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<p>Sucessão legítima</p><p>(ordem da vocação hereditária, herdeiros</p><p>necessários e direito de representação)</p><p>Prof. Dr. Fernando Frederico</p><p>Direito das Sucessões</p><p>Ordem da vocação hereditária</p><p>Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:</p><p>I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge</p><p>sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime</p><p>da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de</p><p>bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da</p><p>comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado</p><p>bens particulares;</p><p>II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;</p><p>III - ao cônjuge sobrevivente;</p><p>IV - aos colaterais.</p><p>Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.</p><p>Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.</p><p>Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,</p><p>adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.</p><p>Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e</p><p>de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.</p><p>Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.</p><p>Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.</p><p>Companheiro</p><p>sobrevivente</p><p>STF (RE 878.694): “No sistema</p><p>constitucional vigente, é</p><p>inconstitucional a distinção de</p><p>regimes sucessórios entre</p><p>cônjuges e companheiros,</p><p>devendo ser aplicado, em ambos</p><p>os casos, o regime estabelecido</p><p>no art. 1.829 do CC/2002”.</p><p>CC, arts. 1.832 a 1.835</p><p>CC, arts. 1.836 e 1.837</p><p>Art. 1.838. Em falta de descendentes e</p><p>ascendentes, será deferida a sucessão por</p><p>inteiro ao cônjuge sobrevivente.</p><p>Art. 1.830. Somente é</p><p>reconhecido direito</p><p>sucessório ao cônjuge</p><p>sobrevivente se, ao tempo</p><p>da morte do outro, não</p><p>estavam separados</p><p>judicialmente, nem</p><p>separados de fato há mais</p><p>de dois anos, salvo prova,</p><p>neste caso, de que essa</p><p>convivência se tornara</p><p>impossível sem culpa do</p><p>sobrevivente.</p><p>Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer</p><p>que seja o regime de bens, será assegurado, sem</p><p>prejuízo da participação que lhe caiba na</p><p>herança, o direito real de habitação</p><p>relativamente ao imóvel destinado à residência</p><p>da família, desde que seja o único daquela</p><p>natureza a inventariar.</p><p>CC, arts. 1.839 e 1.843</p><p>Na ausência de parentes sucessíveis</p><p>e de cônjuge ou companheiro, ou se</p><p>todos renunciaram à herança, esta é</p><p>entregue ao Estado (CC, art. 1.844).</p><p>Sucessão dos descendentes</p><p>Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais</p><p>remotos, salvo o direito de representação.</p><p>Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de</p><p>seus ascendentes.</p><p>Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros</p><p>descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.</p><p>Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do</p><p>falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.</p><p>Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca</p><p>na ascendente.</p><p>Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor</p><p>dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.</p><p>Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o</p><p>representado, se vivo fosse.</p><p>Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.</p><p>Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na</p><p>sucessão de outra.</p><p>Sucessão dos descendentes (por cabeça)</p><p>Neste exemplo, o Filho 1, o Filho 2 e o Filho 3 (descendentes do falecido) estão na</p><p>mesma classe. Isso significa que, por serem mais próximos, excluirão os descendentes</p><p>mais remotos, que, no caso, é o neto, que nada vai receber.</p><p>Falecido</p><p>Filho 1 Filho 2 Filho 3</p><p>Neto</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 40.000,00 R$ 40.000,00 R$ 40.000,00</p><p>Sucessão dos descendentes (por estirpe)</p><p>Neste exemplo, a sucessão é por cabeça e todos os filhos do falecido têm direito de</p><p>receber quotas iguais da herança. Como um dos filhos que herdaria por cabeça é</p><p>falecido (Filho 2), seus filhos (netos do autor da herança) são convocados para receber</p><p>a quota parte que seria de seu pai, dividida entre eles em partes iguais. Essa é a</p><p>sucessão por estirpe, isto é, por direito de representação.