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<p>Autores: Prof. Adalberto Oliveira da Silva</p><p>Profa. Camila Kimie Ugino</p><p>Prof. Marcos Paulo de Oliveira</p><p>Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli</p><p>Macroeconomia Aberta</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Professores conteudistas: Adalberto Oliveira da Silva/Camila Kimie Ugino/</p><p>Marcos Paulo de Oliveira</p><p>© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou</p><p>quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem</p><p>permissão escrita da Universidade Paulista.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>S586m Silva, Adalberto Oliveira da.</p><p>Macroeconomia Aberta. / Adalberto Oliveira da Silva, Camila</p><p>Kimie Ugino, Marcos Paulo de Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2016.</p><p>164 p., il</p><p>Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e</p><p>Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-099/16, ISSN 1517-9230.</p><p>1. Macroeconomia Aberta. 2. Relações internacionais. 3. Políticas</p><p>Econômicas. I. Ugino, Camila Kimie. II. Marcos Paulo de Oliveira. III.</p><p>Título</p><p>CDU 330.101.541</p><p>Adalberto Oliveira da Silva</p><p>Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade</p><p>Católica (PUC-SP). Atualmente é professor adjunto da</p><p>Universidade Paulista (UNIP) no curso de Ciências Econômicas</p><p>e leciona disciplinas de Macroeconomia Aplicada, História</p><p>Econômica Geral e Técnicas de Pesquisa em Economia.</p><p>É técnico do Departamento Intersindical de Estudos</p><p>Estatísticos e Socioeconômicos (Dieese), onde atua</p><p>em pesquisas sobre mercado de trabalho. Suas áreas</p><p>de interesse são: teoria econômica, desenvolvimento</p><p>econômico, economia brasileira e políticas públicas.</p><p>Também atua como revisor técnico no projeto da</p><p>Biblioteca Universitária Pearson para a confecção de</p><p>material didático de cursos superiores.</p><p>Camila Kimie Ugino</p><p>Mestre em Economia Política (2011), graduada em</p><p>Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de</p><p>Campinas (2005) e cursando doutorado em Ciência Sociais</p><p>com ênfase em Ciência Política pela Pontifícia Universidade</p><p>Católica de São Paulo. Atualmente é professora da Pontifícia</p><p>Universidade Católica de São Paulo e da Universidade</p><p>Paulista, ministrando disciplinas de Introdução à Economia,</p><p>Economia Política, Economia Internacional e Economia do</p><p>Setor Público. Tem experiência na área de Economia, com</p><p>ênfase em Economia, dos Programas de Bem-Estar Social,</p><p>Economia Política e Políticas Públicas.</p><p>Atuou no mercado financeiro nos bancos Citibank,</p><p>Unibanco e, nas áreas de planejamento corporativo e</p><p>de risco, e em empresa privada em Campinas no ramo</p><p>farmacêutico veterinário.</p><p>Marcos Paulo de Oliveira</p><p>Mestre em Economia Política, pela Pontifícia</p><p>Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e graduado</p><p>em Ciências Econômicas, pela Universidade Paulista (UNIP).</p><p>Leciona na UNIP desde o ano de 2002 nas disciplinas</p><p>de Contabilidade Social, Elementos de Economia, Economia</p><p>Brasileira, Economia e Gestão do Setor Público, Macroeconomia</p><p>Fechada, Macroeconomia Aberta, Macroeconomia Aplicada,</p><p>Ambiente Econômico Global, entre outras.</p><p>Trabalhou no setor privado, na área de importação e</p><p>exportação, e no setor público, com políticas públicas de</p><p>geração de trabalho, emprego e renda, bem como na área de</p><p>planejamento e gestão pública, como gerente de indicadores</p><p>econômicos e sociais, e gerente de acompanhamento das</p><p>receitas e dos gastos públicos. Seu principal objeto de</p><p>pesquisa na área de Macroeconomia é mercado de trabalho</p><p>e estratificação social.</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Prof. Dr. João Carlos Di Genio</p><p>Reitor</p><p>Prof. Fábio Romeu de Carvalho</p><p>Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças</p><p>Profa. Melânia Dalla Torre</p><p>Vice-Reitora de Unidades Universitárias</p><p>Prof. Dr. Yugo Okida</p><p>Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa</p><p>Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez</p><p>Vice-Reitora de Graduação</p><p>Unip Interativa – EaD</p><p>Profa. Elisabete Brihy</p><p>Prof. Marcelo Souza</p><p>Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar</p><p>Prof. Ivan Daliberto Frugoli</p><p>Material Didático – EaD</p><p>Comissão editorial:</p><p>Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)</p><p>Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)</p><p>Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)</p><p>Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)</p><p>Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)</p><p>Apoio:</p><p>Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD</p><p>Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos</p><p>Projeto gráfico:</p><p>Prof. Alexandre Ponzetto</p><p>Revisão:</p><p>Rose Castilho</p><p>Vitor Andrade</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Sumário</p><p>Macroeconomia Aberta</p><p>APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7</p><p>INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7</p><p>Unidade I</p><p>1 RELAÇÕES INTERNACIONAIS E SEUS PRINCIPAIS CONCEITOS ........................................................9</p><p>1.1 Balanço de pagamentos e taxas de câmbio .............................................................................. 13</p><p>1.1.1 Mercado cambial e taxas de câmbio............................................................................................... 15</p><p>1.1.2 Câmbio fixo ............................................................................................................................................... 16</p><p>1.1.3 Câmbio flutuante ou flexível ............................................................................................................. 16</p><p>1.1.4 Taxa real de câmbio ............................................................................................................................... 18</p><p>1.1.5 Gastos nacionais e gastos em bens nacionais ............................................................................ 20</p><p>1.1.6 O mercado de bens e serviços e seu equilíbrio: a curva IS em uma economia</p><p>aberta ...................................................................................................................................................................... 22</p><p>1.1.7 Dilemas da política econômica ......................................................................................................... 23</p><p>1.1.8 Mobilidade de capital ............................................................................................................................ 24</p><p>1.2 Balanço de pagamentos e os fluxos de capitais ...................................................................... 25</p><p>2 POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL EM ECONOMIA ABERTA ............................................................. 27</p><p>2.1 O modelo Mundell-Fleming ou modelo IS-LM-BP ................................................................. 27</p><p>2.2 A determinação das principais variáveis do modelo Mundell-Fleming ou</p><p>modelo IS-LM-BP ........................................................................................................................................ 30</p><p>3 MOBILIDADE DE CAPITAIS E SUA DINÂMICA ....................................................................................... 35</p><p>3.1 Mobilidade perfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial fixo .............................................................................. 35</p><p>3.2 Mobilidade perfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial flutuante .................................................................. 37</p><p>3.3 Mobilidade imperfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial fixo .............................................................................. 40</p><p>3.4 Mobilidade imperfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial flutuante ..................................................................</p><p>a direita e o novo ponto de equilíbrio IS-LM abaixo da curva BP, demonstra ser uma</p><p>política econômica eficaz para gerar um maior nível de renda (Y1), conforme o gráfico a seguir, também</p><p>elaborado a partir de Froyen (2006, p. 599).</p><p>Percebe-se que o novo ponto de equilíbrio IS-LM será abaixo da curva BP, como também é no</p><p>regime de câmbio fixo, em que a taxa de juros doméstica fica abaixo da taxa de juros internacional e,</p><p>por esse motivo, causa a saída de capitais do Brasil. No entanto, no regime de câmbio flutuante, a saída</p><p>de capitais causa uma desvalorização cambial que tem impacto direto sobre o fluxo de exportações e</p><p>importações, ou seja, causa um acréscimo das exportações líquidas que faz parte da curva IS, que irá se</p><p>deslocar para a direita, IS(e1), e elevar o nível de renda para Y2.</p><p>Portanto, a política monetária expansionista é muito eficiente em um regime de câmbio flutuante,</p><p>pois eleva o nível de renda de forma consolidada e sem conflitar com as políticas fiscal e cambial.</p><p>39</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>IS</p><p>BP</p><p>LM</p><p>IS(e1)</p><p>LM (M1)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil = i rm</p><p>i brasil < i rm</p><p>Ye Y1 Y2</p><p>Figura 17 – Eficiência da expansão monetária</p><p>No entanto, dentro do mesmo contexto de mobilidade perfeita de capitais e regime de câmbio</p><p>flutuante, a utilização de uma política fiscal expansionista, isto é, expansão dos gastos públicos (G1, e0),</p><p>passa a ser uma alternativa inviável, pois gera uma valorização cambial e leva o nível de renda ao nível</p><p>inicial (G1, e1), conforme o gráfico a seguir, formulado a partir de Froyen (2006, p. 600).</p><p>A partir do equilíbrio IS-LM inicial, um aumento dos gastos públicos desloca a curva IS para a direita,</p><p>cujo novo ponto de equilíbrio será acima da curva BP e em um ponto em que a taxa de juros brasileira</p><p>(i brasil) será maior que a taxa de juros do resto do mundo (i rm), ocorrendo a entrada de capitais, o</p><p>acúmulo de reservas internacionais e a valorização do câmbio.</p><p>Como o câmbio é flutuante e temos a curva IS dependente da taxa de câmbio devido ao impacto nos</p><p>níveis de exportações e importações, a valorização cambial faz a curva IS deslocar-se para a esquerda, e</p><p>faz o nível de renda voltar ao ponto de equilíbrio inicial, resultando em uma política econômica ineficaz</p><p>ao não consolidar o crescimento econômico.</p><p>40</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>IS = IS(G1, e1)</p><p>BP</p><p>LM</p><p>IS(G1, e0)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil = i rm</p><p>i brasil > i rm</p><p>Ye</p><p>Figura 18 – Ineficiência da expansão fiscal</p><p>3.3 Mobilidade imperfeita de capitais e os impactos das políticas</p><p>econômicas dentro de um contexto de regime cambial fixo</p><p>Para entender a mobilidade imperfeita, é necessário retomar os pressupostos que fundamentam o</p><p>modelo IS-LM-BP nesse contexto, cujos pressupostos são:</p><p>• diferencial de riscos por meio do diferencial das taxas de juros;</p><p>• risco cambial;</p><p>• custos de transação;</p><p>• informações assimétricas;</p><p>• ativos substitutos, mas não perfeitos.</p><p>Na mobilidade imperfeita, a curva BP tem inclinação positiva, pois um aumento do nível de renda</p><p>eleva o nível de importações acima das exportações, resultando em um desequilíbrio externo. Para</p><p>reequilibrar o lado externo, isto é, um balanço de pagamentos igual a zero (BP = 0), a taxa de juros</p><p>doméstica (Brasil) deverá ser mais elevada que a taxa de juros do resto e mundo (RM) para atrair capitais</p><p>externos via conta capital para financiar a conta de transações correntes.</p><p>A curva BP será mais inclinada quanto menos os fluxos de capitais forem</p><p>sensíveis à taxa de juros. Quanto menor o aumento da entrada de capitais</p><p>para um dado aumento da taxa de juros [...], maior será o aumento da taxa</p><p>de juros necessário para manter o equilíbrio do balanço de pagamentos</p><p>quando passamos para um nível de renda (e, portanto, de importações)</p><p>41</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>mais alto; ou seja, a curva BP será mais inclinada. A curva BP também</p><p>será mais inclinada quanto maior for a propensão marginal a importar.</p><p>Com uma propensão marginal a importar mais alta, um dado aumento na</p><p>renda irá produzir um maior aumento nas importações. Para alcançar o</p><p>equilíbrio no balanço de pagamentos, será necessário um maior aumento</p><p>na entrada de capital e, consequentemente, um maior aumento da taxa de</p><p>juros (FROYEN, 2006, p. 587).</p><p>O deslocamento da curva BP está em função das variações na taxa de câmbio flutuante. Uma</p><p>desvalorização cambial desloca a curva BP para a direita devido ao aumento das exportações (X), que</p><p>elevam o nível de renda (Y). Esse acréscimo no nível de renda elevará a taxa de juros doméstica (Brasil)</p><p>acima da taxa de juros do resto e mundo (RM), que, por sua vez, valorizará a taxa de câmbio e elevará</p><p>as importações, cujo resultado será um balanço de pagamentos equilibrado (BP = 0).</p><p>Em um contexto de mobilidade imperfeita de capitais, regime de câmbio fixo e a decisão de uma</p><p>política monetária expansionista por meio do aumento da oferta de moeda (M1) na economia ou</p><p>aumento da liquidez, leva a um deslocamento da curva LM para a direita.</p><p>O novo ponto de equilíbrio IS-LM, em que, ao considerarmos a curva BP totalmente inelástica ou</p><p>vertical, será depois da própria curva BP, resulta em um maior nível de renda (Y1), leia-se crescimento</p><p>econômico, mas apresentará também um déficit no balanço de pagamentos.</p><p>A política monetária expansionista, ao aumentar a renda, também expande as importações devido</p><p>à propensão marginal a importar (mY), isto é, dada uma variação na renda, há uma variação nas</p><p>importações. Tudo isso, somado à queda da taxa de juros, que causa a saída de capitais, conflitam com</p><p>o regime cambial vigente de câmbio fixo, pois resultam na redução de reservas internacionais.</p><p>A política monetária expansionista leva a um déficit no balanço de pagamentos e cria conflito</p><p>entre o equilíbrio interno (crescimento econômico) e externo (BP = 0). Como estamos em um cenário</p><p>de câmbio fixo determinado pelo Banco Central (Bacen), em que sabemos que, para manter um câmbio</p><p>fixo, há a necessidade de acumular reservas internacionais, a política monetária adotada reduz o nível</p><p>de reservas internacionais por dois canais: pela saída de capitais relacionada à taxa de juros mais baixa e</p><p>pelo déficit no balanço de pagamentos devido aos pagamentos de importações acima dos recebimentos</p><p>de exportações em dólares.</p><p>Da mesma forma que ocorre na mobilidade perfeita de capitais em um regime de câmbio fixo,</p><p>o Banco Central deverá abandonar a política monetária expansionista, devido à perda de reservas</p><p>internacionais, e manter o regime de câmbio fixo. O Bacen irá buscar o equilíbrio externo por meio de</p><p>um desequilíbrio interno, em que a curva LM e o nível de renda voltam para a posição inicial, portanto,</p><p>considera-se que a política monetária expansionista foi ineficaz, conforme demonstrado no gráfico a</p><p>seguir, elaborado com base em Froyen (2006, p. 586).</p><p>42</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>IS</p><p>LM</p><p>BP</p><p>LM (M1)Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 2</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1</p><p>Figura 19 – Ineficiência da expansão monetária</p><p>Uma política fiscal expansionista é a elevação dos gastos do governo (G1), que desloca a curva IS</p><p>para a direita. Esse deslocamento aumenta o nível de renda (Y), que, dada a oferta de moeda, expande</p><p>a demanda por mais moeda, que, por sua vez, eleva o nível da taxa de juros.</p><p>Conforme o gráfico a seguir, criado a partir de Froyen (2006, p. 587), o novo ponto de equilíbrio</p><p>não ultrapassa a curva BP, caso a curva seja totalmente inelástica, ou o novo ponto de equilíbrio ficará</p><p>acima da curva BP, caso a curva tenha uma “inelasticidade baixa”. Esse novo ponto de equilíbrio indica</p><p>um superávit no balanço de pagamentos, mesmo com aumento do nível de renda. O resultado não</p><p>apresenta conflito de políticas econômicas devido ao acúmulo de reservas para manter o regime cambial</p><p>fixo e apresentar elevação do nível de renda ou crescimento econômico, isto é, há equilíbrio interno e</p><p>externo, cuja política fiscal expansionista é classificada nesse caso como eficaz.</p><p>IS</p><p>LM</p><p>BP</p><p>IS(G1)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 0</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1</p><p>Figura 20 – Eficiência da expansão fiscal</p><p>Aumentou a renda</p><p>Diminuiu a taxa de juros</p><p>Vai aumentar a importação</p><p>Saída de capital (reservas internacionais) pelo aumento da importação e pela diminuição da taxa de juros (investimentos estrangeiros)</p><p>O aumento nos gastos públicos deslocou IS, aumentou a demanda por moeda/renda e consequentemente a taxa de juros.</p><p>Juros interno > externo. Superávit BP</p><p>Gerou aumento na renda sem defasar reservas.</p><p>Highlight</p><p>Nesse caso, ainda poderia ter aumento em LM para abaixar taxa de juros até novo equilibrio em BP, cuidando para não gerar déficit</p><p>o aumento da renda vai sim aumentar importações e influenciar em IS, mas só vai mexer em cima da linha e não deslocar</p><p>43</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Nessa conjuntura, em que a curva BP seja mais inelástica ou mais inclinada, significa que os fluxos</p><p>de capitais são menos sensíveis à taxa de juros, sendo necessária uma maior taxa de juros para manter</p><p>o equilíbrio do balanço de pagamentos devido ao aumento do nível de renda, que, por sua vez, eleva as</p><p>importações. O próximo gráfico, também elaborado a partir de Froyen (2006, p. 588), apresenta a curva</p><p>BP mais inelástica ou mais inclinada, cuja política fiscal expansionista passa a ser ineficaz.</p><p>A inclinação da curva BP em relação à inclinação da curva LM determinará se uma política fiscal</p><p>expansionista será eficaz ou não, isto é, se resultará em superávit ou déficit no balanço de pagamentos.</p><p>Podemos perceber esse cenário de uma curva BP mais inelástica ao olharmos para a curva LM. Caso a</p><p>curva BP seja mais inclinada que a curva LM, estamos em um cenário em que os fluxos de capitais são</p><p>menos sensíveis à taxa de juros e, no caso, uma expansão fiscal que eleva a renda também elevará as</p><p>importações que não serão financiadas pela entrada de capitais devido ao fato de a taxa de juros não</p><p>ser atrativa.</p><p>Percebe-se que, dado o aumento dos gastos públicos (G1), há o deslocamento da curva IS. Entretanto,</p><p>a curva BP é mais inclinada que a curva LM, sendo o novo ponto de equilíbrio posterior ou abaixo</p><p>da curva BP, resultado que representa um déficit no balanço de pagamentos e redução de reservas</p><p>internacionais, situação insustentável do ponto de vista cambial devido ao regime de câmbio fixo, que</p><p>exige um nível de reservas internacionais razoável para manter a taxa de câmbio nominal fixa dada a</p><p>demanda por moeda estrangeira.</p><p>IS</p><p>LM</p><p>BP</p><p>IS(G1)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 0</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1</p><p>Figura 21 – A possibilidade de ineficiência da expansão fiscal</p><p>3.4 Mobilidade imperfeita de capitais e os impactos das políticas</p><p>econômicas dentro de um contexto de regime cambial flutuante</p><p>A partir do ponto de equilíbrio inicial IS-LM-BP, cuja intersecção das curvas se dá no ponto em</p><p>que a taxa de juros de equilíbrio (i brasil 0) é igual ao nível de renda de equilíbrio (Ye), pressupomos</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>44</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>uma expansão monetária por meio do deslocamento da curva LM para a direita, LM(M1). Após o</p><p>deslocamento, percebe-se que o novo ponto de equilíbrio está abaixo da curva BP, isto é, em que a</p><p>taxa de juros (i brasil 1) é igual ao novo nível de renda (Y1), cujo resultado representa um déficit no</p><p>balanço de pagamentos.</p><p>Entretanto, o regime cambial é flexível e uma expansão monetária gera uma desvalorização cambial.</p><p>Essa desvalorização desloca a curva BP para a direita, BP(e1), e a curva IS para a direita, IS(e1). Ao</p><p>deslocar BP(e1) e IS(e1), temos um novo ponto de equilíbrio final, em que a taxa de juros (i brasil 2) é</p><p>igual ao novo nível de renda (Y2), sendo esse nível de renda acima de Y1. A taxa de juros cai para i brasil</p><p>1 e volta a subir para i brasil 2 devido ao aumento do nível de renda de Y1 para Y2, o que provoca a</p><p>expansão da demanda por moeda. A política monetária é eficiente, pois proporciona uma elevação</p><p>permanente do nível de renda, conforme podemos verificar no gráfico a seguir, constituído a partir de</p><p>Froyen (2006, p. 589).</p><p>IS(e0)</p><p>LM(M1)LM(MO)</p><p>BP(e0)</p><p>BP(e1)</p><p>IS(e1)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 0</p><p>i brasil 2</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1 Y2</p><p>Figura 22 – Eficiência da expansão monetária</p><p>Já no gráfico a seguir, formulado com dados de Froyen (2006, p. 591), a partir do ponto de equilíbrio</p><p>inicial IS-LM-BP, em que a taxa de juros (i brasil 0) é igual ao nível de renda (Ye), temos o pressuposto de</p><p>um aumento nos gastos públicos ou do governo (G), G0 para G1, mantendo o regime de câmbio flexível.