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<p>TEORIA DO ESTADO</p><p>Aula 1</p><p>A GÊNESE DO MODERNO</p><p>ESTADO.</p><p>A Gênese do Moderno Estado</p><p>Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você.</p><p>Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação</p><p>profissional. Vamos assisti-la? Bons estudos!</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>Alto Contraste A- A+ Imprimir</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 1/52</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2A1_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>Ponto de Partida</p><p>Na atualidade, estamos acostumados a culpabilizar o Estado pela</p><p>maioria das questões que nos envolvem. Do preço dos combustíveis</p><p>ao pãozinho que consumimos na padaria, o Estado, no imaginário</p><p>comum, é sempre o responsável pelas mazelas e pela economia</p><p>que presenciamos. Por que os aspectos sociais e econômicos são</p><p>sempre cobrados do Estado no sentido amplo? O que nos leva a</p><p>observar de imediato o Estado como responsável pelo trato</p><p>econômico e social em nossas vidas? Se o Estado é o principal</p><p>responsável pela economia e seus aspectos contraditórios, não</p><p>bastaria trocar de governo ou governante para solucionar os</p><p>problemas? Veremos nesta aula que isso não é tão simples, e só</p><p>poderemos compreender os aspectos políticos da realidade</p><p>contemporânea se observarmos também a origem e a gênese do</p><p>Estado moderno. Ótimos estudos!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A desintegração do mundo feudal</p><p>O Estado moderno como o conhecemos surgiu da desintegração do</p><p>mundo feudal, do feudalismo europeu e dos conflitos presentes</p><p>naquele continente e que se acirraram a partir do século XVI. Isso</p><p>não quer dizer que seu surgimento tem data marcada no calendário,</p><p>e que a intensa troca comercial que se desenvolve a partir da crise</p><p>do feudalismo naquele continente não tenha modificado o cenário</p><p>para a formação do Estado moderno, muito pelo contrário. O que</p><p>ocorreu no continente Europeu naquele período marcou</p><p>definitivamente a história do mundo.</p><p>Mas a história do Estado moderno não se desenhou de maneira</p><p>idêntica em todos os países da Europa. Para compreender a sua</p><p>gênese, é preciso adicionar o entendimento do final da Idade Média</p><p>e da crise do sistema feudal e seus estamentos de maneira</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 2/52</p><p>complexa, a fim de compreender que em cada porção do território</p><p>europeu esse feudalismo encontrou funcionamento próprio, o que</p><p>vai nos levar ao entendimento da história inglesa em um primeiro</p><p>momento.</p><p>Raquel Kritsch (2004) vai apontar os elementos do processo de</p><p>constituição do Estado moderno – entre os quais a noção de</p><p>soberania – que estão nos séculos finais do medievo e de</p><p>centralização da política de maneira desigual.</p><p>Essa nova realidade, que não se configurou ao mesmo tempo</p><p>nem por um processo único em toda a Europa, apresentou</p><p>algumas características comuns. Procura-se argumentar que</p><p>os conflitos entre os vários atores envolvidos nesse processo</p><p>foram, simultaneamente, de natureza política e jurídica, e que</p><p>nessa discussão construíram-se os alicerces legais e</p><p>ideológicos do poder do Estado, ao mesmo tempo em que se</p><p>determinou sua extensão (Kritsch 2004, p. 103).</p><p>Na Inglaterra podemos observar historicamente uma forma de</p><p>gestação do Estado moderno que mais está encaixada com a</p><p>realidade capitalista que será formatada com o processo da</p><p>Revolução Industrial. Portanto, trata-se de entender primeiro que o</p><p>Estado aparece como reflexo das forças sociais, do declínio do</p><p>feudalismo e a preservação do poder centralizado, e que:</p><p>não se configurou toda ao mesmo tempo nem por um</p><p>processo único em toda a Europa. […]</p><p>O novo poder desenvolveu-se antes na Inglaterra que no</p><p>continente. No caso inglês, a Coroa afirmou-se contra os</p><p>barões, internamente, e, no exterior, contra a Igreja. No</p><p>continente, as forças em confronto são fundamentalmente</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 3/52</p><p>quatro: a monarquia nascente, o Império, o Papado e os</p><p>poderes locais (Kritsch, 2004, p. 103).</p><p>Mas de quem estamos falando? De quem era o poder e quais os</p><p>atores e personagens responsáveis pela transformação econômica,</p><p>jurídica e política que consolidou a forma de um Estado moderno?</p><p>Da Revolução de Avis em Portugal em 1383 à Revolução Inglesa do</p><p>século XVII, houve um longo caminho que só podemos</p><p>compreender a partir dos agentes comuns na história, que são:</p><p>1) a troupe do Estado (rei, ministros, burocratas, juízes,</p><p>coletores de impostos etc.);</p><p>2) os elementos urbanos emergentes (artesãos e suas</p><p>corporações de ofício, comerciantes, prestadores de serviços</p><p>etc.);</p><p>3) uma intelectualidade que, embora dividida partidariamente</p><p>e, portanto, dependente quase sempre ou da Igreja ou da</p><p>espada, passou a constituir um fator de poder;</p><p>4) os grupos, em geral das camadas inferiores e muitas vezes</p><p>participantes de desordens e sublevações, envolvidos nos</p><p>movimentos heréticos ou de oposição às doutrinas religiosas</p><p>dominantes (Kritsch, 2004, p. 104).</p><p>Devido ao esgotamento das forças produtivas feudais, que não</p><p>sustentavam a intensa formação comercial que extrapolou a</p><p>fronteira e os muros do feudo, pudemos observar na história que a</p><p>formação dos agentes sociais responsáveis por uma nova forma de</p><p>sustentação do poder só puderam aparecer em novas condições de</p><p>produção, que encontravam no comércio uma intensidade nunca</p><p>vista e que expandiu as fronteiras territoriais, redesenhando o mapa</p><p>do mundo.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 4/52</p><p>Siga em Frente...</p><p>O mercantilismo e o colonialismo</p><p>Não podemos negar que a crise do modelo feudal europeu foi</p><p>também a derrocada de um tipo específico de sociedade que estava</p><p>baseada na produção agrícola e de subsistência em relações servis.</p><p>A formação de segmentos sociais capazes de acomodar o poder</p><p>centralizado nos mais variados países da Europa apareceu como</p><p>resultante dos conflitos ao final da Idade Média, que com a formação</p><p>de um enorme poder centralizado em Estados permitiu a expansão</p><p>territorial, o domínio, a exploração e o enriquecimento das regiões</p><p>que se formaram em Estados centralizados. Esse poder chega a tal</p><p>nível que o chamaremos, mais à frente na história, de absoluto.</p><p>Fato é que as transformações foram estruturais. Isso quer dizer:</p><p>transforma-se a forma econômica e de produção, transforma-se a</p><p>forma política e jurídica de maneira ampla e transforma-se a</p><p>sociedade em suas relações. O mercantilismo marcará a forma</p><p>econômica a partir da centralização e domínio dos Estados com o</p><p>declínio medieval, o Estado moderno encontra sua primeira forma</p><p>no absolutismo, e a sociedade estamental que caracterizou o</p><p>modelo feudal europeu será solapada e substituída a partir do</p><p>aparecimento da burguesia comercial:</p><p>Estavam eles muito interessados no assunto porque pensar</p><p>em termos de um Estado nacional, de todo um país em vez</p><p>de uma cidade, apresentava novos problemas. Era preciso</p><p>considerar não o que seria melhor para a cidade de</p><p>Southampton ou a cidade de Lyon ou a cidade de Amsterdã,</p><p>mas o que seria melhor para a Inglaterra, a França ou a</p><p>Holanda. Queriam transferir para o plano nacional os</p><p>princípios que haviam tornado as cidades ricas e importantes.</p><p>Tendo organizado o Estado político, voltaram suas atenções</p><p>para o Estado econômico. As coisas que escreveram e as leis</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 5/52</p><p>que defenderam tinham, todas, um conteúdo nacional. Os</p><p>governos aprovaram leis que, no seu entender, trariam</p><p>riqueza e poder a toda a nação. Na busca de tal objetivo,</p><p>mantinham o olho em todos os aspectos da vida diária e</p><p>modificavam, moldavam e regulavam todas as atividades de</p><p>seus súditos</p><p>Rio Grande, XVII, n. 129, out.</p><p>2014. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?</p><p>n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15286. Acesso em: 30 dez.</p><p>2023.</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>TEORIA DO ESTADO</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 43/52</p><p>https://houaiss.uol.com.br/corporativo/apps/uol_www/v6-1/html/index.php#1</p><p>https://houaiss.uol.com.br/corporativo/apps/uol_www/v6-1/html/index.php#1</p><p>Videoaula de Encerramento</p><p>Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você.</p><p>Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação</p><p>profissional. Vamos assisti-la? Bons estudos!</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>Ponto de Chegada</p><p>Olá, estudante!</p><p>Para desenvolver a competência desta unidade, que é a de analisar</p><p>a importância da formação do Estado Moderno no cenário da</p><p>Europa Ocidental e a partir destes feitos, buscar comparar e</p><p>diferenciar os processos e as profundas transformações sócio-</p><p>históricas que contribuíram para a organização do Estado no</p><p>capitalismo, você deverá primeiramente conhecer os elementos</p><p>históricos de sua caracterização, os pensadores que a ciência</p><p>política estuda e os principais elementos que estabelecem relação</p><p>com o Estado na sua forma mais contemporânea.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 44/52</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2Enc_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>Com esse caminho, é possível enriquecer o nosso campo de</p><p>estudos em ciência política, a partir da gênese do Estado moderno</p><p>até a formação do capitalismo na sua forma industrial. O que temos</p><p>de ter como elemento fundamental na concepção dessa forma de</p><p>Estado que nos circula? Historicamente, a centralização do poder e</p><p>da força das armas e da violência, como destaca Max Weber (2001),</p><p>que</p><p>só se pode definir o Estado moderno, sociologicamente, em</p><p>última instância, por um meio que lhe é próprio, assim como a</p><p>toda associação política: a violência física.</p><p>Assim como uma formação própria, a partir do feudalismo de tipo</p><p>europeu.</p><p>O Estado seria, assim, uma “relação de dominação de</p><p>homens sobre homens” relação esta que estaria apoiada no</p><p>monopólio dos meios de coação legítima. A questão da</p><p>legitimidade torna-se fundamental, já que apenas ela seria a</p><p>garantia última da subsistência de uma associação política. A</p><p>força e a violência são essenciais na vida política, segundo</p><p>Weber. Essa afirmação da força e da violência como</p><p>categorias irredutíveis e autônomas da política aproximou</p><p>sociólogo alemão de Nicolau Maquiavel (Bianchi, 2014, p.</p><p>100).