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<p>Síntese texto - A esquerda punitiva - Maria Lúcia Karam</p><p>Intro</p><p>O texto começa abordando a questão de como a esquerda têm tido interesse pela</p><p>repressão à criminalidade nas últimas décadas, cita as reivindicações para a extensão da</p><p>pena para condutas que eram imunes à intervenção penal.</p><p>- Esse interesse se fundamenta a partir da atuação da esquerda em movimentos</p><p>sociais populares, por exemplo o movimento feminista (70) - luta e busca por</p><p>punições exemplares para os autores de crimes contra a mulher.</p><p>- Esse tipo de reivindicação atinge diversos setores e movimentos da esquerda</p><p>Além disso, essa lógica se distancia das ideias abolicionistas e de intervenção mínima do</p><p>direito penal.</p><p>- O Sistema penal é considerado como instrumento de manutenção e reprodução da</p><p>dominação e da exclusão por diversos criminólogos. Age desigualmente sobre as</p><p>diferentes classes, de modo que atua sistematicamente sob as condutas das classes</p><p>subalternizadas, e as classes dominantes ficam de certa forma ‘’inatingidas’’. Dessa</p><p>forma a esquerda não se preocupa com esses fatos e mesmo tendo a compreensão</p><p>disso, continua pedindo por mais intervenção, pretendendo que os mecanismos</p><p>repressores caiam sobre todos, mas não é o que acontece. (aqui fala sobre a</p><p>criminalidade dourada)</p><p>- Constroem a ideia da imagem distorcida do papel do Poder Judiciário (pela</p><p>idealização de um bom magistrado, perfil de coordenadores implacáveis e severos),</p><p>por verem um ou outro profissional também impondo penas rigorosas aos réus</p><p>enriquecidos.</p><p>- Esquerda se apropria de um clamor contra a impunidade, tomado por uma ira</p><p>extrema e persecutória, fazendo de seu discurso histérico e irracional contra a</p><p>corrupção.</p><p>- Esse discurso anti- corrupção reintroduz o autoritarismo, e traz uma contradição de</p><p>modo que toda essa indignação e histeria só se dirige á políticos e deixa imune seus</p><p>companheiros e aliados em seus ‘’desvios’’, que sempre são compreendidos e</p><p>justificados.</p><p>- Questionam o fato de que os réus das classes dominantes quando submetidos à</p><p>intervenção do sistema penal utilizam melhor os mecanismos de defesa e propõem</p><p>a retirada de direitos e garantias penais e processuais (!!!) - Autora argumenta que a</p><p>retirada de direitos e garantias não resolveria a desigualdade da utilização desses</p><p>recursos</p><p>- A autora argumenta que a esquerda, tomada pela reação punitiva ignora o fato de</p><p>que a pena é puramente manifestação de poder (poder de classe do Estado</p><p>capitalista) e que, portanto, necessariamente será dirigida prioritariamente às</p><p>classes subalternizadas (desprovidas do poder capitalista).</p><p>Nota: É contraditório que a esquerda que pretende diminuir os efeitos das desigualdades</p><p>produzidas pelo modelo capitalista use ferramentas de coesão e poder desse sistema que</p><p>ela mesmo critica.</p><p>- No capitalismo, os autores de condutas criminosas, socialmente negativas e</p><p>conflituosas são definidos por uma regra básica de formação social (a desigualdade</p><p>na distribuição de bens/ hierarquização social), portanto, o criminoso será</p><p>preferencialmente os membros das classes subalternizadas (suas condutas serão</p><p>consideradas desvios e crimes de forma mais persistente). Ainda sim há imposição</p><p>de pena sob um ou outro membro das classes dominantes, apenas para legitimar o</p><p>sistema penal e ocultar seu papel de instrumento e manutenção e reprodução dos</p><p>mecanismos de dominação.</p><p>- Dessa forma, maior intervenção do sistema penal seria fortalecer essas condutas</p><p>excludentes e desiguais (Sistema penal mais severo cairia preferencialmente sob</p><p>classes subalternizadas) !!!!</p><p>- Combate a corrupção = mais rigor punitivo para seus autores = acabar com a</p><p>impunidade. Esquece que nenhuma reação punitiva (mesmo que superasse a</p><p>desigualdade do seu recebimento em classes sociais) não poderia pôr fim à</p><p>impunidade ou à criminalidade, já que esse não é o objetivo da pena.</p><p>- IMPOSIÇÃO DE PENA É MANIFESTAÇÃO DE PODER. Mantém valores e</p><p>interesses das classes dominantes.</p><p>- Excepcionalidade da atuação do sistema penal (pena por seletividade) e a</p><p>demonização dos indivíduos (e até mesmo empresas).