Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

<p>Desenvolvimento</p><p>da Sociedade</p><p>e Natureza</p><p>02</p><p>1. A Evolução da Vida e o Surgimento do Homem 4</p><p>As Transformações das Paisagens 6</p><p>A Evolução Cultural do Homem 7</p><p>A Evolução do Homem 10</p><p>2. A Natureza e a Sociedade com</p><p>a Revolução Científica 12</p><p>A Revolução Industrial e a Natureza 14</p><p>As Mudanças Relacionadas à Revolução Industrial 16</p><p>A Visão da Natureza pós Revolução Industrial 17</p><p>3. Ações da Sociedade Perante o</p><p>Seu Desenvolvimento 20</p><p>As Conferências Internacionais 23</p><p>Agenda 21 e o Desenvolvimento Sustentável 24</p><p>Educação Ambiental: Um Caminho</p><p>Para a Conquista da Cidadania 27</p><p>4. Referências Bibliográficas 30</p><p>03</p><p>4</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>1. A Evolução da Vida e o Surgimento do Homem</p><p>Fonte: Canção Nova1</p><p>idade do Planeta Terra é calcu-</p><p>lada em 4,5 bilhões de anos.</p><p>Esse tempo é um tempo geológico</p><p>que ultrapassa, em muito, o tempo</p><p>de vida do ser humano. É importan-</p><p>te termos sempre em mente que esse</p><p>planeta, tal como o conhecemos ho-</p><p>je, é resultado de um longo processo</p><p>de transformações e que esse pro-</p><p>cesso continua, mesmo que durante</p><p>nossa vida nós não possamos identi-</p><p>ficar tais mudanças. E que mudan-</p><p>ças são essas?</p><p>Na evolução da Terra, vários</p><p>acontecimentos, como mudanças</p><p>climáticas, atividades vulcânicas, te-</p><p>rremotos, alteração do nível do mar</p><p>1 Retirado em https://formacao.cancaonova.com/</p><p>etc. interferiram na formação do que</p><p>hoje conhecemos como superfície</p><p>terrestre. Ora, se todos esses aconte-</p><p>cimentos influenciaram a formação</p><p>do quadro físico do planeta – distri-</p><p>buição das terras e mares, formação</p><p>de cadeias montanhosas, distribui-</p><p>ção das jazidas de recursos naturais,</p><p>diversidade da cobertura vegetal,</p><p>então imaginamos que tais aconteci-</p><p>mentos também influenciaram a</p><p>origem e a distribuição dos seres vi-</p><p>vos. Isso significa que durante esses</p><p>4,5 bilhões de anos muitas espécies</p><p>surgiram, se transformaram, se</p><p>adaptaram às mudanças climáticas</p><p>ou simplesmente desapareceram.</p><p>A</p><p>5</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>Observamos, assim, que o</p><p>tempo geológico é bem diferente do</p><p>tempo que acostumamos a contar</p><p>em nossa vida cotidiana. Como é po-</p><p>ssível, então, dividir o tempo geoló-</p><p>gico para entendermos a evolução</p><p>da Terra?</p><p>A maneira de segmentar o</p><p>tempo para explicar a formação e a</p><p>evolução da Terra é denominada es-</p><p>cala geológica. Assim, os 4,5 bilhões</p><p>de anos foram divididos em eras e</p><p>períodos geológicos, de acordo com</p><p>os registros fósseis encontrados nas</p><p>rochas que compõem a superfície do</p><p>planeta. À medida que os fósseis fo-</p><p>ram sendo encontrados e estudados,</p><p>foi possível montar uma espécie de</p><p>quebra-cabeça que revelou a história</p><p>da evolução da vida no planeta.</p><p>Fonte:</p><p>https://mundoeducacao.bol.uol.com.</p><p>br/</p><p>Como podemos observar na</p><p>tabela da escala geológica, o apareci-</p><p>mento das formas mais complexas</p><p>de vida ocorreu na era Paleozoica,</p><p>quatro bilhões de anos após a for-</p><p>mação do planeta. Antes disso, a</p><p>vida havia surgido e se mantido na</p><p>forma de organismos muito simples,</p><p>unicelulares, e somente há aproxi-</p><p>madamente 500 milhões de anos é</p><p>que organismos multicelulares se</p><p>formaram e começaram a povoar os</p><p>mares do planeta. De lá para cá,</p><p>muitas espécies se extinguiram e</p><p>outras tantas evoluíram, num longo</p><p>processo denominado sucessão de</p><p>espécies: primeiro os peixes, depois</p><p>os anfíbios, seguidos pelos répteis e</p><p>mamíferos.</p><p>Há cerca de 2 milhões de anos,</p><p>a espécie humana começou a se esta-</p><p>belecer no planeta. Desde então, co-</p><p>meçamos a interferir nos processos</p><p>naturais de uma forma completa-</p><p>mente diferente das demais espé-</p><p>cies, principalmente nos últimos</p><p>200 anos da nossa história.</p><p>Tal como as demais espécies, a</p><p>espécie humana também apresen-</p><p>tou sua própria evolução biológica,</p><p>adaptando-se às condições do meio</p><p>e transformando-o. Sabemos que há</p><p>uma diferença entre nosso ancestral</p><p>Ramapithecus, que viveu na savana</p><p>africana há aproximadamente 12</p><p>6</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>milhões de anos, e o Homo sapiens</p><p>sapiens, forma atual da espécie</p><p>humana.</p><p>Para se tornar Homo sapiens</p><p>sapiens, o homem passou por um</p><p>processo evolutivo que se iniciou</p><p>como Homo habilis, espécie com o</p><p>corpo ereto que utilizava algumas</p><p>ferramentas para aproveitar melhor</p><p>os elementos da natureza necessá-</p><p>rios à sua subsistência. Quando a</p><p>espécie humana descobriu o fogo</p><p>como técnica de defesa e para o apri-</p><p>moramento de utensílios e de ins-</p><p>trumentos de trabalho, tornou-se</p><p>Homo erectus. Continuando sua</p><p>evolução, tornou-se Homo sapiens,</p><p>considerado o primeiro hominídeo a</p><p>ser capaz de desenvolver rituais e</p><p>cerimônias relacionadas à sua vida</p><p>cotidiana. Posteriormente, a des-</p><p>coberta das técnicas de cultivo e a</p><p>domesticação de alguns animais po-</p><p>ssibilitou sua sedentarização, trans-</p><p>formando-o em Homo sapiens</p><p>sapiens.</p><p>Considerando todo o tempo de</p><p>formação e evolução da Terra, a pre-</p><p>sença da espécie humana no planeta</p><p>é recente, representando apenas</p><p>0,001% desse tempo. Mas, embora</p><p>recentes, os seres humanos geraram</p><p>impactos importantes, sobretudo a</p><p>partir de sua fixação, crescimento e</p><p>posterior expansão para várias re-</p><p>giões do planeta.</p><p>As Transformações das</p><p>Paisagens</p><p>As paisagens sempre se trans-</p><p>formaram em função do trabalho</p><p>dos agentes naturais – água, vento,</p><p>neve, sistema vulcânico, terremoto e</p><p>clima. Mas foi o aparecimento do ser</p><p>humano sobre a Terra, há aproxi-</p><p>madamente 2 milhões de anos, que</p><p>teve um efeito direto na aceleração</p><p>do ritmo de transformação das pai-</p><p>sagens naturais.</p><p>As sociedades humanas foram</p><p>capazes de transformar as paisagens</p><p>e, em alguns casos, domesticar al-</p><p>guns dos elementos naturais, crian-</p><p>do paisagens artificiais que, com o</p><p>passar do tempo, foram naturali-</p><p>zadas.</p><p>Um dos casos mais conhecidos</p><p>de domesticação da paisagem natu-</p><p>ral são os famosos pôlderes encon-</p><p>trados na Holanda, país que tinha</p><p>grande parte das terras submersas.</p><p>Entre os séculos XV e XVII, nume-</p><p>rosos diques e canais de escoamento</p><p>da água foram construídos na região</p><p>para proteger o litoral dos efeitos de</p><p>inundações em períodos de marés</p><p>cheias, e também foram aterradas as</p><p>áreas cobertas de água, representan-</p><p>do um aumento considerável da su-</p><p>perfície cultivável do país.</p><p>Assim, os ambientes construí-</p><p>dos tomam um espaço cada vez mais</p><p>amplo. As cidades, as superfícies</p><p>7</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>cultivadas, as atividades de minera-</p><p>ção são alguns dos exemplos que</p><p>conferem uma grande responsabili-</p><p>dade ao homem sobre as transfor-</p><p>mações ambientais.