Prévia do material em texto
<p>59</p><p>Apresentação do módulo</p><p>Mas, será que este desdobramento de uma abordagem pode trazer consequências penais para o</p><p>abordado e/ou para o profissional de segurança pública?</p><p>A resposta certamente é positiva, não precisando de qualquer auxílio técnico para isto. Por esse motivo,</p><p>é que neste módulo, você estudará as implicações penais em função do comportamento das pessoas</p><p>submetidas a uma abordagem policial (desobediência, desacato, resistência, etc.), bem como as</p><p>consequências penais que podem recair sobre o agente policial em razão da eventual inobservância das</p><p>regras e limites jurídicos (constrangimento ilegal, violação de domicílio, abuso de autoridade, tortura etc.).</p><p>Além disso, ao final do Módulo serão abordados alguns aspectos de processo disciplinar e improbidade</p><p>administrativa, ligados a eventuais responsabilizações nestas esferas em razão da atuação policial.</p><p>Objetivo do módulo</p><p>Ao final do módulo, você será capaz de:</p><p>Identificar as implicações penais relacionadas ao comportamento das pessoas submetidas a uma</p><p>abordagem policial (desobediência, desacato, resistência, etc.);</p><p>Reconhecer as consequências penais que podem recair sobre o profissional de agente policial em</p><p>razão da eventual inobservância das regras e limites jurídicos (constrangimento ilegal, violação de domicílio,</p><p>abuso de autoridade, tortura etc.).</p><p>MÓDULO</p><p>3</p><p>IMPLICAÇÕES PENAIS, CIVIS E ADMINISTRATIVAS</p><p>SOBRE A ABORDAGEM POLICIAL:</p><p>RESPONSABILIDADE DO CIDADÃO E DO AGENTE</p><p>POLICIAL</p><p>60</p><p>Estrutura do Módulo</p><p>Este módulo contempla as seguintes aulas:</p><p>Aula 01 Da responsabilidade penal do cidadão frente a uma atuação policial</p><p>Aula 02 Da responsabilidade penal dos agentes policiais na realização de uma abordagem</p><p>Aula 03 Implicações de ordem disciplinar ao policial</p><p>Aula 04 Da responsabilização por ato de improbidade administrativa ao policial</p><p>Aula 1 Da responsabilidade penal do cidadão frente a uma</p><p>atuação policial</p><p>1.1 Breve introdução sobre a razão da tutela dos bens jurídicos pelo Direito Penal</p><p>Você estudou que para a existência de um Estado é necessário que os integrantes da sociedade firmem</p><p>um contrato social, abrindo mão de suas liberdades para obter benefícios e proteção do Poder Público. Para</p><p>tanto, nesse ambiente, as pessoas se submetem à autoridade estatal, que estabelece um conjunto de regras, as</p><p>quais ordenam as relações em sociedade para atingir o bem comum. Dentro desse cenário, considerando a</p><p>segurança, destaca-se o dever do Estado de preservar a ordem pública e promover um ambiente social livre de</p><p>riscos e perigos, seja em função da hostilidade da natureza ou do comportamento lesivo de outras pessoas.</p><p>Nessa relação entre os indivíduos que compõem a sociedade e o poder público, como forma de garantir</p><p>o seu perfeito funcionamento, algumas regras são impostas para regular a interação entre uns e outros. Vale</p><p>dizer, que os indivíduos cumprem sua parte ao respeitar e cumprir o conjunto de regras impostas pelo poder</p><p>público, sob pena de se submeterem à responsabilização nas esferas cível, administrativa ou penal, conforme o</p><p>caso.</p><p>Em termos penais, encontra-</p><p>subsistência do corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens</p><p>jurídicos</p><p>medida em que os demais ramos do Direito não foram suficientes para proteger esses bens, isso porque a</p><p>resposta penal costuma ser mais severa, recaindo sobre a liberdade e os bens do autor de uma infração, dentre</p><p>outras medidas.</p><p>Assim, para resgatar equilíbrio na sociedade (paz social), quando uma pessoa, com seu comportamento,</p><p>ofende a um bem jurídico penalmente tutelado, instaura-se o que se chama de persecução penal (jus puniendi).</p><p>Em outras palavras, quando alguém pratica uma infração penal (crime/delito ou contravenção penal), seja em</p><p>flagrante delito (CPP, arts. 301 e 302 ou CPPM, arts. 243 e 244), seja após o indiciamento decorrente de inquérito</p><p>policial comum ou militar ou em um termo circunstanciado (art. 69 da Lei n° 9.099/1995), o Estado exercerá o</p><p>direito de punir (jus puniendi), após o devido processo legal (CF/88, art. 5°, LV)</p><p>61</p><p>Boa parte das persecuções penais se origina durante a atuação dos profissionais de segurança pública,</p><p>abrangendo aí o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.</p><p>É dela que estamos falando!</p><p>Vale dizer, várias são as ocorrências em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas</p><p>reagem à atuação do agente policial. Dentre elas destacam-se:</p><p>Desobediência: quando o indivíduo não cumpre ou não atende à determinação legal;</p><p>Desacato: quando o indivíduo desrespeita, desprestigia ou ofende o policial;</p><p>Resistência: quando o indivíduo se opõe à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça;</p><p>Corrupção ativa: quando o indivíduo oferece ou promete vantagem indevida a fim de provocar a</p><p>omissão ou retardamento de ato de ofício;</p><p>Contravenção penal: quando o indivíduo se recusa a fornecer dados sobre a própria identidade ou</p><p>qualificação.</p><p>Importante!</p><p>Vale lembrar também que o profissional, aplicando as técnicas adequadas, respaldado nos aspectos</p><p>jurídicos desse procedimento (vide Módulos 1 e 2), passa a refletir sobre as eventuais providências a</p><p>serem adotadas em face desse comportamento.</p><p>Estude a seguir cada uma das infrações penais apresentadas anteriormente.</p><p>1.1 Da desobediência</p><p>O Código Penal CP estabelece em seu artigo 330 o seguinte:</p><p>Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:</p><p>Pena detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.</p><p>De acordo com a doutrina (LENZA, 2011, p. 749), trata-se de comportamento intencional (doloso) em</p><p>que a pessoa deixa de cumprir ou não atende à ordem (legal) do policial.</p><p>Da leitura desse dispositivo, depreende-se que, para a configuração do crime, é indispensável que</p><p>sejam preenchidos os seguintes requisitos:</p><p>Existência de uma ordem</p><p>Significa determinação, mandamento. Assim, quando a pessoa deixa de atender um simples pedido ou</p><p>uma solicitação não há o crime.</p><p>62</p><p>Legalidade da ordem</p><p>Pelo princípio da legalidade (CF/88, art. 37, ), a determinação dada pelo agente deve estar</p><p>prevista em uma norma. Se não houver regra que determine a pessoa a fazer ou deixar de fazer algo (CF/88,</p><p>art. 5°, inciso II), não há o crime em tela, principalmente em se tratando da imposição de restrição de direitos e</p><p>garantias fundamentais. Qualquer do povo pode prender, o policial deve!</p><p>Profissional de segurança pública com competência para a prática do ato</p><p>Um dos elementos para que o ato administrativo seja aperfeiçoado é a competência do servidor para</p><p>prática do ato, conforme previsão legal (ex.: notificação de trânsito, abordagem policial).</p><p>Tais requisitos costumam ser citados no âmbito da justiça, como ocorreu no seguinte precedente:</p><p>Para a configuração do delito de desobediência, imprescindível se faz a cumulação</p><p>de três requisitos, quais sejam, desatendimento de uma ordem, que essa ordem seja</p><p>legal e que emane de funcionário público. Não há norma jurídica que determine que</p><p>a conduta mencionada no art. 330 do CP somente possa ser praticada por particular.</p><p>Recurso provido. (STJ. 5ª Turma. Resp. 491.212- RS. Rel. Min. José Arnaldo da</p><p>Fonseca. Julgado em 07 out 2003, DJU 10.11.2003, p. 205.)</p><p>Em termos práticos, o exemplo que se pode construir é o das condições de acesso e permanência do</p><p>torcedor no recinto esportivo, conforme citado no Módulo 2 (Lei 10.671/2003 - Dispõe sobre o Estatuto de</p><p>Defesa do Torcedor, art. 13-A):</p><p>Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo,</p><p>sem prejuízo de outras condições previstas em lei: (Incluído pela Lei nº 12.299, de</p><p>2010).</p><p>I - estar na posse de ingresso válido; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).</p><p>II - não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou</p><p>possibilitar</p><p>a prática de atos de violência; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).