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<p>ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAÇÃO DE</p><p>CONTRATOS ADMINISTRATIVOS</p><p>Ficha técnica</p><p>Renato Teixeira Arten (conteudista)</p><p>Rodrigo Vesule Fernandes (conteudista)</p><p>Caroline Nagel Moura de Souza (designer instrucional)</p><p>Lavínia Cavalcanti Martini T. dos Santos (coordenadora)</p><p>Rosânia Maria Nascimento Ramos (coordenadora)</p><p>Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do contrato Enap / Avante Brasil</p><p>Tecnologias Educacionais, 2019.</p><p>Módulo 1 - Introdução aos contratos administrativos .............................................4</p><p>1 - Introdução aos contratos administrativos .............................................................. 4</p><p>1.1. As origens de um contrato (necessidade de contratação, licitação, custo/ne-</p><p>cessidade) ..............................................................................................................4</p><p>1.2. O que é um contrato administrativo? ................................................................6</p><p>1.3. Quais suas características? ...............................................................................7</p><p>1.3.1. Presença da Administração Pública como poder público ........................8</p><p>1.3.2. Finalidade pública .......................................................................................8</p><p>1.3.3. Obediência à forma prescrita em lei e procedimento legal ......................8</p><p>1.3.4. Contrato de adesão .....................................................................................9</p><p>1.3.5. Natureza “intuitu personae” .......................................................................9</p><p>1.3.6. Presença de cláusulas exorbitantes ........................................................10</p><p>1.3.7. Mutabilidade ..............................................................................................10</p><p>1.4. Cláusulas obrigatórias em um contrato administrativo ................................10</p><p>1.4.1. Objeto do contrato ....................................................................................12</p><p>1.4.2. Preço e critérios de reajustamento ..........................................................13</p><p>1.4.3. Prazos de execução ..................................................................................13</p><p>1.4.4. Garantias contratuais ...............................................................................14</p><p>1.4.5. Obrigações das partes e penalidades ......................................................14</p><p>1.4.6. Casos de rescisão .....................................................................................15</p><p>1.4.7. Vinculação ao edital e proposta ...............................................................16</p><p>1.4.8. Manutenção das condições de habilitação pelo contratado..................17</p><p>Sumário</p><p>4</p><p>1 - Introdução aos contratos administrativos</p><p>Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso de Acompanhamento e Fiscalização de Contratos</p><p>Administrativos.</p><p>Para iniciar o curso, peço que coloque seu fone de ouvido e pense em um contrato.</p><p>Normalmente, quando pensamos em um contrato, a imagem que nos vem à mente é</p><p>apenas a de um documento com várias folhas e assinado ao final, não é mesmo? Não</p><p>lhes tiro a razão em provavelmente pensar assim, mas um contrato administrativo vai</p><p>muito além de um documento.</p><p>Em realidade, uma história o precede. Quando compreendermos esta história e onde</p><p>estamos inseridos nela, eu lhes garanto: passaremos a ver tudo de uma forma dife-</p><p>rente.</p><p>E esta história começou há muito tempo. Vejamos o vídeo “Vela a prego” explicando</p><p>as origens medievais da licitação e da contratação pública.</p><p>A origem da licitação remonta à Idade Média. Naquela época, a disputa de preços</p><p>era feita através do sistema conhecido como “Vela e Prego”, no qual uma obra era</p><p>apregoada enquanto queimava-se uma vela. Quando a vela se apagava, a obra era</p><p>entregue ao construtor que tivesse oferecido o menor preço ao Estado.