</p><p>Desde 1920, trabalha-se com a</p><p>noção de homem como agente geo-</p><p>lógico para indicar a capacidade do</p><p>ser humano em modelar e trans-</p><p>formar a paisagem de várias manei-</p><p>ras, podendo, inclusive, criar um</p><p>continente.</p><p>Entretanto, essa capacidade</p><p>de modelar a paisagem pode trazer</p><p>problemas na dinâmica dos ecossis-</p><p>temas, cujas consequências, muitas</p><p>vezes, não são passíveis de controle.</p><p>É importante ter em mente que essa</p><p>capacidade foi sendo progressiva-</p><p>mente adquirida ao longo da evolu-</p><p>ção, primeiro lentamente, depois</p><p>mais rapidamente. Todavia, ela não</p><p>significa pleno controle dos fenô-</p><p>menos associados à dinâmica plane-</p><p>tária. Ao contrário, tal tentativa de</p><p>controle reflete-se, na atualidade, na</p><p>chamada crise ambiental.</p><p>A Evolução Cultural do Ho-</p><p>mem</p><p>A teoria mais aceita sobre a</p><p>origem e a disseminação dos grupos</p><p>humanos, em função das descober-</p><p>tas de fósseis, é a de que o ser hu-</p><p>mano surgiu na África Oriental e, a</p><p>partir daí, tenha migrado para</p><p>outras regiões. Essa migração se</p><p>deu em várias direções e foi possível</p><p>porque houve períodos intercalados</p><p>de secas prolongadas e de glaciações</p><p>que baixaram o nível dos oceanos,</p><p>facilitando</p><p>os deslocamentos hu-</p><p>manos.</p><p>Há cerca de 10 mil anos, no</p><p>entanto, os oceanos se elevaram,</p><p>atingindo níveis próximos aos</p><p>atuais. O impacto mais imediato dis-</p><p>so foi o isolamento das populações</p><p>que, nessa época, já estavam dis-</p><p>seminadas pela Europa, Ásia, Ocea-</p><p>nia e América. Tal isolamento propi-</p><p>ciou o desenvolvimento bastante di-</p><p>ferenciado das espécies animais e</p><p>vegetais, como também as diferen-</p><p>ciações culturais.</p><p>Para a maioria dos autores, as</p><p>sociedades nômades e as sociedades</p><p>coletoras foram progressivamente</p><p>se tornando sedentárias. Essa um-</p><p>dança corresponde à passagem do</p><p>período Paleolítico, caracterizado</p><p>pelas sociedades nômades, para o</p><p>período Neolítico, das sociedades</p><p>sedentárias. A esse período de im-</p><p>portantes mudanças e concentração</p><p>de inovações denominamos Revo-</p><p>lução Neolítica.</p><p>O período Neolítico é geral-</p><p>mente demarcado entre 8.000 e</p><p>5.000 anos a.C. Foi nessa época que</p><p>o ser humano conseguiu controlar</p><p>melhor o uso do fogo e aprendeu a</p><p>transformar argila em cerâmica.</p><p>8</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>Posteriormente, passou a fundir os</p><p>metais encontrados na natureza e</p><p>utilizá-los como ferramentas mais</p><p>resistentes e eficientes para a rea-</p><p>lização de tarefas que asseguravam</p><p>sua sobrevivência.</p><p>Além dessas técnicas, o desen-</p><p>volvimento da agricultura e a do-</p><p>mesticação de animais para criação</p><p>também constituíram importantes</p><p>inovações.</p><p>Vários fatores podem explicar</p><p>a concentração de inovações nesse</p><p>período. Os arqueólogos e os histo-</p><p>riadores apontam a sedentarização</p><p>das sociedades como condição ne-</p><p>cessária para que as técnicas se de-</p><p>senvolvessem. Por quê? Porque as</p><p>técnicas para a produção da cerâ-</p><p>mica, por exemplo, demandavam</p><p>tempo para a secagem do material, e</p><p>as sociedades nômades não dispu-</p><p>nham desse tempo.</p><p>Também não podiam trans-</p><p>portar seus alimentos em potes pas-</p><p>síveis de se quebrar e que represen-</p><p>tavam mais peso para ser levado em</p><p>seus deslocamentos.</p><p>No que diz respeito à agricul-</p><p>tura, admite-se, em linhas gerais,</p><p>que a atividade tenha surgido nos</p><p>vales e várzeas, como os do rio Nilo,</p><p>no Egito, os dos rios Tigre e Eufra-</p><p>tes, na Mesopotâmia, e os dos rios</p><p>Amarelo e Azul, na China. Essas</p><p>áreas eram consideradas privilegia-</p><p>das para a fixação do homem e o</p><p>consequente desenvolvimento da</p><p>agricultura, pois apresentavam</p><p>inundações periódicas que consti-</p><p>tuíam o adubo natural do solo. Os</p><p>artefatos de cerâmica serviam, entre</p><p>outros, para armazenar os ali-</p><p>mentos.</p><p>Assim, a fixação de grupos</p><p>humanos está diretamente ligada ao</p><p>desenvolvimento da agricultura. É</p><p>possível haver agricultura sem fixa-</p><p>ção de grupos humanos, mas não</p><p>pode haver sedentarização sem essa</p><p>atividade. Por isso as inovações que</p><p>apontamos foram tão importantes,</p><p>uma vez que significaram a capaci-</p><p>dade de as sociedades humanas mo-</p><p>dificarem e controlarem a natureza.</p><p>Mas se, por um lado, a agricul-</p><p>tura permitiu o crescimento popula-</p><p>cional, por outro a ampliação das</p><p>terras cultivadas diminuiu a varie-</p><p>dade de espécies nos ecossistemas</p><p>que progressivamente eram utiliza-</p><p>dos para o cultivo. Foi um processo</p><p>contínuo de criação de ambientes</p><p>artificiais pela introdução de espé-</p><p>cies domesticadas, de novas técnicas</p><p>e de práticas de manejo que inter-</p><p>feriram na dinâmica desses ecossis-</p><p>temas. Lembramos que antes de</p><p>adotar práticas mais conservacionis-</p><p>tas, como a rotação de culturas, a</p><p>queimada foi e ainda é muito uti-</p><p>lizada no preparo do solo para a</p><p>agricultura. Até hoje, muitos pesqui-</p><p>9</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>sadores indagam se as savanas afri-</p><p>canas, por exemplo, podem ser</p><p>consideradas ambientes naturais ou,</p><p>ao contrário, seriam resultado da</p><p>utilização da prática de queimada no</p><p>preparo do solo, num período lon-</p><p>gínquo da história da humanidade.</p><p>Essa evolução também repre-</p><p>sentou uma mudança na relação</p><p>sociedade-natureza, confirmando</p><p>que todas as sociedades estabelecem</p><p>uma relação com a natureza em fun-</p><p>ção de uma certa ideia que têm a res-</p><p>peito dela. Isso significa que, em</p><p>cada período histórico, há uma ideia</p><p>de natureza que é construída e que,</p><p>portanto, representa o fundamento</p><p>da cultura dessa sociedade.</p><p>Nas sociedades nômades e co-</p><p>letoras, a ideia de natureza revestia-</p><p>se de um caráter sagrado. Tratava-se</p><p>de uma noção orgânica, isto é, todos</p><p>os seres vivos pertenciam ao mesmo</p><p>mundo, não havia separação entre</p><p>espírito e matéria, entre natureza</p><p>animada e inanimada. Essa ideia co-</p><p>rresponde ao que se denomina, hoje,</p><p>de visão sacralizada da natureza: os</p><p>frutos e as coisas da terra, assim</p><p>como os demais elementos da na-</p><p>tureza, eram considerados deuses</p><p>ou entes sagrados, respeitados pelo</p><p>seu poder de propiciar a vida. Os</p><p>cultos sagrados dessas sociedades</p><p>reverenciavam a Terra e seus ele-</p><p>mentos constituintes e, portanto,</p><p>suas religiões eram predominan-</p><p>temente politeístas.</p><p>Algumas dessas sociedades,</p><p>ainda que submetidas ao ritmo da</p><p>natureza, provocaram uma mudan-</p><p>ça fundamental na maneira de se</p><p>relacionar com ela. Isso significou</p><p>uma mudança no modo de pensar, e</p><p>assim uma outra ideia de natureza</p><p>passou a ser construída.