</p><p>III - consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança; (Incluído pela Lei nº</p><p>12.299, de 2010).</p><p>IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com</p><p>mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo; (Incluído pela Lei nº</p><p>12.299, de 2010).</p><p>V - não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; (Incluído pela Lei nº</p><p>12.299, de 2010).</p><p>VI - não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto</p><p>esportivo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).</p><p>VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos</p><p>pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos; (Incluído pela Lei nº 12.299, de</p><p>2010).</p><p>63</p><p>VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua</p><p>natureza; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).</p><p>IX - não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos</p><p>competidores. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).</p><p>X - não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros</p><p>fins que não o da manifestação festiva e amigável. (Incluído pela Lei nº 12.663, de</p><p>2012).</p><p>Parágrafo único. O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo</p><p>implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for</p><p>o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções</p><p>administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis. (Incluído pela Lei nº 12.299,</p><p>de 2010).</p><p>Observações:</p><p>- Pela leitura da norma penal secundária do crime de desobediência (sanção penal de detenção, de</p><p>quinze dias a seis meses, e multa), na forma do art. 61 da Lei n° 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais) , o</p><p>delito é de menor potencial ofensivo, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os</p><p>requisitos do art. 69 dessa lei.</p><p>- Configura resistência se a recusa do agente for realizada com violência ou ameaça contra o policial.</p><p>- A recusa no fornecimento de identificação caracteriza a contravenção do art. 68 da Lei das</p><p>Contravenções Penais Decreto-Lei n° 3.688, de 03/10/1941.</p><p>- Prefeitos que, imotivadamente, não cumprem ordem de autoridade judiciária praticam o crime de</p><p>desobediência contido no art. 1º, XIV, do Decreto-Lei n° 201/67*.</p><p>*Dispõe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências.)</p><p>- Alguns precedentes judiciais consideram que, se uma norma civil ou administrativa fixar punição para</p><p>um ato de mesma natureza (desobedecer), e não prever a cumulação com a sanção penal, não restará</p><p>configurado o crime em apreço (ex.: o art. 195 do Código de Trânsito Brasileiro prevê multa àqueles que</p><p>desrespeitam ordens dos agentes de trânsito - de parada, por exemplo, mas não ressalva a aplicação autônoma</p><p>do crime de desobediência (STF. 2ª Turma. HC 88.452-1-RS. Rel. Min. Eros Grau. Julgado em 02 mai. 2006, DJU</p><p>19 mai. 2006, p. 43.)</p><p>1.2 Do desacato</p><p>Esse tipo está previsto no artigo 331 do Código Penal:</p><p>Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:</p><p>Pena detenção, de seis meses a dois anos, e multa.</p><p>Trata-se de conduta dolosa, na qual o agente ofende, desprestigia ou desrespeita o profissional de</p><p>segurança pública. A prática pode ser efetivada por qualquer meio de execução: vias de fato, palavras, gestos,</p><p>dentre outros. São casos comuns os sinais ofensivos de empurrão ou de xingamentos ao policial durante uma</p><p>64</p><p>abordagem. Há ainda a reação de amassar, rasgar e jogar no chão um mandado de intimação. Tocar</p><p>ofensivamente o rosto do policial com a mão ou retirar-lhe a cobertura. Jogar lata de cerveja no policial.</p><p>O desacato pode ser praticado quando dirigido ao policial de serviço (escalado), ou quando estando</p><p>de folga, se referir às suas atribuições. É importante que fique claro o meio de execução empregado para</p><p>desacatar, realizado na presença do profissional de segurança, constando inclusive o emprego de palavras</p><p>obscenas e grosseiras no momento de sua prática. Caracteriza o crime mesmo que o servidor não se julgue</p><p>ofendido, na medida em que a norma penal tem o fim de tutelar o cargo e não a pessoa.</p><p>Observações:</p><p>- Considerando que a sanção penal é de detenção, de seis meses a dois anos e multa, o delito é de</p><p>menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que</p><p>preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.</p><p>- Caso a ofensa seja realizada na ausência do servidor, haverá o crime de injúria qualificada (CP, art.</p><p>140, combinado com o art. 141, II).</p><p>- Não se exige que o ofensor e o policial estejam cara a cara, podendo estar em recintos diferentes,</p><p>mas próximos, sendo possível o próprio profissional de segurança ouvir o comentário ou perceber a reação.</p><p>- A divulgação não é requisito do crime, razão pela qual restará configurado mesmo se não for</p><p>presenciado por outras pessoas.</p><p>- Será resistência, e não desacato, se a agressão tiver o objetivo de impedir o cumprimento de um</p><p>procedimento policial.</p><p>1.3 Da resistência</p><p>O crime de resistência está previsto no art. 329 do CP, com o seguinte conteúdo:</p><p>Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a</p><p>funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:</p><p>Pena - detenção, de dois meses a dois anos.</p><p>§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:</p><p>Pena - reclusão, de um a três anos.</p><p>§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à</p><p>violência.</p><p>Como se pode ver, o delito citado existirá quando uma pessoa utilizar de violência ou ameaça (não</p><p>precisa ser grave) para impedir ou obstruir um procedimento legal, realizado pelo profissional de segurança</p><p>pública competente, por exemplo, para evitar uma prisão ou uma reintegração de posse.</p><p>65</p><p>Observações:</p><p>- O crime previsto no é de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), porquanto a</p><p>sanção penal é de detenção, de dois meses a dois anos, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que</p><p>preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei. O que não ocorre com o § 1°, na medida em que a pena é de</p><p>reclusão, de um a três anos.</p><p>- A violência tem significado de uso da força física, um ato indevido de agressão física. Tem que ser</p><p>dirigida contra a pessoa do policial ou do terceiro que o auxilia (Ex.: investigador de polícia vai cumprir mandado</p><p>de prisão e é ajudado por alguém que acaba agredido). Se a violência for dirigida contra uma coisa (ex.: viatura</p><p>policial, poste de iluminação, porta, parede, etc.), pode configurar o delito de dano qualificado.</p><p>- Não haverá o crime se a resistência for passiva, isto é, aquela em que não há emprego de violência</p><p>ou ameaça. Lembre-se do clássico exemplo da pessoa que se segura em um poste para não ser levado à</p><p>preso, não configura o delito de resistência, que exige para sua caracterização a presença dos requisitos da</p><p>-SP. Rel.: Mattos Faria, Jutacrim 10/249.)</p><p>- A ameaça pode ser escrita ou verbal, não precisando ser grave. O procedimento praticado pelo policial</p><p>deve ser legal quanto ao conteúdo e à forma (modo de execução). Sendo ordem ilegal, a violência ou ameaça</p><p>dos elementos caracterizadores da resistência é a oposição a uma ordem legal. Ora, se esta é abusiva, portanto,</p><p>-SP. Rel.: Camargo Aranha. RT</p><p>461/378.)</p><p>- A resistência só ocorre se a violência ou a ameaça forem empregadas contra a prática do</p><p>procedimento policial. Assim se empregadas após a prisão ou a reintegração, não há o crime de resistência, mas</p><p>o delito de lesão corporal (art. 129) ou de ameaça (art. 147).</p><p>- Se a violência for empregada para proporcionar um ato de fuga, após a prisão ter sido realizada, não</p><p>haverá resistência, mas o crime de evasão mediante violência contra a pessoa (CP, art. 352).</p><p>- Não há</p><p>resistência se o agente policial for incompetente para determinar a ordem ou realizar o</p><p>procedimento, por exemplo, para que a pessoa desocupe terreno invadido, mas não tem documento judicial</p><p>ordenando a retirada.