</p><p>1.1. As origens de um contrato (necessidade de contratação, licitação, custo/</p><p>necessidade)</p><p>Quando vamos comprar ou contratar algo em nosso dia a dia, em casa, um dos prin-</p><p>cipais conceitos de “bom negócio” é aquele que traz a melhor relação “custo x bene-</p><p>fício”. Às vezes nem precisamos necessariamente de algo, mas se o benefício for tão</p><p>alto em relação ao custo proposto, por que não comprar?</p><p>Na Administração Pública, vemos as coisas de uma maneira um pouco diferente.</p><p>Quando o Estado vai às compras, avalia primordialmente a relação “custo x necessi-</p><p>dade”. Se não há necessidade efetiva, não há compra, não há contratação.</p><p>Módulo 1 - Introdução aos</p><p>contratos administrativos</p><p>5</p><p>Cada centavo de dinheiro público deve ser utilizado para suprir uma necessidade efe-</p><p>tiva, justificada e medida.</p><p>A partir da percepção desta necessidade é que o ente estatal buscará alternativas</p><p>para o seu suprimento. Logicamente, a forma como o Estado irá buscar o suprimento</p><p>de suas necessidades está prevista em lei. É um procedimento.</p><p>Não basta haver a identificação do que se precisa comprar ou contratar. Deve-se</p><p>comprar de acordo com a lei. Deve haver, em regra, uma licitação (art. 37, inciso XXI,</p><p>Constituição Federal de 1988).</p><p>E por que a lei é tão rígida quanto à forma?</p><p>Porque o recurso utilizado para pagar tais compras e contratações é de todos nós.</p><p>É uma “poupança” pública. E ela só deve ser aplicada se for de maneira segura, im-</p><p>pessoal, com transparência, publicidade e por meio da livre e isonômica concorrência</p><p>daqueles que podem nos atender.</p><p>Sem a edição de uma lei para nortear as compras e as contratações públicas, não</p><p>haveria garantia (ou pelo menos a exigência formal) de que princípios como os citados</p><p>seriam levados em conta no momento das aquisições. Hoje, tais princípios estão</p><p>incrustados em toda letra normativa que rege a matéria, delineando os procedimentos</p><p>que devem ser adotados para suprir as necessidades do Estado de acordo com as</p><p>expectativas da Nação.</p><p>Uma lei nada mais é do que a expressão formal, de cunho normativo, da base princi-</p><p>piológica que é extraída do próprio povo, aplicada a um tema específico com o obje-</p><p>tivo de regulá-lo.</p><p>Ou seja: a lei emana (ou deveria) do povo, e a ele deve servir.</p><p>O que ocorre depois de termos definido a necessidade e a forma de contratação?</p><p>6</p><p>Passada a fase da busca pelo suprimento da necessidade estatal, definido por quem</p><p>será o fornecedor, esta compra ou contratação é, em regra, formalizada por meio de</p><p>um contrato, que – segundo a Lei nº 8.666/1993 – configura-se em um acordo de</p><p>vontades para a formação de um vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas.</p><p>Ou seja, a partir da assinatura do contrato, tanto o órgão contratante quanto o parti-</p><p>cular contratado estabelecem entre si uma relação formal com o fim de, por um lado,</p><p>entregar o objeto pretendido e, de outro, basicamente pagar pelo que foi recebido.</p><p>Agora que introduzimos rapidamente esta história de como chegamos a um contrato,</p><p>é hora de vermos esta matéria mais de perto, de maneira técnica.</p><p>1.2. O que é um contrato administrativo?</p><p>A Lei nº 8.666/1993, que estabelece normas gerais para licitações e contratos admi-</p><p>nistrativos, define, no parágrafo único de seu art. 2º, que contrato é todo e qualquer</p><p>ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que</p><p>haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obriga-</p><p>ções recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.</p><p>Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2013, p. 263)1, contratos administrativos são</p><p>os ajustes que a Administração, nessa qualidade, celebra com pessoas físicas ou</p><p>jurídicas, públicas ou privadas, para a consecução de fins públicos, segundo regime</p><p>jurídico de direito público.</p><p>Assim, acrescentamos ao conceito trazido pela Lei nº 8.666/1993 a talvez óbvia, mas</p><p>importante, nota que os contratos são celebrados para a consecução de fins públicos.</p><p>Como havia exposto na introdução, toda contratação surge de uma necessidade</p><p>pública efetiva. O atendimento desta necessidade vai ao encontro do interesse público.</p><p>Apenas para ilustrar a importância</p><p>irrevogável da consecução de fins públicos, cito o</p><p>grande Celso Antônio Bandeira de Mello (2008, p. 58)2, para quem</p><p>1 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 26ª ed. São Paulo: Atlas, 2013.