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<p>Simone Schemberg</p><p>TecnologiasTecnologias</p><p>Assis ivasAssis ivas</p><p>Tec</p><p>n</p><p>o</p><p>lo</p><p>g</p><p>ia</p><p>s A</p><p>ssistiva</p><p>s</p><p>Sim</p><p>o</p><p>n</p><p>e Sc</p><p>h</p><p>em</p><p>b</p><p>er</p><p>g</p><p>ISBN 978-65-5821-203-4</p><p>9 786558 212034</p><p>Código Logístico</p><p>I000924</p><p>Tecnologias Assistivas</p><p>Simone Schemberg</p><p>IESDE BRASIL</p><p>2022</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>IESDE BRASIL S/A.</p><p>Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200</p><p>Batel – Curitiba – PR</p><p>0800 708 88 88 – www.iesde.com.br</p><p>© 2022 – IESDE BRASIL S/A.</p><p>É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do</p><p>detentor dos direitos autorais.</p><p>Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.</p><p>Imagem da capa: mhudaaa/Envato Elemets - visuelcolonie/Envato Elemets - Icons8/Envato Elemets</p><p>22-81411</p><p>CDD: 371.92</p><p>CDU: 376-056.3</p><p>CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃONAPUBLICAÇÃO</p><p>SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ</p><p>S345t</p><p>Schemberg, Simone</p><p>Tecnologias assistivas / Simone Schemberg. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE,</p><p>2022.</p><p>Inclui bibliografia</p><p>ISBN 978-65-5821-203-4</p><p>1. Educação especial. 2. Inclusão escolar. 3. Educação especial - Ensino</p><p>auxiliado por computador. 4. Tecnologia educacional. I. Título.</p><p>Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439</p><p>01/12/2022 06/12/2022</p><p>Simone Schemberg Mestre em Distúrbios da Comunicação pela</p><p>Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista</p><p>em Libras pela Unina. Especialista em Mídias na</p><p>Educação pela Universidade Federal do Paraná</p><p>(UFPR). Especialista em Educação Especial pelo</p><p>IBPEX. Graduada em Letras/Inglês pela Faculdade de</p><p>Pinhais (FAPI). Professora de Educação Especial da</p><p>Rede Estadual do Paraná, atuando no Atendimento</p><p>Educacional Especializado para alunos surdos. Atua no</p><p>Ensino Superior, ministrando disciplinas nas áreas de</p><p>Letras, Pedagogia e Educação Especial.</p><p>Agora é possível acessar os vídeos do livro por</p><p>meio de QR codes (códigos de barras) presentes</p><p>no início de cada seção de capítulo.</p><p>Acesse os vídeos automaticamente, direcionando</p><p>a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet</p><p>para o QR code.</p><p>Em alguns dispositivos é necessário ter instalado</p><p>um leitor de QR code, que pode ser adquirido</p><p>gratuitamente em lojas de aplicativos.</p><p>Vídeos</p><p>em QR code!</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 Introdução às tecnologias assistivas 9</p><p>1.1 Histórico, conceitos e objetivos da TA 10</p><p>1.2 Aspectos legais 15</p><p>1.3 Acessibilidade, barreiras e inclusão social 20</p><p>1.4 Símbolos de acessibilidade e desenho universal 23</p><p>2 Categorias em tecnologias assistivas 31</p><p>2.1 Classificação e categorização em tecnologia assistiva 32</p><p>2.2 Auxílio para atividades de vida diária (AVD) 36</p><p>2.3 TA e o uso do computador 38</p><p>2.4 Comunicação suplementar e alternativa 43</p><p>3 Tecnologias assistivas no contexto educacional 50</p><p>3.1 O papel da TA na educação inclusiva 51</p><p>3.2 Desafios e possibilidades 56</p><p>3.3 Aprendizagem e desenvolvimento sociocultural 60</p><p>3.4 O tempo e o espaço escolar 64</p><p>4 Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva 70</p><p>4.1 Educação inclusiva e educação especial 71</p><p>4.2 A TA no contexto da educação especial 75</p><p>4.3 Salas de recursos multifuncionais e o AEE 78</p><p>5 Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 85</p><p>5.1 TA – deficiência física 86</p><p>5.2 TA – deficiência visual e cegueira 90</p><p>5.3 TA – deficiência auditiva e surdez 97</p><p>Resolução das atividades 105</p><p>Agora é possível acessar os vídeos do livro por</p><p>meio de QR codes (códigos de barras) presentes</p><p>no início de cada seção de capítulo.</p><p>Acesse os vídeos automaticamente, direcionando</p><p>a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet</p><p>para o QR code.</p><p>Em alguns dispositivos é necessário ter instalado</p><p>um leitor de QR code, que pode ser adquirido</p><p>gratuitamente em lojas de aplicativos.</p><p>Vídeos</p><p>em QR code!</p><p>A cada dia é possível observar a maior participação das</p><p>pessoas com deficiência (PcD) nos diversos âmbitos da</p><p>sociedade, em especial nos espaços escolares. Isso se deve</p><p>ao avanço da medicina, aos estudos nas áreas educacionais,</p><p>sociais e antropológicas e, sobretudo, às mudanças de</p><p>concepção em relação ao sujeito e ao seu papel na sociedade.</p><p>Essas mudanças possibilitam o acesso às interações sociais</p><p>e, além disso, colaboram para o desenvolvimento integral</p><p>desses sujeitos. Ao mesmo tempo, o avanço da tecnologia</p><p>lhes proporciona a acessibilidade aos bens culturais, aos</p><p>ambientes e à informação e comunicação.</p><p>No entanto, quando falamos de acessibilidade das PcD</p><p>não podemos deixar de nos remeter ao papel da tecnologia</p><p>assistiva (TA), que se constitui como o elemento essencial para</p><p>que alcancem a autonomia e a independência nos diversos</p><p>âmbitos da sociedade. No entanto, não basta a simples</p><p>presença de recursos e serviços de tecnologia assistiva nos</p><p>meios sociais, é preciso que haja conhecimento por parte</p><p>da sociedade e sobretudo dos profissionais envolvidos na</p><p>educação e no convívio dessas pessoas.</p><p>Assim, esta obra busca trazer embasamento teórico</p><p>e prático acerca das tecnologias assistivas, preconizando</p><p>o acesso a informações e reflexões essenciais para a</p><p>compreensão da função, da usabilidade e aplicabilidade dos</p><p>recursos e serviços nesse âmbito. Primeiramente traremos</p><p>uma abordagem geral em relação à história, leis e conceitos</p><p>relacionados à TA; além disso, serão exploradas suas categorias</p><p>para que possamos vislumbrar a diversidade de possibilidades</p><p>proporcionadas pelos recursos de TA nos diversos espaços.</p><p>Também abordaremos o uso da TA no contexto educacional,</p><p>destacando o papel da educação especial e a importância do</p><p>trabalho em rede para que a acessibilidade, tanto aos espaços</p><p>físicos quanto ao currículo, seja garantida de fato.</p><p>APRESENTAÇÃOVídeo</p><p>8 Tecnologias Assistivas</p><p>Espera-se, portanto, que ao final dos estudos tenha se</p><p>alcançado o reconhecimento da TA como tema essencial</p><p>quando se trata da inclusão das pessoas com deficiência, em</p><p>especial no contexto educacional inclusivo, de modo que, ao</p><p>atuar nessa área, sejam aplicados os conhecimentos coerentes,</p><p>buscando-se cada vez mais o aprofundamento no tema, já que</p><p>as tecnologias avançam e mudam constantemente, a fim de</p><p>colaborar para a efetivação de espaços inclusivos e acessíveis.</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 9</p><p>1</p><p>Introdução às</p><p>tecnologias assistivas</p><p>Em geral, quando pensamos em tecnologias, o que nos vem em</p><p>mente é uma diversidade de recursos modernos e superelaborados,</p><p>como robôs, celulares e computadores. Porém, a tecnologia é tão an-</p><p>tiga quanto a própria humanidade e sempre esteve presente em nos-</p><p>so meio; abrange instrumentos elaborados, como uma infinidade de</p><p>ferramentas produzidas pelo homem a fim de suprir as necessidades</p><p>cotidianas, tanto para a vida pessoal quanto para o trabalho.</p><p>Já quando se trata de tecnologia assistiva (TA), podemos dizer que</p><p>é um termo recente – começou a ser empregado somente no final da</p><p>década de 1980 – e foi ganhando espaço nos estudos e, consequente-</p><p>mente, na sociedade, sobretudo no âmbito educacional inclusivo. Essa</p><p>classe de tecnologia está relacionada a um determinado grupo social,</p><p>ao das pessoas com deficiência (PcD), e tem objetivos claros e bem</p><p>definidos. Assim, cabe considerarmos, além do conceito da TA, aspec-</p><p>tos históricos e legais que permeiam esse contexto e determinam sua</p><p>aplicação.</p><p>Neste capítulo trataremos dos aspectos teóricos acerca da TA, de</p><p>modo a analisar seus aspectos históricos, conceituais e legais, bem</p><p>como discutir seu papel como instrumento de inclusão social e acessi-</p><p>bilidade. Além disso, abordaremos os tipos de barreiras que dificultam</p><p>o acesso das PcD à comunicação, aos bens culturais e à interação so-</p><p>cial. Também discutiremos sobre a importância dos símbolos relacio-</p><p>nados à acessibilidade. Antes, porém, cabe refletir sobre o contexto</p><p>das tecnologias em seu sentido amplo para chegarmos ao conceito do</p><p>nosso foco de estudo e reflexão.</p><p>10 Tecnologias Assistivas</p><p>Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:</p><p>• conhecer e analisar os aspectos históricos e conceituais das tec-</p><p>nologias assistivas;</p><p>• analisar</p><p>de artefatos que</p><p>podem auxiliar nas tarefas do cotidiano:</p><p>Neste site, de autoria de</p><p>Mara Lúcia Sartoretto e</p><p>Rita Bersch, é possível se</p><p>aprofundar na tecno-</p><p>logia assistiva por meio</p><p>da leitura de artigos, da</p><p>exploração de vídeos e</p><p>da visualização de vários</p><p>exemplos e conceitos</p><p>relacionados. O site é</p><p>embasado no paradigma</p><p>da inclusão e é desen-</p><p>volvido por uma equipe</p><p>especializada e renomada</p><p>em tecnologia assistiva.</p><p>Tem como foco promover</p><p>a inclusão de PcD por</p><p>meio da prestação de</p><p>serviços nas áreas da edu-</p><p>cação, saúde e tecnologia</p><p>assistiva.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>assistiva.com.br/. Acesso em: 29</p><p>nov. 2022.</p><p>Site</p><p>Fixador para objetos: podem ser anexados a objetos e colocados</p><p>em volta da mão ou do próprio objeto, dando maior estabilidade e</p><p>preensão. Tiras mais largas proporcionam maior firmeza ao pulso.</p><p>São artefatos de baixo custo e também podem ser confeccionados de</p><p>modo caseiro, analisando as necessidades de cada usuário. Ka</p><p>tp</p><p>ak</p><p>on</p><p>g/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para</p><p>atividades manuais</p><p>Engrossador para talheres: esse recurso serve para auxiliar</p><p>pessoas com dificuldade na preensão palmar. Estão disponíveis no</p><p>mercado, mas também podem ser confeccionados de modo caseiro,</p><p>por meio de espumas ou material em E.V.A.</p><p>Ju</p><p>lia</p><p>M</p><p>er</p><p>sk</p><p>a/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para a alimentação</p><p>Argola/adaptador para zíper: pode parecer um simples acessório,</p><p>mas essa argola pode facilitar muito a autonomia de uma pessoa com</p><p>dificuldade motora. Há outros tipos de adaptadores disponíveis no</p><p>mercado, que são de baixo custo</p><p>An</p><p>ak</p><p>um</p><p>ka</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para vestuário</p><p>Pegador de objetos à distância: nas tarefas do dia a dia, pegar/</p><p>puxar objetos pode representar uma barreira para pessoas com</p><p>dificuldade de curvar-se ou para cadeirantes. O pegador é um</p><p>artefato disponível que auxilia ainda na acessibilidade em atividades</p><p>de trabalho.</p><p>An</p><p>dr</p><p>ey</p><p>_P</p><p>op</p><p>ov</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para execução de</p><p>tarefas rotineiras</p><p>Esses foram apenas alguns exemplos de TA para AVD, no entanto</p><p>há uma infinidade de produtos e serviços, que vão desde ferramentas</p><p>adaptadas até produtos de alta tecnologia disponíveis no mercado.</p><p>https://www.assistiva.com.br/</p><p>https://www.assistiva.com.br/</p><p>38 Tecnologias Assistivas</p><p>Contudo, após observar a funcionalidade desses recursos para as</p><p>pessoas com deficiência, é preciso lembrar que o conceito de tecnolo-</p><p>gia assistiva vai além dos artefatos, ou seja, não diz respeito apenas às</p><p>ferramentas em si, mas abrange metodologias, estratégias e serviços</p><p>que visam promover a autonomia e a independência das PcD. Lem-</p><p>brando, ainda, que no paradigma da inclusão o foco não está na limita-</p><p>ção nem na deficiência, mas sim na acessibilidade e na equidade.</p><p>Neste sentido, o CAT traz algumas recomendações sobre o sistema</p><p>de prestação de serviços, ou seja, qualquer serviço que auxilie direta-</p><p>mente uma pessoa com deficiência na seleção, aquisição ou uso de um</p><p>equipamento de TA. Esses serviços devem seguir as recomendações,</p><p>as quais nos ajudam a compreender melhor tanto o papel da TA quan-</p><p>to da sociedade. Entre as recomendações feitas pelo CAT, sugere-se</p><p>que haja uma ação integrada entre as diversas áreas do conhecimento</p><p>envolvidas no uso dos recursos de TA, visando à satisfação do usuário</p><p>final. Além disso, é preciso considerar a realidade individual de cada</p><p>sujeito, sendo necessária a inclusão das pessoas com deficiência no</p><p>desenvolvimento dos projetos (BRASIL, 2009).</p><p>2.3 TA e o uso do computador</p><p>Vídeo</p><p>Você já sabe que os recursos de acessibilidade ao computador estão</p><p>entre as categorias em TA, não é mesmo? Isso ocorre porque o meio</p><p>digital faz cada vez mais parte do dia a dia das pessoas e, consequente-</p><p>mente, deve ser acessível a todos. No entanto, por mais que já possa-</p><p>mos encontrar recursos de acessibilidade, que seguem o pressuposto</p><p>do desenho universal, há ainda muitos obstáculos quando se trata de</p><p>algumas especificidades em relação às PcD. Cabe considerarmos aqui</p><p>o conceito de acessibilidade descrito por Godinho (2010).</p><p>A Acessibilidade consiste na facilidade de acesso e de uso de</p><p>ambientes, produtos e serviços por qualquer pessoa e em dife-</p><p>rentes contextos. Envolve o Design Inclusivo, oferta de um leque</p><p>variado de produtos e serviços que cubram as necessidades de</p><p>diferentes populações (incluindo produtos e serviços de apoio),</p><p>adaptação, meios alternativos de informação, comunicação, mo-</p><p>bilidade e manipulação.</p><p>O uso do computador e de diversos outros dispositivos relaciona-</p><p>dos ao meio digital cria novos desafios quando falamos de acessibilida-</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 39</p><p>de e inclusão. Por outro lado, abrem novas possibilidades de acesso à</p><p>informação, à aprendizagem e ao desenvolvimento pessoal. O acesso à</p><p>internet é um grande exemplo disso.</p><p>Que tal imaginar como seria sua vida sem essas tecnologias? Como</p><p>você se sente quando não tem acesso à internet ou aos seus dispositi-</p><p>vos para acessar informações ou entrar em contato com alguém?</p><p>?</p><p>É frente a essas possibilidades que os recursos de tecnologias assisti-</p><p>vas se mostram essenciais, desde um simples teclado adaptado até um</p><p>software de alta tecnologia. Vamos conhecer alguns desses recursos?</p><p>No caso de pessoas com dificuldades motoras a principal barreira</p><p>está relacionada ao uso de mouse e teclado, denominados periféricos</p><p>de entrada. Para alguns casos, os mouses alternativos podem ser a so-</p><p>lução. Vejamos o que diz Salton et al. (2020, p. 38) acerca disso.</p><p>Hoje, é possível encontrar uma variedade de teclados e mouses</p><p>diferenciados. Utilizar um mouse requer certo nível de destre-</p><p>za e habilidades que pessoas com deficiência física nem sempre</p><p>terão. Um dos principais problemas enfrentados é a dificuldade</p><p>em manuseá-lo para realizar operações simples no computador</p><p>como movimentar o ponteiro do mouse com precisão e realizar</p><p>o clique. Para esses casos, existem alternativas ao uso do mouse</p><p>convencional, que incluem joysticks, trackballs, touchpads, touch</p><p>screens, controle por movimentos da cabeça, controle por movi-</p><p>mentos dos olhos, uso de acionadores, dentre outros.</p><p>Entretanto, em alguns casos, é necessário adequar os recursos à</p><p>necessidade do sujeito. Assim, as principais ajudas técnicas se referem</p><p>ao acesso ao computador, tanto por hardware quanto por software,</p><p>podendo ser solucionados com tecnologia assistiva específica ou por</p><p>adaptações. (SANTAROSA et al., 2010).</p><p>Com base nas explanações de Santarosa et al. (2010) e Peres et al.</p><p>(2020) destacamos aqui algumas soluções de acessibilidade relaciona-</p><p>das ao uso de hardware:</p><p>Pode ser por meio do uso de mouses e teclados especiais que se</p><p>adaptam às necessidades do usuário (pessoas com paralisia cerebral</p><p>ou dificuldades motoras). Existe também a possibilidade de adicionar</p><p>um dispositivo físico a mouses e teclados padrões (mouses e tecla-</p><p>Nesse site você poderá</p><p>encontrar uma infinidade</p><p>de documentos, estudos,</p><p>pesquisas, dicas de</p><p>ferramentas e serviços</p><p>de tecnologia assistiva</p><p>e diversos recursos que</p><p>tratam da acessibilidade.</p><p>Disponível em: https://cta.ifrs.edu.</p><p>br/. Acesso em: 1 nov. 2022.</p><p>Site</p><p>https://cta.ifrs.edu.br/</p><p>https://cta.ifrs.edu.br/</p><p>40 Tecnologias Assistivas</p><p>dos com adaptação) para facilitar o manuseio (colmeias, ponteiros,</p><p>pulseiras especiais, acionadores etc.). Essas TAs possibilitam o acesso</p><p>ao computador, dando autonomia tanto na vida pessoal quanto nos</p><p>espaços de trabalho e educacionais.</p><p>Vejamos exemplo de mouse e teclado especial (Figura 2A) e de mou-</p><p>se adaptado (Figura 2B), considerados recursos de TA.</p><p>Figura 2</p><p>Exemplos de recursos de TA</p><p>Re</p><p>sh</p><p>et</p><p>ni</p><p>ko</p><p>v_</p><p>ar</p><p>t/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A</p><p>Si</p><p>m</p><p>on</p><p>e</p><p>Sc</p><p>he</p><p>m</p><p>be</p><p>rg</p><p>B</p><p>No que diz respeito ao uso de software, a acessibilidade pode se dar</p><p>por meio de opções no sistema operacional ou por meio de simula-</p><p>dores virtuais.</p><p>Os sistemas operacionais mais utilizados (Windows e Linux) apresentam</p><p>um conjunto de funcionalidades que possibilitam a adaptação conforme a</p><p>necessidade do usuário,</p><p>como aumento de fonte, lupa e simulador de tecla-</p><p>do. Já os simuladores virtuais dizem respeito a programas de computador</p><p>(aplicativos) que servem para executar funções (SANTAROSA et al., 2010).</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 41</p><p>Acionando as teclas Windows e + aparecerá a Lupa, e então o usuário</p><p>poderá adequar o tamanho da tela conforme sua necessidade. Esse</p><p>recurso pode auxiliar pessoas com dificuldades visuais.</p><p>Além disso, existem programas executáveis que possibilitam o uso</p><p>do mouse por meio do movimento da cabeça e dos olhos, como o Câ-</p><p>mera mouse e o HeadMouse. O Câmera mouse é destinado a pessoas</p><p>com deficiência dos membros superiores, é um programa executável</p><p>que detecta, por meio da webcam, o movimento da cabeça direcionan-</p><p>do o cursor do mouse na tela do computador. O HeadMouse também é</p><p>destinado a pessoas com dificuldades motoras nos membros superio-</p><p>res, mas possibilita o acesso ao cursor na tela por meio de expressões</p><p>faciais e movimentos da cabeça.</p><p>Vejamos mais alguns exemplos relacionados ao acesso ao computa-</p><p>dor por meio de equipamentos modernos e de alta tecnologia.</p><p>Aqui podemos perceber a TA tanto na cadeira de rodas</p><p>multifuncional quanto no fone de ouvido e na tela</p><p>sensível ao toque.</p><p>be</p><p>lu</p><p>sh</p><p>i/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Este é um equipamento com sensor de</p><p>movimento de cabeça com fone de ouvido.</p><p>Por meio do movimento da cabeça, o usuário</p><p>acessa a função do mouse e direciona o</p><p>cursor na tela do computador.</p><p>fra</p><p>nt</p><p>ic</p><p>00</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>O download dos progra-</p><p>mas Câmera mouse e</p><p>HeadMouse pode ser feito</p><p>nos sites a seguir:</p><p>Links disponíveis em:</p><p>http://www.cameramouse.org/</p><p>https://www.tecnologiasaccesibles.</p><p>com/pt-br/content/headmouse.</p><p>Acessos em: 29 nov. 2022.</p><p>Site</p><p>http://www.cameramouse.org/</p><p>https://www.tecnologiasaccesibles.com/pt-br/content/headmouse</p><p>https://www.tecnologiasaccesibles.com/pt-br/content/headmouse</p><p>42 Tecnologias Assistivas</p><p>Você já observou que no teclado dos notebooks/computadores há um</p><p>traço em alto relevo abaixo das letras F e J ?</p><p>Essas linhas de relevo, como são chamadas, servem de referência para</p><p>digitar sem olhar o teclado. Mas, para as pessoas com deficiência vi-</p><p>sual, elas servem como um ponto de partida, ou seja, é um recurso de</p><p>acessibilidade.</p><p>Al</p><p>fo</p><p>ns</p><p>o</p><p>Sa</p><p>nc</p><p>he</p><p>z</p><p>Se</p><p>gu</p><p>ra</p><p>/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>?</p><p>Esses foram apenas alguns exemplos de uma infinidade de recur-</p><p>sos que possibilitam a autonomia das PcD no contexto da área digital.</p><p>Entretanto, a acessibilidade digital vai além de recursos físicos e ferra-</p><p>mentas, é preciso que também haja acesso à informação e à comunica-</p><p>ção, sobretudo no que se refere ao uso da internet.</p><p>Acerca disso, as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web</p><p>(WCAG), dispostas pelo World Wide Web Consortium 1 (W3C, 2022),</p><p>abrangem uma gama de recomendações para que os conteúdos da</p><p>web sejam mais acessíveis para todos os usuários, inclusive alcançan-</p><p>do um maior número de pessoas com deficiência. Da mesma forma,</p><p>trazem alguns princípios que abordam questões de acessibilidade que</p><p>vão desde fornecer alternativas ao conteúdo sonoro ou visual, até as-</p><p>segurar a clareza e simplicidade de documentos.</p><p>Para Santarosa et al. (2010, p. 165): “permitir o acesso à web a um</p><p>número cada vez maior de usuários, independentemente do tipo de</p><p>usuário, situação ou ferramenta, é democratizar a possibilidade de</p><p>interação no universo da internet”. Assim, o acesso à comunicação e</p><p>informação por meio da internet abre muitas possibilidades de par-</p><p>ticipação social, e por isso a acessibilidade não pode estar restrita às</p><p>limitações físicas ou sensoriais, devendo contar com o maior número</p><p>possível de usuários, como proposto pelo desenho universal, de modo</p><p>a proporcionar igualdade de oportunidade para todos.</p><p>A World Wide Web</p><p>Consortium (W3C) é uma</p><p>comunidade internacional</p><p>que desenvolve padrões</p><p>abertos para garantir o</p><p>crescimento da web a</p><p>longo prazo.</p><p>1</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 43</p><p>2.4 Comunicação suplementar</p><p>e alternativa Vídeo</p><p>Quando pensamos em aprendizagem e desenvolvimento huma-</p><p>no, não podemos deixar de relacionar a importância da comunicação</p><p>e da interação por meio da linguagem na constituição do sujeito. En-</p><p>tão, quando há, por qualquer impedimento, a falta da comunicação e</p><p>da interação linguística, o desenvolvimento pode ser comprometido.</p><p>Diante disso é que se estabelece o papel da comunicação alternativa 2</p><p>enquanto categoria da tecnologia assistiva, ou seja, essa categoria da</p><p>TA está voltada àqueles sujeitos que, por algum motivo, não desenvol-</p><p>veram a fala, mas podem usufruir de outras formas de comunicação,</p><p>podendo promover sua interação, inclusão e acessibilidade.</p><p>Antes, porém, de tratarmos dessa temática, abordaremos a questão</p><p>da terminologia, já que há uma diversidade de documentos e publicações</p><p>que advém de trabalhos traduzidos de outras línguas, de documentos le-</p><p>gais diferenciados e de estudos de diversas áreas, nos quais podemos en-</p><p>contrar os termos: comunicação alternativa e aumentativa, comunicação</p><p>alternativa e ampliada, comunicação alternativa e facilitadora, comunica-</p><p>ção suplementar e aumentativa. De acordo com Santarosa et al. (2010), a</p><p>diferença entre alternativa e aumentativa/ampliada está relacionada ao</p><p>uso da comunicação alternativa para o sujeito, ou seja, no caso dele apre-</p><p>sentar alguma forma de comunicação, mas necessitar de auxílio para sua</p><p>comunicação, acrescenta-se o termo aumentativa/ampliada.</p><p>O artigo Comunicação suplementar e/ou alternativa: abrangência e peculiari-</p><p>dades dos termos e conceitos em uso no Brasil, de Regina Yu Shon Chun, traz</p><p>uma discussão pertinente em relação à terminologia nessa área, levando</p><p>em conta as diversas mudanças da nomenclatura utilizada: comunicação</p><p>suplementar alternativa, comunicação alternativa, comunicação alternati-</p><p>va e ampliada, entre outras. Essa abordagem é importante no sentido de</p><p>compreendermos que as terminologias em determinadas áreas mudam por</p><p>diversos fatores, por exemplo, a época em que se abordou o tema, ou até</p><p>mesmo por questões de tradições de uma língua para outra.</p><p>Acesso em: 29 nov. 2022</p><p>https://www.scielo.br/j/pfono/a/dXGKy745LWDZQHcVbZzyKhj/?lang=pt.</p><p>Artigo</p><p>Optamos aqui, entretanto, por utilizar o termo comunicação suple-</p><p>mentar e alternativa (CSA) por ser amplamente utilizado atualmente e</p><p>Apesar de alguns autores</p><p>classificarem, dentro das</p><p>categorias, como comu-</p><p>nicação aumentativa e</p><p>alternativa, enquanto área</p><p>de estudo, usa-se mais</p><p>o termo comunicação</p><p>alternativa.</p><p>2</p><p>https://www.scielo.br/j/pfono/a/dXGKy745LWDZQHcVbZzyKhj/?lang=pt</p><p>44 Tecnologias Assistivas</p><p>por ser esse o utilizado pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia</p><p>(SBFa), que define CSA como sendo</p><p>uma área de prática e pesquisa, clínica e educacional para crian-</p><p>ças e adultos, que envolve um conjunto de ferramentas e estraté-</p><p>gias utilizadas para resolver desafios cotidianos de comunicação</p><p>de pessoas que apresentam algum tipo de comprometimento</p><p>da linguagem oral, na produção de sentidos e na interação. [...]</p><p>O princípio da CSA é conceber que a comunicação possa ser</p><p>realizada de outras formas além da fala, como um olhar com-</p><p>partilhado, expressões faciais, gestos, toque, escrita, apontar de</p><p>símbolos, imagens ou equipamentos com voz sintetizada, que</p><p>permitam a interação.</p><p>Em consonância, Massaro e Deliberato (2017) apontam que os siste-</p><p>mas de CSA têm como finalidade ampliar as possibilidades de recepção,</p><p>compreensão e expressão da linguagem das pessoas com deficiência</p><p>ou outros entraves que acometem a comunicação, de modo a comple-</p><p>mentar, potencializar e/ou substituir a fala ou a escrita.</p><p>Importante ponderarmos que esse grupo de TA divide-se em comunica-</p><p>ção alternativa apoiada e comunicação alternativa não apoiada. A apoia-</p><p>da é quando a comunicação se estabelece na forma física e fora do corpo</p><p>do sujeito, por meio de recursos reais como miniaturas de objetos, figuras,</p><p>pranchas de comunicação e sistemas computadorizados. Já a não apoiada</p><p>se refere às expressões faciais,</p><p>aos sinais manuais, aos gestos e piscar de</p><p>olhos da própria pessoa, ou seja, as expressões são produzidas pelo sujeito</p><p>sem auxílio de outra pessoa ou de equipamentos (BRASIL, 2004).</p><p>Santarosa et al. (2010) destaca os quatro elementos que compõem</p><p>a comunicação alternativa.</p><p>Quadro 2</p><p>Elementos que compõem a CA</p><p>Elementos Exemplos</p><p>Símbolos Gestos, vocalização, sinais, fotos e imagens.</p><p>Recursos Prancha, álbum, software, vocalizador, preditores de texto etc.</p><p>Técnicas Apontar, acompanhar, segurar, escanear etc.</p><p>Estratégias Uso em histórias, brincadeiras, imitações.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em Santarosa et al. (2010).</p><p>O uso da CSA deve levar em conta tanto a necessidade de cada su-</p><p>jeito quanto o contexto de uso da TA. Por exemplo, uma pessoa que</p><p>não desenvolveu a fala pode fazer uso das mãos para apontar (técni-</p><p>O livro Diálogos na</p><p>Diversidade e o Alcance da</p><p>Comunicação Alternativa</p><p>reúne textos de palestran-</p><p>tes do VIII Congresso</p><p>Brasileiro de Comunica-</p><p>ção Alternativa. É uma</p><p>coletânea de pesquisas,</p><p>relatos de experiências,</p><p>depoimentos, reflexões</p><p>e discussões atualizadas</p><p>de CSA.</p><p>CHUN, R. Y. S. São Paulo: Editora</p><p>Cia do Ebook, 2019. Disponível em:</p><p>https://www.isaacbrasil.org.br/</p><p>livros-isaac-brasil.html. Acesso em:</p><p>29 nov. 2022.</p><p>Livro</p><p>https://www.isaacbrasil.org.br/livros-isaac-brasil.html</p><p>https://www.isaacbrasil.org.br/livros-isaac-brasil.html</p><p>Gr</p><p>ou</p><p>nd</p><p>P</p><p>ic</p><p>tu</p><p>re</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>ca) uma imagem (símbolo), por meio de um álbum (recurso), em uma</p><p>narrativa (estratégia); já ao considerar uma pessoa que não pode fazer</p><p>uso dos movimentos das mãos, ela poderá usar outra técnica, como</p><p>por exemplo, o piscar de olhos quando seu interlocutor apontar um</p><p>símbolo ou uma sequência de símbolos.</p><p>As técnicas e as estratégias estão relacionadas ao contexto de uso da</p><p>tecnologia e com as possibilidades de movimento que o sujeito terá ou não.</p><p>Alguns exemplos de técnica são apontar com os pés para algum símbolo</p><p>ou direcionar o olhar, caso não possa movimentar as mãos ou os pés. A</p><p>estratégia está relacionada ao contexto em que essa técnica será utilizada,</p><p>como em forma de diálogo ou por meio de leitura através do interlocutor.</p><p>Com relação aos símbolos, há uma diversidade de sistemas de sig-</p><p>nos. Entre eles existe o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras</p><p>(PECS), um sistema gráfico de desenhos simples que tem como objetivo</p><p>sanar déficits na comunicação por meio de princípios comportamen-</p><p>tais básicos. Nesse sistema, desenvolve-se a requisição de objetos ou</p><p>outras atividades comunicacionais pelo uso de figuras, ampliando as</p><p>possibilidades de comunicação (OLIVEIRA; JESUS, 2016).</p><p>Com base nesses símbolos, podem ser produzidas as pranchas de</p><p>comunicação, isto é, um material que dispõe símbolos de acordo com</p><p>os objetivos da comunicação. A Figura 3 é um modelo de prancha de</p><p>comunicação alternativa baseada no modelo desenvolvido pela</p><p>Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para ser uti-</p><p>lizado na comunicação com pacientes em internamento hos-</p><p>pitalar, dispondo de pictogramas para que o paciente possa</p><p>indicar os sintomas.</p><p>Para saber mais sobre os</p><p>PECS, leia o texto indicado</p><p>no site a seguir.</p><p>Disponível em: https://pecs-brazil.</p><p>com/sistema-de-comunicacao-por-</p><p>troca-de-figuras-pecs/. Acesso em:</p><p>29 nov. 2022.</p><p>Leitura</p><p>Categorias em tecnologias assistivasCategorias em tecnologias assistivas 4545</p><p>https://pecs-brazil.com/sistema-de-comunicacao-por-troca-de-figuras-pecs/</p><p>https://pecs-brazil.com/sistema-de-comunicacao-por-troca-de-figuras-pecs/</p><p>https://pecs-brazil.com/sistema-de-comunicacao-por-troca-de-figuras-pecs/</p><p>46 Tecnologias Assistivas</p><p>Figura 3</p><p>Exemplo de prancha de comunicação alternativa</p><p>Pior dor</p><p>possível</p><p>Dor muito</p><p>severa</p><p>Dor</p><p>severa</p><p>Dor</p><p>moderada</p><p>Dor leve</p><p>Sem dor</p><p>Esquerda Direita</p><p>Dor Falta de ar</p><p>Náusea Tontura</p><p>Cansaço Coceira</p><p>Frente Costas</p><p>E D</p><p>Ji</p><p>m</p><p>en</p><p>a</p><p>Ca</p><p>ta</p><p>lin</p><p>a</p><p>Ga</p><p>yo</p><p>/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>pi</p><p>nk</p><p>.m</p><p>ou</p><p>sy</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>pi</p><p>nk</p><p>.m</p><p>ou</p><p>sy</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>pi</p><p>nk</p><p>.m</p><p>ou</p><p>sy</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Bl</p><p>ue</p><p>as</p><p>tro</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Dz</p><p>m</p><p>1t</p><p>ry</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Fonte: Elaborada pela autora com base em UFRGS, 2022.