</p><p>1.4 Da corrupção ativa</p><p>O art. 333 do Código Penal veicula o crime de corrupção ativa nos seguintes termos:</p><p>Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para</p><p>determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:</p><p>Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº</p><p>10.763, de 12.11.2003)</p><p>Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou</p><p>promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo</p><p>dever funcional.</p><p>66</p><p>Na maioria das vezes essa infração penal é cometida de forma oral. Contudo, é possível que a oferta</p><p>ou a promessa de vantagem indevida sejam feitas por escrito ou com gestos (estender o dinheiro ou abrir um</p><p>talão de cheques). Como se vê, a norma penal busca sancionar a iniciativa do particular de praticar essas</p><p>condutas, a fim de obter benefícios com a ação ou omissão de um policial. Ao oferecer, o agente disponibiliza</p><p>imediatamente dinheiro ou valores ao profissional de segurança pública (ex.: para evitar notificação de trânsito,</p><p>uma pessoa entrega furtivamente ao policial uma quantia em dinheiro). Ao prometer, o cidadão garante a</p><p>entrega de uma vantagem ao policial.</p><p>Sobre esse delito, a doutrina construiu as seguintes variações:</p><p>Conduta do Agente Conduta do Policial Delito Configurado</p><p>Oferece a vantagem indevida Recusa-se Corrupção ativa</p><p>Oferece a vantagem indevida Recebe Corrupção ativa e corrupção</p><p>passiva</p><p>Promete a vantagem indevida Não aceita Corrupção ativa</p><p>Promete a vantagem indevida Aceita Corrupção ativa e também</p><p>passiva</p><p>Concorda ou não Solicita a vantagem Corrupção passiva</p><p>Quadro 1 Variações de Corrupção Ativa</p><p>Fonte: LENZA, 2011, p. 759</p><p>Na corrupção ativa, o autor da oferta ou promessa visa o seguinte:</p><p>- Para que um delegado de polícia demore a concluir um inquérito policial, para que aconteça a</p><p>prescrição.</p><p>- Para que o policial não preencha a notificação de trânsito.</p><p>- Autoridade de trânsito emite Carteira de Habilitação a quem não passou no exame (nesse caso, há</p><p>também crime de falsidade ideológica).</p><p>Observações:</p><p>-</p><p>pção ativa, porque não houve a oferta nem a promessa de vantagem indevida. De outro</p><p>privilegiada (CP, art. 317, §2 º), tendo o particular como partícipe, em razão do induzimento. Agora, caso o</p><p>- Não há crime de corrupção ativa se o particular oferece a vantagem para evitar que o profissional de</p><p>segurança pratique contra ele algum ato ilegal.</p><p>67</p><p>- No período eleitoral, a corrupção praticada para obter voto configura o delito previsto no art. 299 do</p><p>Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65).</p><p>- A corrupção ativa de testemunhas, peritos, tradutores ou intérpretes, não oficiais, constitui o crime do</p><p>art. 343 do Código Penal.</p><p>1.5 Recusa de dados sobre própria identidade ou qualificação</p><p>Trata-se de contravenção penal, tipificada no art. 68 do Decreto-Lei n° 3.688, de 03/10/1941:</p><p>Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta justificadamente solicitados ou</p><p>exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão,</p><p>domicílio e residência:</p><p>Pena multa.</p><p>Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e</p><p>multa, se o fato não constitui infração penal mais grave, quem, nas mesmas</p><p>circunstâncias, faz declarações inverídicas a respeito de sua identidade pessoal,</p><p>estado, profissão, domicílio e residência.</p><p>A título de exemplo, imagine aquela situação na qual o cidadão impõe algumas dificuldades para a</p><p>realização da abordagem policial, dentre elas a de não informar nome, local de residência, identidade, profissão</p><p>etc. Sabe-se que não há nenhuma norma que obrigue as pessoas a portarem carteira de identidade, razão</p><p>pela qual você não poderá exigi-la da pessoa (CF/88, art. 5°, II), sob pena de incorrer em abuso de autoridade</p><p>ou constrangimento ilegal, conforme o caso. Mas a pessoa deve lhe dizer os dados solicitados, ou incorrerá na</p><p>contravenção do art. 68 da LCP.</p><p>Como se vê, o tipo penal tem o objetivo de proibir condutas que criem obstáculos à identificação ou</p><p>dados que tornam uma pessoa diferente das demais. Identidade civil: nome, data e lugar de nascimento, filiação</p><p>No caso em que o abordado esteja sem qualquer identificação, contudo informa seus dados sem</p><p>apresentar documento para confirmar, o policial pode conduzi-lo até a delegacia pela contravenção?</p><p>Seria possível ao policial ao menos conduzir a pessoa até a delegacia para confirmar seus dados?</p><p>Ou o policial incorreria em abuso de autoridade?</p><p>Observações:</p><p>- Em razão das penas cominadas, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei</p><p>n° 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69</p><p>dessa lei.</p><p>- A contravenção só existe se o policial estiver no exercício de suas atribuições por ocasião da solicitação</p><p>ou exigência, do contrário, o fato é atípico.</p><p>- Se a pessoa abordada se recusa num primeiro momento e em seguida presta as informações sua</p><p>identidade, não haverá a contravenção penal.</p><p>68</p><p>- Se houver o crime de uso de documento falso, a contravenção de recusa de identificação fica</p><p>absorvida (RF, 317:328 e 309:235).</p><p>No art. 307 do CP, ao recusar o fornecimento de dados identificadores, o autor do crime busca</p><p>policial documento de seu irmão, passando-se por ele, para não ser preso.</p><p>Já na contravenção penal a recusa não traz benefício algum para o sujeito passivo. Lembre-se, não há</p><p>lei que obrigue as pessoas a portarem documento que as identifique. Entretanto, há obrigação para que se a</p><p>forneça os dados que possibilitem a identificação de alguém.</p><p>De outro lado, cabe reforçar que, de acordo com o § 1° do art. 159 do Código de Trânsito Brasileiro</p><p>CTB, se alguém estiver na direção de um veículo automotor, é obrigatório portar a Carteira Nacional de</p><p>Habilitação ou a Permissão para Dirigir.</p><p>Como se vê, verifica-se que, ao realizar uma abordagem legítima, você sabe que diante da recusa do</p><p>cidadão em identificar-se, no mínimo existe uma contravenção penal.</p><p>Até aqui foram abordados os tipos penais mais comuns ocorridos durante uma abordagem policial,</p><p>que podem ser praticados por qualquer pessoa. Assim, a depender da conduta, é possível que outros crimes</p><p>existam, exigindo de você a adoção de providências cabíveis.</p><p>Aula 2 Da responsabilidade penal dos agentes policiais na</p><p>realização de uma abordagem</p><p>No exercício das atribuições o agente policial eventualmente pode se exceder nos limites do uso da</p><p>força, e seu comportamento pode caracterizar um ilícito penal. Dentro desse contexto, você terá a</p><p>oportunidade de identificar os tipos penais de maior ocorrência durante uma abordagem policial, na qual o</p><p>profissional poderá ser responsabilizado.</p><p>Tendo em vista o que estudamos nos dois primeiros módulos, a essa altura você já teve ter condições</p><p>de discutir sobre cada uma dessas perguntas.</p><p>69</p><p>No Módulo 01 você estudou sobre o papel do Estado no âmbito da segurança pública, várias vezes</p><p>repetidas durante o curso, assim como os direitos e garantias fundamentais e as convenções internacionais</p><p>com reflexo na atividade policial. Percebeu no Módulo 02 que, para cumprir esse papel, o poder público</p><p>recebe prerrogativas, através do uso legítimo da força, concretizado principalmente através do exercício do</p><p>dever-poder de polícia. Entretanto, a fim de evitar os desvios, abusos e as arbitrariedades no uso desse poder,</p><p>existem limites, estipulados. Num primeiro momento, através dos direitos e garantias fundamentais (Módulo</p><p>01), num segundo momento, através das sujeições (Módulo 02 - prestação de contas, atendimento do</p><p>interesse público,</p><p>proporcionalidade das ações, etc.).</p><p>Mas, e se...</p><p>2.2 Analisando o abuso de autoridade</p><p>2.2.1 Aspectos gerais</p><p>Ao tratar do tema, Silvio Maciel (2010, p. 15) faz menção à lição de Montesquieu, no sentido de que</p><p>todo homem tem a tendência de abusar do poder que detém. E isso ficou comprovado com a história</p><p>humana. De outro lado, para evitar os desvios no uso desse poder, algumas regras foram definidas para limitá-</p><p>lo (direitos e garantias fundamentais - vide Módulo 1, art. 5º da CF/88).