</p><p>Também destaca o campo teórico do materialismo histórico e</p><p>dialético, quando analisa a origem do Estado:</p><p>Como o Estado nasceu da necessidade de conter o</p><p>antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, nasceu</p><p>em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o Estado da</p><p>classe mais poderosa, da classe economicamente dominante,</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 45/52</p><p>classe que, por intermédio dele, se converte também em</p><p>classe politicamente dominante e adquire novos meios para a</p><p>repressão e exploração da classe oprimida. Assim, o Estado</p><p>antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de escravos</p><p>para manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o</p><p>órgão de que se valeu a nobreza para manter a sujeição dos</p><p>servos e camponeses dependentes; e o moderno Estado</p><p>representativo é o instrumento de que se serve o capital para</p><p>explorar o trabalho assalariado. Entretanto, por exceção há</p><p>períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal</p><p>modo que o Poder do Estado, como mediador aparente,</p><p>adquire certa independência momentânea em face das</p><p>classes. Nesta situação, achava-se a monarquia absoluta dos</p><p>séculos XVII e XVIII, que controlava a balança entre a</p><p>nobreza e os cidadãos [...] (Engels, 1984, p. 177).</p><p>Em relação a essa forma moderna de Estado que foi sendo</p><p>construída a partir do declínio do modo de produção feudal europeu</p><p>e que genericamente reuniu as condições para o processo</p><p>capitalista que se formaria a partir dali, podemos mencionar o século</p><p>XVI como uma espécie de início de um processo de concentração</p><p>do poder político legalista, que só pôde ter se construído a partir do</p><p>núcleo duro da concepção de Estado como observamos.</p><p>Com o colapso medieval, surge o Renascimento, que</p><p>antecede a Idade Moderna. Nas cidades-estados italianas</p><p>surgem os primeiros Estados que apresentam os traços</p><p>essenciais do que convencionamos denominar hoje Estado</p><p>moderno. O Renascimento é a expressão cultural de um</p><p>longo e complexo processo histórico, resultado de uma nova</p><p>forma de interpretar a realidade (Dias, 2013, p. 58).</p><p>A primeira forma do Estado Moderno que surge é o Estado</p><p>absolutista, que pode ser definido</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 46/52</p><p>como o monopólio da força que atua sobre três planos:</p><p>jurídico, político, sociológico […]:</p><p>No plano jurídico, “com a afirmação do conceito de soberania</p><p>que confia ao estado o monopólio da produção de normas</p><p>jurídicas, pois não existe um direito vigente acima do Estado</p><p>que possa limitar sua vontade” [...] No plano político, o Estado</p><p>absolutista “tenta absorver toda a zona alheia a seu poder de</p><p>intervenção e controle, e impõe uniformidade legislativa e ad-</p><p>ministrativa contra toda forma de particularismo. [...] No plano</p><p>sociológico, o Estado absolutista “se apresenta como Estado</p><p>administrativo, na medida em que o príncipe tem a sua</p><p>disposição um instrumento operacional novo, a moderna</p><p>burocracia, que é uma máquina que atua de maneira racional</p><p>e eficiente com uma nova finalidade” (Dias, 2013, p. 63).</p><p>É nesse cenário que surgirão os contratualistas. Na existência desse</p><p>acordo tácito e que paira sobre a sociedade, na dimensão da</p><p>preservação daqueles direitos que os “homens” naturalmente têm e</p><p>que a todos deve regular na existência de um poder exterior e maior.</p><p>Com o avanço da era moderna, o processo de centralização do</p><p>poder político caminha em meio ao desenrolar de novas forças</p><p>produtivas, que vão amadurecendo de um intenso período comercial</p><p>à expansão marítima das colônias. O século XVIII ao mesmo tempo</p><p>que ilustra as maiores monarquias absolutas, também é marcado</p><p>pela contestação delas, pelo Iluminismo e as revoluções políticas.</p><p>As Constituições modernas e a sujeição da monarquia ao arcabouço</p><p>de leis próprias é uma característica do mundo moderno, das</p><p>revoluções políticas e burguesas na Europa. Elementos como a</p><p>Revolução Industrial, o liberalismo, a Revolução Inglesa, a</p><p>Revolução Americana e a Revolução Francesa são marcos</p><p>definidores para o mundo contemporâneo que conhecemos.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 47/52</p><p>A Revolução não começou como uma luta de classes, exceto</p><p>pelo campesinato, mas se tornou uma luta de classes, assim</p><p>como se tornou uma luta nacional. As classes não eram</p><p>puras, pois também se definiam por forças ideológicas,</p><p>militares e políticas. A Revolução se tornou burguesa e</p><p>nacional menos a partir da lógica do desenvolvimento dos</p><p>modos de produção, do feudal para o capitalista, e sim pelo</p><p>militarismo estatal (gerando dificuldades fiscais), da sua</p><p>incapacidade de institucionalizar as relações entre elites e</p><p>partidos em guerra, e da expansão das infraestruturas</p><p>ideológicas discursivas, sustentando princípios alternativos</p><p>(Mann, 2022, p. 6).</p><p>É pela reunião dessas condições que podemos falar em um mundo</p><p>contemporâneo, de relações legalistas e capitalistas, em que as</p><p>condições sociais, políticas e civis podem ser colocadas à figura do</p><p>“cidadão” moderno, porque o conceito de cidadania passa pelo rol</p><p>de direitos</p><p>e obrigações atribuídos a alguém pelo Estado. O fato de</p><p>atualmente podermos contestar, protestar e reclamar direitos advém</p><p>das revoluções modernas – se podemos contestar definições e</p><p>encaminhamentos políticos, de nos</p><p>organizarmos e reivindicarmos posicionamentos do Estado no</p><p>que se refere a demandas da população, entre muitas outras</p><p>coisas, iniciou-se com o processo revolucionário originário na</p><p>França (Feitosa, 2016, p. 21), por exemplo.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Segundo os autores estudados, o Estado se forma a partir do</p><p>contrato social estabelecido entre os homens, seja para garantir a</p><p>vida, a liberdade, ou a propriedade, o que faz do Estado um ente</p><p>presente entre os homens e regulamentador das atividades</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 48/52</p><p>humanas. Isso não quer dizer que ele independa dos homens.</p><p>Vimos que há a sociedade política e a sociedade civil, e que esta,</p><p>para alguns autores, pode ser atuante no processo de fiscalização</p><p>do governo soberano. Para verificarmos a importância da formação</p><p>do Estado Moderno no cenário da Europa Ocidental e a partir destes</p><p>feitos, buscar comparar e diferenciar os processos e as profundas</p><p>transformações sócio-históricas que contribuíram para a</p><p>organização do Estado no capitalismo, imaginemos a situação da</p><p>Paula, que tem 24 anos, faz parte do movimento de saúde de São</p><p>Paulo e participa do Conselho Municipal de Saúde.</p><p>O Estado brasileiro é federalista e há funções diferentes para cada</p><p>um dos níveis da federação, como no caso da Saúde. A pasta da</p><p>saúde gera o Sistema Único de Saúde, o SUS. Criado</p><p>nacionalmente e garantido pela Constituição de 1988, o SUS é de</p><p>responsabilidade da União, dos Estados e dos municípios. O</p><p>Conselho Municipal de Saúde de São Paulo, entre outras atividades,</p><p>discute a distribuição dos recursos da saúde em âmbito municipal.</p><p>Esses recursos são de origem municipal, estadual e federal.</p><p>Paula considera que os recursos são poucos e gostaria de ampliá-</p><p>los. Como são definidos estes valores? Quem decide isso e de que</p><p>forma? Em suas pesquisas a respeito do assunto, Paula descobriu</p><p>que quem define isso é a Constituição e esta corresponsabilidade</p><p>tem a ver com o federalismo. Afinal, o que é a Constituição? Como</p><p>esta ideia de uma lei geral surgiu? Como e por que se definem as</p><p>diferentes responsabilidades de cada nível de governo com relação</p><p>à saúde e aos anseios da população?</p><p>Reflita</p><p>Diante do mundo que nos cerca, dos direitos e obrigações que nos</p><p>são atribuídos, poderíamos questionar o poder sem a presença do</p><p>Estado moderno?</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 49/52</p><p>O que delimita que o espaço dos indivíduos possa ser delimitado e</p><p>demarcado, sem que nos consumamos em uma luta estéril?</p><p>Por que as leis da nossa época não são as mesmas leis que</p><p>formaram a sociedade capitalista a partir da Revolução Industrial e</p><p>das revoluções burguesas?</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>Resolução do estudo de caso</p><p>Você conheceu melhor as revoluções burguesas e a importância</p><p>que elas tiveram para sedimentar a Constituição como documento</p><p>que regulamenta a vida dos homens e impõe limite à atuação dos</p><p>governantes. Percebemos que o federalismo pode ser uma forma de</p><p>organização do Estado e que a Constituição é que deve estabelecer</p><p>os critérios e a autonomia de um Estado Federal. O Brasil é um país</p><p>federativo – organizado em União, Estados e municípios, cada um</p><p>dos entes federados tem responsabilidades, autonomia e limites nas</p><p>relações entre si. Como um país federativo, algumas políticas</p><p>públicas são descentralizadas, ou seja, têm origem na União, mas</p><p>são geridas por Estados e municípios, de forma autônoma. Essa</p><p>descentralização é garantida pela Constituição Federal de 1988. De</p><p>onde vem essa tradição de criar uma lei geral que determina os</p><p>pilares de um país, os direitos e as obrigações dos governantes? A</p><p>primeira dessas experiências, mais parecida com o que temos</p><p>atualmente veio da Inglaterra, com a Bill of Rights. Também a</p><p>Independência e a Constituição Americanas foram importantes para</p><p>a criação deste tipo de ordenamento legal. E a Declaração dos</p><p>Direitos do Homem e do Cidadão, forjada durante a Revolução</p><p>Francesa, fecha as três principais experiências históricas que mais</p><p>nos influenciaram quanto ao federalismo e ao constitucionalismo.</p><p>Não podemos negar que para ajudar Paula, temos que resgatar a</p><p>importância desses fatos na construção do Estado Contemporâneo.</p><p>Com certeza essas ideias nos influenciaram a ponto de interferir até</p><p>em políticas setoriais específicas, como o SUS, que determina</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 50/52</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2Pod_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>responsabilidades diferentes e compartilhadas para cada nível de</p><p>governo com relação à saúde pública brasileira.</p><p>Dê o play!</p><p>Assimile</p><p>Fonte: elaborada pelo autor.</p><p>Referências</p><p>BIANCHI, Á. O conceito de estado em Max Weber. Lua Nova:</p><p>Revista de Cultura e Política, n. 92, p. 79–104, maio 2014.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 51/52</p><p>Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000200004.</p><p>Acesso em: 30 dez. 2023.</p><p>BORON, A. (org.). Filosofia política moderna: de Hobbes a Marx.</p><p>Buenos Aires: Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais –</p><p>CLACSO, 2006.</p><p>DIAS, R. Ciência Política. São Paulo: Atlas S.A., 2013.</p><p>ENGELS, F. A origem da família da propriedade privada e do</p><p>Estado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1984.