</p><p>Portanto, temos o deslocamento da curva IS de IS(G0,e0) para IS(G1,e0), o que leva a economia para</p><p>uma nova intersecção IS-LM, em que o novo nível da taxa de juros (i brasil 1) passa a ser igual ao novo</p><p>nível de renda (Y1).</p><p>Contudo, temos agora que perceber a diferença na inclinação das curvas BP e LM, isto é, a curva BP</p><p>é menos inclinada do que a curva LM, cuja nova intersecção se dá acima da curva BP, o que representa</p><p>um superávit comercial no balanço de pagamentos.</p><p>45</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Todavia, como o regime de câmbio é flexível, a taxa de câmbio tende a se valorizar, deslocando</p><p>as curvas BP e IS para a esquerda, isto é, BP(e1) e IS(G1,e1) devido ao câmbio valorizado elevar as</p><p>importações e reduzir as exportações. A variação da taxa de câmbio tende a causar um impacto na</p><p>renda, isto é, Y2 é maior que Ye, entretanto, Y2 é menor que Y1, resultado que demonstra a falta de</p><p>eficiência da política fiscal em sustentar um nível de renda crescente.</p><p>IS(G0, e0)</p><p>LM</p><p>BP(e1)</p><p>BP(e0)</p><p>IS(G1, e1)</p><p>IS(G1, e0)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 0</p><p>i brasil 2</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1Y2</p><p>Figura 23 – Ineficiência da expansão fiscal</p><p>Em um regime de câmbio flexível, a política monetária parece ser sempre a mais eficiente e</p><p>a política fiscal, ineficiente, conforme vimos nos gráficos dois últimos gráficos. Entretanto, há a</p><p>possibilidade de haver um resultado em que a política fiscal seja eficiente, isto é, mesmo dentro de</p><p>um regime de câmbio flexível, dada uma elevação dos gastos públicos (G), há a elevação do nível de</p><p>renda (Y), sem retrocesso. Porém, para haver esse resultado, a curva BP deverá ser mais inelástica que</p><p>a curva LM, isto é, a curva BP é mais inclinada que a curva LM, o que significa um cenário econômico</p><p>de alta taxa de juros para financiar.</p><p>Conforme o gráfico a seguir, elaborado com base em Froyen (2006, p. 592), ao aumentar os gastos do</p><p>governo (G), há um deslocamento da curva IS para a direita, resultando em um novo ponto de equilíbrio</p><p>entre a taxa de juros (i brasil 1) e o nível de renda (Y1). Contudo, a curva BP é mais inclinada do que</p><p>a curva LM, cuja segunda intersecção IS-LM passa a ser abaixo da curva BP e representa um déficit</p><p>no balanço de pagamentos. Devido à taxa de câmbio ser flexível, há uma desvalorização cambial que</p><p>provoca o deslocamento das curvas BP e IS para a direita e até o nível de renda (Y2). O nível de renda</p><p>Y2 é maior que o nível de renda Y1, resultado que expressa a eficiência da política fiscal dentro desse</p><p>cenário econômico.</p><p>46</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>IS(G0, e0)</p><p>LM</p><p>BP(e1)</p><p>BP(e0)</p><p>IS(G1, e1)</p><p>IS(G1, e0)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil e</p><p>i brasil 2</p><p>i brasil 1</p><p>Ye Y1 Y2</p><p>Figura 24 – Possibilidade de eficiência da expansão fiscal</p><p>3.4.1 Choques externos e regime de câmbio flexível: possibilidades de equilíbrios</p><p>interno</p><p>e externo</p><p>Como vimos, o regime cambial é muito importante para os “equilíbrios” econômicos. Aqui</p><p>tratamos do equilíbrio interno, que é uma situação de crescimento do nível de renda, e do equilíbrio</p><p>externo, em que o balanço de pagamentos é zero ou apresenta saldo positivo. Percebemos que,</p><p>dependendo do regime de câmbio, a política monetária ou a política fiscal é mais eficiente no</p><p>sentido de possibilitar os resultados ou equilíbrios necessários, com algumas exceções a partir da</p><p>inclinação das curvas LM e BP.</p><p>O modelo Mundell-Fleming, ou modelo IS-LM-BP, também permite analisar o comportamento da</p><p>economia interna diante das crises internacionais ou choques externos, como a crise de 2008, nos</p><p>Estados Unidos (EUA). A partir de um regime de taxas de câmbio flexíveis ou flutuantes, nota-se que há</p><p>condições de reduzir o impacto na economia interna.</p><p>A crise de 2008, nos EUA, por exemplo, reduziu o nível de renda (PIB) norte-americano, que,</p><p>por sua vez, subtraiu as importações norte-americanas e, assim, a exportação de vários países</p><p>para os EUA. Ao olharmos o gráfico a seguir, baseado em Froyen (2006, p. 593), percebe-se que o</p><p>primeiro resultado é a redução das exportações nacionais (X0 para X1), que desloca a curva IS para</p><p>a esquerda, de IS(X0,e0) para IS(X1,e1), e desloca a curva BP também para esquerda, de BP(X0,e0)</p><p>para BP(X1,e0) devido a ambas as curvas também serem determinadas pelo regime cambial ou taxa</p><p>de câmbio flexível (e).</p><p>47</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>IS(X0, e0) = IS(X1, e1)</p><p>LM</p><p>BP(X0, e0) = BP(X1, e1)</p><p>BP(X1, e0)</p><p>IS(X1, e0)</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil 0 = i brasil 2</p><p>i brasil 1</p><p>Ye = Y2Y1</p><p>Figura 25 – Choque externo e queda da exportação</p><p>Devido à desvalorização cambial, percebe-se que a nova intersecção das curvas IS-LM se dá no</p><p>ponto abaixo do nível de renda inicial (Ye), em que a taxa de juros (brasil 1) e o nível de renda (Y1) sofrem</p><p>uma queda. Caso o regime de câmbio fosse fixo, o novo ponto de equilíbrio permaneceria no ponto de</p><p>equilíbrio inicial (Ye). Entretanto, o regime de câmbio é flexível e o novo ponto de intersecção IS-LM</p><p>é um ponto abaixo da curva BP, o que significa um déficit no balanço de pagamentos e provoca uma</p><p>desvalorização cambial.</p><p>Essa desvalorização cambial tem impacto nas curvas IS e BP, que se deslocam para a direita, isto é,</p><p>a desvalorização faz a economia voltar ao nível de taxa de juros e de renda iniciais (i brasil 2 e Y2), ou</p><p>seja, IS(X1,e1) = IS(X0,e0) e BP(X1,e1) = BP(X0,e0). Em um primeiro momento, a crise externa afetaria</p><p>a economia interna, mas devido ao regime cambial flexível, a economia interna é “blindada”, leia-se</p><p>isolada, da crise internacional ou de outros choques externos.</p><p>Portanto, regimes de câmbio flexível ou flutuante podem minimizar o impacto de crises internacionais</p><p>na economia interna e proporcionar um grau de isolamento contra crises econômicas internacionais</p><p>que afetam os equilíbrios interno e externo e podem levar à economia a queda da demanda agregada,</p><p>redução dos níveis de consumo e investimento, elevação do desemprego e inflação, redução da receita</p><p>do governo e expansão da pobreza e da desigualdade social.</p><p>4 A ABERTURA DOS MERCADOS DE BENS E FINANCEIROS</p><p>Ao longo do estudo da macroeconomia, supusemos, até agora, que a economia era fechada, não</p><p>abarcando a interação com outras economias. Tal escolha é realizada por motivos didáticos, para</p><p>simplificar o aprendizado e as análises em um primeiro momento e sedimentar os principais conceitos</p><p>macroeconômicos ensinados. Nosso desafio agora é subtrair essa hipótese e entendermos as implicações</p><p>macroeconômicas das relações entre os países, ou seja, da abertura econômica, tanto no tocante ao</p><p>atendimento de bens e serviços como na condução da política econômica interna de cada país.</p><p>Aqui está o impacto do déficit no BP = desvalorização cambial, gera -imp +exp</p><p>Passaria maus bocados por um tempo até que naturalmente retornasse ao ponto de início</p><p>48</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Como aponta Blanchard (2011, p. 337), a abertura é composta de três dimensões distintas:</p><p>• A abertura dos mercados de bens, que possibilita aos consumidores e empresas escolher entre</p><p>bens internos e externos. Devemos ressaltar que tal evento não está isento de restrições, em razão</p><p>das políticas tarifárias (impostos sobre importações) e cotas sobre as quantidades importadas</p><p>mesmo nos países que se comprometem com o livre comércio.</p><p>• A abertura dos mercados financeiros, que neste caso propicia aos investidores financeiros optar</p><p>entre aplicar em ativos financeiros internos e externos. Essa prática nas últimas décadas teve</p><p>grande expansão no conjunto dos países, muito relacionado com a diminuição do controle de</p><p>capitais e restrições quanto aos investimentos autorizados para residentes e estrangeiros.</p><p>• A abertura dos mercados de fatores, na qual as empresas podem escolher onde instalar suas</p><p>plantas produtivas e os trabalhadores podem se deslocar em busca de onde trabalhar.</p><p>Dessas três dimensões da abertura econômica, o processo de abertura dos mercados de fatores</p><p>observa um desenvolvimento mais lento que o ocorrido no mercado de bens e financeiro. Portanto, ao</p><p>longo de nossa apresentação, daremos maior ênfase a esses dois primeiros mercados em detrimento ao</p><p>mercado de fatores.</p><p>4.1 Bens domésticos e importados</p><p>O processo de abertura dos mercados, numa tendência ao livre comércio, leva qualquer economia a se</p><p>relacionar com o resto do mundo através de duas vias: o comércio de bens e serviços e a movimentação</p><p>de capitais financeiros. A primeira via significa que parte da produção de um país extrapola as suas</p><p>fronteiras, ao mesmo tempo, e absorve bens produzidos em outros países. Quanto maior seu intercâmbio</p><p>de bens e serviços com outros países, maior o grau de abertura de certa economia.</p><p>Nesse sentido, a absorção de bens externos (importações) representa uma saída de parte do fluxo</p><p>circular da renda de um país, logo, parte da renda produzida não será gasta na compra de bens produzidos</p><p>internamente; por outro lado, os bens que atravessam as fronteiras (exportações) aparecem como um</p><p>aumento da demanda por bens produzidos internamente. Em vista desse novo panorama, devemos</p><p>repensar a maneira que observamos o equilíbrio no mercado de bens.</p><p>Quando pensamos no mercado de bens, pela ótica da decisão dos consumidores, devemos ter sempre</p><p>em mente as decisões de poupar e consumir. Essa perspectiva amplia-se no caso de os mercados de bens</p><p>serem abertos, já que agora os consumidores também podem decidir entre a compra de bens internos ou</p><p>externos. Tal decisão também será estendida a empresas, governos e consumidores do resto do mundo.</p><p>Essa decisão tem um efeito direto sobre o produto interno: se os</p><p>consumidores decidem comprar mais bens internos, a demanda por bens</p><p>internos aumenta, e o mesmo ocorre com o produto interno. Se decidimos</p><p>comprar mais bens externos, é o produto externo que aumenta em vez do</p><p>produto interno (BLANCHARD, 2011, p. 339).</p><p>49</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Dessa forma, tal decisão tem impactos macroeconômicos significativos, com reflexos no nível do</p><p>produto, renda e emprego num determinado país ou conjunto de países. Essa decisão, entre bens</p><p>internos e externos, tem como principal fator o preço dos bens externos no tocante ao preço dos bens</p><p>internos. Dessa relação, temos o conceito de taxa real de câmbio.</p><p>De maneira recorrente, temos a observação da taxa de câmbio em sua forma nominal, pela sua</p><p>ampla divulgação no noticiário econômico, sem uma observação mais direta quando pensamos na taxa</p><p>real. Por isso, revisaremos o conceito de taxa nominal de câmbio e depois a utilizaremos para obter as</p><p>taxas reais de câmbio, que pesam nas decisões de compra dos bens.</p><p>A taxa de câmbio é o preço de uma</p><p>moeda estrangeira em termos da moeda doméstica. Uma vez</p><p>que o dólar norte-americano é a moeda-chave do sistema monetário internacional, a taxa de câmbio,</p><p>em geral, mais importante para cada país é a que associa o preço do dólar na moeda doméstica, por</p><p>exemplo, a relação entre o real e o dólar.</p><p>A taxa de câmbio, portanto, expressa o custo de uma moeda sobre a outra.</p><p>Taxa de c mbio nominal E</p><p>moeda dom stica R$</p><p>unidade da</p><p>â</p><p>é</p><p>( )</p><p>( )=</p><p>moeda estrangeira US$( )</p><p>A taxa de câmbio corrente, negociada no mercado à vista, é também chamada de taxa de câmbio</p><p>nominal. Por exemplo: a taxa de câmbio nominal do real (R$) em relação ao dólar (US$) expressa qual é</p><p>o preço corrente, em reais, em relação ao dólar em determinada data, da qual resulta a relação R$/US$.</p><p>Digamos que no dia 27 de janeiro de 2004 a cotação do dólar fosse R$ 1,80 – US$ 1,00, assim, para</p><p>adquirir um dólar naquela data, era preciso desembolsar R$ 1,80.</p><p>Observação</p><p>Definir taxas de câmbio como o preço da moeda estrangeira em</p><p>termos da moeda nacional é a convenção empregada em artigos e livros</p><p>de economia do lado norte-americano do Atlântico, recorrente no Brasil.</p><p>Do outro lado do Atlântico, contudo, os economistas empregam com mais</p><p>frequência a definição alternativa, precisando a taxa de câmbio como o</p><p>preço da moeda nacional em termos da moeda estrangeira.</p><p>Uma desvalorização da taxa de câmbio nominal significa que o preço da moeda estrangeira na</p><p>moeda nacional aumentou, ou seja, quando o dólar norte-americano, por exemplo, ficou mais caro em</p><p>termos de reais. Por sua vez, uma valorização da taxa de câmbio indica que a moeda estrangeira caiu</p><p>em termos da moeda doméstica, no caso do nosso exemplo, quando o dólar fica mais barato em reais.</p><p>Diz-se que houve uma alta da taxa de câmbio quando há desvalorização e uma baixa quando há uma</p><p>valorização. O quadro a seguir resume esses comportamentos:</p><p>50</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Quadro 2 – Taxa nominal de câmbio</p><p>Do ponto de vista do Brasil em relação aos</p><p>Estados Unidos</p><p>Taxa nominal de câmbio (E)</p><p>Preço de um dólar em termos de reais</p><p>Valorização do real</p><p>Preço dos dólares em reais diminui</p><p>ou</p><p>Preço dos reais em dólares aumenta</p><p>ou</p><p>Taxa nominal de câmbio diminui: E cai</p><p>Desvalorização do real</p><p>Preço dos dólares em reais aumenta</p><p>ou</p><p>Preço dos reais em dólares diminui</p><p>ou</p><p>Taxa nominal de câmbio aumenta: E sobe</p><p>Adaptado de: Blanchard (2011, p. 340).</p><p>A taxa de câmbio se constitui na mediação necessária entre os preços domésticos e os preços</p><p>internacionais, com implicações significativas sobre o comportamento do balanço de pagamentos. Por</p><p>exemplo: uma desvalorização da taxa de câmbio, ao tornar mais cara a moeda estrangeira, tudo o</p><p>mais constante, torna os bens domésticos mais baratos em relação aos bens e serviços adquiridos no</p><p>mercado internacional, o que pode favorecer as exportações e inibir as importações. Por outro lado, uma</p><p>valorização da taxa de câmbio resultaria em um efeito contrário.</p><p>Podemos também nos deparar com outras duas palavras que expressam o movimento da taxa de</p><p>câmbio: apreciações e depreciações. Tais termos são menos usuais, mas podem ser empregados na</p><p>caracterização dos preços entre moedas. Diminuições da taxa de câmbio são denominadas apreciações</p><p>(em vez de valorizações) e os aumentos da taxa de câmbio são denominados depreciações (em vez de</p><p>desvalorizações).</p><p>Que uma apreciação corresponda a uma diminuição da taxa de câmbio e uma</p><p>depreciação corresponda a um aumento da taxa de câmbio certamente lhe</p><p>parecerá confuso a princípio – confunde muitos economistas profissionais –,</p><p>mas se tornará algo corriqueiro à medida que sua compreensão da economia</p><p>aberta se aprofundar (BLANCHARD, 2011, p. 341).</p><p>Entretanto, quando buscamos entender as escolhas entre os bens internos e externos, o conhecimento</p><p>da taxa nominal de câmbio não fornece todas as informações das quais necessitamos. Em sua forma</p><p>nominal, a taxa de câmbio só mostra o comportamento do preço relativo entre duas moedas, no nosso</p><p>51</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>caso entre o dólar e o real. No caso de um turista americano que vem visitar o Brasil, além de saber</p><p>quantos reais ele poderá obter em troca de seus dólares, saber quanto custam os bens no Brasil em</p><p>relação ao quanto eles custam nos Estados Unidos também será valoroso.</p><p>Contudo, a extensão de alterações da taxa de câmbio sobre as exportações e importações depende</p><p>de elementos, tais como a evolução do nível de atividade doméstica e internacional, bem como o</p><p>comportamento da taxa de inflação doméstica em associação à taxa de inflação nos demais países.</p><p>A respeito do último caso, ocorre a distinção entre a taxa de câmbio nominal, definida em termos</p><p>correntes, da taxa de câmbio real, que inclui a inflação doméstica e externa. De forma simplificada, a</p><p>taxa de câmbio real pode ser medida da seguinte forma:</p><p>Taxa de c mbio real ou Râ ( )</p><p>*</p><p>∈ = EP</p><p>P</p><p>Onde,</p><p>∈ ou R : taxa de câmbio real.</p><p>E: taxa de câmbio nominal.</p><p>P*: índice de preços do país estrangeiro.</p><p>P: índice de preços doméstico.</p><p>Portanto, a taxa de câmbio real procura relacionar a variação na taxa de câmbio nominal com a taxa</p><p>de inflação doméstica em relação à taxa de inflação do outro país em questão.</p><p>Como forma de entendermos a obtenção da taxa real de câmbio, partiremos para um exemplo com</p><p>bens de diferentes países. Desse modo, podemos obter a taxa real de câmbio entre o Brasil e os Estados</p><p>Unidos – o preço dos bens norte-americanos em termos dos bens brasileiros.</p><p>Começaremos supondo que os Estados Unidos produzem somente um bem, um carro Honda Fit,</p><p>e que o Brasil também tenha produzido somente um bem, um Fiat Palio (tal suposição não ocorre</p><p>na prática, auxiliando somente na explicação). Logo, com tal exemplo veremos como a obtenção da</p><p>taxa real de câmbio – preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros – torna-se uma</p><p>operação simples.</p><p>Em primeiro lugar, temos que tomar o preço do Honda Fit em dólares e converter para um preço</p><p>em reais. O preço de um Honda Fit nos Estados Unidos corresponde a US$ 15.000. Pela taxa de câmbio</p><p>nominal, um dólar vale R$ 3,00; desse modo, o preço do Honda Fit em reais é de US$ 15.000 x R$ 3,00</p><p>por dólar = R$ 45.000.</p><p>52</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Para terminar, necessitamos calcular a razão entre o preço do Honda Fit em reais e o preço do Fiat</p><p>Palio em reais. Tomaremos o preço do Fiat Palio como sendo de R$40.000. Assim, o valor de um Honda</p><p>Fit em termos de Fiat Palio seria de R$45.000/R$40.000 = 1,12. Esse valor corresponderia à taxa real de</p><p>câmbio no Brasil.</p><p>No entanto, como partimos desse exemplo simples para o caso geral? Na prática os países produzem</p><p>uma gama variada de bens e a taxa real de câmbio deve ser uma medida que reflita o preço relativo de</p><p>todos estes bens manufaturados no Brasil e nos Estados Unidos. De qualquer forma, o simples cálculo que</p><p>realizamos já nos dá indícios de como proceder. Adota-se, em vez dos preços de algum bem específico</p><p>produzido por cada país, um índice de preços em reais para todos os bens fabricados no Brasil e um</p><p>índice de preços em dólares para todos os bens produzidos nos Estados Unidos.</p><p>Esses índices são denominados deflatores do PIB, sendo, por definição, um índice de preços do</p><p>conjunto de bens e serviços finais elaborados em um país. Teremos então, um deflator do PIB para o</p><p>Brasil (P), um deflator do PIB para os Estados Unidos (P*) e a taxa de câmbio nominal (E) entre o real e</p><p>o dólar.</p><p>A figura a seguir, criada com base em Blanchard (2011, p. 342), mostra os passos necessários para</p><p>obter a taxa real de câmbio:</p><p>Preço dos bens</p><p>norte-americanos</p><p>em dólares, P*</p><p>Preço dos bens</p><p>norte-americanos</p><p>em reais, EP*</p><p>Preço dos bens</p><p>norte-americanos em termos</p><p>de bens brasileiros</p><p>∈ = ou R</p><p>EP</p><p>P</p><p>*</p><p>Preço dos bens</p><p>brasileiros</p><p>em reais,</p><p>P</p><p>Figura 26 – Obtenção da taxa real de câmbio</p><p>Devemos notar uma diferença importante entre o simples exemplo que apresentamos e esse cálculo</p><p>mais geral da taxa real de câmbio. Se, no exemplo, adotamos os preços do Honda Fit em termos de</p><p>Fiat Palio, a taxa real de câmbio no processo de generalização é um número índice, isto é, seu nível é</p><p>arbitrário e, portanto, não guarda informações. Tal fato decorre porque utilizamos deflatores do PIB que</p><p>são números-índice no cálculo da taxa real de câmbio.</p><p>Observação</p><p>Um número-índice é um número fixado em um valor arbitrário,</p><p>frequentemente 1 ou 1 em um ano arbitrário, chamado de ano-base.</p><p>Como a escolha tanto do valor no ano-base como do ano-base em si são</p><p>arbitrárias, o nível do número-índice é arbitrário e, por isso, não contém</p><p>informação. No entanto, a taxa de variação de um número-índice não</p><p>depende da escolha do valor no ano-base e, portanto, é informativa.</p><p>53</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Por exemplo, o fato de o deflator do PIB ser, digamos, 200, não é</p><p>informativo. O fato de o deflator do PIB ter variado de 200 para 210</p><p>durante o ano, um aumento de 5%, é informativo: ele diz que a inflação</p><p>foi de 5% durante o ano.</p><p>Em que isso afeta na utilização da taxa real de câmbio? Se os níveis da taxa real de câmbio não</p><p>agregam informações, as mudanças relativas da taxa real de câmbio detêm grande caráter informativo.</p><p>Por exemplo: se a taxa real de câmbio entre o Brasil e os Estados Unidos aumentar em 15%, esse</p><p>crescimento nos indica que os bens no Brasil estão agora 15% mais baratos em relação aos bens</p><p>norte-americanos do que antes.