</p><p>Essa ruptura no modo de ver e</p><p>se relacionar com a natureza re-</p><p>presentou um processo de dessa-</p><p>cralização, ou seja, a natureza e os</p><p>frutos por ela oferecidos deixaram</p><p>de ser considerados sagrados. A</p><p>maioria dos estudiosos se reporta à</p><p>filosofia grega de Platão e de Aris-</p><p>tóteles, base da moderna civilização</p><p>ocidental, para mostrar que no</p><p>século V a.C. a ideia de que a na-</p><p>tureza existia para servir ao ser</p><p>humano começou a ser esboçada.</p><p>Posteriormente, a</p><p>incorporação da filosofia grega pela</p><p>tradição judaico-cristã, segundo a</p><p>qual o homem teria sido criado à</p><p>imagem e semelhança de Deus,</p><p>completou a separação entre o espí-</p><p>rito e a matéria, homem e natureza.</p><p>Essa separação foi traduzida pela</p><p>concepção do antropocentrismo, em</p><p>que o homem era o centro do uni-</p><p>verso e, assim, o único ser capaz de</p><p>dominar a natureza. Surgiram,</p><p>então, as religiões monoteístas, que</p><p>10</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>se tornaram hegemônicas no mundo</p><p>ocidental, discriminando e repri-</p><p>mindo as práticas religiosas politeís-</p><p>tas, baseadas na sacralização da</p><p>natureza.</p><p>A importância dessa ruptura</p><p>reside no fato de que o ser humano,</p><p>fora da natureza, estaria livre para</p><p>dominá-la, transformando-a em</p><p>mercadoria. É, pois, nesse sentido</p><p>que se considera a gênese das socie-</p><p>dades modernas, fundamentada ne-</p><p>sse processo de dessacralização da</p><p>natureza.</p><p>A Evolução do Homem</p><p>Em que pesem as descobertas</p><p>da ciência, a questão sobre a evolu-</p><p>ção humana ainda desperta uma</p><p>grande curiosidade. Sabe-se que</p><p>suas raízes estão na própria evolu-</p><p>ção das espécies animais, porém</p><p>ainda não se consegue explicar todo</p><p>o processo. O aparecimento da es-</p><p>pécie humana ocorreu em áreas</p><p>tropicais, principalmente na África,</p><p>enquanto sua dispersão para outras</p><p>regiões da Terra indica sua enorme</p><p>capacidade de adaptação. Mas essa</p><p>dispersão é muito recente na evo-</p><p>lução, sendo datada em cerca de 2</p><p>milhões de anos.</p><p>As imposições e facilidades do</p><p>meio em muito contribuíram para as</p><p>diversas modificações ocorridas na</p><p>espécie: adoção da postura ereta;</p><p>modificação do aparelho digestivo e</p><p>de mastigação, tornando o ser hu-</p><p>mano capaz de alimentar-se de pra-</p><p>ticamente tudo; crescimento do</p><p>cérebro; estabelecimento da língua-</p><p>gem; criação de rituais de celebra-</p><p>ção; capacidade de fabricação de</p><p>utensílios etc. Todas essas mudan-</p><p>ças ilustram bem como a espécie</p><p>humana foi se diferenciando dos ou-</p><p>tros animais, atingindo o atual es-</p><p>tágio de capacidade de intervenção</p><p>não só no ambiente, mas em sua</p><p>própria biologia.</p><p>12</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>2. A Natureza e a Sociedade com a Revolução</p><p>Científica</p><p>Fonte: Estudo Pratico2</p><p>o compreendermos que a no-</p><p>ção de natureza é resultado de</p><p>contextos históricos e que duas ou</p><p>mais visões de natureza podem coe-</p><p>xistir, devemos então nos indagar</p><p>sobre como foi possível a alguns sis-</p><p>temas filosóficos tornarem-se domi-</p><p>nantes.</p><p>Um dos elementos que suste-</p><p>nta a construção do conceito de na-</p><p>tureza é dado pelo avanço da ciência.</p><p>Ora, a ciência não pode ser conside-</p><p>rada uma sucessão linear de even-</p><p>tos, já que em seu desenvolvimento</p><p>encontramos debates, questiona-</p><p>2 Retirado em https://www.estudopratico.com.br/</p><p>mentos, conflitos e rupturas de pa-</p><p>radigmas, isto é, de maneiras de</p><p>pensar. São essas mudanças e ruptu-</p><p>ras que denominamos revoluções</p><p>científicas.</p><p>Mas o que mudou na maneira</p><p>de pensar que interferiu na noção de</p><p>natureza no mundo ocidental?</p><p>Os séculos XVII e XVIII foram</p><p>marcados por uma forte reação às</p><p>crenças religiosas que caracteriza-</p><p>ram a Idade Média e pela emergên-</p><p>cia da possibilidade de representar o</p><p>mundo quantitativamente. Esse no-</p><p>vo modo de pensar privilegiava o co-</p><p>A</p><p>13</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>nhecimento do mundo como produ-</p><p>to da razão, da dedução intelectual e</p><p>da realização de experiências cien-</p><p>tíficas.</p><p>No século XVII, a ética antro-</p><p>pocêntrica, em que o ser hu¬mano</p><p>era o modelo do mundo, começou a</p><p>influenciar a ciência. Essa visão</p><p>apoiava-se na oposição homem/na-</p><p>tureza, ou seja, o homem constituía</p><p>um ser fora da natureza e, por con-</p><p>seguinte, poderia dominá-la. De mo-</p><p>do esquemático, observamos essa</p><p>influência nas ciências aplicadas por</p><p>meio de dois pensadores: Galileu</p><p>(1564-1642) e Descartes (1596-</p><p>1650).</p><p>A descoberta de Galileu de que</p><p>a Terra não constituía o centro do</p><p>universo representou um dos princi-</p><p>pais elementos da mudança para-</p><p>digmática que caracterizou o século</p><p>XVII. Essa descoberta permitiu que</p><p>os cientistas desenvolvessem uma</p><p>explicação lógica do funcionamento</p><p>do universo à imagem de uma má-</p><p>quina, cujas engrenagens funciona-</p><p>vam em perfeita sintonia, consti-</p><p>tuindo o que hoje conhecemos como</p><p>paradigma mecanicista.</p><p>A afirmação do paradigma me-</p><p>canicista apoiava-se na ética antro-</p><p>pocêntrica que pressupunha, então,</p><p>que a natureza podia ser apreendida</p><p>pela razão.</p><p>As revoluções científicas não</p><p>se limitaram às ciências aplicadas,</p><p>tendo também atingido as ciências</p><p>naturais, especialmente a Biologia.</p><p>As descobertas e viagens científicas</p><p>realizadas no século XIX em todo o</p><p>planeta resultaram no conhecimen-</p><p>to da distribuição geográfica da</p><p>grande maioria das espécies. Parte</p><p>dessas descobertas deveu-se a Char-</p><p>les Darwin, que desenvolveu a teoria</p><p>da seleção natural das espécies.</p><p>A constatação da magnitude</p><p>do tempo geológico foi um parâme-</p><p>tro decisivo para que Darwin pudes-</p><p>se compreender o comportamento</p><p>das diferentes populações de plantas</p><p>e animais, percebendo que o funcio-</p><p>namento da natureza era o de uma</p><p>rede complexa de interações entre</p><p>os organismos. Dessa forma, ele</p><p>considerou a espécie humana como</p><p>o resultado de uma evolução, e não</p><p>como criação de Deus.</p><p>A explicação racional e lógica</p><p>oferecida pela teoria da evolução</p><p>reforçou a ideia de que a natureza</p><p>segue seu caminho, independente-</p><p>mente de uma vontade superior. Se-</p><p>rá essa maneira de pensar, caracteri-</p><p>zada pelo antropocentrismo e pelo</p><p>racionalismo, apoiados nas ciências</p><p>aplicadas e nas ciências naturais,</p><p>que vai nortear, no século XIX, o</p><p>desenvolvimento dos meios de se</p><p>explorar a natureza. Os interesses na</p><p>organização e no financiamento das</p><p>pesquisas nessas duas áreas do co-</p><p>nhecimento são atribuídos, pela</p><p>14</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>maioria dos autores contemporâ-</p><p>neos, às necessidades do sistema ca-</p><p>pitalista nascente.</p><p>Dessa forma, podemos con-</p><p>cluir que a noção de natureza e as</p><p>relações homem/natureza são cons-</p><p>truções sociais e históricas e, como</p><p>tais, variam ao longo do tempo e</p><p>entre as diferentes culturas.