste e a produção de</p><p>mel escuro. Apesar disso, a apicultura brasileira se desenvolveu muito a partir</p><p>dos anos 1970, quando a produção de mel e de outros produtos apícolas foi</p><p>incrementada comercialmente. Atualmente, o mel brasileiro tem alta aceitação</p><p>no mercado interno e no mercado exterior, e frequentemente ganha prêmios</p><p>pela</p><p>sua qualidade e sabor.</p><p>TEMA 2 – APICULTURA COMO ATIVIDADE COMERCIAL NO BRASIL</p><p>A apicultura comercial, como qualquer outra atividade pecuária, requer a</p><p>obtenção de equilíbrio entre os caracteres genotípicos e fenotípicos dos</p><p>indivíduos de interesse. Neste tópico, vamos entender um pouco melhor como a</p><p>apicultura se estabeleceu como atividade comercial.</p><p>2.1 O princípio de tudo</p><p>Como vimos no Tópico 1, o ano de 1840 foi um marco para a apicultura</p><p>no país, pois antes disso havia no Brasil apenas as abelhas nativas estas,</p><p>embora produzissem mel, o faziam em pequenas quantidades. Estudiosos da</p><p>época buscavam alternativas para melhorar a produção melífera, uma vez que</p><p>o mel produzido pelas abelhas nativas, apesar de apreciado pelo sabor, tinha</p><p>baixo rendimento de produção.</p><p>Houve, então, a tentativa de aclimatar as abelhas europeias no país,</p><p>visando aumentar não só a produção de mel, mas também a produção de cera,</p><p>que na época era muito utilizada para confecção de velas, utilizadas para fins</p><p>religiosos.</p><p>Com o passar do tempo e a continuidade dos estudos visando aumentar</p><p>a produtividade melífera, na década de 1950 o pesquisador brasileiro Warwick</p><p>7</p><p>Estevam Kerr deu início ao que podemos reconhecer como os primeiros</p><p>trabalhos brasileiros sobre melhoramento das abelhas do gênero Apis.</p><p>Motivados pela baixa produtividade das abelhas europeias (Apis mellifera</p><p>ligustica, A. mellifera carnica, A. mellifera caucasica e A. mellifera mellifera), os</p><p>pesquisadores importaram linhagens mais produtivas e adaptáveis ao clima</p><p>tropical, assim, chegou ao Brasil a abelha africana (A. mellifera scutellata).</p><p>O processo de introdução da abelha africana se deu, inicialmente, para</p><p>fins de pesquisa, visando iniciar um programa de seleção e melhoramento</p><p>genético. Alguns exemplares trazidos da África morreram devido à viagem e</p><p>outros por não se adaptarem ao local, o que é bem comum quando se trata de</p><p>aclimatação de insetos. No entanto, 33 rainhas de abelhas de A. mellifera</p><p>scutellata sobreviveram e, acidentalmente, deram início ao processo de</p><p>africanização das abelhas no Brasil, devido ao cruzamento entre espécies. Na</p><p>Figura 3, podemos ver as principais características externas de uma abelha</p><p>africana.</p><p>Figura 3 – Abelha africana, Apis mellifera scutellata</p><p>Créditos: Luiz/adobe stock.</p><p>As abelhas africanizadas, embora altamente produtivas, no início de sua</p><p>dispersão causaram um grande impacto, devido principalmente à sua</p><p>8</p><p>agressividade em situações adversas, trazendo aos apicultores da época</p><p>dificuldade no manejo, o que levou diversos deles a abandonarem a atividade.</p><p>Graças aos estudos para conhecer e entender a biologia e o</p><p>comportamento das abelhas africanizadas e a dedicação de pesquisadores e de</p><p>apicultores que se mantiveram desenvolvendo as criações de abelhas, as</p><p>abelhas africanizadas tornaram-se responsáveis pelo desenvolvimento apícola</p><p>no país. Veremos a seguir com mais detalhes como o melhoramento genético</p><p>impulsionou o desenvolvimento da atividade apícola.</p><p>2.2 Importância do Melhoramento Genético para a Apicultura</p><p>O melhoramento genético teve início quando o homem primitivo preservou</p><p>as melhores sementes e os melhores animais para a reprodução, ao invés de</p><p>consumi-los, dessa forma, os indivíduos superiores foram selecionados para</p><p>formar as gerações seguintes.</p><p>A produção animal resulta da ação conjunta das forças de origem genética</p><p>e do ambiente, altos níveis de produção só podem ser alcançados pelo</p><p>melhoramento constante da composição genética dos animais, além das</p><p>interações indivíduo/ambiente.</p><p>A parte genética é a base para o estabelecimento de programas de</p><p>melhoramento e é o fator que limita a capacidade de resposta dos animais aos</p><p>processos seletivos, sendo indispensável maximizar a resposta de cada</p><p>indivíduo, a qual é o resultado da parte genética com as condições ambientais.</p><p>Campos (2008) nos mostra em seu estudo que os níveis de produção dos</p><p>indivíduos selecionados acabam sendo aspectos dependentes da utilização</p><p>racional da interação das forças genótipo/ambiente.</p><p>Partindo desse princípio, o melhoramento genético na apicultura é</p><p>produzir rainhas e zangões, com base em rigorosos critérios de seleção, que</p><p>transmitam às colônias as características desejáveis. A seleção, principalmente</p><p>em abelhas africanizadas produz ótimos resultados, devido à sua grande</p><p>variabilidade genética.