Prévia do material em texto
<p>PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E SERVIÇO</p><p>SOCIAL</p><p>2</p><p>Sumário</p><p>INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4</p><p>ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL .................................... 9</p><p>BRASILEIRO .............................................................................................. 13</p><p>O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL .................................................... 20</p><p>PERCEPÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO</p><p>PROFISSIONAL ....................................................................................................... 25</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 28</p><p>REFERÊNCIAS: ............................................................................................ 32</p><p>3</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de</p><p>um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de</p><p>Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz</p><p>de oferecer serviços educacionais em nível superior.</p><p>O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua</p><p>formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos,</p><p>técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e</p><p>propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras</p><p>normas de comunicação.</p><p>Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de</p><p>forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma</p><p>base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no</p><p>atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de</p><p>uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade.</p><p>4</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Há três décadas o Serviço Social rompeu com o conservadorismo. Contudo,</p><p>ainda está fortemente com a discussão sobre a descontinuidade entre teoria e a</p><p>prática. Segundo Carvalho (1994), „‟o cotidiano não tem sido objeto de estudos e</p><p>investigações por parte dos Assistentes Sociais, mesmo sendo estas questões</p><p>fundamentais devido ao fato de ser neste âmbito que se realiza sua prática‟‟.</p><p>Sendo o Serviço Social uma profissão de intervenção na realidade social, logo</p><p>sua lógica está voltada essencialmente para a sua operacionalização. Deste modo, é</p><p>na prática profissional que se processa uma constante organização e reorganização</p><p>de conhecimentos com vistas a uma imediata transformação em ação.</p><p>É a metodologia que vai garantir ao Serviço Social o conhecimento e a</p><p>transformação de um dado objeto construído idealizado através de técnicas e</p><p>instrumentos, de forma a oferecer uma visão que permita uma ação sobre o objeto.</p><p>Assim não deveria, em tese, haver esta dissociação entre método, teoria e objeto.</p><p>O método abre o caminho para o conhecimento da realidade, mas sua</p><p>transformação depende da proposta de ação que é operacionalizada pelos</p><p>instrumentos e técnicas (THIOLENT, 1998). Nesse sentido, o presente texto</p><p>compreende o planejamento como um instrumental que, em potencial, contribui para</p><p>5</p><p>uma intervenção sistematizada, crítica, que tem usuários como colaboradores</p><p>essenciais, ou seja, mais qualificada.</p><p>O trabalho almeja compreender como os Assistentes Sociais o utilizam em sua</p><p>dimensão operativa, destacando a visão destes profissionais, sua ação interventiva e</p><p>sua concepção acerca deste instrumental. O planejamento na atualidade é reduzido</p><p>e estigmatizado por, na maioria das vezes, estar associado à função política de</p><p>instrumentos de legitimação da dominação.</p><p>Esta visão que reduz o planejamento a mero instrumental está relacionada à</p><p>prática voltada para uma espécie de racionalização econômica e a lógica do mercado</p><p>capitalista. Esta concepção é intensificada com o início da reestruturação produtiva,</p><p>que a partir de 1990, teve como um de seus pilares a redução e o enfraquecimento</p><p>do Estado.</p><p>Assim, apesar de algumas forças se revoltarem contra o pensamento</p><p>dominante e hegemônico, a ideia do fatalismo neoliberal, calcada na primazia das</p><p>forças produtivas, na anulação do político e no abandono do social, passam a</p><p>impregnar a maioria dos discursos. Nessa perspectiva, o planejamento de governo,</p><p>em particular, é relegado a um patamar secundário e o próprio planejamento</p><p>governamental.</p><p>Ouve-se dizer por toda a parte, o dia inteiro – ai reside a força desse discurso</p><p>dominante – que não há nada a opor à visão neoliberal, que ela consegue se</p><p>apresentar como evidente, como desprovida de qualquer alternativa. Se ela comporta</p><p>essa espécie de banalidade, é porque há todo um trabalho de doutrinação simbólica</p><p>do qual participaram passivamente os jornalistas ou os simples cidadãos e, sobretudo,</p><p>ativamente, certo número de intelectuais (BOURDIEU, 1998, p.42 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>É com base nos marcos dessa problemática que emergem novos modelos de</p><p>planejamento, alternativo ao padrão considerado tradicional e normativo, largamente</p><p>6</p><p>utilizado nos planejamentos governamentais, sobretudo na América Latina durante as</p><p>décadas de 1960 e 1970.</p><p>Na década de 1980, porém uma nova perspectiva de planejamento</p><p>governamental surge a partir dos trabalhos de Carlos Matus, economista chileno,</p><p>ministro de Salvador Allende e exilado após o golpe militar que se abateu sobre o</p><p>Chile em 1973.</p><p>Carlos Matus trouxe para o planejamento uma nova lógica na qual está</p><p>presente uma perspectiva política desconsiderada pelos modelos normativos. Além</p><p>da perspectiva política também estão presentes no planejamento tal como proposto</p><p>por Carlos Matus, a “flexibilidade referenciada” e a “perspectiva situacional” que,</p><p>ao contrário dos antigos “diagnósticos”, considera a dinâmica da realidade. Tais</p><p>elementos fazem do planejamento estratégico situacional uma ferramenta importante</p><p>para o planejamento social, principalmente o planejamento de governo, mas, também</p><p>para diversos setores onde o componente político possui relevância.</p><p>É nessa perspectiva que consideramos o planejamento, em sua concepção</p><p>estratégica e dentro da abordagem situacional proposta por Carlos Matus, como um</p><p>instrumental de suma importância da eficácia do processo de trabalho do profissional</p><p>de Serviço Social.