</p><p>A Revolução Industrial e a</p><p>Natureza</p><p>No século XIX, o conhecimen-</p><p>to científico tornou-se o meio quase</p><p>exclusivo de compreensão do mun-</p><p>do. Os avanços em todas as áreas de</p><p>conhecimento propiciaram uma no-</p><p>va explosão em termos de inovações,</p><p>aqui referida não como fatos isola-</p><p>dos que convergiram num dado mo-</p><p>mento, mas sim como um processo</p><p>que compreende períodos de inten-</p><p>sa atividade e períodos mais ou</p><p>menos longos de lentas transfor-</p><p>mações.</p><p>Essa explosão de inovações</p><p>deu início ao que se convencionou</p><p>chamar de Revolução Industrial, ca-</p><p>racterizada como a passagem de um</p><p>sistema técnico, baseado no traba-</p><p>lho de artesãos, para um sistema</p><p>apoiado na indústria. Ela é o marco</p><p>que situa a origem do próprio siste-</p><p>ma capitalista.</p><p>A Revolução Industrial teve</p><p>início na Inglaterra, em fins do sé-</p><p>culo XVIII, e em outros países da</p><p>Europa, nas duas primeiras décadas</p><p>do século XIX. A conjuntura favorá-</p><p>vel a essa revolução foi a da escassez.</p><p>Até meados do século XVIII, a ener-</p><p>gia que movia todo o sistema de pro-</p><p>dução provinha da madeira, geran-</p><p>do grandes áreas desmatadas. Foi,</p><p>portanto, a prática de uma economia</p><p>destruidora que gerou a necessidade</p><p>de invenções e inovações. No entan-</p><p>to, para caracterizar um período</p><p>como esse é preciso entender que as</p><p>invenções e inovações estavam inte-</p><p>gradas à produção.</p><p>Grande parte dos historiado-</p><p>res costuma assinalar essa integra-</p><p>ção a partir do momento em que a</p><p>Inglaterra operou uma mudança</p><p>importante em sua política de pa-</p><p>tentes. As patentes, antes conce-</p><p>didas para enriquecer os favoritos</p><p>do rei, formando verdadeiros mono-</p><p>pólios nas mãos de poucos privile-</p><p>giados, passaram a ser publicadas</p><p>como forma de premiar os inven-</p><p>tores. Tal fato não só provocou um</p><p>século fértil em invenções mecâni-</p><p>cas no país, como também acabou</p><p>com o mistério e o sigilo do artesã-</p><p>nato (DRUCKER, 1993).</p><p>Um segundo fator, de ordem</p><p>política, deve ser mencionado. Hou-</p><p>ve, nessa época, uma mudança nas</p><p>políticas coloniais, quando a forma-</p><p>ção dos impérios coloniais passou a</p><p>se apoiar na constituição de merca-</p><p>15</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>dos consumidores, assinalando uma</p><p>importante diferença. Em várias re-</p><p>giões colonizadas pelos países euro-</p><p>peus, os colonizadores redireciona-</p><p>ram a política de exploração e extra-</p><p>ção simples dos recursos naturais</p><p>para uma política de formação de</p><p>um mercado consumidor para seus</p><p>produtos.</p><p>Finalmente, há ainda um ter-</p><p>ceiro fator. As inovações técnicas</p><p>exigem investimentos e, portanto, é</p><p>necessário que antes de um período</p><p>de inovações haja uma acumulação</p><p>de capital que viabilize esses inves-</p><p>timentos. Ora, nessa época a Ingla-</p><p>terra era uma potência comercial</p><p>que controlava todo o comércio</p><p>mundial, propiciando a necessária</p><p>acumulação de capital, com o pro-</p><p>pósito de realizar os investimentos</p><p>em novas formas de produzir.</p><p>Assim, a Revolução Industrial</p><p>traduziu a afirmação do progresso</p><p>técnico como elemento fundamental</p><p>da civilização do Ocidente. Os sis-</p><p>temas técnicos criados ao longo dos</p><p>séculos XVIII e XIX eram intensivos</p><p>em recursos naturais, uma vez que</p><p>consumiam grande quantidade de</p><p>matéria-prima ou de recursos na-</p><p>turais para produzir uma quanti-</p><p>dade relativamente pequena de arti-</p><p>gos ou energia.</p><p>Esses sistemas atuavam como</p><p>aceleradores do ritmo da natureza</p><p>pela concentração cada vez maior de</p><p>energia, pois sempre que ocorre um</p><p>processo de transformação, uma</p><p>energia é liberada para o meio am-</p><p>biente, intensificando alguns proce-</p><p>ssos de ordem natural. As novas tec-</p><p>nologias da época, como as inven-</p><p>ções na área da mecânica, por exem-</p><p>plo, exigiam uma concentração de</p><p>energia diferente daquela do artesã-</p><p>nato praticado nas pequenas unida-</p><p>des fabris.</p><p>Mas além das invenções mecâ-</p><p>nicas, também surgiram, em 1830,</p><p>os primeiros resultados</p><p>de pesquisas</p><p>químicas relativas à produção de</p><p>substâncias não naturais, como foi o</p><p>caso dos fertilizantes.</p><p>E, assim, uma outra noção de</p><p>natureza ia sendo construída. As</p><p>diferentes regiões do mundo passa-</p><p>ram a ser incorporadas pela dinâ-</p><p>mica das conquistas territoriais, tec-</p><p>nológicas e predadoras do sistema</p><p>capitalista que se tornava dominan-</p><p>te. A necessidade de compreensão</p><p>dos mecanismos de funcionamento</p><p>da natureza tinha o objetivo primor-</p><p>dial de conhecê-la melhor para, en-</p><p>tão, melhor explorá-la e controlá-la.</p><p>A consolidação da Revolução</p><p>Industrial e do sistema capitalista</p><p>como modelo no mundo ocidental</p><p>constituiu, assim, a imposição de</p><p>novas relações entre ser humano,</p><p>natureza e produção.</p><p>Essa foi, pois, a mudança</p><p>fundamental que se processou neste</p><p>16</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>período, em relação à noção de na-</p><p>tureza. A natureza deveria seguir o</p><p>ritmo da produção, e não o contrá-</p><p>rio. Com os avanços em todas as</p><p>áreas de conhecimento foi possível</p><p>consolidar, no plano econômico, a</p><p>ideia de que natureza era aquilo que</p><p>seria útil e passível de ser transfor-</p><p>mado pelos diferentes processos de</p><p>produção.</p><p>Todo esse processo que acaba-</p><p>mos de analisar não ocorreu sem</p><p>resistências, diante dos problemas</p><p>ambientais que começaram a surgir.</p><p>No fim do século XIX, as críticas ao</p><p>modo industrial de exploração de-</p><p>ram origem ao que hoje conhecemos</p><p>como Ecologia.</p><p>As Mudanças Relacionadas à</p><p>Revolução Industrial</p><p>Como sabemos, a Revolução</p><p>Industrial iniciou-se na Inglaterra,</p><p>no final do século XVIII, e poste-</p><p>riormente espalhou-se pelo conti-</p><p>nente europeu, principalmente para</p><p>Alemanha, França e Bélgica. Depois,</p><p>ela englobou outros países e foi im-</p><p>portada pelos Estados Unidos. So-</p><p>mente no final do século XIX e início</p><p>do século XX é que esse processo</p><p>atingiu a Rússia e o Japão.</p><p>Devemos ter em mente que a</p><p>Revolução Industrial está intima-</p><p>mente associada ao aparecimento</p><p>do sistema capitalista e ocorreu</p><p>como um fato urbano.</p><p>Quais seriam então as condi-</p><p>ções históricas que propiciaram o</p><p>surgimento desse longo processo na</p><p>Inglaterra?</p><p>Primeiro, o acúmulo de capital</p><p>oriundo das atividades comerciais</p><p>inglesas permitiu o aparecimento de</p><p>uma nova classe social – a burgue-</p><p>sia. Segundo, o cercamento dos</p><p>campos, impedindo os camponeses</p><p>de obter acesso à terra e obrigando-</p><p>os a migrar para a cidade. Terceiro,</p><p>a indústria estabeleceu um novo re-</p><p>gime de trabalho, diferente daquele</p><p>do feudalismo: o trabalho assala-</p><p>riado. Desse modo, a Revolução In-</p><p>dustrial não só propiciou um novo</p><p>sistema econômico como também</p><p>transformou a cidade num centro de</p><p>produção, diferente da agricultura</p><p>medieval.