</p><p>FEITOSA, S. Da Revolução Francesa até nossos dias: um olhar</p><p>histórico. Curitiba: Intersaberes, 2016.</p><p>MANN, M. As fontes do poder social: o surgimento das classes e</p><p>dos estados-nações, 1760-1914. São Paulo: Vozes, 2022.</p><p>WEBER, M. Política como vocação e ofício. São Paulo: Vozes,</p><p>2021.</p><p>WEBER, M. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix,</p><p>2011.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 52/52</p><p>https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000200004</p><p>(Huberman, 2017, p. 93).</p><p>A pergunta a ser respondida no período era: o que torna um país</p><p>rico e poderoso? As respostas eram inúmeras, mas um elemento</p><p>apareceria em todas elas: ouro e prata. Portanto, acumular riqueza</p><p>parecia a forma de demarcar o poder. Essa foi a característica</p><p>central do mercantilismo e que marcou a origem do Estado em sua</p><p>acepção moderna. Um Estado forte era um Estado rico, e a riqueza</p><p>em ouro e prata parecia mais acertada.</p><p>O “metalismo” como é conhecido até hoje, foi a política econômica</p><p>adotada pelos Estados em países na gênese do Estado moderno</p><p>em sua forma absolutista, que foi a forma como os países</p><p>administraram a riqueza socialmente. Por esse motivo, talvez a</p><p>Espanha tenha sido, no século XVI, o mais rico e poderoso país do</p><p>mundo, por concentrar o poder econômico a partir do mercantilismo</p><p>e a exploração colonial que marca esse modelo de consolidação do</p><p>moderno Estado.</p><p>O mercantilismo não era um sistema no atual sentido da</p><p>palavra, mas antes diversas teorias econômicas aplicadas</p><p>pelo Estado em um momento ou outro, num esforço para</p><p>conseguir riqueza e poder. Os estadistas ocupavam-se do</p><p>problema não porque lhes agradasse pensar nele, mas</p><p>porque seus governos estavam sempre extremamente</p><p>interessados na questão – sempre quebrados e precisando</p><p>de dinheiro. (Huberman, 2017, p. 93).</p><p>A gênese da concepção de estado no ocidente</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 6/52</p><p>A origem do Estado moderno é também a origem de um processo</p><p>intenso de exploração colonial. Com a política centralizada dos</p><p>Estados que buscavam cada vez mais o poder em riquezas no ouro</p><p>e na prata acumuladas, a exploração de novos territórios em</p><p>domínio e o extermínio das populações foi um traço marcante da</p><p>variável do poder na Europa e nos vários territórios explorados e</p><p>ocupados a partir do século XVI, prioritariamente. O Brasil é um</p><p>exemplo clássico.</p><p>A forma moderna de Estado da qual tratamos é essa de origem</p><p>europeia pela identificação, entre uma série de fatores, à formação</p><p>social e econômica que será chamada de capitalismo. Cada Estado</p><p>tem a sua própria formação, porém os elementos que caracterizam</p><p>melhor a ligação do tipo de Estado que atualmente conhecemos são</p><p>os que serão formados a partir dessa matriz, que reúne condições</p><p>de lutas históricas e a concentração do poder a partir de relações</p><p>comerciais e feudais, e que, por sua vez, reúnem algumas</p><p>características do Estado na antiguidade. Observe na passagem a</p><p>seguir alguns exemplos:</p><p>Na Península Ibérica, depois da vitória definitiva das armas</p><p>cristãs sobre os muçulmanos, nascem o reino de Aragão e o</p><p>de Portugal; consolidaram-se como estados fortes, mas por</p><p>meio de uma história inteiramente diversa, o reino de França</p><p>e o de Inglaterra – o primeiro, com a pressão da monarquia</p><p>sobre as classes feudais e por meio da exaltação do</p><p>elemento citadino; o segundo, com a aliança triunfante das</p><p>várias camadas sociais contra a monarquia –; no coração da</p><p>Europa, o reino da Alemanha, com a prevalência dos grandes</p><p>feudatários, acentuou cada vez mais uma política</p><p>nacionalista, enquanto um novo Estado dele destacou-se, a</p><p>Áustria; ao Norte, afirmaram-se os estados escandinavos,</p><p>com predomínio do reino da Dinamarca; surgiram os reinos</p><p>da Lituânia, da Polônia, da Rússia; enquanto ao Sul a</p><p>Hungria, a Sérvia, a Croácia, a Bulgária, a Romênia, a</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 7/52</p><p>Albânia consolidaram-se como estados. Eram ordenamentos</p><p>políticos novos ou em renovação, que se ergueram sobre um</p><p>fundo turbulento de lutas gigantescas, em que os povos</p><p>europeus empenharam-se freqüentemente contra forças</p><p>extra-européias (dos muçulmanos no Sul aos mongóis no</p><p>Leste). E, como organismos jovens, não queriam sentir-se</p><p>ligados pelas amarras de ideologias tradicionais, embora,</p><p>note-se bem, como estados cristãos, vinculados à Igreja de</p><p>Roma, não podiam, pela estrutura mesma do mundo</p><p>medieval, ignorá-las (Calasso apud Kritsch, 2004, p. 106).</p><p>Portanto, a própria gênese do Estado moderno deve ser buscada:</p><p>para frente na exploração e domínio coloniais, e para trás, nas</p><p>características fundamentais da preservação do poder que surge</p><p>como forma de domínio alternativo à crise do feudalismo e dos</p><p>padrões de domínio na Europa, já que o processo de concentração</p><p>do poder em Estados foi a máxima recorrida para preservar os</p><p>estatutos e territórios.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>A ligação que atualmente fazemos de maneira imediata, nas nossas</p><p>conversas menos científicas e no senso comum, atribuindo ao</p><p>Estado as mazelas e problemas da sociedade, está diretamente</p><p>ligada ao processo de formação do próprio Estado moderno. Você</p><p>verificou que, na sua constituição, o poder foi concentrado para</p><p>manter, de um lado, o domínio, e de outro, a acumulação</p><p>mercantilista. O Estado como agente econômico será mais bem</p><p>compreendido a partir da sua formatação contemporânea e como</p><p>produto das revoluções políticas na Europa – porém, da sua gênese</p><p>e dos elementos que circulam o século XVI vem a noção de que a</p><p>concentração econômica e política nos faz ligar o Estado moderno</p><p>com as questões econômicas produtoras das próprias</p><p>desigualdades atuais. Por esse motivo nosso estudo é tão</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 8/52</p><p>importante. O atual momento capitalista só pode ser compreendido</p><p>se entendermos a origem e formação do próprio Estado moderno, e</p><p>esse é o papel do cientista político.</p><p>Saiba Mais</p><p>Você sabia que a primeira forma centralizada de poder que se</p><p>consolidará independente e centralizada na forma de Estado</p><p>moderno surgiu em Portugal com a chamada Revolução de Avis?</p><p>Você pode orientar seus estudos pela compreensão da gênese e da</p><p>formação do Estado moderno com as referências que entendem o</p><p>Estado da maneira ocidental moderna, assim como pela Revolução</p><p>de Avis, na leitura do artigo indicado a seguir.</p><p>COSER, M. C. A dinastia de Avis e a construção da memória do</p><p>reino português: uma análise das crônicas oficiais. Cadernos de</p><p>Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 703-727, jul.-dez.</p><p>2007.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>CALABREZ, F. Introdução à Economia Política: o percurso</p><p>histórico de uma ciência social. Curitiba: Intersaberes, 2020.</p><p>CAVAZZANI, A. L. M.; CUNHA, R. P.; GOMES, S. A. R. (org.).</p><p>América portuguesa: uma introdução à cultura, à sociedade e aos</p><p>poderes coloniais. Curitiba: Intersaberes, 2021.</p><p>COSER, M. C. A dinastia de Avis e a construção da memória do</p><p>reino português: uma análise das crônicas oficiais. Cadernos de</p><p>Ciências Humanas - Especiaria, v. 10, n.18, p. 703-727, jul.-dez.</p><p>2007. Disponível em:</p><p>https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779.</p><p>Acesso em: 30 dez. 2023.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 9/52</p><p>https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779</p><p>https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779</p><p>https://periodicos.uesc.br/index.php/especiaria/article/view/779</p><p>HUBERMAN, L. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro:</p><p>LTC, 2017.</p><p>KRITSCH, R. Rumo ao Estado moderno: as raízes medievais de</p><p>alguns de seus elementos formadores. Revista de Sociologia e</p><p>Política, Curitiba, 23, p. 103-114, nov. 2004. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/rsocp/a/hjHJLbrbLmbP9nZ9CRBhrCP/abstract</p><p>/?lang=pt. Acesso em: 30 dez. 2023.</p><p>LE GOFF, J. Para uma outra Idade Média: tempo, trabalho e</p><p>cultura no Ocidente. Petrópolis: Vozes, 2014.</p><p>QUADROS, D. G.. O Estado na teoria política clássica: Platão,</p><p>Aristóteles, Maquiavel e os contratualistas. Curitiba: Intersaberes,</p><p>2016.</p><p>SANTOS, B. de S. Portugal: ensaio contra a autoflagelação. São</p><p>Paulo: Cortez, 2013</p><p>Aula 2</p><p>O CONTRATUALISMO</p><p>O Contratualismo</p><p>Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente</p><p>para você.</p><p>Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação</p><p>profissional. Vamos assisti-la? Bons estudos!</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 10/52</p><p>https://www.scielo.br/j/rsocp/a/hjHJLbrbLmbP9nZ9CRBhrCP/abstract/?lang=pt</p><p>https://www.scielo.br/j/rsocp/a/hjHJLbrbLmbP9nZ9CRBhrCP/abstract/?lang=pt</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2A2_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>Ponto de Partida</p><p>Quando falamos em contrato, a primeira coisa que pensamos são os</p><p>contratos de serviços que fazemos ao longo da vida. Ao comprar um</p><p>plano de saúde, assina-se um contrato. Ao se matricular em uma</p><p>escola privada, assina-se um contrato. Ao contratar um serviço de</p><p>reforma para a casa, assina-se um contrato. No entanto, a palavra</p><p>contrato vai além da mera relação comercial estabelecida entre as</p><p>partes: ele é um instrumento real ou virtual que rege as relações</p><p>entre os homens. Mas de onde se origina o poder regulador desse</p><p>imenso contrato que a todos organiza? O que faz que o Estado, por</p><p>meio da Justiça, intermedeie as relações entre as pessoas físicas e</p><p>jurídicas e entre o público e o privado? E quais são os motivos que</p><p>levam a recorrermos ao Estado, no caso, à polícia, quando há</p><p>ameaça à vida ou à propriedade privada? Para chegar a esse</p><p>entendimento, precisamos estudar o contratualismo. Seja bem-</p><p>vindo!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A origem do contratualismo</p><p>Voltaremos ao final da Idade Média, no início do século XIII. Há</p><p>indícios de que o Estado Moderno começa a constituir-se nesse</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 11/52</p><p>período, na transição do feudalismo para o capitalismo (Schiera,</p><p>1998). No entanto, podemos dizer que a Idade Moderna se inicia</p><p>efetivamente no século XV, em 1453, com a tomada de</p><p>Constantinopla pelos turcos otomanos e o fim do domínio do Império</p><p>Romano. É importante estabelecer essa delimitação histórica –</p><p>Idade Média e Idade Moderna – quando falamos do Estado, pois o</p><p>fim da Idade Média marca o distanciamento do Estado da ordem</p><p>espiritual e sua aproximação da ordem material. Isso acontece em</p><p>função da constituição dos mercados e da formação das cidades, os</p><p>quais também modificam a estrutura da sociedade e,</p><p>consequentemente, exigem mudanças nas formas de exercício do</p><p>poder.