</p><p>Porém, historicamente, o planejamento não tem assumido um papel de</p><p>destaque nas discussões sobre os dilemas teóricos práticos do Serviço Social. Isto</p><p>pode ser verificado ao se constatar que, no âmbito do Serviço Social existem</p><p>pouquíssimas obras relacionadas a este assunto. A maior parte são teses de</p><p>mestrado e doutorado da área da saúde.</p><p>Desde 1980 com Barbosa e mais atualmente com Myrian Veras Baptista,</p><p>através do livro Planejamento Social: intencionalidade e instrumentalização, não se</p><p>têm publicações no sentido de sistematizar o planejamento no Serviço Social. Essa</p><p>escassez bibliográfica sobre o tema dificultou o desenvolvimento deste projeto.</p><p>7</p><p>Se o modelo normativo foi rejeitado pelo Serviço Social a partir da consolidação</p><p>da ruptura com as referências da profissão, a perspectiva estratégica situacional de</p><p>Carlos Matus, por sua vez, não se tornou suficientemente conhecida e</p><p>satisfatoriamente assimilada, predominando, no momento contemporâneo a</p><p>concepção de planejamento como instrumento da reprodução do capital, com foco no</p><p>mercado. O universo de pesquisa de campo escolhido foi o de profissionais que</p><p>realizaram, no primeiro e segundo semestres de 2014, a supervisão de estágio no</p><p>campo da UPA de Araruama, dos estudantes de Serviço</p><p>Social da Universidade</p><p>Federal Fluminense.</p><p>Isto porque, o estágio e a supervisão são componentes fundamentais no</p><p>processo de formação dos Assistentes Sociais e momentos privilegiados da</p><p>concretização da relação teoria-prática (Rodrigues, 1997).</p><p>Assim sendo, o estágio e a supervisão se constituem atividades que, por</p><p>definição, exigem organização, que por sua vez, devem refletir a intencionalidade que,</p><p>necessariamente deve ser inerente à atitude profissional (Faleiros, 1981).</p><p>Logo, o critério para escolher esses entrevistados foi que eles tivessem feito a</p><p>supervisão de campo dos estagiários em Serviço Social do primeiro e segundo</p><p>semestre de 2014, conforme mencionado anteriormente. Tive também uma outra</p><p>base de critério para selecionar estes entrevistados, pois uma vez que 02 (dois), no</p><p>universo destes 06 (seis) supervisores, eram também professores da Universidade</p><p>Federal Fluminense Campus Rio das Ostras, estes não foram considerados, pelo fato</p><p>de que já poderiam ter uma opinião formada sobre planejamento, até mesmo porque</p><p>uma destas já atuava na área do planejamento/administração.</p><p>Nessa linha, o presente trabalho pontua inicialmente os marcos em que</p><p>historicamente o planejamento é implementado, distinguindo o enfoque do mercado</p><p>e do Estado. Posteriormente, apresenta o contexto histórico em que Carlos Matus</p><p>inicia sua crítica acerca das limitadas versões de planejamento usadas e sua proposta</p><p>na busca por um conceito mais amplo e pertinente a complexidade inerente à</p><p>sociedade.</p><p>8</p><p>Logo depois contextualizamos o planejamento de governo no contexto</p><p>brasileiro. Contemplamos no título “Planejamento e o Serviço Social e a ruptura</p><p>com o tradicionalismo”, como o planejamento é apropriado pelo Serviço Social.</p><p>Nessa perspectiva, no capítulo I</p><p>procuramos fundamentar nossa</p><p>compreensão sobre o caráter histórico</p><p>do planejamento e seus antecedentes.</p><p>Sendo assim, no capítulo II,</p><p>fazemos um apanhado de como o</p><p>Serviço Social incorpora o planejamento à intervenção profissional e a ruptura com o</p><p>tradicionalismo na profissão e sintetizamos características de como os profissionais</p><p>de Serviço Social que atuam na supervisão de estágio, utilizam o planejamento,</p><p>pontuando com base no que foi absorvido de suas falas (através da aplicação de</p><p>entrevistas semi-estruturadas a Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a</p><p>Universidade Federal Fluminense, presta supervisão de estágio para o curso de</p><p>Serviço Social da UFF em rio das Ostras), às convergências e divergências no que</p><p>se refere ao planejamento estratégico.</p><p>Nas considerações finais apresentamos a reflexão acerca do que se foi</p><p>discutido e do que se foi interpretado junta a orientação, destacando aspectos</p><p>relevantes dos resultados encontrados em nossa pesquisa.</p><p>Partindo desse pressuposto, no presente trabalho nos propusemos verificar e</p><p>analisar como o planejamento se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que</p><p>possibilita a intervenção e dá intencionalidade à ação profissional, em alguns espaços</p><p>sócio-ocupacionais que funcionam como campo de estágio e possuem supervisores</p><p>de estágio.</p><p>9</p><p>ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL</p><p>Para melhor compreendermos como o planejamento surge no contexto</p><p>brasileiro e no Serviço Social, em particular, faz-se necessário realizar um breve</p><p>apanhado sobre sua trajetória histórica para classificar a perspectiva em que foi criado</p><p>e implementado.</p><p>Segundo Lígia Giovanella, (1991) pesquisadora assistente do departamento de</p><p>administração e planejamento em saúde da Ensp/Fiocruz, as primeiras elaborações</p><p>teóricas sobre planejamento, apresentadas de forma sistematizada referem-se à</p><p>organização da produção industrial, coloca a previsão como um dos elementos da</p><p>administração.</p><p>Previsão é entendida ai enquanto projeção, cálculo de futuro e a programação</p><p>que objetiva facilitar a utilização de recursos e a escolha dos melhores meios a</p><p>empregar para atingir o objetivo desejado de máxima eficiência, máximo lucro.</p><p>Posicionamento fortemente marcado pelo liberalismo da ideologia dominante, neste</p><p>período. Nesse contexto, a própria revolução soviética resulta de um processo onde</p><p>o cálculo e a previsão estão presentes.</p><p>O planejamento é apresentado (agora com a especificidade de planejamento</p><p>social) como a alternativa para construção de um futuro diferente. O planejamento,</p><p>10</p><p>neste cenário vem dar racionalidade às transformações almejadas para toda</p><p>sociedade.</p><p>Deste modo, a primeira proposta de planejamento social surge na forma de um</p><p>plano setorial na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas quando, em 1918, é</p><p>declarado o primeiro Plano Nacional de Eletrificação. Porém, somente após uma</p><p>década de governo socialista é elaborado o primeiro plano global: 1º Plano</p><p>Quinquenal (1928 a 1932).</p><p>Na sociedade socialista, com a instituição da propriedade social dos meios de</p><p>produção, o plano vem para substituir o mercado como instrumento de alocação de</p><p>recursos e distribuição de produtos e estabelecer justas proporções entre produção e</p><p>consumo, oferta e demanda e entre os vários ramos da economia, com o propósito</p><p>de satisfazer as necessidades de todos os membros dessas sociedades (GIORDANI,</p><p>1974 apud GIOVANELLA, 1991).