</p><p>Mas será que os ingleses se-</p><p>riam mais inteligentes que os de-</p><p>mais povos europeus e, por isso, fo-</p><p>ram os primeiros a realizar a Revo-</p><p>lução Industrial?</p><p>Na verdade, a Inglaterra no</p><p>século XVIII passava por um perío-</p><p>do favorável em termos de disponi-</p><p>bilidade de capital para a realização</p><p>de investimentos com retornos mais</p><p>lentos. A riqueza gerada pelo comer-</p><p>cio de especiarias produzidas pelas</p><p>colônias, os frutos da pirataria e o</p><p>próprio crescimento do mercado in-</p><p>17</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>terno propiciaram a realização dos</p><p>investimentos necessários à ativida-</p><p>de industrial.</p><p>Mas a Revolução Industrial</p><p>gerou também importantes conse-</p><p>quências sociais. Os camponeses</p><p>transformados em operários, em-</p><p>bora recebendo salários, eram sub-</p><p>metidos a regimes de exploração ex-</p><p>tremada, trabalhando entre 16 e 18</p><p>horas por dia e geralmente conside-</p><p>rados apenas como instrumentos</p><p>mecânicos.</p><p>A Visão da Natureza pós</p><p>Revolução Industrial</p><p>As noções de progresso e de</p><p>crescimento econômico estão inti-</p><p>mamente ligadas à imagem e aos</p><p>significados atribuídos à natureza</p><p>pelas sociedades industriais. Essa</p><p>associação é importante, pois é atra-</p><p>vés dela que podemos entender a</p><p>maneira pela qual uma certa visão</p><p>de natureza toma sentido dentro de</p><p>uma estrutura econômica.</p><p>No mundo ocidental, a visão</p><p>de que a natureza constituía uma</p><p>fonte de recursos foi fundamental no</p><p>desenvolvimento do sistema capita-</p><p>lista.</p><p>Sabemos que na evolução das</p><p>sociedades houve períodos de crise e</p><p>de crescimento. Nos períodos de cri-</p><p>se observamos a retração das ativi-</p><p>dades econômicas, e nos períodos de</p><p>crescimento a expansão dessas ativi-</p><p>dades. É importante lembrar ainda</p><p>que, em períodos de crise, a redução</p><p>do ritmo das atividades econômicas</p><p>não significa, necessariamente, uma</p><p>redução da degradação do meio am-</p><p>biente. Ao contrário, em situações</p><p>de crise a falta de investimentos na</p><p>recuperação e na modernização dos</p><p>equipamentos pode acelerar os</p><p>processos de degradação.</p><p>No século XIX, as novas for-</p><p>mas de produzir, para atender ao</p><p>consumo em grande escala, passa-</p><p>ram a ser feitas em unidades de pro-</p><p>dução cada vez maiores e geografi-</p><p>camente concentradas.</p><p>Essa concentração física da</p><p>produção foi acompanhada de uma</p><p>concentração de capitais, acarretan-</p><p>do a necessidade de um espaço bem</p><p>mais amplo para realizar os investi-</p><p>mentos em unidades de produção.</p><p>Por outro lado, as novas tecnologias</p><p>precisavam de novas fontes de ener-</p><p>gia e de maiores quantidades de re-</p><p>cursos naturais. A saída encontrada</p><p>foi a de reproduzir esse sistema em</p><p>algumas regiões do mundo, subordi-</p><p>nando os ecossistemas das regiões</p><p>colonizadas ao ritmo da sociedade</p><p>industrial.</p><p>Esse conjunto de transfor-</p><p>mações operadas no modo de pro-</p><p>duzir caracterizou o que se deno-</p><p>mina sociedade industrial. Segundo</p><p>Raymond Aron (1981, p. 73), a</p><p>18</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>sociedade industrial é definida como</p><p>“a sociedade em que a indústria, a</p><p>grande indústria, seria a forma de</p><p>produção mais característica”.</p><p>A denominação sociedade in-</p><p>dustrial corresponde, assim, a um</p><p>período dominado pela racionalida-</p><p>de, pela ideia de progresso e de um-</p><p>dança, no sentido de ruptura com o</p><p>passado.</p><p>Na sociedade ocidental, o</p><p>atual momento histórico está sendo</p><p>denominado pós-modernidade. Em-</p><p>bora o termo não constitua um con-</p><p>senso, ele vem se impondo como</p><p>referência importante desde os anos</p><p>1960, para caracterizar, uma vez</p><p>mais, a ruptura com o passado.</p><p>Em linhas gerais, a pós-mo-</p><p>dernidade se caracteriza pela desco-</p><p>berta de que há incertezas no pro-</p><p>cesso de conhecimento, de que as</p><p>explicações científicas são necessa-</p><p>riamente parciais e de que não há</p><p>uma versão única de progresso. Tra-</p><p>ta-se de um termo que descreve um</p><p>processo de reestruturação política,</p><p>econômica e cultural.</p><p>Assim, o fundamental é des-</p><p>construir o que se entendia como</p><p>progresso e como invariabilidade</p><p>das condições ambientais. Para mui-</p><p>tos autores, pós-modernidade signi-</p><p>fica a ênfase ao imediato e ao evi-</p><p>dente, a substituição do fato pela</p><p>aparência e da palavra pela imagem.</p><p>Para outros, a pós-modernidade</p><p>caracteriza-se pela consciência da</p><p>incerteza e pela compreensão das</p><p>interações entre elementos dissocia-</p><p>dos. É nesse sentido de associação</p><p>de elementos dissociados que se pre-</p><p>tende compreender o meio ambien-</p><p>te como elemento em mudança per-</p><p>manente.</p><p>Do ponto de vista do movi-</p><p>mento ecológico, começa a despon-</p><p>tar a noção de que, apesar do avanço</p><p>técnico, há uma situação de depen-</p><p>dência do ser humano em relação à</p><p>natureza, mas que não tem nada de</p><p>subordinação. Ao contrário, ela</p><p>remete à ideia de compromisso e</p><p>integração, o que pressupõe que a</p><p>natureza deixe de ser vista como o</p><p>grande e inesgotável reservatório de</p><p>recursos e passe a ser entendida</p><p>como uma questão que toca as pró-</p><p>prias raízes do ser humano e sua</p><p>sobrevivência.</p><p>Para os movimentos ecológi-</p><p>cos, a base para a compreensão do</p><p>atual período pós-moderno está no</p><p>conceito de cidadania ambiental que</p><p>esses movimentos trouxeram à tona.</p><p>Fundamentada na ideia</p><p>de compro-</p><p>misso, a cidadania ambiental coloca</p><p>a defesa do meio ambiente no campo</p><p>político. Esse é o desafio para a com-</p><p>preensão das relações sociedade/na-</p><p>tureza como sendo diferenciadas e</p><p>traduzindo as diversas formas com</p><p>que cada sociedade se relaciona com</p><p>a natureza.</p><p>20</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>3. Ações da Sociedade Perante o Seu Desenvol-</p><p>vimento</p><p>Fonte: Egestor3</p><p>elaboração de políticas e pro-</p><p>gramas que contemplassem as</p><p>preocupações com as questões am-</p><p>bientais é um fato recente na his-</p><p>tória das sociedades. Alguns fatores</p><p>contribuíram para que essa questão</p><p>fosse integrada às agendas políticas</p><p>nacionais e internacional.</p><p>Entre esses fatores citamos a</p><p>mudança na escala dos problemas</p><p>ambientais, as pressões dos movi-</p><p>mentos ambientalistas, o crescente</p><p>interesse da mídia, contribuindo</p><p>3 Retirado em https://blog.egestor.com.br/</p><p>para a formação e a conscientização</p><p>da sociedade, bem como a publi-</p><p>cação de obras de cunho científico,</p><p>como a do livro Primavera Silencio-</p><p>sa, de Rachel Carson.</p><p>Inicialmente, as instituições</p><p>internacionais limitavam-se a tratar</p><p>de problemas como condições de</p><p>saneamento e poluição das águas em</p><p>alguns países subdesenvolvidos. A</p><p>convergência desses fatores contri-</p><p>buiu para provocar mudanças nas</p><p>instituições internacionais, visando</p><p>A</p><p>21</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>implementar programas específicos</p><p>de recuperação e conservação do</p><p>meio ambiente e também coordenar</p><p>as negociações internacionais para a</p><p>implantação desses programas.