</p><p>Outro recurso são os cartões de comunicação a serem utilizados</p><p>em espaços mais reduzidos para comunicação rápida, podendo ser uti-</p><p>lizado materiais simples como tampinhas, cartolinas etc. Os exemplos</p><p>dados se tratam de recursos de baixa tecnologia, considerando que</p><p>podem ser produzidos de modo caseiro e simples pelo uso de mate-</p><p>riais acessíveis, de imagens adaptadas, coletadas, ou já disponibiliza-</p><p>das em sites e aplicativos relacionados.</p><p>Por outro lado, há os recursos que demandam investimentos para sua</p><p>produção, como softwares, programas e equipamentos com custos eleva-</p><p>dos, que se caracterizam como alta tecnologia, e são, na maioria das ve-</p><p>zes, importados. No entanto, podemos encontrar muitos desses recursos</p><p>disponíveis gratuitamente. Vejamos alguns exemplos no Quadro 3.</p><p>Quadro 3</p><p>Exemplos de recursos de alta tecnologia</p><p>Exemplos Definição</p><p>AmpliSoft</p><p>É um software livre para ambientes Windows destinado a pessoas com</p><p>dificuldades motoras. Dispõe de prancha de comunicação, teclado vir-</p><p>tual e editor de prancha livre.</p><p>Veja mais um exemplo</p><p>de prancha desenvolvida</p><p>pela UFRGS para ser utili-</p><p>zada em parques infantis</p><p>no link a seguir.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>ufrgs.br/comacesso/wp-content/</p><p>uploads/2020/08/prancha-parque-</p><p>Divulgac%CC%A7a%CC%83o.pdf.</p><p>Acesso em: 14 nov. 2022.</p><p>Dica</p><p>(Continua)</p><p>https://www.ufrgs.br/comacesso/wp-content/uploads/2020/08/prancha-parque-Divulgac%CC%A7a%CC%83o.pdf</p><p>https://www.ufrgs.br/comacesso/wp-content/uploads/2020/08/prancha-parque-Divulgac%CC%A7a%CC%83o.pdf</p><p>https://www.ufrgs.br/comacesso/wp-content/uploads/2020/08/prancha-parque-Divulgac%CC%A7a%CC%83o.pdf</p><p>https://www.ufrgs.br/comacesso/wp-content/uploads/2020/08/prancha-parque-Divulgac%CC%A7a%CC%83o.pdf</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 47</p><p>Exemplos Definição</p><p>ARASAAC</p><p>É um site que oferece recursos gráficos e materiais adaptados para</p><p>facilitar a comunicação. Traz desde ferramentas para produção de car-</p><p>tões e pranchas de comunicação até softwares e aplicativos para CA.</p><p>Picto TEA</p><p>É um aplicativo para celular que pode ser baixado gratuitamente. Foi</p><p>desenvolvido especialmente para auxiliar na comunicação de pessoas</p><p>com transtorno do espectro autista (TEA) por meio de pictogramas,</p><p>permitindo que cada usuário produza seus próprios catálogos de co-</p><p>municação.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>A diversidade de recursos como os citados no Quadro 3 é muito</p><p>ampla, por isso é preciso considerar as especificidades de cada sujeito,</p><p>estabelecendo-se objetivos prévios para a escolha e uso dos recursos</p><p>e estratégias. Ademais, é necessário levar em conta contextos signifi-</p><p>cativos de comunicação, uma vez que, mais do que comunicar, é pre-</p><p>ciso que haja uma interação significativa quando falamos em inclusão.</p><p>Acerca disso, Bakhtin (1986, p. 91) diz que</p><p>a comunicação verbal entrelaça-se inextricavelmente aos outros</p><p>tipos de comunicação e cresce com eles sobre o terreno comum</p><p>da situação de produção. Não se pode, evidentemente, isolar</p><p>a comunicação verbal dessa comunicação global em perpétua</p><p>evolução. Graças a esse vínculo concreto com a situação, a co-</p><p>municação verbal é sempre acompanhada por atos sociais de</p><p>caráter não verbal (gestos do trabalho, atos simbólicos de um</p><p>ritual, cerimônias, etc.), dos quais ela é muitas vezes apenas o</p><p>complemento, desempenhando um papel meramente auxiliar.</p><p>Desse modo, quando pensamos em comunicação alternativa pre-</p><p>cisamos considerar a importância do contexto e das situações de</p><p>produção para que a comunicação tenha sentido. Assim, ao propor es-</p><p>tratégias e recursos, não basta usar uma simbologia, é preciso incluí-las</p><p>num contexto significativo de comunicação.</p><p>Acesse os links indicados</p><p>para saber mais sobre o</p><p>software AmpliSoft e o</p><p>site ARASAAC</p><p>Disponíveis em:</p><p>https://amplisoft.azurewebsites.</p><p>net/.</p><p>https://arasaac.org/.</p><p>Acessos em: 29 nov. 2022.</p><p>Site</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ao analisarmos as categorias no campo da tecnologia assistiva, pode-</p><p>mos perceber a infinidade de recursos disponíveis, bem como as possibi-</p><p>lidades de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam, de</p><p>fato, alcançar sua autonomia e independência. Entretanto, para que os ar-</p><p>tefatos, recursos e serviços em tecnologia assistiva tenham funcionalidade é</p><p>preciso reconhecer as particularidades de cada usuário, além de considerar</p><p>o contexto, o ambiente e as necessidades, não só no tocante à deficiência,</p><p>https://amplisoft.azurewebsites.net/</p><p>https://amplisoft.azurewebsites.net/</p><p>https://arasaac.org/</p><p>48 Tecnologias Assistivas</p><p>mas à qualidade de vida em seu sentido amplo, desde as atividades coti-</p><p>dianas até as atividades desenvolvidas em ambientes de trabalho e lazer.</p><p>A escolha da tecnologia deve partir da situação individual de cada um.</p><p>Além disso, o uso da TA deve acompanhar o desenvolvimento tecnológico,</p><p>pois, como vimos, há uma diversidade cada vez maior de artefatos, e cada</p><p>vez mais as ferramentas estão evoluindo para um contexto mais inclusi-</p><p>vo, de modo que tanto aqueles que fazem uso desses recursos quanto</p><p>aqueles envolvidos nesse processo, como familiares e profissionais, de-</p><p>vem acompanhar essa evolução.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Atividade 1</p><p>Como a tecnologia assistiva contribui nas atividades diárias da</p><p>pessoa com deficiência? Cite dois exemplos.</p><p>Atividade 2</p><p>Sabemos que a TA auxilia na independência e na autonomia das</p><p>PcD nos diversos âmbitos da vida. E em relação à área digital, não</p><p>poderia ser diferente. Entretanto, é preciso avaliar o contexto</p><p>do usuário e as particularidades em relação à deficiência. Diante</p><p>disso, cite dois exemplos de tecnologia assistiva que facilitam</p><p>o acesso ao computador e relacione qual necessidade essa TA</p><p>atenderia.</p><p>Atividade 3</p><p>Qual a diferença entre comunicação alternativa apoiada e comuni-</p><p>cação alternativa não apoiada? Cite um exemplo de cada conceito.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BAKHTIN, M. (V. N. Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais</p><p>do Modelo Sociológico na Ciência da Linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara Frateschi</p><p>Vieira com a colaboração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz. 3. ed.</p><p>São Paulo: Hucitec, 1986.</p><p>BERSCH, R. Introdução à Tecnologia Assistiva. Porto Alegre. 2017. Disponível em: https://</p><p>www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf</p><p>https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 49</p><p>BRASIL. Portal de ajudas técnicas para a educação: equipamento e material pedagógico</p><p>para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos para</p><p>comunicação alternativa. Secretaria de Educação Especial. MEC: SEESP, 2004.</p><p>BRASIL. Tecnologia Assistiva. Comitê de Ajudas Técnicas. Subsecretaria Nacional de</p><p>Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Brasília: CORDE, 2009.</p><p>BRASIL. Ata da VII reunião do Comitê de Ajudas Técnicas (CAT). CORDE/SEDH/PR. 2007.</p><p>Disponível em: https://www.assistiva.com.br/Ata_VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_</p><p>Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>FERREIRA-DOATI, G. C.; DELIBERATO, D. Perguntas e respostas frequentes sobre comunicação</p><p>suplementar e alternativa para Fonoaudiólogos. São Paulo: Sociedade Brasileira de</p><p>Fonoaudiologia. 2021. Disponível em: https://www.sbfa.org.br/campanha-comunicacao-</p><p>suplementar-e-alternativa/pdf/faq.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A. A Tecnologia Assistiva: de que se trata? In: MACHADO, G. J. C.; SOBRAL,</p><p>M. N. (org.). Conexões: educação, comunicação, inclusão e interculturalidade. 1. ed. Porto</p><p>Alegre: Redes Editora, 2009.</p><p>GODINHO, F. Noções de acessibilidade à web. O que é acessibilidade? Acessibilidade.net,</p><p>2010. Disponível em: http://www.acessibilidade.net/web/. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>MASSARO, M.; DELIBERATO, D. Pesquisas em Comunicação Suplementar e Alternativa</p><p>na Educação Infantil. Educação & Realidade, Universidade Federal do Rio Grande do Sul –</p><p>Faculdade de Educação, v. 42, n. 4, 2017.</p><p>OLIVEIRA, T. P. de; JESUS, J. C. de. Análise de sistema de comunicação alternativa no ensino</p><p>de requisitar por autistas. Psicol. educ., n. 42, 2016. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.</p><p>org/pdf/psie/n42/n42a03.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>PERES, A. et al. Possibilidades do movimento maker e da fabricação digital para produção</p><p>de Tecnologia Assistiva. In: SONZA, A. P. (org.). Conexões Assistivas e materiais didáticos</p><p>acessíveis. 1. ed. Erechim: Graffoluz Editora, 2020.</p><p>SALTON, B. P. et al. Mouse para acesso com acionadores: modelo de baixo custo utilizando</p><p>arduino. In: SONZA, A. P. (org.). Conexões Assistivas e materiais didáticos acessíveis. 1. ed.</p><p>Erechim: Graffoluz Editora, 2020.</p><p>SANTAROSA, L. M. C. et al. Tecnologias Digitais acessíveis. Porto Alegre: JMS Comunicação</p><p>Ltda, 2010.</p><p>UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pranchas CAA Hospitalar. UFRGS,</p><p>2022. Disponível em: https://www.ufrgs.br/comacesso/pranchas-caa-hospitalar/. Acesso</p><p>em: 29 nov. 2022</p><p>VARELA, R. C. B.; OLIVER, F. C. A utilização de Tecnologia Assistiva na vida cotidiana de</p><p>crianças com deficiência. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, n. 6, p. 1773-1784, 2013.</p><p>WC3. World Wide Web Consortium. Leading the web to its full potential. 2022. Disponível</p><p>em: https://www.w3.org/. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>https://www.assistiva.com.br/Ata_VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf</p><p>https://www.assistiva.com.br/Ata_VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf</p><p>https://www.sbfa.org.br/campanha-comunicacao-suplementar-e-alternativa/pdf/faq.pdf</p><p>https://www.sbfa.org.br/campanha-comunicacao-suplementar-e-alternativa/pdf/faq.pdf</p><p>http://www.acessibilidade.net/web/</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n42/n42a03.pdf</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n42/n42a03.pdf</p><p>https://www.ufrgs.br/comacesso/pranchas-caa-hospitalar/</p><p>https://www.w3.org/.</p><p>50 Tecnologias Assistivas</p><p>3</p><p>Tecnologias assistivas no</p><p>contexto educacional</p><p>A mudança de paradigmas em relação à concepção de sujeito, de</p><p>aprendizagem e do próprio desenvolvimento se reflete no contexto</p><p>educacional. Quando tínhamos uma sociedade tradicional, firmada</p><p>no patriarcado e em uma visão de passividade, a educação tinha</p><p>como base a formação em massa, na qual as particularidades não</p><p>eram consideradas, e os padrões estabelecidos socialmente deviam</p><p>ser seguidos. Entretanto, ao passo que a ciência, a medicina e os es-</p><p>tudos evoluem, a percepção acerca do papel da cultura no desenvol-</p><p>vimento humano também evolui, e consequentemente as mudanças</p><p>de padrões constituídos socialmente refletem no contexto educacio-</p><p>nal escolar.</p><p>Nesse sentido, o atual paradigma parte da ideia de que o de-</p><p>senvolvimento não é dependente somente de fatores biológicos ou</p><p>intrínsecos ao sujeito, mas também de fatores históricos e sociais,</p><p>como o contexto em que se está inserido, as interações com o meio</p><p>e as relações estabelecidas com os outros.</p><p>Então, ao abordar o contexto educacional em uma perspectiva</p><p>inclusiva, em que as diferenças devem ser levadas em conta, é pre-</p><p>ciso analisar o papel dos artefatos culturais no desenvolvimento da</p><p>aprendizagem, especialmente buscando compreender a importância</p><p>da tecnologia assistiva (TA) nesse contexto. É preciso, ainda, refletir</p><p>sobre a função social da TA enquanto instrumento de mediação e sua</p><p>importância no desenvolvimento social e cultural das pessoas com</p><p>deficiência, levando em conta a equidade e observando os aspectos</p><p>de flexibilização do tempo e do espaço para o uso dessas tecnologias</p><p>nas práticas de inclusão educacional.</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 51</p><p>Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:</p><p>• compreender a importância do uso da TA no contexto educacional;</p><p>• analisar as possibilidades e os desafios relacionados ao uso da TA</p><p>no contexto da inclusão;</p><p>• refletir sobre a função social da TA enquanto instrumento</p><p>de</p><p>aprendizagem e sua importância no desenvolvimento social e cul-</p><p>tural das pessoas com deficiência;</p><p>• conhecer os aspectos de flexibilização do tempo e do espaço para</p><p>o uso da TA nas práticas de inclusão educacional.</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>3.1 O papel da TA na educação inclusiva</p><p>Vídeo</p><p>Quando pensamos no atual contexto educacional, pensamos tam-</p><p>bém nas transformações pelas quais as práticas pedagógicas passaram</p><p>e nas mudanças em torno da concepção de aprendizagem. Numa visão</p><p>tradicional, padrões eram estabelecidos, e diferenças individuais não</p><p>eram reconhecidas, ou seja, todos deveriam aprender da mesma for-</p><p>ma e ao mesmo tempo.</p><p>A partir das mudanças na percepção sobre o desenvolvimento hu-</p><p>mano, influenciadas pelas pesquisas de grandes estudiosos, como Sig-</p><p>mund Freud e Jean Piaget, o olhar sobre o sujeito que aprende começa</p><p>a ser valorizado, além da sua relação com o meio em que vive, ou seja,</p><p>a passividade dá lugar à atividade.</p><p>E como os estudos desses pensadores influenciaram nas mudanças</p><p>educacionais? De acordo com Nogueira e Leal (2015, p. 113):</p><p>A partir de Freud e da psicanálise, houve um novo olhar sobre o de-</p><p>senvolvimento e a aprendizagem humanos. Antes, a educação era</p><p>modeladora, ou seja, o seu objetivo era apenas treinar e transmitir</p><p>valores, sem levar em conta o desejo do aluno. Com Freud e a teoria</p><p>psicanalítica, essa ideia se inverteu e surgiu uma nova prática educa-</p><p>tiva, não repressiva e respeitadora do desejo do aluno. A partir dessa</p><p>prática, apareceram novas ideias e necessidades educativas, e pas-</p><p>sou-se a considerar o “aprender pela satisfação”, e não o “aprender</p><p>pela coerção”, como parâmetro para um processo de ensino apren-</p><p>dizagem mais prazeroso e, consequentemente, mais significativo.</p><p>Sigmund Freud (1856-</p><p>1939) é considerado o</p><p>“pai da psicanálise”. Foi</p><p>um médico neurologista</p><p>austríaco, que teve gran-</p><p>de influência nos estudos</p><p>da psicologia.</p><p>Biografia</p><p>52 Tecnologias Assistivas</p><p>Já Piaget desenvolveu a teoria conhecida como epistemologia ge-</p><p>nética, em que se estudou a origem do conhecimento. Epistemologia</p><p>significa conhecimento científico e genética, gênese e origem, ou seja,</p><p>sua teoria tem como foco o indivíduo em seu processo de construção</p><p>de conhecimento (sujeito epistêmico). Suas descobertas auxiliaram na</p><p>compreensão do processo de aprendizagem, e os estágios de desen-</p><p>volvimento passaram a ser considerados na educação por meio de</p><p>metodologias baseadas em desafios e situações-problema. Para ele,</p><p>a educação tinha um papel determinante na construção do conheci-</p><p>mento e no desenvolvimento das estruturas mentais (NOGUEIRA; LEAL,</p><p>2015). Essa teoria deu origem à concepção construtivista no campo</p><p>educacional, com propostas pedagógicas baseadas em situações-pro-</p><p>blema e voltadas à valorização do aluno enquanto sujeito da sua apren-</p><p>dizagem, sendo o professor um facilitador.</p><p>Assim, novos olhares na educação começam a se estabelecer, ga-</p><p>nhando uma ênfase interacionista, e, a partir dos estudos sociointera-</p><p>cionistas, chegamos à concepção de educação que temos hoje.</p><p>A visão sociointeracionista tem embasamento na teoria sociocul-</p><p>tural de Vygotsky – considerado um dos mais importantes teóricos no</p><p>contexto educacional –, que é pautada numa perspectiva histórica, so-</p><p>cial e cultural de desenvolvimento. Nessa perspectiva, valorizam-se as</p><p>especificidades de cada sujeito, de modo que não basta somente con-</p><p>siderar a interação com o meio, mas também o contexto e a mediação</p><p>nos processos educacionais. Portanto, em uma perspectiva inclusiva,</p><p>não é mais o sujeito quem porta a limitação, pois esta diz respeito à</p><p>sociedade, ou seja, é a sociedade que é deficiente de acessibilidade e</p><p>igualdade de oportunidades.</p><p>Embora Piaget e Vygotsky tenham vivido na mesma época, seus fo-</p><p>cos de estudo foram diferentes. Piaget se ateve a estudar o desenvol-</p><p>vimento infantil, indicando que primeiro a criança se desenvolve para</p><p>depois atingir a aprendizagem, não focando as implicações do ensino e</p><p>das intervenções pedagógicas no desenvolvimento e na aprendizagem.</p><p>Já Vygotsky conferiu à aprendizagem um papel essencial no desenvol-</p><p>vimento, ou seja, a criança se desenvolve à medida que aprende, de</p><p>modo que a interação com o outro ocupa um lugar de destaque no</p><p>desenvolvimento e na aprendizagem. Ele se preocupou sobremaneira</p><p>com a valorização do papel da escola e do professor na formação do</p><p>sujeito, sendo a escola um lugar privilegiado nessa formação.</p><p>Jean William Fritz Piaget</p><p>(1896-1980) é considera-</p><p>do um dos mais impor-</p><p>tantes pensadores do</p><p>século XX. Defendeu uma</p><p>abordagem interdiscipli-</p><p>nar para a investigação</p><p>epistemológica.</p><p>Biografia</p><p>Lev Semenovitch Vygotsky</p><p>(1896-1934) foi um reno-</p><p>mado psicólogo russo que</p><p>trouxe grandes contri-</p><p>buições para a educação,</p><p>sobretudo em relação à</p><p>mudança de paradigmas.</p><p>Biografia</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 53</p><p>Além disso, Vygotsky desenvolveu estudos ressaltando a importân-</p><p>cia dos artefatos culturais como elementos determinantes no desen-</p><p>volvimento humano e fundamentais no processo de aprendizagem, o</p><p>que trouxe implicações importantes em relação à visão sobre a defi-</p><p>ciência, à inclusão e às diferenças individuais.</p><p>Sua teoria sociocultural, também conhecida como sócio-histórica,</p><p>trouxe definições importantes para a compreensão da relação entre de-</p><p>senvolvimento e aprendizagem, contrariando teorias anteriores que pres-</p><p>supunham que para aprender o sujeito já deveria ter se desenvolvido:</p><p>O aprendizado adequadamente organizado resulta em um desen-</p><p>volvimento mental e põe em movimento vários processos de desen-</p><p>volvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.</p><p>Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do pro-</p><p>cesso de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente</p><p>organizadas e especificamente humanas. (VYGOTSKY, 2010, p. 103)</p><p>Por isso podemos dizer que a teoria de Vygotsky é tão importante</p><p>para compreender os pressupostos da inclusão, pois leva em conta as</p><p>potencialidades e não os aspectos biológicos como determinantes do</p><p>desenvolvimento. É por esta e outras abordagens por ele inferidas que,</p><p>mesmo tendo desenvolvido seus estudos no início do século XX, suas</p><p>ideias são pertinentes na atualidade e essenciais no contexto inclusivo.</p><p>No entanto, quando falamos em pessoa com deficiência (PcD), a vi-</p><p>são de normalização predominou ainda por muito tempo, até que o</p><p>olhar sobre as limitações passasse a ser em torno da sociedade e não</p><p>dos sujeitos. Segundo Mendes (2006), o princípio da normalização es-</p><p>tava pautado no pressuposto de que qualquer pessoa com deficiência</p><p>teria o direito de inserir-se no padrão de vida considerado comum ou</p><p>normal à sua cultura. Assim, por muito tempo levou-se em considera-</p><p>ção de que primeiro as pessoas deveriam adequar-se educacionalmen-</p><p>te aos contextos escolares para que pudessem aprender.</p><p>Vamos dar uma pausa para refletir se essa visão realmente deixou de</p><p>predominar na nossa sociedade.</p><p>O que você percebe predominar no meio em que você vive: a visão sob a</p><p>deficiência, ou a visão sob a potencialidade e a diferença?</p><p>Qual o lugar das pessoas com deficiência hoje na nossa sociedade?</p><p>Por que é tão difícil a constituição real da inclusão?</p><p>?</p><p>Para pensar sobre estas questões, Skliar (2003, p. 158), ainda tão</p><p>contemporâneo, nos traz uma importante reflexão do olhar sobre a</p><p>deficiência, construído historicamente e que ainda predomina nas prá-</p><p>ticas educacionais, ainda que se preconize a inclusão:</p><p>a deficiência não é uma questão biológica, mas uma retórica cul-</p><p>tural. A deficiência não é um problema dos deficientes e/ou de</p><p>suas famílias e/ou dos especialistas. A deficiência está relaciona-</p><p>da à ideia mesma da normalidade e à sua historicidade.</p><p>Então, para mudarmos esse olhar, é preciso partir do conceito de al-</p><p>teridade, tão referenciado por Skliar (2003), que significa olhar o outro</p><p>a partir do outro, de seu lugar, levando em conta as diferenças, e não a</p><p>partir dos nossos conceitos e concepções.</p><p>Pautada</p><p>nessa visão é que se constitui um dos documentos mais</p><p>importantes relacionados à inclusão, a Declaração de Salamanca (SALA-</p><p>MANCA, 1994, p. 1), o qual menciona que “toda criança possui caracterís-</p><p>ticas, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são</p><p>únicas.” E já nesta declaração foi recomendado o uso de artefatos cultu-</p><p>rais tecnológicos no contexto educacional, considerando as diferenças:</p><p>Tecnologia apropriada e viável deveria ser usada quando neces-</p><p>sário para aprimorar a taxa de sucesso no currículo da escola e</p><p>para ajudar na comunicação, mobilidade e aprendizagem. Auxí-</p><p>lios técnicos podem ser oferecidos de modo mais econômico e</p><p>efetivo se eles forem providos a partir de uma associação central</p><p>em cada localidade, onde haja know-how que possibilite con-</p><p>jugação de necessidades individuais e assegure a manutenção.</p><p>(SALAMANCA, 1994, p. 9)</p><p>wa</p><p>ve</p><p>br</p><p>ea</p><p>km</p><p>ed</p><p>ia</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>5454 Tecnologias AssistivasTecnologias Assistivas</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 55</p><p>Você conhece a Declaração de Salamanca?</p><p>A Declaração de Salamanca é um dos documentos mais importantes reco-</p><p>nhecidos mundialmente quando falamos em inclusão. Trata dos princípios,</p><p>políticas e práticas na área da Educação Especial, numa perspectiva inclu-</p><p>siva, e ressalta que toda criança apresenta necessidades de aprendizagens</p><p>únicas, o que demanda que os sistemas educacionais levem em considera-</p><p>ção a diversidade e as necessidades individuais.</p><p>É nessa perspectiva que os recursos de tecnologias assistivas podem</p><p>ser considerados artefatos culturais importantes ao passo que atuam</p><p>no desenvolvimento das pessoas, tanto como recursos e serviços de</p><p>acessibilidade quanto como elementos de mediação, atuando como</p><p>potencializadores das capacidades. Além disso, devem ser reconheci-</p><p>dos como possibilidades de rotas alternativas para o desenvolvimento</p><p>de modo que, assim como afirma Galvão Filho (2012), a tecnologia as-</p><p>sistiva atua como instrumento de medicação, abrindo novos caminhos</p><p>para a aprendizagem e o desenvolvimento, e ao mesmo tempo empo-</p><p>derando o sujeito diante das adaptações proporcionadas.</p><p>Em concordância, como afirma Cerutti (2020), a tecnologia assistiva</p><p>permite ampliar as habilidades e superar as limitações dos indivíduos,</p><p>podendo ser adaptadas para diferentes áreas e com diferentes objeti-</p><p>vos. Portanto, não é só no aspecto da acessibilidade que os recursos</p><p>de TA devem ser considerados, mas também como meio de acesso e</p><p>ampliação do conhecimento, já que os recursos tecnológicos hoje são</p><p>também ferramentas que auxiliam na aprendizagem e na construção</p><p>do conhecimento. De acordo com Galvão Filho (2012, p. 2):</p><p>As possibilidades tecnológicas hoje existentes disponibilizam di-</p><p>ferentes alternativas e concepções pedagógicas, para além de</p><p>meras ferramentas ou suportes para a realização de determi-</p><p>nadas tarefas, se constituem, elas mesmas, em realidades que</p><p>configuram novos ambientes de construção e produção de co-</p><p>nhecimentos, que geram e ampliam os contornos de uma lógica</p><p>diferenciada nas relações do homem com os saberes e com os</p><p>processos de aprendizagem e tornam-se condição indispensável</p><p>para a retomada de relevância do papel social e da construção</p><p>de uma escola verdadeiramente inclusiva.</p><p>No entanto, a simples presença da TA nos espaços educacionais não</p><p>garante a inclusão e a autonomia das PcD. Ela deve ser vista como pos-</p><p>sibilidade de superação das barreiras impostas socialmente e acima de</p><p>No site Diversa, você</p><p>poderá encontrar uma</p><p>infinidade de publicações</p><p>sobre a educação inclu-</p><p>siva, desde conteúdos</p><p>teóricos e exemplos</p><p>práticos de experiências</p><p>até modelos de materiais</p><p>pedagógicos que podem</p><p>colaborar no processo de</p><p>ensino.</p><p>Disponível em: https://diversa.org.</p><p>br/. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>Site</p><p>https://diversa.org.br/</p><p>https://diversa.org.br/</p><p>56 Tecnologias Assistivas</p><p>tudo como um direito, mas é preciso que os envolvidos no processo</p><p>educacional conheçam sua funcionalidade e aplicabilidade e reconhe-</p><p>çam os diferentes contextos de uso dos recursos e dos serviços dispo-</p><p>níveis, considerando as especificidades de cada sujeito.</p><p>3.2 Desafios e possibilidades</p><p>Vídeo Certamente já avançamos muito em relação à acessibilidade e à</p><p>igualdade de oportunidades em nossa sociedade, podendo perceber</p><p>esse avanço ao olharmos, por exemplo, os espaços públicos, como</p><p>bancos, hospitais e calçadas. Além disso, as leis e os decretos também</p><p>demonstram avanços.</p><p>No entanto, há de se pensar nos aspectos a serem superados,</p><p>que vão além do uso das ferramentas tecnológicas disponíveis para</p><p>que a TA esteja presente de modo efetivo no contexto escolar. Nes-</p><p>se sentido, o Livro Branco de Tecnologia Assistiva no Brasil ressalta os</p><p>desafios encontrados pelas pessoas com deficiência desde a usabi-</p><p>lidade até a divulgação dos produtos e serviços de TA nos diversos</p><p>âmbitos sociais (DELGADO GARCÍA; ITS BRASIL, 2017). Esse livro foi</p><p>elaborado com o intuito de orientar ações e investimentos na área</p><p>de TA no Brasil a fim de superar os diversos desafios encontrados</p><p>pelas PcD no seu cotidiano. Também é um referencial importante</p><p>no que se trata de conceitos e normativas relacionados a esta área.</p><p>Como nosso foco aqui é o meio educacional, destacamos, então, al-</p><p>guns dos principais desafios relacionados à educação, seguidos de</p><p>propostas abordadas no referido material:</p><p>• Quanto à usabilidade: falta de exploração dos produtos e ser-</p><p>viços; formação insuficiente de profissionais para atuar com a</p><p>TA, tanto no ensino quanto na manutenção dos produtos dispo-</p><p>níveis; incompatibilidade entre os recursos de informática e os</p><p>sistemas disponibilizados no sistema escolar; desconhecimento</p><p>sobre o uso de recursos por parte dos usuários.</p><p>Para isso, propõe-se que sejam intensificadas as pesquisas e a</p><p>oferta de serviços e produtos compatíveis com as mais diversas</p><p>deficiências; que se amplie a formação tanto dos profissionais</p><p>quanto dos usuários no que se refere ao uso e manutenção dos</p><p>recursos de TA.</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacionalTecnologias assistivas no contexto educacional 5757</p><p>• Quanto ao acesso: carência de recursos que garantam a aces-</p><p>sibilidade, tanto por conta dos altos impostos (no caso de TA de</p><p>alto custo) quanto pela falta de instalação e manutenção de pro-</p><p>dutos disponibilizados; falta de espaços adequados para o uso</p><p>de tecnologias.</p><p>Para vencer este desafio é necessário que haja ampliação de sub-</p><p>sídios para a oferta de recursos.</p><p>• Quanto à concessão: falta de rede estruturada para concessão</p><p>de produtos de TA, bem como falta de clareza quanto ao uso</p><p>dos recursos.</p><p>Para esse desafio, é preciso que se amplie as políticas públicas</p><p>em relação à concessão de serviços e produtos, e que empresas</p><p>sejam envolvidas e incentivadas a ofertar tais produtos e serviços.</p><p>• Quanto ao mercado, produção e desenvolvimento: carência</p><p>de empresas especializadas em TA, bem como pouca diversidade</p><p>de produtos disponíveis no mercado; falta de incentivo fiscal para</p><p>produção de recursos; pouca concorrência entre empresas.</p><p>Assim, incentivos são necessários para criação de novas em-</p><p>presas especializadas e fortalecimento do mercado já disponí-</p><p>vel, além disso, o envolvimento das pessoas com deficiência é</p><p>fundamental.</p><p>• Quanto ao conhecimento e formação: falta de conhecimento</p><p>por parte dos profissionais e das pessoas com deficiência sobre o</p><p>amplo mercado e as possibilidades de desenvolvimento de TA de</p><p>baixo custo; falta de divulgação de informações sobre os direitos</p><p>de acessibilidade; falta de adaptação profissional aos novos de-</p><p>senvolvimentos na área educacional.</p><p>É imprescindível ampliar e difundir a divulgação de informações</p><p>sobre a área de TA, bem como promover ações que ensinem</p><p>como usar os recursos disponíveis e também como produzir tec-</p><p>nologias de baixo custo. Além disso, a temática deveria ser en-</p><p>volvida na formação de desenvolvedores na área de informática.</p><p>Quando falamos em TA, ainda temos muitos obstáculos no con-</p><p>texto educacional a serem</p><p>superados, pois caminhamos lentamente</p><p>em relação às transformações sociais. Entretanto, é possível obser-</p><p>58 Tecnologias Assistivas</p><p>var alguns avanços, como as metodologias ativas, atualmente bas-</p><p>tante referenciadas e apontadas como estratégias de ensino nos</p><p>contextos educacionais. Essas metodologias se baseiam na valoriza-</p><p>ção das experiências do aluno como ponto de partida para a apren-</p><p>dizagem, visando à autonomia, à participação e à motivação (DIESEL;</p><p>BALDEZ; MARTINS, 2017).</p><p>Fazer uso de novas formas de aprendizagem que possibilitem a autonomia e a</p><p>motivação no contexto educacional é um ponto-chave para desvincular-se dos pa-</p><p>drões tradicionais de educação, abrindo espaço, então, para o uso das tecnologias,</p><p>que modificam sobremaneira o aprendizado e a construção do conhecimento.