</p><p>2 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros,</p><p>2008.</p><p>7</p><p>ninguém duvida da importância da noção jurídica de interesse público.</p><p>Se fosse necessário referir algo para encarecer-lhe o relevo, bastaria</p><p>mencionar que, como acentuam os estudiosos, qualquer ato adminis-</p><p>trativo que dele se desencontre será necessariamente inválido.</p><p>Desta forma, e seguindo as lições anteriores, podemos definir que os pilares concei-</p><p>tuais de um contrato administrativo são:</p><p>§ a) Ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares;</p><p>§ b) Acordo de vontades entre as partes (contratante e contratada);</p><p>§ c) Formação de vínculo entre as partes (contratante e contratada);</p><p>§ d) Estipulação de obrigações recíprocas;</p><p>§ e) Consecução do interesse público.</p><p>Há, assim, um ajuste de intenções em que uma parte expõe uma necessidade pública</p><p>e a outra deseja supri-la. Acordam entre si as regras para tal fornecimento, criando</p><p>um vínculo formal. Neste vínculo é previsto que, para cada suprimento da neces-</p><p>sidade, haverá uma contraprestação ou um pagamento. Formado está um contrato</p><p>administrativo.</p><p>1.3. Quais suas características?</p><p>A professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, em seu curso de Direito Administrativo</p><p>(2013, p. 273), elenca oito características dos contratos administrativos.</p><p>Vejamos:</p><p>§ a) Presença da Administração Pública como poder público;</p><p>§ b) Finalidade pública;</p><p>§ c) Obediência à forma prescrita em lei;</p><p>§ d) Procedimento legal;</p><p>§ e) Natureza de contrato de adesão;</p><p>§ f) Natureza intuitu personae;</p><p>8</p><p>§ g) Presença de cláusulas exorbitantes;</p><p>§ h) Mutabilidade.</p><p>Naturalmente, ao tratarmos introdutoriamente dos contratos administrativos, já abor-</p><p>damos algumas destas características, trazendo a percepção clara da necessidade</p><p>de que haja uma supremacia da Administração Pública como poder público para ga-</p><p>rantir que os recursos aplicados tenham retorno seguro e equivalente.</p><p>No entanto, vamos avançar objetivamente na análise de cada uma das características.</p><p>1.3.1. Presença da Administração Pública como poder público</p><p>Em contratos privados, as partes que o assinam estão em pé de igualdade. Nos</p><p>contratos administrativos, não. Uma das partes é a Administração Pública, guardiã</p><p>do interesse público. Assim, é normal que tenha prerrogativas sobre a parte oposta.</p><p>Enquanto poder público, a Administração poderá fiscalizar o contratado, puni-lo e</p><p>até alterar a avença unilateralmente. Tudo isto com um único objetivo: garantir que o</p><p>contrato mantenha o rumo pretendido.</p><p>1.3.2. Finalidade pública</p><p>Todo contrato administrativo tem finalidade pública. E até já falamos sobre isto. A</p><p>origem de todo contrato é uma necessidade pública. É a partir dela que qualquer</p><p>procedimento de contratação é iniciado, culminando, ao seu final, com a entrega do</p><p>objeto e o pagamento do fornecedor. Assim, o “norte” de todo contrato administrativo</p><p>aponta para o interesse público de suprir uma necessidade estatal.</p><p>1.3.3. Obediência à forma prescrita em lei e procedimento legal</p><p>Aglutino duas características por entender que atuam dentro de uma zona de inter-</p><p>seção: parâmetros legais.</p><p>9</p><p>A obediência à forma prescrita em lei é obrigação que traz dupla garantia, se-</p><p>gundo Maria Sylvia Zanella di Pietro: é um benefício tanto para o interessado</p><p>contratado, que goza da previsibilidade do processo de contratação, quanto para</p><p>a própria Administração Pública, que pode exercer com precisão o controle de</p><p>legalidade.</p><p>O procedimento legal a ser adotado para chegarmos à assinatura do contrato, que</p><p>gera a previsibilidade citada, está, de forma geral, regulado na Lei nº 8.666/1993; no</p><p>entanto, também se leva em conta a modalidade de licitação. O pregão, por exemplo,</p><p>tem regras específicas a serem seguidas, previstas na Lei nº 10.520/2002, e a sua</p><p>versão eletrônica é regida pelo Decreto nº 5.450/2005.</p><p>1.3.4. Contrato de adesão</p><p>Todas as cláusulas de um contrato administrativo são determinadas unilateralmente.