</p><p>Falecido</p><p>Filho 1</p><p>Filho 2</p><p>(pré-morto)</p><p>Filho 3</p><p>Neto 1</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 40.000,00</p><p>R$ 20.000,00</p><p>R$ 40.000,00</p><p>Neto 2</p><p>R$ 20.000,00</p><p>Sucessão dos descendentes (por cabeça)</p><p>Exemplo acima: se o falecido não deixa filhos, mas apenas netos, os pais (filhos do falecido) que estão</p><p>em primeiro grau, pelo fato de estarem mortos, são excluídos e a herança será dividida por cabeça em</p><p>partes iguais entre os netos. Se um dos netos também está morto, os bisnetos herdam por</p><p>representação e dividem a parte que seria do seu pai (o neto do falecido). Podemos dizer, então, que a</p><p>sucessão dos descendentes em linha reta pode ocorrer sem qualquer limitação de grau, observando-se</p><p>sempre o princípio da exclusão do grau mais remoto, com exceção do direito de representação.</p><p>Falecido</p><p>Filho 1</p><p>(pré-morto)</p><p>Filho 2</p><p>(pré-morto)</p><p>Filho 3</p><p>(pré-morto)</p><p>Neto 2</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 30.000,00 R$ 30.000,00 R$ 30.000,00</p><p>Neto 3</p><p>R$ 30.000,00</p><p>Neto 1 Neto 4</p><p>Sucessão dos descendentes</p><p>em concorrência com o cônjuge</p><p>Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:</p><p>I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado</p><p>este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória</p><p>de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor</p><p>da herança não houver deixado bens particulares; (...).</p><p>O cônjuge NÃO concorrerá com os descendentes (ou seja, o cônjuge NÃO será considerado herdeiro</p><p>junto com os descendentes) em três hipóteses:</p><p> se casado com o falecido no regime da comunhão universal;</p><p> se casado com o falecido no regime da separação obrigatória de bens (CC, art. 1.641);</p><p> se casado no regime da comunhão parcial e o falecido não deixou bens particulares.</p><p>O cônjuge concorrerá SIM com os descendentes (ou seja, o cônjuge receberá herança junto com os</p><p>descendentes) em três hipóteses:</p><p> se casado com o falecido no regime da participação final nos aquestos;</p><p> se casado com o falecido no regime da separação convencional;</p><p> se casado no regime da comunhão parcial e o falecido deixou bens particulares.</p><p>Se o casal tinha três filhos e falece o marido, a herança será dividida, em partes iguais, entre a viúva e</p><p>os filhos (a viúva e os filhos receberão cada um 25% da herança).</p><p>Falecido</p><p>Filho 1 Filho 2 Filho 3</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 22.500,00 R$ 22.500,00 R$ 22.500,00R$ 22.500,00</p><p>Sucessão dos descendentes</p><p>em concorrência com o cônjuge</p><p>Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao</p><p>cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser</p><p>inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.</p><p>Filho 4</p><p>Viúva R$ 30.000,00</p><p>Porém, se o falecido deixou quatro filhos ou mais, e tendo que reservar um quarto da herança para a</p><p>viúva, esta receberá quinhão maior, repartindo-se os três quartos restantes entre os quatro ou mais filhos.</p><p>Se o falecido deixou pai e mãe, a</p><p>herança será dividida em partes</p><p>iguais.</p><p>Falecido</p><p>Pai Mãe</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 60.000,00</p><p>Sucessão dos ascendentes</p><p>Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em</p><p>concorrência com o cônjuge sobrevivente.</p><p>§ 1º. Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem</p><p>distinção de linhas.</p><p>§ 2º. Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha</p><p>paterna</p><p>herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.</p><p>R$ 60.000,00</p><p>Se apenas um dos genitores for vivo, a ele será deferida a totalidade</p><p>da herança, ainda que sobrevivam ascendentes do outro, pois</p><p>inexistindo pai ou mãe do de cujus, não herdam avós ou bisavós</p><p>(não há direito de representação na linha ascendente – CC, 1852).