</p><p>Portanto, seguindo o que ocorre com as taxas nominais de câmbio, as taxas reais de câmbio diferem</p><p>ao longo do tempo. Um aumento do preço relativo dos bens internos em termos de bens externos será</p><p>denominado de apreciação real. Já uma diminuição do preço relativo dos bens internos em termos de</p><p>bens externos chamaremos de depreciação real.</p><p>Essas definições estão resumidas no quadro a seguir:</p><p>Quadro 3 – Taxa real de câmbio</p><p>Do ponto de vista do Brasil em relação aos Estados Unidos</p><p>Taxa real de câmbio (∈)</p><p>Preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros</p><p>Apreciação real</p><p>Preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros diminui</p><p>ou</p><p>Preço dos bens brasileiros em termos de bens norte-americanos aumenta</p><p>ou</p><p>Taxa real de câmbio diminui: ∈ cai</p><p>Depreciação real</p><p>Preço dos bens norte-americanos em termos de bens brasileiros aumenta</p><p>ou</p><p>Preço dos bens brasileiros em termos de bens norte-americanos diminui</p><p>ou</p><p>Taxa real de câmbio aumenta: ∈ sobe</p><p>Adaptado de: Blanchard (2011, p. 340).</p><p>O uso do termo real tem como propósito explicitar que a taxa de câmbio se refere às variações do</p><p>preço relativo de bens, e não o preço relativo entre diferentes moedas. Partindo dessa definição, no caso</p><p>de uma apreciação real, teremos uma diminuição da taxa real de câmbio (∈); da mesma forma, uma</p><p>depreciação real corresponde ao aumento da taxa real de câmbio.</p><p>54</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em outras palavras, também podemos pensar a taxa real de câmbio como a relação entre as inflações</p><p>internas e externas, sendo a variação da inflação um item notável para o comportamento das exportações</p><p>e importações entre os países.</p><p>A inflação interna tende a afetar os produtos de exportação e tornar mais baratos os produtos</p><p>importados, logo, um aumento da inflação nacional (aumento de P), tomando a inflação externa</p><p>constante, pode levar à expansão dos preços dos produtos exportados e à relativa queda dos preços</p><p>de produtos importados. Já a inflação externa tem um efeito contrário, porque encarece os produtos</p><p>importados e estimula as exportações, logo, há uma elevação dos preços dos bens importados e uma</p><p>relativa queda dos produtos de exportação.</p><p>Com base nesses pontos, fica claro que não conseguimos analisar o comportamento das trocas</p><p>comerciais somente pela taxa nominal de câmbio, pois ela não informa sobre a reação da inflação</p><p>interna e externa entre os países, devendo, assim, ser utilizada em conjunto com a taxa real de</p><p>câmbio.</p><p>Outro ponto de interesse corresponde à relação entre a taxa nominal e a taxa real de câmbio, pois a</p><p>ocorrência de uma desvalorização da taxa nominal não significa necessariamente uma desvalorização</p><p>real. Por exemplo, supondo que a taxa nominal de câmbio se depreciou 10% e, no mesmo período, o preço</p><p>interno tenha se elevado 20%, com o preço externo mantido constante, percebemos que não haverá</p><p>uma depreciação da taxa real de câmbio, mas, pelo contrário, notamos que houve uma apreciação,</p><p>evidenciando um aumento dos preços internos.</p><p>Pelas evidências empíricas, em longos períodos, confirmou-se que diferenças entre as taxas de</p><p>inflação entre os países, as taxas nominais e as taxas reais de câmbio podem variar de modo bem</p><p>diferente. De outro lado, pode ocorrer um procedimento similar entre os dois tipos de taxas quando os</p><p>níveis de inflação entre os diferentes países comportam-se do mesmo jeito. Assim, ao longo de certo</p><p>período, a ação da taxa real de câmbio pode ser influenciada principalmente pelos movimentos da taxa</p><p>nominal de câmbio.</p><p>Saiba mais</p><p>Existe uma série de outros fatores importantes no cálculo da</p><p>taxa de câmbio real, tais como o grau de abertura da economia, a</p><p>preferência dos consumidores e os ganhos de produtividade no setor</p><p>exportador. A análise de todas as variáveis que afetam a taxa de</p><p>câmbio, porém, escapa aos objetivos deste livro-texto, ficando como</p><p>sugestão a consulta de:</p><p>KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política.</p><p>São Paulo: Pearson, 2010.</p><p>55</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Para completarmos a descrição das taxas reais de câmbio, a elevação dos preços dos bens, ou seja, a</p><p>inflação, equivale a um cálculo médio que inclui uma série de bens e serviços, muitos dos quais não são</p><p>comercializados no mercado internacional. Assim, uma inflação anual de 20% não significa que todos</p><p>os bens e serviços produzidos no país tenham aumentado 20%. Um bem que esteja sendo exportado</p><p>pode, inclusive, ter tido seu preço reduzido.</p><p>Concluindo, é sensível o grau de arbitrariedade na utilização da fórmula exposta. Entretanto,</p><p>sua apresentação serve para demonstrar que uma valorização ou desvalorização nominal é uma</p><p>informação insuficiente se queremos deduzir o quanto é, efetivamente, a relação de troca entre a</p><p>moeda de dois países. O conceito de paridade de poder de compra (PPP) também está intimamente</p><p>ligado a todas essas questões.</p><p>Em linhas gerais, essa abordagem da paridade do poder de compra propõe a ocorrência de um</p><p>processo no qual os preços se igualam nos diferentes mercados, em situações nas quais não temos</p><p>custo de transação, entre eles, o de transporte e informação. Na literatura econômica, tal proposição é</p><p>conhecida como “lei do preço único”.</p><p>Esse processo pode ser considerado no caso de mercados e produtos caracterizados como homogêneos,</p><p>logo, propicia um grau de equalização entre os preços nos diferentes mercados.</p><p>Definidos os principais conceitos relacionados à taxa de câmbio, cumpre apresentar, ainda que</p><p>sucintamente, como é determinada a taxa nominal de câmbio, preço a partir do qual podemos definir</p><p>as demais taxas de câmbio discutidas anteriormente.</p><p>De maneira geral, a formação da taxa de câmbio é um processo conduzido, direta ou indiretamente,</p><p>pela autoridade monetária de cada país, que estabelece as regras de funcionamento do mercado cambial,</p><p>segundo objetivos previamente definidos. Dessa forma, a ação da taxa de câmbio nominal está sujeita</p><p>ao regime cambial em vigor, adotado pela autoridade monetária de cada país.</p><p>4.1.1 O conceito de taxas de câmbio multilaterais</p><p>Até o momento, trabalhamos com o conceito de taxas de câmbio através da relação entre</p><p>dois países, as chamadas taxas</p><p>bilaterais, como utilizamos na descrição das taxas de câmbio</p><p>entre o Brasil e os Estados Unidos. No entanto, os Estados Unidos, por exemplo, efetuam relações</p><p>comerciais com muitos países além do Brasil. Conforme dados elencados na tabela a seguir,</p><p>referentes à economia dos Estados Unidos em 2006, temos informações sobre o comércio de</p><p>mercadorias – exportações e importações de bens – e teremos uma forma de exemplificar o</p><p>conceito de taxas multilaterais.</p><p>56</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Tabela 2 – Composição por países das exportações e</p><p>importações dos Estados Unidos (2006)</p><p>País Proporção de</p><p>importações de (%)</p><p>Proporção de</p><p>exportações para (%)</p><p>Canadá 14 12</p><p>México 8 8</p><p>União Europeia 29 25</p><p>China 3 13</p><p>Japão 6 9</p><p>Restante da Ásia 14 11</p><p>Outros 26 22</p><p>Fonte: Blanchard (2011, p. 344).</p><p>Na tabela, temos a composição geográfica do comércio dos Estados Unidos. Podemos verificar que</p><p>o país tem uma relação comercial mais intensa com três grupos de países. Podemos destacar o Canadá</p><p>e o México, que correspondem a 22% das exportações e 20% das importações, como o primeiro grupo,</p><p>a União Europeia, que representa 29% das exportações e 25% das importações norte-americanas, e o</p><p>último grupo, dos países asiáticos, com destaque para o Japão e China, que juntos respondem por 23%</p><p>das exportações e 33% das importações dos Estados Unidos.</p><p>Com tais dados, como realizamos a passagem das taxas de câmbio bilaterais – como ilustramos</p><p>na relação Estados Unidos e Brasil – para taxas de câmbio multilaterais? Chegamos de forma</p><p>simples à resposta, mesmo que a construção seja um pouco complexa. Se quisermos medir o</p><p>preço médio dos bens dos Estados Unidos no tocante ao preço médio dos bens de seus parceiros</p><p>comerciais, devemos usar a participação do comércio dos Estados Unidos com cada país como</p><p>peso para aquele país.</p><p>Por intermédio das participações da exportação, podemos obter uma taxa real de câmbio da</p><p>exportação; e, usando as participações da importação, obtemos uma taxa real de câmbio da importação.</p><p>Em geral, os economistas não querem acompanhar duas taxas de câmbio diferentes, assim, procedem</p><p>na utilização de uma taxa de câmbio que representa uma média da participação das exportações e das</p><p>importações. Essa é a variável que teremos em mente quando falarmos da taxa real de câmbio multilateral</p><p>dos Estados Unidos ou, simplesmente, taxa real de câmbio dos Estados Unidos. Para obtermos a taxa</p><p>multilateral de câmbio do Brasil, devemos proceder da mesma forma.</p><p>Vimos que as taxas de câmbio, tanto nominal como real, sofrem oscilações devido às decisões de</p><p>políticas econômicas por parte dos governos. Ao longo deste material, examinaremos as origens dessas</p><p>variações e os efeitos do movimento das taxas reais de câmbio sobre o comportamento do balanço</p><p>comercial e a atividade econômica.</p><p>57</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Observação</p><p>Lembre-se de que exportações líquidas são um sinônimo de balanço</p><p>comercial. Exportações líquidas positivas correspondem a um superávit</p><p>comercial e exportações líquidas negativas, a um déficit comercial.</p><p>Passaremos então ao exame da abertura de outro importante mercado, financeiro. Veremos que terá</p><p>também grandes implicações para a análise macroeconômica.</p><p>Abertura dos mercados financeiros</p><p>Com a abertura dos mercados financeiros, os investidores têm como perspectiva despender os</p><p>seus recursos na aquisição de ativos internos ou externos, propiciando a diversificação de sua carteira</p><p>de investimentos pela especulação sobre a trajetória das taxas de juros (externas e internas), as</p><p>movimentações das taxas de câmbio, entre outras variáveis e informações das economias.</p><p>Suas atuações buscam sempre a diversificação e a especulação, com objetivo de aumentar seus</p><p>ganhos financeiros. Assim, as operações de compra e venda de ativos externos necessitam transacionar</p><p>com o câmbio, num movimento incessante de compra e venda de divisas estrangeiras que podemos</p><p>evidenciar pela grande relevância hoje das transações financeiras internacionais.</p><p>Com base em Blanchard (2011, p. 346), em 2000, tivemos um volume diário de transações de câmbio</p><p>ao redor do mundo em torno de US$ 3 trilhões, no qual 80% deste valor – por volta de US$ 2,4 trilhões</p><p>– tinha o dólar como uma das moedas numa das pontas da transação, aqui somente no mercado</p><p>financeiro. Quando comparamos com os valores envolvidos nas transações comerciais, ou seja, as somas</p><p>das exportações e importações dos Estados Unidos em 2000, vemos que totalizavam US$ 2,5 trilhões</p><p>por ano, o que equivale a um valor próximo a US$ 7 bilhões por dia.</p><p>Tal movimentação comercial corresponde a cerca de 0,3% do volume diário transacionado envolvendo</p><p>dólares nos mercados de câmbio. Portanto, a maioria das transações não se equipara a transações comerciais,</p><p>mas à compra e venda de ativos financeiros, sempre em um movimento que cresce a cada dia, já que o</p><p>volume de transações cambiais em Nova Iorque nos dias de hoje é 25 vezes maior do que ocorria em 1980.</p><p>Para um país, a abertura dos mercados financeiros tem outra implicação vital. Ela permite que ele</p><p>tenha superávits e déficits comerciais. Lembre-se de que um país com déficit comercial compra mais</p><p>do resto do mundo do que vende para o resto do mundo. Para cobrir a diferença entre o que compra e</p><p>o que vende, o país deve tomar emprestado do resto do mundo. Ele faz isso incentivando investidores</p><p>estrangeiros a aumentarem suas aquisições de ativos internos – com efeito, a emprestar para o país.</p><p>Para entendermos melhor esse mecanismo de incentivos, devemos começar examinando mais</p><p>de perto a relação entre os fluxos de comércio e os fluxos financeiros, tomando por base um dos</p><p>instrumentos de mensuração, denominado balanço de pagamentos.</p><p>58</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>4.1.2 Registros contábeis no balanço de pagamentos</p><p>Novamente, o balanço de pagamentos é o registro contábil de todas as transações econômicas de um</p><p>país com o resto do mundo. Ele é um excelente instrumento de análise econômica, pois acompanhá-lo</p><p>permite a evolução do fluxo de recursos materiais e financeiros entre os agentes residentes e não</p><p>residentes de um determinado país.</p><p>No Brasil e na maioria dos países, os registros do balanço de pagamentos seguem as normas internacionais</p><p>publicadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que, por sua vez, adota uma metodologia de registro</p><p>contábil compatível com o Sistema de Contas Nacionais da Organização das Nações Unidas.</p><p>O registro e a divulgação do balanço de pagamentos brasileiro ficam a cargo do Banco Central</p><p>do Brasil, que disponibiliza estatísticas anuais desde 1947, análises trimestrais desde 1979 e registros</p><p>mensais desde 1995. Após janeiro de 2001, o Banco Central do Brasil passou a divulgar o balanço</p><p>de pagamentos de acordo com a metodologia contida na quinta edição do Manual de balanço de</p><p>pagamentos do Fundo Monetário Internacional (BPM5), publicado em 1993.</p><p>Isso é importante dado o contexto da economia mundial, no qual as economias dos diferentes países estão</p><p>cada vez mais interconectadas, seja pela compra e venda de mercadorias, transações financeiras, empréstimos</p><p>internacionais, remessas de lucros de empresas multinacionais entre países, seja entre outras relações.</p><p>Convém, portanto, sempre termos em mente que os fatos que ocorrem na economia internacional</p><p>têm repercussões internas nas economias dos diferentes países, “gerando dificuldades na balança de</p><p>pagamentos do país, políticas recessivas de ajustamento, redução do fluxo de poupança externa e</p><p>outros” (LOPES; VASCONCELLOS, 2011, p. 531).</p><p>O exame do setor externo de uma economia contribui para as decisões de política econômica que</p><p>um país deverá adotar, ao mesmo tempo em que o setor privado, dotado dessas informações, terá</p><p>condições de traçar suas estratégias no ambiente do mercado</p><p>interno e internacional.</p><p>Nesse cenário, em que os países não são estruturas isoladas,</p><p>[...] a oferta agregada passa a ser composta não apenas pela produção doméstica,</p><p>mas também por bens e serviços produzidos em outros países. Por outro lado,</p><p>na poupança total da economia, pode vir a incluir-se não apenas a poupança</p><p>interna, mas também a poupança externa (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 132).</p><p>Seguindo a definição de Paulani e Braga (2012, p. 133, grifo nosso), no “balanço de pagamentos, são</p><p>registradas todas as transações econômicas que o país realiza com o resto do mundo, num determinado</p><p>período de tempo”. Levando isso em conta, apresenta-se a necessidade de registro contábil dessas</p><p>transações, construindo assim um valioso instrumento de análise econômica.</p><p>Nesse sentido, o balanço permite analisar a situação das finanças internacionais de um país, pois o</p><p>saldo de qualquer de suas contas indica entradas ou saídas de recursos junto ao exterior (FEIJÓ, 2008).</p><p>59</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Em outras palavras, o balanço de pagamentos permite avaliar quantitativamente, e até qualitativamente,</p><p>todas as trocas econômicas mantidas por um país, ou seja, a evolução dos fluxos materiais e financeiros</p><p>entre agentes residentes e não residentes de um país.</p><p>Passaremos para o entendimento da estrutura do balanço de pagamentos ao descrevermos os</p><p>conceitos e contas envolvidos em sua construção. Por isso, utilizaremos sua definição mais formal,</p><p>segundo a qual “o balanço de pagamentos registra todas as transações entre residentes e não residentes</p><p>de um país num determinado período de tempo” (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 133).</p><p>Um importante passo está na definição desses dois termos. No caso dos residentes, estes devem</p><p>compreender todas as pessoas físicas ou jurídicas que estão sediadas em um país e têm este como ponto</p><p>central de seus interesses. Isso inclui as pessoas com residência fixa, sendo nascidas ou não lá; os que</p><p>residem no país e se encontram temporariamente no exterior; todas as firmas sediadas no território, o</p><p>que agrega as filiais de empresas estrangeiras; e todo o aparato do Estado, incluindo as embaixadas e</p><p>consulados que mantém no exterior. Os casos que não foram listados representam os não residentes.</p><p>É a partir das transações entre os residentes e não residentes que o balanço de pagamentos</p><p>passa a existir, sendo cada conta envolvida com uma diferente transação. É essencial destacar que os</p><p>lançamentos no balanço de pagamentos são feitos na moeda de referência internacional, que, desde o</p><p>fim da Segunda Guerra Mundial, é o dólar norte-americano (US$).</p><p>Com a utilização de um padrão monetário, temos o atendimento de duas prerrogativas: em primeiro</p><p>lugar, seguir as normas do FMI acordadas mundialmente e, em segundo lugar, possibilitar a comparação</p><p>entre os diferentes balanços de pagamentos e de contas específicas, portanto, “a evolução do estoque</p><p>de ativos e passivos externos de uma economia” (FEIJÓ, 2008, p. 131).</p><p>Depois dessas ressalvas, vejamos a estrutura usualmente adotada do balanço de pagamentos e</p><p>representada no quadro a seguir.</p><p>Quadro 4 – Estrutura do balanço de pagamentos</p><p>Estrutura do balanço de pagamentos</p><p>1. Balança comercial</p><p>Exportações</p><p>Importações</p><p>2. Balança de serviços</p><p>Transportes: fretes, seguros etc.</p><p>Turismo e viagens internacionais</p><p>Rendas de capital: remessa de lucros, lucros reinvestidos e juros</p><p>Serviços governamentais</p><p>Diversos</p><p>60</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>3. Transferências unilaterais</p><p>4. Saldo do balanço de pagamentos em transações correntes: 1 + 2 + 3</p><p>5. Conta financeira</p><p>Investimentos diretos</p><p>Reinvestimentos</p><p>Empréstimos e financiamentos</p><p>Amortizações de empréstimos</p><p>Capitais de curto prazo</p><p>Empréstimos de regularização</p><p>Outros capitais</p><p>6. Erros e omissões</p><p>7. Saldo total do balanço de pagamentos: 4 + 5 + 6</p><p>8. Variação das reservas internacionais</p><p>Fonte: Paulani e Braga (2012, p. 134).</p><p>Para Feijó (2008), ao representar um plano contábil, o balanço de pagamentos estrutura-se num</p><p>conjunto de contas agregadas que exibem subdivisões e subcontas, atendendo a certos objetivos</p><p>analíticos. Sua estrutura deve oferecer um grande detalhamento das operações que um país realiza</p><p>com o exterior. Com isso em mente, podemos passar para o exame dos grupos de contas que seguem a</p><p>classificação do Fundo Monetário Internacional (1993).</p><p>Na forma atual de organização do balanço de pagamentos, este é constituído de duas contas</p><p>analíticas, baseadas na classificação econômica das transações entre residentes e não residentes, e três</p><p>contas auxiliares, destinadas a resumir informações ou dar consistência ao sistema. As duas contas</p><p>analíticas são as seguintes:</p><p>• Conta-corrente (também chamada de transações correntes): registra o comércio de bens e serviços,</p><p>os pagamentos e recebimentos de rendas de capital e trabalho, e as transferências unilaterais de</p><p>renda entre o país e o resto do mundo.</p><p>• Conta financeira: relaciona as transferências unilaterais de ativos reais, ativos financeiros ou</p><p>ativos intangíveis entre residentes e não residentes. A conta financeira contabiliza todos os tipos</p><p>de fluxos financeiros que envolvem a emissão de passivo (e ativo) externo entre o país em questão</p><p>e o resto do mundo.</p><p>Na medida em que nem todas as transações entre residentes e não residentes são registradas</p><p>formalmente pela autoridade monetária, é comum que existam discrepâncias entre a soma da</p><p>conta-corrente e a da conta capital e financeira.</p><p>61</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Para equacionar esse problema, o balanço de pagamentos possui uma terceira conta de natureza</p><p>residual denominada conta erros e omissões, que corresponde exatamente às transações que não foram</p><p>registradas pela autoridade monetária.</p><p>Pela interação entre as diferentes contas, surge o saldo do balanço de pagamentos, isto é, a soma</p><p>dos saldos da conta-corrente, da conta capital e financeira e da conta de erros e omissões. Por fim, para</p><p>o balanço destacar uma situação de equilíbrio, inerente aos registros contábeis, introduzimos a variação</p><p>das reservas internacionais, que apresenta um saldo com a mesma grandeza do saldo do balanço de</p><p>pagamentos, mas com sinal invertido.