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DENTOLOGIA E LEGISLAÇÃO Lisiane Mezzomo Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a regulação sanitária como política pública de saúde. Avaliar as necessidades de registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária de serviços e tecnologias na área da saúde. Discutir os principais desafios da regulação sanitária. Introdução No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem por objetivo garantir a universalidade e a integralidade à saúde, possibilitando maior acesso da população a redes de atenção. Dessa forma, a incorporação das tecnologias em saúde deve ser realizada no sentido de privilegiar aquelas eficazes e seguras, cujos danos ou riscos não superem os seus benefícios e que ainda não causem prejuízo para o atendimento de outros segmentos da população. Assim, essas tecnologias devem oferecer segurança ao paciente, além de serem comprovadamente eficazes. Nesse sentido, é imprescindível utilizá-las corretamente, o que demanda a existência de regulamentações para acompanhar e controlar todos os aspectos relacionados ao seu uso. Neste capítulo, você vai ler sobre a regulação sanitária como política de saúde pública, bem como as necessidades de registro dos serviços e tecnologias na área da saúde. Por fim, você lerá sobre os principais desafios na regulação sanitária atualmente. Regulação sanitária como política pública de saúde A Constituição Federal estabeleceu a competência do SUS para controlar e fi scalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde. A Lei Orgânica da Saúde — ou Lei nº. 8.080 (BRASIL, 1990), de 19 de setembro de 1990, que regulamenta o SUS e dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde e organização dos serviços correspondentes — defi ne vigilância sanitária como um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde, bem como de intervir nos problemas sa- nitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indire- tamente com a saúde. Assim, as ações da vigilância sanitária são reconhecidas como a área mais antiga da saúde pública. Na década de 1990, mediante a publicação da Lei nº. 9.782 (BRASIL, 1999a), de 26 de janeiro de 1999 (complementada pela Medida Provisória nº. 2.190-34, de 23 de agosto de 2001) define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O SNVS compreende o conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde executado por instituições da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, que exerçam atividades de regulação, normatização, controle e fiscalização na área de vigilância sanitária. A Anvisa tem a finalidade institucional de promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras. Tem por missão proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da construção de seu acesso. A atuação da Anvisa e das vigilâncias sanitárias estaduais e municipais compõe os três níveis do SNVS. Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária2 Segundo a Lei nº. 9.782/1999 (BRASIL, 1999a), compete à União no âmbito da SNVS: definir a Política Nacional de Vigilância Sanitária; definir o SNVS; normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse para a saúde; exercer a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo essa atribuição ser supletivamente exercida pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios; acompanhar e coordenar as ações estaduais, distrital e municipais de vigilância sanitária; prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios; atuar em circunstâncias especiais de risco à saúde; manter sistema de informações em vigilância sanitária, em cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Posteriormente publicada, a Portaria nº. 1.378, de 9 de julho de 2013 (BRA- SIL, 2013a), estabelece que as ações de vigilância em saúde abrangem toda a população brasileira e envolvem práticas e processos de trabalho voltados para: a vigilância da situação de saúde da população, com a produção de análises que subsidiem o planejamento, estabelecimento de prioridades e estratégias, monitoramento e avaliação das ações de saúde pública; a detecção oportuna e adoção de medidas adequadas para a resposta às emergências de saúde pública; a vigilância, a prevenção e o controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças crônicas não transmissíveis, dos acidentes e violências; a vigilância de populações expostas a riscos ambientais em saúde; a vigilância da saúde do trabalhador; a vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos, serviços e tecnologias de interesse da saúde; outras ações de vigilância que, de maneira rotineira e sistemática, podem ser desenvolvidas em serviços de saúde públicos e privados nos vários níveis de atenção, laboratórios, ambientes de estudo e trabalho e na própria comunidade. 3Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária A Anvisa elaborou uma cartilha que apresenta conceitos, informações, leis e reflexões, de forma abrangente, sobre o tema da vigilância sanitária, chamando a atenção para exemplos da vida cotidiana da população brasileira em que as ações de vigilância sanitária devem estar presentes. Para saber mais, acesse a cartilha no link a seguir. https://goo.gl/QiDY9q Assim, a vigilância sanitária de serviços de saúde tem como objetivos verificar e promover a adesão às normas e aos regulamentos técnicos vigentes, avaliar as condições de funcionamento e identificar os riscos e os danos à saúde dos pacientes, dos trabalhadores e ao meio ambiente. Produtos e serviços submetidos à regulação sanitária Os produtos sob vigilância sanitária só podem ser fabricados e comercializados após a obtenção do registro na Anvisa. Mesmo alguns produtos dispensados de registro necessitam do pronunciamento ofi cial sobre a dispensa ou não de registro. Se estiverem em lista de produtos dispensados de registro, sua colo- cação no mercado deve ser notifi cada. O registro pode ser suspenso ou cassado em razão de risco potencial à saúde, por comprovação ou mesmo suspeita de nocividade do produto ou de algum dos seus componentes (COSTA, 1999). Consideram-se bens e produtos submetidos ao controle e à fiscalização sanitária pela Anvisa, de acordo com o Decreto nº. 3.029 (BRASIL, 1999b), de 16 de abril de 1999: medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais insumos, processos e tecnologias; alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas embalagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos, resíduos de agrotóxicos e de medicamentos veterinários; cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes; saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação em ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos; conjuntos, reagentes e insumos destinados a diagnóstico; Novastecnologias na área da saúde e regulação sanitária4 equipamentos e materiais médico-hospitalares, odontológicos, hemo- terápicos e de diagnóstico laboratorial e por imagem; imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados; órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou reconstituições; radioisótopos para uso diagnóstico in vivo, radiofármacos e produtos radioativos utilizados em diagnóstico e terapia; cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígero, derivado ou não do tabaco; quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de risco à saúde, obtidos por engenharia genética, por outro procedimento ou ainda submetidos a fontes de radiação. O Decreto nº. 3.029/1999 (BRASIL, 1999b) considera os seguintes serviços submetidos ao controle e fiscalização sanitária pela Anvisa: serviços voltados para a atenção ambulatorial, seja de rotina ou de emergência; os realizados em regime de internação; os serviços de apoio diagnóstico e terapêutico; os serviços que impliquem a incorporação de novas tecnologias. Além desses, também se submetem ao regime de vigilância sanitária as instalações físicas, os equipamentos, as tecnologias, os ambientes e os pro- cedimentos envolvidos em todas as fases de seus processos de produção dos bens e produtos submetidos ao controle e à fiscalização sanitária, incluindo a destinação dos respectivos resíduos. A Anvisa disponibiliza uma lista de produtos para a saúde que não são regulados pela agência. A lista envolve produtos para apoio de atividade laboratorial em geral, produtos utilizados para apoio ou infraestrutura hospitalar, produtos para prevenção da saúde coletiva, entre outros. A lista está disponível no link a seguir. https://goo.gl/XCjbgV 5Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária Registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária de serviços e tecnologias na área da saúde O uso das tecnologias em saúde está inserido nos estabelecimentos presta- dores de serviços de saúde e são indispensáveis para o seu funcionamento. Nesse sentido, os serviços e as tecnologias na área saúde são temas de grande relevância para a saúde pública devido à sua infl uência e ao seu peso cada vez maior no processo de diagnóstico e cura de doenças. As tecnologias em saúde são os medicamentos, equipamentos, procedi- mentos (anamneses, técnicas cirúrgicas, normas técnicas de uso de equi- pamentos) e os sistemas organizacionais e de apoio (saneamento, controle ambiental) dentro dos quais os cuidados com a saúde são oferecidos. São essenciais para a promoção da saúde, nos quais são desenvolvidas ações de diagnóstico, terapia e atividades de apoio, que se beneficiam do uso dessas tecnologias. Toda tecnologia oferece um risco na sua utilização, portanto, o ponto mais importante da regulação sanitária desses produtos é verificar se o risco oferecido pela tecnologia é compensado pelos benefícios advindos da sua utilização. Esse critério é chamado de relação risco-benefício. No entanto, a decisão sobre a incorporação ou não de certas tecnologias não é evidente e requer análises complexas quanto aos impactos esperados para os indivíduos e para o sistema de saúde. O registro de novas tecnologias, na área de produtos para saúde, compre- ende principalmente a avaliação dos critérios de segurança e eficácia da nova tecnologia. Essa avaliação se baseia na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº. 56 (BRASIL, 2001), de 6 de abril de 2001, que trata dos requisitos essenciais de segurança e eficácia dos dispositivos médicos. Os produtos para saúde devem ser projetados e fabricados de forma que seu uso não comprometa o estado clínico e a segurança dos pacientes, nem a segurança e saúde dos operadores ou, quando for o caso, de outras pessoas, quando usados nas condições e finalidades previstas. Os possíveis riscos existentes devem ser aceitáveis em relação ao benefício proporcionado ao paciente e devem ser reduzidos a um grau compatível com a proteção à saúde e à segurança das pessoas (BRASIL, 2001). Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária6 Nesse sentido, é necessária a adoção de um processo claro e transparente de decisão nos processos de regulação, incorporação e utilização de tecnologias. Cabe à Anvisa, no seu papel de regular a entrada da tecnologia no mercado, a demanda da informação quanto à segurança, ao benefício, à indicação de uso e ao preço a ser praticado no mercado para autorizar a comercialização (registro) da tecnologia no Brasil. Resolução da Anvisa nº. 56/2001 Essa normativa determina que os produtos para saúde devem ser projetados e fabricados de forma que seu uso não comprometa o estado clínico e a segurança dos pacientes, nem a segurança e saúde dos operadores ou, quando for o caso, de outras pessoas, quando usados nas condições e nas fi nalidades previstas (BRASIL, 2001a). Os possíveis riscos existentes devem ser aceitáveis em relação ao benefício proporcionado ao paciente e devem ser reduzidos a um grau compatível com a proteção à saúde e à segurança das pessoas. A Rede de Avaliação de Tecnologias em Saúde das Américas (RedETSA) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) lançaram a Base Regional de Informes de Avaliação de Tecnologias em Saúde das Américas (Brisa), uma ferramenta gratuita que traz informes na área de avaliação de tecnologias em saúde. O objetivo do portal é aprimorar as tomadas de decisões de incorporação de tecnologias nos sistemas de saúde. Confira a ferramenta no link a seguir. https://goo.gl/kx32JW Cabe destacar que todos os produtos sob a vigilância sanitária, mesmo os registrados, devem ser objeto de verificações periódicas de suas qualidades e das características originais averbadas no registro, pois o registro não é um fim em si mesmo. O registro de produtos congrega um conjunto de ações tanto de âmbito técnico quanto político, pois os produtos objeto do registro em vigilância sanitária têm a capacidade de influir nos níveis de saúde da população, desde a promoção, a proteção, recuperação e a reabilitação da saúde. 7Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias Atualmente, o processo de avaliação de tecnologias em saúde (ATS) está sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS, que assessora o Ministério da Saúde nas atribuições de incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde no SUS. Acesse o relatório técnico que embasou a decisão da Conitec no link a seguir. https://goo.gl/poU7CH Instituída com a promulgação da Lei nº. 12.401 (BRASIL, 2011a), de 28 de abril de 2011, podemos dizer que a Conitec é um órgão estratégico do sistema público de saúde brasileiro no que se refere à avaliação e à incorporação tecnológica. É regulamentada pelo Decreto nº. 7.646/2011 (BRASIL, 2011b), tendo como atribuições: a emissão de relatórios sobre a incorporação, exclusão ou alteração pelo SUS de tecnologias em saúde e a constituição ou alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas; a atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). No âmbito do SUS, os medicamentos disponíveis para o tratamento de doenças ou de agravos são aqueles selecionados e padronizados na Rename. Cabem ao Ministério da Saúde a revisão e a atualização periódica da Rename e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. Esse processo pode envolver a incorporação de novos medi- camentos, a exclusão ou a alteração de medicamentos já padronizados. A Conitec é que assessora o Ministério da Saúde nesse processo. Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária8 A Lei nº. 12.401/2011 (BRASIL, 2011a) é um marco para o SUS, pois, além de instituir a Conitec — como órgão assessor do Ministério da Saúde para decisões quanto à incorporação, exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos e procedimentos, assimcomo elaboração ou revisão de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs) —, define critérios e prazos para incorporação de novas tecnologias em saúde. A incorporação de medicamentos, produtos e procedimentos no âmbito do SUS é precedida de análise quanto à sua eficácia, segurança, efetividade e relação custo-efetividade. Sua oferta, antes da conclusão da análise pela Conitec, pode representar riscos à saúde da população e à aplicação inadequada dos recursos disponíveis, em prejuízo ao atendimento do usuário. Acesse o link a seguir para saber mais sobre a política vigente para a regulação de medicamentos no Brasil. https://goo.gl/Rd1ony Recentemente, outras tecnologias vêm sendo incorporadas à regulação, como a vigilância epidemiológica