</p><p>No período do feudalismo, o poder tinha por base a tradição,</p><p>corporificada no poder de Deus atribuído ao príncipe pelo clero,</p><p>poder este partilhado com os senhores feudais, responsáveis por</p><p>suas comunidades territoriais e pelo exercício do domínio do</p><p>príncipe. Os mercados e as cidades, em conjunto com camadas da</p><p>população que não estavam mais sob o jugo do poder feudal,</p><p>exigiam uma nova forma de Estado e de exercício do poder: um</p><p>Estado que atendesse às demandas dessas camadas, que</p><p>estivesse alinhado com o poder material das relações sociais ora</p><p>vigentes.</p><p>É nesse contexto que surge o Estado Moderno, com o objetivo de</p><p>regular as relações originadas em uma sociedade em transição,</p><p>assentada sob o poder material e o mercado, cujas camadas não</p><p>mais se identificam com a servidão e o poder senhorial. Essa nova</p><p>forma de Estado, seu surgimento e as bases que o constituem</p><p>tornaram-se preocupação de alguns pensadores dos séculos XVII e</p><p>XVIII, fomentando algumas teorias que tratam do Estado. Destacam-</p><p>se, nesse período, três pensadores, em especial: Thomas Hobbes,</p><p>John Locke e Jean-Jacques Rousseau.</p><p>Conhecidos como contratualistas, esses pensadores entenderam</p><p>que “os homens viveriam naturalmente, sem poder e sem</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 12/52</p><p>organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado</p><p>por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de</p><p>subordinação política” (Ribeiro, 2001, p. 53). O contrato estabelecido</p><p>pelos homens lhes garantiria o exercício de seus direitos naturais.</p><p>No entanto, cada um desses pensadores tinha sua definição para os</p><p>direitos naturais e seu entendimento de como o contrato social teria</p><p>sido estabelecido, e como ele sustenta o Estado na Idade Moderna.</p><p>Thomas Hobbes</p><p>Começaremos com Thomas Hobbes. Filósofo inglês, Hobbes viveu</p><p>entre o final do século XVI e um pouco da segunda metade do</p><p>século XVII (1588-1679) e escreveu uma obra fundamental para</p><p>entender a formação do Estado Moderno, O Leviatã, publicado em</p><p>1651. Em O Leviatã, obra clássica da filosofia política, Hobbes</p><p>afirma que os homens são semelhantes, dada sua natureza, e que,</p><p>por isso, nenhum pode triunfar totalmente sobre o outro. No entanto,</p><p>ele também aponta que os homens não conhecem uns aos outros,</p><p>fazendo com que suponham a ação dos outros homens.</p><p>Dessas suposições recíprocas, decorre que geralmente o</p><p>mais razoável para cada um é atacar o outro, ou para vencê-</p><p>lo, ou simplesmente para evitar um ataque possível: assim a</p><p>guerra se generaliza entre os homens. Por isso, se não há um</p><p>Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os</p><p>outros é a atitude mais racional que eu posso adotar (Ribeiro,</p><p>2001, p. 55).</p><p>Ao entender que no estado de natureza, sem a presença da</p><p>sociedade política formada pelo Estado, os homens lutam uns</p><p>contra os outros, Hobbes indica que o estado de natureza é um</p><p>estado de guerra. No entanto, o conflito entre os homens não é sem</p><p>fundamento. Segundo o pensador, as causas principais da luta entre</p><p>os homens são três:</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 13/52</p><p>primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a</p><p>glória (Ribeiro, 2001, p. 56).</p><p>A guerra entre os homens, assim, é feita: pelo lucro, pela segurança,</p><p>e pela reputação, buscando seu direito à natureza.</p><p>O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam</p><p>jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar</p><p>seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação</p><p>de sua própria natureza, ou seja, de sua vida, e</p><p>consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio</p><p>julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a</p><p>esse fim [...] (Hobbes, 1988, p. 78).</p><p>Para garantir seu direito de natureza, o homem vive em estado de</p><p>guerra, lutando por sua honra, segurança e vida. O estado de</p><p>natureza é, então, estado de guerra.</p><p>Hobbes, no entanto, alerta que um dos preceitos da razão é a busca</p><p>constante da paz, podendo o homem usar as vantagens da guerra</p><p>para alcançá-la. Esta busca é a primeira e fundamental lei da</p><p>natureza, sendo, a segunda, o direito da natureza, a defesa de nós</p><p>mesmos. O conflito existente entre a busca da paz e a defesa da</p><p>vida conduz os homens a renunciarem ao seu direito de natureza,</p><p>em especial, à defesa de sua segurança e honra. Essa renúncia só</p><p>pode ser realizada mediante um pacto, do qual surge o Estado, o</p><p>qual deve ser:</p><p>[...] dotado de espada, armado, para forçar os homens ao</p><p>respeito (Ribeiro, 2001, p. 61).</p><p>O Estado surge de um pacto entre os homens e o poder que dele</p><p>emana; é soberano.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 14/52</p><p>Dessa forma, para Hobbes, os homens criam o Estado. Mediante</p><p>um contrato entre os homens, eles conferem sua força a um homem</p><p>ou a uma assembleia de homens, que reduz todas as vontades a</p><p>uma só, a dos homens reunidos sob a autoridade do Estado. Os</p><p>homens transferem a esse homem ou a essa assembleia de</p><p>homens o direito de governar e de garantir seu direito natural, assim</p><p>como o autorizam a utilizar todas suas ações e estratégias. Quem</p><p>exerce o poder do Estado é chamado de soberano e tem poder</p><p>soberano, sendo os homens que renunciam ao seu direito de</p><p>garantir sua segurança e honra em favor do Estado, súditos do</p><p>soberano.</p><p>Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão,</p><p>mediante</p><p>pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada</p><p>um como autora, de modo a ela poder usar a força e os</p><p>recursos de todos, da maneira que considerar conveniente,</p><p>para assegurar a paz e a defesa comum (Hobbes, 1998, p.</p><p>106).</p><p>Ao mesmo tempo em que nasce o Estado, nasce a sociedade, visto</p><p>que o contrato firmado entre os homens é de associação (que funda</p><p>a sociedade) e de submissão (que funda o Estado). O Estado – a</p><p>sociedade política – é regida pelo soberano, cujo poder foi atribuído</p><p>pelos homens – a sociedade civil – a partir da renúncia de seu</p><p>poder. Assim, é possível dizer que em Hobbes, com o Estado nasce</p><p>a sociedade, pois ela é o fundamento da soberania, fundamentada</p><p>no poder de defender a vida e a honra dessa sociedade.</p><p>Essa renúncia que os homens fazem da garantia dos seus direitos</p><p>em favor do soberano nos leva a questionar: como ficam os valores</p><p>de igualdade e liberdade no Estado descrito por Hobbes? Conforme</p><p>o autor apresenta, a igualdade leva a guerra de todos contra todos,</p><p>pois sendo os homens iguais, eles querem a mesma coisa, o que</p><p>gera a competição. E a liberdade?</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 15/52</p><p>Esta, para Hobbes, é limitada, pois ao delegar ao Estado sua</p><p>proteção, o homem perde seu direito de natureza e também sua</p><p>liberdade. Sua liberdade está assentada em fazer jus à sua</p><p>igualdade. Quando o homem delega ao Estado proteger a vida e</p><p>garantir a igualdade, delega também sua liberdade. O homem só</p><p>adquirirá novamente esta quando o soberano não conseguir</p><p>proteger a vida do homem, fator pelo qual este obedece ao</p><p>soberano. Nesse momento,</p><p>desapareceu a razão que levava o súdito a obedecer. Esta é</p><p>a "verdadeira liberdade do súdito” (Ribeiro, 2001, p. 68).</p><p>A capa de O Leviatã, retrata o Estado em um corpo. A cabeça é o</p><p>soberano, armado para defesa dos homens, que formam o corpo do</p><p>Estado, a sociedade civil.</p><p>Siga em Frente...</p><p>John Locke</p><p>Outro importante pensador desse período foi John Locke. Para</p><p>Locke, diferente de Hobbes, os homens renunciam sua liberdade em</p><p>favor do Estado para que ele garanta sua segurança; eles vivem em</p><p>liberdade e igualdade no estado de natureza, que é um estado de</p><p>harmonia (Mello, 2001). John Locke foi um filósofo inglês que viveu</p><p>entre 1632 e 1704, e em sua obra Segundo Tratado do Governo</p><p>Civil, definiu que o Estado surge sob o contrato social para garantir</p><p>aos homens o usufruto dos seus direitos naturais, a saber, a</p><p>propriedade da vida, da liberdade e dos bens.</p><p>Para Thomas Hobbes, a propriedade surge com o Estado, que</p><p>controla o acesso e o uso da propriedade. Para John Locke, a</p><p>propriedade surge antes do Estado,</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 16/52</p><p>sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito</p><p>natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado</p><p>(Mello, 2001, p. 85).</p><p>Para Locke, os homens eram livres e tinham a propriedade de si e</p><p>do seu trabalho. Ao trabalhar na terra, que fora dada por Deus a</p><p>todos os homens, eles incorporam seu trabalho à terra, tornando-a</p><p>sua propriedade – propriedade privada – obtendo sobre ela direitos</p><p>próprios. Dessa forma, o trabalho é fundamento da propriedade</p><p>privada.</p><p>Quanto mais o homem trabalha na terra, mais ele acumula</p><p>propriedades. Com o desenvolvimento dos mercados, cuja base é a</p><p>troca, a propriedade – que é daquele que nela trabalha – pode</p><p>também ser trocada. Com o desenvolvimento do capitalismo e da</p><p>moeda como base da troca, o homem pode acumular riquezas e</p><p>comprar propriedades, o que conduz a passagem da propriedade</p><p>baseada no trabalho à propriedade fundada na acumulação</p><p>possibilitada pelo advento do dinheiro.</p><p>Diante disso, a paz e a liberdade que existem no estado de natureza</p><p>de John Locke ficam ameaçadas – a ameaça à violação da</p><p>propriedade (da vida, da liberdade e dos bens) que:</p><p>na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força</p><p>coercitiva para impor a execução das sentenças [...], acaba</p><p>por colocar [...] os indivíduos singulares em estado de guerra</p><p>uns contra os outros (Mello, 2001, p. 86).</p><p>O contrato social surge da necessidade de livrar-se desses</p><p>“inconvenientes”, constituindo, assim, a sociedade política e civil,</p><p>cujo objetivo é preservar a propriedade e proteger a comunidade.</p><p>Para Locke, o contrato social é um pacto de consentimento, os</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 17/52</p><p>homens concordam livremente em formar a sociedade política e a</p><p>sociedade civil:</p><p>para preservar e consolidar ainda mais os direitos que</p><p>possuíam originalmente no estado de natureza (Mello, 2001,</p><p>p. 86).