</p><p>Existem vários tipos de seleção que podem ser aplicados ao</p><p>melhoramento de abelhas, no entanto, os estudos têm mostrado quatro</p><p>estratégias que têm se destacado, mostrando os melhores resultados em</p><p>populações fechadas, as quais também podem ser aplicadas as populações</p><p>9</p><p>abertas com bons ganhos genéticos (Omholt e Âdouy, 1994). Vejamos a seguir</p><p>quais são estas estratégias:</p><p>1. Seleção dentro da família, na qual se escolhe a rainha filha com o valor</p><p>fenotípico mais alto de cada rainha matriz;</p><p>2. Seleção em massa, na qual as novas rainhas matrizes são escolhidas</p><p>independentes de relações familiares;</p><p>3. Seleção de massa combinada com seleção para alta viabilidade da cria;</p><p>4. Seleção ao acaso para as novas matrizes.</p><p>Há ainda outros métodos sugeridos por outros pesquisadores (Vencovsky</p><p>e Keer, 1982) visando acelerar o melhoramento genético de abelhas da espécie</p><p>A. mellifera, vejamos quais são esses métodos:</p><p>1) Uso de rainhas de colmeias selecionadas</p><p>Esse é um método seletivo a partir do qual se identificam 25% das</p><p>colmeias mais produtivas. Essas colmeias devem permanecer inalteradas e</p><p>serão utilizadas para a produção de rainhas virgens, estas rainhas virgens serão</p><p>introduzidas nas colmeias menos produtivas (25%) e substituirão as rainhas</p><p>destas colmeias, as quais devem ser previamente eliminadas. Nesse método, as</p><p>rainhas virgens acasalam com zangões desconhecidos, ou seja, zangões de</p><p>outras colmeias</p><p>O potencial de seleção estimando uma seleção de 25% das melhores</p><p>colmeias pode levar a um aumento significativo de até 20% da produção.</p><p>2) Uso de rainhas e zangões de colmeias selecionadas</p><p>Esse método substitui uma proporção de rainhas nas colmeias menos</p><p>produtivas como no método exposto anteriormente, e adicionalmente, são</p><p>introduzidos nas colmeias mais produtivas quadros de zangões, visando</p><p>enriquecer o conjunto de zangões disponíveis para a fecundação de rainhas</p><p>virgens.</p><p>O potencial de seleção estimando uma seleção de 25% das melhores</p><p>colmeias e uma troca de pelo menos 50% dos zangões disponíveis para o</p><p>acasalamento pode resultar em um aumento significativo de até 30% na</p><p>produção, neste caso é atribuído 10% referente à contribuição paterna dos</p><p>indivíduos selecionados.</p><p>10</p><p>3) Uso de zangões de colmeias selecionadas</p><p>Nesse método, são introduzidos nas colmeias mais produtivas quadros de</p><p>zangões, os quais enriquecem o conjunto de zangões disponíveis para a</p><p>fecundação das rainhas virgens.</p><p>O potencial de seleção estimando uma troca de pelo menos 50% dos</p><p>zangões disponíveis para o acasalamento pode resultar em um aumento</p><p>significativo de até 10% na produção.</p><p>Apresentados os métodos que podem ser adotados para acelerar o</p><p>melhoramento genético em abelhas, devemos ter muito claro que a</p><p>implementação das metodologias descritas nem sempre são viáveis de</p><p>aplicação. Na maioria dos casos, os apicultores têm um número reduzido de</p><p>colmeias, o que inviabiliza a prática de melhoramento genético nesses métodos.</p><p>Também é inviável e ineficiente para um pequeno produtor destinar 25% de suas</p><p>colmeias mais produtivas para produzirem machos, uma vez que a probabilidade</p><p>destes se acasalarem com rainhas do mesmo apiário é desconhecida.</p><p>No entanto, a realização de práticas de melhoramento genético é</p><p>importante por diversas razões. Vejamos algumas delas a seguir.</p><p>O melhoramento genético pode levar ao desenvolvimento de abelhas com</p><p>maior produtividade, ou seja, que produzem</p><p>mais mel, pólen, própolis e outros</p><p>produtos apícolas. Isso contribui para aumentar a produção e a rentabilidade da</p><p>atividade apícola.</p><p>As abelhas estão expostas a uma infinidade de agentes estressores,</p><p>incluindo pragas, patógenos, Defensivos agrícolas (agrotóxicos) e má nutrição.</p><p>Esses fatores associados vêm ocasionando ao longo dos anos grande</p><p>mortalidade de colônias de abelhas (A. mellifera), além das taxas consideradas</p><p>normais (Niño e Jasper, 2015). Diversos estudos realizados recentemente</p><p>investigando as causas de perdas de colônias reforçam as recomendações para</p><p>a realização de práticas de manejo adequadas a fim de minimizar essas perdas.</p><p>Entre as muitas recomendações de práticas de manejo, enfatiza-se a seleção</p><p>genética de abelhas resistentes a parasitas e doenças. A resistência a doenças</p><p>e parasitas também é um ponto bem importante que se busca ao fazer o</p><p>melhoramento genético das populações, juntamente porque uma das maiores</p><p>preocupações na apicultura moderna é a saúde das abelhas. Abelhas mais</p><p>resistentes a doenças, por exemplo, reduzem a necessidade de tratamentos</p><p>químicos e minimizam perdas na colônia.