</p><p>Assim, uma das normas que busca garantir o cumprimento dos direitos e garantias fundamentais é a</p><p>Lei n° 4.898/1965, objeto de nosso</p><p>do abuso de autoridade enseja uma responsabilização em três esferas: administrativa (disciplinar), civil</p><p>(danos morais e materiais) e penal, sem prejuízo da responsabilização do Estado (CF/88, art. 37, §6°).</p><p>Normalmente o abuso de autoridade é noticiado através de uma representação realizada pela pessoa</p><p>interessada (vítima/ofendido, representante legal, etc.), seguindo os requisitos do art. 2º da Lei nº 4.898/1965.</p><p>Essa representação pode ser dirigida à autoridade administrativa superior do agente policial, assim como</p><p>registrada em uma delegacia ou direcionada ao ministério público.</p><p>casos de abuso previstos na Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, não obsta a iniciativa ou o curso de ação</p><p>adotar as medidas necessárias para sua apuração. Até porque se trata de ação penal pública incondicionada,</p><p>na forma do art. 12 da Lei n° 4.898/1965.</p><p>70</p><p>Nesse sentido, a apuração da conduta pode ser realizada por procedimento administrativo em geral,</p><p>sindicância, inquérito policial, procedimento administrativo no âmbito do ministério público, etc. Daí advém a</p><p>responsabilização nas esferas acima citadas.</p><p>De um lado, a Lei tem por objetivo proteger o normal funcionamento da administração pública,</p><p>tomada em sentido amplo. Em outras palavras, busca garantir que o serviço público seja prestado em</p><p>condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade. De outro lado, a</p><p>norma tem por fim tutelar os direitos e garantias fundamentais.</p><p>Nesse âmbito, tanto o Estado quanto a pessoa submetida à intervenção abusiva são sujeitos passivos</p><p>(vítimas/ofendidos). Se a vítima do abuso for uma criança ou adolescente, o autor da conduta responderá na</p><p>forma do Estatuto da Criança do Adolescente, art. 230 e seguintes da Lei n° 8.069/1990.</p><p>O autor do fato (sujeito ativo), para a Lei, é aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, de</p><p>natureza civil ou militar, mesmo que de maneira temporária e sem receber remuneração (art. 5°). É o que a</p><p>doutrina chama de crime próprio, isto é, exige-se especial condição de quem pratica a conduta criminosa.</p><p>Importante!</p><p>Fique atento! Existem situações em que o autor do abuso, mesmo não estando no exercício de suas</p><p>funções, comete o crime em tela. Isso ocorre quando o funcionário, apesar de não estar escalado,</p><p>cumprindo suas atribuições, pratica um ato invocando a condição de autoridade de que é investido,</p><p>conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal:</p><p>Crime de abuso de autoridade. Comete-o o miliciano que, embora, sem farda e fora</p><p>do efetivo exercício de sua função, age, evocando a autoridade de que e investido.</p><p>Exegese do art. 5° da lei n. 4.898/65. Competente, todavia, para o processo e</p><p>julgamento, e a justiça comum estadual, eis que inexistente crime militar. "habeas</p><p>corpus" indeferido SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Segunda Turma. HC 59676,</p><p>Relator(a): Min. DJACI FALCAO, julgado em 16/04/1982, DJ 07-05-1982 PP-04269</p><p>EMENT VOL-01253-01 PP-00114.</p><p>O delito de abuso de autoridade é punido a título de dolo (intenção de praticar o ato), ou seja, o autor</p><p>da conduta tem consciência de que esteja exorbitando do poder.</p><p>Saiba mais...</p><p>Uma pessoa não enquadrada no conceito de autoridade, na forma do art. 5°, pode responder pelo</p><p>crime em lide, desde que seja na condição de partícipe, conforme estabelece o art. 29 do Código Penal. Com</p><p>efeito, responde aquela pessoa que estiver acompanhada de um policial, sabendo de suas intenções, e o auxilia</p><p>de alguma forma para que o crime aconteça. Isso ocorre, por exemplo, na hipótese em que o indivíduo fornece</p><p>instrumentos para a prática do ato, ou quando conduz o profissional de segurança para o local onde se encontra</p><p>a vítima.</p><p>71</p><p>2.3 Tipos penais</p><p>Agora que você já estudou sobre alguns aspectos gerais da Lei do abuso de autoridade, seria</p><p>interessante olhar para cada conduta que pode caracterizar esse tipo penal. Lembre-se que o objeto do estudo</p><p>dessa norma está relacionado à abordagem policial. Diante disso, dê uma atenção aos artigos 3° e 4° da Lei e</p><p>identifique o tratamento dado aos seguintes temas:</p><p>Liberdade de locomoção;</p><p>Inviolabilidade de domicílio;</p><p>Sigilo de correspondência;</p><p>Liberdade de consciência e de crença;</p><p>Direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;</p><p>Direito de reunião;</p><p>Incolumidade física do indivíduo;</p><p>Direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional;</p><p>Ordenar ou executar medida privativa de liberdade, sem as formalidades legais ou com abuso</p><p>de poder;</p><p>Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado</p><p>por lei;</p><p>Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso</p><p>ou desvio de poder, ou sem competência legal.</p><p>As condutas elencadas no art. 3° não admitem a modalidade tentada, na medida em que a lei pune o</p><p>simples atentado como delito consumado - crimes de atentado (CAPEZ, 2012, p. 24).</p><p>A seguir, você estudará alguns dos tipos mais comuns envolvendo a atuação policial, que</p><p>merecem sua atenção.</p><p>2.3.1 Atentad</p><p>O direito à liberdade de locomoção encontra seu fundamento no primeiro inciso XV, art. 5°, da CF/88,</p><p>da</p><p>em tempo de guerra, limitações poderão ser impostas a esse direito, quando houver questões de</p><p>segurança nacional.</p><p>José Afonso da Silva (1999, p. 240) ensina que a liberdade de locomoção é a principal forma de</p><p>expressão da liberdade</p><p>todas as pessoas de serem senhoras de sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro</p><p>72</p><p>O direito à liberdade de locomoção engloba o acesso, ingresso e saída do território nacional, bem</p><p>como a permanência e deslocamento, direito de ir, vir, dentro dele. O referido direito toca tanto os brasileiros</p><p>como os estrangeiros, sejam ou não residentes no Brasil.</p><p>Resgatando os ensinamentos do Módulo 2, a abordagem policial representa autêntico desempenho</p><p>das atribuições da polícia para preservar a ordem pública e assegurar um ambiente social livre de riscos e</p><p>perigos, seja para promover uma orientação de caráter geral, seja para verificar e assegurar a normalidade de</p><p>um local, seja para identificar uma pessoa que tenha eventualmente praticado um delito. Entretanto, e conforme</p><p>já ficou assentando naquele módulo, tal medida deve seguir os critérios de proporcionalidade, dentre outros</p><p>requisitos já estudados (volte ao módulo para relembrar). Com efeito, dentro dessas condições, não há que se</p><p>falar em abuso de autoridade, posto que medida consentânea com o estado democrático de direito. Nesse</p><p>sentido, destaca-se a posição de Fernando Capez (2012, p. 26):</p><p>Com base no art. 244 do CPP, é possível a interceptação de um veículo ou de um</p><p>transeunte sempre que haja suspeita de que transporte ou esteja na posse de arma</p><p>proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito. Da mesma forma,</p><p>com base no poder de polícia, não haverá atentado à liberdade de locomoção, por</p><p>exemplo, na hipótese em que a autoridade, realizando barreira policial, vistoria</p><p>veículos e realiza a identificação dos seus condutores, ou quando concretiza em</p><p>boates com o fim de apreender substâncias entorpecentes. É que, no caso, agem as</p><p>autoridades no intuito de prevenir e reprimir a prática de crimes, hipótese em que</p><p>está</p><p>configurado o estrito cumprimento do dever legal. Obviamente que elas devem</p><p>agir dentro dos rígidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece essa</p><p>excludente da ilicitude. Os excessos cometidos poderão constituir crime de abuso</p><p>de autoridade.</p><p>Você já estudou no Módulo 2 as principais questões referentes à garantia constitucional para preservar</p><p>a inviolabilidade do domicílio (CF/88, art. 5°, inciso XI</p><p>50), inclusive sobre o que entende por casa.</p><p>exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, entre ou permanece em casa alheia ou em suas</p><p>dependências, sem o consentimento de seu morador. Mesmo as autoridades policiais estão sujeitas ao fiel</p><p>observância do princípio da inviolabilidade de domicílio.