</p><p>Assim, podemos fazer referência às tecnologias de informação e</p><p>comunicação (TIC) 1 , as quais trazem novas possibilidades de ensino,</p><p>de aprendizagem e de acessibilidade. Além disso, no contexto educa-</p><p>cional inclusivo, mostram-se frequentemente como recursos de tec-</p><p>nologia assistiva, pois permitem que haja uma forma de organização</p><p>diferenciada de acesso às informações, ao currículo e às práticas de-</p><p>senvolvidas em sala de aula, podendo atender diferentes especifici-</p><p>dades e condições.</p><p>Giroto, Poker e Omote (2012, p. 21) destacam algumas vantagens</p><p>em relação ao uso das TIC nas práticas de sala de aula:</p><p>a individualização do ensino respeitando o ritmo e o tempo de</p><p>realização de atividade de cada aluno; a flexibilidade que viabiliza</p><p>o uso de canais sensoriais distintos; a avaliação contínua e dinâ-</p><p>mica; a auto avaliação; a manutenção da mesma atividade/exer-</p><p>cício de acordo com as necessidades educacionais do aluno; o</p><p>ajuste do nível de complexidade da atividade; o desenvolvimento</p><p>de hábitos e de disciplina para sua utilização; a motivação, pois</p><p>podem ser inseridos temas, cores, figuras, formas que atendem</p><p>aos interesses dos alunos estimulando-os, de diferentes manei-</p><p>ras, a realizar as atividades propostas, entre outras.</p><p>Nesse aspecto, então, as TIC mostram-se como aliadas às práti-</p><p>cas educacionais inclusivas. Entretanto, é preciso atentar-se para não</p><p>retomar uma visão segregadora ao propiciar a individualidade no</p><p>trabalho com as TIC, já que elas também podem ser concebidas em</p><p>contextos de interação. Sobre isso, Rodrigues (2012) traz algumas re-</p><p>comendações sobre o uso das TIC no contexto educacional inclusivo.</p><p>As TIC estão associadas a</p><p>um conjunto de recursos</p><p>que vão desde TV e rádio</p><p>até ferramentas relaciona-</p><p>das à área computacional,</p><p>que possibilitam acesso à</p><p>informação e comunica-</p><p>ção (SCHEMBERG, 2018).</p><p>1</p><p>Primeiramente, sugere-se que a escola, sobretudo os professores, co-</p><p>nheçam os recursos tecnológicos, para que assim possam desenvol-</p><p>ver propostas inclusivas envolvendo todos os alunos, valorizando as</p><p>diferenças e promovendo a cooperação entre eles. Outra orientação</p><p>é para que haja troca de experiências entre os profissionais da educa-</p><p>ção, criação de projetos e planejamentos colaborativos, e, sobretudo,</p><p>o incentivo à pesquisa por meio da tecnologia.</p><p>Percebemos, assim, inúmeras possibilidades de aliar diversos re-</p><p>cursos tecnológicos disponíveis hoje à tecnologia assistiva e propiciar</p><p>a igualdade de oportunidades. Entretanto, a concepção que norteia</p><p>as práticas educacionais não deve estar atrelada à limitação ou à defi-</p><p>ciência, como esteve por muitos anos e muitas vezes ainda está, mas</p><p>sim pautada numa visão social e cultural de sujeito, em que as adap-</p><p>tações devem partir da sociedade e, neste caso, da escola. É preciso</p><p>vislumbrar uma educação que tenha como ponto de partida uma vi-</p><p>são sociocultural, em que o desenvolvimento e a aprendizagem não</p><p>sejam percebidos por meio de fatores biológicos.</p><p>Portanto, por mais que haja a presença dos artefatos tecnoló-</p><p>gicos, projetos, discursos e parâmetros pressupondo uma prática</p><p>inclusiva, se as ações metodológicas, as práticas de sala de aula e</p><p>até mesmo os espaços educacionais não se adequarem a essa visão,</p><p>a educação continuará engessada num ensino tradicional. Por isso,</p><p>ao se pensar no contexto da tecnologia assistiva, é preciso, antes de</p><p>mais nada, reconhecer a relação entre aprendizagem e o desenvol-</p><p>vimento cultural.</p><p>O livro As tecnologias</p><p>nas práticas pedagógicas</p><p>inclusivas é constituído</p><p>por diversos textos sobre</p><p>a tecnologia no contexto</p><p>educacional inclusivo. Traz</p><p>discussões e pesquisas</p><p>sobre TIC, TA e tecno-</p><p>logia enquanto recurso</p><p>pedagógico e apontamen-</p><p>tos importantes sobre o</p><p>papel do professor frente</p><p>ao contexto da tecnologia</p><p>na escola. Entre os auto-</p><p>res que compõem o livro,</p><p>Galvão Filho é um dos que</p><p>merece destaque, por ser</p><p>ele uma grande referência</p><p>quando falamos de TA.</p><p>GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.;</p><p>OMOTE, S. (org.). São Paulo: Cultura</p><p>Acadêmica, 2012.</p><p>Livro</p><p>Go</p><p>ro</p><p>de</p><p>nk</p><p>of</p><p>f/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Go</p><p>ro</p><p>de</p><p>nk</p><p>of</p><p>f/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacionalTecnologias assistivas no contexto educacional 5959</p><p>60 Tecnologias Assistivas</p><p>3.3 Aprendizagem e desenvolvimento</p><p>sociocultural Vídeo</p><p>Somos seres constituídos pela cultura. É nas relações estabelecidas</p><p>socialmente que também formamos nossos conceitos, e é na mediação</p><p>estabelecida por outro sujeito e até mesmo por instrumentos que al-</p><p>cançamos a aprendizagem. É nesse sentido que, para Vygotsky (2010),</p><p>os instrumentos culturais são determinantes na formação das funções</p><p>psicológicas superiores, que estão relacionadas à memória, atenção,</p><p>pensamento, formação de conceitos, linguagem, enfim, a tudo que or-</p><p>ganiza a estrutura mental dos sujeitos. Para ele, “o uso de meios artifi-</p><p>ciais muda, fundamentalmente, todas as operações psicológicas, assim</p><p>como o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de ati-</p><p>vidades em cujo interior as novas funções psicológicas podem operar”</p><p>(VYGOTSKY, 2010, p. 56).</p><p>Que tal refletir um pouco sobre o quanto a cultura e os fatores sociais</p><p>influenciam no nosso desenvolvimento?</p><p>?</p><p>Para compreender, de fato, o quanto a teoria sociocultural é im-</p><p>portante quando abordamos a temática da tecnologia assistiva e o</p><p>desenvolvimento das potencialidades, é fundamental conhecermos</p><p>alguns conceitos deixados por Vygotsky. Esses conceitos nos ajudam</p><p>a compreender as justificativas da educação inclusiva e entender a</p><p>mudança de olhar, não só sobre os processos de ensino-aprendiza-</p><p>gem, mas também sobre as pessoas com deficiência e o papel da</p><p>tecnologia assistiva para o seu desenvolvimento. Entre os termos</p><p>mais importantes quando se faz referência à teoria de Vygotsky</p><p>(2010), merece destaque a zona de desenvolvimento proximal</p><p>(ZDP) (Figura 1).</p><p>Essa zona é a distância entre o nível de desenvolvimento real,</p><p>relacionado às tarefas que o sujeito já consegue desenvolver sozi-</p><p>nho, e o nível de desenvolvimento potencial, relacionado às tarefas</p><p>que o sujeito pode vir a desenvolver no futuro, mas que ainda pre-</p><p>cisa de ajuda.</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 61</p><p>Figura 1</p><p>Zona de desenvolvimento proximal</p><p>Cooperação Mediação</p><p>Artefatos</p><p>culturais</p><p>Tecnologias</p><p>assistivasSolução independente de</p><p>problemas</p><p>O que a criança consegue</p><p>fazer por si mesma</p><p>Solução de problemas a partir</p><p>de mediação/cooperação</p><p>O que a criança é capaz</p><p>de fazer com ajuda</p><p>ZONA DE</p><p>DESENVOLVIMENTO</p><p>PROXIMAL</p><p>Nível de</p><p>desenvolvimento</p><p>real</p><p>Nível de</p><p>desenvolvimento</p><p>potencial</p><p>PU</p><p>W</p><p>AD</p><p>ON</p><p>S</p><p>AN</p><p>G/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Fonte: Elaborada pela autora com base em Vygotsky, 2010.</p><p>Portanto, para que se alcance o desenvolvimento potencial é preci-</p><p>so que haja uma atuação na ZDP por meio da mediação e da interação,</p><p>tanto com outros sujeitos mais experientes quanto com o uso dos arte-</p><p>fatos culturais. Neste contexto, Vygotsky (2010) destaca o aprendizado</p><p>como elemento essencial para o desenvolvimento, pois ele atua justa-</p><p>mente na ZDP, despertando vários processos de desenvolvimento.</p><p>Na prática, vamos pensar em uma criança com transtorno do espectro</p><p>autista (TEA) ou que,</p><p>por alguma deficiência, apresente comprometi-</p><p>mento relacionado ao desenvolvimento da fala: como seria seu desen-</p><p>volvimento sem o uso das tecnologias hoje disponíveis?</p><p>?</p><p>Há uma infinidade de aplicativos para dispositivos móveis que</p><p>possibilitam e facilitam a comunicação das pessoas com dificulda-</p><p>des nessa área, atuando, neste sentido, como tecnologia assistiva.</p><p>Podemos referir também os aplicativos de mensagens de texto, um</p><p>Que tal fazer uma busca</p><p>na loja de aplicativos do</p><p>seu celular? Você encon-</p><p>trará diversos aplicativos</p><p>que auxiliam na comuni-</p><p>cação, como o SPE@K.</p><p>Dica</p><p>meio de interação que hoje vai muito além da troca de mensagens</p><p>escritas, pois possibilitam diversas formas de comunicação. Imagi-</p><p>ne para as pessoas surdas o quanto esses aplicativos representam?</p><p>E para as pessoas cegas, que podem fazer uso de mensagem por</p><p>áudio? O próprio celular, enquanto ferramenta, acaba por anular a</p><p>limitação na comunicação, sendo assim também reconhecido como</p><p>TA nesse contexto.</p><p>A diversidade de recursos digitais disponíveis para auxiliar na comu-</p><p>nicação e nas práticas de leitura e escrita favorece tanto a participação</p><p>social quanto as possibilidades de aprendizagem. Assim, os recursos</p><p>de TA são elementos determinantes no desenvolvimento, tendo um</p><p>papel muito além de mero instrumento de acessibilidade, pois atuam</p><p>como elementos de compensação, outro termo essencial para ser</p><p>compreendido na teoria sociocultural quando falamos dos artefatos</p><p>culturais no contexto da PcD.</p><p>Ao tratar da defectologia, ou seja, o estudo do desenvolvimento</p><p>e educação da PcD, Vygotsky (1997) refere-se à compensação, de</p><p>modo que esta, para ele, não diz respeito aos fatores biológicos,</p><p>como exemplo, quando uma pessoa, por ser cega, tem a audição</p><p>mais “aguçada” e a noção espacial mais desenvolvida, já que estas</p><p>ocorrem naturalmente, devido à plasticidade cerebral 2 ; mas o que</p><p>Vygotsky realmente atrela à compensação é o fato de que diante de</p><p>uma deficiência ou de uma limitação, é possível, por vias indiretas,</p><p>encontrar possibilidades desenvolvidas culturalmente, para alcan-</p><p>çar o desenvolvimento.</p><p>A limitação causada pela deficiência não deve, então, ser perce-</p><p>bida como um entrave para o desenvolvimento, já que caminhos</p><p>alternativos podem ser estimulados e novas formas de aprendi-</p><p>zagem podem ser exploradas. Essa é a grande diferença na teoria</p><p>sociocultural: a valorização das potencialidades por meio do desen-</p><p>volvimento cultural, destacando novas vias de acesso e caminhos</p><p>alternativos, desprendendo-se do foco na deficiência em si. É nesse</p><p>sentido que fazer uso dos artefatos como elementos de compensa-</p><p>ção para a superação das limitações é um dos primeiros fatores a</p><p>serem considerados pelos profissionais envolvidos no processo edu-</p><p>cacional inclusivo.</p><p>A plasticidade cerebral é</p><p>a capacidade que nosso</p><p>cérebro tem de se reorga-</p><p>nizar neurologicamente,</p><p>ou seja, a cada nova ex-</p><p>periência, novas conexões</p><p>neurológicas acontecem.</p><p>Isso implica dizer que</p><p>todo aprendizado inter-</p><p>fere no desenvolvimento</p><p>cerebral, contribuindo</p><p>para a plasticidade. Se-</p><p>gundo Dorneles, Cardoso</p><p>e Carvalho (2012), nosso</p><p>cérebro é mutável e tem a</p><p>capacidade de se adaptar</p><p>a novas situações, o que</p><p>justifica a plasticidade</p><p>cerebral.</p><p>2</p><p>6262 Tecnologias AssistivasTecnologias Assistivas</p><p>M</p><p>ot</p><p>or</p><p>tio</p><p>n</p><p>Fi</p><p>lm</p><p>s/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A leitura do artigo A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação</p><p>da criança anormal, de Lev Semenovitch Vygotsky, traduzido diretamente</p><p>do russo e publicado na revista Educação e Pesquisa, é importante para</p><p>compreender conceitos discutidos nesta seção, além de nos trazer um</p><p>esclarecimento sobre o quanto a questão sociocultural é importante para</p><p>a constituição de uma escola inclusiva e também para compreender as</p><p>mudanças conceituais em relação às pessoas com deficiência e o papel dos</p><p>artefatos culturais no seu desenvolvimento.</p><p>Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>https://www.scielo.br/j/ep/a/x987G8H9nDCcvTYQWfsn4kN/?lang=pt.</p><p>Artigo</p><p>Para entender essa parte fundamental da teoria de Vygotsky sobre</p><p>a deficiência e a compensação, vamos ler o trecho a seguir e observar</p><p>a relação com a imagem.</p><p>Quem acredita que o defeito da cegueira é compensado pela</p><p>educação da audição e do tato, engana-se, coloca-se inteiramen-</p><p>te no antigo ponto de vista e fora do âmbito da pedagogia social.</p><p>A compensação biológica deve ser substituída pela ideia da com-</p><p>pensação social do defeito. (VYGOTSKY, 1997, p. 83)</p><p>Vygotsky (1997), pautado no desenvolvimento cultural, se deteve</p><p>a estudar e descrever aspectos da deficiência, desprendendo-se dos</p><p>fatores biológicos, os quais por muito tempo conceberam às PcD um</p><p>lugar segregador. Ele defende as formas culturais de ensino criadas por</p><p>caminhos indiretos de desenvolvimento, por exemplo, o caminho ideal</p><p>no processo educacional de cegos é pela escrita em braile ao invés da</p><p>escrita à tinta.</p><p>Neste sentido, os estudos de Vygotsky sobre a defectologia deno-</p><p>tam uma visão social sobre a deficiência, em que a limitação está re-</p><p>lacionada à sociedade, à falta de acessibilidade, à não aceitação das</p><p>diferenças. Nessa visão, a aprendizagem deve ser pautada na valoriza-</p><p>ção das potencialidades por meio do desenvolvimento cultural, prezan-</p><p>do novas vias de acesso e caminhos alternativos para a aprendizagem,</p><p>desprendendo-se do foco da deficiência em si.</p><p>Sua teoria nos traz uma importante reflexão para além da inclusão,</p><p>de modo que se as barreiras e os padrões estabelecidos socialmente</p><p>forem superados, há de se chegar o dia em que “A educação social</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacionalTecnologias assistivas no contexto educacional 6363</p><p>https://www.scielo.br/j/ep/a/x987G8H9nDCcvTYQWfsn4kN/?lang=pt</p><p>64 Tecnologias Assistivas</p><p>vai superar o defeito, então provavelmente não se entenderá que uma</p><p>criança cega é deficiente, mas que uma criança cega é cega e que uma</p><p>criança surda é surda, e nada mais” (VYGOTSKY, 1997, p. 82). É neste</p><p>aspecto que a educação tem um papel fundamental, levando em conta</p><p>que a escola é um local privilegiado para o desenvolvimento, tanto so-</p><p>cial quanto cognitivo.</p><p>Você consegue perceber, no contexto atual em que vivemos, se já esta-</p><p>mos caminhando para essa realidade que Vygotsky pressupôs há tanto</p><p>tempo?</p><p>?</p><p>Além desses desafios explanados, há outros que se referem especi-</p><p>ficamente ao contexto da escola enquanto instituição. Há muito que se</p><p>observar quanto às adequações necessárias para que a inclusão ocorra</p><p>de fato.</p><p>Não podemos pensar no uso da TA se a concepção de educação</p><p>ainda estiver pautada num ensino tradicional, não é mesmo? Então,</p><p>pensar em tecnologia assistiva, acessibilidade, inclusão e desenvolvi-</p><p>mento cultural exige uma mudança em relação à concepção do tempo</p><p>e do espaço no contexto educacional, além de diversos outros aspectos</p><p>característicos de um ensino tradicional, que vão desde a concepção de</p><p>aluno (sujeito das ações ou mero receptor) até a concepção de aprendi-</p><p>zagem (ensino padronizado ou diversas possibilidades).</p><p>3.4 O tempo e o espaço escolar</p><p>Vídeo</p><p>Antes de iniciarmos a discussão, convém destacar algumas ideias</p><p>de Rubem Alves sobre o contexto escolar. Ele foi um importante teóri-</p><p>co que atuou como educador e psicanalista e que, ao abordar o papel</p><p>da escola, fez grandes críticas tanto à estrutura dos espaços escolares</p><p>quanto à visão sobre o sujeito e a aprendizagem que se estabelece no</p><p>meio educacional. Para ele, os espaços escolares deveriam ser locais</p><p>agradáveis e que valorizassem a aprendizagem significativa para a vida,</p><p>e não baseados em formatos padronizados e predefinidos. Nas pala-</p><p>vras de Rubem Alves (2006, p. 36):</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 65</p><p>Nossas escolas são constituídas segundo o modelo das linhas de montagem.</p><p>Escolas são fábricas organizadas para a produção de unidades biopsicológi-</p><p>cas móveis, portadoras de conhecimento e habilidades. Esses conhecimentos</p><p>e habilidades são definidos por agências governamentais a quem se conferiu</p><p>autoridade</p><p>para isso. Os modelos estabelecidos por tais agências são obriga-</p><p>tórios e têm força de leis. Unidades biopsicológicas móveis que, ao final do</p><p>processo, não estejam de acordo com tais modelos são descartadas. É sua</p><p>igualdade que atesta a qualidade do processo. Não havendo passado no teste</p><p>da qualidade-igualdade, elas não recebem os certificados de excelência ISSO-</p><p>12.000, vulgarmente denominados diplomas. As unidades biopsicológicas</p><p>móveis são aquilo que vulgarmente recebe o nome de “alunos”.</p><p>Essa concepção de escola, retratada por Alves, parece-nos ultrapas-</p><p>sada e desatualizada diante do nosso atual contexto, não é mesmo? No</p><p>entanto, traz uma crítica em relação à constituição dos espaços esco-</p><p>lares e da concepção de aluno que ainda norteia os contextos escola-</p><p>res. Apesar de a obra já ter sido publicada há alguns anos – a primeira</p><p>edição foi publicada em 2001 –, cabe questionar se esse formato ainda</p><p>não se faz presente na nossa sociedade. Se analisarmos desde a estru-</p><p>tura física até as práticas de sala de aula, ainda que haja a presença das</p><p>tecnologias, será que essas concepções deixaram de existir?</p><p>Muito já se avançou em relação ao contexto educacional, mas será que</p><p>realmente os espaços escolares evoluíram na mesma medida que os</p><p>paradigmas educacionais?</p><p>?</p><p>O tempo e o espaço escolar são aspectos importantes a serem con-</p><p>siderados quando falamos em mudanças de paradigmas, sobretudo</p><p>em um contexto educacional inclusivo.</p><p>Sobre a concepção de tempo e espaço, Almeida (2008, p. 7) men-</p><p>ciona que “são elos de uma mesma corrente de formação; ambos</p><p>orientam condutas e organizam atividades, determinam o aceitável e</p><p>o impróprio, permitem e negam determinados comportamentos”, sen-</p><p>do estabelecidos conforme o que se prega cientificamente em cada</p><p>momento. Esses dois elementos são constituídos histórica e cultural-</p><p>mente, porém, ao longo das mudanças de paradigmas educacionais e</p><p>diante do avanço nas concepções de ensino e aprendizagem, poucas</p><p>O livro A escola com que</p><p>sempre sonhei sem ima-</p><p>ginar que pudesse existir,</p><p>de Rubem Alves, traz</p><p>narrativas e depoimentos</p><p>do autor sobre a Escola</p><p>da Ponte, de Portugal,</p><p>descrevendo experiên-</p><p>cias educacionais com</p><p>as quais teve contato e</p><p>fazendo uma analogia</p><p>com a educação presente</p><p>em nossas escolas bra-</p><p>sileiras. O livro não trata</p><p>especificamente da inclu-</p><p>são, mas traz reflexões</p><p>sobre diferentes formas</p><p>de aprendizagem, sobre</p><p>questões relacionadas</p><p>ao tempo e ao espaço</p><p>escolar e, sobretudo, so-</p><p>bre um modelo de ensino</p><p>totalmente desvinculado</p><p>da educação tradicional.</p><p>ALVES, R. São Paulo: Papirus, 2001.</p><p>Livro</p><p>66 Tecnologias Assistivas</p><p>mudanças ocorreram. Ao se pensar nas diferentes possibilidades de</p><p>aprendizagem e sobretudo no contexto tecnológico em que vivemos</p><p>atualmente, é preciso analisar e refletir sobre as poucas mudanças que</p><p>ocorreram, pois a escola parece não acompanhar os avanços em re-</p><p>lação a outros espaços de interação quando falamos em tecnologia e</p><p>inclusão. Basta pensarmos no formato das salas de aula e até mesmo</p><p>na estrutura física das escolas atualmente.</p><p>A organização do tempo e do espaço deve ser planejada, levando</p><p>em conta o contexto da tecnologia já na constituição curricular. Os es-</p><p>paços de acessibilidade devem ser garantidos, desde uma rampa até</p><p>um mobiliário acessível. Além disso, espaços diferenciados com recur-</p><p>sos de tecnologia assistiva devem ser previstos, pois são garantidos por</p><p>lei, como é o caso das salas de recursos multifuncionais (SMR), que são</p><p>“ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáti-</p><p>cos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especiali-</p><p>zado” (BRASIL, 2011). Essas salas são espaços pedagógicos constituídos</p><p>dentro das escolas regulares e destinam-se ao público-alvo da educa-</p><p>ção especial (alunos com deficiência, com altas habilidades e com TEA).</p><p>Constituem-se em locais que dispõem de tecnologia assistiva, recursos</p><p>pedagógicos diversificados e materiais adaptados, visando eliminar as</p><p>barreiras no ambiente escolar.</p><p>Entretanto, ao refletir sobre as necessidades de mudanças concei-</p><p>tuais em relação ao tempo e ao espaço escolar, quando tratamos do</p><p>conceito de acessibilidade, não podemos nos referir somente àqueles</p><p>que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem ou aos alunos</p><p>com deficiência, mas às diversas formas de aprender, levando em</p><p>conta que cada sujeito tem suas particularidades. Então, quando pen-</p><p>samos em um contexto inclusivo e na evolução tecnológica, há de se</p><p>pensar também em espaços diversificados.</p><p>Ao tratar do contexto educacional inclusivo, os espaços educacionais, além</p><p>das práticas pedagógicas, merecem um olhar diferenciado, já que muitas</p><p>vezes, constituem-se em estruturas tradicionalmente organizadas. A reorga-</p><p>nização desses espaços deve ser repensada a fim de possibilitar o uso dos</p><p>recursos tecnológicos disponíveis socialmente e a interação com os mesmos</p><p>de forma significativa, além de possibilitar o desenvolvimento de práticas</p><p>significativas e inclusivas. (SCHEMBERG, 2018, p. 8)</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 67</p><p>Moran (2015), ao tratar da necessidade de mudanças – não só estru-</p><p>turais, mas também metodológicas – frente à atual realidade tecnológi-</p><p>ca, diz que ao se considerar uma concepção de ensino mais centrada no</p><p>aluno, as salas de aula devem ser multifuncionais, combinando diversos</p><p>tipos de formação (em grupo, de plenário, individual), além de dispor de</p><p>suporte de internet eficiente para o uso de dispositivos móveis como re-</p><p>cursos pedagógicos. Desse modo, todos os alunos seriam beneficiados.</p><p>Além das considerações acerca do espaço, o tempo também é um</p><p>fator a ser repensado quando falamos em tecnologia assistiva e inclu-</p><p>são. Sabemos que a padronização do tempo, assim como referido no</p><p>modelo de escola citado por Alves (2006), está incessantemente pre-</p><p>sente nos nossos contextos educacionais. Sobre isso é importante se</p><p>pensar o tempo escolar não como algo neutro, mas como um reflexo</p><p>da concepção pedagógica que norteia as práticas escolares, ou seja,</p><p>pensar o tempo para além do currículo, mas levando em conta o tempo</p><p>necessário para o desenvolvimento das potencialidades individuais e</p><p>de aprendizagens significativas.</p><p>Portanto, diante do atual paradigma educacional, a concepção de</p><p>tempo deve estar pautada em uma visão de diversidade e de diferentes</p><p>formas de aprendizagem, não somente quando se trata de alunos com</p><p>deficiência, mas em se tratando da diversidade em geral. Isso demanda</p><p>flexibilização, considerando que nem todos aprendem do mesmo jeito</p><p>e ao mesmo tempo.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O contexto educacional reflete não só as transformações sociais, mas</p><p>também a visão de sujeito, de aprendizagem e de educação de cada épo-</p><p>ca. Assim, para que possamos compreender os pressupostos da educação</p><p>inclusiva, é preciso entendermos sobre diversidade e equidade. Quando fa-</p><p>lamos de diversidade, no contexto educacional inclusivo, temos que pensar</p><p>nas diferentes formas de aprendizagem, e quando falamos em equidade,</p><p>devemos pensar em igualdade de oportunidades. Isso implica dizer que a</p><p>aprendizagem deve ser garantida tanto por caminhos diretos quanto indi-</p><p>retos, mas que todos devem ter acesso ao mesmo conhecimento.</p><p>A concepção sociocultural de desenvolvimento aponta que a apren-</p><p>dizagem é um fator essencial para o desenvolvimento e que os alunos</p><p>com deficiência devem ser percebidos por conta de suas potencialida-</p><p>des, de modo que os fatores biológicos não podem ser o foco na sua</p><p>68 Tecnologias Assistivas</p><p>educação. Ao considerar a limitação como ponto de partida, a apren-</p><p>dizagem sempre estará em segundo plano, ou seja, primeiro espera-</p><p>-se que o aluno supere a limitação para que, assim, possa alcançar a</p><p>aprendizagem. Nisto, as ideias de Vygotsky trazem importantes defini-</p><p>ções sobre o papel do desenvolvimento cultural, sobretudo destacando</p><p>a importância dos artefatos culturais.</p><p>A cultura é determinante no desenvolvimento, e quando nos referimos</p><p>às pessoas com deficiência</p><p>os artefatos culturais mostram-se como pro-</p><p>pulsores, de modo que atuam como elementos de acesso à participação</p><p>social, ao conhecimento, às informações e à interação. Assim, os recursos</p><p>de tecnologia assistiva devem ser reconhecidos como artefatos essenciais</p><p>para a efetivação da inclusão. No entanto, não basta somente reconhecer</p><p>tais recursos como essenciais, é preciso que haja uma mudança real nos</p><p>contextos educacionais, tanto no que diz respeito aos aspectos estrutu-</p><p>rais quanto no que se trata das concepções e conceitos que norteiam as</p><p>práticas escolares.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Atividade 1</p><p>Qual a principal diferença entre as teorias de Piaget e Vygotsky?</p><p>Atividade 2</p><p>Com base na visão sociocultural, qual a importância da tecnologia</p><p>assistiva no desenvolvimento da PcD?</p><p>Atividade 3</p><p>Com base nos estudos de defectologia, descreva a visão de Vygot-</p><p>sky sobre deficiência e como deve ser a aprendizagem da pessoa</p><p>com deficiência.</p><p>Tecnologias assistivas no contexto educacional 69</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. S. A escola inclusiva do século XXI: as crianças podem esperar tanto tempo?</p><p>REVELA: Periódico de Divulgação Científica da FALS, ano 1, n. 2, mar. 2008.</p><p>ALVES, R. A escola com que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir. São Paulo:</p><p>Papirus. 2006.</p><p>BRASIL. Decreto n. 7.611, de 17 de novembro de 2011. Diário Oficial da União. Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF. 18 nov. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>CERUTTI, E. Tecendo saberes sobre as tecnologias assistivas para o sujeito surdo no ensino</p><p>superior. Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, v. 6, 2020.</p><p>DELGADO GARCÍA, J. C.; ITS BRASIL – INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL (org.). Livro</p><p>Branco da Tecnologia Assistiva no Brasil. São Paulo: ITS BRASIL, 2017.</p><p>DIESEL, A.; BALDEZ, A. L. S.; MARTINS, S. N. Os princípios das metodologias ativas de</p><p>ensino: uma abordagem teórica. Revista Thema, v. 14, n. 1, p. 268-288, 2017.</p><p>DORNELES, C. L.; CARDOSO, A. A.; CARVALHO, F. A. H. de. A educação de jovens e adultos</p><p>na perspectiva das neurociências. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, v. 29,</p><p>ed. 89, 2012.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A. Tecnologia assistiva: favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem</p><p>em contextos educacionais inclusivos. In: GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (org.).</p><p>As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. Marília: Cultura Acadêmica, 2012.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A.; MIRANDA, T. G. Tecnologia Assistiva e paradigmas educacionais:</p><p>percepção e prática dos professores. In: 34ª REUNIÃO ANUAL DA ANPEd – Associação</p><p>Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação. Anais [...] Natal: ANPEd, 2011.</p><p>GIROTO, C. R. M.; POKER R. B.; OMOTE, S. Educação Especial, formação de professores e o</p><p>uso das tecnologias de informação e comunicação: a construção de práticas pedagógicas</p><p>inclusivas. In: GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (org.). As tecnologias nas práticas</p><p>pedagógicas inclusivas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.</p><p>MENDES, E. G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Rev. Bras. Educ.,</p><p>Rio de Janeiro, v. 11, n. 33, p. 387-405, dez. 2006.</p><p>MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, C. A.; MORALES, O. E.</p><p>T. (org.). Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania:</p><p>aproximações jovens. Ponta Grossa: Foca Foto-PROEX/UEPG, 2015. v. II.</p><p>NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teoria da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos</p><p>filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2015.</p><p>RODRIGUES, D. As tecnologias de informação e comunicação em tempo de educação</p><p>inclusiva. In: GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (org.). As tecnologias nas práticas</p><p>pedagógicas inclusivas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.</p><p>SALAMANCA. Declaração de Salamanca. Sobre princípios, políticas e práticas na área das</p><p>necessidades educativas especiais. Salamanca: Espanha, 1994. Disponível em: http://</p><p>portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>SCHEMBERG, S. Surdez e Tecnologias: o uso de artefatos midiáticos no contexto do</p><p>Atendimento Educacional Especializado. 2018. Monografia (Especialização em Mídias</p><p>Integradas na Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.</p><p>SKLIAR, C. Pedagogia (Improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro:</p><p>DP&A Editora, 2003.</p><p>VYGOTSKY, L. S. Obras escogidas: fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997. v. 5.</p><p>VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 7. ed. Trad. José Cipolla Neto, Luis S. M. Barreto</p><p>e Solange C. Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 2010.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf</p><p>70 Tecnologias Assistivas</p><p>4</p><p>Tecnologias assistivas e</p><p>educação especial inclusiva</p><p>Os paradigmas educacionais mudam conforme a visão que se tem</p><p>de sociedade, sujeito e educação. A educação inclusiva denota, então, as</p><p>concepções atuais com relação a esses aspectos, e a educação especial,</p><p>como modalidade de ensino, reflete a concepção de educação no que se</p><p>refere aos alunos com deficiência. Levando em conta o papel dos arte-</p><p>fatos tecnológicos nesse contexto, é importante relacionar seu uso, sua</p><p>função e sua aplicabilidade no âmbito da educação especial, sobretudo</p><p>no que se trata da TA, considerando que esses artefatos estão presentes</p><p>em todos os espaços da sociedade e mostram-se como importantes re-</p><p>cursos de inclusão e desenvolvimento.</p><p>Diante disso, cabe, primeiramente, compreendermos as diferenças e</p><p>as relações entre os conceitos de educação especial e de educação inclu-</p><p>siva para que possamos abordar o papel da TA não só como recurso de</p><p>acessibilidade, mas também como instrumento mediador e facilitador de</p><p>aprendizagem, explorando os diferentes espaços de uso, especialmente o</p><p>espaço das salas de recursos multifuncionais, com vistas ao Atendimento</p><p>Educacional Especializado (AEE) e às diversas possibilidades frente à in-</p><p>clusão escolar.