</p><p>Para melhor compreendermos como o planejamento surge no contexto</p><p>brasileiro e no Serviço Social, em particular, faz-se necessário realizar um breve</p><p>apanhado sobre sua trajetória histórica para classificar a perspectiva em que foi criado</p><p>e implementado.</p><p>Segundo Lígia Giovanella, (1991) pesquisadora assistente do departamento de</p><p>administração e planejamento em saúde da Ensp/Fiocruz, as primeiras elaborações</p><p>teóricas sobre planejamento, apresentadas de forma sistematizada referem-se à</p><p>organização da produção industrial, coloca a previsão como um dos elementos da</p><p>administração.</p><p>Previsão é entendida ai enquanto projeção, cálculo de futuro e a programação</p><p>que objetiva facilitar a utilização de recursos e a escolha dos melhores meios a</p><p>empregar para atingir o objetivo desejado de máxima eficiência, máximo lucro.</p><p>Posicionamento fortemente marcado pelo liberalismo da ideologia dominante, neste</p><p>período.</p><p>11</p><p>Nesse contexto, a própria revolução soviética resulta de um processo onde o</p><p>cálculo e as previsões estão presentes. O planejamento é apresentado (agora com a</p><p>especificidade de planejamento social) como a alternativa para construção de um</p><p>futuro diferente.</p><p>O planejamento, neste cenário vem dar racionalidade às transformações</p><p>almejadas para toda sociedade. Deste modo, a primeira proposta de planejamento</p><p>social surge na forma de um plano setorial na União das Repúblicas Socialistas</p><p>Soviéticas quando, em 1918, é declarado o primeiro Plano Nacional de Eletrificação.</p><p>Porém, somente após uma década de governo socialista é elaborado o primeiro</p><p>plano global: 1º Plano Quinquenal (1928 a 1932). Na sociedade socialista, com a</p><p>instituição da propriedade social dos meios de produção, o plano vem para substituir</p><p>o mercado como instrumento de alocação de recursos e distribuição de produtos e</p><p>estabelecer justas proporções entre produção e consumo, oferta e demanda e entre</p><p>os vários ramos da economia, com o propósito de satisfazer as necessidades de todos</p><p>os membros dessas sociedades (GIORDANI, 1974 apud GIOVANELLA, 1991).</p><p>O estado desenvolvimentista teve lugar na América Latina a partir da década</p><p>de 1930 principalmente</p><p>em decorrência da crise</p><p>iniciada em 1929, a qual</p><p>teria aberto a</p><p>possibilidade de romper</p><p>com o modelo</p><p>agroexportador, até</p><p>então dominante em</p><p>vários países do</p><p>continente e colaborado para incrementar uma nova fase cujo foco é a</p><p>industrialização.</p><p>Diante disso, segundo Giovanella (1991) o planejamento é introduzido a partir</p><p>da década de 40, por influência da ONU e de um pensamento próprio que entende</p><p>ser necessário superar as diferenças econômicas com os países capitalistas centrais.</p><p>12</p><p>Permeado pelo ideário desenvolvimentista o planejamento é compreendido como um</p><p>instrumental que possibilita avançar rumo a grandes realizações, isso mediado pela</p><p>industrialização e a racionalidade do cálculo econômico.</p><p>Esta conotação dada ao planejamento será difundida principalmente através</p><p>da comissão econômica para a América Latina (CEPAL) organismo internacional</p><p>ligado a ONU.</p><p>A Revolução Cubana, que foi um movimento popular que derrubou a ditadura</p><p>de Fulgêncio Batista em janeiro de 1959. Antes da revolução, Cuba vivia sob</p><p>influência dos EUA. A Revolução Cubana representou um momento de grande</p><p>importância para o povo cubano, onde se despertou a consciência nacional e</p><p>passaram a desprezar o imperialismo norte americano e o governo autoritário de</p><p>Fulgêncio Batista.</p><p>O movimento revolucionário foi tomando grandes proporções até a efetiva</p><p>retirada do ditador Batista do poder. Nessa perspectiva o planejamento implementado</p><p>na América Latina esteve voltado para a economia, contudo, gradativamente, vai</p><p>sendo apropriado pelos setores sociais.</p><p>Em 1961 os EUA, através da Organização dos Estados Americanos – OEA,</p><p>promovem uma reunião de Ministros do Interior dos países das Américas, em Punta</p><p>Del Este, no Uruguai, onde é lançado o “Programa Aliança para o Progresso”. Este</p><p>programa é parte da política norteamericana</p><p>do período Kennedy que colocava ênfase</p><p>nos obstáculos internos ao desenvolvimento</p><p>(CARDOSO, 1980, apud GIOVANELLA,</p><p>1991).</p><p>Esta aliança surge sobre o discurso</p><p>do desenvolvimento, mas com explícita</p><p>intenção de que, por meio do controle social,</p><p>estariam se prevenindo acerca do avanço do</p><p>13</p><p>socialismo. Ou seja, abarcando as questões sociais neste planejamento que</p><p>promoveria o desenvolvimento, estariam reduzindo as brechas (miséria,</p><p>desemprego, fome, etc) para disseminação do pensamento socialista.</p><p>O PLANEJAMENTO DE GOVERNO NO CONTEXTO</p><p>BRASILEIRO</p><p>Do final dos anos cinquenta à queda do governo João Goulart, ao menos três</p><p>programam mais ambiciosos de estabilização monetária foram tentados pelos</p><p>governos do período, todos sem êxito. Porém, ao analisar estas iniciativas, segundo</p><p>Ricardo Silva (2000), podemos fazer uma profunda inflexão em relação à estratégia</p><p>da política econômica adotada durante os anos de auge do desenvolvimento, no qual,</p><p>um novo consenso ideológico estava se formando.</p><p>A estabilidade monetária se unia ao discurso de que por meio do</p><p>desenvolvimento industrial, seriam superadas todas as mazelas sociais. Esse slogan</p><p>foi muito presente, principalmente nos Governos de Vargas e de Kubitschek.</p><p>Por mais que o Brasil nesse momento tenha avançado, no que se refere à</p><p>produção industrial, em relação ao social e à economia não seguia a mesma trajetória,</p><p>uma vez que se intensificam as desigualdades sociais, o processo inflacionário e a</p><p>dívida externa. Problemas em parte decorrentes da própria estratégia</p><p>desenvolvimentista de Kubitschek.</p><p>14</p><p>Os movimentos sociais de esquerda se organizam reivindicando reformas de</p><p>base, com caráter distributivista, enquanto à direita crescia o apelo à recomposição</p><p>da ordem econômica (fim da inflação) e da ordem política (contenção das</p><p>mobilizações sociais).</p><p>No que se refere à evolução da política econômica, o que se observa é a</p><p>crescente aceitação, pelos governantes e tecnocratas, da ideia de que o combate à</p><p>inflação deveria ser prioritário e precedente a qualquer outro objetivo</p><p>políticoeconômico.