</p><p>11</p><p>Outro ponto importante do melhoramento genético é a adaptação das</p><p>espécies ao ambiente, características adaptativas podem resultar em colônias</p><p>mais resistentes a mudanças climáticas, variações sazonais e ambientes</p><p>específicos. Além disso, há influência de práticas de melhoramento no</p><p>comportamento das abelhas, tornando-as mais dóceis e menos propensas a</p><p>atacar apicultores e animais, o que facilita o manejo das colônias e reduz os</p><p>riscos para os apicultores.</p><p>2.3 Criações massais de abelhas – Apis mellifera</p><p>Criações massais são de extrema importância para o desenvolvimento de</p><p>práticas de melhoramento genético de abelhas, entre outras funções que essas</p><p>criações cumprem na apicultura comercial. Entenderemos a importância das</p><p>criações massais na apicultura e quais os critérios para o seu estabelecimento à</p><p>luz do material produzido por Schafaschek, 2020.</p><p>O primeiro passo para iniciar as criações massais de colmeias de abelhas</p><p>é fazer a seleção das colônias para a produção de rainhas de qualidade, assim,</p><p>quanto maior o número de colmeias observadas para se fazer uma seleção,</p><p>maior será a segurança e maior a possibilidade de se encontrar boas matrizes.</p><p>Para a produção de rainhas em larga escala e com o objetivo de</p><p>comercialização, recomenda-se que seja realizada uma pré-seleção utilizando</p><p>no mínimo 400 colônias. Essas colônias devem ser avaliadas quanto às</p><p>seguintes características: produtividade, ausência de doenças e apresentar as</p><p>menores taxas de infestações pelo ácaro varroa dentre as colmeias do apiário.</p><p>Dessas 400 colônias avaliadas, deve-se escolher aproximadamente 40 colônias</p><p>considerando as que se destacarem com base nos critérios acima (Schafaschek,</p><p>2020).</p><p>No caso de produção de rainhas em menor escala, normalmente</p><p>utilizadas somente na substituição de rainhas e para a produção de novas</p><p>colônias na propriedade, por meio de nucleação ou divisão de enxames, é</p><p>recomendado que se escolha 10% das colônias do plantel da propriedade. Uma</p><p>boa alternativa para se melhorar a genética em pequenas criações é a troca de</p><p>material genético (rainhas e/ou núcleos de abelhas) entre os grupos ou</p><p>associações locais ou regionais.</p><p>As colônias pré-selecionadas devem ser separadas em um único local</p><p>para serem acompanhadas com avaliações periódicas, de maneira mais</p><p>12</p><p>criteriosa. Algumas variáveis precisam ser consideradas na avaliação genética,</p><p>como a idade da rainha e as condições de desenvolvimento da colônia no início</p><p>das floradas, devemos sempre considerar que uma rainha nova terá um</p><p>desempenho melhor do que uma rainha da mesma qualidade genética, porém</p><p>velha. Quanto às condições de desenvolvimento da colônia no início das</p><p>floradas, é comum observar ótimas rainhas produzindo pouco em função de</p><p>terem saído do inverno em más condições devido à falta de alimento</p><p>(Schafaschek, 2020).</p><p>É natural uma colônia com uma rainha prolífera consumir mais alimento</p><p>no inverno e primavera do que uma colônia com uma rainha pouco prolífera.</p><p>Quando a reserva deixada nas colmeias e o fornecimento de alimento durante o</p><p>inverno e primavera for a mesma quantidade para as duas, a colônia com rainha</p><p>prolífera possivelmente não conseguirá expressar seu potencial na safra</p><p>subsequente. Nesse caso, é importante que a reserva de alimento deixada para</p><p>passar o inverno e também a quantidade de alimento fornecida seja equilibrado</p><p>com o número de crias e abelhas adultas, favorecendo desta forma as colônias</p><p>com rainhas mais prolíferas e com maior quantidade de crias e abelhas para</p><p>alimentar. Veremos com mais detalhes em outro tópico como ocorre a nutrição</p><p>das abelhas (Schafaschek, 2020).</p><p>É importante lembrarmos que o apicultor é peça fundamental nesse</p><p>processo, pois é ele quem poderá auxiliar na seleção massal de colônias, as</p><p>quais podem integrar os programas de melhoramento, também, a partir do</p><p>envolvimento dos apicultores e suas associações é possível a seleção e</p><p>melhoramento genético regional de rainhas, o que permitirá a produção de</p><p>rainhas mais adaptadas localmente.</p><p>TEMA 3 – IMPORTÂNCIA DA APICULTURA</p><p>As abelhas, como já podemos intuir, são insetos que desempenham</p><p>diversos papéis na natureza e na sociedade como um todo, promovendo a vida</p><p>em diferentes esferas. Se pudéssemos atribuir um único rosto para a palavra</p><p>sustentabilidade, possivelmente ele teria as características de uma abelha.</p><p>Sabemos que a sustentabilidade é sustentada por um tripé consolidado pelos</p><p>aspectos sociais, ambientais e econômicos, assim também é a apicultura.</p><p>Vejamos a seguir como essa importante atividade se desenvolve nesses</p><p>segmentos.