</p><p>Lembre-se, a Constituição de 1988 autoriza o ingresso no domicílio para os seguintes casos:</p><p>com consentimento do morador, à noite ou durante o dia;</p><p>em caso de flagrante delito, à noite ou durante o dia;</p><p>para prestar socorro, à noite ou durante o dia;</p><p>em caso de desastre, à noite ou durante o dia;</p><p>73</p><p>mediante mandado, isto é, ordem escrita do juiz competente durante o dia.</p><p>Com efeito, não há que se falar em abuso de autoridade nessas hipóteses.</p><p>Observações:</p><p>- Havendo consentimento do morador, o ingresso é permitido em qualquer momento, seja de dia ou</p><p>à noite;</p><p>- Inexistindo consentimento, o ingresso a qualquer hora do dia ou da noite, somente pode ocorrer em</p><p>caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro;</p><p>-</p><p>período que vai das seis às dezoito horas;</p><p>- O mandado judicial não poderá ser cumprido no período noturno, a não ser que o morador concorde.</p><p>Assim, não resta outra opção senão a de se aguardar até o amanhecer. Do contrário, pratica-se abuso de</p><p>autoridade.</p><p>2.3.3. Atentado ao sigilo da c</p><p>Você já viu nesse curso que o sigilo da correspondência é abarcado pela proteção constitucional (art.</p><p>de ca -se a restrição desse direito</p><p>constitucional quando envolver colisão de direitos fundamentais. Nesse sentido, Capez ( , 2012, p. 29) cita</p><p>a lição de J.J Gomes Canotilho:</p><p>De fato, não se justifica o sigilo absoluto em todos os casos. Ao invés, sua quebra é</p><p>necessária para evitar a tutela oblíqua de condutas ilícitas ou práticas .</p><p>A doutrina constitucional moderna é cediça nesse sentido, porque as garantias</p><p>fundamentais do homem não podem servir de apanágio à desordem, ao caos, à</p><p>subversão da ordem pública. Realmente, nenhuma liberdade individual é absoluta.</p><p>Comporta exceções para preservar o ditame da legalidade. Portanto, afigura-se</p><p>possível, observados os requisitos constitucionais e legais, a interceptação das</p><p>correspondências e das comunicações telegráficas e de dados, sempre que as</p><p>liberdades públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de</p><p>práticas ilícitas.</p><p>Daí porque, por exemplo, durante uma busca domiciliar, seja cabível apreender cartas, abertas ou não,</p><p>destinadas a alguém acusado de praticar delito ou que estejam em seu poder e que o seu conteúdo sirva de</p><p>elemento para esclarecer um delito, conforme preceitua o art. 240, § 1º, do CPP. Ainda define o art. 243, § 2°,</p><p>desse Código que é cabível a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, quando constituir</p><p>elemento do corpo de delito. Nesse ponto, vale a leitura do art. 7º, §§ 6º e 7°, do Estatuto da OAB Lei n°</p><p>8.906/1994:</p><p>74</p><p>§ 6o Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de</p><p>advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da</p><p>inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada,</p><p>expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser</p><p>cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese,</p><p>vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a</p><p>clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho</p><p>que contenham informações sobre clientes. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)</p><p>§ 7o A ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado</p><p>averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou</p><p>coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade.</p><p>(Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)</p><p>Vale destacar a relevância do tema que trata do sigilo de correspondência epistolar do preso no</p><p>âmbito do sistema penitenciário, quando há notícias de que este instrumento de comunicação esteja servindo</p><p>de base para planejamento e execução de atos criminosos. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal decidiu</p><p>que:</p><p>A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública,</p><p>pode, excepcionalmente, proceder à interceptação da correspondência remetida</p><p>pelos sentenciados, eis que a cláusula da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode</p><p>constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.</p><p>De outro lado, caracterizado o abuso, ou seja, a ausência de justificativa para proceder na violação do</p><p>direito aqui estudado, o agente policial incorrerá no delito previsto no art. 3º, , da Lei n. 4.898/65. Capez (2012,</p><p>p. 31) salienta que estando a carta aberta não há que se falar em sigilo, somente quando estiver fechada.</p><p>2.3.4 Do Atentado à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício do culto religioso</p><p>liberdade de consciência e de crença,</p><p>sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais</p><p>de culto e às suas liturgias</p><p>que praticar abordagem com o intuito de coibir o exercício legítimo desse direito, sem que haja motivo para a</p><p>intervenção policial.</p><p>De outro lado, é possível impedir a realização de cultos que atentem contra a moral ou ponha em risco</p><p>a ordem pública, assim como reprimir a prática de curandeirismo, sacrifício de animais ou excesso de som.</p><p>-se pacificamente, sem armas,</p><p>em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião</p><p>75</p><p>Lembre-se que vivenciamos um regime político no qual a vontade do povo deve ser respeitada. A reunião</p><p>constitui uma maneira de exercer o domínio popular, pois é por meio dela que a sociedade registra suas</p><p>pretensões, insatisfações e apoio àquilo que lhe convém.</p><p>Assim, os excessos violentos cometidos por agências policiais, coibindo abusivamente esse direito,</p><p>enseja a responsabilização na forma da Lei do abuso de autoridade.</p><p>De outro lado, os excessos cometidos no exercício desse direito também podem e devem ser coibidos.</p><p>Não se admitem, então, passeatas violentas, manifestações que prejudiquem o direito de outras pessoas. Daí</p><p>porque, por razões de segurança pública, os espaços para a realização dessas reuniões podem sofrer</p><p>delimitações, como na frente de um hospital, escolas durante as aulas, logradouros que não comportam a</p><p>atividade em análise, etc. (MACIEL, 2010, p. 28).</p><p>policial, quando no exercício de suas funções. É irrelevante que a conduta tenha deixado vestígio, pois a violência</p><p>exigida se caracteriza pelo emprego da força física, maus-tratos ou vias de fato. Nesse sentido, foi o que</p><p>reconheceu o Judiciário no seguinte precedente:</p><p>Abuso de autoridade. Vias de fato. Delitos caracterizados. Procede com abuso de</p><p>autoridade o agente policial que, sob pretexto de averiguar uma briga ocorrida</p><p>anteriormente, leva várias pessoas à delegacia de polícia e agride arbitrariamente</p><p>um menor, com tapas no rosto, na presença do pai. (TJSC. Jur. Catarinense 26/466)</p><p>Importante!</p><p>Por certo, nem toda violência cometida por agente público deve ser levada à condição de abuso de</p><p>autoridade. Há situações em que o recurso da violência é permitido e necessário, inserindo-se no</p><p>estrito cumprimento de dever legal, como exemplo, a violência (força legítima) utilizada por policiais</p><p>para prender alguém em flagrante ou em virtude de mandado judicial, quando houver resistência</p><p>ou</p><p>tentativa de fuga (sobre a questão do uso da violência legítima, vide Módulo 1).</p><p>Lembre-se do que estudamos no Módulo 2, o uso da força só será considerado, conforme o direito,</p><p>se estiver pautado na necessidade e proporcionalidade. Nesse contexto, embora tenha opção por adotar</p><p>diversas medidas (discricionariedade), o agente policial deve agir de maneira a atingir o fim a que precisa</p><p>chegar (prevenir crimes, tutelar bens, resgatar a paz social), com adequação, necessidade e proporcionalidade</p><p>em sentido estrito.</p><p>Isso ocorre com os policiais militares que respondem por lesão corporal perante a justiça militar</p><p>(estadual) e por abuso de autoridade no âmbito da justiça comum.</p><p>76</p><p>Observações:</p><p>- Se a violência praticada pelo profissional de segurança for cometida com o fim de obter informação,</p><p>declaração ou confissão, ou, ainda, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, o crime será o de</p><p>tortura, conforme os termos da Lei n° 9.455/1997.