</p><p>Não são objeto de acordo; apenas de aceitação. Assim, há característica marcante de</p><p>contrato de adesão nos vínculos da Administração.</p><p>1.3.5. Natureza “intuitu personae”</p><p>Quando alguém é contratado pela Administração Pública, o é pelas suas condições</p><p>pessoais.</p><p>Conforme Di Pietro:</p><p>Não é por outra razão que a Lei nº 8.666/1993, no art. 78, VI, veda a</p><p>subcontratação, total ou parcial, do seu objeto, a associação do con-</p><p>tratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial; essas</p><p>medidas somente são possíveis se expressamente previstas no edital</p><p>da licitação e no contrato. Além disso, é vedada a fusão, cisão ou in-</p><p>corporação que afetem a boa execução do contrato (DI PIETRO, 2013,</p><p>p. 280).</p><p>10</p><p>1.3.6. Presença de cláusulas exorbitantes</p><p>Exigência de garantias contratuais, possibilidade de alteração e rescisão unilateral</p><p>do contrato, fiscalização, aplicação de penalidades etc. Estas prerrogativas da Admi-</p><p>nistração sobre o contratado são, para a autora, cláusulas exorbitantes presentes em</p><p>todos os contratos administrativos, visto que:</p><p>não seriam comuns ou que seriam ilícitas em contrato celebrado entre</p><p>particulares, por conferirem prerrogativas a uma das partes (Adminis-</p><p>tração) em relação à outra; elas colocam a Administração em posição</p><p>de supremacia sobre o contratado (DI PIETRO, 2013, p. 280).</p><p>Embora a autora visivelmente não tenha classificado as cláusulas de “exorbitantes”</p><p>como forma de crítica, entendo que elas não ultrapassam qualquer limite. São</p><p>apenas necessárias, assim como é necessária a presença da Administração como</p><p>poder público na relação contratual tamanha é sua responsabilidade por administrar</p><p>recursos de origem coletiva.</p><p>1.3.7. Mutabilidade</p><p>Mutabilidade é a faculdade da Administração de poder alterar os contratos adminis-</p><p>trativos unilateralmente, sem a anuência do contratado. A lei traça limites para tal</p><p>atuação, mas esta prerrogativa é a garantia de que eventuais mudanças (sejam elas</p><p>qualitativas, sejam quantitativas) façam-se possíveis.</p><p>1.4. Cláusulas obrigatórias em um contrato administrativo</p><p>Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:</p><p>I – o objeto e seus elementos característicos;</p><p>II – o regime de execução ou a forma de fornecimento;</p><p>III – o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade</p><p>do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do</p><p>adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;</p><p>11</p><p>IV – os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de ob-</p><p>servação e de recebimento definitivo, conforme o caso;</p><p>V – o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação fun-</p><p>cional programática e da categoria econômica;</p><p>VI – as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigi-</p><p>das;</p><p>VII – os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os</p><p>valores das multas;</p><p>VIII – os casos de rescisão;</p><p>IX – o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão admi-</p><p>nistrativa prevista no art. 77 desta lei;</p><p>X – as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão,</p><p>quando for o caso;</p><p>XI – a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu,</p><p>ao convite e à proposta do licitante vencedor;</p><p>XII – a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos</p><p>omissos;</p><p>XIII – a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato,</p><p>em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições</p><p>de habilitação e qualificação exigidas na licitação.</p><p>§ 1º (Vetado). (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)</p><p>§ 2º Nos contratos celebrados pela Administração Pública com pessoas físicas</p><p>ou jurídicas, inclusive aquelas domiciliadas no estrangeiro,</p><p>deverá constar neces-</p><p>sariamente cláusula que declare competente o foro da sede da Administração</p><p>para dirimir qualquer questão contratual, salvo o disposto no § 6º do art. 32 desta</p><p>lei (BRASIL, 1993)3</p><p>3 BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição</p><p>Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providên-</p><p>cias. Diário Oficial da União, Brasília, 1993.