</p><p>13</p><p>3.1 Importância Social</p><p>A apicultura se destaca como opção de geração de renda e ocupação do</p><p>homem no campo, uma vez que a sua cadeia produtiva possibilita a criação de</p><p>postos de trabalho e fluxos de renda durante todo o ano, particularmente na</p><p>agricultura familiar, contribuindo, desse modo, para a melhoria da qualidade de</p><p>vida e fixação do homem no meio rural.</p><p>3.2 Importância Econômica</p><p>Se socialmente a apicultura cumpre seu papel gerando emprego e renda,</p><p>economicamente falando, no ano de 2021, a produção melífera movimentou</p><p>854.416 mil reais (IBGE). Na Figura 4 podemos observar o valor da produção</p><p>nos diferentes estados da federação. A quantidade de mel produzida no Brasil</p><p>no mesmo ano foi de 55.828.154 quilogramas.</p><p>Figura 4 – Valor da produção melífera nos estados brasileiros</p><p>Créditos: IBGE, 2023.</p><p>Devemos levar em consideração, no entanto, que o mel não é o único</p><p>produto proveniente da criação de abelhas. A apicultura também movimenta a</p><p>14</p><p>economia com produtos como própolis, cera, geleia real e apitoxinas. Veremos</p><p>com mais detalhes os produtos advindos da apicultura em outro tópico.</p><p>Veremos a seguir como as abelhas têm se mostrado fundamental como</p><p>bioindicadores ou indicadores de qualidade ambiental.</p><p>3.3 Importância Ambiental</p><p>As abelhas são frequentemente usadas como indicadores de qualidade</p><p>ambiental devido a sua sensibilidade às mudanças no ambiente e aos fatores</p><p>que afetam a saúde dos ecossistemas.</p><p>Como polinizadores essenciais para muitas plantas, incluindo culturas de</p><p>interesse agrícola, as abelhas respondem rapidamente a alterações nos habitats</p><p>naturais e à exposição a poluentes ou condições adversas. Entre as principais</p><p>razões pelas quais as abelhas são usadas como bioindicadores estão,</p><p>justamente, a polinização, a biodiversidade, respostas rápidas às mudanças</p><p>climáticas, exposição a poluentes, para monitoramento de ecossistemas, além</p><p>de conexões com outros organismos.</p><p>Como vimos em diversos momentos, a polinização é um processo crucial</p><p>para a reprodução de muitas espécies vegetais. Sendo as abelhas um dos</p><p>principais polinizadores,</p><p>sua presença e saúde refletem diretamente a qualidade</p><p>do ambiente e a disponibilidade de recursos naturais.</p><p>Outro ponto importante é a sensibilidade das abelhas à mudança dos</p><p>habitats e mudanças climáticas. Esses fatores afetam a disponibilidade de</p><p>alimentos e recursos para as colônias, e suas populações podem declinar</p><p>rapidamente em resposta a essas mudanças. Se olharmos de outro modo, a</p><p>diversidade de abelhas e outros polinizadores está diretamente relacionada à</p><p>saúde dos ecossistemas, de modo que a presença de várias espécies de</p><p>abelhas indica um ambiente saudável e equilibrado. As abelhas também são</p><p>sensíveis a poluentes ambientais, como defensivos agrícolas (pesticidas) e</p><p>outros elementos tóxicos, ainda que em pequenas quantidades. Esses efeitos</p><p>negativos podem ter efeitos em cascata, afetando toda a cadeia alimentar.</p><p>TEMA 4 – TIPO DE VIDA DAS ABELHAS</p><p>Entre as abelhas existem diferentes níveis de organização. Os dois</p><p>extremos são as espécies de vida solitária e aquelas de vida altamente social ou</p><p>15</p><p>eussociais. Entre esses extremos existem categorias como subsociais,</p><p>parassociais ou quasessociais, que se diferenciam pela presença e domínio de</p><p>uma rainha.</p><p>Essa relação entre os indivíduos de uma mesma espécie de abelhas e o</p><p>comportamento de nidificação são variados dentro dos tipos de organização</p><p>social. Vejamos a seguir o que motiva esses comportamentos, a partir da</p><p>apresentação entomológica das espécies e, posteriormente, para fins didáticos,</p><p>veremos separadamente as principais divisões.</p><p>4.1 Apresentação entomológica das principais espécies</p><p>As abelhas com e sem ferrão pertencem à família Apidae, subdividida em</p><p>quatro subfamílias: Apinae, Meliponinae, Bombinae e Euglossinae, as quais tem</p><p>hábitos de vida variados e diferença na apresentação de castas entre as</p><p>subfamílias.</p><p>A subfamília Apinae é composta por abelhas com ferrão, compreendendo</p><p>as espécies Apis mellifera mellifera, A. mellifera ligustica e A. mellifera scutellata.</p><p>Formam sociedade em que existe uma só rainha, vários zangões (machos) e as</p><p>operárias, temos aqui uma divisão hierárquicas de castas dentro da colmeia</p><p>(Gallo et al., 2002).</p><p>A subfamília Meliponinae é composta por abelhas sem ferrão, com dois</p><p>gêneros principais, Melipona e Trigona. Formam colônias diferentes das de</p><p>Apinae, nas colônias de meliponíneos vivem diversas rainhas ou abelhas</p><p>mestras juntas, sendo que apenas uma é fecundada (Gallo et al., 2002).</p><p>A subfamília Bombinae também é composta por abelhas sociais, algumas</p><p>espécies se assemelham às mamangavas. As fêmeas pertencentes a essa</p><p>subfamília possuem ferrão, e fazem seus ninhos no solo ou em touceiras (Gallo</p><p>et al., 2002).