</p><p>Isso fica evidente não somente nos experimentos do PEM (Plano de</p><p>Estabilização Monetária) do Governo Kubitschek e da Reforma Cambial do Governo</p><p>Quadros, mas também, embora de modo menos evidente, no Plano Trienal do</p><p>Governo Goulart (SILVA, 2000).</p><p>Esta primazia dada aos aspectos econômicos, em detrimento do social</p><p>permanece mesmo durante o desenvolvimento do Plano Trienal, do governo de</p><p>João Goulart. Isso merece destaque pelo fato de estar sob comando de Celso</p><p>Furtado, principal expressão do pensamento reformista da Cepal (Comissão</p><p>Econômica para a América Latina).</p><p>Ou seja, como é comum acontecer, as elites estatais pediam ao povo o</p><p>sacrifício do presente para o suposto regozijo do futuro. Mas esse era um argumento</p><p>político pouco convincente do quadro da crise. O Plano Trienal não obteve o apoio</p><p>dos trabalhadores e o Governo Goulart não conquistou a confiança das classes</p><p>dominantes, que esperavam a contenção da inflação e o controle governamental das</p><p>greves e das mobilizações sociais.</p><p>A frustação da tentativa de conciliação de classes, presente neste plano,</p><p>agravou o isolamento do Governo Goulart e, de alguma maneira, contribuiu para o</p><p>trágico desfecho da crise em março de 1964.</p><p>15</p><p>“A crise política e econômica que caracterizou os Governos de</p><p>Jânio Quadros e João Goulart (1961 – 64) apresentava três facetas</p><p>particularmente importantes”. Em primeiro lugar, ela exprimia o</p><p>agravamento dos antagonismos entre diferentes estratégias ou opções</p><p>políticas de desenvolvimento. Em segundo lugar, ela exprimia o</p><p>aprofundamento dos antagonismos entre os poderes da República, em</p><p>especial o Executivo e o Legislativo. E, em terceiro lugar, à medida que</p><p>se estendia e aprofundava a crise políticoeconômica, politizavam-se</p><p>ainda mais as urbanas e rurais, acentuando-se as condições entre as</p><p>classes sociais “(IANNI, 1971,</p><p>p.217 apud GONÇALVES, 2005)”.</p><p>Podem definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em</p><p>que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizouse</p><p>pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição</p><p>política e repressão aos que eram contra o regime militar. A partir da instalação do</p><p>regime militar em 1964, observa-se o fortalecimento do Poder Executivo, a</p><p>interferência crescente do poder público em praticamente todos os setores do sistema</p><p>econômico nacional e a expansão da tecnoestrutura estatal, consubstanciada na</p><p>grande elaboração de planos, programas, criação de órgãos públicos e de fundos de</p><p>financiamento.</p><p>Sem a intenção de um maior</p><p>aprofundamento na análise dos serviços,</p><p>programas, órgãos públicos, planos e demais</p><p>políticas urbanas do período militar, é</p><p>importante destacar, resumidamente que,</p><p>durante este período, a atividade de</p><p>planejamento teve um grande desenvolvimento no Brasil.</p><p>São desse período as seguintes iniciativas de planejamento: o Poder de Ação</p><p>Econômica do Governo (PAEG) (1964-1966), o Plano Estratégico de desenvolvimento</p><p>(PED) (1968-1970), que foi complementado por planos setoriais e regionais dirigidos</p><p>nitidamente ao Nordeste e à Amazônia (Cadernos nae, 2004).</p><p>16</p><p>Mas, na opinião de Moraes (Moraes, 1994 apud BONFIM, 2006) a iniciativa</p><p>mais completa de planejamento viria com o Plano Nacional de Desenvolvimento</p><p>(PND), que conheceu duas versões implementadas (1972-1974 e 1975-1979) e uma</p><p>terceira (1980-1985) nunca posta em prática.</p><p>”Uma quantidade inédita de Planos Diretores foi elaborada no</p><p>período [de 1964 até os anos 1980]. Escritórios técnicos de</p><p>consultoria e planejamento se multiplicam. Álibi ou convicção</p><p>positivista, o planejamento foi tomado como solução para o</p><p>„caos urbano‟ e o „crescimento descontrolado‟. Essas idéias</p><p>dissimulavam os conflitos e os reais motores desse plano que</p><p>foi elaborado por especialistas pouco engajados na realidade</p><p>sociocultural local. A população não foi ouvida e,</p><p>frequentemente, nem mesmo os técnicos municipais”</p><p>(MARICATO, 2000, p.139 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>Segundo MATUS (1997a, p.312) Como toda técnica, é simplesmente uma ajuda</p><p>para sistematizar o conhecimento de uma realidade. Essa ajuda é, por vezes,</p><p>desnecessária para pessoas experientes e com mente bem organizada. Mas se o</p><p>planejamento</p><p>deve sustentar-se numa análise dos problemas que afetam a</p><p>população, são necessários métodos simples para que todos compreendam a</p><p>gestação e o desenvolvimento dos problemas. Naturalmente, os métodos de</p><p>explicação situacional devem ser praticados com assessoria técnica de pessoas</p><p>com experiência nos problemas. As pessoas que conhecem a técnica de explicação</p><p>situacional, mas não conhecem os problemas não podem obter resultados úteis</p><p>(MATUS, 1997a, p.312 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>É importante destacar, porém, que se há uma intensa atividade na elaboração de</p><p>planos, isto não significa que sua efetivação estivesse garantida. Isto porque o</p><p>modelo de planificação adotado, nem sempre tinha na realidade para a qual se</p><p>destinava a sua fundamentação.</p><p>De fato, em consonância com o autoritarismo vigente, o planejamento amplamente</p><p>adotado como instrumento de operacionalização da máquina pública, tinha por</p><p>característica central, no dizer de Carlos Matus ser uma “camisa de força” que</p><p>17</p><p>tentava adequar a realidade às decisões que, por estarem envolvidas no discurso</p><p>da racionalidade técnica, não eram passíveis de questionamentos.</p><p>O período militar autoritário, vivenciado por vários países da América Latina, e</p><p>também no Brasil, representa o auge do chamado “planejamento normativo”, ou</p><p>“planejamento tradicional”. O Planejamento normativo ou planejamento econômico</p><p>normativo tem como característica ser um tipo de planejamento que se limita ao</p><p>âmbito econômico, desconsiderado sua viabilidade política ou a ausência dela</p><p>(MATUS, 1996). É um planejamento de caráter “prescritivo”, ou seja, aponta um</p><p>“dever ser”, sem levar em conta o movimento da realidade.</p><p>É um planejamento que se coloca “técnico” e “neutro”. Cabe ressaltar que o</p><p>Planejamento Normativo foi o modelo amplamente utilizado pelos governos militares</p><p>no Brasil no período pós-64.