</p><p>Nesse caso específico, quando as variações das reservas internacionais expressam um saldo negativo,</p><p>o país teve um aumento de suas reservas, em contrapartida, um saldo positivo caracteriza uma queda</p><p>nas reservas.</p><p>Na ausência de erros e omissões, a soma dessas duas contas será igual ao saldo do balanço de</p><p>pagamentos, que corresponderá à variação das reservas internacionais da autoridade monetária do</p><p>país decorrente de transações com o resto do mundo. Veremos mais à frente que o valor das reservas</p><p>internacionais também varia devido a flutuações nos preços dos ativos em relação à unidade de conta</p><p>adotada como referência para o balanço de pagamentos.</p><p>Para continuarmos nossa investigação, procederemos com a designação das diferentes contas</p><p>analíticas e suas subcontas, para o entendimento mais detalhado da estrutura do balanço de pagamentos.</p><p>Iniciaremos pela conta-corrente, ou conta de transações correntes, que será composta de três subcontas,</p><p>a saber:</p><p>• balança comercial;</p><p>• balança de serviços;</p><p>• transferências unilaterais.</p><p>A balança comercial registra as transações de compra (importações) e venda (exportações) de bens</p><p>tangíveis entre residentes e não residentes. Os valores das exportações e importações podem ser lançados</p><p>de duas formas distintas: pelo seu valor FOB (da sigla em inglês free on board), que representa o valor de</p><p>embarque da mercadoria, portanto, antes do pagamento de fretes, seguros e demais custos associados</p><p>a seu deslocamento internacional, em contraposição à mensuração pelo valor CIF (cost, insurance and</p><p>freight), que inclui, além do custo propriamente dito das mercadorias,</p><p>os fretes e seguros relacionados</p><p>ao seu transporte.</p><p>No balanço de pagamentos, as exportações e importações são contabilizadas pelo FOB, uma vez que</p><p>as despesas com seguros e fretes serão incluídas na balança de serviços. No quadro a seguir, vemos a</p><p>composição da balança comercial e como ela se inscreve na conta-corrente.</p><p>62</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Quadro 5 – Estrutura da balança comercial</p><p>Balança comercial</p><p>Exportações (FOB)</p><p>Importações (FOB)</p><p>Saldo da balança comercial = (Exportações – Importações)</p><p>O resultado da diferença entre exportações e importações é chamado de saldo da balança comercial</p><p>(ou saldo comercial). Se o valor das exportações for superior ao das importações em determinado</p><p>período, há superávit da balança comercial. No caso contrário, há déficit da balança comercial.</p><p>A balança de serviços está subdividida em duas contas. Os serviços, que registra as receitas e</p><p>pagamentos relativos às transações comerciais envolvendo os bens intangíveis, também chamados de</p><p>serviços não fatores, e as rendas, que assentam as transações internacionais abrangendo a remuneração</p><p>de fatores de produção de um país presente em outro, os chamados serviços fatores.</p><p>Quando indicadas nas contas nacionais, tal como vistas anteriormente, exportações e importações</p><p>incluem não apenas os lançamentos da balança comercial, como também os serviços de não fatores.</p><p>Para o cálculo do Produto Nacional Bruto (PNB), é necessário aditar ao PIB o saldo correspondente</p><p>às rendas, acrescido das transferências unilaterais correntes. Como vimos, no caso do saldo da soma</p><p>entre o saldo das rendas e das transferências unilaterais correntes ser positivo, para a obtenção da PNB,</p><p>soma-se ao PIB a Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE). Assim, temos:</p><p>Saldo das rendas + saldo das transferências unilaterais correntes > 0, então:</p><p>Saldo das rendas + saldo das transferências unilaterais correntes = RLRE</p><p>RNB = PIB + RLRE, logo:</p><p>RNB > PIB</p><p>Em caso contrário, quando a soma entre os saldos das rendas e das transferências unilaterais</p><p>correntes for negativo, deduz-se do PIB a denominada Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) para a</p><p>obtenção da renda nacional, como indicado a seguir:</p><p>Saldo das rendas + saldo das transferências unilaterais correntes < 0, então:</p><p>Saldo das rendas + saldo das transferências unilaterais correntes = RLEE</p><p>RNB = PIB – REE, logo:</p><p>RNB > PIB</p><p>63</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Tanto nos serviços como nas rendas, o ingresso de divisas é indicado no balanço de pagamentos</p><p>como receita, ao passo que os pagamentos são assinalados como despesas, embora em apresentações</p><p>resumidas da balança de serviços e rendas é usual que seja lançado apenas o resultado líquido, que soma</p><p>as receitas e despesas no interior de cada item.</p><p>Os serviços incluem uma série de serviços negociados internacionalmente, sendo os principais</p><p>registros das receitas e despesas relacionadas aos seguintes elementos:</p><p>• Transportes: serviços no tocante ao transporte de cargas (fretes) e de passageiros (passagens).</p><p>• Turismo e viagens internacionais: referentes à aquisição de bens e serviços por viajantes, em</p><p>viagens de negócios ou de turismo com duração de até um ano. Receitas e despesas relacionadas</p><p>a viagens por motivos de estudo ou saúde são registradas nesta conta, independentemente de</p><p>sua duração.</p><p>• Seguros: destinadas à provisão de seguros, como de cargas, pessoais, de vida e resseguros.</p><p>• Serviços financeiros: pertinentes aos custos da intermediação financeira, tais como taxas e</p><p>comissões associadas a linhas de crédito, operações de financiamento, consultoria financeira,</p><p>subscrição de ações etc.</p><p>• Royalties e licenças: associadas ao uso autorizado de ativos e direitos de propriedades intangíveis,</p><p>como marcas comerciais, patentes, franquias, livros e filmes.</p><p>• Aluguel de equipamentos: destinadas ao aluguel ou ao leasing de máquinas e utensílios.</p><p>• Serviços governamentais: relacionadas a todos os serviços prestados por órgãos</p><p>governamentais no exterior, como embaixadas e consulados, não registrados em outros itens</p><p>do balanço de serviços.</p><p>• Serviços diversos: abrangem a conta residual destinada a registrar todas as transações relacionadas</p><p>a serviços e fatores que não se enquadram nas categorias anteriores.</p><p>Por sua vez, as denominadas rendas se referem à remuneração dos fatores de produção, trabalho e</p><p>capital, que envolvem a remessa e ingressos de recursos entre os países. Assim, no caso de o país contar</p><p>com fatores de produção de origem estrangeira, as rendas contabilizam a saída (despesa) de recursos</p><p>relacionados ao pagamento desses fatores, uma vez que essa operação se traduz na saída de divisas.</p><p>Por outro lado, uma vez que o país em questão receba recursos decorrentes da utilização de fatores</p><p>de produção domésticos em outros países, estes são contabilizados como ingresso (receita) de divisas.</p><p>Os pagamentos relacionados ao fator de trabalho são identificados como salário e ordenado, enquanto</p><p>os pagamentos do fator capital são classificados como renda de investimentos, que se subdividem em</p><p>três tipos, a saber:</p><p>64</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>• renda de investimento direto: abrange os lucros e dividendos relativos a participações no capital</p><p>de empresas e os juros equivalentes aos empréstimos intercompanhias nas modalidades de</p><p>empréstimos diretos e títulos de qualquer prazo;</p><p>• renda de investimento em carteira: engloba os lucros, dividendos e bonificações concernentes</p><p>às aplicações em ações e os juros correspondentes às aplicações em títulos de dívida de emissão</p><p>doméstica (títulos da dívida interna pública, debêntures e outros títulos privados) e no exterior</p><p>(bônus, notes e commercial papers) de qualquer prazo;</p><p>• renda de outros investimentos: inclui as rendas dos demais tipos de investimento, funciona como</p><p>uma conta residual.</p><p>Quadro 6 – Balança de serviços</p><p>Balança de serviços</p><p>Transportes</p><p>Turismo e viagens internacionais</p><p>Seguros</p><p>Serviços financeiros</p><p>Royalties e informação</p><p>Aluguel de equipamentos</p><p>Serviços governamentais</p><p>Serviços diversos</p><p>Salários e ordenados</p><p>Renda de investimento direto</p><p>Rendas de investimento em carteira</p><p>Renda de outros investimentos</p><p>Saldo do balanço de serviços</p><p>Por fim, para completarmos a conta-corrente do balanço de pagamentos, devemos caracterizar</p><p>as transações unilaterais. Estas exprimem as receitas ou despesas que não têm como contrapartida</p><p>a aquisição de um bem, a prestação de um serviço ou a utilização de um fator de produção. É nesse</p><p>sentido que essas transações são denominadas unilaterais, pois se referem à transferência unilateral de</p><p>poder de compra de residentes para não residentes e vice-versa.</p><p>Correspondem a exemplos de transferências unilaterais a remessa feita por migrantes para os países</p><p>de origem ou doações feitas por um governo para outro em ajudas humanitárias. Essas operações</p><p>podem ocorrer tanto por meio de recursos como através de mercadorias específicas.</p><p>Ao lado da conta-corrente, a conta financeira é a segunda conta analítica que compõe o balanço</p><p>de pagamentos. Ela se subdivide na conta de capitais e na conta financeira, sendo que cada uma delas</p><p>compreende subcontas, como indicado no quadro a seguir:</p><p>65</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Quadro 7 – Conta Financeira</p><p>Conta Financeira</p><p>Conta de capitais</p><p>Transferências unilaterais de capital</p><p>Transferências de bens não financeiros não produzidos</p><p>Conta financeira</p><p>Investimento direto</p><p>Investimento em carteira</p><p>Derivativos</p><p>Outros investimentos</p><p>Saldo na conta financeira</p><p>A conta de capitais contabiliza as transferências unilaterais de capital relacionadas com</p><p>patrimônio de migrantes e a aquisição/alienação de bens não financeiros não produzidos, tais</p><p>como cessão de patentes e marcas. A</p><p>principal diferença em relação às transferências unilaterais</p><p>registradas na conta-corrente é que as transferências de capital envolvem direitos de propriedade</p><p>sobre ativos ao invés de renda.</p><p>No modelo atual do balanço de pagamentos do Brasil, a conta de capitais é dividida em apenas</p><p>duas categorias:</p><p>• transferências de capital: receita e despesa de ativos reais e financeiros;</p><p>• transferências de bens não financeiros não produzidos: receita e despesa que inclui, por exemplo,</p><p>cessão de patentes e direitos autorais sem contrapartida financeira.</p><p>Já a conta financeira registra todos os fluxos que envolvem a emissão de ativos e passivos</p><p>financeiros entre residentes e não residentes de determinado país. Isto é, os lançamentos efetuados</p><p>na conta financeira implicam variações no ativo e passivo externo do país em questão com o resto</p><p>do mundo.</p><p>O ingresso de recursos da conta financeira representa, simultaneamente, uma elevação equivalente</p><p>do estoque de passivo externo do país. Da mesma forma, a saída de recursos por meio da conta financeira</p><p>amplia o estoque de ativo externo do país. A conta financeira está organizada em quatro subcontas:</p><p>• investimento direto;</p><p>• investimento em carteira;</p><p>• derivativos;</p><p>• outros investimentos.</p><p>66</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>O investimento direto compreende o ingresso e as saídas de divisas relacionadas à realização de</p><p>investimentos por parte de empresas estrangeiras de capital aberto ou não, nos quais o investidor, que</p><p>é residente em outro país, possui 10% ou mais das ações ordinárias ou do poder votante, no caso de</p><p>companhias abertas, ou o equivalente, no caso de companhias fechadas.</p><p>São exemplos de investimento direto a abertura de filiais de instituições nacionais no exterior e a</p><p>abertura de filiais de organizações estrangeiras no país. Além disso, os empresários, entre matrizes e</p><p>filiais, também são considerados investimentos diretos, uma vez que resultam no aumento de capital</p><p>controlado por residentes em negócios localizados no exterior. O investimento direto abrange também a</p><p>aquisição do controle de companhias estrangeiras por parte de investidores nacionais, ou de companhias</p><p>nacionais por parte de investidores internacionais.</p><p>Já os investimentos em carteira registram os ingressos e saídas relacionados às transações envolvendo</p><p>títulos negociados em mercados secundários, como ações, títulos de dívida corporativa e outros títulos</p><p>de renda fixa ou variável, bem como instrumentos de mercado monetário, como certificados de depósitos</p><p>bancários. Em contraposição ao investimento direto, o investimento em carteira não proporciona o</p><p>controle formal no negócio correspondente ao título mobiliário, mas a uma participação minoritária,</p><p>inferior a 10% da empresa.</p><p>Tal como ocorre com o investimento direto, os lançamentos registrados como investimento brasileiro</p><p>em carteira se referem não apenas ao movimento de saída de investimentos do país em direção ao resto</p><p>do mundo, mas também à repatriação de capital doméstico investido em ações e títulos de renda fixa</p><p>no exterior. O mesmo acontece com o investimento estrangeiro em carteira, o que torna indeterminado</p><p>o sinal com que ambos serão contabilizados no balanço de pagamentos.</p><p>No investimento em carteira são registradas, portanto, as operações ativas, nas quais residentes do</p><p>Brasil, ao adquirirem um ativo financeiro em outro país, ampliam o estoque de ativos no exterior, ao</p><p>passo que ocorre a saída de divisas no balanço de pagamentos. Por sua vez, também são contabilizadas</p><p>no investimento em carteira as operações passivas, em que não residentes adquirem papéis emitidos</p><p>por instituições financeiras locais, trazendo divisas ao país e, simultaneamente, elevando o estoque de</p><p>passivo externo do Brasil com o resto do mundo.</p><p>A conta derivativos foi incluída na metodologia do FMI com o objetivo de contabilizar destacadamente as</p><p>receitas e despesas associadas aos instrumentos financeiros cujo valor depende do valor de outros contratos</p><p>financeiros e sobre o qual não há pagamento de juros nem adiantamento ou repagamento de capital.</p><p>Os derivativos incluem os fluxos financeiros equivalentes à liquidação de obrigações e haveres de</p><p>operações no mercado de swap, futuro e opções, bem como os prêmios relacionados a essas últimas</p><p>atividades. As operações de derivativos são lançadas como ativos (líquidos) e passivos (líquidos), segundo</p><p>a sua natureza.</p><p>Por fim, temos a conta de outros investimentos, que congrega uma série de movimentações</p><p>financeiras, em grande medida de natureza creditícia, que não representam nenhuma operação descrita</p><p>anteriormente, tanto na conta de capitais, como na financeira.</p><p>67</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>A rigor, o saldo do balanço de pagamentos deveria ser igual à soma algébrica dos dois grupos</p><p>de contas, conta-corrente e conta capital e financeira. Contudo, a aferição das inúmeras transações</p><p>econômicas entre um país e o resto do mundo durante determinado período é imperfeita, sendo</p><p>comum a ocorrência de erro e inequivalência entre o saldo do balanço de pagamentos e a soma da</p><p>conta-corrente com a conta capital financeira.</p><p>A conta de erros e omissões cumpre o objetivo de compensar essas diferenças, apresentando, portanto,</p><p>um caráter residual, cujo valor oscila entre números positivos e negativos, raramente substantivos.</p><p>O saldo do balanço de pagamentos resulta da soma algébrica dos saldos de transações correntes,</p><p>conta capital e financeira, e erros e omissões. Como vimos, se o saldo é positivo (superávit), a entrada</p><p>de moeda estrangeira superou a saída, havendo um aumento no estoque de reservas internacionais do</p><p>Banco Central; se o saldo é negativo (déficit), a saída de divisas foi maior que a entrada, acarretando</p><p>uma redução nas reservas internacionais. Assim, a variação das reservas internacionais representa a</p><p>contrapartida do resultado do saldo do balanço de pagamentos.</p><p>Segundo Paulani e Braga (2012, p. 141), “se chamarmos o saldo do balanço de pagamentos de BP e</p><p>o valor resultante das variações de reservas de R, diremos que”:</p><p>BP = – R</p><p>Ou</p><p>BP + R = 0</p><p>Em conformidade com isso, um saldo positivo no balanço de pagamentos implica saldo negativo, e</p><p>de mesmo valor, na conta de variações de reservas, que, em outras palavras, representa uma elevação das</p><p>reservas do país. Isso atende aos critérios contábeis. Também podemos associar o saldo em transações</p><p>correntes com o saldo na conta de capitais e as variações das reservas. Adotando que o saldo em</p><p>conta-corrente (TC) terá sinal inverso à soma do saldo na conta de capitais (MC) e do saldo na variação</p><p>de reservas (R), que pode ser representado por:</p><p>TC = – (MC + R)</p><p>Com essa relação, vemos que a soma de MC com R destaca a contrapartida de quando temos</p><p>déficit ou superávit em conta-corrente. Se for um déficit, a conta de capitais e as reservas servem para</p><p>resolver tal problema; já com superávit, a soma poderá explicar o que ocorreu com os recursos obtidos</p><p>na conta-corrente. Portanto, no movimento das contas, ficam atendidas as consistências contábeis e</p><p>proporcionam a situação de equilíbrio no saldo do balanço de pagamentos.</p><p>A manutenção de reservas internacionais tem, principalmente, um objetivo de precaução, servindo</p><p>como instrumento regulador na ocorrência de desequilíbrios no balanço de pagamentos, de forma a</p><p>suavizar as flutuações cambiais ou mesmo preservá-las em determinado patamar.</p><p>68</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Contudo, é importante ressaltar que as variações no estoque de reservas internacionais de um país</p><p>podem ocorrer não apenas em virtude do saldo do balanço de pagamentos durante certo intervalo</p><p>de tempo, como também em razão de variações no valor da moeda estrangeira, ouro e demais ativos</p><p>em que as reservas internacionais encontram-se materializadas. Esse fenômeno pode resultar</p><p>em</p><p>discrepâncias entre o saldo do balanço de pagamentos e a variação das reservas internacionais de um</p><p>país em determinado período.</p><p>Por último, as variações de reservas compõem o que hoje se denomina haveres da autoridade</p><p>monetária, sendo, ao lado da conta erros e omissões e do saldo do balanço de pagamentos, uma conta</p><p>auxiliar, de modo a preservar que o sistema total seja sempre “zerado”.</p><p>Assim, toda vez que uma transação entre uma economia e o resto do mundo impacta o saldo do balanço</p><p>de pagamentos, há uma variação de mesma magnitude, mas com o sinal contrário, na conta de haveres</p><p>financeiros, de forma a manter o equilíbrio entre as contas que compõem o balanço de pagamentos.</p><p>4.2 Ativos nacionais e estrangeiros</p><p>Já destacamos anteriormente que, além dos mercados de bens, temos a abertura dos mercados</p><p>financeiros num modelo de economia aberta, criando um contexto no qual os investidores podem</p><p>tomar mais uma decisão: entre investir em ativos internos ou externos. Como nos alerta Blanchard</p><p>(2011, p. 348): “Poderia parecer que iremos, na verdade, pensar em pelo menos duas novas decisões:</p><p>manter moeda nacional ou moeda estrangeira e manter ativos internos que rendem juros ou ativos</p><p>externos que rendem juros”.</p><p>Lembre-se, porém, do motivo pelo qual as pessoas retêm moeda: para efetuar suas transações. Na</p><p>economia mundial temos como padrão para as trocas comerciais e transações com câmbio a utilização</p><p>do dólar norte-americano. Assim, para alguém residente nos Estados Unidos cujas transações são, em</p><p>sua maioria ou totalidade, em dólares, possuir moeda estrangeira tem pouca ou nenhuma serventia, já</p><p>que uma moeda estrangeira não pode ser usada para transações nos Estados Unidos e, se o objetivo for</p><p>a posse de ativos externos, reter moeda é menos desejável do que títulos, que pagam juros.</p><p>Já no caso dos investidores de outros países, a necessidade de cambiar suas moedas pelo dólar se</p><p>mostra uma atividade importante, que nos remete ao grande volume das transações de câmbio nas</p><p>transações financeiras atualmente. No entanto, ambos os tipos de investidores, sejam norte-americanos,</p><p>sejam do resto do mundo, têm na cabeça uma única decisão: escolher entre ativos internos ou externos</p><p>que rendem juros.</p><p>No nosso exemplo, vamos avaliar esses ativos como títulos internos de um ano e títulos externos</p><p>de um ano. Também continuaremos utilizando uma operação entre o Brasil e os Estados Unidos como</p><p>sendo, portanto, a escolha entre a aquisição de títulos de um ano brasileiro ou norte-americano, sob o</p><p>ponto de vista de um investidor brasileiro.</p><p>Suponha que decidimos adquirir títulos do Brasil. Seja it a taxa nominal de juros de um ano no Brasil.</p><p>Então, como ilustra a figura a seguir, para cada real que aplicar em títulos brasileiros, teremos como</p><p>69</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>retorno (1 + it) reais no seguinte, conforme a operação representada pela seta apontando para a direita</p><p>na parte superior da figura.</p><p>Títulos do Brasil</p><p>Títulos dos Estados Unidos</p><p>Ano t Ano t+1</p><p>R$ 1</p><p>R$ 1</p><p>R$ 1 (1 + 1t)</p><p>R E i Et t t</p><p>e$ 1 1 1 1/ /*( ) +( )( )+</p><p>US E it t$ 1 1/ *( ) +( )US</p><p>Et</p><p>$</p><p>1</p><p></p><p></p><p></p><p>Figura 27 – Relação de paridade de juros descoberta</p><p>Agora, como seria se decidirmos investir em títulos dos Estados Unidos? Para compras de títulos</p><p>norte-americanos, o investidor brasileiro necessita trocar reais por dólares utilizando a taxa nominal de</p><p>câmbio (E) vigente no momento da operação. Para cada real que trocamos, teremos como equivalente</p><p>(1/E) dólares, da forma como descreve a operação pela seta para baixo na figura.