</p><p>A subfamília Euglossinae é composta por abelhas de hábitos solitários,</p><p>sua coloração, em geral, é metálica. As abelhas dessa família são popularmente</p><p>conhecidas como “abelhas das orquídeas” (Gallo et al., 2002).</p><p>Vejamos a seguir os hábitos das abelhas solitárias, parassociais, sociais</p><p>e um tipo de abelha conhecida como abelha parasita.</p><p>16</p><p>4.2 Abelhas solitárias</p><p>O comportamento solitário é caracterizado pela independência das</p><p>fêmeas na construção e aprovisionamento de seus ninhos. Não há cooperação</p><p>ou divisão de trabalho entre as fêmeas de uma mesma geração, ou entre mãe e</p><p>filhas; isso ocorre porque, na maioria das vezes, a progenitora morre antes de</p><p>sua prole emergir, sem haver relações entre gerações diferentes.</p><p>Há uma grande diversificação de hábitos de nidificação entre as abelhas</p><p>solitárias, algumas espécies nidificam em ramos, troncos ocos de árvores ou</p><p>orifícios preexistentes em madeira. Outras nidificam em cavidades no chão, em</p><p>barrancos ou em locais protegidos, geralmente por pedras e, há poucas espécies</p><p>que constroem ninhos expostos (Marchi, 2008).</p><p>Os materiais utilizados para a construção dos ninhos podem ser de</p><p>diferentes tipos, vejamos alguns deles: 1) barro ou areia, agregada com óleo ou</p><p>resina vegetal; 2) folhas de plantas cortadas e unidas com resina ou barro; 3)</p><p>resina pura; ou ainda, o local de construção do ninho pode receber apenas uma</p><p>camada impermeabilizante (de natureza glandular) que evita que a umidade</p><p>chegue às crias. No entanto, há espécies que não revestem o local de</p><p>nidificação, permanecendo, os imaturos, em contato direto com as paredes do</p><p>ninho.</p><p>As abelhas solitárias não produzem mel, porém são importantes como</p><p>polinizadores, uma vez que a fêmea busca nas flores o néctar (utilizado como</p><p>fonte de energia) que necessita para ela e para o aprovisionamento do ninho.</p><p>Várias espécies são sazonais, isto é, ocorrem apenas em determinada época do</p><p>ano, quando há disponibilidade de alimento e condições favoráveis à nidificação.</p><p>4.3 Abelhas parassociais</p><p>As abelhas parassociais são um grupo de abelhas que têm características</p><p>intermediárias entre as abelhas sociais e as solitárias. Elas formam pequenas</p><p>colônias compostas por uma rainha, algumas operárias e machos, no entanto,</p><p>as colônias parassociais não alcançam a complexidade das colônias das</p><p>abelhas sociais.</p><p>Nas abelhas parassociais, a rainha é a única fêmea fértil, e as operárias</p><p>não são completamente estéreis, como nas colônias de abelhas sociais. Devido</p><p>a isso, as abelhas operárias podem, ocasionalmente, se reproduzir, apesar de</p><p>17</p><p>pouca aptidão à reprodução. Esse sistema reprodutivo intermediário é uma das</p><p>principais características das abelhas parassociais.</p><p>Exemplos de abelhas parassociais incluem abelhas do gênero Melipona</p><p>e Trigona, que são comuns em regiões tropicais. Essas abelhas formam colônias</p><p>menores do que as abelhas sociais típicas, e suas interações sociais e dinâmicas</p><p>de colônia diferem das abelhas com ferrão.</p><p>4.4 Abelhas sociais</p><p>O comportamento social em abelhas envolve basicamente quatro</p><p>características:</p><p>1. Ter uma fêmea que viva o tempo suficiente para proteger seus ovos e</p><p>alimentar suas larvas;</p><p>2. Ter duas ou mais fêmeas compartilhando um ninho e cooperando no</p><p>trabalho de cuidar da cria;</p><p>3. Sobreposição de no mínimo duas gerações capazes de contribuir com a</p><p>divisão do trabalho;</p><p>4. Divisão do trabalho reprodutivo principalmente ou completamente com</p><p>casta operária estéril e casta reprodutiva (rainha) e machos. Isso significa</p><p>que as abelhas sociais vivem em grupos nos quais existe nítida</p><p>distribuição dos trabalhos e responsabilidade entre os indivíduos; todos</p><p>contribuindo para um fim comum: a sobrevivência do grupo (Soares et al.,</p><p>2011).</p><p>Há entre as espécies de abelhas sociais diferentes tipos de sociedade,</p><p>pois esses insetos apresentam os mais diversos comportamentos, que podem</p><p>se modificar ao longo do seu desenvolvimento, ou que podem ser típicos de</p><p>determinadas espécies durante toda a vida.</p><p>Com o intuito de conhecer e entender melhor como vivem e se relacionam</p><p>esses indivíduos entre si e com o meio, foram criados vários níveis de</p><p>socialidade levando em consideração: o número de fêmeas que fundam um</p><p>ninho, grau de desenvolvimento dos ovários, como é feita a construção e o</p><p>aprovisionamento das células, se há divisão de trabalho, a tolerância entre os</p><p>indivíduos, mecanismos de defesa, quantas gerações adultas convivem no ninho</p><p>e assim por diante (Soares et al., 2011).