</p><p>Assim, na década de 1970 oco-</p><p>rreram fóruns específicos que per-</p><p>mitiram, de um lado, uma ampla</p><p>discussão sobre o futuro da huma-</p><p>nidade e, de outro, o encontro de</p><p>chefes de governo dos diferentes</p><p>países integrantes da ONU – Orga-</p><p>nização das Nações Unidas. Dentre</p><p>os exemplos mais conhecidos po-</p><p>demos citar o Clube de Roma, criado</p><p>por especialistas de várias áreas e</p><p>que publicou, em 1968, o famoso</p><p>relatório Os Limites do Crescimen-</p><p>to, também conhecido por Relatório</p><p>do Clube de Roma ou Relatório</p><p>Meadows, já citado anteriormente.</p><p>ONU - um breve histórico: A</p><p>ONU – Organização das Nações</p><p>Unidas – é uma instituição de âm-</p><p>bito internacional, com sede em No-</p><p>va York. Ela foi criada após a Se-</p><p>gunda Guerra Mundial, no esforço</p><p>de manter a paz e prevenir outro</p><p>conflito de proporções mundiais. Ti-</p><p>nha o objetivo de contribuir para o</p><p>estabelecimento de novas relações</p><p>entre os Estados e seus cidadãos, de</p><p>modo a garantir-lhes direitos inter-</p><p>nacionais baseados nos direitos hu-</p><p>manos. Com isso, os Estados tam-</p><p>bém passaram a ter o papel de ga-</p><p>rantir e proteger esses direitos que,</p><p>a partir de então, passaram a ser</p><p>universais.</p><p>Em 1948 foi proclamada a</p><p>Declaração dos Direitos Humanos,</p><p>que uniformizou os direitos huma-</p><p>nos, econômicos, civis, sociais e cul-</p><p>turais, estabelecendo um novo mar-</p><p>co para o controle e a tutela interna-</p><p>cionais em tempos de paz. Desde</p><p>então, a ONU vem criando novos</p><p>mecanismos, por meio de tratados e</p><p>convenções, para garantir esses di-</p><p>reitos, incentivar a cooperação entre</p><p>os países e manter a paz em casos de</p><p>conflitos internacionais.</p><p>A ONU também patrocinou as</p><p>Conferências das Nações Unidas so-</p><p>bre o Meio Ambiente e o Desenvolvi-</p><p>mento (CNUMAD), que deveriam</p><p>possibilitar a elaboração de acordos</p><p>entre os países. A primeira dessas</p><p>conferências foi realizada em 1972,</p><p>na cidade de Estocolmo, Suécia, e</p><p>nela a tônica das discussões entre os</p><p>governantes concentrou-se em três</p><p>pontos: ampliação do uso da energia</p><p>nuclear, desmatamentos em grande</p><p>escala e uso intensivo de combustí-</p><p>veis fósseis.</p><p>Na Conferência de Estocolmo,</p><p>o reconhecimento de que esses</p><p>problemas apresentavam interesse</p><p>global foi assim definido: “A pro-</p><p>teção e a melhoria do meio ambiente</p><p>são uma questão de grande impor-</p><p>22</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>tância que afeta o bem-estar das po-</p><p>pulações e o desenvolvimento eco-</p><p>nômico no mundo inteiro” (MC-</p><p>CORMICK, 1992, p. 105).</p><p>Dessa conferência surgiu o</p><p>conceito de eco desenvolvimento,</p><p>para definir uma estratégia de de-</p><p>senvolvimento fundamentada na</p><p>utilização racional dos recursos lo-</p><p>cais e na disseminação do conheci-</p><p>mento técnico para as populações</p><p>rurais isoladas em países do Tercei-</p><p>ro Mundo. Apesar de destacar a res-</p><p>ponsabilidade dos países indústria-</p><p>lizados na degradação do meio am-</p><p>biente e de fazer uma série de reco-</p><p>mendações para um plano de ação</p><p>que incorporasse o eco desenvolvi-</p><p>mento no processo de tomada de</p><p>decisão nos respectivos países, a im-</p><p>plantação dessas recomendações fi-</p><p>cou a desejar.</p><p>A Conferência de Estocolmo é,</p><p>até hoje, um marco na história das</p><p>Nações Unidas e na agenda política</p><p>mundial, devido ao seu impacto na</p><p>opinião pública internacional e aos</p><p>resultados alcançados nos diversos</p><p>países, como, por exemplo, a criação</p><p>de agências, secretarias e ministé-</p><p>rios do Meio Ambiente.</p><p>Os desdobramentos da Confe-</p><p>rência de Estocolmo foram a realiza-</p><p>ção, entre 1972 e 1992, de uma série</p><p>de conferências temáticas, entre as</p><p>quais podemos citar: Conferência</p><p>Internacional sobre População e</p><p>Desenvolvimento (Bucareste, 1974;</p><p>México, 1984 e Cairo, 1994); sobre</p><p>Habitação (Vancouver, 1976; Istam-</p><p>bul, 1996); sobre Desertificação</p><p>(Nairóbi, 1977) e sobre Energia</p><p>(Nairóbi, 1981).</p><p>Além dessas conferências, a</p><p>criação do Programa das Nações</p><p>Unidas para o Meio Ambiente</p><p>(PNUMA) foi um dos maiores avan-</p><p>ços. Ele fomentou várias atividades,</p><p>propostas e programas de ação para</p><p>serem implementados no plano</p><p>internacional. Vejamos alguns deles.</p><p>Em 1975, o PNUMA publicou o</p><p>relatório O que fazer? que retomou</p><p>parte das discussões de Estocolmo,</p><p>mas não formulou uma lista de reco-</p><p>mendações. Ele contribuiu, no en-</p><p>tanto, para manter o debate em</p><p>torno das questões ambientais.</p><p>Em 1987, o PNUMA publicou</p><p>o relatório Nosso Futuro Comum,</p><p>que desenvolveu a noção de desen-</p><p>volvimento sustentável, muito pró-</p><p>xima daquela de eco desenvolvimen-</p><p>to. Convocou as pessoas a mudarem</p><p>seus modos de vida e de conduzir</p><p>seus negócios, como a única maneira</p><p>de evitar níveis inaceitáveis de sofri-</p><p>mento humano e estragos am-</p><p>bientais.</p><p>Como resultado desse relato-</p><p>rio, a ONU realizou, nos moldes de</p><p>23</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>Estocolmo, a Conferência das Na-</p><p>ções Unidas sobre o Meio Ambiente</p><p>e o Desenvolvimento, conhecida co-</p><p>mo Eco 92, Rio-92 ou Cúpula da</p><p>Terra. A conferência ocorreu no Rio</p><p>de Janeiro, de 3 a 14 de junho de</p><p>1992, e contou com a participação de</p><p>governantes e chefes de Estado para</p><p>negociar estratégias de ação conjun-</p><p>ta. Três temas entraram na pauta</p><p>dessas negociações: meio ambiente</p><p>e desenvolvimento, convenção in-</p><p>ternacional sobre as mudanças cli-</p><p>máticas e convenção sobre biodiver-</p><p>sidade.</p><p>Da Eco 92 resultou a Agenda</p><p>21, documento assinado pelos 170</p><p>chefes de Estado presentes, assina-</p><p>lando um conjunto de medidas a se-</p><p>rem adotadas pelos respectivos paí-</p><p>ses para alcançar o desenvolvimento</p><p>sustentável.</p><p>Em 1995, as Conferências de</p><p>Berlim e de Copenhague, menores</p><p>que a Rio-92, retomaram o tema das</p><p>mudanças climáticas e indicaram</p><p>claramente a necessidade de reduzir</p><p>as emissões de poluentes. Propu-</p><p>seram uma mudança estrutural nas</p><p>políticas agrícolas e industriais e en-</p><p>fatizaram a necessidade de se pro-</p><p>mover um desenvolvimento social.</p><p>Em 2002, foi realizada a Cú-</p><p>pula Mundial sobre o Desenvolvi-</p><p>mento Sustentável, a Rio+10, em</p><p>Joanesburgo (África do Sul). Con-</p><p>vocada para ser uma avaliação da</p><p>primeira década do que se poderia</p><p>chamar “era ambiental”, o encontro</p><p>frustrou as expectativas de grandes</p><p>avanços, ao emitir um documento</p><p>final de propostas consideradas</p><p>muito genéricas</p><p>e pouco mobiliza-</p><p>doras.</p><p>De tudo o que foi visto, deve-</p><p>mos destacar que a realização dessas</p><p>conferências indica que os pro-</p><p>blemas de degradação e conservação</p><p>do meio ambiente vêm assumindo</p><p>um caráter de natureza política.