</p><p>Dessa forma, forma-se o que Locke chama de Estado Civil, no qual</p><p>o contrato originário, estabelecido pelo consentimento do conjunto</p><p>dos homens, dá lugar ao princípio da maioria, e é estipulada uma</p><p>forma de governo. As formas de governo podem ser a monarquia</p><p>(governo de um), a oligarquia (governo de poucos) ou a democracia</p><p>(governo de muitos). Por fim, são estabelecidos os poderes: o poder</p><p>legislativo, considerado por Locke o poder supremo; o executivo,</p><p>exercido pelo príncipe; e o federativo, que pode também ser</p><p>exercido pelo príncipe e tem por objetivo cuidar das relações</p><p>exteriores do Estado. Todos esses fatores devem estar a favor da</p><p>proteção da propriedade.</p><p>Jean-Jacques Rousseau</p><p>Por fim, temos Jean-Jacques Rousseau. Filósofo e teórico político</p><p>suíço, Rousseau viveu entre 1712 e 1778 e escreveu uma das obras</p><p>mais importantes desse período, O Contrato Social. Sua obra inicia</p><p>com uma crítica à teoria do Estado de Locke. Rousseau diz que o</p><p>Estado, para Locke, garante aos sujeitos a prevalência dos direitos</p><p>naturais, em especial, a liberdade e a propriedade, no entanto,</p><p>produz a desigualdade.</p><p>Tal foi ou deveu ser a origem da sociedade e das leis, que</p><p>deram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico,</p><p>destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram</p><p>para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram</p><p>de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para</p><p>proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram doravante todo o</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 18/52</p><p>gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria</p><p>(Nascimento 2001, p. 195).</p><p>Em O Contrato Social, Rousseau propõe apresentar quais são “as</p><p>condições de possibilidade de um pacto legítimo, através do qual os</p><p>homens, depois de terem perdido sua liberdade natural, ganhem,</p><p>em troca, a liberdade civil” (Nascimento, 2001, p. 195-196).</p><p>Nesse pacto, todos são iguais, pois cada membro do pacto renuncia</p><p>ou aliena-se de seus direitos em função da comunidade. O povo é</p><p>soberano, pois ele é igualitário, realizando-se, assim, a liberdade</p><p>civil, pois o povo é o agente que elabora as leis, às quais ele mesmo</p><p>se submete.</p><p>Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de</p><p>liberdade (Nascimento, 2001, p. 196).</p><p>Dessa maneira, submete-se à vontade geral e não à vontade de um</p><p>indivíduo ou um grupo de indivíduos em particular. Essa é a</p><p>condição primeira de legitimidade da vida política: a fundação por</p><p>meio do pacto legítimo feito pelos homens em condição de</p><p>igualdade e com alienação total.</p><p>A sociedade civil – corpo soberano do Estado que nasce do pacto</p><p>social – busca garantir a legitimidade do Estado. Para que essa</p><p>legitimidade permaneça e se fortaleça, é instituído o governo, o</p><p>corpo administrativo do Estado, que deve buscar garantir a vontade</p><p>geral do povo soberano.</p><p>Para Rousseau, antes de mais nada, impõe-se definir o</p><p>governo, o corpo administrativo do Estado, como funcionário</p><p>do soberano, como um órgão limitado pelo poder do povo e</p><p>não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html</p><p>19/52</p><p>máximo, confundindo-se neste caso com o soberano</p><p>(Nascimento, 2001, p. 197).</p><p>A representação aparece como a forma necessária para que o</p><p>governo funcione. No entanto, para que a representação não se</p><p>sobreponha ao exercício da vontade geral, deve-se tomar cuidado e</p><p>agir em constante vigilância, buscando a troca dos representantes</p><p>com o tempo.</p><p>Rousseau fecha a tríade dos contratualistas, fortalecendo a</p><p>importância do contrato social para a garantia dos direitos naturais.</p><p>Para o pensador, os principais direitos são a igualdade e a</p><p>liberdade, já para Hobbes é a vida e, para Locke, a propriedade dos</p><p>bens e da vida. Cada autor, em sua época e a seu modo, reforça a</p><p>importância do Estado para a garantia dos direitos e a construção da</p><p>sociedade civil, como responsável por acompanhar e fiscalizar o</p><p>Estado. Em Rousseau isso é mais forte, pois a sociedade política é</p><p>a alienação de todos os homens em favor da comunidade, e a</p><p>representação política deve garantir a igualdade de todos.</p><p>Como você viu, a sociedade civil é importante para os</p><p>contratualistas. A formação do Estado ou da sociedade política</p><p>implica a constituição da sociedade civil, formada pelos homens. Em</p><p>Locke e em Rousseau, a sociedade civil tem poder de fiscalizar o</p><p>governante, garantindo que os princípios do contrato social sejam</p><p>cumpridos. Em Hobbes, a sociedade civil é constituída de comum</p><p>acordo, no entanto, o governante é soberano e não tem seu poder</p><p>limitado pela sociedade civil.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Compreendido o que são os direitos naturais para os contratualistas,</p><p>o papel do Estado em sua garantia e do contrato social em sua</p><p>sustentação, temos elementos para o entendimento de que o Estado</p><p>surge para defender os direitos naturais dos homens, que podem</p><p>ser a vida ou a propriedade. Para alguns autores, o Estado surge</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 20/52</p><p>também para garantir a liberdade dos homens. Em todos os autores,</p><p>os homens que compõem a sociedade delegam ao Estado o poder</p><p>de defender e garantir seus direitos naturais. Se a propriedade</p><p>privada é um direito natural, como você viu em Locke, cabe ao</p><p>Estado defendê-la. Assim, quando algum ente privado – que pode</p><p>ser uma empresa ou um homem – sente-se prejudicado por outro</p><p>ente privado, ele pode recorrer ao Estado para que intervenha e</p><p>estabeleça os critérios para a resolução do problema existente entre</p><p>os entes. Essa compreensão sustenta inclusive vertentes do direito</p><p>e das constituições modernas.</p><p>Saiba Mais</p><p>Os pensadores contratualistas são estudados até hoje pela</p><p>importância da análise do Estado e do poder. O poder do contrato só</p><p>pode ser visto nas teorias cada um ao seu tempo, até porque não é</p><p>possível transportar as condições objetivas do período em que</p><p>escreveram cada qual a sua obra e teoria. Aprofunde seus</p><p>conhecimentos com uma leitura interessante a respeito dos</p><p>contratualistas nos Capítulos 3 e 4 do trabalho indicado a seguir.</p><p>STANGUE, F. Tópicos de Filosofia moderna. Curitiba:</p><p>Intersaberes, 2017.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultura, 1998.</p><p>LOCKE, J. Carta sobre a tolerância. Petrópolis: Vozes, 2019.</p><p>LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil e outros</p><p>escritos. Petrópolis: Vozes, 2019.</p><p>MELLO, L. I. A. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT,</p><p>F. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2001.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 21/52</p><p>NASCIMENTO, M. M. Rousseau: da servidão à liberdade. In:</p><p>WEFFORT, F. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2001.</p><p>RIBEIRO, R. J. Hobbes: medo e esperança. In: WEFFORT, F. Os</p><p>clássicos da política. São Paulo: Ática, 2001.</p><p>ROUSSEAU, J.-J. O contrato social. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Fronteira, 2011.</p><p>SCHIERA, P. Estado Moderno. In: BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.;</p><p>PASQUINO, G. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora</p><p>Universidade de Brasília, 1998.</p><p>STANGUE, F. Tópicos de Filosofia moderna. Curitiba:</p><p>Intersaberes, 2017.</p><p>Aula 3</p><p>DO ESTADO MODERNO AO</p><p>CONTEMPORÂNEO</p><p>Do Estado Moderno ao</p><p>Contemporâneo</p><p>Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você.</p><p>Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação</p><p>profissional. Vamos assisti-la? Bons estudos!</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 22/52</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2A3_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>Ponto de Partida</p><p>“O Estado sou eu!” Uma frase atribuída ao rei Luís XIV, também</p><p>chamado de “Rei Sol”, que metaforicamente diz daquele que impõe</p><p>ordem e regularidade e propicia a vida de tudo e de todos. Seu</p><p>bisneto e sucessor, Luís XV, teria dito em um pronunciamento em 3</p><p>de março de 1766 a seguinte frase: “É exclusivamente na minha</p><p>pessoa que reside o poder soberano, cujo caráter próprio é o</p><p>espírito de conselho, de justiça e de razão”.</p><p>Caso isso tivesse sido dito por algum candidato à presidência do</p><p>Brasil no horário gratuito de propaganda eleitoral, um momento em</p><p>que as rádios e as TVs reproduzem as campanhas eleitorais, como</p><p>você teria reagido? Será que encararia com normalidade que uma</p><p>única pessoa se sinta capacitada a concentrar toda a autoridade e</p><p>soberania de um agrupamento político como uma nação? Como</p><p>será que ocorreu a consolidação de um poder tão grande nas mãos</p><p>de uma só pessoa?</p><p>Nesta aula vamos conversar e aprofundar os conteúdos de</p><p>formação e consolidação da primeira forma de Estado moderno e</p><p>seu declínio para o mundo contemporâneo, a partir do papel que as</p><p>revoluções políticas na Europa consolidaram para a nossa</p><p>realidade.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 23/52</p><p>Vamos Começar!</p><p>O absolutismo</p><p>No escopo da fragmentação ocorrida já por volta do século XIII,</p><p>situaremos outra forma específica de exercício do poder: o</p><p>absolutismo. E se a um lado seu término é consensualmente</p><p>localizado na inauguração da Revolução Francesa, seu início não</p><p>pode ser atribuído a um evento único ou tão bem situado na história,</p><p>restando a compreensão de que teria emergido na transição do</p><p>sistema feudal para o Estado moderno, em que já se podia</p><p>experimentar o desenvolvimento de monarquias com nuances</p><p>nacionalistas.</p><p>Essa não fixação perpassa não apenas a origem do absolutismo,</p><p>mas também a sua própria ocorrência histórica, haja vista a intensa</p><p>heterogeneidade de suas experiências políticas. Assim, a</p><p>especificidade do absolutismo como uma forma de organização do</p><p>poder deve ser verificada no plano histórico e:</p><p>os parâmetros classificatórios mais óbvios e rentáveis</p><p>parecem ser os que estão ligados ao espaço cultural do</p><p>Ocidente europeu, no período histórico da Idade Moderna e</p><p>na forma institucional do Estado moderno (Schiera, 2004, p.</p><p>1).</p><p>Se não podemos empreender uma excessiva identificação do</p><p>absolutismo, o que podemos dizer dele? Qual é sua importância do</p><p>ponto de vista do entendimento da organização do poder e do</p><p>desenvolvimento do Estado?</p><p>Orientado por esses questionamentos, Schiera (2004) desenvolve</p><p>um argumento de cunho descritivo e outro que busca compreender</p><p>os princípios fundamentais do absolutismo:</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 24/52</p><p>Do ponto de vista descritivo, podemos partir da definição de</p><p>Absolutismo como aquela forma de Governo em que o</p><p>detentor do poder exerce este último, sem dependência ou</p><p>controle de outros poderes, superiores ou inferiores (Schiera,</p><p>2004, p. 2).</p><p>Nesse sentido, o príncipe não encontraria limites para o exercício de</p><p>seu poder,seja dentro ou fora do Estado que estava emergindo.