</p><p>18</p><p>Esses níveis sociais, entretanto, podem se alterar para uma mesma</p><p>espécie e até para um mesmo ninho dependendo da situação e do estágio de</p><p>desenvolvimento em que este ninho se encontra.</p><p>4.5 Abelhas parasitas</p><p>As abelhas parasitas são abelhas que se utilizam apenas do trabalho e do</p><p>alimento que o hospedeiro (outra abelha) armazenou. Há indícios de que esse</p><p>grupo de abelhas é formado por abelhas sem ferrão.</p><p>Na maioria dos casos, a abelha parasita invade os ninhos, coloca seus</p><p>ovos nas células já prontas e aprovisionadas pelo hospedeiro e deixa que sua</p><p>cria se desenvolva aos cuidados desse. Em alguns casos, a abelha parasita</p><p>passa a conviver</p><p>com o hospedeiro e pode, até mesmo, desenvolver algum tipo</p><p>de trabalho em conjunto (Soares et al., 2011).</p><p>Há outra situação em que as abelhas parasitas constroem seus próprios</p><p>ninhos, porém, o material de construção é roubado de outros ninhos de espécies</p><p>afins, como marmelada, jataí, abelha-canudo, por exemplo.</p><p>Essa prática funciona porque as abelhas saem em grande número, pois</p><p>suas colônias são formadas por um grande número de indivíduos, os quais</p><p>invadem o ninho de outras abelhas levando o material que necessitam.</p><p>Os ataques aos ninhos hospedeiros podem durar vários dias, provocando</p><p>a morte de muitos indivíduos, pois as abelhas parasitas passam a defender o</p><p>ninho conquistado contra pilhagens ou parasitas secundários enquanto levam o</p><p>material roubado (Soares et al., 2011).</p><p>TEMA 5 – CENÁRIOS DA PRODUÇÃO DE MEL</p><p>A criação de abelhas é uma atividade lucrativa e pode ser praticada pelo</p><p>pequeno produtor rural ou agricultor familiar atingindo bons resultados na</p><p>produção. Neste tópico, estudaremos sobre os cenários (nacional e</p><p>internacional) da produção melífera e veremos também como a apicultura pode</p><p>ser uma oportunidade de negócios.</p><p>19</p><p>5.1 Cenário Atual da Produção de Mel no Mundo</p><p>A produção de mel natural é difundida em todos os continentes e está</p><p>presente em grande parte dos países africanos e asiáticos, em todo o mundo</p><p>são produzidas cerca de 1.850.868 toneladas de mel por ano.</p><p>Segundo os dados divulgados pelo Escritório Técnico de Estudos</p><p>Econômicos do Nordeste (ETENE, 2022), a China lidera a produção de mel</p><p>natural no mundo, sendo também o maior exportador global do produto. O</p><p>principal motivo da China ocupar essa posição se dá devido ao baixo custo de</p><p>produção do mel chinês, qualificando o mesmo como um dos mais baratos no</p><p>mercado mundial, o que também o torna um dos mais competitivos no mercado</p><p>global de mel. No ano de 2020, a China foi responsável por 26,4% de todo o mel</p><p>produzido mundialmente.</p><p>Os países da União Europeia (UE), em conjunto, respondem pela</p><p>segunda maior produção de mel no mundo, com aproximadamente 190 mil</p><p>toneladas produzidas no ano de 2019, atrás apenas da China. No entanto,</p><p>apesar de ser um grande produtor, a UE não é autossuficiente na produção</p><p>melífera, importando cerca de 40% do mel de países como a Ucrânia e a China.</p><p>Os Estados Unidos possuem uma produção expressiva de mel, no ano de</p><p>2020 foram produzidas 67 mil toneladas de mel no país, porém o seu maior</p><p>destaque é como importador do produto, no mesmo ano o país concentrou</p><p>26,6% das importações mundiais de mel natural, valor aproximado em 196,6 mil</p><p>toneladas.</p><p>A Índia produziu 62 mil toneladas de mel em 2020, nesse ano foi o quarto</p><p>maior exportador mundial do produto, com um aporte de 55 mil toneladas ao</p><p>mercado.</p><p>O Brasil, apesar do vasto potencial para a produção apícola e de ser</p><p>reconhecidamente um dos países exportadores de mel de alta qualidade,</p><p>ocupou em 2020 a décima primeira posição na produção mundial de mel e</p><p>respondeu por apenas 6,2% do volume das exportações globais do produto.</p><p>Na Figura 5, podemos observar com mais detalhes como ocorre a</p><p>produção de mel em escala mundial.</p><p>20</p><p>Figura 5 – Panorama mundial da produção melífera</p><p>Créditos: Atlasbig.</p><p>Observemos que os países coloridos com tom alaranjado mais forte</p><p>correspondem aos que mais produzem e, quanto mais fraco o tom da cor, menor</p><p>a produção no país. Os locais com coloração cinza não são produtores</p><p>expressivos mundialmente.</p><p>5.2 Cenário Atual da Produção de Mel no Brasil</p><p>O mercado de mel brasileiro possui um grande potencial a ser explorado,</p><p>uma vez que o Brasil possui grande capacidade de produção de mel. No entanto,</p><p>a produção nacional ainda está predominantemente ligada a apicultores de</p><p>pequeno porte, sendo, na maioria das propriedades, desenvolvida como uma</p><p>atividade secundária.</p><p>O Brasil vive um momento particular no setor com considerável aumento</p><p>nas exportações e, consequentemente, alta nos preços. No entanto, a</p><p>oportunidade de demanda e os incrementos de rentabilidade não têm sido</p><p>aproveitados pelos apicultores para elevar o volume de mel produzido no país.