</p><p>As conferências mostram a</p><p>necessidade de negociação entre as</p><p>nações, pois envolvem diretamente</p><p>os interesses de países desenvolvi-</p><p>dos e não desenvolvidos. E embora</p><p>todos tenham uma parcela de res-</p><p>ponsabilidade na degradação das</p><p>condições de vida, não há qualquer</p><p>dúvida sobre o fato de que a degra-</p><p>dação ambiental provocada pelos</p><p>países desenvolvidos, como, por</p><p>exemplo, no aumento do efeito estu-</p><p>fa, é muito maior do que a dos países</p><p>subdesenvolvidos.</p><p>As Conferências Internacio-</p><p>nais</p><p>Muitas críticas podem ser fei-</p><p>tas em relação ao caráter oficial das</p><p>conferências sobre o meio ambiente</p><p>24</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>e desenvolvimento, realizadas no</p><p>âmbito da Organização das Nações</p><p>Unidas. Entre elas está o fato de as</p><p>decisões e as agendas estabelecidas</p><p>ficarem, muitas vezes, como indica-</p><p>tivos, não se constituindo em pro-</p><p>gramas efetivamente implementa-</p><p>dos. Tais críticas enfatizam a neces-</p><p>sidade de se tomar medidas mais ou-</p><p>sadas que, a curto prazo, diminuam</p><p>os níveis de desigualdade social,</p><p>promovendo uma conciliação entre</p><p>metas econômicas e ecológicas.</p><p>No caso da Rio-92, sua rele-</p><p>vância deve-se ao fato de ela ter</p><p>adquirido uma amplitude global.</p><p>Devemos mencionar ainda o</p><p>aumento considerável de ONGs que</p><p>vêm pressionando para a adoção de</p><p>uma perspectiva que integre as dife-</p><p>rentes dimensões do desenvolvi-</p><p>mento, deixando de lado a lógica</p><p>setorial que, geralmente, predomina</p><p>nesse tipo de conferência.</p><p>A partir dessas considerações,</p><p>poderíamos indagar como a socie-</p><p>dade civil e as instituições públicas</p><p>podem intensificar a sua partici-</p><p>pação nas discussões, influindo mais</p><p>nos processos decisórios internacio-</p><p>nais. Mas como aproximar a socie-</p><p>dade do processo de discussão sobre</p><p>as questões ambientais globais?</p><p>Qual seria o papel da mídia nesse</p><p>processo? E das instituições edu-</p><p>cacionais?</p><p>Agenda 21 e o Desenvolvi-</p><p>mento Sustentável</p><p>As conferências da ONU po-</p><p>dem ser consideradas marcos im-</p><p>portantes no processo de negociação</p><p>entre países. Na Rio-92, o resultado</p><p>dessas negociações foi apresentado</p><p>na forma de um documento assina-</p><p>do por 170 chefes de Estado, do qual</p><p>constavam cerca de duas mil reco-</p><p>mendações. Esse documento, como</p><p>já vimos, é a Agenda 21, um pro-</p><p>grama de ações para o século XXI,</p><p>visando reestruturar as relações eco-</p><p>nômicas mundiais a partir de um</p><p>engajamento firme dos países signa-</p><p>tários, na construção de um novo</p><p>modelo de desenvolvimento: o de-</p><p>senvolvimento sustentável.</p><p>A Agenda 21 é o resultado de</p><p>negociações entre países. Foi um</p><p>processo longo, que não se resumiu</p><p>aos dias da conferência propriamen-</p><p>te ditos. As negociações foram ini-</p><p>ciadas em 1990, e durante os dois</p><p>anos que antecederam a Rio-92 vá-</p><p>rios fóruns foram organizados pelos</p><p>diferentes órgãos da ONU e também</p><p>por ONGs.</p><p>Nessa fase de negociação pré-</p><p>via contemplaram-se problemas co-</p><p>mo dívida externa dos países subde-</p><p>senvolvidos, financiamento ao de-</p><p>senvolvimento, comércio interna-</p><p>cional, pobreza e desenvolvimento,</p><p>25</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>desigualdades entre os padrões de</p><p>consumo dos países desenvolvidos e</p><p>subdesenvolvidos e acesso à tec-</p><p>nologia. Percebemos que o leque de</p><p>questões é vasto e que encontrar so-</p><p>luções e elaborar programas de ação</p><p>requer tempo e muita negociação.</p><p>No texto final da Agenda 21</p><p>ficou estabelecido o reconhecimento</p><p>de que os principais problemas cau-</p><p>sadores da degradação ambiental</p><p>eram os desníveis entre os padrões</p><p>de consumo, o acesso desigual às</p><p>tecnologias de ponta e as condições</p><p>de vida das populações.</p><p>A partir desse reconhecimen-</p><p>to, o documento foi dividido em</p><p>seções que tratam dos seguintes</p><p>temas:</p><p> Dimensões sociais e econômi-</p><p>cas do desenvolvimento – re-</p><p>lações entre meio ambiente,</p><p>pobreza, saúde, comércio, dí-</p><p>vida externa, padrões de con-</p><p>sumo e população;</p><p> Conservação e gerenciamento</p><p>dos recursos para o desenvol-</p><p>vimento – diversas maneiras</p><p>de gerenciar os recursos, vi-</p><p>sando assegurar a biodiversi-</p><p>dade e o desenvolvimento sus-</p><p>tentável;</p><p> Fortalecimento dos grupos so-</p><p>ciais – apoio a mecanismos de</p><p>participação de setores organi-</p><p>zados da sociedade e de grupos</p><p>minoritários que contribuem</p><p>para o desenvolvimento sus-</p><p>tentável;</p><p> Meio de implementação das</p><p>propostas – modo de financia-</p><p>mento e alocação de recursos</p><p>financeiros para a implemen-</p><p>tação da Agenda 21.</p><p>Podemos perceber que os te-</p><p>mas tratados ameaçam grandes in-</p><p>teresses de vários setores. Quando a</p><p>Agenda 21 trata dos diferentes níveis</p><p>de consumo, por exemplo, está, em</p><p>grande parte, se referindo ao consu-</p><p>mo de combustíveis fósseis, que re-</p><p>presentam a maior contribuição</p><p>para o aumento do efeito estufa.</p><p>Ora, sabemos que a energia</p><p>fóssil é a base do sistema energético</p><p>de quase todos os países do mundo.</p><p>Entretanto, países como os Estados</p><p>Unidos recusam-se a estabelecer</p><p>programas nacionais de redução do</p><p>consumo desse tipo de combustível</p><p>ou participar de arranjos institucio-</p><p>nais globais concebidos para finan-</p><p>ciar essa redução, pois isso compro-</p><p>meteria o desempenho das empre-</p><p>sas americanas de petróleo.</p><p>A Agenda 21 também é res-</p><p>ponsável pela capacitação de recur-</p><p>sos humanos que é um instrumento</p><p>fundamental do desenvolvimento</p><p>sustentável. Essa capacitação busca</p><p>a melhoria da qualidade de vida,</p><p>entendida como o acesso à saúde, ao</p><p>saneamento, à habitação, à energia</p><p>etc. Acredita que o potencial de</p><p>transformação das sociedades está</p><p>26</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>diretamente relacionado aos dife-</p><p>rentes grupos que as compõem e à</p><p>sua capacitação para compreender</p><p>as relações entre natureza e socie-</p><p>dade e, também, para explorar os</p><p>avanços tecnológicos e criar novas</p><p>tecnologias ambientalmente e</p><p>adequadas.</p><p>É nesse contexto que a Edu-</p><p>cação Ambiental tem assumido uma</p><p>grande importância nos últimos</p><p>anos. Devemos lembrar, no entanto,</p><p>que o Programa das Nações Unidas</p><p>para o Meio Ambiente (PNUMA),</p><p>criado em 1973, já se referia à nece-</p><p>ssidade de se promover esse tipo de</p><p>educação em todas as ações e pro-</p><p>gramas dos organismos interna-</p><p>cionais.</p><p>Vários autores concordam, no</p><p>entanto, que o Tratado de Educação</p><p>Ambiental para as Sociedades Sus-</p><p>tentáveis e Responsabilidade Glo-</p><p>bal, assinado pelas ONGs que orga-</p><p>nizaram uma reunião paralela à Rio-</p><p>92, constitui um salto importante na</p><p>valorização da Educação Ambiental.