</p><p>12</p><p>A Lei nº 8.666/1993 cita expressamente, em seu art. 55, quais as cláusulas que</p><p>necessariamente deverão constar de um contrato administrativo. Trataremos a seguir</p><p>de algumas delas, que merecem maior atenção daqueles que irão gerir ou fiscalizar</p><p>contratos.</p><p>1.4.1. Objeto do contrato</p><p>O que especificamente precisamos contratar?</p><p>Se o órgão não sabe responder a esta pergunta, então ele não conhece o objeto a ser</p><p>contratado.</p><p>O objeto é a descrição específica do que se pretende receber com o contrato.</p><p>Vamos ver um exemplo simples de como o objeto é importante?</p><p>Consideremos que um órgão da Administração Pública Federal necessite comprar um</p><p>carro para transitar entre duas agências em local afastado, interligadas por estradas</p><p>de terra que, após fortes chuvas, são tomadas por lama.</p><p>Parece que precisamos de um carro que supere estas dificuldades do terreno, certo?</p><p>No entanto, descuidado, o órgão descreveu o objeto da contratação apenas como</p><p>“automóvel 0 km”.</p><p>Assim descrito o objeto, assim recebido. A empresa fornecedora entregou um auto-</p><p>móvel 0 km em sua versão mais básica, barata.</p><p>Mas e as estradas? E a lama?</p><p>Pois é, estas seriam de fácil superação por um carro com tração nas quatro rodas,</p><p>mas este detalhe não constou da descrição do objeto.</p><p>13</p><p>A descrição pormenorizada do objeto é condição fundamental para o sucesso da</p><p>contratação.</p><p>Só se pode exigir a entrega daquilo que está descrito no objeto.</p><p>1.4.2. Preço e critérios de reajustamento</p><p>Como podemos saber quanto vamos pagar?</p><p>O objeto contratado tem um preço, e ele deve ser descrito na cláusula de valor, também</p><p>obrigatória.</p><p>O montante previsto nesta cláusula representa a proposta vencedora na licitação.</p><p>Demonstra quando será cobrado pelo contratado para executar integralmente o</p><p>objeto.</p><p>Podemos reajustar o valor do contrato?</p><p>Sim, e as formas de reajustamento do preço do contrato devem estar previstas ex-</p><p>pressamente. O contratado tem o direito de saber (e a Administração tem a obrigação</p><p>de escrever) quais serão os métodos de reajustamento, como serão formalizados, a</p><p>partir de quando terá direito, que índices eventualmente serão utilizados, se serão</p><p>automáticos, se há preclusão, etc.</p><p>Reajustamento é um direito do contratado, e mandatoriamente suas regras deverão</p><p>ser explicitadas em cláusula específica.</p><p>1.4.3. Prazos de execução</p><p>É contrato de 12 meses? Sua vigência começa a partir da data da assinatura, da</p><p>emissão de ordem de serviço ou de uma data específica?</p><p>14</p><p>As respostas a estas perguntas constarão da cláusula de vigência do contrato.</p><p>Todo contrato tem uma duração, gera obrigações por um determinado tempo.</p><p>Esta informação é necessária não só para a Administração, mas também para o</p><p>contratado. Enquanto uma parte exerce seu direito de cobrar naquele período, a outra</p><p>envida esforços para executar o objeto.</p><p>É importante ressaltar que, embora a lei não obrigue que uma cláusula prevendo a</p><p>prorrogação do contrato seja escrita (pelo simples fato de a própria lei admitir a re-</p><p>novação da vigência), é de bom tom que a Administração expressamente demonstre</p><p>esta possibilidade ao contratado, já que a extensão do vínculo é uma opção da Admi-</p><p>nistração.</p><p>1.4.4. Garantias contratuais</p><p>Existem garantias financeiras à execução do contrato?</p><p>Sim, existem, previstas no art. 56 da Lei nº 8.666/1993: “a critério da autoridade</p><p>competente, em cada caso, e desde que prevista no instrumento convocatório, poderá</p><p>ser exigida prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e compras”.</p><p>Quando entendido pela autoridade competente que a execução do contrato necessita</p><p>de garantias financeiras, a cláusula trará esta opção, acompanhada do valor fixado</p><p>para tal ferramenta assecuratória.</p><p>Caso a autoridade decida pela desnecessidade da segurança, a cláusula trará texto</p><p>que expresse a renúncia.</p><p>1.4.5. Obrigações das partes e penalidades</p><p>Quais são as obrigações do meu órgão e as do contratado?