</p><p>A punição de condutas socialmente negativas gera um alívio e satisfação, de modo que</p><p>identifica o autor dessas condutas como o inimigo, o mau e perigoso, desvia a atenção da</p><p>busca pela razão dessas condutas, pressupõe-se que a pena já basta e solucionar esses</p><p>desvios. Assim, o sistema penal deixa encoberto as reais estruturas que fazem com que</p><p>esses desvios aconteçam, e fortalecem a ideia do inimigo a ser combatido (e não a</p><p>conduta).</p><p>- Esquerda que em tese luta pelas transformações sociais, usa um mecanismo que</p><p>protege os valores dominantes.</p><p>-</p><p>Preocupações com a criminalidade de massas e organizada</p><p>- Abandono da sede por transformação social, cede lugar aos desejos de conquistas</p><p>de cargos políticos. Também, a estabilização econômica dos militantes (grande parte</p><p>de classe média), temerosos e sensibilizados pela violência de massa ameaça seus</p><p>ideais de paz e tranquilidade.</p><p>- Reproduzem a ‘’imprensa burguesa’’ seguindo a informação de aumento</p><p>descontrolado da criminalidade, aderem ao discurso de aumentar a segurança para</p><p>combater a violência.</p><p>- Guerra contra as drogas (seguindo modelo estadunidense de 80).</p><p>- Setores da esquerda preocupados com essa tal criminalidade de massa (que</p><p>ameaça seus privilégios) justifica sua ideologia repressora e apelam para mais</p><p>intervenção com o imaginário da criminalidade organizada (fomentando a</p><p>insegurança e medo difuso, e intensificando a necessidade da repressão)</p><p>- Criminalidade organizada: Identificam os traficantes de drogas. Essa criminalidade</p><p>ligada às drogas eram justificativa para esses setores da esquerda de que a</p><p>criminalidade estaria tomando as favelas do RJ e oprimindo seus moradores,</p><p>associações e assim sufocando os movimentos sociais.</p><p>- A união da esquerda nesse desejo de punição contribui para que a situação em que</p><p>pessoas de diferentes estratos sociais sejam rejeitadas e discriminadas, não tendo</p><p>as mesmas oportunidades que as outras pessoas. (aprtheid social).</p><p>- Tenta manter o ideal ao sugerir que a rigorosidade seria para diminuir a repressão</p><p>desses moradores, mas o fato é que as preocupações só acontecem quando</p><p>ameaçam as moradias da classe média (medo de abalarem sua paz e tranquilidade)</p><p>Faz política interna contra as drogas, entra em contradição de modo que a utilização do</p><p>mecanismo punitivo provoca o problema, essa reação punitiva é a criadora da criminalidade</p><p>(organizada ou não), o processo de criminalização produz a ilegalidade, e com ela a</p><p>violência e corrupção.</p><p>- As atividades econômicas ilegais existirão enquanto houver as condições</p><p>socioeconômicas favorecedoras de uma demanda, e portanto, para a autora, é</p><p>necessário sugerir uma alteração de rumos, e buscar instrumentos menos</p><p>perniciosos e mais eficazes de controle dessa demanda. (!!!)</p><p>- Aceitam a utilização das Forças Armadas em tarefas de segurança pública (não</p><p>questionam de forma publicada), e se calam na ocupação das favelas cariocas pelos</p><p>militares, que conquistam como se fosse território inimigo em guerra, identificando</p><p>essas classes como perigosas e mantendo a tradição do pensamento (e</p><p>funcionamento) do sistema penal. (!!!!)</p><p>- O imobilismo referido a essas operações humilhantes (e ilegais) não é novo nesses</p><p>setores da esquerda que, historicamente separava os moradores dos morros dos</p><p>‘’habitantes do asfalto’’, assim estabelecendo uma ‘’paz’’ classista e excludente.</p><p>Prioriza o combate à criminalidade e não aos seus ideais de medidas aptas de fato a</p><p>criar condições de vidas melhores e oportunidades sociais para as classes</p><p>subalternizadas, que contribuíssem para o rompimento desses mecanismos</p><p>excludentes (produzidos pelo sistema penal) e para a construção de relações mais</p><p>igualitárias (assim como é originalmente o ideal da esquerda) (!!!)</p><p>Discurso contra a violência policial</p><p>- Esquerda sugere melhor estruturação dos aparelhos de repressão do sistema penal</p><p>e usa discurso dominante ‘’a polícia está podre’’ e precisa ser reestruturada. Ainda,</p><p>que a corrupção estaria deteriorando a atuação</p><p>policial e que não estariam</p><p>combatendo o crime.</p><p>- A autora argumenta que o discurso contra a corrupção policial é análogo ao discurso</p><p>geral sobre a criminalidade, que seleciona as classes subalternizadas a</p><p>personagens estigmatizados e papel de maus (já que, segundo ela, a maioria dos</p><p>agentes policiais vêm dessas classes).