</p><p>Portanto, neste capítulo abordaremos a tecnologia assistiva (TA) no</p><p>contexto da educação especial em uma perspectiva inclusiva, explorando</p><p>aspectos importantes referentes a essa modalidade de ensino.</p><p>Além dos serviços da educação especial – aliados ao ensino comum</p><p>para que haja o desenvolvimento integral do aluno com deficiência e o</p><p>reconhecimento dos recursos de TA –, o papel da família é um fator funda-</p><p>mental, ao passo que ela deve estar envolvida no desenvolvimento educa-</p><p>cional e também reconhecer os artefatos culturais como necessários ao</p><p>desenvolvimento do aluno com deficiência.</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva 71</p><p>Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:</p><p>• conceituar, diferenciar e relacionar a educação inclusiva e a edu-</p><p>cação especial;</p><p>• reconhecer o papel dos artefatos tecnológicos no contexto da</p><p>criança com deficiência;</p><p>• conhecer a função das salas de recursos multifuncionais, o Atendi-</p><p>mento Educacional Especializado e a importância da família.</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>4.1 Educação inclusiva e educação especial</p><p>Vídeo</p><p>A relação entre o ensino e a educação especial é determinante no</p><p>desenvolvimento educacional dos alunos com deficiência. Por isso, é ne-</p><p>cessário entender os fundamentos e o papel dessa modalidade de ensi-</p><p>no. Antes, porém, é importante destacar as diferenças entre a educação</p><p>especial e a educação inclusiva, pois se trata de conceitos diferentes.</p><p>Sabemos que a inclusão é um paradigma social que ela se estabele-</p><p>ceu devido aos avanços na ciência, nas pesquisas e na compreensão em</p><p>torno do desenvolvimento humano e da visão sobre o sujeito. Logo, a</p><p>educação inclusiva é um paradigma educacional; é uma concepção de</p><p>ensino baseada nesses avanços. Segundo o documento da Política Nacio-</p><p>nal de Educação Especial na Perspectiva da</p><p>e contextualizar os aspectos legais com relação às tecno-</p><p>logias assistivas, no contexto social inclusivo;</p><p>• compreender a relação entre acessibilidade e TA, relacionando os</p><p>tipos de barreiras que dificultam a efetivação da inclusão social;</p><p>• conhecer os objetivos do desenho universal e da simbologia rela-</p><p>cionada à acessibilidade no contexto da PcD.</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>1.1 Histórico, conceitos e objetivos da TA</p><p>Vídeo Pensar em tecnologia é pensar também nas relações estabelecidas</p><p>entre os sujeitos e entre estes com a natureza e o meio em que vivem.</p><p>Historicamente, o termo tecnologia, em seu sentido geral, está presente</p><p>desde os primórdios da nossa sociedade. As tecnologias fazem parte</p><p>da história, do progresso humano e da evolução da sociedade como</p><p>um todo, e, conforme a sociedade evolui, elas também avançam. Ao</p><p>mesmo tempo, os costumes, as relações sociais e até os conceitos pas-</p><p>sam por mudanças.</p><p>Você já parou para pensar no quanto a tecnologia influencia as suas</p><p>relações e até mesmo o seu comportamento?</p><p>?</p><p>Vejamos como exemplo uma das tecnologias mais antigas da histó-</p><p>ria: a roda. Você consegue imaginar como seria a nossa vida sem essa</p><p>invenção, considerando que ela está presente desde os meios de trans-</p><p>porte até o funcionamento de grandes máquinas? Sua invenção não</p><p>foi somente para a supressão das necessidades humanas, mas uma</p><p>revolução histórica e um grande salto na área tecnológica e na ciência.</p><p>Para ilustrar, trouxemos trechos de A história das invenções, de Monteiro</p><p>Lobato. O livro, narrado pelos personagens da série do Sítio do Picapau</p><p>Amarelo, trata da invenção de ferramentas para suprir a luta humana pela</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 11</p><p>sobrevivência, destacando as diferenças entre o homem e os outros ani-</p><p>mais pela capacidade de produzir artefatos para além das suas necessida-</p><p>des básicas. Além disso, traz uma excelente reflexão sobre a tecnologia,</p><p>retratada nas invenções, e o seu papel na vida da humanidade:</p><p>O homem é um grande inventor de coisas, e a história do homem</p><p>na Terra não passa da história das suas invenções com todas as</p><p>consequências que elas trouxeram para a vida humana.</p><p>[...]</p><p>Aquele animal peludo que se mostrava mais apto que os outros,</p><p>que já pensava, que já estudava as situações comparando uma</p><p>coisa com outra, que já fazia tudo para sobreviver, que já havia</p><p>transformado dois pés inúteis em duas mãos utilíssimas, lutou</p><p>de rijo contra os novos obstáculos que as mudanças na super-</p><p>fície da Terra criaram e adaptou-se a eles. Acabou vencendo.</p><p>(LOBATO, 2014, p. 5 e 11)</p><p>Nessa obra, por meio das falas de Dona Benta, é narrado a Pedri-</p><p>nho e Narizinho o surgimento de diversas invenções, como o avião,</p><p>o telefone, a batedeira de bolo e muitas outras, sendo explicado que</p><p>elas são produzidas para aumentar o poder do nosso corpo (LOBATO,</p><p>2014). Assim, os instrumentos criados pelo ser humano servem não so-</p><p>mente para facilitar as tarefas do dia a dia, mas para possibilitar ações</p><p>que, sem eles, seriam impossíveis. Vejamos o caso, por exemplo, dos</p><p>óculos que servem para corrigir a visão; ou de um avião que serve de</p><p>locomoção e nos permite percorrer quilômetros, o que apenas com</p><p>nossos próprios pés não seríamos capazes de fazer. É assim que pode-</p><p>mos retratar a tecnologia.</p><p>No entanto, falar de tecnologia vai além de discorrer sobre ferra-</p><p>mentas produzidas pelas pessoas. Etimologicamente, o termo tecnolo-</p><p>gia vem do grego tekhne, que significa técnica, e logia, significa estudo,</p><p>ou seja, estudo da técnica. Assim, a tecnologia influencia e sofre in-</p><p>fluências do meio, moldando a ação humana e vice-versa, ou seja, nós</p><p>agimos sobre as tecnologias e elas agem sobre nós.</p><p>Qual foi a última vez em que você se deparou com um bilhete ou uma</p><p>carta escritos à mão?</p><p>?</p><p>Essa é uma prática com que raramente nos deparamos, não é mes-</p><p>mo? Isso porque a escrita à mão foi substituída pelo e-mail, com o uso</p><p>12 Tecnologias Assistivas</p><p>do computador, do celular e de diversos aplicativos, artefatos produzi-</p><p>dos pelo homem para facilitar a comunicação e possibilitar ações que,</p><p>sem eles, seriam inviáveis. É nesse contexto que podemos trazer o con-</p><p>ceito da tecnologia assistiva, que surge em meio às mudanças quanto à</p><p>inclusão social das PcD, sendo aplicada nas leis e nas discussões acerca</p><p>dos direitos de todas as pessoas aos bens culturais, à educação, à saú-</p><p>de e ao lazer.</p><p>O termo tecnologia assistiva (do inglês assistive technology) é relativa-</p><p>mente novo se comparado ao termo tecnologia em geral, pois foi criado</p><p>em 1988 por meio de uma legislação norte-americana, que com outras</p><p>leis compõe o American with Disabilities Act (ADA) – Lei dos Americanos Por-</p><p>tadores de Deficiência –, um conjunto de legislações que regulamentam</p><p>os direitos das pessoas com deficiência nos Estados Unidos, e que traz o</p><p>reconhecimento do termo tecnologia assistiva como sendo um conjunto de</p><p>recursos e serviços. Bersch (2017) diz que os recursos estão relacionados</p><p>a equipamentos, produtos ou sistemas que visam ampliar ou melhorar as</p><p>capacidades das pessoas com deficiência; já os serviços dizem respeito, de</p><p>modo direto, à seleção, à compra e ao uso dos recursos pelas PcD.</p><p>Já na Europa, o termo ganha abrangência após o Programa de</p><p>Aplicações Telemáticas do setor de pessoas com deficiência e idosos</p><p>por meio da Comissão Europeia – DGXIII, que visa capacitar pessoas</p><p>com deficiência para o uso das TA, que são citadas como tecnologias</p><p>de apoio, termo que:</p><p>engloba todos os produtos e serviços capazes de compensar li-</p><p>mitações funcionais, facilitando a independência e aumentando</p><p>a qualidade de vida das pessoas com deficiência e pessoas ido-</p><p>sas. (EUSTAT, 1999 apud GALVÃO FILHO, 2009)</p><p>No Brasil, a partir dos anos 1990, diversas leis e decretos estabele-</p><p>ceram o direito de acesso e a participação social às pessoas com defi-</p><p>ciência, com autonomia e sem barreiras, de modo que as TA já estavam</p><p>sendo abordadas, ainda que com o termo ajudas técnicas, referido em</p><p>decretos e outros documentos legais como uma diversidade de ele-</p><p>mentos que possibilitam a compensação das limitações físicas, senso-</p><p>riais ou mentais. No entanto, o conceito de TA, em uma concepção mais</p><p>abrangente, foi definido apenas em 2007, pelo do Comitê de Ajudas</p><p>Técnicas (CAT):</p><p>Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de carac-</p><p>terística interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 13</p><p>metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam pro-</p><p>mover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação,</p><p>de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade redu-</p><p>zida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e</p><p>inclusão social. (BRASIL, 2007)</p><p>Resumidamente, Hazard, Galvão Filho e Rezende (2007, p. 29) tra-</p><p>zem a seguinte definição: “toda e qualquer ferramenta, recurso ou</p><p>estratégia e processo desenvolvido e utilizado com a finalidade de pro-</p><p>porcionar maior independência e autonomia à pessoa com deficiência”.</p><p>Nesse sentido, podemos dizer que o campo da TA tem como objetivo</p><p>proporcionar às pessoas com deficiência qualidade de vida, autonomia e</p><p>independência, de modo a superar as barreiras nos diversos âmbitos, tais</p><p>como mobilidade, comunicação, educação, lazer e interação social com a</p><p>família, no trabalho e na sociedade. Além disso, possibilita que se foque</p><p>nas potencialidades do sujeito e não nas suas limitações, oportunizando</p><p>o seu desenvolvimento, pois a TA pode tanto auxiliar na habilidade fun-</p><p>cional deficitária quanto possibilitar a realização de tarefas que, devido à</p><p>deficiência, não são possíveis de serem executadas (BERSCH, 2017).</p><p>Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis.</p><p>Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.</p><p>(RADABAUGH, 1993 apud BERSCH, 2017)</p><p>Para aprofundar sua compreensão sobre o que é de fato uma TA, dife-</p><p>renciando-a de outras tecnologias, questione-se: você é capaz de perceber,</p><p>nas imagens a seguir, quais tecnologias</p><p>Educação Inclusiva:</p><p>O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação po-</p><p>lítica, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do</p><p>direito de todos os estudantes de estarem juntos, aprendendo</p><p>e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação</p><p>inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na</p><p>concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e dife-</p><p>rença como valores indissociáveis, e que avança em relação à</p><p>idéia de eqüidade formal ao contextualizar as circunstâncias his-</p><p>tóricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. (BRASIL,</p><p>2008, p. 5)</p><p>Assim, a educação inclusiva não se refere apenas aos alunos com</p><p>deficiência, assim como o conceito geral da inclusão não diz respeito</p><p>somente às pessoas com deficiência; trata-se de uma concepção de</p><p>educação baseada na equidade, envolvendo desde as diferenças cul-</p><p>turais até as mais variadas formas de dificuldades na aprendizagem. É,</p><p>portanto, um processo social.</p><p>Já a educação especial é uma modalidade de ensino – e não um para-</p><p>digma – que tem como objetivo atender aos alunos com deficiência, trans-</p><p>tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, de</p><p>modo complementar ou suplementar no contexto do ensino regular. Tal</p><p>modalidade perpassa transversalmente todos os níveis de ensino.</p><p>Mas de que forma a educação especial atua na perspectiva da educação</p><p>inclusiva?</p><p>?</p><p>A educação especial atua na perspectiva da educação inclusiva rea-</p><p>lizando Atendimento Educacional Especializado, de modo suplementar</p><p>ou complementar ao ensino comum, e disponibilizando recursos e ser-</p><p>viços especializados a fim de atingir o melhor desempenho do aluno,</p><p>com orientação adequada tanto aos alunos quanto aos professores.</p><p>É importante destacar que as ações de um professor especializado</p><p>não substituem as ações de um professor em sala de aula, que conti-</p><p>nua sendo o responsável por elaborar estratégias diferenciadas e fle-</p><p>xibilizar a avaliação a fim de atender aos pressupostos da inclusão. O</p><p>trabalho deve ser de parceria e não de substituição.</p><p>Sobre o público-alvo da educação especial, o documento Política de</p><p>Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008,</p><p>p. 15) diz que:</p><p>No filme Black, inspirado</p><p>na história de Hellen</p><p>Keller, um professor</p><p>desempenha um papel</p><p>fundamental no desenvol-</p><p>vimento da personagem</p><p>principal, uma garota</p><p>surda-cega. Com o papel</p><p>do professor, podemos</p><p>refletir sobre a impor-</p><p>tância do trabalho do</p><p>profissional especializado,</p><p>que, ao atuar com afe-</p><p>tividade, competência e</p><p>conhecimento – além de,</p><p>principalmente, acreditar</p><p>no potencial do outro –,</p><p>abre caminhos e possi-</p><p>bilidades que ficariam na</p><p>obscuridade.</p><p>Direção: Sanjay Leela; Bhansali.</p><p>Índia: Applause Bhansali</p><p>Productions; Applause</p><p>Entertainment Ltd.; SLB Films Pvt.</p><p>Ltd., 2005.</p><p>Filme</p><p>Dr</p><p>a</p><p>ke</p><p>k</p><p>ris</p><p>da</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>7272 Tecnologias AssistivasTecnologias Assistivas</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva 73</p><p>Consideram-se alunos com deficiência aqueles que têm impedimentos de lon-</p><p>go prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação</p><p>com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva</p><p>na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvol-</p><p>vimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações</p><p>sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e ativida-</p><p>des restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com</p><p>autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com</p><p>altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer</p><p>uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica,</p><p>liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criativida-</p><p>de, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas</p><p>de seu interesse. Dentre os transtornos funcionais específicos estão: dislexia,</p><p>disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de atenção e hiperatividade,</p><p>entre outros.</p><p>Outro documento importante é a Lei n. 13.146/2015, que define a</p><p>pessoa com deficiência como sendo quem tem um impedimento, seja</p><p>físico, intelectual, mental ou sensorial.</p><p>Cabe destacarmos aqui que os alunos com transtornos globais do</p><p>desenvolvimento (TGD) são considerados legalmente alunos com defi-</p><p>ciência, levando em conta a definição da lei que institui a Política Na-</p><p>cional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro</p><p>Autista (BRASIL, 2012), que caracteriza tal transtorno pela deficiência</p><p>significativa na comunicação e nas interações sociais, além de padrões</p><p>estereotipados, ritualizados, restritos ou fixos de comportamento.</p><p>Dessa forma, o público-alvo da educação especial, em um con-</p><p>texto inclusivo, deve ser reconhecido por meio da igualdade de</p><p>oportunidades e do direito de acesso ao conhecimento proporcio-</p><p>nado no contexto escolar, já que o direito à inclusão no ensino re-</p><p>gular é garantido em diversos documentos legais (UNESCO, 1994;</p><p>BRASIL, 2008; BRASIL, 2010).</p><p>Entretanto, em 2020 foi estabelecido o Decreto n. 10.502/2020, que</p><p>traz algumas mudanças em relação ao documento de 2008 (BRASIL,</p><p>2008), o qual foi reconhecido como um grande avanço para a inclusão</p><p>educacional. O novo decreto institui a Política Nacional de Educação</p><p>74 Tecnologias Assistivas</p><p>Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida</p><p>(BRASIL, 2020), e, em seu artigo 2°, define educação especial como sen-</p><p>do “modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na</p><p>rede regular de ensino aos educandos com deficiência, transtornos glo-</p><p>bais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”.</p><p>O documento abre outras possibilidades de escolarização e não preconi-</p><p>za a inclusão, e por esse motivo ocorreram debates e discussões por alguns</p><p>autores, já que a inclusão foi conquistada e justificada ao longo do tempo.</p><p>Santos e Moreira (2021) estabelecem algumas críticas quanto a alguns</p><p>aspectos desse decreto, como a falta de ampliação na discussão para a</p><p>elaboração do documento, não dando ênfase à inclusão educacional</p><p>como forma mais coerente de escolarização das PcD; a não participação</p><p>das pessoas com deficiência na elaboração do documento; o uso de ex-</p><p>pressões já superadas (como preferencialmente); a possibilidade de retor-</p><p>no de escolarização em classes e escolas especializadas; entre outros.</p><p>Embora se reconheça que muitos aspectos precisam ser melhorados para</p><p>garantia de uma educação de qualidade para todos, não tem como negar os</p><p>avanços do paradigma da educação inclusiva, que foi uma construção históri-</p><p>ca, na garantia do direito à educação das pessoas com deficiência que foram</p><p>durante muito tempo – e alguns até hoje – em sua grande maioria, excluídos</p><p>da escola. (SANTOS; MOREIRA, 2021, p. 12)</p><p>Como podemos perceber, as ações políticas e os programas go-</p><p>vernamentais têm grande influência na continuidade e nos avanços</p><p>da inclusão. Por essa razão, é preciso que os profissionais envolvidos</p><p>conheçam as leis e pesquisem e participem das discussões acerca do</p><p>processo educacional, de modo que o sistema educacional seja efetivo</p><p>a todos, atendendo especificidades e proporcionando acessibilidade.</p><p>De qualquer forma, à educação especial cabe prover meios que</p><p>levem o aluno a desenvolver suas potencialidades, bem como propor</p><p>formas de aprendizagem que contemplem a diversidade, sempre des-</p><p>vinculada de uma visão clínica e terapêutica, mas em uma olhar socio-</p><p>cultural, visto que a educação especial é um serviço pedagógico. Assim,</p><p>a tecnologia assistiva deve ser vista, nesse contexto, como instrumento</p><p>facilitador e mediador, aliado aos serviços da educação especial.</p><p>4.2 A TA no contexto da educação especial</p><p>Vídeo</p><p>Quando tratamos da educação especial no atual contexto educacional,</p><p>antes de mais nada, precisamos saber com clareza que seu papel não é o</p><p>de reabilitar ou propor técnicas terapêuticas a fim de superar a deficiência.</p><p>Essa foi uma prática no</p><p>paradigma anterior ao da inclusão – o da integração.</p><p>Para Sassaki (2006), apesar de no modelo da integração predominar</p><p>o olhar clínico e de reabilitação, de modo que as pessoas com deficiên-</p><p>cia deveriam adaptar-se aos padrões, há de se reconhecer o mérito</p><p>desse paradigma na eliminação do modelo de exclusão e de segrega-</p><p>ção que perdurou por muito tempo, colaborando para a aproximação</p><p>das PcD à sociedade e para a eliminação de preconceitos.</p><p>Como exemplo prático de integração, no caso de um aluno surdo,</p><p>em uma visão clínica/terapêutica, tinha-se como objetivos: desenvolvi-</p><p>mento da fala, treinamento auditivo e treinamentos para leitura labial,</p><p>ou seja, o pressuposto era de que a PcD chegasse o mais próximo do</p><p>padrão considerado normal. Nesse sentido, à educação especial cabia</p><p>um papel reabilitador.</p><p>Ao abordarmos a educação especial sob um ponto de vista clínico/te-</p><p>rapêutico, a visão que predomina é a de homogeneidade, não havendo</p><p>mudanças nas práticas educacionais, nem valorizando as potencialida-</p><p>des individuais em detrimento da deficiência. Entretanto, quando vis-</p><p>lumbramos a educação especial como espaço de possibilidades, o que</p><p>predomina é a visão de heterogeneidade e oferta de diferentes possibi-</p><p>lidades de aprendizagem e desenvolvimento, valorizando o potencial de</p><p>cada aluno, sem ver a deficiência como obstáculo para o desenvolvimen-</p><p>to. Vamos perceber essa diferença de visões no quadro a seguir.</p><p>Se</p><p>ve</p><p>nt</p><p>yF</p><p>ou</p><p>r/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusivaTecnologias assistivas e educação especial inclusiva 7575</p><p>76 Tecnologias Assistivas</p><p>Quadro 1</p><p>Diferenças entre a visão clínica/terapêutica e a visão sociocultural</p><p>Visão clínica/terapêutica Visão sociocultural</p><p>Homogeneidade Heterogeneidade</p><p>Adaptação do aluno ao contexto Adaptação da escola às necessidades do aluno</p><p>Foco na deficiência Foco nas potencialidades</p><p>Parte-se da limitação Parte-se das diferentes possibilidades</p><p>Reabilitação e treinamento Aprendizagem e desenvolvimento</p><p>Tecnologia para reabilitação Tecnologia assistiva</p><p>É nesse sentido que a educação especial exerce, hoje, uma função</p><p>que visa à aprendizagem e ao desenvolvimento proporcionados por prá-</p><p>ticas que valorizam as potencialidades e possibilitam a autonomia no</p><p>percurso escolar.</p><p>Qual é, então, o papel da educação especial no que se refere à tecnolo-</p><p>gia assistiva?</p><p>?</p><p>Antes de tudo, a tecnologia assistiva deve ser reconhecida, nesse</p><p>contexto, como elemento aliado à busca de “rotas alternativas”, como</p><p>pressupôs Vygotsky (1997) ao tratar dos artefatos culturais, a fim de</p><p>explorar diferentes caminhos de aprendizagem.</p><p>Galvão Filho (2012) reforça a importância de buscar caminhos alter-</p><p>nativos para o desenvolvimento e a aprendizagem da PcD, levando em</p><p>consideração o papel da tecnologia assistiva para que esses caminhos</p><p>possam ser acessados.</p><p>Já sabemos que a tecnologia, de modo geral, contribui para a apren-</p><p>dizagem, não só dos alunos com deficiência, mas de todos os alunos.</p><p>Entretanto, é importante reconhecer as especificidades da tecnologia</p><p>assistiva a fim de relacioná-la às reais necessidades do aluno público-</p><p>-alvo da educação especial, por isso cabe ao profissional da educação</p><p>especial se aprofundar nessa temática. É papel dele reconhecer as es-</p><p>pecificidades do aluno, identificando suas necessidades, habilidades e</p><p>potencialidades para que haja sucesso no uso e na aplicabilidade dos</p><p>recursos de TA. Além disso, o trabalho em conjunto com os demais pro-</p><p>fessores é fundamental, já que esses recursos devem ser estendidos</p><p>para o espaço da sala de aula comum. Desse modo, a TA</p><p>O conceito de compensa-</p><p>ção diz que por meio da</p><p>cultura é possível alcançar</p><p>níveis de desenvolvimento</p><p>por caminhos alternativos,</p><p>diferentes dos usados</p><p>habitualmente.</p><p>Lembrete</p><p>wa</p><p>ve</p><p>br</p><p>ea</p><p>km</p><p>ed</p><p>ia</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>auxilia na superação de dificuldades de aprendizagem, bem como</p><p>favorece o processo de desenvolvimento, pois tem por objetivo</p><p>criar soluções que irão facilitar a execução de atividades educativas</p><p>e sociais, propiciando alternativas que permitam o maior acesso ao</p><p>conhecimento, oportunizando maior autonomia de aprendizagem</p><p>dos alunos com deficiência. (SILVA; ATAIDE; SOUZA, 2020, p. 145)</p><p>Para Giroto, Poker e Omote (2012, p. 12), cabe à modalidade da edu-</p><p>cação especial, por meio do Atendimento Educacional Especializado</p><p>(AEE), “disponibilizar recursos, serviços e estratégias pedagógicas dife-</p><p>renciadas para os alunos com deficiência, transtornos globais do desen-</p><p>volvimento (TGD)”, de modo a garantir o acesso e a permanência desses</p><p>alunos nas salas de aula regulares. Os autores ainda complementam di-</p><p>zendo que dificilmente esses alunos poderão participar das atividades</p><p>escolares ou interagir com colegas e professores se não houver oferta</p><p>de recursos, estratégias e materiais que atendam às suas necessidades.</p><p>De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para</p><p>o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (BRASIL,</p><p>2009), devem ser disponibilizados ao aluno público-alvo da educação</p><p>especial serviços, recursos e estratégias que garantam acesso ao currí-</p><p>culo por meio da acessibilidade a materiais didáticos, espaços e equi-</p><p>pamentos. É diante dessas determinações que se constitui o AEE, um</p><p>dos serviços da educação especial, que tem como função disponibilizar</p><p>recursos de TA, além de proporcionar acesso a recursos pedagógicos</p><p>que favoreçam a eliminação de barreiras.</p><p>Assim, a educação especial deve ser garantida de qualquer forma, e</p><p>o AEE deve ser ofertado preferencialmente em salas de recursos mul-</p><p>tifuncionais (SRM), pois estas constituem-se como espaços privilegia-</p><p>dos para o uso das tecnologias assistivas.</p><p>O livro Tecnologia Assis-</p><p>tiva nas escolas: recursos</p><p>básicos de acessibilidade</p><p>sócio-digital para pessoas</p><p>com deficiência reúne</p><p>textos referentes ao papel</p><p>da TA, destacando con-</p><p>ceitos e artigos da área e</p><p>sugerindo aplicabilidade</p><p>de recursos de TA no</p><p>contexto educacional. Foi</p><p>publicado com o intuito</p><p>de divulgar conhecimen-</p><p>tos básicos em TA e de-</p><p>monstrar a variedade de</p><p>recursos disponíveis que</p><p>podem colaborar para a</p><p>acessibilidade das PcD.</p><p>ITS BRASIL (org.). São Paulo: ITS</p><p>BRASIL, 2008.</p><p>Livro</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusivaTecnologias assistivas e educação especial inclusiva 7777</p><p>78 Tecnologias Assistivas</p><p>4.3 Salas de recursos multifuncionais e o AEE</p><p>Vídeo Como já sabemos, os serviços da educação especial consistem em</p><p>elementos fundamentais no contexto educacional, pois é por meio de-</p><p>les que serão proporcionados encaminhamentos a fim de atender às</p><p>especificidades dos alunos com deficiência.</p><p>A escola, como um todo, deve ser constituída como um espaço de</p><p>inclusão, desde os ambientes físicos até os encaminhamentos metodo-</p><p>lógicos adotados em sala de aula. Diante do atual contexto, a tecnolo-</p><p>gia deve estar presente para favorecer a aprendizagem, não somente</p><p>como um mero recurso, mas como instrumento de mediação, de au-</p><p>tonomia e de busca pelo conhecimento, de modo que todos os alunos</p><p>possam ter acesso igualitário. No entanto, quando tratamos especifica-</p><p>mente dos alunos com deficiência, é preciso ter um olhar especial para</p><p>as tecnologias, de maneira que possam atuar como artefato acessível e</p><p>sejam usadas a fim superar as limitações.</p><p>Vejamos como exemplo o computador: trata-se de um recurso que</p><p>pode ser usado por todas as pessoas, porém, diante de uma deficiência</p><p>visual, encontram-se obstáculos quanto ao seu uso. Por mais que tenha-</p><p>mos recursos de TA disponíveis, como recursos adaptados, softwares</p><p>especializados e ferramentas de acesso, ainda assim é preciso que o</p><p>usuário saiba como utilizá-los.</p><p>Mas como o aluno se apropriará das habilidades para usar as adapta-</p><p>ções e os recursos de TA, já que na sala de aula comum não haveria</p><p>tempo hábil e nem conhecimento especializado para esse acesso?</p><p>?</p><p>Essa é, entre outras, uma das funções do AEE, pois ao professor que</p><p>nele atua cabe, entre outras atribuições, o “acompanhamento</p><p>da fun-</p><p>cionalidade e usabilidade dos recursos de tecnologia assistiva na sala</p><p>de aula comum e ambientes escolares” (BRASIL, 2010, p. 8).</p><p>O AEE tem como objetivos a garantia de serviços de apoio especiali-</p><p>zado e o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos específi-</p><p>cos, além de atuar para que haja avanço e continuidade dos estudos de</p><p>seu público-alvo. Nesse sentido, o AEE deve ser compreendido, segundo</p><p>o Decreto n. 7.611/2011 (BRASIL, 2011), como parte da escolarização, de</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva 79</p><p>modo a complementar e/ou suplementar a formação dos alunos com de-</p><p>ficiência, TEA e altas habilidades/superdotação, tendo caráter pedagógico.</p><p>Diante disso, precisamos pensar sobre o espaço ideal para o fun-</p><p>cionamento do AEE, que deve “ser realizado prioritariamente na sala</p><p>de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de</p><p>ensino regular, no turno inverso da escolarização” (BRASIL, 2009). Caso</p><p>não haja essa disponibilidade, pode ser ofertado em centros de AEE</p><p>conveniados com a Secretaria de Educação.</p><p>Para reter na memória:</p><p>O AEE não substitui o ensino comum, pois é suplementar ou complementar a ele.</p><p>O AEE deve prover encaminhamentos diferenciados em relação aos da sala de aula</p><p>comum, visando atender às necessidades individuais.</p><p>O AEE tem caráter pedagógico, não clínico ou terapêutico.</p><p>O AEE não é reforço escolar e nem deve configurar-se como mera sala de apoio</p><p>pedagógico.</p><p>O AEE deve ser ofertado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais.</p><p>Mas o que são, de fato, as salas de recursos multifuncionais (SRM)?</p><p>As SRM são espaços físicos, de caráter pedagógico, destinados ao</p><p>AEE. Nesses espaços são disponibilizados mobiliários e materiais adap-</p><p>tados, recursos e equipamentos de acessibilidade, além de tecnologias</p><p>de informática para o atendimento ao aluno.</p><p>As SRM consistem em um espaço privilegiado para o uso da tecno-</p><p>logia assistiva, tanto por conta da sua estrutura quanto pela formação</p><p>do profissional que nela atua, considerando que esse profissional deve</p><p>dispor de conhecimentos acerca do uso da TA no contexto da educação</p><p>especial. Dessa forma, esse espaço não deve ser uma reprodução da</p><p>sala de aula comum, pois configura-se como um espaço diferenciado.</p><p>Por isso, é devido a essa estrutura e constituição das SRM que o</p><p>AEE não deve replicar os mesmos encaminhamentos da sala de aula</p><p>comum. Como aponta Pereira (2020, p. 6):</p><p>Cordas é um curta-metra-</p><p>gem sobre a inclusão de</p><p>um menino com paralisia</p><p>cerebral. O filme nos leva</p><p>a refletir sobre o papel da</p><p>interação com o outro no</p><p>desenvolvimento da crian-</p><p>ça com deficiência e na</p><p>importância da interação</p><p>no contexto escolar, bem</p><p>como nos mostra que</p><p>é preciso ter um olhar</p><p>para além da deficiência</p><p>a fim de que ocorra a real</p><p>inclusão.</p><p>Direção: Pedro Solís García. Espanha:</p><p>Fiesta, La, 2014.</p><p>Filme</p><p>80 Tecnologias Assistivas</p><p>O atendimento realizado nesse espaço difere do oferecido pela</p><p>escola comum, como também não se caracteriza como um servi-</p><p>ço eminentemente clínico, mas resguarda uma característica tipi-</p><p>camente educacional. Sendo assim, o objetivo primordial desse</p><p>serviço é o de proporcionar ao aluno matriculado na escola</p><p>comum público-alvo da educação especial o reconhecimento de</p><p>suas potencialidades, suas limitações, levando-o a se perceber</p><p>capaz de criar estratégias para resolver seus problemas e que se</p><p>veja como Ser de direitos, sendo capaz de produzir conhecimen-</p><p>tos e transformar sua realidade.</p><p>A seguir, podemos observar alguns exemplos de espaços de SRM.