</p><p>De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), em 2017, o</p><p>Brasil era o 11º maior produtor de mel do mundo, com 41,5 mil toneladas. Em</p><p>2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a</p><p>21</p><p>produção foi de 45,9 mil toneladas, volume 10,60% maior que em 2017, porém</p><p>insuficiente para incluir o Brasil na lista dos 10 maiores do mundo.</p><p>Na Figura 6, podemos observar o histórico brasileiro da produção de mel</p><p>desde o início da década de 1970 é o ano de 2021. Vemos então, que houve</p><p>uma progressão gradual da produção ao longo dos anos, no entanto observamos</p><p>também que houve anos em que a produção de mel decaiu cerca de 8 toneladas.</p><p>Figura 6 – Série histórica da produção brasileira de mel, segundo o Censo</p><p>Agropecuário 2017</p><p>Créditos: abelha.org.</p><p>Ainda assim, a produtividade de mel no Brasil é baixa quando comparada</p><p>a outros países. Os 101 mil apicultores do país, segundo o Censo Agropecuário</p><p>de 2017, registraram uma média de produção por colmeia de 19,80 quilos de mel</p><p>22</p><p>por ano, esses dados apontam para um fator essencial para ampliação do</p><p>enorme potencial do mercado apícola brasileiro, sobretudo na produção de mel.</p><p>Segundo a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A), a</p><p>baixa produtividade dos apicultores brasileiros não se deve ao número de</p><p>colmeias manejadas e, sim, ao manejo apícola atual, podemos entender então</p><p>que isso está diretamente relacionado à visão do apicultor sobre a criação de</p><p>abelhas.</p><p>Os números do Censo Agropecuário de 2017 mostram uma média</p><p>nacional de 21 colmeias por apicultor (IBGE, 2023), na Figura 7 podemos</p><p>observar o número de médio de estabelecimentos que trabalham com apicultura</p><p>distribuídos nas regiões do Brasil.</p><p>Figura 7 – Distribuição dos estabelecimentos apícolas nas regiões brasileiras.</p><p>IBGE, 2023</p><p>Créditos: elaborado por Giraldi, 2023, com base em IBGE.</p><p>A figura acima nos mostra que há predominância de estabelecimentos</p><p>apícolas nas regiões Sul e Nordeste, com destaque para a região Sul.</p><p>Segundo o ETENE (2022), a apicultura tem relevante importância social</p><p>na região do Semiárido Nordestino, mais especificamente nos estados do Piauí,</p><p>Bahia e Ceará, onde são poucas as opções de atividades rentáveis no meio rural</p><p>devido às limitações inerentes à região, em especial a escassez de água.</p><p>Podemos perceber, segundo os dados apresentados que existe muito a</p><p>fazer para melhorar a situação apícola no Brasil, sendo o maior desafio despertar</p><p>66483</p><p>7087</p><p>1923</p><p>24150</p><p>2154</p><p>0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000</p><p>Sul</p><p>Sudeste</p><p>Centro-oeste</p><p>Nordeste</p><p>Norte</p><p>Número de estabelecimentos</p><p>Re</p><p>gi</p><p>ão</p><p>23</p><p>a percepção do apicultor e do consumidor quanto a importância do mel para a</p><p>saúde, agregação de renda, estabilidade na produção, com vistas em</p><p>exportação, explorando o potencial desta atividade com mais oportunidades de</p><p>negócios.</p><p>5.3 Oportunidades de Negócios</p><p>A apicultura é uma atividade produtiva em franca expansão,</p><p>apresentando-se como uma excelente alternativa de exploração de propriedades</p><p>rurais, além de intensificar a polinização da flora da região. Além disso, é uma</p><p>atividade que atende a critérios técnicos adequados ao tripé de sustentabilidade,</p><p>como vimos anteriormente. A seguir vamos ver alguns motivos que tornam o</p><p>negócio apícola atrativo.</p><p>Um dos principais motivos é que a apicultura apresenta um baixo volume</p><p>de investimento e uma boa lucratividade – essa possibilidade é potencializada</p><p>pelas condições tropicais brasileiras, e pela utilização das abelhas africanizadas.</p><p>Portanto, a apicultura representa uma possibilidade real de negócios e inclusão</p><p>social, mesmo para aqueles que dispõem de poucos recursos, ou que</p><p>estão</p><p>localizados em regiões pouco favoráveis para desenvolver outras atividades</p><p>agropecuárias (Sebrae, 2009).</p><p>Além disso, apresenta uma variedade de formato de empreendimentos -</p><p>a depender da disponibilidade de recurso e tempo do empreendedor, podendo</p><p>ser um empreendimento de pequeno a grande porte; com foco exclusivo na</p><p>produção, ou mais amplo, envolvendo o beneficiamento e distribuição dos</p><p>produtos.</p><p>Muitos estabelecimentos apícolas utilizam mão de obra familiar, o que</p><p>viabiliza a geração de renda, assegurando a diversificação da produção na</p><p>pequena propriedade, justamente, devido a essa condição, pode-se dizer que a</p><p>apicultura, é, por natureza, uma atividade ideal para o pequeno e médio produtor</p><p>(Sebrae, 2009).