</p><p>Os Assistentes Sociais que se identificavam com as diretivas institucionais que</p><p>Netto (1993) denomina “modernização conservadora” eram adeptos desse tipo de</p><p>planejamento. Podendo dizer que o Planejamento Normativo fica limitado à</p><p>“aparência imediata dos fatos”, desconsiderando sua essência (realidade</p><p>concreta).</p><p>Isso por supervalorizar o aspecto técnico e o cálculo econômico, desconsidera os</p><p>possíveis adversários, por ser calcado em “certezas”, por ser um planejamento de</p><p>“médio prazo”, por não fazer a relação “história-plano” e, por isso, é um planejamento</p><p>inconsistente, por ser meramente discursivo e não “opcional”, por ser considerada</p><p>uma ferramenta meramente administrativa, por ser oficialista, uma vez que é feito a</p><p>partir de governos e para governos, ignorando outras forças sociais (ou, no caso de</p><p>uma ação profissional, feito a partir da instituição e para a instituição,</p><p>desconsiderando outras forças institucionais), por se tratar de um planejamento</p><p>dissimulado, pois os formalismos técnicos são utilizados para ocultar as verdadeiras</p><p>causas dos problemas e por não possuir flexibilidade, pois atua em tempos rígidos,</p><p>desconsiderando os “diferentes tempos” dos atores sociais envolvidos (Matus,</p><p>1993).</p><p>18</p><p>O modelo normativo, muitas vezes identificado como sinônimo de planejamento</p><p>provocou - e ainda provoca – equívoco, ao reduzir o planejamento a procedimentos.</p><p>Contudo, rompendo com esse estigma reducionista, que, tendo como referência</p><p>apenas o planejamento normativo, desqualifica o planejamento em si, Carlos Matus,</p><p>resgata o planejamento como ferramenta útil, flexível e eficaz para lidar com as</p><p>necessidades da direção em cada lugar da administração pública.</p><p>Matus destaca, entretanto, que o plano não pode ser constituído de uma simples</p><p>agregação de problemas, que nesse sentido, devem se inter-relacionar.</p><p>Com esse intuito é recomendada a construção de um “fluxograma situacional global,</p><p>que conheça a unidade da realidade como um grande problema” (MATUS, 1997a,</p><p>p.324 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>Após o momento em que são detectados os problemas surge, na concepção de</p><p>Matus, o momento normativo que determinaria o desenho do conteúdo propositivo</p><p>do plano, ou seja, é o momento de pôr no papel o que se pretende com o plano.</p><p>O desenho do plano abrange diversos níveis de generalidade e especificidade.</p><p>Começa com o programa (linhas e critérios), continua com o programa direcional</p><p>(precisão global em nível de projetos de ação), prossegue com a desagregação do</p><p>plano na matriz geral problemas-operacionais, passa à subdivisão do plano em sub-</p><p>planos (os módulos OP), para em seguida desagregar as operações em ações e as</p><p>ações em sub-ações.</p><p>Essas partições derivam da necessidade de descentralizar para que o</p><p>planejamento seja criativo e democrático, embora se deva ao mesmo tempo</p><p>respeitar certos critérios de coerência global, indispensável para a eficácia da</p><p>condução (MATUS, 1997a, p.336 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>A ordem lógica e formal não deve ser, necessariamente, seguida, mas é importante</p><p>que se busque, na visão de Matus, um equilíbrio entre os critérios de coerência</p><p>global e a criatividade descentralizada.</p><p>19</p><p>Ressalta-se que o programa, além de buscar o enfrentamento de alguns problemas,</p><p>também representa uma convocação à ação. “Em nível político, pode ter a forma de</p><p>um programa eleitoral; no nível de um dirigente, ou pode ser uma proposta de</p><p>desenvolvimento da empresa; para um dirigente sindical, a sua plataforma de luta</p><p>por novas conquistas para os trabalhadores” (MATUS, 1997a, p.337 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>A análise da viabilidade do programa direcional do plano passa, a ser a</p><p>preocupação central do momento estratégico. Deve-se considerar tanto a viabilidade</p><p>política, quanto econômica, a tecnológica e a industrial-organizacional. O momento</p><p>estratégico concentra-se, dessa forma, na análise de viabilidade que aponta para a</p><p>dialética entre o necessário, o possível e a criação de possibilidades.</p><p>Após analisar e conhecer e realidade, desenhar o futuro e definir as possibilidades</p><p>de realização do plano, o planejamento deve-se converter em ação concreta. A</p><p>mediação entre o conhecimento e a ação representa a tarefa do momento tático-</p><p>operacional. Ressalta-se que “a ação é sempre o produto final de um cálculo, mas</p><p>não necessariamente o produto final do plano formalizado. Tal divergência deve ser</p><p>resolvida pelo momento tático-operacional” (MATUS, 1997a, p.485 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>20</p><p>O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL</p><p>Na segunda metade da década de 1950, o ideário desenvolvimentista chega</p><p>com força a América Latina trazendo o discurso modernizador e o desenvolvimento</p><p>como estratégia fundamental para impedir que o continente torne-se terreno fértil para</p><p>as ideologias socialistas.</p><p>Um povo “desenvolvido” estaria menos susceptível a participar de</p><p>movimentos reivindicatórios e lutas sociais. Dentro do ideário desenvolvimentista, o</p><p>planejamento econômico de governo assume papel preponderante, incorporando-se</p><p>aos discursos e às práticas de diversos agentes governamentais, como símbolo da</p><p>racionalidade técnica, da eficiência e da eficácia da ação estatal.</p><p>O Serviço Social face à política desenvolvimentista e ao apelo à participação</p><p>das massas trabalhadoras, herança da política de massas do getulismo, se contrapõe</p><p>à tendência conservadora hegemônica da profissão, tendência esta que é respaldada</p><p>pela posição da igreja naquele momento.</p><p>Numa sociedade burguesa, é sempre difícil legitimar a participação política das</p><p>massas trabalhadoras, e os setores mais conservadores da sociedade brasileira</p><p>sempre combateram com violência o populismo, por verem nele o prenuncio da</p><p>destruição do poder burguês. Diante dessa realidade o Serviço Social, inicialmente,</p><p>segundo Iamamoto (1983, p. 343) se mostra relativamente alheio, à temática</p><p>desenvolvimentista.</p><p>21</p><p>O que não o impediu de</p><p>beneficiar-se da expansão econômica; das novas</p><p>pressões pela ampliação de seu consumo desencadeado pelas classes</p><p>subordinadas; de desenvolver-se enquanto instituição, absorver e aprofundar novas</p><p>experiências e institucionalizar-se enquanto profissão.