</p><p>- Estes setores da esquerda clamam contra a impunidade de policiais acusados de</p><p>atos violentos e exigem maior rigor nas suas punições. De modo que esse clamor</p><p>contribui e incentiva a violência da repressão informal, que são as figuras</p><p>consideradas criminosas. O apelo a ampliação do poder punitivo gera uma</p><p>desumanidade no combate ao crime, que favorece o aprofundamento e a crueldade</p><p>da repressão informação (pela atuação ilegal de agentes policiais, grupos de</p><p>extermínio, linchamentos e etc).</p><p>- A ideia de pena (afastamento do convívio social, punição ) divide as pessoas entre</p><p>boas e más, e a violência punitiva realizada fora do direito (informal) é alimentada.</p><p>Assim como na Ditadura, a repressão informal acontece com a ideia de que é</p><p>necessário a ordem e combate ao crime, e isso gera violência e extermínio. (!!!!)</p><p>- Os policiais que eliminam os supostos criminosos suspeitos que vêm, reproduzem e</p><p>concretizam a ideia de que o combate a criminalidade deve ser feito a qualquer</p><p>preço, com leis excepcionais e condenações sistemáticas. (!!!)</p><p>- Direcionam suas reivindicações para o fim dessa violência policial através do rigor</p><p>punitivo, e que esses agentes sejam alcançados pelo sistema penal. (mesmo que</p><p>contribuíram para o incremento dessa violência) (!!!)</p><p>- Autora argumenta que não são punições rigorosas que irão mudar ou reduzir a</p><p>violência policial e o número de homicídios, ou mesmo romper com a cultura da</p><p>tortura como modo de investigação. Essas práticas solidárias são estruturais, o rigor</p><p>punitivo pode abater sobre um ou outro policial mas deixa intacta a concepção</p><p>ideológica do desejo pela punição (estrutural) (!!!!)</p><p>Luta por transformações sociais e a necessidade de rompimento com a ideologia da</p><p>repressão</p><p>Esses novos posicionamentos da esquerda surgem em um momento em que os</p><p>sentimentos de insegurança e medo coletivos são provocados pela ausência de</p><p>solidarização no convívio social, e portanto aliam-se a utopia da necessidade de criação de</p><p>novos inimigos e fantasmas que vão assegurar as formações sociais. Todavia, esses</p><p>setores da esquerda se afastam dos seus objetivos originários da perspectiva de uma</p><p>construção de uma sociedade mais igualitária e se entrega aos ideais distantes dos seus</p><p>princípios.</p><p>- Autora argumenta que esses discursos sobre a criminalidade faz com que a</p><p>esquerda se torne uma reacionária massa de manobra da ‘’direita penal’’, e do</p><p>sistema de dominação, dando suporte a esse discurso e fazendo parecer com que a</p><p>contraposição entre direita e esquerda não existem (uma vez que ela usa do</p><p>discurso do oponente)</p><p>- A luta da esquerda historicamente é contra as sociedades inigualitárias,</p><p>discriminações aos povos subalternizados, e tem os ideais de construção de</p><p>uma sociedade mais solidária e justa.</p><p>- Para que a retomada aos ideais desses setores da esquerda aconteça é</p><p>necessário a compreensão que há uma contradição e romper com o</p><p>autoritarismo.</p><p>- Esse caminho transformador não pode ser trilhado com os mesmos</p><p>mecanismos excludentes da sociedade que se almeja transformar.!!!!</p><p>A autora conclui ressaltando que a lógica da reação punitiva é a lógica da violência,</p><p>submissão e exclusão, ideologia da classe dominante. Assim, não pode-se pretender uma</p><p>democracia através da ditadura do proletariado, seria apenas substituição de uma classe</p><p>dominante por outra, assim não seria materializada a proposta socialista de transformações</p><p>emancipadoras de que a esquerda nasceu.</p><p>- Retoma que a esquerda punitiva cultiva uma lógica antidemocrática e repressora,</p><p>reproduzindo a dominação e exclusão da formação social capitalista. (!!!!!)</p><p>- A transformação social através de ideais igualitários precisa assegurar a todos seus</p><p>direitos fundamentais de sobrevivência e as mesmas oportunidades ao acesso às</p><p>riquezas e desenvolvimento social, precisa de abordar também, ideais libertários,</p><p>asseguradores de livre expressão e realização dos direitos da personalidade de</p><p>cada indivíduo. O rompimento com a lógica do lucro e o mercado excludente</p><p>precisa ser acompanhado do rompimento de todas formas de autoritarismo. Para</p><p>que a solidariedade no convívio supere e afaste a crueldade da repressão e castigo,</p><p>é necessário a garantia da liberdade individual, só assim o estado será um</p><p>instrumento assegurador dos direitos e garantias de cada indivíduo, e não agente</p><p>punitivo. (!!!!!!!)</p>