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<p>DIREITO</p><p>PENAL II</p><p>Cinthia Louzada Ferreira Giacomelli</p><p>Livramento condicional</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Conceituar livramento condicional.</p><p>� Analisar os requisitos e as condições para o livramento condicional.</p><p>� Explicar os casos de revogação, prorrogação e extinção do livramento</p><p>condicional.</p><p>Introdução</p><p>A principal finalidade da pena é retribuir o crime praticado, prevenir a</p><p>ocorrência de novos crimes e ressocializar o criminoso. Com base no</p><p>objetivo de ressocialização, alguns mecanismos podem ser aplicados</p><p>no cumprimento da pena, como, por exemplo, o livramento condicional,</p><p>que antecipa a liberdade aos condenados que atenderem aos requisitos</p><p>objetivos e subjetivos determinados pela legislação penal. O livramento,</p><p>ou liberdade, condicional permitem inserir novamente no convívio so-</p><p>cial o criminoso que já apresenta índice suficiente de regeneração, de</p><p>maneira que o tempo restante da pena seja completado em liberdade,</p><p>embora submetido a certas condições.</p><p>Neste capítulo, você vai ler sobre os principais aspectos do livramento</p><p>condicional, os requisitos e as condições para o seu cumprimento, bem</p><p>como os casos de revogação, prorrogação e extinção desse benefício.</p><p>Conceitos fundamentais</p><p>A pena é a sanção imposta pelo Estado ao indivíduo que pratica um crime.</p><p>A principal finalidade da pena é retribuir o crime praticado, prevenir a ocor-</p><p>rência de novos crimes e ressocializar o criminoso. Com base no objetivo de</p><p>ressocialização, alguns mecanismos podem ser aplicados no cumprimento da</p><p>pena. Um desses mecanismos é a progressão do regime.</p><p>O ordenamento jurídico brasileiro prevê três tipos de regime para o cum-</p><p>primento da pena privativa de liberdade, que deve ser fixado pelo juiz ao</p><p>proferir a sentença:</p><p>� aberto;</p><p>� semiaberto;</p><p>� fechado.</p><p>O regime fechado ocorre quando a sentença fixa uma condenação de</p><p>oito ou mais anos de reclusão ou detenção. A pessoa inicia o cumprimento da</p><p>pena em regime fechado, dentro de uma unidade prisional, sendo proibida a</p><p>saída do local. O regime semiaberto ocorre quando a condenação fixa uma</p><p>pena entre quatro e oito anos. Se não for o caso de reincidência, o detento</p><p>poderá iniciar o cumprimento da sua pena em regime semiaberto. Nesse</p><p>tipo de regime, a execução da pena ocorre em colônia agrícola, industrial</p><p>ou estabelecimento similar, permitindo que a pessoa trabalhe ou faça cursos</p><p>(ensino médio, superior e profissionalizante) fora da prisão. No que se refere</p><p>ao regime aberto, a condenação fixada é de até quatro anos, sem que tenha</p><p>reincidência no crime. A detenção é feita em casa de albergado ou em outro</p><p>estabelecimento adequado.</p><p>Se cumpridas as exigências legais, considerando o tipo de crime, o tempo de con-</p><p>denação e os antecedentes criminais, o indivíduo poderá ser beneficiado com a</p><p>progressão do regime, que consiste no relaxamento do regime mais severo para um</p><p>mais brando. A ideia da progressão de regime é permitir que o condenado reconquiste</p><p>a liberdade pouco a pouco, favorecendo o cumprimento da pena e contribuindo para</p><p>sua readaptação à sociedade.</p><p>Nesse contexto, outro instrumento que favorece o cumprimento da pena,</p><p>reconhecendo o progresso do criminoso rumo à ressocialização, é o livramento</p><p>condicional. Como afirmam Mirabete e Fabbrini (2014, p. 326), “[...] nesse</p><p>substitutivo penal, coloca-se de novo no convívio social o criminoso que já</p><p>apresenta índice suficiente de regeneração, permitindo-se que complete o</p><p>tempo da pena em liberdade, embora submetido a certas condições”.</p><p>Nesse sentido, Nucci (2009, p. 538) comenta que o livramento condicional:</p><p>Livramento condicional2</p><p>[...] trata-se de um instituto de política criminal destinado a permitir a redução</p><p>do tempo de prisão com a concessão antecipada e provisória da liberdade</p><p>ao condenado, quando é cumprida pena privativa de liberdade, mediante o</p><p>preenchimento de determinados requisitos e a aceitação de certas condições.</p><p>O livramento, ou liberdade, condicional é um benefício que pode ser concedido a um</p><p>condenado, permitindo o cumprimento da pena em liberdade.</p><p>O livramento condicional teve origem na França, sendo considerado a</p><p>última etapa do sistema penitenciário progressivo. Com o tempo, Inglaterra,</p><p>Alemanha e Suíça adotaram o instituto, de forma que passou a ser aplicado em</p><p>toda a Europa. No Brasil, o livramento condicional surgiu no Código Penal de</p><p>1890 e, na Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, foi citado como:</p><p>[...] parte de um sistema penitenciário (sistema progressivo) que é incompatível</p><p>com as penas de curta duração. Não se trata de um benefício que se concede por</p><p>simples espírito de generosidade, mas de uma medida finalística, entrosada,</p><p>num plano de política criminal.