</p><p>Figura 1</p><p>Exemplos de salas de recursos multifuncionais</p><p>M</p><p>ar</p><p>ko</p><p>P</p><p>op</p><p>la</p><p>se</p><p>n/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>RT</p><p>im</p><p>ag</p><p>es</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Como podemos perceber, nas imagens há diferentes constituições de</p><p>SRM, isto porque são levados em consideração as necessidades e o con-</p><p>texto social de cada escola, além da estrutura física, da disponibilidade de</p><p>espaço e dos investimentos para que esse espaço seja constituído. Por-</p><p>tanto, é preciso que haja um olhar dos gestores e da comunidade escolar</p><p>sobre a importância desse serviço para que seja ofertado com eficácia e</p><p>com qualidade, não se configurando apenas como uma obrigação legal.</p><p>Há uma infinidade de materiais destinados às SRM, tanto no que se</p><p>trata de materiais pedagógicos e tecnológicos quanto de recursos e fer-</p><p>ramentas de tecnologia assistiva, assim é preciso atentar-se para a dis-</p><p>tribuição efetiva dos materiais disponibilizados à escola, verificando se</p><p>de fato estão sendo direcionados corretamente aos espaços das SRM.</p><p>Alguns exemplos de TA disponibilizados pelo Ministério da Educação</p><p>para o AEE nas SRM são: notebooks, impressoras multifuncionais, mou-</p><p>ses e teclados especiais, lupas eletrônicas, mobiliários adaptados, além de</p><p>uma diversidade de materiais didáticos e pedagógicos (BRASIL, 2010).</p><p>Para saber mais sobre</p><p>a composição das SRM,</p><p>consulte o link indicado.</p><p>Disponível em: https://www.gov.</p><p>br/pt-br/servicos/implantar-salas-</p><p>de-recursos-multifuncionais. Acesso</p><p>em: 21 dez. 2022.</p><p>Site</p><p>https://www.gov.br/pt-br/servicos/implantar-salas-de-recursos-multifuncionais</p><p>https://www.gov.br/pt-br/servicos/implantar-salas-de-recursos-multifuncionais</p><p>https://www.gov.br/pt-br/servicos/implantar-salas-de-recursos-multifuncionais</p><p>Ch</p><p>an</p><p>in</p><p>to</p><p>rn</p><p>.v</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ch</p><p>an</p><p>in</p><p>to</p><p>rn</p><p>.v</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Acerca do papel do professor do AEE, cabe considerar que o objetivo</p><p>é sempre proporcionar ao aluno o acesso à aprendizagem, buscando</p><p>estabelecer parcerias com o professor do ensino comum, sobretudo</p><p>no que se trata do acesso e da usabilidade dos recursos de TA. Desse</p><p>modo, cabe ao professor especializado frente à TA:</p><p>VI – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógi-</p><p>cos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;</p><p>VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar</p><p>habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e</p><p>participação;</p><p>VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula</p><p>comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pe-</p><p>dagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a</p><p>participação dos alunos nas atividades escolares. (BRASIL, 2009)</p><p>Sobre isso, Bendinelli (2018) ressalta que o trabalho colaborativo e</p><p>articulado entre os profissionais envolvidos no processo educacional</p><p>dos alunos com deficiência é essencial para que o AEE alcance seu pa-</p><p>pel efetivo na inclusão.</p><p>4.3.1 Relação família e escola</p><p>Além do papel do professor do AEE, em conjunto com os professores da</p><p>sala de aula comum, é importante ressaltar o envolvimento familiar quando</p><p>se trata do desenvolvimento integral do aluno. Ao falarmos do acesso e do</p><p>uso da TA no espaço escolar, não podemos esquecer que a família, além de</p><p>ser a primeira instituição quando se trata de educação, deve estar integra-</p><p>da, de modo que, muitas vezes, as tecnologias podem ser estendi-</p><p>das para o contexto familiar.</p><p>A escola é, por excelência, um local onde se desenvolvem</p><p>diversas habilidades, tanto cognitivas quanto sociais, bem</p><p>como é a responsável por grande parte do desenvol-</p><p>vimento educacional dos sujeitos. Entretanto, a</p><p>primeira e mais importante instituição, no</p><p>que se refere ao desenvolvimento e à</p><p>educação, é a família.</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusivaTecnologias assistivas e educação especial inclusiva 8181</p><p>82 Tecnologias Assistivas</p><p>A família se constitui em um grupo social primário, no qual se realiza a cha-</p><p>mada socialização primária, que consiste na apreensão dos papéis sociais,</p><p>na formação da identidade social e pessoal do indivíduo, como também na</p><p>imagem que a pessoa tem de si mesma. (PORTELA; ALMEIDA, 2009, p. 153)</p><p>Não podemos pensar no desenvolvimento de um sujeito sem con-</p><p>siderar suas interações familiares e todo o seu contexto. No caso das</p><p>PcD, esse aspecto é ainda mais relevante, pois há diversos fatores que</p><p>influenciam na superação das limitações, a começar pelo envolvimento</p><p>da família desde o conhecimento sobre as implicações da</p><p>deficiência até</p><p>a sua relação com a escola.</p><p>Escola, educação especial e família devem formar uma rede no pro-</p><p>cesso educacional do aluno com deficiência. Isso também vale para a</p><p>tecnologia assistiva, pois, além do espaço escolar, o uso da TA deve se</p><p>estender ao contexto familiar, de modo que haja conhecimento e en-</p><p>volvimento da família com relação à sua funcionalidade e aplicabilidade.</p><p>A participação da família é essencial para o sucesso no uso da TA, des-</p><p>de a seleção de recursos a serem utilizados – juntamente com a AEE e a</p><p>escola – até o uso cotidiano. Bersch (2017) ressalta a importância da par-</p><p>ticipação ativa da família, assim como a do usuário, nas tomadas de deci-</p><p>sões quanto ao uso da TA. Além disso, tanto as possibilidades quanto as</p><p>limitações dos recursos precisam estar claras, de modo a compreender as</p><p>mudanças na rotina e perceber o envolvimento da TA como fator determi-</p><p>nante no alcance dos objetivos referentes à autonomia da PcD.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Já temos noção do quanto a tecnologia assistiva mudou, e ainda muda,</p><p>a vida das pessoas com deficiência ao longo dos anos. Certamente temos</p><p>ainda muito a evoluir nesse sentido, pois essas mudanças vão além do</p><p>esforço e do envolvimento do usuário. A eficácia e a funcionalidade dos</p><p>recursos de TA só podem ser alcançadas ao passo que a sociedade, de</p><p>modo geral, compreende seu papel quanto à inclusão e acessibilidade,</p><p>sobretudo os âmbitos escolar e familiar.</p><p>O contexto escolar é, por excelência, um local em que as possibilidades</p><p>de desenvolvimento são evidenciadas, mas, para que as potencialidades</p><p>Para refletir sobre a</p><p>importância da família e</p><p>do olhar dela sobre as ne-</p><p>cessidades e implicações</p><p>frente à deficiência, leia o</p><p>texto de Emily Perl Knisley,</p><p>Bem-vindo à Holanda.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>movimentodown.org.br/2013/07/</p><p>bem-vindo-a-holanda/. Acesso em:</p><p>30 nov. 2022.</p><p>Leitura</p><p>Do Luto à Luta é um</p><p>documentário que nos faz</p><p>refletir sobre a importân-</p><p>cia da família no desenvol-</p><p>vimento da PcD. O filme</p><p>traz a história de uma</p><p>pessoa com síndrome de</p><p>Down, retratando os obs-</p><p>táculos e as superações</p><p>no cotidiano, sobretudo</p><p>ressaltando o papel da</p><p>família nesse contexto.</p><p>Direção: Evaldo Mocarzel. Brasil:</p><p>Casa Azul Produções Artísticas;</p><p>Circuito Espaço Cinema, 2005.</p><p>Filme</p><p>https://www.movimentodown.org.br/2013/07/bem-vindo-a-holanda/</p><p>https://www.movimentodown.org.br/2013/07/bem-vindo-a-holanda/</p><p>https://www.movimentodown.org.br/2013/07/bem-vindo-a-holanda/</p><p>Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva 83</p><p>sejam valorizadas em detrimento das limitações, é necessário um trabalho</p><p>em rede, no qual a educação especial, como modalidade de ensino, tem</p><p>um papel fundamental. Uma das responsabilidades da educação especial</p><p>é promover, por meio do AEE, estratégias, encaminhamentos e adaptações</p><p>para que o acesso ao currículo ocorra sem prejuízos aos alunos que são</p><p>seu público-alvo, ou seja, pessoas com deficiência, com transtornos do es-</p><p>pectro autista e com altas habilidades. Não obstante, essa modalidade não</p><p>deve estar pautada em um olhar clínico, mas em uma visão social e histórica</p><p>da deficiência, reconhecendo as diversas possibilidades de aprendizagem</p><p>e, sobretudo, reconhecendo o papel social dos artefatos tecnológicos.</p><p>Entretanto, sozinha, a escola não pode ser responsável pela educação e</p><p>pelo desenvolvimento integral do aluno com deficiência, já que a família é a</p><p>primeira instituição em que ele está inserido. Cabe a ela, também, o envolvi-</p><p>mento no contexto da TA para que os recursos sejam ampliados para o âmbito</p><p>familiar, de modo a proporcionar autonomia para além do âmbito educacional.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Atividade 1</p><p>Discorra sobre as principais diferenças entre educação especial e</p><p>educação inclusiva.</p><p>Atividade 2</p><p>Qual é o papel da educação especial no que se refere à tecnologia</p><p>assistiva?</p><p>Atividade 3</p><p>O que são as salas de recursos multifuncionais e qual é seu papel</p><p>frente à educação inclusiva?</p><p>84 Tecnologias Assistivas</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BENDINELLI, R. C. Atendimento educacional especializado (AEE): pressupostos e desafios.</p><p>Diversa, 6 jul. 2018. Disponível em: https://diversa.org.br/artigos/atendimento-educacional-</p><p>especializado-pressupostos-desafios. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva. Assistiva – Tecnologia e Educação, Porto Alegre,</p><p>2017. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf.</p><p>Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 7.611, de 17 de novembro de 2011. Diário Oficial da União. Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 18 nov. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 10.502, de 30 de setembro de 2020. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 1 out. 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2019-2022/2020/decreto/D10502.htm. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 28 dez. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-</p><p>2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-</p><p>2018/2015/lei/l13146.htm. Disponível em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Manual de Orientação: Programa de Implantação de Sala</p><p>de Recursos Multifuncionais. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.</p><p>br/pnaes/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/17430-</p><p>programa-implantacao-de-salas-de-recursos-multifuncionais-novo. Acesso em: 30 nov.</p><p>2022.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Marcos Político-</p><p>Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Secretaria de</p><p>Educação Especial, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_</p><p>docman&view=download&alias=6726-marcos-politicos-legais&Itemid=30192. Acesso em:</p><p>30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.</p><p>Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/</p><p>politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB n. 4,</p><p>de 2 de outubro de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 2009. Disponível em:</p><p>http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso em: 30 nov. 2022.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A. Tecnologia assistiva: favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem</p><p>em contextos educacionais inclusivos. In: GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (org.).</p><p>As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. Marília: Cultura Acadêmica, 2012.</p><p>GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (org.). As tecnologias nas práticas pedagógicas</p><p>inclusivas. Marília: Cultura Acadêmica, 2012.</p><p>PEREIRA, M. Sala de Recursos Multifuncionais: o trabalho pedagógico especializado com</p><p>as limitações de aprendizagem da pessoa com deficiência intelectual. Revista Encantar:</p><p>Educação, Cultura e Sociedade, v. 2, jan./dez. 2020.</p><p>PORTELA, C. P. J.; ALMEIDA, C. V. P. J. Família e escolar: como essa parceria pode favorecer</p><p>crianças com necessidades educativas especiais. In: DÍAZ, F. et al. Educação inclusiva,</p><p>deficiência e contexto social: questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009.</p><p>SANTOS, E. C. da S. de L.; MOREIRA, J. da S. A “nova” política de educação especial como</p><p>afronta aos direitos humanos: análise crítica do Decreto 10.502/2020. Revista de Estudos</p><p>em Educação e Diversidade – REED, v. 2, n. 3, p. 156-175, 2021.</p><p>SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7. ed. Rio de Janeiro: WVA,</p><p>2006.</p><p>SILVA, A. M. F. S.; ATAIDE, C. A.; SOUZA, R. C. S. Trajetórias e perspectivas da tecnologia</p><p>assistiva aplicada à deficiência intelectual. In.: SOUZA, R. C. S. (org.). A tecnologia assistiva a</p><p>serviço da inclusão</p><p>social. Aracaju: Criação Editora, 2020.</p><p>UNESCO. Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na área das</p><p>necessidades educativas especiais. Salamanca, 1994.</p><p>VYGOTSKY, L. S. Obras escogidas: fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997. v. 5.</p><p>https://diversa.org.br/artigos/atendimento-educacional-especializado-pressupostos-desafios</p><p>https://diversa.org.br/artigos/atendimento-educacional-especializado-pressupostos-desafios</p><p>https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10502.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10502.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>http://portal.mec.gov.br/pnaes/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/17430-p</p><p>http://portal.mec.gov.br/pnaes/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/17430-p</p><p>http://portal.mec.gov.br/pnaes/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/17430-p</p><p>http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6726-marcos-politicos-legais&Itemid=30192</p><p>http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6726-marcos-politicos-legais&Itemid=30192</p><p>http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf</p><p>http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf</p><p>http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 85</p><p>5</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes</p><p>áreas da educação especial</p><p>Já sabemos o quanto a tecnologia assistiva (TA) desempenha um im-</p><p>portante papel no contexto de vida das pessoas com deficiência. Com</p><p>base nos artefatos desenvolvidos é que se torna possível o alcance da</p><p>autonomia e a superação de obstáculos nas atividades do dia a dia e no</p><p>acesso à informação e à comunicação. Por outro lado, sabemos que os</p><p>entraves sociais, sobretudo no âmbito escolar, muitas vezes impedem</p><p>que a tecnologia exerça seu real papel quando se trata de desenvolvimen-</p><p>to e aprendizagem dos alunos com deficiência. Um dos maiores entraves</p><p>ainda está relacionado às barreiras conceituais e atitudinais, pois a falta</p><p>de conhecimento e de mudança do olhar ao sujeito e à própria deficiência</p><p>levam a práticas ainda tradicionais e mecânicas, o que não abre espaço</p><p>para o uso da TA no reconhecimento da diversidade e no alcance das</p><p>reais potencialidades do sujeito.</p><p>Nesse sentido, para que sejam alcançados os reais benefícios dos</p><p>recursos de TA e da tecnologia de uma maneira geral, é de extrema im-</p><p>portância que os profissionais ligados ao desenvolvimento das PcD, sobre-</p><p>tudo no âmbito educacional, conheçam as especificidades de cada área</p><p>e saibam relacionar o uso de ferramentas à realidade de cada sujeito.</p><p>Assim, podem identificar suas necessidades específicas e buscar adequar</p><p>recursos e serviços a essas necessidades, visando à parceria entre escola</p><p>e família.</p><p>Assim, neste capítulo discorreremos acerca de algumas especificida-</p><p>des de cada área, de modo a apontar alguns aspectos relacionados à apli-</p><p>cação dos recursos de TA nas áreas de deficiência física, visual/cegueira,</p><p>auditiva/surdez.</p><p>Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:</p><p>• conhecer a aplicação dos recursos de TA na área da deficiência</p><p>física, de deficiência visual e de deficiência auditiva e surdez.</p><p>Objetivo de aprendizagem</p><p>86 Tecnologias Assistivas</p><p>5.1 TA – deficiência física</p><p>Já sabemos que não devemos focar na deficiência em si, mas no</p><p>desenvolvimento das potencialidades do sujeito. No entanto, isso não</p><p>significa que não devemos conhecer sobre a deficiência, suas especifi-</p><p>cidades e implicações, já que essas também são fatores importantes</p><p>para a seleção de recursos da TA a serem utilizados. Então, esse co-</p><p>nhecimento é importante para que a aplicabilidade e usabilidade dos</p><p>recursos sejam eficazes e atendam as particularidades de cada sujeito.</p><p>De acordo com o material do Ministério da Educação (GODÓI; GA-</p><p>LASSO; MIOSSO, 2006, p. 11), que trata dos saberes e práticas da inclu-</p><p>são, “A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho</p><p>locomotor que compreende o sistema osteoarticular, o sistema mus-</p><p>cular e o sistema nervoso”.</p><p>Já na definição do Decreto n. 5.296/2004 temos uma definição com</p><p>exemplos:</p><p>alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do</p><p>corpo humano, acarretando o comprometimento da função fí-</p><p>sica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia,</p><p>monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,</p><p>triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou au-</p><p>sência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com</p><p>deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades</p><p>estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempe-</p><p>nho de funções. (BRASIL, 2004)</p><p>No entanto, além de conhecer os tipos de deficiência física no reco-</p><p>nhecimento e na escolha da TA a ser utilizada, é preciso levantar alguns</p><p>pontos importantes como a faixa etária; as necessidades individuais,</p><p>habilidades e interesses do sujeito, levando em conta que cada pessoa</p><p>é única e tem demandas diferentes; e o contexto social, tanto do sujeito</p><p>quanto da escola e dos locais onde a TA será utilizada.</p><p>Portanto, o uso da TA supera limitações e está relacionado às neces-</p><p>sidades específicas de cada sujeito. No caso da deficiência física, a TA</p><p>tem como objetivos proporcionar autonomia, independência e acessi-</p><p>bilidade e, assim como afirma Santarosa (2010), possibilitar o desenvol-</p><p>vimento de atividades com o mínimo de esforço físico possível.</p><p>Vejamos agora alguns exemplos de tecnologia assistiva relaciona-</p><p>das à área da deficiência física.</p><p>Para saber mais sobre os</p><p>tipos de deficiência física,</p><p>leia o texto indicado:</p><p>Disponível em: https://www.justica.</p><p>pr.gov.br/Pagina/Deficiencia-Fisica.</p><p>Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>Leitura</p><p>Vídeo</p><p>https://www.justica.pr.gov.br/Pagina/Deficiencia-Fisica</p><p>https://www.justica.pr.gov.br/Pagina/Deficiencia-Fisica</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 87</p><p>Veículos adaptados: atualmente há uma diversidade de adapta-</p><p>ções feitas em veículos para atender aos diferentes tipos de deficiência</p><p>física, como aceleradores e freios manuais, alavancas especiais, bancos</p><p>adaptados, rampas para o acesso e outros. Essas adaptações irão de-</p><p>pender da necessidade específica de cada sujeito (Figura 1).</p><p>Além disso, no Brasil há isenção de impostos para as PcD na compra</p><p>de veículos. A Lei n. 8.989/1995 foi a primeira decretada e “dispõe sobre</p><p>isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na aquisição</p><p>de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros,</p><p>bem como por pessoas portadoras de deficiência física e aos destina-</p><p>dos ao transporte escolar” (BRASIL, 1995). Depois dessa lei, diversos</p><p>outros documentos legais foram lançados a fim de regularizar ou com-</p><p>plementar esse direito.</p><p>Figura 1</p><p>Exemplo de um carro adaptado</p><p>Ro</p><p>m</p><p>an</p><p>Z</p><p>ai</p><p>et</p><p>s/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Bicicletas adaptadas: as bicicletas ou triciclos adaptados, além de</p><p>serem usados no dia a dia, são recursos que possibilitam às pessoas</p><p>com deficiência física a prática de esportes no ciclismo, inclusive nas</p><p>paralimpíadas (Figura 2). De acordo com o Comitê Paralímpico Brasi-</p><p>leiro (CPB) “Paralisados cerebrais, deficientes visuais, amputados e le-</p><p>sionados medulares (cadeirantes), de ambos os sexos, competem no</p><p>ciclismo adaptado” (CICLISMO, 2022). Há diferentes tipos de bicicletas e</p><p>diferentes classes de competição, de acordo com a particularidade de</p><p>cada atleta.</p><p>88 Tecnologias Assistivas</p><p>Figura 2</p><p>Ciclista paralímpico</p><p>Se</p><p>rg</p><p>ey</p><p>N</p><p>ov</p><p>ik</p><p>ov</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Além do ciclismo há diversas modalidades de competição para as</p><p>pessoas com deficiência, como esgrima em cadeira de rodas, futebol</p><p>de cegos, vôlei sentado, entre outros. Para cada modalidade há um sis-</p><p>tema de classificação, levando em conta a deficiência.</p><p>Próteses e órteses: hoje, graças ao avanço da tecnologia, há uma</p><p>grande variedade de próteses e órteses disponíveis no mercado. São</p><p>tecnologias diferentes, mas que visam suprir ou complementar os mo-</p><p>vimentos que se encontram limitados devido à deficiência, de modo</p><p>a permitir autonomia na realização de tarefas. As próteses (Figura 3a)</p><p>são peças artificiais que substituem um membro do corpo, já as órteses</p><p>(Figura 3b) auxiliam nas funções de um membro do corpo.</p><p>Para saber mais, você</p><p>pode acessar o site do</p><p>Comitê Paralímpico</p><p>Brasileiro e explorar as</p><p>diversas modalidades das</p><p>Paralimpíadas, além de</p><p>ter acesso a informações</p><p>e notícias.</p><p>Disponível em: https://www.cpb.</p><p>org.br/. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>Site</p><p>Figura 3</p><p>Exemplos de prótese e órtese</p><p>Du</p><p>sa</p><p>n</p><p>Pe</p><p>tk</p><p>ov</p><p>ic</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A</p><p>nu</p><p>iz</p><p>a1</p><p>1/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>B</p><p>https://www.cpb.org.br/</p><p>https://www.cpb.org.br/</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 89</p><p>Existem alguns programas de acessibilidade e inclusão do Sistema</p><p>Único de Saúde (SUS) e do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)</p><p>que fornecem próteses e órteses gratuitamente:</p><p>O SUS disponibiliza além das próteses ortopédicas, coletes, pal-</p><p>milhas, calçados ortopédicos, cadeiras de rodas adaptadas, ben-</p><p>galas, muletas, andadores, aparelhos que corrigem alterações</p><p>auditivas, meios auxiliares de Locomoção (OPM) e diversos ou-</p><p>tros dispositivos para pessoas com deficiência. Já o INSS é obri-</p><p>gado a fornecer aparelhos de prótese, órtese e instrumentos de</p><p>auxílio para locomoção conforme previsto pela Lei de Benefícios</p><p>da Previdência Social, nº 8.213/91. (BARION, 2021)</p><p>Especificamente no âmbito escolar, para promover a acessibilida-</p><p>de e atender às necessidades dos alunos com deficiência física, muitas</p><p>vezes a escola precisa (e deve) buscar a tecnologia assistiva por meio</p><p>de móveis adaptados (mesas, cadeiras) ou adaptações simples que po-</p><p>dem ser realizadas pelos próprios profissionais.</p><p>Mobiliários adaptados: os móveis adaptados devem levar em con-</p><p>sideração as necessidades individuais do aluno, por isso há uma di-</p><p>versidade de modelos, que envolvem braços de apoio adaptados para</p><p>cadeira, mesas adaptadas, apoios posturais, cadeiras adaptadas ou</p><p>ergonômicas, entre outros. Esses exemplos possibilitam melhor ade-</p><p>quação postural e facilitam o acesso aos materiais de estudo (Figura 4).</p><p>Tablets com touch screen facilitam a leitura de uma outra TA – os li-</p><p>vros digitais – que permitem a acessibilidade em diferentes aspectos e</p><p>áreas. Lembrando que é necessário avaliar a real necessidade de cada</p><p>indivíduo para que as adequações possam ser realizadas.</p><p>Figura 4</p><p>Exemplos de mobiliários adaptados</p><p>An</p><p>nG</p><p>ay</p><p>so</p><p>rn</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ja</p><p>re</p><p>n</p><p>Ja</p><p>i W</p><p>ic</p><p>kl</p><p>un</p><p>d/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>O filme Os Intocáveis conta</p><p>uma história baseada em</p><p>fatos reais de um deficien-</p><p>te físico com tetraplegia</p><p>que, com a ajuda de um</p><p>auxiliar de enfermagem,</p><p>começa a dar um novo</p><p>sentido para sua vida</p><p>após ter sofrido um grave</p><p>acidente. É um filme que</p><p>mostra a importância do</p><p>outro, da empatia e da al-</p><p>teridade na vida das PcD.</p><p>Direção: Olivier Nakache; Éric</p><p>Toledano. França: Quad; Ten Films;</p><p>Canal+, 2011.</p><p>Filme</p><p>90 Tecnologias Assistivas</p><p>Recursos adaptados: são recursos que visam proporcionar au-</p><p>tonomia no desenvolvimento das atividades, levando em conta a di-</p><p>ficuldade física do aluno, como manuseio, pega e movimento. Assim</p><p>a necessidade deve ser observada e a adaptação proporcionada.</p><p>São exemplos de recursos adaptados: pegadores para tesoura, en-</p><p>grossadores de objetos, estabilizadores, pulseiras, entre outros. Na</p><p>Figura 5 temos um exemplo de engrossador de lápis.</p><p>Há, assim, uma infinidade de recursos de</p><p>TA nessa área, de modo que é possível pro-</p><p>porcionar aos alunos com deficiência física a</p><p>participação ativa nas atividades escolares. Sobre</p><p>isso, Bersch e Machado (2007) referem que, ao opor-</p><p>tunizar o acesso desses alunos à TA, diferentes alter-</p><p>nativas poderão ser exploradas, e tarefas poderão ser</p><p>realizadas. Caso contrário, esses alunos estarão em des-</p><p>vantagem em relação aos demais, não participando do</p><p>processo de descoberta e de aquisição do conhecimento.</p><p>Nesse sentido, a TA atua como facilitadora da inclusão</p><p>dos alunos com deficiência física nas atividades escola-</p><p>res, proporcionando sua participação e promovendo a autonomia.</p><p>Ressaltando que não basta apenas a presença da TA; é necessário,</p><p>antes de tudo, conhecer a realidade e as necessidades de cada sujei-</p><p>to. Além disso, o sucesso na usabilidade e na eficácia dos recursos</p><p>depende de um trabalho multidisciplinar, junto do envolvimento fa-</p><p>miliar. Assim, terapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e outros pro-</p><p>fissionais ligados tanto ao desenvolvimento do aluno quanto à TA</p><p>devem dialogar e buscar alternativas em conjunto para que esses</p><p>artefatos não sejam meros instrumentos no espaço escolar.</p><p>5.2 TA – deficiência visual e cegueira</p><p>Vídeo Na área da deficiência visual há uma infinidade de recursos tecno-</p><p>lógicos que permitem a autonomia e a independência. Os recursos</p><p>variam de artefatos de baixa tecnologia e materiais adaptados, até re-</p><p>cursos de alta tecnologia e alto custo. Assim como nas outras áreas, na</p><p>visual também é necessário conhecer as necessidades de cada sujeito</p><p>e principalmente saber diferenciar as especificidades relacionadas à</p><p>PENpics Studio/Shutterstock</p><p>Figura 5</p><p>Engrossador de lápis</p><p>M</p><p>at</p><p>ej</p><p>K</p><p>as</p><p>te</p><p>lic</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>deficiência, além, é claro, de se considerar o contexto de vida. Neste</p><p>sentido, cabe compreendermos alguns conceitos importantes, sobre-</p><p>tudo em relação à diferença entre a cegueira e a baixa visão, ambas</p><p>consideradas deficiências visuais.</p><p>O Ministério da Educação (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 15-16) traz</p><p>o seguinte:</p><p>A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das</p><p>funções elementares da visão que afeta de modo irremediá-</p><p>vel a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma,</p><p>posição ou movimento em um campo mais ou menos abran-</p><p>gente. [...]</p><p>A definição de baixa visão (ambliopia, visão subnormal ou</p><p>visão residual) é complexa devido à variedade e à intensida-</p><p>de de comprometimentos das funções visuais. Essas funções</p><p>englobam desde a simples percepção de luz até a redução</p><p>da acuidade e do campo visual que interferem ou limitam a</p><p>execução de tarefas e o desempenho geral. Em muitos casos,</p><p>observa-se o nistagmo, movimento rápido e involuntário dos</p><p>olhos, que causa uma redução da acuidade visual e fadiga du-</p><p>rante a leitura.</p><p>Com a criação da Lei n. 14.126/2021, passou-se a classificar a visão</p><p>monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, a qual, até então,</p><p>não era classificada como deficiência (BRASIL, 2021).</p><p>Assim como a definição nesta área é ampla e com-</p><p>plexa, a diversidade de recursos também é vasta e</p><p>variada. Por isso, trazemos aqui apenas alguns</p><p>exemplos de TA, levando em conta a infini-</p><p>dade de tecnologias disponíveis.</p><p>O site indicado traz diver-</p><p>sas informações sobre as</p><p>tecnologias voltadas às</p><p>pessoas com deficiência</p><p>visual. Nele é possível ter</p><p>acesso a informações,</p><p>artigos e textos esclarece-</p><p>dores da área.</p><p>Disponível em: http://www.</p><p>bengalalegal.com/index.html.</p><p>Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>Site</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especialAplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 9191</p><p>http://www.bengalalegal.com/index.html</p><p>http://www.bengalalegal.com/index.html</p><p>92 Tecnologias Assistivas</p><p>5.2.1 Recursos de orientação e mobilidade</p><p>As pessoas videntes (como denomina-se o não cego) dificilmente</p><p>conhecem a função do piso tátil, as peças dispostas em calçadas e em</p><p>locais de circulação. Muitas, inclusive, acreditam ser peças decorativas.</p><p>Porém, para as pessoas</p><p>cegas, esses pisos desempenham uma fun-</p><p>ção muito importante no que se refere à autonomia na locomoção. De</p><p>acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2016, p.</p><p>8) “a sinalização tátil no piso é considerada um recurso complementar</p><p>para prover segurança, orientação e mobilidade a todas as pessoas,</p><p>principalmente àquelas com deficiência visual ou surdo-cegueira”, ou</p><p>seja, está em consonância com o desenho universal de acessibilidade</p><p>para todos.</p><p>Figura 6</p><p>Exemplo de piso tátil</p><p>Th</p><p>am</p><p>KC</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Além disso, cada tipo de relevo, formato e disposição das peças</p><p>tem um significado e é fundamental para que a locomoção ocorra de</p><p>modo seguro e eficaz. Para isto, a ABNT (2016) dispõe de normas es-</p><p>pecíficas para o uso desse tipo de sinalização. Tais normas seguem os</p><p>fundamentos do desenho universal e estabelecem normas de dimen-</p><p>sionamento de relevo para cada tipo de sinalização (alerta, direção</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 93</p><p>e obstáculos, por exemplo), formato e disposição dos pisos táteis de</p><p>acordo com o tipo de circulação e ainda traz especificações levando em</p><p>conta os diversos espaços de circulação (calçadas, pontos de ônibus,</p><p>faixa de pedestres, por exemplo).