dos eventos adversos, envolvendo o uso de medicamentos (farmacovigilância) e de sangue, células, tecidos e órgãos (biovigilância), a vigilância das infecções relacionadas à assistência à saúde, entre outras. Também faz parte o monitoramento de queixas técnicas de produtos e de indicadores de qualidade de serviços. Essas tecnologias estão mais voltadas ao monitoramento do produto ou do serviço após o uso, o que se costuma chamar de vigilância pós-mercado. Principais desafios na regulação sanitária As mudanças econômicas, políticas, de hábitos e de comportamentos, assim como a intensa urbanização e a mobilidade dos povos, contribuem para o aparecimento e a circulação de novos e mais complexos microrganismos, bem como para maior rapidez na propagação de doenças. Se as práticas existentes são incapazes de responder aos novos objetos, é preciso buscar novas tecnologias, 9Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária processos e respostas. No Brasil, apesar das ações que incluíram a redução da carga de determinadas doenças e a eliminação de outras, ainda se está a dever respostas que produzam resultados mais rápidos e efetivos em relação a antigos problemas, como as doenças transmissíveis (BRASIL, 2013b). O Quadro 1 apresenta os desafios da regulação sanitária. Fonte: Adaptado de Brasil (2013b). Aperfeiçoamento da informação em saúde O SUS dispõe de sistemas que instrumentalizam e apoiam a gestão em todas as esferas, nos processos de planejamento, programação, regulação, controle, avaliação e auditoria. Fortalecimento de ações de prevenção e controle Estratégia de saúde da família. Programa nacional de imunização. Prevenção e controle do vírus da imunodeficiência adqui- rida/síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/aids). Serviço de atendimento móvel de urgência (Samu). Novas tecnologias e processos Introdução de novas vacinas no calendário oficial. Inovações no controle de doenças transmissíveis. Qualificação para a vigilância em saúde. Respostas a emergências de saúde pública Preparação para suporte aos eventos de massa. Qualificação para resposta e cooperação em emergên- cias em saúde pública. Quadro 1. Desafios da regulação sanitária Um exemplo do fortalecimento das ações de prevenção e controle é a oferta de profilaxia pré-exposição (PrEP) de medicamentos antirretrovirais, política iniciada em 2017. A PrEP consiste na utilização de um antirretroviral que associa tenofovir e emtricitabina em um único comprimido para reduzir o risco da infecção pelo HIV antes da exposição do vírus. O medicamento vem sendo ofertado para as populações com maior risco de infecção pelo HIV (pessoas que mantêm relação de risco com maior frequência). A incorporação foi recomendada pela Conitec após consulta pública realizada para obter informações, opiniões e críticas de pesquisadores e outros setores da sociedade. A demanda segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda, desde 2012, a oferta de PrEP para casais soro diferentes, homossexuais, profissionais do sexo e pessoas transgêneros, considerados populações-chaves. Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária10 O papel que a vigilância sanitária desempenha na sociedade brasileira permite compreender a regulação sanitária atualmente, como o modo de inter- venção do Estado destinado a prevenir, impedir ou minimizar as imperfeições que possam causar danos ou riscos à saúde da população. Inseridas nesse contexto, estão algumas funções essenciais da saúde pública, definidas pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS/OMS): vigilância, investigação, controle de riscos e danos à saúde; promoção da saúde; capacidade de regulamentação, fiscalização, controle e auditoria em saúde. Assim, a regulação sanitária é uma das funções essenciais do SUS, e são necessárias medidas e estratégias para que o processo de regulação em saúde aconteça de modo a garantir equidade, oportunidade e qualidade no acesso aos serviços de saúde. Entre os principais desafios e estratégias da Anvisa e SNVS, estão: modernizar e qualificar o processo de gestão na Administração Pública; desenvolver e aprimorar o processo de regulação em vigilância sanitária; ampliar e fortalecer a capacidade de participação e controle social no processo regulatório. É fundamental a integração da vigilância sanitária com uma rede de laboratórios moderna, bem estruturada e dedicada aos objetos sob sua regulação, a fim de garantir o monitoramento e a investigação na área. Com a atenção à saúde, a vigilância sanitária encontra espaço para contribuir para a segurança de diversos processos, como na atuação de uma equipe de saúde da família ou em procedimentos de transplantes. Com a assis- tência farmacêutica, a vigilância sanitária oferece suporte à oferta segura de medicamentos à população. Com a auditoria, preza pela qualidade dos serviços e colabora para que a atenção à saúde traga benefícios sobressa- lentes aos riscos. A incorporação de novas tecnologias na saúde também necessita da integração com o trabalho e o conhecimento gerado no âmbito da vigilância sanitária. 11Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária As ações de vigilância sanitária beneficiam a todos indistintamente, quando, por exemplo: exigem dos laboratórios a comprovação de qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos produzidos, antes de sua comercialização ou exposição ao consumo da população; combatem a propaganda enganosa ou abusiva veiculada pelos canais de comunicação; retiram do mercado produtos farmacêuticos falsificados ou adulterados; estabelecem padrões para a rotulagem de alimentos e demais produtos sujeitos ao regime de vigilância sanitária, para assegurar o direito de acesso à informação dos consumidores; monitoram e combatem os preços abusivos dos medicamentos; estabelecem normas, padrões e procedimentos de segurança para a prestação de serviços de saúde; promovem ações educativas para conscientização da população. A regulação sanitária é exercida em benefício da sociedade por meio da regulamentação, do controle e da fiscalização das relações de produção, consumo e acesso a bens, produtos e serviços de interesse da saúde. Também é caracterizada pela adoção e pelo uso sistematizado de práticas e mecanismos de transparência e de participação da sociedade, que propiciem consistência, previsibilidade e estabilidade ao processo regulatório, em busca de um ambiente seguro para a população e favorável ao desenvolvimento econômico e social do País (SILVA, 2009). 1. As atividades ligadas à vigilância sanitária surgiram de uma neces- sidade decorrente da propagação de doenças transmissíveis nos agrupamentos urbanos, que aumen- tavam em população e não em suas condições sanitárias básicas. Sobre o início da vigilância sanitária no Brasil, assinale a alternativa correta. a) Regulamentação do SUS, com a Lei nº. 8.080/1990. b) Constituição Federal de 1988, com a criação do SUS. c) Após a criação do SNVS. d) Lei nº. 9.782/1999, que cria a Anvisa. e) Lei nº. 8.080/1990, regulamen- tada pela Lei nº. 9.782/1999. Novas tecnologias naárea da saúde e regulação sanitária12 2. No Brasil, as atividades de vigilância sanitária são competências do SNVS, que atua de maneira integrada e descentralizada em todo o território nacional. Sobre a competência da União, no âmbito do SNVS, de acordo com o disposto na Lei nº. 9.782/1999, assinale a alternativa correta. a) Vigilância, prevenção e controle das doenças transmissíveis. b) Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir os riscos à saúde. c) Promoção, proteção e recupe- ração da saúde e organização dos serviços correspondentes. d) Controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços. e) Controlar e fiscalizar procedi- mentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde. 3. Uma indústria farmacêutica deseja produzir um medicamento à base de um princípio ativo que ainda está em fase de testes e não apresentou nenhuma comprovação científica de sua ação terapêutica. Segundo a Lei nº. 9.782/1999, esse procedimento é: a) legal, uma vez que a ação tera- pêutica pode ser comprovada após o registro na Anvisa. b) legal, já que o conhecimento das ações terapêuticas se baseia no grupo farmacológico e não na eficácia do princípio ativo. c) legal, pois a última fase de testes ocorre na população com o primeiro lote comercializado. d) ilegal, pois não poderá ser registrado o medicamento que não tenha em sua composição substância reconhecidamente benéfica do ponto de vista clínico ou terapêutico. e) ilegal, pois a Anvisa só concede registro após a comercialização dos medicamentos. 4. O registro das novas tecnologias na área da saúde compreende: a) avaliação do risco para os opera- dores, mas não para os usuários. b) avaliação do risco para o meio ambiente, mas não descreve os operadores. c) as soluções adotadas pelo fabricante para o projeto e fabricação devem ajustar-se aos princípios atualizados de tecnologia. d) a segurança inerente ao projeto, mas não necessariamente à fabricação. e) as características de desem- penho podem ser inferiores às recomendadas, desde que não interfiram no estado clínico de segurança do paciente. 5. Sobre a Conitec, assinale a afirmativa correta. a) Para que um produto possa ser avaliado para a incorporação no SUS, exige-se o registro prévio na Conitec. b) Essa comissão avalia e regu- lamenta todos os produtos e tecnologias em saúde. c) Avalia a efetividade da tecnologia e compara com as tecnologias já incorporados no SUS. d) Avalia somente as demandas da indústria farmacêutica. e) Analisa os registros da Anvisa e do SNVS. 13Novas tecnologias na área da saúde e regulação sanitária BRASIL. Decreto nº. 3.029, de 13 de abril de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 abr. 1999b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3029. htm>. Acesso em: 18 dez. 2018. BRASIL. Decreto nº. 7.646, de 21 de dezembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 2011b. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2011/ decreto-7646-21-dezembro-2011-612055-norma-pe.html>. Acesso em: 18 dez. 2018. BRASIL. Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990. 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