</p><p>O livramento condicional é, portanto, um direito do condenado. Contudo, há</p><p>uma finalidade na sua concessão, assim, deve ser concedido apenas mediante</p><p>o atendimento a requisitos específicos, que devem ser analisados pelo juiz.</p><p>O livramento condicional não é um tipo de regime. Trata-se apenas de um instrumento</p><p>que favorece o cumprimento da pena e contribui para a ressocialização do condenado.</p><p>Requisitos e condições</p><p>A concessão do livramento condicional depende do atendimento de requisitos</p><p>dispostos no art. 83 do Código Penal, dividindo-se em requisitos objetivos e</p><p>3Livramento condicional</p><p>subjetivos. Os incisos destacados se referem aos requisitos objetivos para a</p><p>concessão do livramento condicional:</p><p>Art. 83 O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena</p><p>privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:</p><p>I — cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente</p><p>em crime doloso e tiver bons antecedentes;</p><p>II — cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime</p><p>doloso;</p><p>III — comprovado:</p><p>a) bom comportamento durante a execução da pena;</p><p>b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;</p><p>c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e</p><p>d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;</p><p>IV — tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano</p><p>causado pela infração;</p><p>V — cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação</p><p>por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes</p><p>e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for</p><p>reincidente específico em crimes dessa natureza.</p><p>Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência</p><p>ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordi-</p><p>nada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado</p><p>não voltará a delinquir. (BRASIL, 1940, documento on-line, grifo nosso).</p><p>Os pressupostos subjetivos para a concessão do livramento condicional</p><p>abrangem os bons antecedentes do criminoso, nos termos do inciso I do art.</p><p>83. Por bons antecedentes, consideram-se aspectos como:</p><p>� não ser criminoso habitual;</p><p>� não ter sofrido outras condenações;</p><p>� não ter sido envolvido em investigações policiais.</p><p>Mirabete e Fabbrini (2014, p. 329) ressaltam que “[...] refere-se o dispositivo</p><p>aos antecedentes anteriores ao cumprimento da pena, pois o comportamento</p><p>após o recolhimento do sentenciado à prisão deve ser apreciado nos termos</p><p>do art. 83, inciso III”.</p><p>O segundo requisito subjetivo, portanto, diz respeito ao comportamento</p><p>do condenado durante a execução da pena. O comportamento a que se refere</p><p>a legislação é um índice importante para a readaptação social do criminoso,</p><p>de forma que deve ser aferida por atos positivos do condenado, não bastando a</p><p>simples abstenção de faltas disciplinares. Assim, exige a boa convivência com</p><p>Livramento condicional4</p><p>outros encarcerados, dedicação ao trabalho e ao estudo, além de intercâmbio</p><p>com a família, por exemplo. O inciso III, b, indica que para ter direito ao</p><p>livramento condicional, deve ainda o condenado não ter cometido falta grave</p><p>nos últimos 12 meses. Aqui é preciso mencionar</p><p>que o STJ compreende, nos</p><p>termos da súmula 441, que a falta grave não interrompe o prazo para a obtenção</p><p>do livramento condicional. Embora se trate de requisito subjetivo recentemente</p><p>inserido no Código Penal, em uma análise inicial não há antagonismo em</p><p>relação à súmula da Corte Superior, na medida em que aqui não foi inserida</p><p>qualquer interrupção para a contagem do prazo.</p><p>Uma vez preenchidos tanto os requisitos objetivos quanto os subjetivos,</p><p>o livramento condicional é concedido, nos termos do art. 712 do Código de</p><p>Processo Penal, mediante requerimento:</p><p>� do condenado;</p><p>� do seu cônjuge;</p><p>� de parente em linha reta;</p><p>� por proposta do diretor do estabelecimento prisional;</p><p>� por iniciativa do Conselho Penitenciário.</p><p>Após um parecer sobre a admissibilidade, conveniência e oportunidade</p><p>do benefício emitido pelo Conselho Penitenciário, o juiz deve estabelecer</p><p>condições para o cumprimento do benefício. Nos termos do art. 132 da Lei</p><p>de Execuções Penais:</p><p>Art. 132 Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica su-</p><p>bordinado o livramento.</p><p>§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:</p><p>a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;</p><p>b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;</p><p>c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia</p><p>autorização deste.</p><p>§ 2º Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obri-</p><p>gações, as seguintes:</p><p>a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida</p><p>da observação cautelar e de proteção;</p><p>b) recolher-se à habitação em hora fixada;</p><p>c) não frequentar determinados lugares (BRASIL, 1984, documento on-line).