</p><p>Como estão os espaços onde você tem circulado? E as escolas, que</p><p>deveriam ser locais de inclusão, dispõem desse recurso?</p><p>?</p><p>A bengala é um dos recursos mais utilizados pelas pessoas cegas.</p><p>De acordo com Santos (2019), a bengala funciona como uma extensão</p><p>do corpo do usuário e garante o direito de locomoção com segurança,</p><p>autonomia e privacidade. Com ela, as informações sobre o terreno e os</p><p>possíveis obstáculos podem ser percebidas.</p><p>Há diversos modelos de bengalas, por isso é preciso considerar as</p><p>necessidades e a adaptação do usuário. Além disso, para que se use as</p><p>bengalas com eficiência, é necessário passar por programas de orienta-</p><p>ção e mobilidade 1 , ofertados por centros de reabilitação e pelos servi-</p><p>ços de educação especial nas escolas. Ao contrário do que se imagina,</p><p>as pessoas cegas não aprendem a usar estes recursos naturalmente,</p><p>por isso o papel da escola é fundamental.</p><p>A escola é um espaço onde, em uma perspectiva inclusiva, diversas</p><p>formas de aprendizagem devem ocorrer, sobretudo quanto aos servi-</p><p>ços de educação especial disponíveis. Além disso, o papel do Atendi-</p><p>mento Educacional Especializado (AEE), quando tratamos da área de</p><p>deficiência visual e cegueira, é uma das funções do serviço da educa-</p><p>ção especial:</p><p>A criança cega muitas vezes chega a escola sem um “passado”</p><p>de experiências como seus colegas que enxergam, não apresen-</p><p>ta as rotinas da vida cotidiana de acordo com a sua idade, os</p><p>seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade,</p><p>orientação espacial e temporal são quase inexistentes e sua mo-</p><p>bilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima e dificultará o</p><p>seu ajustamento à situação escolar, isto é, a sua inclusão de fato.</p><p>Tais efeitos diretos e indiretos são interdependentes, afetam o</p><p>desenvolvimento da criança e, principalmente, a capacidade de</p><p>orientação e mobilidade. (MOTA, 2003, p. 25)</p><p>Orientação é o processo</p><p>pelo qual são utilizados os</p><p>sentidos remanescentes</p><p>no reconhecimento do</p><p>espaço e da posição dos</p><p>objetos.</p><p>Mobilidade é a habilida-</p><p>de de se locomover e se</p><p>deslocar com segurança</p><p>nos espaços (MOTA,</p><p>2003).</p><p>1</p><p>94 Tecnologias Assistivas</p><p>Em se tratando, ainda, de mobilidade, o cão-guia (Figura 7) também</p><p>tem sido um auxílio cada vez mais presente na vida das pessoas cegas.</p><p>Nesse caso, também é preciso passar por programas de treinamento.</p><p>Figura 7</p><p>Exemplo de bengala e cão-guia</p><p>Ro</p><p>m</p><p>an</p><p>C</p><p>ha</p><p>zo</p><p>v/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>No Brasil, a Lei n. 11.126/2005 garante às pessoas com deficiência</p><p>visual que possam ser acompanhadas por cães-guias nos ambientes</p><p>coletivos (BRASIL, 2005b).</p><p>5.2.2 Recursos de Sistema Braille</p><p>A reglete com punção (Fgura 8a) e a máquina de datilografia</p><p>braile (Figura 8b), apesar de serem tecnologias mais antigas, são am-</p><p>plamente utilizadas, principalmente no meio escolar. Isso se deve ao</p><p>seu baixo custo e por serem consideradas ferramentas fundamentais</p><p>para o aprendizado e a compreensão do Sistema Braille. A reglete é um</p><p>recurso essencial no início da alfabetização em braile.</p><p>A impressora braile (Figura 8c) é uma ferramenta que vem ganhan-</p><p>do cada vez mais espaço, sobretudo nos espaços educacionais. Possi-</p><p>bilita o acesso à leitura de modo mais ágil e diversificado. Esse recurso</p><p>vem sendo distribuído às escolas públicas e faz parte do arsenal de</p><p>materiais disponíveis nas salas de recursos multifuncionais. Portanto,</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 95</p><p>é preciso que haja profissionais preparados para o uso dessa tecnolo-</p><p>gia, considerando a especificidade quanto a seu uso e aos programas</p><p>necessários para o funcionamento. Graças a essa tecnologia, o acesso</p><p>a materiais escritos em braile (Figura 8d) pode ser disponibilizado</p><p>amplamente.</p><p>Figura 8</p><p>Recursos do Sistema Braille</p><p>M</p><p>yk</p><p>ol</p><p>a</p><p>Ko</p><p>m</p><p>ar</p><p>ov</p><p>sk</p><p>yy</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A</p><p>Iv</p><p>an</p><p>B</p><p>ru</p><p>no</p><p>d</p><p>e</p><p>M</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>B</p><p>Re</p><p>sh</p><p>et</p><p>ni</p><p>ko</p><p>v_</p><p>Ar</p><p>t/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>C</p><p>Ne</p><p>w</p><p>Af</p><p>ric</p><p>a/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>D</p><p>Além disso, existem os recursos ópticos e não ópticos para baixa vi-</p><p>são. Os recursos ópticos são equipamentos ou instrumentos que aju-</p><p>dam a melhorar a visão residual, geralmente pelo aumento da imagem,</p><p>como óculos especiais, lupas e lunetas. Os recursos não ópticos são</p><p>recursos que modificam os materiais e melhoram as condições do am-</p><p>biente aumentando a resolução e melhorando a função visual, como</p><p>controle de iluminação, ampliação de materiais e uso de recursos ele-</p><p>trônicos para a ampliação na informática (AUXÍLIOS..., 2022).</p><p>96 Tecnologias Assistivas</p><p>Figura 9</p><p>Exemplo de lupa</p><p>An</p><p>dr</p><p>ey</p><p>_P</p><p>op</p><p>ov</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A lupa manual, mostrada na Figura 9, é usada para ampliar o ta-</p><p>manho de letras, mapas, imagens etc., além de diminuir a fadiga</p><p>visual. Há outros tipos de lupa, como a eletrônica, que é ligada por</p><p>um cabo USB ao notebook para ampliação de texto para a leitura</p><p>por alunos com baixa visão no contexto da sala de recurso multifun-</p><p>cional (SRM).</p><p>5.2.3 Recursos de informática e de dispositivos móveis</p><p>Alguns recursos de informática são softwares e programas de</p><p>computador. Por exemplo, o Dosvox e o Jaws são interfaces com sin-</p><p>tetizadores de voz que possibilitam o acesso ao computador e suas</p><p>funções, bem como a navegação na internet. O uso dessas interfaces é</p><p>muito simples, pois são sistemas que se comunicam com o usuário por</p><p>meio de comandos da voz, sendo que, ao acionar determinada tecla,</p><p>terá uma opção diferente. No Dosvox, ao clicar a tecla F1, o usuário</p><p>acessa o menu principal e uma tela se abre sonorizando opções, como</p><p>abrir arquivos, executar um programa, acessar jogos, acessar a inter-</p><p>net, enfim, o acesso a todas as funções do computador. O Dosvox é</p><p>distribuído gratuitamente, já o Jaws tem uma versão gratuita, porém</p><p>mais limitada.</p><p>Para saber mais sobre es-</p><p>tes programas, você pode</p><p>acessar os links a seguir:</p><p>Disponíveis em:</p><p>http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/</p><p>intro.htm.</p><p>http://intervox.nce.ufrj.</p><p>br/~josevanf/jaws.html.</p><p>Acessos em: 1 dez. 2022.</p><p>Leitura</p><p>http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/intro.htm</p><p>http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/intro.htm</p><p>http://intervox.nce.ufrj.br/~josevanf/jaws.html</p><p>http://intervox.nce.ufrj.br/~josevanf/jaws.html</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 97</p><p>Os players de audiolivro (Figura 10a) são recursos para leitura de</p><p>livros no computador. No entanto, hoje, devido ao fácil acesso ao ce-</p><p>lular e à diversidade de audiolivros, os aplicativos para smartphone</p><p>(Figura 10b) são amplamente utilizados.</p><p>Figura 10</p><p>Exemplos de recursos</p><p>zl</p><p>ik</p><p>ov</p><p>ec</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ch</p><p>an</p><p>so</p><p>m</p><p>P</p><p>an</p><p>tip</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>A B</p><p>Há vários recursos no próprio smartphone, além dos aplicativos,</p><p>que possibilitam seu uso de modo eficiente pelas pessoas com defi-</p><p>ciência visual. É o caso</p><p>do Talk Back e do VoiceOver, leitores de telas</p><p>que, como menciona o Centro Tecnológico de Acessibilidade (CTA), são</p><p>recursos já disponíveis em alguns sistemas operacionais, possibilitan-</p><p>do a acessibilidade por meio de movimentos ou combinação de gestos</p><p>para ter acesso às funções do aparelho (DESCUBRA..., 2019).</p><p>Como podemos perceber, há muitos recursos disponíveis na área</p><p>da deficiência visual. Há ainda muito mais do que foi possível abordar</p><p>nesta seção. Então, cabe a você agora fazer buscas e pesquisas e mer-</p><p>gulhar nessa infinidade de tecnologia assistiva para que cada vez mais</p><p>profissionais tenham acesso a esse conhecimento.</p><p>5.3 TA – deficiência auditiva e surdez</p><p>Vídeo Antes de abordar os recursos de TA nessa área, cabe considerar que</p><p>historicamente, por muito tempo, as pessoas surdas tiveram sua edu-</p><p>cação voltada a uma visão clínico-terapêutica, em que sua cultura, iden-</p><p>tidade e língua natural não eram valorizadas. Foi somente no século XX</p><p>que a língua de sinais começou a ser reconhecida linguisticamente e a</p><p>acessibilidade passou a ser garantida.</p><p>98 Tecnologias Assistivas</p><p>No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua reconhe-</p><p>cida oficialmente pela Lei n. 10.436/2002, e vem sendo cada vez mais</p><p>aceita socialmente. Aliás, é considerada a segunda língua do nosso</p><p>país. Então, a Libras não é um recurso, mas sim uma língua, pois possui</p><p>todos os níveis linguísticos de uma língua genuína (fonética/fonologia,</p><p>morfologia, sintaxe, semântica, pragmática) e por meio dela é possível</p><p>comunicar-se com efetividade como em qualquer outro idioma.</p><p>Ao passo que ocorreram avanços nessa área, a tecnologia também</p><p>passou a ser cada vez mais utilizada pelas pessoas surdas, sobretudo</p><p>no que se refere à comunicação. Porém, antes de apontarmos alguns</p><p>recursos de TA nessa área é importante destacar a definição clínica e a</p><p>visão sociocultural de surdez. Biologicamente falando, a deficiência au-</p><p>ditiva é a perda na sensibilidade aos sons produzida por algum proble-</p><p>ma no sistema auditivo, podendo ser em um ou em ambos os ouvidos</p><p>e causada por diversos fatores. O déficit auditivo pode estar relacio-</p><p>nado à frequência do som (grave/agudo) – medida em hertz (Hz) –, à</p><p>intensidade (fraco/forte) – medida em decibéis (dB) – ou a ambas.</p><p>Quanto às definições atuais, o termo surdo é citado em diversos do-</p><p>cumentos por remeter a uma visão cultural e antropológica defendida</p><p>por estudiosos da área e também por pessoas surdas. Um dos docu-</p><p>mentos mais importantes neste aspecto é o Decreto n. 5.626/2005, o</p><p>qual regulamenta a Lei de oficialização da Libras e traz, em seu artigo</p><p>2°, a seguinte definição:</p><p>considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva,</p><p>compreende e interage com o mundo por meio de experiências</p><p>visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da</p><p>Língua Brasileira de Sinais - Libras.</p><p>[...]</p><p>Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilate-</p><p>ral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, afe-</p><p>rida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz</p><p>e 3.000Hz. (BRASIL, 2005a)</p><p>O mesmo decreto faz referência à TA, mencionando, em seu ca-</p><p>pítulo IV (art. 14), a obrigatoriedade de “disponibilizar equipamentos,</p><p>acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como</p><p>recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com</p><p>deficiência auditiva” (BRASIL, 2005a).</p><p>No site do Instituto</p><p>Nacional de Educação de</p><p>Surdos (INES) você pode</p><p>acessar o dicionário bilín-</p><p>gue e se aprofundar no</p><p>conhecimento da Libras.</p><p>Disponível em: https://www.ines.</p><p>gov.br/dicionario-de-libras/. Acesso</p><p>em: 1 dez. 2022.</p><p>Site</p><p>https://www.ines.gov.br/dicionario-de-libras/</p><p>https://www.ines.gov.br/dicionario-de-libras/</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 99</p><p>Além disso, atualmente, o termo surdo é o mais utilizado na comu-</p><p>nidade surda, pois reflete uma visão socioantropológica. Já o termo</p><p>deficiente auditivo remete a uma visão clínica/terapêutica da surdez e</p><p>denota uma fase da história em que eram submetidos a métodos rea-</p><p>bilitadores para que se alcançasse a oralidade e a normalização. Por</p><p>isso, há esse debate em relação aos termos.</p><p>Para compreender melhor a diferença nas duas visões, vamos ob-</p><p>servar o Quadro 1 em relação a termos relacionados a cada uma.</p><p>Quadro 1</p><p>Diferenças entre a visão clínica/terapêutica e a visão socioantropológica</p><p>Visão clínica/terapêutica Visão socioantropológica</p><p>Deficiente auditivo Surdo</p><p>Deficiência Diferença</p><p>Língua oral-auditiva Língua gestual-visual</p><p>Falta de audição Diferentes possibilidades</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Acerca da surdez é importante considerar que, em uma visão so-</p><p>ciocultural, a falta de audição não deve ser um fator determinante no</p><p>desenvolvimento da pessoa surda. Essa pessoa deve ser percebida a</p><p>partir das suas necessidades individuais e sociais e sobretudo das suas</p><p>habilidades, levando em conta suas experiências visuais e as diferentes</p><p>possibilidades para o seu desenvolvimento cultural.</p><p>Diante disso, os artefatos culturais assumem um papel muito im-</p><p>portante na interação das pessoas surdas e, tanto em relação à perda</p><p>auditiva quanto ao uso da língua de sinais, os recursos de TA estão pre-</p><p>sentes no seu dia a dia, nos mais diversos âmbitos sociais. Atualmente</p><p>há uma infinidade de recursos, serviços e ferramentas voltados à co-</p><p>municação, à interação e à acessibilidade social e educacional, como</p><p>veremos a seguir.</p><p>5.3.1 Recursos auditivos</p><p>O aparelho de amplificação sonora individual (AASI) (Figura 11) é</p><p>um aparelho que capta o som, amplificando-o, tratando o sinal acústico</p><p>e direcionando-o para o ouvido.</p><p>100 Tecnologias Assistivas</p><p>Figura 11</p><p>Exemplo de AASI</p><p>GU</p><p>ND</p><p>AM</p><p>_A</p><p>i/S</p><p>hu</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>O implante coclear (IC) (Figura 12), conhecido popularmente como</p><p>ouvido biônico, é uma das tecnologias mais sofisticadas atualmente.</p><p>Trata-se de um aparelho implantado na cóclea auditiva, a fim de ati-</p><p>var o funcionamento auditivo, por meio de uma cirurgia. Deve ser im-</p><p>plantado apenas em pessoas que apresentem perda auditiva de grau</p><p>profundo. É importante considerar que esse implante não irá garantir</p><p>a aquisição da língua oral, pois é preciso, além do uso do aparelho, um</p><p>trabalho clínico e terapêutico para a compreensão dos diferentes sons</p><p>e, principalmente, da fala.</p><p>Figura 12</p><p>Exemplo de implante coclear</p><p>m</p><p>ad</p><p>y7</p><p>0/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>er</p><p>st</p><p>oc</p><p>k</p><p>Para saber mais sobre o</p><p>implante coclear, leia o</p><p>texto indicado.</p><p>Disponível em: https://</p><p>implantecoclear.ufes.br/implante-</p><p>coclear. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>Leitura</p><p>https://implantecoclear.ufes.br/implante-coclear</p><p>https://implantecoclear.ufes.br/implante-coclear</p><p>https://implantecoclear.ufes.br/implante-coclear</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 101</p><p>5.3.2 Recursos visuais e sensoriais</p><p>Há uma diversidade de dispositivos com sinais luminosos ou vi-</p><p>bratórios que auxiliam nos diversos âmbitos da vida das pessoas sur-</p><p>das, desde no ambiente domiciliar até nos contextos escolares, por</p><p>exemplo campainhas luminosas (Figura 13a) e relógios e despertado-</p><p>res vibratórios (Figura 13b). Estes recursos proporcionam independên-</p><p>cia e autonomia.</p><p>Figura 13</p><p>Exemplos de dispositivos com sinais luminosos ou vibratórios</p><p>Bo</p><p>to</p><p>nd</p><p>19</p><p>77</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>go</p><p>vin</p><p>da</p><p>m</p><p>ad</p><p>ha</p><p>va</p><p>10</p><p>8/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ckA B</p><p>5.3.3 Recursos para acessibilidade linguística</p><p>São muitos os recursos de acessibilidade relacionados ao uso de</p><p>dispositivos móveis, tanto para comunicação quanto para a informa-</p><p>ção, a começar pelo celular.</p><p>Você já parou para refletir o quanto os dispositivos móveis mudaram a</p><p>vida das pessoas surdas?</p><p>?</p><p>Por meio de textos escritos e principalmente por chamadas de ví-</p><p>deo (Figura 14), os aplicativos de mensagens revolucionaram a co-</p><p>municação, tanto entre surdo/surdo quanto entre surdo/ouvinte. A</p><p>possibilidade de se comunicar em sua língua natural e em tempo real</p><p>faz com que o celular e outros dispositivos móveis sejam amplamente</p><p>utilizados pela comunidade surda.</p><p>102 Tecnologias Assistivas</p><p>Figura 14</p><p>Comunicação em língua de sinais pelo computador</p><p>An</p><p>dr</p><p>ey</p><p>_P</p><p>op</p><p>ov</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Além dos aplicativos de mensagens, existem aplicativos específicos</p><p>para a comunicação de surdos, como o Hand Talk, um dicionário gra-</p><p>tuito para tradução de texto e áudio em Língua Brasileira de Sinais. O</p><p>Hand Talk é uma excelente ferramenta para ser utilizada em sala de</p><p>aula, pois auxilia na comunicação, pode ser usado como recurso didá-</p><p>tico para o ensino da língua portuguesa para os alunos surdos, ajuda</p><p>na busca de significados e auxilia os ouvintes no aprendizado da Libras.</p><p>Trouxemos apenas alguns exemplos de ferramentas que atuam</p><p>como TA para as pessoas surdas, mas sabemos que há inúmeros recur-</p><p>sos nessa área; é preciso apenas que as pessoas surdas tenham acesso</p><p>a eles e que continuem a exercer autonomia e independência em todos</p><p>os contextos da sociedade.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A TA está presente nas diferentes áreas da educação especial. No</p><p>entanto, para que seja aplicada e utilizada com eficiência e de maneira</p><p>funcional, é necessário, antes de tudo, o acesso efetivo aos recursos e ser-</p><p>viços. Nesse sentido, a escola, enquanto local privilegiado para a aprendi-</p><p>zagem e o desenvolvimento, desempenha um papel fundamental.</p><p>Em todas as áreas, é necessário que se considerem as necessidades</p><p>individuais de cada usuário, o contexto social, bem como suas habilidades</p><p>e interesses, para que se possa alcançar a autonomia e independência,</p><p>Que tal fazer uma busca</p><p>na loja de aplicativos do</p><p>seu celular, instalar o</p><p>Hand Talk e conhecer</p><p>melhor este aplicativo? Se</p><p>você ainda não conhece,</p><p>certamente vai se interes-</p><p>sar e tentar se aprofundar</p><p>na Libras!</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>handtalk.me/br. Acesso em: 19</p><p>dez. 2022.</p><p>Desafio</p><p>https://www.handtalk.me/br</p><p>https://www.handtalk.me/br</p><p>Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação especial 103</p><p>de modo que as tecnologias assistivas não se traduzam em meras ferra-</p><p>mentas de acessibilidade, mas que possam ser artefatos compensatórios</p><p>capazes de impulsionar o desenvolvimento e possibilitar a valorização das</p><p>potencialidades.</p><p>Ao reconhecer a infinidade de recursos e as diversas possibilidades de</p><p>adaptações, os profissionais ligados à educação contribuem para a efeti-</p><p>vação da inclusão e para o alcance da equidade. Sabemos que há ainda</p><p>muito a se percorrer no que se trata do acesso à TA, entretanto, muito já</p><p>foi alcançado, e as pessoas com deficiência, por meio da acessibilidade,</p><p>estão cada vez mais presentes em todos os âmbitos sociais.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Atividade 1</p><p>No que se refere à deficiência física, quais são os pontos a serem</p><p>considerados na escolha da tecnologia assistiva, além de conhecer</p><p>o tipo de deficiência?</p><p>Atividade 2</p><p>Qual é a função da sinalização tátil disposta em calçadas e locais</p><p>de circulação?</p><p>Atividade 3</p><p>A Libras (Língua Brasileira de Sinais) não é um mero recurso ou</p><p>instrumento que auxilia na comunicação, mas sim uma língua.</p><p>Justifique essa afirmativa.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Acessibilidade – Sinalização tátil no piso.</p><p>Diretrizes para elaboração de projetos e instalação. Rio de Janeiro, 2016.</p><p>AUXÍLIOS Ópticos. Faculdade de Ciências Médicas, 2022. Disponível em: https://www.fcm.</p><p>unicamp.br/fcm/auxilios-opticos. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>https://www.fcm.unicamp.br/fcm/auxilios-opticos</p><p>https://www.fcm.unicamp.br/fcm/auxilios-opticos</p><p>104 Tecnologias Assistivas</p><p>BARION, T. Próteses ortopédicas personalizadas, gratuitas e sob medida. Como conseguir?</p><p>Guia de rodas, 13 nov. 2021. Disponível em: https://guiaderodas.com/proteses-ortopedicas-</p><p>gratuitas/. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BERSCH, R.; MACHADO, R. Auxílio em Atividades de Vida Diária - Material Escolar e</p><p>Pedagógico Adaptado. In: SCHIRMER, C. R. et al. Formação continuada a distância de</p><p>professores para o Atendimento Educacional Especializado Deficiência Física. Brasília: SEESP/</p><p>SEED/MEC, 2007.</p><p>BRASIL. Decreto n. 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União. Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 3 dez. 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial da União. Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 2005a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 8.989, de 24 de fevereiro de 1995. Diário Oficial da União. Poder Executivo,</p><p>Brasília, DF, 25 fev. 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8989.</p><p>htm. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Diário Oficial da União. Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 25 abr. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/</p><p>l10436.htm. Acesso em: 1 dez. 2022</p><p>BRASIL. Lei n. 11.126, de 27 de junho de 2005. Diário Oficial da União. Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 27 jun. 2005b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-</p><p>2006/2005/lei/l11126.htm. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 14.126, de 22 de março de 2021. Diário Oficial da União. Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 23 mar. 2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-</p><p>2022/2021/lei/L14126.htm. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 3.128, de 24 de dezembro</p><p>de 2008. Define que as Redes Estaduais de Atenção à Pessoa com Deficiência Visual</p><p>sejam compostas por ações na atenção básica e Serviços de Reabilitação Visual. Diário</p><p>Oficial da União, Brasília, DF, 24 dez. 2008. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/</p><p>saudelegis/gm/2008/prt3128_24_12_2008.html. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>CICLISMO. CPB – Comitê Paralímpico Brasileiro, 2022. Disponível em: https://www.cpb.org.</p><p>br/modalidades/58/ciclismo. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>DESCUBRA como os cegos utilizam smartphones e tablets. CTA – Centro Tecnológico de</p><p>Acessibilidade, 22 mar. 2019. Disponível em: https://cta.ifrs.edu.br/descubra-como-os-</p><p>cegos-utilizam-smartphones-e-tablets/. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>GODÓI, A. M.; GALASSO, R.; MIOSSO, S. M. P. Educação infantil: saberes e práticas da</p><p>inclusão – dificuldades de comunicação e sinalização – deficiência física. Associação de</p><p>Assistência à Criança Deficiente – AACD. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial,</p><p>2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciafisica.pdf.</p><p>Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>MOREIRA, P. A. L. O fator linguístico na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo da criança</p><p>surda. Revista Virtual de Cultura Surda, Editora Arara Azul, ed. 3, 2008. Disponível em: https://</p><p>editora-arara-azul.com.br/site/edicao/99. Acesso em: 1 dez. 2022.</p><p>MOTA, M. G. B. Orientação e Mobilidade: conhecimentos básicos para a inclusão do</p><p>deficiente visual. Brasília: MEC/SEESP, 2003.</p><p>SÁ, E. D.; CAMPOS, I. M.; SILVA, M. B. C. Formação Continuada a Distância de Professores</p><p>para o Atendimento Educacional Especializado Deficiência Visual. Brasília: SEESP/SEED/MEC,</p><p>2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf. Acesso em:</p><p>1 dez. 2022.</p><p>SANTOS, A. D. P. Tecnologia Assistiva para pessoas com Deficiência Visual: Avaliação da</p><p>eficiência de dispositivos para mobilidade pessoal. 2019. Dissertação (Mestrado em</p><p>Design) – Universidade Estadual Paulista, Bauru.</p><p>SANTAROSA, L. M. C. et al. Tecnologias digitais acessíveis. Porto Alegre: JSM Comunicação</p><p>Ltda, 2010.</p><p>https://guiaderodas.com/proteses-ortopedicas-gratuitas/</p><p>https://guiaderodas.com/proteses-ortopedicas-gratuitas/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8989.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8989.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11126.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11126.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14126.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14126.htm</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt3128_24_12_2008.html</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt3128_24_12_2008.html</p><p>https://www.cpb.org.br/modalidades/58/ciclismo</p><p>https://www.cpb.org.br/modalidades/58/ciclismo</p><p>https://cta.ifrs.edu.br/descubra-como-os-cegos-utilizam-smartphones-e-tablets/</p><p>https://cta.ifrs.edu.br/descubra-como-os-cegos-utilizam-smartphones-e-tablets/</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciafisica.pdf</p><p>https://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/99</p><p>https://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/99</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf</p><p>Resolução das atividades</p><p>1 Introdução às tecnologias assistivas</p><p>1. Cite três objetivos da tecnologia assistiva.</p><p>Promover a autonomia, possibilitar a independência e viabilizar</p><p>qualidade de vida às pessoas com deficiência. A tecnologia assistiva</p><p>visa à promoção da autonomia, da independência e melhor qualidade</p><p>de vida às pessoas com deficiência, de modo que elas tenham as</p><p>mesmas oportunidades e possam exercer atividades de modo</p><p>autônomo, sem obstáculos.</p><p>2. Qual é a importância da legislação para o contexto inclusivo?</p><p>São as leis que garantem direitos iguais a todos os cidadãos, sem</p><p>distinção. A acessibilidade e o direito à vida em sociedade são</p><p>garantidos pela Lei. A diversidade de documentos existentes na nossa</p><p>legislação é a garantia de usufruto dos direitos. Ao passo que as</p><p>pesquisas avançam, que a ciência evolui e que os conceitos mudam,</p><p>as leis são complementadas ou, ainda, substituídas.</p><p>3. Diferencie acessibilidade universal e acessibilidade especializada.</p><p>Dê um exemplo.</p><p>A acessibilidade universal está relacionada ao acesso a ambientes</p><p>e recursos que beneficiam a todas as pessoas, já a especializada é</p><p>voltada a pessoas com deficiência – por exemplo, um sinalizador</p><p>sonoro para pessoas cegas. No paradigma da inclusão, a acessibilidade</p><p>deve ser garantida a todos e, para isto, são necessárias adaptações ou</p><p>produção de tecnologias específicas que atendam às peculiaridades</p><p>de cada sujeito, como é o caso da tecnologia assistiva.</p><p>4. Para que servem os símbolos de acessibilidade? Explique.</p><p>Os símbolos de acessibilidade servem para identificar quando</p><p>um recurso ou um local é acessível a pessoas com diferentes</p><p>especificidades. Eles estão presentes em nossa sociedade e são</p><p>estabelecidos por normas e convencionalizados, de modo que cada</p><p>símbolo tem um significado e visa atender particularidades com</p><p>relação a deficiências.</p><p>Resolução das atividades 105</p><p>2 Categorias em tecnologias assistivas</p><p>1. Como a tecnologia assistiva contribui nas atividades diárias da</p><p>pessoa com deficiência? Cite dois exemplos.</p><p>A TA favorece o desempenho autônomo e independente em</p><p>tarefas rotineiras, ou facilita o cuidado de pessoas em situação de</p><p>dependência de auxílio nas atividades como se alimentar, cozinhar,</p><p>vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais. Exemplos:</p><p>engrossador de talheres, fixadores, abotoadores.</p><p>2. Sabemos que a TA auxilia na independência e na autonomia das</p><p>PcD nos diversos âmbitos da vida. E em relação à área digital, não</p><p>poderia ser diferente. Entretanto, é preciso avaliar o contexto do</p><p>usuário e as particularidades em relação à deficiência. Diante disso,</p><p>cite dois exemplos de tecnologia assistiva que facilitam o acesso ao</p><p>computador e relacione qual necessidade essa TA atenderia.</p><p>Podemos citar, por exemplo, mouse e teclado adaptado para pessoas</p><p>com dificuldade motora e a lupa do Windows para pessoas com</p><p>dificuldade visual.</p><p>3. Qual a diferença entre comunicação alternativa apoiada e</p><p>comunicação alternativa não apoiada? Cite um exemplo de cada</p><p>conceito.</p><p>A apoiada é quando a comunicação se estabelece na forma física e</p><p>fora do corpo do sujeito, por exemplo: pranchas de comunicação e</p><p>sistemas computadorizados. A não apoiada se refere às expressões</p><p>que são produzidas pelo sujeito sem auxílio de outra pessoa ou de</p><p>equipamentos, por exemplo: expressões faciais, sinais manuais,</p><p>gestos e piscar de olhos da própria pessoa.</p><p>3 Tecnologias assistivas no contexto educacional</p><p>1. Qual a principal diferença entre as teorias de Piaget e Vygotsky?</p><p>Piaget se preocupou em estudar o desenvolvimento infantil,</p><p>indicando que primeiro a criança se desenvolve para depois atingir</p><p>a aprendizagem; já Vygotsky confere à aprendizagem um papel</p><p>essencial no desenvolvimento, ou seja, a criança se desenvolve à</p><p>medida que aprende.</p><p>106 Tecnologias Assistivas</p><p>2. Com base na visão sociocultural, qual a importância da tecnologia</p><p>assistiva no desenvolvimento da PcD?</p><p>Os recursos de TA podem ser considerados artefatos culturais</p><p>importantes enquanto também atuam no desenvolvimento, tanto</p><p>como recursos e serviços de acessibilidade quanto como elementos</p><p>de mediação, atuando como potencializadores das capacidades.</p><p>Além disso, devem ser reconhecidos como possibilidades de rotas</p><p>alternativas para o desenvolvimento, ou seja, um caminho alternativo</p><p>de aprendizagem.</p><p>3. Com base nos estudos de defectologia, descreva a visão de</p><p>Vygotsky sobre deficiência e como deve ser a aprendizagem da</p><p>pessoa com deficiência.</p><p>A deficiência é vista como um aspecto social, em que a limitação</p><p>está relacionada à sociedade, ou seja, à falta de acessibilidade e à</p><p>não aceitação das diferenças. A aprendizagem deve estar pautada</p><p>na valorização das potencialidades por meio do desenvolvimento</p><p>cultural, prezando novas vias de acesso e caminhos alternativos,</p><p>desprendendo-se do foco na deficiência em si.</p><p>4 Tecnologias assistivas e educação especial inclusiva</p><p>1. Discorra sobre as principais diferenças entre educação especial e</p><p>educação inclusiva.</p><p>A educação inclusiva é um paradigma educacional; é uma concepção</p><p>de ensino que pressupõe a diversidade e considera a igualdade</p><p>de oportunidades para todos, sem distinção; é uma ação política.