</p><p>Já em relação aos princípios fundamentais, Schiera (2004) destaca</p><p>o processo de</p><p>secularização e racionalização da política e do poder.</p><p>Esse processo marca a perda da capacidade da Igreja Católica</p><p>Romana de se colocar como instituição política universal, fazendo</p><p>com que as bases do exercício do poder na Terra se desprendam do</p><p>poder divino e se fundamentem cada vez mais na razão. Assim:</p><p>O Absolutismo significa, também e sobretudo, a separação da</p><p>política da teologia e a conquista da autonomia daquela,</p><p>dentro de esquemas de compreensão e de critérios de juízos,</p><p>independentemente de qualquer avaliação religiosa ou moral</p><p>(Schiera, 2004, p. 2).</p><p>Na esteira do enfrentamento à detenção unilateral de poder por</p><p>parte da Igreja Católica, podemos destacar outras transformações</p><p>próprias da passagem da Idade Média para os tempos modernos, tal</p><p>como descritas por Châtelet, Duhamel e Pisier (2009, p. 35). São</p><p>elas:</p><p>1. Desenvolvimento da civilização urbana, comercial e</p><p>manufatureira. Resultando em novos tipos de sociabilidade e</p><p>de mentalidade mais condizentes com a vida na cidade do</p><p>que com a vida no campo. 2. Introdução de novas formas de</p><p>compreensão do mundo físico, seja pelas descobertas de</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 25/52</p><p>Copérnico e Galileu, seja pela descoberta do Novo Mundo</p><p>pelas grandes navegações. 3. Resgate em novos moldes da</p><p>cultura vinda da Antiguidade greco-romana e o seu apreço</p><p>pela natureza e pelas indagações políticas.</p><p>Dessa forma, a intensa fragmentação, própria das relações feudais,</p><p>o processo de urbanização, o desenvolvimento do capitalismo</p><p>mercantil, as mudanças de paradigma advindas da descoberta de</p><p>novos povos e culturas e de novas formas de pensar possibilitaram</p><p>a desestruturação social e política do sistema feudal e a paulatina</p><p>estruturação de novos padrões de sociabilidade e formas de</p><p>organização – é o período de formação dos Estados nacionais.</p><p>Toda essa complexidade não pode deixar de ser vista à luz das</p><p>disputas políticas que emergiam entre a burguesia, um grupo social</p><p>oriundo das atividades comerciais típicas dos feudos, e os monarcas</p><p>feudais, pois se a esses últimos a descentralização vinha a</p><p>favorecer a manutenção de domínios materiais e simbólicos, para os</p><p>burgueses a descentralização obstaculizava o comércio por eles</p><p>empreendido. E ainda que não detalhemos as complexas relações</p><p>estabelecidas ao longo principalmente da Idade Moderna (1453-</p><p>1789) entre a burguesia e os monarcas absolutistas que tinham a</p><p>princípio um objetivo em comum – a centralização do poder –, cabe</p><p>destacar que a Revolução Francesa foi uma revolução burguesa</p><p>contra o antigo regime.</p><p>Siga em Frente...</p><p>O Iluminismo</p><p>O Iluminismo foi um movimento e uma forma de pensar que tem seu</p><p>início como resultante da revolução científica do final do século XVII,</p><p>e que coloca em forma de questionamento as concepções de</p><p>homem e de vida até então predominantes na Europa. A</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 26/52</p><p>compreensão humana e da sociedade só poderia ser encontrada a</p><p>partir da ciência e da razão, da observação e da dedução.</p><p>John Locke, contratualista e empirista, já tinha deduções neste</p><p>sentido, pensando o comportamento político a partir do social. Para</p><p>ele,</p><p>as ideias não eram produto de uma percepção especial ou da</p><p>inspiração divina. Eram induzidas pela capacidade do homem</p><p>de processar a informação que recebia através dos sentidos</p><p>(Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 375).</p><p>No século XVIII o Iluminismo ficou mais pronunciado. Os</p><p>pensadores, de maneira geral, com a expansão do conhecimento,</p><p>afirmarão que</p><p>o que não se podia observar cientificamente só poderia ser</p><p>objeto de especulação e conjectura (Outhwaite; Bottomore,</p><p>1996, p. 375).</p><p>O que fez com que esse século ficasse conhecido como a “era das</p><p>luzes”, uma alusão ao conhecimento em contraposição à Idade</p><p>Média.</p><p>Na dimensão econômica, os vetores liberais e do liberalismo em</p><p>John Locke foram potencializados por Adam Smith e a sua</p><p>economia política, que fazia a junção de leis gerais da economia</p><p>como queriam os fisiocratas, combatendo frente a frente as políticas</p><p>mercantilistas dos Estados absolutos. O contraste era evidente, em</p><p>um mundo em transformação acelerada, em que as classes sociais</p><p>também se modificavam.</p><p>No decorrer do século XVIII houve um salto quântico na</p><p>relação entre humanidade e ecossistema: foi o ponto em que</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 27/52</p><p>começamos a deixar de ser passivos em relação à natureza.</p><p>Numa era de relativa abundância devido à expansão colonial</p><p>europeia, o aumento da população e, consequentemente, dos</p><p>meios de produção, e do sistema comercial e bancário, e</p><p>mesmo o surgimento dos grandes exércitos regulares ao</p><p>estilo moderno, surge a divisão do trabalho como resposta à</p><p>complexidade e mecanização industrial e militar. Convergiu</p><p>de maneira importante com o começo da mecanização da</p><p>indústria a física newtoniana, que inaugurou o fundamento</p><p>teórico da técnica moderna e do motor a vapor (Smith, 2017,</p><p>p. 3).</p><p>Na política, o avanço científico que o Iluminismo colocou estende-se</p><p>às concepções da ciência política e do realismo político colocado</p><p>por Maquiavel, considerando o campo teórico científico dos avanços</p><p>da ciência e do liberalismo, assim como as formas e tipos de</p><p>governo.</p><p>O tipo de governo mais adequado a um Estado em particular</p><p>era determinado por seu tamanho, estrutura econômica e</p><p>situação geográfica (Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 376).</p><p>Podemos observar que obras importantes da filosofia política</p><p>moderna forma concebidas no século XVIII, tendo como autores</p><p>políticos extraordinários como Kant e Burke, Rousseau e Hume. O</p><p>espírito das leis de Montesquieu é uma delas.</p><p>Era também explícito o propósito de educar</p><p>indiretamente o povo educando os seus</p><p>educadores, o que vale por dizer os legisladores.</p><p>À guisa de conclusão fundamental, Montesquieu</p><p>admitiu que escrevera esta obra apenas com o</p><p>único intuito de educar o educador por</p><p>excelência. Era esse o propósito último da</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 28/52</p><p>ciência política que Montesquieu apresentou</p><p>(Morgado, 2018, p. 17).</p><p>Para a ciência política, o período iluminista deve ser visto pelos</p><p>avanços e recuos para o mundo contemporâneo, uma vez que</p><p>existia a crença das liberdades a partir do liberalismo e providências</p><p>universais. Fato é que esse movimento influenciou de maneira única</p><p>os vetores das revoluções políticas na Europa e a própria Revolução</p><p>Francesa, principalmente no último quarto do século XVIII.</p><p>O iluminismo podia optar pelo domínio</p><p>autocrático de um governo dedicado à</p><p>implementação de programas científicos, o que</p><p>se assumiu ser o caso, na Prússia, de Frederico</p><p>II, ou por fazer com que o poder político refletisse</p><p>as opiniões e crenças da população como um</p><p>todo, ou pelo menos dos proprietários de bens e</p><p>terras, como se acredita ter acontecido na Grã-</p><p>Bretanha (Outhwaite; Bottomore, 1996, p. 376).</p><p>A Revolução Francesa</p><p>A Revolução Francesa talvez seja a mais conhecida das revoluções.</p><p>Você já deve conhecer o bordão “Liberdade, Igualdade e</p><p>Fraternidade”, que foi o lema da Revolução Francesa e é</p><p>constantemente citado em lutas políticas.</p><p>A França do século XVIII era um país social e economicamente</p><p>desigual. Dividida em três estados – clero, nobreza e povo –, a</p><p>França da época era uma monarquia absolutista, com o rei sendo</p><p>soberano e absoluto no que concerne à política, à economia e à</p><p>justiça, por exemplo. Ao terceiro estado, o povo, cabia sustentar os</p><p>demais, via impostos. O povo era formado pela burguesia em suas</p><p>diferentes frações, os camponeses e os chamados sans-culottes –</p><p>aprendizes de ofícios, trabalhadores assalariados e desempregados.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html</p><p>29/52</p><p>A formação da burguesia como classe social própria ao capitalismo</p><p>coloca desafios ao Estado, que precisa incorporar os anseios das</p><p>novas classes. No caso francês, a burguesia desejava ter mais</p><p>participação política e liberdade econômica. No entanto, o Estado</p><p>absolutista não dava tal liberdade, e ainda taxava o terceiro estado.</p><p>Em meio a uma crise econômica, o primeiro e o segundo estados</p><p>tentaram aumentar os impostos, garantindo as benesses da nobreza</p><p>e do clero. Dessa maneira, convocaram a Assembleia dos Estados</p><p>Gerais para discutir o aumento dos impostos. Diante da crise, com</p><p>alta nos preços de produtos da agricultura e desemprego no setor</p><p>urbano em função da concorrência com os produtos ingleses, o</p><p>povo não queria pagar pelos privilégios da nobreza e do clero.</p><p>Em maio de 1789, com o maior número de deputados que os outros</p><p>dois estados juntos, o terceiro estado, o povo, exigia que a votação</p><p>fosse por voto individual, enquanto nobreza e clero queriam que o</p><p>voto fosse por ordem social. Esse impasse deveria ser resolvido por</p><p>alteração na Constituição, o que não foi aceito, levando o terceiro</p><p>estado a sair da Assembleia dos Estados Gerais.</p><p>Em 14 de julho de 1789, o povo invadiu e tomou a Bastilha,</p><p>considerada um símbolo do poder absoluto do rei. Em 26 de agosto</p><p>de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte, formada pelo povo,</p><p>proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,</p><p>utilizada até hoje na luta pelos direitos humanos, que entre outros</p><p>pontos declara ser direito dos homens a liberdade e a igualdade</p><p>perante a lei, e a liberdade de pensamento e opinião.</p><p>No entanto, a revolução não parou por aí. Em 1791 foi proclamada a</p><p>primeira Constituição do período, que colocava fim aos privilégios do</p><p>clero e da nobreza, separava efetivamente o Estado da Igreja e</p><p>criava os três poderes (executivo, legislativo e judiciário).</p><p>A Constituição teve reação do Rei Luís XVI, que reuniu esforços</p><p>para reestabelecer a monarquia absoluta. Mesmo com sua fuga e</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 30/52</p><p>captura, a monarquia reagiu em 1792. A partir de contatos feitos</p><p>pelo rei, o exército austro-prussiano invadiu a França na tentativa de</p><p>retomar o poder e reestabelecer a monarquia absoluta. Além de ser</p><p>derrotado, Luís XVI viu os revolucionários franceses proclamarem a</p><p>República.</p><p>Nessa fase da revolução, o povo já estava dividido em girondinos –</p><p>alta burguesia – e jacobinos – pequena e média burguesia e</p><p>proletariado urbano. Quem governava era o líder jacobino</p><p>Robespierre. Durante seu governo uma nova Constituição foi</p><p>promulgada, assegurando o direito ao voto, ao trabalho e à rebelião.