</p><p>5Livramento condicional</p><p>Percebemos, portanto, que as condições podem ser obrigatórias ou facultativas. É</p><p>importante destacar que as condições facultativas, também chamadas de condições</p><p>judiciais, podem ser modificadas no decorrer da execução, sendo devidamente jus-</p><p>tificadas, de forma que a não aceitação pelo condenado das condições impostas ou</p><p>alteradas torna sem efeito o livramento condicional. Por fim, o benefício é efetivado</p><p>após a realização de uma cerimônia solene.</p><p>Circunstâncias que alteram a vigência</p><p>do livramento condicional</p><p>O livramento condicional, como o próprio nome indica, requer o atendimento</p><p>das condições legais e judiciais durante o prazo da sua vigência, sob pena de</p><p>revogação. O art. 86 do Código Penal trata da revogação obrigatória do benefício:</p><p>Art. 86 Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena</p><p>privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:</p><p>I — por crime cometido durante a vigência do benefício;</p><p>II — por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código (BRA-</p><p>SIL, 1940, documento on-line).</p><p>Se revogado o livramento por crime cometido durante a vigência do benefício, não se</p><p>desconta o tempo em que o condenado esteve solto, enquanto que, se o livramento</p><p>for revogado por crime anterior à concessão do benefício, o período de prova será</p><p>computado como tempo de cumprimento da pena. Em ambos os casos, é necessária</p><p>a existência de uma sentença condenatória transitada em julgado.</p><p>Quanto à revogação facultativa, prevê o art. 87 do Código Penal:</p><p>Livramento condicional6</p><p>Art. 87 O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de</p><p>cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivel-</p><p>mente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa</p><p>de liberdade (BRASIL, 1940, documento on-line).</p><p>Em geral, as duas hipóteses indicam que o condenado ainda não está</p><p>readaptado à vida social. Contudo, caso o juiz entenda que o livramento con-</p><p>dicional deve ser mantido mesmo diante dessas situações, obrigatoriamente ele</p><p>deverá advertir o condenado ou agravar as condições que lhe foram impostas.</p><p>Nesse sentido, observamos o art. 88 do Código Penal: “Art. 88 Revogado</p><p>o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revo-</p><p>gação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não</p><p>se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado” (BRASIL,</p><p>1940, documento on-line).</p><p>A regra imposta pelo referido artigo, no entanto, não é absoluta. É o que se</p><p>chama de restauração: de acordo com o art. 141 da Lei de Execuções Penais,</p><p>caso a revogação ocorra em virtude de infração penal anterior ao livramento</p><p>condicional, o período de prova será computado como tempo de cumprimento</p><p>da pena, sendo permitida, nessa hipótese, a soma do tempo das duas penas</p><p>para a concessão de novo livramento condicional. Caso, porém, a revogação</p><p>do benefício ocorra em decorrência de outro motivo, não será concedido, para</p><p>a mesma pena, um novo livramento.</p><p>O livramento condicional poderá, ainda, ser objeto de prorrogação. O</p><p>benefício será prorrogado enquanto não transitar em julgado a sentença no</p><p>processo a que responde o liberado por crime cometido durante sua vigência.</p><p>É o que prevê o art. 89 do Código Penal: “Art. 89 O juiz não poderá declarar</p><p>extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que</p><p>responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento” (BRASIL,</p><p>1940, documento on-line).</p><p>Assim, revoga-se o livramento, ainda que a decisão ocorra após o período</p><p>de prova inicial. A prorrogação, porém, só vige para o efeito de aguardar a</p><p>decisão final, não vigorando mais condições legais ou judiciais do livramento.</p><p>Por fim, se até o seu término o livramento condicional não for revogado,</p><p>salvo a hipótese referida, considera-se a extinção da pena privativa de liberdade,</p><p>nos termos do art. 90 do Código Penal. A extinção é declarada de ofício pelo</p><p>juiz, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou do Conselho</p><p>Penitenciário.</p><p>7Livramento condicional</p><p>BRASIL. Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial</p><p>[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 11 set. 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Diário Oficial [da]</p><p>República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.</p><p>planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 11 set. 2018.</p><p>MIRABETE J. F.; FABBRINI, R.N. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2014.</p><p>NUCCI, G. S. Manual de Direito Penal: parte geral e parte especial. São Paulo: Revista</p><p>dos Tribunais, 2009.</p><p>Livramento condicional8</p>

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