</p><p>“A educação ambiental para</p><p>uma sustentabilidade equitativa é</p><p>um processo de aprendizagem per-</p><p>manente, baseado no respeito a to-</p><p>das as formas de vida. Tal educação</p><p>afirma valores e ações que contri-</p><p>buem para a transformação humana</p><p>e social e para a preservação ecoló-</p><p>gica. Ela estimula a formação de so-</p><p>ciedades socialmente justas e ecolo-</p><p>gicamente equilibradas, que conser-</p><p>vem entre si relação de interde-</p><p>pendência e diversidade. Isto requer</p><p>responsabilidade individual e cole-</p><p>tiva a nível local, nacional e plane-</p><p>tário” (LEONARDI, 1997, p. 203).</p><p>Leonardi (1997) mostra que a</p><p>definição de Educação Ambiental é</p><p>bastante influenciada pelas diversas</p><p>formas de se compreender o próprio</p><p>meio ambiente. Assim, a autora</p><p>aponta quatro concepções distintas:</p><p> Biológica, em que predomi-</p><p>nam as ideias de educação pa-</p><p>ra a proteção, conservação e</p><p>preservação das espécies, dos</p><p>ecossistemas e do planeta</p><p>como um todo;</p><p> Cultural, que se preocupa com</p><p>uma postura ética para pro-</p><p>mover o conhecimento do</p><p>universo;</p><p> Política, cuja ênfase está volta-</p><p>da para o desenvolvimento da</p><p>democracia, da cidadania, da</p><p>participação popular e da</p><p>autogestão;</p><p> Econômica, que privilegia</p><p>a</p><p>geração de empregos em ativi-</p><p>dades ambientais e a partici-</p><p>pação de indivíduos e grupos</p><p>nas decisões políticas.</p><p>A partir da contribuição de</p><p>todas essas concepções, a autora ci-</p><p>tada acima, entende que a Educação</p><p>Ambiental tem como objetivo:</p><p>27</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>“Contribuir para a conservação</p><p>da biodiversidade, para a auto-</p><p>realização individual e comuni-</p><p>tária e para a autogestão políti-</p><p>ca e econômica, mediante pro-</p><p>cessos educativos que promo-</p><p>vam a melhoria da qualidade do</p><p>meio ambiente e da qualidade</p><p>de vida” (LEONARDI, 1997, p.</p><p>205).</p><p>Para atender a esse objetivo, a</p><p>Educação Ambiental deve respeitar</p><p>quatro princípios básicos, como ve-</p><p>remos:</p><p>Não-neutralidade: A Educação</p><p>Ambiental é uma ação política no</p><p>sentido de promover a transforma-</p><p>ção social pela reflexão crítica.</p><p>Interdisciplinaridade: A Educa-</p><p>ção Ambiental deve mobilizar co-</p><p>nhecimentos técnico-científicos de</p><p>várias disciplinas, como forma de</p><p>compreensão das relações homem/</p><p>natureza.</p><p>Valorização estético-cultural?</p><p>A Educação Ambiental deve privile-</p><p>giar as diferenças culturais e étnicas</p><p>dos povos, bem como seus conheci-</p><p>mentos sobre o meio em que vivem.</p><p>Cidadania: A Educação Ambiental</p><p>deve favorecer a criação de uma</p><p>consciência ética e facilitar a parti-</p><p>cipação democrática dos indivíduos</p><p>e grupos como cidadãos.</p><p>Devemos tomar cuidado para</p><p>não considerar a Educação Ambien-</p><p>tal como a “salvação da lavoura”,</p><p>como o instrumento capaz de solu-</p><p>cionar todos os problemas e desafios</p><p>que nós são colocados. Ela deve ser</p><p>vista como um projeto de longo pra-</p><p>zo e em permanente transformação.</p><p>As formas de ação e os agentes da</p><p>Educação Ambiental são múltiplos e</p><p>necessitam de constante capacitação</p><p>para promover uma ação interativa,</p><p>questionadora e reflexiva, com o ob-</p><p>jetivo de consolidar uma cidadania</p><p>ecológica.</p><p>Educação Ambiental: Um Ca-</p><p>minho Para a Conquista da</p><p>Cidadania</p><p>A ideia de se promover a Edu-</p><p>cação Ambiental não é nova. A</p><p>Conferência de Estocolmo, realizada</p><p>em 1972, já recomendava que os</p><p>países implantassem programas de</p><p>Educação Ambiental.</p><p>No Brasil, somente em 1984 é</p><p>que o Conselho Nacional de Meio</p><p>Ambiente – Conama – estabeleceu</p><p>as diretrizes para as ações de Edu-</p><p>cação Ambiental, mostrando uma</p><p>defasagem entre as recomendações</p><p>dos participantes das Conferências</p><p>da ONU e a implantação dos pro-</p><p>gramas sugeridos. Essa defasagem</p><p>resulta da grande dificuldade, no</p><p>plano interno, de readequação das</p><p>instituições para cumprir as metas</p><p>fixadas, mas, principalmente, da</p><p>falta de vontade política para essa</p><p>implementação. Devemos lembrar</p><p>28</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>que a constituição do Conselho Na-</p><p>cional do Meio Ambiente data de</p><p>1980, oito anos após o Brasil ter</p><p>assinado os acordos e compromissos</p><p>estabelecidos na Conferência de Es-</p><p>tocolmo. Mas foi somente a Cons-</p><p>tituição de 1988 que estabeleceu a</p><p>exigência da Educação Ambiental</p><p>nos níveis federal, estadual e muni-</p><p>cipal.</p><p>Fonte:</p><p>https://www.freetheessence.com.br/</p><p>Outra conferência, a de Tbilisi,</p><p>realizada na Georgia, em 1977,</p><p>estabeleceu que o objetivo final da</p><p>Educação Ambiental é formar cida-</p><p>dãos ativos. Esse é um ponto de ex-</p><p>trema importância, pois formar ci-</p><p>dadãos ativos significa capacitá-los</p><p>para participar, requerer seus direi-</p><p>tos, questionar e defender valores.</p><p>No Brasil, essas ideias ainda</p><p>não tomaram a forma de um pro-</p><p>grama curricular amplo. Todavia,</p><p>algumas experiências pioneiras fo-</p><p>ram realizadas. A maioria delas, no</p><p>entanto, foi realizada a partir de</p><p>1993, um ano após a realização da</p><p>Rio-92. O grande problema parece</p><p>ser a falta de continuidade e amplia-</p><p>ção dessas experiências, quando for-</p><p>mar cidadãos exige uma prática con-</p><p>tínua e duradoura.</p><p>29</p><p>30</p><p>DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E NATUREZA</p><p>4. Referências Bibliográficas</p><p>Agenda 21 Brasileira. Bases para a dis-</p><p>cussão, da Comissão de Políticas de De-</p><p>senvolvimento Sustentável e da Agenda 21</p><p>Nacional. Brasília: 2000.</p><p>ARON, Raymond. Dezoito lições sobre a</p><p>sociedade industrial. Brasília: EDUNB,</p><p>1981.</p><p>CRESPO, S. Educar para a sustentabili-</p><p>dade: a educação ambiental no programa</p><p>Agenda 21. In: NOAL, Fernando Oliveira</p><p>(Org.); REIGOTA, Marcos (Org.); BAR-</p><p>CELOS, Valdo Hermes de Lima (Org.).</p><p>Tendências da Educação ambiental brasi-</p><p>leira. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 1998.</p><p>GRUN, Mauro. Ética e educação ambien-</p><p>tal: a conexão necessária. Campinas: Pa-</p><p>pirus, 1996.</p><p>LEIS, H. R. A modernidade insustentável:</p><p>as críticas do ambientalismo à sociedade</p><p>contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1999</p><p>LEONARDI, M. L. A educação ambiental</p><p>como um dos instrumentos de superação</p><p>da insustentabilidade da sociedade atual.</p><p>In: CAVALCANTI, Clovis (Org.). Meio</p><p>ambiente, desenvolvimento sustentável e</p><p>políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1997.</p><p>POINTING, C. História verde do mundo.</p><p>Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,</p><p>1995.</p><p>ROQUE, A. P.; CORREA, S. O ciclo social</p><p>da ONU: construção e implementação de</p><p>uma agenda global. In: FORUM BRASI-</p><p>LEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SO-</p><p>CIAIS PARA O MEIO AMBIENTE E O</p><p>DESENVOLVIMENTO. Brasil século XXI:</p><p>os caminhos da sustentabilidade cinco</p><p>anos depois da Rio-92. Rio de Janeiro:</p><p>Fase, 1997.</p><p>03</p><p>1</p>

Mais conteúdos dessa disciplina