</p><p>Tomando it</p><p>*</p><p>como a taxa nominal de juros de um ano dos títulos dos Estados Unidos (em dólares),</p><p>depois de passado um ano, teremos 1 2/ *E it t( ) +( ) dólares, como descreve a operação da seta para a</p><p>direita na parte inferior da figura. Para completar a operação, o investidor brasileiro deverá novamente</p><p>converter seus investimentos em moeda nacional, ou seja, converter os dólares em reais. Se esperarmos</p><p>que a taxa de câmbio no próximo ano seja Et</p><p>e +1, então teremos 1 1 1 1/ /*E i Et t t</p><p>e( ) +( )( )+ reais no ano</p><p>seguinte para cada dólar investido no título norte-americano, como destaca a operação da seta</p><p>apontando para cima.</p><p>Com base nessa última expressão, podemos notar uma implicação básica: no momento de</p><p>escolha entre títulos do Brasil e títulos dos Estados Unidos, não podemos utilizar as taxas de juros</p><p>brasileiras e norte-americanas como único fator de tomada de decisão, devendo também avaliar o</p><p>comportamento futuro da taxa nominal de câmbio real/dólar, que denominamos por Et</p><p>e</p><p>+1 . Portanto, a</p><p>decisão de investir compara tanto as taxas de juros dos dois países quanto a expectativa com relação</p><p>ao fluxo da taxa de câmbio.</p><p>Na discussão de escolha entre títulos e ações, conforme a movimentação dos investidores financeiros,</p><p>o importante para a sua decisão será apenas a taxa de retorno esperada e, portanto, queiram ter apenas</p><p>o ativo que apresente a taxa de retorno mais elevada. Nesse caso, para adquirir tanto títulos brasileiros</p><p>quanto norte-americanos, eles deverão ter a mesma taxa esperada de retorno, de modo que valha a</p><p>seguinte relação de arbitragem:</p><p>1 1 1</p><p>1</p><p>1</p><p>+ = ( ) +( )</p><p></p><p></p><p>+</p><p>i E i</p><p>E</p><p>t t t</p><p>t</p><p>e/ *</p><p>70</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>A equação é chamada de relação da paridade dos juros descoberta ou, simplesmente, condição da</p><p>paridade dos juros.</p><p>A palavra “descoberta” é usada para distinguir essa relação de outra relação chamada condição da</p><p>paridade dos juros coberta. Esta é deduzida se utilizarmos um simples exemplo: podemos comprar e</p><p>manter um título do Brasil por um ano, ou podemos trocar por dólares hoje, comprar títulos dos Estados</p><p>Unidos e nos comprometer a trocar novamente os dólares daqui a um ano por uma taxa de câmbio</p><p>previamente determinada, denominado taxa de câmbio futuro. Logo, essa condição de paridade coberta</p><p>protege o investidor do risco de arbitragem pela flutuação cambial ao longo do tempo.</p><p>Tal hipótese da ação dos investidores financeiros na manutenção dos títulos com a taxa de retorno</p><p>esperada mais elevada é, obviamente, muito forte por duas razões:</p><p>• Ignora os custos de transação: comprar e vender títulos dos Estados Unidos requer a realização de</p><p>três transações separadas, cada uma com um determinado custo de transação.</p><p>• Ignora o risco: a taxa de câmbio daqui um ano é incerta; isso significa que é mais arriscado, em</p><p>termos de reais, ter títulos dos Estados Unidos do que do Brasil.</p><p>Observação</p><p>O componente risco, atrelado à posse de títulos do Brasil ou dos Estados</p><p>Unidos, na verdade, depende de quais investidores estamos considerando.</p><p>Ter títulos do Brasil envolve mais risco do ponto de vista dos investidores</p><p>americanos. Ter títulos dos Estados Unidos envolve mais risco do ponto de</p><p>vista dos investidores brasileiros.</p><p>Porém, como uma caracterização dos movimentos de capitais, entre os principais mercados financeiros</p><p>mundiais (Nova Iorque, Frankfurt, Londres e Tóquio), a suposição não foge muito da realidade. Pequenas</p><p>mudanças nas taxas de juros e rumores de apreciações ou depreciações iminentes podem provocar</p><p>fluxos de dezenas de bilhões de dólares em questão de minutos.</p><p>Para os países ricos do mundo, a hipótese de relação de arbitragem é uma boa aproximação da</p><p>realidade. Outros países, cujos mercados de capitais são menores e menos desenvolvidos, ou países que</p><p>possuem várias formas de controle de capital, contam com uma liberdade maior para escolher sua taxa</p><p>de juros interna. Para melhor entendermos isso, devemos brevemente discutir a relação entre as taxas</p><p>de juros e de câmbio.</p><p>Para assimilarmos as implicações da condição da paridade dos juros, vamos reescrever a equação de</p><p>arbitragem como:</p><p>71</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>1 1 1 1+ = +( ) + −</p><p></p><p></p><p></p><p>+i i</p><p>E E</p><p>43</p><p>3.4.1 Choques externos e regime de câmbio flexível: possibilidades de equilíbrios</p><p>interno e externo ............................................................................................................................................... 46</p><p>4 A ABERTURA DOS MERCADOS DE BENS E FINANCEIROS .............................................................. 47</p><p>4.1 Bens domésticos e importados ....................................................................................................... 48</p><p>4.1.1 O conceito de taxas de câmbio multilaterais .............................................................................. 55</p><p>4.1.2 Registros contábeis no balanço de pagamentos ....................................................................... 58</p><p>4.2 Ativos nacionais e estrangeiros ...................................................................................................... 68</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade II</p><p>5 O MERCADO DE BENS EM UMA ECONOMIA ABERTA ...................................................................... 78</p><p>5.1 Curva IS em economias abertas ..................................................................................................... 78</p><p>5.2 Produto e balança comercial ........................................................................................................... 83</p><p>5.3 Variações de demanda interna e externa ................................................................................... 84</p><p>5.3.1 Política fiscal e cambial numa economia aberta ....................................................................... 88</p><p>5.4 Combinações de políticas fiscal e cambial ................................................................................. 92</p><p>5.5 A curva J ................................................................................................................................................... 94</p><p>5.6 Poupança, investimento e resultados externos ....................................................................... 97</p><p>6 O PRODUTO E AS TAXAS DE JUROS E DE CÂMBIO ............................................................................ 99</p><p>6.1 Equilíbrio no mercado de bens ....................................................................................................... 99</p><p>6.2 Equilíbrio nos mercados financeiros ...........................................................................................102</p><p>6.2.1 Moeda versus títulos ..........................................................................................................................102</p><p>6.2.2 Títulos domésticos versus títulos estrangeiros .........................................................................103</p><p>6.2.3 Mercados de bens e financeiros juntos .......................................................................................108</p><p>7 POLÍTICAS ECONÔMICAS EM ECONOMIAS ABERTAS .....................................................................110</p><p>7.1 Taxas de câmbio fixa e flexível ......................................................................................................113</p><p>7.1.1 Taxas de câmbio fixa e controle monetário .............................................................................. 123</p><p>7.2 Taxas de câmbio fixas e política fiscal .......................................................................................126</p><p>8 TAXAS DE CÂMBIO: REGIMES, AJUSTAMENTOS E CRISES ............................................................128</p><p>8.1 Regimes cambiais: custos e benefícios......................................................................................128</p><p>8.2 Ajustamentos da taxa de câmbio real .......................................................................................134</p><p>8.3 Crises cambiais ....................................................................................................................................140</p><p>7</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>A disciplina de Macroeconomia Aberta tem como objetivo aprofundar os conhecimentos do aluno</p><p>com os conceitos e métodos de cálculos das variáveis de determinação da renda nacional e do Produto</p><p>Interno Bruto (PIB), com a participação do lado externo da economia, isto é, considerando a dinâmica</p><p>do balanço de pagamentos e do saldo de reservas internacionais, que definem os regimes cambiais e as</p><p>taxas de câmbio, variáveis primordiais para atingir os fundamentos macroeconômicos.</p><p>Faz-se necessário analisar a questão do balanço de pagamentos e taxas de câmbio na determinação</p><p>da renda, bem como perceber a questão cambial relacionada à taxa de juros, ao câmbio futuro, à entrada</p><p>e saída dos fluxos de capitais e ao risco nas operações monetárias e financeiras.</p><p>Portanto, estuda a dinâmica da economia interna e externa de um país, levando em conta as políticas</p><p>econômicas fiscal, monetária e cambial. O modelo IS-LM, que faz a interligação entre o lado real e o</p><p>lado monetário, passa agora a ser o modelo IS-LM-BP, sendo BP a curva do balanço de pagamentos, e</p><p>apresenta os impactos das políticas econômicas em uma economia aberta.</p><p>A disciplina se propõe a apresentar ao aluno as teorias e os principais modelos teóricos de</p><p>determinação da renda e do produto nacional em uma economia aberta e as várias óticas de análise</p><p>que levam em conta o câmbio e os objetivos de políticas econômicas que buscam os equilíbrios</p><p>interno e externo de uma economia. Ao fim de cada unidade, o aluno poderá exercitar esses conceitos</p><p>e teorias por meio da resolução de exercícios e também resgatar e fixar os conceitos-chave no resumo.</p><p>Para abordar esse conteúdo, este livro-texto está dividido em duas unidades, conforme o programa</p><p>de Macroeconomia Aberta.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A disciplina de Macroeconomia Aberta trata das políticas monetária e fiscal em um contexto de</p><p>economia aberta, ou seja, dadas as relações internacionais por meio da abertura dos mercados de bens</p><p>e financeiros, e da relação do produto com as taxas de juros e de câmbio. Sobre taxas de câmbio,</p><p>estudam-se os regimes de câmbio, seus regimes, ajustamentos e crises.</p><p>É preciso estudar os principais fundamentos macroeconômicos por meio da oferta e demandas</p><p>agregadas e do papel das políticas econômicas para compreender como são determinados os níveis de</p><p>produção e emprego, bem como salários, desemprego e a inflação e seus ajustes.</p><p>Considerando esse objetivo principal e o conhecimento prévio de outras disciplinas já estudadas,</p><p>acredita-se que o estudante de macroeconomia seja capaz de usar esses conceitos para discutir e</p><p>analisar, por exemplo, uma conjuntura econômica de forma mais ampla, isto é, não levando em conta</p><p>apenas a dinâmica interna, mas o lado externo dessa mesma economia.</p><p>Lembrando que esta disciplina não é trivial, pois uma das questões subjacentes da análise</p><p>macroeconômica é refletir sobre as possibilidades de crescimento e desenvolvimento econômicos numa</p><p>sociedade capitalista. Questão essa que requer o conhecimento detalhado da teoria macroeconômica,</p><p>8</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>uma vez que os conceitos devem ser aplicados numa determinada sociedade em um período específico,</p><p>ou seja, há que se considerar a formação social e histórica.</p><p>É bastante comum observar economistas discutindo e divergindo sobre como garantir crescimento</p><p>econômico sem que haja um aumento do nível de preços, ou seja, sem que haja inflação. Ou ainda,</p><p>sobre como garantir um crescimento estável sem desemprego dos fatores de produção ou mesmo</p><p>quais seriam os mecanismos de política econômica para superar uma crise. A macroeconomia garante</p><p>embasamento teórico para responder a essas questões a partir das diversas teorias, desde as de cunho</p><p>liberal e pró-mercado às intervencionistas, como a keynesiana. Veja que neste livro-texto trazemos</p><p>a discussão sobre a taxa de câmbio, pois se supõe que a economia de um país seja aberta,</p><p>Et t</p><p>t</p><p>e</p><p>t</p><p>t</p><p>*</p><p>Essa expressão mostra uma relação entre a taxa nominal de juros interna (it), a taxa nominal de</p><p>juros externa it</p><p>*( ) e a taxa de depreciação esperada E E Et</p><p>e</p><p>t t+ −( )1 / . Essa última expressão nos diz que: se</p><p>houver um aumento de E representando uma depreciação, esse termo será positivo, mas se houver uma</p><p>expectativa de apreciação da moeda nacional, esse termo será negativo. Logo, se as taxas de juros ou da</p><p>taxa esperada de depreciação não forem valores altos, inferiores a 20% ao ano, uma boa aproximação</p><p>dessa relação será dada por:</p><p>i i</p><p>E E</p><p>Et t</p><p>t</p><p>e</p><p>t</p><p>t</p><p>≈ + −+* 1</p><p>Para efeitos práticos, essa deve ser a relação que devemos lembrar, sendo que a arbitragem determina</p><p>que a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa somada à taxa de depreciação esperada</p><p>da moeda nacional, caracterizando de outra forma a condição de paridade de juros descoberta.</p><p>Para melhor fixação, vamos aplicar essa equação numa escolha entre títulos do Brasil e títulos dos</p><p>Estados Unidos. Adotaremos neste exemplo que as taxas nominais de juros de um ano sejam 4% no</p><p>Brasil e 2,5% nos Estados Unidos. Com tais informações devemos decidir entre possuir títulos do Brasil</p><p>ou dos Estados Unidos.</p><p>A resposta depende de sua expectativa sobre a depreciação do real em relação ao dólar ao longo do</p><p>próximo ano, usando como parâmetro se ela será superior ou inferior à diferença entre a taxa de juros</p><p>do Brasil e dos Estados Unidos, que, neste exemplo, é de (4% – 2,5% = 1,5%). Se a expectativa é que o</p><p>real deprecie em mais de 1,5%, então, apesar da taxa de juros nos Estados Unidos ser menor do que a</p><p>do Brasil, ficará mais atraente investir em títulos norte-americanos do que em títulos nacionais. Com</p><p>títulos americanos, os investidores terão pagamentos de juros menores depois de um ano, mas daqui um</p><p>ano o dólar valerá mais em relação ao real e tornará o investimento em títulos norte-americanos mais</p><p>vantajoso que em títulos nacionais.</p><p>Se, ao contrário, a expectativa será de uma depreciação do real menor que 1,5% ou em caso de</p><p>apreciação, o raciocínio inverso será verdadeiro, tornando os títulos brasileiros mais atraentes frente</p><p>aos títulos norte-americanos. Em outras palavras, pela condição de paridade dos juros descoberta, os</p><p>investidores financeiros têm a tendência em esperar, em média, uma depreciação do real em relação ao</p><p>dólar de aproximadamente 1,5% ao fim de um ano, logo, ficam dispostos a manter seus investimentos</p><p>em títulos dos Estados Unidos apesar de as taxas de juros que os remuneram serem menores.</p><p>Posteriormente, veremos que a relação de arbitragem entre taxa de juros e taxa de câmbio</p><p>desempenha um papel essencial na análise macroeconômica. Seu principal ponto será de sugerir que,</p><p>a menos que os países estejam dispostos a tolerar grandes variações em sua taxa de câmbio, tanto as</p><p>taxas de juros internas como as externas podem mover-se praticamente juntas.</p><p>72</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Podemos considerar, por exemplo, o caso de dois países que firmam um acordo de manter sua taxa</p><p>de câmbio bilateral em um valor fixo. Se os investidores acreditarem nesse compromisso, as expectativas</p><p>resultarão numa taxa de câmbio constante no tempo, levando à depreciação esperada apresentar-se</p><p>nula. Desse modo, pela condição de arbitragem, temos que as taxas de juros dos dois países se moverão</p><p>exatamente juntas.</p><p>Na prática, o exemplo dado seria caracterizado como extremo, pois na maioria das vezes os governos</p><p>não assumem convenções absolutas sobre a manutenção da taxa de câmbio, mas regularmente tentam</p><p>evitar grandes oscilações dessa taxa, já que, para a dinâmica econômica dos países, temos limites rígidos</p><p>sobre a reação de sua taxa de juros em comparação às vigentes nos demais países.</p><p>Com essas breves elucidações, temos o cenário para o estudo de uma economia aberta: com abertura</p><p>do mercado de bens e do mercado financeiro. A abertura dos mercados de bens versa sobre a escolha entre</p><p>bens internos e externos pelo uso da taxa real de câmbio como parâmetro para essa escolha. Já a abertura</p><p>dos mercados financeiros exprime a escolha entre ativos internos e externos, portanto, depende das taxas</p><p>de juros interna e externa e da expectativa de depreciação da moeda nacional.</p><p>Nas próximas páginas veremos que os conceitos apresentados serão de grande importância para o</p><p>entendimento de uma economia aberta, em virtude da dinâmica econômica e das estratégias traçadas</p><p>por cada país, dadas por suas políticas econômicas. Agregando isso ao modelo IS-LM, temos condições</p><p>de examinar as mudanças das variáveis macroeconômicas, como o produto, a renda e o emprego de</p><p>uma economia.</p><p>Compra de títulos brasileiros</p><p>Volte a setembro de 1993 (a taxa de juros muito alta no Brasil nessa época ressalta bem</p><p>o aspecto que quero mostrar aqui). Os títulos brasileiros estão pagando uma taxa de juros</p><p>mensal de 36,9%. Isso parece muito atraente se comparado à taxa anual de 3% dos títulos</p><p>dos Estados Unidos – que corresponde a uma taxa de juros mensal de cerca de 0,2%. Será</p><p>que você não deve comprar títulos brasileiros?</p><p>A discussão nesse capítulo diz que, para decidir, você precisa de outro elemento</p><p>importante, a taxa de depreciação esperada do cruzeiro (nome da moeda brasileira na</p><p>época; a moeda atual é o real) em termos de dólares.</p><p>Você precisa dessa informação porque, como vimos na equação, o retorno em dólares</p><p>do investimento em títulos brasileiros por mês é igual a um mais a taxa de juros brasileira,</p><p>dividido por um mais a taxa de depreciação esperada do cruzeiro em relação ao dólar:</p><p>1</p><p>1 1</p><p>+</p><p>+ −</p><p></p><p></p><p></p><p></p><p>+</p><p>i</p><p>E E</p><p>E</p><p>t</p><p>t</p><p>e</p><p>t</p><p>t</p><p>*</p><p>73</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Que taxa de depreciação do cruzeiro você deveria esperar para o mês seguinte? Uma</p><p>hipótese razoável é que ela seja igual à taxa de depreciação do mês anterior. O dólar</p><p>valia 100.000 cruzeiros no fim de julho de 1993, e 134.600 cruzeiros no fim de agosto de</p><p>1993. Portanto, a taxa de apreciação do dólar em relação ao cruzeiro – ou seja, a taxa de</p><p>depreciação do cruzeiro em relação ao dólar – foi de 34,6 % em agosto. Caso se espere que</p><p>a depreciação continue à mesma taxa em setembro, o retorno esperado do investimento em</p><p>títulos brasileiros por mês será de</p><p>1369</p><p>1346</p><p>1 017</p><p>,</p><p>,</p><p>,=</p><p>A taxa de retorno esperada em dólares pela retenção de títulos brasileiros é de apenas</p><p>(1,017 – 1) = 1,7% ao mês, e não os 36,9% ao mês que pareciam tão atraentes inicialmente.</p><p>Note que 1,7% ao mês ainda é muito mais do que a taxa de juros mensal dos títulos dos</p><p>Estados Unidos (cerca de 0,2%). Mas pense no risco e nos custos de transação – todos os</p><p>elementos que ignoramos quando escrevemos a condição de arbitragem. Se você os levar</p><p>em conta, poderá até decidir manter seus fundos fora do Brasil.</p><p>Adaptado: Blanchard (2011, p. 351).</p><p>Resumo</p><p>Num modelo de economia aberta, a política econômica adotada</p><p>depende do regime cambial vigente e da inclinação das curvas LM e BP. A</p><p>abertura dos mercados de bens permite aos agentes, pessoas e empresas</p><p>de um país, escolher entre bens internos e externos. No caso da abertura</p><p>dos mercados financeiros, os investidores têm condições de escolher entre</p><p>ativos financeiros internos ou externos.</p><p>A abertura dos mercados introduz o conceito de taxa de câmbio nominal</p><p>e real. A taxa nominal de câmbio representa a cotação da moeda estrangeira</p><p>em termos de moeda nacional. Assim, do ponto de vista do Brasil, a taxa</p><p>nominal de câmbio entre o País e os Estados Unidos é a cotação do dólar</p><p>em termos de reais. Uma valorização nominal (ou uma apreciação) é uma</p><p>diminuição do preço da moeda estrangeira em termos de moeda nacional;</p><p>logo, pela definição corresponde a uma diminuição da taxa de câmbio. Já</p><p>uma desvalorização nominal (ou depreciação) equivale a um aumento do</p><p>preço da moeda estrangeira em termos de moeda nacional, logo, reflete um</p><p>aumento da taxa</p><p>de câmbio.