</p><p>-</p><p>julgar militar por crime de abus</p><p>2.3.7 Constrangimento ilegal</p><p>CP, art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou</p><p>depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de</p><p>resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:</p><p>Pena detenção, de três meses a um ano, ou multa.</p><p>A CF/88 garante às pessoas a liberdade de fazer ou não fazer o que bem lhes aprouver (art. 5º, II), desde</p><p>que observados os limites da ordem jurídica pátria.</p><p>No delito em comento, o agente constrange, obriga ou coage uma pessoa a fazer ou deixar de fazer</p><p>alguma coisa, empregando, para tanto, a violência ou grave ameaça. A doutrina lembra que:</p><p>Para a tipificação do crime de constrangimento ilegal, é, ainda, necessário</p><p>que o agente force a vítima a realizar ou deixar de realizar a conduta pelo</p><p>emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que lhe reduza</p><p>a capacidade de resistência. (LENZA, 2011, p. 267)</p><p>Para exemplificar, é possível verificar as seguintes situações:</p><p>- Obrigar uma pessoa a fazer algo</p><p>de constrangimento ilegal o agente que, empunhando arma, procura obrigar moças a entrarem em automóvel,</p><p>para dar-lhes, contra a vontade delas, uma caron -SP. Rel. Adauto Suannes. 592/351)</p><p>- Obrigar alguém a deixar de fazer algo</p><p>Policial impõe a uma pessoa que não fume em local sabidamente permitido. Ou ainda, policial</p><p>determina que um grupo de adultos não permaneça na esquina de uma rua às 03h00.</p><p>Violência X Grave Ameaça</p><p>A violência constitui o emprego de força física ou agressões sobre alguém (tapas, pontapés, socos,</p><p>etc.). Nessa hipótese, há o constrangimento ilegal quando o agente desfere sucessivos socos na vítima até que</p><p>ela salte contra sua vontade em uma piscina gelada, ou ainda, esse agente agarra e empurra a vítima à força</p><p>nessa piscina (LENZA, 2011, p. 267).</p><p>77</p><p>A grave ameaça constitui a promessa de mal grave a ser praticado contra a vítima ou parente próximo.</p><p>Ex.: agente com porte físico de atleta determina à vítima franzina a trocar de lugar em um show, sob pena de</p><p>agressão física.</p><p>Observações:</p><p>- Constrangimento ilegal e tortura: Na</p><p>delito específico, que constitui prática de tortura: constranger alguém com emprego de violência ou grave</p><p>ameaça, causando-</p><p>- Há constrangimento ilegal se a violência ou grave ameaça é empregada para evitar que uma pessoa</p><p>lei que proíba a venda do corpo, apenas a exploração dela por outrem (LENZA, 2011, p. 271).</p><p>2.3.8 Violação de domicílio</p><p>CP, art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a</p><p>vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas</p><p>dependências:</p><p>Pena detenção, de um a três meses, ou multa.</p><p>A norma penal tem por finalidade concretizar a previsão constitucional de que a casa é asilo inviolável</p><p>do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador (art. 5º, XI).</p><p>Nota</p><p>Sobre o conceito de casa, leia novamente a aula 3, do Módulo 2.</p><p>A violação de domicílio fica configurada quando, contra a vontade expressa ou tácita do morador,</p><p>o policial ingressa na residência ou permanece em casa alheia ou em suas dependências. A permanência é fator</p><p>indispensável para que se verifique a ocorrência do delito.</p><p>Importante!</p><p>É importante lembrar das hipóteses autorizativas de ingresso no domicílio, mencionadas na aula 3, do</p><p>Módulo 2.</p><p>Observações:</p><p>- Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), exigindo</p><p>lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.</p><p>- Consentimento do morador: é a pessoa que tem a capacidade de manifestar-se no sentido autorizar</p><p>o proprietário, possuidor legítimo,</p><p>78</p><p>arrendatário etc. Ademais, havendo vários moradores, o esposo e a esposa são os titulares desse direito de</p><p>consentimento, em que prevalece a sua autoridade em relação à dos demais habitantes da casa, mas é bom</p><p>lembrar que os demais (filhos, netos, sobrinhos, empregador, etc.) podem admitir ou excluir alguém nas</p><p>dependências que lhes são destinadas, mas mesmo assim, caso ocorra a discordância entre estas pessoas,</p><p>prevalecerá a proibição dos titulares de direito (esposo e esposa), assim caracterizando o ilícito penal, constante</p><p>do Art. 150 do CP.</p><p>- Cabe salientar que não configura o delito de violação de domicílio a entrada ou permanência em casa</p><p>uando ausente os moradores,</p><p>- Sendo servidor público (ex.: policial), o sujeito ativo poderá incorrer no art. 150 aqui citado, ou</p><p>responderá por abuso de autoridade, se confirmado ou não o exercício da função. Com efeito, estando o policial</p><p>escalado, caracteriza o abuso de autoridade. De outro lado, estando de folga, responde por violação de</p><p>domicílio. Nesse sentido, Nucci (2007, p. 646) assevera que o § 2º do art. 150 não se aplica, mas o art. 3°, alínea</p><p>do princípio da especialidade.</p><p>2.4 Tortura</p><p>Após a 2ª Guerra Mundial a comunidade internacional se mobilizou e fez nascer um movimento de</p><p>repúdio à prática da tortura, principalmente como instrumento para se obter informações.</p><p>Você deve lembrar que no 1° Módulo desse curso foi dito que não existem direitos e nem garantias</p><p>absolutas, ou seja, juridicamente se trabalha com a relativização das liberdades públicas. Até porque nem a vida</p><p>é absoluta, na medida em que se tolera a legítima defesa para ceifar esse bem jurídico de primeira grandeza.</p><p>Ademais, em caso de guerra, o Brasil admite, excepcionalmente, a pena de morte.</p><p>Importante!</p><p>O repúdio à tortura foi adotado no Brasil e esta garantia é absoluta! Quando diz que ninguém será</p><p>submetido à tortura e nem a tratamento desumano degradante é uma garantia que não admite</p><p>exceção! Vale dizer, e a doutrina costuma lembrar que, excepcionalmente, esta garantia é absoluta.</p><p>Na ordem infraconstitucional, em 1997 finalmente entrou em vigor uma lei específica que trata da</p><p>tortura, a Lei n° 9.455. Vale dizer, durante nove anos punia-se a tortura com tipos penais comuns, homicídio,</p><p>lesão, constrangimento ilegal, abuso de autoridade, etc. Salvo no caso do Estatuto da Criança e do Adolescente</p><p>(Lei n° 8.069/1990), que previa uma tortura específica para proteger crianças e adolescentes, conforme contido</p><p>no art. 233, hoje revogado pela Lei n° 9.455/1977.</p><p>79</p><p>No Brasil o crime de tortura é comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (autor do crime),</p><p>pode ser praticado por qualquer indivíduo, não se exige qualidade ou condição especial do agente. Então tanto</p><p>o policial quanto o particular (ex.: credor, que exige dívida do devedor), podem praticar este crime.</p><p>O art. 1º da Lei nº 9.455/1997 não traz a definição de tortura, apenas elenca os comportamentos que</p><p>configuram a prática da tortura:</p><p>Art. 1º Constitui crime de tortura:</p><p>I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe</p><p>sofrimento físico ou mental:</p><p>a)</p><p>com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira</p><p>pessoa;</p><p>b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;</p><p>c) em razão de discriminação racial ou religiosa;</p><p>II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de</p><p>violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de</p><p>aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.</p><p>Pena - reclusão, de dois a oito anos.</p><p>§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de</p><p>segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não</p><p>previsto em lei ou não resultante de medida legal.</p><p>§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-</p><p>las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.</p><p>§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão</p><p>de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.</p><p>§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:</p><p>I - se o crime é cometido por agente público;</p><p>II se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,</p><p>adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de</p><p>2003)</p><p>III - se o crime é cometido mediante sequestro.</p><p>§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a</p><p>interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.</p><p>§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.</p><p>§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o</p><p>cumprimento da pena em regime fechado.