</p><p>No entanto, Robespierre não agradava aos girondinos, os quais o</p><p>prenderam e o guilhotinaram em 1794.</p><p>Com a ascensão da alta burguesia ao poder, uma nova Constituição</p><p>foi estabelecida, garantindo o poder da burguesia e ampliando seus</p><p>direitos políticos e econômicos. Ela determinava a continuidade da</p><p>República, que seria controlada pelo Diretório, composto por cinco</p><p>membros. O povo foi gradualmente afastado das decisões políticas.</p><p>Com prestígio, Napoleão Bonaparte passa a participar do governo</p><p>com o objetivo de consolidar o governo burguês. No entanto, em</p><p>1799, Napoleão Bonaparte, em um golpe, dissolveu o Diretório e</p><p>estabeleceu um novo governo chamado Consulado. O golpe de</p><p>Bonaparte ficou conhecido como 18 de Brumário e marcou o fim da</p><p>Revolução Francesa. Entenderemos mais o Bonapartismo adiante.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Vamos retomar a frase do rei Luís XIV “Eu sou o Estado” e de seu</p><p>bisneto e sucessor, Luís XV, “É exclusivamente na minha pessoa</p><p>que reside o poder soberano, cujo caráter próprio é o espírito de</p><p>conselho, de justiça e de razão”. Você se lembra que introduzimos a</p><p>partir desses dizeres a questão da concentração da autoridade por</p><p>uma única pessoa e em como nos sentiríamos desconfortáveis</p><p>atualmente se nos deparássemos com essa possibilidade?</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 31/52</p><p>Tentaremos nos colocar no lugar de um indivíduo que vivia no</p><p>período de ocorrência das experiências absolutistas, para perceber</p><p>sua experiência. Morador de um dos muitos feudos existentes até</p><p>por volta do século XIII, essa pessoa começa a sentir os efeitos da</p><p>fragmentação do poder, especialmente pelo aumento de conflitos,</p><p>inclusive armados, na sua vida cotidiana. Isso porque com a</p><p>fragmentação vieram também as disputas pelo poder. Dos vestígios</p><p>desse descontentamento surge uma nova estrutura política, na qual</p><p>o rei se impõe como absoluto, capaz de neutralizar esses conflitos e</p><p>restaurar a paz a partir de uma base identitária comum e de uma</p><p>autoridade legítima, ou seja, a partir do Estado moderno.</p><p>As bases dessa forma de Estado formataram e constituíram uma</p><p>primeira forma de Estado moderno e que atualmente nos envolve.</p><p>Saiba Mais</p><p>Conheça a história e a importância da Revolução Francesa e do</p><p>Iluminismo para o nosso mundo contemporâneo e a política</p><p>moderna em um estudo disponível na sua Biblioteca Virtual.</p><p>GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo:</p><p>Contexto, 2014.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>CARVALHO, D. G. de. Revolução Francesa. São Paulo: Contexto,</p><p>2022.</p><p>CHÂTELET, F.; DUHAMEL, O.; PISIER, E. História das ideias</p><p>políticas. São Paulo: Zahar, 2009.</p><p>GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo:</p><p>Contexto, 2014.</p><p>MORGADO, M. Introdução. In: MONTESQUIEU. Do Espírito das</p><p>Leis. Lisboa: Edições 70 Lda., 2018.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 32/52</p><p>OUTHWAITE, W.; BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento</p><p>social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.</p><p>SCHIERA, P. Verbete absolutismo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI,</p><p>N.; PASQUINO, G. (org.). Dicionário de política. V. 2. Brasília:</p><p>Editora Universidade de Brasília, 2004.</p><p>SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre a</p><p>natureza e a causa da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Fronteira, 2017.</p><p>Aula 4</p><p>O CAPITALISMO E O</p><p>ESTADO MODERNO</p><p>O Capitalismo e o Estado Moderno</p><p>Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você.</p><p>Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação</p><p>profissional. Vamos assisti-la? Bons estudos!</p><p>Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 33/52</p><p>https://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/202401/ALEXANDRIA/CIENCIA_POLITICA/PPT/U2A4_Cie_Pol_Liberado.pdf</p><p>Ponto de Partida</p><p>Como vimos na aula que tratou do contratualismo, o Estado se</p><p>forma a partir do contrato social estabelecido entre os homens, seja</p><p>para garantir a vida, a liberdade ou a propriedade, e se torna um</p><p>ente presente entre os homens e regulamentador das atividades</p><p>humanas. Isso não quer dizer que ele independa dos homens. Na</p><p>seção anterior, vimos que há a sociedade política e a sociedade</p><p>civil, e que esta, para alguns autores, pode ser atuante no processo</p><p>de fiscalização do governo soberano. Vamos exemplificar e imaginar</p><p>uma situação atual e hipotética em que o direito à moradia é</p><p>desrespeitado e isso impacta diretamente a política atual de</p><p>habitação brasileira.</p><p>Em uma área de ocupação na periferia de um grande centro urbano</p><p>brasileiro vivem 20 famílias. Essa área é considerada de</p><p>propriedade do município, mas é proibida a construção de moradias</p><p>por causa da legislação ambiental – a área é popularmente</p><p>conhecida como de “fundo de vale”. Como e de que forma o Estado,</p><p>por meio do poder público, pode administrar essa questão sem ferir</p><p>a garantia fundamental e constitucional da propriedade e da moradia</p><p>digna?</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 34/52</p><p>Para entendermos esse ponto, precisamos compreender</p><p>efetivamente a gênese das leis na forma do Estado moderno e como</p><p>chegamos até este ponto na história.</p><p>Seja bem-vindo!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A gênese das leis no mundo moderno e as revoluções inglesas</p><p>Em aula anterior, você observou, a partir da visão dos</p><p>contratualistas, como surge o Estado. Pensadores como Thomas</p><p>Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau escreveram que o</p><p>Estado surge conforme os homens entendem que é preciso um ente</p><p>maior para salvaguardar seus direitos naturais, a saber, a vida</p><p>(Thomas Hobbes), a propriedade (John Locke), a liberdade e a</p><p>igualdade (Jean-Jacques Rousseau). Esse ente, denominado</p><p>Estado, é formado a partir do pacto feito pelos homens, que</p><p>delegam ao Estado a garantia dos seus direitos, os quais podem ser</p><p>feitos de diferentes formas e com ou sem a fiscalização dos</p><p>homens, denominados sociedade civil.</p><p>No entanto, esses pensadores pouco se dedicaram a pensar o</p><p>funcionamento do Estado, ou melhor, não consideraram que esse</p><p>ente evoluiria com o passar do tempo, assim como a sociedade civil</p><p>cresceria e exigiria do Estado novas formas de atuar. Apenas a</p><p>divisão dos poderes, como exposto por John Locke, não seria</p><p>suficiente. Outras formas de garantir ao Estado a soberania, e à</p><p>sociedade civil o poder de fiscalização, serão necessárias.</p><p>A Constituição é uma delas. Sua definição varia desde um</p><p>regulamento até um conjunto de leis fundamentais elaborado por</p><p>representantes do povo que regula as relações de representação –</p><p>governantes e governados –, determinando os limites entre os</p><p>poderes – legislativo, executivo e judiciário – e garantindo direitos</p><p>individuais e coletivos (Constituição, [s. d.]).</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 35/52</p><p>Em que momento surgiu a Constituição e dela derivou toda uma</p><p>tese que resultou na teoria do Constitucionalismo? Para</p><p>entendermos, precisamos voltar ainda mais no tempo. Na seção</p><p>passada, voltamos ao início da Idade Moderna para</p><p>compreendermos a constituição do Estado Moderno. A primeira</p><p>experiência de Constituição é anterior a esse período, ainda na</p><p>Idade Média.</p><p>Neste momento, viajaremos para a Inglaterra do século XIII. Em</p><p>1215, os nobres ingleses promulgaram sua Magna Carta, com o</p><p>objetivo de limitar os poderes do rei João sem Terra (1199-1216),</p><p>que disputou poder com o rei Felipe Augusto, da França, com o</p><p>Papa Inocêncio III e com os nobres ingleses. Não obteve êxito em</p><p>suas disputas e, por isso, teve de assinar a Magna Carta. Esse</p><p>documento estabelecia, entre outros pontos, que o rei deveria</p><p>respeitar os direitos dos nobres e da Igreja e não poderia estipular</p><p>novos impostos sem o consentimento dos seus vassalos (Penna,</p><p>2013). Essa foi a primeira experiência da chamada Monarquia</p><p>Constitucional, colocando a monarquia, até então livre e sem limites</p><p>para exercício do poder, sob as regras de uma Constituição.</p><p>Alguns reis que vieram após João sem Terra tentaram ampliar os</p><p>poderes do monarca, no entanto, encontraram resistências de</p><p>nobres e vassalos da Coroa. Paulatinamente, a nobreza inglesa</p><p>perdeu poder econômico e uma nova classe surgiu: a burguesia.</p><p>Os reinados posteriores, em especial, de Henrique VIII (1509-1547)</p><p>e de Elizabeth I (1558-1603), possibilitaram a ampliação do poder da</p><p>burguesia. A fundação da Igreja Anglicana por Henrique VIII, que</p><p>retirou terras inglesas do clero católico, e a ampliação das atividades</p><p>mercantis por Elizabeth I agradaram a burguesia, que se sentia em</p><p>terreno favorável para ampliar seu poder econômico.</p><p>Após a morte de Elizabeth I, em 1603, teve início a Dinastia Stuart,</p><p>com Jaime I (1603- 1625), que trouxe a limitação de terras aos</p><p>camponeses. Após sua morte, assumiu Carlos I (1625-1649), que</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 36/52</p><p>ampliou os poderes da nobreza. Ambos apontaram para um sentido</p><p>claramente contrário ao traçado pelos Tudor, de abertura da</p><p>economia a burgueses e a camponeses, o que representou uma</p><p>ameaça aos interesses comerciais dessas camadas da população.</p><p>Diante desse cenário, o que seria inimaginável em tempos atuais</p><p>aconteceu na Inglaterra de meados do século XVII. Burgueses e</p><p>camponeses uniram-se contra o poder real. A guerra civil, liderada</p><p>por Oliver Cromwell, colocou os partidários da nobreza sob um novo</p><p>governo, o Governo Cromwell, que estimulou o desenvolvimento dos</p><p>negócios da burguesia.</p><p>A morte de Cromwell resultou na restauração da dinastia Stuart, com</p><p>Jaime II. No entanto, Guilherme de Orange, genro de Jaime II, aliou-</p><p>se à burguesia e juntos deflagraram a Revolução Gloriosa. A derrota</p><p>da nobreza levou Guilherme de Orange ao poder, mas agora em</p><p>pacto com a burguesia. A Declaração dos Direitos ou Bill of Rights</p><p>foi assinada em 1689, limitando os poderes do rei e ampliando os do</p><p>Parlamento.</p><p>A partir desse momento, cabia ao parlamento a aprovação de</p><p>tributos, a manutenção de um exército permanente, a garantia</p><p>do exercício da Justiça pública entre outras medidas. A Bill of</p><p>Rights foi a primeira declaração dos direitos do cidadão,</p><p>enterrando definitivamente o absolutismo monárquico na</p><p>Inglaterra (Penna, 2013, p. 159-160).</p><p>A Bill of Rights pode ser considerada uma das primeiras</p><p>constituições do período moderno e marca a transição do</p><p>feudalismo para o capitalismo, fortalecendo a burguesia com uma</p><p>legislação comercial e administrativa.