</p><p>A taxa real de câmbio é o preço relativo dos bens externos em termos</p><p>de bem internos. É igual à taxa nominal de câmbio vezes o nível de preços</p><p>74</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>externos dividido pelo nível de preços internos, como forma de comparar</p><p>as mudanças de preço em diferentes países.</p><p>Uma apreciação real é um aumento do preço relativo dos bens internos</p><p>em termos de bens externos; uma apreciação real equivale a uma diminuição</p><p>da taxa real de câmbio. Já uma depreciação real é uma subtração do</p><p>preço relativo dos bens internos; uma depreciação real corresponde a um</p><p>aumento da taxa real de câmbio.</p><p>A taxa real de câmbio multilateral (ou, de maneira sucinta, a taxa real de</p><p>câmbio) é uma média ponderada das taxas reais de câmbio bilaterais, com o</p><p>peso de cada país estrangeiro igual à participação no comércio internacional.</p><p>O balanço de pagamentos registra as transações de um país com o</p><p>resto do mundo. O saldo em conta-corrente é igual à soma do balanço</p><p>comercial com a renda líquida de investimento e as transferências líquidas</p><p>recebidas do resto do mundo. O saldo da conta de capitais é igual aos</p><p>fluxos de capitais provenientes do resto do mundo menos os fluxos de</p><p>capital enviados para o resto do mundo.</p><p>A conta-corrente e a conta de capitais são imagens espelhadas uma da</p><p>outra. Desconsiderando-se os problemas estatísticos, a soma do saldo em</p><p>conta-corrente com o saldo da conta de capitais deve ser igual a zero. Um</p><p>déficit em conta-corrente é financiado pelos fluxos líquidos de capitais do</p><p>resto do mundo; portanto, por meio de um superávit da conta de capitais.</p><p>Do mesmo modo, um superávit em conta-corrente corresponde a um</p><p>déficit da conta de capitais.</p><p>A paridade dos juros descoberta (ou, de maneira sucinta, paridade de</p><p>juros) é uma condição de arbitragem que afirma que as taxas de retorno</p><p>esperadas em termos de moeda nacional sobre os títulos internos e os</p><p>títulos externos devem ser iguais. A paridade dos juros implica que a taxa</p><p>de juros interna seja aproximadamente igual à taxa de juros externa mais a</p><p>taxa de depreciação esperada da moeda nacional.</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Os gráficos a seguir representam o equilíbrio econômico segundo o modelo IS-LM-BP</p><p>para os países Alfa e Beta, respectivamente. Ambos os países praticam regime de câmbio fixo, contudo,</p><p>conforme os gráficos ilustram, há clara diferença na mobilidade de capitais entre eles. Para estimular a</p><p>economia e provocar o crescimento do emprego e da renda, as autoridades monetárias dos dois países</p><p>resolveram implantar uma política monetária expansionista.</p><p>75</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>i</p><p>BP</p><p>LM</p><p>IS</p><p>Y0 Y</p><p>i0</p><p>Figura 28 – Equilíbrio econômico segundo o</p><p>modelo IS-LM-BP para o país Alfa</p><p>i</p><p>BP</p><p>LM</p><p>IS</p><p>Y0 Y</p><p>i0</p><p>Figura 29 – Equilíbrio econômico segundo o</p><p>modelo IS-LM-BP para o país Beta</p><p>Diante da situação-problema exposta, avalie as seguintes análises acerca dos impactos da adoção de</p><p>uma política monetária expansionista em ambos os países.</p><p>I – No país Alfa, a política reduziu a taxa de juros doméstica e deslocou a curva LM para a direita,</p><p>provocando a desvalorização do câmbio, que estimulou o crescimento das importações e a elevação do</p><p>nível do produto e da renda.</p><p>II – No país Beta, a política reduziu a taxa de juros doméstica e deslocou a curva LM para a direita; tal</p><p>medida, porém, estimulou a saída de capitais financeiros e a consequente redução da oferta de moeda,</p><p>deslocando a curva LM para a esquerda, com a consequente elevação da taxa de juros.</p><p>III – No país Alfa, que tem baixa mobilidade de capitais, a queda na taxa de juros provocará uma</p><p>saída de capitais pela conta financeira menor que a provocada no país Beta, que tem maior mobilidade</p><p>de capitais.</p><p>IV – No país Beta, que tem alto grau de mobilidade de capitais, a política monetária expansionista</p><p>provocará fortes entradas de capital financeiro a partir do momento em que a taxa real de juros</p><p>doméstica ficar abaixo da taxa real de juros internacional.</p><p>76</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>É correto apenas o que se afirma em:</p><p>A) I.</p><p>B) IV.</p><p>C) I e II.</p><p>D) II e III.</p><p>E) III e IV.</p><p>Resposta correta: alternativa D.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: o deslocamento da LM para a direita provoca queda de juros internos e aumento da</p><p>renda interna. O que torna a afirmativa incorreta é alegar a desvalorização cambial, pois o enunciado</p><p>apresenta uma situação de câmbio fixo.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o deslocamento da LM para a direita diminui juros internos, o que ocasiona fuga de</p><p>capitais. A consequência será a diminuição da oferta de moeda no mercado interno e retorno da LM</p><p>para a esquerda.</p><p>III – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o país Alfa apresenta menor mobilidade de capitais se comparado ao país Beta. Isso</p><p>pode ser observado pela inclinação da curva BP: a curva BP do país Alfa é mais inclinada do que a do</p><p>país Beta.</p><p>IV – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: quando a taxa de juros doméstica for menor do que a internacional, existirá uma saída</p><p>de capitais.</p><p>Questão 2. Considere as seguintes operações internacionais efetuadas por um país, num determinado</p><p>período de tempo, em milhões de dólares.</p><p>• o país exportou mercadorias no valor de $700, recebendo à vista;</p><p>77</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>• o país importou mercadorias no valor de $600, pagando à vista;</p><p>• o país pagou $380 à vista, referente a juros, lucros e aluguéis;</p><p>• o país amortizou empréstimo no valor de $20;</p><p>• ingressaram no país máquinas e equipamentos no valor de $350;</p><p>• ingressaram no país $80 sob a forma de capitais de curto prazo;</p><p>• o país realizou doação de medicamentos no valor de $50.</p><p>Com base nessas informações, pode-se afirmar que as reservas do país, no período, apresentaram:</p><p>A) Elevação de $80 milhões de dólares.</p><p>B) Elevação de $130 milhões de dólares.</p><p>C) Diminuição de $120 milhões de dólares.</p><p>D) Diminuição de $200 milhões de dólares.</p><p>E) Diminuição de $220 milhões de dólares.</p><p>Resolução desta questão na plataforma.</p><p>isto é, seu</p><p>desempenho tem relação econômica e social com outros países.</p><p>Este material busca, de forma didática, apresentar as teorias e os principais modelos de forma a</p><p>subsidiar elementos para responder tais questões do mundo real.</p><p>Apresentaremos, sempre que necessário, a definição de taxa real e nominal de câmbio, bem como</p><p>a estrutura e exemplos do balanço de pagamentos aplicados ao Brasil. Destacaremos também os</p><p>modelos de definição da taxa real e nominal de câmbio, do produto e da conta-corrente do balanço</p><p>de pagamentos no curto e no longo prazo, isto é, vamos evidenciar o modelo de determinação da</p><p>renda em uma economia aberta por meio dos modelos IS-LM-BP, ou Mundell-Fleming, e AS-AD, ou</p><p>Oferta-Demanda Agregadas, e o impacto das políticas econômicas.</p><p>Portanto, iremos estudar as relações internacionais e seus principais conceitos, as políticas monetária</p><p>e fiscal em economia aberta, com base no modelo Mundell-Fleming ou modelo IS-LM-BP, dentro dos</p><p>casos de mobilidade perfeita de capitais e de mobilidade imperfeita de capitais.</p><p>Estudaremos como funciona a abertura dos mercados de bens e financeiros, analisando a relação</p><p>dos bens domésticos e importados, bem como dos ativos nacionais e estrangeiros, variações de demanda</p><p>interna e externa, as combinações de políticas fiscal e cambial, poupança, investimento e resultados</p><p>externos. Para encerrar, veremos o produto e as taxas de juros e de câmbio, e os possíveis ajustamentos</p><p>de uma economia diante dos regimes cambiais e de crises econômicas.</p><p>9</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Unidade I</p><p>1 RELAÇÕES INTERNACIONAIS E SEUS PRINCIPAIS CONCEITOS</p><p>Inicialmente destacaremos as essenciais relações econômicas entre países, o que caracteriza uma</p><p>economia aberta. Nenhuma economia ou país é autossuficiente, ou seja, todos os países precisam de</p><p>fatores de produção, entre outras necessidades de outras nações.</p><p>O fato de um país apresentar sua economia aberta não é algo novo. No início do século XX, sobretudo</p><p>no pós-guerra, as economias evidenciam uma dinâmica por meio das variáveis internas (consumo,</p><p>investimento e gastos do governo).</p><p>Já ao fim do século XX, principalmente dos anos 1970 em diante, por meio das tendências de</p><p>globalização e mundialização do capital, isto é, das variáveis externas (exportação, importação e</p><p>movimento de capitais), ficou claro o quanto as economias são interdependentes, cuja dinâmica interna</p><p>não é mais suficiente, sendo vital tornar o lado externo da economia mais dinâmico.</p><p>Para facilitar o entendimento, estudamos a curva IS (investment-saving), que é a curva de equilíbrio</p><p>do mercado de bens e serviços, isto é, a relação do investimento necessário (produção) com o nível de</p><p>poupança disponível. Essa relação entre investimento e poupança determina o nível de produção e a</p><p>taxa de juros. A soma dos gastos em consumo e investimentos privados e públicos são iguais à renda</p><p>agregada. Em uma economia fechada, a equação da curva IS pode ser representada da seguinte forma:</p><p>Y = C + cY + cTR + I – br + G</p><p>Em que:</p><p>Y é a renda agregada.</p><p>C é o consumo agregado.</p><p>cY é a propensão marginal a consumir em relação à renda.</p><p>cTR é a propensão marginal a consumir quanto às transferências do governo.</p><p>I é o investimento agregado.</p><p>b é o coeficiente de sensibilidade do investimento sobre a taxa de juros.</p><p>r é a taxa de juros.</p><p>G é o gasto do governo em consumo e investimento públicos.</p><p>10</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em uma economia aberta, mantendo as outras variáveis, a equação da curva IS pode ser representada</p><p>da seguinte forma:</p><p>Y = C + cY + cTR + I – br + G + X – Q</p><p>Em que:</p><p>X é a exportação agregada.</p><p>Q é a importação agregada.</p><p>Em que:</p><p>Q = mY</p><p>mY é a propensão marginal a importar em relação à renda.</p><p>Exemplo de aplicação</p><p>Dada a equação Y = C + cYd + cTR + I – br + G + X – Q e os valores a seguir, calcule e</p><p>determine a renda de equilíbrio, o resultado fiscal e primário do governo e o saldo no balanço</p><p>de pagamentos:</p><p>C = 1.500</p><p>cYd = 0,80</p><p>cTR = 50</p><p>T = 0,20</p><p>I = 500</p><p>b = 1</p><p>r = 10</p><p>G = 250</p><p>X = 300</p><p>mY = 0,30</p><p>11</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Lembrando cada função:</p><p>C = C + cYd + cTR</p><p>T = tY</p><p>Yd = Y – T</p><p>Necessidade de Financiamento do Setor Público Conceito Primário (NFSPcp) = G – T</p><p>BP = X – mY</p><p>Temos:</p><p>Y = 1.500 + 0,8(Y – 0,20Y) + 0,80(50) + 500 – 1(10) + 250 + 300 – 0,30Y</p><p>Y – 0,8(Y-020Y) + 0,30Y = 1.500 + 0,80(50) + 500 – 1(10) + 250 + 300</p><p>Ao colocar Y em evidência, temos:</p><p>Y[1-0,8(1-0,20) + 0,30] = 2.580</p><p>Y = 1/ [1-0,8(1-0,20) + 0,30] x 2.580</p><p>Em que :</p><p>∂ = 1/ [1-0,8(1-0,20) + 0,30] é o multiplicador de gastos</p><p>Y = 1,5151 x 2.580</p><p>Y = 3.908,95</p><p>Ao encontrarmos a renda de equilíbrio, podemos calcular o resultado da Necessidade de Financiamento</p><p>do Setor Público Conceito Primário e do balanço de pagamentos:</p><p>NFSPcp = 250 – (0,20 x 3.908,25)</p><p>NFSPcp = – 531,65, cujo resultado negativo expressa um superávit primário.</p><p>BP = 300 – (0,30 x 3.908,95)</p><p>BP = – 872,68, cujo resultado negativo representa um déficit externo.</p><p>Highlight</p><p>12</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Lembrete</p><p>A relação investimento e poupança representa apenas uma identidade,</p><p>e não uma igualdade de causa e efeito. Sem renda, não há poupança e</p><p>investimento, e, sem investimento, não há renda e poupança.</p><p>Percebe-se que a economia aberta é uma extensão da economia fechada, em que a oferta total é a</p><p>produção interna mais a importação de bens e serviços e a demanda total passa a ser os gastos internos</p><p>mais a exportação de bens e serviços.</p><p>Iremos ver essa equação mais adiante e de forma mais detalhada, mas é interessante já deixar claro</p><p>como uma economia aberta pode ser caracterizada por meio da equação da curva IS.</p><p>Portanto, uma economia aberta apresenta uma relação com outra economia e com o resto do mundo</p><p>por meio de canais externos, cujo primeiro se dá pelo comércio de bens e serviços e o segundo, por meio</p><p>de empréstimos e financiamentos.</p><p>Esses canais são afetados por outras variáveis como a taxa de juros de cada país, que tem impacto</p><p>sobre o nível de investimento interno, mas também sobre o financiamento interno por meio da compra</p><p>e venda de títulos públicos brasileiros ou empréstimos nacionais e internacionais.</p><p>Outro ponto que iremos tratar é a questão dos níveis de preços internos e externos e sua vinculação</p><p>com a taxa de câmbio, isto é, o preço da moeda internacional em relação à moeda nacional ou doméstica.</p><p>Aqui já podemos perceber que a política econômica de cada país é um fator relevante para as relações</p><p>internacionais.</p><p>Na macroeconomia fechada vemos que as principais políticas econômicas são a fiscal e a</p><p>monetária, agora temos também a política cambial, que é essencial para a dinâmica do lado externo</p><p>da economia como um todo devido ao fato de que os preços dos fatores de produção e de bens</p><p>e serviços da economia doméstica e do resto do mundo afetam o Produto Interno Bruto (PIB) de</p><p>ambas as economias.</p><p>Para a economia brasileira, destacam-se dois eventos econômicos, sendo um externo e outro interno,</p><p>mas ambos dentro de um cenário de economia aberta. O primeiro evento destaca os choques do Petróleo</p><p>realizados pela Organização Produtora e Exportadora de Petróleo (Opep) nos anos de 1974 e 1979, cuja</p><p>elevação do preço do barril de petróleo teve impacto em vários países, inclusive no Brasil. Já o segundo</p><p>evento foi o plano brasileiro de estabilização econômica, denominado Plano Real, em julho de 1994, em</p><p>que um dos principais instrumentos foi a âncora cambial e os fluxos de capitais. Esses fatos deixam claro</p><p>a interdependência das economias dos diversos países e levam à necessidade de tentativas de decisões</p><p>de política econômicas conjuntas, sendo essas tentativas um dos grandes desafios macroeconômicos, e,</p><p>um bom exemplo é a região do</p><p>Euro.</p><p>13</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Saiba mais</p><p>O seguinte trabalho explica muito bem o Plano Real:</p><p>SILVA, M. L. F. Plano Real e âncora cambial. Revista de Economia Política,</p><p>São Paulo, v. 22, n. 3, p. 3-24, jul./set. 2002. Disponível em: <http://www.</p><p>rep.org.br/pdf/87-1.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016.</p><p>1.1 Balanço de pagamentos e taxas de câmbio</p><p>O balanço de pagamentos (BP) representa a contabilidade do lado externo da economia. Todas as</p><p>transações dos residentes domésticos, isto é, dos agentes econômicos, com foco de interesse econômico</p><p>permanente em um país com o resto do mundo são registradas no BP, que possui duas grandes contas</p><p>com suas subcontas:</p><p>• Conta-corrente: registra todo o comércio externo de bens e serviços e é composta pelas subcontas</p><p>da balança comercial, balança de serviços, renda primária e renda secundária, que é a antiga</p><p>subconta de transferências unilaterais.</p><p>• Conta de capital: registra todas as compras e vendas de moeda e ativos financeiros e é formada</p><p>pelas subcontas de investimento direto no exterior; investimento direto no país; investimento</p><p>em carteira (ativos); investimento em carteira (passivos), derivativos (ativos e passivos); outros</p><p>investimentos (ativos); outros investimentos (passivos); e ativos de reserva.</p><p>O balanço de pagamentos adota o princípio das partidas dobradas, em que cada crédito equivale a</p><p>um débito. Por exemplo: a variação do fluxo de reservas internacionais que são usadas para financiar</p><p>gastos no exterior tem seu lançamento como débito ao denotar variação positiva e como crédito ao</p><p>apresentar variação negativa.</p><p>A inversão de sinais significa que a variação nas reservas é uma contrapartida dos fluxos reais e</p><p>de capitais autônomos. O pagamento de uma exportação à vista ou a entrada de capitais resultam no</p><p>aumento de reservas internacionais, se a troca de sinais não for mantida, e o BP não irá apresentar seu</p><p>equilíbrio interno.</p><p>O resultado do balanço de pagamentos poderá resultar em superávit ou déficit. “A regra simples</p><p>para as contas do balanço de pagamentos é que a transação que dá lugar a um pagamento do</p><p>residente de um país é um item de déficit no balanço de pagamentos daquele país” (DORNBUSCH;</p><p>FISCHER, 1991, p. 204).</p><p>Portanto, todas as compras de bens e serviços ou ativos monetários e financeiros internacionais, bem</p><p>como as transferências de renda para o exterior, são operações que compõem um déficit e o inverso, as</p><p>operações que compõem um superávit.</p><p>14</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Teoricamente, o saldo do BP deve tender a zero, mas, na realidade, teremos um superávit devido a,</p><p>por exemplo, um maior valor exportado do que importado do exterior ou um déficit ao expressar um</p><p>maior valor de importação do exterior.</p><p>Lembrando que um superávit ou um déficit total do BP resultam das duas principais contas</p><p>mencionadas e que uma das duas contas pode, teoricamente, “financiar” a outra. Por exemplo, um</p><p>déficit nas contas-correntes pode ser financiado por um superávit na conta de capital e vice-versa, cuja</p><p>soma das duas principais contas irá destacar o resultado do BP e a variação nas reservas.</p><p>A tabela a seguir apresenta o balanço de pagamentos do Brasil dos últimos dois anos. Os valores são</p><p>sempre em dólar americano, por ser a moeda do padrão monetário internacional.</p><p>Tabela 1 – Balanço de pagamentos do Brasil em milhões de dólares</p><p>Discriminação 2010 2011 2012 2013 2014 2015</p><p>Transações correntes - 75 824 - 77 032 - 74 218 - 74 839 - 104 181 - 58 882</p><p>Balança comercial – balanço de pagamentos 18 491 27 625 17 420 389 - 6 629 17 670</p><p>Exportações 201 324 255 506 242 283 241 577 224 098 190 092</p><p>Importações 182 833 227 881 224 864 241 189 230 727 172 422</p><p>Serviços - 30 156 - 37 166 - 40 168 - 46 372 - 48 107 - 36 919</p><p>Viagens - 10 704 - 14 707 - 15 661 - 18 554 - 18 724 - 11 513</p><p>Transportes - 6 138 - 7 962 - 8 398 - 9 376 - 8 697 - 5 664</p><p>Aluguel de equipamentos - 13 718 - 16 682 - 18 736 - 19 056 - 22 629 - 21 532</p><p>Demais serviços 404 2 185 2 627 614 1 943 1 790</p><p>Renda primária - 67 055 - 70 475 - 54 308 - 32 538 - 52 170 - 42 357</p><p>Remuneração de empregados 498 567 511 511 357 349</p><p>Juros - 11 993 - 14 448 - 16 630 - 19 324 - 21 340 - 21 913</p><p>Lucros e dividendos - 55 560 - 56 593 - 38 189 - 13 726 - 31 187 - 20 793</p><p>Renda secundária 2 896 2 984 2 838 3 683 2 725 2 724</p><p>Conta capital 242 256 208 322 231 440</p><p>Conta financeira - 76 012 - 79 242 - 73 954 - 72 696 - 100 599 - 54 734</p><p>Investimentos – ativos 71 841 35 002 36 451 63 336 79 526 53 951</p><p>Investimento direto no exterior 26 763 16 067 5 208 14 942 26 040 13 498</p><p>Ativos de bancos - 599 - 5 200 3 787 4 536 - 1 435 - 1 056</p><p>Demais ativos1/ 45 677 24 135 27 456 43 859 54 922 41 509</p><p>Investimentos – passivos 197 065 172 878 129 279 129 995 192 525 113 704</p><p>Investimento direto no país 88 452 101 158 86 607 69 181 96 895 75 075</p><p>Ações totais3/ 37 671 7 174 5 602 11 636 11 773 10 030</p><p>Títulos negociados no mercado doméstico 17 516 5 250 11 373 30 957 27 068 16 296</p><p>Empréstimos e títulos de LP negociados no</p><p>mercado externo 30 062 47 651 18 730 2 504 21 585 - 3 566</p><p>Ingressos 60 613 82 149 56 310 60 543 71 184 72 896</p><p>Títulos públicos 2 818 1 650 3 867 4 050 5 976 54</p><p>15</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Títulos privados 22 924 25 458 13 409 9 976 11 061 10 432</p><p>Empréstimos diretos 10 754 36 868 27 313 28 174 36 430 46 349</p><p>Demais empréstimos3/ 24 117 18 174 11 720 18 343 17 717 16 061</p><p>Amortizações 30 551 34 497 37 580 58 039 49 599 76 462</p><p>Títulos públicos 5 399 4 140 3 422 2 860 3 466 3 472</p><p>Títulos privados 9 293 4 746 7 477 11 990 11 341 15 152</p><p>Empréstimos diretos 4 649 8 658 13 900 27 285 19 360 41 022</p><p>Demais empréstimos3/ 11 210 16 954 12 782 15 903 15 431 16 816</p><p>Empréstimos e títulos de CP negociados no</p><p>mercado externo 27 428 - 3 888 - 4 125 - 146 24 896 - 6 838</p><p>Demais passivos1/ - 4 064 15 532 11 093 15 862 10 308 22 706</p><p>Derivativos 112 - 3 - 25 - 110 1 568 3 450</p><p>Ativos de reserva 49 101 58 637 18 900 - 5 926 10 833 1 569</p><p>Erros e omissões - 430 - 2 466 57 1 821 3 351 3 708</p><p>Projeção. Em US$ bilhões.</p><p>1/ Inclui créditos comerciais.</p><p>2/ Inclui ações negociadas em bolsas de valores do Brasil e do exterior.</p><p>3/ Inclui créditos de agências e organismos.</p><p>*Dados preliminares.</p><p>Fonte: Bacen ([s.d.]).