</p><p>De forma didática, o Professor Rogério Sanches (2010) explica os três delitos contidos nessa Lei por</p><p>meio de um quadro:</p><p>SUJEITOS</p><p>MODO DE</p><p>EXECUÇÃO</p><p>RESULTADO FINALIDADE</p><p>Art. 1º, I</p><p>- Sujeito ativo comum</p><p>- Sujeito passivo</p><p>comum</p><p>Com emprego de</p><p>violência ou grave</p><p>ameaça.</p><p>Causando-lhe</p><p>sofrimento físico</p><p>ou mental.</p><p>Consumação</p><p>a) Com o fim de obter informação</p><p>(tortura-prova);</p><p>b) Para provocar ação criminosa</p><p>(tortura para ação criminosa)</p><p>c) Discriminação</p><p>(tortura-discriminação)</p><p>Art. 1º, II</p><p>Submeter alguém sob</p><p>sua guarda poder ou</p><p>autoridade.</p><p>S.A. Próprio</p><p>(autoridade)</p><p>Com emprego de</p><p>violência ou grave</p><p>ameaça.</p><p>Causando-lhe</p><p>INTENSO</p><p>sofrimento físico</p><p>ou mental.</p><p>Consumação</p><p>Aplicar castigo pessoal ou medida</p><p>de caráter preventivo.</p><p>(tortura-castigo)</p><p>80</p><p>S.P. Próprio</p><p>(sob a</p><p>autoridade)</p><p>Art. 1º, §</p><p>1º</p><p>Submeter pessoa</p><p>presa ou sujeita a</p><p>medida de segurança</p><p>- S.Ativo Comum</p><p>- S. Passivo Próprio</p><p>Mediante</p><p>comportamento</p><p>ilegal</p><p>não</p><p>necessariamente</p><p>violência,</p><p>não</p><p>necessariamente</p><p>grave ameaça.</p><p>Causando-lhe</p><p>sofrimento físico</p><p>ou mental.</p><p>XXXXXXX</p><p>Quadro 2 Tipos penais da Lei da Tortura</p><p>O art. 1º, inciso I trata da tortura prova.</p><p>Constranger alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou</p><p>mental com o fim de obter informação.</p><p>Exemplo: policial que tortura o suspeito para confessar um crime. Ou ainda, o policial que, mediante</p><p>violência ou grave ameaça, causa sofrimento físico ou mental para obter a confissão de um crime.</p><p>Alguém sendo torturado, com emprego de violência ou grave ameaça, sofrendo consequências físicas</p><p>e mentais para provocar ação criminosa.</p><p>Exemplo: réu que tortura a testemunha presencial para mentir em juízo. Imaginem um acusado de</p><p>homicídio que sabe quem é a testemunha presencial, passa a torturá-la para que ela minta em juízo. Nesta</p><p>situação há alguém torturando uma pessoa, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe</p><p>sofrimento físico ou mental para provocar falso testemunho.</p><p>Alguém constrangendo outrem, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento</p><p>físico ou mental por discriminação.</p><p>Exemplo: A pessoa é torturada simplesmente por ser discriminada em razão da sua raça ou da sua</p><p>religião</p><p>Observações:</p><p>- O crime de tortura se consuma com a provocação do sofrimento físico ou mental, independentemente</p><p>da finalidade visada.</p><p>81</p><p>- A doutrina entende que, no caso do §1º, abrange o preso definitivo (com condenação) e o provisório</p><p>(flagrante, preventiva e temporária). Também abrange o menor infrator sujeito à medida sócio educativa. Sujeito</p><p>à medida de segurança, inimputável ou semi-imputável, submetido a internação ou tratamento ambulatorial.</p><p>- No inciso II do art. 1°, que traz a tortura-castigo, é importante que fique evidenciado o intenso</p><p>sofrimento físico ou mental causado na vítima. O delegado tem que apurar a intensidade no seu inquérito. Caso</p><p>contrário, fica configurado o crime de maus tratos (CP, art. 136).</p><p>- No § 1° a vítima do crime somente pode ser pessoa presa ou sujeita a medida de segurança.</p><p>2.4.1 Tortura omissão (art. 1º, § 2º)</p><p>Atenção!</p><p>Você, policial, pode responder pela tortura omissão. Isso ocorre na hipótese em que, estando</p><p>acompanhado por outro policial, a quem se imputa o crime de tortura ação, você nada faz.</p><p>tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,</p><p>dispositivo em apreço traz dois comportamentos omissivos.</p><p>Omissão imprópria: Quando tinha o dever de evitar. Sujeito ativo: garante (garantidor), o que tem o</p><p>dever de evitar. Rol de garantes: pai, mãe, curador, tutor, policial, médico, professor etc. Ex.: delegado percebe</p><p>que um agente criminoso está sendo levado para uma sala, onde será torturado, e nada faz. Cuida-se de tortura</p><p>omissão.</p><p>Omissão própria: Nessa há o dever de apurar e a autoridade se omite, nada fazendo. A tortura já</p><p>aconteceu. O sujeito ativo é a autoridade que tem o dever de apurar, mas não adota nenhuma providência,</p><p>ficando inerte. O sujeito passivo é qualquer pessoa.</p><p>2.4.2 Efeitos da condenação da tortura (Art. 1º, § 5º)</p><p>a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplica</p><p>A Doutrina e a Jurisprudência majoritárias entendem que na Lei 9.455/1997 a perda do cargo é</p><p>automática com a condenação, dispensada a fundamentação na sentença (STJ, HC 92247).</p><p>82</p><p>Aula 3 Implicações de ordem disciplinar ao policial</p><p>3.1 Do dever-poder disciplinar</p><p>No exercício de atividades para gerir a coisa pública, os bens e os interesses não se acham entregues à</p><p>atividade do que não é (Ruy Cirne Lima).</p><p>Dentro desse contexto, exsurge o regime jurídico dos servidores públicos, veiculado através de lei (ex.:</p><p>Lei nº 8.112/1990), que estabelece direitos e deveres. Nesse cenário, existem determinadas regras que regulam</p><p>o comportamento do agente público. Com efeito, a fim de assegurar a regularidade administrativa, havendo</p><p>notícia de transgressão da disciplina, a autoridade deve exercer o dever-poder disciplinar, adotando</p><p>providências para apurar os fatos e eventualmente impor sanção disciplinar.</p><p>Vale ressaltar que, a administração pública não tem liberdade de escolha para apurar ou deixar de</p><p>apurar, punir ou deixar de punir. É dizer, o exercício do dever-poder disciplinar é ato vinculado, em</p><p>benefício do bem comum. Tomando conhecimento da falta praticada, cumpre instaurar procedimento</p><p>adequado para esclarecer os fatos e eventualmente aplicar a sanção, após o devido processo legal, com</p><p>resguardo da ampla defesa e contraditório. Não observando essa determinação, o superior hierárquico estará</p><p>passível de responder por condescendência criminosa, infração administrativa e civil (improbidade Lei 8429/92,</p><p>art. 11, II).</p><p>3.2 Independência entre as esferas administrativa, civil e disciplinar</p><p>Sim. Considerando a independência das instâncias (CF, art. 2º), uma só conduta pode ensejar a</p><p>instauração de distintos processos ou procedimentos (penal, civil, disciplinar), sem que configure o ,</p><p>com imposição de punição, respeitados o devido processo legal, ampla defesa e contraditório.</p><p>Ademais, é possível que haja absolvição em uma esfera e condenação em outra, sem comunicação</p><p>entre elas. Entretanto, excepcionalmente, poderá ocorrer a comunicação</p><p>entre os processos, quando provada a</p><p>inexistência do fato ou a negativa de autoria no processo penal. Por exemplo, se ficar comprovado no processo</p><p>penal que o servidor não se beneficiou pecuniariamente, ou ainda, se realmente o fato não existiu, de forma</p><p>vinculada, as demais instâncias serão atingidas. É o que se pode concluir com a leitura desses dispositivos:</p><p>- Lei 8.112. Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição</p><p>criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.</p><p>- Código Civil. Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo</p><p>questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem</p><p>decididas no juízo criminal.</p><p>83</p><p>- CPP, Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta</p><p>quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.</p><p>É bom deixar evidente ainda que processos que tramitam nas diferentes instâncias não precisam</p><p>aguardar o desfecho do processo penal, sob pena de se operar a prescrição, caso não haja hipóteses legais de</p><p>interrupção e suspensão.</p><p>Com efeito, no exercício das atribuições, durante a realização de uma abordagem policial, o</p><p>profissional de segurança pública que praticar desvio de conduta, ultrapassando os limites discorridos nos</p><p>Módulos 1 e 2, poderá se ver responsabilizado em diferentes esferas (disciplinar, civil ou penal), sem que</p><p>haja . Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:</p><p>EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. EXCLUSÃO A</p><p>BEM DA DISCIPLINA. FALTA GRAVE. PROCESSO ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE.</p><p>INOCORRÊNCIA INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS PENAL E</p><p>ADMINISTRATIVA. I É legal a exclusão, a bem da disciplina, de militar que foi</p><p>considerado incapaz de permanecer nos quadros da Corporação da Polícia Militar,</p><p>pela prática de falta grave apurada em procedimento administrativo (Conselho de</p><p>Disciplina), com base no art. 3º, inciso III, alíneas "a" e "c", do Decreto nº 4.713/96. II</p><p>A independência entre as instâncias penal e administrativa, consagrada na</p><p>doutrina e na jurisprudência, permite à Administração impor punição</p><p>disciplinar ao servidor faltoso à revelia de anterior julgamento no âmbito</p><p>criminal, mesmo que a conduta imputada configure crime em tese.</p><p>(Precedentes do STF e do STJ.) (grifo nosso) Recurso desprovido. (Acórdão: ROMS</p><p>15628/GO: Recurso Ordinário em Mandado de Segurança 2002/0157331-7.).</p><p>Aula 4 Da responsabilização por ato de improbidade</p><p>administrativa ao policial</p><p>Saiba que esta afirmação está errada, pois não existe tal crime específico.</p><p>Vamos descobrir esta estória juntos!</p><p>4.1 Conceito e natureza</p><p>A palavra-chave é honestidade.</p><p>Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retidão, honradez. O servidor público probo</p><p>é leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-fé, com retidão de conduta, obedecendo aos</p><p>84</p><p>princípios éticos, os princípios morais. Com efeito, se o agente público não observa essas exigências, estará</p><p>agindo com improbidade administrativa. Assim, se probidade é honestidade, improbidade é desonestidade.</p><p>A Constituição Federal trata do tema no art. 37, § 4°. Vale a pena fazer uma leitura cuidadosa:</p><p>Art. 37. .................................................................................................</p><p>§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos</p><p>políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento</p><p>ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.</p><p>Da leitura desse dispositivo, a primeira coisa que tem que ficar claro para você é que o ato de</p><p>improbidade administrativa não é crime. Assim, não existe crime de improbidade administrativa, na medida</p><p>A lei que regula essa previsão constitucional é a Lei n° 8.429, de 02 de junho de 1992. Esta é norma de</p><p>leitura obrigatória para todo servidor público. Nela, várias condutas são descritas como improbidade. Você tem</p><p>na lista de improbidade, por exemplo, o desvio de dinheiro, o desvio de equipamento (ex.: o policial que</p><p>usa viatura para fazer as compras de casa), o engavetamento de processo, a leniência do servidor, o servidor</p><p>que não aparece para trabalhar.</p><p>É muito comum, no exercício das atribuições, se ouvir o chamado exercício nocivo da função pública.</p><p>Basta lembrar-</p><p>de natal do agente para que ele não preencha um formulário de notificação de trânsito. É importante dizer ainda</p><p>que, muitas vezes o profissional acha equivocadamente que não pratica a improbidade porque não se</p><p>enriqueceu, não obteve nenhuma vantagem. Contudo, de alguma forma causou dano ao erário, não observou</p><p>os princípios e regras.</p><p>4.2 Modalidades de ato de improbidade</p><p>A lei estabelece 03 (três) espécies distintas de ato de improbidade, conforme prevê os arts. 9º a 11.</p><p>Atenção!</p><p>Você tem que ter cuidado com essas listas porque elas são meramente exemplificativas. O rol de incisos</p><p>é enorme e é um rol exemplificativo.</p><p>O ato de improbidade pode ser subdividido em três modalidades diferentes:</p><p>- Ato de improbidade que gera enriquecimento ilícito (art. 9ª)</p><p>Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:</p><p>Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento</p><p>ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício</p><p>de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no</p><p>art. 1° desta lei, e notadamente:</p><p>85</p><p>I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer</p><p>outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,</p><p>gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser</p><p>atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente</p><p>público;</p><p>[...]</p><p>V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para</p><p>tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de</p><p>contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de</p><p>tal vantagem;</p><p>[...]</p><p>VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou</p><p>função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à</p><p>evolução do patrimônio ou à renda do agente público;</p><p>[...]</p><p>X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,</p><p>para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;</p><p>- Ato de improbidade que gera dano ao erário (art. 10, da Lei de Improbidade)</p><p>Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:</p><p>Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário</p><p>qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,</p><p>apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades</p><p>referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:</p><p>[...]</p><p>II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,</p><p>rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades</p><p>mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou</p><p>regulamentares aplicáveis à espécie;</p><p>VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades</p><p>legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;</p><p>[...]</p><p>XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;</p><p>XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,</p><p>equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de</p><p>qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de</p><p>servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.</p><p>- Ato de improbidade que gera violação</p><p>a princípio da administração (art. 11, da Lei de</p><p>Improbidade)</p><p>Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:</p><p>86</p><p>Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios</p><p>da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de</p><p>honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:</p><p>I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele</p><p>previsto, na regra de competência;</p><p>II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;</p><p>III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que</p><p>deva permanecer em segredo;</p><p>IV - negar publicidade aos atos oficiais;</p><p>Saiba mais...</p><p>A Escola Superior do Ministério Público da União Cem Perguntas</p><p>e Respostas sobre Improbidade Administrativa Incidência e aplicação da Lei n. 8.429/1992</p><p>Leia!!</p><p>Finalizando...</p><p>Neste módulo, você estudou que:</p><p>Boa parte das persecuções penais se originam durante a atuação dos profissionais de segurança</p><p>pública, abrangendo aí o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.</p><p>Várias são as ocorrências em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas reagem à</p><p>atuação do agente policial. Dentre elas destacam-se: a desobediência; o desacato; a resistência, a corrupção</p><p>ativa e a contravenção penal.</p><p>de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade</p><p>O delito de abuso de autoridade é punido a título de dolo (intenção de praticar o ato), ou seja, o</p><p>autor da conduta tem consciência de que esteja exorbitando do poder.</p><p>No exercício de atividades para gerir a coisa pública, os bens e os interesses não se acham</p><p>entregu</p><p>administração é atividade do que não é (Ruy Cirne Lima).</p><p>Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retidão, honradez. O servidor público</p><p>probo é leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-fé, com retidão de conduta, obedecendo aos</p><p>princípios éticos, os princípios morais. Com efeito, se o agente público não observa essas exigências, estará</p><p>agindo com improbidade administrativa.</p><p>O ato de improbidade pode ser subdividido em três modalidades diferentes: Ato de improbidade</p><p>que gera enriquecimento ilícito (art. 9ª); Ato de improbidade que gera dano ao erário e Ato de improbidade que</p><p>gera violação a princípio da administração (art. 11, da Lei de Improbidade).</p>