</p><p>Além da Revolução Gloriosa, outras revoluções ocorridas na Europa</p><p>e na América foram importantes para consolidar o Estado e o poder</p><p>da nascente burguesia.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 37/52</p><p>Siga em Frente...</p><p>A Revolução Americana e o capitalismo</p><p>Vários ingleses migraram para a América após a Revolução</p><p>Gloriosa, instalando-se onde atualmente estão o Canadá e os</p><p>Estados Unidos da América. Vivendo como ingleses em terras</p><p>americanas, os imigrantes iniciaram um processo de colonização,</p><p>fundaram 13 colônias e gozavam de relativa liberdade econômica e</p><p>autonomia política.</p><p>A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) mudou esse quadro, com o</p><p>conflito entre colonos, indígenas americanos, franceses, ingleses e</p><p>outros europeus. Os colonos permaneceram ao lado dos índios, o</p><p>que gerou mal-estar entre colônia e metrópole, resultando no</p><p>cerceamento das fronteiras aos colonos e na imposição de uma</p><p>série de impostos, como a Lei do Açúcar (1765).</p><p>Em resposta às ações da metrópole, os colonos se reuniram em</p><p>dois congressos continentais. No primeiro Congresso, realizado em</p><p>1774, foi decidido que as 13 colônias ali representadas realizariam</p><p>boicote total ao comércio inglês até a revogação dos impostos. Em</p><p>1775, a Inglaterra reagiu ao boicote com conflitos armados,</p><p>originando a Guerra de Independência e o segundo Congresso, que</p><p>resultou em rompimento das colônias com a Inglaterra e a formação</p><p>do Exército Continental, sob a liderança de George Washington.</p><p>Em 4 de julho de 1776, foi assinada a Declaração de Independência</p><p>dos Estados Unidos da América, por nomes como Thomas Jefferson</p><p>e Benjamin Franklin. A Guerra persistiu até 1783, quando foi</p><p>assinado o Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconheceu a</p><p>independência dos Estados Unidos e selou a paz entre os países</p><p>(Hobsbawn, 2007).</p><p>Para marcar esse novo período da história dos Estados Unidos,</p><p>agora como país independente, foi elaborada sua primeira e única</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 38/52</p><p>Constituição. A Constituição norte-americana foi discutida e</p><p>aprovada em uma convenção realizada na Filadélfia, em 1787.</p><p>Considerada até hoje a Carta Magna dos Estados Unidos da</p><p>América, a Constituição norte-americana tem sete artigos e vinte e</p><p>sete emendas, nos quais estipula a divisão de poderes – executivo,</p><p>legislativo e judiciário – e define os Estados Unidos da América</p><p>como um país federalista, estabelecendo nos</p><p>artigos de sua</p><p>Constituição os direitos e as responsabilidades dos estados</p><p>federados perante o Governo Federal.</p><p>O federalismo pode ser definido como “uma forma de organização</p><p>de Estado em que os entes federados são dotados de autonomia</p><p>administrativa, política, tributária e financeira necessárias para</p><p>manter o equilíbrio que se estabelece entre eles para a constituição</p><p>do Estado Federal” (Xavier; Xavier, 2014, [s. p.]). O que mantém o</p><p>Estado Federal é o pacto federativo, pelo qual os entes federados,</p><p>em comum acordo, se submetem ao poder central (o Estado</p><p>Federal) e perdem algumas autonomias, como da política externa e</p><p>da moeda, ou seja, por mais que os entes federados tenham</p><p>autonomia em diversas esferas, há algumas atribuições que são do</p><p>Estado Federal.</p><p>No caso dos Estados Unidos da América, a Constituição Federal</p><p>expressa as atribuições do federalismo, sendo considerado o</p><p>primeiro pacto federativo “[...] e, ao mesmo tempo, a experiência</p><p>constitucional mais importante” (Levi, 1998, p. 480). O poder do</p><p>povo – expresso na Constituição, que inicia com “Nós, o Povo” – foi</p><p>fundamental para o sucesso da Revolução Americana e para</p><p>fortalecer o federalismo e o constitucionalismo.</p><p>Liberalismo e capitalismo no mundo contemporâneo</p><p>Uma observação curiosa acerca da narrativa histórica é que no</p><p>mesmo ano da Independência dos Estados Unidos da América,</p><p>Adam Smith publica sua principal obra de economia política: A</p><p>riqueza das nações. Esse fato poderia ficar na curiosidade se os</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 39/52</p><p>séculos não revelassem a “superpotência” capitalista que os</p><p>Estados Unidos da América consolidariam, na mesma direção dos</p><p>pressupostos do liberalismo e do iluminismo como adubo político,</p><p>filosófico, ideal e econômico – claro que à maneira própria, para</p><p>além dos países europeus.</p><p>Com a independência dos Estados Unidos, ocorrem uma série de</p><p>lutas e revoluções pela independência das colônias na América</p><p>Latina, que na passagem para o século XIX encontra nos ideais</p><p>revolucionários suas bandeiras, o federalismo e a própria construção</p><p>de vetores constitucionais que se formaiam a partir da “nova” forma</p><p>de poder e Estado na contemporaneidade.</p><p>A independência dos Estados Unidos, porém, tem um</p><p>significado mais amplo do que aquele que representa para a</p><p>própria sociedade daquele gigante norte-americano. Em</p><p>primeiro lugar, porque representou um exemplo prático da</p><p>brecha aberta por John Locke ao sugerir que os indivíduos</p><p>poderiam se rebelar contra a injustiça e a tirania mediante o</p><p>“apelo aos céus”. Em segundo lugar, porque foi um caso</p><p>pioneiro de uma comunidade política inteira constituída</p><p>fazendo referência às teorias de representação e liberdade</p><p>alimentadas pelos filósofos iluministas; como tal, é um</p><p>capítulo ímpar da história do liberalismo. O exemplo norte-</p><p>americano de 1776 inspiraria as independências de outras</p><p>colônias dos países europeus, especialmente na América</p><p>Latina, que somariam o impacto da literatura iluminista ao</p><p>sucesso concreto dos Patriotas norte-americanos – como</p><p>ficaram conhecidos os defensores da Independência, por</p><p>oposição aos Lealistas, fiéis à Coroa britânica (Berlanza,</p><p>2023, p. 81).</p><p>O capitalismo da era industrial começa de maneira avassaladora a</p><p>sua incursão no século XIX, e os fatores do quebra-cabeça se unem</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 40/52</p><p>a partir da Revolução Industrial. A formação das classes sociais e o</p><p>modo de produção capitalista com o trabalho assalariado livre,</p><p>configuram uma etapa importante de consolidação do capitalismo,</p><p>que tem guarida na nova forma de Estado liberal. O liberalismo e as</p><p>lutas políticas do século XIX entram em nova fase, apesar dos</p><p>rescaldos do antigo regime que sempre se fizeram presentes nos</p><p>privilégios estamentais.</p><p>Uma observação panorâmica da história da tradição liberal</p><p>indica que o liberalismo como o conhecemos foi gestado em</p><p>alguns centros bastante particulares, notoriamente o Reino</p><p>Unido, a França, os Estados Unidos e a Alemanha. Esses</p><p>quatro países contribuíram, especialmente entre os séculos</p><p>XVII e XIX, com suas principais fontes teóricas. As vertentes</p><p>liberais neles desenvolvidas se manifestaram, de diferentes</p><p>formas, em outros países europeus, em algumas outras ex-</p><p>colônias britânicas e nos demais países do continente</p><p>americano, neste último caso influenciando a erupção de</p><p>processos de independência desses países em relação às</p><p>respectivas metrópoles (Berlanza, 2023, p. 321).</p><p>Da junção dos vetores econômicos e políticos transformados ao</p><p>longo dos processos revolucionários mais conhecidos na história,</p><p>podemos também constatar que o Estado, após as revoluções que</p><p>marcam o mundo moderno para o contemporâneo, transforma-se</p><p>com as características liberais centradas nos vetores legalistas e da</p><p>cidadania moderna, de maneira geral. Cabe a nós estudarmos mais</p><p>a fundo esses aspectos, dado que o faremos no decorrer das aulas.</p><p>É o nosso desafio!</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Ao longo desta aula, você conheceu melhor as revoluções</p><p>burguesas e a importância que elas tiveram para sedimentar a</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 41/52</p><p>Constituição como documento que regulamenta a vida dos homens</p><p>e impõe limite à atuação dos governantes. Você também viu que o</p><p>federalismo pode ser uma forma de organização do Estado, e que a</p><p>Constituição é que deve estabelecer os critérios e a autonomia de</p><p>um Estado Federal. Por isso, na situação hipotética que</p><p>desenvolvemos, o problema da moradia e da garantia de</p><p>propriedade se choca com fatores de uma economia capitalista. O</p><p>Brasil é um país federativo – organizado em União, Estados e</p><p>municípios, cada um dos entes federados tem responsabilidades,</p><p>autonomia e limites nas relações entre si. Como um país federativo,</p><p>algumas políticas públicas são descentralizadas, ou seja, têm</p><p>origem na União, mas são geridas por Estados e municípios, de</p><p>forma autônoma. Essa descentralização é garantida pela</p><p>Constituição Federal de 1988, que deve mediar e ser o instrumento</p><p>que busca igualdade mesmo no interior da dinâmica de uma</p><p>sociedade capitalista e suas desigualdades.</p><p>Saiba Mais</p><p>Estado e liberalismo. Essa é uma relação que precisa ficar muito</p><p>nítida para estudo, pois toda a fundamentação de compreensão do</p><p>Estado no mundo contemporâneo depende disso. Então, vamos</p><p>estudar especificamente, com argumentos históricos, essa</p><p>narrativa? Faça o estudo e a leitura da obra.</p><p>BERLANZA, L. O Papel do Estado Segundo os Diversos</p><p>Liberalismos. São Paulo: Edições 70, 2023.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BERLANZA, L. O Papel do Estado Segundo os Diversos</p><p>Liberalismos. São Paulo: Edições 70, 2023.</p><p>COELHO, M. D. Federalismo: introdução ao estudo dos seus</p><p>princípios. [S. l.]: Del Rey, 2023.</p><p>06/08/2024, 15:33 Teoria do Estado</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/ce65c3ed-5113-470b-a4d7-58f452ab10a5/v1/index.html 42/52</p><p>CONSTITUIÇÃO. In: HOUAISS Uol. [S. l.]: [s. d.]. Disponível em:</p><p>https://houaiss.uol.com.br/corporativo/apps/uol_www/v6-</p><p>1/html/index.php#1. Acesso em: 30 dez. 2023.</p><p>GRESPAN, J. Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo:</p><p>Contexto, 2014.</p><p>HOBSBAWM, E. A era das revoluções. 21. ed. Lisboa: Presença,</p><p>2007.</p><p>LEVI, L. Federalismo. In: BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.; PASQUINO,</p><p>G. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de</p><p>Brasília, 1998.</p><p>MANN, M. As fontes do poder social: o surgimento das classes e</p><p>dos estados-nações, 1760-1914. São Paulo: Vozes, 2022.</p><p>PENNA, M. C. V. M. Constitucionalismo: origem e evolução histórica.</p><p>Revista Brasileira de Direito Constitucional, n. 21, p. 149-178,</p><p>jan./jun. 2013.Disponível em:</p><p>http://esdc.com.br/seer/index.php/rbdc/article/view/15. Acesso em:</p><p>30 dez. 2023.</p><p>XAVIER, G. C.; XAVIER, C. C. O Federalismo: conceito e</p><p>características. Âmbito Jurídico,</p>