</p><p>Percebe-se que, ao trabalharmos com economia aplicada, os resultados nas duas principais contas</p><p>resultam em déficit externo, isto é, não seguem a teoria de uma conta financiar a outra conta, ou seja,</p><p>da conta de capital financiar a conta de transações correntes e vice-versa. Nesse caso, em que ambas</p><p>as contas apresentam déficit, haverá movimentação de reservas internacionais, cujo valor nos últimos</p><p>anos está acima de US$ 300 bilhões de dólares.</p><p>1.1.1 Mercado cambial e taxas de câmbio</p><p>O mercado cambial é o local onde se dá a oferta e a demanda por moeda internacional, principalmente</p><p>a oferta e demanda por dólares, cujos agentes econômicos que participam desse mercado são: Banco</p><p>Central, corretoras de câmbio, departamentos bancários de câmbio e todos os demais agentes, como</p><p>empresas e famílias, que por algum motivo ofertam ou demandam a moeda externa. Essa movimentação</p><p>de compra e venda determina o preço da moeda estrangeira, que denominamos câmbio nominal. De</p><p>forma simples, a equação do câmbio nominal pode ser apresentada da seguinte forma:</p><p>e = R$ / 1,00 US$</p><p>Em que:</p><p>e é</p><p>o valor da taxa nominal de câmbio;</p><p>16</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>R$ é a quantidade de reais por um dólar;</p><p>US$ é a quantia de 1 (um) dólar.</p><p>Um bom exemplo são as famílias que irão viajar para a Disney e passam a demandar dólares para</p><p>cobrir suas despesas em terras norte-americanas ou então empresas com dívida externa que demandam</p><p>dólares para pagar essa dívida, entre outras operações que necessitam de moeda estrangeira, como o</p><p>pagamento de importações.</p><p>Oferta de dólares</p><p>Demanda por</p><p>dólares</p><p>Câmbio nominal</p><p>ou preço do dólar</p><p>Quantidade</p><p>de dólares</p><p>Q US$</p><p>e</p><p>Figura 1 – Mercado de câmbio</p><p>O Banco Central, que é uma autoridade monetária, também é o agente econômico que controla o fluxo de</p><p>moeda estrangeira de um país, devido a essa movimentação impactar na base monetária. Portanto, o Banco</p><p>Central tem entre suas atribuições e competências intermediar a oferta e a demanda de moeda estrangeira</p><p>como meio de pagamento para os agentes superavitários e deficitários no balanço de pagamentos e, para</p><p>isso, determina o regime cambial vigente, isto é, qual o valor da moeda estrangeira no tempo, ou seja, a</p><p>moeda estrangeira terá um valor fixo, conhecido como câmbio fixo, ou terá um valor flutuante ou que</p><p>apresenta variação ao longo do tempo, chamado de câmbio flutuante ou flexível.</p><p>1.1.2 Câmbio fixo</p><p>Em um regime de taxas de câmbio fixo, o Banco Central define o valor da moeda estrangeira em</p><p>um único valor e faz operações de compra e venda dessa mesma moeda estrangeira para manter o seu</p><p>valor constante. Se o Banco Central determinar que a moeda estrangeira, no caso US$ 1,00, equivale</p><p>a R$ 2,00 reais, fará suas operações cambiais para manter esse valor constante, isto é, um câmbio</p><p>nominal de R$ 2,00 reais ao longo do tempo.</p><p>1.1.3 Câmbio flutuante ou flexível</p><p>Em um regime de taxas de câmbio flutuante ou flexível, o valor da moeda estrangeira é decretado pelo</p><p>mercado, isto é, pela oferta e demanda por moeda estrangeira, em que o Banco Central não intervém, ou</p><p>17</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>seja, não define o valor do câmbio nominal. Dado um contexto de regime de câmbio flutuante, caso o</p><p>Banco Central faça operações de compra e venda que alterem o valor do câmbio nominal, essa ação será</p><p>considerada uma intervenção do Banco Central sobre o valor do câmbio nominal, cujo regime cambial</p><p>será considerado como “flutuação suja” ou “taxas cambiais administradas” devido ao câmbio não ser</p><p>determinado apenas pelo mercado, mas também pela intervenção do Banco Central na tentativa de</p><p>influenciar a taxa de câmbio.</p><p>O “economês” utiliza duas terminologias para descrever quando o valor do câmbio nominal ou preço</p><p>do dólar em moeda nacional apresentam variações de alta e de baixa. Por exemplo, se o câmbio nominal</p><p>está a R$ 2,00 para US$ 1,00 e passa para R$ 3,00 para US$ 1,00, dizemos que houve uma depreciação</p><p>ou desvalorização da moeda doméstica, neste caso, o real, em relação ao dólar, pois passamos a precisar</p><p>de mais unidades de reais (R$) para cada 1 (um) dólar (US$).</p><p>Podemos ver esse movimento no gráfico a seguir, no qual, devido a um aumento da demanda por</p><p>dólares, o preço de equilíbrio do câmbio nominal apresenta uma variação do ponto A para o ponto B,</p><p>cujo valor do câmbio nominal aumenta de e1 para e2, resultando em uma desvalorização cambial por</p><p>conta da necessidade de mais reais por apenas um dólar.</p><p>Oferta de dólares</p><p>Demanda por</p><p>dólares 1</p><p>Demanda por</p><p>dólares 2</p><p>Câmbio nominal</p><p>ou preço do dólar</p><p>Quantidade</p><p>de dólares</p><p>Q1 US$ Q2 US$</p><p>e 1</p><p>e 2</p><p>A</p><p>B</p><p>Figura 2 – Mercado de câmbio com movimento de desvalorização cambial</p><p>Entretanto, se o câmbio nominal está a R$ 2,00 para cada US$ 1,00 e passa a valer R$ 1,50 para</p><p>cada US$ 1,00, afirmamos que houve uma apreciação ou valorização da moeda doméstica, conforme</p><p>ilustrado no gráfico a seguir.</p><p>18</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Oferta de dólares</p><p>Demanda por</p><p>dólares 1</p><p>Demanda por</p><p>dólares 2</p><p>Câmbio nominal</p><p>ou preço do dólar</p><p>Quantidade</p><p>de dólares</p><p>Q1 US$Q2 US$</p><p>e 1</p><p>e 2</p><p>A</p><p>B</p><p>Figura 3 – Mercado de câmbio com movimento de valorização cambial</p><p>A questão de utilizar as terminologias apreciação ou depreciação e valorização ou desvalorização</p><p>estão relacionadas aos regimes cambiais. A primeira designação é aplicada em um regime de câmbio</p><p>flutuante e a segunda, em um regime de câmbio fixo.</p><p>1,95</p><p>2000</p><p>0,00</p><p>0,50</p><p>1,00</p><p>1,50</p><p>2,00</p><p>2,50</p><p>3,00</p><p>3,50</p><p>4,00</p><p>4,50</p><p>2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015</p><p>2,32</p><p>2,53</p><p>2,89</p><p>2,65</p><p>2,34</p><p>2,14</p><p>1,77</p><p>2,34</p><p>1,74 1,67</p><p>1,88</p><p>2,04</p><p>2,34</p><p>2,66</p><p>3,90</p><p>Câmbio nominal</p><p>Figura 4 – Câmbio nominal brasileiro 2000-2015</p><p>1.1.4 Taxa real de câmbio</p><p>A taxa real de câmbio faz a relação entre o câmbio nominal, o nível de preços dos bens estrangeiros</p><p>ou importados e dos bens nacionais, ou seja, o câmbio real mede a competitividade entre os bens</p><p>nacionais e os bens importados, cuja equação matemática é a seguinte:</p><p>19</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>E ou R = eπ rm / π bra</p><p>Em que:</p><p>E ou R é o valor da taxa real de câmbio.</p><p>e é o valor da taxa nominal de câmbio.</p><p>π rm é o nível de preços no resto do mundo, ou seja, o preço dos bens importados.</p><p>π bra é o nível de preços no Brasil, ou seja, o preço dos bens nacionais.</p><p>Portanto, para sabermos se os bens brasileiros estão se tornando relativamente mais baratos</p><p>ou mais caros do que os bens estrangeiros, temos que levar em conta a dinâmica do nível de</p><p>preços ou a inflação no Brasil e no resto do mundo (Estados Unidos, China, países europeus,</p><p>asiáticos, entre outros).</p><p>Quando temos um aumento de R, isto é, uma elevação na taxa real de câmbio, há uma depreciação</p><p>real, ou seja, significa que os preços estrangeiros em reais (eπ rm) têm aumentado em relação aos</p><p>preços dos bens produzidos nos Brasil (π bra), leia-se que os bens importados se tornaram mais caros</p><p>em relação aos bens domésticos.</p><p>Pela ótica da sociedade brasileira, os bens nacionais ficaram mais baratos em relação aos bens</p><p>estrangeiros. Entretanto, quando temos uma redução de R, uma queda na taxa real de câmbio, temos</p><p>uma apreciação real, isto é, os bens nacionais têm se tornado relativamente mais caros ou o Brasil tem</p><p>perdido competitividade.</p><p>10,00</p><p>30,00</p><p>50,00</p><p>70,00</p><p>900,00</p><p>110,00</p><p>130,00</p><p>150,00</p><p>2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ... 2015. ...</p><p>170,00</p><p>116,63</p><p>123,54</p><p>134,12</p><p>130,62</p><p>129,86</p><p>130,98</p><p>134,14</p><p>144,71</p><p>159,40</p><p>157,12</p><p>149,34</p><p>149,41</p><p>Figura 5 – Câmbio real brasileiro no ano de 2015</p><p>A taxa real de cambio é igual à taxa nominal vezes o nível de preços do mundo sobre o nível de preços do brasil</p><p>20</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Lembrete</p><p>As taxas de câmbio passam a ser de grande relevância, pois determinam</p><p>os níveis de renda e de juros na economia. Os economistas brasileiros da</p><p>linha de pesquisa conhecida como novos desenvolvimentistas colocam o</p><p>câmbio como uma das variáveis principais para o crescimento econômico.</p><p>1.1.5 Gastos nacionais e gastos em bens nacionais</p><p>Com base no modelo IS-LM estudado na macroeconomia fechada, iremos agora ajustar a curva IS à</p><p>economia internacional, devido ao contexto de economia aberta por meio das variáveis de exportação</p><p>(X) ou venda de produtos nacionais ou domésticos ao resto do mundo e importação (Q) ou compra de</p><p>produtos estrangeiros.</p><p>O que muda é que os gastos nacionais não definem a produção nacional, mas que os gastos em bens</p><p>nacionais determinam a produção nacional ou doméstica devido à inserção da variável exportação (A +</p><p>NX). Agora, uma parte do gasto dos residentes nacionais é com bens nacionais e uma parte desse mesmo</p><p>gasto é com bens estrangeiros ou importados.</p><p>Parte das expensas de um típico americano vai para cerveja importada, por exemplo. A demanda</p><p>por bens domésticos, por outro lado, inclui as exportações e a demanda externa como parte dos gastos</p><p>efetuados pelos residentes domésticos.</p><p>Gastos dos residentes domésticos = A = C + I + G</p><p>Gastos em bens domésticos = A + NX = (C + I + G) + (X – Q)</p><p>Exportações líquidas = NX = X – Q</p><p>Em que:</p><p>A são os gastos autônomos.</p><p>C é o consumo privado agregado.</p><p>I é o investimento privado agregado.</p><p>G são os gastos do governo em consumo e investimentos públicos agregados.</p><p>X são as exportações agregadas.</p><p>Q são as importações agregadas.</p><p>21</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Os gastos em bens nacionais são o total de gastos realizados pelos residentes nacionais no Brasil,</p><p>menos as expensas em bens estrangeiros ou importações, mais a venda de produtos nacionais no resto</p><p>do mundo via exportações. As exportações menos as importações resultam na variável de exportações</p><p>líquidas (NX), portanto, os gastos em bens domésticos são aqueles efetuados pelos residentes no Brasil,</p><p>mais as exportações líquidas. Podemos descrever a equação matemática das exportações líquidas da</p><p>seguinte forma:</p><p>NX = X(Yrm, R) – Q(Y, R) = NX(Y, Yrm, R)</p><p>Percebe-se que as exportações líquidas (NX) dependem da renda agregada nacional (Y), da renda</p><p>agregada do resto do mundo (Yrm) e da taxa real de câmbio (R). Caso haja um aumento em R ou uma</p><p>depreciação real, haverá uma melhora na balança comercial e, por sua vez, nas exportações líquidas, pois</p><p>a demanda se desloca dos bens produzidos no exterior para aqueles que são produzidos no Brasil. Diante</p><p>disso, há três resultados esperados:</p><p>• caso aumente a renda agregada do resto do mundo, elevar-se-á a demanda agregada nacional;</p><p>• uma depreciação real melhora as exportações líquidas e eleva a demanda agregada;</p><p>• um acréscimo na renda agregada nacional brasileira vai ampliar as importações.</p><p>O gráfico a seguir, elaborado a partir de Dornbusch e Fischer (1991, p. 216), apresenta a curva</p><p>das exportações líquidas em função da renda nacional, da renda do resto do mundo e da taxa real</p><p>de câmbio. A curva é negativamente inclinada devido ao fato de que as importações aumentam</p><p>quando se eleva a renda agregada nacional. Quando a renda agregada nacional é baixa, os gastos com</p><p>importações também são baixos, cujas exportações líquidas são positivas. Entretanto, quando a renda</p><p>agregada nacional cresce, também se ampliam os gastos com produtos importados, podendo resultar</p><p>em exportações líquidas negativas.</p><p>+1</p><p>0</p><p>–1</p><p>Y</p><p>NX((Y, Yrm, R)</p><p>Figura 6 – Exportações líquidas</p><p>22</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Com base no cartesiano do modelo IS-LM e sua relação com o gráfico das exportações líquidas,</p><p>supomos que houve um aumento do crescimento da economia norte-americana, que, por sua vez,</p><p>elevou a renda agregada do resto do mundo e do Brasil, conforme podemos ver no primeiro cartesiano</p><p>do gráfico a seguir, elaborado a partir de Dornbusch e Fischer (1991, p. 219). O fato de a renda agregada</p><p>do resto do mundo aumentar, eleva as exportações brasileiras e desloca a curva IS do ponto A para o</p><p>ponto B. Com isso, as exportações tendem a se ampliar mais que as importações, deslocando a curva de</p><p>exportações líquidas também do ponto A para o ponto B, como podemos ver no segundo cartesiano do</p><p>gráfico seguinte, cujo ponto B fica acima de zero, na região positiva do cartesiano, o que significa um</p><p>resultado positivo e favorável para a economia em seu lado externo.</p><p>Portanto, um acréscimo na renda agregada do resto do mundo dilata as exportações, fazendo com</p><p>que a curva de exportações líquidas se desloque para cima e para a direita. O caso de uma depreciação</p><p>real também aumenta as exportações líquidas para cima e para a direita. Já uma depreciação real irá</p><p>reduzir as exportações e elevar as importações.</p><p>i</p><p>LM</p><p>B</p><p>B</p><p>Y</p><p>Y</p><p>NX2</p><p>NX1</p><p>A</p><p>A</p><p>+1</p><p>0</p><p>–1</p><p>IS 2</p><p>IS 1</p><p>Figura 7 – O impacto do aumento da renda agregada do resto do mundo</p><p>1.1.6 O mercado de bens e serviços e seu equilíbrio: a curva IS em uma economia aberta</p><p>A demanda agregada, ou curva IS, passa a exibir em sua estrutura as variáveis do lado externo da</p><p>economia, representado pelas exportações e importações, ou seja, as exportações líquidas, e pode ser</p><p>apresentada pela seguinte equação matemática:</p><p>23</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Curva IS = DA = Y = C + I + G + X – Q</p><p>ou</p><p>Curva IS = DA = Y = A(Y, i) + NX(Y, Yrm, R)</p><p>É fundamental essa formalização do complemento da curva IS em uma economia aberta para</p><p>esclarecer as variáveis que definem a própria demanda agregada, isto é, os gastos autônomos e as</p><p>exportações líquidas, bem como as variáveis que impactam diretamente sobre cada uma das variáveis</p><p>determinantes, como a renda agregada nacional, a taxa de juros interna, a renda agregada do resto do</p><p>mundo e da taxa real de câmbio.</p><p>Conforme Dornbusch e Fischer (1991, p. 220), há uma relação de causa e efeito entre essas variáveis</p><p>que gera distúrbios na renda e nas exportações líquidas. Por exemplo: caso haja um acréscimo nos gastos</p><p>nacionais ou domésticos, leia-se gastos autônomos, haverá uma ampliação da renda agregada nacional,</p><p>mas uma queda ou um resultado negativo nas exportações líquidas. O incremento na renda do resto</p><p>do mundo eleva a renda agregada nacional e um aumento ou um resultado positivo nas exportações</p><p>líquidas e, por fim, uma depreciação real elevará a renda agregada e as exportações líquidas, conforme</p><p>podemos ver no quadro a seguir.</p><p>Quadro 1 – Efeitos de um distúrbio na renda e nas exportações líquidas</p><p>Aumento nos</p><p>gastos domésticos</p><p>Aumento na renda</p><p>do resto do mundo Depreciação real</p><p>Renda + + +</p><p>Exportações líquidas - + +</p><p>Fonte: Dornbusch e Fischer (1991, p. 220).</p><p>1.1.7 Dilemas da política econômica</p><p>Nem sempre os objetivos da política econômica são harmoniosos, isto é, podem ser conflitantes.</p><p>Na macroeconomia aberta temos os objetivos de equilíbrio interno (crescimento econômico com pleno</p><p>emprego) e o equilíbrio externo (crescimento econômico sem endividamento externo).</p><p>O gráfico a seguir demonstra as possibilidades de conflitos que podem existir entre os objetivos de</p><p>política econômica em uma macroeconomia aberta. No cartesiano, que relaciona a renda agregada</p><p>nacional (Y) e a taxa de juros doméstica (i), temos, além das curvas IS e LM, duas linhas verticais, sendo</p><p>a primeira de exportações líquidas (NX = 0) e a segunda é a renda agregada de pleno emprego (Y*).</p><p>24</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>NX = 0</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>Y*</p><p>LM</p><p>0</p><p>I</p><p>II</p><p>III</p><p>IS</p><p>Figura 8 – Conflito entre objetivos da política econômica</p><p>A primeira linha vertical (NX = 0) representa o equilíbrio entre exportações e importações, isto</p><p>é, o equilíbrio externo. Caso a intersecção IS-LM seja sobre esta linha, haverá o equilíbrio externo. À</p><p>esquerda desta linha, há um superávit devido à renda agregada nacional baixa implicar importações</p><p>baixas. No entanto, à direita de NX = 0 haverá um déficit devido à elevação da renda agregada nacional</p><p>também ampliar as importações acima das exportações.</p><p>Já a segunda linha, referente ao pleno emprego (Y*), irá apresentar desemprego à esquerda e superemprego</p><p>à direita da linha. Portanto, ao longo de NX = 0 haverá o equilíbrio externo via o equilíbrio da balança comercial</p><p>e, no nível produtivo Y*, haverá o pleno emprego. Na região I do gráfico, uma elevação da demanda agregada</p><p>irá reduzir o desemprego com equilíbrio no lado externo. Na região III, a demanda agregada está abaixo do</p><p>pleno emprego, resultando em desemprego e déficit no lado externo. Já na região II, temos um maior conflito</p><p>de política econômica devido à necessidade de um equilíbrio externo precisar de um maior desemprego.</p><p>Em alguns contextos,</p><p>os conflitos entre políticas econômicas podem ser resolvidos por efeitos de repercussão.</p><p>Por exemplo: um aumento da renda agregada dos Estados Unidos tende a ampliar a renda agregada mundial,</p><p>que, por sua vez, eleva as exportações de vários países, inclusive o Brasil, gerando crescimento econômico via</p><p>expansão da renda nacional e superávit comercial, leia-se equilíbrios interno e externo.</p><p>1.1.8 Mobilidade de capital</p><p>A mobilidade de capital significa a liberdade de escolha para a compra e venda de ativos em qualquer</p><p>país, de forma rápida e ilimitada. Dornbusch e Fischer (1991, p. 225) afirmam o seguinte:</p><p>O capital é perfeitamente móvel internacionalmente quando os investidores</p><p>podem comprar ativos em qualquer país que escolherem, rapidamente,</p><p>com custos de transação baixos e em volumes ilimitados. Quando o capital</p><p>IS é a demanda</p><p>25</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>é perfeitamente móvel, os proprietários de ativos estão dispostos e são</p><p>capazes de mover grandes volumes de fundos entre as fronteiras em busca</p><p>de um retorno maior ou de um custo de empréstimo menor.</p><p>Os ativos são moeda e quase-moedas, em que os ativos monetários estão no mercado de moedas</p><p>para câmbio, hedge e especulação, e os ativos financeiros estão nos mercados financeiros e de capitais</p><p>por meio da compra e venda de ações, títulos públicos e outros títulos privados. A questão dos fluxos</p><p>de capitais passa a ser importante, dentro de um contexto de macroeconomia aberta, dos anos 1970</p><p>em diante, com a globalização financeira, pois representa uma forma de financiamento do balanço de</p><p>pagamentos por meio da conta capital e conta financeira.</p><p>Saiba mais</p><p>Entre os trabalhos que explicam muito bem a globalização financeira,</p><p>está o indicado a seguir:</p><p>CARNEIRO, R. A globalização financeira: origem, dinâmica e perspectivas.</p><p>Texto para Discussão, Campinas, n. 90, out. 1999. Disponível em: <www.eco.</p><p>unicamp.br/docprod/downarq.php?id=1720&tp=a>. Acesso em: 22 jul. 2016.</p><p>1.2 Balanço de pagamentos e os fluxos de capitais</p><p>A equação matemática do balanço de pagamentos passa a ser representada da seguinte forma:</p><p>BP = NX(Y, Yrm, R) + FK (i – irm)</p><p>Em que:</p><p>FK é o fluxo de capitais na conta de capital.</p><p>i é a taxa nominal de juros no Brasil.</p><p>irm é a taxa nominal de juros no resto do mundo.</p><p>A estrutura dessa equação demonstra a divisão do balanço de pagamentos em duas principais</p><p>contas. A primeira é a conta das transações correntes, representada por NX, que depende da renda</p><p>agregada nacional, da renda agregada do resto do mundo e da taxa real de câmbio, e a segunda conta</p><p>é a conta capital, revelada por FK, que depende do diferencial da taxa nominal de juros brasileira (i) e da</p><p>taxa nominal de juros do resto do mundo (irm). Conforme Dornbusch e Fischer (1991, p. 227-8):</p><p>A ideia é extremamente importante. Os países frequentemente enfrentam</p><p>o seguinte dilema: a produção doméstica é baixa e eles querem expandi-la,</p><p>o balanço de pagamentos é a diferença entre as exportações líquidas e o fluxo de capitais na conta de capital. NX está em função da renda agregada nacional, renda a. do mundo e taxa de cambio. FK está em função da taxa de juros nacional e do mundo</p><p>26</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>porém, o balanço de pagamentos está em dificuldades e eles não acreditam</p><p>que possam suportar um déficit maior neste. Se o nível de renda aumenta,</p><p>as exportações líquidas irão cair quando a demanda doméstica aumentar,</p><p>tendendo a piorar o balanço de pagamentos – o que o país deseja evitar. A</p><p>presença da sensibilidade [dos] juros dos fluxos de capital sugere que um país</p><p>pode impor uma política doméstica expansionista sem incorrer necessariamente</p><p>em problemas do balanço de pagamentos. A implicação da perfeita mobilidade</p><p>de capital é a de que as taxas de juros teriam que ser aumentadas somente</p><p>muito pouco para se obter o financiamento para o déficit comercial.