</p><p>Outro motivo para a oportunidade de negócios para a apicultura é a</p><p>diversidade dos produtos oriundos da apicultura, uma vez que é grande a</p><p>quantidade de produtos e subprodutos que podem ser originados a partir da</p><p>atividade apícola, dentre os quais podemos citar o mel, a própolis, o pólen, a</p><p>apitoxina e a cera.</p><p>24</p><p>Ainda, a prática da apicultura dispensa a propriedade da terra, podendo</p><p>ser desenvolvida mesmo sem ter uma propriedade agrícola, isso é possível</p><p>porque a área necessária para implantação do apiário é pequena, e sua</p><p>instalação não altera o ambiente natural da propriedade, facilitando a locação ou</p><p>cessão de áreas de terceiros, para os apicultores.</p><p>Podemos levar em consideração, como outro motivo de interesse para o</p><p>apicultor que a apicultura é uma atividade que não destrói e não polui,</p><p>contribuindo para a preservação da natureza. As abelhas, além de</p><p>disponibilizarem seus produtos para os apicultores, realizam o trabalho de</p><p>polinização natural das espécies (Sebrae, 2009).</p><p>FINALIZANDO</p><p>Chegamos ao fim desta etapa. Por meio dela tivemos a oportunidade de</p><p>conhecer um pouco da história da apicultura e como essa ciência foi aprimorada</p><p>com o passar do tempo. Tivemos a oportunidade de conhecer os principais</p><p>nomes ligados aos primórdios da apicultura e a importância das descobertas</p><p>para a melhoria da atividade.</p><p>Vimos que o melhoramento genético na apicultura contribuiu de forma</p><p>favorável para o aumento da produtividade dentro das colmeias. Além disso,</p><p>vimos como as criações massais de abelhas são importantes para as práticas</p><p>de melhoramento.</p><p>Estudamos sobre a importância que a apicultura tem no tripé da</p><p>sustentabilidade (social, econômico e ambiental), além dos diferentes hábitos de</p><p>vida que podem ocorrer entre as espécies.</p><p>Por fim, vimos um pouco sobre a dinâmica dos cenários apícolas, tanto</p><p>no âmbito mundial quanto no âmbito nacional, corroborando para a importância</p><p>do desenvolvimento da atividade apícola, além, é claro, das oportunidades de</p><p>negócios que a apicultura pode oferecer.</p><p>Espero ter contribuído para o enriquecimento do seu conhecimento.</p><p>Até a próxima.</p><p>25</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva</p><p>de flores e mel / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria</p><p>de Política Agrícola, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura;</p><p>Antônio Márcio Buainain e Mário Otávio Batalha (Coord.). Brasília: IICA:</p><p>MAPA/SPA, 2007.</p><p>CAMARGO, J. M. F. (Org.). Manual de apicultura. São Paulo, SP: Agronômica</p><p>Ceres, 1972. 252 p. il. (Ceres, 9).</p><p>CAMPOS. J. C. P. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal.</p><p>FEPMVZ Editora, 2008.</p><p>CHESHIRE, F. R. Bees and Bee-Keeping Scientific and Practical - A</p><p>Complete Treatise on the Anatomy, Physiology, Floral Relations, and Profitable.</p><p>London, Scientific, 1886. v. 1.</p><p>GONÇALVES, L. S. Africanização das abelhas nas Américas, Impactos e</p><p>perspectivas de Aproveitamento do Material Genético. In: Encontro Brasileiro de</p><p>Abelhas e Outros Insetos Sociais. Anais... Naturalia, Ed. Unesp São Paulo, p.</p><p>126-134, 1992.</p><p>IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.Disponível</p><p>em: <https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/mel-de-</p><p>abelha/br>. Acesso em: 11 set. 2023.</p><p>MARCHI, P. Biologia de Nidificação de Abelhas Solitárias em Áreas de Mata</p><p>Atlântica. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do</p><p>Paraná, 2008.</p><p>NIÑO, E. L.; JASPER, W. C. Improving the future of honey bee breeding</p><p>programs by employing recent scientic advances. Current Opinion in Insect</p><p>Science, v, 10, p. 63-169, 2015.</p><p>NUNES, S. P.; HEINDRICKSON, M. A cadeia produtiva do mel no Brasil: análise</p><p>a partir do sudoeste paranaense. Brasilian Journal of Development, v. 5, n. 9,</p><p>p. 16950-16967, 2019.</p><p>OMHOLT, S. W.; ÂDNOY, T. Effects of various breeding strategies on diploid</p><p>drone Frequency and quantitative traits in a honey bee population. Theorethical</p><p>and Applied Genetics, v. 89, n. 6, p. 687-692, 1994.</p><p>26</p><p>RIBEIRO, M. de F. et al. Apicultura e Meliponicultura. In: MELO, R. F. de;</p><p>VOLTOLINI, T. V. (Ed.). Agricultura familiar dependente de chuva no</p><p>Semiárido. Brasília: Embrapa, 2019.</p><p>SEBRAE. Apicultura: uma oportunidade de negócio sustentável. Salvador:</p><p>Sebrae Bahia, 2009.</p><p>SOARES, A. E. E. et al. Introdução ao Mundo das Abelhas. Ribeirão Preto:</p><p>Universidade de São Paulo, 2011.</p><p>ROCHA, J. S. Apicultura. Niterói: Programa Rio Rural, Manual Técnico 05,</p><p>2008.</p><p>VENCOVSKY, R.; KEER, W. Melhoramento Genético em Abelhas II. Teoria e</p><p>avaliação de alguns métodos de seleção. Revista Brasileira de Genética, v. 3,</p><p>p. 493-502, 1982.</p><p>Conversa inicial</p><p>FINALIZANDO</p><p>REFERÊNCIAS</p>