</p><p>O Serviço Social aos poucos logra maior sistematização técnica e teórica de</p><p>suas funções, alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica.</p><p>Aprofundase, no plano do ensino, a influência norte-americana, voltando-se ao</p><p>Serviço Social de Grupo, que há tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional</p><p>(recreação e educação), na década de 1950 começa a fazer parte dos programas</p><p>nacionais do SESI, LBA, SESC, em hospitais, favelas etc.; iniciando-se uma nova</p><p>abordagem, que se generaliza na década de 1960, que relaciona estudos</p><p>psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e utilização da</p><p>dinâmica de grupo.</p><p>As iniciativas vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam</p><p>nesse período franco desenvolvimento, com o surgimento de uma série de</p><p>organismos e a realização de importantes Seminários. Esses organismos</p><p>desenvolverão programas que buscam sua inspiração na experiência</p><p>norteamericana. Estarão essencialmente, baseados em técnicas de Desenvolvimento</p><p>de Comunidade e perseguem a modernização da agricultura brasileira, tendo por</p><p>estratégia a Educação de Adultos.</p><p>Três (03) Seminários realizados nesse período desempenham papel</p><p>extremamente importante para que o Desenvolvimento de Comunidade se solidifique</p><p>enquanto nova opção de política social para atuar nos meios sociais marginalizadas</p><p>pelo desenvolvimento econômico e, portanto, como nova disciplina. Realiza-se em</p><p>1961, tendo também o caráter de ato preparatório de um encontro internacional, no</p><p>caso, a XI Conferência Internacional de Serviço Social, marcada para a cidade de</p><p>Petrópolis (RJ), em 1962.</p><p>Com um intervalo de quatorze (14) anos em relação ao último Congresso, este</p><p>segundo encontro abrange do meio profissional dos Assistentes Sociais irá ocorrer</p><p>numa conjuntura bastante modificada.</p><p>22</p><p>Após mais de uma década de desenvolvimentismo sustentado em estratégias</p><p>políticas populistas, a vitória do “janismo” representa a possibilidade de um novo</p><p>começo (MATUS, 1993).</p><p>A preocupação central do que poderia ser caracterizado como projeto</p><p>desenvolvimentista janista estaria na formação de uma nação forte e uma economia</p><p>globalmente forte. Desse eixo central decorre uma atenção especial ao social; a meta</p><p>prioritária é o homem e não o crescimento econômico em si mesmo. A ênfase no</p><p>social não é, assim, um alvo demagógico no projeto janista.</p><p>Dá grande importância à saúde, propondo, além da perspectiva de uma</p><p>melhora no nível de vida, campanhas e enriquecimento do sistema alimentar, contra</p><p>a desnutrição infantil e contra as insalubridades. E seu projeto educacional situa-se</p><p>outro ponto de destaque: a educação não é vista apenas a partir do prisma</p><p>economicista de aumento da produtividade.</p><p>E sim numa perspectiva de reestruturação da sociedade, de “redenção do país</p><p>pela educação”, a visão da educação como um dos esteios do projeto de</p><p>desenvolvimento para integração nacional.</p><p>O projeto janista propõe, enfim, em desenvolvimento harmônico e humano.</p><p>Percebendo a causa da crise na crise moral e político-social, propõem soluções</p><p>moralizantes, justiça social solidariedade. Preocupando com a racionalidade, exige</p><p>um planejamento democrático e a integração nacional.</p><p>A vitória do “janismo” representa, assim, a colocação na ordem do dia de uma</p><p>nova estratégia desenvolvimentista, que, mantendo os grandes eixos do crescimento</p><p>econômico, passaria a centrar-se no homem, no pleno florescimento de suas</p><p>capacidades, tudo dentro da ordem e do respeito à dignidade da pessoa humana.</p><p>Diante dessa realidade, o Serviço Social deve urgentemente re-situar-se.</p><p>23</p><p>Readaptar-se, procurando sintonizar seu discurso e métodos com as</p><p>preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à questão social e sua</p><p>evolução.</p><p>A organização do II</p><p>Congresso</p><p>Brasileiro de</p><p>Serviço Social aparece</p><p>como um exemplo bastante</p><p>claro de uma estratégia de</p><p>atualização em relação à</p><p>ideias que agitam os setores dominantes e às demandas objetivas que fazem à</p><p>instituição Serviço Social. De acordo com o momento, o tema central do Congresso</p><p>será: “Desenvolvimento Nacional para o Bem-estar Social”, sendo os trabalhos</p><p>organizados, segundo as modernas técnicas, em torno desse tema e sua</p><p>particularização para o Serviço Social.</p><p>Representa também um desafio. O governo solicita da instituição o</p><p>cumprimento de determinadas funções, dentre elas: estar em sintonia com a atual</p><p>conjuntura; estar presente junto a outros técnicos, se pondo a serviço do</p><p>desenvolvimento nacional; reaparelhamento das escolas de Serviço Social; a</p><p>organização de cursos específicos de pós-graduação; reforma universitária;</p><p>aproximação das escolas em relação a comunidades etc.</p><p>No campo profissional, reivindica-se a fixação de uma série de direitos, entre</p><p>os quais carga horária reduzida (máximo de 30 horas semanais), remuneração</p><p>condigna (fixação do salário profissional), e a estimulação da organização gremial.</p><p>Criticam-se as práticas paternalistas das grandes instituições assistenciais,</p><p>constata-se a inadequação das estruturas político-administrativa às exigências do</p><p>desenvolvimento sócio-econômico e a necessidade de medidas corretivas, verificase</p><p>a necessidade de medidas corretivas; verifica-se a necessidade de uma reforma</p><p>universitária, ao mesmo tempo em que se aplaude a Lei de Diretrizes e Bases da</p><p>24</p><p>Educação Nacional, que é combatida pela parcela da comunidade universitária que</p><p>mais se bate pela reforma.</p><p>Pede-se melhor qualidade e pontualidade nos serviços prestados pela</p><p>Previdência, Salário-Família e Auxílio Desemprego. Reafirma-se a necessidade de</p><p>uma legislação agrária, de uma revisão de legislação social e sua extensão às</p><p>populações rurais.</p><p>Assim que o Serviço Social não ficou imune a este movimento, mesmo porque,</p><p>ao longo de sua história, esta profissão é tencionada sintonizar seu discurso e</p><p>métodos às preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à questão</p><p>social e sua evolução.</p><p>Dentro destas novas exigências é colocada a reformulação do currículo do</p><p>Assistente Social, situando como matérias básicas para o curso de Serviço Social a</p><p>economia, sociologia urbana e rural, planejamento e psicologia social e o</p><p>desenvolvimento de estudos sobre pesquisa social, cooperativismo, planejamento</p><p>etc, procurando reforçar os aspectos técnicos na formação do Assistente Social.