</p><p>Percebe-se que expandir a renda agregada nacional irá reduzir as exportações líquidas (NX) por</p><p>meio de uma aceleração das importações acima das exportações, o que resulta em déficit comercial.</p><p>Entretanto, esse déficit comercial poderá ser financiado por meio do fluxo de capitais, em que a taxa de</p><p>juros brasileira deverá ser mais atraente que a taxa de juros do resto mundo, leia-se uma taxa de juros</p><p>nacional mais elevada.</p><p>Note que estamos discutindo uma alternativa à questão dos equilíbrios interno e externo. No gráfico</p><p>a seguir, com base em Dornbusch e Fischer (1991, p. 229), podemos ver esses conflitos de uma forma</p><p>mais clara. Veja que no quadrante A temos o conflito de objetivos de política econômica diante de um</p><p>superávit comercial, entretanto, com um nível de desemprego. Já o quadrante D apresenta uma relação</p><p>inversa, isto é, um resultado de déficit comercial com superemprego.</p><p>A questão colocada aqui atende ao quadrante D. Caso o país faça a opção por um crescimento</p><p>econômico para obter uma condição de superemprego ou equilíbrio interno, apresentará um desequilíbrio</p><p>externo por meio de um déficit comercial, isto é, um crescimento econômico com endividamento externo</p><p>que poderá ser financiando pelo fluxo de capitais, cuja taxa de juros deverá ser mais elevada que a taxa</p><p>de juros do resto do mundo.</p><p>(A)</p><p>Superávit comercial</p><p>e</p><p>Desemprego</p><p>(B)</p><p>Superávit comercial</p><p>e</p><p>Superemprego</p><p>(C)</p><p>Déficit comercial</p><p>e</p><p>Desemprego</p><p>(D)</p><p>Déficit comercial</p><p>e</p><p>Desemprego</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>BP = 0</p><p>Nível de</p><p>renda (y)</p><p>Y*</p><p>Figura 9 – Pontos de conflito entre os equilíbrios interno e externo</p><p>27</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>2 POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL EM ECONOMIA ABERTA</p><p>2.1 O modelo Mundell‑Fleming ou modelo IS‑LM‑BP</p><p>O modelo Mundell-Fleming é o modelo IS-LM com a curva BP, isto é, modelo IS-LM-BP que</p><p>faz a interligação do lado real da economia (IS), com o lado monetário (LM) e com o lado externo</p><p>(BP), caracterizando a dinâmica da macroeconomia aberta e os objetivos de política econômica e</p><p>seus instrumentos (políticas monetária e fiscal) dentro de regimes cambiais diferentes (câmbio fixo</p><p>e flutuante), cuja política cambial e os fluxos de capitais passam a ser elementos essenciais para a</p><p>determinação da renda de equilíbrio.</p><p>No modelo IS-LM-BP, os fluxos de capitais passam a ser tratados em dois contextos. O primeiro é a</p><p>mobilidade perfeita de capitais, marcada pela existência de ativos ou portfólios nacionais ou domésticos</p><p>e estrangeiros homogêneos ou substitutos perfeitos; por exemplo, os ativos possuem a mesma taxa de</p><p>juros e a curva do balanço de pagamentos ou curva BP é elástica ou horizontal, conforme o gráfico a</p><p>seguir, elaborado a partir de Froyen (2006, p. 596).</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>i brasil = i rm</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>BP</p><p>Figura 10 – Curva BP em um contexto de mobilidade perfeita de capitais</p><p>O segundo contexto é o da mobilidade imperfeita de capitais, que é caracterizada pela existência</p><p>de ativos ou portfólios nacionais ou domésticos e estrangeiros heterogêneos ou substitutos, mas não</p><p>perfeitos, seja pelo diferencial de taxas de juros, riscos (cambiais, fiscais, entre outros), seja pelos custos</p><p>de transação, como o imposto sobre operações financeiras (IOF), informações assimétricas, entre outros.</p><p>A curva BP nesse contexto é inelástica ou verticalizada e é positivamente inclinada devido a um aumento</p><p>da renda agregada, que eleva as importações, que, por sua vez, serão financiadas por um aumento da</p><p>taxa de juros, ou seja, o déficit em transações correntes será financiado pela conta capital, conforme o</p><p>gráfico a seguir, formado com base em Froyen (2006, p. 583).</p><p>28</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>BPTaxa de</p><p>juros (i)</p><p>i brasil > ou < i rm</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>Figura 11 – Curva BP em um contexto de mobilidade imperfeita de capitais</p><p>Dos anos 1970 em diante, com o avanço</p><p>das telecomunicações, a globalização financeira ficou mais</p><p>intensa devido à possibilidade de acesso às informações de cada país e à possibilidade de transações</p><p>financeiras em qualquer parte do mundo em tempo real. O fluxo de capitais em cada país gera tendências</p><p>econômicas e sociais positivas e negativas, bem como interfere nas políticas econômicas adotadas pelos</p><p>países que possuem uma economia aberta, principalmente na política cambial, isto é, no regime e taxas</p><p>cambiais vigentes. Conforme Dornbusch e Fischer (1991, p. 230):</p><p>Sob perfeita mobilidade de capital, o mais delicado diferencial de juros provoca</p><p>infinitos fluxos de capital. Segue-se que, em uma situação de perfeita mobilidade</p><p>de capital, os bancos centrais não podem conduzir uma política monetária</p><p>independente sob taxas de câmbio fixas. A razão é a seguinte: suponha que</p><p>um país decida aumentar as taxas de juros. A política monetária é restritiva e,</p><p>como resultado, as taxas de juros sobem. Imediatamente, os administradores de</p><p>portfólios em todo o mundo sentem a taxa mais alta e deslocam sua riqueza</p><p>para um país que tenha esta taxa. Como resultado da enorme entrada de capital,</p><p>o balanço de pagamentos mostra um gigantesco superávit comercial, a pressão</p><p>resultante por uma apreciação da moeda força o banco central a intervir,</p><p>comprando moeda estrangeira e vendendo moeda doméstica. Esta intervenção</p><p>implica [faz] que o estoque monetário doméstico aumenta[e]. Como resultado, a</p><p>contração monetária inicial é anulada. O processo caminha para um fim quando</p><p>as taxas de juros domésticos voltarem ao seu nível inicial.</p><p>Dependendo do regime cambial e da mobilidade de capital, fica claro que os policy makers, ou</p><p>fazedores de políticas econômicas, necessitam escolher qual política econômica, monetária e/ou fiscal</p><p>escolher para alcançar os objetivos propostos. Por exemplo, em um contexto de taxas de câmbio fixas</p><p>e perfeita mobilidade de capital, não há condições da adoção de uma política monetária independente</p><p>devido à chance de desalinhamento das taxas de juros internas das taxas de juros que prevalecem no</p><p>resto do mundo. Caso seja implementada uma política monetária independente, haverá uma variação</p><p>nos fluxos de capitais e a necessidade de uma intervenção monetária do Banco Central para que as taxas</p><p>de juros voltem a se alinhar.</p><p>29</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Os gráficos a seguir demonstram bem essa dependência da política econômica vigente, no caso a</p><p>política monetária, dos regimes cambiais. No primeiro gráfico, temos uma restrição monetária, isto é,</p><p>uma redução da liquidez e elevação da taxa de juros. Essa elevação, dentro de um contexto de mobilidade</p><p>perfeita de capitais, resulta na entrada de capitais e acréscimo das reservas internacionais, o que favorece</p><p>um regime de câmbio fixo, equilíbrio externo por conta do BP ser positivo, em que a intersecção IS-LM está</p><p>acima da curva BP, e em desequilíbrio interno devido à mesma intersecção IS-LM estar abaixo da linha Y*.</p><p>Entretanto, no segundo gráfico, em que há uma política monetária expansionista por causa do aumento</p><p>da liquidez e à queda da taxa de juros, não é uma condição cambial sustentável dentro de um regime de</p><p>câmbio fixo, mas apenas dentro de um regime de câmbio flutuante. Percebe-se que há desequilíbrio externo</p><p>devido ao BP ser negativo – pela intersecção IS-LM estar abaixo da curva BP, e em equilíbrio interno em</p><p>virtude da mesma intersecção IS-LM estar além da linha Y*. No entanto, esse não é um cenário favorável, pois</p><p>um BP negativo significa perda de reservas internacionais, o que pode levar à mudança do regime cambial.</p><p>LM 2</p><p>LM</p><p>BP = 0</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i = i rm</p><p>IS</p><p>Y*</p><p>Figura 12 – Restrição monetária</p><p>LM 2</p><p>LM</p><p>BP = 0</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i = i rm</p><p>IS</p><p>Y*</p><p>Figura 13 – Expansão monetária</p><p>30</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>2.2 A determinação das principais variáveis do modelo Mundell‑Fleming ou</p><p>modelo IS‑LM‑BP</p><p>O modelo Mundell-Fleming ou modelo IS-LM-BP é um modelo macroeconômico que leva em conta</p><p>a dinâmica entre o lado monetário, por meio da curva LM, e o lado fiscal, por meio da curva IS, e a</p><p>interação de ambas as curvas com o lado externo da economia, por meio da curva BP.</p><p>A curva BP não representa apenas o fluxo de mercadorias, mas também os fluxos de capitais e o</p><p>saldo de reservas internacionais que permitem definir o regime e a taxa de câmbio adotada por cada</p><p>política econômica em uma dada conjuntura econômica.</p><p>Dado que todo modelo econômico é uma abstração da realidade, faz-se necessário retomarmos as</p><p>curvas IS, LM e BP e promover a interação dessas curvas, como forma de determinar a renda.</p><p>Ampliando o modelo, podemos descrever a curva IS da seguinte forma:</p><p>Y = 1/[1-c(1-t)+m] x (A – bi + vR)</p><p>Em que:</p><p>A são os gastos autônomos.</p><p>b é o coeficiente de sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros.</p><p>i é a taxa de juros.</p><p>v é o coeficiente de sensibilidade do balanço de pagamentos no tocante à taxa real de câmbio.</p><p>A curva LM apresenta a mesma forma:</p><p>M/P = kY – hi</p><p>Em que:</p><p>M/P é a oferta real de moeda.</p><p>k é o coeficiente de sensibilidade da demanda por moeda a cerca da renda.</p><p>Y é o nível de renda.</p><p>h é coeficiente de sensibilidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros.</p><p>De forma teórica, o balanço de pagamentos, para estar em equilíbrio, deve ser igual a zero (BP = 0),</p><p>e sua curva pode ser apresentada da seguinte forma:</p><p>31</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>BP = NX + Ka</p><p>Em que:</p><p>NX são as exportações líquidas.</p><p>Ka é o fluxo de capital monetário e financeiro.</p><p>Em que:</p><p>NX = NX – mY + vR</p><p>Ka = Ka + x(i – i* – Re)</p><p>Aqui apresentamos o lado das contas de transações correntes do balanço de pagamentos (NX), em</p><p>que temos as exportações líquidas, a propensão marginal a importar mais e a sensibilidade à taxa real de</p><p>câmbio (vR). Já na segunda equação, temos a conta de capital e financeira (Ka) composta pela entrada</p><p>autônoma de capitais, mais o coeficiente de sensibilidade do diferencial da taxa de juros interna (i), da</p><p>taxa de juros externa (i*) e do impacto cambial.</p><p>Portanto, temos as variáveis exógenas, como os gastos autônomos (A), a oferta real de moeda (M/P),</p><p>as exportações líquidas (NX), e a taxa de juros externa (i*) e o impacto cambial (Re). Os níveis de preços</p><p>ou inflação interna (P) e externa (P*) também são exógenos.</p><p>Exemplo de aplicação</p><p>A partir dos valores mencionados a seguir, derive as equações de equilíbrio IS, LM e BP. Para que</p><p>todos os mercados estejam em equilíbrio, determine os valores do nível de renda (Y), da taxa de juros</p><p>interna (i) e da taxa de câmbio nominal (e).</p><p>O lado real ou mercado de bens é dado da seguinte forma:</p><p>C = 4,75 + 0,75Yd</p><p>T = 3 + 0,3Y</p><p>I = 35 – 2i</p><p>X = 10 – 5/R</p><p>Q = 20 + 2/R + 0,2Y</p><p>32</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>O lado monetário é dado da seguinte forma:</p><p>L = 0,25Y – 0,5i</p><p>M/P = 3/P</p><p>Ka = 20,5 + (i – i* – Re)</p><p>i* = 5</p><p>Re = 10</p><p>P = 1</p><p>P* = 1</p><p>Vamos começar resolvendo a curva IS:</p><p>C = 4,75 + 0,75Yd</p><p>Yd = Y – T</p><p>T = 3 + 0,3Y</p><p>Yd = Y – (3 + 0,3Y)</p><p>Yd = Y – 3 – 0,3Y</p><p>Yd = 0,7Y – 3</p><p>Em que:</p><p>C = 4,75 + 0,75 (0,7Y – 3)</p><p>C = 4,75 + 0,525Y – 2,25</p><p>C = 2,5 + 0,525Y</p><p>Já que encontramos a função consumo, vamos complementar o modelo com as outras variáveis:</p><p>I = 35 – 2i</p><p>G = 30</p><p>33</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>NX = X – Q</p><p>X = 10 – 5/R</p><p>Q = 20 + 2/R + 0,2Y</p><p>NX = (10 – 5/R) – (20 + 2/R + 0,2Y)</p><p>NX = 10 – 5/R – 20 – 2/R – 0,2Y</p><p>NX = – 10 – 7/R – 0,2Y</p><p>Considerando que:</p><p>R = eP*/P em que P = 1 e P* = 1</p><p>R = e</p><p>Em que:</p><p>NX = -10 – 7/e – 0,2Y</p><p>Portanto, temos:</p><p>Y = 2,5 + 0,525Y + 35 – 2i + 30 – 10 – 7/e – 0,2Y</p><p>Y – 0,525Y + 0,2Y = 57,5 – 2i – 7/e</p><p>0,675Y = 57,5 – 2i – 7/e</p><p>Y = 57,5/0,675 – 2i/0,675 – (7/e)/0,675</p><p>Então, passa a ser igual a:</p><p>Y = 1/0,675(57,5 – 2i – 7/e) → Equação (I)</p><p>A curva IS passa a ser, nessa primeira fase, igual a:</p><p>Y = 1,4815(57,5 – 2i – 7/e)</p><p>Elaboremos a curva LM:</p><p>3/P = 0,25Y – 0,5i</p><p>34</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em que:</p><p>Y = 12 + 2i → Equação (II)</p><p>Agora montaremos a curva BP:</p><p>BP = NX + Ka</p><p>Ka = 20,5 + (i -15)</p><p>BP = – 10 – 7/e – 0,2Y + 20,5 + i -15</p><p>BP = -5,5 – 7/e – 0,2Y + 20,5 + i</p><p>Como, teoricamente, BP = 0, temos:</p><p>-5,5 – 7/e – 0,2Y + i = 0</p><p>-5,5 – 7/e + i = 0,2Y</p><p>Y = -22,5 – 35/e + 5i → Equação (III)</p><p>Muito bem, agora vamos pegar a equação (II) e substituir na equação (I) e, nela, igualar as equações</p><p>(I) e (II) e depois as equações (II) e (III):</p><p>1,4815(57,5 – 2i – 7/e) = 12 + 2i → Equação (I´)</p><p>12 + 2i = -22,5 – 35/e + 5i → Equação (III´)</p><p>Lembremos que a incógnita não poderá ser um número negativo, então multiplicamos por -1 ou</p><p>invertemos os lados:</p><p>35/e = 3i + 34,5</p><p>Para facilitar, vamos desmembrar o 35, isto é, 35/5 = 7:</p><p>5(7/e) = 3i – 34,5</p><p>Em seguida, passamos o 5 para o outro lado, dividindo:</p><p>7/e = 3i/5 – 34,5/5</p><p>7/e = 3i/5 – 6,9</p><p>35</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>Subtraiamos a equação (I´):</p><p>1,4815 [57,5 – 2i(3i/5 – 6,9)] = 12 + 2i</p><p>1,4815(64,4 – 13i/5) = 12 + 2i</p><p>95,41 – 3,85i = 12 + 2i</p><p>83,41 = 5,85i</p><p>i = 83,41/5,85</p><p>i = 14,26</p><p>Por fim, substituamos o valor de i nas equações (II) e (I´):</p><p>Y = 12 + 2(14,26)</p><p>Y = 40,52</p><p>7/e = [3/5(14,26)] – 6,9</p><p>7/e = 8,556 – 6,9</p><p>e = 7/1,656</p><p>e = 4,23</p><p>3 MOBILIDADE DE CAPITAIS E SUA DINÂMICA</p><p>3.1 Mobilidade perfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial fixo</p><p>Ao estudarmos políticas econômicas e seus objetivos, temos que ter claro os quatro fundamentos</p><p>macroeconômicos que norteiam as teorias e modelos desenvolvidos. São eles: crescimento econômico,</p><p>baixo desemprego, estabilidade de preços e distribuição equitativa da renda.</p><p>Com tal compeensão, é possível entender melhor os objetivos de política econômica, bem como</p><p>saber a eficiência dessas políticas por meio desses fundamentos, isto é, ao tomarmos uma decisão de</p><p>política monetária ou fiscal, isso levará ao crescimento econômico? São essas questões que temos que</p><p>analisar e avaliar no modelo IS-LM-BP.</p><p>36</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Em um contexto de mobilidade perfeita de capitais, regime de câmbio fixo e a decisão de uma política</p><p>monetária expansionista por meio do aumento da oferta de moeda (M1) na economia ou aumento da</p><p>liquidez, há um deslocamento da curva LM para a direita, isto é, para um novo ponto de equilíbrio IS-LM</p><p>abaixo da curva BP, cujo resultado será um maior nível de renda (Y), supostamente, um crescimento</p><p>econômico, conforme podemos ver no próximo gráfico, elaborado a partir de Froyen (2006, p. 596).</p><p>Percebe-se que o novo ponto de equilíbrio IS-LM será abaixo da curva BP, em que a taxa de juros</p><p>doméstica será abaixo da taxa de juros internacional e, por esse motivo, haverá a saída de capitais do</p><p>Brasil devido ao fato de os capitais estarem buscando o maior rendimento possível entre os países do</p><p>resto do mundo, nesse caso evidenciado pela taxa de juros (i rm). Como estamos em um contexto de</p><p>câmbio fixo determinado pelo Banco Central (Bacen), em que sabemos que para manter um câmbio fixo</p><p>há a necessidade de acumular reservas internacionais, mas com a política monetária adotada, há a saída</p><p>de capitais, ou seja, a redução das reservas internacionais.</p><p>Nesse cenário, o Banco Central irá anular a política monetária expansionista devido à perda de</p><p>reservas internacionais para manter o regime cambial no regime de câmbio fixo, isto é, o Bacen irá</p><p>elevar novamente a taxa de juros interna, cuja curva LM e o nível de renda voltaram para a posição</p><p>inicial, ou seja, a decisão da política monetária expansionista deverá ser anulada, o que, por sua vez,</p><p>não surtirá os efeitos desejados de crescimento econômico, portanto, iremos considerar que a política</p><p>monetária expansionista foi ineficaz.</p><p>LM (M1)</p><p>LM</p><p>BP</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil = i rm</p><p>IS</p><p>Ye</p><p>Figura 14 – Ineficiência da expansão monetária</p><p>No entanto, dentro do mesmo contexto de mobilidade perfeita de capitais e regime de câmbio fixo, a</p><p>utilização de uma política fiscal expansionista, isto é, elevação dos gastos públicos (G1) passa a ser uma</p><p>alternativa viável em relação à política monetária expansionista, conforme o gráfico a seguir, também</p><p>com base em Froyen (2006, p. 597).</p><p>37</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>MACROECONOMIA ABERTA</p><p>A partir do equilíbrio IS-LM inicial, um aumento dos gastos públicos desloca a curva IS para a</p><p>direita, cujo novo ponto de equilíbrio será acima da curva BP e em um ponto em que a taxa de juros</p><p>interna será maior que a taxa de juros internacional, ponto B do gráfico, proporcionando a entrada de</p><p>capitais e o acúmulo de reservas internacionais. Caso o Banco Central queira manter a taxa de juros</p><p>inicial, entretanto, com um nível de renda mais elevado, ele irá fazer uma acomodação monetária, ou</p><p>seja, elevar a oferta de moeda na mesma proporção do aumento da demanda por moeda gerado pelo</p><p>ampliação do nível de renda (Y2).</p><p>Percebe-se que a política fiscal foi eficiente, pois resultou no acréscimo do nível de renda de Ye para</p><p>Y2 de forma consolidada, isto é, elevou o nível de renda sem gerar conflitos de política econômica, ou</p><p>seja, a decisão de uma política fiscal expansionista permitiu uma acomodação monetária que evitou</p><p>também o efeito crowding-out, ou efeito deslocamento de gastos privados por gastos públicos, que são</p><p>gerados pela extensão da taxa de juros e inibem o nível de investimento do setor privado (Y1). Assim,</p><p>preservou o regime de câmbio fixo.</p><p>LM (M1)</p><p>LM</p><p>BP</p><p>IS (G1)</p><p>CA</p><p>B</p><p>Taxa de</p><p>juros (i)</p><p>Nível de</p><p>renda (Y)</p><p>i brasil = i rm</p><p>i brasil > i rm</p><p>IS</p><p>Ye Y1 Y2</p><p>Figura 15 – Eficiência da expansão fiscal</p><p>3.2 Mobilidade perfeita de capitais e os impactos das políticas econômicas</p><p>dentro de um contexto de regime cambial flutuante</p><p>Mantendo nossos estudos dentro de um contexto de mobilidade perfeita de capitais, entretanto,</p><p>altera-se o regime cambial, que agora passa a ser o de câmbio flutuante ou flexível, em que a taxa de</p><p>câmbio é determinada pela oferta e demanda de moeda estrangeira ou dólares.</p><p>Conforme o gráfico a seguir, elaborado a partir de dados de Froyen (2006, p. 601), que faz a relação</p><p>entre taxa de câmbio (e) e a quantidade de moeda estrangeira ou reservas internacionais (Q US$), em</p><p>um regime de câmbio fixo, teríamos uma taxa de câmbio fixa ou constante (ē), em que o Banco Central,</p><p>para manter a taxa constante, faria a oferta de moeda estrangeira em relação à demanda por moeda</p><p>Highlight</p><p>38</p><p>Re</p><p>vi</p><p>sã</p><p>o:</p><p>R</p><p>os</p><p>e</p><p>-</p><p>Di</p><p>ag</p><p>ra</p><p>m</p><p>aç</p><p>ão</p><p>: M</p><p>ár</p><p>ci</p><p>o</p><p>-</p><p>03</p><p>/0</p><p>7/</p><p>20</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>estrangeira, ponto A do gráfico. No entanto, caso a demanda por moeda estrangeira seja maior que</p><p>a oferta de moeda estrangeira, haverá uma desvalorização cambial (e1), ponto B do gráfico, e caso a</p><p>oferta seja maior que a demanda, haverá uma valorização cambial, cujo ponto C do gráfico demonstra</p><p>a taxa de câmbio voltando para seu nível inicial.</p><p>Oferta US$ 1</p><p>Demanda US$ 1</p><p>Oferta US$ 2</p><p>Demanda US$ 2</p><p>CA</p><p>B</p><p>Taxa de</p><p>câmbio (e)</p><p>Reservas</p><p>internacionais</p><p>e</p><p>e1</p><p>Q US$ 1 Q US$ 2 Q US$ 3</p><p>Figura 16 – Oferta e demanda por dólares e taxa de câmbio</p><p>Observação</p><p>Segundo Froyen (2006, p. 600): “Crises cambiais são episódios em que</p><p>um governo é obrigado a abandonar sua política de controle ou fixação do</p><p>câmbio por deixar de dispor de reservas internacionais.”</p><p>Nesse contexto de câmbio flutuante, a decisão de uma política monetária expansionista por meio do</p><p>aumento da oferta de moeda (M1) na economia ou elevação da liquidez, em que há um deslocamento</p><p>da curva LM para</p>

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