</p><p>A educação especial é uma modalidade de ensino que se destina</p><p>especificamente a alunos com deficiência, transtorno do espectro</p><p>autista e altas habilidades. A educação especial é contemplada na</p><p>educação inclusiva.</p><p>2. Qual é o papel da educação especial no que se refere à tecnologia</p><p>assistiva?</p><p>O papel é reconhecer as especificidades do aluno, identificando suas</p><p>necessidades, habilidades e potencialidades para que haja sucesso</p><p>no uso e na aplicabilidade dos recursos de TA.</p><p>3. O que são as salas de recursos multifuncionais e qual é seu papel</p><p>frente à educação inclusiva?</p><p>Resolução das atividades 107</p><p>São ambientes com equipamentos, mobiliários e materiais didáticos</p><p>e pedagógicos para o Atendimento Educacional Especializado (AEE). É</p><p>um local privilegiado para o trabalho com a TA.</p><p>5 Aplicação das TAs nas diferentes áreas da educação</p><p>especial</p><p>1. No que se refere à deficiência física, quais são os pontos a serem</p><p>considerados na escolha da tecnologia assistiva, além de conhecer</p><p>o tipo de deficiência?</p><p>É preciso considerar a faixa etária; as necessidades individuais do</p><p>sujeito, suas habilidades e seus interesses, levando em conta que</p><p>cada pessoa é única e tem necessidades diferentes; o contexto social</p><p>tanto do sujeito quanto da escola e dos locais onde a TA será utilizada.</p><p>2. Qual é a função da sinalização tátil disposta em calçadas e locais</p><p>de circulação?</p><p>É considerada como um recurso complementar para prover segurança,</p><p>orientação e mobilidade para todas as pessoas, principalmente para</p><p>aquelas com deficiência visual ou surdo-cegueira.</p><p>3. A Libras (Língua Brasileira de Sinais) não é um mero recurso ou</p><p>instrumento que auxilia na comunicação, mas sim uma língua.</p><p>Justifique essa afirmativa.</p><p>É uma língua por possuir todos os níveis linguísticos de uma língua</p><p>genuína, como fonética/fonologia, morfologia,</p><p>podem ser denominadas assistivas?</p><p>Go</p><p>ro</p><p>de</p><p>nk</p><p>of</p><p>f/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ju</p><p>liy</p><p>a</p><p>Sh</p><p>an</p><p>ga</p><p>re</p><p>y/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>O filme A Teoria de Tudo,</p><p>baseado em fatos reais,</p><p>narra a história do físico</p><p>Stephen Hawking, que</p><p>fez várias descobertas</p><p>científicas. No filme, é pos-</p><p>sível perceber o papel das</p><p>tecnologias assistivas e o</p><p>quanto a ciência colabora</p><p>para o desenvolvimento</p><p>das PcD.</p><p>Direção: James Marsh. Reino Unido;</p><p>Japão: Working Title Films; Dentsu</p><p>Motion Picture; Fuji Television</p><p>Network, 2014.</p><p>Filme</p><p>(Continua)</p><p>14 Tecnologias Assistivas</p><p>Ne</p><p>w</p><p>Af</p><p>ric</p><p>a/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Gr</p><p>ou</p><p>nd</p><p>P</p><p>ic</p><p>tu</p><p>re</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ja</p><p>ce</p><p>k</p><p>Ch</p><p>ab</p><p>ra</p><p>sz</p><p>ew</p><p>sk</p><p>i/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ro</p><p>m</p><p>an</p><p>Z</p><p>ai</p><p>et</p><p>s/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Então vejamos: a bengala para a criança cega; a lupa; a cadeira de rodas</p><p>e a rampa para a pessoa com deficiência física. Essas podem ser chama-</p><p>das de tecnologias assistivas, pois tornam possível a mobilidade e autono-</p><p>mia da pessoa com deficiência. Já o equipamento de fisioterapia é usado</p><p>para reabilitação por qualquer pessoa que necessite desse atendimento</p><p>e, assim como o telefone celular e o notebook, não é uma TA. Porém, pre-</p><p>cisamos mencionar que, ao usarmos ferramentas de acessibilidade, como</p><p>um processador de voz no notebook, elas estarão desempenhando a fun-</p><p>ção de TA. Para entender melhor essa distinção, Bersch (2017) demonstra</p><p>que, se um aluno que usa uma cadeira de rodas, por exemplo, utiliza as</p><p>ferramentas e funções de um computador com a mesma finalidade que</p><p>os demais colegas de sala, ele não está usando uma tecnologia assistiva.</p><p>Assim, ao usarem softwares educacionais e novas ferramentas tecnológi-</p><p>cas, todos os alunos terão as mesmas possibilidades de acesso e diferen-</p><p>tes formas de aprendizagem. Portanto:</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 15</p><p>Podemos afirmar então que a tecnologia educacional comum</p><p>nem sempre será assistiva, mas também poderá exercer a fun-</p><p>ção assistiva quando favorecer de forma significativa a partici-</p><p>pação do aluno com deficiência no desempenho de uma tarefa</p><p>escolar proposta a ele. Dizemos que é tecnologia assistiva quan-</p><p>do percebemos que retirando o apoio dado pelo recurso, o aluno</p><p>fica com dificuldades de realizar a tarefa e está excluído da parti-</p><p>cipação. (BERSCH, 2017, p. 12)</p><p>Você percebeu as diferenças? Nem toda tecnologia educacional será</p><p>assistiva, mas terá esse papel quando representar uma compensação,</p><p>de modo a anular a deficiência e promover a autonomia.</p><p>Agora que você já é capaz de reconhecer a TA não só como um con-</p><p>junto de recursos de acessibilidade e inclusão social, mas também como</p><p>uma área de estudo, é de extrema importância conhecer os aspectos</p><p>legais que embasam seu uso e o direito à inclusão de maneira efetiva.</p><p>1.2 Aspectos legais</p><p>Vídeo</p><p>A tecnologia assistiva reflete uma mudança de conceitos no que se</p><p>refere às pessoas com deficiência e até mesmo ao conceito de deficiên-</p><p>cia. Então, pensar nos artefatos tecnológicos e no surgimento dessa</p><p>área de conhecimento e de recursos é também pensar nos paradig-</p><p>mas que norteiam a nossa sociedade, pois, conforme avançam os es-</p><p>tudos e as pesquisas nas mais diversas áreas sociais, mais os conceitos</p><p>evoluem e novos paradigmas se estabelecem.</p><p>Você sabe o que é um paradigma?</p><p>?</p><p>Do grego parádeigma, paradigma significa modelo, padrão a ser se-</p><p>guido. Silva Neto (2011, p. 347) define que “um paradigma nada mais</p><p>é do que uma estrutura mental composta por teorias, experiências,</p><p>métodos e instrumentos que serve para o pensamento organizar, de</p><p>determinado modo, a realidade e os seus eventos”.</p><p>A mudança de paradigmas pode ser percebida não somente nos</p><p>discursos, nas pesquisas e nos estudos, mas principalmente nas leis e</p><p>nos documentos que embasam o uso e a aplicabilidade da TA; quanto</p><p>mais há avanço nessas áreas, mais o uso das tecnologias é ampliado e</p><p>16 Tecnologias Assistivas</p><p>reconhecido. Por isso a importância de conhecermos a legislação, es-</p><p>pecialmente quando se refere ao contexto educacional, no qual tam-</p><p>bém se reflete a mudança de paradigmas.</p><p>As leis referentes às PcD denotam os paradigmas predominantes</p><p>em cada época e a visão com relação a estes sujeitos. Na Antiguidade,</p><p>por exemplo, o paradigma era o da exclusão total, ou seja, os sujei-</p><p>tos com alguma deficiência não tinham acesso aos bens sociais e, em</p><p>alguns contextos, eram até mesmo exterminados, como é o caso da</p><p>Roma Antiga e da Grécia. Portanto, não se pensava em artefatos espe-</p><p>cíficos para as pessoas com deficiência.</p><p>Na Idade Média, mudaram-se os paradigmas e, consequentemen-</p><p>te, a visão acerca das deficiências, e, com a influência do cristianismo,</p><p>começa a haver o acolhimento e o cuidado, de modo que surgem os</p><p>asilos e internatos. O avanço da medicina e da ciência, assim como das</p><p>pesquisas, torna possível o reconhecimento das pessoas com deficiên-</p><p>cia, porém ainda sob segregação, isto é, elas não eram incluídas nos</p><p>contextos sociais, não sendo, assim, considerada a sua acessibilidade</p><p>aos bens culturais e à interação social.</p><p>Somente no século XX, após a Segunda Guerra Mundial e as deman-</p><p>das desse acontecimento, é que podemos encontrar referências ao di-</p><p>reito de acesso e integração social. Isso dá início a um novo olhar sobre</p><p>as PcD e a formas de integrá-las socialmente, de modo que as TA (ain-</p><p>da que com outras denominações) começaram a ser apontadas como</p><p>formas de apoio às pessoas que necessitavam de próteses ou outras</p><p>adaptações. Por exemplo:</p><p>A ascensão da Tecnologia Assistiva nos Estados Unidos pode ser</p><p>situada na era pré-computador, particularmente após a Segun-</p><p>da Guerra Mundial, quando o grande número de veteranos com</p><p>deficiência representava um problema social dramático e levou</p><p>a U.S. Veterans Administration a lançar um programa de ajudas</p><p>protéticas e sensoriais, que foi seguido por muitas iniciativas, as</p><p>quais geraram modernas pesquisas em reabilitação e Tecnologia</p><p>Assistiva. (ROBITAILLE, 2010 apud SOARES et al., 2017, p. 3)</p><p>No entanto, podemos mencionar que, até a década de 1990, as leis</p><p>e decretos acerca da TA, assim como outros documentos legais refe-</p><p>rentes às PcD, ainda não refletiam uma visão de inclusão, mas sim de</p><p>integração, outro paradigma que marca a mudança de concepções.</p><p>Foi somente a partir da década de 1990, com o avanço nas pesquisas</p><p>Você já ouviu falar na Lei</p><p>das Doze Tábuas? Era um</p><p>conjunto de leis, escrito</p><p>em 450 a.C., que trazia</p><p>determinações legais</p><p>acerca dos julgamen-</p><p>tos, das punições e do</p><p>poder do chefe da família,</p><p>chamado de patriarcado.</p><p>A ele era permitido o</p><p>extermínio do filho que</p><p>nascesse com alguma</p><p>“deformidade”. Para saber</p><p>mais, leia o texto indicado.</p><p>Disponível em: http://www.dhnet.</p><p>org.br/direitos/anthist/12tab.htm.</p><p>Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>Saiba mais</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 17</p><p>e no reconhecimento dos sujeitos por meio das suas potencialidades,</p><p>que o paradigma da inclusão começou a predominar.</p><p>Para ter uma ideia das diferenças nos paradigmas quanto ao lugar</p><p>da pessoa com deficiência na sociedade, observe a figura a seguir:</p><p>Figura 1</p><p>Modelos de paradigmas</p><p>AF studio/Shutterstock</p><p>Exclusão</p><p>Segregação</p><p>Integração</p><p>Inclusão</p><p>Exclusão: não há reconhecimento das PcD socialmente, de modo que não são</p><p>contempladas por direitos legais.</p><p>18 Tecnologias Assistivas</p><p>Segregação: reconhecimento assistencialista; não há integração à sociedade;</p><p>institucionalização, ou seja, segregação em asilos ou internatos.</p><p>Integração: reconhecimento legal dos direitos sociais e educacionais; ade-</p><p>quação aos padrões sociais, predominando uma visão terapêutica; o foco</p><p>está na limitação, na deficiência.</p><p>Inclusão: reconhecimento de igualdade de oportunidades, garantido por lei,</p><p>visando às possibilidades e ao rompimento de barreiras.</p><p>Ao trazermos leis e decretos que fazem referência ao uso de artefa-</p><p>tos tecnológicos no contexto da deficiência e visam à igualdade social e à</p><p>acessibilidade,</p><p>sintaxe, semântica e</p><p>pragmática. Além disso, por meio da Libras é possível comunicar-se</p><p>com a mesma efetividade como em qualquer outro idioma.</p><p>108 Tecnologias Assistivas</p><p>Simone Schemberg</p><p>TecnologiasTecnologias</p><p>Assis ivasAssis ivas</p><p>Tec</p><p>n</p><p>o</p><p>lo</p><p>g</p><p>ia</p><p>s A</p><p>ssistiva</p><p>s</p><p>Sim</p><p>o</p><p>n</p><p>e Sc</p><p>h</p><p>em</p><p>b</p><p>er</p><p>g</p><p>ISBN 978-65-5821-203-4</p><p>9 786558 212034</p><p>Código Logístico</p><p>I000924</p><p>podemos perceber uma evolução no que diz respeito ao</p><p>reconhecimento desses recursos, não só como forma de integração, mas</p><p>como meio de tornar possível a eliminação de barreiras, objetivando a in-</p><p>clusão de fato. Vejamos no quadro a seguir alguns dos documentos legais</p><p>constituintes da Legislação Brasileira, em que são feitas referências ao uso</p><p>dos recursos e serviços da TA e de outros instrumentos a ela relacionados.</p><p>Quadro 1</p><p>Documentos em que as TA são mencionadas</p><p>Documento legal/ano Referência à tecnologia assistiva</p><p>Lei n. 4.169/1962</p><p>Art.1º São oficializadas e de uso obrigatório em todo o território nacional, as conven-</p><p>ções Braille, para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de Contrações e Abre-</p><p>viaturas Braille.</p><p>Lei n. 7.405/1985</p><p>Art. 1º É obrigatória a colocação, de forma visível, do “Símbolo Internacional de Acesso”,</p><p>em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas porta-</p><p>doras de deficiência, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que</p><p>possibilitem o seu uso.</p><p>Constituição Federal de</p><p>1988</p><p>Art. 244. Adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de</p><p>transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pes-</p><p>soas portadoras de deficiência.</p><p>Decreto n. 3.298/1999</p><p>(Regulamenta a Lei</p><p>n. 7.853/1989)</p><p>Art. 19. Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os elementos</p><p>que permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou</p><p>mentais da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de permitir-lhe superar as</p><p>barreiras da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social.</p><p>Lei n. 10.098/2000</p><p>Art. 1º Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade</p><p>das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a su-</p><p>pressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano,</p><p>na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação</p><p>Decreto n. 5.296/2004</p><p>(Regulamenta as Leis</p><p>n. 10.048/ 2000 e n.</p><p>10.098/2000)</p><p>Art. 8° (inciso V) Ajuda técnica: os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia</p><p>adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa</p><p>portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pes-</p><p>soal, total ou assistida.</p><p>Convenção sobre os direi-</p><p>tos da PcD/2007</p><p>Art. 9º É dever do Estado assegurar o acesso, em igualdade de oportunidades com as</p><p>demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação.</p><p>(Continua)</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 19</p><p>Documento legal/ano Referência à tecnologia assistiva</p><p>Decreto n. 7.612/2011</p><p>(Plano Nacional dos Direitos</p><p>da Pessoa com Deficiência)</p><p>Art. 3° (inciso IV) Ampliação do acesso das pessoas com deficiência à habitação adap-</p><p>tável e com recursos de acessibilidade; (inciso VIII) promoção do acesso, do desenvolvi-</p><p>mento e da inovação em tecnologia assistiva.</p><p>Lei n. 13.146/2015</p><p>(Estatuto da Pessoa com</p><p>Deficiência)</p><p>Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos, estratégias,</p><p>práticas, processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua</p><p>autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.</p><p>Decreto n. 10.094/2019</p><p>Art. 2° Cabe ao comitê de TA assessorar na estruturação, na formulação, na articulação, na</p><p>implementação e no acompanhamento de plano de tecnologia assistiva, com vistas a garan-</p><p>tir à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos, estratégias, práticas, processos e</p><p>serviços que maximizem sua autonomia, sua mobilidade pessoal e sua qualidade de vida.</p><p>Decreto n. 10.645/2021</p><p>(Regulamenta o art. 75 da</p><p>Lei n. 13.146/2015)</p><p>Art. 2º (inciso I) Tecnologia assistiva ou ajuda técnica – os produtos, os equipamentos,</p><p>os dispositivos, os recursos, as metodologias, as estratégias, as práticas e os serviços</p><p>que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da</p><p>pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, com vista à sua autonomia, inde-</p><p>pendência, qualidade de vida e inclusão social.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 1962; 1985; 1988; 1999; 2000b; 2004; 2007; 2011; 2015; 2019; 2021. 2007.</p><p>Esses são alguns exemplos de documentos legais que fazem parte da</p><p>nossa legislação. Há muitos outros decretos, ementas, normativas e reso-</p><p>luções que dispõem sobre o acesso, o uso e a disponibilidade da TA nos di-</p><p>versos âmbitos da sociedade. É a legislação que garante os direitos a todo</p><p>cidadão, e, no paradigma da inclusão, todas as pessoas devem ter acesso</p><p>aos bens culturais, ao desenvolvimento pleno e à vida em sociedade.</p><p>Você percebeu que em alguns documentos consta o termo ajudas</p><p>técnicas?</p><p>?</p><p>Isso porque, como menciona Bersch (2017), esse termo denota não</p><p>só os produtos tecnológicos, mas também as estratégias, os serviços e</p><p>as práticas relacionadas, a fim de compensar a deficiência e promover</p><p>a autonomia. Por isso, o termo continua a ser amplamente utilizado em</p><p>diversos documentos quando se trata da tecnologia assistiva.</p><p>Além dessa diversidade de documentos, convém citar o Plano Nacio-</p><p>nal de Tecnologia Assistiva (PNTA), proposto pelo Decreto n. 10.094/2019,</p><p>que dispõe sobre as competências do Comitê Interministerial de Tecnolo-</p><p>gia Assistiva e constitui-se como um dos documentos mais relevantes da</p><p>atualidade, pois define políticas e ações para a efetivação da acessibilida-</p><p>de por meio da TA, e é pautado na concepção de inclusão.</p><p>Para acessar os diversos</p><p>documentos legais, você</p><p>pode fazer uma busca,</p><p>por meio do tema, no site</p><p>indicado a seguir.</p><p>Disponível em: https://www.gov.</p><p>br/planalto/pt-br. Acesso em: 29</p><p>nov. 2022.</p><p>Outros documentos</p><p>da área educacional</p><p>podem ser encontrados</p><p>no site do Ministério da</p><p>Educação.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>gov.br/mec/pt-br. Acesso em: 29</p><p>nov. 2022.</p><p>Site</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%2010.094-2019?OpenDocument</p><p>https://www.gov.br/planalto/pt-br</p><p>https://www.gov.br/planalto/pt-br</p><p>https://www.gov.br/mec/pt-br</p><p>https://www.gov.br/mec/pt-br</p><p>20 Tecnologias Assistivas</p><p>Cabe destacar, ainda, outro documento relevante já citado no</p><p>Quadro 1: o Estatuto da Pessoa com Deficiência, instituído pela Lei</p><p>n. 13.146/2015, que traz definições importantes para alguns termos re-</p><p>lacionados à TA e à superação de barreiras em favor da inclusão.</p><p>1.3 Acessibilidade, barreiras e inclusão social</p><p>Vídeo</p><p>Quando falamos em tecnologia assistiva, é impossível não abordar-</p><p>mos o conceito de acessibilidade e citarmos os tipos de barreiras exis-</p><p>tentes em nossa sociedade, já que o uso e os objetivos da TA só podem</p><p>ser alcançados se a acessibilidade estiver disponível de modo coerente,</p><p>sendo capaz de eliminar qualquer tipo de barreira. Cabe considerar,</p><p>antes de mais nada, que o conceito de acessibilidade, em seu sentido</p><p>amplo, não diz respeito somente às pessoas com deficiência, mas sim a</p><p>toda a sociedade. Desse modo, é importante diferenciar acessibilidade</p><p>universal de acessibilidade especializada:</p><p>A acessibilidade universal se caracteriza por soluções ergonômicas</p><p>(simples, mecanizadas ou informatizadas) para se criar ambientes</p><p>que sirvam de base para o benefício de todas as pessoas. Já a aces-</p><p>sibilidade especializada é voltada para pessoas com deficiência e</p><p>advém de soluções incomuns no uso do ambiente, pensadas para</p><p>atender características peculiares. (GUIMARÃES, 2013)</p><p>Como nosso foco refere-se às PcD, vamos nos ater à acessibilidade</p><p>nesse contexto. De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiên-</p><p>cia, em seu artigo 3°, inciso I, a acessibilidade é definida como:</p><p>Possibilidade e condição de alcance para utilização, com seguran-</p><p>ça e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,</p><p>edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive</p><p>seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e ins-</p><p>talações abertos ao público, de uso público ou privados de uso</p><p>coletivo, tanto na zona</p><p>urbana como na rural, por pessoa com</p><p>deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2015)</p><p>Convém mencionarmos também o Decreto n. 5.296/2004, o</p><p>qual regulamenta as Leis n. 10.048/2000 e n. 10.098/2000 e que,</p><p>em concordância, traz a mesma visão de acessibilidade.</p><p>Podemos perceber que a acessibilidade é, então, estabelecida por lei,</p><p>porém ela não se restringe somente a construções, espaços, mobiliários</p><p>ou recursos; mas, para que ela ocorra de fato, é preciso superar diver-</p><p>4L</p><p>UC</p><p>K/</p><p>Sh</p><p>utt</p><p>ers</p><p>tock</p><p>Símbolo Universal de</p><p>Acessibilidade desenvolvido</p><p>pela Organização das Nações</p><p>Unidas (ONU), simbolizando a</p><p>esperança e a igualdade para</p><p>todos.</p><p>Para conhecer mais sobre</p><p>acessibilidade e inclusão</p><p>sob o ponto de vista de</p><p>Romeu Sassaki, você</p><p>pode acessar entrevistas,</p><p>artigos e textos no site a</p><p>seguir.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>sociedadeinclusiva.com.br. Acesso</p><p>em: 29 nov. 2022.</p><p>Saiba mais</p><p>https://www.sociedadeinclusiva.com.br</p><p>https://www.sociedadeinclusiva.com.br</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 21</p><p>Cabe destacar, ainda, outro documento relevante já citado no</p><p>Quadro 1: o Estatuto da Pessoa com Deficiência, instituído pela Lei</p><p>n. 13.146/2015, que traz definições importantes para alguns termos re-</p><p>lacionados à TA e à superação de barreiras em favor da inclusão.</p><p>1.3 Acessibilidade, barreiras e inclusão social</p><p>Vídeo</p><p>Quando falamos em tecnologia assistiva, é impossível não abordar-</p><p>mos o conceito de acessibilidade e citarmos os tipos de barreiras exis-</p><p>tentes em nossa sociedade, já que o uso e os objetivos da TA só podem</p><p>ser alcançados se a acessibilidade estiver disponível de modo coerente,</p><p>sendo capaz de eliminar qualquer tipo de barreira. Cabe considerar,</p><p>antes de mais nada, que o conceito de acessibilidade, em seu sentido</p><p>amplo, não diz respeito somente às pessoas com deficiência, mas sim a</p><p>toda a sociedade. Desse modo, é importante diferenciar acessibilidade</p><p>universal de acessibilidade especializada:</p><p>A acessibilidade universal se caracteriza por soluções ergonômicas</p><p>(simples, mecanizadas ou informatizadas) para se criar ambientes</p><p>que sirvam de base para o benefício de todas as pessoas. Já a aces-</p><p>sibilidade especializada é voltada para pessoas com deficiência e</p><p>advém de soluções incomuns no uso do ambiente, pensadas para</p><p>atender características peculiares. (GUIMARÃES, 2013)</p><p>Como nosso foco refere-se às PcD, vamos nos ater à acessibilidade</p><p>nesse contexto. De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiên-</p><p>cia, em seu artigo 3°, inciso I, a acessibilidade é definida como:</p><p>Possibilidade e condição de alcance para utilização, com seguran-</p><p>ça e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,</p><p>edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive</p><p>seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e ins-</p><p>talações abertos ao público, de uso público ou privados de uso</p><p>coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com</p><p>deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2015)</p><p>Convém mencionarmos também o Decreto n. 5.296/2004, o</p><p>qual regulamenta as Leis n. 10.048/2000 e n. 10.098/2000 e que,</p><p>em concordância, traz a mesma visão de acessibilidade.</p><p>Podemos perceber que a acessibilidade é, então, estabelecida por lei,</p><p>porém ela não se restringe somente a construções, espaços, mobiliários</p><p>ou recursos; mas, para que ela ocorra de fato, é preciso superar diver-</p><p>4L</p><p>UC</p><p>K/</p><p>Sh</p><p>utt</p><p>ers</p><p>tock</p><p>Símbolo Universal de</p><p>Acessibilidade desenvolvido</p><p>pela Organização das Nações</p><p>Unidas (ONU), simbolizando a</p><p>esperança e a igualdade para</p><p>todos.</p><p>Para conhecer mais sobre</p><p>acessibilidade e inclusão</p><p>sob o ponto de vista de</p><p>Romeu Sassaki, você</p><p>pode acessar entrevistas,</p><p>artigos e textos no site a</p><p>seguir.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>sociedadeinclusiva.com.br. Acesso</p><p>em: 29 nov. 2022.</p><p>Saiba mais</p><p>sos tipos de barreiras, que envolvem formas de comunicação e atitudes.</p><p>Com base no texto de Sassaki (2009), existem diferentes dimensões da</p><p>acessibilidade, conforme podemos observar no quadro a seguir.</p><p>Quadro 2</p><p>Dimensões de acessibilidade</p><p>Dimensão A que se refere Alguns exemplos</p><p>Atitudinal</p><p>Eliminação de qualquer tipo de discrimina-</p><p>ção; efetivação de ações que promovam a</p><p>conscientização e a sensibilização com re-</p><p>lação à inclusão.</p><p>Eliminação de qualquer tipo de estigma,</p><p>preconceito, estereótipos e discriminação.</p><p>Arquitetônica</p><p>Acesso fácil a espaços de lazer, trabalho e</p><p>educação.</p><p>Guias rebaixadas; caminhos em alto relevo;</p><p>portas largas; sanitários acessíveis; elevadores.</p><p>Comunicacional</p><p>Garantia de acesso à comunicação, tanto</p><p>oral quanto escrita.</p><p>Sinalização de locais; Braille e escrita am-</p><p>pliada para cegos; intérprete de Libras para</p><p>surdos; Closed Caption.</p><p>Instrumental</p><p>Adequação de recursos e equipamentos a</p><p>serem utilizados.</p><p>Teclado adaptado; lápis, tesoura e materiais</p><p>escolares adaptados; ferramentas adaptadas.</p><p>Metodológica</p><p>Metodologias acessíveis tanto no contex-</p><p>to educacional quanto no ambiente de</p><p>trabalho.</p><p>Uso de materiais diversificados e tecnolo-</p><p>gia assistiva em sala de aula e em seleções;</p><p>concursos e tarefas no campo de trabalho.</p><p>Programática</p><p>Não exclusão dos cidadãos com defi-</p><p>ciência nos documentos legais e nas po-</p><p>líticas públicas.</p><p>Leis e outros documentos que incluem as</p><p>pessoas com deficiência e que têm como</p><p>base a inclusão social.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em Sassaki, 2009.</p><p>Atualmente, fala-se também em acessibilidade natural, que se re-</p><p>fere ao acesso aos ambientes naturais – por exemplo, um jardim onde</p><p>a vegetação seja irregular e um cadeirante não possa circular. Nesse</p><p>caso, devem ser planejadas formas de acesso por meio de construções</p><p>ou algum recurso de tecnologia assistiva.</p><p>Outra dimensão de acessibilidade é o campo digital, que diz res-</p><p>peito à remoção de obstáculos não só quanto ao acesso, mas também</p><p>quanto à interação, por meio de ferramentas capazes de atender a to-</p><p>dos os públicos (SANTAROSA et al., 2010).</p><p>E de que formas podem ser garantidas essas dimensões de</p><p>acessibilidade?</p><p>?</p><p>Eliminando toda e qualquer barreira, levando em conta a inclusão</p><p>de todos sempre. Por exemplo, em projetos iniciais nas diversas áreas,</p><p>https://www.sociedadeinclusiva.com.br</p><p>https://www.sociedadeinclusiva.com.br</p><p>22 Tecnologias Assistivas</p><p>como arquitetura e educação, a acessibilidade já deve ser garantida e</p><p>seus pressupostos já devem estar presentes. Além disso, o olhar sobre</p><p>as pessoas com deficiência deve partir sempre das suas potencialida-</p><p>des e das possibilidades e não da limitação.</p><p>Vejamos na Figura 2 alguns exemplos de barreiras e a que dimen-</p><p>são elas se referem.</p><p>Barreira arquitetônica</p><p>Barreira natural</p><p>Barreira atitudinal</p><p>Barreira comunicacional</p><p>Pr</p><p>os</p><p>to</p><p>ck</p><p>-s</p><p>tu</p><p>di</p><p>o/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>CR</p><p>EA</p><p>TI</p><p>ST</p><p>A/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Ch</p><p>ic</p><p>co</p><p>Do</p><p>di</p><p>FC</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>pa</p><p>th</p><p>do</p><p>c/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Figura 2</p><p>Dimensões de barreiras</p><p>Poderíamos citar aqui diversos exemplos em cada uma das dimen-</p><p>sões, pois as barreiras estão presentes desde a Antiguidade e perpas-</p><p>sam todos os paradigmas. Foi somente a partir das mudanças e dos</p><p>avanços que embasam o conceito de inclusão que essas barreiras co-</p><p>meçaram a ser consideradas, passando a dar lugar à acessibilidade.</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 23</p><p>Santarosa et al. (2010) destacam quatro movimentos necessários para</p><p>a construção de uma sociedade inclusiva e democrática:</p><p>TODOS devem ter</p><p>garantia de direitos e</p><p>oportunidades</p><p>Equidade Qualidade de vida</p><p>Desenvolvimento</p><p>humano Autonomia</p><p>TODOS devem ter</p><p>acesso a condições de</p><p>desenvolvimento</p><p>TODOS devem ter</p><p>condições de desenvolver</p><p>suas capacidades</p><p>TODOS devem ser</p><p>capacitados a suprir suas</p><p>necessidades</p><p>ACESSIBILIDADE</p><p>Então, são os ambientes e espaços que devem se adequar e ser rees-</p><p>truturados, e a sociedade é que deve reconhecer a pessoa com deficiên-</p><p>cia com alteridade. Uma das grandes diferenças entre os paradigmas</p><p>da integração e da inclusão é que, na integração, focava-se apenas na</p><p>pessoa com deficiência e nas suas limitações, tendo ela</p><p>que se adequar</p><p>aos espaços e aos padrões sociais; já na inclusão, toda a sociedade está</p><p>envolvida, ou seja, as limitações não são das pessoas, mas da sociedade.</p><p>1.4 Símbolos de acessibilidade</p><p>e desenho universal Vídeo</p><p>Como vimos, com o paradigma da inclusão, muitas mudanças e</p><p>adaptações se fizeram necessárias, e ainda se fazem. Estabelecer leis</p><p>e decretos é primordial para que essas mudanças ocorram, mas, além</p><p>disso, ações são necessárias para que a sociedade perceba e respeite</p><p>as diferenças e reconheça a pessoa com deficiência. Portanto, normas</p><p>são criadas, símbolos são convencionalizados e padrões de acessibili-</p><p>dade são instituídos. Por isso, convém conhecermos os símbolos, seus</p><p>significados e objetivos no contexto social, além de reconhecer o cha-</p><p>mado desenho universal.</p><p>24 Tecnologias Assistivas</p><p>Vamos começar, então, observando as imagens na figura a seguir.</p><p>Figura 3</p><p>Símbolos de acessibilidade</p><p>Al</p><p>be</p><p>rt</p><p>St</p><p>ep</p><p>he</p><p>n</p><p>Ju</p><p>liu</p><p>s/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Você provavelmente já se deparou com alguma delas. Essas ima-</p><p>gens referem-se a símbolos de acessibilidade e servem para identificar</p><p>quando um recurso ou local é acessível a pessoas com diferentes es-</p><p>pecificidades, e podem estar relacionadas a características físicas ou</p><p>a alguma deficiência. Assim, essa simbologia não se refere somente a</p><p>pessoas com deficiência, mas traz a ideia de inclusão de maneira geral.</p><p>Vamos observar alguns símbolos específicos e relacioná-los a que/</p><p>quem se referem.</p><p>Quadro 3</p><p>Símbolos e significados</p><p>Símbolo A quem se destina Significado</p><p>TotemArt/Shutterstock</p><p>Pessoas que utilizam</p><p>cadeira de rodas.</p><p>Indica acessibilidade a</p><p>espaços e equipamentos,</p><p>além de representar o</p><p>símbolo internacional de</p><p>acessibilidade. É também</p><p>reconhecido como</p><p>símbolo internacional</p><p>de acesso.</p><p>(Continua)</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 25</p><p>Símbolo A quem se destina Significado</p><p>KicaArt/Shutterstock</p><p>Pessoas com</p><p>deficiência auditiva.</p><p>Símbolo internacional de</p><p>deficiência auditiva/sur-</p><p>dez; indica algum tipo de</p><p>auxílio.</p><p>4LUCK/Shutterstock</p><p>Pessoas com</p><p>dificuldade auditiva.</p><p>Símbolo de Closed Caption</p><p>(legenda oculta); indica</p><p>que há acessibilidade por</p><p>meio de legendas nos pro-</p><p>gramas de televisão.