</p><p>15</p><p>Todas as obrigações que caibam à parte contratante, neste caso, nossa instituição,</p><p>devem ser descritas em cláusulas próprias. Estas irão nortear a atuação da Adminis-</p><p>tração durante a execução do contrato e proporcionarão segurança à empresa con-</p><p>tratada por saber o que esperar do órgão.</p><p>Da mesma maneira, todas as obrigações que caibam ao contratado também devem</p><p>estar previstas. Ele só poderá ser cobrado por obrigações expressamente elencadas</p><p>no contrato.</p><p>E se o contratado não cumprir com suas obrigações, poderá ser penalizado?</p><p>Sim, e estas cláusulas punitivas estão entre aquelas chamadas “exorbitantes”, que</p><p>não seriam comuns em contratos privados.</p><p>Para cada cláusula que cria uma obrigação ao contratado há uma punição corres-</p><p>pondente no caso de seu descumprimento.</p><p>Os tipos de punição que podem ser utilizadas nos contratos encontram-se nos arts.</p><p>86 e 87 da Lei nº 8.666/1993, sem prejuízo da existência de outros regramentos san-</p><p>cionatórios, como aqueles oriundos da Lei do Pregão, Lei nº 10.520/2002, quando da</p><p>utilização desta modalidade de licitação.</p><p>1.4.6. Casos de rescisão</p><p>Os casos de rescisão devem estar no contrato?</p><p>A Lei nº 8.666/1993, em seu art. 78, cita quais os casos admitidos de rescisão em</p><p>contratos administrativos, porém, como depreendemos da leitura do art. 55, ela</p><p>também exige a inclusão de cláusula que informe ao contratado em que situações o</p><p>contrato será extinto unilateralmente.</p><p>16</p><p>Eventual processo administrativo de rescisão deverá ser embasado nessas hipóteses.</p><p>Rescisão de contrato é uma penalidade?</p><p>Não, rescisão de contrato é o encerramento do vínculo por ausência de condições</p><p>para a continuidade.</p><p>Normalmente, as práticas do contratado que levaram à rescisão do contrato também</p><p>são puníveis, o que pode levar cumulativamente à aplicação de sanções, mas não há</p><p>que se confundir os dois institutos.</p><p>1.4.7. Vinculação ao edital e proposta</p><p>A licitação é levada ao conhecimento público com a divulgação do edital. Este se con-</p><p>figura em um conjunto de regras balizadoras do certame e que nortearão as ações</p><p>tanto da Administração quanto do próprio licitante durante o procedimento de con-</p><p>tratação.</p><p>A minuta do contrato é publicada como um anexo a este edi-</p><p>tal, para que os licitantes tenham conhecimento das cláu-</p><p>sulas a que estarão sujeitos em caso de sua proposta ser a</p><p>vencedora.</p><p>Para segurança dos licitantes, a lei exige que o próprio con-</p><p>trato reserve cláusula indicando a sua vinculação ao edital</p><p>e à proposta vencedora, mostrando, assim, que as regras</p><p>serão respeitadas e nenhuma surpresa será reservada ao</p><p>participante.</p><p>17</p><p>1.4.8. Manutenção das condições de habilitação pelo contratado</p><p>Uma das características dos contratos administrativos, conforme já estudado, é sua</p><p>natureza “intuitu personae”, ou seja, contrata-se com alguém específico que objeti-</p><p>vamente possui as condições para habilitar-se como fornecedor da Administração.</p><p>Estas condições específicas devem ser mantidas pela empresa durante toda a exe-</p><p>cução do contrato. Com a perda de alguma destas condições, o contrato poderá ser</p><p>rescindido.</p><p>Desta maneira, para deixar clara a necessidade da manutenção das condições de</p><p>habilitação, cláusula contratual exclusiva deverá tratar sobre o tema.</p><p>Módulo 1 - Introdução aos contratos administrativos</p><p>1 - Introdução aos contratos administrativos</p><p>1.1. As origens de um contrato (necessidade de contratação, licitação, custo/necessidade)</p><p>1.2. O que é um contrato administrativo?</p><p>1.3. Quais suas características?</p><p>1.3.1. Presença da Administração Pública como poder público</p><p>1.3.2. Finalidade pública</p><p>1.3.3. Obediência à forma</p><p>prescrita em lei e procedimento legal</p><p>1.3.4. Contrato de adesão</p><p>1.3.5. Natureza “intuitu personae”</p><p>1.3.6. Presença de cláusulas exorbitantes</p><p>1.3.7. Mutabilidade</p><p>1.4. Cláusulas obrigatórias em um contrato administrativo</p><p>1.4.1. Objeto do contrato</p><p>1.4.2. Preço e critérios de reajustamento</p><p>1.4.3. Prazos de execução</p><p>1.4.4. Garantias contratuais</p><p>1.4.5. Obrigações das partes e penalidades</p><p>1.4.6. Casos de rescisão</p><p>1.4.7. Vinculação ao edital e proposta</p><p>1.4.8. Manutenção das condições de habilitação pelo contratado</p>