</p><p>Os governos militares, a partir de 1964, reforçaram os discursos</p><p>desenvolvimentistas, atrelando-o à doutrina da “segurança nacional” no qual a</p><p>racionalidade técnica vinha acompanhada de práticas altamente pelo aparato estatal</p><p>da ditadura. O planejamento enquanto conjunto de procedimentos técnicos visando</p><p>uma dada racionalidade operativa somente chegada ao Serviço Social com as</p><p>transformações políticas e sociais provocadas pelos governos militares.</p><p>A autocracia burguesa provoca uma profunda alteração no quadro institucional</p><p>brasileiro, seja nos espaços institucionais já configurados como espaços de trabalho</p><p>para o Serviço Social seja nos espaços que, nesse contexto passarão a demandar a</p><p>presença profissional do Assistente Social.</p><p>25</p><p>PERCEPÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO</p><p>PROFISSIONAL</p><p>Foi Optado por aplicar a técnica de entrevista semi-estruturada junto aos</p><p>Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a Universidade Federal</p><p>Fluminense, presta supervisão de estágio. Considerando que o universo destes</p><p>supervisores era restrito do ponto de vista quantitativo, por trabalhar com 04 (quatro)</p><p>supervisores, sendo que 01 (um) deles não deu retorno ao meu</p>convite para realizar a entrevista. Cabe ressaltar que mesmo se tratando de um universo restrito do ponto de vista quantitativo, do ponto de vista qualitativo este universo é muito significativo, por se tratar de profissionais que atuam em diferentes áreas e em diferentes tempos de atuação. A pesquisa foi desenvolvida com base em entrevistas abertas, na qual as perguntas foram respondidas dentro de uma conversação informal, onde a interferência do entrevistador foi mínima. As entrevistas foram orientadas por dois eixos: O primeiro se refere à importância que estes profissionais atribuem ao planejamento de ações na prática do Serviço Social e o segundo, refere-se à utilização do planejamento na sua prática. Estendi este segundo eixo para que, caso o profissional utilizasse o planejamento em sua prática, que explicasse a forma e em caso negativo que apresentassem uma causa. Desta forma foi possível obter o maior número de 26 informações sobre o tema, segundo a visão do entrevistado, e também obter um maior detalhamento do assunto em questão. Para análise dos dados colhidos nas entrevistas utilizamos a proposta do método hermenêutico-dialético (O método hermenêutico-dialético é uma técnica de entrevistas que permite a interação dos entrevistados entre si (sujeitos da pesquisa) e destes com o pesquisador. Nesta técnica, o pesquisador, mesmo realizando entrevistas individuais com cada sujeito da pesquisa, possibilita que suas falas possam ser lidas pelos outros entrevistados, que elaboram uma síntese da sua e das demais respostas, conduzindo ou não modificações na sua resposta original.), mencionado na obra de Minayo (1994), que me possibilitou situar as falas dos entrevistados no seu contexto. Com base nos eixos que nortearam as entrevistas podemos observar que é unanimemente mencionada entre os entrevistados a importância que dão ao planejamento. Contudo dentre as falas dos 03 (três) entrevistados, apenas o primeiro esmiuçou sua compreensão acerca desta importância que é conferida ao planejamento. Em sua visão, o planejamento é de suma importância por lhe permitir organizar suas ações nos mais variados momentos, com base na sistematização de suas ações, documentação, ou seja, aqui fazem referência ao planejamento como uma importante técnica, um instrumento que quando apropriado por determinadas categorias profissionais, lhes confere maior possibilidade de concretização de suas metas. Este primeiro entrevistado completa, que do ponto de vista profissional, como Assistente Social, ele vê o planejamento como “[...] um dos principais instrumentos, que o trabalho do Assistente Social tem”. E que, em relação a outras categorias profissionais, com as quais já trabalhou, percebe que “[...] o Serviço Social tem em sua formação, essa preocupação com o planejamento [...]”, e que em sua opinião “[...] isso é algo que nos qualifica e diferencia de outras categorias profissionais”. Enfatiza ainda que os demais profissionais têm 27 hábito de criticamente dizer que “[...] para o Assistente Social, tudo tem que planejar, fazer projeto [...]”, mas ele defende dizendo que “[...] isso é algo que caracteriza nossa profissão”. Segundo VASQUEZ (1977) classifica esse tipo de prática como práxis reiterativa: nela, há um projeto, preexistente à ação (modelo) – o real só se justifica por adequação a ele. É uma prática limitada ao existente: não produz uma nova realidade, nem mudanças qualitativas, não transforma, embora possa ampliar a área do já criado, multiplicando quantitativamente o produzido. Não faz emergir uma nova realidade humana. Por outro lado, esse entendimento revela uma compreensão da prática profissional onde o Assistente Social, dentro das características da planificação normativa, é um mero executor das determinações ou do planejamento desenvolvido pela instituição que trabalha. Cabe ressaltar que esta visão de planejamento reflete a compreensão de uma realidade estática que deverá ser adequada a um plano previamente estabelecido. Uma realidade onde os procedimentos pré-fixados resumem o “fazer” profissional. Deste modo o horizonte da apreensão do real é limitado às categorias relacionadas imediatamente ao seu objeto, as quais, por vezes, separam a vida social em compartimentos estanques, isolados entre si. Iamamoto (2002) indica que o exercício da profissão passa a exigir uma ação de um sujeito profissional que tenha competência para propor, negociar e construir os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais sempre na busca de equidade. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais, do ativismo e buscar apreender o movimento da realidade. Traduzindo, significa repensar o Serviço Social na sua contemporaneidade, com vistas a traduzir o mundo moderno. O planejamento normativo não leva em conta os diferentes atores sociais, grupos da sociedade, setores de uma mesma empresa etc. 28 Que detentores de interesses e comportamentos próprios fazem esta relação ser permeados por conflitos. Neste ponto por vezes esse tipo de planejamento estagna, por não possuir viabilidade política, por não ter levado, nem conseguir levar em consideração a importância da existência de forças oponentes que, caso tivessem sido envolvidas, mesmo com os desafios de abarcar suas demandas, na elaboração do plano, se revelariam potenciais forças de apoio ao planejamento. A grande problemática é que, em se tratando de um profissional que presta supervisão de estágio, esta visão apresenta problemas na medida em que o supervisor espera que o estagiário apenas “aprenda” tais procedimentos prédefinidos. Nessa perspectiva são comuns as queixas de supervisores, que, com concepções semelhantes, lamentam que o estagiário chega ao campo de estágio “sem saber fazer nada”. Nesse sentido, tanto as concepções de planejamento, como de estágio, revelam uma concepção da prática profissional, que por sua vez, revela uma concepção de mundo e de sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse trabalho foi apresentar algumas reflexões sobre planejamento enquanto ferramenta de trabalho para o Assistente Social. Evidentemente, não tivemos a intensão de esgotar esta análise, mas sim de iniciar um debate sobre as 29 dificuldades paradigmáticas deste tema e dar continuidade ao projeto de uma intervenção qualificada e crítica do Serviço Social. Também buscamos realizar um levantamento bibliográfico com autores que se identificam com o tema, fazendo uma comparação das diversas ideias por eles declaradas. Procuramos abordar um breve histórico sobre o desenvolvimento do planejamento, e como se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que possibilita a organização e dá intencionalidade à ação profissional. Porém, junto a Carvalho e Netto (1994), como a situação atual que aloca os Assistentes Sociais como prestadores de serviços, executores de atividades finalísticas, visa descaracterizar a profissão como um trabalho, e a exclui da intermediação direta da relação capital-trabalho. Além disso, esta prática obscurece a natureza política da profissão, limitando sua intervenção a ações instrumentais, determinando a própria representação que os profissionais têm das suas funções. Também, de acordo com os autores, é preciso romper com o hiato entre o passado conservador do Serviço Social e os indicativos práticos de uma nova racionalidade e instrumentalidade. As escolas de Serviço Social vêm se multiplicando e colocando um grande número de profissionais no mercado de trabalho. O Serviço Social como profissão, sofre alterações nas suas formas interventivas e operativas, onde lhe são demandados competências e procedimentos inerentes às novas tecnologias e das últimas novidades administrativas.Esta modernidade está de fato ditando o perfil profissional dos novos Assistentes Sociais. Neste cenário, o que se verifica é o desenvolvimento de tensões no processo de formação profissional que são intensificadas à medida que existe a dificuldade de se debater conhecimentos que definem os procedimentos operacionais da intervenção social. 30 A título de conclusão, cabe enfatizar que a discussão em torno do planejamento enquanto instrumentalidade do Serviço Social traz uma inegável contribuição para o redimensionamento da profissão. Esta constatação, aliada ao aparato metodológico e técnico operativo no Serviço Social, oferece aos profissionais uma possibilidade concreta de tornar visível o compromisso do Serviço Social com uma consciência ética que viabilize a proposta presente na cultura profissional. Se por um lado avaliam que a pesquisa ainda carece de aprofundamento teórico para dar conta de suas diversas lacunas, por outro ela nos possibilitou concluir que urge recolocar o planejamento nas discussões, problematiza-lo tanto nos espaços acadêmicos (suporte teórico) como nos campos de intervenção do profissional de Serviço Social. Fica claro que é necessário ter no planejamento a superação de mero instrumento tecnocrático, enfatizando suas possibilidades de garantir uma ação competente. Os entraves que surgem devem ser analisados e incorporados em propostas mais flexíveis e compatíveis com as exigências que vêm sendo feitas ao Serviço Social, que possibilitem atender às exigências de articular planejamento e intervenção profissional. Este é um desafio colocado ao Assistente Social. Os resultados de nossa pesquisa de campo, ainda que tematizando um universo limitado, revelam que a visão de planejamento ainda permanece atrelada a referências formais, uma espécie de “roteiro” a ser seguido e que tem sua eficácia e sua efetividade mensuradas a partir da capacidade do profissional em “ajustar a realidade ao que foi especificado no documento-plano”. O planejamento, assim, não é visto como um instrumental que possibilite imprimir alterações concretas na realidade, dando um contorno definido e identificável à ação profissional. Isto porque, entre os entrevistados, o planejamento não é pensado como instrumento político que exige um cuidadoso processo de negociações em diferentes níveis, articulando e compatibilizando diferentes posições, prioridades, exigências políticas e propostas de diversos segmentos e de sujeitos sociais envolvidos. 31 Nessa direção, o planejamento situa-se como um processo de compreensão da realidade e opções estratégicas, que tem tempo e espaço bem definidos, consubstanciados em ações encadeadas e tendo em vista determinados objetivos. Sua implementação deverá produzir uma alteração sensível no real, alterações que são incorporadas à nova situação, o que dá a dinâmica e flexibilidade do processo. Todo o plano necessita, por isso mesmo, de revisões sistemáticas, e exige um acurado sistema de monitoramento, controle e acompanhamento para permitir a avaliação. O plano ganha relevância política quando supera sua condição de simples instrumento formal burocrático, o que ocorre quando se consegue, durante sua elaboração, ampliar a discussão e participação dos interessados, produzir um conhecimento sobre as necessidades sociais dos grupos e segmentos aos quais se destina e colocar em evidência os responsáveis pela gestão dos setores que estão sendo planejados. 32 REFERÊNCIAS: BOURDIEU, e A Nova Sociologia Econômica Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 2 Texto recebido em 16/ 2/2006 e aprovado em 4/12/2006. Disponível em http://www.gabinetec.com.br/lista/arquivos/backup/obs/OBS_2006_09_06.pdf - Acesso em: 17/06/2014 CARVALHO, M. C. B.; NETTO, J. P. Cotidiano: conhecimento e crítica. São Paulo: Cortez, 1994. IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profisional. São Paulo: Cortez, 1998. IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2000. MATUS, C. Política, planejamento & governo. Tomos I e II. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília. 1993. MATUS, C. O líder sem Estado-Maior. São Paulo: Fundap, 2000. NETTO, José Paulo. Transformações Societárias e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, nº50, abril 1996, p.87-132.