</p><p>Falecido</p><p>Pai</p><p>Mãe</p><p>(pré-morta)</p><p>R$ 120.000,00</p><p>Avó</p><p>materna</p><p>R$ 120.000,00</p><p>Sucessão dos ascendentes</p><p>Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a</p><p>outra aos da linha materna. Exemplificando: se o falecido possui três avós (igualdade de graus), dois maternos e um</p><p>paterno (diversidade de linha), todos receberão a herança, que será repartida ao meio, ficando metade para a linha</p><p>materna e a outra metade para a linha paterna.</p><p>Falecido</p><p>Pai</p><p>(pré-morto</p><p>Mãe</p><p>(pré-morta)</p><p>R$ 120.000,00</p><p>Avô</p><p>materno</p><p>R$ 60.000,00</p><p>Avô</p><p>paterno</p><p>Avó</p><p>materna</p><p>R$ 30.000,00 R$ 30.000,00</p><p>Se o de cujus for casado e tiver apenas ascendente,</p><p>o cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o</p><p>regime de bens, concorrerá com ele.</p><p>Se concorrer com ascendentes em primeiro grau</p><p>(pais), terá direito a um terço da herança.</p><p>Sucessão dos ascendentes em</p><p>concorrência com o cônjuge</p><p>Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço</p><p>da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for</p><p>aquele grau.</p><p>Mas se concorrer com um só ascendente (pai OU</p><p>mãe do falecido) ou se maior for aquele grau</p><p>(quando concorrer com avô ou bisavô do de</p><p>cujus), ao cônjuge caberá a metade da herança.</p><p>Viúva</p><p>Pai do</p><p>falecido</p><p>Mãe do</p><p>falecido</p><p>Viúva</p><p>Só o pai do</p><p>falecido</p><p>(ou só a mãe;</p><p>ou avós ou</p><p>bisavós)</p><p>Sucessão dos colaterais (CC, arts. 1.839 a 1.843)</p><p>Na falta de descendentes, ascendentes e cônjuge, são chamados a suceder os colaterais até o 4º grau, sendo</p><p>que os mais próximos excluem os mais remotos. Assim, se convocados à sucessão os irmãos (parentes de 2º</p><p>grau), excluídos estarão os tios e sobrinhos (3º grau); se chamados os do 3º grau, excluídos estarão os do 4º</p><p>grau (primos, tios-avós e sobrinhos-netos).</p><p>Todavia, na linha colateral há direito de representação, concedido unicamente aos filhos de irmãos (CC, 1.840</p><p>e 1853).</p><p>Exemplificando: se o falecido deixa dois irmãos e dois sobrinhos, estes filhos de outro irmão pré-morto, a</p><p>herança será dividida em três partes iguais, cabendo as duas primeiras partes aos irmãos vivos e a terceira</p><p>parte aos sobrinhos, que a dividirão entre si.</p><p>Falecido</p><p>Irmão 1</p><p>Irmão 2</p><p>(pré-morto)</p><p>Irmão 3</p><p>Sobrinho 1</p><p>R$ 120.000,00</p><p>R$ 20.000,00</p><p>Sobrinho 2</p><p>R$ 20.000,00</p><p>R$ 40.000,00 R$ 40.000,00</p><p>Irmãos bilaterais X irmãos unilaterais (CC, art. 1.841)</p><p>O CC estabelece privilégio aos irmãos bilaterais, pois cada um dos unilaterais deve receber a metade do que</p><p>cada um dos bilaterais receber (CC, 1.841).</p><p>Irmão bilateral (ou germano): filho do mesmo pai e da mesma mãe.</p><p>Irmão unilateral: aquele que só um dos genitores é o mesmo.</p><p>Exemplificando: se o falecido deixa uma herança de R$ 120.000,00 para quatro irmãos, sendo dois bilaterais</p><p>e dois unilaterais, os bilaterais receberão R$ 40.000,00 cada um e os unilaterais R$ 20.000,00 cada um.</p><p>Regra para esses casos (um modo fácil de calcular): multiplica-se cada irmão bilateral por 2 (como se</p><p>houvessem mais irmãos) e cada irmão unilateral por um.</p><p>Falecido</p><p>Irmão</p><p>bilateral 1</p><p>Irmão</p><p>bilateral 2</p><p>Irmão</p><p>unilateral 1</p><p>R$ 120.000,00</p><p>(x2)</p><p>Irmão</p><p>unilateral 2</p><p>(x2) (x1) (x1)</p><p>R$ 40.000,00 R$ 40.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00</p><p>Por fim, depois dos sobrinhos chamam-se os tios (também parentes em 3º grau) do de cujus. Depois dos tios</p><p>são chamados à sucessão os parentes em 4º grau: sobrinhos-netos, tios-avós e primos do falecido. Nesses</p><p>casos, inexistindo representação, todos sucedem por direito próprio, partilhando-se a herança por cabeça,</p><p>herdando todos igualmente.</p><p>Essas mesmas regras se aplicam aos sobrinhos,</p><p>parentes em 3º grau (CC, art. 1.843).</p><p>Sucessão legítima</p><p>(ordem da vocação hereditária, herdeiros</p><p>necessários e direito de representação)</p><p>Prof. Dr. Fernando Frederico</p><p>Direito das Sucessões</p>