</p><p>NirdalArt/Shutterstock</p><p>Pessoas com</p><p>deficiência visual.</p><p>Símbolo internacional de</p><p>deficiência visual; indica</p><p>acessibilidade a serviços</p><p>e recursos.</p><p>AIINUE/Shutterstock</p><p>Pessoas cegas acompanha-</p><p>das de cão-guia.</p><p>Símbolo do cão-guia;</p><p>indica área reservada</p><p>para pessoas cegas</p><p>acompanhadas de</p><p>cão-guia.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em ABNT, 2008; 2015.</p><p>Esses símbolos são convencionalizados e padronizados por nor-</p><p>mas. Eles são apenas alguns entre tantos que existem atualmente e</p><p>que objetivam promover a inclusão das pessoas com deficiência, tan-</p><p>to nos espaços físicos quanto nos sistemas de tecnologia, dos mais</p><p>simples aos mais sofisticados, com o uso de recursos e serviços, eli-</p><p>minando qualquer tipo de barreira e possibilitando a acessibilidade</p><p>de modo autônomo.</p><p>Outro conceito importante quando tratamos de TA e acessibilidade</p><p>é o de desenho universal. Pelo termo, o que nos vem à mente são tra-</p><p>ços ou algum tipo de desenho, não é mesmo? Porém, o conceito é bem</p><p>mais amplo, pois diz respeito à “concepção de espaços, equipamentos</p><p>O Livro Branco da Tecno-</p><p>logia Assistiva no Brasil,</p><p>organizado por Jesus</p><p>Carlos D. Garcia e pelo</p><p>ITS Brasil, traz definições</p><p>e propostas com obje-</p><p>tivo de orientar ações e</p><p>investimentos na área de</p><p>TA, além de abordar dis-</p><p>cussões sobre as leis que</p><p>norteiam essa temática</p><p>e trazer conceitos impor-</p><p>tantes quanto às PcD.</p><p>DELGADO GARCÍA, J. C.; ITS BRASIL</p><p>(org.). São Paulo: ITS BRASIL, 2017.</p><p>Livro</p><p>26 Tecnologias Assistivas</p><p>e objetos destinados ao uso de todas as pessoas, independentemente</p><p>da idade, peso, restrições temporárias ou permanentes, ou sequer de</p><p>sua condição ou habilidade” (PIMENTEL; PIMENTEL, 2017, p. 95).</p><p>A Lei n. 13.146/2015, em seu artigo 3°, define que o desenho uni-</p><p>versal diz respeito à “concepção de produtos, ambientes, programas</p><p>e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de</p><p>adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia</p><p>assistiva (BRASIL, 2015). Segundo Carletto e Cambiaghi (2016, p. 10):</p><p>O Desenho Universal não é uma tecnologia direcionada apenas</p><p>aos que dele necessitam; é desenhado para todas as pessoas. A</p><p>ideia do Desenho Universal é, justamente, evitar a necessidade</p><p>de ambientes e produtos especiais para pessoas com deficiên-</p><p>cias, assegurando que todos possam utilizar com segurança e</p><p>autonomia os diversos espaços construídos e objetos.</p><p>Assim, o desenho universal contribui para a efetivação da equidade,</p><p>o que vai além da inclusão, prevendo uma sociedade na qual as PcD</p><p>não precisem mais ser “incluídas”, pois os espaços, ambientes e recur-</p><p>sos já devem ser pensados e criados visando não apresentar obstácu-</p><p>los a nenhum cidadão, independentemente de suas particularidades.</p><p>Por isso, ele é pautado em sete princípios (Quadro 4).</p><p>Quadro 4</p><p>Princípios do desenho universal</p><p>Equiparidade: espaços, produtos e objetos devem visar atender a usuários com</p><p>diferentes capacidades (uso igualitário).</p><p>Flexibilidade: o design de produtos ou espaços devem ser adaptáveis a pessoas</p><p>com diferentes habilidades (uso flexível).</p><p>Simplicidade: espaços devem ser de fácil entendimento e produtos devem ser com-</p><p>preendidos por todos, com linguagem acessível (uso simples).</p><p>Facilidade de percepção: mensagens devem ser transmitidas de modo a atender</p><p>às necessidades do receptor, independentemente da sua condição (uso fácil).</p><p>Segurança: ambientes e produtos devem apresentar segurança a todo cidadão (uso</p><p>seguro).</p><p>Baixo esforço físico: produtos devem ser usados de modo eficiente, com conforto</p><p>e sem esforço (uso confortável).</p><p>Abrangência: devem ser possibilitadas diferentes formas de alcance, acomodação e</p><p>uso a espaços e produtos (uso abrangente).</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em Carletto; Cambiaghi, 2016.</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 27</p><p>Diante desses princípios, podemos perceber que a acessibilida-</p><p>de deve ser garantida a todos, em todos os contextos. Assim como</p><p>aponta Sassaki (2009, p. 2), se ela “for (ou tiver sido) projetada sob</p><p>os princípios do desenho universal, ela beneficia todas as pessoas,</p><p>tenham ou não qualquer tipo de deficiência”. O autor defende, ainda,</p><p>que todos somos responsáveis pela inclusão e que todos os sistemas</p><p>da sociedade devem estar ou ser adequados e acessíveis a toda diver-</p><p>sidade humana, sem distinção, levando em conta a participação de</p><p>todos nessas adequações.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Você percebeu o quanto a tecnologia assistiva é essencial para as</p><p>pessoas com deficiência? É por meio dos recursos tecnológicos que as</p><p>possibilidades são exploradas e que o foco deixa de ser as limitações –</p><p>física, sensorial ou outra – e passa a ser as potencialidades do sujeito.</p><p>Quando analisamos o contexto histórico e o avanço nos paradigmas</p><p>sociais, podemos perceber o quanto a concepção e o olhar sobre a</p><p>pessoa com deficiência mudaram, da mesma forma que o lugar con-</p><p>cebido e ocupado na sociedade, hoje, já não é mais o da segregação,</p><p>ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer quando se trata de</p><p>igualdade de oportunidades e equiparidade.</p><p>Há, ainda, muito a ser efetivado no que se refere ao assunto de</p><p>acessibilidade, sobretudo quando falamos do desenho universal, o</p><p>qual sabemos ainda estar dando os primeiros sinais em nossa socieda-</p><p>de. Por isso, não só como profissionais, mas como cidadãos, precisa-</p><p>mos conhecer mais a fundo a legislação a fim de podermos colaborar</p><p>para a efetivação da inclusão, sobretudo no contexto educacional, o</p><p>qual se constitui como espaço privilegiado de interação e desenvolvi-</p><p>mento pessoal.</p><p>Mais do que as leis vigentes, são as mudanças conceituais e atitudi-</p><p>nais que garantem a igualdade de oportunidades e melhor qualidade</p><p>de vida, por meio da acessibilidade e superação de barreiras, pois, se</p><p>ainda há barreiras que</p><p>impedem o desenvolvimento pleno das PcD, a</p><p>inclusão ainda não está sendo efetivada de fato.</p><p>28 Tecnologias Assistivas</p><p>ATIVIDADES</p><p>Atividade 1</p><p>Cite três objetivos da tecnologia assistiva.</p><p>Atividade 2</p><p>Qual é a importância da legislação para o contexto inclusivo?</p><p>Atividade 3</p><p>Diferencie acessibilidade universal e acessibilidade especializada.</p><p>Dê um exemplo.</p><p>Atividade 4</p><p>Para que servem os símbolos de acessibilidade? Explique.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15599: Acessibilidade – Comunicação</p><p>na prestação de serviços. Rio de Janeiro, 2008.</p><p>ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050: Acessibilidade a edificações,</p><p>mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015.</p><p>BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva. Assistiva – Tecnologia e Educação, Porto Alegre,</p><p>2017. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf.</p><p>Acesso em: 21 jul. 2022.</p><p>https://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf</p><p>Introdução às tecnologias assistivas 29</p><p>BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para</p><p>Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Ata da VII reunião do Comitê de Ajudas</p><p>Técnicas (CAT). CORDE/SEDH/PR. 2007. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/Ata_</p><p>VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: texto constitucional</p><p>promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições</p><p>Técnicas, 2016.</p><p>BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Brasília: Secretaria Especial</p><p>dos Direitos Humanos; Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de</p><p>Deficiência, 2007.</p><p>BRASIL. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 21 dez. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>decreto/d3298.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 3 dez. 2004. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-</p><p>2006/2004/decreto/d5296.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 7.612, de 17 de dezembro de 2011. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 18 nov. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2011-2014/2011/decreto/d7612.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 10.094, de 6 de novembro de 2019. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Executivo, Brasília, DF, 7 nov. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2019-2022/2019/decreto/D10094.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto n. 10.645, de 11 de março de 2021. Diário Oficial da União, Poder Executivo,</p><p>Brasília, DF, 12 mar. 2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-</p><p>2022/2021/decreto/D10645.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 4.169, de 4 de dezembro de 1962. Diário Oficial da União, Poder Executivo,</p><p>Brasília, DF, 11 dez. 1962. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-</p><p>1969/l4169.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 7.405 de 12 de novembro de 1985. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 12 nov. 1985. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-</p><p>1988/l7405.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 10.048, de 8 de novembro de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 9 nov. 2000a. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.</p><p>htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Poder Executivo,</p><p>Brasília, DF, 20 dez. 2000b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/</p><p>l10098.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,</p><p>Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-</p><p>2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>CARLETTO, A. C.; CAMBIAGHI, S. Desenho Universal: um conceito para todos. 2016.</p><p>Disponível em: https://www.maragabrilli.com.br/wp-content/uploads/2016/01/universal_</p><p>web-1.pdf. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>GALVÃO FILHO, T. A. A tecnologia assistiva: de que se trata? Galvão Filho, 2009. Disponível</p><p>em: https://galvaofilho.net/assistiva.pdf. Acesso em: 21 dez. 2012.</p><p>GUIMARÃES, M. P. Acessibilidade, tecnologia assistiva e ajuda técnica: qual a diferença?</p><p>Diversa: educação inclusiva na prática, 6 set. 2013. Disponível em: https://diversa.org.br/</p><p>artigos/acessibilidade-tecnologia-assistiva-ajuda-tecnica/. Acesso em: 29 nov. 2022.</p><p>https://www.assistiva.com.br/Ata_VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf</p><p>https://www.assistiva.com.br/Ata_VII_Reuni%C3%A3o_do_Comite_de_Ajudas_T%C3%A9cnicas.pdf</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7612.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7612.htm</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%2010.094-2019?OpenDocument</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10094.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10094.htm</p><p>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%2010.645-2021?OpenDocument</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/D10645.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/D10645.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4169.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4169.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/l7405.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/l7405.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm</p><p>https://www.maragabrilli.com.br/wp-content/uploads/2016/01/universal_web-1.pdf</p><p>https://www.maragabrilli.com.br/wp-content/uploads/2016/01/universal_web-1.pdf</p><p>https://galvaofilho.net/assistiva.pdf</p><p>https://diversa.org.br/artigos/acessibilidade-tecnologia-assistiva-ajuda-tecnica/</p><p>https://diversa.org.br/artigos/acessibilidade-tecnologia-assistiva-ajuda-tecnica/</p><p>30 Tecnologias Assistivas</p><p>HAZARD, D.; GALVÃO FILHO, T. A.; REZENDE, A. L. A. Inclusão digital e social de pessoas com</p><p>deficiência: textos de referência para monitores de telecentros. Brasília: Unesco, 2007.</p><p>LOBATO, M. História das invenções. São Paulo: Globo, 2014.</p><p>PIMENTEL, S. C.; PIMENTEL, M. C. Acessibilidade para inclusão da pessoa com deficiência:</p><p>sobre o que estamos falando? Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneudade, v. 26,</p><p>n. 50, p. 91-103, set./dez. 2017.</p><p>QUELUZ, G. F. A tecnologia no contexto dos parâmetros curriculares nacionais de ciências</p><p>naturais de 5ª a 8ª série. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Centro Federal de</p><p>Educação Tecnológica do Paraná, 2003.</p><p>SANTAROSA, L. M. C. et al. Tecnologias digitais acessíveis. Porto Alegre: JSM Comunicação</p><p>Ltda., 2010.</p><p>SASSAKI, R. K. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional de</p><p>Reabilitação (Reação), ano XII, p. 10-16, mar./abr. 2009.</p><p>SILVA NETO, S. A. O que é um Paradigma? Revista de Ciências Humanas, v. 45, n. 2, p. 345-354,</p><p>2011.</p><p>SOARES, J. M. M. et al. Tecnologia assistiva: revisão de aspectos relacionados ao tema.</p><p>Revista Espaço, v. 38, n. 13, p. 8-22, 2017.</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 31</p><p>2</p><p>Categorias em tecnologias</p><p>assistivas</p><p>A área da tecnologia assistiva (TA) é bastante ampla e há uma infini-</p><p>dade de recursos que podem ser usados nos mais diferentes âmbitos da</p><p>vida das pessoas com deficiência (PcD). Esses recursos podem ser desde</p><p>uma ferramenta doméstica adaptada de modo simples até um software</p><p>de última geração capaz de suprir uma limitação física no ambiente de</p><p>trabalho, ou seja, existem materiais e ferramentas, criadas ou adaptadas,</p><p>que servem para o uso diário em atividades rotineiras. Também existem</p><p>recursos que facilitam o acesso à informação e à comunicação por meio</p><p>da área digital, além da acessibilidade aos recursos em si. É diante des-</p><p>sa diversidade que os recursos de TA são classificados em categorias, as</p><p>quais são baseadas em estudos e critérios. Essa categorização é impor-</p><p>tante para as pesquisas, para o desenvolvimento de políticas públicas e</p><p>para o uso cotidiano dessas tecnologias.</p><p>Diante disso, neste capítulo abordaremos algumas categorias de TA,</p><p>reconhecendo que existem tecnologias de baixo e de alto custo. Traremos</p><p>exemplos de TA para atividades da vida diária (cotidiano) e tecnologias</p><p>relacionadas ao uso do computador. Por fim, exploraremos o conceito de</p><p>comunicação alternativa, destacando exemplos no uso cotidiano.</p><p>Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:</p><p>• reconhecer os tipos de tecnologias assistivas, distinguindo as de</p><p>baixo e as de alto custo;</p><p>• conhecer o uso das tecnologias assistivas nas atividades de vida</p><p>diária, estabelecendo relação com seu uso no cotidiano;</p><p>• explorar o uso das tecnologias assistivas no contexto das tecnolo-</p><p>gias de informação e comunicação;</p><p>• analisar a comunicação suplementar e alternativa, destacando</p><p>exemplos de uso na vida cotidiana.</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>32 Tecnologias Assistivas</p><p>2.1 Classificação e categorização</p><p>em tecnologia assistiva Vídeo</p><p>Quando nos remetemos à tecnologia assistiva, podemos relacionar</p><p>uma infinidade de artefatos e serviços que cada vez mais fazem parte</p><p>não só do contexto das PcD, mas da nossa sociedade, já que é esse</p><p>o pressuposto da inclusão: a sociedade estar/ser adequada a todos.</p><p>Então, a TA deve estar presente nos diversos âmbitos e, mais que isso,</p><p>deve ser reconhecida como elemento fundamental no desenvolvimen-</p><p>to e na participação social das pessoas com deficiência. Sobre isso, Va-</p><p>rela e Oliver (2013, p. 1774) destacam que</p><p>a TA é um fator ambiental e inclui produtos e tecnologias para</p><p>uso pessoal na vida diária, facilitação da mobilidade e transpor-</p><p>te pessoal, comunicação, educação, trabalho, cultura, atividades</p><p>recreativas e desportivas, prática religiosa e espiritualidade e ar-</p><p>quitetura. É também reconhecida como elemento chave para a</p><p>promoção dos direitos das pessoas com deficiência, garantido</p><p>desde a promulgação do Decreto no 3.298 de 1999 que conceitua</p><p>e lista as “ajudas técnicas” previstas para concessão.</p><p>É diante da existência dessa infinidade de recursos e serviços que</p><p>se estabelece a necessidade de uma classificação e de uma divisão em</p><p>categorias, pois, assim como afirma Bersch (2017), isso torna possível</p><p>uma melhor organização no que se refere ao uso, à finalidade e aos</p><p>estudos na área de TA.</p><p>Cabe considerarmos que não há apenas uma classificação para tec-</p><p>nologias assistivas. Existe, por exemplo, uma classificação europeia,</p><p>uma classificação norte-americana (GALVÃO FILHO, 2009) e uma classi-</p><p>ficação nacional (BERSCH, 2017).</p><p>Para Bersch (2017, p. 4), a classificação parte do pressuposto de que</p><p>“os recursos de tecnologia assistiva são organizados ou classificados de</p><p>acordo com objetivos funcionais a que se destinam”. Com base nessa</p><p>classificação é que se compõem as categorias descritas no Quadro 1.</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 33</p><p>Quadro 1</p><p>Categorias de tecnologia assistiva</p><p>Categoria A que se refere Exemplos</p><p>Auxílios para a vida diária</p><p>Artefatos que favorecem a autonomia e o desem-</p><p>penho das PcD nas tarefas do dia a dia (alimenta-</p><p>ção, vestuário, higiene).</p><p>Engrossador de talheres, fixadores,</p><p>abotoadores.</p><p>Comunicação aumentativa</p><p>e alternativa</p><p>Conjunto de recursos, materiais e serviços destina-</p><p>do a pessoas com dificuldades na fala ou sem fala.</p><p>Pranchas de comunicação, vocaliza-</p><p>dores, softwares específicos.</p><p>Recursos de acessibilidade</p><p>ao computador</p><p>Conjunto de produtos e serviços que tornam o</p><p>computador acessível.</p><p>Mouses, teclados e acionadores</p><p>diferenciados; dispositivos de som,</p><p>imagem e informações táteis, sinte-</p><p>tizadores e leitores.</p><p>Sistemas de controle de</p><p>ambiente</p><p>Artefatos que possibilitam autonomia e indepen-</p><p>dência na execução de tarefas como ligar/desligar</p><p>aparelhos; acender/apagar a luz; ajustar aparelhos.</p><p>Controles remotos, aplicativos de</p><p>comando.</p><p>Projetos arquitetônicos</p><p>para acessibilidade</p><p>Projetos de ambientes acessíveis a todos, indepen-</p><p>dentemente das condições.</p><p>Elevadores, rampas, banheiros</p><p>acessíveis, portas largas.</p><p>Órteses e próteses</p><p>Próteses: peças artificiais que substituem partes</p><p>do corpo.</p><p>Órteses: peças colocadas junto ao corpo, de modo</p><p>a melhorar posicionamento ou o estabilizar.</p><p>Braço mecânico, prótese articular,</p><p>ligamento artificial.</p><p>Coletes, palmilhas, munhequeiras.</p><p>Adequação postural</p><p>Recursos que auxiliam a adequação postural e</p><p>possibilitam conforto e melhor estabilidade.</p><p>Mesas e cadeiras adaptadas, supor-</p><p>tes.</p><p>Auxílios de mobilidade</p><p>Artefatos que melhoram ou possibilitam a mobili-</p><p>dade pessoal.</p><p>Bengalas, cadeira de rodas, anda-</p><p>dores.</p><p>Auxílios para ampliação da</p><p>função visual e recursos de</p><p>voz ou tátil</p><p>Recursos ampliados ou que possibilitam a amplia-</p><p>ção na leitura, recursos e materiais adaptados para</p><p>leitura tátil ou de voz.</p><p>Lentes, lupas, softwares ampliado-</p><p>res de tela, material em relevo.</p><p>Auxílios para melhoria da</p><p>função auditiva e recursos</p><p>para tradução em língua</p><p>de sinais</p><p>Artefatos que auxiliam na acessibilidade de pes-</p><p>soas surdas ou com deficiência auditiva por meio</p><p>de uma diversidade de equipamentos e serviços.</p><p>Aparelhos auditivos, sistemas lumi-</p><p>nosos, telefones acessíveis, legen-</p><p>das, dicionários bilíngues.</p><p>Mobilidade em veículos</p><p>Recursos que auxiliam no uso e acesso a veículos;</p><p>serviços de autoescola.</p><p>Acessórios de adaptação, rampas.</p><p>Esporte e lazer</p><p>Artefatos que possibilitam atividades físicas e de</p><p>lazer.</p><p>Bolas sonoras, próteses específicas</p><p>para práticas de determinados es-</p><p>portes.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora com base em Bersch, 2017.</p><p>34 Tecnologias Assistivas</p><p>Que tal agora vermos alguns exemplos de imagens relacionadas a</p><p>categorias específicas?</p><p>Figura 1</p><p>Exemplos de categorias</p><p>Órteses e próteses</p><p>Dm</p><p>itr</p><p>y M</p><p>ar</p><p>ko</p><p>v1</p><p>52</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílios para ampliação da função</p><p>visual e recursos de voz ou tátil</p><p>Ch</p><p>er</p><p>yl</p><p>Ca</p><p>se</p><p>y/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Recursos de acessibilidade ao</p><p>computador</p><p>Re</p><p>sh</p><p>et</p><p>ni</p><p>ko</p><p>v_</p><p>ar</p><p>t/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Mobilidade em veículos</p><p>Ro</p><p>m</p><p>an</p><p>Z</p><p>ai</p><p>et</p><p>s/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Projetos arquitetônicos para</p><p>acessibilidade</p><p>bu</p><p>nd</p><p>it</p><p>jo</p><p>nw</p><p>is</p><p>es</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Esporte e lazer</p><p>sp</p><p>or</p><p>tp</p><p>oi</p><p>nt</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 35</p><p>Como é possível perceber, são diversas as categorias e há uma in-</p><p>finidade de possibilidades para promover a acessibilidade e a inclusão</p><p>da pessoa com deficiência em todos os âmbitos da vida e da socieda-</p><p>de. Pensaremos que, futuramente, talvez não sejam necessárias tantas</p><p>adaptações, pois a acessibilidade está aos poucos tomando parte dos</p><p>ambientes. Além disso, materiais acessíveis estão sendo desenvolvidos</p><p>e disponibilizados no mercado, e diversas ações já estão sendo feitas</p><p>para que a inclusão seja, de fato, efetivada.</p><p>É preciso considerar que, em nossa sociedade, há uma restrição</p><p>quanto ao acesso de diversos produtos e serviços produzidos e oferta-</p><p>dos no mercado, porque existem tecnologias de alto custo que muitas</p><p>vezes não são/estão acessíveis a uma grande parcela da população. De</p><p>acordo com Varela e Oliver (2013, p. 1774), “no Brasil, muitos recursos</p><p>desenvolvidos nas universidades não são incorporados ao mercado, a</p><p>variedade de produtos</p><p>fabricados no país é pequena e grande parte</p><p>dos dispositivos importados não dispõe de isenção tributária, elevando</p><p>significativamente o custo da TA disponível no mercado”.</p><p>Por outro lado, é possível desenvolver ferramentas simples e de bai-</p><p>xo custo ou até mesmo fazer adaptações que podem auxiliar em tare-</p><p>fas nos diversos âmbitos da vida, por exemplo uma fita adesiva para</p><p>fixar algo, a adaptação de mobiliários para melhorar a postura e diver-</p><p>sas outras possibilidades, de acordo com as necessidades individuais</p><p>de cada um. Por isso, é importante que todo profissional envolvido no</p><p>desenvolvimento da PcD tenha acesso aos pressupostos da TA e à sua</p><p>aplicabilidade.</p><p>Como um exemplo temos Frida Kahlo, famosa pintora mexicana,</p><p>que aos seis anos de idade foi diagnosticada com uma doença causada</p><p>por poliomielite, caracterizada por atrofia e fraqueza muscular, o que</p><p>ao longo dos anos comprometeu seus movimentos e sua musculatura.</p><p>Diante das limitações que se estabeleceram no decorrer de sua vida</p><p>devido à doença, foi o uso de recursos e artefatos de TA que possibi-</p><p>litou dar continuidade a suas obras de arte e que contribuiu para sua</p><p>autonomia e melhor qualidade de vida.</p><p>Na próxima seção, destacaremos algumas das categorias da TA para</p><p>que possamos explorar e compreender melhor essa temática.</p><p>O filme Frida foi baseado</p><p>na obra A biografia de Fri-</p><p>da Kahlo, inspirada na his-</p><p>tória da artista mexicana.</p><p>O drama retrata desde a</p><p>sua adolescência, quando</p><p>sofreu um acidente, até</p><p>a sua morte. No filme é</p><p>possível perceber tanto as</p><p>barreiras enfrentadas pela</p><p>artista quanto o papel da</p><p>tecnologia assistiva em</p><p>diversos momentos de</p><p>sua vida.</p><p>Direção: Julie Taylor. México; Estados</p><p>Unidos: Handprint Entertainment;</p><p>Lions Gate Films; Miramax, 2002.</p><p>Filme</p><p>36 Tecnologias Assistivas</p><p>2.2 Auxílio para atividades de vida diária (AVD)</p><p>Vídeo Desde o momento em que acordamos até quando nos preparamos</p><p>para dormir, usamos recursos e ferramentas que tornam nossas ativi-</p><p>dades diárias mais práticas e fáceis. Com essas ferramentas, podemos</p><p>executar as tarefas do dia a dia com agilidade, autonomia e indepen-</p><p>dência: um talher na hora das refeições; uma escova de dentes no mo-</p><p>mento da higiene; uma tesoura, um lápis e outros artefatos em vários</p><p>momentos do dia; tudo isso faz parte da nossa rotina. Agora, paremos</p><p>para pensar nas pessoas com deficiência:</p><p>Será que a execução dessas simples tarefas não pode se deparar com</p><p>barreiras devido à falta de acessibilidade?</p><p>?</p><p>É no desenvolvimento das atividades diárias (AVD) que crescemos e</p><p>nos fazemos sujeitos. Varela e Oliver (2013, p. 1775) trazem uma defini-</p><p>ção sobre essas atividades, afirmando que elas são “uma área do desem-</p><p>penho ocupacional, composta pelas atividades de autocuidado, como</p><p>banho, alimentação, vestuário, entre outras”. Também destacam que é</p><p>pela participação nas atividades cotidianas que adquirimos competên-</p><p>cias, interagimos e damos significados à vida. É nesse sentido que as</p><p>tecnologias assistivas são apontadas como meio de alcance à autonomia</p><p>e independência para atividades do dia a dia.</p><p>Bersch (2017) define essa categoria de TA como artefatos que “favo-</p><p>recem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras</p><p>ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxí-</p><p>lio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho</p><p>e executar necessidades pessoais”.</p><p>Os artefatos que podem facilitar a realização de tarefas no cotidiano</p><p>vão desde ferramentas sofisticadas até objetos que podem ser adap-</p><p>tados de modo simples. Um exemplo de adaptação simples ocorre no</p><p>casos de pessoas com deficiência motora – especialmente aquelas com</p><p>dificuldades na apreensão dos objetos, na pega e no manuseio que, ao</p><p>terem acesso a objetos adaptados, são capazes de executar tarefas de</p><p>modo autônomo. Vejamos, então, alguns exemplos de artefatos que</p><p>podem auxiliar nas tarefas do cotidiano:</p><p>Neste site, de autoria de</p><p>Mara Lúcia Sartoretto e</p><p>Rita Bersch, é possível se</p><p>aprofundar na tecno-</p><p>logia assistiva por meio</p><p>da leitura de artigos, da</p><p>exploração de vídeos e</p><p>da visualização de vários</p><p>exemplos e conceitos</p><p>relacionados. O site é</p><p>embasado no paradigma</p><p>da inclusão e é desen-</p><p>volvido por uma equipe</p><p>especializada e renomada</p><p>em tecnologia assistiva.</p><p>Tem como foco promover</p><p>a inclusão de PcD por</p><p>meio da prestação de</p><p>serviços nas áreas da edu-</p><p>cação, saúde e tecnologia</p><p>assistiva.</p><p>Disponível em: https://www.</p><p>assistiva.com.br/. Acesso em: 29</p><p>nov. 2022.</p><p>Site</p><p>Fixador para objetos: podem ser anexados a objetos e colocados</p><p>em volta da mão ou do próprio objeto, dando maior estabilidade e</p><p>preensão. Tiras mais largas proporcionam maior firmeza ao pulso.</p><p>São artefatos de baixo custo e também podem ser confeccionados de</p><p>modo caseiro, analisando as necessidades de cada usuário. Ka</p><p>tp</p><p>ak</p><p>on</p><p>g/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para</p><p>atividades manuais</p><p>Engrossador para talheres: esse recurso serve para auxiliar</p><p>pessoas com dificuldade na preensão palmar. Estão disponíveis no</p><p>mercado, mas também podem ser confeccionados de modo caseiro,</p><p>por meio de espumas ou material em E.V.A.</p><p>Ju</p><p>lia</p><p>M</p><p>er</p><p>sk</p><p>a/</p><p>Sh</p><p>ut</p><p>te</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para a alimentação</p><p>Argola/adaptador para zíper: pode parecer um simples acessório,</p><p>mas essa argola pode facilitar muito a autonomia de uma pessoa com</p><p>dificuldade motora. Há outros tipos de adaptadores disponíveis no</p><p>mercado, que são de baixo custo</p><p>An</p><p>ak</p><p>um</p><p>ka</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para vestuário</p><p>Pegador de objetos à distância: nas tarefas do dia a dia, pegar/</p><p>puxar objetos pode representar uma barreira para pessoas com</p><p>dificuldade de curvar-se ou para cadeirantes. O pegador é um</p><p>artefato disponível que auxilia ainda na acessibilidade em atividades</p><p>de trabalho.</p><p>An</p><p>dr</p><p>ey</p><p>_P</p><p>op</p><p>ov</p><p>/S</p><p>hu</p><p>tte</p><p>rs</p><p>to</p><p>ck</p><p>Auxílio para execução de</p><p>tarefas rotineiras</p><p>https://www.assistiva.com.br/</p><p>https://www.assistiva.com.br/</p><p>Categorias em tecnologias assistivas 37</p><p>2.2 Auxílio para atividades de vida diária (AVD)</p><p>Vídeo Desde o momento em que acordamos até quando nos preparamos</p><p>para dormir, usamos recursos e ferramentas que tornam nossas ativi-</p><p>dades diárias mais práticas e fáceis. Com essas ferramentas, podemos</p><p>executar as tarefas do dia a dia com agilidade, autonomia e indepen-</p><p>dência: um talher na hora das refeições; uma escova de dentes no mo-</p><p>mento da higiene; uma tesoura, um lápis e outros artefatos em vários</p><p>momentos do dia; tudo isso faz parte da nossa rotina. Agora, paremos</p><p>para pensar nas pessoas com deficiência:</p><p>Será que a execução dessas simples tarefas não pode se deparar com</p><p>barreiras devido à falta de acessibilidade?</p><p>?</p><p>É no desenvolvimento das atividades diárias (AVD) que crescemos e</p><p>nos fazemos sujeitos. Varela e Oliver (2013, p. 1775) trazem uma defini-</p><p>ção sobre essas atividades, afirmando que elas são “uma área do desem-</p><p>penho ocupacional, composta pelas atividades de autocuidado, como</p><p>banho, alimentação, vestuário, entre outras”. Também destacam que é</p><p>pela participação nas atividades cotidianas que adquirimos competên-</p><p>cias, interagimos e damos significados à vida. É nesse sentido que as</p><p>tecnologias assistivas são apontadas como meio de alcance à autonomia</p><p>e independência para atividades do dia a dia.</p><p>Bersch (2017) define essa categoria de TA como artefatos que “favo-</p><p>recem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras</p><p>ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxí-</p><p>lio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho</p><p>e executar necessidades pessoais”.</p><p>Os artefatos que podem facilitar a realização de tarefas no cotidiano</p><p>vão desde ferramentas sofisticadas até objetos que podem ser adap-</p><p>tados de modo simples. Um exemplo de adaptação simples ocorre no</p><p>casos de pessoas com deficiência motora – especialmente aquelas com</p><p>dificuldades na apreensão dos objetos, na pega e no manuseio que, ao</p><p>terem acesso a objetos adaptados, são capazes de executar tarefas de</p><p>modo autônomo. Vejamos, então, alguns exemplos</p>

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